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A Arte Como Um Grito De Escape

transfiguração do sofrimento atraves da arte

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A ARTE COMO UM GRITO DE ESCAPE RESUMO O presente artigo desenvolveu-se a partir da obra “O nascimento da tragédia no espirito da música” por Friedrich Nietzsche, tendo como pontos principais, o nascimento da tragédia, o seu suicídio e o renascimento através da música, abordando os dois princípios que regem a ordem natural das coisas, o apolíneo e o dionisíaco, explanando os conceitos de arte trágica e verdade, vontade e representação. INTRODUÇÃO O filosofo alemão Friedrich Nietzsche apresenta em sua obra “O Nascimento da Tragédia no Espirito da Música”, a formulação de uma resposta diante de situações inesperadas e insuportáveis da vida, que vai além da nossa compreensão, o homem em seu tempo, e diante do caos ecoa o desespero, eis que surge a arte como esse grito libertador. A arte foi um dos temas mais importantes da reflexão filosófica de Nietzsche, e sobre isso buscou se aprofundar a partir dos estudos feitos sobre a Grécia antiga, e encontrou no povo grego os contrastes de uma cultura de valor, em vista disto, estabeleceu uma relação entre arte e verdade. A Grécia, berço da civilização ocidental, onde os gregos produziram na arte, literatura, ciência, filosofia, obras primas que estabeleceram os padrões de nossa cultura. Na concepção de Nietzsche, o povo grego era marcado, por uma sensibilidade, ao sofrimento e ao mesmo tempo tinha um grande caráter artístico, e para conferir um sentido à vida, dignifica-la, para nos seduzir a continuar vivendo, eles criaram a arte da aparência e da beleza. E diante da exaltação da beleza, os gregos já não poderiam negar a existência, as perdas e as dores, não poderiam ser evitadas para sempre, negar o sofrimento é negar a própria vida e esse sofrimento era o tema das chamadas tragédias gregas. Só através da arte trágica é que o homem tem a compressão de sua existência, pois o homem que pensa ontologicamente o seu ser através do sofrimento, pode filosofar sobre a vida. E é neste aspecto que Nietzsche aborda acerca da celebração e potencialização da vida que se expressa através do apolíneo e dionisíaco. JUSTIFICATIVA Partindo da inquietude, acerca da arte trágica grega, e de suas concepções de mundo, este artigo tem por objetivo compreender a relação entre a vida e a arte como vontade de potência, através da transfiguração da realidade para o plano estético. E sobre este fenômeno estético temos a contemplação artística da vida e a existência. A obra o “Nascimento da Tragédia no Espirito da Música” nos permite fazer uma reflexão por meio da arte sobre as questões da vida, a relação do homem com o tempo, a morte, as paixões, e por meio dessas indagações que nos surge diante da vida. A tragédia tem por função produzir alegria, e por meio disso que o homem se relaciona com a dor. É pela arte que homem se fortalece. Detendo-se a relação entre a arte de Apolo e Dionísio. A obra “O nascimento da tragédia no espirito da música”, enfatiza a arte trágica grega, mostrando então as bases desta teoria, que são o Apolíneo e o Dionisíaco, os princípios que regem a ordem natural das coisas. “Dioniso, “o ser mais transbordante de vida”, encarna nessa obra, além da embriaguez orgíaca, a superabundância existencial, a vida como poder criador. Esse deus grego será um tema constante na filosofia nietzschiana. Em oposição ao arrebatamento dionisíaco, Apolo é símbolo do comedimento, do domínio racional e da serenidade.” (BARAQUIN & LAFFITTE, 2007. p. 226). O princípio apolíneo advém do Deus Apolo, o qual segundo a mitologia grega é o Deus da medida, harmonia, luz, beleza, razão e do equilíbrio. O apolíneo é para Nietzsche o princípio da individuação, da ação de concepção do indivíduo em si e para si. Através deste, cria-se uma proteção contra o sombrio, o qual é a aparência, encobrindo o sofrimento e dor pela ilusão, ilusão esta que é o início da individuação. Em contraponto, temos o princípio dionisíaco fazendo referência ao Deus da embriaguez, da inspiração, irracionalidade, desejo, instinto, dilaceramento e do entusiasmo, chamado Dioniso. Para este pensador, enquanto o apolíneo prega a individuação, o dionisíaco aborda uma reconciliação das pessoas com as pessoas e com a natureza, ou seja, a unidade na multiplicidade. É a forma de escape da separação. Nesta obra, o que prevalece não é o antagonismo entre os dois princípios, é a reconciliação, ou seja, a aliança entre dionisíaco e apolíneo, tendo como relação o culto dionisíaco e a arte trágica, onde a tragédia transcreve e representa a embriaguez dionisíaca, encobrindo o apolíneo, a consciência de si. Nietzsche nunca havia falado com tamanha inspiração acerca dos deuses Dioniso e Apolo, eles eram as divindades que a arte grega mais havia adorado. Dioniso, o deus do vinho, da folia e da fertilidade, era um deus agressivo, com uma carga de sensualidade e embriaguez sem tamanho, depois veio Apolo, o deus da paz, do ócio, da tranquilidade e da emoção das belas artes. E sobre o mais elevado grau da arte grega, eis que temos a união dos dois ideais, a agitada força masculina de Dioniso, e a calma beleza feminina de Apolo. No drama da arte trágica, Dioniso inspirou um coral e Apolo o diálogo. O coral se desenvolveu a partir da legião de devotos de Dioniso, vestindo suas fantasias mordaz; e depois o diálogo, que foi uma reflexão, um anexo a uma experiência emocional. O traço essencial e mais profundo do drama grego foi à conquista do pessimismo através de Dioniso por meio da arte. O grego não era um povo alegre e otimista, como vimos nas composições poéticas e patrióticas sobre eles, eis que eles conheciam bem os ferroes da vida e sua trágica celeridade. “Esse poder das artes, de nos elevar acima de competição de vontades, é possuído, acima de tudo, pela música. “A música não é, em absoluto, como as outras artes, a cópia das Ideias” ou essências das coisas, mas “a cópia da própria Vontade”; ela nos mostra a vontade eternamente em movimento, lutando, vagando, sempre voltando, afinal, para si mesma, a fim de recomeçar a luta. “É por isso que o efeito da música é mais poderoso e penetrante do que o das outras artes, pois estas só falam de sombras, enquanto ela fala da coisa em si mesma.”.” (DURANT, 2000. p. 317). Para que possa compreender a teoria da tragédia, deve-se considerar que só é possível a arte trágica através da música. A tragédia surge a partir do espirito da música, ou seja, da possessão ocasionada pela música. Nietzsche diz que a música é uma arte fundamentalmente dionisíaca, para ele é a melhor forma de se romper com a individuação. Mas este pensador agrega a música elementos apolíneo, os quais são a palavra e a cena. Então, com a tragédia fundada nos princípios apolíneos e dionisíacos, ou seja, a união de aparência e essência, da representação e da vontade, o qual é a atividade que dá ingresso aos assuntos da vida. Para Nietzsche, o dionisíaco designa a vontade de potência, ela é a punção fundamental para a vida, pois para este, o instinto é o poder criador da existência. Tendo como proposito viver e não morrer. “Agora como que se abre diante de nós a montanha mágica do Olimpo, e mostra-nos suas raízes. O grego conhecia e sentia os pavores e sustos da existência: simplesmente para poder viver, tinha de estender à frente deles a resplandecente miragem dos habitantes do Olimpo.” (NIETZSCHE, 1983. p.08). Para suportar sua existência trágica, o grego cria o Olimpo, com seus deuses, como representações de suas ações, tirando de si a responsabilidade de seus atos e reações e transfigurando para outro plano. Essa transfiguração representa todo esse drama de forma artística, a transposição de um plano para outro (artístico/popular). Mas os gregos saíram vitoriosos, derrotando as sombras de sua decepção com o resplendor da arte, do seu próprio sofrimento, e assim criando a representação do drama por meio do fenômeno estético, tendo por objetivo de contemplar ou de reconstruir a forma artística, e com isto, nos mostra que a existência e o mundo possa nos parecer justificados, através do majestoso se submetendo a forma artística do horrendo. “[...] a razão principal, do chamado suicídio da tragédia é o socratismo de Eurípedes. Pois, para Nietzsche, Eurípedes foi apenas uma máscara, no sentido de que quem falava por ele não era nem Apolo nem Dioniso, era Sócrates, o protótipo do homem teórico, aquele que só encontra satisfação em arrancar o véu da aparência [...]” (MACHADO, 2007. p. 10). A tragédia chega ao seu fim quando por meio de Eurípedes, no qual a instancia mais admirável passa a ser o conhecimento e não mais a arte, busca influencias acerca da filosofia socrática, e que por meio dele iniciou-se um raciocínio que foi responsável pela perda dos instintos vitais. Mas eis que o espirito do dionisíaco renasce outra vez e sobrevive por meio da música, e da tragédia de Wagner, Nietzsche considera que o drama do mesmo, é um medicamento que o cura do veneno, o qual seria a abstenção dos deleites da vida e do cristianismo, ambas atreladas à filosofia socrática, Wagner surge como sendo o raiar de uma nova cultura, que com a força das notas musicais, luta contra a perda dos sentidos da vida e dos valores que se prendem a ele. Eis que a música nos proporciona um consolo metafisico, tendo efeito na tragédia dionisíaca, que nos fortalece, e que se mistura com os experimentos da própria liberdade. O consolo metafísico é o efeito da tragédia, ele nos mostra a certeza da vida no fundo da existência das coisas. CONCLUSÃO Portanto, Nietzsche em sua obra traz os conceitos apolíneo e dionisíaco para a cena, a eles atribuídos os elementos da luz, beleza, emoção e aparência (Apolo), da embriaguez, inspiração, dilaceramento e instintos (Dioniso). Sendo para os gregos, os princípios que regem a ordem natural das coisas. Visto que, o princípio apolíneo traz a individuação e o dionisíaco, a reconciliação do ser com o ser e também a natureza, onde a mais nobre da arte grega era o ajuntamento dos dois ideais. A morte da tragédia se dá pela constância do socratismo de Eurípedes, pois, para Nietzsche a tragédia não tem uma morte natural como as outras artes, ela teria se submetido ao suicídio. A partir desta prevalência, do homem teórico, e pensador lógico, sobre o artista, e o poeta. Na modernidade, Nietzsche vê uma tentativa de renascimento da concepção trágica de mundo, em Richard Wagner e Arthur Schopenhauer, ou seja, na música e na filosofia. Em que a tragédia renasceria com todo o seu resplendor e sua magnificência de arte.