Preview only show first 10 pages with watermark. For full document please download

A Cachaça

Este trabalho apresenta o tema passando desde o seu processo histórico, a detalhes na sua produção e boas práticas para a obtenção de um produto final de qualidade, finalizando com uma caracterização económica do mercado deste produto.

   EMBED


Share

Transcript

Mestrado em Engenharia Alimentar Unidade Curricular: Tecnologia do Açúcar e Produtos Alternativos Professora Isabel Januário A Cachaça Trabalho Realizado Por: Cláudia Pereira, nº 19581 Deise Fraga, nº 121792 Maria Oom, nº 19252 Ano Letivo 2013/2014 “PLANTAR AS MUDAS NA ESTAÇÃO CHUVOSA VER SE DESENVOLVER CANA FRONDOSA PRA COLHER QUANDO BATE A ESTIAGEM E ANTES DE LEVAR PARA A MOAGEM TIRAR A PALHA E LAVAR A AREIA GUARAPA CORRE PARA A DORNA CHEIA ONDE IRÁ TRABALHAR A LEVEDURA ENTÃO VAI PRO ALAMBIQUE E A PRATA PURA DESLIZA DOCEMENTE PRO BARRIL CACHAÇA VEM DA TERRA DO BRASIL” UMA CRIAÇÃO DOS CACHACEIROS DA TÁVOLA REDONDA [1] 2 ÍNDICE PÁGINAS 1. Introdução …………………………………………………………………………………………. 4 2. Cachaça ……………………………………………………………………………………………… 5 2.1. História ……………………………………………………………………………………….. 5 2.2. Descrição Geral da Bebida …………………………………………………………… 7 3. Processo de Produção de Cachaça ……………………………………………………… 8 4. Boas Práticas para a Produção de uma Cachaça de Qualidade …………. 17 5. Tipos de Cachaça ……………………………………………………………………………… 18 5.1. Branca ou Amarelada ………………………………………………………………… 18 5.2. Armazenada ou Envelhecida ……………………………………………………… 18 6. Caracterização Económica ……………………………………………………………….. 19 6.1. Produção 6.2. Consumo 6.3. Importação e Exportação 7. Conclusão 8. Bibliografia 3 1. INTRODUÇÃO A realização do presente trabalho, cujo tema aborda a “Cachaça”, tem como intuito atender a uma atividade avaliativa da unidade curricular de Tecnologia do Açúcar e Produtos Alternativos, ministrada pela docente Isabel Januário. Além de contribuir de forma direta para o alargamento do conhecimento sobre o tema escolhido. A escolha do tema ocorreu dentre outras várias opções, todas envolvendo a obtenção de bebidas alcoólicas diferenciadas. A opção pela Cachaça ocorreu após a sugestão de um dos integrantes do grupo, que possui familiaridade com o tema, sendo prontamente aceite pelos restantes. A cachaça possui um rico processo histórico de evolução até se obter o produto final existente no mercado atualmente. É considerada um produto genuinamente brasileiro e a sua popularidade tem aumentado bastante no decorrer dos anos, possuindo uma fama internacional. Deste modo, este trabalho apresenta o tema passando desde o seu processo histórico, a detalhes na sua produção e boas práticas para a obtenção de um produto final de qualidade, finalizando com uma caracterização económica do mercado deste produto. 4 2. CACHAÇA 2.1. HISTÓRIA Apesar de fazer parte do quotidiano do povo brasileiro há séculos, existem poucas certezas sobre as origens da cachaça. Boa parte dos estudiosos que se dedicam ao assunto encontra muitas lacunas ao longo das suas pesquisas, gerando factos que não apresentam comprovação. O que todas as hipóteses e suposições, para a origem da bebida, têm em comum é sua óbvia relação com a produção açucareira no país [2]. A partir de 1530, quando se deu o início da colonização no Brasil, a produção açucareira apareceu como o primeiro grande empreendimento de exploração. Nesta altura, os portugueses já dominavam o processo de plantio e processamento da canade-açúcar – já realizado nas ilhas atlânticas – e ainda contavam com as condições climáticas que favoreciam a instalação de grandes unidades produtoras pelas regiões litorâneas no território [2]. Para que todo o trabalho fosse realizado, os portugueses acabaram por optar pelo uso da mão-de-obra escrava dos africanos. No processo de fabricação do açúcar, os escravos realizavam a colheita da cana e, após ser feito o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo em enormes tachos até se transformarem em melado. Nesse processo de cozimento, era fabricado um caldo mais grosso, chamado de “cagaça”, que era comumente servido, junto com as sobras da cana, aos animais [1]. Tal hábito fazia com que a “cagaça” fermentasse com a ação do tempo e do clima, produzindo um líquido fermentado de alto teor alcoólico. Assim acredita-se que, muito provavelmente, um escravo fez a descoberta, experimentando daquele líquido que se acumulava no coxo dos animais [2, 3]. Outra hipótese conta que, certa vez, os escravos misturaram um melaço velho e fermentado com um melaço fabricado no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram fazendo com que o álcool presente no melaço velho evaporasse e formasse gotículas no teto do engenho. À medida que o líquido pingava nas suas cabeças indo até a direção da boca, os escravos experimentavam a bebida que teria o nome de “pinga” [2, 3]. 5 Nessa mesma situação, a cachaça que pingava do teto atingia em cheio os ferimentos que os escravos tinham nas costas, por conta das punições físicas que sofriam. O ardor causado pelo contacto da cachaça com os ferimentos teria dado origem ao nome de “aguardente” para esse mesmo derivado da cana-de-açúcar. Essa seria a explicação para a descoberta dessa bebida tipicamente brasileira [3]. Inicialmente, a pinga aparecia descrita em alguns relatos do século XVI como uma espécie de “vinho de cana” somente consumida pelos escravos e nativos. Com o decorrer do tempo, levada por comerciantes, a bebida brasileira começou a fazer sucesso também na Europa e em África, onde era usada como moeda de troca para comprar escravos que iam trabalhar na lavoura colonial [1, 3]. Devido à importância económica da cachaça em terras brasileiras, a venda e troca do produto representava uma ameaça para a metrópole, já que ajudava a enriquecer os inimigos da Coroa, como os piratas holandeses que se estabeleceram no Nordeste do Brasil. Assim, para inibir a produção da cachaça, Portugal estabeleceu um excessivo imposto cobrado aos fabricantes de aguardente, que insatisfeitos com a taxação, se revoltam no dia 13 de Setembro de 1661 contra a metrópole [4]. Os revoltosos conseguiram posse de armamentos e invadiram as residências das autoridades locais. Exigiram o fim das taxas e a devolução dos impostos cobrados. Isso acabou gerando uma período de violência no país que teve fim em 1961, quando foi expedida uma ordem da Coroa portuguesa para soltar todos os presos revoltosos, sendo a produção de cachaça no Brasil legalizada marcando o episódio conhecido como Revolta da Cachaça [4]. No entanto, até chegar à bebida que hoje é valorizada no âmbito nacional e reconhecida com orgulho, a Cachaça sofreu uma baixa valorização no mercado a partir do ano de 1850 com o declínio do trabalho escravo e a intensificação económica do café. Assim, através da ascensão de uma nova elite conhecida como os Barões do Café houve uma intensa valorização de um estilo de vida europeu com repudio a tudo que fosse nacional [1, 2]. 6 Contra esse posicionamento discriminatório, surgem intelectuais, artistas e estudiosos com o compromisso de resgatar a brasilidade criticando com ironia e inteligência a incorporação da cultura e do costume estrangeiro [1, 2]. Nas últimas décadas, importantes acontecimentos têm contribuído para a valorização da cachaça e para o seu reconhecimento como património nacional. Em 1996, o então presidente legitima a cachaça como produto tipicamente brasileiro, estabelecendo critérios de fabricação e comercialização. Em 2012, uma lei transformou a cachaça em Património Histórico Cultural do estado do Rio de Janeiro e atualmente comemora-se o “Dia Nacional da Cachaça” a 13 de Setembro, como forma de recordação dos tempos de um Brasil colonial, quando a cachaça era símbolo de resistência contra a dominação portuguesa. [1, 2]. 2.2. DESCRIÇÃO GERAL DA BEBIDA De modo a que o produto receba a denominação de cachaça, deve obedecer aos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através da Instrução Normativa nº 13, que regulamenta a padronização e classificação de bebidas [5]. Sendo a cachaça, caninha, cana ou aguardente de cana toda a bebida que utilize a cana-de-açúcar como matéria-prima e com a sua graduação alcoólica entre 38 % e 54 % em volume, a 20° C, podendo ainda ser acrescida de açúcar até seis gramas por litro, sendo que quando a adição de açúcar for superior a seis e inferior a 30 gramas por litro deve receber a denominação de cachaça adoçada, caninha adoçada ou aguardente de cana adoçada [5]. A Instrução Normativa nº 13, também estabelece parâmetros quanto a qualidade e composição química para a Cachaça. Na Figura 1 apresentam-se os limites máximos para cada componente destilado: 7 Figura 1 – Padrões de Identidade e Qualidade da Cachaça 3. PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CACHAÇA A legislação não estabelece distinção entre os produtos finais obtidos nas destilarias industriais ou nos alambiques tradicionais. No entanto, existem muitas diferenças entre a cachaça de alambique e a cachaça industrial [6]. As cachaças industriais são controladas pelas empresas e a matéria-prima que lhes dá origem, a cana-de-açúcar, é cultivada em áreas enormes. Por outro lado, a cachaça artesanal é produzida em pequena escala por pequenos produtores, que utilizam na sua maioria mão-de-obra familiar. No Brasil, estima-se que existam cerca de 40 mil produtores de cachaça artesanal [6]. O processo de produção da cachaça industrial e artesanal também difere. Em larga escala utilizam-se colunas de destilação e tonéis de aço inox, faz-se a adição de produtos 8 químicos aquando da fermentação e não se separa a parte nobre do destilado. No processo artesanal, a operação de destilação é realizada em alambiques de cobre e a fermentação ocorre de forma natural. A parte nobre da cachaça é separada das impurezas com a finalidade de se obter um produto de maior qualidade e no envelhecimento são utilizados tonéis de madeira [6]. O processo de obtenção de cachaça artesanal pode ser descrito através das operações unitárias que constam da figura 1. A cachaça artesanal é produzida exclusivamente a partir da guarapa, visto não ser permitida a adição de produtos químicos [7]. Cana-de-Açúcar Preparação da Matéria-prima Bagaço Extração (Moenda) Guarapa Decantação/ Filtração Água Ácido Sulfúrico Diluição Fubá de Milho Farelo de Arroz Saccharomyces cerevisae Fermentação Vinho Cachaça de Cabeça Destilação Cachaça de Cauda Cachaça de 9 Figura 2 – Processo de Produção de Cachaça Artesanal. A cana-de-açúcar é a matéria-prima utilizada para a obtenção de cachaça. O produtor deve optar por variedades que melhor se adaptem ao solo, ao período de safra e ao clima da região onde é plantada. Tem ainda de ter em conta características como a produtividade, riqueza em açúcar e facilidade de fermentação da guarapa. A cana deve ser colhida manualmente e madura, com um teor de grau brix igual ou superior a dezasseis. Não é realizado o processo de queima da cana, visto que acelera a sua deterioração pela inversão mais rápida da sacarose em glucose e frutose. Além disso, provoca o acumular de cinzas nas dornas de fermentação, interferindo negativamente com o processo fermentativo. Ao nível do paladar, a queima confere à cachaça um sabor a queimado que deprecia a qualidade do produto [7, 8]. 10 Chegada à fábrica a cana é descarregada numa mesa de alimentação (figura 2) de modo a sofrer uma preparação para as etapas seguintes [6]. Nesta fase, a cana é lavada com uma injeção de água que cai directamente sobre a matéria-prima, sendo escoada inferiormente. A matéria-prima lavada segue para o corte e desfibração. Figura 3 - Preparação da cana-de-açúcar [6]. A extração é a etapa que se segue, sendo realizada através de moenda com o objetivo de separar o bagaço da guarapa. A cana fresca, madura, cortada e limpa deve ser moída num prazo limite de 36 horas. O bagaço extraído é aproveitado para o aquecimento das fornalhas do alambique [7]. Seguidamente, a guarapa proveniente da etapa anterior, sofre uma decantação e filtração, de modo a se separarem as impurezas, como por exemplo, bagacilhos (fragmentos de cana ou bagaço), terra e areia [6, 9]. A guarapa que segue para a fermentação apresenta-se limpa, clara e doce [10]. A diluição é a fase subsequente, consistindo num processo de preparação da guarapa. O teor de sacarose deve ser ajustado de modo a atingir o ponto ideal de fermentação, devendo estar compreendido entre 14 e 16 ° brix com a ajuda da adição de água de boa qualidade na dorna de diluição. Teores de açúcar superiores a 15 ° brix têm como consequência uma fermentação mais lenta e frequentemente incompleta, além de dificultar a multiplicação do fermento. Quando se destila (etapa que ocorre depois da fermentação) uma guarapa originária de uma fermentação incompleta, 11 ocorrem incrustações no alambique e formação de furfurol que provoca um aroma e gosto indesejáveis na cachaça. Por outro lado, teores inferiores a 15 ° brix permitem uma fermentação mais rápida, sendo importante na multiplicação do fermento. No entanto, diminuem o rendimento industrial [6, 8]. Pode ainda adicionar-se ácido sulfúrico com a finalidade de evitar a contaminação da guarapa por bactérias que podem produzir outros compostos prejudiciais à qualidade final da cachaça. Quanto mais limpa for a guarapa destinada à fermentação, menor a probabilidade de contaminações indesejáveis e melhor a qualidade da fermentação [6]. A fermentação exerce um papel essencial na produção de uma cachaça de qualidade. A cachaça é produzida pela fermentação espontânea da guarapa (com o uso do chamado “fermento caipira”) ou pelo emprego de fermentos industriais, como os que são utilizados na panificação ou produção de álcool (etanol). A fermentação espontânea é a mais utilizada no Brasil. Neste tipo de fermentação, os microrganismos presentes na guarapa, nos equipamentos (moinhos e dornas) ou trazidos pelos insetos existentes nas áreas de produção são os responsáveis pelo processo. Estes microrganismos transformam a sacarose presente na guarapa em etanol, dióxido de carbono e compostos secundários (ésteres, aldeídos, álcoois, etc). Os últimos conferem o sabor e aroma característicos da bebida [9]. O principal microrganismo presente no fermento caipira é a levedura Saccharomyces cerevisae (existente nos pontos de inserção das folhas no colmo) que apresenta capacidade de tolerância às condições de fermentação: grande concentração inicial de açúcar, elevada acidez, variações de temperatura, disponibilidade de nutrientes e teores crescentes de etanol [9, 11]. Do fermento caipira podem ainda fazer parte ingredientes como o fubá de milho, farelo de arroz e farinha de soja [6]. A sala de fermentação deve ser arejada, visto que os agentes fermentadores naturais se encontram no ar, mantendo uma temperatura ambiente de 25 °C de modo a otimizar a ação das leveduras. As dornas (figuras 3 e 4) onde a mistura permanece durante cerca de 24 horas, podem ser de madeira, aço inox, plástico ou cimento [7]. 12 Figuras 4 e 5 - Fermentação da guarapa [11]. A fermentação inicia-se imediatamente após a adição do fermento à guarapa. Numa fase inicial, os microrganismos começam a adaptam-se ao novo ambiente, começando a crescer. Numa segunda fase, as leveduras começam a reproduzir-se rapidamente, dá-se a libertação de dióxido de carbono em grandes quantidades, com um borbulhar intenso. Com o prosseguir da fermentação, o fermento tem tendência a aglomerar-se (processo de floculação). Nesta fase, é possível detetar um aroma agradável e característico, a temperatura aumenta, assim como, o teor alcoólico, com correspondente redução do teor de açúcar no mosto. A última fase é estacionária: a taxa de crescimento das leveduras e a produção de dióxido de carbono diminuem e o fermento precipita [12]. À medida que o mosto vai fermentando, o seu brix vai diminuindo até ao ponto em que deixa de haver libertação de bolhas de dióxido de carbono, indicando que o brix do mosto é igual a zero, estando deste modo a fermentação concluída [11]. O fermento depositado no fundo da dorna costuma ser reutilizado na fermentação seguinte. O vinho é retirado por gravidade das dornas de fermentação sendo encaminhado diretamente para a destilação nos alambiques [6]. O aroma do mosto fermentado deve ser agradável e penetrante, fazendo lembrar o aroma de frutas maduras, com acidez e no máximo, igual ao dobro da acidez inicial [8]. O mosto fermentado, agora denominado vinho, segue para a etapa de destilação onde irá dar origem à cachaça. O vinho de cana produzido pela levedura durante a fermentação é rico em componentes nocivos para a saúde, como por exemplo, os aldeídos, ácidos, bagaços e bactérias, possuindo no entanto uma baixa concentração alcoólica. Com o objetivo de adequar a bebida à concentração alcoólica à fixada por lei 13 (38 a 54 % v/v), recorre-se à destilação do vinho para elevar o seu teor em álcool. Este processo ocorre dentro de um alambique de cobre - figura 5 e 6 - (material importante na qualidade da cachaça porque catalisa a oxidação de compostos sulfurados de aroma desagradável), com produção de vapores que são condensados por arrefecimento, apresentando uma grande quantidade de álcool etílico [6]. Figura 6 e 7 - Alambique de cobre (à esquerda) e alambique de cobre com coluna de aço (à direita) [6]. Durante a destilação surgem três frações denominadas: cabeça, coração e cauda. A cachaça de cabeça (álcool inicial) que é obtida na fase inicial da destilação é rica em substâncias mais voláteis do que o etanol, não sendo recomendada para o consumo, sendo desta forma descartada. Na prática, os produtores consideram que esta fração corresponde a 5 a 10 % do total do destilado. A cachaça de cauda (álcool final), ou também denominada de “água fraca”, apresenta um teor maior de substâncias menos voláteis e indesejáveis, sendo também descartada. A cachaça de coração que corresponde à segunda fração destilada é a que contém elevada qualidade correspondendo a 75 a 85 % do total do produto destilado [7, 10]. 14 A cachaça passa por uma etapa de filtração com a finalidade de corrigir eventuais defeitos de qualidade e conferir maior limpidez, transparência e brilho [7]. A partir disto, a cachaça já pode ser engarrafada ou seguir para tonéis de madeira para envelhecimento. A cachaça envelhecida apresenta um sabor e aroma mais agradáveis do que a cachaça recém destilada, conferindo-lhe maior valor [6]. Uma das etapas finais é o envelhecimento que consiste num processo que permite aprimorar a qualidade do sabor e aroma da bebida. A estocagem é realizada preferencialmente em barris de madeira (figuras 7 e 8) onde ocorrem reações químicas em alternativa ao uso de barris de aço inox. As madeiras neutras, como o jequitibá e o amendoim, não alteram a cor da cachaça. Por outro lado, o carvalho, a umburana, o cedro e o bálsamo são os principais tipos de madeira que conferem um tom amarelado ao destilado, mudando o seu aroma e sabor. Após o período determinado para o envelhecimento da bebida, esta passa a estar pronta para ser engarrafada [7, 10]. Figuras 8 e 9 – Tonéis de envelhecimento horizontais (à esquerda) e tonéis de envelhecimento verticais (à direita) [6]. 15 Na fase de engarrafamento, são usadas garrafas com uma capacidade correspondente a 600 ml ou um litro, sendo de vidro ou cerâmica - figura 9. As garrafas são fechadas com rolha, tampa metálica ou conta-gotas. Seguidamente, o vasilhame é rotulado podendo ser enviado para expedição [10]. Os rótulos devem atender aos requisitos da legislação vigente [3,5]. Figuras 10 - Engarrafamento de cachaça em garrafas de vidro [13]. 4. BOAS PRÁTICAS PARA A PRODUÇÃO DE UMA CACHAÇA DE QUALIDADE As contaminações de origem química, microbiológica, ou até mesmo de origem física, comprometem a integridade económica do produto. Assim, existem normas que visam garantir a obtenção de uma Cachaça de qualidade, evitando esses tipos de contaminação durante o processo [1, 5]. A cachaça de qualidade é aquela que além de satisfazer as expectativas do consumidor, não oferece riscos à saúde quando ingerida com moderação. Para garantir 16 a qualidade, o produtor deve implementar as boas práticas nas diferentes etapas do processo de produção: moagem da cana, filtração e/ou tratamento do caldo, fermentação, destilação, armazenamento, envelhecimento, envase e rotulagem. Em cada uma delas existem pontos críticos que podem ser decisivos para resultar num produto de qualidade [1, 5]. Já durante a etapa inicial do processo existem cuidados a ser tomados. Na moagem, o uso de cana não queimada, boas condições de armazenamento e curto prazo entre a colheita e a moagem, contribuem para a não formação de compostos indesejáveis que comprometem a qualidade da cachaça. A filtração do caldo obtido da cana e o tratamento térmico (pasteurização) são recomendados para eliminar impurezas, reduzir a contaminação microbiana do mosto e consequentemente, proporcionar maior rendimento na fermentação e evitar alguns defeitos [1, 5]. O uso de levedura (fermento) industrial/selecionada é recomendado para a padronização da cachaça. No entanto, deve-se atentar ao limite de reciclos da levedura, para não ocorrer variação da cepa utilizada. A higienização da área de fermentação deve ser eficiente para uma boa condução do processo e evitar a contaminação microbiológica [1, 5]. O cobre é o material mais utilizado nas construções de alambiques, pois tem a capacidade de catalisar reações químicas e contribuir na eliminação de odores desagradáveis. Com a formação do azinhavre (carbonato de cobre), nas paredes internas do alambique, o excesso de cobre pode passar para a cachaça e contaminar o produto final. A limpeza do alambique com solução de ácido acético, suco de limão ou até mesmo água, auxilia na eliminação desse contaminante [1, 5]. O armazenamento ou “descanso” da cachaça deve ser realizado em recipiente inerte, que não passe odor e sabor para a bebida e não permita contaminação [1, 5]. 17 Deste modo, através de todo o controlo durante o processamento visa-se obter um produto que atenda não só as expectativas do consumidor assim como possua um consumo seguro dos pontos de vista: químico, físico e microbiológico [1, 5]. 5. TIPOS DE CACHAÇA Devido ao seu crescente reconhecimento no mercado, a Cachaça passou a ser cada vez mais diversificada, sendo que atualmente existem diversas categorias à venda no mercado tornando-se um produto com maior valor agregado [1]. 5.1. BRANCA OU AMARELA Existem algumas cachaças que no seu período de descanso são armazenadas em barris de madeira de diversos tipos, e dependendo da madeira usada, altera-se sensorialmente o produto que passa a ter cor, novos sabores e cheiros [1]. 18 A cachaça branca é aquela que após a destilação sofre um período de descanso em aço inox e em seguida é padronizada e engarrafada. A bebida apresenta um aroma e paladar mais próximos da cana. Existem também algumas cachaças que são retidas em madeiras que não soltam coloração (Jequitibá, Freijó, Amendoim) – continuando a ser brancas [1]. Já a cachaça que foi armazenada ou envelhecida em madeira, apresenta uma alteração substancial na sua coloração sendo classificada como Cachaça Amarela. Neste caso, o produtor poderá adicionar à marca a expressão Ouro [1]. 5.2. ARMAZENADA OU ENVELHECIDA Quando a cachaça fica armazenada por tempo indeterminado (2 ou 5 meses, 1 ou 3 anos) em tonéis de madeira sem distinção de tamanho é classificada como “Armazenada”. Este processo resulta no chamado “amaciamento” da bebida, influenciando o seu aroma e paladar de acordo com a madeira. É considerada “Envelhecida” quando no mínimo 50 % da cachaça fica durante pelo menos um ano em tonéis de no máximo 700 litros. Por ser um tonel menor e por ficar retido por mais tempo, as cachaças envelhecidas acabam por apresentar alterações mais evidentes na sua cor, aroma e paladar. As cachaças chamadas Premium são 100 % envelhecidas num período de um a três anos. A cachaça Extra-Premium é 100 % envelhecida no tempo mínimo de três anos [3]. 6. CARACTERIZAÇÃO ECONÓMICA 6.1. PRODUÇÃO 6.2. CONSUMO 6.3. IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 7. CONCLUSÃO 19 8. BIBLIOGRAFIA [1] Cachaça, Alma do Brasil, Disponível em: < http://www.mapadacachaca.com.br/cultura/cronicas-contos/cachaca-alma-brasil/>, Acesso em: 04/04/2014 e 02/05/2014 [2] TRINDADE, Alessandra. (2011), A História da Cachaça, Disponível em: , Acesso em: 02/05/2014. 20 [3] SAKAI, Rogério Haruo. (2007), Cachaça, Disponível em: , Acesso em: 02/05/2014. [4] DELPHINO, Cristine. (2010), Revolta da Cachaça, Disponível em: , Acesso em: 02/05/2014. [5] Decreto n° 2314, de 4 de setembro de 1997, Disponível em: , Acesso em: 02/05/2014. [6] Área do Conhecimento - Cana-de-açúcar, Disponível em: < http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-deacucar/arvore/CONT000fiog1ob502wyiv80z4s473agi63ul.html>, Acesso em: 04/04/2014 [7] Cachaça Express, Processo de Produção, Disponível em: < http://www.cachacaexpress.com.br/fabricacao>, Acesso em: 04/04/2014 [8] SOARES, A.; SOUZA, C., Produção da Cachaça de Alambique, Disponível em: < http://www.cachacadedodeprosa.com.br/dedodeprosa/Paginaf3ca.html?idSecao=70& idNoticia=220>, Acesso em: 04/04/2014 [9] Cachaça: Os Segredos da Fermentação, Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2007/243/cachaca-os-segredos-dafermentacao>, Acesso em: 04/04/2014 [10] SEBRAE, Processo Produtivo da Cachaça, Disponível em: < http://www.sebrae.com.br/setor/derivados-de-cana/cachaca/producao/1420processo-de-producao-da-cachaca/BIA_1420>, Acesso em: 04/04/2014 21 [11] Produção de Cachaça Orgânica - Fermentação do caldo da cana, Disponível em: < http://www.cpt.com.br/cursos-agroindustria-biocombustivel/artigos/producao-decachaca-organica-fermentacao-do-caldo-da-cana>, Acesso em: 04/04/2014 [12] SILVA, J; JESUS, J; COUTO, S., Noções Sobre Fermentação e Produção de Álcool na Fazenda, Disponível em: < ftp://www.ufv.br/Dea/poscolheita/Produ%E7%E3o%20de%20%C1lcool%20Combust% EDvel%20na%20Fazenda%20e%20em%20Sistema%20Cooperativo/Cap%EDtulo%201.p df>, Acesso em: 04/04/2014 [13] Carolmar Tradição Ltda, Cachaça Tradição Mineira, Disponível em: < http://www.tradicaomineira.com/producao.html>, Acesso em: 04/04/2014 [14] Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instrução Normativa n° 13, 29 jun. 2005, Disponível em: , Acesso em: 14/05/2014. 22