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ANÁLISE DE PROJETO MAIS SUSTENTÁVEL PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL DO
PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA EM CUIABÁ-MT
Isabella Falcão da Silva Campos – isabellafalcã
[email protected]
Universidade Federal de Mato Grosso, Departamento de Engenharia Civil
Av. Julino Costa Marques, 369 – Jd. Aclimação
78053-253 – Cuiabá – Mato Grosso
Laís Borges Rizental–
[email protected]
Universidade Federal de Mato Grosso, Departamento de Engenharia Civil
Rua Dom Luis de Castro Pereira, 314 – Cidade Alta
78030-375 – Cuiabá – Mato Grosso
Resumo: Este artigo apresenta uma análise de projeto mais sustentável para
habitações de interesse social do programa Minha Casa Minha Vida na cidade
de Cuiabá-MT, para tal, as alternativas e técnicas pesquisadas levaram em
consideração os aspectos climáticos, sociais e econômicos da região
envolvida. Mediante a aplicação de questionário à população assistida pelo
programa em questão, o desconforto térmico no interior das casas foi
apontado como o principal motivo pelo descontentamento dos moradores. A
partir dessas informações, alternativas mais sustentáveis como a
substituição da alvenaria convencional pela alvenaria em blocos de adobe,
utilização de camada vegetal e cores reflexivas nas paredes externas foram
estudadas, de modo que constituam possíveis implementações para os futuros
projetos do Programa Minha Casa Minha Vida.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Desconforto Térmico , "Minha Casa Minha
Vida"
Abstract: This article presents a more sustainable project analysis for
the social habitation program 'Minha Casa Minha Vida' in Cuiabá-MT, and for
that, the alternatives and techniques on research consider the weather and
climate factors, besides the social and economics situation of the region.
Through the application of a questionary to the people who has been reached
by the program, thermal discomfort inside the houses was pointed as the
main reason for their unsatisfaction. From these informations, more
sustainable solutions were under study, like the replacing of the
conventional brickwork for adobe blocks, utilization of a vegetal layer and
reflective colors on the external walls, so, it represents a future
possibilities of implements for the project 'Minha Casa Minha Vida'.
Key-words: Sustainability, Thermal discomfort, "Minha Casa Minha Vida"
1. INTRODUÇÃO
Imersos em um mundo, onde o crescimento exacerbado e desordenado das
cidades substitui o real desenvolvimento urbano, as questões sustentáveis
vêm, explicitamente, ganhando espaço nos cenários sociais e políticos.
Dessa forma, a atual busca por novas alternativas de baixo impacto
ambiental, que promovam o equilíbrio entre o meio ambiente, negócios e
sociedade, faz-se cada vez mais frequente e inevitável.
Este trabalho de pesquisa tem por objetivo analisar projetos mais
sustentáveis para habitações de interesse social do programa Minha Casa
Minha Vida em Cuiabá. Dessa forma, o público alvo a que o trabalho é
destinado são as famílias de renda bruta de até R$ 5.000 mensais e
subsidiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida.
O estudo em questão faz-se relevante, pois permite o aperfeiçoamento
do desempenho ambiental das edificações em estudo, além de possibilitar a
associação entre as novas técnicas e alternativas mais sustentáveis e o
crescente desenvolvimento do programa Minha Casa Minha Vida na cidade de
Cuiabá.
O problema da pesquisa é "Como adaptar os projetos habitacionais
tradicionais do programa Minha Casa Minha Vida à necessidade iminente do
uso de técnicas construtivas sustentáveis, de modo que não haja custo
adicional no orçamento final que impeça a sua implementação?".
Os dados que serviram de base para a elaboração do trabalho foram
coletados por meio de questionário aplicado no Residencial Morro do Santo
Antônio em Cuiabá. Os resultados obtidos foram os esperados e as conclusões
definitivamente satisfatórias.
2. JUSTIFICATIVA
- De acordo com Sattler (2009) "o tema sustentabilidade pode ser
considerado
como relativamente novo para estudantes de arquitetura e engenharia, no
Brasil, e mesmo no exterior".
- A construção civil consome até 75% dos recursos naturais extraídos,
essa forma, causa grande impacto no meio ambiente e uma grande parcela
destes recursos é destinada ao setor habitacional.
- A necessidade de implementar novas alternativas, técnicas e adaptações
aos projetos convencionais do programa Minha Casa Minha Vida que auxiliem
na formulação de projetos com melhor desempenho ambiental, tão
imprescindível para a população cuiabana que sofre com elevadas
temperaturas diariamente.
- O cenário atual brasileiro apresenta grandes problemas em associar o
enorme déficit habitacional com a crescente demanda habitacional. A falta
de regulamentações e diretrizes que promovam menores gastos de recursos
naturais e um melhor desempenho das edificações acaba como motivação para o
fortalecimento dos conceitos de sustentabilidade e as posteriores melhorias
na qualidade de vida da população e na busca por cidades mais sustentáveis.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Sustentabilidade
O termo sustentabilidade começou a ganhar espaço por volta de 1979,
durante um Simpósio das Nações Unidas sobre Inter-relação de Recursos
Ambientais e Desenvolvimento, que aconteceu em Estocolmo. Devido ao
crescimento econômico e as politicas expansionistas internacionais a
preocupação por manter em constância a matéria-prima foi o estopim para uma
conscientização sobre a necessidade de cuidar dos recursos naturais do
planeta. Surge então o termo sustentabilidade que relaciona essa
necessidade de crescimento econômico com o "uso" consciente do meio
ambiente.
"Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
presentes sem comprometer a possibilidade de futuras gerações atenderem às
suas próprias necessidades" (BRUNDTLAND, 1991). Neste mesmo contexto,
Sattler (2009) define sociedade sustentável como aquela que é sábia por não
colocar em risco seus sistemas de suporte, para tal, é necessário que três
condições sejam atendidas, sendo elas, a taxa de uso de recursos renováveis
não deve sobrepor-se às taxas de regeneração, as taxas de uso de recursos
não-renováveis não podem ultrapassar as taxas de desenvolvimento dos
recursos renováveis sustentáveis substitutos e por fim, a taxa de poluentes
emitidos não deve exceder a absorção do meio ambiente. De acordo com o
mesmo autor, o conceito de sustentabilidade ainda é considerado novo para
os alunos de engenharia civil e arquitetura do país.
3.2 Pesquisas e projetos relevantes
Com o intuito de modificar o cenário atual do Brasil, algumas
iniciativas em andamento podem ser verificadas, o projeto Alvorada,
implantado em 1997, visava desenvolver pesquisas e testar alternativas
tecnológicas sustentáveis e de baixo custo em casas populares na cidade de
Alvorada no Rio Grande do Sul, que além de preservar o meio ambiente,
proporcionava bem-estar e conforto os seus respectivos moradores. Na figura
02, pode-se observar a fachada do protótipo Casa Alvorada.
Figura 02 – Fachada principal (Norte) do Protótipo Casa Alvorada
Recentemente, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
(CDHU), através do "Habitação para Todos" - Concurso Público Nacional de
Arquitetura para Tipologias de Habitação de Interesse Social, seleciona os
melhores projetos que aliam sustentabilidade e acesso universal à moradia.
Em 2012, o projeto vencedor, caracterizava-se como um projeto de 53 metros
quadrados sustentável e econômico, cujo o valor de R$ 1088,51 por metro
quadrado não ultrapassa o índice A&C de abril de 2011 para construções de
padrão simples na região Sudeste. O projeto continha interessantes
alternativas que possibilitavam melhor desempenho ambiental da edificação.
Para favorecer a circulação de ar dentro da casa, os projetistas utilizaram-
se de aberturas na parte superior da parede correspondente à fachada, assim
como fizeram uso de muros e portas vazadas que não bloqueassem a passagem
de ar, reduzindo o desconforto térmico dentro da residência. Outros fatores
determinantes para a diminuição do calor interno da casa, foram a
utilização de cobertura reflexiva, que minimiza a absorção do calor
proveniente do sol, e o uso de telhado verde que impede a incidência direta
dos raios solares sobre casa. O projeto inclui também, o uso de energia
limpa por meio de coletores solares localizados na torre que guarda a caixa-
d`água, fundação do tipo radier que adapta-se a solos firmes, estrutura
composta de blocos de concreto autoportantes que dispensam pilares e vigas,
pintura mineral à base de cal e silicato de potássio, esquadrias fabricadas
sob medida usando-se ferro ou alumínio com pintura eletrostática. A figura
03 corresponde ao projeto vencedor do concurso de 2012 da CDHU.
Figura 03: Esquema do projeto vencedor do concurso da CDHU de 2012
3.3 Adobe como alvenaria
Outra relevante alternativa para obter-se um projeto sustentável e de
fato econômico, é a substituição da alvenaria tradicional pela alvenaria de
blocos de adobe. Segundo Galvão (s.d.), "O adobe foi o primeiro material a
ser trabalhado dentro dos princípios de modulação, isto é, elemento
componente pré-manufaturado, passível de estocagem e posterior montagem na
edificação do abrigo-arquitetura".
De acordo com Savaio (2010), comparado aos materiais convencionais de
alvenaria, o adobe é relativamente barato e possui baixo impacto ambiental.
A fácil disponibilidade deste respectivo material representa uma
considerável vantagem na introdução dele à alvenaria..
Segundo Galvão (s.d.) "o adobe enquanto elemento estrutural, se
produzido dentro de condições mínimas de conhecimento, empírico de suas
propriedades físico-químicas, é um material de boa resistência [...]".
Apesar do adobe possuir qualidades estruturais apreciáveis, ainda há muito
preconceito em relação a sua utilização como material estrutural. Porém, a
resistência deste material pode ser confirmada pelas construções antigas à
base de adobe que perduram até os dias atuais, como é o caso do Seminário
da Conceição em Cuiabá, construído em 1870. Outro exemplo está localizado
no Sítio Arqueológico Cajarmaquilla no Peru, onde ruínas de pelo menos mil
anos antes da chegada dos espanhóis constituiu uma verdadeira cidade
edificada com adobe.
No Brasil, algumas iniciativas à respeito da substituição da alvenaria
convencional por adobe já podem ser verificadas. Pesquisas como o do
desenvolvimento de um protótipo habitacional de fardos de palha e adobe na
cidade de Sentinela do Sul, Rio Grande do Sul, realizada por Ingrid Pontes
Barata Bohadana e Miguel Aloysio Sattler, concretizam a possibilidade de
desenvolver projetos de baixo custo por meio da utilização de materiais
naturais locais.
Segundo os autores Bohadana e Sattler (2006), as propostas da pesquisa
em questão foram a utilização de materiais renováveis, o uso de materiais
que requeressem mínimo processamento, energia e transporte e a utilização
de materiais saudáveis e naturais que não agredissem o meio ambiente
durante a produção, instalação e uso das edificações. Dessa forma, o adobe
caracteriza-se como uma interessante alternativa já que em termos de
energia, faz-se possível o uso da terra do próprio terreno, produto das
escavações das fundações, impactando no orçamento final da obra. Em relação
à saudabilidade da edificação, além de evitar a emissão de substâncias
tóxicas ao meio, como o monóxido de carbono proveniente da queima do tijolo
tradicional; quando a construção não for mais utilizada, os materiais
naturais constituintes da alvenaria podem ser facilmente reciclados ou
podem ser reintegrados naturalmente à terra.
Seguindo o mesmo raciocínio:
A energia empregada na produção do adobe é quase
nula e a mão de obra necessária não precisa ser
especializada, o que torna, portanto, essa técnica
bastante acessível e de elevada economia construtiva,
deste ponto de vista, altamente sustentável. (RUFO,
2010: 42)
É importante também ressaltar que Rufo (2010) pontua a característica
termo-acústica deste tipo de construção. Por apresentar propriedades
higrotérmicas, contribuem com a regulação do conforto térmico, mantendo a
temperatura dos ambientes sempre balanceada. Sendo assim, durante o
inverno, o adobe retêm o calor dentro da casa, enquanto que no verão, o
calor fica retido fora da residência.
3.4 Influência da vegetação e das cores externas
De acordo com os autores Oliveira e Ribas (1995), a vegetação em suas
diferentes formas (cobertura vegetal ou área verde) também influencia
diretamente no controle da qualidade ambiental de uma edificação, seja no
conforto térmico, acústico ou luminoso. A colocação correta da vegetação
permite a absorção solar e o esfriamento do ar que penetra na residência,
além de impedir a incidência direta dos raios solares contra as paredes da
casa.
O desempenho térmico das residências pode ser fortemente influenciado
também pela cor externa que reveste a fachada da casa. Os efeitos de ganho
de calor solar em função da refletância das superfícies externas da
edificação podem ser verificados através de uma análise
espectrofotométrica, método que além de fornecer a refletância total de
cada uma das cores à radiação solar, fornece também as porcentagens
individuais para cada cor. Dessa forma, as cores consideradas mais escuras,
apresentam refletância menor do que as outras mais claras, ou seja, possuem
maior tendência em absorver a radiação proveniente do sol, devido a baixa
refletância na região do infravermelho próximo (CASTRO et al, 2003 )
4. METODOLOGIA(método e materiais,local)
4.1. Ambiente da pesquisa
Este projeto está inserido na cidade de Cuiabá localizada no estado de
Mato Grosso, que segundo estimativa de população realizada em 2012 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), corresponde a uma
população de 561 329 habitantes. A pesquisa envolve as famílias com renda
bruta de até R$ 5.000 mensais, subsidiadas pelo programa Minha Casa Minha
Vida, que a partir da implementação das medidas discutidas no método
poderão ser beneficiadas.
A cidade em estudo está localizada na região climática Tropical,
caracterizada por invernos secos e verões úmidos devido à ação da massa
equatorial continental sobre a região em questão. A cidade é conhecida
pelas elevadas temperaturas, sendo este um dos principais motivadores para
a realização deste estudo, como forma de amenizar o desconforto térmico no
qual a população é submetida constantemente.
Em relação aos aspectos políticos e ambientais que circundam o
ambiente da pesquisa, pode-se afirmar que existem alguns programas de
conscientização tais como o Programa Mato-Grossense de Educação Ambiental
que além de diagnosticar a atual situação da educação ambiental, avalia
programas e projetos através de parâmetros e critérios pré-estabelecidos e
monitora políticas de educação ambiental.
A sustentabilidade ambiental, do ponto de vista
econômico, prevê que as empresas devem ser
economicamente viáveis e seu papel na sociedade deve
ser desempenhado levando-se em consideração, o
aspecto da rentabilidade, ou seja, dar retorno ao
investimento realizado pelo capital da empresa e isso
é medido por indicadores de sustentabilidade. (DIAS,
2006: 26)
Dessa forma, é de extrema necessidade a associação entre os conceitos
de sustentabilidade e as edificações de interesse social do programa Minha
Casa Minha Vida, que compreende grande parte da população cuiabana, já que
consequentemente, a adaptação dos métodos citados neste projeto impactará
em benefícios para esta grande amostra subsidiada pelo programa. A figura
01 representa a vista de satélite do residencial.
Figura 01: Vista de satélite do Residencial Morro de Santo Antônio na
cidade de Cuiabá.
4.2 Levantamento de dados
A maior parte da coleta dos dados para a realização da pesquisa foi
realizada a partir do questionário aplicado no Residencial Morro do Santo
Antônio, em Cuiabá. Grande parte das famílias residentes entrevistadas foi
subsidiada pelo programa Minha Casa minha Vida por apresentarem renda bruta
de até R$ 5.000 mensais. Os problemas da população envolvida foram levados
em consideração para que fosse possível a análise de um projeto mais
sustentável para o programa Minha Casa Minha Vida, sem custos adicionais no
orçamento final, a partir da utilização de técnicas sustentáveis
inteligentes que correspondessem exatamente com as necessidades dos
respectivos moradores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. Análise dos resultados
Algumas das casas do Residencial Morro do Santo Antônio sofreram
modificações sem qualquer planejamento pelos seus respectivos moradores.
Para a elaboração desta pesquisa, foram consideradas tanto as casas que
permanecem em seu projeto original quanto aquelas que sofreram modificações
para que fosse possível a comparação e análise do desempenho de cada um dos
tipos. O gráfico 01 permite analisar a situação das casas do residencial em
questão, tornando possível identificar o número de casas que ainda
encontram-se inalteradas.
Gráfico 01 – Gráfico comparativo entre as casas modificadas e
inalteradas do Residencial Morro de Santo Antônio, na cidade de Cuiabá.
Das 160 casas do Residencial Morro do Santo Antônio, 69 sofreram algum
tipo de alteração, como a construção de muros, garagem, e até mesmo
sobrados, correspondendo a 43,13% de todas as casas. Por isso, muitas das
informações coletadas nas casas modificadas, não puderam ser observadas nas
casas inalteradas.
Tendo em vista que o residencial está localizado longe dos centros
urbanos, ou seja, distante das ilhas de calor, após a aplicação do
questionário, observou-se que 81,25% dos entrevistados consideraram que a
circulação de ar é boa dentro da casa. O restante da amostra considerou
ruim a ventilação de ar dentro da casa, porém, esses moradores, em sua
maioria, habitavam casas já modificadas, e a existência de muros e outras
adaptações feitas, impedia a fácil circulação de ar no interior da casa. O
gráfico 02, representa o percentual obtido conforme as opiniões dos
entrevistados referentes à circulação de ar no interior da casa.
Gráfico 02 – Percentual entre casas nas quais há ou não boa circulação
de ar.
Foram feitas perguntas aos moradores do residencial estudado em
relação à necessidade de iluminação artificial no interior da casa durante
o dia. Novamente foi possível observar diferenças entre as respostas dos
moradores das casas modificadas e das inalteradas. Enquanto que os
moradores das habitações que mantinham o projeto original, relataram que
não era necessária a utilização de iluminação durante o dia, já que o
projeto "quadradão" original possibilita a entrada suficiente de luz solar
e permite a iluminação total da residência durante os períodos matutino e
vespertino, alguns dos moradores que tiveram as casas modificadas afirmaram
que em certos momentos a iluminação artificial faz-se necessário. Após
considerável análise desses casos particulares, observou-se que as
modificações realizadas sem planejamento, acabaram por bloquear os raios
solares dificultando a passagem da luz para o interior da residência. O
gráfico 03, apresenta o percentual obtido dos residentes que precisam ou
não fazer uso de iluminação artificial durante o dia
Gráfico 03 – Percentual de casas que fazem uso de iluminação
artificial durante o dia.
Como se pode perceber, a minoria, caracterizada por 15,625% de toda a
população entrevistada necessita de iluminação artificial durante o dia, o
que acaba por impactar fortemente na conta de luz das casas
correspondentes.
Outro aspecto fundamental considerado durante a aplicação do
questionário foi o da sensibilidade térmica de desconforto térmico no
interior da casa. Grande parcela dos moradores afirmou a existência de
desconforto térmico em pelo menos um dos cômodos da casa, ou seja, na
maioria das casas, os moradores conseguiam distinguir que a temperatura
interna de certos cômodos era superior quando comparada aos outros cômodos.
Dessa forma, tentou-se compreender os motivos que justificassem o
desconforto presente em alguns locais específicos da casa e observou-se que
os cômodos onde a temperatura era mais elevada, eram exatamente aqueles que
recebiam incidência direta dos raios solares em um maior período de tempo.
O gráfico 04 corresponde à porcentagem de pessoas que relataram ter ou não
sensibilidade térmica de desconforto em alguns cômodos da residência.
Gráfico 04 – Percentual de casas que sofrem com desconforto térmico em
pelo menos um cômodo da casa.
A partir da análise do posicionamento da fachada em relação ao sol,
notou-se influência deste nos resultados obtidos. As casas posicionadas com
a fachada nas direções Norte e Sul sofriam mais com o desconforto térmico
já que os raios solares incidiam diretamente, tanto no período matutino
quanto no vespertino, em duas das suas quatro paredes. Já as casas
posicionadas com a fachada nas direções Leste e Oeste, durante todo o dia,
a incidência direta dos raios provenientes do sol dava-se somente em uma
das quatro paredes. Outro fator determinante, e que impacta, mesmo que
pouco, na sensibilidade térmica dos moradores no interior da casa, é a cor
da tinta utilizada para recobrir a fachada. Algumas casas reclamaram de
desconforto térmico mesmo estando posicionadas com a fachada nas direções
Leste e Oeste, porém, foi verificado que essa mesmas casas eram revestidas
por cores de tintas mais escuras, como verde-musgo e vermelho por exemplo,
esses tipos de cores, como citado anteriormente no trabalho, possuem maior
tendência em absorver o calor emitido pelos raios solares, elevando a
temperatura interna da edificação.
5.2. Conclusões
Por meio das pesquisas referentes à substituição da alvenaria
convencional pela alvenaria de blocos de adobe, assim como pelas
informações coletadas com o questionário aplicado, foi concluído que há
necessidade de atentar para o desconforto térmico que aflige grande parte
da população estudada e portanto a substituição da alvenaria tradicional
por adobe, que possui propriedade termorreguladora , caracteriza-se como
uma alternativa possível e viável.
Para aperfeiçoar ainda mais o desempenho ambiental das edificações o
uso de trepadeira nas paredes de maior incidência solar, também se
caracteriza por uma solução termorreguladora para os cômodos que apresentam
maior desconforto térmico. Na aplicação desta técnica, as casas
posicionadas com a fachada nas direções Norte e Sul, apresentariam duas
paredes revestidas com a trepadeira, enquanto que, as casas posicionadas
com a fachada nas direções Leste e Oeste, apresentariam apenas uma única
parede revestida com a trepadeira.
A utilização de muros e portas vazadas é uma boa opção para aumentar a
circulação de ar na casa, já que permite a passagem do vento.
Outra importante conclusão é a utilização de tintas de coloração clara
na pintura externa das habitações.
Como as soluções propostas, são técnicas bastante acessíveis e de
elevada economia construtiva, essa redução no orçamente permite o
investimento em outras alternativas sustentáveis, como por exemplo, a
construção de cisternas coletoras da água pluvial ou até mesmo a instalação
de painéis fotovoltaicos.
6. SUGESTÕES
Como o objetivo deste trabalho não foi modificar as plantas dos projetos
habitacionais tradicionais do programa Minha Casa Minha Vida, sugere-se
para futuros trabalhos, o estudo do melhor aproveitamento do espaço
conforme as necessidades econômicas e sociais das famílias envolvidas no
programa
Fazer um projeto avaliativo do orçamento que comprove a viabilidade
econômica dos projetos mais sustentáveis, tal como este trabalho, em
comparação com os projetos tradicionais do programa Minha Casa Minha Vida.
Agradecimentos
Agradecemos a Prof. M.Sc. Simone Ramires por toda a assistência e
orientação durante o trabalho de pesquisa realizado, assim como a acadêmica
de Engenharia Civil Marília Leite que se disponibilizou a nos auxiliar
durante a aplicação do questionário no residencial em que habita.
Agradecemos também ao acadêmico de Comunicação Social Kenderson Araújo que
carinhosamente cedeu parte do seu tempo na elaboração do banner da pesquisa
apresentado no dia 19 de abril de 2013.
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