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Apostila Graos Armazenados

Pragas de grãos armazenados e controle

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Pragas de Produtos Alimentícios Armazenados José Vargas de Oliveira Jorge Braz Torres UFRPE/DEPA/FITOSSANIDADE As pragas que danificam os produtos alimentícios armazenados têm importância econômica a nível nacional e mundial. Causam perda de peso, perda no poder germinativo, perda do valor nutritivo e desvalorização comercial. Estima-se que, a nível mundial as perdas causadas aos produtos armazenados atinjam o percentual de 20%. Para o feijão armazenado as perdas causadas por Zabrotes subfasciatus e Acanthoscelides obtectus são estimadas em 13-15%, 13,3% e 5-10%, respectivamente, para a América Latina, Brasil e o mundo. Muitas pragas apresentam infestação cruzada, isto é, começam a infestar o produto no campo, continuando nas unidades de armazenamento, caso não sejam adotadas medidas de controle adequadas. Classificação das pragas De acordo com os hábitos alimentares as pragas de grãos armazenados podem ser classificadas em: a) Pragas primárias: atacam os grãos íntegros e sadios e quando perfuram e completam o desenvolvimento no interior dos grãos são denominadas pragas primárias internas, e quando se alimentam externamente, e posteriormente da parte interna, denominam-se pragas primárias externas. No entanto, não completam o desenvolvimento no interior dos grãos. b) Pragas secundárias: não atacam os grãos íntegros, alimentando-se daqueles já danificados por pragas primárias, grãos quebrados e trincados. I. Principais pragas primárias: I.1. Caraunchos ou gorgulhos do milho: Sitophilus oryzae e S. zeamais (Coleoptera: Curculionidae) Características: São besouros com cerca de 3 a 5 mm de comprimento, coloração castanhoescura, com quatro manchas avermelhadas nos élitros, presença de bico, projetando-se da cabeça, pronoto com pontuações e élitros estriados (Fig. 1). A distinção entre as espécies é feita pela genitália interna do macho ou da fêmea e também por características morfológicas, nem sempre de fácil 1 visualização. A postura é realizada no interior dos grãos, as larvas desenvolvem-se no seu interior e os adultos se alimentam dos grãos externamente. Após a emergência do adulto observa-se um orifício de bordos irregulares nos grãos. Aspectos sobre a biologia de Sitophilus sp. são apresentados na Fig. 2. A primeira espécie tem preferência, em ordem decrescente, pelo trigo, arroz, sorgo e milho. A segunda prefere o milho, trigo, arroz e sorgo. As duas espécies são pragas primárias internas e apresentam infestação cruzada. Fig. 1. Sitophilus sp. Fig. 2. Biologia de Sitophilus sp. Santos (1993) I.2. Carunchos do feijão: Zabrotes subfasciatus, Acanthoscelides obtectus e Callosobruchus maculatus (Coleoptera: Bruchidae) Características: Zabrotes subfasciatus - O adulto tem cerca de 2,0 a 2,5 mm de comprimento e coloração castanha-escura. Apresenta dimorfismo sexual: a fêmea têm manchas brancas no pronoto e élitros e o macho não as têm. A postura é feita na superfície dos grãos e as larvas e pupas completam o seu desenvolvimento no interior dos mesmos. A larva demarca na superfície do grão uma janela de emergência, por onde emergirá o adulto (Fig. 3). Ataca o feijão comum e caupi apenas no armazém, pois não apresenta infestação cruzada. Acanthoscelides obtectus - O adulto tem coloração parda escura e 2 a 4 mm de comprimento, élitros com várias estrias com manchas claras geralmente 2 Fig. 3. Zabrotes subfasciatus. Fig. 4. Acanthoscelides obtectus. intercaladas com estrias sem manchas (Fig. 4). O ovo é branco alongado, sendo depositado geralmente na massa de grãos. Apresenta hábitos semelhantes à espécie anterior, porém tem infestação cruzada. Ataca, de preferência o feijão comum. Callosobruchus maculatus - Adulto com 2,5 a 3,0 mm de comprimento, élitro com três manchas pretas bem distintas, sendo a primeira pequena e localizada na parte anterior, a segunda grande e situada na parte mediana e a última na parte posterior. O restante do élitro é de coloração marrom. Os dois élitros, quando observados em conjunto formam uma mancha em forma de X de cor marrom (Fig. 5). Os ovos são aderidos na superfície dos grãos e as larvas e pupas desenvolvem-se no interior dos mesmos. Apresenta infestação cruzada. Há dimorfismo sexual: as fêmeas mostram claramente o pigídio, enquanto nos machos o mesmo é quase em ângulo reto. Embora possa atacar outros hospedeiros, tem grande preferência pelo caupi. Outras espécies também podem atacar o caupi, como por exemplo, C. chinensis e C. analis, que são separadas por caracteres morfológicos, incluindo a genitália do macho. Fig. 5. Callosobruchus maculatus. I.3. Besouro do trigo: Rhyzopertha dominica (Coleoptera: Bostrichidae) Características: Adulto com cerca de 4,0 mm de comprimento, coloração avermelhada, apresentando as seguintes características que auxiliam na sua identificação: corpo cilíndrico, cabeça grande e escondida pelo pronoto; larvas brancas com cabeça castanha (Fig. 6 e 7). As larvas e adultos danificam os grãos armazenados, deixando grande quantidade de resíduos em decorrência do seu hábito alimentar. É a principal praga de póscolheita do trigo no Brasil, mas danifica também a cevada, triticale, arroz e aveia, sendo considerada uma praga primária interna. 3 Fig. 6. Rhyzopertha dominica: ovo, larva, pupa e adulto. Fig. 7. Ataque de Rhyzopertha dominica I.4. Traça dos cereais: Sitotroga cerealella (Lepidoptera: Gelechiidae) Características: A mariposa tem 10 a 15 mm de envergadura e 5 a 7 mm de comprimento e coloração amarelo-palha. Infesta os grãos no campo e armazém (Fig. 8 e 9). Deposita os ovos sobre os grãos, ou em fendas; as larvas e pupas completam o seu desenvolvimento no interior dos grãos. Após a emergência do adulto, os grãos mostram orifícios circulares externos, que diferenciam dos orifícios praticados por Sitophilus spp., que são irregulares. Ataca o milho em grãos e em espiga, arroz, trigo, sorgo etc. O arroz com casca sem defeitos, geralmente não é danificado. Fig. 8. Adulto de Sitotroga cerealella. Fig. 9. Adulto de Sitotroga cerealella em grãos de arroz I.5. Traça das farinhas: Plodia interpunctella (Lepidoptera: Pyralidae) Características: 4 A mariposa tem cerca de 20 mm de envergadura, asa anterior com a porção basal acinzentada e a porção distal avermelhada com manchas escuras, características que a distingue das outras traças. A lagarta é branca com tonalidade rosada no corpo. No máximo desenvolvimento tece um casulo de seda branca, no interior do qual se desenvolve a pupa, em frestas, fendas e pontos de contato da sacaria (Fig. 10 e 11). É uma praga primária externa, que ataca a superfície da massa de grãos de trigo, arroz, espigas e grãos de milho etc. Fig. 10. Fases de desenvolvimento de Plodia interpunctella. Fig. 11. Adultos de Plodia interpunctella. II. Principais pragas secundárias Características: Adulto vermelho escuro, corpo fino e achatado, com 3 mm de comprimento; pronoto com carenas, seis dentes laterais e élitros estriados, que auxiliam na sua identificação; as larvas são alongadas, branco-amareladas com pelos revestindo o corpo. A postura é efetuada Fig. 12. Oryzaephilus surinamensis. II.1. Besouro do Suriname: Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae) 5 na massa ou em orifícios dos grãos. Adultos e larvas danificam grãos de milho, arroz, outros cereais, frutos secos etc, sendo considerada uma praga secundária, geralmente comum nas unidades armazenadoras, onde causa a deterioração dos grãos pela elevação acentuada da temperatura. II.2. Cryptolestes ferrugineus (Coleoptera: Cucujidae) Fig. 13. Cryptolestes ferrugineus. Características: O adulto mede aproximadamente 2,5 mm de comprimento, coloração marromavermelhado claro, corpo achatado e antenas longas. Oviposita na superfície da massa dos grãos ou no seu interior. Apresenta alto potencial de reprodução. Por tratar-se de uma praga secundária, consome grãos quebrados, restos de grãos e farinhas, provocando elevação da temperatura e deterioração dos grãos. II.3. Besouro do fumo: Lasioderma serricorne (Coleoptera: Anobiidae) Características: Fig. 14. Adulto de Lasioderma serricorne. Adulto de corpo ovalado, coloração castanho avermelhada e recoberto com pelos amarelados, medindo cerca de 2 a 3 mm de comprimento, com antenas serreadas. Nos depósitos atacam grãos, farelos, farinhas e rações, sendo considerada uma praga polífaga e secundária, porém constitui a principal praga do fumo armazenado. II.4. Tribolium confusum e T. castaneum (Coleoptera: Tenebrionidae) Características: 6 Adultos com cerca de 3 a 4 mm de comprimento, de coloração castanha avermelhada uniforme, com duas depressões transversais na cabeça e o pronoto de forma retangular. As larvas são finas, assemelhando-se a larva arame, com o último segmento abdominal bifurcado. Há uma nítida distinção entre as Tribolium castaneum espécies: na primeira, os 4o seg. da antena o menor que o 3 artículos antenais aumentam gradativamente da base para o ápice e o adulto não vôa. Na segunda, os últimos segmentos antenais Fig. 16. Diferenças entre adultos de T. castaneum e T. confusum aumentam abruptamente de tamanho e o adulto é bom voador. Atacam farelos, 4o seg. da antena não o rações, farinhas, fubá, grãos muito menor que o 3 quebrados, defeituosos ou já danificados. Fig. 15. Fases de desenvolvimento de Triobolium sp. Tribolium confusum Fig. 17. Larva e adultos de T. molitor. II.5. Besouro tenébrio: Tenebrio (Coleoptera: Tenebrionidae) molitor Características: 7 Adulto de coloração castanho escura, medindo cerca de 15 a 17 mm de comprimento. As larvas são amarelas, aneladas e nitidamente segmentadas. Os ovos são brancos, ovais e recobertos com substância pegajosa. As larvas danificam farinhas, fubás, farelos, rações, grãos quebrados ou anteriormente danificados. II.6. Traça das farinhas: Anagasta kuhniella (Lepidoptera: Pyralidae) Características: Mariposa com 20 mm de envergadura, asa anterior acinzentada, com pontos e manchas transversais escuras. Asa posterior de coloração branca. A lagarta é branco rosada, no seu máximo desenvolvimento e apresenta a cabeça e patas de coloração escura. Tece casulo no interior do qual se desenvolve a pupa. É praga do milho, trigo, arroz, amendoim e, de preferência, farinhas, farelos e fubás. Fig. 18. Fases de desenvolvimento de Anagasta kuhniella. III. MANEJO DAS PRAGAS DE GRÃOS ARMAZENADOS Para o manejo racional e econômico de pragas de grãos armazenados, além da utilização de diversas táticas de controle, processos de amostragem, monitoramento e controle da temperatura e umidade dos grãos, a higienização e limpeza das instalações são processos imprescindíveis e, geralmente, não levados em consideração pelos produtores. Essas medidas consistem na eliminação de todos os resíduos nas instalações, no armazém, 8 nos corredores, nas passarelas, nos túneis, nos elevadores, nas moegas etc. Esses locais devem ser bem limpos, com a coleta e eliminação de todos os resíduos de pós e de grãos. Após a limpeza, os locais devem ser pulverizados com inseticidas com a finalidade de eliminar os insetos presentes nas paredes, pisos e nos equipamentos. III.1. Amostragem Inspeções visuais e coleta de amostras dos produtos devem ser feitas antes e após o armazenamento. As amostras podem ser coletadas com instrumentos apropriados como caladores, trados, armadilhas ou mesmo, pequenas quantidades do produto nas esteiras de condução do produto no momento do recebimento para o armazenamento. Acompanhamento de alteração de temperatura nos cabos termométricos dos silos, também, é um indicativo de algo errado com a massa de grãos, o que pode ser ocasionado pelo desenvolvimento de insetos. III.2. Medidas preventivas e de carácter cultural -Assepssia das instalações de armazenamento; -Colheita na época correta e secagem do produto para o armazenamento; -Não misturar novos produtos com aqueles de safras anteriores; -Evitar goteiramento no produto armazenamento; -Evitar entrada de pássaros, roedores e outros animais nas tulhas, armazéns, etc.; -Em pequenas quantidades de produto a granel, realizar transferência de produto antes de tratamento químico; -Não deixar sacarias em contato com o piso do armazém (acomodar sobre estrados). III.3. Atmosfera modificada Consiste na manipulação das condições climáticas. Entre elas, a mais utilizada para produtos perecíveis, sementes, etc, é a baixa temperatura. Temperaturas entre 10 a 15oC, possui excelente efeito no controle de insetos-praga de produtos alimentícios armazenados. Outra alternativa é o armazenamento hermético para obtenção de ambiente com baixo teor de O2. Isto é conseguido em silos herméticos (silos plásticos subterrâneos) e tonéis. Um exemplo prático é a utilização de garrafas plásticas tipo PET para armazenamento de feijão para o consumo diário pelos produtores rurais. Após secagem correta dos grãos de feijão, o produto é colocado nas garrafas e fechadas. 9 III.4. Produtos inertes e repelentes O uso de produtos inertes abrasivos tem a finalidade de absorver a cera da cutícula dos insetos, provocando-lhes a morte por dessecação. O uso de produtos como a terra de diatomáceas (Keepdry e Insecto), caulim e terra comum tem esta finalidade. É comum, no interior, o produtor usar terra de formigueiro para tratar feijões para armazenamento pela facilidade de peneiramento. A terra é peneirada, umedecida e misturada aos gráos. Posteriormente, deixa-se secar e, então, o produto é armazenado. A poeira que fica aderida aos grãos, tornam-os impróprios para a colonização pelos insetos. Outra alternativa é o uso de produtos vegetais com ação inseticida ou insetistática, como os óleos essenciais e fixos, extratos e pós, a exemplo do óleo de nim, citronela, cravo-da-Índia, canela, eucalipto, dentre outros. Esses produtos podem provocar mortalidade, repelência, efeitos na alimentação e na biologia dos insetos. III.5. Controle Químico É uma das táticas mais importantes utilizadas no controle de pragas de grãos e subprodutos armazenados. Os inseticidas podem ser utilizados das seguintes maneiras: pulverização residual ou de superfície, tratamento de ambiente ou nebulização, pulverização protetora e uso de fumigantes. Nas primeira e segunda modalidades, os inseticidas são usados, comumente, após a limpeza das estruturas de armazenamento, visando eliminar todos os insetos presentes em pisos, paredes, frestas etc. A pulverização protetora é feita de forma preventiva, quando não houver infestação na massa de grãos, sendo realizada em grãos expurgados ou não, visando protegê-los contra o ataque de pragas durante um determinado período de armazenamento. Os fumigantes são usados quando existir infestação (tratamento curativo), sendo a fosfina o produto mais utilizado em silos, armazéns convencionais, armazenamento em sacarias, câmaras de expurgo etc. A seguir, são apresentados alguns inseticidas utilizados em suas diferentes modalidades. Tipos de tratamentos, formulações e dosagens de inseticidas usados. Tipos de tratamento Pulverização Residual ou de superfície Pulverização Protetora Inseticida Formulação Dosagem Deltametrina Malation Pirimifós-Metílico Deltametrina Fenitrotiom 25 CE 1000 CE 500 CE 25 CE 500 CE 6,0-8,0 ml/m2 1,5 ml/m2 1,0-2,0 ml/m2 14-20 ml/t 10-20 ml/t 10 Nebulização Malatiom Pirimifós-mettílico Deltametrina Malatiom 1000 CE 500 CE 25 CE 1000 CE 20 ml/t 8-16 ml/t 1,5-2,0 ml/m3 2,0 ml/m3 Controle químico curativo: Fumigação ou expurgo de silos de concreto, graneleiros, vagões de trens, porões de navios, lonas plásticas etc. Uso da fosfina no expurgo de acordo com as condições climáticas do local. Temperatura (oC) Umidade Relativa (%) Tempo necessário > 20oC > 50% 72 horas 16 a 20oC 40 a 50% 96 horas 10 a 15oC 25 a 40% 120 horas Dosagens e tempos de exposição no expurgo do milho com fosfina. Exposição Estrutura Materiall Pastilha Temperatura (dias) Lona plástica Espiga 6/15 sacas <8 8 11 Silos e graneleiros Sacaria 2/15 a 20 sacas Granel 2/tonelada 8 a 12 12 a 15 15 a 25 > 25 7 6 5 3a4 Fumigação de milho em espiga com fosfina Literatura Recomendada: Bastos, J. A. M. 1981. Principais Pragas das Culturas e seus Controles. São Paulo: São Paulo, Nobel, 329 p. Lorini, I. 1998. Controle integrado de pragas de grãos armazenados. EMBRAPA/CNPT, Passo Fundo, 52p. Lorini, I., Miike, L.H., Scussel, V.M (Eds). 2002. Armazenagem de grãos. Campinas, BioGeneziz. 1000p. Lorini, I., S. Schneider. 1994. Pragas de grãos armazenados: resultados de pesquisa. Passo Fundo: EMBRAPA – CNPT. 47p. Pacheco, I.A., D.C. de Paula. 1995. Insetos de grãos armazenados – identificação e biologia. São Paulo, Fundação Cargill, 228p. 12 Santos, J.P. & I. Cruz. 1987. Armazenamento e Controle de Pragas do Milho. EMBRAPA/CNPMS, 30p. USDA. 1979. Stored Grain Insects. Washington. 57p. 13