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Apfac-4congr-2012-fábio Giovanni

A alvenaria estrutural vem se transformando em um processo construtivo bastante eficaz no combate à diminuição do déficit habitacional do Brasil. A racionalização do processo produtivo, a eliminação de algumas etapas construtivas que não agregam valor ao produto final, entre outras incontáveis e incontestáveis vantagens, são provas da eficiência da alvenaria estrutural como uma das alternativas para o desenvolvimento da construção civil brasileira. Nesse contexto, o desenvolvimento tecnológico dos processos e dos...

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Metodologia para seleção de traço para argamassa de assentamento de blocos cerâmicos Fábio Giovanni Xavier de Oliveira Rehabilitar Engenharia Ltda. Brasil [email protected] Resumo: A alvenaria estrutural vem se transformando em um processo construtivo bastante eficaz no combate à diminuição do déficit habitacional do Brasil. A racionalização do processo produtivo, a eliminação de algumas etapas construtivas que não agregam valor ao produto final, entre outras incontáveis e incontestáveis vantagens, são provas da eficiência da alvenaria estrutural como uma das alternativas para o desenvolvimento da construção civil brasileira. Nesse contexto, o desenvolvimento tecnológico dos processos e dos materiais envolvidos, se faz necessário para a consolidação e disseminação dessa alternativa construtiva para a comunidade técnica e empresarial do país. A argamassa de assentamento, como componente do sistema, possui algumas importantes funções, que precisam ser conhecidas e alcançadas para que o sistema se comporte conforme projetado, sendo esses, os principais objetivos desse trabalho. Palavras–chave: Argamassa de assentamento, Alvenaria estrutural, Traço de argamassa 1. INTRODUÇÃO A alvenaria estrutural vem se tornando nos últimos tempos, uma alternativa bastante competitiva como processo construtivo, haja vista, o elevado déficit habitacional que assola o Brasil e principalmente, a equação indeterminada que, a cada dia se transforma numa realidade brasileira: aumento do custo de produção versus aumento da concorrência somado ao aumento do nível de exigência dos clientes. O baixo custo desse processo construtivo, a princípio, não advém unicamente da economia de materiais, tais quais: formas, concreto e aço, mas também, do elevado grau de racionalidade e qualidade que é intrínseco ao sistema, diminuindo sobremaneira, as perdas e desperdícios comuns na Indústria da Construção Civil. Apesar da alvenaria estrutural ser um processo construtivo “econômico”, faz-se necessário um certo investimento em treinamento e qualificação da mão-de-obra assim como, na qualidade, eficiência e controle dos materiais empregados na execução do empreendimento. Os componentes do sistema - bloco estrutural, argamassa de assentamento e graute devem possuir características e propriedades interrelacionadas e apropriadas para que o pano de alvenaria se comporte isotropicamente, assim como o previsto nas análises estruturais desenvolvidas para o sistema [1]. Nesse contexto, a argamassa de assentamento desenvolve um papel fundamental para garantir essa isotropia e conseqüente funcionamento do sistema. É esse componente que, dentre outras e não menos importantes características, transfere a carga vertical fiada a fiada garantindo, se dimensionado corretamente, o andamento das isostáticas sem que sofram perturbações consideráveis [2]. Outro importante comentário a respeito da argamassa de assentamento, diz respeito à idéia errônea que se tinha - ou ainda se tem - a respeito da resistência à compressão. O aumento da resistência à compressão da argamassa, não significa, pelo menos na mesma proporção, um aumento da capacidade portante da parede. Na verdade, aumentar a resistência mecânica de qualquer um dos componentes individualmente - bloco, argamassa e graute não significa aumentar a resistência mecânica da parede e nem melhorar seu desempenho [3]. Dessa forma, esse estudo visa inicialmente, desmistificar alguns conceitos não totalmente corretos, que ainda são verdades absolutas no meio profissional e em seguida, apresentar um método que auxilie a obtenção de traços de argamassa de assentamento, levando-se em consideração as propriedades dos outros componentes da alvenaria e a matéria-prima disponível, tendo, essa metodologia, sido testada em uma obra de alvenaria estrutural com dez pisos usando blocos cerâmicos. 2. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE Apesar da Alvenaria, ser um processo construtivo muito antigo, as bases científicas não empíricas ou semi-empíricas desse processo vieram a se desenvolver por volta de 1951 [4], momento a partir do qual esse tipo de obra se tornou competitiva. A alvenaria estrutural é um tipo de sistema construtivo cujos elementos resistentes são as paredes, formadas por blocos estruturais, argamassa de assentamento, graute e aço, que além de resistirem ao peso próprio também resistem aos carregamentos verticais e horizontais a que a estrutura está sujeita [3]. O dimensionamento da alvenaria é baseado em hipóteses racionais de cálculo, diferindo da alvenaria convencional que é calculada empiricamente [3]. O funcionamento estrutural da alvenaria está intimamente ligado à interação bloco/ junta de argamassa [5]. Fazendo-se uma análise dessa interação, observa-se que em virtude das diferenças entre os módulos de elasticidade desses dois componentes, existem também, diferenças entre as suas deformações. Como o módulo de elasticidade do bloco é maior que o da argamassa, a deformação daquele é menor gerando um estado de confinamento (fig. 1) [6]. Baseado no exposto, o mecanismo de ruptura da alvenaria é ocasionado devido às tensões de tração que ocorrem no bloco, originadas pela excessiva deformação da argamassa no sentido longitudinal à parede, gerando tensões que ultrapassam a resistência à tração do bloco [3]. Como o Coeficiente de Poisson é fixo para um determinado material, quanto maior a espessura da junta de argamassa maior será sua deformação, ou seja, juntas de assentamento muito espessas acarretarão maiores tensões no bloco. Y Z X Y σ y σ xb σzb σ y σzb σ xb σ y σ xb σzb σzb σ xb σ y Figura 1 – Estado de Tensões atuantes nos blocos e nas juntas de argamassa. (RAMALHO) A confirmação do fato acima, revela que a espessura da junta não deve ultrapassar certos limites, pois juntas muito espessas acarretam a diminuição do confinamento da argamassa, ou seja, a argamassa se deformaria mais, gerando tensões de tração maiores, em contrapartida, a força de reação gerada pelo bloco apesar de aumentar, não teria uma eficiência considerável no confinamento da argamassa, pois, estaria atuando numa maior altura e concentrada na parte superior e inferior da junta, diminuindo dessa forma a tensão de compressão resistente da mesma [6]. Uma espessura da junta de assentamento reduzida seria recomendável, até ao limite que não gerasse concentração de tensões devido a imperfeições do bloco ou da execução da parede, como também na absorção de pequenas deformações ocorridas durante o funcionamento da estrutura [6]. Outra importante ocorrência do sistema construtivo em alvenaria estrutural, que afeta sobremaneira o desempenho estrutural do sistema: é o efeito arco. Esse evento ocorre em paredes de alvenaria com apoios discretos, ou seja, apoios com coeficientes de rigidez diferentes. Esse tipo de efeito, geralmente acontece em paredes de alvenaria apoiadas sob pilotis em concreto armado ou em fundações de vigas baldrames apoiadas sob estacas [7]. O carregamento aplicado sobre as paredes “caminhará” no sentido da maior rigidez [8], concentrando as tensões de compressão nessa região e gerando tensões de tração na região entre os apoios. A viga que apóia a alvenaria se comporta como um tirante, sendo a linha neutra posicionando-se ao nível da primeira ou segunda fiada da alvenaria, dependendo do grau do efeito arco, o qual é regido pelo comprimento da parede entre os apoios e da altura da parede. As tensões de compressão elevadas na região dos apoios são combatidas aumentando-se a área resistente dessa região, ou seja, grauteando-se os vazados dos blocos. Já as tensões de tração no meio do vão, serão combatidas pela argamassa de assentamento. O estado de tensões, compressão nos apoios e tração no meio do vão, gera tensões elevadas de cisalhamento na região dos apoios com maior rigidez, é essa tensão que provoca um “escorregamento” da parede, que não pode ultrapassar a tensão cisalhante resistente da argamassa ou ser superior a aderência viga/argamassa/bloco [8]. A argamassa de assentamento pode ser definida como sendo uma mistura de aglomerantes, agregados, água e/ou aditivos, capaz de unir as unidades de alvenaria sendo necessaário cumprir algumas funções citadas pelo código CP-121 Walling da Britsh Standards Institution (BSI) [1]: • • • Unir solidariamente os blocos estruturais da alvenaria ajudando-os a suportar as ações laterais; Distribuir uniformemente as cargas verticais por toda a área resistente da parede, assim como absorver pequenas deformações naturais de trabalho as qual a alvenaria está submetida; Vedar as juntas contra a entrada de água, principalmente em paredes de alvenaria aparentes e de periferia da edificação. Segundo classificação de SABBATINI [1], as argamassas de assentamento podem ser divididas em quatro grupos: argamassas de cal, argamassas de cimento, argamassas de cimento com aditivos e argamassas mistas de cal e cimento. Existe ainda uma interdependência entre as propriedades da argamassa assim como entre as proporções dos componentes empregados. Alterando-se algumas das propriedades da argamassa, outras estarão modificadas, dessa forma a escolha do teor de cal, de cimento e de areia deve ser feita baseada em análise do conjunto de propriedades para a qual se destina a argamassa [5]. A cal é um aglomerante aéreo gerado através da reação de calcinação (decomposição térmica) de calcário (CaCO3) ou de dolomitos (CaCO3 + MgCO3) e da posterior hidratação do produto gerado na reação anterior – a cal virgem - resultando na cal hidratada [5]. A cal possui importantes propriedades para a argamassa de assentamento de blocos autoportantes. Quando ainda fresca, a plasticidade é a principal característica que a cal confere à argamassa, regulando os “níveis” de trabalhabilidade. Devido à quantidade de finos presente na cal e da capacidade adsortiva dos seus cristais, a retenção de água também é propriedade que a cal confere à argamassa, assim como a diminuição no tempo que a argamassa se mantém em seu estado plástico. Com relação ao estado endurecido da argamassa, AGOPYAN citado por BARBOSA [5], indica que devido ao seu baixo módulo de elasticidade, a cal confere à argamassa a capacidade de maior deformação sem fissuração o que é importantíssimo para garantir a acomodação de deformações naturais da estrutura, assim como a absorção de uma parcela dos carregamentos verticais atuantes nos blocos. Segundo CALÇADA [9], a aderência, a coesão e a retenção de água, também são propriedades que são bastante influenciadas pela cal na argamassa de assentamento. Tabela 1– Quadro de Variação nas propriedades de uma argamassa com alteração da composição relativa de cimento e cal (SABBATINI citado por CALÇADA) Resistência a Compressão Capacidade de Aderência Durabilidade Impermeabilidade Resistências Iniciais Retração por secagem inicial Retenção de água Plasticidade Trabalhabilidade Resiliência Módulo de Elasticidade Custo AUMENTO DA PROPORÇÃO DE CAL NO AGLOMERANTE Decresce Decresce Decresce Decresce Decresce Cresce Cresce Cresce Cresce Cresce Decresce Decresce Propriedades Propriedades melhoradas melhoradas com maior teor com maior teor reativo de cal reativo de cimento PROPRIEDADE Aparentemente o agregado miúdo na argamassa, possui funções secundárias, como o aumento do rendimento da argamassa e conseqüente diminuição de aglomerante permitindo, dessa forma, uma diminuição do custo da argamassa. Uma menor quantidade de aglomerante também possui implicações reológicas [9]. A redução do calor de hidratação e conseqüente retração da argamassa são exemplos dessas implicações. O agregado miúdo possui influência considerável na trabalhabilidade da argamassa, principalmente no que diz respeito à sua textura. Quanto maior for a granulometria da areia e quanto maior for a porcentagem desses grãos mais graúdos, mais rugosa será a superfície da argamassa. Essa propriedade é muito importante quando se é utilizado o bloco cerâmico, que possui pequenos vazios nas suas paredes laterais. Uma argamassa com uma consistência adequada, mas com uma textura pouco rugosa poderá inviabilizar um traço. Se essa argamassa “escorrer” por esses pequenos vazios, o rendimento desse material e a produtividade da mão de obra poderão cair substancialmente. O cimento, conforme enfoque de CALÇADA [9] é o elemento que confere à argamassa a resistência mecânica e a durabilidade necessárias ao sistema. A autora ainda explica que devido à finura desse aglomerante as propriedades de trabalhabilidade e retenção de água também são influenciadas pela presença desse componente. Apesar do cimento ser regulador principal da qualidade da argamassa, o seu teor deve ser controlado, pois um excesso na dosagem desse componente pode gerar patologias indesejáveis, tais quais: aumento na retração da argamassa, devido ao maior calor liberado pela reação de hidratação; diminuição da resiliência da argamassa diminuindo o confinamento da junta e conseqüente perda de eficiência do sistema, entre outros [9]. Os tipos do cimento utilizados na argamassa dependem das condições que será realizada a obra, assim como é utilizado no concreto, onde a bibliografia é extensa sobre o assunto. As propriedades da argamassa de assentamento de blocos autoportantes são as seguintes: Trabalhabilidade, Retenção de água, Aderência, Resistência à compressão, Resiliência e Durabilidade [1]. Segundo RANDALL citado por PRISZKULNIK [10] o comentário, do ponto de vista de um pedreiro especializado é: Uma argamassa trabalhável é aquela capaz de manter-se íntegra sobre a sua colher e, ao vertê-la, deslizar e espalhar facilmente sobre o bloco, aderir as superfícies verticais, ser expulsa da junta pela movimentação do bloco sem cair ou manchar a superfície do bloco, e permitir fácil posicionamento do bloco sem deslocamento subseqüente devido ao seu peso ou ao peso das fiadas seguintes. A conclusão admitida pelo autor é que a trabalhabilidade da argamassa em uma propriedade extremamente relativa e que a melhor medida é o acompanhamento em verdadeira grandeza, do desempenha da argamassa em serviço [10]. A retenção de água é entendida como sendo a medida da capacidade que a argamassa possui em reter a água que contém, quando colocada em contato com um substrato de elevada porosidade [1]. A resistência de aderência ao cisalhamento da alvenaria é fortemente influenciada pela aderência bloco/argamassa [12], ou seja, não é uma característica relativa só à argamassa, mas também ao substrato (bloco) [1]. É um parâmetro de fundamental importância para o desempenha do sistema, haja vista, que muitas características da alvenaria são condicionadas por essa propriedade da interface argamassa/bloco, tais como: estanqueidade, resistência ao fogo, isolamento térmico, isolamento acústico e durabilidade. A resistência de aderência ao cisalhamento pode ser, ainda decomposta em duas propriedades específicas: A extensão da aderência, ou grau de contato da argamassa com os blocos; A resistência de aderência á tração, ou esforço normal necessário para separar os blocos [10]. Além desses dois tipo de aderência, ainda o mesmo autor, distingui a aderência física e química. A primeira ocorre por atrito na interface e pela absorção da água com o cimento dissolvido que gera pontes físicas de contato; a segunda ocorre ainda na fase de hidratação de blocos, no caso da alvenaria com blocos de concreto, onde o cimento ainda não hidratado na produção do bloco sofre hidratação da água de amassamento da argamassa e vice-versa gerando uma ligação química. A aderência da interface argamassa/bloco também é fortemente influenciada pela retenção de água da argamassa assim como pela absorção de água por parte do bloco. Um trabalho clássico de R. S. Boynton e K. A. Gutschisk citado por PRISZKULNIK mostra a correlação entre essas duas propriedades. A aderência aumenta com o aumento da retenção de água até um valor máximo, quando então decresce. Talvez essa queda seja explicada pela diminuição da ponte física formada pelo carreamento de cristais de cimento pela água que esta sendo absorvida pelo bloco [10]. DAVISON citado por SABBATINI [1] esclarece que talvez por conta da correlação que o meio técnico faz entre concreto e argamassa e que tenha sido dado muita ênfase à resistência à compressão da argamassa de assentamento de blocos estruturais. BOSELLO citado por SABBATINI [1] considera ainda que medidas diretas da resistência à compressão da argamassa de assentamento não são válidas para conhecer a qualidade do sistema. A resistência à compressão da argamassa é basicamente influenciada pelo teor de cimento de água e de ar incorporado na mistura [10]. A resiliência é a propriedade que mede o grau da argamassa em se deformar, quando atuando um carregamento, sem apresentar fissuras macroscópicas e retornar às dimensões originais quando cessam as solicitações [1]. Este sentido de elasticidade é entendido no estado plástico da argamassa, dessa forma, o Módulo de deformação, que é a medida da elasticidade - para um dado material - é inversamente proporcional à resistência à compressão, ou seja, quanto mais resistente for a argamassa menor será sua capacidade de se deformar sem apresentar patologias. A durabilidade da argamassa é a propriedade que é a medida das propriedades anteriores e de outros efeitos ocasionados durante o processo de produção e cura da argamassa como: retração por secagem, não hidratação total dos grãos de cimento, não extinção total da cal etc. Uma argamassa durável é aquela capaz de manter suas propriedades e características durante sua vida útil resistindo aos agentes externos e internos para qual foi dimensionada. 3. METODOLOGIA Em uma obra de alvenaria estrutural, o controle de materiais em campo é uma tarefa que exige bastante atenção e responsabilidade do engenheiro residente e dos demais profissionais envolvidos nessa atividade. Já a definição e posterior especificação dos traços dos materiais envolvidos no projeto, é um trabalho de pura engenharia, sendo necessário muito conhecimento no assunto, boa estrutura física dos laboratórios envolvidos e o mais importante para o sucesso do serviço: a cultura do empresário (construtor) em valorizar a engenharia e a tecnologia, o que no Brasil, talvez seja um dos grandes entraves ao desenvolvimento tecnológico da Indústria da Construção Civil. Na definição e estudo dos traços de argamassa, é imprescindível a presença da equipe operacional que irá executar a obra, pois a trabalhabilidade da argamassa é um conceito muito subjetivo e de fundamental importância para sucesso da definição do traço. O ambiente que será realizado os ensaios de trabalhabilidade terá que representar ao máximo o ambiente que serão realizados a obra para que os ajustes posteriores sejam os mínimos possíveis. O primeiro passo do método proposto seria a caracterização do bloco a ser utilizado, pois como são várias as variáveis, só terá solução o sistema se fixarmos algumas. Ensaios de absorção de água do bloco, ensaio de área líquida, e os ensaios e verificações da estabilidade dimensional dos blocos, assim como o cálculo coeficiente de variação dessas medidas deverão ser realizados. A absorção de água do bloco é importante, porque é baseado também no resultado desse ensaio que iremos definir o nível de retenção de água da argamassa. O ensaio de área líquida servirá para que usemos nos cálculos das tensões uma média mais aproximada que a área líquida nominal do bloco, que dependendo do nível de precisão das dimensões geométricas do bloco, pode ser significante. O ensaio de dimensões do bloco é importante, principalmente, aqueles que atestam a respeito das faces de assentamento do bloco, para que seja mais bem definida a argamassa quanto a resiliência, propriedade da argamassa endurecida, e quanto à plasticidade, propriedade da argamassa fresca, para que eventuais espessuras de junta diferentes não ocasionem tão diferentes tensões; e para que no ajuste do bloco com a argamassa ainda fresca não ocorram interrupções na aderência entre a argamassa e o bloco. Na sequência, a definição das propriedades que a argamassa deve possuir em virtude dos dados constantes no projeto estrutural e também baseado nas características do bloco, o que definirá quantitativamente os valores das variáveis (propriedades da argamassa), ou seja, nesse momento será fornecida a devida importância de cada propriedade em relação aos parâmetros analisados. Na verdade algumas propriedades serão, dependendo das condições da obra e do projeto, mais importantes que outras. Essas propriedades é que estarão definidas e as outras ficarão condicionadas às primeiras, claro que obedecendo a certos intervalos aceitáveis. O próximo passo seria escolher alguns traços para referência. Alguns estudos brasileiros sugerem exemplos de traços, alguns citados a seguir: 1:1: 4; 1:1:6; 1:0,5:4,5; 1:1,5:5 (c : cal : areia). Na sequência deve ser feito, com auxílio do pessoal operacional da obra, um ajuste nos traços de argamassa em termos de consistência e fluidez para que seja definido um relação água / cimento para cada traço. Executar ensaios de resistência a compressão, retenção de água e de aderência bloco/argamassa. Esse último não é normalizado nacionalmente, mas possui alguns estudos como o de COLANTES [12] que podem fornecer valores relativos entre as argamassas. Pode-se também recorrer às normas internacionais que já realizem esse tipo de ensaio. Nesse momento são realizados os ensaios de prismas conforme a NBR 8215 - Prismas de blocos vazados de concreto simples. Preparo e ensaio à compressão - com todas as argamassas estudadas. Estudos como os de LA ROVERE citado por LENGLER [11] indicam que os prismas de três blocos condizem melhor com a realidade, pois possuem uma relação altura /espessura superior a 3 o que ocasiona uma ruptura em um estado triaxial de compressão gerando valores maiores que a compressão axial. De posse dos resultados de todos os ensaios realizados e da eficiência entre a resistência bloco/prisma, devem ser efetuado ajustes nas proporções dos materiais, sendo nesse momento, possível a definição de qual dentre os traços melhor se enquadra às necessidades da obra, no sentido de que as propriedades se adequem quantitativamente àqueles parâmetros previamente estabelecidos. Com a argamassa ajustada para as condições da obra e do projeto, executam-se paredes aproximadamente com dimensões reais de projeto, principalmente a altura, para que seja analisada a propriedade de trabalhabilidade. É interessante que a execução das paredes seja baseada na NBR 8949 – Parede de alvenaria estrutural ensaio à compressão simples – para que se tenha idéia da eficiência da parede em relação ao prisma. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A metodologia desenvolvida por esse estudo trata-se de uma explanação de uma sequência de passos efetuados para determinação de um traço de argamassa de assentamento para blocos de alvenaria estrutural, assim como a análise dos parâmetros que são variáveis e interferem na definição e manutenção desse traço. O método foi desenvolvido e aplicado em uma obra de alvenaria estrutural executada pelo autor, onde foi definido, melhorado e testado. A carência de referências bibliográficas sobre o assunto é grande, e principalmente daquelas que são voltadas ao chão de fábrica, desenvolvidas por profissionais envolvidos na produção. O desconhecimento tecnológico sobre a alvenaria estrutural como sistema construtivo no país também é muito alto, o que sugere que os objetivos do trabalho tenham sido cumpridos além do fato de que esse estudo tenha contribuído de certa forma para a desmistificação de alguns pré-conceitos. Com a execução da obra, é possível que exista a necessidade de mais alterações no traço de argamassa devido a imposições do processo produtivo, como: volume da betoneira; número de pedreiros atuando; períodos necessários para o ajuste da produção da argamassa; temperatura e umidade que variam no decorrer do ano, que podem alterar o tempo que a argamassa permanece em seu estado plástico. 5. BIBLIOGRAFIA [1] SABBATINI, Fernando Henrique. Argamassas de Assentamento para Paredes de Alvenaria Resistente., ABCP, 2.ed., 44p.ilus 21cm. São Paulo, 1998. [2] THOMAZ, Ércio. Tricas em Edifícios: Causas, Prevenção e Recuperação. 1ª Edição. Editora PINI. São Paulo,1989. [3] PENTEADO, Adilson Franco: Gestão da Produção do Sistema construtivo em Alvenaria Estrututal.2003. Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP.190p. (Tese de doutorado). [4] CARVALHO, João Dirceu Nogueira (1), ROMAN, Humberto Ramos (2). Alvenaria Estrutural: Um pouco de sua história. Maringá, PR, 2001.7p.Artigo Técnico. II Encontro de Tecnologia de Engenharia Civil e Arquitetura de Maringá-PR. [5] BARBOSA, Maria Teresa Gomes. Alvenaria Estrutural - Novas Tendências Técnicas e de Mercado. 1ª edição: Editora Interciência – SENAI-p11 a p25. Rio de Janeiro, 2002. [6] RAMALHO, Márcio A.(1)CORRÊA, Márcio R. S.(2).Projeto de Edifícios de Alvenaria Estrutural.1ª Edição: Editora PINI. São Paulo, 2003. [7] CAMACHO, Jefferson Sidney (1), ANDOLFATO, Rodrigo Piernas (2), LODI, Paulo César. Alvenaria Estrutural: Cuidados nas fundações e transições. Ilha Solteira,SP, 2004. Artigo Técnico. Universidade Estadual Paulista-UNESP. [8] HOLANDA JR, Oswaldo Gomes. Influência de Recalques em Edifício de Alvenaria Estrutural. São Carlos, SP .2002. Universidade de São Paulo. 224p (tese de doutorado). [9] CALÇADA, Luciana Maltez Lengler. Avaliação do Comportamento de Prismas Grauteados e Não Grauteados de Blocos de Concreto. Florianópolis, 1998. 167p.– Universidade Federal de Santa Catarina (dissertação de mestrado). [10] PRISZKULNIK, Simão (1), CAMARGO, Fernando José da Rocha. Argamassas de Assentamento e Micro-concretos de Enchimento para Alvenaria Estrutural de Blocos de Concreto. São Paulo, 1977. 44p. Colóquio sobre Alvenaria Estrutural de Blocos de Concreto-IBRACON. [11] LENGLER, Luciana Maltez (1), PRUDENCIO JR, Luiz Roberto (2), DE OLIVEIRA, Alexandre Lima. Estudo da Influência da Geometria de Blocos de Concreto na Resistência à Compressão de Prismas Grauteados e Não-Grauteados. Florianópolis, SC, 1998, 7p.Artigo Técnico. VII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. [12] COLLANTES, Mário C.(1), FRANCO, Luiz S.(2). Avaliação da resistência de aderência ao cisalhamento da Alvenaria Estrutural não-Armada em Tripletas através do ensaio de cisalhamento direto. São Paulo. 6p Artigo técnico. EPUSP.