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2 Comentario Biblico Espositivo Do Antigo Testamento - Warren W....

2 Comentario Biblico Espositivo do Antigo Testamento - Warren W. Wiersbe-Volume-II-Historico

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H is t ó r ic o s C o m e n t a r W arren W. W iersbe C o m e n t á r io B íb l ic o E x p o s it iv o Antigo Testamento Volume II —Histórico W arren T W. W r a d u z id o iersbe po r S u s a n a E . K la s s e n I a Edição 5a Impressão Geográfica Santo André, SP - Brasil 2010 Comentário Bíblico Expositivo Categoria: Teologia / Referência Copyright ® 2001 por Warren W. Wiersbe Publicado originalmente pela Cook Communications Ministries, Colorado, e u a . Título Original em Inglês: The Bible Exposition Commentary - Old Testament: History Preparação: Liege Maria de S. Marucci Revisão: Theófilo Vieira Capa: Douglas Lucas D iagram ação: Viviane R. Fernandes Costa Im pressão e A cabam ento: Geográfica Editora Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2 a edição (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indi­ cação específica. A I a edição brasileira foi publicada em maio de 2006. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo : Antigo Testamento : volume II, Histórico / Warren W. Wiersbe ; traduzido por Susana E. Klassen. Santo André, SP : Geográfica editora, 2006. Título original: The Bible Exposition Commentary Old Testament: History ISBN 85-89956-49-0 1. Bíblia A.T. - Comentários I. Título. 06-3699 CDD-221.7 índice para catálogo sistemático: 1. Antigo Testamento : Bíblia : Comentários 221.7 2. Comentários : Antigo Testamento : Bíblia 221.7 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela: Geo-Gráfica e editora ltda. Av. Presidente Costa e Silva, 2151 - Pq. Capuava - Santo André - SP - Brasil Site: www.geograficaeditora.com.br S u m á r io J o s u é .................................................................................................... 0 7 J u iz e s .................................................................................................... 8 9 R u t e .................................................................................................1 72 1 S a m u e l ........................................................................................... 199 2 S a m u e l / 1 C r ô n ic a s ................................................................... 2 93 1 R eis ..................................................................................................391 2 R eis / 2 C r ô n ic a s ......................................................................... 491 E s d r a s .............................................................................................5 86 N ee m ia s ...........................................................................................6 1 4 Es t e r , 689 J osué ESBOÇO IV. RENOVANDO A ALIANÇA - Tema-chave: A propriando-nos de nossa vi­ tória e de nossa herança em Cristo Versículo-chave: Josué 1:8 1. A última mensagem de Josué aos 23 - 24 líderes - 23 2. A última mensagem de Josué à nação - 24 CONTEÚDO I. PREPARANDO A NAÇÃO - 1. 1 - 5 1. A nim ando o líder - 1 2. 2. Espiando a terra - 2 3. Atravessando o rio - 3 - 4 4. Confirm ando a aliança - 5 3. 4. II. DERROTANDO O IN IM IG O 6-12 1. 2. 3. 4. A cam panha central - 6 - 9 A cam panha ao sul - 10 A cam panha ao norte - 11 Resum o das vitórias - 12 III. APROPRIANDO-SE DA HERANÇA 13 - 22 1. O s territórios são designados às tribos 1 3 -1 9 2 . A s cid ad es de refúgio são separadas - 20 3. As cidades dos levitas são identificadas - 21 4. A s tribos da fronteira são m andadas para casa - 22 5. 6. 7. 8. 9. R eco m eço (Introdução ao Livro de Josué)................8 Sigam o líder (Js 1)...........................................................................14 Um a prosélita em C anaã (Js 2 )..............................................................................21 Avante pela fé (Js 3 - 4 ) .....................................................................26 Preparando-se para a vitória (Js 5)............................................................................. 32 C o m eça a conquista (Js 6 )............................................................................. 38 Derrota na terra da vitória (Js 7)............................................................................. 45 Transformando a derrota em vitória (Js 8 )..............................................................................51 O inimigo mora ao lado (Js 9:1 - 1 0 :2 8 ).....................................................57 10. Esta terra é nossa! (Js 1 3 - 2 1 ) .............................................................. 65 11. Q uando term ina a batalha (Js 2 2 ).......................................................................... 72 12. O cam inho de todos os da terra (Js 23 - 2 4 ) ............................................................ 78 13. Retrospectiva de uma grande vid a.......84 1 R ec o m eç o In tro d ução ao l iv r o de Jo sué or que alguém de nossa ép oca deveria estudar o Livro de Josué, um relato som ­ P brio de guerras, m atanças e conquistas? Se o Livro de Josué fosse ficção , poderíam os aceitá-lo com o um a em ocionante história de aventura, mas ap resenta fatos reais e faz parte das Sagradas Escrituras. O que isso sig­ nifica para nós nos dias de hoje? "N unca houve guerra boa nem paz ruim", escreveu Benjamin Franklin em 1 783, mas é possível que, dessa vez, o velho e sábio pa­ triota estivesse errado. Afinal, Deus chamou Josué para ser um general e liderar o exército de Israel numa conquista santa. N o entanto, o que estava em jog o nessa conquista era algo m aior d o que apenas a invasão e p o sse de uma terra - eram questões q ue dizem respeito à nossa vida e fé nos dias de hoje. Por isso estamos nos propondo a realizar este estudo. O Livro de Josué trata de um recomeço para o povo de Deus, e muitos cris­ tãos de hoje precisam de um recomeço. D e­ pois de quarenta anos vagando pelo deserto, Israel apropriou-se de sua herança e desfrutou as bênçãos das terras que Deus havia prepara­ do para eles, "como os dias do céu acima da terra" (D t 1 1 :2 1 ). É esse tipo de vida que Deus deseja que tenham os em nosso tempo. Jesus Cristo, nosso Josué, quer nos condu­ zir agora à conquista e com partilhar conosco os tesouros de sua herança m aravilhosa. Ele "n o s tem a b e n ço ad o co m toda sorte de bênção espiritual" (Ef 1 :3), mas, com freqüên­ cia, vivem os com o indigentes derrotados. 1. O NOVO LÍDER D e Êxodo 3 a D eutero nô m io 34, a Bíblia co n c e n tra sua a te n ç ã o no m inisté rio de M oisés, o servo escolhido por D eus para li­ derar o povo de sua nação, Israel. No entan­ to, M oisés faleceu e, apesar de não ter sido esquecido (seu nom e aparece mais de cin­ qüenta vezes no Livro de Josué), um novo "servo do S e n h o r " (Js 2 4 :2 9 ) passou a ocupar o seu lugar. "D eu s sepulta seus obreiros, mas sua obra co n tin u a." O b servarem o s, poste­ riorm ente, que essa m udança de líderes traz consigo enorm e lição espiritual para os cris­ tãos que desejam experim entar em sua vida o que Deus tem de melhor para eles. J o su é > o escra v o . D eu s passou vário s anos preparando Josué para seu cham ado. Ele nasceu na escravidão no Egito e rece­ beu o nom e de O séias (Nm 13:8), que sig­ nifica "salvação ". M ais tarde, M oisés mudou esse nome para Josué (Nm 13:16), "Jeová é Salva ção ", a form a h eb raica de Jesus (M t 1:2 1 ; ver A t 7:45 e Hb 4 :8 ). Ao cham arem seu bebê de "sa lvação ", os pais de Josué estavam dando testem unho de sua fé na prom essa divina de redenção para seu povo (G n 15:12-16; 50:24-26). Josué era da tribo de Efraim e o filho primogênito de Num (1 C r 7:20-27). Isso significa que sua vida corria perigo na noite de Páscoa, mas ele teve fé no Senhor e foi protegido pelo sangue do cordeiro (Êx 11 -1 2 ). Enquanto estava no Egito, Josué viu os sinais e prodígios que D eus realizou (Êx 7 12) e soube que Jeová era um Deus de po­ der que cu id aria de seu povo. O Senhor havia humilhado os deuses do Egito e mos­ trado que som ente ele era o Deus verdadei­ ro (Êx 1 2 :1 2 ; Nm 3 3 :4 ). Josué viu o Senhor abrir o mar Verm elho e, em seguida, fechar as águas e afogar o exé rcito eg ípcio que estava no encalço dos hebreus (Êx 14 - 15). Josué era um hom em de fé que co nhecia o Senhor e confiava que ele faria maravilhas por seu povo. Jo su é , o so ld a d o . O primeiro ato oficial de Josué registrado nas Escrituras é sua der­ rota dos am alequitas, quando estes ataca­ ram Israel ce rca de dois meses depois do êxodo de Israel do Egito (Êx 1 7:8-16). M oisés era profeta e legislador, mas Josué era um general com aptidões militares extraordiná­ rias. Tam bém era um hom em de grande JOSUÉ coragem , que não tinha medo de confron­ tar o inimigo, confiando que o Senhor lhe daria a vitória. O n d e Josué aprendeu a usar a espada e a com andar um exército? Sem dúvida, havia recebido dons especiais do Senhor, mas até mesm o os dons celestiais precisam ser des­ cobertos e desenvolvidos num contexto aqui na terra. Teria Josué participado, de alguma forma, do exército egípcio e recebido ali seus prim eiros treinam entos? A pesar de as Escri­ turas não dizerem coisa alguma a respeito e de não poderm os ser dogm áticos, essa é uma possibilidade. Assim com o M oisés re­ cu so u um carg o e le v a d o no p a lá cio do Faraó, mas recebeu ali sua ed u cação (H b 1 1 :24-26; At 7:2 2 ), tam bém é possível que Josué tenha recusado prom oções no exérci­ to para que pudesse se identificar com seu povo e servir ao Senhor. D e acordo com Êxodo 1 7:14, o escritor indica que D eus havia escolhido Josué para um trabalho especial no futuro. A pesar de Josué não saber disso, a batalha contra Amaleque foi um tempo de prova durante o qual Deus exam inou sua fé e coragem . "Faça de toda ocasião um a grande ocasião, pois você nunca sabe quando alguém pode estar me­ dindo você para algo m aior" (M arsden). O conflito de Josué com Am aleque foi uma pre­ paração para as muitas batalhas que ele ain­ da iria travar na Terra Prometida. Jo su é> o servo. Em Êxodo 2 4 :1 3 , Josué é cham ado de servo de M oisés ("servid o r"), o que indica que, a essa altura, Josué era um assistente oficial do líder de Israel. A co m pa­ nhou M oisés ao monte e na ocasião em que M oisés julgou o povo por ter co nfeccio n a­ do o bezerro de ouro (Êx 32:1 7). Não basta­ va Josué ser um bom guerreiro; tam bém era preciso que conhecesse o Deus de Israel e as santas leis dadas por D eus a seu povo para que o b ed ecesse. Verem os que o se­ gredo das vitórias de Josué não foi sua des­ treza com a espada, mas sua subm issão à Palavra de D eus (Js 1:8) e ao Deus da Pala­ vra (Js 5:13-15). Durante a jo rnada de Israel pelo deser­ to, M oisés tinha uma tenda especial, arm a­ da do lado de fora do acam pam ento, onde 9 podia se encontrar com Deus (Êx 33:7-11). Era responsabilidade de Josué ficar à porta dessa tenda e guardá-la. Josué não era ape­ nas um guerreiro, mas tam bém um adorador, e sabia viver na presença de Deus. O zelo de Josué não se limitava à glória de D eus, estendendo-se ainda à honra e à autoridade de M oisés. Trata-se de uma boa ca racte rística para um servo , evid en ciad a quando D eus enviou seu Espírito sobre os setenta anciãos que M oisés havia escolhido para auxiliá-lo em seu trabalho (Nm 11:163 0). Q u an d o o Espírito veio sobre Eldade e M edade - dois hom ens que não haviam se reunido com os dem ais anciãos no tabernáculo e que se encontravam no acam pam en­ to - , Josué protestou e pediu a M oisés que os im pedisse de profetizar. (Para uma passa­ gem paralela no Novo Testam ento, ver Lc 9 :4 9 , 5 0 .) A lib e ra lid a d e do e sp írito de M o isés deve ter exe rcid o im p acto sobre Josué, uma vez que M oisés não pediu qual­ quer privilégio especial para si. Vale a pena observar que, na ocasião da divisão da Terra Prom etida depois da conquista, Josué tomou sua parte para si por último (Js 19:49-51). Jo su é , o espia. Q uand o Israel chegou a Cades-Barnéia, na fronteira da Terra Prom e­ tida, D eus ordenou a M oisés que escolhes­ se doze homens - dentre eles Josué - para espiar a terra de C an aã (N m 13). D epois de quarenta dias investigando a terra, os espias voltaram e relataram a M oisés que, de fato, a terra era boa. No entanto, d ez desses es­ pias desanim aram o povo, dizendo que Is­ rael não era forte o suficiente para vencer o inim igo, enquanto dois espias - C aleb e e Josué - incentivaram o povo a confiar em Deus e a entrar na terra. Infelizm ente, o povo deu ouvidos aos dez espias incrédulos. Foi esse ato de incredulidade e de rebeldia que adiou a conquista da terra durante quarenta anos. Essa crise revelou algum as e xcele n tes qualidades de liderança em Josué. Não era cego para a realidade da situação, mas não permitiu que os problem as e dificuldades ti­ rassem dele sua fé em Deus. O s dez espias olharam para Deus através das dificuldades, enquanto Josué e C aleb e olharam para as 10 JOSUÉ d ificu ld a d e s atra vé s d a q u ilo que sabiam sobre D eus. O Deus deles era grande o sufi­ ciente para as batalhas que Israel enfrentaria adiante! Sabendo que estava certo, Josué não teve m edo de se p ro n u nciar con tra a m aioria. Som ente ele, M oisés e C aleb e assum iram essa posição e arriscaram a vida ao fazê-lo, mas D eu s estava d o lado deles. Alguém dis­ se muito bem que "um a pessoa com Deus a seu lado constitui a m aio ria". Era desse tipo de coragem q u e Josué iria precisar para conduzir Israel a sua terra, a fim de derrotar os inimigos e de se apropriar de sua herança. Pense nos anos de bênçãos na Terra Pro­ metida que Josué perdeu porque o povo não teve fé em Deus! Porém, Josué perm aneceu pacientem ente ao lado de M oisés e fez seu trabalho, sabendo que, um dia, ele e C aíebe receberiam a herança prom etida (Nm 14:19). O s líderes devem saber não apenas quan­ do conquistar vitórias, mas tam bém quando aceitar derrotas. Suspeito que Josué e C alebe se reuniam com freqüência para encorajarse m utuam ente, à medida que o m omento de receber sua herança se aproxim ava. D ia­ riam ente, durante quarenta anos, iam ven­ do a geração mais velha morrer, mas cada dia os levava para mais perto de C anaã (ver Hb 10:22-25 para um a passagem paralela no Novo Testam ento). Josué, o sucessor. Ao longo daquela jo r­ nada pelo deserto, D eus estava preparando Josu é para seu m inistério co m o su cessor de M oisés. Q u an d o Israel derrotou O gue, rei de Basã, M o isés usou essa vitó ria para e n c o ra ja r Josu é a não tem er os inim igos (D t 3 :2 1 -2 8 ; Nm 2 1 :33-35). Q u an d o M oisés estava se preparando para m orrer, pediu a D eus q u e desse um líder ao povo, e Deus nom eou Josué (N m 2 7 :1 2 , 13; D t 3 :23-29). Em sua últim a m ensagem a Israel, M oisés disse ao povo que D eus usaria Josué para derrotar seus inim igos e ajudá-los a ap ro­ priar-se da h e ra n ç a . Tam b é m e n c o ra jo u Josué a confiar em D eus e a não tem er (D t 3 1:1-8). M oisés im pôs as mãos sobre seu sucessor, e D eus deu a Josué o poder espi­ ritual necessário para realizar seu trabalho (D t 3 4 :9 ). Assim com o M oisés, Josué era humano e co m eteu erros, mas con tin uo u sendo o líder escolhido e ungido de D eus, e o povo sab ia d isso . Foi por esse m otivo que os israelitas disseram a Josué: "C o m o em tudo obedecem os a M oisés, assim obedecerem os a ti" (Js 1:1 7). O povo de D eu s na igreja de hoje precisa reco n hecer os líderes de Deus e dar-lhes o respeito que lhes é devido com o servos do Senhor (1 Ts 5 :1 2 , 13). O segredo do sucesso de Josué foi sua fé na Palavra de D eu s (Js 1:7-9), em seus m and am ento s e prom essas. A Palavra de Deus para Josué foi: "Sê forte" (Js 1:6, 7, 9, 18; ver tam bém Dt 3 1 :6 , 7, 23 ), e essa tam­ bém é sua Palavra para seu povo hoje. 2 . A NOVA TERRA A Terra Prometida. A palavra "terra" apare­ ce noventa e seis vezes no Livro de Josué, pois este livro é o registro da entrada, co n­ quista e posse da Terra Prom etida por Israel. D eus prometeu a Abraão que lhe daria essa terra (G n 12:1-7; 13:15-17; 15:7, 18; 17:8; 2 4 :7 ) e confirm ou essa prom essa a Isaque (G n 26:1-5), Jacó (G n 2 8 :4 , 13, 15; 3 5 :1 2 ) e a seus descendentes (G n 5 0 :2 4 ). A narrativa do êxodo apresenta várias reafirm ações des­ sa prom essa (Êx 3 :8 , 1 7; 6 :4 , 8 ; 1 2 :2 5 ; 1 3:5, 11; 1 6 :3 5 ; 2 3 :20-33; 33:1-3; 34:10-16), que se repetem em L e v ítico (Lv 1 4 :3 4 ; 1 8 :3 ; 1 9 :2 3 ; 20:22-24; 2 3 :1 0 ; 2 5 :2 , 38) e em Nú­ meros (Nm 1 1 :12; 1 5 :2 ,1 8 ; 1 6 :1 3 ,1 4 ; 2 0 :1 2 , 2 4 ; 2 7 :1 2 ; 3 3 :5 3 ; 3 4 :2 , 12). (V er tam bém 1 C r 16:14-18.) Em seu "discurso de despedida" (Deuteronôm io), M oisés fez m enção da terra com freqüência, bem com o da responsabilidade do povo em tomar posse dela. A palavra "ter­ ra" a p a re c e q u a se d u z e n ta s v e z e s em D euteronôm io, e o verbo "possuir", mais de cinqüenta vezes. Israel era "proprietário" da terra em função da aliança que D eus, em sua graça, havia feito com Abraão (G n 12:15), mas o usufruto da terra dependia de sua obediência fiel a D eus. (Ver Lv 26 e Dt 28 30.) Enquanto os israelitas obedeceram à lei de D eus, o Senhor os abençoou, e eles pros­ peraram na terra. No entanto, quando o povo deu as costas para D eus e voltou-se para os JOSUÉ ídolos, Deus o disciplinou na terra (Livro de Juizes) e depois os levou para fora de sua terra, até o cativeiro na Babilônia. D epois de vários anos de disciplina, o povo de Is­ rael voltou a sua terra, porém nunca mais recuperou inteiram ente a glória e as bên­ çãos do passado. Deus cham ou a Terra Prom etida de "boa terra" (D t 8 :7 -1 0 ), contrastando -a com a m onotonia e a aridez do Egito (D t 1 1 :8-14). Aquele deveria ser o descanso de Israel, sua herança e o lugar onde Deus habitaria (D t 1 2 :9 , 11). D epois de suportar a escravidão no Egito e a penúria no deserto, os israelitas finalm ente seriam capazes de encontrar des­ canso em sua Terra Prom etida (Js 1 :1 3 , 15; 1 1 :2 3 ; 2 1 :4 4 ; 2 2 :4 ; 2 3 :1 ). Esse conceito de "descanso" volta a aparecer no Salm o 95:11 e em H ebreu s 4 co m o um a ilustração da vitória que os cristãos podem alcan ça r se entregarem tudo ao Senhor. O profeta Ezequiel cham ou a terra de Israel de "coro a de todas as terras" (Ez 2 0 :6 , 15) e Daniel a cham a de "terra gloriosa" (Dn 8 :9 ; 11:16 e 41). Em várias ocasiões, ela é descrita com o "a terra que m ana leite e mel" (Êx 3 :8 , 17; 1 3 :5 ; 3 3 :3 ; Lv 2 0 :2 4 ; Nm 1 3 :2 7 ; Dt 6 :3 ; 1 1 :9; etc.). Trata-se de uma declara­ ção proverbial, que significa "terra de abun­ d â n c ia ", lugar de pastos tran q ü ilo s e de jardins, onde os rebanhos podiam pastar e as abelhas coletavam pólen para fazer mel. A im p o rtâ n cia da terra. D e acordo com o profeta E ze q u ie l, Jeru salé m estava "no meio das nações" (Ez 5:5) e a terra de Israel encontrava-se "no meio da terra" (Ez 3 8 :1 2 ). A palavra hebraica traduzida por "m eio" tam­ bém significa "um bigo", indicando que Israel era a "lin h a v ita l" de co m u n ic a çã o entre Deus e este mundo, pois "a salvação vem dos judeus" (Jo 4 :2 2 ). D eu s escolheu a terra de Israel para ser o "p a lco " no qual o grande drama da redenção seria apresentado. Em G ênesis 3 :1 5 , D eus prometeu enviar um Salvador ao m undo, e o prim eiro passo para o cum prim ento dessa prom essa foi o cham ado de A braão. A partir de G ênesis 12, o relato do Antigo Testam ento concentra-se no povo de D eus e na terra de Israel. Abraão saiu de Ur dos caldeus a fim de ir para essa 11 nova terra, onde nasceram Isaque e Jacó. D eus anunciou que o Redentor viria da tri­ bo de Judá (G n 4 9 :1 0 ) e da fam ília de Davi (2 Sm 7). N asceria de uma virgem em Belém (Is 7 :1 4 ; M q 5:2) e, um dia, m orreria pelos pecados do mundo (Is 53 ; SI 22). Todos es­ ses acontecim entos im portantes na história da redenção ocorreriam na terra de Israel, terra que Josué havia sido cham ado a con­ quistar e a tomar posse. 3 . A NOVA VID A Infelizm ente, alguns de nossos hinos cristãos equipararam a travessia do Jordão com a morte do cristão e sua ida ao céu, equívoco que causa confusão quando co m eçam os a interpretar o Livro de Josué. O s acontecim entos registrados no Livro de Josué dizem respeito à vida do povo de Deus e não à sua m ortel O Livro de Josué registra batalhas, derrotas, pecados, fracas­ sos, e não haverá nada disso no céu. Ilustra com o o cristão de hoje pode deixar para trás a antiga vida e entrar em sua rica heran­ ça em Cristo Jesus (Ef 1:3). A quilo que a carta de Paulo aos Efésios explica em termos dou­ trinários, o Livro de Josué ilustra em termos práticos. M ostra com o tomar posse de nos­ sas riquezas em Cristo. M as tam bém mostra com o nos apropriar de nosso descan so em Cristo. Esse é um dos principais temas do Livro de Hebreus, expli­ cad o nos ca p ítu lo s 3 e 4 dessa ep ísto la. Nesses capítulos, encontram os quatro "des­ cansos" diferentes, todos relacionados entre si: o descanso de D eus no sábado depois da criação (H b 4 :4 ; G n 2 :2 ); o descanso da salvação que tem os em Cristo (H b 4 :1 , 3, 8, 9; M t 11:28-30); o descanso eterno do cris­ tão no céu (H b 4 :1 1 ); e o descanso que Deus deu a Israel depois de o povo ter conquista­ do C an aã (H b 3:7-19). D eus prometeu a M oisés: "A m inha pre­ sença irá contigo, e eu te darei descanso" (Êx 3 3 :1 4 ). Por certo, os israelitas não tive­ ram descanso algum no Egito, nem enquanto vagavam pelo deserto , mas na Terra Pro­ m etida, D eu s lhes daria repouso. Em sua m ensagem de despedida ao povo, M oisés disse: "Porque, até agora, não entrastes no 12 JOSUÉ descanso e na herança que vos dá o S e n h o r , vosso D e u s" (D t 1 2 :9 ; ver tam bém 3 :2 0 ; 12:9, 10; 2 5 :1 9 ). Esse "descanso em Canaã" é um retrato d o descanso que os cristãos ex­ perim entam quando entregam tudo a Cristo e apropriam-se d e sua herança pela fé. O s quatro lugares encontrados na his­ tória de Israel ilustram quatro experiências espirituais. O Egito foi o lugar de morte e de escravidão do qual Israel foi liberto. O san­ inimigos diante de si e conquistou esses ini­ migos pela fé. A vida cristã vitoriosa não é um triunfo definitivo que dá cabo de uma vez por to­ das de todos os nossos problem as. C onfor­ me Israel ilustra no Livro de Josué, a vida gue do cordeiro livrou-os da morte, e o po­ der de Deus abriu o mar Verm elho e os fez cristã vitoriosa é uma série de conflitos e de vitórias, ao derrotarm os inimigos consecuti­ vos e nos apropriarm os cada vez mais de nossa herança para a glória de Deus. O co­ nhecido pregador esco cês A lexander W hyte costum ava dizer que "a vida cristã vitoriosa atravessar em segurança. Isso ilustra a sal­ vação que temos pela fé em Jesus Cristo, "o C o rd e iro de D e u s, que tira o pecad o do é uma série de recom eços". D e acordo com Josué 1 1 :23 , os israelitas deveriam tomar a terra toda, mas de acordo m undo!" (Jo 1:29 ). Por meio de sua morte e ressurreição, Jesus Cristo livra da escravidão e do julgam ento todo pecad or que crê. O tempo que Israel passou no d eserto retrata os cristãos que vivem em increduli­ dade e em desobediência e que não entram no descanso nem desfrutam as riquezas de sua herança em C risto, quer pelo fato de não saberem da existência dessa herança, quer por se recusarem a entrar. Assim com o Israel, chegam a um lugar de crise (CadesB arn éia), mas se recusam a o b e d e ce r ao Senhor e a apropriar-se da vontade dele para sua vida (Nm 13 - 14). São libertos do Egito, mas o Egito ainda se encontra em seu cora­ ção e, com o os hebreus, desejam voltar à antiga vida (Êx 16:1-3; Nm 11; 14:2-4; ver Is com Josué 13:1, "ainda muitíssima terra ficou para se possuir". Não se trata de uma con­ tradição, pois essa é a declaração de uma verdade espiritual básica: em Cristo, temos todo o necessário para uma vida cristã vi­ toriosa, mas devem os nos apropriar de nos­ 3 0 :3 ; 3 1 :1 ). Em vez de passarem pela vida m archando com o conquistad ores, p e rco r­ rem cam in ho s tortuosos, vagando de um lado para outro sem desfrutar a plenitude que Deus reservou para eles. A Epístola aos H ebreus refere-se especificam en te a essas pessoas. Canaã representa a vida cristã com o ela deve ser: conflito e vitória, fé e obediência, riquezas espirituais e descanso. É uma vida de fé, co n fia n d o que Jesus C risto , nosso Josué, o Autor da nossa salvação (H b 2 :1 0 ), nos conduzirá a vitórias consecutivas (1 Jo 5 :4 ,5 ). Q uand o Israel estava no Egito, o ini­ migo encontrava-se a seu redor, tornando sua vida infeliz. Q uand o Israel atravessou o mar Verm elho, deixou o inimigo para trás, mas quando atravessou o rio Jordão, viu novos sa herança pela fé, um passo de cada vez (Js 1 :3), um dia de cada vez. A pergunta que Josué fez ao povo é bastante apropriada para a igreja de hoje: "Até quando sereis remissos em passardes para possuir a terra que o S e n h o r [...] vos deu?" (Js 18:3). O quarto lugar no "m apa espiritual" de Israel é a Babilônia, onde a nação passou por setenta anos de cativeiro, pois desobe­ deceu a D eus e adorou ídolos de nações pagãs ao seu redor (ver 2 C r 36 ; Jr 39:8-10). Q uand o os filhos de Deus se rebelam deli­ beradam ente, o Pai am oroso deve discipli­ ná-los até que aprendam a ser submissos e obedientes (H b 12:1-11). Q uand o confessam seus pecados e os deixam , Deus perdoa e restaura seus filhos à com unhão, fazendo com que voltem a dar frutos (1 Jo 1 :9; 2 C o 7:1). O protagonista do Livro de Josué não é o próprio Josué, mas sim o Senhor Jeová, o D eus de Josué e de Israel. Em tudo o que Josué fez pela fé, seu desejo foi glorificar ao Senhor. Q uand o os israelitas atravessaram o rio Jordão, Josué lembrou-os de que o Deus vivo estava no meio deles e venceria seus inim igos (Js 3 :1 0 ). Josu é q u e ria q ue, por m eio da obediência de Israel, todo o povo da terra viesse a co n hecer e tem er o Senhor (Js 4 :2 3 , 24). Em seu "discurso de despedida" JOSUÉ aos líderes (cap. 2 3 ) e à nação (cap. 24 ), Josué deu a Deus toda glória por aquilo que Israel havia conquistado sob sua liderança. Pelo menos quatorze vezes neste livro, Deus é cham ado de "o S e n h o r , Deus de Is­ rael" (Js 7 :1 3 , 19, 20 ; 8 :3 0 ; 9 :1 8 , 19; 1 0 :4 0 , 42 ; 13:14, 33 ; 1 4 :1 4 ; 2 2 :2 4 ; 2 4 :2 , 23). Tudo o qu e Israel fez trouxe glória ou vergonha para o nom e d e seu D eu s. Q u an d o Israel obede­ ceu pela fé, Deus cum priu suas prom essas e operou em favor deles, e seu nom e foi glorificado. Porém , quando desobedeceram com sua incredulidade, Deus os abandonou a seus próprios cam inhos e foram hum ilha­ dos pelas derrotas. O m esm o princípio espiri­ tual aplica-se à Igreja de hoje. 13 A o olhar para sua vida e para a vida da igreja da qual faz parte, vê a si m esm o e outros cristãos vagando pelo deserto ou co n­ quistando a Terra Prometida? No deserto, os israelitas foram um povo murmurador, mas em C anaã, foram um povo conquistador. No deserto, Israel olhou para trás inúmeras ve­ zes, mas na Terra Prometida, olhou para fren­ te, na expectativa de conquistar os inimigos e de apropriar-se de seu descanso e de suas riquezas. A m archa pelo deserto foi uma ex­ periência de dem ora, derrota e morte, en­ quanto sua e x p e riê n cia em C a n a ã foi de vida, poder e vitória. O n d e vo cê se encontra, ao olhar para o "m apa espiritual" de sua vida cristã? 2 S ig a m o L íd er Josué 1 literalm ente, "co lo car o co ração em algo". C o m o disse o general A nd rew Jackson, com m u ita ra z ã o : "u m ho m em e n c o ra ja d o é m aioria". Ao enfrentarm os hoje os desafios que o Senhor nos dá, nós, povo de Deus, fazem os bem em tirar lições do triplo enco ­ rajamento que encontram os neste capítulo. 1 . D e u s e n c o r a ja seu líd e r (Js 1:1-9) m duas ocasiões ao longo de meu minis­ tério, fui escolhido para substituir líderes no táveis e tem entes a D eus e para levar adiante seu trabalho. G aranto que não foi fácil servir após cristãos proem inentes, que derram aram a vida de modo sacrificial em ministérios bem-sucedidos. Posso me identi­ ficar com Josué quando colocou as sandálias E de M oisés e descobriu com o eram grandes! Ao suceder D . B. Eastep com o pastor da igreja batista Calvary em Covington, Kentucky, lembro-me de co m o sua viúva e filho me encorajaram e garantiram seu apoio. Recor­ do-me que um dos diáconos, G eorge Evans, foi até meu escritório na igreja para dizer que faria o que fosse preciso para me aju­ dar, "inclusive lavar seu carro e engraxar seus sapatos". Jam ais pedi que G eo rg e fize sse isso, mas suas palavras expressaram a atitu­ de de estímulo dos mem bros do conselho e dos líderes da igreja. Sentia-me um recruta, um calouro tom ando o lugar de um vetera­ no experiente e, portanto, precisava de toda a ajuda possível! Passei por uma experiência sem elhante quase um quarto de século depois, quando sucedi Theodore Epp no ministério Back to the Bible. O. conselho e a equipe do escritó­ rio central, os líderes das sucursais no exte­ rior, os ouvintes de rádio, bem com o muitos outros líderes cristãos de todo o mundo me asseguraram de seu apoio em oração e de sua d isp o n ib ilid ad e para aju dar. Q u a n d o você se sente um anão assum indo o lugar de um gigante, dá grande valor ao encoraja­ mento que Deus lhe envia. Um novo líder não precisa de conselhos, mas sim de estím ulo. "En co rajar" significa, O estímulo da com issão de Deus (vv. 1, 2). A in cum b ência de um líder não é eterna, m esm o de líderes piedosos com o M oisés. C h eg a um m o m ento em todo m inistério que Deus determ ina um novo co m e ço , com nova geração e nova liderança. C o m e x c e ­ ção de Josué e C aleb e , a geração mais ve­ lha de israelitas h avia m orrido durante o tem po em que o povo passou vagando pelo d e se rto , e Josu é receb eu a co m issão de liderar a geração seguinte em um novo de­ safio: entrar na Terra Prom etida e conquistála. "D e u s sepulta seus obreiros, mas a obra co n tinu a." Foi D eus quem escolheu Josué, e todos em Israel sabiam que ele era seu novo líder. Ao longo dos anos, tenho visto igrejas e outros ministérios paraeclesiásticos se deba­ terem e quase se destruírem em suas tenta­ tivas inúteis de co n servar o passado e de fugir do futuro. Seu lema é: "C o m o era no passado, assim seja para sem pre e eterna­ m ente". Tenho orado muitas vezes por líde­ res cristãos e com eles, irm ãos criticado s, p e rse g u id o s e a ta c a d o s ap e n as p o rq u e , assim com o Josué, receberam a com issão divina de liderar um m inistério em novos cam pos de conquista, mas se viram diante de um povo que se recusou a segui-los. Não é raro um pastor ser sacrificado sim plesm en­ te por ousar sugerir algumas m udanças na igreja. Nas palavras de J. O sw ald Sanders: "U m trabalho que se originou em Deus e foi con­ duzido por princípios espirituais, sobrevive­ rá ao choque da m udança de liderança; na ve rd ad e , p ro vave lm e n te c re s c e rá m elho r com o resultado da m u dança"1. Ao descrever a m orte do rei Artur, Lord Tennyson co locou algum as palavras sábias JOSUÉ 1 15 e proféticas nos lábios do rei, enquanto sua b a rc a fu n e rá ria ru m a va p a ra o m ar. Sir Bedevire exclam ou: "Vejo que os velhos tem­ pos m orreram ", ao que Artur respondeu: mas escolheu usar um hom em e dar-lhe o poder de que precisava para cu m p rir seu trabalho. C o m o vim os anteriorm ente, Josué é um tipo de Jesus Cristo, Autor de nossa salvação (H b 2 :1 0 ), que conquistou a vitó­ A antiga ordem muda, dando lugar à nova, e Deus cumpre seus propósitos de muitas maneiras, para que uma boa tra­ dição não venha a corromper o mundo. ria e agora com partilha conosco sua heran­ ça espiritual. O estímulo das prom essas de D eus (vv. 3-6). U m a vez que Josué tinha um a missão tripla a cum prir, D eus lhe deu três prom es­ ["O Falecimento de Artur"] sas especiais, um a para cada tarefa. Deus cap acitaria Josué a cru zar o rio e se apro­ priar da terra (vv. 3, 4 ), a derrotar o inimigo (v. 5) e a dividir a terra entre as tribos com o herança (v. 6). D eus não deu a Josué expli­ ca çõ e s so bre co m o re aliza ria tais co isas, pois o povo de D eus vive de prom essas, não de exp lica çõ es. A o con fiar nas prom es­ sas de D eus e dar um passo de fé (v. 3), esteja certo de que o Senhor lhe dará a o rien­ tação de que precisar, no m om ento em que precisar. "A h, se a vid a fosse co m o a som bra de um m uro ou de um a á rvo re ", diz o Talm ude, "m as ela é com o a som bra de um pássaro a voar". Tentar agarrar-se ao passado e man­ tê-lo junto ao co ração é tão inútil quanto procurar segurar a sombra passageira de uma ave em seu vôo. Um líder sábio não abandona co m p leta­ m ente o passado, mas sim constrói sobre seus alicerces ao mover-se em direção ao futuro. M oisés é m encionado cinqüenta e seis veze s no Livro de Josué, prova de que Josué respeitava o líder anterior por aquilo que havia feito por Israel. Josué adorava o mesm o D eus que M oisés havia adorado e obedecia à m esm a Palavra que M oisés ha­ via dado à nação. H ou ve continuidade de um líder para outro, mas não necessariam en­ te conform idade, pois cada líder é diferente e deve manter sua individualidade. Nesses versículos, M oisés é cham ado em duas o ca­ siões de servo de Deus (Js 2 4 :2 9 ). O im por­ tante não é o servo, mas sim o M estre. Josué é cham ado de "servid or de M o i­ sés" (Js 1:1), termo que descrevia tanto os que serviam no tabernáculo quanto os que serviam um líder (ver Êx 2 4 :1 3 ; 3 3 :1 1 ; Nm 1 1 :2 8 ; D t 1:38). Antes de com andar com o general, Jo su é ap ren d e u a ser um servo o bediente; foi prim eiro servo e depois go­ ve rn a n te (M t 2 5 :2 1 ). "A q u ele que n un ca aprendeu a obedecer não tem com o ser um bom com andante", escreveu Aristóteles em sua obra Política. D eu s co m issio n o u Josué para realizar três coisas: co nd uzir o povo à terra, derrotar o inimigo e tom ar posse da herança. Deus poderia ter enviado um anjo para fazer isso, Em primeiro lugar, Deus prometeu a Jo­ sué que Israel entraria na terra (vv. 3, 4). Ao longo dos séculos, Deus reafirm ou essa pro­ m e ssa d e sd e su as p rim e ira s p a la v ra s a A b raão (G n 12) até suas últim as palavras a M oisés (D t 3 4 :4 ). Deus os faria atravessar o Jordão e entrar em território inimigo. Em seguida, ele os capacitaria a se apropriarem da terra que lhes prom etera. O m edo e a incredulidade que haviam causado a derro­ ta de Israel em Cades-Barnéia (Nm 13) não se repetiriam . D eus já lhes havia concedido a terra, e era responsabilidade deles dar um passo de fé ao apropríar-se de sua herança (Js 1 :3; ver G n 1 3 :1 4 -1 8 ). D eus reafirm o u a Jo su é a m esm a prom essa de vitória que havia dado a M oisés (Nm 11:22-25) e definiu com pre­ cisão as fronteiras da terra. Israel só atingiu os limites desse território durante os reina­ dos de D avi e de Salom ão. A lição para o povo de D eus hoje é cla­ ra: Deus nos deu "toda sorte de bênção es­ piritual [...] em C risto " (Ef 1 :3) e devem os dar um passo de fé e nos apropriar dessa b ên ção . O Senhor co loco u diante de sua Igreja uma porta aberta que ninguém pode fechar (Ap 3 :8 ). D evem os passar por essa 16 JOSUÉ 1 porta pela fé e tom ar posse de novos territó­ rios para o Senhor. É im possível ficar parado na vida e no serviço cristãos, p o is quando ficam os parados, co m eçam os im ediatam en­ te a regredir. Deus nos desafia com o igreja a que nos deixem os "levar para o que é per­ feito" (H b 6 :1 ), e isso significa avançar so­ Antes de Josué co m eçar sua conquista de Jericó, o Senhor apareceu a ele e o assegu­ rou de sua presença (Js 5:13-15). Josué não p re cisa v a de q u a lq u e r o u tra garan tia de vitória. bre novos territórios. Deus tam bém prometeu a Josué vitória tou a igreja a construir um novo tem plo. A congregação não era grande nem abastada, e alguns e s p e cia lista s da área fin a n c e ira nos disseram que se tratava de um a m issão im possível, mas o Senhor nos guiou do co ­ m eço ao fim . Ele usou 1 C rô n ica s 2 8 :2 0 de m aneira especial para me fo rtalecer e dar seg u ra n ça ao longo desse pro jeto d ifícil. Po sso g a ran tir, p o r e x p e riê n c ia p ró p ria , so bre o inim igo (Js 1:5). O Senhor disse a Abraão que a Terra Prom etida era habitada por outras nações (G n 15:18-21) e repetiu esse fato a M oisés (Êx 3:1 7). Deus prometeu que, se Israel obedecesse ao Senhor, ele os ajudaria a derrotar essas nações. No entan­ to, advertiu o povo a não fazer concessão alguma ao inimigo, pois se isso aconteces­ se, Israel venceria a guerra, mas perderia a vitória (Êx 23:20-33). Infelizm ente, foi exata­ mente o que acon teceu. U m a vez que os israelitas com eçaram a adorar os deuses de seus vizinhos pagãos e a adotar suas práticas perversas, Deus teve de disciplinar Israel em sua terra para trazer o povo de volta para si (Jz 1 - 2). Q u e prom essa m aravilhosa Deus deu a Josué! "C o m o fui com M oisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desam para­ rei" (Js 1:5). Deus havia dado uma promessa sem elhante a Jacó (G n 2 8 :1 5 ), e M oisés a havia repetido a Josué (D t 31:1-8). Um dia, o S en h o r d a ria essa m esm a p ro m e ssa a G id eão (Jz 6 :1 6 ) e aos exilados judeus que voltavam a sua terra depois do cativeiro na Babilônia (Is 4 1 :1 0; 4 3 :5 ); mais tarde, Davi a daria a seu filho, Salom ão (2 C r 2 8 :2 0 ). O melhor de tudo, porém , é que D eu s dá essa mesm a prom essa a seu p o vo h oje! O Evan­ gelho de M ateus co m e ça com "Em an u el (que quer d ize r: D eus co no sco )" (M t 1:23) e term ina com Jesus d ize n d o : "E eis que estou co nvosco todos os dias" (M t 2 8 :2 0 ). Ao escrever Hebreus 13:5, o autor dessa epís­ tola cita Josué 1 :5 e aplica essa passagem aos cristãos da atualidade: "N ão te deixarei, nunca jam ais te abandonarei". Isso significa que o povo de Deus pode avançar dentro da vontade de Deus e estar certo da presença do Senhor. "Se D eus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8:3 1 ). Q u an d o m inha esposa e eu estávam os em nosso prim eiro pastorado, D eus orien­ que a pro m essa da p re se n ça de D e u s é verd adeira! A terceira prom essa d e D eu s a Josué foi que e/e dividiria a terra co m o herança para as tribos conquistadoras (Js 1:6). Essa era a garantia de D eus de que a o inimigo seria derrotado e de que Israel possuiria a terra. D eus cum priria sua prom essa a Abraão de que seus descendentes herdariam a terra (G n 12:6, 7; 1 3 :1 4 , 15; 15:18-21). O Livro de Josué registra o cum prim en­ to dessas prom essas: a primeira nos capítu­ los 2 - 5, a segunda nos capítulos 6 - 12 e a terceira nos capítulos 13 - 22. No final de sua vida, Josué lembrou aos líderes de Israel que "N em uma só prom essa caiu de todas as boas palavras que falou de vós o S e n h o r , vosso D e u s; todas vos so b revie ram , nem uma delas falhou" (Js 2 3 :1 4 ). Antes que D eus pudesse cum prir suas pro m essas, po rém , foi p reciso que Josué exercitasse sua fé e que fosse "forte e cora­ jo so " (Js 1:6). A soberania divina não substi­ tuiu a responsabilidade hum ana. A Palavra soberana de D eus é um estímulo para que os servos do Senhor creiam nele e obede­ çam a suas ordens. Nas palavras de C harles Spurgeon: "Josué não deveria usar a prom es­ sa com o um sofá sobre o qual espalhar-se em indolência, mas com o um cinturão para fortalecer seus lombos ao preparar-se para o trabalho que se encontrava diante dele"2. Em resumo, as promessas de Deus são estí­ mulos e não encostos. 17 JOSUÉ 1 O estímulo da Palavra escrita do Senhor (vv. 7, 8). Um a coisa é dizer a um líder: "Seja forte! Seja corajoso!" e outra bem diferente é capacitá-lo para isso. A força e a coragem de Josué foram resultado de m editar na Pa­ lavra de D eus, crer nas suas prom essas e cum prir seus preceitos. Esse foi o conselho de M oisés a todo o povo (D t 11:1-9) e que D eus estava ap lican d o esp e cificam e n te a Josué. A o longo dos anos em que havia lidera­ do Is ra e l, M o is é s m a n te v e um re g istro escrito das palavras e atos de D eus, o qual co lo co u sob os cu id ad o s dos sacerd o tes (D t 3 1 :9 ). N ele, M oisés lem brou Josué de que deveria exterm inar os am alequitas (Êx 1 7 :1 4 ). D e n tre outras co isas, o "Livro da Lei" incluía o "Livro da A lia n ça" (Êx 2 4 :4 , 7), um relato das jo rnadas do povo do Egi­ to até C an aã (Nm 3 3 :2 ), regulam entos es­ peciais com relação à herança (N m 3 6 :1 3 ) e o cântico que M oisés ensinou ao povo (D t 3 1 :1 9 ). M oisés continuou acresce ntan ­ do m aterial a esse registro até que tivesse incluído tudo o que D eus desejava que o livro co n tive sse (D t 3 1 :2 4 ). Pode-se dizer que os cin co Livro s de M o isés (o Pentateuco, de G ên e sis a D euteronôm io) co n s­ tituíam o "Livro da Lei", o m aior legado de M oisés a seu sucessor. No entanto, não bastava os sacerdotes estarem de posse e guardarem esse livro precioso; era preciso que Josué se dedicas­ se diariam ente a sua leitura e, pela m edita­ ção nele, tornar a Palavra uma parte de seu ser interior (SI 1 :2; 1 1 9 :9 7 ; ver Dt 1 7:18-20). O term o hebraico traduzido por "m editar" significa "sussurrar". O s judeus costum avam ler as Escrituras em vo z alta (At 8:26-40) e falar sobre elas sozinhos e uns com os ou­ tros (D t 6:6-9). Isso exp lica por que Deus advertiu Josué a que não deixasse de falar do Livro da Lei (Js 1:8). Tenho dito a pastores e sem inaristas em inúm eras co n ferên cias: "Se vo cê não co nversar com sua Bíblia, é bem provável que sua Bíblia não conversará com você!" Na vida do cristão, a prosperid ade e o sucesso não devem ser medidos de acordo com os parâmetros do mundo. Essas bênçãos são resultados de uma vida dedicada a Deus e a sua Palavra. Se você está determ inado a tornar-se próspero e bem -sucedido por sua própria conta, pode ser que alcan ce esse objetivo e se arrependa. D e acordo com o e scrito r e s co c ê s G e o rg e M c D o n a ld : "Em tudo aquilo que o hom em faz sem D eus, está fadado ao mais horrível fracasso ou ao mais terrível sucesso". O povo de Deus pre­ cisa perguntar: obedecem os à vontade de Deus? Recebem os o poder do Espírito San­ to? Servim os para a glória de Deus? Se pu­ derm os responder afirm ativam ente a essas perguntas, então nosso ministério foi bemsucedido aos olhos de D eus, qualquer que seja a opinião das pessoas. O estímulo do m andam ento de Deus (v. 9). Q uand o Deus dá um m andam ento, tam bém capacita aqueles que lhe obedecem pela fé a cumpri-lo. As palavras de G abriel a M aria são tão verdadeiras hoje quanto no dia em que as proferiu em N azaré: "Porque para D eus não haverá im possíveis" (Lc 1:37). A palavra de D eus contém em si o poder necessário para que se cum pra, desde que creiam os e obedeçam os! Em anos posteriores, sem pre que Josué enfrentasse um inim igo e fosse tentado a tem er, poderia se lem brar de que era um hom em com um a com issão divina, e seus m edos se d issip a ria m . Q u a n d o as co isas dessem errado e fosse tentado a se deses­ perar, poderia recordar-se do mandam ento de Deus e teria sua coragem renovada. As­ sim com o M oisés antes dele e Samuel e Davi depois dele, Josué recebeu a incum bência divina de servir ao Senhor e de faze r sua vontade, encargo suficiente para dar-lhe for­ ças a fim de perseverar até o fim. 2. O LÍDER EN CO RAJA (Js 1:10-15) SEUS O FIC IA IS A form a de o rg anização da nação de Israel perm itia que M oisés se co m u nicasse com o povo por m eio de seus o ficiais, dispos­ tos, por sua ve z, num a hierarquia (D t 1:1 5 ). M o isé s não reuniu os líd eres para p edir seu co n selh o , mas para lhes transm itir as o rdens de D e u s. H á ocasiõ es em que os líderes devem co nsultar seus o ficiais, mas 18 JOSUÉ 1 essa não foi uma delas. Deus havia falado, sua vontade era clara, e a nação devia estar pronta a obedecer. Q uarenta anos antes, em Cades-Barnéia, D e u s h a v ia m o stra d o su a v o n ta d e aos israelitas, mas eles se recusaram a obedecer (Nm 13). Isso porque acreditaram no relato dos espias em vez de crerem na ordem de Deus e de obedecerem pela fé. Se tivessem dado ouvidos às palavras de C alebe e Josué - o relatório da minoria - , teriam se poupa­ do dos anos difíceis que passaram vagando pelo deserto. O conselho piedoso tem seu lugar no serviço cristão, mas o relatório de uma com issão não substitui um m andam en­ to claro de Deus. Em lugar da ordem de preparar com ida, seria de se esperar que Josué o rden asse: "Preparem barcos para que possam os atra­ vessar o rio Jordão ". Josué não julgou ter mais conhecim ento do que Deus nem ten­ tou resolver as coisas a seu modo. Ele sabia que o D eus que havia aberto o mar V erm e­ lho tam b ém p o d e ria a b rir o rio Jo rd ão . C aleb e e ele haviam sido testem unhas da ocasião em que Deus livrou a nação do Egito e estavam certos de que Deus faria maravi­ lhas por eles novamente. M esm o confiando que Deus era capaz de operar um milagre, Josué ainda teve de fazer preparativos para as necessidades coti­ dianas. Nos exércitos m odernos, a unidade de logística providencia para que os soldados tenham co m ida e suprim entos, mas Israel não possuía uma unidade dessas. Cad a fa­ mília e clã deveria, portanto, prover a pró­ pria alim entação. O maná ainda caía do céu cada m anhã (Êx 16) e não cessaria enquan­ to Israel não estivesse em sua terra (Js 5 :1 1 , 12). No entanto, era im portante que o povo perm anecesse forte, pois estava prestes a co m eçar um a série de batalhas pela posse da Terra Prometida. O b serve que as palavras de Josué aos líderes são de fé e encorajam ento: "passareis este Jordão, para que entreis na terra que vos dá o S e n h o r , vosso D eus, para a possuirdes" (Js 1:11). Josué havia feito um dis­ curso sem elhante quarenta anos antes, mas aquela geração de líderes não lhe havia dado ouvidos. Depois que aqueles líderes m orre­ ram, a nova geração estava pronta a crer em Deus e a conquistar a terra. É um a triste verd ad e que, por v e ze s, a ú n ica form a de um m inistério progredir é re aliza r alguns fu nerais. U m pastor am igo meu pediu e n care cid a m e n te à diretoria de sua igreja um novo prédio com salas de aula para abrigar a Esco la D o m in ical que e stava c re s c e n d o ra p id a m e n te . U m dos m em bros de longa data do co n selh o , um hom em de negócios proem inente da cida­ de, replicou: — Só se for sobre o meu cadáver! £ foi o que a co n teceu ! Alguns dias de­ pois, esse hom em teve um ataque cardíaco e faleceu. A igreja pôs-se, em seguida, a cons­ truir as salas tão necessárias. Q uanto mais velhos ficam os, mais co r­ remos o risco de petrificar nossos costum es e de nos tornarm os "obstrucionistas santifi­ c a d o s " , m as isso não p re c isa a c o n te c e r. C alebe e Josué eram os hom ens mais idosos do acam p am ento e, no entanto, estavam cheios de entusiasm o para confiar em Deus e entrar na terra. O que im porta não é a idade, mas sim a fé, e a fé vem pela m edita­ ção na Palavra de D eus (Js 1:8; Rm 10:17). Sou muito grato a D eus pelos cristãos mais velhos que participaram de meu ministério e que me encorajaram a confiar no Senhor e ir avante. Josué tinha algo especial a dizer às duas tribos e meia que viviam do outro lado do rio Jordão e que já haviam recebido sua he­ rança (Nm 32). Lem brou a elas as palavras de instru ção e de a d ve rtê n cia dadas por M oisés (Nm 21:21-35; Dt 3:12-20) e instouas a cum prir a prom essa que haviam feito. A preocupação de Josué era que Israel se man­ tivesse unido co m o povo ao conquistar a terra e adorar ao Senhor. Por certo, as duas tribos e meia cum priram sua prom essa de ajudar a conquistar a terra, mas, ainda as­ sim, criaram problem as para Josué e Israel pelo fato de viverem do outro lado do Jordão (Js 22). Em Israel, quem ia para a guerra eram hom ens aptos, com 20 anos ou mais de ida­ de (Nm 1 :3), e o registro mostra que as duas JOSUÉ 1 tribos e m eia possuíam 1 3 6 .9 3 0 hom ens disponíveis (Nm 2 6 :7 , 18, 34). No entanto, só quarenta mil hom ens chegaram a cruzar o Jordão e a lutar na Terra Prometida (Js 4 :1 3 ). O resto dos soldados ficou para trás, a fim de proteger as m ulheres e crianças das cida­ des que as tribos haviam co nquistad o na terra de C ilead e (Nm 32:1-5, 16-19). Q u an ­ do os soldados voltaram para casa, dividi­ ram os despojos de guerra com os irmãos (Js 22:6-8). M oisés fez um a con ce ssão ao perm itir que as duas tribos e m eia vivessem fora da Terra Prom etida. As tribos gostaram daque­ las terras, pois eram um "lugar de gado" (Nm 3 2 :1 , 4, 16). Ao que parece, a prim eira pre­ ocu p ação deles era sua so b revivência, não sua verdadeira existência. Preferiam ter gran­ des rebanhos de ovelhas e gado a viver com os irm ãos e irm ãs na herança que D eus ha­ via lhes dado. Estavam longe do lugar de ad o ração e tiveram de erguer um m onu­ m ento especial para lem brar seus filhos de que eram cid ad ão s de Israel (Js 22:1 Oss). Essas tribos representam os muitos "cristãos lim ítrofes" na igreja de hoje, que se aproxi­ mam da herança, mas, por mais bem -suce­ didos que pareçam ser, n u n ca chegam a apropriar-se dela de fato. Estão dispostos a servir a D eus e aos irm ãos por algum tem ­ po, mas quando com pletam sua tarefa, to­ mam o rum o de casa para faze r aquilo que desejam . 3. O s O FIC IA IS (Js 1:16-18) EN CO RAJAM SEU LÍDER Aqueles que "responderam " a Josué prova­ velm ente foram os oficiais aos quais Josué havia se dirigido e não apenas os líderes das duas tribos e m eia. Q u e grande incentivo deram a seu novo líder! Para com eçar, eles o encorajaram garan­ tindo o b e d iê n cia total a ele (vv. 16, 17a). "Tudo quanto nos ordenaste farem os e aon­ de quer que nos enviares irem os." Esses ofi­ ciais não buscavam seus próprios interesses nem pediram que Josué lhes fize sse co n ­ ce ssõ es. O b e d e c e ria m a todas as o rdens dele e iriam a todo lugar para o qual ele os enviasse. A Igreja de hoje precisa de mais 19 com prom isso desse tipo! M uitas vezes, so­ mos com o os hom ens descritos em Lucas 9:57-62, cada um com um assunto pessoal a resolver antes de seguir ao Senhor. Em seu livro O M arquês d e Lossie, um dos personagens de G eorge M acD o nald diz: "Enquanto faço a vontade de D eus não te­ nho tempo de ficar discutindo o plano dele". Foi essa atitud e que os o ficiais de Josué mostraram. Não estavam apegados a M oisés a ponto de colocá-lo acim a de Josué. Deus havia escolhido tanto M oisés quanto Josué, e desobedecer ao servo era o mesm o que desobedecer ao M estre. Josué não precisa­ va exp licar nem defender suas ordens, só precisava transmiti-las, e seus hom ens obe­ deceriam . O s oficiais encorajaram Josué orando p o r ele (v. 1 7). "Tão-som ente seja o S enhor , teu D e u s, contigo, com o foi com M o isés." A melhor coisa que podem os fazer por aqueles que nos lideram é orar por eles diariam ente e pedir que D eus esteja com eles. Josué era um hom em bem preparado e experiente, mas isso não era garantia de sucesso. Sem oração, nenhum obreiro cristão é capaz de alcançar o su cesso para a glória de D eus. "A oração é seu volante ou seu estepe?", é a pergunta feita por C orrie Ten Boon e que se aplica especialm ente àqueles que ocupam posições de liderança. Q uan d o Josué não parou para buscar a vontade de D eus, en­ frentou fracassos terríveis (Js 7 e 9), e o mes­ mo acontecerá conosco. Encorajaram Josué garantindo que a o b e ­ diência d eles era uma questão d e vida ou m orte (v. 18). Levaram sua liderança e suas responsabilidades a sério. Posteriorm ente, A cã desrespeitou as ordens de Josué e foi m orto (At 7 :1 5 ). "Por que me cham ais Se­ nhor, Senhor, e não fazeis o que vos m an­ do?" (Lc 6 :4 6 ). C o m o nosso m inistério para um m undo perdido seria diferente se o po­ vo de D eus hoje considerasse a obediên­ cia a C risto um a questão de vid a ou morte! O b e d e c e m o s às ordens do Senho r se te­ mos vontade, se é co nveniente e se ganha­ mos algum a co isa com isso. C o m soldados assim , Josué jam ais teria conquistado a Ter­ ra Prom etida! 20 JOSUÉ 1 Por fim, eles o encorajaram lem brando Josué da Palavra de D eu s (v. 18b). Q uand o M oisés enviou Josué e outros hom ens para espiar a terra de C anaã, disse a Josué: "Ten­ de ânim o" (Nm 1 3 :2 0 ). M oisés repetiu es­ sas palavras quando em possou Josué com o seu sucessor (D t 3 1 :7 , 23). Posteriorm ente, foram escritas no Livro da Lei, e jo su é rece­ beu a ordem de ler esse Livro e de meditar nele dia e noite (Js 1 :8). As palavras "Sê forte e co rajo so " (vv. 6, 7, 9, 1 8) aparecem quatro veze s neste ca­ pítulo. A fim d e conqu istarm os o inim igo e de nos apropriarm os d e nossa herança em Cristo, d evem o s ter força e coragem esp i­ rituais. "Q u an to ao m ais, sede fortalecidos no S en h o r e na fo rça do seu p o d er" (Ef 6 : 10 ). Erguei-vos, soldados de Cristo, E a armadura vesti, Fortalecei-vos na força que Deus vos concede Em seu Filho Eterno [Charles Wesley] O prim eiro passo rumo à vitória na batalha e à reivindicação da nossa herança é perm i­ tir que Deus nos encoraje para que encora­ jem os a outros. Um exército desencorajado jam ais vence. "Eis que o S e n h o r , teu D eus, te colocou esta terra diante de ti. Sobe, possui-a, com o te falou o S e n h o r , D eus de teus pais: Não temas e não te assustes" (D t 1:21). Seja forte! A batalha é do Senhor! 1. S a n d e r s , J. O sw ald. Liderança Espiritual. São Paulo: M undo Cristão, 1985, p .128. 2. S p u r c e o n , Charles. M etropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 14, p. 97. 3 U ma em P rosélita C anaã Jo s u é 2 ebreus 11, o "H all da Fama da Fé", cita apenas duas m ulheres pelo nom e: Sara, a esposa de Abraão (v. 11) e Raabe, uma prostituta de Jericó (v. 31). Sara era uma m ulher tem ente a D eus, esposa do fundador do povo hebreu, e Deus usou seu corpo consagrado para dar à luz Isaque. Raabe, por sua vez, era uma gentia ím pia que adorava deuses pagãos e vendia seu corpo. Em termos humanos, Sara e Raabe não tinham nada em com um . Mas do ponto de vista divino, Sara e Raabe compartilhavam a coisa mais im portante da vida: as duas exer­ citaram a fé salvadora no verdadeiro D eus vivo. A Bíblia não apenas associa Raabe a Sara com o tam bém , em Tiago 2:21-26, a relacio­ H na a A braão. Tiago usa tanto Abraão quanto Raabe para ilustrar o fato de que a verdadei­ ra fé salvadora sem pre é dem onstrada por m eio de boas obras. Porém , a Bíblia vai ainda mais longe e relaciona Raabe ao M essias! Ao ler a genea­ logia de Jesus Cristo em M ateus 1, en co n ­ tramos o nom e de Raabe na m esm a lista (v. 5) que os nomes de Jacó, D avi e de outras pessoas fam osas da linhagem m essiânica. Sem dúvida, ela percorreu um longo cam i­ nho de prostituta pagã a antep assada do M essias! "M as onde ab und ou o p ecad o , superabundou a graça" (Rm 5 :2 0 ). Não se esqueça, porém , de que o mais im portante sobre Raabe é sua fé. A fé é o que há de mais essencial para qualquer pes­ soa, pois "sem fé é im po ssível agradar a D eus" (H b 1 1 :6). Nem tudo o que é cham a­ do de "fé" constitui, de fato, fé verdadeira com o aquela descrita na Bíblia. Com o era a fé de Raabe? 1. U m a fé c o r a j o s a ( J s 2:1-7) Tanto H e b re u s 11:31 quanto T iag o 2 :2 5 mostram que Raabe havia depositado sua fé no D eus Jeová antes de os espias ch e­ garem a Je ric ó . A ssim co m o o povo em Tessalônica, havia "[deixado] os ídolos, [se convertido] a D eus, para [servir] o Deus vivo e verdadeiro" (1 Ts 1:9). Não era com o os habitantes de Samaria, séculos dtepois, que "tem iam o S e n h o r e, ao mesm o tempo, ser­ viam aos seus próprios deuses" (2 Rs 1 7:33). Jericó era uma das várias "cidades-estados" de C anaã, cada uma delas governada por um rei (ver Js 12:9-24). A cidade ocupa­ va cerca de oito ou nove acres, e há evidên­ cias arqueológicas de que era protegida por uma muralha dupla, cada parte separada da outra por uma distância de cin co metros. A casa de Raabe ficava nessa m uralha (Js 2 :1 5 ). Je ricó era um a cid ad e e straté g ica no plano de Josué para a conquista de Canaã. D epois de tom ar Jericó, poderia atravessar a terra dividida, sendo bem mais fácil derro­ tar primeiro as cidades do Sul e, depois, as do Norte. Q uarenta anos antes, M oisés havia en­ viado doze espias a C anaã, e som ente dois deles haviam apresentado um relato favorá­ vel (Nm 13). Josué enviou dois hom ens para espiar a terra e, especialm ente, para obter inform ações sobre Jericó. Q u eria descobrir com o os habitantes da cidade estavam rea­ gindo à chegada do povo de Israel. Tendo em vista que Josué sabia que Deus já havia dado a terra a seu povo, a decisão de enviar espias não foi um ato de incredulidade (ver Js 1 :1 1 ,1 5 ). Antes de entrar numa batalha, um bom general procura descobrir o máxi­ mo possível sobre o inimigo. D e que m odo os dois espias entraram na cidade sem ser im ediatam ente reconhe­ cidos com o forasteiros? C o m o encontraram Raabe? Ao ver esses acontecim entos se de­ sen ro lan d o , som os co m p elid o s a cre r na providência divina. Raabe era a única pes­ soa em Jericó que cria no Deus de Israel, e D eus levou os espias até ela. A palavra hebraica traduzida por "prosti­ tuta" tam bém pode significar "alguém que cu id a de um a h osp edaria". Se tivéssem os 22 JOSUÉ 2 apenas o texto do Antigo Testamento a nos­ sa disposição, poderíamos absolver Raabe de qualquer imoralidade e chamá-la de "proprie­ tária de uma hospedaria". No entanto, não há com o escapar dos fatos, pois Tiago 2 :2 5 e Hebreus 11:31 empregam o termo grego que significa, inequivocam ente, "um a m eretriz". É im pressionante com o D e u s, em sua graça, usa pessoas que, a nosso ver, jam ais po d e riam servi-lo. "P elo c o n trá rio , D eu s escolheu as coisas loucas do m undo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do m undo para envergonhar as for­ tes; e D eus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de D eus" (1 C o 1:27-29). Jesus foi "amigo de publicanos e pecadores" (Lc 7 :3 4 ) e não se envergonhava de ter uma ex-prostituta em sua árvore genealógica! Raabe colocou sua vida em perigo ao receb er os espias e escondê-los, mas esse fato, em si, mostra sua fé no Senhor. £ im pos­ sível ocultar a fé salvadora p o r m uito tem po. U m a v ez que aqueles dois hom ens represen­ tavam o povo de D eus, ela não teve medo de ajudá-los. Se o rei tivesse descoberto a dissim ulação de Raabe, ela teria sido exe­ cutada com o traidora. Sabendo que Raabe cria em D eus, com o podem os defender suas m entiras? Por um lado, ela dem onstrou fé no Senhor ao arris­ car a vida a fim de proteger os espias. Mas, por outro lado, agiu com o qualquer outro pagão daquela cidade ao m entir sobre seus hóspedes. Talvez estejam os esperando de­ mais de uma recém -convertida, cujo conhe­ cim ento de Deus era suficiente para levá-la à salvação, mas, sem dúvida, ainda limitado no que se referia às coisas práticas da vida. Se até m esm o hom ens de D eus experien­ tes, com o Abraão e isaque (G n 12:10-20; 20 ; 26:6-11) e Davi (1 Sm 2 1 :2 ), usaram de d issim u lação , não podem os ser rigorosos demais com Raabe. Não se trata de descul­ par nem de encorajar a mentira, mas sim de levar em consideração as circunstâncias nas quais se encontrava, a fim de não a conde­ nar com severidade excessiva. É errado mentir (Pv 12:22), e o fato de D eus haver providenciado para que as men­ tiras de R aab e fossem registradas nas Es­ crituras não serve, de m odo algum, com o evidência da aprovação divina. No entanto, devem os confessar que a m aioria de nós hesitaria em dizer a verdade em se tratando, d e fato, d e uma questão d e vida ou m orte. Um a coisa é eu dizer a verdade sobre mim m esm o e sofrer as co nseqüências, mas será que tenho o direito de causar a morte de outros, especialm ente de pessoas às quais dei abrigo e que me dispus a proteger? M ui­ ta gente recebeu honras por enganar o inimi­ go em tem pos d e guerra e por salvar a vida de pessoas in o ce n tes. R aab e e os espias estavam vivendo em tempos de guerra! Se olhássem os para Raabe com o uma "m ilitan­ te pela liberdade", isso não m udaria alguma coisa? Problem as éticos à parte, a lição princi­ pal dessa passagem mostra co m o a fé de Raabe era evidente e com o ela a dem ons­ trou ao acolher os espias e arriscar a vida para protegê-los. Tiago considerou as atitu­ des de Raabe com o evidência de que ela, sem dúvida, cria no Senhor (Tg 2 :2 5 ). Sua fé não era o culta, pois os espias viram que Raabe era mesm o tem ente a Deus. 2. U m a fé c o n f i a n t e (Js 2:8-11) A fé vale tanto quanto aquilo em que se crê. H á quem creia na fé e pense que pelo sim­ ples fato de crer pode fazer m aravilhas. O u ­ tros crêem em m entiras, o que na verdade não é fé, mas sim superstição . C e rta vez, ouvi um psicólogo dizer que os participantes de um grupo de apoio deveriam "ter algum tipo de fé, mesm o que fosse apenas na má­ quina de vend er refrigerante". M as a fé vale tanto quanto aquilo em que crê. D e que vai lhe adiantar a m áquina de refrigerante, es­ pecialm ente se vo cê estiver sem dinheiro? D. M artyn Lloyd-Jones nos lembra de que "a fé manifesta-se em toda a personalidade". A verdadeira fé salvadora não é apenas uma proeza resultante do esforço intelectual pelo qual nos convencem os de que algo é verda­ de, quando não o é. D a m esma forma, não é sim plesm ente uma série de em oções que JOSUÉ 2 nos dá a falsa certeza de que Deus agirá de acordo com o que nossos sentim entos nos dizem que fará. Tam pouco é um ato corajo­ so da força de vontade, no qual saltam os do alto do templo e esperam os que D eus nos salve (M t 4:5-7). A verdadeira fé salvadora envolve "a personalidade toda": a mente é instruída, as em o çõ es são estim uladas e a vontade age em obediência a Deus. "Pela fé, Noé, divinam ente instruído acer­ ca de acontecim entos que ainda não se viam [o intelecto] e sendo tem ente [as em oções] a Deus, aparelhou uma arca [a vontade]" (Hb 1 1 :7). A experiência de Raabe foi sem elhan­ te à de N oé: ela sabia que Jeová era o Deus verdadeiro [a mente]; ela tem eu por si mes­ ma e por sua fam ília quando soube das gran­ des maravilhas que ele havia realizado [as em oções] e ela receb eu os espias e im plo­ rou pela salvação de sua fam ília [a vontade]. A m enos que a personalidade toda esteja envolvida, não se trata de um a fé salvadora conform e descrita na Bíblia. Claro que isso não significa que é preci­ so o intelecto estar inteiram ente instruído em todos os asp ecto s da Bíblia antes de um pecador ser salvo. Bastou à m ulher com uma hem orragia tocar a orla da veste de Cristo para ser curada, mas ela agiu em função do co n h e c im e n to lim itad o que p o ssu ía (M t 9:20-22). O conhecim ento que Raabe tinha do D eus verdadeiro era pequeno, mas ela agiu em função daquilo que sabia, e o Se­ nhor a salvou. Q uand o disse: "Bem sei que o S e n h o r vos deu esta terra" (Js 2 :9 ), Raabe dem ons­ trou mais fé do que aqueles dez espias qua­ renta anos antes. Sua fé baseava-se em fatos e não apenas em sentim entos, pois ela ouviu falar dos grandes milagres que D eus havia realizado, a co m eçar pela divisão das águas do mar Verm elho no êxodo. "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela pala­ vra de Cristo" (Rm 10:17). Um a vez que a notícia sobre o poder do Senhor chegou a C anaã, o povo de lá teve m edo, mas era isso o que Israel esperava que seu Deus fizesse. " O s povos o ouviram , eles estrem eceram ; agonias apoderaram-se dos habitantes da Filístia. O ra, os príncipes 23 de Edom se perturbam , dos poderosos de M oabe se apodera temor, esm orecem todos os habitantes de C anaã. Sobre eles cai es­ panto e pavor" (Êx 1 5 :1 4 -1 6 ). D eus havia prom etido que encheria os cananeu de te­ mor e cum priu sua prom essa. "H o je, com e­ çarei a m eter o terror e o medo de ti aos povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fam a trem erão diante de ti e se angustiarão" (D t 2 :2 5 ). "Porque o S e n h o r , vosso D eus, é Deus em cim a nos céus e em baixo na terra" (Js 2 :1 1 ). U m a confissão de fé e tanto, vinda dos lábios de uma m ulher cuja vida havia sido cativa da idolatria pagã! Raabe creu no ún/co D eus e não no panteão de deuses que habitavam os templos pagãos. Creu que ele era um D eus p esso a l ("vosso D e u s"), que agiria em favor daqueles que confiavam nele. C reu que ele era o D eu s de Israel, que daria a terra a seu povo. Esse D eus no qual ela creu não se lim itava a uma só nação ou terra, mas era o D eu s em cima nos céu s e em baixo na terra. R aabe creu num D eu s grande e im pressionante! Nossa certeza de que som os filhos de D eu s vem do testem u n ho da Palavra de D eus diante de nós e do testemunho do Es­ pírito de D eus dentro de nós (1 Jo 5:9-13). Porém , a certeza da salvação não se baseia apenas naquilo que sabem os pela Bíblia ou no que sentim os em nosso co ração . Tam ­ bém tem com o fundam ento a form a com o vivem os, pois se não houve m udanças em nosso com portam ento, logo é de se duvi­ dar que tenham os, de fato, nascido de novo (2 C o 5 :2 1 ; Tg 2 :1 4 -2 6 ). N ão basta dizer: "Senhor, Senhor!" É preciso o bedecer a suas ordens (M t 7:21-27). A conversão de Raabe foi, sem dúvida alguma, um ato da graça divina. Assim com o todos os cidadãos de C anaã, Raabe estava condenada e destinada a morrer. Deus orde­ nou aos israelitas que destruíssem totalm en­ te os cananeus sem qualquer m isericórdia (D t 7:1-3). Raabe era uma gentia que se en­ contrava fora das m isericórdias da aliança com Israel (Ef 2:11-13). Não m erecia ser sal­ va, mas D eus se com padeceu dela. Se houve um a pessoa pecadora que experim entou a 24 JOSUÉ 2 realidade de Efésios 2:1-10, essa pessoa foi Raabe! 3. U m a fé p r e o c u p a d a (Js 2:12-14) No entanto, Raabe não estava preocupada apenas com seu próprio bem-estar, pois uma v e z que havia experim entado a graça e a m isericórdia de Deus, sentiu a responsabili­ dade de salvar sua fam ília. D epois de seu encontro com o Senhor Jesus, A ndré com ­ partilhou as boas novas com o irm ão, Simão, e o levou a Cristo (Jo 1:35-42). O leproso purificado voltou para casa e contou a to­ dos com quem se encontrou o que Jesus havia feito por ele (M c 1 :40-45). "O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio" (Pv 1 1 :30). Raabe queria uma garantia dos dois es­ pias: quando a cidad e fosse tom ada, eles cuidariam para que a fam ília dela perm a­ necesse em segurança. O s hom ens lhe ofe­ receram essa garantia ao dar sua palavra e jurar por sua vida que a cum pririam . O u seja, tornaram -se re sp o n sáveis pela fam ília de Raabe com o Judá havia feito por Benjam im (G n 4 3 :8 , 9). O Livro de Provérbios adverte sobre assum ir a responsabilidade por outros e servir de fiador no mundo dos negócios, pois envolve grande risco e pode levar o fia­ dor a perder tudo (Pv 6:1 ss; 1 1 :1 5 ; 2 0 :1 6 ; 2 7 :1 3 ). No âm bito espiritual, porém , somos salvos porque Jesus C risto, que não tinha dívida alguma, dispôs-se a ser nosso fiador (H b 7 :2 2 ). Da próxim a vez que cantar: "Eu sei que foi pago um alto preço", lembre-se de que Jesus assumiu a responsabilidade de ser fiador de uma aliança superior (H b 7:22). Ele morreu por nós, e, enquanto ele viver, nossa salvação estará garantida. Em função das promessas de sua Palavra e da garantia de sua fiánça eterna, podem os confiar que ele "tam bém pode salvar totalm ente os que por ele se chegam a D eus, vivendo sempre para interceder por eles" (v. 25). O s espias advertiram Raabe de que ela não deveria passar essas inform ações a nin­ guém da cidade a não ser aos m em bros de sua fam ília. Se o fizesse, o acordo estaria ca n ce lad o . Q u e contraste com o re lacio ­ namento entre o cristão e Jesus Cristo, pois ele deseja que todos saibam que ele pagou o preço por nossa redenção e que todos podem ser salvos ao crer nele. Se Raabe fa­ lasse dem ais, arriscaria sua vida, mas se não falarm os o suficiente, colocarem os em peri­ go a vida daqueles a nosso redor. 4. U m a fé p a c t u a l (Js 2:15-24) Um a aliança ou pacto é sim plesm ente um aco rd o , um co n trato en tre duas ou mais partes, com certas condições que devem ser respeitadas por todos os envolvidos. Podemse en co n tra r várias alian ças divinas regis­ tradas nas Escrituras: a aliança de Deus com nossos prim eiros antepassados no Éden (G n 2 :1 6 ); a aliança de Deus com Noé (G n 9), Abraão (G n 12:1-3; 15:1-20) e Israel (Êx 19 - 2 0 ); a aliança sobre a terra da Palestina, co nfo rm e exp licad o em D eu tero n ô m io ; a aliança m essiânica com Davi (2 Sm 7) e a nova aliança no sangue de Jesus Cristo (Jr 3 1 :3 1 ; M t 2 6 :2 8 ; Hb 1 2 :2 4 ). Tam bém pode­ mos enco ntrar alian ças hum anas, co m o o pacto entre Davi e Jônatas (1 Sm 18:3; 2 0 :1 6 ) e entre Davi e o povo de Israel (2 Sm 5:1-5). Antes que os dois espias deixassem a casa de Raabe, reafirm aram a aliança feita com ela. Um a vez que esses hom ens não sabiam quais eram os planos de Deus para tom ar a cid ad e, não puderam o fe re ce r a Raabe instruções detalhadas. É possível que tenham partido do pressuposto de que a ci­ dade seria sitiada, suas portas seriam derru­ badas e o povo m assacrad o . O s hom ens estavam certos de que a cidade cairia e que, no final, a terra seria tomada. Em várias aliança bíblicas, Deus determ i­ nou um "sím b o lo " físico ou m aterial para lem brar o povo daquilo que havia sido pro­ m etido. Sua aliança com Abraão foi "sela­ da" pelo ritual da circuncisão (G n 17:9-14; Rm 4 :1 1 ). Q u an d o D eus estabeleceu sua aliança com Israel no Sinai, tanto o livro da a lia n ça quanto o povo da a lia n ça foram aspergidos com sangue (Êx 24:3-8; Hb 9:1622). Deus deu o arco-íris com o sinal da alian­ ça com N oé (G n 9:12-1 7), e o Senhor Jesus Cristo usou o pão partido e o cálice de vi­ nho para sim bolizar a nova aliança (Lc 22:1 9, 2 0 ; 1 C o 1 1:23-26). JOSUÉ 2 N o caso de Raabe, os espias a instruí­ ram a pendurar um cordão escarlate do lado de fora da janela de sua casa, que ficava no muro da cidade (Js 2 :1 8 ). Q uand o o exército de Israel tom asse a cidade, o cordão identi­ ficaria a casa dela com o um "lugar de segu­ rança". A cor desse cordão é significativa, pois lembra o sangue. Assim com o o sangue nos umbrais das portas no Egito m arcou as casas sobre as quais o anjo da m orte de­ veria passar (Êx 12:1-13), o co rdão escarla­ te marcou a casa no muro de Jericó, cujos o cu p ante s deveriam ser protegidos pelos soldados de Israel. Raabe usou aquela cor­ da para ajudar os espias a descer pela janela e deixou-a lá a partir de então. Esse foi o "si­ nal certo" que ela havia pedido com o prova da aliança entre ela e os espias (Js 2:12-23). É im portante observar que Raabe e sua fam ília foram salvas por sua fé no Deus de Israel e não por terem fé no cordão pendu­ rado do lado de fora da janela. O fato de Raabe pendurar o cordão ali foi prova de que creu, assim com o o sangue do cordeiro im olado nos um brais das portas no Egito provou que os hebreus creram na Palavra de Deus. A fé no Deus vivo significa salva­ çã o , e a fé em sua alian ça dá segurança. Porém , a fé num sím b o lo da aliança não passa de superstição religiosa e não pode conceder salvação nem segurança. O s judeus dependiam da circuncisão para salvá-los, mas ignoravam o verdadeiro significado espiritual d e sse ritual im p o rtan te (R m 2 :2 5 -2 9 ; Dt 10:12-16; 3 0 :6 ). H o je em dia, muita gente firm a sua salvação no batism o ou em sua participação na C eia do Senhor (Eucaristia), 25 mas esse tipo de fé é vazio. Raabe creu no Senhor e nas prom essas pactuais que ele havia feito por interm édio de seus servos; provou essa fé ao pendurar o cordão escarla­ te do lado de fora da ja n ela . Q u an d o os israelitas tomaram Jericó, encontraram Raabe e a família dentro da casa na muralha e os salvaram do julgamento (Js 6:21-25). Raabe foi uma m u lh er'd e grande cora­ gem. Teve de contar aos fam iliares sobre o julgam ento vindouro e a prom essa de sal­ vação - algo perigoso. E se um daqueles parentes com unicasse ao rei o que estava acontecendo? Tam bém teve de dar uma ex­ p licação para o cordão escarlate pendura­ do do lado de fora de sua janela. Um a vez que Jericó estava co m p letam ente fech ada (Js 2 :1 ), é pouco provável que houvesse al­ guém do lado de fora dos muros, mas um forasteiro entrando na cidade poderia ver o cordão ou alguém visitando a casa de Raabe talvez perguntasse o que significava. O s espias saíram da casa de Raabe e se esconderam até estarem certos de que seus perseguidores haviam desistido de ir atrás deles. Em seguida, voltaram para o acam pa­ mento de Israel e deram a Josué a boa notí­ cia de que o povo encontrava-se impotente, pois o Senhor os havia enchido de temor. Raabe não apenas deu esperança a sua fa­ m ília, m as tam b ém deu grande ânim o a Josué e ao exército de Israel. No entanto, o povo de Israel ainda não estava pronto para atravessar o rio e conquis­ tar o inimigo. A inda havia alguns "negócios pendentes" a resolver antes que pudessem estar certos das bênçãos do Senhor. 4 A van te P ela F é Jo sué 3 - 4 o cap ítu lo anterior, vim o s a fé ind ivi­ dual de Raabe; agora, o Livro de Josué N concentra-se na fé de Israel com o nação. Ao prosseguir com seu estudo, lembre-se de que este livro trata de questões que vão além de história antiga, daquilo que D eus fez sé­ culos atrás pelos israelitas. D iz respeito a sua vida e à vida da Igreja nos dias de hoje, ao que D eus quer fazer aqui e agora pelos que crêem nele. O Livro de Josué trata da vitória da fé e da glória que D eus recebe quando seu povo crê e obedece. Nas palavras do pri­ meiro ministro britânico, Benjam im Disraeli: " O m undo jam ais foi conquistado por intri­ gas; antes, foi conquistado pela fé". Na vida cristã, vo cê é ven ced o r ou ven­ cid o , vitorioso ou vítim a. Afinal, Deus não nos salvou para nos transform ar em estátuas para exib ição . Fom os salvos para que nos transformasse em soldados, avançando pela fé a fim de tom ar posse de nossa rica heran­ ça em Cristo Jesus. M oisés expressou esse fato com perfeição: "D ali nos tirou, para nos levar e nos dar a terra" (D t 6 :2 3 ). H á gente dem ais do povo de Deus com a idéia equi­ vocada de que a salvação - ser liberto da escravidão do Egito - é tudo o que há na vida cristã, quando, na verdade, a salvação é apenàs o co m eço . Tanto em nosso cresci­ mento pessoal quanto em nosso serviço ao Senhor "ainda m uitíssim a terra ficou para se possuir" (Js 13:1). O tema do Livro de Josué tam b ém é o tem a do Livro de H e b re u s: "Deixem o-nos levar" (H b 6 :1 ), e a única for­ ma de fazer isso é pela fé. A incredulidade nos faz dizer: "Voltem os para um lugar seguro", mas pela fé pode­ mos declarar: "A vancem os para onde Deus está operando" (ver Nm 14:1-4). Q uarenta anos antes, ao falar da terra, Josué e C alebe haviam garantido aos israelitas: "Subam os e possuam os a terra, porque, certam ente, pre­ valecerem o s contra ela". Isso é fé! M as o povo respondeu: "N ão poderem os". Isso é in cred u lid ad e e custou à nação quarenta anos de disciplina no deserto (ver Nm 13:2633). "E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (1 Jo 5:4). U m a das alegrias de m inha vid a cristã é o estudo da biografia de cristãos, da vida de hom ens e m ulheres que foram - e que continuam sendo - usados por D eus para desafiar a Igreja e transform ar o mundo. O s cristãos sobre os quais li eram diferentes uns dos outros quanto a suas origens, form ação, personalidade e m aneira de servir a D eus. No entanto, possuíam uma coisa em com um : to dos creram nas prom essas de D eu s e fize­ ram conform e ele lhes o rden ou . Foram ho­ mens e m ulheres de fé, e D eus honrou-os, pois creram em sua Palavra. D eus ainda é o m esm o, e os princípios da fé tam bém . O que parece ter mudado é a atitude do povo de D eu s: não crem os mais em D eus nem agim os pela fé em suas p ro ­ messas. As prom essas de Deus nunca falham (Js 2 1 :4 5 ; 2 3 :1 4 ; 1 Rs 8 :5 6 ), mas podem os deixar de viver pela graça de Deus e de to­ mar posse de tudo o que ele nos prometeu (H b 3:7-19; 12 :1 5 ). D eus nos fez sair da es­ cravidão para que pudéssem os entrar na vida que nos prom eteu, mas muitas vezes não podem os "entrar por causa da incredulida­ de" (H b 3 :1 9 ). Em Josué 3 e 4, D eus ilustra três elem en­ tos essenciais para que avancem os pela fé e tom em os posse de tudo o que ele tem para nós: a palavra da fé, a jornada de fé e o tes­ temunho da fé. 1. A PALAVRA DA FÉ (Js 3:1 -1 3) Enquanto a nação estava aguardando à beira do rio Jordão, o povo deve ter ficado imagi­ nando o que Josué pretendia fazer. Por certo, ele não ia pedir que atravessassem o rio a nado nem que o vadeassem , pois era a esta­ ção das cheias (Js 3 :1 5 ). Não tinham com o construir barcos nem balsas para transportar JOSUÉ 3 - 4 mais de um m ilhão de pessoas pela água até o outro lado. A lém disso, ao se apro­ xim arem desse modo da terra, seriam alvo fácil para os inim igos. O que seus líderes iriam fazer? C o m o M oisés antes dele, Josué recebia ordens do Senhor e lhes o bedecia pela fé. "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pre­ gação, pela palavra de C risto" (Rm 10:17). Alguém disse bem que ter fé não é crer ape­ sar das evidências, mas sim obedecer apesar das co n seq ü ê n cias. A o ler H ebreus 11, o grande "capítulo da fé" nas Escrituras, você descobre que todas as pessoas citadas nes­ te capítulo fizeram algo em função de sua fé em D eus. Sua fé não foi um sentim ento pas­ sivo, mas uma fo rça ativa. Porque Abraão creu em D eus, ele saiu de U r e rumou para Canaã. Porque M oisés creu em D eus, desa­ fio u os d e u se s e g íp c io s e c o n d u z iu os israelitas à liberdade. Porque G id eão creu em D e u s, liderou um p equeno grupo de israe litas que v e n ce u o en o rm e e x é rcito m idianita. A vida d e fé sem pre nos leva a agir. "Porque, assim com o o corpo sem es­ pírito é morto, assim tam bém a fé sem obras é m orta" (Tg 2 :2 6 ). Neste parágrafo, há cinco mensagens di­ ferentes, todas baseadas na Palavra de Deus, que é a "palavra da fé" (Rm 10:8). O povo obedeceu a essas m ensagens pela fé, e Deus os fez atravessar o rio. A m ensa gem d o s líd e re s pa ra o p o v o (vv. 1-4). Josué costum ava acordar cedo (Js 6 :1 2 ; 7 :1 6 ; 8 :1 0 ) e passava as prim eiras ho­ ras do dia em com unhão com Deus (Js 1:8). Nesse sentido, era parecido com M oisés (Êx 2 4 :4 ; 3 4 :4 ), com D avi (Sl 5 7 :8 ; ver 1 1 9 :1 4 7 ), com Ezequias (2 C r 2 9 :2 0 ) e com Jesus C ris­ to (M c 1 :3 5 ; ver Is 5 0 :4 ). É im possível viver pela fé e ignorar a Palavra de Deus e a ora­ ção (At 6 :4 ), pois a fé é alim entada pela ado­ ração e pela Palavra. As pessoas que Deus usa e ab ençoa sabem disciplinar seu corpo de modo a dedicar-se ao Senhor nas prim ei­ ras horas da manhã. Josué ordenou que o acam pam ento se d eslocasse dezesseis quilôm etros de Sitim para o Jordão; e, sem dúvida, o povo em Jericó assistiu a essa m archa com grande 27 apreensão. É provável que os israelitas te­ nham levado um dia inteiro para com pletar esse percurso. D epois disso, descansaram mais um dia e, no terceiro dia, os líderes deram suas ordens: o povo deveria atraves­ sar o rio seguindo a arca da aliança. A arca é citada dezesseis vezes nos capí­ tulos 3 e 4. É cham ada de "arca da A liança" dez vezes, de "arca do S e n h o r " três vezes e sim plesm ente de "arca" outras três vezes. Era o "trono de D eus", o lugar onde sua gló­ ria ficava no tab e rn ácu lo (Êx 2 5 :1 0 -2 2 ) e onde Deus assentava-se "entronizado acim a dos querubins" (Sl 8 0 :1 ). A lei de Deus ficava guardada dentro da arca, com o lem brança da aliança de Deus com Israel, e o sangue dos sacrifícios era aspergido sobre o propiciatório uma vez por ano no dia da expiação (Lv 1 6 :1 4 ,1 5 ). A arca foi adiante do povo para estim u­ lar sua fé, significando que D eus estava indo adiante deles e abrindo cam inho. Deus pro­ meteu a M oisés: "A minha presença irá co n­ tigo, e eu te darei descanso" (Êx 3 3 :1 4 ). Na m archa do povo pelo deserto , a arca foi adiante deles (Nm 1 0 :3 3 ) e M oisés decla­ rou: "Levanta-te, S e n h o r , e dissipados sejam os teus inimigos, e fujam diante de ti os que te odeiam " (Nm 1 0 :3 5 ). Naquela ocasião, a presença da arca era uma garantia da pre­ sença do Senhor. Q uand o o povo levantava acam pam en­ to, cad a um a das tribos possuía um lugar determ inado na m archa (Js 2). Q u an d o os líderes das tribos vissem os sacerdotes car­ regando a arca e se movendo em direção ao rio, estavam incum bidos de preparar o povo para segui-los. U m a vez que o povo não havia cam in h ad o dessa form a antes, seria preciso que Deus os co nduzisse. No entanto, não deveriam se aproxim ar demais da arca, pois era um o bjeto sagrado do tabernáculo e não deveria ser tratada com descaso. N a jornada desta vida, D eus é nos­ so com p anheiro, mas não podem os ousar tratá-lo com o um "colega" qualquer. A m ensagem de Jo su é para o po vo (v. 5). Essa mensagem foi, ao mesmo tempo, uma ordem e uma prom essa, e o cum prim ento da p ro m e ssa d e p e n d ia da o b e d iê n c ia à 28 JOSUÉ 3 - 4 o rd em . A lgu m as pro m essas de D eus são incondicionais, e tudo o que precisam os fa­ z e r é crer, en q u an to outras exig em que A mensagem de Josué aos sacerdotes (v. 6). Era responsabilidade dos sacerdotes carreg ar a arca da aliança e ir adiante do preencham os certos requisitos. Ao satisfazer essas condiçõ es, não estam os trabalhando para m erecer a bênção, mas sim nos certifi­ cando de que nosso coração está prepara­ povo quando m archavam . Eles é que tive­ ram de m olhar os pés antes de Deus abrir as águas. Além disso, teriam de ficar no meio do leito do rio até que todo o povo tivesse atra ve ssa d o . Q u a n d o os sace rd o te s ch e ­ gassem ao outro lado, as águas voltariam a seu curso norm al. Foi preciso fé e coragem para faze r seu trabalho, mas eles creram em D eus e confiaram na fidelidade da Palavra do para a bênção de Deus. Se a experiência de Israel no monte Sinai s e rv e de e x e m p lo (Ê x 1 9 :9 - 1 5 ), e n tã o "purificai-vos" significava que todos deveriam banhar-se e trocar de roupas e que os casais deveriam se dedicar inteiram ente ao Senhor (1 C o 7:1-6). No O riente Próxim o, porém , a água era um luxo que não costum ava ser em pregado com freqüência para a higiene pessoal. Em nosso mundo m oderno, estamos habituados a ter um lugar confortável para tomar banho, mas isso era algo praticam en­ te desconhecid o para o povo dos tempos bíblicos. Na Bíblia, o ato de lavar o co rp o e tro­ ca r de roupa sim bolizava um novo co m e­ ço com o Senhor. U m a vez que o pecado é retratado co m o co n tam in açã o (Sl 5 1 :2 , 7), D eus deve nos purificar antes de poder­ m os, v e rd a d e ira m e n te , segui-lo. Q u a n d o Jacó reco m eço u seu relacio nam ento com o Senhor e voltou a Betei, o patriarca e sua fam ília se lavaram e trocaram de roupa (G n 35:1-3). D ep o is que o rei D avi confessou seu pecado, banhou-se, trocou de roupa e adorou ao Senhor (2 Sm 1 2 :2 0 ). Essa práti­ ca é transportada até o Novo Testam ento, e que pode ser encontrada em 2 Co ríntio s 6 :1 4 - 7 :1 ; Efésios 4 :2 6 , 27 e C olo ssenses 3 :8-14. D eu s prom eteu o p e rar m aravilhas no meio deles. Assim com o havia aberto o mar Verm elho para livrar Israel do Egito, também abriria o rio Jordão e os conduziria à Terra Prometida. No entanto, esse seria apenas o co m eço dos milagres, pois o Senhor entraria com eles na terra, derrotaria seus inimigos e ca p a cita ria as trib o s para que tom assem posse de sua herança. "Q u e deus é tão gran­ de com o o nosso Deus? Tu és o Deus que operas m aravilhas" (Sl 7 7 :1 3 , 14). "Q u ã o grandes são os seus sinais, e quão poderosas, as suas m aravilhas" (D n 4:3 ). do Senhor. A m ensag em d o S e n h o r para Jo su é (vv. 7, 8). Q uand o M oisés liderou a nação na travessia do mar Verm elho, esse milagre engrandeceu M oisés diante do povo, e os israelitas reconheceram que ele era, de fato, servo do S enh o r (Êx 1 4 :3 1 ). D eu s faria a m esm a coisa por Josué no Jordão e, ao fazêlo, lem braria o povo de que o Senhor estava com Josué assim com o havia estado com M oisés (Js 4 :1 4 ; ver 1:5, 9). M oisés e Josué, porém , haviam recebido autoridade do Se­ nhor antes dos m ilagres, mas os m ilagres conferiram-lhes grandeza diante do povo. A lid e ra n ça e fic a z re q u er tanto au to rid ad e quanto grandeza. A m ensagem de Jo su é para o p o v o (vv. 9-13). Depois de instruir os sacerdotes que estavam carregando a arca, jo su é co m ­ partilhou as palavras do Senhor com o povo. Não engrandeceu a si m esm o, mas sim ao Senhor e às bênçãos de sua graça co n ce­ didas à nação. A verdadeira liderança espiri­ tual volta os olhos do povo de D eus para o Senhor e para sua grandeza. G rand e parte daquilo que Josué disse em seu breve discur­ so foi uma recapitulação do último discurso de M oisés a Josué (D t 31:1-8), bem com o das palavras do Senhor a Josué quando este assumiu o lugar de M oisés (Js 1:1-9). Josué não fez um discurso para "levantar o m oral" do povo. Sim plesm ente lembrou os israelitas das promessas de D eus - a "palavra da fé" - e os incentivou a crer e a obedecer. No entanto, o Deus de Josué era mais do que o D eus de Israel. Ele era "o Deus vivo " (Js 3 :1 0 ) e "o Senhor de toda a terra" (Js 3 :1 1 , 13). Pelo fato de ser o "D eu s vivo", JOSUÉ 3 - 4 pôde derrotar os ídolos mortos das nações pagãs que habitavam a terra (Sl 11 5). Pelo fato de ser o "Senhor de toda a terra", pode fazer o que lhe aprouver com todas as ter­ ras e nações. D eus havia dito a seu povo no Sinai: "Sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é m inha" (Êx 19:5). "Derretem -se com o cera os montes, na presença do S e n h o r , na pre­ sença do Senhor de toda a terra" (Sl 9 7 :5 ). Josué explicou ao povo que Deus abri­ ria o rio assim que os sacerdotes carregan­ do a arca colocassem os pés nas águas do Jordão. O rd en o u, tam bém , que cada tribo nom easse um homem para realizar uma ta­ refa especial, que seria explicada posterior­ mente (Js 4:2-8). D eus estava indo adiante de seu povo e abriria cam inho para eles! A o recapitular essas cin co m ensagens, vê-se que o Senhor deu aos israelitas toda a inform ação de que precisavam para realiza­ rem a tarefa que lhes atribuía. São encontra­ das as condições que deveriam preencher, as ordens a que deveriam obedecer e as pro­ messas nas quais deveriam crer. Deus sempre dá sua "palavra da fé" a seu povo quando pede que o siga até novas regiões de confli­ to e de conquista. C om seus mandamentos, Deus co ncede a capacitação, e as prom es­ sas de Deus não falham. Séculos depois da conquista, o rei Josafá deu um conselho que ainda se aplica aos dias de hoje: "C red e no S e n h o r , vosso D eus, e estareis seguros; crede nos seu s p ro fe ta s e p ro s p e ra re is " (2 C r 2 0 :2 0 ). "N em uma só palavra falhou de to­ das as suas boas prom essas" (1 Rs 8 :5 6 ). 2. A JO RN AD A DE fé (Js 3:14-17) Durante a m aior parte do ano, o rio Jordão tinha pouco mais de trinta metros de largu­ ra, mas na ép o ca das cheias de prim avera, o rio transbordava sobre as margens e chega­ va a ter mais de um quilôm etro e meio de largura. Assim que os sacerdotes carregan­ do a arca colocaram os pés no rio, as águas pararam de co rre r e se d etiveram co m o muros, cerca de trinta quilôm etros rio aci­ ma, perto de uma cidade cham ada A dã. Foi um m ilagre de D eus em resposta à fé de seu povo. 29 Se não derm os um passo de fé (Js 1 :3) e se não "m olharm os nossos pés", é pouco provável que tenham os grandes progressos em nossa vida e serviço para Cristo. C ada passo que os sacerdotes davam abria a água diante deles até ficarem no meio do rio em terra seca. Postaram-se ali até o povo todo passar e, quando a nação inteira havia atra­ vessad o , os sace rd o te cam in h aram até a outra margem , e o rio voltou a correr. Q u an d o D eus abriu o m ar V erm elh o , usou um vento forte que soprou durante toda a noite anterior (Êx 1 4 :2 1 , 22 ). Não foi obra do acaso, pois esse vento era o resfolegar das n arin as de D e u s (Êx 1 5 :8 ). Q u a n d o M oisés ergueu sua vara, o vento com eçou a soprar, e quando baixou a vara, as águas voltaram ao lugar e afogaram o exército egíp­ cio (Êx 14:26-28). Q uand o Israel atravessou o Jordão, não foi o braço obediente do líder que operou o milagre, mas sim os pés obe­ dientes do povo. Se não estivermos dispostos a dar um passo de fé e obedecer à Palavra do Senhor, D eus não pode abrir cam inho para nós. C om o disse anteriorm ente, ao contrário do que afirmam alguns hinos, a travessia do rio Jordão não é um retrato do cristão que m orre e vai para o céu. A travessia do mar Verm elho retrata o cristão sendo liberto da escravidão do pecado, enquanto a travessia do rio Jordão retrata o cristão tomando pos­ se da herança em Jesus Cristo, nosso C o n ­ quistador, que nos co n d u z cada dia até a herança que reservou para nós (1 C o 2 :9 ,1 0). "Escolheu-nos a nossa herança" (Sl 4 7 :4 ). C om o é triste quando o povo de Deus deixa de se apropriar de sua herança e fica vagando sem rumo pela vida com o aconte­ ceu com Israel no deserto. O Livro de Hebreus foi escrito com o propósito de desafiar o povo de Deus a buscar a m aturidade espiri­ tual e a não regredir em sua incredulidade. Em H ebreus 3 - 4, o escritor usou a expe­ riência de Israel em Cades-Barnéia para ad­ vertir os cristãos insensatos a não ficarem aquém de tudo o que Deus planejou para eles. É im possível ficar parado na vida cristã: ou avançam os pela fé, ou regredim os em incredulidade. 30 JOSUÉ 3 - 4 3. O TESTEM UNHO DA FÉ (Js 4:1-24) O Senhor estava no controle de tudo o que ocorreu no rio Jordão naquele dia. Disse aos sacerdotes quando entrar no rio e quando sair dele e ir para a outra margem. O rdenou às águas quando deveriam se deter e quan­ do retomar o curso. Tanto as águas quanto o povo obedeceram ao Senhor, e tudo co r­ reu de acordo com os planos de Deus. Foi um dia qu e glorificou ao S en h o r e q u e en­ grandeceu seu servo, Josué (Js 4 :1 4 ). O povo de Israel ergueu dois montes de pedras com o mem oriais da travessia do rio Jordão: doze pedras em Gilgal (vv. 1-8, 1024) e doze pedras no meio do rio (v. 9). Es­ ses m onum entos eram testemunhas de que D eus honra a fé e opera em favor daqueles que confiam nele. A s p e d ra s c o lo c a d a s em G ilg a l foram carregadas pelos doze hom ens nom eados anteriorm ente, cada um proveniente de uma das tribos (Js 3 :1 2 ). Q uand o esses homens chegaram ao meio do rio, cada um pegou uma pedra grande e carregou-a quase treze quilôm etros até Gilgal, onde a nação acam ­ pou naquela noite. Gilgal ficava cerca de três quilôm etros de Jericó e, exceto pela Transjordânia, foi o prim eiro território em C anaã do qual o povo de Israel tomou posse com o herança. Posteriorm ente, Gilgal tornou-se um im portante cen tro de Israel, local onde a nação coroou seu primeiro rei (1 Sm 11) e onde Davi foi recebido de volta depois que a rebelião de Absalão foi contida (2 Sm 19), além de ser um lugar considerado importante por Samuel a ponto de incluir a cidade em seu "circuito ministerial" (1 Sm 7 :1 6 ). Havia uma "escola de profetas" em Gilgal no tem­ po de Elias e Eliseu (2 Rs 2 :1 , 2; 4 :3 8 ). Foi uma cidade de destaque para Josué, pois se tornou'seu acam pam ento e centro de ope­ rações (Js 9 :6 ; 10:6, 15, 4 3 ; 14:6). Essas doze pedras em pilhadas eram uma lem brança daquilo que D eus havia feito por seu povo. O s israelitas acreditavam na im­ p o rtâ n cia de e n sin a r a geração segu in te sobre Jeová e seu relacionam ento especial com o povo de Israel (Js 4 :6 , 2 1 ; Êx 12 :2 6 ; 1 3 :1 4 ; D t 6 :2 0 ; v e r Sl 3 4 :1 1 -1 6 ; 7 1 :1 7 , 1 8 ; 78:1-7; 7 9 :1 3 ; 8 9 :1 ; 1 0 2 :1 8 ). Para um incrédulo, d o ze pedras em pilhadas não pas­ savam de um m onte de pedras, mas para um israelita que cria em D eus, era um a lem ­ b ra n ç a c o n sta n te de que Je o v á era seu D eus, operando m aravilhas em favor de seu povo. Note, porém , que Josué co lo ca sobre os israelitas a obrigação de tem er ao Senhor e de dar testemunho dele para o mundo todo (Js 4 :2 4 ). O D eu s q u e p o d e abrir o rio é o Deus a quem todos devem temer, am ar e obedecer! Israel precisava contar às nações sobre ele e convidá-las a crer nele também. O Deus de Israel preocupa-se com seu povo, cum pre suas prom essas, vai adiante dele em vitória e nunca falha. Um testem unho e tan­ to para dar ao mundo! Infelizm ente, com o passar do tem po, esse m emorial em Gilgal foi perdendo o sig­ nificado espiritual e tornou-se um santuário onde os israelitas pecavam contra Deus ao ad orar ali. O profeta O sé ias co nd eno u o povo por adorar em G ilgal em vez de Je­ rusalém (O s 4 :1 5 ; 9 :1 5 ; 12 :1 1 ), e suas ad­ vertên cias foram repetidas por A m ós (Am 4 :4 ; 5 :5 ). Se não ensinarm os às próxim as gerações a verdade sobre o Senhor, ela se afastará dele e com eçará a seguir o mundo. Jo su é erg u eu o m o n u m en to n o m eio d o rio (v. 9) e, para os israelitas, deve ter sido estranho ver seu líder fazer isso. Afinal, quem, além de D e u s, p o d e ria v e r d o z e pedras am ontoadas no leito de um rio? A narrativa não diz se foi Deus quem ordenou a Josué que erguesse esse segundo m o num ento , mas é bem provável que sim. Pelo menos, Deus não o repreendeu por fazê-lo. O m onum ento em G ilgal lem brava os israelitas de que D eus havia aberto o rio Jordão, conduzindo-os em segurança à Ter­ ra Prometida. O povo havia rompido com o passado e não deveria, jam ais, pensar em voltar. O m onum ento no fundo do rio lem ­ brava o povo de que sua vida antiga havia sido sepultada e de que, daquele m omento em diante, deveriam andar em "novidade de vida" (Rm 6:1-4). (Q uand o estudarm os Josué 5, verem os a relevância espiritual da institui­ ção desse m onum ento e da circuncisão da nova geração para os cristãos de hoje.) JOSUÉ 3 - 4 31 Assim , sem pre que um a criança israelita passasse pelas doze pedras em Gilgal, os pais lhe explicariam o milagre da travessia do rio. Diriam tam bém : "H á outro m onum ento no meio do rio, onde os sacerdotes ficaram com a arca. Não dá para vê-lo, mas está lá. Ele nos lembra de que nossa vida antiga foi se­ pultada e de que agora devem os viver uma nova vida em o b e d iê n cia ao S en h o r". As crianças teriam de aceitar o fato pela fé e, se acreditassem , isso faria uma grande dife­ rença em seu relacionam ento com D eus e com a vontade dele para a vida delas. Esses dois m ontes de pedras foram os p rim eiros de vário s m on u m ento s que os israelitas ergueram na terra. Seguindo as ins­ truçõ es de M o isés, tam bém ergueram as duas pedras de bênção e de m aldição nos montes Ebal e G erizim (D t 27:1-8; Js 8:3035). Ergueram um m onte de Pedras sobre Acã e sua fam ília (Js 7:25, 26) e, no final de sua vida, Josué erigiu um a grande pedra de testem unho em Siquém (Js 2 4 :2 4 ; Jz 9 :6 ). \ s duas e meia tribos que viviam do lado íeste do Jordão ergueram "um altar grande que deixem os de servir a Deus no presente. A glorificação do passado é uma excelente form a de petrificar o presente e de privar a igreja de poder. As gerações seguintes pre­ cisam de lem branças daquilo que D eus fez na história, mas essas lem branças também devem fortalecer sua fé e aproximá-las do Senhor. Deus nos faz sair da escravidão para nos co nduzir à Terra Prom etida (D t 6 :2 3 ) e nos faz entrar nessa terra para que possamos ven­ ce r e nos apropriar de nossa herança em Cristo Jesus. Pelo fato de o povo de Deus ser identificado com Cristo em sua morte, sepultam ento e ressurreição (Rm 6; G l 2:2 0 ), os cristãos têm o "poder de v e n ce r", não e vistoso" para lem brar seus filhos de que, mesmo separados das outras tribos pelo rio, faziam parte de Israel (Js 22:1 Oss). N ã o há n a d a d e e rra d o em e rg u e r m em oriais, desde que não se tornem ídolos que afastam nosso co ração de D eus e que não nos am arrem ao passado de tal forma passado (Rm 6), e Deus o conduzirá à terra e lhe dará "os dias do céu acim a da terra" precisam ser derro tado s pelo m undo (G l 6 :1 4 ), pela carne (G l 5 :2 4 ) ou pelo diabo (Jo 1 2 :3 1 ). Som os vencedores em Jesus Cristo (1 Jo 5:3). Se deseja apropriar-se de sua herança espiritual em Cristo, creia na Palavra da fé e m olhe os pésl D ê um passo na jornada de fé, e Deus abrirá cam inho para vo cê. Entregue-se ao Senhor, morra para sua vida do (D t 11:21). O s israelitas encontravam-se na terra, mas ainda não estavam prontos para confrontar o inimigo. Era preciso que Josué e o povo fizessem alguns preparativos espirituais. 5 P r e p a r a n d o -se P a r a a V itó r ia Josué 5 nação de Israel chegou em segurança do outro lado do rio Jordão. Sua tra­ vessia foi um grande m ilagre e serviu para m andar um recado ao povo de C an aã (Js 5 :1 ). O s canan eus já estavam am edro n ta­ dos (Js 2 :9 -1 1 ), e, depois desse ep isód io , seu m edo deixou-os inteiram ente d esm o ­ A ralizad os. Seria de esperar que Josué m obilizasse seu exército de im ediato e atacasse Jericó. Afinal, o povo de Israel encontrava-se unido seguindo ao Senhor, e o povo da terra esta­ va paralisado de medo. Do ponto de vista hum ano, era o m om ento perfeito de Josué agir. No entanto, os pensam entos de D eus são mais elevados que os nossos (Is 5 5 :8 , 9), e Josué estava recebendo ordens direta­ mente do Senhor, não de estrategistas mili­ tares. A nação atravessou o rio no décim o dia do primeiro mês (Js 4 :1 9 ). O s acon teci­ mentos descritos em Josué 5 ocorreram ao longo de pelo menos dez dias e, só então, o povo marchou ao redor de Jericó por mais seis dias. Deus esperou mais de duas sem a­ nas para dar a seu povo a prim eira vitória na terra. Antes de Deus confiar-lhe a vitória, é pre­ ciso que seu povo esteja preparado. A co n ­ quista triunfante da terra deveria ser um a vitória de Deus e não de Israel ou de Josué. Não seria a habilidade do exército de Israel e nem as em oções do inimigo que dariam a vitória a Israel, mas sim a presença e a bênção do Senhor. H avia três passos preparatórios a serem tomados antes que Deus pudesse dar a seu povo a vitória sobre as nações da terra de C anaã. 1. A S RENOVAÇÃO DA ALIAN ÇA COM O en h o r (Js 5:1-9) D epois da travessia triunfal do rio Jordão, o povo deveria parar em G ilgal para que os h o m en s se su b m ete ssem a um a ciru rg ia dolorosa. Por que D eus ordenou a realiza­ ção desse ritual nessa ocasião? Para r e s ta u ra r o r e la c io n a m e n t o da alian ça (vv. 2-7). Israel era a nação da alian­ ça, um privilégio que Deus não havia dado a qualquer outra nação da terra (Rm 9 :4 , 5). Deus estabeleceu sua aliança com Abraão quando o cham ou da terra de Ur dos caldeus (G n 12:1-3), e selou essa aliança com um sacrifício (G n 1 5). C o m o sinal desse pacto com Abraão e seus descendentes, Deus or­ denou a circuncisão (G n 17:9-14, 23-27; es­ pecialm ente o v. 11). O utras nações daquela ép o ca praticavam a circu n cisão , mas para esses povos, o ritual não possuía o mesmo significado espiritual que para os israelitas. Por meio desse ritual, os israelitas tornaram-se um "povo m arcado", pois pertenciam ao verdadeiro Deus vivo. Isso significava que tinham a obrigação de lhe obedecer. A mar­ ca da aliança os lembrava de que seu corpo pertencia ao Senhor e não deveria ser usado para propósitos pecam inosos. Israel estava cercado por nações que adoravam ídolos e cujos rituais incluíam práticas sensuais e de­ gradantes. A m arca da aliança lembrava os israelitas de que eram um povo especial e separado, uma nação santa (Êx 19:5, 6), e que deveriam manter sua pureza no casam en­ to, na sociedade e em sua adoração a Deus. Durante o tempo em que vagaram pelo deserto, os israelitas não praticaram a cir­ cuncisão. Trinta e oito anos antes, em CadesBarnéia, haviam se recusado a crer em Deus e a entrar na terra (D t 2 :1 4 ; Nm 13 - 14). Deus disciplinou o povo fazendo-o vagar no deserto até que toda a geração mais velha, com exceção de C alebe e de Josué, tivesse morrido. Nesse tem po, D eus suspendeu seu relacion am ento de alian ça com o povo e não exigiu a m arca desse pacto em seus fi­ lhos do sexo m asculino. Ainda que, tempo­ rariam ente, os israelitas não fossem seu povo da aliança, D eus realizou grandes feitos por eles e supriu todas as suas necessidades. JOSUÉ 5 No entanto, a nova geração encontravase, agora, em sua herança e era im portante que re n o va ssem seu re la c io n a m e n to de aliança com o Senhor. Se Israel foi tentado a pecar durante sua jornada pelo deserto (ver Nm 25 ), quanto mais não o seria quando estivesse vivendo na terra! O s israelitas esta­ vam cercados de povos pagãos com práti­ cas religiosas im orais e seriam tentados a fazer concessões aos inimigos. Foi exatam en­ te isso o que aconteceu mais tarde, quando as gerações seguintes se esq u e ceram do verdadeiro significado da circuncisão. A operação física tinha o propósito de sim bolizar uma operação espiritual no cora­ ção. "Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa ce rv iz" (D t 10:16). Não há cirurgia alguma do corpo cap az de transform ar o se r interior. É q u an do nos ar­ rependem os e nos voltam os para Deus em busca de ajuda que ele pode mudar nosso co ração e nos faze r amá-lo e o b e d ecer a ele ainda mais (ver Rm 2:25-29). Porém , ao longo dos anos, os israelitas passaram a co n fia r na m arca exte rio r da aliança e não no D eu s da aliança que dese­ java fazer deles um povo santo. Pensavam que, enquanto fossem o povo da aliança de D eus, poderiam viver com o bem entendes­ sem! M oisés os advertiu sobre esse pecado D t 3 0 :6 ), com o tam bém o fizeram os pro­ fetas (Jr 4 :4 ). Q u an d o João Batista cham ou o povo ao arrep e n d im e n to , os líderes espi­ rituais jud eus disseram : "Tem o s por pai a Abraão" (M t 3 :9 ). Não eram muito diferen­ tes de alg u m as p e sso as de h o je que se sentem seguras de sua salvação e da eter­ nidade do céu por terem sido b atizad as, terem feito sua confirm ação de fé e por par­ ticiparem da ceia do Senhor com freqüên­ cia. Por mais válidos que sejam esses ritos 'elígiosos, jam ais tom arão o lugar da fé em iesus Cristo (ver Rm 2:25-29). Para p ro va r sua fé (v. 8). Israel encontra.a-se acam pado em território inimigo, a pou­ cos quilôm etros de Jericó. Estava prestes a •er todos os hom ens da nação tem poraria­ mente incapacitados, inclusive os soldados do exército! Q u e oportunidade perfeita para o nimigo atacá-los e exterminá-los (ver G n 34). 33 Josué e o povo precisaram ter fé para obede­ cer ao Senhor, mas sua obediência à lei foi o segredo de seu sucesso (Js 1:7, 8). O povo foi fortalecido em sua fraqueza e, por meio da fé e da paciência, herdou as promessas de D eus (H b 6 :1 2 ). Logo dep o is que Israel saiu do Egito, Deus testou o povo em M eribá, e os israelitas não passaram no teste (Êx 17:1-7; Sl 81 :7 ). Logo depois que Israel entrou na Terra Pro­ metida, D eus os testou ao ordenar que os hom ens fossem circuncidados, e eles passa­ ram no teste. O povo teve fé para obedecer a Deus, e esse ato deu prova de que obede­ ceriam a suas ordens ao m archar em C anaã. Depois de experim entarm os uma vitória em p o lg an te na fé, D e u s com fre q ü ê n cia permite que sejam os testados. Abraão ch e­ gou à terra da prom essa e foi co n fro n tado com uma terrível escassez de alimentos (Gn 12). Elias triunfou sobre Baal e foi am eaça­ do de morte (1 Rs 1 8 - 19). D epois de Jesus ter sido batizado no rio Jordão, o Espírito o conduziu até o deserto para ser tentado por Satanás (M t 3:13 - 4 :1 1 ). Um a vez que gran­ des vitórias podem levar a um grande orgu­ lho, D eus permite que sejam os testados, a fim de nos lembrar de que dependem os dele. O pregador escocês A ndrew Bonar (18101892) costum ava dizer: "Perm aneçam os tão vigilantes depois da vitória quanto antes da batalha". Para re m o v e r se u o p ró b rio (v. 9). A pa­ lavra Gilgal é sem elhante ao termo hebraico galai, que significa "rolar". M as qual era o "opróbrio do Egito"? Alguns estudiosos su­ gerem que refere-se à desonra de terem sido escravos no Egito, mas não foi culpa de Is­ rael o Faraó ter se voltado contra ele (Êx 1:8ss). O s israelitas estavam no Egito porque D eus os havia enviado para aquela terra (G n 46:1-4) e não por serem desobedientes. Tam bém sugere-se que o "opróbrio Egito" seja um a referência à vergonha Israel por ter adorado a ídolos no Egito 2 0 :7 , 8; 2 3 :3 ) e até mesm o no tempo do de (Ez em que vagaram pelo deserto (Am 5 :2 5 , 26 ; At 7:42, 43), M as aquela geração mais velha já havia morrido e, por certo, os israelitas mais jo v e n s não p o deriam ser cu lp ad o s pelos 34 JOSUÉ 5 pecados dos pais. Além do mais, tenho difi­ culdade em ver um a relação entre a traves­ sia do rio, a circu n cisão e a idolatria dos israelitas no Egito. C reio que o "opróbrio do Egito" referese à form a com o o povo foi ridicularizado pelo inimigo quando não confiou em Deus em Cades-Barnéia e deixou de entrar na Terra Prom etida. Q u an d o A rão fez o bezerro de ouro no monte Sinai e o povo transgrediu a lei de D eus, o Senhor am eaçou destruí-los e com eçar uma nova nação descendendo de M o isés. No entanto , M o isés argum entou que, se Deus fizesse isso, deixaria de ser glorificado, pois os egípcios diriam que o Senhor havia lib ertad o seu povo só para depo is exterminá-lo (Êx 32:1-12). Em Cades-Barnéia, M o isés usou esse m esm o ap elo a D e u s, quando o Senho r d eclaro u que destruiria Israel (Nm 14:11-14). M oisés não queria que os egípcios espalhassem a notícia de que o Deus de Israel não era cap az de term inar aquilo que havia com eçado. O pecado de Israel em Cades-Barnéia foi uma grande desonra para o povo, mas ha­ via ficado para trás. A nação estava, de fato, na Terra Prometida! H avia tom ado o territó­ rio a leste do Jordão, e o povo já ocupava aq u e la região (N m 3 2 ). C ru z a ra m o rio Jordão e estavam prontos para a conquista. Não im portava o que o Egito ou as outras nações houvessem dito sobre Israel em fun­ ção de seu pecado em Cades-Barnéia, pois esse opróbrio havia ficado inteiramente no passado. Cad a hom em levava em seu corpo a m arca para lembrá-lo de que pertencia a Deus, de que era um filho da aliança e de que a terra lhe pertencia para que a co n ­ quistasse e possuísse. Para qualificá-los a celebrar a Páscoa (Ê x 12:43, 4 4 , 4 8 ). Nenhum hom em incircun ciso e que não fosse verdadeiram ente filho da aliança poderia participar da Festa da Páscoa. Com entarem os mais adiante essa grande celebração da Páscoa. Para retratar algumas verdades espiri­ tuais importantes. O s acon tecim en tos do A ntigo Testam en to são, com fre q ü ê n cia , ilustrações de doutrinas do Novo Testam en­ to (Rm 1 5 :4 ; 1 C o 10 :1 1 ). O êxodo de Israel do Egito retrata o livram ento do pecador de sua escravidão do pecado pela fé em Jesus Cristo (Jo 1:2 9 ; 1 C o 5 :7 ; G l 1 :4). A travessia do rio Jordão por Israel ilustra os cristãos morrendo para si mesm os e entrando pela fé em sua herança. Essa verdade é explicada em Hebreus 1 - 6, especialm ente nos capí­ tulos 3 e 4. Deus não deseja que vaguem os pelo deserto da incredulidade. Ele quer que nos apropriem os de nossa herança pela fé, conquistem os nossos inimigos e desfrutemos o "descanso" espiritual que ele oferece aos que cam inham pela fé. Pelo fato de o Espírito Santo batizar to­ dos aqueles que crêem , de modo a fazerem parte do corpo de Cristo (1 C o 1 2 :1 3 ), to­ dos os cristãos são identificados com Cristo em sua morte, sepultam ento, ressurreição e ascensão (Rm 6:1-10; Ef 2:1-10). Essa verda­ de é retratada na travessia do rio por Israel. Somos salvos do castigo do pecado pela subs­ tituição: Cristo morreu por nós (Rm 5:8 ). Mas som os salvos do p o d e r do pecado pela iden­ tificação: m orrem os com Cristo (G l 2 :2 0 ). Devem os crer naquilo que Deus diz e nos con sid e rar m ortos para o pecad o e vivos para Cristo (Rm 6:11-23). Assim , atravessa­ mos o rio! Vários estudiosos do Novo Testamento acreditam que a igreja apostólica praticava o batismo por im ersão. O s candidatos eram subm ersos na água e depois levantados, re­ tratan d o a id e n tific a ç ã o do c ristã o co m Cristo em sua morte, sepultam ento e ressur­ reição. Israel ilustrou essa verdade ao atra­ vessar o mar Verm elho (deixar para trás sua antiga vida) e depois o rio Jordão (entrar em sua nova herança). Tam bém fom os identificados com Cris­ to em sua circuncisão. "N ele, também fostes circu n cida dos, não po r interm édio de mãos, mas no despojam ento do corpo da carne, que é a circu n cisão de C risto, tendo sido sepultados, juntam ente com ele, no batis­ mo, no qual igualm ente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de D eus que o res­ suscitou dentre os mortos" (Cl 2 :1 1 , 12). A circuncisão do cristão contrasta com a circuncisão dos judeus. Enquanto a prática dos judeus consiste num a cirurgia exterior, JOSUÉ 5 para os cristãos, trata-se de um a "cirurgia espiritual" no coração. A cirurgia dos judeus envolvia apenas uma parte do corpo, enquan­ to para o cristão, todo o "corpo da carne" iC I 2 :1 1 ) foi rem ovido. Q u and o aceitam os esse fato e agim os em função dele, obtem os a vitória sobre os p e ca d o s da carne q u e p o d e ­ riam nos escravizar. A fé "no poder de Deus" iC I 2 :1 2 ) dá-nos o poder de ser vitoriosos. H avia falsos mestres na Igreja prim itiva ensinando que os cristãos gentios deveriam ser circuncidados e o bedecer à lei de M oisés para ser salvos (At 1 5). Esses mestres esta­ vam acrescentando obras humanas à graça de D eus (Ef 2:8-10; G l 5 :1 ). Paulo chamouos de "cães" (que era com o alguns judeus ch am avam os gentios) e d enom ino u essa prática "falsa circu ncisão", afirm ando sobre os cristãos: "Porque nós é que somos a cir­ cuncisão" (Fp 3:1-3). Em Cristo, os filhos de Deus experim entaram um a "cirurgia espiri­ tual" interior que lhes deu um novo coração e novos desejos (2 C o 5:1 7; Ef 4 :2 4 ; Cl 3 :1 0 ; \e r Ez 1 1 :1 9 ; 3 6 :2 6 ). A ssim co m o os h o m en s israelitas em G ilgal tiveram de se subm eter à vontade de D eus, os cristãos de h o je tam bém devem se entregar ao Espírito e perm itir que lhes dè um a exp e riê n cia real daquilo que Deus afirm a ser verd ade em sua Palavra. D eve­ mos nos co nsiderar "m ortos para o peca­ do, mas vivos para D eus em Cristo Jesus" Rm 6 :1 1ss). 2 . A R ECO RD AÇ ÃO DA BO N D AD E DO S en h o r (Js 5:10-12) Esquecendo-me das coisas que para trás fi­ cam " (Fp 3 :1 3 ) trata-se de um conselho sá­ bio para a m aior parte das áreas de nossa \ ida, mas há certas coisas que jam ais deve­ mos esquecer. Em seu discurso de despedi­ da à nação, M oisés ordenou repetidam ente que os israelitas se lem brassem de que, um dia, haviam sido escravos no Egito e que o Senhor os havia livrado e feito deles seu povo Dt 6:1 5; 1 5 :1 5 ; 1 6 :1 2 ; 2 4 :1 8 , 22). Essa gran­ de \erd ade era sim bolizada na celebração anual da Páscoa. Jam ais deveriam se esque­ cer de que eram um povo redim ido, liberto v-e o sangue do cordeiro. 35 Q u are n ta anos antes, Israel havia ce le­ brado a Páscoa na noite de sua libertação do Egito (Êx 11 - 14). Tam bém havia cele­ brado a Pásco a no m onte Sinai, antes de partir para Cades-Barnéia (Nm 9:1-14); mas não há qualquer evidência de que tenham com em orado essa festa durante o tempo em que vagaram pelo deserto. O fato de a nova geração ser incircuncisa im pedia que parti­ cipassem da celebração e, por causa da re­ belião dos israelitas em Cades-Barnéia, Deus havia suspendido tem porariam ente a alian­ ça com seu povo. Israel pagou caro por esse único ato de rebelião. A morte de Jesus Cristo é tipificada na im olação do cordeiro pascal (1 C o 5:7 ), e sua re ssu rre içã o é tip ifica d a pela "o ferta m ovida" apresentada no dia depois do sá­ bado seguinte à Páscoa (Lv 23:10-14; 1 Co 1 5 :2 3 ). O dia depois do sábado era o pri­ meiro dia da sem ana, o D ia do Senhor, o dia da ressurreição de Cristo (M t 2 8 :1 ). M ais uma vez, vem os o retrato da morte e da res­ surreição, nosso único cam inho para a vida e a vitória (Rm 6:4). A Páscoa era seguida da Festa dos Pães Asm os, na qual, durante uma sem ana, o povo evitava qualquer tipo de levedura e, portan­ to, com ia pães sem fermento (Êx 12:15, 182 0 ). Q u an d o Israel entrou em C anaã, era época da colheita da cevada, de modo que havia cereal disponível para a alim entação. Sem dúvida os habitantes da região haviam deixad o cereais em suas propriedades ao buscarem refúgio em Jericó. O Senhor pre­ parou uma mesa para seu povo na presen­ ça de seus inimigos, e Israel não teve o que tem er (Sl 2 3 :5 ). No dia depois da Páscoa, o maná ces­ sou, encerrando, desse m odo, um milagre que durou quarenta anos (Êx 16). S e a Pás­ coa lem brava os judeus de sua redenção do Egito, o m aná os lembrava de seu desejo de voltar para o Egito! "Q u em nos dera tivésse­ mos morrido pela mão do S e n h o r , na terra do Egito, quando estávam os sentados junto às panelas de carne e com íam os pão a far­ tar!" (Êx 16:3). Deus nutriu seu povo com o pão do céu, alim ento dos anjos (S l 78:2325 ), e, ainda assim, desejaram a com ida do 36 JOSUÉ 5 Egito (Nm 11:4-9). Não foi difícil Deus tirar seu povo do Egito, mas não foi fácil tirar o Egito de dentro de seu povo. M uitos cristãos co ntrad izem sua profis­ são de fé ao dem onstrar apetite por aquilo que faz parte de sua vida passada. "Po rtan­ to, se fostes ressuscitados juntam ente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde C ris­ to vive, assentado à direita de D eus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra" (C l 3 :1 , 2 ), U san d o a figura de Josu é, isso sig n ifica: "V o cê s atravessaram o rio e encontram -se em sua herança. Não olhem para trás nem anseiem pelas coisas do Egito ou do deserto. D eixem que D eus os alim ente e os satisfaça com a colheita de sua herança". A colheita é outra imagem de morte e ressurreição. A sem ente é enterrada no solo e m orre, mas é dessa m orte que surge a beleza e a fertilidade. Jesus usou a imagem tanto do m aná (Jo 6:26-59) quanto da co­ lheita (Jo 12:20-28) para referir-se a si mes­ mo, pois ele é o sustento do qual devem os nos alimentar. 3. A REAFIRM AÇÃO DA PRESENÇA DO S enhor (Js 5:13-15) Josué havia lido no Livro da Lei aquilo que M oisés havia dito ao Senhor depois de Is­ rael ter confeccio nad o o bezerro de ouro: "Se a tua presença não vai com igo, não nos faças subir deste lugar" (Êx 33:1 5). O Senhor prometeu estar com Josué com o havia esta­ do com M oisés (Js 1:5) e reafirm ou essa pro­ messa de maneira pessoal. Assim com o seu antecessor, Josué se recusou a avançar até que estivesse certo da presença do Senhor a seu lado. Este parágrafo registra uma das aparições pré-encarnadas do Senhor Jesus Cristo no Antigo Testam ento. Para Abraão, o peregri­ no, o Senhor apareceu na form a de um via­ jante para dividir com ele uma refeição (Gn 18:1-8). Para Jacó, o elaborador de esquemas, manifestou-se com o um oponente, a fim de levá-lo à su je ição (G n 3 2 :2 4 -3 2 ). O s três hebreus encontraram o Senhor co m o seu com panheiro na fornalha de fogo (Dn 3:25), e Josué o viu com o o Príncipe do Exército do S e n h o r . Deus sem pre se manifesta a nós na o casião e da maneira que precisam os. D eve ter sido um grande estímulo para Josué perceber que não estava sozinho. A posição de liderança traz consigo uma soli­ dão perturbadora e até deprim ente, quando o líder se dá conta de com o suas decisões afetam a vida de outros. Nas palavras de H arry Trum an: "Ser presidente dos Estados Unidos é ser solitário - extrem am ente soli­ tário - em m om entos de grandes decisões". É possível que Josué estivesse sentindo um pouco dessa solidão. D eus prometeu estar com Josué (Js 1 :5, 9) e o povo orou para que o Senhor o acom ­ panhasse (Js 1 :1 6 ,1 7 ). O inimigo sabia que D eus estava com Israel (Js 2 :8 ss), e Josué havia usado essa prom essa para encorajar o povo (Js 3:9ss). N aquele instante, era o p ró ­ p rio Jo su é quem experim entava a realidade dessa prom essa! Deus foi ao encontro dele com o Príncipe do Exército do S e n h o r , quer nos céus ou na terra. " O S e n h o r dos Exérci­ tos está conosco ; o Deus de Jacó é o nosso refúgio" (Sl 4 6 :7 ,1 1 ). Josué se lembrou do cântico entoado por Israel no mar V erm e­ lho: " O S e n h o r ê homem de guerra; S e n h o r é o seu nom e" (Êx 15:3). Adm iro a coragem de Josué ao confron­ tar esse desconhecido, pois queria saber de que lado ele estava. Para Josué não havia meio-termo: ou a pessoa estava com o Se­ nhor e com seu povo ou estava contra eles (M t 1 2 :3 0 ; Lc 1 1 :23 ). Q u an d o Josué desco­ briu que o visitante era o Senhor, prostrouse a seus pés em adoração e esperou por suas ordens. No ministério cristão, as grandes batalhas são vencidas no âmbito privado, quando os líderes se sujeitam ao Senhor e recebem dele suas orientações. É de se duvidar que alguém no acam pam ento de Israel soubesse do en­ contro de seu líder com o Senhor, mas isso foi crucial para o sucesso no cam po de bata­ lha. O professor chinês de estudos bíblicos, W atchm an Nee, escreveu: "Só quando assu­ mimos nossa posição de servos é que Deus pode assumir sua posição de Senhor". Josué foi lembrado de que era o segun­ d o na escala de com ando. Todo pai, mãe, JOSUÉ 5 pastor e líder cristão encontra-se sob o co­ mando do Senhor Jesus C risto; e, sem pre que nos esquecem os desse fato, avançam os rumo à derrota e ao fracasso. O Senhor foi ao encontro de Josué naquele dia, não ape­ nas para ajudá-lo, mas tam bém para liderar. ‘Sem mim nada podeis fazer" (Jo 1 5:5). Josué era um soldado experiente que havia sido treinado por M oisés para ocupar seu cargo de liderança. No entanto, isso não era ga­ rantia alguma de sucesso. Ele precisava da presença do Senhor D eus a seu lado. A primeira ordem do Senhor para Josué revelou-lhe que estava em um lugar santo. Isso nos faz lem brar as palavras de Deus a M oisés na sarça ardente (Êx 3 :5 ). Josué esta\a em "território pagão" e, no entanto, pelo fato de D eus estar com ele, encontrava-se num lugar santo. Se obedecem os à vontade de D eus, aonde quer que ele nos conduza, estarem os em lugar santo e devem os agir de acord o com esse fato. Q uand o se está a ser­ viço do Senhor, não existe um a divisão real en tre "se c u la r" e "sa g ra d o ", "co m u m " e 'consagrado". "Portanto, quer com ais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de D eus" (1 C o 10:31). A seqüência do relato é im portante: pri­ meiro veio a adoração hum ilde, depois a vida de santidade e, em seguida, o com bate celes­ tial. Trata-se de um a seqüência paralela às "posturas espirituais" encontradas na Epístola aos Efésios. Primeiro Josué curvou-se (Ef 3 :1 4 ); em seguida, sujeitou-se a uma vida de santi­ dade (Ef 4 :1 , 17; 5 :2 , 8, 15); por fim, saiu para com bater o inimigo no poder do Se­ nhor (Ef 6:1 Oss). Assim com o Josué, também á recebem os nossa herança (descrita em Ef 1 - 2) e devem os vencer o inimigo, a fim de nos apropriarm os dela e de desfrutá-la. Q uando Josué encontrou-se com o Se­ nhor, descobriu que a batalha era d o Senhor e ele já havia ven cid o o inim igo. Josué só orecisava ouvir a Palavra de Deus e obede­ cer a suas ordens, e Deus cuidaria do resto. Deus já havia entregue Jericó nas mãos de 7 í >l o r , 37 Israel (Js 6 :2 ); tudo o que lhes restava fazer era dar um passo de fé e apropriar-se da vitória ao o bedecer às ordens do Senhor. Num a reunião com um pequeno grupo de m issio nário s na C h in a, Jam es H udson Taylor, fundador da M issão para o Interior da China (hoje cham ada de Overseas M issionary Fellowship), lembrou os obreiros de que ha­ via três formas de realizar a obra de Deus: "A primeira é traçar os melhores planos possíveis e executá-los de acordo com nossa m aior habilidade [...]. A segunda é traçar cuidado­ samente nossos planos e, uma vez determi­ nados a executá-los, pedir a ajuda de Deus para que nos faça prosperar com relação a esses planos. Existe, porém, a terceira forma, que é com eçar com Deus, perguntar-lhe quais são os seus planos e nos colocar à disposi­ ção para realizar seus propósitos".1 Josué escolheu seguir esse terceiro ca­ minho, por isso o Senhor o abençoou. A lição mais im portante de Josué 5 é que, a fim de realizar com sucesso a obra do Senhor e de glorificar seu nom e, precisam os ser um povo e sp iritu a lm e n te p re p ara d o . Em vez de nos lançarm os precip itadam en ­ te ao com bate, devem os "d ed icar tem po à santid ad e". N um a carta a seu amigo m issionário, o reverendo D aniel Edwards, o piedoso pre­ gador esco c ê s R obert M urray M cC h e y n e escreveu: "Lem bre-se de que vo cê é a espa­ da de D eus - seu instrum ento - , e espero que seja um vaso esco lh id o para levar o nom e do Senhor. O sucesso depende, em grande parte, da pureza e perfeição do ins­ trumento. O que mais nos abençoa não são os grandes talentos que D eus nos dá, mas sim uma grande sem elhança com Cristo. Um ministro santo é um instrumento poderoso nas mãos de D e u s".2 Essa carta foi escrita em 1840, mas sua adm oestação aplica-se ao povo de Deus nos dias de hoje. Somos todos ministros do Se­ nhor e seus servos, e desejam os ser instru­ mentos santos usados por ele com sucesso. Howard, Dr. e sra. Biography o f James H ud son Taylor. Londres: China Iniand M ission, 1965, p. 271. 3 ? \ a r , Andrew A . M em oir and Remains o f R o b ert Murray M cC h eyn e. Londres: Banner of Truth Trust, 1966, p. 282. 6 C o m eça a Jo C o n q u is t a sué 6 //Ç e vo cê pensa que pode v en cer sem lutar e acredita que receberá a coroa sem qualquer batalha, não passa de um pés­ simo soldado de Cristo." Essa declaração tão apropriada é do co ­ rajoso pregador e mártir sírio, João C risós­ tomo (347-407). Sem dúvida, a vida cristã envolve desafios e conflitos, quer gostemos disso quer não. Nossos inimigos lutam cons­ tantem ente contra nós e tentam nos im pe­ dir de tom ar posse de nossa herança em Jesus Cristo. O m undo, a carne e o diabo (Ef 2:1-3) constituem uma co alizão contra Cris­ to e seu povo, assim com o as nações de Canaã formaram uma coalizão contra Josué e o povo de Israel. Infelizm ente, muitos "hinos de batalha" da igreja foram removidos dos hinários, pois há quem se sinta perturbado com o conceito de guerra, uma idéia que parece entrar em contradição com as palavras e obras de Je­ sus Cristo. Porém, esses editores tão cheios de zelo e prontos a usar suas tesouras pare­ cem ter esquecido que o tema principal da Bíblia é a guerra santa de D eus contra Sa­ tanás e o pecado. Em G ên esis 3 :1 5 , Deus declarou guerra a Satanás, e, um dia, irá de­ clarar a vitória quando Jesus vier com o C o n ­ quistador, a fim de estabelecer seu Reino (Ap 19:11-21). Se eliminamos o aspecto militante da fé cristã e n tã o devem os abandonar a cruz, po is foi na cruz que Jesus conquistou a vitória sobre o p eca d o e Satanás (Cl 2:13-15). Um pastor co m p areceu a um tribunal para um a au d iên cia protestando contra a construção de um bar próxim o a sua igreja e a um a esco la pública. O advogado dos proprietários do bar lhe disse: — O senhor aqui, pastor? Q u e surpresa! Não deveria estar cuidando de suas ovelhas? A o que o pastor respondeu: — Hoje estou lutando contra o lobo! M u ito s cristã o s atrib u em ê n fa se se n ­ timental excessiva sobre "a paz e a boa von­ tade", ignorando a batalha espiritual contra o pecado; isso significa que já perderam a vitória e estão trabalhando para o inimigo. Não devem os jam ais nos esquecer da ad­ vertência de Paulo sobre os lobos vorazes prontos a destruir o rebanho (At 2 0 :2 8 , 29). O com bate cristão não é contra sangue e carne, mas contra inimigos da esfera espi­ ritual (Ef 6:10-18), e as arm as que usamos para lutar tam bém são espirituais (2 C o 10:36). Satanás e seu exército de dem ônios usam pessoas para fazer oposição e atacar a Igre­ ja de D eus; e, se não assum irm os uma posi­ ção definida ao lado de Cristo, já perdem os a batalha. No exército de Jesus Cristo não há neutralidade. Jesus disse: "Q u em não é p o r mim é contra m im " e proferiu essas pa­ lavras no contexto do com bate espiritual (M t 12:24-30). Tendo em vista que o apóstolo Paulo usava com freqüência imagens milita­ res para descrever a vida cristã, não pode­ mos ignorar esse assunto (Ef 6:1 Oss; 2 Tm 2:1-4; Rm 1 3 :1 2 ; 1 Ts 5:8). A vitória de Israel em Jericó ilustra três princípios do conflito e da vitória espiritual que se aplicam a nossa vida hoje, quaisquer que sejam os desafios que se apresentem diante de nós. 1. A n tes d o d e s a f io : l e m b r e -s e d e q u e ESTÁ LUTANDO EM V ITÓ R IA E NÃO PELA v it ó r ia (Js 6:1-5) O soldado cristão encontra-se num a posi­ ção de vitória garantida, pois Jesus Cristo já derrotou todos os inim igos espirituais (Jo 1 2 :3 1 ). Jesus derrotou Satanás não apenas no deserto (M t 4:1-11), mas tam bém duran­ te seu m inistério aqui na Terra (M t 12:2229 ), na cru z (C l 2:1 3-1 5) e em sua ressurrei­ ção e ascensão (Ef 1:19-23). Ao interceder por seu povo no céu, ele nos ajuda a cres­ cer em m aturidade e a realizar sua vontade (H b 13:20, 21 ). "Se D eus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8 :3 1 ). JOSUÉ 6 Vejam os os fatores que contribuíram para a vitória de Josué. O te m o r d o S e n h o r (v. 1). A terra de C anaã era divida entre várias "cidades-estados", cada uma governada por um rei (ver Js 12:9-34). Não eram cidades grandes, com o pode-se ver por A i, uma cidade m enor que Jericó (Js 7:2, 3), com cerca de doze mil ha­ bitantes (Js 8 :2 5 ). Escavações realizadas em Jericó indicam que a cidade ocupava uma área de cerca de 3 2 ,4 km 2 e era cercada por duas muralhas paralelas, separadas entre si por uma distância de aproxim adam ente cin­ co metros. Foi ao avistar cidades com o Jericó que os dez espias israelitas se convencerem de que Israel jam ais conseguiria conquistar a terra (Nm 13:28). Porém , a notícia do êxodo de Israel do Egito e de suas vitórias recentes ao leste do rio Jordão já havia se espalhado pela terra de Canaã, deixando o povo de lá em pâni­ co (Js 2 :9 -1 1 ; v e r D t 2 :2 5 ; 7 :2 3 ; 1 1 :2 5 ; 3 2 :3 0 ). D eus havia prom etido: "Enviarei o meu terror diante de ti, confundindo a todo povo onde entrares; farei que todos os teus inimigos te voltem as costas" (Êx 2 3 :2 7 ). Diz-se que a rainha M ary da Escócia ti­ nha mais medo das orações de John Knox do que de um exército inimigo. M as será que a sociedade de hoje tem algum temor daqui­ lo que o povo de Deus é capaz de fazer? E bem provável que não, e isso se deve princi­ palmente ao fato de a Igreja não ter feito muita coisa para mostrar o poder de Deus a um mundo incrédulo. A Igreja deixou de ser "for­ midável com o um exército com bandeiras" Ct 6 :4 ,1 0 ). Na verdade, a igreja se parece tanto com o mundo que os incrédulos nem oercebem mais o que fazem os. Imitamos os métodos do mundo, satisfazem os os apeti­ tes do m undo, buscam os a ap rovação do •nundo e medimos nosso sucesso de acordo com os padrões do mundo. É de se admirar cue não conquistemos o respeito do mundo? M as não foi assim com Josué e com os israelitas! Eram um povo conquistador que não fazia concessões ao inimigo; antes, co n ­ fiavam que D e u s lhe d aria a v itó ria . Sua m archa foi triunfal, pois instilaram o temor oe Deus no coração do inimigo. 39 A p ro m essa d o S e n h o r (v. 2 ). É possível que o Senhor tenha proferido essas palavras a Josué quando o confrontou em Jericó (Js 5:13-15). O tempo do verbo é im portante: "Entreguei na tua mão Jericó" (Js 6 :2 , ênfase minha). A vitória já havia sido conquistada! Tudo o que Josué e o povo precisavam fa­ zer era se apropriar da prom essa e obede­ cer ao Senhor. O s cristãos vitoriosos são pessoas que co n h ecem as prom essas de Deus, pois gas­ tam tempo m editando na Palavra de Deus (Js 1 :8); crêem nas promessas de D eus, pois a Palavra de Deus faz crescer a fé em seu coração (Rm 10:1 7) e agem em função des­ sas prom essas, o bedecen do às ordens de D e u s. "A gir em fu n çã o " de algo significa co nsiderar co m o verdadeira para sua vida algum a coisa que D eus diz a seu respeito em sua Palavra. "Tende bom ânim o", disse Jesus aos seus discípulos, "eu venci o m undo" (Jo 16:33). "E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências" (Gl 5 :2 4 ). "Chegou o m om ento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso" (Jo 12 :3 1 ). Cristo conquistou o mundo, a carne e o diabo, e se agirmos em fu n ç ã o d e s s a v e r d a d e , p o d e r e m o s conquistá-los p o r interm édio dele. É possível crer numa prom essa e, ainda assim , não agir de acordo com ela nem o b e d ecer ao Se­ nhor. C rer num a prom essa é com o aceitar um cheque, mas agir em função dela é des­ contar o cheque. A s in stru çõ e s d o S e n h o r (vv. 3-5). Nas palavras de Francis S ch ae ffer: "Jo sué não tomou a cidade apenas com uma tática mi­ litar hum ana de grande astúcia. A estratégia veio do Sen h o r".1 N enhum a situação é difícil demais para o Senhor resolver e nenhum a problem a é grande dem ais para ele solucionar. Q uand o viu mais de cin co mil pessoas fam intas dian­ te dele, Jesus perguntou a Filipe: "O n d e com ­ praremos pães para lhes dar a com er?" E João a cresce n ta : "M as dizia isto para o e xp e ri­ m entar; porque ele bem sabia o que estava para fazer" (Jo 6:5 , 6). D eu s sem pre sabe o q u e vai fa zer. N o ssa re sp o n sa b ilid a d e é 40 JOSUÉ 6 esperar que ele nos diga tudo o que preci­ samos saber para o bedecer a ele. No final do capítulo anterior, citei as pa­ lavras de J. Hudson Taylor sobre as três for­ mas diferentes de servir ao Senhor: (1) fazer os m elhores planos de que somos capazes e esperar que sejam bem-sucedidos; (2) fa­ zer no ssos próprios planos e pedir a Deus que os abençoe; e (3) perguntar a Deus quais são os planos dele e, em seguida, fazer aqui­ lo que ele nos ordena. Josué recebeu suas ordens do Senhor e, por isso, Israel foi bemsuced ido. O plano de D eus para a conquista de Jericó parecia um tanto m aluco, mas funcio­ nou. A sabedoria de Deus está muito acim a da nossa (Is 5 5 :8 , 9), e ele tem prazer em usar pessoas e planos que parecem loucos para o m undo (1 C o 1:26-29). Q u e r seja Josué co m suas trombetas, C id e ão com suas tochas e jarros (Jz 7) ou Davi com sua funda (1 Sm 1 7), Deus se deleita em usar o que é fraco e o que p arece louco para derrotar seus inim igos e glorificar seu nom e. "Por­ que, quanto ao S e n h o r , seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para co m aq u e le s cu jo c o ra ç ã o é to talm en te dele" (2 C r 16:9). D e acordo com as instruções de Deus, uma vez por dia, durante seis dias, homens arm ad o s d e veriam m a rch a r ao re d o r de Jericó seguidos de sete sacerdotes, cada um tocando uma trom beta. D epois deles viriam os sacerdotes carregando a arca do Senhor e a retaguarda com pletando a procissão. O único barulho permitido era o som das trom­ betas. No sétimo dia, a procissão marcharia ao redor da cidade sete vezes, os sacerdo­ tes fariam soar um toque longo com as trom­ betas, e todos os que estavam m archando gritariam. Em seguida, Deus faria os muros ruírem para que os soldados entrassem em Je ricó sem q u alq u e r d ificu ld ad e . Pode-se observar nesse plano a ênfase sobre o nú­ mero sete: sete sacerdotes, sete trombetas, sete dias de m archa e sete voltas ao redor da cid ad e no sétim o dia. O núm ero sete ocupa posição de destaque na vida de Is­ rael: o sábado é observado no sétim o dia da sem ana; Pentecostes é celeb rad o sete sem anas depois da Páscoa; o sétimo ano é considerado sabático e depois de quarenta e nove anos (sete vezes sete), deveria ser observado o ano de jubileu. Três das festas de Israel são com em oradas no sétimo mês: a Festa das Trom betas, o D ia da Expiação (Lv 16) e a Festa dos Tabernáculos. (Para mais detalhes so bre esse ca len d ário incom um , ver Lv 23.) Na num erologia bíblica, o número sete representa plenitude ou perfeição . A pala­ vra hebraica traduzida por "sete" (shevah) vem de um radical que significa "ser/estar pleno, estar satisfeito". Q u an d o D eus co n­ cluiu a obra da criação , descansou no sé­ tim o dia e o santificou (G n 2 :3 ), fato que contribuiu para conferir ao número sete seu significado sagrado. O s israelitas o b serva­ ram que D eus havia dado sete prom essas na aliança com A braão (G n 12:1-3) e que determ inou que se fizessem sete hastes para o candelabro do tabernáculo (Êx 37:1 7-24). Q u alq u er co isa que envolvesse o número sete era considerada especialm ente sagra­ da. Referia-se à capacidad e de Deus termi­ nar aquilo que havia com eçado. O s israelitas tinham dois tipos de trom­ betas; um deles era feito de prata e o outro de chifres de carneiro. As trombetas de pra­ ta costum avam ser usadas pelos sacerdotes para avisar o acam p am ento quand o algo im portante acon tecia (Nm 10). O s chifres de carneiro eram usados especialm ente para com em orar vitórias. A palavra hebraica co ­ mum para "chifre de carneiro" é shofar e para trom beta é jo b e l, radical do termo jubileu. O "ano de jubileu " era o qiiinquagésim o ano depois de sete anos sabáticos e era uma ép oca especial de celebração em Israel (Lv 2 5 ; 2 7 :1 7 -2 4 ). O s sacerdo tes tocavam as trom betas para "[p ro clam ar] liberd ade na terra a todos os seus m oradores" (Lv 2 5 :1 0 ). N essa ocasião , os sacerdotes não usa­ ram as trombetas de prata, pois Israel não estava declarando guerra a Jericó, uma vez que não havia guerra alguma em andam en­ to ! O s israelitas estavam anunciando o "ano de ju b ile u " para Israel na nova terra. Nos dias de hoje, o povo de Deus pode m archar num a p rocissão triunfal, pois Jesus C risto JOSUÉ 6 venceu todos os inimigos de Deus (Rm 8 :3 7 ; 2 C o 2 :1 4 ; C l 2 :1 5 ). Devem os viver com o vencedores e não com o vítim as. "O muro da cidade cairá abaixo" (Js 6:5 ), essa foi a prom essa de D e u s, e suas pro­ messas não falham jam ais (Js 2 1 :4 5 ; 2 3 :1 4 ). O povo de D eus não luta sim plesm ente pela vitória, mas sim em vitória, pois o Senhor já venceu a batalha. A ja em função das pro­ messas de Deus e obedeça ao que ele or­ denar e terá vitória. 2. D u r a n t e o d e s a f io : l e m b r e -s e d e Q UE VO CÊ VENCE O IN IM IG O PELA FÉ (Js 6:6-16, 20) "Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó , de­ pois de rodeadas por sete dias" (H b 1 1 :30). "E esta é a vitória que vence o m undo: a nossa fé" (1 Jo 5:4). Fé não é crer apesar das evidências, pois o povo de Israel havia recebido provas se­ guidas de que poderia confiar na Palavra e no poder D eus. O Senhor havia separado as águas do mar V erm elho, destruído o exér­ cito egípcio, cuidado de seu povo no deser­ to, derrotado grandes reis, dado a Israel sua terra, aberto o rio Jordão e levado seu povo em segurança à Terra Prom etida. O que mais lhes restava fazer senão crer nele? Josué co m eço u por transm itir o plano de Deus aos sacerdotes. Era im portante que a arca do Senhor estivesse no lugar correto, pois representava a presença do Senhor com seu povo. O relato da travessia do Jordão por Israel m enciona a arca dezesseis vezes Js 3 - 4); nessa passagem de Josué 6:6-15, a arca é citad a oito v e ze s. Israel poderia m archar, e os sacerdotes poderiam tocar as trom betas até todos ca íre m de exaustão , mas, se o Senhor não estivesse com eles, não haveria vitória. Q u ando aceitam os o pla-'O de D eus, nós o convidam os a estar p re ­ sente, e essa é a garantia de vitória (ver Êx 33:12-17). Em seguida, Josué instruiu os soldados. É provável que não tenha alistado o exército iodo para esse acontecim ento im portante, oois isso teria envolvido gente dem ais. De acordo com o censo militar de Núm eros 26, ~a\ia mais de seiscentos mil homens aptos 41 para lutar. Imagine quanto tempo levaria para todos esses homens m archarem ao redor dos m uralhas da cidade! Q u and o as m uralhas ruíssem, sem dúvida Josué não precisaria de centenas de milhares de soldados para inva­ dir a cidade e subjugar o povo. O s soldados israe lita s ac a b a ria m tro p e ç a n d o uns nos outros! A nação de Israel era constituída de mais de dois milhões de pessoas, e fazer toda essa gente m archar ao redor de Jericó teria sido dem orado e perigoso. Por certo, o povo assis­ tiu em silêncio e à distância e, depois, partici­ pou do grande clam or no sétimo dia. Foi uma vitória para Israel e para o Deus de Israel, não apenas para os sacerdotes e soldados. É im portante que os líderes recebam or­ dens do Senhor e que obedeçam às instru­ ções recebidas. Assim com o a travessia do rio Jordão, a conquista de Jericó tam bém foi um milagre de fé. Josué e seu povo ouviram as ordens de D eus, creram nelas e obede­ ceram . Q u an d o o povo de Deus se revolta contra a liderança espiritual, com o Israel fez com freq ü ên cia no deserto, o resultado é disciplina e derrota. As atividades daquela sem ana foram um teste da fé e da paciência do povo de Israel. Sem dúvida, havia israelitas ansiosos para prosseguir com a invasão, a fim de que se apropriassem da herança e desfrutassem o descanso que Deus havia lhes prometido (Js 1:13). Para alguns, pode ter parecido uma perda de tempo gastar uma sem ana inteira para tom ar uma única cidade. A im paciência era um dos pecados contum azes de Israel, e Deus os estava ensinando a ser pacientes e obedientes, pois é "pela fé e pela longanimidade" que o povo de D eus herda o que o Senhor lhes prometeu (H b 6 :1 2 ). D eu s nun­ ca se apressa. Ele sabe o que faz e o tempo certo de fazê-lo. Se o cronogram a daquela sem ana foi um teste da paciência do povo, a ordem de Deus para que p erm anecessem em silêncio foi uma prova de seu dom ínio próprio. Aqueles que não conseguem controlar a língua não são capazes de controlar o resto do corpo (Tg 3 :1 , 2); de que valem soldados que não têm um corpo disciplinado? "Aquietai-vos e 42 JOSUÉ 6 sabei que eu sou D eus" (Sl 4 6 :1 0 ). Na vida cristã, há "tem po de estar calado e tempo de falar" (Ec 3 :7 ), e o cristão verdadeiram en­ te sábio é cap az de distinguir entre um tem­ A n te s, orem por fo rça s à altura de suas tarefas". po e outro. Cristo é o exem plo perfeito (Is 5 3 :7 ; M t 2 6 :6 2 , 6 3 ; 2 7 :1 4 ; Lc 2 3 :9 ). Q u al foi a reação do povo de Jericó a essa procissão diária ao red or da cidade? E bem provável que a m archa do prim eiro dia os tenha assustado, pois devem ter pensado que o exército israelita levantaria um cerco a Jericó. M as os israelitas não construíram ram pas ju n to às m u ralh as nem tentaram derrubar as portas da cidad e. Q u an d o os sacerdotes e soldados voltaram para o acam ­ pam ento depois de dar apenas um a volta ao redor das muralhas, é bem possível que o povo tenha sentido um grande alívio. No entanto, à medida que a m archa se repetiu dia após dia, a tensão deve ter crescido den­ tro da cidade, enquanto o povo se pergun­ tava o que estava para acontecer. Sabiam que o Deus de Israel era um D eus que ope­ rava "grandes m aravilhas", cujo poder havia derrotado o Egito e os reis a leste do Jordão. O que Jeová faria com Jericó? Q uand o a procissão percorreu o perím e­ tro das muralhas sete vezes, a tensão dentro da cidade deve ter crescido assustadoram en­ te. Em seguida, veio o toque das trombetas e o grito de vitória do povo, e as muralhas O BEDECER ÀS O RDEN S DE DEUS E DE ruíram! O s soldados só precisaram co rrer para dentro da cidade e tomá-la. O Espírito Sa n to dirigiu o e scrito r da Epístola aos H ebreus a usar esse aco n te ci­ m ento co m o e x e m p lo de fé na lista de H eb reu s 11. A queda de Je ricó é um in­ centivo a que o povo de D eus co n fie nas prom essas do Senhor e o b ed eça a suas ins­ tru ções, por mais im possível que pareça a situação. Pode ser que vo cê e eu não co n ­ quistem os um a cidade com o Josué, mas em nossa vid a diária deparam os com inimigos e m uralhas que nos desafiam . A única m a­ neira d e cre sce r na fé é aceitar novos desa­ fios e confiar qu e D eu s nos dará a vitória. C o m o disse P h illip s B ro o k s: "N ã o orem pedindo uma vida fácil. A ntes, orem para ser hom ens e m ulheres m elhores. Não orem ped in d o tare fas à altu ra de suas fo rça s. 3. D e p o is d a v it ó r ia DAR-LHE G LÓ R IA : l e m b r e -s e d e (Js 6:17-19, 21-27) Permita-me citar mais um a vez o conselho sábio de A n d rew Bonar: "Perm aneçam os tão vigilantes depois da vitória quanto antes da batalha". Pelo fato de um soldado não ter dado ouvidos a essa advertência, o desafio seguinte de Israel em C anaã acabou sendo uma derrota hum ilhante. Josué deu quatro in stru çõ e s para que seu s so ld a d o s o b e ­ decessem depois que tivessem tom ado a cid ad e: C on d en a r a cidade inteira ao Senh or (vv. 17-19). Isso significava que tudo era con­ sagrado ao Senhor: o povo, as casas, os ani­ mais e todos os despojos de guerra. Ele podia fazer com isso o que lhe aprouvesse. Nessa prim eira vitória em C anaã, Jericó foi ofereci­ da a Deus com o "prim ícias" das vitórias vin­ douras. Era com um os soldados dividirem os despojos de guerra entre si (D t 2 0 :1 4 ), mas não foi o caso em Jericó, pois tudo na­ quela cidade pertencia ao Senhor e foi co ­ locado em seu tesouro (D t 1 3 :1 6 ; 1 Rs 7:51). Esse foi o m andam ento a que A cã desobe­ deceu, e, posteriorm ente, sua desobediên­ cia causou a derrota e a desgraça de Israel e a m orte do próprio A cã e de sua família. Salvar Raabe e sua família (vv. 22, 23, 25, 26). A o que pa rece, qu an do as muralhas da cidade ruíram, a parte onde se encontra­ va a casa de Raabe (Js 2 :1 5 ) perm a n eceu em p é! Não foi preciso os espias procura­ rem uma jan ela com um cordão verm elho dependurado (Js 2 :1 8 , 19), pois som ente a casa onde Raabe e sua fam ília estavam foi preservada. Q u an d o os espias fizeram sua aliança com Raabe, não sabiam exatam en­ te com o D eus lhes entregaria a cidade. D eus salvou e protegeu Raabe por sua fé (H b 11 :3 1 ), e por ela haver levado a famí­ lia a crer em Jeová, seus parentes também foram salvos. Esses gentios que creram no Senhor foram resgatados de um julgam ento terrível ao crer no D eus de Israel, pois "a salvação vem dos Judeus" (Jo 4 :2 2 ). Estavam JOSUÉ 6 inteiramente "separados da com unidade de Israel e estranhos às alianças da prom essa" (Ef 2 :1 1 , 12), mas sua fé os levou a fazer parte de Israel, o que é com p ro vado por Raabe ter se casado com Salm om e ter se tornado uma das antepassadas do rei Davi e d o M essias (M t 1:5)! A princípio, Raabe e seus familiares fo­ ram colocados "fora do arraial de Israel", pois eram gentios im undos, e a parte "fo ra da arraial" era separada para os que se encontra\am impuros (Nm 5:1-4; 1 2 :1 4 ; Dt 23:9-14). O s homens da família deveriam se circuncidar a fim de se tornarem "filhos da aliança", e toda a fam ília precisou se subm eter à lei de M oisés. Q u e dem onstração de sua graça Deus poupar Raabe e seus entes queridos e que graça abundante ele ter escolhido Raabe, uma gentia m arginalizada, para fazer parte da linhagem do Salvador! Assim com o a Jericó do passado, nosso mundo de hoje se encontra sob o julgam en­ to de Deus (Jo 3:18-21; Rm 3:10-19), e, um dia, esse julgam ento será executad o . Não im porta por trás de quantas "m uralhas" ou "p o rtas" este m undo p e rverso ten tará se esconder, pois, um dia, a ira de D eus os en­ contrará. Deus deu ao mundo perdido vá­ rias evidências de que os pecadores podem crer e ser salvos (Js 2:8-13; Rm 1 :1 8ss). O triste é quando pecadores perdidos rejeitam delib era d am e n te essas e v id ê n c ia s e co n ­ tin u am le van d o sua v id a de p e ca d o (Jo 12:35-41). D e s tru ir o p o v o (v. 2 1 ). Alguns ficam perturbados com o fato de D eus ter conde­ nado todos os seres vivos de Jericó à morte. Nosso D eus não é m isericordioso? Afinal, jm a coisa era os soldados israelitas m ata­ rem soldados inimigos e outra bem diferen­ tes era exterm inarem m ulheres, crian ças e até mesmo anim ais. Em primeiro lugar, não se tratava de um -nandam ento novo. O Senhor havia dado essa m esm a ordem a M o isés em ocasião anterior. Na "lei divina de guerra" encontra­ da em D euteronôm io 20, o Senhor fez uma a :stinção entre atacar cidades distantes (Dt 2 3 :1 0 -1 5 ) e c id a d e s d e n tro da terra de C anaã, onde Israel habitaria (D t 20:16-18). 43 Antes de cercarem as cidades distantes, os israelitas deveriam oferecer-lhes a paz e, se a cidade se entregasse, deveriam poupar o povo e transformá-lo em seus súditos. No entanto, o povo das cidades de dentro de Canaã deveria ser com pletam ente destruído, e suas cidades, queim adas. Isso se devia, antes de tudo, ao fato de a população de C anaã ser indescritivelm ente perversa e de D eus não querer que seu povo santo fosse contam inado por seus vizinhos (D t 7:1-11). Não devem os jam ais nos esque­ cer de que D eus co locou Israel no mundo para ser canal de suas bênçãos (G n 12:1-3), o que im plica, entre outras coisas, o registro das Escrituras e a vinda do Salvador. Ao ler o relato do Antigo Testam ento, pode-se ver Satanás fazend o de tudo para contam inar a nação de Israel e, desse modo, evitar o nas­ cim en to do M essias. Q u an d o os hom ens israelitas casaram-se com m ulheres pagãs e com eçaram a adorar deuses pagãos, isso re­ presentou um a am eaça aos propósitos de Deus para seu povo escolhido (N e 13:2331). Deus queria uma "descendência santa" (M l 2 :1 4 ,1 5 ), de m odo que seu Filho santo pudesse vir ao m undo para ser seu Salvador. Nas palavras de G . C am pbell M organ: "D eu s está sem pre em guerra com o peca­ do. Essa é a exp licação para o exterm ínio dos canan eu s".2 Pelo fato de os israelitas não obedecerem inteiramente a esse m andam en­ to ao longo de sua história, a nação foi pro­ fanada e precisou ser sujeita à disciplina de Deus (Sl 106:34-48). O Livro de Juizes não estaria na Bíblia se a nação de israel tivesse perm anecido fiel ao Senhor (Jz 2:11-23). Em segundo lugar, o povo da terra havia recebido diversas oportunidades de arrepen­ der-se e de voltar-se para o Senhor, com o fizeram Raabe e sua fam ília. Deus suportou com p aciência a perversidade do povo de C a n a ã d e sd e os tem p o s de A b ra ã o (G n 1 5 :1 6 ) até os dias de M oisés, um período de mais de quatrocentos anos (ver 2 Pe 3:9 ). Do êxodo até a travessia do Jordão, passa­ ram-se m ais quarenta anos na história de Israel, e os cananeus sabiam o q u e estava a co n tecen d o (ver Js 2:8-13)! Todas as mara­ vilhas que Deus operou e todas as vitórias 44 JOSUÉ 6 que Deus deu a seu povo serviram de teste­ m unho para o povo da terra de C anaã, mas eles preferiram continuar com sua vida de pecado e rejeitar a m isericó rd ia de D eus. Não p e n se em m o m e n to algum que os cananeus eram uma gente desam parada e ignorante, sem qualquer conhecim ento do D eus verdadeiro. Estavam pecando de modo consciente e deliberado. Também não devem os nos esquecer de que esses acontecim entos históricos foram registrados "para o nosso ensino" (Rm 1 5:4), enquanto procuram os viver para Cristo nos dias de hoje. Por m eio da d e stru ição de Jericó e de sua população, D eus está nos dizendo que não irá tolerar a transigência ao p e ca d o na vida de seu p o vo. Citando nova­ mente Cam pbell M organ: "G raça s a Deus, ele não faz as pazes com o pecado em meu co ração ! Bendigo o nom e do Senhor por sua autoridade poderosa e pela co n vicção profunda de que ele é trem endo e furioso em sua ira contra o pecado onde quer que este se m anifeste".3 Q uand o era m enino e freqüentava a es­ cola dom inical, o superintendente escolhia quase sem pre o m esm o hino para cantar­ mos qu an do todas as classes ainda estavam reunidas. A letra dizia que devíam os que­ brar todos os ídolos e lançar fora os inim i­ gos. Confesso que, na época, não entendia o que estava cantando, mas agora entendo. O Sen h o r não com partilha minha vida com o u tro s d e u se s q u e p o ssa m c o m p e tir p o r m eu coração. Ele não perm ite que eu faça co n cessõ es ao inim igo. Q uand o vo cê com ­ preende essa verdade, é bom que também considere a adm oestação divina em 2 Coríntios 6 :1 4 - 7 :1 . Q u e im a r a cid a d e (v. 2 4 ). "Porque o Se­ teu Deus, é fogo que consom e." Es­ sas p a lavras fo ram ditas p o r M o isé s em n ho r, 1. S ch a effer, 2. M organ, 3. D euteronôm io 4 :2 4 muito tempo antes de serem citadas pelo Espírito Santo em H e ­ breus 1 2 :2 9 . M o isés estava ad vertind o o povo de Israel contra a idolatria e o perigo de seguir as práticas religiosas do povo de C a n a ã e d isse um a frase não cita d a em Hebreus, mas que, ainda assim, é im portan­ te co n h e c e r: "[o S e n h o r ] é D eu s ze lo so ". Deus é zeloso com seu povo e não perm iti­ rá que divida seu am or e serviço entre ele e os falsos deuses do m undo (Êx 2 0 :5 ; 3 4 :1 4 ). Não podem os servir a dois senhores. Jericó era uma cidade perversa, e o p e ­ ca do serve apenas d e co m bustível para fazer arder a ira santa de D eus. Jesus com parou o inferno a uma fornalha de fogo (M t 13:42), a um fogo que nunca se apaga (M t 2 5 :4 1 , 46 ), e João usou a ilustração de um lago de fogo (Ap 1 9 :2 0 ; 2 0 :1 0 ,1 4 ). João Batista des­ cre veu o ju lg am e n to de D eus co m o um "fogo inextinguível" (M t 3 :1 2 ). Assim com o a destruição de Sodom a e G o m o rra (Jd 7), a ordem para queim ar Jericó é um retrato do julgam ento de Deus que será executado con­ tra todos que rejeitarem a verdade. M esm o depois de haver queim ado a ci­ dade, Josué co lo co u um a m aldição sobre ela. A m a ld ição se rv iria para a d ve rtir os israelitas ou d e scen d e n tes de R aabe que fossem tentados a reco n stru ir aq u ilo que D eus havia destruído. Essa maldição se cum ­ priu posteriorm ente nos dias do perverso rei A cab e (1 Rs 16:34). C o m o havia prom etido, D eus foi com Josué (Js J :5, 9) e engrandeceu o nome dele na terra (Js 1 :2 7 ; 3 :7 ; 4 :1 4 ). O s servos de D eus jam ais devem engrandecer a si m es­ mos. Se o Senhor o fizer, devem ter o cuida­ do de dar-lhe toda a glória. Q uand o estamos fortes, há o perigo de nos sentirmos seguros demais e de nos esquecem os de confiar no Senhor (2 C r 2 6 :1 5 ). Francis A . loshua and the Flow o f Biblical History. Downers Grove, l!!.: InterVarsity Press, 1975, pp. 102, 103. G . Cam pbell. Living M essages o ft h e B ooks o fth e Bible, O ld Tappan, N .J.: Fleming H. Revell, 1912, vol. 1, p. 104. Ibid., p. 114. 7 D erro ta n a V da T erra itó r ia Jo sué 7 o isés d e scre v e u a T erra P ro m etid a com o uma "terra de montes e de va­ les" (D t 11:11). C reio que essa declaração é mais do que uma descrição do contraste en­ M tre a paisagem m ontanhosa de C an aã e a topografia plana e m onótona do Egito. Tratase tam bém de uma descrição da geografia da vida de fé, retratada pelas experiências de Israel em C an aã. Q u an d o , pela fé, nos apropriam os de nossa herança em Cristo, experim entam os picos de vitória e vales de desânim o. O desânim o não é inevitável na vida cristã, mas devem os nos lem brar de que não há montanhas sem vales. Josué 7 co m e ça indicando que haverá uma m udança, pois Josué está prestes a des­ cer do pico da vitória em Jericó para o vale da derrota em Ai. Josué era um líder com pe­ tente e experiente, mas tam bém era humano e, portanto, sujeito a errar. Nessa experiên­ cia, ele nos ensina o que causa a derrota e com o devem os lidar com o desânim o em nossa vida. 1. Um s o l d a d o d e s o b e d ie n t e (Js 7 :1 ,2 0 ,2 1 ) O p e ca d o r (v. 1). Seu nom e era A c ã ou A car, que significa "p ertu rb ação", e ele era da tribo de Judá (Js 7 :1 6 ) (ver 1 C r 2 :7 ; ob­ servar em Js 7 :2 6 que "A co r" tam bém sig­ nifica "p e rtu rb açã o "). Ele é co n h ecid o na Bíblia com o o p ertu rb a d o r d e Israel (Js 7 :2 5 ). Israel foi derrotado em A i, e o inimigo ma­ tou trinta e seis soldados israelitas em de­ co rrê n cia da d eso b ed iên cia de A cã. Foi a prim eira e única derrota m ilitar de Israel em C anaã, a qual será, para sem pre, associada ao nom e de A cã. Jamais subestim e o estrago que uma só pessoa fora da vontade de D eus pode fazer. A desobediência de Abraão no Egito quase lhe custou a esposa (G n 12:10-20); a deso­ bediência de Davi ao realizar um censo sem a perm issão de Deus causou a morte de se­ tenta mil pessoas (2 Sm 2 4 ), e a recusa de Jonas em obedecer a Deus quase fez afun­ dar um navio (Jn 1). A lgreja'hoje deve vigiar com diligência para que "nenhum a raiz de am argura brote e cause perturbação" (H b 1 2 :1 5 , N V I). A ssim , Paulo adm o esto u os cristãos de Corinto a disciplinar o homem desobediente que se encontrava no meio deles, pois seu pecado estava m aculando a igreja toda (1 C o 5). D eus deixou claro que era Israel quem havia pecado e não som ente A cã com o in­ divíduo (Js 7 :1 ,1 1 ). Por que Deus colocou a culpa da desobediência de um só soldado sobre a nação toda? Porque Israel era um só p o v o no Senhor e não apenas um conjunto de tribos, clãs, fam ílias e indivíduos. Deus habitava no meio do arraial de Israel, e era isso o que fazia dos israelitas o povo especial de Deus (Êx 19:5, 6). O D eus Jeová cam inha­ va no meio do povo, e, portanto, o arraial precisava ser mantido santo (D t 2 3 :1 4 ). Q u al­ quer um que desobedecesse a Deus profa­ naria o acam pam en to, e essa profanação afetava o relacionam ento do povo com o Senhor e dos israelitas uns com os outros. O povo de Deus hoje é um só corpo em C risto . C o n se q ü e n te m e n te , p e rten ce m o s uns aos outros e afetam os a vida uns dos outros (1 C o 1 2 :1 2ss). Q u alq u er fraqueza ou infecção numa parte do corpo humano co n trib u i para a fraq u eza e in fe cção das outras partes. O mesm o se aplica ao corpo de Cristo. "Se um mem bro sofre, todos so­ frem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam " (1 C o 12:26). "U m só pecador destrói muitas coisas boas" (Ec 9 :1 8 ). O p eca d o (vv. 20, 21). A cã ouviu seu com andante ordenar que todos os despo­ jos de Jericó deveriam ser consagrados ao Senhor e ir para o tesouro de D eus (Js 6:1 721, 24). U m a vez que Jericó era a primeira vitória de Israel em Canaã, as prim ícias dos 46 JOSUÉ 7 despojos pertenciam ao Senhor (Pv 3 :9 ). No entanto, A cã desobedeceu e tomou um ca­ minho perigoso que o conduziu ao pecado e à morte (Tg 1:13-15): "Vi [...] cobicei [...] e tomei [...]" (Js 7 :2 1 ). Eva fez a m esm a coisa quando deu ouvidos ao diab o (G n 3 :5 ) e tam bém Davi quando se entregou à carne (2 Sm 1 1 :1-4). U m a vez que A cã cobiçou as coisas d o m un do, levou Israel à derrota e causou a própria morte bem com o de sua família. O prim eiro erro de A cã foi olhar outra vez para os despojos. E provável que não tivesse com o evitar de vê-los da primeira vez, mas jam ais deveria ter voltado a olhar para eles e pensar em tomá-los para si. A prim ei­ ra vez que um hom em vê uma m ulher pen­ sa: "Ela é linda!", mas é o segundo olhar que dá asas à im aginação e co n d u z ao p e ca d o (M t 6:27-30). Se tiverm os sem pre a Palavra de Deus diante de nossos olhos, não com e­ çarem os a olhar na direção errada, fazendo o que não devem os (Pv 4:20-25). O segundo erro de A cã foi dar outro nom e aos tesouros de Deus ao chamá-los Seu quarto erro foi pensar que poderia escapar incólum e ao esconder o que havia tomado para si. Adão e Eva tentaram enco­ brir seu pecado, fugir e se esconder, mas o Senhor os encontrou (G n 3:7ss). "E sabei que o vosso pecado vos há de achar" (Nm 3 2 :2 3 ). "Porque o S e n h o r fará justiça ao seu povo" (D t 3 2 :3 6 ; Hb 1 0 :3 0 ). Q u e tolice de A cã pen­ sar que Deus não seria cap az de ver o que ele estava fazend o , quando "Todas as co i­ sas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas" (H b 4 :1 3 ). de "despojos" (Js 7 :2 1 ). Não eram "despo­ jo s", mas sim parte do tesouro do Senhor e inteiramente consagrados a ele. Não perten­ ciam a A cã nem mesm o a Israel, mas a Deus. Q uand o D eus identifica algo de modo es­ pecífico, não tem os direito algum de mudar essa definição . Em nosso m undo de hoje, inclusive no âmbito religioso, as pessoas es­ tão reescrevendo o dicionário de Deus! "Ai dos que ao mal cham am bem e ao bem , mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por am argo!" (Is 5:2 0 ). Se D eus diz que algo é errado, então é errado, e não há mais discussão. O terceiro erro de A cã foi cobiçar. "Ao contrário, cada um é tentado pela sua pró­ pria co b iça, quando esta o atrai e seduz" (Tg 1:1 4 ). Em vez de cantar louvores em seu co ração pela vitória que Deus havia dado a seu povo, A cã im aginou em seu co ração com o seria ter todo aquele tesouro. A ima­ ginação é o "ven tre" no qual o desejo é co ncebid o e do qual, a seu tem po, nascem o pecado e a morte. dois dias e tomado os despojos que quises­ se depois da vitória em Ai! "Buscai, pois, em O pecado de A cã torna-se ainda mais odioso ao se ter co nsciên cia de tudo o que Deus havia feito por ele. D eus cuidara dele e de sua família no deserto. Ele os havia fei­ to atravessar o rio Jordão em segurança e co n ce d e ra a vitória a o e x é rcito em je ric ó . Na aliança em Gilgal, o Senhor havia aceita­ do A cã com o filho. E, no entanto, apesar de todas essas experiências m aravilhosas, Acã desobedeceu a Deus só para se apropriar de uma riqueza que nem sequer podia des­ frutar. Se ao menos tivesse esperado um ou primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (M t 6:3 3 ). 2. Um e x é r c i t o (Js 7:2-5) d erro ta d o C om o todo bom com andante, antes de pla­ nejar sua estratégia, Josué fez um levanta­ m ento da situação (N m 2 1 :3 2 ; Pv 2 0 :1 8 ; 2 4 :6 ). Seu erro não foi enviar os espias, mas sim presum ir que D eus estivesse contente com seu povo e que lhes daria outra vitória em A i. Ele e seus o ficiais estavam agindo pelas aparências e não pela fé. O s líderes espirituais devem buscar, em todo tem po, a face do Senhor e descobrir qual é a vontade dele para cada novo desafio. Se Josué tives­ se co n vo cad o um a reunião de o ração , o Senhor lhe inform aria que havia pecado no m eio do arraial e Josué teria tratado do pro­ blem a. Isso teria salvado a vida de trinta e seis soldados e poupado Israel de uma der­ rota humilhante. JOSUÉ 7 É im possível entrar na m ente de Josué e co m p ree nd er seus pensam entos co m p le ­ tam ente. Sem d ú vid a, a im pression an te v i­ tória em Jericó havia dado a Josué e a seu exé rcito um b o cad o de au to co n fia n ç a , e a au to co n fia n ça pode levar à p resu nção . U m a v e z que A i era um a cid ad e m enor do que Jericó , do ponto de vista hum ano, a vitó ria p arecia in evitável. Porém , em vez de p ro cu rar sab e r quais eram os plan o s do Senhor, Josué aceito u o co n selh o dos espias, e isso o levou à derro ta. Ele vo lta­ ria a co m e ter esse erro ao tratar com os gibeonitas (Js 9). O s espias não m encionaram o Senhor. Todo seu relato concentrou-se no exército e em sua certeza de que Israel seria vitorioso. Não ouvim os esses hom ens dizendo: "Se o Senhor quiser" (Tg 4:13-17). Estavam certos de que nem era preciso usar todo o exérci­ to para o ataque, mas não foi essa a estraté­ gia de D eus quando deu as ordens para a segunda investida contra A i (Js 8 :1 ). U m a vez que os pensam entos de Deus não são os nossos pensam entos (Is 5 5 :8 , 9), é me­ lhor dedicar o tempo necessário para bus­ car sua orientação. "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda" (Pv 16:18). O que Israel precisava era de con­ fiança em Deus e não em si mesmo. Ai ficava na região m ontanhosa, a cerca de vinte e cinco quilôm etros de Jericó, e era preciso subir até lá, pois a cidade encontra­ va-se a quase seiscentos metros acim a do nível no mar. O exército israelita m archou morro acim a, mas não tardou a descer, ba­ tendo em retirada, cada um fugindo para salvar a própria vida e deixando para trás trinta e seis com panheiros mortos. M oisés havia advertido Israel de que não poderia derrotar o inimigo a m enos que a nação fosse obediente ao Senhor. Se seguis­ sem o Senhor pela fé, um soldado israelita correria atrás de mil soldados inimigos, e dois israelitas lutariam contra dez mil! (D t 3 2 :3 0 ) Três soldados israelitas poderiam ter derro­ tado a cidade inteira, se Israel estivesse sob o favor do Senhor (Js 8 :2 5 ). "M as as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso D eus; e os vossos pecados encobrem 47 o seu rosto de vós, para que vos nao ouça" (Is 59 :2 ). 3. Um l í d e r d e s a n im a d o (Js 7:6-15) O líder que D eus havia en g ran decid o (Js 6 :2 7 ) encontrava-se m ortificado. Se alguma vez nossos m elhores planos foram com ple­ tam ente despedaçados, então podem os nos identificar com Josué e seus oficiais. Rem orso (v. 6). O co ra ção dos ca n a ­ neus havia desm aiad o ao saber das co n ­ quistas de Israel (Js 2 :1 1 ), mas a situação havia se invertido, e o co ração de Israel se derreteu e se tornou co m o água! O gene­ ral que não havia exp erim en tad o derrota algum a passo u o resto do dia pro strado diante da arca em G ilgal com seus líderes. Rasgaram as vestes, co lo caram p ó so b re a ca b eça, prostraram-se em terra e clam aram "A h! S e n h o r " . Esse era o co m p ortam en to típico dos israelitas sem pre que se enco n ­ travam grandem ente angustiados, com o no caso de um a derrota m ilitar (1 Sm 4 :1 2 ), ou depois de sofrer algum a vio lê n cia e ver­ gonha pessoal (2 Sm 1 3 :1 9 ). Eram as atitu­ des prescritas quando Israel voltava-se para D eus em tem pos de grande perigo ou de pecado co m o nação (N e 9 :1 ; Ed 4 :1 ). Se Josué tivesse se hum ilhado antes da bata­ lha, a situação teria sido diferente d e p o is da batalha. A arca da aliança era uma lem brança da presença de Deus no meio de seu povo. A arca havia ido adiante de Israel quando atra­ vessaram o rio (Js 3:11 ss) e estivera com eles quando m archaram ao redor de Jericó (Js 6:6-8). Deus não havia lhes ordenado que levassem a arca consigo para A i, mas a pre­ sença de D eus teria ido com eles, se não houvesse pecado no arraial. Sem a presen­ ça de Deus, a arca era apenas uma peça de madeira, e a presença da arca não era ga­ rantia alguma de vitória (1 Sm 4). Repreen são (vv. 7-9). Em sua o ração , Josué falou com o os israelitas incrédulos sem­ pre que se encontravam numa situação difí­ cil que exigia fé: "Por que não ficamos onde estávamos?" Foi o que fizeram no mar Ver­ melho (Êx 14:11), quando estavam sedentos 48 JOSUÉ 7 e fam in to s no d e se rto (Êx 1 6 :3 ; 1 7 :3 ) e q u a n d o fo ram d is c ip lin a d o s em C ad esBarnéia (N m 14:1-3). O s jud eus expressa­ ram com freq üência o desejo de voltar para o Egito, mas Josué m ostrou-se disposto a atravessar o Jordão e a assentar-se do ou­ tro lado. "M as leia essa oração e encontrará nela um tom p e rig o so ", e scre v e u G e o rg e H. M orrison. "lo su é rep reende a D e u s Pare­ ce culpar o Senhor pela presença de Israel em C a n a ã e pela derrota hum ilhante que haviam acabado de sofrer. Q uando vivem os pela fé, apropriamo-nos de tudo o que Deus tem para nós. A in cre­ du lidade, po rém , sem pre se conten ta com algo aquém daquilo que D eu s tem d e m e­ lhor. É por isso que a Epístola aos Hebreus está na Bíblia: para instar o povo de Deus a "prosseguir" e a entrar na plenitude de sua herança em Cristo (H b 6 :1 ). Às vezes, Deus perm ite que passem os por derrotas hum i­ lhantes para testar nossa fé e revelar o que, de fato, está acontecendo em nosso co ra­ ção. Aquilo que a vida faz co n o sco depen­ de daquilo que a vida encontra em nós, e nem sem pre sabem os qual é o estado de nosso próprio co ração (Jr 17:9). A rre p e n d im e n to (vv. 8, 9). Assim , Josué chega ao cern e da questão: a derrota de Israel havia privado o Senhor de receber gló­ ria, por isso os israelitas deveriam se arre­ pender. Se o povo da terra perdesse o medo do D eus de Israel (Js 2:8-11), a conquista seria muito mais difícil para Josué. O mais im portante, porém , não era a fama de Josué nem as conquistas de Israel, mas sim a gló­ ria do D eus de Israel. A p re o cu p ação de Josué não era com sua reputação pessoal, mas com o "grande nom e" de Jeová. Josué havia aprendido essa lição com M oisés (Êx 3 2 :1 1 -1 3 ; Nm 14:13-16), uma lição que a Igreja precisa aprender hoje. C en su ra (vv. 10-15). O Senhor deixou que Josué e seus líderes ficassem prostra­ dos em terra sobre o rosto até a hora do sacrifício do final da tarde. Deu-lhes tempo para que chegassem ao limite, a fim de que pudessem o bedecer a suas instruções; en­ tão, falou a Josué. Há um m om ento de orar e um m omento de agir, e havia chegado a hora de agir. U m a vez que Israel havia pecado, teria de tratar do pecado. Deus disse a Josué que a nação havia roubado algo que pertencia ao Sen ho r e esco n d id o no m eio de suas coisas com o se lhes pertencesse. O b serve a repetição do termo "condenado", usado cin­ co vezes neste parágrafo. Ao se preparar para atravessar o Jordão (Js 3:5 ), a nação já havia se purificado, mas agora era preciso purifi­ cação a fim de descobrir o inimigo que se encontrava em seu acam pam ento. Deviam apresentar-se diante de Deus para que ele desm ascarasse o culpado. O que D eus disse a Josué ajuda-nos a ver o pecado de A cã (e o pecado de Israel) do ponto de vista divino. O que fizeram foi p e c a d o (Js 7 :1 1 ), e p e car significa "errar o alvo ". D eus quer que seu povo seja santo e o bediente, mas os israelitas erraram o alvo e fic a ra m aq uém dos p a d rõ es de D e u s. Tam bém foi um a transgressão (v. 11), que significa "ultrapassar o lim ite". D eus havia determ inado um limite e dissera que não o u ltrapassassem , mas eles transgrediram a alian ça e cruzaram a linha que D eus havia determ in ado. O pecado consistiu em roubar d e D eus e, depois, em m entir so bre o ro u b o (v. 11). A cã havia tom ado riquezas proibidas, mas fingiu ter obedecido ao Senhor. H avia agi­ do com insensatez (v. 15) ao pensar que po­ deria roubar de Deus e escapar incólum e. Israel não seria capaz de enfrentar qualquer inimigo até que tivesse expurgado esse peca­ do. As tribos não conseguiriam apropriar-se de sua herança enquanto um hom em esti­ vesse apegado a tesouros proibidos. Tudo o que Deus havia feito por seu povo até en­ tão de nada adiantaria, se não pudessem avançar vitoriosos. Q u e lição para a Igreja de hoje! Naquela noite, Josué mandou com unicar que todos deveriam santificar-se e prepararse para uma assem bléia a ser realizada na manhã seguinte. Ficam os im aginando se Acã e sua fam ília conseguiram dorm ir naquela noite... ou será que pensaram que estavam seguros? JOSUÉ 7 4. Um p e c a d o r d e s m a s c a r a d o (Js 7:16-26) A investigação (vv. 16-18). "Enganoso é o co­ ração, mais do que todas as coisas, e deses­ peradam ente corrupto; quem o conhecerá?", perguntou o profeta (Jr 1 7:9); e apresentou a resposta no versículo seguinte: "Eu, o S e ­ n h o r , esquadrinho o coração, eu provo os pensam entos; e isto para dar a cada um se­ gundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações". N inguém pode se e sco n d e r de D eus. "Ocultar-se-ia alguém em esco nderijo s, de modo que eu não o veja?" (Jr 2 3 :2 4 ). Q u er os pecadores corram para o topo das mon­ tanhas quer mergulhem até as profundezas dos mares, D eus os encontrará e julgará (Am 9 :3 ). "Porque Deus há de trazer a juízo to­ das as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más" (Ec 12:14). A abordagem de D eus foi m etódica. Pri­ m eiro, separou a tribo de Judá, depois a fa­ mília dos zeraítas, depois a família de Zabdi e, por fim, o culpado, A cã. E possível que o sumo sacerdote tenha usado a estola para determ inar a orientação divina (1 Sm 23 :6 , 9: 3 0 :7 , 8), ou que Josué e o sumo sacerdote tenham lançado sortes. D eve ter sido assusta­ dor para A cã e seus fam iliares mais próxim os \e r o dedo acusad o r de D eus apontando cada v e z mais perto deles. "Porque os meus olhos estão sobre todos os seus cam inhos; ninguém se esconde diante de mim, nem se encobre a sua iniqüidade aos meus olhos" Jr 16:1 7). A o ler o Salm o 10, especialm ente os versículos 6, 11 e 13, podem os ver o que talvez estivesse se passando na m ente e co­ ração de A cã durante esse m om ento tenso de escrutínio. Q uando Josué indicou A cã com o o trans­ gressor, o povo que estava olhando deve ter se perguntado: "Q u e perversidade ele com eteu para que o Senhor ficasse tão desgostoso conosco?" É possível que os paren­ tes dos trinta e seis soldados mortos tenham se irado ao ver o hom em cuja desobediên­ cia causou a morte de seus entes queridos. A co n fissã o (vv. 19-23). A oração "D á glória ao S e n h o r " era uma forma de juram en­ to oficial em Israel (Jo 9 :2 4 ). A cã não apenas 49 havia pecado contra seu povo, mas também havia com etido um pecado atroz contra o Senhor e deveria confessá-lo a D eus. Sua declaração: "pequei contra o S e n h o r " , é se­ m elhante àquela de outros sete homens nas Escrituras que fizeram a m esm a confissão, em alguns casos, mais de uma vez, e, alguns deles, sem sin ce rid ad e: o Faraó (Êx 9 :2 7 ; 1 0 :1 6 ), Balaão (N m 2 2 :3 4 ), 'o rei Saul (1 Sm 1 5 :2 4 , 3 0 ; 2 6 :2 1 ), Davi (2 Sm 12 :1 3 ; 2 4 :1 0 , 1 7; Sl 5 1 :4) e o filho pródigo (Lc 1 5:1 8 , 21). Antes que pudesse excetuar o julgam en­ to do Senhor, Josué teve de apresentar as evidências que com provavam a confissão de A cã. O s m ensageiros cavaram debaixo da tenda de A cã e encontraram as "coisas co n­ denadas" que haviam trazido a derrota de Israel. O s objetos roubados foram co lo ca­ dos diante do Senhor para que ele pudesse ver que Israel estava renunciando sua posse desse tesouro infeliz. A confissão e as evi­ dências eram suficientes para co n d en ar o homem acusado. O ju lg a m en to (vv. 24-26). Um a vez que a lei em Israel proibia m em bros inocentes da família de serem castigados pelos peca­ dos de seus parentes (D t 2 4 :1 6 ), é bem pro­ vável que a fam ília de A cã fosse culpada de cum plicidade com seu pecado. Sua família foi julgada de m aneira sem elhante àquela que Israel deveria tratar uma de suas cida­ des que se tivesse entregado à idolatria (Js 13:12-18). A cã e seus familiares haviam dei­ xado o verdadeiro D eus vivo e voltado o coração àquilo que Deus havia condenado: prata, ouro e uma vestim enta cara. Não va­ lia a pena! A Bíblia mostra que, quando iniciava um novo período da história, D eus às vezes re­ velava sua ira contra o pecado de modo mais dram ático. D epois de o tabernáculo haver sido montado, Nadabe e Abiú invadiram o lugar santo e desobedeceram à lei de Deus, e o Senhor os castigou com a m orte. Foi um a advertência para que os sacerdotes não tratassem o santuário de Deus com deslei­ xo (Lv 10). Q uand o Davi tentou levar a arca de volta a seu lugar de honra e U zá tocou na arca para segurá-la, Deus matou U zá (2 Sm 6:1-11), outra advertência de Deus para não 50 JOSUÉ 7 tratar as coisas sagradas de modo descuida­ do. No co m eço da era da Igreja, A nanias e Safira foram m ortos pelo S en ho r quando mentiram a D eus e a seu povo (At 5:1-11). A morte de A cã e de sua família foi, sem dúvida, um a ad vertência dram ática para a nação não tom ar a Palavra de Deus leviana­ m ente. A s pessoas e os animais foram ape­ drejados e os corpos queim ados com todos os bens da fam ília. O perturbador de Israel foi com pletam ente rem ovido de cena, e o povo foi santificado, de modo que Deus pu­ desse voltar a m archar com o povo e dar-lhe a vitória. O nom e A c o r significa "perturba­ çã o ". O vale de A co r é m e n cio n ad o em Isaías 6 5 :1 0 e O séias 2 :1 5 com o um lugar onde, um dia, o povo de Deus terá um reco­ m eço e não será mais associado à vergonha e à derrota. O vale de A co r se tornará, en­ tão, uma "porta de esperança", quando os jud eus voltarem para sua terra e tom arem parte nas bênçãos do reino m essiânico. C o ­ mo o Senhor é m aravilhoso de tomar Acor, i. M o r r is o n , um lugar de vergonha e derrota, e transformá-lo num lugar de esperança e de alegria. O monte de pedras no vale seria uma lem brança de que D eus espera que seu povo o bedeça à sua Palavra e, se não o fizer, terá de julgá-lo. O monte de pedras em Gilgal (Js 4:1-8) servia para lembrá-los de que Deus cum pre o que promete e co ndu z seu povo o bediente ao lugar de bênção. Esses dois m em o riais são elem e n to s n ecessá rio s na jornada de fé. Deus é am or (1 Jo 4 :8 ,1 6 ) e anseia por ab en ço ar seu povo. M as Deus tam bém é luz (1 Jo 1:5) e deve julgar os pecados de seu povo. Josué e seus líderes haviam passado por dois dias difíceis, mas a situação estava pres­ tes a m udar. D eus assum iria o co m ando do e xé rcito e co n d u z iria seu povo à vitó ria. Q u an d o vo cê se entrega ao Senhor, nenhu­ ma derrota é perm anente e nenhum erro é irrem ediável. M esm o o "vale de Perturba­ çã o " pode transform ar-se num a "porta de e sp e ra n ça ". George H. The Footsteps o f the Flock. Londres: Hodder and Stoughton, 1904, p. 106. 8 T ra n sfo rm a n d o a D erro ta em V itó r ia Jo su é 8 citação ab aixo afirm a exatam en te o oposto do que quase todos hoje em dia - inclusive as pessoas da igreja - pen­ sam da vida. Essas palavras são de um sermão realizado no dia 12 de agosto de 1849 pelo famoso pregador britânico F. W . Robertson. A A vida, assim como a guerra, é uma série de erros, e não é o melhor cristão nem o melhor general que dá o menor nú­ mero de passos em falso. A mediocrida­ de pode levar a essa idéia. Na verdade, porém, o melhor é aquele que conquista as vitórias mais esplêndidas extraindo-as dos erros. Esqueça os erros; use-os para organizar vitórias.1 Henry Ford teria concordado com Robertson, pois definia um erro com o "um a oportuni­ dade de recom eçar de modo mais inteligen­ te". Josué tam bém teria co n co rd ado , pois estava prestes a "reco m eçar de modo mais inteligente" e a transform ar seus erros em v itória. 1. Um reco m eço (Js 8 :1 , 2) U m a v e z que a nação de Israel havia julga­ do o p e cad o que co n ta m in a ra o arraia l, Deus poderia lhes falar em m isericórdia e dirigi-los na conquista da terra. " O S e n h o r firm a os passos do hom em bom e no seu cam in h o se co m p ra z ; se cair, não fic a rá prostrado, porque o S e n h o r o segura pela m ão" (S I 3 7 :2 3 , 2 4 ). Não im porta quantos erros venham os a com eter, o pior erro de todos é não tentar outra ve z, pois "a vida cristã vitoriosa é um a série de reco m eço s" ■Mexander W h yte ). O ponto de partida é a Palavra de Deus. Hoje em dia, Deus não nos fala de modo audível, com o acontecia com freqüência nos tem pos bíb lico s, m as tem os a Palavra de D eus diante de nós e o Espírito de D eus dentro de nós; e Deus nos guiará, se espe­ rarmos pacientem ente na sua presença. A palavra d e ân im o (v. 1a). O fracasso costum a ser acom panhado de duas reações: o desânim o em função do passado e o medo do futuro. O lham os para trás e nos lembra­ mos dos erros que com etem os, e, em segui­ da, olham os adiante e nos perguntamos se há algum futuro para pessoas que fracassam tão tolam ente. A resposta para nosso desânim o e medo é ouvir e crer na Palavra de D eus: "N ão te­ mas, não te atem orizes" (v. 1). Recom endo que pegue sua co ncord ância bíblica e estu­ de o uso do imperativo "não tem as" na Bí­ blia. O b serve que D eus falou essas palavras para pessoas diferentes nas circun stân cias mais variadas, e sua Palavra sempre vai de encontro às necessidades. Veja as declara­ ções de "não tem as" em G ên esis, Isaías 41 - 44 e nos oito primeiros capítulos de Lucas. D eu s nunca desencoraja seu p o vo de fazer p ro g re sso . Enquanto o b e d e c e m o s a seus m and am en to s, tem os o privilégio de nos apropriarm os de suas prom essas. D eus tem prazer em "mostrar-se forte para com aque­ les cujo co ração é totalm ente dele" (2 C r 16:9). A palavra d e in stru çã o (vv. 1b-2). Deus sem pre tem um plano para seu povo, e a única forma de alcançarm os a vitória é obe­ decer às instruções do Senhor. Em sua pri­ m eira investida co ntra A i, Josué seguiu o conselho de seus espias e usou apenas par­ te do exército, mas Deus lhe ordenou que levasse "toda a gente de guerra" (Js 8:1 ). O Senhor tam bém disse a Josué para usar uma em boscada e aproveitar-se da autoconfiança de Ai em d e co rrên cia da prim eira derrota de Israel (Js 7:1-5). Por fim , D eus deu aos soldados o direito de apropriar-se dos des­ pojos, mas deviam queim ar a cidade. Se A cã tivesse esperado apenas alguns dias, pode­ ria ter pego toda a riq u eza que quisesse. D eu s sem pre dá o qu e há d e m elhor para JOSUÉ 8 52 aq ueles qu e deixam a escolh a ao encargo dele. Q uand o correm os na frente do Senhor, n orm alm ente nos privam os de bênçãos e prejudicam os a outros. A palavra d e p ro m essa (v. 1c). "O lh a que entreguei" - essa foi a prom essa de Deus (ver Js 6 :2 ) e a garantia a Josué de que te­ riam a vitória, desde que obedecessem às instruções do Senhor. "D eu s nunca fez uma prom essa boa demais para ser verdade", dis­ se o evangelista D. L. M oody, mas é preciso nos apropriarm os de todas as promessas pela fé. A prom essa de D eus não tem eficácia algum a a m enos que seja "aco m panh ada pela fé" (H b 4 :2 ). Israel sofreu uma derrota terrível por ter agido de modo presunçoso no primeiro ataque contra A i. As promessas de Deus fazem a diferença entre a fé e a presunção. N unca é dem ais reforçar a im portância para o soldado cristão de dedicar tem po à leitura diária da Palavra de Deus. A menos que em punhem os diariam ente a espada do Espírito pela fé (Ef 6 :1 7 ), estarem os saindo para o co m b ate desarm ad os e, portanto, d e sp rep arad o s. O cristão esp iritu alm en te consciente é vitorioso, pois permite que sua m ente e seu co ra ção sejam "em b eb id o s" pela Palavra de D eus. O Espírito controla os desejos e decisões do cristão por meio da Palavra, e esse é o segredo da vitória. Não importa quão terrível tenha sido nos­ so fracasso, podem os sem pre nos levantar e com eçar outra vez, pois nosso Deus é um D eus de recom eços. 2. Uma n o v a (Js 8:3-13) e s t r a t é g ia Deus não é apenas o Deus de recom eços, mas tam bém o Deus da variedade infinita. Lembra-se das palavras do rei Artur que citei no capítulo 2? "D eu s cum pre seus propósi­ tos de muitas maneiras, / para que uma boa tradição não venha a corrom per o m undo". Deus m uda seus líderes para que não co ­ m ecem os a confiar na carne e no sangue, em vez de confiar no Senhor, e ele muda seus métodos para que não passem os a de­ pender de nossa experiência pessoal, em vez de depender das promessas divinas. A estratégia que Deus deu a Josué para tomar a cidade de Ai foi quase o oposto da estratégia usada em je ricó . A operação em Jericó foi constituída de uma sem ana de mar­ chas realizadas à luz do dia. O ataque a Ai envolveu uma operação noturna sigilosa que preparou o cam inho para o ataque durante o dia. Em Jericó, o exército invadiu a cidade unido, mas para o ataque contra Ai, Josué dividiu suas tropas. Deus realizou um gran­ de milagre em Jericó ao fazer as muralhas ruírem, mas não houve milagre algum desse tipo em A i. Josué e seus hom ens sim ples­ mente obedeceram às instruções de Deus ao fazerem um a em b o scad a e atraírem o povo para fora da cidade, e o Senhor lhes deu a vitória. É im portante que se busque a vontade de Deus para cada em preendim ento da vida, a fim de não depender de vitórias passadas ao planejar o futuro. Nem sem pre o hino da Segunda G uerra: "V encem os uma v e z / V en­ cerem os novam ente!" aplica-se à obra do Senhor. Com o é fácil os ministérios cristãos acabarem em becos sem saída pelo simples fato de sua liderança não discernir se Deus deseja fazer algo novo por eles. Nas pala­ vras do em presário norte-am ericano Bruce Barton (1886-1967): "Q u em pára de mudar pára de viver". A estratégia de Ai tomou por base a der­ rota anterior de Israel, pois Deus estava trans­ form ando os erros de Josué em vitória. O povo de Ai estava seguro demais de si mes­ mo, pois havia derrotado Israel no primeiro ataque, e foi essa segurança excessiva que os condenou à derrota. "Vencem o s uma vez, vencerem o s novam ente!" D urante a noite, Josué e seu exército m archaram quase vinte e cinco quilôm etros de Gilgal até Ai e, usando trinta mil solda­ dos, Josué preparou uma em boscada por trás da cidade, pelo lado oeste (Js 8:3-9). C o lo ­ cou outros cinco mil homens entre Ai e Betei, que ficava cerca de três quilôm etros de lá (Js 8 :1 2 ). Esse destacam en to serviria para garantir que Betei não realizaria um ataque surpresa pelo Noroeste, abrindo outra fren­ te de batalha. O terreno rochoso nas coli­ nas ao redor de Ai ajudou Josué a esconder JOSUÉ 8 seus soldados, e a operação toda foi realiza­ da durante a noite. O plano era sim ples, mas eficaz. Lide­ rando o restante do exército israelita, Josué \iria do Norte e realizaria um ataque frontal contra A i. Seus hom ens fugiriam, com o ha­ viam feito da primeira vez, o que levaria o povo de Ai, seguro de si, a afastar-se da pro­ teção de sua cidade. Q uand o Josué desse o sinal, o soldados na em boscada entrariam na cidade e a incendiariam . O povo de Ai se veria encurralado entre dois exércitos, e o terceiro exército cuidaria de qualquer so­ corro que pudesse vir de Betei. C om o todo bom general, Josué acam ­ pava com seu exército (Js 8:9 ). Sem dúvida, incentivou os soldados a confiar no Senhor e a crer na prom essa divina de vitória. O príncipe do exército do S e n h o r (Js 5 :1 4 ) iria adiante deles, pois obedeceram à Palavra de Deus e confiaram em suas prom essas. A obra do Senhor requer estratégia, e, em seu p lan ejam en to , os líderes cristão s devem bu scar a vo ntade de D eus. A ssim com o Josué, devem os faze r um levantam en­ to dos fatos e pesá-los com cautela ao pro­ curar saber o que D eus quer de nós. M uitas v e ze s, a obra do S en h o r sim plesm en te é levada pelas c o rre n te z a s do tem p o , sem qualquer lem e ou bússola para lhe dar dire­ ção, e os resultados são d e ce p cio n an te s. O term o estratégia vem de duas palavras gregas que, ju n tas, significam "lid erar um exército ". A liderança exige planejam ento, e o planejam ento é um a parte im portante da estratégia. 3. Uma n o v a v it ó r ia (Js 8:14-29) Ai é esvaziada (vv. 14-17). Q uand o am anhe­ ce u , o rei de A i viu o e x é rcito de Israel posicionado diante da cidade, pronto para atacar. Certo da vitória, conduziu seus sol­ dados para fora da cidade num a investida co n tra os israelitas. C o m o disse M atthew H enry: "O s que correm mais perigo são os que m enos se dão conta disso". Josué e seus homens com eçaram a fugir, dando aos ho­ mens de Ai certeza ainda m aior da vitória. D e acordo com o versículo 1 7, os ho­ m ens de Betei tam b ém p a rticip a ra m do 53 ataque, mas o texto não dá m aiores deta­ lhes. Não sabem os se já estavam em Ai ou se chegaram lá na hora da luta, mas sua par­ ticipação provocou tanto a derrota de sua cidade (Js 12:16) com o a de Ai. O povo de A i foi descuidado ao deixar sua cidade indefesa, mas assim é a insensa­ te z re su lta n te do e x c e s so de c o n fia n ç a . Q uand o um exército p e q ueno 'vê um exér­ cito m aior fugir sem sequer lutar, isso lhes dá um sen tim e n to de su p e rio rid a d e que pode levar à derrota. A i é capturada (vv. 18-20). Ciente de que a batalha era do Senhor (1 Sm 1 7 :4 7 ; 2 C r 2 0 :1 5 ), Josué aguardou mais instruções. A s­ sim, D eus lhe disse para erguer sua lança em direção à cidad e (Js 8 :1 8 ). Esse era o sinal para os outros soldados entrarem na cidade e atearem fogo, mas devia ser dado no m omento exato. O s homens de Ai e de Betei haviam caído num a arm adilha, e não foi difícil para o exército de Israel acabar com eles. Josué segurou sua lança até a vitória ter sido conquistada (Js 8 :2 6 ), gesto que nos faz lem brar a batalha que esse mesmo líder travou co n tra A m a le q u e , quand o M o isés m anteve as m ãos erguidas ao Sen h or (Êx 17:8-16). O exército e o povo de A i são destruídos (vv. 21-29). A o verem a fum aça saindo da cidade, os hom ens de Josué pararam de cor­ rer, viraram-se e atacaram o exército de Ai que os estava perseguindo. D epois que os soldados israelitas saíram da cidade, juntaram-se aos outros na batalha. O inimigo viuse preso entre dois exércitos. "E feriram-nos de tal sorte, que nenhum deles sobreviveu, nem escapou" (Js 8 :2 2 ). U m a v e z que as tropas adversárias ha­ viam sido aniquiladas, o resto da população da cidade foi destruído, com o em Jericó (Js 8 :2 4 , 25 ; 6 :2 1 , 24). Lembre-se de que não foi um "m assacre de inocentes", mas sim o julgam ento de D eus sobre um a sociedade perversa, que havia muito resistia à graça e à verdade divinas. O rei de A i é m orto (vv. 23, 29). Esse foi o gesto sim bólico final da vitória com pleta de Israel. O rei não tinha mais exércitos, nem súditos, nem cidad e, pois o Senhor havia 54 JOSUÉ 8 destruído tudo. Foi uma vitória total para Is­ rael. Josué matou o rei com uma espada e ordenou que o corpo fosse hum ilhado, pen­ durando-o numa árvore até o pôr-do-sol (D t 2 1 :2 2 , 23 ). D epois disso, o corpo do rei foi sepultado sob um monte de pedras na por­ ta de entrada das ruínas que restaram de Ai. O último monte de pedras que Israel havia erguido tinha sido o m emorial a A cã, o ho­ m em q u e h a v ia c a u s a d o a d e rro ta dos israelitas para Ai (Js 7 :2 5 , 26). M as o monte de pedras em Ai era um m emorial da vitória de Israel sobre o inimigo. A o obedecerem à Palavra de D eus, transformaram seus erros em vitória. O s despojos de Ai são tomados (v. 27). U m a vez que as prim ícias dos despojos de guerra em C anaã já haviam sido entregues a Deus em Jericó, ele permitiu que o exérci­ to tomasse para si os despojos de A i. Além disso, em Jericó os israelitas haviam recebi­ do a vitória por milagre de Deus, enquanto em Ai os homens haviam lutado e conquis­ tado sua recom pensa. (Para as leis sobre a distribuição de despojos, ver Nm 31:19-54.) Não sabem os ao certo se essas leis eram seguidas à risca em todas as situações, mas elas nos dão uma idéia de com o Israel trata­ va os despojos de guerra. Q uand o, no final do dia, os hom ens se­ pultaram o corpo do rei sob um monte de pedras, uma renovada sensação de fé e de coragem deve ter se espalhado por Israel, pois haviam conquistado mais um a vitória. O s israelitas viram que nenhum a palavra da prom essa de D eus havia falhado. A desgra­ ça e a derrota causadas por A cã haviam sido apagadas, e Israel estava prestes a conquis­ tar a Terra Prometida. 4. U m n o v o c o m p r o m is s o (Js 8:30-35) Algum tem po depois da conquista de A i, Josué conduziu o povo cerca de cinqüenta quilôm etros para o Norte até Siquém , uma cidade entre os montes Ebal e G erizim . Nes­ se lo c a l, a n açã o cu m p riu a ordem que M oisés havia lhes dado em seu discurso de despedida (D t 27:1-8). Josué interrom peu as atividades militares para dar a Israel a opor­ tunidade de firm ar um novo com prom isso com a au to rid ad e de Jeová exp ressa em sua lei. Josué construiu um altar (vv. 30, 31). U m a vez que Abraão havia construído um altar em Siquém (G n 1 2 :6 , 7) e que Jacó havia morado ali por um breve período (G n 33 - 34), aquela região possuía fortes laços históricos com Israel. O altar de Josué foi construído sobre o m onte Ebal, o "m onte da m aldição", pois som ente um sacrifício de sangue pode salvar os pecadores da maldi­ ção da lei (G l 3:10-14). Ao construir o altar, Josué teve o cuida­ do de o b ed ecer a Êxodo 2 0 :2 5 e de não usar qualquer ferram enta nas pedras reco­ lhidas dos cam pos. N enhum a obra humana deveria ser associada ao sacrifício para que os pecadores não pensassem que seriam ca­ pazes de ser salvos por suas obras (Ef 2 :8 , 9). D eus pediu um altar simples de pedra e não um altar elaborado e decorado por mãos hum anas, "a fim de que ninguém se vanglo­ rie na presença de D eus" (1 C o 1:29). Não é a beleza da religião criada por hom ens que co ncede o perdão aos pecadores, mas sim o sangue no altar (Lv 1 7 :1 1 ). O rei A ca ­ be substituiu o altar de Deus por um altar pagão, que lhe não conferiu a aceitação de Deus nem o aperfeiçoou com o ser humano (2 Rs 16:9-16). O s sacerdotes ofereceram holocaustos ao Senhor representand o o com p rom isso total de Israel com Deus (Lv 1). As ofertas pacíficas foram um a expressão de gratidão a Deus por sua bondade (Lv 3; 7:11-34). Um a porção da carne foi entregue aos sacerdotes e outra aos ofertantes para que pudessem desfrutá-la alegrem ente com sua fam ília na pre se n ça do S en ho r (Lv 7 :1 5 , 16, 30-34; D t 2 :1 7 , 18). Por m eio desses sacrifício s, a nação de Israel estava de claran d o diante de D e u s seu co m p ro m isso e co m u n h ão com ele. Josué escreveu a lei em pedras (vv. 32, 33). Esse ato foi realizado em obediência à ordem de M oisés (D t 27:1-8). No O riente Próxim o daquela ép oca, era costum e os reis celebrarem sua grandeza escrevendo regis­ tros de seus feitos militares em grandes pe­ dras cobertas de reboco. M as o segredo da JOSUÉ 8 Nitória de Israel não era seu líder nem seu exército , e sim a o b ed iên cia à lei de D eus Js 1:7, 8). Posteriorm ente, sem pre que Is­ rael se afastava da lei de D eus, via-se em dificuldades e precisava ser disciplinado. "E que grande nação há que tenha estatutos e ju ízo s tão justos co m o toda esta lei que eu hoje vos proponho?", perguntou M oisés Dt 4 :8 ). O s cristãos de hoje têm a Palavra de Deus escrita em seu co ração pelo Espírito de Deus (Rm 8:1-4; 2 C o 3). A lei escrita em pedras possuía um caráter exterio r e não interior e podia instruir o povo, mas não era capaz de transformá-lo. Paulo deixa claro na Epístola aos C á la ta s que, ap esar de a lei p o d e r c o n v e n c e r os p e c a d o re s de suas transgressões e de conduzi-los a Cristo, em m om en to algum é ca p a z de co nverter os pecadores nem de torná-los sem elhantes a C risto. Essa é um a obra que só pode ser realizada pelo Espírito Santo (C l 3:19-25). Esse é o quarto m onum ento público de pedras a ser erigido. O primeiro foi em Gilgal ' Js 4 :2 0 ), com em orando a travessia do Jordão pelo povo de Israel. O segundo foi no vale de A cor, um m onum ento ao pecado de A cã e ao julgam ento de Deus (Js 7:2 6 ). O tercei­ ro foi na entrada de A i, uma lem brança da fidelidade de D eus ao ajudar seu povo (Js 8 :2 9 ). Essas pedras no monte Ebal lem bra­ vam Israel de que seu sucesso dependia in­ teiramente de sua obediência à lei de Deus ■Js 1 :7 ,8 ). Josué fez a leitura da lei (vv. 34, 35). Seguindo as instruções de M oisés em Deuteronôm io 27:11-13, foi determ inado um lu­ gar para cada tribo em um dos dois montes. Rúben, G ad e, Aser, Z ebu lom , Dã e Naftali ficaram no monte Ebal, o monte da maldi­ ção. Sim eão, Levi, Judá, Issacar, José (Efraim e M anassés) e Benjam im ocuparam o m on­ te G erizim , o m onte da bênção. A s tribos no monte G erizim foram fundadas por ho­ mens que eram filhos de Lia ou de Raquel, enquanto as tribos do monte Ebal era cons­ tituídas de descendentes de filhos de Zilpa ou de Bila, servas de Lia e Raquel. A s únicas exceçõ es foram Rúben e Z ebulom , perten­ centes à descendência de Lia. Rúben havia 55 perdido sua posição de primogênito, pois ha­ via pecado contra seu pai (Gn 35:22; 49:3, 4). O vale entre os dois montes foi ocupa­ do pelos sacerdotes e levitas com a arca, cercados pelos anciãos, oficiais e ju ize s de Israel. Todo o povo estava voltado para a arca, que representava a presença de Deus no meio deles. Q u an d o Josué e os levitas leram as bênçãos do Senhor unia a uma (ver Dt 28:1-14), as tribos do monte G erizim res­ p o n d e ra m em u n ís so n o e em a lta v o z "A m ém !", que, no hebraico, significa "Assim seja!". Q uand o leram as m aldições (ver Dt 27:14-26), as tribos do monte Ebal respon­ deram com um "A m ém !" depois da leitura de cada m aldição. Deus havia dado a lei por intermédio de M oisés no m onte Sinai (Êx 19 - 20), e o povo h a v ia a c e it a d o e p ro m e tid o o b e d e c e r. M oisés havia repetido e explicado a lei nas cam pinas de M oab e, na fronteira com Canaã. A plicou a lei à vida do povo na Terra Prom e­ tida e adm oestou os israelitas a obedecer. "Eis que, hoje, eu ponho diante de vós a bê n ção e a m a ld ição : a b ê n ção , quando cu m p rird e s os m an d am e n to s do S e n h o r , vosso D eus, que hoje vos ordeno; a maldi­ ção, se não cum prirdes os m andam entos do S e n h o r , vosso D eus, mas vos desviardes do cam inho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não co nhecestes" (D t 1 1:26-28, observar os vv. 29-32). Assim , Josué reafirm ou a lei na terra da prom essa. U m a vez que a região entre os montes Ebal e G erizim era um anfiteatro na­ tural, todos puderam ouvir cada palavra da lei claram ente e responder de modo cons­ ciente. Ao gritar "A m ém " quando as decla­ rações eram lidas, o povo reconheceu que entendia a lei com suas bênçãos e m aldi­ ções e que aceitava a responsabilidade de lhe obedecer. Isso incluía m ulheres, crian­ ças e o "m isto de gente" (estrangeiros) que havia se juntado a Israel (Êx J 2 :3 8 ; 2 2 :2 1 ; 2 3 :9 ; D t 24:1 7-22; 3 1 :1 2 ). Se desejavam par­ ticipar da conquista realizada por Israel, pre­ cisavam sujeitar-se à lei do D eus de Israel. Nos dias de hoje, o povo de Deus en­ contra-se entre dois montes: o do Calvário, onde Jesus morreu por nossos pecados, e o 56 JOSUÉ 8 das O liveiras, para onde ele voltará com po­ der e grande glória (Z c 14:4). O s profetas do Antigo Testam ento viram o sofrimento e a glória do M essias, mas não viram o "vale" com o bem entenderm os e ignorar ou con­ testar a lei de D eus. Não somos salvos por guardar a lei, nem santificado s por tentar observar os preceitos da lei; antes, o "precei­ entre a era em que se encontravam e a era presente da Igreja (1 Pe 1:10-12). O s cris­ tãos de hoje não vivem sob a m aldição da lei, pois Jesus nos resgatou dessa maldição ao ser "pendurado em m adeiro" (G l 3:1014). Em Cristo, os fiéis são abençoados pela to da lei se [cum pre] em nós" ao andarm os no poder do Espírito Santo (Rm 8 :4 ). Se nos co locarm os sob a lei, deixam os de desfrutar as bênçãos da graça (G l 5). Se andarm os no Espírito, experim entam os seu poder transfor­ m ador e vivem os com o propósito de agra­ dar a D eus. graça de D eus com "toda sorte de bênçãos espirituais" (Ef 1:3). Para eles, a vida consis­ te nas bênçãos do monte G erizim e não nas m aldições do monte Ebal. No entanto, o fato de os cristãos "não [estarem] debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6 :1 4 ; 7:1-6) não significa que podem os viver 1. R o bertso n , Sejam os gratos a Jesus, que levou sobre si na cru z a m aldição da lei em nosso lugar e que nos co n cede todas as bênçãos celes­ tiais pelo Espírito. Pela fé, podem os nos apro­ priar de nossa herança em Cristo e m archar avante em vitória! Frederick W . Serm ons Preached a í Brighton, First Series. Londres: Kegan Paul, Trench, Trubner and C o ., 1 8 9 8 , p . 6 6 . 9 O I n im ig o M a o La d o ora J o s u é 9:1 - 1 0 : 2 8 U m espirituoso anônim o nos lem bra de que o erro de um dentista é arrancado, o erro de um advogado vai preso, o erro de um professor é reprovado, o erro de um impressor é corrigido, o erro de um farm acêu­ tico é sepultado, o erro de um carteiro é enviado de volta ao remetente e o erro de um eletricista pode ser chocante. O rom an­ cista Joseph Co nrad escreveu: " O s únicos que não erram são aqueles que não fazem coisa alguma". No caso de Josué, porém , não fazer coi­ sa alguma foi seu erro, e este capítulo expli­ ca o que aconteceu. O texto apresenta os três estágios do segundo insucesso de Josué depois de Ai) na conquista da Terra Prom e­ tida. Tam bém diz com o Josué transformou esse erro em vitória. 1. A c r e d it a n d o n o i n im i g o (Js 9:1-15) Enquanto Israel estava nos m ontes Ebal e G erizim reafirm ando seu com prom isso com o Senhor, os reis de C anaã estavam se pre­ parando para atacar. Ficaram sabendo da derro ta de Jericó e de Ai e não estavam prestes a se entregar sem resistir. Era hora de assumirem a ofensiva e de atacarem os invasores israelitas. Nem sem pre as cidades-estados de C an aã mantinham relações am istosas entre si, mas poderia acon tecer de rivais de um a região se aliarem contra um inimigo em com um (Sl 2 :1 , 2; Lc 2 3 :1 2 ). D e p o is de e x p e rim e n ta r um a grande bênção, é im portante que o povo de Deus esteja bem preparado para confrontar o ini­ migo, pois, assim com o C anaã, a vida cristã é um a "terra de m ontes e de v a le s" (D t 11:11). Porém , a m aior am eaça para Israel não era a co alizão dos exércitos de C anaã, antes, um grupo de hom ens de G ibeão pres­ tes a entrar no arraial e a enganar Josué e os príncipes de Israel. Por vezes, Satanás vem co m o um leão devorador (1 Pe 5 :8 ), mas em outras ocasiões, manifesta-se com o uma serpente enganadora (2 C o 1 1 :3 ), e deve­ mos estar alertas e sob a proteção da arm a­ dura espiritual que D eus providenciou para nós (Ef 6:10-18). O que os gibeonitãs fizeram (vv. 3-5). G ibeão ficava a cerca de quarenta quilôm e­ tros do arraial de Israel em Gilgal e estava na lista d e Jo s u é d o s lu g a re s a se re m destruídos. Em D eutero nôm io 2 0 :1 0 -2 0 , a lei de Deus declarava que Israel deveria des­ truir todas as cidades de C anaã. Se, depois da conquista, Israel se envolvesse em outras guerras, poderia o fere ce r a paz a cidades que ficassem fora da terra (ver também Dt 7:1-11). D e algum m odo, os gibeonitãs fica­ ram sabendo dessa lei e decidiram usá-la para garantir sua segu rança. O povo de D eus deve manter-se alerta, pois o inimigo sabe usar a Palavra de D eus para seus propósitos (M t 4:5-7). O s gibeonitãs reuniram um grupo de ho­ mens e os prepararam , a fim de que se pa­ recessem com a delegação oficial de uma cidad e estrangeira. Suas roupas, alim entos e equipam entos foram escolhidos de modo a dar a im pressão de que haviam realizado uma longa e difícil jornada desde uma cida­ de distante. Satanás é um falsificad or que "se transform a em anjo de luz" (2 C o 1 1 :1 4). Ele tem "falsos apóstolos" e "obreiros frau­ dulentos" (2 C o 1 1 :1 3) operando neste mun­ do, cegando os perdidos e procurando fa­ ze r os fiéis se desviarem . É muito mais fácil identificar o leão que ruge do que perceber a serpente que se insinua em nossa vida. O que os gibeonitãs disseram (w . 6-13). Satanás é mentiroso e é o pai da mentira (Jo 8:4 4 ), e a natureza humana é tal que muita gente considera mais fácil mentir do que di­ zer a verdade. O líder político norte-ameri­ cano, Adiai Stevenson, com entou certa vez em tom de hum or: "U m a m entira é uma abom inação para o Senhor - e um socorro bem presente na tribulação". O s gibeonitãs 58 J O S U É 9: 1 - 1 0 : 2 8 contaram várias m entiras em sua tentativa de se livrar da tribulação. Em primeiro lugar, afirmaram ser "de uma terra mui distante" (Js 9 :6 , 9), quando na verd ad e vivia m a c e rc a de q u aren ta q u i­ lômetros dali. D epois, mentiram sobre suas roupas e seus alimentos. "Este nosso pão to­ mamos quente das nossas casas, no dia em que saímos para vir ter co nvosco; e ei-lo aqui, agora, já seco e bolorento" (Js 9 :1 2 ). Tam­ bém mentiram sobre si mesm os e deram a im pressão de que eram enviados im portan­ tes numa missão de paz oficial da parte dos anciãos de sua cidade. Cham aram -se ainda de "Teus servos" (Js 9 :8 , 9, 11), quando, na verdade, eram inimigos de Israel. Essas quatro mentiras já eram graves o suficiente, mas quando os visitantes afirm a­ ram ter vindo "por causa do nom e do S e­ n h o r " (Js 9 :9 ), blasfem aram co n tra Jeová. Assim com o os cidadãos de Jericó (Js 2 :1 0 ), o povo de G ib e ão ficou sabendo da mar­ cha de conquista de Israel (Js 9:9 , 10). Po­ rém, ao contrário de Raabe e de sua família, não depositaram sua fé no Senhor. Tiveram a astúcia de não m encionar as vitórias de Israel sobre Jericó e A i, pois tal notícia não poderia ter chegado a "um a terra mui dis­ tante" com tanta rapidez. O s em baixadores de Satanás são capazes de m entir de modo mais convincente que os cristãos são capa­ zes de dizer a verdade! Satanás sabe usar "m entiras religiosas" para dar a im pressão de que se busca conhe­ cer ao Senhor. Em meu m inistério pastoral, e n c o n tre i p e sso a s que se ap re se n ta ra m com o investigadores à procura do Senhor, mas quanto mais falavam, mais eu percebia que não passavam de enroladores, tentan­ do conseguir algo de mim ou da igreja. D e­ claravam sua "p ro fissão de fé" e, depois, desandavam a contar sua triste história na esperança de com over meu co ração e de abrir m inha carteira. D e todos os m entiro­ sos, os "loroteiros religiosos" são os piores. Se você precisa de provas, leia 2 Pedro 2 e a Epístola de Judas. O q u e garantiu o su ce sso d o s g ib eo n itã s (w . 14, 15). Simples: Josué e os príncipes de Israel foram im petuosos e não se detiveram para consultar o Senhor. Agiram pelas apa­ rências e não pela fé. D epois de ouvir o dis­ curso dos estran g eiros e de e xa m in a r as evidências, Josué e seus líderes concluíram que os homens estavam dizendo a verdade. O s líderes de Israel usaram um a "abordagem científica" em vez de uma "abordagem es­ piritual". Confiaram em seus próprios senti­ dos, exam in aram os "fato s", discutiram a questão e chegaram à m esm a co nclusão. Foi tudo muito lógico e convincente, mas tam­ bém inteiramente errado. Haviam com etido o mesm o erro em Ai (cap. 7) e ainda não haviam aprendido a esperar no Senhor e a buscar sua orientação. A vontade de D eus vem do co ração de D eus (Sl 3 3 :1 1 ) e ele se co m p raz em revelála a s e u s filh o s q u a n d o s a b e q u e sã o hum ildes e estão d isp ostos a o b e d e c e r. Não buscam os a vontade de D eus co m o clien­ tes esco lhendo um produto, mas sim com o servos recebendo ordens. "Se alguém qui­ ser faze r a vontade dele, co n h ecerá a res­ peito da doutrina" (Jo 7:1 7); trata-se de um princípio fundam ental para a vida cristã v i­ toriosa. D eus vê nosso co ração e sabe se tem os o desejo sincero de o b ed ecer a ele. Sem dúvida, precisam os não só usar a inte­ ligência que D eus nos deu, mas tam bém dar o u vid o s à ad ve rtê n c ia de Pro vérb io s 3 :5 , 6 e não nos estribar em nosso próprio en tend im ento. Se esses hom ens fossem m esm o uma delegação oficial, teriam vindo num grupo bem mais num eroso e devidam ente provi­ do de suprimentos, inclusive do necessário para a viagem de volta. Em baixadores reais teriam jogado fora o pão "seco e boloren­ to", pois seus servos teriam assado pão fres­ co para eles. C om o oficiais, teriam levado consigo roupas adequadas para que pudes­ sem causar a melhor im pressão possível nas negociações com o inimigo. Se Josué e os líderes tivessem feito um a pausa a fim de pensar e orar sobre o que estava diante de­ les, teriam concluído que tudo não passava de uma farsa. "Se, porém, algum de vós ne­ cessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalm ente e nada lhes im propera; e ser-lhe-á concedid a" (Tg 1:5). J O S U É 9: 1 - 1 0 : 2 8 A verdadeira fé inclui o exercício da pa­ ciência (H b 6 :1 2 ). "Aquele que crer não foge não age p re c ip ita d a m e n te ]" (Is 2 8 :1 6 ). M oisés havia dito ao povo: "Abstém-te de fazer aliança com os m oradores da terra para onde vais, para que te não sejam por cila­ da" (Êx 3 4 :1 2 ). M as em sua pressa, Josué e os líderes de Israel transgrediram a lei de Deus e fizeram uma aliança com o inimigo. L m a vez que juraram em nom e do Senhor Js 9 :1 8 ), não podiam qu ebrar seu pacto, josué e os príncipes de Israel haviam jurado com dano próprio (Sl 1 5 :4 ; Ec 5:1-7), e não na\ia meio de revogar seu juram ento nem de desobrigá-los de sua prom essa. Assim com o Josué e a nação de Israel, o po^o de Deus hoje vive em território inimi­ go e deve usar de cautela o tem po todo. Q u a n d o , em v e z d e b u sca r a von tad e d e D e u s, acre d itam o s no in im igo , podem os esperar problemas. 2. A l is t a n d o o i n i m i g o (Js 9 :16-27) C om o os líderes de Israel descobriram que haviam com etido um grande erro? Sabendo que estavam fora de perigo, é possível que os "em b aixad ores" tenham adm itido aber­ tamente o que haviam feito. O u então, tal­ vez, alguém tenha ouvido os gibeonitãs se a.egrando com seu sucesso. Algum dos esaias de Josué voltou ao acam pam ento deoois de fazer a inspeção e de reconhecer o nimigo? Talvez os gibeonitãs tenham des­ coberto os planos do próxim o ataque de Israel e precisado informar os líderes de que aquelas cidades estavam sob a proteção de -m a aliança. D e qualquer modo, Josué e os íderes se deram conta de que haviam co ­ metido um erro gravíssimo e, sem dúvida, “ caram humilhados e envergonhados. Devem os dar crédito a esses líderes por serem hom ens de palavra. Q ueb rar a alian­ ça os teria levado a usar o nom e de Jeová c n \ã o , trazendo sobre eles o julgam ento ci\in o . M uitos anos depois, o rei Saul não cumpriu esse juram ento, e D eus julgou a na­ ção com severidade (2 Sm 21). Líderes mili: a res de caráter m enos íntegro que o de losué teriam argum entado que "vale tudo -a guerra e no am or" e teriam forçado os 59 g ib e o n itã s a d iv u lg a r in fo rm a ç õ e s que pudessem aju d ar Israel a c o n q u ista r sua cidade. Em vez disso, o exército israelita ch e­ gou a G ibeão e às cidades vizinhas e não as atacou. Por que o povo de Israel murmurou con­ tra seus líderes por terem feito essa aliança? Porque esse pacto com G ibeão custou aos soldados despojos preciosos que não seria possível tom ar das cidades protegidas. Além disso, os gibeonitãs e seus vizinhos poderiam influenciar Israel com suas práticas pagãs e afastar o povo do Senhor. M oisés havia dado a Israel advertências sérias para que não fi­ zessem concessões aos povos da terra (D t 7), e, em sua insensatez, os israelitas haviam feito uma alian ça com o inimigo. Ficam os im aginando, porém , o que o povo em geral teria d e c id id o se estiv e sse no lugar d o s lí­ deres. É fácil criticar depois que as coisas desandaram ! A história não term inou aí. Josué e seus líderes aprenderam uma lição im portante: se com eter um erro, admita e tire p roveito dele! O s líderes colocaram os gibeonitãs para tra­ balhar com o carregadores de água e rachadores de lenha para o tab ern ácu lo , onde água e lenha eram usadas em grandes quan­ tidades. Posteriorm ente, os gibeonitãs passa­ ram a ser cham ados de nethinim ("aqueles que foram co n ce d id o s" = co n ced id o s aos sa ce rd o te s para servi-lo s) e trab a lh ara m com o servidores do tem plo (1 C r 9 :2 ; Ed 2 :4 3 , 58; Ne 3 :2 6 ). Em Josué 10, verem os que Deus sobrepujou o erro de Josué e usouo para dar ao líder de Israel um sinal de vitó­ ria sobre cinco reis de uma só vez. É claro que os gibeonitãs preferiram sub­ meter-se a serviços humilhantes do que ser destruídos com o os habitantes de Jericó e A i. Não há qualquer evidência nas Escritu­ ras de que os descendentes de G ibeão te­ nham causado problem as para os israelitas. É pro vável que seu s e rv iç o no tab e r­ náculo, e posteriorm ente no tem plo, tenha in flu e n c ia d o os g ib e o n itã s a a b a n d o n a r seus ídolos e a adorar o D eus de Israel. O fato é que mais de quinhentos servid ores do tem plo voltaram para Jerusalém depois do cativeiro na Babilônia (Ed 2 :4 3 -5 8 ; 8 :2 0 ), 60 J O S U É 9: 1 - 1 0 : 2 8 indicando que eram dedicados ao Senhor e a sua casa. 3. D e f e n d e n d o o in im ig o (Js 10:1-28) Há um preço a pagar quando se faz um aco r­ do com o inimigo. Não se espante se, um dia, precisar defender o inimigo a fim de pro­ teger a si m esm o. É por isso que o povo de D eus deve perm anecer separado do mun­ do (2 C o 6 :1 4 -1 8 ). Pergunto-me se Paulo estava pensando em Josué quando escre­ veu: "N enh u m soldado em serviço se en­ volve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregim en­ tou" (2 Tm 2:4). O rei convoca os exércitos (vv. 1-5). O rei de Jerusalém , cujo nom e significa "se ­ nhor da retidão", soube do que os gibeonitãs haviam feito e anunciou que esses traidores deveriam ser castigados. Se uma cidade gran­ de c o m o G ib e ã o s a ís s e das m ã o s dos israelitas, mais uma barreira teria sido remo­ vida no avanço de Israel sobre C anaã. Era essen cial que os ca n a n eu s recuperassem erro é definitivo. D eus pode usar até nossos equívocos para cum prir seus propósitos. A l­ guém definiu o sucesso com o "a arte de com eter erros quando ninguém está olhan­ d o ", mas um a d e fin içã o m ais ap ro priada seria "a arte de ver a vitó ria onde outros vêem apenas derrota". O s gibeonitãs recorrem a Josué (vv. 6, 7). A p e s a r de seu p a g a n ism o , esse s gibeonitas são um bom exem plo a ser segui­ do nos dias de hoje. Q uand o sabiam que estavam prestes a ser destruídos, buscaram a ajuda de Josué ("Jeová é Salvador") e obti­ vera m d e le um a p ro m e ssa de p ro te ç ã o . C om o é bom quando os pecadores perce­ bem sua terrível situação e buscam a Jesus Cristo pela fé! Q uand o os gibeonitãs viramse em perigo, creram na prom essa de Josué e pediram ajuda. É por isso que o povo de sim com o Deus usou a derrota em Ai para form ar um plano de batalha que levou Israel à vitória sobre essa cidade (Js 8), também u sou o erro de Jo su é co m re la ç ã o aos gibeonitãs para proteger G ibeão e acelerar a conquista de Canaã. O s erros que com etem os podem nos en­ vergonhar, especialm ente quando decorrem de precip itação e de falta de consulta ao Senhor. No entanto, devem os nos lembrar D eus precisa saber o que fazer quando se en contra diante das batalhas da vid a. O s gibeonitãs colocaram todo o seu fardo sobre Josué e confiaram que ele manteria a pala­ vra - e foi exatam ente o que aconteceu. Josué recorre ao Senhor (vv. 8-15). Três fatores se com binaram para que Josué fosse bem -sucedido nesse ataq u e: a fé na pro­ messa divina (v. 8), o uso de uma boa estra­ tégia (v. 9) e o clam or a Deus em oração (vv. 10-15). A prom essa. A s m edidas tom adas por Josué são ilustradas em dois versículo s im­ portantes: "Tudo o que não provém de fé é p e cad o" (Rm 1 4 :2 3 ) e "a fé vem pela prega­ ção, e a pregação pela palavra de C risto" (Rm 1 0 :1 7 ). Sem pre que crem os nas pro­ messas de D eus e o bedecem o s a suas or­ dens, agimos pela fé e podem os contar com a ajuda de D eus. O s israelitas não precisa­ vam tem er coisa algum a, pois o Senhor já havia lhes prom etido a vitória. A prom essa de que D eus daria a vitó ria serviu de âni­ mo para Josué quando se tornou líder de Israel (Js 1 :5-9), quando estava à espera das ordens para atacar Jericó (Js 6 :2 ) e quando atacou a cidad e de Ai depois de um a der­ rota hum ilhante (Js 8 :1 ). A s prom essas de D e u s se c u m p riria m , pois "n em um a só palavra falhou de todas as suas boas pro­ de que, para o cristão consagrado, nenhum m essas" (1 Rs 8 :5 6 ). aquela cidade im portante, mesmo que tives­ sem de tomá-la à fo rça . M ais quatro reis cananeus aliaram-se a Adoni-Zedeque, e os exércitos da coalizão acam param diante de G ibeão. O s pobres gibeonitãs haviam feito um acordo de paz com os invasores e ago­ ra estavam em guerra com os antigos aliados! É possível que Deus tenha dado um gran­ de sorriso no céu (Sl 2:1-4) enquanto os exér­ citos e os reis da confederação se reuniam, pois não sabiam que era o Senhor quem usa­ va esses acontecim entos para cum prir seus propósitos. Em vez de derrotar cin co cidad es-esta d o s uma p o r um a, D eu s ajudaria Josué a conquistar todas d e uma só vez! A s­ J O S U É 9: 1 - 1 0 : 2 8 A estratégia. Porém , a fé sem obras é morta, e Josué provou sua fé ao usar de uma estratégia inteligente. O rdenou que o exér­ cito m archasse a noite toda e que realizas­ se um ataque surpresa às tropas inimigas, estratégia usada quando investiram contra Ai (Js 8:3ss). Era um longo cam inho de Gilgal a G ibeão, e G ibeão ficava no alto, mas Josué reuniu suas tropas o mais rápido que pôde. Sem dúvida, os hom ens estavam cansados quando chegaram , mas o Senhor estava com eles e lhes deu a vitória. O que impeliu es­ ses soldados? Sua fé nas prom essas de Deus e a certeza da vitória. D eus ajudou os soldados exaustos do exército israelita matando os inimigos com grandes pedras de granizo. A oco rrência tão oportuna dessa tem pestade foi, por si mes­ ma, um milagre, mas o milagre m aior foi o fato de as pedras atingirem som ente os sol­ dados inim igos. Deus tirou a "m u nição " es­ pecial de seu depósito e usou-a em favor de seu povo (Jó 3 8 :2 2 , 23). Q uand o o povo do Senhor está dentro da vontade de Deus, tudo opera em seu favor, até mesm o "as estrelas ■...] desde a sua órbita" (Jz 5 :2 0 ). Q uand o d esobedecem os à vontade de D eus, tudo fica contra nós. (Ler Jonas 1 para uma ilus­ tração clara dessa verdade.) A oração. M as o milagre da tem pestade de granizo foi peq u en o em co m p aração com o milagre de estender o dia para que Josué term inasse a batalha e garantisse vi­ tória total sobre o inim igo. Seus hom ens estavam cansados e tinham uma tarefa mo­ numental a cum prir. Se a noite chegasse, o inimigo poderia fugir. Josué precisava de uma intervenção divina a fim de apropriar-se da vitória que o Senhor lhe havia prom etido. Esse é o último milagre registrado no li­ vro de Josué e, certam ente, o maior de to­ dos. Josué orou pedindo a ajuda de D eus, e o Senhor respondeu de modo extraordiná­ rio. M uitos daqueles que negam a realidade dos milagres e que buscam a verdade so­ mente na ciên cia lançam dúvidas sobre esse acontecim ento. "D e que modo Deus pode­ ria deter a rotação da Terra e estender o dia sem causar o caos absoluto sobre todo o planeta?", perguntam os cé tico s. Parecem 61 esquecer que os dias norm alm ente têm du­ ração diferente nas diversas partes do mun­ do sem que haja caos. Q u an d o estava na Noruega, li um jornal às duas da manhã á luz d o Sol. M as com o explicar um milagre, qualquer milagre? Claro que a resposta mais simples é a resposta da fé: o Senhor é D eus, e não há coisa alguma que seja difícil demais para ele (Jr 32:1 7, 27). O dia e a noite pertencem a Deus (Sl 7 4 :1 6 ), e tudo o que ele fez está a seu serviço. Se Deus não pudesse realizar um milagre com o o descrito em Josué 10, então não seria cap az de realizar milagre algum. Seria prisioneiro de sua própria cria­ ção, sem ter com o usar nem suspender as leis que ele próprio determ inou. Para mim é difícil crer nesse tipo de D eus. G leason L. A rcher, estudioso do Antigo Testam ento, ressalta que a expressão "não se apressou a pôr-se", no versículo 13, indi­ ca retardação do m ovim ento" e não cessa­ ção total.1 O Sol e a Lua não se detiveram de todo perm anentem ente, para depois o Sol se pôr de uma só vez. Deus deteve o Sol e a Lua e, depois, retardou a rotação do pla­ neta de modo que o Sol se pusesse muito lentam ente. Um processo co m o esse não iria gerar o caos em todo o mundo. D e acordo com outra proposição, o Sol e a Lua seguiram seu curso normal e ape­ nas p a receu que o dia havia se estendido pela forma de Deus fazer a luz refratar. Po­ rém, o versículo 1 3 afirm a duas vezes que o Sol "se deteve" e uma v ez que a Lua "parou". No entanto, esses verb o s não descrevem obrigatoriam ente um a situação perm anen­ te, mas apenas o com eço do milagre. Deus deteve o curso do Sol e da Lua e, em segui­ da, controlou seu m ovim ento, levando a uma refração mais dem orada da luz. Um a vez que os versículos 13b-15 são apresentados em form a poética - uma ci­ tação de um livro desconhecid o cham ado "Livro dos Justos" (ver 2 Sm 1:8) - , alguns estu d io so s interpretam essas palavras de m odo sim bólico. D izem que Deus ajudou Israel de tal form a que o exército conseguiu realizar o trabalho de dois dias em um só. M as as palavras de Josué parecem muito 62 JO SUÉ 9 : 1 - 1 0:28 m ais uma o ração que levou D eus a inter­ vir, e a d e scriçã o do que ocorreu não se assem elha ao relatório de um analista em e ficiê n cia . Por que tentar explicar um milagre? O que provam os com isso? C ertam en te não mostramos que somos mais espertos do que Deus! O u crem o s em um D eus ca p az de fazer qualquer coisa, ou devemos aceitar que a fé cristã não inclui milagres. Isso acabaria com a inspiração das Escrituras, a concepção virginal e a ressurreição física de jesu s Cris­ to. Sem dúvida, há espaço para perguntas sinceras quanto à natureza do milagre, mas para o cristão hum ilde, não há lugar para questionamentos quanto à realidade dos atos m iraculosos. Nas palavras de C. S. Lew is: "A mente que exige um cristianism o desprovi­ do de caráter m iraculoso é uma mente em processo de decair de cristianism o para mera 'relig iã o '".2 Em Josué 10:15 e 21, podem-se encon­ trar fatos aparentem ente contraditórios. Por que o exército voltou até Gilgal se a batalha ainda não havia term inado? A melhor expli­ cação é apresentada no versículo 15, que com pleta a citação do Livro dos Justos ini­ ciad a no versícu lo 13b. O acam pam ento te m p o rá rio dos is ra e lita s situ ava-se em M aquedá, próxim o a Libna, e o exército não voltou a Gilgal até ter concluído a conquista da região central de Canaã. Josué chama o seu exército (vv. 16-28). No final de um a batalha incrível, Josué reali­ zou uma cerim ônia pública que deu ânimo e força a seus soldados. As vitórias passadas haviam garantido o controle sobre a região central da terra, mas Israel ainda tinha dian­ te de si cam panhas m ilitares, tanto no Sul quanto no Norte da Palestina. Josué usou a estratégia de "dividir e conquistar" e funcio­ nou. O líder de Israel desejava lem brar seus hom ens de que o Senhor lhes daria vitórias por toda a terra. Sabendo que os cin co reis encontravamse tem porariam ente presos num a caverna, Josu é os d eixou onde estavam e liderou seus hom ens num a "o p eração de lim peza", que o v e rsícu lo 2 0 d e scre ve co m o "ferir com mui grande m atança". A penas alguns dos soldados inimigos escaparam e fugiram para suas cidades, mas tendo em vista que, mais cedo ou mais tarde, estas tam bém se­ riam destruídas, não havia esperança algu­ ma para os fugitivos. Ao voltar para o acam pam ento, prova­ velm ente no dia seguinte, Josué ordenou que os reis fossem retirados da cavern a e co ­ locados no chão com o rosto em terra. Essa postura hum ilhante serviu para mostrar que Josué havia conquistado uma vitória absolu­ ta e que esses reis estavam perto do fim. O relato prossegue descrevendo com o Josué ordenou que seus oficiais colocassem os pés sobre o pescoço dos reis, um gesto sim boli­ zan do não apenas a vitó ria passada, mas tam bém as vitórias que o Senhor daria a seu povo no futuro. O s reis foram mortos, e os cinco co rp os foram pendurados em cinco árvo re s até o pôr-do-sol. Em seguida, os corpos foram colocados na caverna, cuja en­ trada foi fech ad a com várias pedras. Esse monte de pedras constituiu outro m onum en­ to de testemunho do poder e da vitória do Senhor. As palavras de Josué no versículo 25 de­ vem ter enchido de alegria o coração de seus valentes soldados. São palavras muito pare­ cidas com aquelas que D eus lhe falou no início de sua carreira com o líder do povo (Js 1:6-9). Um a vez que Josué é um tipo de Jesus Cristo, podem os aplicar essa cena e essas palavras a Cristo e a seu povo. Jesus derro­ tou todos os inimigos e, um dia, voltará e os destruirá para sem pre. Não im porta quanto se enfureçam ou se rebelem (Sl 2:1-3), os inimigos do Senhor não passam de estrado para seus pés (Sl 1 1 0 :1 ; 1 C o 1 5 :2 5 ). Por interm édio dele, podem os nos apropriar da vitória e co locar nosso pé sobre o pescoço de nossos inimigos (Rm 16:20). A o recapitular o episódio todo de Josué e dos gibeonitãs, é im possível não p e rce­ ber a ad vertência e o encorajam ento que essa passagem traz. O s a c o n te cim e n to s desse relato nos advertem sobre a n ecessi­ dade de vigiar e orar para que o inim igo não nos engane e para que não deixem os de agir pela fé e co m ecem o s a agir em fun­ ção das ap a rê n c ia s. D e ssa fo rm a, vam os J O S U É 9: 1 - 1 0 : 2 8 tom ar d e cisõ es erradas e fazer alianças pe­ rigosas. No entanto, a passagem tam bém traz uma palavra de ânim o: Deus pode tomar até nossos erros mais graves e transformálos em bênçãos. Isso não serve de desculpa para sermos descuidados, mas é um grande estímulo quando falham os com o Senhor e seu povo. "E esta é a vitória que vence o m undo: a nossa fé" (1 Jo 5:4). Ver Encycíopedía of Bible D ifficukies. Gleason L. Archer. Grand Rapids: Zondervan, 1982, pp. 161, 162. L e w is , C . S. M iracles. Nova York: M acm illan, 1960, p. 133. 63 I n t e r l ú d io J o s u é 1 0 :2 9 - 1 2 :2 4 sta seção do Livro de Josué apresenta um E resum o da conquista realizada por Israel das cidades do sul (Js 10:29-43) e do norte (Js 11:1-15) da Palestina e encerra com uma lista dos nom es de alguns reis derrotados por Israel (Js 1 1 :1 6 - 12 :2 4 ). É bem provável que no final de sua Bíblia haja um mapa das conquistas. Procure consultá-lo ao ler esses capítulos. H á duas coisas que se destacam neste relato: foi o Senhor quem deu a vitória (Js 10:30, 32, 42; 11:6, 8), e Josué obedeceu ao Senhor destruindo inteiram ente o inimigo, conform e M oisés havia ordenado (Js 11:9, 12, 15, 20). A única exceção foi Gibeão. A estratégia de Josué foi atravessar a ter­ ra em sua região central e dividi-la ao meio para, depois, conquistar as cidades do Sul e, po steriorm ente, as do N orte. Em m ais de um a ocasião, realizou ataques-surpresa so­ bre os inimigos (Js 1 0 :9 ; 11:7) e foi encora­ jado pelas prom essas do Senhor (Js 1 1 :6; ver 1:9; 8:1 ). Em Josué 10:29-35, encontram os o rela­ to do exército lutando nos contrafortes, mas no versículo 36, a cam panha desloca-se para as m ontanhas. A coalizão de reis do Norte não foi cap az de derrotar Israel, mesm o ten­ do um exército muito m aior que as tropas israelitas (Js 11:1 -9). A expressão "por muito tem po", no versí­ culo 18, indica um período de aproxim ada­ mente sete anos. Do fracasso de Israel em C ad es-B arn éia (D t 2 :1 4 ), qu and o C a le b e estava com 40 anos de idade (Js 14:7), até a travessia do rio Jordão, passaram-se trinta e oito anos. Q uand o a conquista chegou ao fim , C alebe estava com oitenta e cinco anos (Js 14:10), o que significa que essas cam pa­ nhas levaram pelo menos sete anos. O s an a q u in s m e n cio n a d o s em Jo su é 11:21, 22 eram uma raça de gigantes des­ c e n d e n te s de A n a q u e e que in sp iraram grande tem or nos dez hom ens incrédulos enviados a C an aã para espiar a terra (Nm 1 3 :2 2 , 28, 33). O s dois espias que tinham fé - Josué e C aleb e - não tem eram os ana­ quins, mas confiaram que o Senhor daria a vitória. O triunfo de Josué sobre os anaquins encontra-se registrado em Josué 11:21, 22 e o de C alebe em Josué 14:12-15. A c o n tra d iç ã o a p a re n te e n tre Jo su é 1 1 :23 e Josué 13:1 pode ser explicada com facilidade. Josué e seu exército assumiram o controle da terra ao destruírem as cidades mais im portantes bem com o seus reis e ha­ bitantes. Israel não tomou todas as cidades pequenas nem matou todos os habitantes e governantes da terra, mas fez o suficiente para rom per o dom ínio do inimigo. Um a vez term inada essa prim eira fase, houve descan­ so na terra, e Josué pôde dar a cada tribo sua respectiva parte da herança, sendo que cada tribo era responsável por term inar de subjugar os cananeus que se encontrassem em seu território. M esm o depois da morte de Josué e de seus oficiais, ainda havia ter­ ras a conquistar em C anaã (Jz 1 - 3). Josué 12 apresenta uma lista de trinta e três reis, co m e çan d o com Seom e O gu e, cujas terras ficavam a leste do Jordão e ha­ viam sido conquistadas sob a liderança de M o is é s (Js 1 2 :1 - 8 ; Nm 2 1 :2 1 - 3 5 ). O s dezesseis reis derrotados na cam panha do Sul são relacionados em Josué 12:9-16 e os q u inze reis do Norte ap arecem nos versí­ culos 17-24. Voltem os agora à divisão da terra entre as tribos (caps. 13 - 21 ), a fim de descobrir verdades espirituais que devem os aprender e aplicar ao nos apropriarm os de nossa he­ rança espiritual em Jesus Cristo. 10 E sta T er ra É N o s s a ! Jo sué 1 3 - 2 1 osué havia com pletado com sucesso a pri­ m eira parte de sua com issão divina: havia conquistado o inimigo e assum ido o co n­ trole da terra e das cidades (Js 1:1-5). Restava-lhe com pletar a segunda parte e dividir a terra de modo que cada tribo se aproprias­ se de sua herança e desfrutar o que Deus havia lhes dado (Js 1 :6) (ver Nm 34 - 35). A palavra "herança" aparece mais de cin­ qüenta vezes nestes nove capítulos e é um termo de grande im portância. O s israelitas nerdaram a terra. Não a obtiveram com o des­ pojo de batalha nem a com praram num a transação co m e rcial. O Senhor havia lhes dado a seguinte instrução: "Tam bém a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é m inha; pois vós sois para mim estran­ geiros e peregrinos" (Lv 2 5 :2 3 ). Imagine ter Deus com o proprietário do lugar onde você mora! C om o "aluguel", Deus requeria apenas que Israel obedecesse à sua lei. Enquanto o povo de Israel honrasse o Senhor com sua adoração e obediência, ele os abençoaria, tornaria suas terras produtivas e manteria a J nação em paz com os vizinhos. Q uand o Is­ rael concordou com as bênçãos e m aldições da aliança nos m ontes G e rizim e Ebal (Js 8:30-35), aceitou as condições do pacto cha­ mado de "A liança Palestina". Seu direito de D ropriedade sobre a terra era um ato da mais pura graça de D eus, mas a po sse e usufruto da terra dependiam de sua sujeição e obe­ diência ao Senhor (ver Lv 26 e Dt 27 - 30 oara mais detalhes sobre a A liança Palestina). A Terra Prom etida era um a dádiva do amor de D eus, e se os israelitas am avam o Senhor, iriam lhe o bedecer e agradar ao usar a terra que receberam (D t 4:37-39). Infeliz­ mente, o povo acabou se rebelando contra o Senhor, desobedecendo à lei e profanando a terra, e D eus teve de disciplinar os israelitas no cativeiro da Babilônia. A distribuição da terra é dividida em qua­ tro estágios principais e, em cada um deles, podem os encontrar lições espirituais para o povo de Deus nos dias de hoje, para os cris­ tãos que d e se ja m d e sfru ta r sua h era n ça espiritual em C risto . Ao estudar esses c a ­ pítulos, sugiro que co nsu lte um m apa da Terra Santa que m ostre as fronteiras entre as tribos e, tam bém , as cidades que apare­ cem no texto. 1 . A D IVISÃO em G il g a l d o s t e r r it ó r io s r e a l iz a d a (Js 13:1 - 17:18) Gilgal foi o centro operacional de Israel ao longo de toda a conquista de C anaã. Poste­ riorm ente, Josué mudou o acam pam ento e o tabernáculo para Siló, um lugar mais cen ­ tral (Js 18:1). N ão sab e m o s exa ta m e n te qual era a idade de Josué a essa altura da história de Israel, apesar de ser possível que tivesse até uns 100 anos. C alebe estava com 85 anos (Js 14 :1 0 ), e é bem provável que Josué fosse o mais velho dos dois. Josué viveu 110 anos (Js 2 4 :1 9 ), e os acontecim entos descritos na segunda m etade do livro podem , muito bem, ter levado mais de dez anos. O sistema de divisão dos territórios em C an aã é apresentado em Josué 14:1, 2. O sumo sacerdote Eleazar, Josué e um repre­ sentante de cada tribo (Nm 34:13-29), lan­ çaram so rtes p eran te o S e n h o r e, desse modo, determinaram sua vontade (Pv 16:33). Esse sistema foi alterado quando Josué trans­ feriu o acam pam ento para Siló (Js 18:1-7). A s duas tribos e meia a leste do Jordão (1 3 :1 -3 3 ). Rúben, G ad e e a meio tribo de M anassés haviam concordado em ajudar as outras tribos na conquista da terra antes de voltarem para o leste do Jordão a fim de usu­ fruir sua herança (Nm 32). Essas tribos haviam pedido terras fora dos limites de C anaã, pois a região Leste era especialm ente apropria­ da para criar gado. O fato de essas duas tri­ bos e meia não estarem vivendo dentro da 66 JOSUÉ 1 3 - 2 1 terra determ inada por D e u s não pareceu m otivo de preo cu p ação para elas. M oisés usou de bondade com essas tribos e permitiu que escolhessem suas terras e se assentas­ sem desse lado do Jordão. Q u an d o estuda­ mos o capítulo 22 de Josué, descobrim os que, apesar de essa escolha ter sido boa para a criação de gado, gerou sérios problem as para seus filhos. As duas tribos e meia tornaram-se uma espécie de "pára-choques" entre os israelitas em C an aã e as nações pagãs com o M oabe e A m o m . Fica claro que se encontravam num a lo c a liz a ç ã o extre m am e n te v u ln e rá ­ vel, tanto para ataques militares com o para influências pecaminosas, e esses dois aspec­ tos negativos acabaram levando à sua que­ da (1 C r 5 :2 5 , 2 6 ). O texto ap resen ta os lim ites para Rúben ao sul (Js 13:15-23), o espaço para a meia tribo de M anassés ao norte (Js 13:29-32) e G ad e encaixada entre os dois territórios (Js 13:24-28). Lição n. 1. Não se torne um "cristão limítrofe". Entre na herança que Deus lhe indicar e regozije-se nela. "Escolheu-nos a nossa herança, a glória de Jacó, a quem ele ama" (Sl 47:4). A vontade de Deus é a expressão do amor divino e é sempre o melhor para nós. U m a vez que a tribo de Rúben tomou seu território de M oabe, seria lógico m encionar a h istó ria de Balaão n essa passagem (Js 13:22, 23 ; ver Nm 22 - 25). Q uand o Balaão viu que suas m aldições sobre Israel estavam sendo transformadas por Deus em bênçãos, aconselhou Balaque a ser amigável com os israelitas e a convidá-los para uma das festas religiosas m oabitas. C o m o resultado desse "in te rcâm b io ", hom ens israelitas tom aram para si m ulheres moabitas e, desse modo, transgrediram a lei de D eus. O que Satanás não conseguiu fazer com o um leão, am aldi­ çoando Israel, realizou com o uma serpente, seduzindo Israel e levando seus hom ens a fazer concessõ es pecam inosas. A o longo deste ca p ítu lo , so m o s lem ­ brados, em quatro ocasiões, de que os levi­ tas não receberam herança alguma da terra (Js 13:14, 3 3 ; 14:3, 4; 18:7), pois o Senhor era sua herança (D t 18:1-8; 10:8, 9; Nm 18). O s sacerdotes recebiam determ inadas por­ ções dos sacrifícios com o form a de em olu­ m ento, e tanto os sace rd o te s quanto os levitas dividiam os dízim os e ofertas especiais que o povo deveria levar ao tabernáculo. No entanto, é possível que haja outros fatores envolvidos na dispersão da tribo de Levi. D entre outras coisas, D eus não queria que as responsabilidades tribais distraíssem os sacerdotes e levitas, pois desejava que se dedicassem inteiramente ao serviço dele (ver 2 Tm 2 :4 ). A lém disso, queria que fossem "sal e luz" na terra, que vivessem no meio do povo e que ensinassem a lei. Sim eão e Levi tam bém foram dispersos em cu m p ri­ m ento à profecia de Jacó (G n 49:5-7, ver cap. 34). Sim eão acabou tornando-se parte de Judá. A s du a s trib o s e m eia a o este d o Jo rd ã o (1 4 :1 - 17:18). As próxim as tribos a serem assen tadas foram Jud á, ao sul (Js 1 4 :6 1 5 :6 3 ); Efraim, na região central da terra (Js 16:1-10), e a outra m etade de M anassés, ao norte (Js 1 7:1-18). U m a v ez que C alebe era da tribo de Judá (Nm 1 3 :3 0 ) e havia sido um dos espias fiéis, recebeu sua herança primeiro. Josué, outro espia fiel, foi o último a receber sua herança (Js 1 9 :4 9 -5 1 ). C a le b e lem brou seu am igo Josué da prom essa que M oisés havia lhes feito quarenta e cin co anos antes (Nm 14:24, 30; Dt 1 :34-36) de que sobreviveriam os anos vagando pelo deserto e receberiam sua he­ rança na terra. Essa prom essa deu alegria e coragem a Josué e C alebe durante os anos que vagaram pelo deserto e esperaram . Lição n. 2. Anime-se com sua jornada de peregrino! Você já recebeu sua he­ rança em Cristo e pode apropriar-se de "toda a sorte de bênçãos espirituais" (Ef 1:3). Tendo em vista que possui uma herança gloriosa a sua espera (1 Pe 1:36), continue olhando para cima! O me­ lhor ainda está por vir! C alebe estava com 85 anos, mas não pro­ curou um a tarefa mais fácil, apropriada para JOSUÉ 1 3 - 2 1 um "hom em de idade". Pediu a Josué m on­ tanhas para escalar e gigantes para conquis­ tar! O Senhor era a fonte de sua força e ele sabia que D eus jam ais o ab an d o naria. O segredo da vida de C aleb e pode ser enco n­ trado na o ração que se repete seis vezes nas Escrituras: "perseverara em seguir o S e­ n h o r , D eus de Israel" (Js 14 :1 4 ; ver também Nm 1 4 :2 4 ; 3 2 :1 2 ; Dt 1:36 ; Js 14:8, 9). C alebe era um vencedor porque depositava sua fé no Senhor (1 Jo 5:4). Lição n. 3. Nunca somos velhos demais para realizar novas conquistas pela fé e com o poder do Senhor. Assim como Calebe, podemos tomar montanhas e subjugar gigantes, se seguirmos ao Se­ nhor de todo o coração. Não importa quão avançada seja a nossa idade, não devemos jamais nos aposentar da con­ fiança no Senhor e do serviço a ele. Em Josué 1 5:13-1 9, vem os C aleb e provendo para a geração seguinte. Parte da ousada fé de C aleb e foi transm itida a seu genro, O tniel, que posteriorm ente se tornou ju iz na terra (Jz 3:7-11). Sua fé tam bém exerceu influência sobre a filha, que a dem onstrou pedindo um cam po ao pai e, depois, nas­ cen tes para irrigar a terra. O exe m p lo de fé deixado por C alebe foi mais precioso pa­ ra sua fam ília do que as terras que tomou para seus descendentes. Lição n. 4. A geração mais antiga deve prover para a geração seguinte não ape­ nas sustento material, mas acima de tudo espiritual. Os cristãos mais idosos devem ser exemplos de fé e encorajar a gera­ ção mais jovem a confiar no Senhor e a segui-lo de todo o coração. ■\ herança do restante da tribo de Judá é descrita em Josué 1 5:1-12 e 1 5:21-63. Não sabem os ao certo o m otivo de o versículo 32 falar de vinte e nove cidades, quando, na verdade, foram citadas trinta e seis, mas talvez os nom es de alguns "vilarejos" fora dos m uros da cid ad e tenham sido in clu í­ dos na lista. N essa ocasião, os israelitas não 67 co n seg u iram to m ar Jeru salé m (Js 1 5 :6 3 ). Posteriorm ente, chegaram a controlar a ci­ dade durante algum tempo (Jz 1:8), e, por fim, Davi tomou-a em definitivo e fez dela sua capital (2 Sm 5:6-10). Efraim e M anassés eram os filhos de José "adotados" por Jacó e receberam dele uma bênção especial (G n 48:1 5-22). U m a vez que a tribo de Levi não recebeu território algum, essas duas tribos com pensaram a diferença, de modo que Israel continuou dividida em d o ze tribos. A ordem de n ascim ento era "M anassés e Efraim" (Js 1 6 :4 ; 1 7:1), mas Jacó inverteu-a. D eus não aceita nosso primeiro nascim ento e nos faz nascer de novo. Ele rejeitou C aim e aceitou A bel; rejeitou Ismael e aceitou Isaque, o segundo filho de Abraão; rejeitou Esaú e aceitou Jacó . Em Israel, os filhos primogênitos herda­ vam as propriedades, mas as filhas de Zelofe a d e p ro v id e n cia ra m para que as filhas m ulheres não sofressem d iscrim inação (Js 17:3-6; Nm 27:1-11). Assim com o a filha de C alebe, essas mulheres tiveram fé e coragem de pedir sua herança e conseguiram até mu­ dar a lei! Lição n. 5. Deus deseja dar a seu povo a herança que reservou para ele. "Nada tendes porque não pedis" (Tg 4:2). Em Jesus Cristo, todos os cristãos são um e são também herdeiros de Deus (Cl 3:2629). Nada do nosso primeiro nascimen­ to deve servir de empecilho para nos apropriarmos de tudo o que temos em Jesus Cristo. Josué teve problemas com os filhos de José (Efraim e M anassés), pois eles se queixaram de que o Senhor não lhes havia dado espaço suficiente (Js 17:14-18)! Pode-se sentir seu orgulho quando disseram a Josué que eram um "grande povo". Afinal, não haviam sido adotados pessoalmente por Jacó e recebido dele uma bênção especial? Não haviam se multiplicado grandemente? E Josué não era da tribo de Efraim (Nm 13:8)? Eram um povo especial que merecia tratamento especial. Ao com parar as estatísticas apresentadas em Números 1:32-35 e Números 2 6 :3 4 e 37, 68 J O S U É 13 - 21 vê-se que os descendentes de José haviam aum entado de 7 2 .7 0 0 para 8 5 .2 0 0 , apesar de Efraim ter oito mil pessoas a m enos. Po­ rém, seis outras tribos tam bém haviam cres­ A essa altura, Josué e os dem ais líderes com eçaram a usar outro sistema de divisão das terras. Cad a uma das sete tribos nomeou três hom ens, e esses vinte e um homens per­ cido desde o último censo. Assim , os filhos de José não eram os únicos israelitas férteis. Josué disse a seus irmãos que aquela era a o p o rtu n id a d e de p ro var que eram um "grande povo"! Q u e fizessem , então, com o C aleb e e derrotassem gigantes e se ap ro­ priassem das montanhas! É interessante ob­ servar que as tribos de Efraim e M anassés pareciam ter uma tendência à crítica e ao orgulho. Não criaram problemas apenas para Josué, mas também para G id eão (Jz 8:1-3), Je fté (Jz 1 2:1-7) e até m esm o para D avi (2 Sm 20:1-5). "Pois, onde há inveja e sen­ timento faccio so , aí há confusão e toda es­ pécie de coisas ruins" (Tg 3:1 6 ). correram os territórios que ainda restavam e fizeram uma lista das cidades e m arcos, des­ crevendo cada parte da terra. Levaram essa inform ação de volta a Josué, que dividiu as partes que cabiam a cada uma das sete tribos restantes lançando sortes diante do Senhor. Lição n . 6. Não é seu orgulho, mas sim, sua fé que lhe dá a vitória e a posse de novos territórios. Por vezes, aqueles que mais falam são os que menos fazem. 2. A D IV ISÃO DE TERRITÓ RIO S Siló (Js 18:1 - 19:51) REALIZADA em C in co tribos haviam recebido sua herança q u and o Jo su é, E le azar e os d o ze líderes tribais lançaram so rte s em G ilg a l. A ssim , Josué mudou o acam pam ento para Siló, no território de Efraim, onde o tabernáculo per­ m aneceu até que D avi transportou a arca para Jerusalém (2 Sm 6). É bem provável que o Senhor tivesse orientado Josué a fazer essa m udança, do contrário não teria acon­ tecid o (D t 1 2 :5 -7 ). Siló estava lo c a liz a d a numa região central e mais conveniente para todas as tribos. Ainda era preciso dem arcar os territórios de sete tribos, e, ao que parece, não res­ ponderam prontam ente a esse desafio. Ao co ntrário de C aleb e e das filhas de Zelofeade, essas tribos não tinham fé nem zelo espiritual. Haviam lutado nas batalhas e der­ rotado o inimigo, mas hesitaram em tomar posse de sua herança e em desfrutar a terra que Deus lhes havia dado. " O preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do hom em é ser ele diligente" (Pv 12:27). U m a v e z que Benjam im era irm ão de José por parte de pai e mãe, recebeu o terri­ tório adjacente a Efraim e M anassés (Js 18:1128). Sim eão dividiu sua herança com Judá (Js 19:1-9; ver G n 4 9 :7 ) e acabou habitando as cidades designadas para Judá em Josué 15:21 ss. O s filhos de José queriam mais ter­ ritórios, mas não estavam dispostos a lutar por eles pela fé, enquanto o povo de Judá tinha tantas terras que as dividiu com Simeão. Q u e contraste! A região ao norte de M anassés foi de­ signada para Z ebulom (Js 19:10-16), Issacar (Js 19:17-23), A ser (Js 19:24-31) e Naftali (Js 19:32-39). Z eb u lo m e Naftali tornaram-se, posteriorm ente, a "G aliléia dos gentios" (M t 4:1 5, 16), onde Jesus ministrou enquanto es­ tava aqui na terra. O "m ar de Q u in e rete" (ver Js 1 2 :3 ; 13:27) é o mar da G aliléia. A palavra hebraica chinnereth quer d izer "har­ pa", pois o mar da G aliléia tem o formato de uma harpa. A última tribo a receber suas terras foi Dã (Js 19:40-48), que se pôs im ediatam ente a trabalhar para expandir esse território. Dã e Benjam im form aram um "cin tu rã o " que atravessava a terra, ligando o mar M orto ao M editerrâneo. C om o líder, Josué esperou até que a di­ visão estivesse com pleta para tomar posse, em seguida, de sua herança, e o Senhor lhe deu a cidade de Timnate-Sera (vv. 49, 50). Assim com o seu amigo C alebe, Josué prefe­ riu viver na região m ontanhosa da terra. 3. A SEPARAÇÃO DAS CID AD ES DE R EFÚ G IO (Js 20:1-9) Q u an d o a nação ainda estava do outro lado do Jordão, D eus disse a M oisés que o povo deveria separar cidad es esp eciais para os JOSUÉ 1 3 - 2 1 levitas (Nm 35:1-5) bem com o seis "cidades de refúgio" (Êx 2 1 :13 ; Nm 35:6-34; Dt 19:1! 3 1. Um a vez que as tribos haviam recebido seus territórios, Josué pôde separar essas cidades. M esm o antes da lei de M oisés, Deus ha­ via determ inado a regra básica segundo a qual aquele que derram asse sangue deveria pagar pelo crim e com o próprio sangue (G n 9:5, 6). Esse princípio foi enunciado repeti­ damente na lei, mas Deus fez distinção en­ tre hom icídio doloso e hom icídio culposo É\ 2 1 :1 2 -1 4 ; Lv 2 4 :1 7 ; Nm 3 5 :1 6 -2 1 ; Dt 19:11-1 3). "Assim , não profanareis ate rra em que estais; porque o sangue profana a terra; nenhum a exp ia çã o se fará pela terra por causa do sangue que nela for derram ado, senão com o sangue daquele que o derra-nou. Não contam inareis, pois, a terra na qual vós habitais" (Nm 3 5 :3 3 , 34). As seis "cidades de refúgio" eram neces­ sárias na sociedade daquela época pois não existia polícia para investigar os crim es. Era responsabilidade de cada fam ília providen­ ciar a vingança pelos hom icídios, mas com o saber se se tratava de um hom icídio prem edi­ tado ou acidental? No calor da ira, um paren­ te da vítim a poderia matar alguém que, na verdade, era inocente de um crime capital. Josué separou três cidades de refúgio de cada lado do rio Jo rd ão . D o lado oeste, Q uedes ficava no extrem o norte, no territó­ rio de Naftali; Siquém ficava no meio da terra. na tribo de M anassés, e Hebrom ficava ao sul, na tribo de Judá. Do lado leste do jordão, as cidades separadas foram G o lã, ao Torte, no território de M anassés; Ram ote, em G ad e; e Bezer, no extrem o sul, na tribo cie Rúben. U m a v e z que a Terra Santa inteira é menor que o Estado de Sergipe, natural­ mente ninguém vivia muito distante de uma ad a d e de refúgio. A lei era bastante simples. Q ualqu er um cu e matasse outra pessoa poderia fugir para --na cidade de refúgio e ser protegido do V n g a d o r de sangue" até os anciãos da ci­ dade investigarem as circu n stâncias. Caso oecidissem que o fugitivo era culpado, ele e^a executado. Porém , se concluíssem que se tratava de um caso de hom icídio culposo 69 (acidental), então o fugitivo poderia viver na cidade e ser protegido do vingador. Na oca­ sião da morte do sumo sacerdote, o fugitivo estava livre para voltar para casa. Nesse caso, abria-se mão da liberdade a fim de salvar a própria vida. Vários estudiosos vêem nas cidades de refúgio um retrato de nossa salvação em Cris­ to, para o qual "co rrem o s p a ra'o refúgio" (H b 6 :1 8 ). É evidente que o pecador corre o risco de ser julgado, pois "o salário do peca­ do é a m orte" (Rm 6 :2 3 ). O vingador de san­ gue está atrás dele! O Salvador que nos foi designado por D eus é Jesus Cristo (At 4 :1 2 ), mas o pecador deve ir até ele pela fé a fim de ser salvo (M t 11:28-30; Jo 6 :3 7 ). M anti­ nha-se fácil acesso a cada cidade de refúgio, havendo estradas bem cuidadas e sinaliza­ das (D t 19:3). Deus queria facilitar aos fugi­ tivos encontrar o cam inho para a segurança. A lém disso, trata-se de um retrato co n ­ trastante. Q uand o buscam os a salvação em Cristo, não há necessidade de investigação nem de julgam ento, pois sabem os que so­ mos culpados e adm itim os nossa culpa! As únicas pessoas que Jesus pode salvar são as que confessam sua culpa e se entregam à m isericórdia do Senhor. Se o fugitivo deixasse a cidade de refú­ gio antes do tempo, podia ser morto, mas nossa salvação em Cristo é incond icional. Nosso Sum o Sacerdote jam ais m orrerá, e es­ tarem os seguros para sempre. "Este, no en­ tanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio im utável. Por isso, também pode salvar totalm ente os que por ele se chegam a D eus, vivendo sem pre para inter­ ceder por eles" (H b 7:24, 25). E interessante observar o significado do nome de cada cidade. Na seqüência em que aparecem em Josué 2 0 :7 , 8, temos Q uedes = "retidão"; Siquém = "om bro"; Hebrom = "com unhão "; B ezer = "fortaleza" ou "forte" e R am o te = "a ltu ra s". O s e stu d io so s do h e b ra ic o não a p re se n ta m um c o n se n so quanto ao significado de G olã, mas de acor­ do com o C esen iu s Lexicon, o term o quer dizer "exilado". Esses n o m es po dem ser u sad o s para d e scre ve r as e x p e riê n cia s dos p ecad ores JOSUÉ 1 3 - 2 1 70 quando buscam refúgio em Jesus pela fé. Em prim eiro lugar, ele lhes dá retidão, e não podem ser acusad o s n ovam ente. N ão há condenação (Rm 8:1)! Assim com o um pas­ com um a quantidade e sp e cífica de terras para pastagem (Nm 35:1-5). O s levitas não poderiam vender essas terras, mas as casas sim, e tinham até privilégios especiais para tor faz com suas ovelhas, ele os carrega sobre os om bros, e eles passam a ter com unhão com Cristo. Ele é sua fortaleza, onde estão resgatar suas propriedades (Lv 2 3 :3 2 , 34). Nem sem pre há co ncord ância entre as duas listas de cidades levíticas que chega­ ram até nós e que se encontram em Josué 21 e 1 Crônicas 6:54-81, mas os nomes das cidades e sua grafia mudaram ao longo dos anos, e é possível que, de tempos em tem­ pos, fo ssem e sco lh id a s novas cid a d e s, e outras mais antigas fossem abandonadas. Havia quarenta e oito cidades levíticas, sendo que seis delas eram tam bém cidades de refúgio. C ad a uma das tribos contribuiu com quatro cidades, exceto Judá e Sim eão que, juntas, contribuíram com nove e Naftali com apenas três. O s descendentes dos três filhos de A rão - C oate, G érson e M erari foram designados para as várias cidades, ape­ sar de esses locais tam bém serem habitados por outros israelitas. Em Núm eros 2 6 :6 2 , o escritor afirm a que havia vinte e três mil levi­ tas antes de Israel entrar na terra, um grupo grande a ser distribuído entre quarenta e oito cidades. seguros. Habitam nas alturas apesar de se­ rem exilados, peregrinos e forasteiros neste m undo. Lição n. 7. A menos que tenhamos nos refugiado em Jesus Cristo pela fé, não somos salvos e nem nos encontramos em lugar seguro! Uma vez que nossos pecados levaram Jesus a morrer na cruz, somos todos culpados de sua morte. Ele é o único Salvador, e sem fé em Jesus não há salvação. Você já se refugiou em Cristo? Antes de encerrar este tem a, devem os obser­ var que existe também uma aplicação para a nação de Israel. O povo era culpado de matar Jesus Cristo, mas se tratava d e um p e ­ ca do p o r ignorância (At 3:12-18). Q uand o Jesus orou na cru z: "Pai, perdoa-lhes, por­ que não sabem o que fazem " (Lc 2 3 :3 4 ), estava declarando que aquele era um caso de hom icídio culposo e não doloso (1 Co 2 :7 , 8). Estava aberto, portanto, o cam inho para o perdão, e Deus deu à nação quarenta anos para se arrepender antes de executar seu julgam ento. Esse mesm o princípio aplicou-se ao apóstolo Paulo (1 Tm 1:12-14). Porém , hoje, nenhum pecador pode se di­ zer ignorante, pois Deus declarou o m undo inteiro culpado e injustificável (Rm 3:9-19). 4. A SEPARAÇÃO (Js 21:1-45) DAS CID AD ES LEVÍTICAS C om o observam os anteriorm ente, a tribo de Levi não recebeu um território, mas foi dis­ persa por toda a terra. D esse m odo, seria capaz de ensinar a lei ao povo e de servir de influência positiva para que cada tribo fosse fiel ao Senhor. Porém , os levitas preci­ savam de lugares para morar e de pastos para seus rebanhos. Assim , D eus designou qua­ renta e oito cidades para eles, juntam ente Era importante que Israel tivesse pessoas q u a lificad a s e a u to riza d a s a m inistrar no tabernáculo e, posteriormente, no templo, e não devemos jam ais subestimar o ministério de ensino dos sacerdotes e levitas (2 C r 1 7:79). Um a vez que o povo em geral não pos­ suía cópias das Escrituras, era importante que os levitas se identificassem com as pessoas e que lhes exp licassem a lei. Essas cid ad es levíticas tam bém ficavam localizadas de tal modo que ninguém se encontrava longe de­ mais de um homem que pudesse ajudá-lo a com preender e a aplicar a lei de M oisés. Essa seção extensa do Livro de Josué se encerra com três declarações maravilhosas. Em prim eiro lugar, Deus foi fiel e deu a terra a Israel (Js 2 0 :4 3 ). M anteve a aliança que havia feito prim eiro com A braão (G n 12:7) e depois com seus descendentes. Em segundo lugar, Deus deu a Israel a vitória sobre todos os seus inimigos e, em seguida, concedeu a seu povo o descanso de toda guerra (Js 2 0 :4 4 ; ver 1 :1 3 ,1 5; 1 1 :23). JOSUÉ 1 3 - 2 1 A q u ilo que os d e z esp ias in cré d u lo s em C a d e s-B a rn é ia afirm a ra m ser im p o ssív e l acontecer foi exatam ente o que ocorreu, pois Josué e o povo creram em D eus e o bedece­ ram à sua Palavra. Em terceiro lugar, Deus cumpriu suas pro­ messas (Js 2 0 :4 5 ). No final de sua vida, Josué lem brou o povo d e sse fato (Js 2 3 :1 4 ), e Salom ão tam bém trouxe essa realidade de volta à m em ória na consagração do templo (1 Rs 8:5 6 ). 71 C om o povo de D eus, devem os nos apro­ priar dessas certezas pela fé. A aliança de Deus co no sco não falhará; o poder e a sabe­ doria de Deus nos dão vitória sobre todos os inimigos; e, quaisquer que sejam as cir­ cunstâncias, podem os confiar nas prom es­ sas de Deus. A aliança, o poder e as prom essas de Deus são recursos espirituais dos quais de­ vem os depender ao tom ar posse de nossa herança em Jesus Cristo. 11 Q uando a T er m in a B atalha Jo su é 2 2 o dia 8 de maio de 1945, os Estados Unidos ouviram o pronunciam ento do Presidente Truman no rádio anunciando: "D e acordo com a inform ação que recebi do ge­ N neral Eisenhower, as tropas alem ãs se ren­ deram às N ações U nidas. As bandeiras da liberdade trem ulam sobre toda a Europa". Lembro-me do dia 14 de agosto de 1945, quando o centro de nossa cidade ficou abar­ rotado de gente, e pessoas que não se co­ nheciam se abraçavam e gritavam de alegria. O s japo neses haviam conco rd ado com os termos de rendição dos A liados e a guerra havia chegado ao fim. M eus dois irmãos, que eram fuzileiros navais, estavam voltando para casa! O s soldados das tribos de Rúben, G ad e e da meia tribo de M anassés devem ter se sentido especialm ente eufóricos quando ter­ minaram as conquistas israelitas em C anaã. D urante mais de sete anos, ficaram longe de suas famílias do outro lado do Jordão e, naquele m om ento, os soldados vitoriosos po­ deriam voltar para casa. O retorno, porém , não se deu livre de incidentes. Na verdade, por melhores que te­ nham sido suas intenções, aquilo que fizeram quase provocou outra guerra. Vejam os o que ocorreu e as lições que tais acontecim entos podem nos ensinar. 1. Sua d is p e n s a h o n r o s a (Js 22:1-8) "Im b atível na d e rro ta; insu p o rtável na v i­ tória." Foi assim que Sir W inston Churchill descreveu um oficial fam oso do exército bri­ tânico na Segunda G uerra M undial. A pri­ m eira parte da d e scriçã o serve bem para Josué, pois ele sabia ser vitorioso em meio às derrotas. A outra, porém , não se aplica de modo algum ao líder israelita, pois, em seu cargo de co m andante do exército do Senhor, Josué era m agnânim o em sua for­ ma de tratar os soldados depois da vitória. Há um provérbio italiano que diz: "É o san­ gue do soldado que engrandece o general". M as esse general engrandeceu seus solda­ dos! Pode-se ver isso claram ente por suas atitudes quando dispensou as tribos que vi­ viam do lado leste do Jordão. Josué os elogiou (vv. 1-3). As duas tri­ bos e meia haviam prom etido a M oisés que perm aneceriam no exército até que a terra fosse conquistada e cum priram sua prom es­ sa (Nm 32 ; Dt 3:12-20). D epois da morte de M o isés, juraram a m esm a leald ade a seu novo líder, Josué (Js 1:12-18). Essas tribos haviam sido leais a M oisés, a Josué e a seus irm ãos das outras tribos. "A vossos irm ãos, durante longo tem po, até ao dia de hoje, não desam parastes; antes, tivestes o cuida­ do de guardar o m andam ento do S e n h o r , vosso D eus" (Js 2 2 :3 ). Por que haviam sido tão fiéis em seu co m ­ prom isso com os líderes e com os outros soldados? Porque eram, antes de tudo, fiéis ao Senhor seu D eus. Estavam levando adian­ te a missão d o Sen h o r e era o nom e dele que procuravam glorificar. Q u an d o servim os ao Senhor, nossa devoção a ele deve ficar muito acim a de nossa dedicação a um líder, a uma causa ou mesm o a uma nação. "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, com o para o Senhor e não para hom ens, cientes de que recebereis do Senhor a re­ com pensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo" (Cl 3 :2 3 , 24). Josué os dispensou (v. 4). T en d o co n ­ cluído sua missão e cum prido sua prom es­ sa, as tribos poderiam voltar para casa, pois D eus havia dado descanso a seu povo. O conceito de descan so é im portante no Livro de Josué e significa muito mais do que o fim das guerras. A palavra tem a conotação de vitória e de segurança e inclui a déia de Is­ rael ter, na terra, seu "lugar de descanso". D eus prom eteu dar descanso a seu povo (Êx 3 3 :1 4 ; Dt 12:9, 10; 2 5 :1 9 ; Js 1:13, 15) e J O S U É 22 cu m p riu sua p ro m e ssa (Js 1 1 :2 3 ; 1 4 :1 5 ; 2 1 :4 4 ; 2 2 :4 ; 2 3 :1 ). A a p lica çã o espiritual desse d e sca n so para o povo de D eu s hoje é apresentada em H ebreus 3 e 4. Q u an d o crem os em C ris­ to com o nosso Salvador, entram os no d e s­ ca nso, pois não estam os m ais em guerra com D eus (Rm 5 :1 ). Q u an d o nos entrega­ mos com p letam ente a ele e nos apropria­ mos de nossa h era n ça pela fé, entram os num descanso ainda mais profundo e des­ frutam os riq uezas espirituais em C risto (ver Mt 1 1:28-32 para o co n v ite do S en h o r). Q u a n d o b u sca m o s o S e n h o r, ele nos dá descanso. Q u an d o tom am os seu ju g o de d iscipu la do, encontram os um descanso ain­ da mais profundo. Imagine a volta desses soldados depois de tantos anos longe do lar! Pense no am or que e x p e rim e n ta ria m , nas a le rg ia s que encontrariam , nos tesouros que com partilha­ riam ! Esse é um retrato em escala m uito pequena do que acontece quando os filhos de Deus entram no descanso que ele dá aos que se en tregam a ele e crê em em sua Palavra. Josué os adm oestou (v. 5). C om o todo bom líder, Josué estava preocupado, acim a de tudo, com a vida espiritual do povo. O exército havia exp e rim en tad o vitó rias em Canaã, pois Josué am ava ao Senhor e obe­ deceu à sua Palavra (Js 1 :7, 8), e esse seria o "segredo revelado" da paz e da prosperida­ de contínuas em Israel. Assim com o haviam sido diligentes na batalha, obedecendo a seu com andante, deveriam ser diligentes em sua adoração, obedecendo ao Senhor seu Deus. 73 "Se me am ais, guardareis os meus manda­ m entos" (Jo 14:15). Josué os abençoou (vv. 6-8). Fazia parte do m inistério do sumo sacerdote abençoar o povo de Deus (Nm 6:22-27), mas qualquer pessoa do povo poderia invocar as bênçãos de Deus sobre outros, especialm ente um lí­ der sobre o povo ou um pai sobre a família (G n 2 7 :4 ; 4 8 :9 ; 2 Sm 6 :1 8 , 20 ; 1 Rs 8 :5 5 ). Q u e m aravilha ver um general pedindo as bênçãos de Deus sobre seus soldados! Essa bênção incluía a divisão dos ricos despojos de guerra com eles e com os mem­ bros de suas famílias do outro lado do Jordão. Era costum e em Israel dividir os despojos com aqueles que haviam ficado em casa e com os que, por algum bom motivo, foram im p ed id o s de p a rticip a r da batalh a (Nm 31:25-27; 1 Sm 30:23-25). Afinal, essas pes­ soas protegeram as cidades e m antiveram a com unidade em funcionam ento, enquanto os hom ens lutavam, e era mais do que justo com partilhar as riquezas com elas. Sem dúvida, para as duas tribos e meia que viviam do lado leste do Jordão, foi uma dispensa honrosa. 2 . S ua p r e o c u p a ç ã o s in c e r a (Js 22:9, 10) e em o bedecer a todos os seus m andam en­ tos. Em vez de tentarem servir a dois senho­ res, deveriam apegar-se ao Senhor e servir A o se dirigirem para o leste, os homens de Rúben, G ad e e da meia tribo de M anassés passaram pelos m arcos que lhes trouxeram à m em ória as grandes coisas que Deus ha­ via feito por eles e com eçaram a sentir-se perturbados. Por mais felizes que se sentis­ sem por estar voltando para casa, não era fácil despedir-se dos irm ãos e deixar para trás a proxim idade do sacerdócio e do taberná­ cu lo. Estavam d eixan do a terra que D eus havia prom etido abençoar. Por certo, iriam para casa, para a terra que haviam escolhi­ do para si, mas, de algum modo, co m eça­ ram a sentir-se isolados do resto de Israel. Ao ler e refletir sobre Núm eros 32, podese ver que não há registro algum de M oisés somente a ele de toda a alma e de todo o coração. Jesus afirm ou que esse era o pri­ meiro e m aior de todos os m andam entos Mt 2 2 :3 6 -3 8 ); portanto, desobedecer-lhe seria com eter o m aior de todos os pecados. ter consultado o Senhor antes de tom ar essa decisão . A m aior pre o cu p ação de M oisés era q u e os h o m e n s de R ú b e n , G a d e e M an assés cu m p rissem seu d ever de lutar co n tra o inim igo e de co n q u istar a Terra Foi o que cada tribo prom eteu ao Senhor nos montes G erizim e Ebal. Essa obediência devia ser m otivada pelo am or ao Senhor seu D eus. Se o am assem , teriam prazer em andar em seus cam inhos 74 J O S U É 22 Prom etida, o que concordaram em fazer. A primeira reação de M oisés foi de ira mistu­ rada com medo de que Deus julgasse a na­ ção , co m o havia feito em C ad es-Barn éia. Talvez essa prim eira reação tenha sido a mais correta. Sem dúvida, C anaã era a terra separada por Deus para seu povo, e qualquer coisa aquém de C anaã não era o que ele dese­ java para Israel. As duas tribos e meia não tomaram sua decisão com base em valores espirituais, mas sim considerando as vanta­ gens materiais, pois a terra a leste do Jordão era ideal para criar seus rebanhos. Isso me lembra a decisão de Ló quando foi arm an­ do sua tenda cada vez mais perto de Sodoma (G n 1 3 :1 0 ,1 1 ). Nos dois casos, agiu-se pe­ las aparências e não pela fé. Ao tom ar essa decisão, o povo de Rúben, viver fora da terra, davam a im pressão de não ser israelitas. Esse é o oitavo m em orial erguido em C an aã (Js 4 :9 , 2 0 -2 4; 7 :2 6 ; 8 :2 9 -3 2 [três m e m o ria is]; 1 0 :2 7 ). No e n tan to , é triste quando os cristãos precisam lançar mão de recursos artificiais para mostrar às pessoas que são parte do povo de D eus. Nos últi­ mos anos, tem os visto um a guerra de ade­ sivos "religio sos" para carros, jó ias e outros produtos (inclusive espelhos e pentes com versículo s bíblicos) que, supostam ente, de­ vem ajudar a id entificar seus usuários com Jesus C risto. A p esar de ser possível que, em algum as o casiõ es, esses objetos abram por­ tas para o testem unho, seria muito m elhor se nossa co n d u ta e nosso d iscurso , guia­ dos pelo Espírito, fizessem os não-cristãos notarem a diferença. Q u an d o vivem os da G ad e e M anassés dividiu a nação, separan­ do-se das bênçãos da terra de C anaã. Fica­ ram mais distantes do tabernáculo e mais próxim os do inimigo. Tornaram-se aquilo que cham o de "cristãos lim ítrofes". Lembre-se de que o Egito representa o m undo e C an aã a herança dos cristãos em Jesus Cristo. A s jor­ nadas pelo deserto são a e xp e riê n cia dos cristãos que não entram pela fé no descan­ so que Deus lhes oferece (H b 3 - 4). A s duas tribos e meia retratam os cristãos que expe­ rim entaram as b ê n ção s e as batalh as de C anaã - sua herança em Cristo -, mas pre­ ferem viver na fronteira, fora do lugar de bênção separado por Deus. "A fé jam ais pode ser satisfeita com qual­ quer coisa aquém da verdadeira posição e porção do povo de D eus. [...] Um cristão indeciso e m orno é mais incoerente do que um m undano ou infiel franco e declarado", escreveu C . H. M acintosh em sua obra N o­ m aneira que D eus quer, som os sal e luz, e o Senhor usa nosso testem unho para sua glória. tes on N um bers, pp. 45 7 , 460. Q u e solução encontraram para o pro­ b lem a que e les m esm o s haviam criad o ? Construíram um grande altar de pedra à bei­ ra do rio Jordão, do lado de C anaã, com o lem brança para todos de que as duas tribos e meia tam bém pertenciam à nação de Is­ rael. Se essas tribos estivessem vivendo na enquanto uma delegação oficial investigava o que estava acontecendo. "R esponder an­ tes de o u vir é estu ltícia e v erg o n h a " (Pv 18 :1 3 ). terra de C anaã onde era seu lugar, ninguém questionaria sua nacionalidade. Porém , ao Se o povo de Rúben, G ad e e M anassés participasse fielm ente das festas em Jerusa­ lém (Êx 2 3 :1 7 ), honrasse ao Senhor obede­ cendo à sua Palavra e falasse de sua Palavra em seus lares (D t 6:6-9), poderiam educar os filhos para que conhecessem e servissem ao Senhor. No entanto, o altar à margem do Jordão não dava garantia alguma de que se­ riam bem-sucedidos. 3. Sua s u je iç ã o h u m il d e (Js 2 2 :1 1 - 2 9 ) O alerta (vv. 11-14). A notícia se espalhou rapidam ente: as tribos do leste do Jordão haviam construído um altar. A pesar da sin­ ceridade das tribos da Transjordânia, seu ato foi interpretado incorretam ente, e as outras tribos se preparam para uma possível guer­ ra. Porém , foram sábias ao decidir esperar, A delegação de d ez prín cipes, um de cada tribo, era liderada por Finéias, filho do sumo sacerdote, o qual já havia m ostrado sua coragem na defesa da lei do Senhor (Nm 2 5 ; Sl 1 0 6 :3 0 , 31). Era responsabilidade dos líderes tribais e dos sacerd o tes investigar J O S U É 22 iodas as situações em Israel que parecessem constituir uma transgressão da lei (D t 13). Deus havia instruído os israelitas a destruir os altares das nações pagãs em C anaã e não a construir os próprios altares. D everia ha\ er apenas um santuário designado por Deus Dt 12; Lv 17:8, 9). O a p e lo (vv. 15-20). É bem provável que o discurso tenha sido feito por Finéias, mas percebe-se que as palavras expressam o co n­ senso de todas as tribos. Finéias cham ou o gesto das duas tribos e meia de infidelidade Js 2 2 :1 6 , 20, 22, 31), que significa "ato de traição ". Josué havia elogiado essas tribos da Transjordânia por sua lealdade e, agora, haviam se mostrado desleais. Haviam deixa­ do de seguir (Js 2 2 :1 6 , 18 [abandonado], 23 'se apartado], 29) ao Senhor (ver o v. 5). Essa palavra tem a conotação de "apostasia", afastar-se gradualm ente do Senhor. O term o mais forte usado nesse discur­ so é rebelar (Js 2 2 :1 6 ,1 8 ,1 9 ,2 2 ,2 9 ), que si­ gnifica resistir deliberadam ente à vontade de Deus e desobedecer à sua lei. Ao construir um altar ilícito, as duas tribos e m eia era culpadas de apostasia. "Porque a rebelião é com o o pecado de feitiçaria, e a obstinação é com o a idolatria" (1 Sm 15:23). Usando a história recente de Israel, Fi­ néias cito u d o is c a so s sérios de reb eld ia com o advertência a essas tribos. O primeiro foi a particip ação de Israel nos rituais pa­ gãos de M oabe, quando os homens se pros­ tituíram com as mulheres moabitas (Js 22:1 7; s.m 25 ). Vinte e quatro mil pessoas m orre­ ram em decorrência desse episódio. C om o segundo exem plo, falou do pecado de A cã depo is da v itó ria em Je ric ó , q u and o ele tom ou para si delib eradam ente os desp o­ jos que pertenciam ao Senhor (Js 2 2 :2 0 ; ver Js 7). Seu pecado causou a derrota em A i e a morte de trinta e seis soldados israelitas. Também levou à execução do próprio A cã e dos mem bros de sua fam ília. A delegação ofereceu um conselho sá­ bio: "passai-vos para a terra da possessão do S en h o r , onde habita o tabernáculo do S e n h o r " js 22:19). Nenhum altar feito por mãos hu­ manas poderia substituir a presença de Deus no meio do seu povo em seu tabernáculo. 75 Infelizm ente, as duas tribos e meia não acei­ taram o conselho de se apropriarem de sua herança dentro da terra que Deus havia pro­ metido ab ençoar (D t 11:10-32). A a rg u m en ta çã o (vv. 21-29). As tribos acusadas invocaram o nom e do Senhor seis vezes ao responder às acusações e, ao fazêlo, usaram os três nom es fundam entais do Senhor: "El [O Poderoso], Elohim [Deus] e Jeová [o S e n h o r ]". Essas palavras constituíram um juram ento solene de que suas intenções eram puras e de que o Senhor conhecia seu co ração . É claro que o fato de o Senhor co n h e­ ce r nosso co ração e de fazer um juram en­ to não dá garantia algum a de que nossos atos sejam co rretos, p o is ninguém co n h e ce o p ró p rio co ração (Jr 1 7 :9 ). Práticas duvi­ dosas de todo tipo podem ser defendidas pela d e cla raçã o : "M as o Senhor co n h ece o m eu c o ra ç ã o !" Paulo nos ap resen ta a abordag em co rre ta em 2 C o rín tio s 8 :2 1 : "Pois o que nos preocupa é procederm os h o n estam ente, não só perante o Senhor, com o tam bém diante dos hom ens". Q u a n ­ do um a n açã o in teira in te rp re ta in c o rre ­ tam ente aquilo que deveria ser bom e tal in cid e nte co lo c a o povo à beira de um a guerra civil, então algo deve estar errado no gesto supostam ente bom . As tribos acusadas deixaram claro que não estavam instituindo um a religião co n ­ corrente, pois o altar não havia sido construí­ do para sacrifícios. Antes, estavam erguendo um testem unho que lem braria às tribos a oeste do Jordão que Rúben, G ad e e M anas­ sés faziam parte de Israel. É in teressante que as tribos da Trans­ jordânia indicaram sua preocupação com os filhos. No entanto, não seriam seus filhos que perguntariam : "Q u e temos nós com o Se­ nhor D eus de Israel?" Antes, seus filhos sofreriam a provocação dos filhos das tribos de C an aã ! Rúben, G a d e e M an assés não estavam sequer vivendo na terra que Deus havia escolhido e, ainda assim, temiam que os filhos das tribos d o outro lado d o rio fi­ zessem seus filhos se desviar d o s cam inhos d o Senhor! Ao que parece, o perigo era jus­ tamente ocorrer o oposto. 76 J O S U É 22 A s tribos da Transjordânia não apenas acusaram os irm ãos israelitas de ter filhos que não conheciam o Senhor, com o também acusaram Deus de criar o problem a! "Pois o S e n h o r pôs o Jordão por limite entre nós e vós" (Js 2 2 :2 5 ). Pelo contrário! Eles ê que haviam feito d o Jordão a linha divisória! Ao escolher morar do lado leste do Jordão, as duas tribos e meia separaram-se de seu povo e da terra que Deus havia lhes dado. C o n si­ deraram seus rebanhos mais importantes que seus filhos e seus irmãos israelitas, mas cul­ param Deus e as outras tribos pelo proble­ ma que haviam criado. Q u e tipo de "testem unho " era aquele monte enorm e de pedras? Um testemunho da unidade nacional e da o b e d iê n cia das tribos da Transjordânia? Não! Era um teste­ m unho à conveniência, à sabedoria humana em sua tentativa de desfrutar do que havia de melhor nos dois mundos. A s duas tribos e meia falaram de seus filhos de m odo pie­ doso, mas, na verdade, sua decisão de viver do lado leste do Jordão foi m otivada por suas riquezas. Em algum lugar próxim o a esse "altar de testem unho" estavam as do ze pedras que os hom ens haviam carregado até o meio do rio Jo rd ã o (Js 4 :2 0 - 2 4 ). L e m b ra v a m os israelitas que eles haviam cru zad o o rio e sepultado seu passado para sem pre. Rúben, G ad e e a meia tribo de M anassés haviam cruzado o rio e d ep ois voltado. Seu "altar" entrava em co n trad içã o com o altar que Josué havia erguido para a glória de Deus. "Portanto, se fostes ressuscitados juntam en­ te com Cristo, buscai as coisas lá do alto, o nde C risto v iv e , assen tad o à d ireita de D eus" (Cl 3:1). 4. S e u a c o r d o a m ig á v e l (Js 22:30-34) Finéias deu-se por satisfeito com a explica­ ção, assim com o a delegação e os filhos de Israel do outro lado do Jordão; mas será que o Sen h o r ficou satisfeito? A delegação alegrou-se em saber que o propósito do altar era dar testemunho e não sacrificar e, assim, a questão pareceu resolvida. Regozijaram se que D eus não en viaria seu julgam ento sobre a terra (v. 31) e que não haveria uma guerra civil em Israel (v. 33). Mas, apesar do "a lta r d o te s te m u n h o " , a n a ç ã o esta va dividida. Assim com o Abraão e Ló (G n 13), parte de Israel tinha visão espiritual, enquan­ to a outra parte preocupava-se com coisas m ateriais. A "paz a qualquer custo" não é a vonta­ de de Deus para seu povo. Essa decisão em G ilead e foi tom ada com base na sabedoria humana e não na verdade de D eus. "A sa­ bedoria, porém , lá do alto é, prim eiram ente, pura; depois, p a cífica" (Tg 3 :1 7 , itálico do autor). A paz que o po vo de D eu s obtém à custa da pureza e da verdade ê apenas uma trégua perigosa que acaba eclo d in d o co m o divisão dolorosa. Há sempre lugar nos rela­ cionam entos para uma co n ciliação em amor, mas nunca para uma transigência covarde. "C onjuro-te, perante D eu s, e C risto Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes co n se­ lhos, sem prevenção, nada fazendo com par­ cialidade" (1 Tm 5 :2 1 ). A s tribos da Transjordânia cham aram seu altar de "testem unho entre nós de que o S e­ n h o r é D eus" (o term o hebraico edh signifi­ ca "testem unho"), mas, se o S e n h o r é Deus, então por que não lhe obedeceram e foram m orar na terra que ele lhes havia designa­ do? Talvez as pedras fossem um testemunho, mas o povo certam ente não o era. C erca­ das de nações pagãs e separadas de seus irmãos e irmãs do outro lado do rio, essas tribos não tardaram em entregar-se à ido­ latria e, por fim, foram tomadas pela Assíria (1 C r 5 :2 5 , 26). No dia 30 de setem bro de 1938, o pri­ m eiro-ministro britânico, Sir N eville Chamberlain, recém -chegado da A lem anha, disse a um grupo reunido na rua D ow ning, n“ 10 [N. do T.: a rua Dow ning, n. 10 é endereço do primeiro-ministro britânico em Londres]: "M eus caros amigos, esta é segunda vez em nossa história em que a paz com honra veio da Alem anha para a rua Dow ning. C reio que é uma paz para nosso tempo. Agradeço a todos do fundo do co ração e recom endo que voltem para casa e durm am tranqüilos". M enos de um ano depois, a Inglaterra estava em conflito arm ado com a Alem anha, e a Segunda G uerra Mundial havia irrom pido. J O S U É 22 A história da Igreja é repleta de acordos e de pactos que engrandeceram a unidade acim a da pureza e da verdade e que, por­ tanto, n u n ca foram duradouros. Q u e r em nossos relacionam entos pessoais no lar e na igreja, quer em nosso país, a única paz que perm anece é a que tem por base a verdade e a pureza. É uma paz que exige sacrifício, 77 coragem e a disposição de perm anecer firme na Palavra de D eus: mas os resultados va­ lem a pena. M atthew Henry, conhecido com entaris­ ta bíblico, expressou-se muito bem quando disse: "A paz é um a jóia tão preciosa que eu abriria mão de qualquer co isa por ela, m enos da verdade". 12 O C a m in h o de T o d o s os d a T erra Jo su é 2 3 - 2 4 O conhecido psicanalista Eric Fromm es­ creveu, em sua obra Man for Him self: "M orrer é um amargor lancinante, mas a idéia de morrer sem ter vivido é insuportável". Jo su é, filho de N um , v iv e u ! Sua vid a longa com eçou na escravidão do Egito e ter­ minou num culto de adoração na Terra Pro­ metida. Entre uma coisa e outra, Deus o usou para liderar Israel, derrotando os inimigos, conquistando a terra e tom ando posse da herança prometida. Assim com o o apóstolo Paulo, Josué poderia dizer com sinceridade: "C o m b a ti o bom co m b a te , co m p le te i a carreira, guardei a fé" (2 Tm 4:7). Josué estava prestes a seguir o "cam inho de todos os da terra" (Js 2 3 :1 4 ), o ca m i­ nho que você e eu teremos de percorrer, se o Senhor não voltar antes. Porém , no fim de uma vida longa e plena, a m aior preocupa­ ção de Josué não foi consigo m esm o, mas sim com seu povo, com o relacionam ento dos israelitas com o Senhor. Não queria par­ tir sem tê-los desafiado mais uma vez a amar ao Senhor e a guardar seus mandamentos. O trabalho de toda a sua vida teria sido em vão, se eles não guardassem a aliança e não desfrutassem as bênçãos da Terra Prometida. Prim eiro, Josué convocou uma reunião com os líderes de Israel (Js 2 3 :2 ), em Siló ou em sua casa em Efraim, e os advertiu do que aconteceria se deixassem o Senhor. Em se­ guida, reuniu "todas as tribos de Israel em Siquém " (Js 2 4 :1 ) e fez seu discurso de des­ pedida, recapitulando a história de Israel, co­ m eçando com Abraão, e desafiando o povo a am ar ao Senhor e a servir som ente a ele. Nestes dois discursos, Josué enfatizou três questões im portantes. 1 . O S PERIG O S PARA ISRA EL NO FUTURO (Js 23:1-16) D epois de reunir os líderes de Israel, Josué apresentou-lhes duas situações: se o bede­ cessem ao Senhor, ele os abençoaria e os m anteria na terra; se deso bedecessem ao Senhor, ele os julgaria e os rem overia da ter­ ra. Esses eram os termos da aliança que Deus havia feito com Israel no monte Sinai, que M o isé s h avia re p etid o nas ca m p in a s de M o abe e que Israel havia reafirm ado nos montes Ebal e G erizim . Josué enfatizou a posse da terra (v. 5) e o usufruto de suas bênçãos (vv. 13, 15, 16). A pesar de Israel ter assum ido o controle da terra, ainda havia territórios a conquistar e regiões de resistência a subjugar (ver Js 13:113; 1 5 :6 3 ; 1 6 :1 0 ; 17:12, 13; 18 :3 ; Jz 1 - 2). O trabalho das tribos ainda não estava ter­ m inado! Fica claro que o grande perigo era o povo de Israel mudar gradualmente sua ati­ tude em relação às nações pagãs a seu redor e com eçar a aceitar e a imitar seus modos. A fim de neutralizar esse perigo, Josué deu ao povo três motivos fortes para perm a­ necerem um povo separado, servindo fiel­ mente ao Senhor. O que o Senh or fez p o r Israel (vv. 3 4 ) . D esde o dia em que Israel deixou o Egito, o Senhor lutou por seu povo e os livrou de seus inimigos. Afogou o exército egípcio no mar e derrotou os am alequitas que ataca­ ram os israelitas logo depois que saíram do Egito (Êx 1 7). O Senhor derrotou todos os inimigos de Israel, enquanto a nação m archa­ va em direção a C anaã e deu a seu povo a vitória sobre as nações da Terra Prometida. Esta recapitulação da história lembrou Is­ rael de dois fatos im portantes: aquelas na­ çõ es gentias eram inim igas de Israel, e o m esm o Deus que derrotou os inimigos no passado poderia ajudar seu povo a derrotálos no futuro. D eus jam ais havia falhado com seu povo, Se os israelitas confiassem no Se­ nhor e obedecessem à sua Palavra, Deus os ajudaria a realizar a conquista total da terra. "Porque o S e n h o r , v o s s o D eus, é o que pe­ lejou por vós" (Js 2 3 :3 ). Trata-se de uma boa lembrança para o po­ vo de D eus hoje. A o ler a Bíblia e ver o que J O S U É 23 - 24 Deus fez no passado pelos que creram nele, somos enco rajado s a crer nele no presente e a encarar nossos inimigos com coragem e co n fian ça. A . T. Pierson, líder m issionário presb iteriano, co stum ava d ize r um a gran­ de verd ade: "a H istória hum ana é a história de D eu s". D eus pode m udar seus m étodos de uma era para outra, mas seu caráter nun­ ca m uda, e ele é digno de co n fian ça. O q u e o S e n h o r d isse a Isra e l (vv. 5-10). O segredo do sucesso de Josué e, portanto, o que levou às vitórias de Israel, foi sua de­ dicação à Palavra de Deus (Js 2 3 :6 , 14; ver 1:7-9, 13-18; 8:30-35; 11:12, 15; 2 4 :2 6 , 27). O bedeceu aos m andam entos e creu nas pro­ messas do Senhor, e Deus operou em seu favor. M ais do que isso, porém , sua dedica­ ção à Palavra de D eus permitiu que Josué co nhecesse melhor a Deus, que o am asse e que lhe agradasse. Não basta co n h ecer a Palavra de D eus. Devem os tam bém conhe­ cer o Deus da Palavra e crescer em nossa com unhão com ele. D eus cum priu suas prom essas e tinha todo o direito de esperar que Israel guardas­ se os m andam entos que havia lhes dado. Algum as prom essas de D eus são in co nd i­ cionais, enquanto outras têm co n diçõ es, e seu cum p rim ento depende de nossa o be­ diência. Israel entrou na terra e a conquis­ tou, mas o usufruto da terra depend ia de sua obediência à lei do Senhor. Se eles lhe obedecessem de todo o coração, Deus os capacitaria a tomar posse de toda a herança. O m ais im portante era que Israel per­ m anecesse um povo separado e que não 79 Todos sentim os as pressões do m undo a n o sso re d o r te n ta n d o nos e m p u rra r ao conform ism o com seus padrões (Rm 12:121 ; 1 Jo 2:15-17), e é preciso coragem para desafiar a maioria e perm anecer fiel ao Se­ nhor (Js 2 3 :7 ). No entanto, tam bém é preci­ so am ar ao Senhor e ter o desejo de lhe agradar (v. 8). A palavra traduzida por "ape­ gar", no versícu lo 8, é usada èm G ên e sis 2 :2 4 para descrever o relacio nam ento do marido com a esposa. Israel "casou-se" com Jeová no monte Sinai (Jr 2:1-3; Ez 16), e esperava-se que fosse uma esposa fiel e que se apegasse ao Senhor (D t 4 :4 ; 1 0 :2 0 ; 1 1 :22; 1 3 :4 ). C o m o foi triste Israel ter se tornado uma esposa infiel, uma prostituta, ao voltarse para os deuses de outras nações! A prom essa de Josué 2 3 :1 0 é uma cita­ ção de D euteronôm io 3 2 :3 0 , o que mostra com o Josué co nhecia bem a Palavra de Deus (ver tam bém Lv 2 6 :7 , 8). Ele m editava dia e noite na Palavra (Js 1:8; Sl 1 :2) e a guardava em seu coração (Sl 1 1 9 :1 1 ). O q u e o S e n h o r fa ria co m Is ra e l (vv. 11-16). A Palavra de Deus é com o um a es­ pada de dois gumes (H b 4 :1 2 ): se lhe obe­ decerm os, D eus nos ab enço ará e ajudará; se lhe desobedecerm os, D eus nos discipli­ nará até nos sujeitarm os a ele. Se am amos ao Senhor (Js 2 3 :1 1 ), terem os o desejo de lhe obedecer e agradar, de modo que o es­ sencial é cultivar um relacionam ento corre­ to com Deus. Josué lembrou ao povo que a Palavra de Deus nunca falha, seja uma Pala­ vra de prom essa de bênção seja de discipli­ na. As duas coisas são prova de seu amor, fosse infectado pela p e rversid ade das na­ ções gentias a seu redor (Js 2 3 :7 , 8; ver Êx 3 4 :1 0 -1 7 ; D t 7:2-4). Josué advertiu-os de que sua d e so b e d iê n cia seria gradual. Pri­ m eiro, se relacionariam am igavelm ente com essas n açõ e s; depois, co m eçariam a discutir suas práticas religiosas e, logo, Israel estaria adorando falsos deuses do inimigo. O s ho­ mens de Israel co m eçariam a casar-se com m ulheres dessas nações pagãs, e a linha de separação entre o povo de D eus e o m un­ do seria co m p letam ente apagada. Im agine "porque o S e n h o r repreende a quem ama" (Pv 3 :1 1 , 12; Hb 1 2 :6 ). C h arles Spurgeon tam anha in sen satez: ad orar os d e u se s d o inim igo derrotado! to e ruína a Israel. Josué usou exem plos vivi­ dos com o laço, acoite e espin hos para dar dizia que "D eu s não permitirá que seus fi­ lhos pequem com sucesso". M oisés havia advertido Israel contra fa­ zer concessões às nações perversas na ter­ ra (Êx 2 3 :2 0 -3 3 ; 3 4 :1 0 -1 7 ; Dt 7 :12-26), e Josué reforçou essa advertência (Js 2 3 :1 3 ). Se Israel com eçasse a se misturar com essas nações, aconteceriam duas coisas: (1) Deus rem overia sua bênção e Israel seria derrota­ do; e (2) essas nações causariam sofrim en­ 80 J O S U É 23 - 24 aos israelitas uma idéia clara do sofrimento que experim en tariam se desobedecessem ao Senhor. O golpe final de disciplina seria 2. As b ê n ç ã o s (Js 24:1-13) a rem oção de Israel de sua terra para o exí­ revista Saturday Review , Norm an Cousins, fa­ lecido autor e editor, cham ou a história de "um enorm e sistema de aviso prévio", e o filósofo G eorge Santayanna disse: "Aqueles que não conseguem se lem brar do passado estão condenados a repeti-lo". Para os judeus, é im portante con h ecer suas raízes, pois são o povo escolhido de D eus e têm um desti­ no a cum prir neste mundo. Siquém foi o lugar ideal para esse dis­ lio. Afinal, se desejavam viver e adorar com o gentios, então viveriam com os gentios! Isso o c o rre u q u a n d o D e u s p e rm itiu q u e os babilônios conquistassem Judá, destruíssem Jerusalém e levassem milhares de pessoas ao exílio na Babilônia. Em três ocasiões, nesse discurso breve, Josué se refere à C anaã com o a "boa terra" (Js 2 3 :1 3 ,1 5 ,1 6 ). Q u a n d o D e u s ch am o u M oisés na sarça ardente, prometeu levar Is­ rael a uma "boa terra" (Êx 3 :8 ); e, depois de quarenta dias de investigações, Josué e C a­ lebe descreveram C an aã com o um a "terra muitíssimo boa" (Nm 14:7). Em sua m ensa­ gem de despedida, M oisés usou a expres­ são "boa terra" pelo menos dez vezes (D t 1:25, 35 ; 3 :2 5 ; 4 :2 1 , 2 2 ; 6 :1 8 ; 8 :7 , 10; 9 :6 ; 1 1 :1 7). O raciocínio é óbvio: uma vez que Deus nos deu uma terra tão boa, o mínimo que podem os fazer é viver de modo agra­ dável a ele. M editar sobre a bondade de Deus serve de grande m o tivação para a o b e d iê n cia . Tiago relacionou a bondade de Deus com nossa resistência à tentação (Tg 1:13-17), e Natã usou a m esm a abordagem ao confron­ tar o rei Davi com seus pecados (2 Sm 12:115). Não foi a m aldade do filho pródigo, mas sim a bondade do pai que o levou de volta ao lar (Lc 1 5 :1 7 ). "A bondade de D eus é que te conduz ao arrependim ento" (Rm 2:4 ). Existe o perigo de as bênçãos materiais con­ cedidas pelo Senhor se apossarem de nosso coração de tal m odo que nos concentrem os ap en as nas d á d ivas, esq u e cen d o -n o s do Doador, o que, por sua vez, nos conduzirá ao pecado (D t 8). O povo de Deus hoje precisa dar ouvi­ dos às três adm oestações fundam entais de Josué nesse discurso: guarde a Palavra de Deus (Js 2 3 :6 ), apegue-se ao S e n h o r (v . 8) e am e o S e n h o r (v . 11). Há muitos cristãos que não apenas fizeram concessões ao inimigo com o tam bém se renderam a ele, e para os quais o Senhor não ocupa o primeiro lugar na vida. de I srael n o passa d o N o dia 15 de abril de 1978, num artigo da curso com ovente de despedida do grande líder de Israel. Ali, Deus prometeu a Abraão que seus descendentes herdariam a terra (G n 12:6, 7), e naquele lugar Jacó construiu um altar (G n 3 3 :2 0 ). Siquém fic a v a en tre os m ontes Ebal e G erizim , onde o povo de Is­ rael havia reafirm ado seu com prom isso com o Senhor (Js 8:30-35). Era, de fato, um "lugar santo" para os israelitas. O s dois term os-chave do prim eiro discur­ so de Josué são nação e terra, mas seu se­ gundo d iscu rso co n ce n tra-se no S e n h o r. Josué refere-se ao Senhor vinte e uma vezes. Na verdade, em Josué 24:2-13, é o Senhor quem fala enquanto Josué faz um a retros­ pectiva da história de Israel. O u tra palavrach ave é servir, usada q u in ze veze s nesse discurso. Jeová lhes deu a terra e iria aben­ çoá-los em sua herança, se o am assem e servissem . Deus escolheu Israel (vv. 1-4). Q uando D eus cham ou Abraão para deixar a terra de U r e dirigir-se a C anaã, o patriarca e sua fa­ mília adoravam ídolos (G n 1 1 :27 —12:9). "O D eus da glória apareceu a A braão", decla­ rou Estêvão em seu discurso de despedida (At 7:2), lem brando os judeus de que sua identidade nacional era um ato da graça de D eu s. Abraão não buscou ao Senhor e o des­ co b riu ; antes, foi D eus quem se dirigiu a A b ra ã o ! N ão havia nada de e sp e cia l no povo de Israel para que D eus os tivesse escolhido (D t 7:1-11; 26:1-11; 3 2 :1 0 ), e esse fato deveria levá-los sem pre à hum ildade e à obediência. Jesus disse a seus discípulos: "N ão fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, J O S U É 23 - 24 eu vos escolhi a vós outros" (Jo 1 5 :1 6 ). O s cristãos foram escolhidos por Cristo "antes da fundação do mundo" (Ef 1 :4) e cham a­ dos "eleitos de D eus" (Rm 8 :3 3 ; Tt 1:1). Um de meus professores no sem inário costum a­ da dizer: "Tente explicar a eleição divina e pode perder a cabeça, mas tente desfazerse dela e perderá a alm a". Seja qual for a ‘ linha teológica" a que pertençam os, todos precisam os admitir que D eu s dá o prim eiro passo em nossa salvação. O filho primogênito de Abraão foi Ismael eiro lugar, Deus havia sido paciente com essas nações durante séculos e, em sua mi­ sericórdia, reteve seu julgam ento (G n 1 5:1 6; 2 Pe 3 :9 ). A quela sociedade e, em particular, sua religião, eram in d escritive lm e n te per­ versas (Rm 1 :18ss) e deveriam ter sido exter-ninadas muito tempo antes de Israel entrar em cena. Um a coisa é certa: essas nações haviam sido advertidas pelo julgam ento que Deus Havia executado contra outros, especialm en­ te o Egito e as nações a leste do Jordão (Js 2:8-13). Raabe e sua fam ília possuíam iníorm ações suficientes para se arrepender e crer. de modo que Deus os salvou (Js 2; 6:2225 . Assim , temos todo o direito de concluir Que D eus teria salvo qualquer um que se «oítasse para ele. Essas nações pecavam deifoerada e propositadam ente, rejeitando a ■«erdade de Deus e seguindo seus cam inhos. D eu s não q u e ria que a im u n d ície da sociedade e da religião de C anaã contam i­ nasse seu povo. Israel era o povo especial de Deus, escolhido para cum prir propósitos £§\inos neste mundo. Israel daria ao mundo o co n h e c im e n to do D eu s v e rd a d e iro , as 93 Sagradas Escrituras e o Salvador. A fim de cum prir os propósitos de Deus, a nação de Israel deveria p erm anecer separada de to­ das as outras n açõ e s, pois se Israel fosse contam inada, de que modo o Filho de Deus, em sua santidade, poderia vir ao mundo? "D eu s está perpetuam ente em guerra com o pecado", escreveu G . Cam pbell M organ. "Isso explica inteiramente o exterm ínio dos ca n a n e u s."5 A principal divindade de C anaã era Baal, o deus da chuva6 e da fertilidade, juntam en­ te com sua esp o sa, A sta ro te . Se alguém d esejava ter vin h as e pom ares frutuosos, lavouras prod utivas e reban h os cad a vez maiores, adorava Baal ao visitar um a prosti­ tuta cultuai. A com binação de idolatria com im oralidade e sucesso no cultivo da terra era quase irresistível aos hom ens, o que explica por que D eus ordenou que Israel exterm i­ nasse co m p letam en te a religião canan éia (Nm 33:51-56; D t 7:1-5). 3 . I m it a n d o o i n i m i g o ( J z 2 : 1 - 1 3 ) O perigo. Nestes tem pos de "pluralism o", em que a so cie d ad e abriga pessoas com estilos de vida e crenças diferentes, é fácil ficar confuso e co m eçar a pensar que tole­ rância é o mesm o que aprovação, o que não é verdade. N um a dem ocracia, a lei confere às pessoas a liberdade de adorar com o pre­ ferir, e devem os exercitar paciência e tole­ rância com aqueles que possuem crenças e práticas que, a nosso ver, Deus condena em sua Palavra. A Igreja de hoje não em punha a espada (Rm 13) e, portanto, não tem auto­ ridade alguma para elim inar os que discor­ dam da fé cristã. Porém , temos a obrigação, diante de D eus, de manter um modo de vida separado, a fim de não sermos contam ina­ dos pelos que discordam de nós (2 C o 6:14 - 7:1). M ediante a oração, o testemunho e a persuasão em amor, devem os ganhar para Cristo os que ainda não crêem nele. O s israelitas acabaram habituando-se aos costum es depravados dos vizinho s pagãos a ponto de não lhes parecerem mais peca­ m inosos. Passaram a interessar-se pela for­ ma co m o esses vizin ho s adoravam e, por fim, com eçaram a viver com o eles e a imitar 94 JUÍZ ES 1 - 2 seus hábitos. Para os cristãos de hoje, o pri­ meiro passo fora dos cam inhos do Senhor é a "am izad e com o m undo" (Tg 4 :4 ), que co n d u z ao passo seguinte: ser "m aculado pelo m undo" (Tg 1:27). D epois disso, vem "am ar o m undo" (1 Jo 2 :1 5 ) e, aos poucos, "[conformar-se] com este século" (Rm 12:2). Isso pode levar indivíduos que assim pro­ cedem a ser "condenados com o m undo" (1 C o 1 1 :32), o tipo de julgam ento que so­ breveio a Ló (G n 19), Sansão (jz 16) e Saul (1 Sm 15, 31). A d e so b e d iê n cia (vv. 1-5). O "Anjo do S e n h o r " , no Antigo Testam ento, costum a ser interpretado com o o próprio Senhor que, por vezes, vinha à terra (com o uma teofania), a fim de transmitir uma mensagem im portan­ te. É provável que fosse o Senhor Jesus C ris­ to, a segunda pessoa da Trin d ad e, num a ap arição pré-encarnada e tem p o rária (ver G n 16:9; 2 2 :1 1 ; 4 8 :1 6 ; Êx 3 :2 ; Jz 6:11 e 13:3; 2 Rs 1 9 :3 5 .) O fato de o próprio Deus vir transmitir a mensagem mostra com o as co i­ sas haviam ficado sérias em Israel. O tabernáculo foi, inicialm ente, co loca­ do em Gilgal (Js 4 :1 9 , 20), e, nessa m esma cidade, os hom ens de Israel foram circuncidados, sendo rem ovido deles o opróbrio do Egito (Js 5:2-9). Tam bém foi em Gilgal que o Senhor apareceu a Josué e assegurou-o da vitória, quando iniciou sua cam panha para conquistar C anaã (Js 5:13-15). Para Josué, o Anjo do S e n h o r trouxe uma mensagem de enco rajam en to , mas para a nova geração descrita no Livro de Juízes, trouxe uma men­ sagem de castigo. O Senhor havia mantido sua aliança com Israel, e nenhum a das palavras de suas pro­ messas falhara (Js 2 3 :5 , 10, 15; 1 Rs 8:5 6 ). Pedira-lhes que guardassem a aliança feita com ele, obedecendo à lei e destruindo o sistema religioso cananeu - seus altares, tem­ plos e ídolos. (O b se rve em Êx 23:20-25 a relação entre o Anjo do S e n h o r e a ordem para destruir a falsa religião; ver tam bém Êx 3 4 :1 0 -1 7 e D t 7:1-11.) No entanto, Israel desobedeceu ao Senhor e não apenas pou­ pou os ca n a n e u s e seu sistem a religioso ím pio, com o tam bém com eçou a seguir o modo de vida dos inimigos. Em sua alian ça, D eus prom eteu ab en ­ ço ar Israel se ele lhe o b ed ecesse e discipli­ ná-lo se lhe desobedecesse (ver Dt 2 7 - 28). D eu s é sem pre fiel à sua Palavra, q u er seja para nos a b e n ço a r q u e r para nos d isc ip li­ nar, p o is em am bos os casos ele dem onstra sua integrida de e seu am or (H b 1 2:1-11). Deus prefere nos co n ce d e r as bênçãos da vid a que nos dão prazer, mas não hesita em rem over essas bênção s, caso nosso so­ frim ento nos co n d u za de volta para ele em arrependim en to. Por m eio de sua d eso b ed iên cia, a na­ ção de Israel deixou claro seu desejo de que os cananeus perm anecessem na terra. Deus permitiu que fizessem as coisas a sua ma­ neira (Sl 1 0 6 :1 5 ), mas advertiu-os das co n­ seqüências trágicas. As nações na terra de C an aã se tornariam adversários que afligi­ riam Israel e laços que os prenderiam . Israel buscaria prazeres nos cananeus, mas só en­ contraria dor; iria regozijar-se com sua liber­ dade só para, depois, vê-la transformar-se em escravid ã o .7 Não é de se adm irar que o povo ch o ­ rasse q u and o o u viu essa m ensag em ! (O term o hebraico b o ch im significa "pranteadores".) Porém , essa tristeza decorreu das co n seq ü ên cia s de seus pecados e não da c o n v icç ã o de sua cu lpa. Foi um a tristeza superficial e tem porária que, em m om ento algum, levou ao verdadeiro arrependim en­ to (2 C o 7:8-11). 4. O b e d e c e n d o a o in im ig o (Jz 2:6-23) M ais cedo ou mais tarde, som os subjuga­ dos pelos pecados que não conquistam os em n o ssa v id a . O povo de Israel viu-se escravo de uma nação pagã após a outra, enquanto o Senhor cum pria sua Palavra e disciplinava o povo. O b serve os pecados da nova geração. Esqu eceram -se d o q u e o S e n h o r havia fe ito p o r e/es (vv. 6-10). N esse ponto da história de Israel, Josué estava lado a lado com M oisés com o grande herói e, no entan­ to, a nova geração não reconheceu quem ele era nem o que havia feito. Em seu co­ nhecido rom ance 1984, G eorge O rw ell es­ c re v e u : "A q u ele que co n tro la o passado JUÍZES 1 - 2 controla o futuro; aquele que controla o pre­ sente controla o passado". Um a vez que as­ sumiram o controle do presente, tanto Hitler ouanto Stalin reescreveram a história, ou seja, o passado, a fim de que pudessem controh r os acontecim entos futuros, e, por algum tempo, foram bem -sucedidos. C o m o é im­ portante as novas gerações reconhecerem e valorizarem os grandes hom ens e mulheires que ajudaram a construir e a proteger sua nação! E terrível quando historiadores 'revisio nistas" ridicularizam heróis e heroí­ nas do passado a ponto de transformá-los quase em crim inosos. Abandonaram o que o S e n h o r havia d ito (vv. 11-13). Se tivessem se lem brado de Josué, teriam conhecim ento de seus "dis­ cursos de despedida" aos líderes e ao povo de Israel (Js 23 - 24 ). Se conhecessem tais discursos, saberiam da lei de M oisés, pois em seu ú ltim o p ro n u n c ia m e n to , Jo su é enfatizou a aliança que Deus havia feito com ísrael e a responsabilidade que a nação ti­ nha de guardá-la. Q u an d o nos esquecem os da Palavra de D e u s, co rrem os o risco de deixar o Deus da Palavra, o que explica por que Israel voltou-se para a adoração despre­ zível e depravada de Baal. Perderam o direito de desfrutar o que o Senhor havia prom etido (w. 14, 15). Q uan ­ do saíram a com bater os inimigos, os israe­ litas foram derrotados, pois o Senhor não estava com seu povo. M oisés avisou que isso aconteceria (D t 2 8 :2 5 , 26). M as não foi só: os inim igos de Israel acabaram tornando-se seus senhores! Deus permitiu que uma nação após a outra invadisse a Terra Prom etida e escravizasse o povo, tornando a vida dos israelitas tão sofrida a ponto de suplicarem por ajuda. Se o povo de Israel tivesse obe­ decido ao Senhor, seus exércitos teriam sido vitoriosos; mas quando lutaram com as pró­ prias forças, foram derrotados e humilhados. Deixaram de a p ren d er com o qu e o Senhor havia feito (vv. 16-23). Sem pre que israel se afastava do Senhor para adorar ídotos. a nação era disciplinada com severida­ de. E quando, em m eio a seu sofrim ento, voltavam-se para D eus, ele os libertava. Mas assim que se viam livres e num a situação 95 confortável, os israelitas entregavam-se no­ vam ente aos m esm os pecados de sem pre. "Então, fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor [...]. Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel e os deu na mão dos..." Essas palavras que se repe­ tem com fre q ü ên cia registram a natureza deplorável e im pudente dos pecados de Is­ rael (3 :7 , 8, ver tam bém v. 12; 4:1-4; 6 :1 ; 10:6, 7; 13:1). O povo sofria sem necessida­ de, pois não aprendeu as lições que Deus queria lhes ensinar nem se ben eficiou de sua disciplina. D eus livrou seu povo levantando juízes que derrotaram os inimigos e que liberta­ ram Israel. A palavra hebraica traduzida por "julgar" significa "salvar, resgatar". O s juízes foram libertadores que conquistaram gran­ des vitórias militares com a ajuda do Senhor. Porém , tam bém foram líderes que ajudaram o povo a resolver suas disputas (Jz 4 :4 , 5). O s ju íze s vieram de tribos diferentes e atua­ ram em nível local, não nacional, sendo que, em alguns casos, o mandado de um ju iz foi co n co m itan te com o de outro. A palavra "ju iz " é usada para apenas oito das doze p e s s o a s q u e c o s tu m a m o s c h a m a r de "ju íze s", mas todos atuaram co m o co n se­ lheiros e libertadores. O s oito homens são: O tniel (3 :9 ), Tola (1 0 :1 , 2), Jair (10:3-5), Jefté (11), Ibsã (12:8-10), Elom (1 2 :1 1 ,1 2 ), Abdom (12:13-15) e Sansão (1 5 :2 0 ; 16:31). O c ic lo de d e so b e d iê n cia , d iscip lin a, desespero e libertação pode ser visto nos dias de hoje sempre que o povo de Deus se afasta da Palavra e segue seus próprios ca­ minhos. Se a d eso b ed iên cia não é seguida de correção divina, então o indivíduo não é, verdadeiram ente, filho d e D eus, p o is D eus disciplina to dos os seus filhos (H b 12:3-13). D eu s tem im ensa co m p aixão por seu povo, mas sua ira se a ce n d e co n tra seus pecad os. O Livro de Juízes é o registro inspirado dos fracassos de Israel e da fid elidad e de D eus. Porém , se estudarm os esse livro ape­ nas com o um a história antiga, perderem os toda a m ensag em . Trata-se d e um relato so b re o p o v o d e D e u s n o s dias d e h o je . Q u an d o o salmista fez um a retrospectiva do 96 JUÍZ ES 1 - 2 período dos ju íze s (Sl 1 0 6 :4 0 -4 6 ), encerroua com um a o ração que tam bém p re cisa­ mos faze r: "Salva-nos, S e n h o r , nosso Deus, e congrega-nos de entre as n açõ e s, para que dem os graças ao teu santo nom e e nos gloriem os no teu louvor" (Sl 1 0 6 :4 7 ). 1. As referências são de Juízes 9, 16, 19, 21 e 5:6 (nessa ordem ). 2. ju íze s é o livro de Israel “sem rei", 1 Samuel é o livro do "rei escolhido pelos hom ens" (Saul) e 2 Samuel é o livro do "rei escolhido por Deus" (D avi). O mundo de hoje vive no Livro de Juízes, pois não há rei em Israel. Q uando seu verdadeiro Rei lhes foi apresentado, os judeus responderam : "N ão temos rei, senão César!" De acordo com o cronogram a, em seguida virá o tempo do "rei escolhido pelos hom ens" (o Anticristo), que trará consigo o dom ínio mundial e o caos. Então virá o "Rei escolhido por Deus" para derrotar seus inimigos e estabelecer seu reino de justiça. O b serve que a história do Livro de Rute se passa durante o tempo dos juízes (Rt 1:1 ) e que é uma história sobre o am or e sobre a ceifa. O povo de Deus está vivendo no Livro de Rute, partilhando a ceifa e esperando pelo casam ento. 3. O nome original desse local era Quiriate-Sefer, que significa "cidade dos livros". Talvez a cidade tivesse uma biblioteca importante ou fosse a "capital do território", onde eram guardados os registros oficiais. 4. Em hebraico, as palavras "cunhado" e "sogro" usam as mesmas letras, o que ajuda a explicar o problema relacionado aos nomes Reuel, jetro e H obabe (Êx 2 :1 8 ; 3 :1 ; Nm 10 :2 9; Jz 4 :1 1 ). Alguns estudiosos acreditam que o sogro de M oisés era cham ado por dois nomes, Hobabe e Jetro, e que Reuel era um parente distante. 5. M o rg a n , G . Cam pbell. Living M essages o ft h e B ooks o f the Bible. O ld Tappan, N. J.: Fleming H. Revell, 1912, vol. 1, p. 104. 6. Isso explica por que Elias desafiou Baal a mandar chuva (1 Rs 18). 7. Deus também usaria essas nações para testar Israel (Jz 2:22 ) e treinar a nova geração para a guerra (3:1-3). Q uand o Deus não tem permissão de governar, ele prevalece e realiza propósitos que jam ais poderíam os imaginar. 2 A s A rm as de N o ssa G u erra J u íz es 3 // A s armas com as quais lutamos não são / \ hum anas." Essa declaração poderia muito bem ter sido feita por um alienígena num livro de ficção científica, mas não foi. O apóstolo Paulo escreveu essas palavras para os cristãos em Corinto (2 C o 10:4, N VI), tembrando-os de um princípio que todo cris­ tão deve levar a s é rio : q u a n d o D e u s vai guerrear, costum a esco ih er os so ld ados que parecem mais im prováveis, dá-lhes as armas -nais incom uns e, p o r interm édio deles, o b ­ tem os resultados mais im previsíveis. Deus deu a Sangar, por exem plo , uma vara de tanger bois, com a qual m atou seiscentos hom ens (Jz 3 :3 1 ). Jael usou um mar­ telo e a estaca de um a tenda para m atar um capitão (Jz 4 :2 1 ). G id e ã o derrotou o e xército m idianita inteiro arm ado apenas com cântaros e tochas (Jz 7 :2 0 ). Sansão ex­ term inou mil filisteus com a q u e ixad a de um jum ento (Jz 1 5 :1 5 ). O jovem D avi m a­ tou o gigante G o lia s com um a funda de pastor (1 Sm 1 7). É pouco provável que as academ ias m ilitares o fereçam cursos sobre o uso dessas arm as. A p e sa r de n osso m undo ter m udado drasticam ente desde os tem pos dos ju íze s, seu sistem a ainda é o m esm o, pois a natu­ reza hum ana não m udou (1 Jo 2:15-1 7). En­ quanto se en contra neste m undo, o povo de D eus está dentro de um a batalha espi­ ritual co n tra Satanás e seus exé rcito s (Ef 6:10-19), e D eus ainda procura hom ens e mulheres capacitados a vencer, que tenham poder, estratégia e coragem . Esses três eleTientos essenciais para a vitória são ilustra­ dos neste ca p ítu lo so bre a v id a dos três primeiros juízes. 1 . O t n i e l : o p o d e r d e D e u s ( J z 3:1 -11) Neste capítulo, vem os "cinco príncipes dos filisteus" (v. 3) e o rei de M oabe, cham ado de "senhor" (v. 2 5 ); porém , o mais im por­ tante é que "o S e n h o r " , ou seja, o D eus Jeová, é m encionado q uinze veze s nesses trinta versículos. Sabem os, assim, quem está, de fato, no controle. O m issionário presbite­ riano A . T. Pierson costum ava 'dizer, com razão, que "a história hum ana é a história de D eus". Ao executar seus preceitos divi­ nos, em m om ento algum D eus passa por cim a da responsabilidade hum ana. No entan­ to, governa sobre os assuntos de indivíduos e nações, a fim de cum prir seus grandes pro­ pósitos para este mundo. A Igreja prim itiva orava ao "Sob eran o Sen h o r" e con fessava de bom grado que seus inimigos só podiam fazer "tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterm ina­ ram " (At 4 :2 4 , 28). Nas palavras do poeta T. S. Eliot: " O destino encontra-se nas mãos de Deus e não dos estadistas". A m ise ricó rd ia d e D e u s pa ra co m seu p o v o (vv. 1-4). A tribo de Judá não conse­ guiu m anter o co n tro le sobre as cid ad es filistéias mais im portantes que havia toma­ do (Jz 1:18; 3 :3 ), e, com o vim os no capítulo 1, as outras tribos não foram capazes de con­ quistar as nações canan éias. Essas nações que sobreviveram adotaram uma "política de boa vizinh an ça" com relação a Israel e aca­ baram derrotando Israel de dentro para fora. Por v e z e s , S atan ás vem c o m o um leão devorador, m as, com fre q ü ên cia, ap arece com o uma serpente enganadora (1 Pe 5 :8 ; 1 C o 11:3). Deus poderia ter julgado Israel por ha­ ver poupado as nações canan éias perver­ sas, m as, em sua m isericórdia, poupou os israelitas, pois tinha propósitos a cum prir por m eio deles. Israel com eteu um erro grave ao não confiar que Deus lhe daria a vitória, mas o Senhor usou esse erro para o bem de seu povo. Rom anos 8 :2 8 era válido já nos tempos do Antigo Testamento. D eus usaria o inimigo para treinar Israel e para ajudar a nova geração a aprender o sig n ifica d o das g uerras (Jz 3 :1 ,2 ; v e r Êx 13:1 7). A vida havia sido relativam ente fácil 98 JUÍZ ES 3 para os israelitas na Terra Prom etida, e pre­ cisavam do desafio de um perigo constante para mantê-los alertas e disciplinados. Isso não significa que D eus ap rove as guerras a lta r e s a c rifíc io s v e rd a d e iro s que D e u s aceitaria (Rm 9 :4 ,5 ). Som ente por intermé­ dio de Israel é que todas as nações da terra seriam abençoadas (G n 12:1-3). ou que p articip ar de um co n flito sem pre fortalece o caráter. As experiências de com ­ bate podem fazer justam ente o contrário. A Q uand o Israel obedecia ao Senhor, ele o abençoava ricam ente, e tanto sua co n d u ­ ta quanto as b ên ção s de D eu s eram um tes­ tem u nh o aos v izin h o s in c ré d u lo s (ver G n 2 3 :6 ; 26:26-33; 3 0 :2 7 ; 3 9 :5 ). O s povos pa­ gãos diriam : " O s israelitas são diferentes. O Deus a quem adoram e a quem servem é grande!" A ssim , o povo de Israel teria a opor­ tunidade de mostrar aos vizinhos com o crer em Jeová e receber seu perdão e bênção (ver Dt 4:1-13). Infelizm ente, em vez de confiarem que questão é que os israelitas precisavam man­ ter um exército efetivo, do contrário, seus inimigos poderiam unir-se em pouco tempo e subjugar Israel, especialm ente consideran­ do-se que, em term os espirituais, o povo de D eus estava no fundo do poço. Posterior­ mente, tanto Saul quanto D avi precisaram de exércitos eficazes para vencer seus mui­ tos inimigos e estabelecer o reino. D e u s tam b ém usou as n a çõ e s c a n a ­ néias para testar Israel e revelar se seu povo o b e d e c e r ia o u n ã o às le is d a d a s p o r M o isés da parte do Sen ho r (Jz 3 :4 ). D eus havia d eixad o claro aos israelitas que não deveriam re aliza r "estudo s co m p arativo s" co m as re lig iõ es a seu redor, interessando-se pelas p rá ticas pagãs dos ca n a n eu s (D t 7:1-11). Esse tipo de cu rio sid ad e havia trazid o o julgam ento d ivin o so bre Israel na terra de M o ab e (ver Nm 2 5 ), pois a cu rio si­ dade, com fre q ü ên cia, é o p rim eiro passo em d ireção à co n fo rm id ad e. É claro que Israel deveria ter sido um tes­ tem unho para as nações pagãs que sobre­ viveram e ter procurado ganhá-las para a fé no verdadeiro Deus vivo, mas tam bém fra­ cassaram nessa responsabilidade. Q u e dife­ rença teria feito na história subseqüente de sua nação se os israelitas tivessem condu­ zido os cananeus ao Senhor em vez de os cananeus levarem os israelitas a Baal! A ira d e D e u s co n tra seu p o v o (vv. 5-8). Deus havia colocado uma separação entre Israel e seus vizinhos, não porque Israel fos­ se melhor do que qualquer outra nação, mas porque era diferente. Em lugar de adorar íd olos, os jud eus adoravam o único Deus verdadeiro, que fez os céus e a terra. Não foram seres hum anos que criaram as leis e a aliança de Israel; elas vieram do Senhor. So­ mente Israel possuía o verdadeiro santuário onde D eus habitava em sua glória, o ver­ dadeiro sacerdócio ordenado por D eus e o D eus transform aria os povos a seu redor, foram os deuses desses povos que transfor­ maram os israelitas, levando-os a fazer tudo o que M oisés os havia advertido a não fa­ zer. D errubaram o muro de separação entre eles e os vizin h o s ím pios, e os resultados foram trágicos. Contrariando a lei de Deus, hom ens israelitas tomaram para si esposas pagãs e m ulheres israelitas casaram-se com homens pagãos (G n 2 4 :3 ; 2 6 :3 4 , 3 5 ; 2 7 :4 6 ; Êx 3 4 :1 5 , 16; Dt 7:3, 4; Js 2 3 :1 2 ). Aos pou­ cos, os idólatras roubaram o coração de seus cônjuges, de m odo que estes pararam de adorar Jeová e passaram a adorar falsos deu­ ses. O rei Salom ão com eteu o mesm o erro. Afinal, quando uma pessoa se casa fora da vontade de Deus, deve fazer alguma coisa para m anter a paz dentro do lar! (Ver 1 Rs 11:1-13; 2 C o 6 :1 4 - 7:1.) Não é de causar espanto que Deus te­ nha ficado irado.1Tam bém não devem os nos admirar de que tenha humilhado os israelitas ao usar naçõ es pagãs para disciplinar seu povo. U m a v e z que Israel estava agindo com o os pagãos, Deus teve de tratá-los com o pagãos! "Para com o benigno, benigno te m ostras; com o íntegro, tam bém íntegro. Com o puro, puro te mostras; com o perver­ so, inflexível" (Sl 18:25, 26). Jeová é o Deus de todas as nações: "Pois do S e n h o r é o reino, é ele quem governa as n açõ e s" (S l 2 2 :2 7 , 2 8 ). O rei N abucodonosor, com todo seu orgulho, teve de apren­ der da maneira mais difícil que "o Altíssimo JUÍZES 3 :em dom ínio sobre o reino dos hom ens e o ; ã a quem quer" (D n 4 :2 5 ). Em quatro ocasiões, o texto do Livro de iuízes diz que D eus "entregou" seu povo z j s inimigos (Jz 2 :1 4 ; 3 :8 ; 4 :2 ; 1 0 :7 ; ver tam-ém 1 Sm 12 :9 ; 1 Rs 2 1 :2 0 , 2 5 ; Sl 4 4 :1 2 ). O s israelitas agiram com o escravos, de modo ;u e D eus os entregou aos inimigos com o escravos. Se os israelitas tivessem sido fiéis =d Senhor, ele teria entregue os inimigos nas n ã o s de Israel (D t 3 2 :3 0 ). O nom e do rei da M esopotâm ia signifi: a "C u sã duplam ente p erverso ", podendo ^er um apelido que recebeu dos inimigos. O texto não diz que parte de Israel ele inva­ diu, mas pela lógica, seu ataque deve ter v in ­ do do N o rte; tam bém não sabem o s que : i rte da terra ele subjugou durante esses oito ít k js de sofrimento. U m a vez que o liberta­ dor que D eus levantou era de Judá, é possíi d que o exército invasor tivesse chegado ité esse território no Sul de Israel, quando o 5-enhor decidiu intervir em favor de seu povo soínedor. Charles Spurgeon dizia que Deus nunca c^ m ite que seu povo peque com sucesso. 5-ej pecado irá sem pre destruí-lo ou trazer joore ele a mão disciplinadora de D eus. Se ná uma coisa que a história de Israel ensina à greja contem porânea é a lição óbvia segundo a qual: "a justiça exalta as nações, mas o :-ecado é o opróbrio dos povos" (Pv 14:34). A salvação d e D e u s para seu p o v o (vv. 9-11). Nao há evidência alguma de que o povo tenha se arrependid o de seus pecar : s quando clam ou a D eus pedindo ajuda, -ias o Senhor atentou para sua triste situa­ rão e deu-lhes um libertador. Foi uma repettção da exp e riê n cia do êxo d o: "O u vin d o Deus o seu gemido, lembrou-se da sua alian­ ça com A braão, com Isaque e com Jacó. E • ; ü D eus os filhos de Israel e atentou para a ~_ia con dição" (Êx 2 :2 4 , 25). O verbo "aten­ tar ' significa muito mais do que dar atenção e~! nível intelectual, pois D eus co n hece toáas as coisas. Antes, quer dizer que Deus centificou-se com as provações deles e preoDou-se com seu bem-estar. O lib e rta d o r q u e D e u s le v a n to u foi I tniel, o hom em que capturou Hebrom e 99 casou-se com a filha de C alebe (Jz 1:10-13). Não há consenso entre os estudiosos quan­ to ao p a re n te s c o e x a to e n tre O tn ie l e C aleb e. O tniel era sobrinho de C aleb e - ou seja, filho de Q u en az, o irmão mais novo de C a le b e - ou sim p lesm en te o irm ão m ais novo de Calebe? No que se refere ao texto, as duas interpretações são possíveis. Se era irmão de C alebe, por qüe o nome de seu pai é Q u e n a z e não Jefoné? (1 C r 4 :1 3 ; Js 14:6). Talvez Jefoné tivesse falecido e a mãe de C aleb e tivesse se casado com Q u e n a z, dando à luz O tn ie l. O tn ie l seria, então, m eio-irm ão de C a le b e . D e acordo com 1 C rô n ica s 4 :1 3 , O tn ie l era filho de Q u e n a z, mas nas genealogias israelitas, o termo "filho" é usado de maneira um tanto am pla e nem sem pre significa um a relação direta de pai e filho. Felizm ente, não precisam os desem ara­ nhar os galhos da árvo re g e n ealó gica de O tn iel para nos beneficiar do exem plo de sua vida e ministério. Por laços consangüíneos e m atrim oniais, pertencia a uma fam í­ lia co nhecida por sua fé corajosa e por sua d isp o siç ã o de en ca ra r o in im igo, d e p e n ­ dendo de D eus para con q u istar a vitó ria. Q u an d o D eus cham ou O tn iel, ele estava à disposição do Senhor, e, então, o Espírito do Senhor veio sobre ele e lhe deu poder para lutar (Jz 3 :1 0 ). "N ão por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o S e n h o r dos Exércitos" (Z c 4 :6 ). Esse foi o segredo da força de O tniel, com o também foi para G id eão (Jz 6 :3 4 ), Jefté (1 1 :2 9 ) e Sansão (1 4 :6 , 19; 1 5 :1 4 ) e com o deve ser para o cristão de hoje (At 1:8; 2 :4 ; 4 :8 , 3 1 ; Ef 5 :1 8 ). T. J. Bach, um dos ex-direto­ res da Evangelical A lliance M ission, disse: "O Espírito Santo anseia revelar-te as coisas mais profundas de D eus. A nseia am ar por teu in­ term édio. A nseia operar através de ti. Pelo bendito Espírito Santo podes ter: força para toda tarefa, sabedoria para todo problem a, consolo para toda tristeza, alegria no servi­ ço superabundante do Senhor". O tniel não apenas resgatou sua nação da e scra v id ã o , co m o tam b ém se rv iu seu povo com o ju iz durante quarenta anos. Isso significa que exerceu autoridade cuidando 100 JUÍZ ES 3 dos assuntos de Israel e que foi sua lideran­ filhos os cam in ho s do Senhor (D t 6:6-25; ça espiritual e civil que trouxe descanso à terra. N unca subestim e o bem que uma p e s­ soa p o d e fazer quan do está cheia d o Espírito de D eu s e é o b ed ien te à vontade d o Senhor. 1 1:18-21; ver tam bém G n 18:1 7-19 e Jó 1 :5) e de ser bons exem plos para eles. Ao longo do período dos ju íze s, porém , tudo indica 2. E ú d e : a e s t r a t é g i a (Jz 3:12-30) e f ic a z Ao contrário de M oisés, que nom eou Josué para liderar Israel, os ju ízes não receberam autoridade para nom ear um sucessor. Q u an ­ do Deus cham ou hom ens e m ulheres para servirem com o ju íze s, eles obedeceram , rea­ lizaram a obra do Senhor e depois saíram de cena. A esperança era de que sua influên­ cia piedosa influenciasse de forma duradou­ ra a vida espiritual de Israel, mas não foi o que aconteceu. Assim que um ju iz saía de cena, os israelitas voltavam a d eixar o Se­ nhor e se dedicavam a adorar a Baal. Seria de se esperar que só a gratidão já serviria de motivo suficiente para o povo de Israel o bedecer ao Senhor e ser fiel a sua aliança, especialm ente depois de oito sofri­ dos anos de servidão. Isso sem falar em tudo 0 que Deus havia feito por Israel no passa­ do! Se Deus não os tivesse am ado e esco­ lhido para si, os israelitas teriam sido apenas um pequeno povo esqu ecid o (D t 7:1-11). Se D eus não os tivesse libertado e cuidado deles, teriam perecido no Egito ou no deser­ to. Se o Senhor não tivesse lhes dado vitória sobre os inimigos, teriam morrido nos cam ­ pos de batalha de C anaã. Se o Senhor não tivesse lhes dado sua lei e os sacerdotes para ensiná-los, estariam chafurdando num lama­ çal de im oralidade. O povo de Israel tinha a presença de Deus no tabernáculo e as pro­ messas de D eus na aliança, o que mais pode­ riam querer? D e algum m odo, o sistema entrou em colapso e, a meu ver, deixou de funcionar com os sacerdotes e os pais. As incum bên­ cias dos sacerdotes e dos levitas não se limi­ tavam apenas aos ritos do tabernáculo, uma vez que incluíam , ainda, a tarefa de ensinar a lei ao povo e de encorajar os israelitas a lhe o bedecer (Lv 1 0 :1 1 ; D t 33:8-10; 1 7:8, 9; 1 Sm 2 :12-17; Ml 2:1-9). O s pais israelitas tinham a respo nsabilid ade de en sin ar aos que a geração mais velha deixou de lado o ministério fundam ental de ensinar o tem or do Senhor à nova geração (Sl 3 4 :1 1 ). Eglom , o o p re sso r (vv. 12-14). O s exér­ citos da M esopotâm ia percorreram um lon­ go ca m in h o p ara in v a d ir Isra e l, m as os moabitas, am onitas e am alequitas não eram apenas vizinhos, mas tam bém parentes dos israelitas. Ló, sobrinho de A braão, era pai das n a çõ e s de M o a b e e de A m o m (G n 1 9 :3 0 - 3 8 ), e E sa ú , irm ã o de J a c ó , e ra antepassado de A m aleque (G n 3 6 :1 2 ,1 6 ; Dt 2 5 :1 7 , 19). Eglom, rei de M oabe, organizou a co a­ liz ã o e in sta lo u seu q u a rte l g e n era l em Jericó, "a cidad e das Palm eiras" (D t 3 4 :3 ). Jericó encontrava-se sob uma m aldição (Js 6 :2 6 ), e não há evid ên cia algum a de que a cidade tivesse sido reconstruída. No entanto, sua lo caliza ção era ideal para dirigir ope­ rações m ilitares e oferecia água em abun­ dância. D urante dezoito anos, Eglom e seus aliad o s p e rtu rb ara m os israe lita s. Para o povo de Israel, o mais difícil deve ter sido ficar sob o jugo opressor de parentes consangüíneos que, havia m uito, tam bém eram seus adversários. E ú d e, o lib e rta d o r (vv. 15-30). O tn iel, o primeiro ju iz, era originário da tribo de Judá. Eúde, o segundo ju iz, um hom em canhoto, era de Benjam im , a tribo vizinha de Judá. O nom e "Benjam im " quer dizer "filho da mi­ nha destra" (os benjam itas eram conhecidos por serem am bidestros: ver Jz 2 0 :1 6 e 1 Cr 1 2 :2 ). No entanto, o texto de Juízes 3:15 pode ser traduzido por "hom em com defi­ ciên cia na mão direita", o que indica que não era am b id estro , mas que podia usar apenas a mão esquerda. Se esse é, de fato, o sentido do texto, o plano de Eúde para matar Eglom foi um a obra-prima de estraté­ gia. A lém disso, serve de ânim o para porta­ dores de deficiências físicas que pensam que Deus não os usa para seu serviço. Eúde tinha vários problem as a resolver e o fez com sucesso. No topo da lista, estava JUÍZES 3 i questão de com o obter acesso ao rei Eglom sem levantar suspeitas. Eúde conseguiu aproi mar-se do rei colocando-se com o líder de - T ia com issão que levava ao m onarca seu -ib u to anual. O pagamento de tributo não ;D enas aum entava a riqueza do rei, o que :a r a ele era extrem am ente aprazível, com o •ambém reconhecida a autoridade dele so?re Israel, o que tam bém o agradava. O b via­ mente, Eglom não sabia que Eúde era o líder escolhido por D eus para libertar Israel; de :u tro modo, teria executado o israelita de -nediato. O segundo problem a era conseguir uma ijd iê n c ia particular com o rei sem causar rresco nfiança em seu s servo s e guardas. Eúde fez isso saindo da p resença do rei ju n ­ to com outros hom ens que prestaram sua ■omenagem a Eglom e, mais tarde, voltando sozinho, co m o se tivesse um a m ensagem .rg en te para o rei. Um hom em solitário e :o m um a d e ficiê n cia na m ão d ireita não -epresentava grande am eaça para um rei :o d e ro s o , e talvez o israelita desp rezível tí.esse m esm o um a m ensagem de seu D eus. Talvez Eglom tenha se en chid o de orgulho :e lo fato de o D eus de Israel ter uma m ensa­ gem para ele, e um a v e z que, sem dúvida, -ão estava com m edo de ouvi-la, dispen­ sou seus guardas e servo s e co n ce d e u a E jd e um a aud iên cia pessoal em seus apo;ento s particulares. Tendo em vista que Eúde precisava ma:ar Eglom de modo rápido, silencioso e que regasse o rei de surpresa,2 usou de sua de* ciên cia física. C o n fe cc io n o u um a adaga i* :ada e escondeu-a sob as roupas do lado rireito. M esm o que os guardas o revistassem, : mais provável seria que exam inassem o ado esquerdo, onde a maioria dos homens :s're g a v a as arm as. Vendo que era porta: ; r de deficiên cia física, é bem possível que re guardas sequer o tenham revistado. Até mesmo um rei deve se levantar para •eceb e r a m en sag em de D e u s. Q u a n d o Eg om colocou-se em pé, talvez Eúde tenha K sticu la d o com a mão direita para distraí-lo e mostrar-lhe que não segurava nada com d a ; em seguida, desem bainhou sua adaga e enterrou-a no corpo obeso do rei. Deve 101 ter sido um golpe e tanto, considerando-se que a adaga atravessou Eglom e que a pon­ ta da arm a saiu em suas costas, causando a morte instantânea do rei.3 O problem a seguinte foi fugir do palá­ cio sem ser pego, o que Eúde conseguiu ao trancar a porta do aposento particular do rei, retardando a descoberta do corpo do m onarca assassinado. Ao ver Eúde par­ tindo apressadam ente, os servos concluíram que sua entrevista havia term inado e foram ver se o rei precisava de alguma coisa. As três declarações com "e eis", nos versículos 24 e 25, indicam as três surpresas que tive­ ram: as portas estavam trancadas; o rei não respondeu a suas batidas e cham ados; e o rei estava morto. Tudo isso levou tem po e deu a Eúde a chance de escapar. Seu últim o problem a era reunir soldados para atacar o inim igo. O sinal da trom beta co n vo co u os hom ens, e ele os co n d u ziu até os vaus do Jordão, assegurando-os de que D eus havia entregue M oabe nas mãos de Israel. A vitória seria alcan çad a se co n ­ fiassem no Senhor e não dependessem de suas forças. A o guardar os vaus do rio, os israelitas im pediram os m oabitas de esca­ par ou de trazer mais soldados. U m a vez que Efraim era uma das tribos mais podero­ sas de Israel, Eúde po ssuía guerreiro s da m elhor qualidade sob seu com ando . A ssim , os israelitas m ataram dez mil dos m elhores soldados m oabitas. M o abe não apenas foi d e rro ta d o , co m o tam b ém Israel v iro u a m esa, e os m oabitas tornaram-se súditos dos israelitas. Podem os supor que a derrota de M o a b e foi um sinal para seus a liad o s A m o m e A m aleq u e - deixarem o cam po de batalha. Se alguém tivesse pedido aos israelitas que elegessem um líder, é bem provável que Eúde teria perdido a eleição já no primeiro turno. No entanto, ele foi o hom em que Deus escolheu e usou para libertar a nação. M oisés tinha dificuldade de falar e Paulo não era um tip o b e m -ap e sso ad o , m as assim com o Eúde, M oisés e Paulo foram homens de fé que conduziram outros à vitória. Eúde transformou uma deficiência numa possibi­ lidade, pois dependeu do Senhor. 102 JUÍZES 3 3. S a n g a r : (Jz 3:31) co rag em p e r s is t e n t e A penas um versículo é dedicado a Sangar e sequer afirma que foi ju iz. Juízes 5:6, 7 indi­ ca que foi contem porâneo de D ébora e de Baraque. A designação "filho de A nate" tal­ vez signifique sua procedência da cidade de Bete-Anate, na tribo de Naftali (1 :3 3 ), tribo de origem tam b ém de Baraque (4 :6 ; ver 5 :1 8 ). U m a vez que Anate era o nom e da deusa cananéia da guerra, talvez "filho de A n ate" fosse um apelido significando "filho da batalha", ou seja, um guerreiro poderoso. O im portante sobre Sangar foi a arm a que usou. Um a "aguilhada de bois" era uma vara forte, com cerca de dois metros e meio de com prim ento. Tin h a num a das extrem i­ dades um a ponta afiada de metal para tan­ ger o gac/o e, na outra, um a pá para íim par o barro do arado. Foi a coisa mais parecida com um a lança que Sangar pôde encontrar, pois os inimigos haviam confiscado as armas dos israelitas (jz 5 :8 ; ver 1 Sm 13:19-22). V e m o s um ho m em que o b e d e c e u a Deus e que derrotou o inimigo apesar de seus limitados recursos. Em vez de se quei­ xar por não ter uma espada nem uma lança, Sangar dedicou aquilo que possuía ao Senhor, o qual usou esse instrumento. Nas palavras de Joseph Parker: "aquilo que é um instru­ mento frágil nas mãos de um homem pode ser um instrumento poderoso nas mãos de outro, pelo simples fato de o espírito deste outro arder com a santa determ inação de com pletar a tarefa que precisa ser realizada".4 Pode ser que Sangar tenha matado todos os seiscentos filisteus num só lugar e na mes­ ma ocasião (ver 2 Sm 8:8-12), mas também é 1. possível que esse núm ero expresse um total cum ulativo. Teria sido difícil Sangar manu­ sear a aguilhada se os seiscentos hom ens o tivessem atacado sim ultaneam ente. Um a vez que não tem os conhecim ento dos detalhes, tam bém não devem os especular. No entan­ to, é anim ador saber que Deus o capacitou para ven ce r o inimigo, ainda que seus re­ cursos fossem limitados. Para mim, as poucas palavras registradas sobre Sangar dão a im pressão de que ele era um hom em d e coragem persistente, sem dúvida algum a nascida de sua fé no Senhor. Sua firm eza contra o inimigo em punhando apenas a ferram en ta de um agricultor no lugar do equipam ento militar com pleto de um soldado é o que distingue Sangar com o um homem valente, de coragem inabalável. C erta vez, C h a rles Spurgeon deu uma palestra num sem inário e a cham ou de "Para os O breiro s com Equipam entos Escassos". Sangar não ouviu essa palestra, mas tenho certeza de que poderia ter dado uma aula sobre esse assunto! Suspeito, ainda, que te­ ria encerrado a aula dizendo: "entregue ao Senhor as ferram entas que tem , quaisquer que sejam elas; mantenha-se firm e e cheio de coragem , crendo que Deus usará o que tem em mãos a fim de realizar grandes coi­ sas para glória dele". Parafraseando E. M . Bounds, o mundo procura métodos mais eficientes, mas Deus procura hom ens e mulheres mais eficientes, que com preendem os princípios fundam en­ tais: o poder do Espírito Santo, uma estraté­ gia inteligente e um a coragem inabalável. O tniel, Eúde e Sangar nos deram o exem ­ plo. Agora, cabe a nós segui-lo. Não devemos jam ais pensar que a ira de Deus é com o um ataque de birra de uma criança. Um Deus santo deve não apenas abom inar o pecado com o tam bém abom inar aquilo que o p e ca d o faz com as pessoas. Se a polícia prende pais que abusam dos filhos, o que Deus deveria ter feito quando seu povo sacrificava os filhos em altares pagãos? O poeta inglês Thom as Traherne (c. 1636-1674) disse: " O A m or pode suportar e o Am or pode perdoar [...], mas em m om ento algum o Am or pode ser reconciliado com um objeto odioso. Portanto, jam ais pode ser reconciliado com seu pecado, pois é impossível alterar o pecado. Porém, pode ser reconciliado com as pessoas, pois estas podem ser restauradas". Isso explica com o é possível Deus ao m esm o tem po abom inar o pecado e am ar o pecador; m esm o quando está irado com nossos pecados, ele nos disciplina em amor, "a fim d e serm os participantes da sua santidade" (H b 12:10). 2. O fato de Eúde ter assassinado um governante incom odou algumas pessoas que (por algum m otivo) não se abalaram quando, posteriorm ente, Eúde e seus hom ens exterm inam d ez mil jovens m oabitas saudáveis (Jz 3 :2 9 ). Se as guerras pela JUÍZ ES 3 103 libertação podem ser consideradas justificadas, então não importa quantos inimigos morrem , desde que o ideal da liberdade seja alcançad o . N o entanto, a despeito de quantas pessoas sejam m ortas, cada um a dessas m ortes consiste numa vida que é tirada. 3- O nome do rei Eglom significa "pequeno bezerro". Eúde havia matado o "b ezerro cevado". ± P a rk e r, Joseph. The P eople's Bible. Londres: H azell, W atson, and Viney, Ltd., 1 8 9 6 , vol. 5 , p. 3 4 5 . 3 "Dois São M el h o r Q u e U m e T rês São M e l h o r A in d a " J uízes 4 - 5 s personagens do dram a que se de­ senrola a seguir são: Jabim: rei de Hazor em Canaã; um tirano. Débora: ju íza israelita; uma m ulher de fé e coragem . Baraque: general israelita hesitante. Sísera: capitão do exército de Jabim . Héber: um vizinho queneu em paz com Jabim . Jael: esposa de H é b e r; hábil com um martelo. O Deus Jeová: no controle da guerra e das condições do tempo. O Q u e se levantem as cortinas! 1 . P r im t r á g ic a e ir o a t o (Jz : u m a s it u a ç ã o 4:1-3) Jabim é o personagem-chave do primeiro ato, pois D eus o levantou para disciplinar o povo de Israel. Durante oitenta anos, os israelitas haviam desfrutado o descanso sob a lide­ rança de Eúde, no período mais longo de paz registrado no Livro de Ju ízes.1 M as as­ sim que esse ju iz piedoso deixou o cargo, o povo recaiu na id o latria, levando D eus a castigá-los (Jz 2:10-19). O retrato de Israel no Livro de Juízes ilus­ tra a diferença entre uma "reform a religiosa" e um "reavivam ento espiritual". A reform a altera de modo tem porário a conduta exte­ rior, enquanto o reavivam ento transform a para sem pre o caráter interior. Q u an d o Eúde removeu os ídolos e ordenou que o povo adorasse som ente a Jeová, os israelitas obe­ deceram , mas quando se viram livres dessa obrigação, seguiram os próprios desejos. A nação de Israel era com o o homem da pará­ bola de Jesus que se livrou de um dem ônio, limpou a casa e acabou possuído por sete dem ô nio s ainda piores (M t 1 2 :4 3 -4 5 ). O coração vazio é a vítim a perfeita para todo tipo de mal. C anaã era constituída de várias cidadesestados, cada uma delas governada por um rei (ver Js 12). "Jabim " era o título oficial ou o nom e do rei de H a zo r (Js 1 1 :1 ). Também era cham ado de "rei de C an aã". Esse título provavelm ente significa que ele era líder de uma co n fed eração de reis. Josué havia in­ cendiado H azo r (Js 1 1 :1 3), mas os cananeus reconstruíram a cidade e voltaram a ocupála. C om seu grande exército e novecentos carros de ferro, o controle de Jabim sobre a terra era invulnerável. Ao ler a narrativa, po­ rém, tem-se a im pressão de que Sísera, capi­ tão do exército de Jabim , era quem , de fato, controlava a terra. Jabim sequer é m encio­ nado no cântico de D ébora em Juízes 5! M ais uma vez, o povo de Israel clam ou a Deus, não para que perdoasse seus peca­ dos, mas para que aliviasse seu sofrimento (ver os vv. 6-8 para ter uma idéia de com o era a vida naquele tem po). Se houvessem verdadeiram ente se arrependido, D eus teria feito muito mais do que libertá-los da escra­ vidão física. Tam bém os teria libertado da escravidão espiritual. Pedir a D eus conforto e não purificação é apenas lançar sementes de egoísmo que, um dia, produzirão outra colheita amarga. O que Israel precisava era fazer uma oração com o a de D avi: "C ria em m im , ó D eus, um co ração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável" (Sl 5 1 :1 0 ). 2 . S eg u n d o d iv in a ato : u m a revela çã o (Jz 4:4-7) Deus havia levantado uma m ulher corajosa cham ada D ébora ("abelha") para ser ju íza na terra. Foi um ato da graça divina, mas tam bém uma hum ilhação para os israelitas, pois viviam num a so cie d ad e de dom ínio m asculino e que desejava apenas a lideran­ ça de hom ens m aduros. "O s opressores do meu povo são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo" (Is 3 :1 2 ). Ao dar-lhes uma m ulher para julgá-los, Deus estava tra­ tando seu povo com o crianças - exatam ente JUÍZ ES 4 - 5 =; j i l o que eram com referência às coisas espirituais.2 D éb o ra era tanto ju íza quanto profetisa. M iriã, a irmã de M oisés, era profetisa (Êx 7 5 :2 0 ) e, m ais ad ian te, a história b íb lica ;:'e s e n t a H ulda (2 Rs 2 2 :1 4 ), N oadia (N e 6 :1 4 ) , A na (Lc 2 :3 6 ) e as quatro filhas de r iipe (At 2 1 :9 ). D eus cham ou D ébo ra para ser profetisa e ju íza , mas ela se considera.2 um a m ãe para o seu povo. "Eu, D ébora, ~ie levantei, levantei-m e por m ãe em Israel" z 5:7 ). O s israelitas rebeldes eram seus fi­ nos. e ela os re ceb ia de braços abertos e os aconselhava. Deus revelou a D ébo ra que Baraque ("ream pago") deveria reunir e co nduzir um exér; to de israelitas e atrair os soldados de Sísera ra ra uma cilada nas proxim idades do m on­ te Tabor, onde o Senhor iria derrotá-los. O -lon te Tabor ficava na ju nção das fronteiras de Zebulom , Naftali e Issacar, perto do ri­ beiro de Q u isom . Se Baraque conduzisse o exército israelita até o monte Tabor, Deus rtrairia Sísera e seus soldados na direção do ribeiro e, ali, o Senhor daria a vitória a Baraque. Q uand o D eus deseja glorificar a si mes~o por interm édio de seu povo, sem pre tem plano perfeito para seguirmos. D eus es:o lh eu o líder de seu exército , o local da r atalha e o plano a ser seguido pelos seus fa d a d o s. Além disso, garantiu a vitória. O s 'oons tem pos" de Josué estavam de volta! 3 . T e r c e i r o a t o : u m p a r t ic ip a n t e i r r e s o l u t o (Jz 4 : 8 - 1 0 ) O texto não diz que Baraque era ju iz, o que explica o fato de ele receber suas ordens de Débora, a líder escolhida por Deus para Is­ rael. Baraque era de Naftali, um a das tribos :u e enviou vo lu n tário s para o cam po de b atalha (v. 6). Assim com o M oisés (Êx 3 4 . C id eão (Jz 6) e Jerem ias (Jr 1), Baraque ■esitou quando descobriu o que D eus de­ sejava que fizesse. Sabem os que D eus dá as ordens e tamre m a ca p acid ad e de cum pri-las, e deve~K)S obedecer a suas p rescriçõ es, quaisquer : j e sejam as circunstâncias, sentim entos ou ::n s e q ü ê n c ia s . M as nem sem pre é o que 105 fazem os! A reação de Baraque foi uma de­ m onstração de incredulidade ou um sinal de humildade? Ele não acusou D eus de ter er­ rado; apenas pediu que D ébora o acom pa­ nhasse na batalha. Seu pedido deveu-se ao fato de ela ser profetisa e de ele precisar da orientação do Senhor? O u foi para ajudá-lo a alistar mais voluntários para o exército? O fato de D ébo ra concord ar em acom panhar Baraque indica que seu pedido não estava fora dos planos de Deus, ainda que, ao co n­ ceder o que Baraque pediu, D eus tenha tira­ do a honra dos hom ens para conferi-la às m ulheres. Baraque alistou d ez mil hom ens de sua própria tribo, N aftali, bem co m o da tribo vizinha, Zebulom (Jz 4 :6 ,1 0 ; 5:1 4 ,18 ). Poste­ riorm ente, voluntários das tribos de Benja­ mim, Efraim e da parte ocidental de Manassés (v. 14) e tam bém de Issacar (v. 15), junta­ ram-se a esses hom ens de modo a constituir um exército com quarenta mil soldados (v. 8). É possível que os prim eiros dez mil ho­ m ens ten h am in ic ia d o a c a m p a n h a que atraiu Sísera para a cilada e que os outros trinta mil tenham se juntado a eles para a batalha propriam ente dita e para a operação de "lim peza". As tribos convocadas que se recusaram a participar foram Rúben, Dã, Aser e a parte oriental de M anassés (vv. 15-1 7). Q u an d o levam os em co n sid eração que as arm as eram esca ssas em Israel (Jz 5 :8 ;3 1 Sm 13:19-22) e que não havia um exé r­ cito efetivo, o que D éb o ra e Baraque reali­ zaram foi, sem dúvida, um ato de fé. No entanto, D eus havia prom etido dar-lhes a vitó ria e eles se firm aram em suas prom es­ sas (Rm 10:1 7). 4. Q u a rto a to : um co n fr o n to v it o r io s o (Jz 4 :11-23) O Senhor é o ator principal dessa cena. ap en as co n tro lo u o e xé rcito inim igo conduziu até a cilada, com o tam bém trolou as condições do tempo e usou Não e o co n­ uma tem pestade para derrotar as tropas de Sísera. Sísera é a d v e rtid o (vv. 11, 12). O versí­ culo 12 ind ica que foram H é b e r e seus fa­ m iliares que deram o prim eiro aviso a Sísera de que os israelitas estavam prestes a se 106 JUÍZES 4 - 5 revoltar, contando tam bém que o exército de Isra e l e sta v a se re u n in d o . V im o s os queneus em Juízes 1:16 e descobrim os que eram parentes distantes dos israelitas por parte de M o isé s. É estran h o p e n sar que Héber, o queneu, se separaria de seu povo que adorava Jeová para associar-se a tiranos idólatras, com o Jabim e Sísera (4:1 7). Talvez precisasse da proteção e dos negócios que fazia com os cananeus ao trabalhar com o um m etalúrgico itinerante. Ao que parece, os queneus eram ligados à tribo de Judá (1 :1 6), mas os hom ens de Judá não se junta­ ram ao exército de Baraque. No entanto, podem os ver H éber de ou­ tro ponto de vista e considerá-lo parte do plano de D eus para atrair Sísera até a cila­ da. H éb er não era um aliado de Jabim e, na verd ade, sim plesm ente tentava m anter um a postura neutra num a so ciedad e divi­ dida. Porém , uma v e z que o exército israe­ lita posicionou-se no m onte Tabor, H éb er correu e deu a n otícia a Sísera, que, por sua ve z, não tinha m otivo algum para duvi­ dar do relato. Sísera co m e ço u a d eslo car seu exército e caiu na cilada. Sísera é d e rro ta d o (vv. 13-16). O s cana­ neus dependiam de seus novecentos carros de ferro para lhes dar a vantagem no co n­ fronto com o exército israelita (1 :1 9 ; ver Js 1 7:18). O que não sabiam era que o Senhor enviaria um a terrível tem pestade, fazendo o ribeiro de Q uiso m transbordar, transform an­ do o cam po de batalha num mar de lama (Jz 5:20-22). A água e a lama foram um im pe­ dimento sério para a m obilidade dos carros e cavalos cananeus, situação que facilitou o ataque dos soldados israelitas e a destrui­ ção do inimigo. A cilada funcionou e o exér­ cito adversário foi exterm inado. Juntam ente com a tem pestade dos céus e a en ch en te ca usad a pelo rib eiro, D eus confundiu a mente dos soldados inimigos. O termo traduzido por "derrotou" (4:1 5) sig­ nifica "confundiu, deixou em pânico". Era o que Deus havia feito com os soldados que conduziam os carros egípcios no mar Ver­ m elho (Êx 14:24) e a m esm a coisa q u e faria posteriorm ente com os filisteus nos dias de Samuel (1 Sm 7 :1 0 ). U m a das coisas que contribuiu para a confusão dos cananeus assustados foi a chu­ va to rre n cial re p en tin a bem no m eio do tempo de estiagem. U m a v e z que Sísera não teria levado seus carros para o cam po caso suspeitasse que iria chover, podem os supor com segurança que essa batalha ocorreu na estação seca, que vai de junho a setembro. Q u an d o lem bram os que o deus cananeu Baal era o deus da tem pestade, vem os com o a súbita m udança do tem po pode ter afeta­ do os cananeus supersticiosos. Será que seu próprio deus Baal havia se voltado contra eles? Será que o D eu s de Israel era mais po dero so que Baal? Se isso era verd ad e , então a batalha já estava perdida, e a me­ lhor coisa a fazer era fugir. S íse ra é m o rto (vv. 17-23). Enquanto Baraque e seus homens perseguiam e mata­ vam os cananeus que batiam em retirada, alguns deles em seus carros e outros a pé, Sísera - capitão cananeu - corria para sal­ var a própria vida, provavelm ente se dirigin­ do a H azo r, onde estaria seguro. Vencido pelo cansaço, porém, Sísera viu-se providencialm ente próxim o às tendas de H éber no carvalho de Zaananim (v. 11). Esse carvalho fam o so fic a v a na fro n te ira de N aftali (Js 1 9 :3 3 ), cerca de dez quilôm etros a leste do monte Tabor. Um a vez que Sísera sabia que H éber e seu povo tinham uma disposição am igável para com o rei Jabim , o assenta­ mento lhe pareceu um bom lugar para fazer um a parada e d escansar. Q u an d o Jael, a esposa de H éber, saiu ao encontro de Sísera e o convidou para entrar em sua tenda, o capitão cananeu teve ce rteza de que, en­ fim, estava a salvo. A final, naquela cultura, ninguém o usava entrar na tenda de uma m ulher exceto o marido. Jael deu-lhe leite em vez de água e o co briu. C erto de ter encontrado um a aliada confiável, o capitão descansou tranqüilo. Porém , Sísera com etera o erro de dizer a Jael para mentir, caso alguém perguntasse se ele estava lá. Sendo um a m ulher sábia, Jael concluiu que Sísera estava fugindo do ca m p o de batalha, o que significava qu e os israelitas haviam vencido o com bate e que os cananeus perderam o dom ínio sobre a JUÍZES 4 - 5 ■erra. Caso protegesse Sísera, ela se coiocaria num a situação difícil com os israelitas, s e js próprios parentes. Por certo, alguém íí:a v a atrás de Sísera e não sossegaria até o capitão m orresse. N o entanto, Sísera não tinha m otivos para suspeitar que corresse perigo. Afinal, o : I d e H éber mantinha relações am igáveis com os cananeus, e Jael havia demonstrado - ispitalidade e bondade; era pouco provále que algum soldado israelita em seu en­ calço entrasse sem perm issão na tenda de -m a mulher. O que Sísera não sabia era que Zeus havia prometido que uma m ulher tira­ ria a vida do com andante (4:9). Q uand o Sísera caiu em sono profundo, lael o matou fincando a estaca de uma ten­ da em sua cabeça. Nas tribos nôm ades do Dnente, eram as m ulheres que arm avam e resarm avam as tendas, de m odo que Jael ;a b ia usar um m artelo . Q u a n d o B araque ziego u ao local, descobriu que seu inimigo estava m orto e que a previsão de D ébora na\ ia se cum prido. Um capitão fugir da ba­ talha era vergonhoso; ser m orto enquanto ~jgia era hum ilhante; ser m orto por um a -u lh e r, porém , era o fim mais indigno de : d ò o s (9 :5 4). D evem os abençoar ou condenar Jael por squilo que fez? C o n vid o u Sísera para sua ‘ enda e o tratou com bondade, dizendo-lhe :a r a não temer, de modo que foi dissimula­ da. O s queneus estavam em paz com Jabim, e. portanto, jael quebrou um tratado. Ma*ou um homem indefeso sob sua proteção, : que fez dela uma assassina.4 E, no entan•d D ébora cantou: "Bendita seja sobre as -lulheres Jael, m ulher de H éber, o queneu; re n d ita seja sobre as m ulheres que vivem rm tendas" (Jz 5 :2 4 ). Em prim eiro lugar, não devem os avaliar : tem po dos ju íze s com base nos padrões espirituais ensinados por Jesus e seus após• j os. A lém disso, é preciso lem brar que, ; o r causa de Jabim e de Sísera, os israelitas • ; .iam sofrido sob o jugo terrível da escra. (dão, e era da vontade de D eus que a na­ ção fo sse lib e rta d a . Tanto Jab im quanto 5 íe ra eram culpados de haver maltratado : s israelitas durante anos, e se o exército 107 cananeu tivesse ven cid o a batalha, cen te­ nas de m oças israelitas teriam sido captura­ das e vio lentadas (v. 30 ). Jael não apenas ajudou a livrar a nação da escravidão , com o tam b ém aju d o u a p ro teg er m u lh e res da mais odiosa brutalidade. Não foi um a "Lady M acb eth " sem ita que matou seu hóspede v isa n d o o b e n e fíc io p ró p rio . H a v ia um a guerra em andam ento, e essa m ulher cora­ jo sa deixou, por fim , de ser neutra e assu­ miu uma posição firm e ao lado do povo de D e u s. 5. Q u in t o a t o g l o r io s a (Jz : um a celebra çã o 5 :1 - 3 1 ) Q u an d o desejavam celebrar ocasiões espe­ ciais, os israelitas costum avam expressar-se por meio de cânticos, de modo que o escri­ tor passa da prosa narrativa à poesia jubilosa. As gerações futuras poderiam se esquecer do que se encontrava nos livros de história, m as d ific ilm e n te se e sq u e c e ria m de um cântico de ce le b ração (para outros exem ­ plos, ver Êx 15; Dt 32 ; 2 Sm 1:17-27; Sl 18). O s pronom es pessoais em Juízes 5:7 , 9 e 13 indicam que esse foi o cântico de vitó­ ria de D ébora; mas, assim com o Baraque a acom panhou na batalha, também participou da com em oração pela vitória. Não é fácil esquem atizar um poem a ou um cântico, pois se trata de uma expressão em o cion al espo n tân ea que, m uitas veze s, desafia qualquer análise. A poesia hebraica contém temas repetitivos expressos de dife­ rentes m aneiras e, por veze s, irrom pe em louvor e oração. O esboço a seguir é ape­ nas uma sugestão de abordagem para esse magnífico cântico de vitória. T odos d o p o v o lo u vem ao S e n h o r (vv. 1-12). Nos versículos 1 a 9, D ébora e Bara­ que louvam ao Senhor por tudo o que ele fez em favor de seu povo. Deu união aos líderes para que Baraque form asse um exér­ cito (v. 2; ver tam bém v. 9). O mesm o Deus que concedeu a vitória a Israel no passado os levaria a vencer outra vez (vv. 4, 5). Israel havia feito um a alian ça com o Senhor no m onte Sinai, e ele cum p riria suas prom es­ sas a seu povo especial. A situação da terra era tão terrível que algo precisava ser feito. 108 JUÍZES 4 - 5 Assim , D eus levantou D ébora para ser mãe em Israel (vv. 6-9). O inimigo assumiu o con­ trole, pois Israel havia deixado Jeová de lado p a ra a d o ra r fa ls o s d e u s e s . D é b o ra se preocupava com a vida espiritual do povo e também com seu bem-estar físico e político. O b serve que a primeira seção (vv. 2-9) co ­ m eça e term ina com as palavras "Bendizei ao S e n h o r " . D e acordo com os versículos 10 e 11, D ébora e Baraque cham aram a nobreza rica ("os que cavalgais jum entas brancas") e os viajantes do povo para se juntarem aos can­ tores junto aos poços e louvarem ao Senhor por aquilo que havia feito ao exército de Jab im . Era seguro o u tra v e z an d ar pelas estradas, tirar água dos poços e conversar tranqüilam ente. O s israelitas podiam sair das cidades muradas onde tinham sido obriga­ dos a buscar refúgio e voltar em paz para suas vilas. Era tempo de todo Israel louvar ao Senhor por suas m isericórdias. Essa estrofe de louvor encerra com um cham ado à ação (v. 12). D eus ordenou a D é b o ra q u e d e sp e rta sse e ca n ta sse e a Baraque que despertasse e atacasse o ini­ migo. Pela fé, D é b o ra pôde ca n ta r antes m esm o de a batalha haver com eçad o e, tam ­ bém, depois de haver term inado. Lo u vem a D e u s p e lo s vo lu n tá rio s (vv. 13-18). D ébora estava agradecida por o povo haver se oferecido de bom grado para servir ao Senhor (vv. 2, 9) e por os nobres terem feito sua parte recrutando soldados das tri­ bos (v. 13). Seis tribos uniram-se para man­ dar voluntários. C om exceção do povo da cid a d e de M e ro z (v. 2 3 ), os h o m en s de Naftali responderam , bem com o os hom ens de Z ebulom , Issacar, Benjam im , Efraim e da parte ocidental de M anassés (M aquir). No versículo 14, a oração "os que levam a vara de com ando" (literalm ente, "a vara de um escriba") pode ser uma referência aos oficiais de recrutam ento que anotaram os nom es dos soldados. A queles hom ens não estavam "brincando de soldado"; antes, eram guer­ reiros valentes que levavam a sério os co m ­ bates em nom e d o Senhor. Porém, houve quatro tribos que não se ofe­ receram para fazer sua parte nessa batalha. A tribo de Rúben considerou o cham ado para a guerra, mas acabou fican do em casa. E p ro vável que estivessem refletin d o sobre D euteronôm io 20:1-9 - a lei das guerras de Israel - e exam inando o coração, a fim de determ inar se estavam aptos para ir à luta. U m a vez que a parte oriental de M anassés (G ileade) estava segura do outro lado do rio Jordão, seu povo tam bém ficou em casa (Jz 5 :1 7 ). D ã e Aser, perto do litoral, também decidiram não responder ao cham ado para lutar. Ao contrário desses irresponsáveis, as tribos de Zebulom e de Naftali receberam louvores por seus hom ens terem arriscado a vida a serviço do Senhor e de sua pátria (v. 18). N ão se esqu eça de que, durante esse período da história, "cada um fazia o que achava mais reto" (2 1 :2 5 ). Q u an d o Josué com andou os exércitos de Israel, todas as tribos particip aram ; mas quando Baraque co nvo co u as tropas, som ente m etade dos hom ens foi lutar contra Jabim .5 Em se tratando do cham ado para o ser­ v iço do Senhor, o povo de D eus hoje não é m uito diferente do povo de Israel daque­ le tem po: alguns se oferecem de im ediato e seguem o Senhor; alguns arriscam a vida; alguns refletem se riam e n te so bre o ch a ­ m ado, mas dizem não; outros ficam em seu canto, com o se nunca houvessem sido cha­ m ados. Louvem ao S e n h o r p o r sua vitória (vv. 19-23). U m a coisa é se alistar no exército e outra bem diferente é entrar na batalha. O s reis ca n a n e u s e suas fo rça s co m b in ad a s (co m n o v e ce n to s ca rro s) e n co n tra ram o exército israelita em M egido, na planície de Jezree l.6 U m a vez que era a estação das se­ cas, os soldados com seus carros esperavam aniquilar o exército de Israel, mas Deus ti­ nha outros planos. Enviou um a tempestade fo rte que tran sfo rm o u o rib eiro Q u iso m num a torrente violenta e o cam po de ba­ talha num pântano. U m a gota de chuva é extrem am ente frágil, mas quando milhões de gotas se reúnem , podem derrotar um exér­ cito! O exército de Israel creu qu e o Senhor lhes daria a vitória, pois era o que ele havia prom etido (Jz 4:6-9). JUÍZES 4 - 5 N ão foram D é b o ra nem Baraque que =~ aldiçoaram o povo de M ero z; a m aldição «eio do Anjo do S e n h o r . Baraque deve ter envergonhado ao saber que uma cidade re sua própria tribo, N aftali, recusou-se a -s-- . iar voluntários para ajudar nessa batalha •^portante. "M e ro z representa o ^respon­ d e i " , disse Philips Brooks num de seus ser—5es fam osos, "aquele que está disposto a »er outros lutarem as batalhas da vida, en: ja n to sim plesm ente chega depois e toma os despojos".7 O b serve que o pecado deles •ão foi apenas deixar de ajudar Israel; o povo :e M eroz se negou a ajudar o S en h o rI Louvem a D e u s p o r um a m u lh e r valen­ te (vv. 24-31). A bênção de D ébora sobre ael nos fa z lem b rar as palavras do anjo Z io rie l a M aria (Lc 1:42). Pelo fato de Ba- iz u e haver hesitado, D ébora anunciou que -•na m ulher receberia o crédito pela morte zo capitão do exército inimigo (Jz 4 :8 , 9). A : 'ação "rachou-lhe a cab eça", no versículo 26, não significa que ela o decapitou com um martelo e a estaca de uma tenda. O ter~'o quer dizer "esm agou" ou "despedaçou", lo m um só golpe, ela enfiou a estaca na "èmpora no capitão, despedaçou sua cabe: a e o m atou.8 A descrição da morte de Sísera, no ver; culo 27, dá a im pressão de que ele estava em pé na tenda quando Jael o atingiu e que :a íu m orto aos pés dela. No entanto, ele rita v a deitado e dorm indo quando foi mor­ to seph Parker defende G id eão ao escrever: "O s hom ens não podem ser corajosos de uma vez só" (The P eople's Bible, vol. 6, o. 14). Porém , a coragem vem da fé, e a fé não se fortalece quando pedimos a Deus que abençoe nossa incredulidade operando milagres. A m aneira de crescer em fé e em coragem é ouvir a Palavra de D eus, crer em suas promessas e obedecer a suas ordens. Deus pode ceder a nossas fraquezas em uma ou duas ocasiões, mas não permite que passemos a vida toda nesse nível de infantilidade. 5 / C rer E a V itó r ia J u íz es 7 O relato tão co n h ecid o e em polgante da vitória de G id eão sobre os midianitas é, na verdade, uma história de fé prática e nos revela três princípios im portantes sobre essa fé. Precisam os com preendê-los e aplicá-los, se desejam os ser vencedores e não vencidos. 1. D em bro-m e de po u cas m ensag en s que ouvi na capela quando era seminarista, mas nu n ca me esqu eci de um a pregação de V an ce H avn er que me deu ânim o em muitas ocasiões. Ao falar sobre Hebreus 11, disse que, pelo fato de M oisés ser um ho­ mem de fé, podia "ver o invisível, escolher o im perecível e fazer o im possível". Eu preci­ sava ouvir essa mensagem naquele tem po e ainda preciso nos dias de hoje. O que valia para M oisés séculos atrás ainda é válido para o povo de D eus no pre­ sente, mas hom ens e m ulheres de fé pare­ cem estar em falta hoje. Seja lá o que torne nossas ig rejas co n h e c id a s na a tu alid a d e, não são especialm ente notáveis por glorifi­ car a D eus por m eio de grandes atos de fé. Segun d o um co m e n tá rio e s p iritu o so : "A igreja co stu m ava ser c o n h e c id a por suas L obras de bondade, mas hoje só é co n h eci­ da por suas obras de eng enharia". "Porque todo o que é n ascid o de D e u s v e n c e o m undo; e esta é a vitória que v en ce o m un­ do: a nossa fé" (1 Jo 5 :4 ). O u os cristãos são ven cido s por sua incredulidade ou são ven ced o res pela fé. Lembre-se de que a fé não depen d e de co m o nos sentim os, da­ quilo que vem os nem do que pode aconte­ cer. O poeta quacre John G ree n le af W hittier expressou-se da seguinte m aneira em "M i­ nha A lm a e Eu": Nada atrás e, adiante, o ar; Passos que, com fé, são dados E que o vazio parecem tocar, São, em verdade, na rocha firmados. Essa rocha é a Palavra de Deus. e u s p r o v a n o s s a fé ( J z 7 :1 - 8 ) Não se pode confiar num a fé não testada. Costum a-se pensar que a fé não passa de um "sentim ento cheio de calor e de acon­ chego" ou, quem sabe, há os que simples­ mente "acreditam na fé". Lembro-me de uma ocasião em que participava de uma reunião de conselho de um ministério internacional quando um dos m em bros do grupo disse com grande entusiasm os: "Precisam os dar um passo de fé !", ao que outro m em bro perguntou em voz baixa: "E quem terá essa fé?" A resposta a sua pergunta foi o silêncio de uma introspecção geral. D e acordo com J. G . Stipe, a fé é com o uma escova de dente: todo mundo deve ter uma e usá-la com freqüência, mas não é re­ co m e n d áv e l u sar a de outra p esso a. Po­ dem os cantar em alta vo z sobre a fé dos antigos, mas não podem os exercitar a fé de nossos pais. Podem os seguir hom ens e mu­ lheres de fé e p a rticip ar de seus grandes feitos, mas não terem os sucesso em nossa vida pessoal dependendo apenas da fé de outrem . H á pelo menos dois motivos pelos quais Deus prova a nossa fé: em primeiro lugar, a fim de nos mostrar se nossa fé é verdadeira ou se não passa de uma im itação e, em se­ gundo lugar, a fim de fortalecer nossa fé para as tarefas que colocou diante de nós. Tenho observado, em m inha própria vida e minis­ tério, que D eus, muitas vezes, nos faz pas­ sar pelo vale da provação antes de permitir que alcancem os o ápice da vitória. Spurgeon estava certo quando disse que as prom es­ sas de D eus brilham mais forte na fornalha da aflição, e é ao nos apropriarm os dessas promessas que alcançam os a vitória. A p rim eira p en eira d a (vv. 1-3). Deus tes­ tou a fé de G id eão ao peneirar os 32 mil voluntários até que restaram apenas trezen­ tos hom ens. Se a fé de G id eão tivesse sido JUÍZES 7 tamanho de seu exército, então não tena sobrado muita coisa depois das peneira­ re i de Deus! M enos de 1% do contingente " :cial acabou seguindo G id eão até o cam po de oatalha. A s palavras de W isnton C hurchill sro re a Força A érea Britânica na Segunda I .e r r a M undial certam ente se aplicam aos "e ze nto s hom ens de G id e ão : "N o cam po dos conflitos hum anos, nunca tanta gente r-e.eu tanto a tão poucos". D eus e xp lico u a G id e ã o o m otivo de estar dim inuindo seu exé rcito : não queria ; j e os soldados se vangloriassem de que ~a\ iam ve n cid o os m idianitas. A s vitó rias acan çad as pela fé glorificam a D eus, pois ■inguém é capaz de explicar com o ocorre*am. "Se vo cê é ca p az de exp licar o que í í t á acontecendo em seu ministério, então é porque não foi Deus quem fez", disse o Dr. Bob C o o k. Q u an d o trabalhava no mi- stério M o cid ad e para C risto, co stum ava : j \ i r os líderes pedirem em suas o rações: Senhor, m antenha sem pre o trabalho de M ocidade para Cristo funcionando à base de m ilagres". Isso era viver pela fé. C o m fre q ü ê n c ia , so m o s co m o o rei _z ia s, que "foi m aravilhosam ente ajudado, a:é que se tornou forte. M as, havendo-se já 119 durante a batalha tom a dos soldados do Senhor a coragem e o poder. O medo cos­ tuma se espalhar, e um único soldado tem e­ roso é cap az de causar mais estrago do que um regimento inteiro de soldados inimigos. O m edo e a fé não podem co n vive r por muito tem po no mesm o coração. O u o me­ do ven ce a fé e desistimos, ou a fé conquis­ ta o medo e triunfam os. É possível que John W esley estivesse pensando no exército de G id eão quando disse: "Dê-m e um exército de cem hom ens que não temem coisa algu­ m a a não ser o pecado e que não amam coisa alguma a não ser Deus e farei estre­ m ecer as portas do inferno !".2 A seg un da p en eira d a (vv. 4-8). Deus fez os dez mil hom ens que haviam restado do exército de G id eão passarem por mais um teste ao pedir-lhes que bebessem água de um rio. N unca sabem os quan do D eu s está nos testando com alguma experiência com um da vida. O uvi falar de um pastor titular de uma igreja que sempre andava de carro com os candidatos à vaga de pastor assistente no carro deles, só para ver se o carro estava bem cuidado e se o candidato dirigia com cuidado. É discutível se o asseio e o cuida­ do ao dirigir garantem que alguém seja bem- ' x tific a d o , exaltou-se o seu coração para a - ja própria ruína" (2 C r 2 6 :1 5 , 16). As pes­ soas que vivem pela fé conhecem suas fraruezas e, cada v e z mais, dependem de Deus rara lhes dar forças. "Porque, quando sou -a c o , então, é que sou forte" (2 C o 12:10). Ao ordenar que os soldados tem erosos ■: tassem para casa, G id eão estava apenas sucedido em seu ministério, mas se trata de uma lição que vale a pena considerar. M ais roed ecendo à lei que M oisés havia dado: 'Q u a l o hom em m edroso e de co ração tí­ mido? V á , torne-se para casa, para que o : : 'ação de seus irmãos se não derreta com o : seu co ração" (D t 2 0 :8 ). "D e u s não pode -sar hom ens trêm ulos e tem erosos", disse C . Cam pbell M organ. " O problem a hoje em ria é que os hom ens trêm ulos e tem erosos "iistem em perm anecer no exército. U m a algo mais elevado." Q u em disse isso foi um ho m em ch a m a d o M arsd e n e, há m uitos anos, tenho sua citação - agora am arelada pelo tem po - debaixo do vidro de minha m esa de trabalho. Sem pre me fez bem refle­ tir sobre essa frase. -edução de m em bros que peneira da igreja os am edrontados e vacilantes é um ganho n e n so e glorioso".1 O orgulho depois da batalha toma do íe n h o r a glória que lhe é devida, e o medo sábio inserir no texto uma grande lição espi­ ritual que Deus não colocou nessas palavras. A m a io ria dos co m e n ta rista s d iz que os homens que se abaixaram para beber coloca­ ram-se num a posição vulnerável ao inimigo, de um candidato a em prego já acabou com suas chances de ser contratado durante um alm oço com o possível chefe por não per­ ceber que estava sendo avaliado. "Faça de toda ocasião uma grande ocasião, pois nun­ ca sabe quando alguém o está avaliando para Q ual era a relevância das duas formas de os hom ens beberem água do rio? Um a vez que as Escrituras não dizem , não seria 120 JUÍZES 7 enquanto os trezentos que beberam água da m ão perm aneceram atentos. Porém , o inimigo encontrava-se a mais de seis quilô­ metros de distância (v. 1), esperando para ver o que os israelitas fariam, e G id eão não teria co locado seus hom ens em perigo dessa forma. Um pregador conhecido afirma que os trezentos hom ens beberam água daque­ la m aneira para m anter os olhos fixo s em G id eão, mas o texto tam bém não diz isso. A meu ver, Deus escolheu esse método para peneirar o exército, pois era sim ples, despretensioso (nenhum soldado sabia que estava sendo testado) e fácil de ser aplica­ do. N ão devem os pensar que os dez mil homens beberam ao mesm o tempo, pois isso teria feito o exército espalhar-se ao longo de alguns quilôm etros à beira da água. Um a vez que os hom ens certam ente foram be­ ber em grupos, G id eão pôde observá-los e identificar os trezentos. Só depois dessa iden­ tificação é que os hom ens descobriram que haviam sido testados. "Porque para o S e n h o r nenhum im pedi­ mento há de livrar com m uitos ou com pou­ co s" (1 Sm 1 4 :6 ). A lgum as igrejas hoje se encantam com as estatísticas e acreditam que são fortes por terem muitos m em bros e recursos, mas os núm eros não são garan­ tia da bênção de D eus. M oisés assegurou os israelitas de que, se obedecessem ao Se­ nhor, um soldado perseguiria mil e "dois [fariam ] fugir d ez m il" (D t 3 2 :3 0 ). A ssim , G id eão só precisava de 2 7 soldados para derrotar todo o exército m idianita com seus 135 mil hom ens (Jz 8 :1 0 ), mas D eu s lhe deu trezentos. Juízes 7 :1 4 deixa claro que os midianitas conheciam G id eão e, sem dúvida, estavam o b se rv a n d o to d o s os seu s m o vim e n to s. M uitas vezes me pergunto o que os espias inimigos pensaram quando viram o exército israelita aparentem ente se desfazer. Isso dei­ xou os midianitas ainda mais confiantes e, portanto, descuidados? O u será que seus líderes ficaram ainda mais alertas, im aginan­ do se G id eão estava arm ando uma estraté­ gia com plicada para pegá-los? Em sua graça, Deus deu a G id eão mais uma prom essa de vitória: "C o m estes trezentos homens que lam­ beram a água eu vos livrarei" (v. 7). G id eão, ao apropriar-se dessa prom essa e seguir as instruções do Senhor, derrotou o exército inimigo e trouxe à terra uma paz que durou quarenta anos (8 :2 8). O s soldados que voltaram para casa dei­ xaram parte de seu equipam ento com os trezentos hom ens, de modo que cada um tivesse uma tocha, uma trombeta e um cânta­ ro - armas indiscutivelm ente estranhas para um com bate. 2 . D e u s e s t im u la n o s s a fé (Jz 7:9-1 5 a ) O Senhor queria que G id eão e seus trezen­ tos h o m en s a ta c a sse m o a c a m p a m e n to midianita durante a noite, mas primeiro teve de tratar do medo que persistia no coração de G id eão . Deus já havia dito três vezes a G id eão que daria a vitória a Israel (Jz 6 :1 4 , 16; 7:7) e o havia tranqüilizado com três si­ nais especiais: o fogo de uma rocha (6:1921 ), a lã m olhada (6:36-38) e a lã seca (6 :3 9, 4 0 ). D e p o is de to d a e ssa a ju d a d iv in a , G id eão deveria ter se fortalecido em sua fé, mas não foi o que aconteceu. C o m o devem os ser gratos por Deus nos entender e não nos co nden ar por nossos medos e dúvidas! Ele sempre nos dá sabe­ doria e não nos repreende quando continua­ mos pedindo (Tg 1:5). Nosso grande Sumo Sacerdote no céu identifica-se cono sco em nossas fraquezas (H b 4:14-16) e continua a dar mais graça (Tg 4 :6 ). Deus se lembra de que somos apenas pó (Sl 1 0 3 :1 4 ) e carne (Sl 7 8 :3 9 ). Deus estimulou a fé de G id eão de duas m aneiras. P o r m e io d e m ais um a p ro m essa (v. 9). O Senhor disse a G id eão pela quarta vez que havia entregue o exército midianita em suas mãos. (O b se rvar o tem po verbal; ver tam bém Js 6 :2 .) Ainda que precisassem lu­ tar na batalha, os israelitas já haviam venci­ do! O s trezentos hom ens poderiam atacar o exército inimigo certos de que Israel seria vitorioso. Algum as pessoas pensam que a fé co ­ rajosa e confiante é um tipo de arrogância 121 JUÍZES 7 A melhor maneira de obter a orientação k fig io s a , mas na verd ad e é justam ente o O s cristãos que crêem nas promessas de l e j s e que o vêem fazer grandes coisas são : : "iduzidos à hum ildade por saberem que : 3 e u s do universo cuida deles e está a seu lado. Não tomam para si mérito algum por n a fé nem a honra por suas vitórias. Toda a ftória vai para D eus, pois foi ele quem fez T-Co! É o filho incrédulo de Deus que entris­ tece o Senhor e o faz mentiroso (1 Jo 5 :1 0 ). A esperança e o am or são virtudes cristãs — Dortantes, mas o Espírito Santo dedicou ■n capítulo inteiro do Novo Testam ento -e o re u s 11 - às vitórias conquistadas pela Ép aor pessoas com uns que ousaram acredi­ tar em Deus e agir em função de suas pro-e s s a s . Pode soar com o um chavão para i j jn s , mas o velho ditado é verdadeiro: "Se 3 eu s diz, eu creio e ponto final!" A tra vés d e m a is um sin a l (vv. 10-14). eão e seu servo precisaram de coragem :- j'a entrar no território inimigo e aproximarse do acam pam ento midianita o suficiente z i ' a o uvir a co n versa dos dois soldados. T eu s havia dado um sonho a um dos solda­ dos, e esse sonho informou G id eão de que 3 e j s entregaria os m idianitas em suas mãos. 3 Senhor já havia com unicado esse fato a de D eus é pela sua Palavra, pela oração e pela sensibilidade ao Espírito, enquanto ob­ servam os as circunstâncias. U m a v e z que a cevad a era um cereal usado principalm ente pelos pobres, a im a­ gem do pão de c e v a d a co m re la ç ã o a G id eão e seu exército referia-se a sua condi­ ção fraca e humilde. Trata-se de um pão seco e duro que podia girar feito uma roda - uma com paração nada elogiosa! O hom em que interpretou o sonho não fazia idéia que es­ tava proferindo a verdade de Deus e enco ­ rajando o servo do Senhor. G id eão não se im portou de ser com parado com um pão se co , pois so ub e com ce rte z a que Israel derrotaria os midianitas e livraria a terra da servidão. É relevante o fato de G id eão ter se deti­ do para ad orar ao Senh o r antes de fazer qualquer coisa. Estava tão sobrepujado pela b o n d ad e e m ise ricó rd ia de D eu s que se curvou com o rosto em terra em sinal de subm issão e de gratidão. Josué fez a m esma coisa antes de tomar a cidade de Jericó (Js 5:1 3-1 5), e se trata de uma boa prática a ser seguida hoje. Antes de ser guerreiros vito­ riosos, p recisam os nos tornar ado radores sinceros. G deão, mas dessa v e z o com andante de s-ae! ouviu-o da boca do inimigo! No registro bíblico, é com um encontrar 3 e u s com unicando sua verdade por m eio re sonhos. D entre os fiéis com os quais fa­ lou em sonhos, podem os citar Jacó (G n 28, 3 ’ , José (G n 37), Salom ão (1 Rs 3), Daniel (D n 7) e José, m arido de M aria (M t 1:20, 1"- 2:13-22). M as D eus tam bém usou dessa forma para com unicar-se com in crédu los, : : n o A bim eleque (G n 20 ), N abucodonosor • * 1 2 . 4 ) , os com panheiros de prisão de José |C n 40), o Faraó (G n 41) e a mulher de Pilatos Mt 2 7 :1 9 ). No entanto, não devem os cond u r por esses exem plos que esse é o méto­ do normal de co m unicação do Senhor com t s oessoas ou que devem os buscar a orien-^-rão divina em nossos sonhos hoje em dia. Os sonhos podem ser enganosos (Jr 2 3 :3 2 ; Zc 10:2) e, sem a instrução divina, não te■05 com o saber a interpretação correta. 3. D (Jz e u s h o n r a n o s s a fé 7 :1 5 b- 2 5 ) "D e fato, sem fé é im possível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxim a de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam " (Hb 1 1 :6 ). Ter fé significa mais do que sim ples­ m ente co nfiar em D e u s; tam bém significa buscar a Deus e querer agradá-lo. Não cre­ mos em D eus apenas para conseguir que ele faça alguma coisa por nós. C rem os nele porque o coração do Senhor se alegra quan­ do seus filhos confiam nele, buscam sua pre­ sença e o agradam. D e que m aneira D eus recom pensou a fé de G ideão? D e u s lh e d e u sa b ed o ria pa ra p re p a ra r o e xé rcito (7 :1 5 b -1 8 ). Q uand o G id eão e seu servo voltaram para o acam pam ento israelita, G id eão era um novo hom em . Seus m edos e 122 JUÍZES 7 dúvidas se dissiparam , enquanto eie m obi­ lizava seu peq ueno e xé rcito e e n ch ia de coragem o coração dos soldados com suas p alavras e a ç õ e s. " O S e n h o r entrego u o arraial dos m id ianitas nas vo ssas m ãos", anunciou aos hom ens (Jz 7:1 5). C om o V ance H avner disse, a fé vê o invisível (vitória numa batalha que ainda não havia o co rrid o ) e faz o impossível (vence a batalha com poucos hom ens e com arm as incom uns). O plano de G id eão era simples porém eficaz. Deu a cada um de seus hom ens uma trom beta para tocar, um cântaro para que­ brar e uma tocha para acender. O s israelitas iriam rodear o acam pam ento inimigo com as tochas dentro dos cântaros e segurando as trom betas. Essas trombetas eram, na ver­ dade, chifres de carneiro (o shofar), com o os que Josué usou em Jericó, e essa relação com aquela grande vitória talvez tenha aju­ dado a anim ar G id eão e seus hom ens ao enfrentar a batalha. Q uand o G id eão desse o sinal, os hom ens tocariam as trom betas, quebrariam os cântaro s, revelariam as to­ chas e gritariam: "Espada pelo S e n h o r e por G id eão !", e D eus faria o resto. G id e ã o era o e xe m p lo que d everiam seguir. "O lh ai para mim [...] fazei com o eu fizer [...] com o fizer eu, assim fareis" (Jz 7:1 7). G id eão havia feito um bocado de progresso desde que Deus o havia encontrado escon­ dido no lagar! N ão o o u vim o s m ais per­ guntando: "S e [...] por que [...] onde?" (Jz 6 :1 3 ). Não o vem os mais buscando um si­ nal. Antes, deu as ordens a seus hom ens com segurança, sabendo que o Senhor lhes da­ ria a vitória. Alguém disse bem que as Boas Novas do evang elho são estas: não p re cisam o s continuar do jeito que som os. Pela fé em Jesus Cristo, qualquer um pode ser transfor­ mado. "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 C o 5:1 7 ). Jesus disse ao irm ão de A n dré: "Tu és Sim ão ["um o u vin te"...] tu serás cham ado Cefas ["um a pedra"]" (Jo 1:42). "Tu és - tu serás!" Por certo essas são boas novas para qualquer um que deseja recom eçar a vida. Deus pode pegar um pedaço frágil de argila com o Simão e fazer dele uma rocha! Deus pode pegar um hom em cheio de dúvidas com o G id eão e fazer dele um general! D e u s lh e d e u co rag em para co m a n d a r o e x é rcito (vv. 19-22). G id eão conduziu seu pequeno exército da fonte de H arode ("es­ trem ecim ento") para o vale de Jezreel, onde todos se co lo ca ra m a postos ao redor do acam pam ento. Q uand o G id eão deu o sinal, todos tocaram os cho fares, quebraram os cântaros e bradaram: "Espada pelo S e n h o r e por G id eão !" Vendo-se cercados pela luz re­ p e n tin a e p o r to d o a q u e le b a ru lh o , os m idianitas co n clu íram que estavam sendo atacados por um exército enorm e e, portan­ to, entraram em pânico. O Senhor interveio e co locou um espírito de confusão no acam ­ pam ento, de m odo que os m idianitas co ­ m eçaram a m atar uns aos outro s. Então, perceberam que a coisa mais segura a fazer era fugir. A ssim , tom aram o cam in ho das caravanas para o sudeste e foram persegui­ dos pelo exército israelita. D eu s lh e d e u a o p o rtu n id a d e d e a u m en ­ tar se u exé rcito (vv. 23-25). Era evidente que trezentos hom ens não poderiam perseguir um exército de milhares de soldados inimi­ gos, de m odo que G id e ã o ch am o u mais voluntários. Tenho certeza de que muitos dos hom ens do primeiro exército de 32 mil res­ ponderam ao cham ado de G id eão ; até mes­ mo a tribo orgulhosa de Efraim foi ajudá-lo. Esses hom ens tiveram a honra de capturar e matar O re b e ("corvo ") e Z eeb e ("lo bo "), os dois príncipes de M idiã. A história de G ideão co m e ça com um hom em se escon dendo num lagar (6 :1 1 ), mas term ina com o prínci­ pe inimigo sendo morto num lagar. A grande v itó ria de G id e ã o so b re os m idianitas tornou-se um m arco na história de Israel, não muito diferente da Batalha de W aterloo para a Grã-Bretanha, pois lembrou os israelitas do poder de D eus de livrá-los de seus inimigos. O dia de M idiã foi um gran­ de dia do qual Israel jam ais se esqueceria (Sl 8 3 :1 1 ; Is 9 :4 ; 10:26). A Igreja de hoje também pode aprender com esse acontecim ento e ser encorajada por ele. Deus não precisa de um grande nú­ mero de pessoas para realizar seus propósitos, JUÍZES 7 rom o também não precisa de líderes com ■atentos especiais. G id eão e seus trezentos homens colocaram -se a serviço do Senhor, e ele os capacitou para que conquistassem : “ imigo e trouxessem paz à terra de Israel. Ç .a n d o a igreja co m e ça a d e p en d er da ' £ -an d io sid ad e" - g rand es c o n s tru ç õ e s , f*andes m ultidões, grandes orçam entos - , :a is a a depositar sua fé no lugar errado, e Iie u s não pode dar sua bênção. Q uand o os [8. M o rg a n , 123 líderes dependem de seu currícu lo acadê­ m ico , ap tid õ es e e x p e riê n c ia em v e z de D eu s, então D eus os abando na e sai em busca de um G id eão. O im portante é que estejam os à dispo­ sição de Deus para ele nos usar com o lhe aprover. Podem os não entender inteiramen­ te seus planos, mas devem os confiar intei­ ram ente em suas prom essas. E a fé que dá a vitória. G . Cam pbell. The W estminster Pulpit, vol. 4, p. 209. WL Meu amigo, Dr. J. Vernon M c G e e , costum ava perguntar: "Se estava com tanto m edo, por que G id eão não voltou para casa?" A coragem não consiste necessariam ente na ausência de m edo; trata-se de superar o medo, transformando-o em poder. Certa vez, perguntei a um jogador cristão de futebol am ericano com o ele conseguia correr distâncias tão longas com a bola, ao que ele me respondeu: "Corro assim porque fico com tanto m edo que não paro de jeito nenhum !" Existe um m edo que paralisa e um m edo que energiza, e o m edo de G ideão era este último. 6 V en ç a a a G V u erra, P erca itó ria J u íz es 8 reis (vv. 4-12); G id eão disciplina os israeli­ tas rebeldes no cam inho para casa (vv. 131 7); o protesto dos efraim itas um a v e z de volta em casa (vv. 1-3); a execução dos reis (vv. 18-21) e a "aposentadoria" de G id eão (vv. 22-35). C ad a um desses acontecim en­ tos ap resentou um novo desafio para G i­ deão, e ele respondeu a cada um de maneira diferente. 1. U s preciso ter cuidado ao viajar a negócios ou em férias. Pode acabar escolhendo um lugar perigoso. D e acordo com um artigo de 25 de ju ­ nho de 1993 da revista Pulse, cinqüenta e seis nações têm problem as sérios com mi­ nas terrestres. Angola possui vinte milhões de minas à espera de vítim as para mutilar ou matar; o Afeganistão tem dez milhões e o C am boja, quatro milhões e meio. O s custos para rem over as minas são altos dem ais para esses países bancarem . Pode ser que suas guerras tenham term inado, mas os perigos não desapareceram . O pastor A n d re w Bo nar, um e sco c ê s presbiteriano, não estava pensando especi­ E ficam ente em minas terrestres quando disse essas palavras, mas ainda assim elas são um bom conselho para todos nós: "Perm aneça­ mos tão vigilantes depois da vitória quanto antes da batalha". G id eão precisava desse conselho depois de ter vencido os midiani­ tas, pois seus problemas ainda não haviam term inado. Descobriu algumas "m inas" pron­ tas a explodir. Até esta altura de nosso estudo sobre a vida de G id eão, vim os suas reações ao cha­ m ado de D eus para derrotar o inimigo. A princípio, G id eão estava cheio de pergun­ tas e de dúvidas, mas depois cresceu em sua fé, creu nas promessas de Deus e co n­ duziu seu exército à vitória. Em Juízes 8, o relato concentra-se nas respostas de Gideão a várias pessoas d ep ois de ter ven cido a ba­ talha e mostra com o lidar com algumas situa­ ções difíceis. Ao que parece, a cronologia do capítu­ lo 8 é a seguinte: G id eão persegue os dois m a respo sta b r a n d a a seu s c r ít ic o s (Jz 8 :1 -3 ) A presença desse parágrafo aqui é, de certo modo, um m istério. E pouco provável que os hom ens de Efraim tenham se queixado a G id e ã o e n q u a n to e sta v a m c a p tu ra n d o O re b e e Z e e b e (7 :2 4 , 2 5 ) e perseguindo Z eb a e Salm una (8 :1 2 ). Lutar contra o inimi­ go consum ia toda sua energia e atenção, e a resposta de G id eão no versículo 3 indica que os hom ens de Efraim já haviam captura­ do e morto O re b e e Z eeb e. Talvez uma de­ legação da tribo tenha ajudado G id eão na distribuição dos espólios quando o exército voltou para casa e, nessa ocasião, apresen­ tou sua queixa. Sabendo que eram um a tribo grande e im portante, ficando atrás apenas de Judá, os e fra im ita s eram um povo o rg u lh o so . G id eão era de M anassés, o "irm ão " tribal de Efraim ,1 e os efraim itas ofenderam -se por G id e ã o não os haver co nvo cad o para a ba­ talha. M as por que uma tribo tão im po r­ tante iria querer seguir um agricultor para o co m b ate? H aviam ajudad o Eúde (3:262 9 ), D éb o ra e Baraque (5 :1 3 , 14), mas isso não era garantia algum a de que ajudariam G id e ão . Ao refletir sobre o modo com o o ataque a M idiã foi realizado, vê-se que foi sábio da parte de G id eão não pedir voluntários de Efraim. Essa tribo orgulhosa teria se enfure­ cid o se G id e ã o tivesse dito aos hom ens a m e d ro n tad o s que d e veriam v o lta r para casa, e seus voluntários não teriam tolerado a redução do exército até chegar a apenas trezentos soldados! Se G id eão os cham asse e, depois, mandasse a m aior parte deles de volta, teriam criado um problema ainda maior antes da batalha do que fize ram depo is. JUÍZES 8 Efraim dispôs-se a ajudar nas operações de *1 ~ipeza", e era isso o que im portava. No entanto, Efraim perdeu a chance de : c _er alguns despojos valiosos de mais de mil soldados, e talvez esse tenha sido o ■otivo de sua exasperação. (Norm alm ente, ;_ a n d o os outros criticam alguma coisa que w :c ê fez, há um motivo pessoal por trás das —:icas, e talvez vo cê nunca descubra o ver­ dadeiro motivo da censura.) Visto que a lei i~ u ís ta de Davi para determ inar a divisão lios despojos ainda não havia sido instituída Sm 30:21-25), aqueles que não participa■ n da batalha não recebiam uma parte dos í-scólios. O s hom ens de Efraim deveriam estar agradecendo G id eão por haver libertad : a nação, mas em v e z disso, estavam criti:a id o e co lo ca n d o fardos ainda m aiores « o r e ele. C om o general vitorioso, herói nacional e o prim eiro a ser escolhido pelo povo para te r rei, G id eão poderia ter usado sua autori­ dade e popularidade para co locar a tribo de E raim em seu devido lugar, mas escolheu ■ma abordagem melhor. "A resposta bran­ da desvia o furor, mas a palavra dura suscita a -a" (Pv 1 5:1). Talvez, de im ediato, os sen» —entos de G id e ã o não tenham sido tão : r 'diais, mas ele se controlou e tratou seus — ãos com bondade. "M elho r é o longâni- : do que o herói da guerra, e o que domi■a o seu espírito, do que o que toma uma c dade" (Pv 1 6 :3 2 ). G id eão provou que po­ ria controlar não apenas um exército, mas u~ ibém seu tem peram ento e sua língua. É triste quando os irmãos declaram guer­ ra jn s contra os outros depois de terem lu■ado juntos para derrotar o inim igo. "O h ! I :m o é bom e agradável viverem unidos os »— ãos!" (Sl 1 3 3 :1 ). Não foi tão difícil para [] deão colocar de lado seu orgulho e elo: a r os hom ens de Efraim. O com andante h es disse que sua captura de O reb e e Zeeb e - a .ia sido um feito m aior do que qualquer : : sa que os hom ens de sua cidade natal, ^diezer, haviam realizado. A paz foi restau~iza, e G id eão voltou-se novamente para as b refas mais importantes que tinha a cum prir.2 Em seu alm anaque [P oor Richard's Almawackj (1 7 3 4 ), Benjam in Franklin escreveu: 125 Atente para o que Richard, pobre e im­ perfeito que seja, lhe diz: O que começa com ira, na vergonha encontra um final infeliz. E nas palavras do rei Salom ão: "C o m o o abrirse da represa, assim é o co m eço da conten­ da; desiste, pois, antes que haja rixas" (Pv 17 :1 4 ). 2. U m a a d v e r t ê n c ia s e v e r a p a r a o s c é t ic o s (Jz 8:4-17) G id eão e seus hom ens estavam perseguin­ do dois reis m idianitas, Z e b a e Salm una, sabendo que, se os capturassem e matas­ sem , o poder do inimigo seria enfraquecido e, por fim , subjugado. O exército atraves­ sou o rio Jordão e dirigiu-se a Sucote, em G a d e , na e sp e ra n ça de e n co n tra r algum alim ento, mas os hom ens de Sucote se re­ cusaram a ajudar os irm ãos. As duas e meia tribos que ocupavam a terra a leste do Jordão não se sentiam tão próxim as das outras tri­ bos quanto deveriam , e G ad e não enviou so ld a d o s para aju d a r D é b o ra e B araq u e (5 :1 7 ) nem G id eão . Enquanto outros arris­ cavam a vida, o povo de G ad e ficou de bra­ ços cruzados. O s parentes am onitas e m oabitas dos israelitas por parte de Ló recusaram-se a aju­ dar Israel dando alim entos, de m odo que Deus declarou guerra contra eles (D t 23:36). A ho sp italidad e é um a das leis funda­ mentais do O riente e, pelos costum es dessa região, as pessoas devem suprir as necessi­ dades tanto de d esco nhecid o s quanto de parentes. A hospitalidade tam bém era um m inistério im portante na Igreja Primitiva, pois não havia hotéis onde os hóspedes pudes­ sem fic a r e, em tem p os de p e rse g u ição , m uito s v isita n te s eram fu g itivos (ve r Rm 1 2 :1 3 ; 1 Tm 5 :1 0 ; Hb 1 3 :2 ; 1 Pe 4 :9 ). Na verd ad e, ajudar um irm ão fam into é uma oportunidade de ajudar o Senhor Jesus (M t 25:34-40). O s hom ens de Sucote não acreditaram na c a p a cid a d e de G id e ã o de d e rro tar o exército dos m idianitas - que havia batido em retirada - e de capturar os dois reis. Se Sucote ajudasse G id eão e ele fracassasse, 126 JUÍZES 8 a cidade sofreria retaliações dos midianitas. 3. U O s hom ens de Sucote não pensaram que alim entar um irmão faminto era uma opor­ tunidade de mostrar amor, mas sim um ris­ (Jz 8:18-21) co que não desejavam correr, sendo até um tanto im prudentes em sua form a de falar com G id eão . U m a v e z que G id eão havia receb i­ do a m esma reposta dos hom ens de Peniel (Penuel), advertiu as duas cidades de que voltaria para discipliná-las. D eus deu a G id eão e a seus soldados vitória sobre o exército fugitivo dos m idiani­ tas e perm itiu que capturassem os dois reis inimigos. Em triunfo, o com andante voltou pelo mesm o cam inho e cum priu a promes­ sa que havia feito aos hom ens de Sucote e Peniel. P ro vid en cialm e n te, en co ntro u um jovem que pôde lhe dar os nom es dos se­ tenta e sete líderes de Sucote que haviam se recusado a ajudá-lo e a seu exército. M os­ trou-lhes os dois reis que, de acordo com os anciãos, G id eão jam ais seria capaz de cap­ turar e, em seguida, os castigou, ao que pa­ rece com galhos de arbustos espinhoso s.3 Em seguida, foi a Peniel, destruiu a torre da cidade e matou os hom ens que se opuse­ ram a ele. Por que G id eão não usou de bondade com o povo de S u co te e Peniel, co m o ha­ via feito com os efraimitas, e sim plesm ente perdoou suas ofensas? Em prim eiro iugar, porque suas ofensas foram diferentes. O or­ gulho de Efraim não era nada grave com pa­ rado com a rebelião de Su co te e Peniel. Efraim estava protegendo seu orgulho tribal, um pecado sem conseqüências muito seve­ ras. No caso de Sucote e de Peniel, porém, as cidad es se rebelaram contra o líder es­ colhido de Deus e, ao m esm o tem po, ajuda­ ram o inimigo. Seu pecado era a dureza de co ração para com os irm ãos e a traição con­ tra o D eus'do céu. D e que adiantava G id eão e seus hom ens arriscarem a vida para liber­ tar Israel se havia traidores dentro da pró­ pria nação? É preciso que os líderes tenham discer­ nimento a fim de tomar a decisão certa ao tratar com situações diferentes. Insultos pes­ soais são uma coisa, mas rebelião contra o Senhor e seu povo é outra bem diferente. m a p e r g u n t a s é r ia a s e u s in im ig o s Q u an d o G id eão voltou para sua casa em O fra, levando cativos Z eb a e Salm una, deve ter sido um desfile e tanto. G id eão era um v e rd a d e iro h eró i. C o m ap en as tre ze n to s hom ens, havia m archado sobre o acam pa­ m ento inim igo e perseguido os soldados fugidos atravessando o Jordão e rumando para o Sul até Carcor. H avia trazido os pri­ sioneiros reais de volta, além dos despojos que os homens haviam juntado ao longo do cam inh o . G id eão tinha contas pessoais a acertar com esses dois reis, pois haviam matado seus irm ãos em Tabor. O texto não diz quando esse ato perverso ocorreu, mas deve ter sido durante um dos ataques anuais anteriores dos midianitas. Não há qualquer explicação sobre com o os irmãos de G id eão acabaram envolvendo-se no conflito nem sobre o mo­ tivo de terem sido mortos, mas tudo indica que foi um ato absolutam ente irracional. D e acordo com a lei m osaica, a família deveria vingar os crim es ao matar os hom i­ cidas. Israel não possuía uma força policial, e era esperado que cada fam ília encontras­ se e castigasse os que haviam assassinado seus parentes, desde que se tratasse, verda­ deiramente, de um caso de hom icídio doloso (ver Nm 3 5:9-34). No caso de Z e b a e de Salm una, os culpados não eram apenas ho­ m icidas, mas tam bém inimigos de Israel. O s dois reis mostraram perspicácia em sua reposta a G id eão , usando de lisonja ao compará-lo e a seus irmãos com príncipes. Alguém disse que a lisonja é algo delicioso de se degustar, mas horrível de se engolir, e G id e ã o não engoliu a b aju lação dos reis. C om o poderia poupar dois hom ens perver­ sos que haviam tirado o alimento da boca de m ulheres e de crianças israelitas e assas­ sinado brutalm ente hom ens de Israel? N aquele tem po, a form a de um solda­ do m orrer era im portante para sua reputa­ ção. A bim e le q u e não queria m orrer pelas m ãos de um a m ulher (Jz 9 :5 3 , 54 ), e o rei Saul não desejava cair nas mãos dos filisteus (1 Sm 3 1 :1-6). Um a criança matar um rei se­ ria a m aior hum ilhação im aginável, de modo JUÍZES 8 G id eão disse a seu filho, Jéter, ainda to jovem , para executar os dois criminoS tí. Ao fazê-lo, Jéter não apenas estaria guarü i d o a lei da terra e hum ilhando os dois B , mas tam bém trazend o honra para si. !W o resto de sua vida, seria conhecido com o e n e n in o q u e h a v ia e x e c u ta d o Z e b a e 5*-muna. \ o entanto, o jovem Jéter não estava r^e:: arado nem para a responsabilidade nem a honra. M esm o quando as pessoas são C . oadas, executar a justiça não é tarefa simr«es e não deve ser colocada nas mãos de ~ a~ ças. Por causa de seu m edo, Jéter vaciM diante da tarefa de vingar os tios, de ■odo que os dois reis pediram a G id eão os executasse. Parece haver certo sarcasm o nas pala■as dos reis, que podem ser assim parafra­ s e a d a s : " E n tã o , nos m a te v o c ê m esm o , 2 deão. Vejam os se você é, de fato, um ho■em, ou se não passa de um m enino". Z eb a e ía im u n a não queriam que Jéter, o jovem -•experiente, os executasse, pois sabiam que d e não o faria com m uita co m p etên cia e lyue lhes causaria uma m orte bem mais dotarosa. O s reis suscitaram de propósito a ira G id eão, sabendo que ele era hábil com - espada e que acabaria com eles num insb nte... e foi exatam ente o que G id eão fez. 4. U m a r e s p o s t a e n ig m á t ic a p a r a o s ‘>*.ig o s (Jz 8:22-32) R narrativa concentra-se em dois pedidos: ■n deles do povo para G id eão e o outro de I deão para o povo. O p o v o p e d e um re i (vv. 2 2 , 2 3 , 29-32). i í o se tornou tão benquisto que o povo he pediu para instituir um a dinastia, algo ~:eiram ente novo para a nação de Israel, i-ena um a form a de reco m p ensar G id eão pek> que havia feito por eles. No entanto, -.a-ibém seria, de certo modo, uma garantia r*e união entre as tribos, bem com o um tipo :e . derança que poderia mobilizá-las conr a possíveis invasores no futuro. O pedido foi um a confissão de incredufc-ade, pois, com o lem brou G id eão , D eu s era seu re i.4 G id e ã o rejeitou a o ferta ge-e-osa com base em princípios puramente 127 te o ló g ico s: não to m aria o lugar do D eus Jeová. D everia estar mais do que claro para todo israelita que o propiciatório no taber­ náculo era o trono de D eus, de onde ele reinava no meio de seu povo. "Tu que estás entronizado acim a dos querubins, mostra o teu esplendor" (Sl 8 0 :1 ). "R eina o S e n h o r ; tremam os povos. Ele está entronizado aci­ ma dos querubins; abale-se a terra" (S l 9 9 :1 ). Instituir um trono rival seria o mesmo que destronar o Senhor.5 M oisés advertiu que, um dia, Israel iria querer um rei com o as outras nações e se esqueceria de que era uma nação sem igual, diferente dos gentios (D t 4:5-8; 1 4 :2 ; 17:1420 ; Êx 19:4, 5). As palavras de G id eão foram louváveis, mas fica difícil entender o que ele fez em seguida. D epois de rejeitar o trono, passou a viver co m o um reil Juízes 8:29-32 descre­ ve o estilo de vida de um m onarca e não o de um ju iz ou o de um oficial militar refor­ m ado. G id eão tornou-se um hom em rico, em parte pelos despojos de guerra, em par­ te pelos presentes que recebeu do povo; teve m uitas espo sas e, pelo m enos, uma concubina. Suas esposas lhe deram setenta filhos e sua concubina lhe deu um filho. Aliás, G id e ã o cham o u o filho da co n cu b in a de A b im eleq u e, que significa "m eu pai é um rei" e, posteriorm ente, esse filho tentou fa­ zer jus a seu nom e e tornar-se rei de Israel. Além disso, tudo indica que G id eão tentou assum ir fu n çõ es sacerd o tais, pois fez sua própria estola, a qual provavelm ente ele con­ sultava em nom e do povo. É inegável que esse soldado e ju iz cora­ jo so m erecia honras e recom pensas, mas, ao que parece, seu "plano de aposentado­ ria" foi um tanto extravagante. G id e ã o p e d e o u ro (vv. 24-28). O povo estava ansioso por dividir seus despojos com G id eão . Afinal, ele havia trazido paz à terra (v. 2 8 )6 e recusado tornar-se seu rei. Assim , era justo que receb esse algo em troca de todo seu trabalho . O s m idianitas usavam jó ias de ouro em form a de crescen tes na orelha ou no nariz (G n 2 4 :4 7 ), e os solda­ dos israelitas certam ente se apropriaram logo dessas peças valiosas quando juntaram os 128 JUÍZES 8 despojos. G id eão acabou recebendo mais a glória de D eus, usou-a para proveito pes­ de vinte quilos de ouro, além da riqueza que tom ou de Z e b a e Salm una. N ão é de se adm irar que tenha conseguido viver com o soal, e, por fim , a nação voltou a cair em p ecad o. C o m sua grande riq u e za e reputação nacional, é provável que G id eão tenha pen­ sado que os filhos estavam bem providos, mas foi justam ente o contrário. Sessenta e nove dos setenta filhos foram mortos por seu meio-irm ão, sendo que este foi executado por um a mulher, a qual jogou uma pedra sobre sua cabeça. Fora da vontade de D eus não há segurança alguma. Se G id eão tivesse colocado em prática M ateus 6 :3 3 , os acon­ tecim entos subseqüentes teriam sido intei­ um rei! Foi assim que o homem de fé conduziu o povo ã idolatria, pois G id eão fez uma estola sacerdotal, e o povo "se prostituiu ali após ela" (v. 27 ). Isso significa que deixaram de dedicar sua devoção verdadeira ao Se­ nhor e usaram a estola com o ídolo. Nas Escri­ turas, a idolatria é considerada prostituição (Is 50:1-3; 54:6-8; Jr 2:1-3; 3:1 ss; O s 2; Tg 4 :4 ; Ap 2 :4 ). É possível que G id eão tenha confeccionado a estola com o uma represen­ tação de Jeová para "ajudar" o povo em sua adoração, mas um bom motivo não com pen­ sa um ato ofensivo. Sabia que era errado fazer um ídolo (Êx 20:4-6). Não há com o determ inar se essa estola era uma versão mais adornada da veste usa­ da pelo sumo sacerdote (Êx 2 8 :6 ) ou um tipo de estátua (ver Jz 1 7:5 ; 18:14,1 7), porém se sabe que foi usada para a adoração e tor­ nou-se um laço para G id eão e para o povo (Sl 1 0 6 :3 6 ). T a lv e z G id e ã o a usasse para determ inar a vontade de D eus e para ajudar o povo com seus problem as. Se a estola era, de fato, uma réplica da veste do sumo sacer­ dote, G id eão, sem dúvida alguma, estava fora da vontade de D eus ao confeccioná-la e usála, pois não era sacerdote. Se era um ídolo em forma de estátua, G ideão estava desobe­ decendo à lei de Deus (Êx 20:4-6) e também corrom pendo o povo. Da adoração da esto­ la, foi apenas um pequeno passo para que o povo com eçasse a adorar Baal (jz 8:33). G id eão perdeu uma grande oportunida­ de de realizar um a reform a e, talvez, até de trazer um reavivam ento sobre Israel. Havia destruído os ídolos do pai, mas ainda exis­ tiam muitas casas em Israel que se dedicavam a Baal, e esses ídolos tam bém precisavam ser destruídos. A grande vitória sobre M idiã deu a G id eão bons motivos para cham ar a nação de volta ao Senhor e à obediência à lei. Porém, em vez de usar essa ocasião para ram ente diferentes. O que causou o declínio espiritual de G ideão? C reio que foi o orgulho. Antes da batalha contra M idiã, G id eão dem onstrou uma dependência hum ilde do Senhor. Du­ rante as o p e raçõ e s de "lim p e z a ", porém, tornou-se autoritário e até mesmo vingativo. Q u an d o recusou o reinado, pareceu piedo­ so ("o S e n h o r v o s dom inará"), mas suspeito que tinha os próprios planos no coração. Não vem o s G id e ã o honrando ao Senhor nem conclam ando o povo a renovar a aliança e a obedecer ao Senhor. Gideão com eçou como servo, mas tornou-se uma celebridade. O re­ sultado disso foi o declínio dele, de sua famí­ lia e de sua nação. É interessante e instrutivo fazer um con­ traste entre Abraão e G id eão nas decisões de am bos depois de suas respectivas vitó­ rias (G n 14). Abraão não tomou coisa alguma para si, mas se certificou de que os outros re ce b e sse m sua parte dos d e sp o jo s (G n 14:22-24). Recusou especialm ente qualquer co isa vinda do rei de Sodom a (G n 14:17. 21-23). Em v e z disso, Abraão teve com unhão com M elquisedeque, rei de Salém, um tipo do Senhor Jesus Cristo (H b 7 - 8), e em tudo o que disse e fez, Abraão deu glória ao Se­ nhor dos céus e da terra. A n d re w Bonar estava certo: "Perm ane­ çam os tão vigilantes depois da vitória quan­ to antes da batalha". A final, pode ser que ainda haja algumas minas espalhadas por aí! JUÍZES 8 129 M anassés e Efraim eram filhos de José e netos de Jacó. M anassés era o primogênito, mas Jacó inverteu a ordem de nascimento quando os abençoou (G n 4 1 :5 0-52 ; 48:1 ss). N a verdade, "ad otou" os dois filhos de José no lugar de Rúben e de Sim eão (G n 4 8 :5 ; 4 9 :4 ), o que deu a Efraim um a posição de proem inência em Israel. Posteriormente, o orgulho de Efraim criou problem as para Jefté (Jz 12:1-6), cuja abordagem não foi tão diplom ática quanto a de Gideão! Alguns com entaristas acreditam que G ideão fez os homens se deitarem despidos no chão, cobriu-os com galhos espinhosos e depois passou por cim a deles com uma debulhadora até morrerem. Parece uma form a cruel de tratar os próprios irmãos, por mais maltratados que ele e seus hom ens tenham sido por eles, mas o texto afirm a claram ente que G id eão matou os rebeldes em Peniel que o haviam tratado da m esma form a. Devem os nos lembrar, porém , de que eram tempos cruéis, e "cada qual fazia o que achava m ais reto". V er Salm os 4 7 ; 6 8 :2 4 ; 7 4 :1 2 ; 8 9 :1 8 ; 9 8 :6 ; 1 4 5 :1 ; Isaías 6 :5 ; 3 3 :2 2 ; 4 4 :6 . Em seu cântico de louvor depois de atravessar o mar Verm elho no êxod o , os israelitas reconheceram a soberania de Jeová ao cantar: "O S e n h o r reinará por todo o sem pre" lÊx 15 :1 8 ). Lembre-se de que um dos temas-chave do Livro de Juízes é expresso na frase: "N aqueles dias, não havia rei em Israel" (Jz 17:6; 18 :1 ; 1 9 :1 ; 2 1 :2 5 ). Ao que parece, o escritor desejava enfatizar a necessidade de um rei para corrigir a divisão política e a decadência espiritual de sua nação. Posteriorm ente, o povo pediu a Samuel que ungisse um rei (1 Sm 8), e Deus lhe ordenou que atendesse o pedido. Todas as advertências que M oisés e Sam uel haviam dado ao povo sobre aquilo que os reis fariam com eles se cum priram , mas a natureza humana decaída preferiu líderes humanos visíveis ao Deus invisível e imortal, soberano nos céus e na terra. Essa é a última vez que o Livro de Juízes faz m enção de um período de paz. Em sua m aior parte, os outros juízes atuaram em nível local e durante pouco tempo. 7 V en h a o M eu R ein o Abim eleque transgrediu várias leis de Deus e, com o resultado, causou a própria destrui­ ção e grandes dificuldades para o povo.2 U m a a m b iç ã o e g o ís ta (vv . 1, 2 ) . O últim o dos dez m andam entos diz: "N ão cobiçarás" (Êx 20:1 7), mas quebrar esse m an­ J u íz es 9 dam ento é o prim eiro passo para quebrar os outros nove. A am bição em si não é algo p e ca m in o so , d e sd e que seja co m b in a d a com hum ildade sin cera e co ntrolada pela vo n tad e de D e u s. Se é o vento de D eus que o levanta e se vo cê está se elevando uando o exército de G eorge W ashing­ em asas co nced id as por ele, então voe tão alto quanto o Senhor o levar. M as se é vo cê ton derrotou o general inglês Charles Lo rn w allis em Yorktow n, foi o co m eço do quem está criando tanto o vento quanto as fim da G uerra Revolucionária. V encer a guer­ asas, então está a cam inho de um a queda ra não acab o u au to m aticam e n te com os m o num ental. problem as enfrentados pelas co lônias. Em "É im possível conform ar-se em rastejar termos financeiros, as coisas ficaram tão di­ quando se tem o desejo de voar", afirmou fíceis que um dos coronéis de G eorge W a­ Helen Keller. Esse é um bom conselho, des­ shington escreveu um a carta sigilosa para de que o im pulso de voar venha do Senhor. W ashington instando-o a usar o exército para A am b içã o eg o ísta c o n d u z à d e stru ição . declarar-se rei ou ditador. Para o coronel, Com as palavras "Eu subirei ao céu", um anjo essa era a única maneira de controlar a situa­ transformou-se no diabo (Is 14 :1 3 ), e a de­ ção da jovem nação. W ashington rejeitou o claração: "E esta a grande Babilônia que eu plano, mas com sua popularidade e poder, ed ifiq u ei" transform ou um rei em um ani­ é provável que teria sido cap az de tornar-se mal (D n 4:28-37). D eus tem várias formas rei, se assim o desejasse. de nos h u m ilh ar, se nos e x a lta rm o s (M t O caso de A bim eleque foi exatam ente 2 3 :1 2 ). o oposto. Seu desejo de ser rei era tal que O s israelitas co n heciam o povo de Si­ não permitiu coisa alguma em seu cam inho, quém desde os tempos dos patriarcas (Gn nem mesm o a vida de centenas de pessoas 1 2 :6 ; 33:18-20, 34ss). Nos dias de A bim e­ inocentes. Esse é o capítulo mais longo do leque, a população de Siquém era com pos­ Livro de Juízes, e tam bém um dos mais de­ ta de israelitas e de cananeus, o que explica prim entes.1 Registra três estágios da carreira por que ele com eçou sua cam panha nessa política de Abim eleque. cidad e. Sua mãe era siquem ita e seu pai, israelita. Assim , se A bim eleque se tornasse 1. A posse d o r e in o (J z 9 :1 -2 1 ) rei, poderia ser um representante de dois A b im eleq u e era filho de G id eão com uma povos! Abim eleque possuía mais um ponto m ulher escrava que v iv ia com a fam ília de favo ráve l em sua p latafo rm a p o lítica : os seu pai em Siquém (Jz 8 :3 0 , 3 1 ; 9 :1 8 ). Seu cananeus de Siquém não tinham co m p ro­ nom e significa "m eu pai é um rei". A pesar misso algum com os filhos de G id eão, en­ de G id eão , sem dúvida, ter vivid o co m o um quanto Abim eleque era, sem dúvida, alguém rei, ainda assim se recusou a fundar uma com quem se identificavam . Além disso, qual dinastia em Israel. N a o p in ião de A b im e le­ dos setenta filhos de G id eão deveria ser es­ que, po rém , seu pai havia co m e tid o um colhido rei e com o seria feita a escolha? Ou erro. D epo is da m orte de G id eão , A b im e­ será que todos os setenta tentariam gover­ leque decidiu que e/e deveria ser rei e, as­ nar juntos sobre a terra? Seguindo essa li­ sim, m udou-se d e Ofra para Siquém , o n d e nha de raciocínio, A bim eleque conseguiu o co m eço u sua cam panha. N esse processo, apoio tanto de seus parentes quanto dos Q JUÍZES 9 ~ :T ien s da cidade e, por fim , viu-se pronto a entrar em ação. Id o la tria (v. 4 ). O prim eiro e o segundo zos dez m andam entos d ize m : "N ão terás lóttros deuses diante de m im " e "N ão farás ra ra ti imagem de escultura" (Êx 2 0 :3 , 4). -Dim eleque com eteu essas duas transgres­ sões. Fica claro que ele era seu próprio deus e que não tinha interesse algum na vontade re Deus para a nação. O fato de aceitar di­ r e i t o dos adoradores de Baal para financiar s_a cam panha foi uma declaração pública de que havia renunciado o D eus de Israel e eetava do lado de Baal. No entanto, além de adorar a própria iT ib iç ã o e o deus Baal, A b im e le q u e pos­ suía, ainda, outro deus: a força. C o m o di­ nheiro sujo do tem plo pagão, contratou um ;- jp o de m e rce ná rio s que o ajudaram a manter o contro le sobre o povo. Esses terro-stas tam bém colaboraram em sua co nspi­ ração perversa para assassinar seus setenta -eio s-irm ão s e acabar com qualquer co n ­ corrente ao trono. Platão, o filósofo grego, disse: "Q u e m ■em força tem direito", e três séculos depois, : *';lósofo romano Sêneca escreveu: "Q u em lem fo rça im põe seu d ire ito ".3 D e ze sse te séculos m ais tard e, o ro m a n cista fran cê s :;e p h Joubert escreveu: "Tudo o que há no _ _ndo é governado pela força e pelo direito; a 'o rça é exercida até que o direito esteja :'o n to a governar". Porém , quando a força está nas m ãos de ditadores egoístas, raran e n te o direito do povo tem a chance de se resenvolver ou de assum ir o governo. A for:a. assum e o controle e não abre mão dele, a Tienos que um poder m aior a sobrepuje e ~aga a liberdade. O profeta H abacuque desn eve u assim as pessoas desse tipo: "fazem se culpados estes cujo poder é o seu deus" *Hc 1:11). H o m ic íd io (v. 5 ). O sexto m andam ento - Não matarás" (Êx 2 0 :1 3 ) - foi transgrediinúm eras vezes por A bim eleque e seus ~ e'cen ário s, a co m eçar pelo m assacre rea;a d o em O fra dos sessenta e nove meios— ãos de G id eão . Por que ninguém deteve e-íaa m atança nem defendeu a fam ília de C reão? Porque o povo de Israel havia se 131 esquecido tanto da benevolência de Deus quanto da bondade de G id eão (Jz 8:33-35). Não tinham c o n v ic ç ã o su ficie n te para se preocupar nem coragem suficiente para in­ tervir. Não dem ora muito para a sociedade transform ar o herói de ontem no vilão de hoje. O que o poeta irlandês W illiam Butler Yeats descreveu em seu fam oso poem a "A Segunda V in d a" era o que ocorria em Israel: Quanto aos melhores, falta-lhes qualquer convicção; quanto aos piores, sobra-lhes a mais ardente violência. "Ai daquele que edifica a cidade com san­ gue e a fundam enta com iniqüidade!" (H c 2 :1 2 ). A po calipse 2 1 :8 e 2 2 :1 5 deixa claro que o lugar reservado para os hom icidas é o inferno. É evidente que um hom icida pode clam ar ao Senhor e ser salvo com o qualquer outro pecador, mas não há evidência algu­ ma de que Abim eleque e seus homens te­ nham se arrependido de seus pecados. Seus pés eram "velo ze s para derram ar sangue" (Rm 3 :1 5 ; Is 5 9 :7 ), e o sangue que derram a­ ram acabou voltando-se contra eles. O hom icídio é grave o suficiente, mas quando um irmão mata outro, o pecado é ainda m ais h ed io n d o . Ao assassinar seus m eio s-irm ão s, A b im e le q u e jun to u -se aos muitos outros hom ens da Bíblia que com e­ teram fra tric íd io , in c lu siv e C aim (G n 4), A bsalão (2 Sm 13:23ss) e Jeorão (2 C r 2 1 :4) -grupo que não pode ser considerado exa­ tam ente sim pático... D e so n e stid a d e (v. 6 ). O terceiro m an­ damento diz: "N ão tomarás o nom e do S e­ n h o r , teu D eus, em vão" (Êx 2 0 :7 ), e o nono m andam ento nos proíbe de dar falso teste­ m unho (Êx 2 0 :1 6 ). A bim eleque transgrediu os dois m andam entos quando foi coroado rei. Se, ao assumir o cargo, jurou pelo nome do Senhor, foi a mais pura blasfêm ia, e se prometeu proteger o povo e obedecer à lei, também foi dissimulação (ver Dt 17:14-20). Não importa o que prometeu na coroação, pois Abim eleque visava apenas os próprios planos e estava determinado a levá-los a cabo. C om seu cinism o habitual, o jornalista A m b ro se B ie rc e d e fin iu "p o lític a " co m o 132 JUÍZES 9 "um a briga de interesses disfarçada de con­ trovérsia de princípios; a gestão dos assun­ tos públicos visando o benefício particular". Sem dúvida, a história possui, em seus regis­ tros, os nom es de hom ens e de m ulheres que colocaram o bem de seu país à frente dos interesses de seus partidos políticos e deles próprios, mas no caso de A bim eleque, a definição de Bierce aplica-se perfeitamente. A "co ro a çã o " de A b im e le q u e foi uma farsa, um ritual sem nexo que jam ais foi acei­ to nem abençoado por Deus. O novo "rei" não apenas blasfemou contra o Senhor por meio das promessas que fez, com o também profanou um lugar sagrado da história de Israel. A coração foi realizada "junto ao car­ valho m emorial que está perto de Siquém " (Jz 9:6 ). É provável que essa árvore seja o "carvalho d e M o ré ", o n d e o S en h o r apare­ ceu a Abraão e prometeu dar a terra ao pa­ triarca e a seus descendentes (G n 12:6). Foi próxim o a esse local que a nação de Israel ouviu a leitura, no texto da lei, das bênçãos e m aldições da aliança e prometeu obede­ cer ao Senhor (D t 1 1 :26-32; Js 8:30-35). Jacó enterrou seus ídolos junto a esse carvalho e conduziu a família de volta a Deus (G n 35:1 5). Tam bém foi nesse local que Josué fez seu último discurso e dirigiu o povo numa reafirm ação de sua o bediência ao Senhor (Js 2 4 :2 5 , 26 ). Toda essa história sagrada foi aviltada e desonrada pelos atos egoístas de um hom em ím pio. O rg u lh o (vv. 7-21). O único irm ão a es­ capar do m assacre foi Jotão (v. 5).4 É pos­ sível que as co m e m o raçõ e s da co ro a ção ainda estivessem em and am en to quando Jotão interrompeu com sua parábola profe­ rida do monte G erizim , próxim o a Siquém e ao carvalho de M oré. As bênçãos da alian­ ça deviam, ser lidas do monte G erizim (D t 2 7 :1 2 , 28), mas a história de Jotão era tudo menos uma bênção. Vale a pena observar que a tribo de José (Efraim e M anassés) de­ veria ficar no monte da bênção, mas A bim e­ leque certam ente não havia trazido bênção alguma a M anassés, a tribo de G id eão . Essa é primeira parábola registrada nas Es­ crituras. M uitos acreditam que foi Jesus quem inventou as parábolas e que elas podem ser encontradas apenas nos quatro Evangelhos, mas nem uma coisa nem outra é verdade. Além dessa "Parábola das Á rvo res", o A nti­ go Testam ento tam bém traz a "Parábola da C ordeirinha", contada por Natã (2 Sm 12:14), a parábola contada pela mulher de Tecoa (2 Sm 14:5-20), a "Parábola do Card o " (2 Rs 14:8-14) e a "Parábola da V inha" (Is 5:1-7). As profecias de Jerem ias e Ezequiel contêm tanto p arábolas faladas quanto parábolas "d ram atizad as" (Jr 13, 18 - 19, 2 7 - 28 ; Ezequiel 4 - 5, 16, 31 etc.). Jotão descreveu as árvores procurando um rei.5 Abordaram a oliveira com seu óleo valioso e a figueira com seus frutos doces, bem com o a vinha com seus cachos de fru­ tas das quais se podia faze r o vinho , mas todas recusaram a honra. C ad a uma delas precisaria fa zer algum sacrifício a fim de rei­ nar e não estavam preparadas para isso. Tudo o que restou foi um espinheiro, ar­ busto cheio de espinhos e considerado uma praga na terra e que servia apenas de lenha. E evidente que o espinheiro sim bolizava o novo rei, Abim eleque. Sem dúvida, a idéia de o espinheiro convidar as outras árvores a co n fia rem em sua som bra é, no m ínim o, côm ica! No verão, era com um haver incên­ dios no meio dos espinheiros, e quando esse fogo se espalhava, am eaçava as outras árvo­ res (ver o uso que Davi faz dessa imagem em 2 Sm 2 3 :6 , 7; ver tam bém Is 9 :1 8 , 19). O argumento de Jotão era claro: Abim e­ leque, o "rei-espinheiro", não seria cap az de proteger seu povo, mas faria com que o jul­ gamento viesse sobre a nação e destruiria os q u e co n fia v a m n e le . O s h o m e n s de Siquém deveriam envergonhar-se da manei­ ra com o haviam rejeitado a casa de G ideão e honrado um oportunista desprezível como A b im e le q u e . M ais cedo ou m ais tarde, o novo rei e seus seguido res acab ariam se destruindo. Abim eleque considerava-se um a árvore m ajestosa de grande valor, mas Jotão decla­ rou que ele não passava de um a erva dani­ nha im prestável, um golpe e tanto contra o orgulho do novo rei! Q u an d o escolheram Abim eleque para ser seu rei, os homens de Siquém não obtiveram azeite de oliva, que JUÍZ ES 9 133 ;-: de ser usado para tantas coisas, nem fipns saborosos ou vinho que alegra o corap o ; só o que conseguiram foi um monte rie espinhos, que serviam apenas para ser cx-eimados. Na verd ad e, era de D eus que Abim ee : j e estava tentando usurpar o reino (Jz ::2 3 ), e o Senhor permitiu que eie fosse rebÉvam ente bem-sucedido. M as Deus ainda estava assentado no trono e providenciaria para que os propósitos hum anos egoístas ■:-íem frustrados. É perigoso considerar-se m aior do que o tarifas que costum avam incidir sobre suas caravanas em Siquém . M ais séria, porém , foi a notícia que se espalhou: o novo rei não conseguia controlar seu povo nem proteger o com ércio da região. E nesse cenário instável que entra um re cé m -ch e g a d o c h a m a d o G a a l, filh o de Ebede, um hom em com faro apurado para boas oportunidades. Em pouco tempo, co n ­ quistou a co n fian ça dos homens de Siquém, já descontentes com seu rei, e quando uma m ultidão se reuniu para com em orar a festa da co lheita, G aal critico u p ublicam en te a ::n v e n ie n te (Rm 1 2 :3 ). Todos precisam os descobrir os dons que D eus nos deu e usábs no lugar onde ele nos colocar. Cad a um ro s mem bros do corpo de Cristo é impor­ tante (1 C o 12:12-31), e precisam os todos _"S dos outros, com o tam bém necessitam os - nistrar uns aos outros. Não precisam os nos rrom over, uma vez que, no serviço do Se­ nhor, não há com petição (Jo 4:34-38; 1 Co 3 :5-9). O im portante é que Deus receba a gó ria. adm inistração de A b im eleq u e. Lem brou o povo de que o pai de seu rei era israelita, enquanto eles eram filhos de Ham or e não de Jacó (G n 3 4 ). A quilo que A b im eleq u e 2. A d e f e s a d o r e in o (Jz 9:22-29) D epois de três anos de relativo su cesso , ^ oim eleque viu-se em d ificu ld ad e s. U m a m isa é conseguir um trono, outra bem dife■ente é defendê-lo e mantê-lo. O s cidadãos de Siquém que haviam ajudado a coroá-lo e ■m intruso ch am ad o G a a l co m e çaram a causar problem as ao novo rei. Tudo isso veio rio Senhor, prestes a castigar A bim eleque e D5 homens de Siquém pela m atança dos fib o s de G id eão . "Ainda que as m oendas de 3eus trabalhem devagar, trituram completa-tente" (Longfellow, Retribution). P rim eiro dia - a ja c tâ n cia d e C a a l (vv. 25-33). O Senhor criou tam anha discórdia o itre o rei e seus seguidores que os sique-vtas com eçaram a trabalhar contra o rei. -assaram a assaltar as caravanas que usa>am as rotas com erciais próxim as à cidade. Abimeleque estava morando em A rum á (v. 41 . e os assaltos levavam em bora não ape­ nas seu d inheiro , mas tam bém sua repu­ tação. O s co m e rcian tes ficavam sabendo Id perigo, tomavam outro cam inho e, com ■50, não precisavam pagar a Abim eleque as considerava o ponto mais forte de sua plata­ forma política (v. 9) acabou sendo seu espi­ nho na carne. Sua abordagem , no versículo 29 , m os­ trou-se bastante eficaz. G aal estava vivendo em Siquém , enquanto A bim eleque vivia em A rum á. O povo podia contar seus proble­ mas a G aal, e ele podia lhes dar o auxílio de que precisavam , mas com o iriam a Arum á para pedir ajuda? Anos depois, Absalão usou essa m esm a abordagem para obter a sim pa­ tia dos israelitas (2 Sm 15:1-6). G aal en cer­ rou seu discurso na festa declarando: "e eu expulsaria A bim eleque e lhe diria: M ultipli­ ca o teu exército e sai" (Jz 9 :2 9 ), um verda­ deiro desafio ao rei. M ais que depressa, Z eb u l, o represen­ tante de Abim eleque em Siquém , levou as inform ações sobre G aal ao rei. Não apenas transmitiu ao rei o teor do discurso com o tam­ bém ofereceu uma estratégia para tratar des­ se intruso presunçoso. Zebul trabalharia para o rei dentro de Siquém , enquanto este reu­ niria suas tropas do lado de fora da cidade. S e g u n d o dia - a d erro ta d e G a a l (vv. 34-41). A p esar de não ter a fé nem as ar­ mas que G id e ã o e seus hom ens usaram , A bim e le q u e em pregou algum as das estra­ tégias de seu pai (v. 34 ). O relato dá a im­ pressão de que Z eb u l co n ven ceu G aal de que era seu am igo, pois G aal acreditou na mentira de Z eb u l. Enquanto os dois hom ens se enco ntravam na porta da cid ad e logo 134 JUÍZES 9 cedo, A bim eleque preparava a arm adilha, e Zebul estava prestes a jogar a isca. Q u an d o ficou claro que um exército es­ tava atacando Siquém , G aal teve de tomar uma providência. Se fosse hoje, G aal prova­ velm ente teria dito: "O u vai ou racha". Caso se escondesse na cidade, perderia seus se­ guidores e cairia em desgraça, sendo apa­ nhado e e xe cu tad o . Se tentasse fugir, os seguros numa construção dedicada a um de seus deuses, na esperança de que A bim ele­ que respeitaria o lugar sagrado e de que os deixaria em paz. A bim eleque, porém , trans­ form ou o tem plo num a fornalha e matou todos os que se encontravam lá dentro. hom ens de A b im e le q u e o perseguiriam e matariam . Só lhe restava reunir seus segui­ dores e sair para enfrentar Abim eleque. Seu cente é algo muito sério e, no tempo certo, ele executa sua vingança (D t 19:10, 13; 2 1 :9; 1 Rs 2 :3 1 ; Pv 6 :1 7 ; Is 5 9 :7 ; Jr 7 :6 ; 2 2 :3 , 17; Jl 3 :1 9 ). O número de hom icídios nos Esta­ dos U nidos alcançou o recorde de 2 3 .4 3 8 em 1 990, uma m édia de três pessoas assas­ sinadas por hora ao longo de um ano. A cres­ centando a essa estatística os m ilhares de bebês inocentes m ortos no ventre das mães, não é difícil ver com o a "terra de um povo livre" está m anchada de sangue inocente e, um dia, pagará por isso. A bim eleque pagou por toda essa matan­ ça quando estava tentando proteger seu tro­ no. Ao que parece, o povo de Tebes, uma exército foi derrotado, e seus soldados aca­ baram expulsos da cidade. T erceiro dia - o ca stig o de S iq u ém (vv. 4 2 -4 9). A bim eleque ainda tinha mais co n­ tas a a ce rtar, agora com os cid ad ão s de Siquém que o haviam am aldiçoado (v. 27) e que atacavam as caravanas, roubando o di­ nheiro do rei e acabando com sua reputa­ ção. Na manhã seguinte, quando o povo de Siquém saiu da cidad e para trabalhar nos cam pos, Abim eleque arm ou uma em bosca­ da, bloqueou a porta da cidade e exterm i­ nou os habitantes presos lá dentro. Assim , o S e n h o r v in g o u o sa n g u e d o s filh o s de G id eão. D e fato, "[saiu] do espinheiro fogo que [consum iu] os cedros do Líbano" (v. 1 5). A expressão "cedros do Líbano" representa os líderes da cidade que haviam apoiado o governo de A bim eleque (v. 20). A fim de se ce rtificar de que a cidade não voltaria a rebelar-se contra ele, A bim e­ leque destruiu Siquém e semeou sal sobre ela. Jogar sal sobre uma cidade conquistada era um gesto sim bólico que co n d en ava o local à deso lação, de m odo que ninguém mais iria querer morar lá. "D ai asas a M oabe [sem eai sal sobre M oabe], porque, voando, sairá [será desolada]; as suas cidades se tor­ narão em ruínas, e ninguém m orará nelas" (Jr 4 8 :9 ; e ver J r '1 7:6). E possível que a "Torre de Siquém " fosse a "Bete-M ilo" [casa de M ilo] citada em Juízes 9:6 . Era o lugar onde viviam os aristocratas de Siquém, apesar de não sabermos sua loca­ lização exata em relação à cidade principal. O povo fugiu de Bete-Milo para o templo de El-Berite ("deus da aliança"; Baal-Berite, v. 4 e ver 8 :3 3 ). Ao que parece, sentiram-se mais 3. A PERDA DO r e in o (Jz 9:50-57) Para Deus, o derram am ento de sangue ino­ cidade a cerca de dezesseis quilôm etros de Siquém , havia se juntado à rebelião contra Abim eleque, de modo que ele foi até essa cidade com seu exército e tam bém castigou seus habitantes. Assim com o o povo de BeteM ilo, os moradores de Tebes fugiram para sua torre, e Abim eleque tentou usar o mes­ mo método de ataque que havia funciona­ do em Siquém. No entanto, com eteu o erro de aproximar-se dem ais da torre, e uma mulher jogou lá do alto uma pedra superior de moinho na ca b e ça do rei e o m atou. A desg raça de Abim eleque foi tripla: (1) Ele foi morto fora de com bate; (2) foi morto por uma mulher, o que para um soldado era grande desonra; e (3) foi morto com uma pedra de moinho e não com um a espada. O fato de seu es­ cud eiro ter dado o golpe de m isericórdia com uma espada não muda coisa alguma. S é cu lo s d e p o is, a m o rte ve rg o n h o sa de Abim eleque ainda era lem brada com o ten­ do sido in flig id a por um a m u lh e r (2 Sm 1 1 : 2 1 ). Abim eleque perdeu o reino e a vida. A m a ld içã o p ro fe rid a por seu m eio -irm ão , JUÍZ ES 9 Dtão, cu m p riu-se tanto em A b im e le q u e : ja n to no povo de Siquém (Jz 9 :2 0 ). " O in-irtú nio matará o ím pio, e os que odeiam o 135 justo serão condenados" (Sl 3 4 :2 1 ). "O Justo considera a casa dos perversos e os arrasta para o mal" (Pv 2 1 :1 2 ). Se você se sente incom odado pela matança terrível registrada neste capítulo, lembre-se de que ditadores com o Idi Am im , Joseph Stalin e Adolph H itler fizeram coisas muito piores. Norm an Cousins calculou que, para cada palavra do livro M ein Kam pf [M inha Luta] de Hitler, morreram 125 pessoas na Segunda G u erra M undial. 1 Não devemos pensar que Abim eleque reinou com soberania absoluta sobre a nação toda. No tem po'dos juízes não havia esse tipo de solidariedade nacional. A situação era mais parecida com o período da história dos Estados Unidos depois da Revolução, quando as colônias funcionavam sob os Artigos da Confederação. Abim eleque controlava Siquém e Bete-Milo ("casa de M ilo; Jz 9:6), A rum á (v. 41), e Tebes (v. 50), o que indica que governava diretam ente sobre a parte ocidental de Manassés. Juízes 9 :22 afirm a que Abim eleque "[dom inou] três anos sobre Israel", dando a entender que ele reinou durante esse tem po e que toda Israel se sujeitou a ele. Porém , "reinar" é um term o forte dem ais, sendo preferível usarmos o verbo "governar". "Todo Israel" (pelo menos todos os que sabiam o que havia acontecido) teve de reconhecer Abim eleque com o seu governante, mas é de se duvidar que sua influência tenha alcançado todas as tribos. D evem os faze r justiça a Platão e a Sêneca e d iz e r que não estavam defen dend o a b rutalidade p o lítica, na qual os fins justificam os m eios, m as sim d iscutind o co m o fa z e r ju stiça na so cied ad e. A s d ecla ra çõ e s: "Q u e m tem fo rça tem direito" e "Q u e m tem fo rça im põe seu d ireito " só são válid as q uand o há interesse genuíno em d efen der corretam ente os direitos de todos. Em duas ocasiões, o texto diz que Abim eleque matou setenta homens (Jz 9 :1 8 ,5 6 ), mas se Jotão escapou, som ente sessenta e nove foram mortos. Porém , não se trata de um erro, assim com o o fato de João 20 :2 4 e 1 Coríntios 15:5, cham arem o grupo de discípulos de "os d o ze" quando havia som ente on ze apóstolos é apenas uma força de expressão. 3 Tanto Ezequiel 31 quanto Daniel 4 usam árvores para representar líderes ou nações. 8 U m D se espreza d o D Q ue estaco u J u íz e s 1 0 - 1 2 A vida e a literatura encontram-se reple­ tas de "contos de C inderela", histórias de pessoas rejeitadas que acabaram "des­ cobertas" e elevadas a posições de honra e de autoridade. Horatio Alger escreveu mais de cem rom ances para m eninos girando em torno do tema "da pobreza à riqueza" e tor­ nou-se um dos escritores norte-americanos mais influentes da segunda m etade do sé­ culo xix. Seja a trajetória de Abraham Lincoln "de um a choupana à C asa Branca", seja a de José da prisão ao trono do Egito, a histó­ ria do pobre infeliz que alcança sucesso sem ­ pre agradou o povo. G ostam o s de ver os vencidos se transformando em vencedores. O relato sobre Jefté, o personagem prin­ cipal destes capítulos, é um a história desse tipo, com a diferença de que, no final, o he­ rói não vive "feliz para sem pre". D ep o is da grande vitória de Jefté sobre os am onitas e filisteus, a últim a co isa que sentiu foi felici­ dade, e a narrativa en cerra com um tom trá g ico . Pode-se d iv id ir essa h istó ria em quatro cenas. ao Senhor e à nação. Tola era da tribo de Issacar e Jair das tribos da Transjordânia, de uma região conhecida com o G ileade. Se Jair teve trinta filhos, devia ter várias m ulheres e muita riqueza. N aquele tempo, som ente as pessoas mais abastadas tinham co n d içõ es de dar um jum ento a cada um dos filhos (Jz 5 :1 0 ; 12 :9 ,14 ). Além disso, cada filho governava um a cidade. M esm o que, a nosso ver, essa form a de organização não passe de nepotism o, pelo menos ajudou a manter a paz. No entanto, o povo de Israel não apro­ veitou esses anos de paz para desenvolver seu relacionam ento com o Senhor. Depois da m orte de Jair, a nação entregou-se aber­ tam ente à idolatria e, mais uma vez, atraiu sobre si a disciplina do Senhor. Desfrutaram quarenta e cin co anos d e paz e de prosperi­ dade, mas não pararam para agradecer ao Sen h o r p o r aquilo que havia feito p o r eles. A essência da idolatria é desfrutar as dádivas de D eus sem ser grato ao D oador, exata­ mente o que Israel fez. Um de meus tios-avôs era pastor e, de tempos em tem pos, jantava em nossa casa no domingo quando pregava na igreja que fre q ü en távam o s. Q u an d o eu era m enino, ficava im pressionado com ele, especialm en­ te pela m aneira com o orava d e p o is da re­ feição. O rar antes da refeição era lógico e bíblico, mas por que orar depois de haver (Jz 10:1-18) term inado o café e a sobrem esa? Então, des­ cobri D euteronô m io 8 :1 0 : "C o m erá s, e te fartarás, e louvarás o S e n h o r , teu D eus, pela boa terra que te deu". M eu tio Sim on levava essa adm oestação a sério e, talvez, devamos seguir seu exem plo. Se o fizerm os, é possí­ vel que nos ajude a não ignorar o Senhor, Israel apresentava três deficiências que dei­ xavam claro com o a nação encontrava-se em declínio espiritual. A falta d e gra tid ã o de Isra e l p a ra co m o S e n h o r (vv. 1-5). Durante quarenta e cinco anos, o povo de Israel desfrutou paz e segu­ rança, graças à liderança de Tola e de jair. Sabem os pouco sobre esses dois ju ízes, mas o fato de terem mantido os inimigos de Is­ rael afastados por quase meio século indica que eram hom ens fiéis, que serviram bem en q u an to d e sfruta m o s suas b ê n çã o s. As ações de graças glorificam a Deus ( S l 69:30) e são uma defesa eficaz contra o egoísmo e a idolatria. A falta d e su b m issã o d e Isra e l para com o S e n h o r (vv. 6-16). Se ao m en os o povo tivesse feito um a retrospectiva da própria história e aprendido com ela, jam ais teria deixado o D eus Jeová a fim de adorar os falsos deuses de seus vizinhos. D esde o tem­ po de O tn ie l até o de G id e ão , os judeus 1 . Um a n a ç ã o em d e c a d ê n c ia JUÍZES 1 0 - 1 2 ■a. iam passado por mais de cinqüenta anos 3 t sofrimento sob a opressão do inimigo. A essa altura, d everiam sab er que D eus os jce n ço a v a quando eram obedientes e que K disciplinava quando eram rebeldes (ver 3c7, 12; 4:1; 6:1). Não eram esses, afinal, os e^nos da aliança que Deus havia feito com sra e l, u m a a lia n ç a q u e a n a ç ã o h a v ia aceitado ao entrar na terra? (js 8:30-35). Q uando D eus nos disciplina em am or e - :- e m o s em deco rrên cia de nossos pecaio s , é fácil clam ar por livramento e fazer as - a is variadas promessas. Porém, quando nos •encontramos num a situ açã o co n fo rtá v e l, desfrutando as bênçãos divinas, nossa ten:é 'ic ia é nos esquecerm os de Deus e supor que podem os pecar e sair incólum es. Uma ■ e r a confortável muitas vezes p ro d u z um ca-2 :e r fra co. Nas palavras de H e n ry W ard í-eecher: " O objetivo final da vida não é ter ■eécidade, mas sim ter caráter". No entanto, ■ aaráter é construído quando tom am os as recisões certas na vida, e essas decisões são feitas com base naquilo que mais valoriza—os. Um a vez que Israel não valorizava as : : sas de D eus, acabou destruindo o pró: r o caráter nacional. O Senhor havia dado a Israel vitória so­ b re sete nações (Jz 1 0 :1 1 , 12), mas Israel acorava sete deuses pagãos diferentes (v. 6). s =D é de se admirar que se tenha acendido *a :ra do S e n h o r contra Israel" (v. 7). Q uanta -sen satez adorar o deus dos inimigos der­ rotados! Novam ente, Israel teve de ser disci­ plinado, e, dessa ve z, D eus usou os filisteus e os am onitas com o instrumentos de disci;iin a . C o m o descendentes de Ló, sobrinho ;e Abraão, os am onitas eram parentes dis­ tantes dos israelitas (G n 1 9 :3 8 ). O s líderes Amom e da Filístia devem ter se alegrado te n s a m e n te ao subjugar e oprim ir Israel, - ja nação inimiga de longa data. Seus exér­ citos invadiram a região de G ilead e, do lado este do rio Jordão, e depois atravessaram o -o e atacaram Judá, Efraim e Benjam im . Foi _ma derrota devastadora e humilhante. A história se repetiu, e os israelitas cla■naram a D eus pedindo livramento (Jz 1 0 :1 0 ; 2:11-19). Porém , o Senhor não os socorreu ze im ediato. Em vez disso, enviou ao povo 137 um m ensageiro, que os repreendeu por não darem o devido valor ao que Deus havia feito por eles no passado. Então, Deus anunciou que não os ajudaria m ais. Eles que pedis­ sem socorro a seus novos deuses! (ver Dt 32:36-38). U m a coisa era o povo abandonar a Deus, mas outra bem diferente era Deus abando­ nar seu povo. O maior julgam ento que Deus p o d e enviar so bre o po vo é não interferir e deixar que as coisas aconteçam co m o as p e s­ soas querem . "D eu s entregou [...] os entre­ gou Deus [...] o próprio Deus os entregou" (Rm 1:24, 26, 28 ). O castigo foi duro, e os israelitas se arrepen deram , se livraram de seus deuses e disseram a Deus que poderia fazer a Israel com o bem lhe aprouvesse (Jz 10:15, 16). A esperança do povo não se encontrava em seu arrependim ento nem na oração, mas no caráter de D eus. "Então, já não pôde ele reter a sua com paixão por causa da desgra­ ça de Israel" (v. 16). "Em toda a angústia deles, foi ele angustiado" (Is 6 3 :9 ). "M as, pela tua grande m isericórdia, não acabaste com eles nem os d esam p araste; porq ue tu és Deus clem ente e m isericordioso" (N e 9 :3 1 ). "Ele, porém, que é m isericordioso, perdoa a iniqüidade e não destrói; antes, muitas ve­ zes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação" (Sl 7 8 :3 8 ). A falta d e lid e ra n ça a d eq u a d a em Is­ ra e l (vv. 77, 18). O povo estava preparado para agir, mas não havia, em todas as tribos de Israel, alguém que tom asse a frente. Seja num a nação, seja numa igreja local, a ausên­ cia de líderes qualificados é, com freqüência, um julgam ento de D eus e um a evid ên cia do estado precário da vida espiritual de seu povo. Q u and o o Espírito está atuando no meio daqueles que crêem em D eus, ele os prepara e cham a servos para fazer sua von­ tade e ab enço ar seu povo (At 13:1-4). Em seu livro Profiles in Courage, John F. Kennedy escreveu : "N ó s, o povo, som os os chefes e receb erem o s o tipo de liderança que exigirm os e m erecerm os, seja ela boa ou ru im ".1 O que se ap lica à liderança po­ lític a m u ita s v e z e s tam b ém v a le para a liderança espiritual: receb em o s aquilo que 138 JUÍZ ES 1 0 - 1 2 m erecem os. Q u an d o o povo de D eus se su­ jeita a ele e o serve, Deus envia servos re­ pletos de talentos para instruí-los e liderá-los. Porém, quando o apetite de seu povo voltase para as coisas do mundo e da carne, ele o julga privando-o de líderes com petentes e tementes ao Senhor. "Perece o justo, e não há quem se im pressione com isso" (Is 5 7 :1 ). D epois de dezoito anos de sofrimento, os israelitas se reuniram para enfrentar seus opressores (Jz 1 0 :1 1 ). H á vários lugares nas Escrituras cham ados "M ispa", sendo que este ficava em G ilead e (1 1 :2 9 ; ver Js 13 :2 6 ). Is­ rael tinha um exército , mas não tinha um general. A fim de conseguirem um vo lun­ tário para com andar o exército , os líderes de Israel prometeram que seu novo com an­ d an te s e ria n o m e a d o g o v e rn a n te so b re G ileade. O s príncipes de Israel poderiam ter sido muito mais bem-sucedidos se tivessem feito uma reunião de oração em vez de um plebiscito político. Q u an d o era jovem , ouvi um evangelista pregar um serm ão m arcante sobre o texto: "O n d e está o S e n h o r , Deus de Elias?" (2 Rs 2 :1 4 ). "Sabem os onde está o S e n h o r , Deus de Elias", disse ele. "Está no trono dos céus e é tão poderoso hoje quanto era nos tem­ pos de Elias." E, depois de uma pausa, acres­ centou: "A pergunta não é tanto: 'onde está o S e n h o r D eus de Elias?', mas sim : 'onde estão os fiéis com o Elias?"' D e fato, o n de estão os fiéis co m o Elias1. O n d e estão os líderes espirituais capazes de ajuntar o povo de D eus e de confrontar as forças do mal? 2. P re c is a -s e de um líd e r (Jz 11:1-29, 32, 33) O texto nos apresenta Jefté, o homem que Deus escolheu para conduzir Israel à vitória. Q u e tipo de homem ele era? O irm ã o in d e se ja d o (vv. 1-3). Jefté não tin h a cu lp a de seu n a scim e n to . Seu pai, G ilead e, tinha apenas uma esposa, mas aca­ bou gerando um filho de seu relacionam en­ to com uma prostituta. Pelo menos G ilead e reconheceu o m enino e o levou para casa, mas os outros filhos não aceitaram o meioirmão, "filho doutra mulher". Q uando G ileade faleceu e chegou a hora de dividir a heran­ ça, os filhos legítimos m andaram Jefté em­ bora. O que eles não sabiam é que estavam expulsando o futuro ju iz de Israel. Jefté deixou o território de seu pai e diri­ giu-se rumo ao norte, para a terra de Tobe, numa região próxim a à Síria. Lá se tornou chefe de um bando de aventureiros ("h o ­ mens levianos"; Jz 11:3). O termo hebraico usado para descrevê-los significa "esvaziar" e refere-se a pessoas desocupadas à procura de algo para fazer (ver Jz 9:4 , os "hom ens levianos e atrevidos" que seguiram A bim ele­ que. Em outras palavras, o term o significa "ser indolente, indiferente"). Jefté já era co­ nhecido com o um "hom em valente" (v. 1). Assim , não teve dificuldade alguma em for­ mar um grupo de aventureiros. O líd e r sem o p o siç ã o (vv. 4-11). O s ir­ mãos de Jefté não o queriam , mas os anciãos de Israel precisavam dele e enviaram uma delegação que percorreu mais de cento e vinte quilôm etros até a terra de Tobe, a fim de pedir-lhe que assum isse o com ando. A resposta de Jefté se parece bastante com o que o Senhor havia dito ao povo quando pediram seu socorro (1 0 :1 3 ,1 4 ). Tudo indi­ ca que os líderes israelitas haviam ajudado os filhos de G ilead e a expulsar seu irmão indesejado da terra. A inda assim , Jefté ou­ viu a proposta desses líderes, certificandose de que era verdadeira. Estava disposto a liderá-los no com bate ao inimigo, desde que os a n ciã o s o n o m ea ssem para g o vern ar G ilead e. É im possível não adm irar a maneira de Jefté dar ênfase ao Senhor em todas as nego­ ciações com os líderes de Israel. O Senhor daria a vitória (1 1 :9), e não Jefté; e o acordo entre o novo com andante e os líderes deve­ ria ser ratificado na presença do Senhor em M ispa (v. 11; ver 1 Sm 11 :1 5 ). Jefté não en­ carou esse desafio com o uma oportunida­ de política para si m esm o, mas com o uma o casião para co n fiar no Senhor e servi-lo. A lém disso, o escritor de Hebreus deixa cla­ ro que Jefté era um hom em de fé e não sim­ plesm ente um oportunista (H b 11:32). Imagine com o seus irm ãos se sentiram quando o hom em que haviam desprezado JUÍZES 1 0 - 1 2 139 tou para casa com o capitão do exército e der da terra! As Escrituras trazem vários r«em plos de vítim as que passaram por ex­ ig ê n c i a s sem elh an tes. José foi rejeitado ;•= os irmãos e, posteriormente, tornou-se seu .ador. O rei Davi tam bém precisou de sete í - j S para conseguir o apoio total das doze — ~os de Israel. N esse m esm o sentido, o ?~";hor Jesus C risto foi rejeitado por seu po .o, mas será recebido por Israel quando voltar. O d iplo m ata fru stra d o (vv. 12-28). An•es de declarar guerra, Jefté tentou realizar outras nações tomavam territórios inimigos, declaravam que era a "vontade de seu deus" que se apropriassem daquela terra e davam crédito a seus ídolos pela vitória. Jefté decla­ rou que o D eus de Israel era o D eus verda­ deiro e que sua vontade havia se cum prido ao perm itir que Israel tom asse aquele ter­ ritório. A terra pertencia a Jeová, que deu vitória a Israel. O te rc e iro argu m en to d e Je fté fo i o fato -egociações de paz com os am onitas, mas estas não deram certo. Ainda assim , desco­ ram o s aqui duas coisas sobre Jefté: (1) co—-ecia as Escrituras e a história de seu povo; e (2) não era um hom em co lérico que dese­ j a apenas lutar. Sendo um militar, sabia que se do total de anos apresentados no Livro de Juízes com o os períodos de opressão e de paz. Israel havia habitado na região da Transjordânia durante três séculos, motivo suficiente para reivindicar seus direitos sobre a terra. Por que o rei de Am om havia dem o­ rado tanto para faze r as próprias reivindi­ cações? A o longo daqueles três séculos, o povo de Am om não havia tentado se apro­ priar do território em questão. Na verdade, nos tem pos de M oisés, nem mesm o os reis de M oabe tentaram readquirir a posse de suas terras! Se os am onitas possuíam direi­ tos legítimos sobre o território, deveriam ter tomado uma providência séculos antes! D e a c o rd o co m o a rgu m en to fin a l de Je fté , os am on itas, na verd ade, estavam lu ­ ta n d o co n tra o S e n h o r (vv. 2 7 , 2 8 ). Jefté não havia declarado guerra contra A m om ; antes, os am onitas é que haviam declarado guerra contra os israelitas. Porém , se Deus .m a guerra resultaria na m orte de milhares de israelitas e desejava evitar a todo custo que as coisas chegassem a esse ponto. O rei de A m om declarou que ele e seus * :T ie n s estavam ap enas to m ando posse a q u ilo que lhes pertencia e que os israeft a s haviam roubado deles no tem po de Moisés. Se Israel devolvesse as terras, mandalia 'etirar suas tropas. M as Jefté apresentou r ja t r o provas irrefutáveis que deveriam ter ;:n v e n c id o os am on itas de que estavam errados. Em p rim e iro lu gar, a p resen to u o s fatos -istó ric o s (vv. 14-22). M oisés e seu povo Ka\ iam pedido aos am onitas perm issão para r ií s a r por seu território em segurança, perid o que foi negado. Essa recusa levou à ije r r a , e Deus deu a vitória aos israelitas, srael não roubou as terras, mas sim as to-'Q u le g itim am e n te dos am o n ita s e dos :~ °orreus (N m 2 1 :2 1 -3 5 ). A lém disso, os i —orreus haviam tom ado aquelas terras dos -toabitas (Nm 2 1 :2 9 ); de m odo que, se a -e . indicação do direito de posse sobre ter'íó rio s conquistados não valia para Israel, •;m bém não valia para os am orreus! S e u s e g u n d o a r g u m e n to f o i q u e o S~nhor dera as terras a Isra e l (vv. 2 3 , 2 4 ). e tté se m p re teve o c u id a d o de dar ao 5-enhor a glória por todas as vitórias conquis­ t a s por Israel (vv. 9, 21 , 23, 24). Q uand o d e Isra e l te r viv id o n a q u e le te rritó rio d u ­ rante sé c u lo s (vv. 2 5 , 2 6 ). "Trezentos anos" é um núm ero arredondado, mas aproxima- havia dado aquelas terras a Israel, então os am onitas estavam declarando guerra contra o Senhor D eus, o que só poderia term inar em tragédia e em derrota para A m om . Jefté tentou arrazo ar com o rei de A m om , mas ele se recusou a dar ouvidos. O g u e rre iro in v icto (vv. 2 9 -3 3 ). Tendo receb ido o poder do Espírito de D eus (ver Jz 3 :1 0 ; 6 :3 4 ), Jefté pediu voluntários (1 2 :1 , 2) e reuniu seu exército . A fim de certificarse da vitória, com eteu a insensatez de fa­ ze r um a barganha com D eus, assunto do qual tratarem os posteriorm ente. O Senhor lhe deu a vitória sobre os am onitas, e ele capturou vinte de seus fortes e perseguiu o e xé rcito in im igo, que bateu em retirad a. 140 JUÍZES 1 0 - 1 2 C om isso, garantiu a liberdade e a segurança dos israelitas ao se deslocarem dentro do território de G ilead e. D e acordo com o escritor de H ebreus, Jefté foi um homem de fé, e sua vitória foi uma vitória de fé (H b 1 1 :32). A s circunstân­ cias e a família de uma pessoa não são um em p ecilh o quan do se vive pela fé. Em sua mensagem ao rei de A m om , Jefté mostrou seu conhecim ento da Palavra de Deus, e essa Palavra foi sua fonte de fé. "E, assim , a fé vem pela pregação, e a pregação, pela pala­ vra de Cristo" (Rm 10:1 7). "E esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (1 Jo 5:4). G raças à fé e coragem de Jefté, os am onitas não am eaçaram os israelitas por mais cin­ qüenta anos (1 Sm 11:1 ss). 3. U m pai d e se s p e ra d o (Jz 11:30, 31, 34-40) Ao sair para a batalha, Jefté fez um voto ao Senhor. Sem dúvida, Deus aceitava que os israelitas fizessem votos, desde que obede­ ce sse m às leis d adas por in term éd io de M oisés para regulam entar tais votos (Lv 27; Nm 30; D t 23:21-25). O s votos eram inteira­ mente voluntários, mas o Senhor esperava que fossem cum pridos (Ec 5:1-6). Na verdade, o voto de Jefté foi uma bar­ ganha com o S en h o r: se D eu s desse aos israelitas a vitória sobre os am onitas, jefté sacrificaria ao Senhor aquilo que saísse pri­ meiro de sua casa quando voltasse a M ispa. D e fato, D eus lhe deu a vitória, e Jefté cum ­ priu sua prom essa. M as qual foi sua prom es­ sa e com o ele a cumpriu? O vo to . O texto d iz: "S e , com efeito, me entregares os filhos de Am om nas mi­ nhas mãos, quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro , voltando eu v i­ torioso dos filhos de A m o m , esse será do S e n h o r , e eu o oferecerei em holocausto" (Jz 1 1 :3 0 , 31 ). A s perg u n ta s. Q uanto mais estudam os o voto de Jefté, mais enigm ático ele parece. Jefté poderia ter dito sim plesm ente: "D eus, se o Senhor me ajudar a derrotar os inimi­ gos, prom eto oferecer-lhe um grande ho ­ locausto quando voltar para casa". Porém , Jefté usou term os am bíguos para expressar seu com prom isso. Com o ele sabia o que ou quem sairia pela porta de sua casa? E se a prim eira coisa a sair para recebê-lo fosse um animal im puro, inaceitável com o sacrifício a Deus? Nesse caso, não poderia cum prir seu voto! O s te rm o s h e b ra ic o s tra d u z id o s por "quem " se encontram no gênero m asculino e indicam que esperava encontrar uma pes­ soa, mas e se essa pessoa fosse o filho de algum vizinh o ou um desco nhecid o ? Q ue direito Jefté possuía de tirar a vida de uma dessas pessoas e, portanto, o ferecer a Deus um sacrifício que não havia lhe custado coi­ sa algum a (ver 2 Sm 24:24)? A lém disso, por certo Jefté sabia que Jeová não aprovava nem aceitava sacrifícios hum anos. Jefté mostrou ter conhecim ento das Escrituras do Antigo Testam ento e de­ veria saber do que havia acontecid o com Abraão e Isaque (G n 22) e estar a par da Le: (L v 1 8 :2 1 e 2 0 :1 -5 ; D t 1 2 :3 1 e 1 8 :1 0 ). M esm o levando em consideração que o pe­ ríodo dos ju íze s foi uma era de trevas espi­ rituais na história de Israel e que os israelitas com eteram inúm eros erros, é de se duvidar que os amigos e os vizinhos de Jefté tives­ sem permitido que ele matasse a própria fi­ lha para cum prir um voto im prudente.2 Os soldados de Saul não permitiram que matas­ se seu filho, Jônatas, que havia quebrado o voto insensato do pai (1 Sm 14:24-46). Adem ais, onde Jefté poderia o ferecer a filha com o sacrifício? Sem dúvida, sabia que D eus aceitava som ente os sacrifícios reali­ zados no altar do tabernáculo (Lv 17:1-9) os quais deveriam ser oferecidos pelos sa­ cerdotes levítico s. Jefté teria de v iajar até Siló para cum prir seu voto (D t 16:2, 6, 11. 16) e é de se duvidar que, com ou sem vi­ tória, até mesm o o menos inspirado dos sa­ cerd o tes re aliza sse um sa crifício hum ano sobre o altar santificado de D eus.3 Na reali­ dade, se o povo descobrisse que Jefté estava indo a Siló sacrificar sua filha, é bem possível que o tivessem im pedido ao longo do cami­ nho e raptado a menina! Era im possível um herói nacional co m o ele esconder facilmen­ te o que estava fazend o e, sem dúvida, a história teria se espalhado sem dem ora pele J U Í Z E S 10 - 12 ; o . o durante o período de dois meses de —re ra (Jz 1 1 :3 7-39). M esm o que Je fté tivesse co n seg u id o n e g a r a Siló, teria descoberto, por meio de r_a lq u e r um dos sacerdotes, que poderia •erim ir a filha m ediante o pagamento de um nalor ap ropriado em dinheiro (Lv 27:1-8). _ ma vez que era um soldado bem-sucedido ru e havia acabado de despojar o inimigo, efté poderia ter pago sem problem a algum : preço do resgate. Surgem ainda outras perguntas pertinen­ tes. A pesar de N úm eros 3 0 :1 , 2, será que Deus teria considerado seriam ente um voto ru e transgredia tanto os direitos hum anos z^anto a lei divina? Um homem que havia -ecebido o poder do Espírito (Jz 1 1 :2 9 ) e ru e possuía um com prom isso sério com o Senhor (Jz 1 1 :1 1 ) teria m esm o chegado a 'a zer tal voto? Q u an to mais penso nessas re rg u n tas, m ais m isterioso esse voto me :a re c e e mais convencido fico de que Jefté 'ã o prom eteu o fere ce r sacrifício hum ano rlgum ao Senhor nem matou a própria filha. So lu çõ es. V ário s com entaristas mostra■am q u e a p e q u e n a c o n ju n ç ã o " e " (Jz 11:31) pode ser trad uzida co m o "o u". (No "eb raico , é a letra vav que co stum a signifi:a r "e". Ver o início do Salm o 119:41 [N V l] ra ra um exem plo do vav h eb raico.) Se usar•nos essa ab o rd ag em , en tão o voto tem ruas partes: aquilo que fosse ao encontro re le seria consagrado ao Senhor (se fosse .m a pessoa) ou sacrifica d o ao Senhor (se •Dsse um anim al). U m a fez que foi recebido pela filha, Jefté a co n sag ro u ao S e n h o r para servi-lo no ■abernáculo (Êx 3 8 :8 ; 1 Sm 2 :2 2 ). Ela perm a­ neceu virgem , o que significa que não teve a alegria de tornar-se mãe nem de dar conti­ nuidade à herança do pai em Israel. Esse fato ;e ria m otivo su ficie n te para que ela e as im igas passassem dois meses se lamentanro , pois toda filha desejava ter uma família, e todo pai desejava netos para dar continuirad e à herança da família. Em m omento algum o texto diz que Jefté ~iatou a filha; tam bém não enco ntram o s 'inguém pranteando a morte da m enina. A ênfase em Juízes 1 1 :37-40 é sobre o fato de 141 a filha ter perm anecido virgem . É difícil crer que as "filhas de Israel" instituiriam o costu­ me de celebrar (e não de "lam entar", com o diz a tradução em nossa língua) o terrível sacrifício de um ser hum ano, mas é inteira­ m ente com p reensível que com em orassem a dedicação e a obediência da filha de Jefté ao ajudar o pai a cum prir seu voto. Ela me­ rece ser co locada ao lado de Isaque com o filha fiel, disposta a obedecer tanto ao pai quanto a Deus a qualquer preço.4 4 . U m g o v e r n a n t e se d e fen d e (Jz 12:1-15) A cu sação (v. 1). O s líderes da tribo de Efraim dem onstraram a Jefté o m esm o orgulho e ira que haviam expressado no caso de G i­ deão (8 :1 ). C o m o antes, desejavam parti­ cip ar da glória do triunfo sem , no entanto, terem se mostrado desejosos de arriscar a vida na batalha. A fúria dos hom ens de Efraim foi tanta que am eaçaram atear fogo à casa de Jefté. Não possuíam respeito algum pelo novo governante das tribos da Transjordânia. E xp lica çã o (vv. 2, 3 ). G id eão havia apa­ ziguado os efraimitas com palavras lisonjei­ ras, mas Jefté preferiu uma abordagem mais direta. Em prim eiro lugar, lembrou-os de que sua preocupação m aior era derrotar os am o­ nitas, não agradar os vizinhos. Em segundo lu g ar, d u ra n te os d e z o ito an o s em que Am om havia oprim ido o povo de G ilead e, ninguém em Efraim havia se oferecido para salvar o povo. Em terceiro lugar, Jefté havia convocado as tribos para ajudá-lo no ataque ao inimigo, mas Efraim não havia respondi­ do. O Senhor havia dado a vitória ao exército de Jefté sem a ajuda dos efraimitas, de modo que não havia m otivo algum para o povo orgulhoso de Efraim (que não gostava de fi­ car de fora) se queixar. C o n fro n ta çã o (vv. 4-7). Talvez Jefté de­ vesse ter co lo cad o em prática Provérbios 1 5:1 e 1 7 :1 4 e evitado uma guerra, mas, por outro lado, talvez fosse hora de alguém con­ frontar Efraim e de ensinar-lhe uma lição. O s hom ens de Efraim recorreram a insultos e e scarneceram dos gileaditas cham ando-os de "Fugitivos [...] de Efraim e M anassés" (Jz 1 2 :4 ). Na verdade, as tribos a leste do Jordão 142 JUÍZES 1 0 - 1 2 - Rúben, G ad e e a meia tribo de M anassés - haviam recebido suas terras de M oisés e de Josué (Nm 32 ; Js 22 ). A ssim , as palavras dos efraimitas foram um insulto ao Senhor e a seus servos. Q u an d o as pessoas estão erradas, re­ cusando-se a aceitar a lógica da situação e a confessar seus erros, é com um recorrerem à violência a fim de protegerem sua reputa­ ção. Essa é a causa de grande parte das desa­ venças entre fam iliares, das brigas na igreja e dos co nflitos internacionais (Tg 4:1-12). Porém , Jefté prevaleceu sobre os hom ens de Efraim e matou 42 mil soldados dessa tribo. O s próprios efraim itas tornaram -se "fugiti­ vos", sendo que esse mesm o term o usado em Juízes 12:5 aparece no versículo 4. O s efraimitas tiveram de engolir suas palavras e de fugir para salvar a vida! O povo de Efraim tinha uma form a pe­ c u lia r de p ro n u n cia r a p alavra ch ib o le te (s h ib b o le th ), que sig n ifica "c o rre n te " ou "cheias". Eles pronunciavam o term o com o "sibolete" ("sibboleth"), denunciando, assim, sua origem (M t 2 6 :7 3 ). Era um teste simples, m as fu n cio n ava . Por causa dessa história, sh ibboleth passou a fazer parte do vo cab u ­ lário da língua inglesa e foi incorporado aos dicionários desse idiom a. Nesse caso, o ter­ mo significa um teste que um conjunto de pessoas propõe a outros de fora para verifi­ car se pertencem ou não a seu grupo, uma p a la v ra de v e rific a ç ã o . N o rm a lm e n te , o sh ibboleth é um a idéia ou doutrina antiga, am plam ente conhecida e sem grande rele­ vância. No caso de Efraim, porém, custou a vida de 42 mil pessoas. D epois da derrota de A m om e do castigo aplicado aos efraimitas, os israelitas tiveram trinta e um anos de paz e de segurança sob a liderança de Jefté e de seus três sucesso­ res. Q u e paradoxo Jefté, o ven cedo r, não ter fam ília, enquanto Ibsã teve trinta filhos e trinta filhas e Abdom teve quarenta filhos e trinta netos. No entanto , o m ais p arado xal desses hom ens foi Sansão, o últim o ju iz enviado por D eus a seu povo: um libertador que não pôde libertar a si m esm o, um conquistador incapaz de conquistar a si mesmo e um ho­ mem forte que não soube re co n h e ce r os | próprios m om entos de fraqueza. 1. Kennedy, 2. A adoração a Baal era a principal religião entre os cananeus e não incluía o sacrifício de crianças. O s am onitas faziam os filhos John F. Profiles in Courage. Nova York: Harper, 1955, p. 245. passarem pelo fogo com o parte de sua adoração a M oloque. D ezoito anos depois, o povo de Israel voltou-se aos deuses pagãos e, em decorrência disso, o Senhor teve de discipliná-los severamente (Jz 10:6-9). É impensável que Jefté tenha adotado um costum e pagão a fim de obter a ajuda de D eus, quando a nação já havia sofrido tanto por adotar tais práticas! Se Deus honrasse tal coisa, o povo seria levado a perguntar: "Se os costum es pagãos são tão terríveis, então por que o Senhor enviou tanto sofrimento?". 3. M esm o que um sacerdote tivesse oferecido a filha de Jefté com o holocausto, o sacrifício não seria aceitável, pois o animal oferecido no holocausto deveria ser m acho (Lv 1:3, 10). 4. Se Jefté pretendia matar a filha, iria querer a m oça em casa com ele e não correndo pelas montanhas com as amigas. Além disso, por que uma jovem lamentaria a virgindade se estava prestes a morrer? Nesse caso, seria bem mais provável que lamentasse a morte iminente. Talvez estivesse lamentando o fato de não haver se casado e, portanto, de não ter deixado netos para o pai. M as se esse fosse o caso, então o p ai é que deveria estar se lamentando, pois os casam entos eram arranjados pela família e não pelo próprio casal. 9 U m B r il h o T r e m e lu z en t e J u íz es 1 3 - 1 4 / //r uma charada envolta em mistério denL - tro de um enigm a." Foi assim que Sir Winston C hurchill descreveu, em seu discur­ so transmitido por rádio em 1e de outubro de 1939, o com portam ento dos russos de =ja época. Porém , o que ele disse sobre os 'js s o s poderia muito bem descrever Sansão, o últim o ju iz , pois seu co m p ortam en to é ■jma ch arada envolta em m istério dentro de um enigm a". Sansão não era previsível nem confiável, oois possuía ânim o dobre, e um "hom em de ânim o dobre [é] inconstante em todos os seus cam in ho s" (Tg 1:8). Alguém disse oem que "a m aior habilidade é a confiabi­ lidade", e no caso de Sansão, era preciso confiar desconfiando. Corajoso diante de outros hom ens, San­ são não resistia aos encantos fem ininos e contava às m ulheres todos os seus segredos. Tendo recebido o poder do Espírito de Deus, entregou o co rp o aos d e se jo s da ca rn e. Cham ado a declarar guerra aos filisteus, con; 'aternizou com o inimigo e tentou até se casar com uma filistéia. Com batia as batahas do Senhor durante o dia e transgredia os m andam entos do Senhor à noite. C o n ­ siderando-se que o nom e "S a n sã o " quer dizer "en so larad o ", é um a ironia esse ju iz ter en co ntrad o seu fim na e scu rid ão , c e ­ gado pelo m esm o inimigo que deveria ter conquistado. Q u atro capítulos do Livro de Juízes são cedicados ao relato da história de Sansão. Juízes 1 3 - 1 4 nos apresentam esse m eni­ no "enso larado " e seus pais, e vem os seu 7'ilho trem elu zir enquanto Sansão brinca :o m o pecad o. Em Juízes 1 5 - 16, o brilho se apaga e Sansão morre com o mártir sob as ruínas de um tem plo pagão, um triste fim para um a vida prom issora. V a m o s a b rir o á lb u m de fa m ília de Sansão e estudar três retratos do com eço da carreira desse juiz. 1. A CRIANÇA INCRIVELMENTE p r o m is s o r a (Jz 13:1-23) O b serve quão prom issora era a vida desse menino cham ado Sansão. Ele tinha d ia n te d e s i um a n a çã o a p r o ­ te g er (v. 1). A frase inicial desse versículo aparece no Livro de Juízes com um a regula­ ridade m onótona (3 :7 , 12; 4 :1 , 2; 6 :1 ; 10:6, 7) e pode ser vista aqui pela última vez. A pre­ senta o período mais longo de opressão que Deus permitiu que seu povo sofresse: qua­ renta anos sob o dom ínio dos filisteus. O s filisteus1 faziam parte dos "povos do m ar" que, no século doze a.C ., migraram de uma região da G ré cia para a planície cos­ teira de C anaã. Durante a conquista, os is­ raelitas não conseguiram tomar essa região (Js 13 :1 , 2). Ao estudar o mapa da Terra Pro­ metida, vê-se que a existência dessa nação concentrava-se em torno de cin co cidades principais: A sd ode, G a z a , A squelom , G ate e Ecrom (1 Sm 6:1 7). A terra entre a região m ontanhosa de Israel e a planície costeira era cham ada de "Sefelá", que significa "ter­ ras baixas" e que separava a Filístia de Israel. Sansão nasceu em Z orá, cidade na tribo de D ã próxim a à fronteira com a Filístia, e, em várias ocasiões, atravessou essa fronteira para servir a D eus ou para satisfazer os próprios apetites. Sansão julgou Israel "nos dias dos filis­ teus" (Jz 1 5 :2 0 ), o que significa que seus vinte anos com o ju iz transcorreram durante os qu aren ta anos de do m ínio filisteu . D e acordo com o Dr. Leon W ood, o com eço da opressão filistéia pode ser datado de ca. 10 9 5 a .C ., estend endo-se até 1 0 5 5 a .C ., quand o Israel co n q u isto u sua v itó ria em M ispa (1 Sm 7). M ais ou m enos no meio desse período ocorreu a batalha de Afeca, na qual Israel foi vergonhosam ente derro­ tado pelos filisteus, perdeu a arca da aliança e três sacerdotes (1 Sm 4). A sugestão de 144 J U Í Z E S 13 - 14 W ood é que o m andato de Sansão com o ju iz teve início por volta da m esm a ép oca da tragédia de A fe ca e que sua principal fun ção foi perturbar os filisteus e im pedir que conseguissem invadir a terra e am ea­ çar o povo.2 É interessante observar que o texto não apresenta qualquer evidência d e qu e Israel tenha clam ado a D eus pedindo libertação em algum m o m en to do do m ín io filiste u . Um a vez que haviam desarm ado os israelitas (1 Sm 1 3 :19-23), os filisteus não se preo­ cupavam com a possibilidade de um a rebe­ lião. Juízes 15:9-13 indica que os israelitas pareciam estar acom odados a sua situação e não queriam que Sansão causasse qualquer tumulto. E assustador com o nos acostum a­ mos rapidam ente à servidão e aprendem os a a ce ita r essa co n d ição . Se os filisteus ti­ vessem sido mais severos com os israelitas, talvez o povo tivesse clam ado a Jeová pe­ dindo socorro. Ao contrário da maioria dos juízes ante­ riores, Sansão não livrou seu povo da domina­ ção estrangeira, mas com eçou um processo de libertação que seria co n clu íd o por ou­ tros (1 3 :5 ). Um a v e z que era um herói po­ deroso e im previsível, Sansão causou medo e perturbação nos filisteus (1 6 :2 4 ), im pedin­ do que destruíssem Israel com o as outras nações invasoras haviam feito. Seriam neces­ sárias as orações de Samuel (1 Sm 7) e as conquistas de Davi (2 Sm 5:1 7-25) para co n­ cluir o trabalho que Sansão havia co m e ça­ do, dando a Israel a vitória absoluta sobre os filisteus. E le tinha um D e u s para se rv ir (vv. 2-5). A tribo de D ã recebeu, inicialm ente, as ter­ ras adjacentes a Judá e a Benjam im , que se estendiam até o mar M editerrâneo (Js 1 9:404 8 ). No entanto, um a v e z que os danitas não foram capazes de expulsar os habitan­ tes da região costeira, mudaram-se para o Norte (Jz 18 - 1 9), apesar de algumas famí­ lias da tribo terem perm anecido no local an­ terior. Z o rá ficava a cerca de vinte e cinco quilôm etros de Jerusalém , na região dos co n­ trafortes, próxim a à fronteira com a Filístia. Q u an d o Deus quer fazer algo verdadei­ ram ente grandioso no mundo, não envia um exército, mas sim um anjo. Vem os, em di­ versas ocasiões, um anjo visitando um casal e prom etendo enviar-lhes um a crian ça. O plano trem endo de salvação divina foi pos­ to em andam ento quando o Senhor cham ou Abraão e Sara e deu-lhes Isaque. Q uand o chegou a hora de livrar Israel da escravidão no Egito, D eus e n v io u M o isés a A n rã o e Joquebede (Êx 6 :2 0 ) e quando, muitos anos depois, Israel precisou de um reavivamento, D eus enviou a A na o bebê Samuel (1 Sm 1). U m a vez alcançada a plenitude do tempo, Deus deu o M enino Jesus a M aria, e essa criança cresceu para m orrer na cru z pelos pecados do mundo. O s bebês são criaturas frágeis, mas Deus usa as coisas fracas do mundo para confun­ dir as fortes (1 C o 1 :26-28). O s bebês preci­ sam de tem po para cre scer, mas D eus é paciente e nunca se atrasa no cum prim ento de sua vo n ta d e . C a d a bebê en viad o por Deus é um presente seu, um novo com eço, e traz consigo im enso po tencial. C o m o é triste viver num a so ciedad e que considera bebês ainda não nascidos com o uma am ea­ ça em vez de um milagre e com o uma intro­ missão em v e z de uma herança! Temos motivos de sobra para crer que o "Anjo do S e n h o r " que visitou a esposa de M anoá era Jesus Cristo, o Filho de D eus (ver G n 22:1-18; 31:11-13; Êx 3:1-6; Jz 6:11-24). C o m o Sara (G n 18:9-15), A na (1 Sm 1) e Isabel (Lc 1:5-25), a esposa de M anoá era estéril e não esperava mais ter um filho. Um a vez que a mãe teria m aior influência sobre a criança tanto antes quanto depois do nasci­ mento, o anjo descreveu com grande serie­ dade quais seriam suas incum bências. A ssim co m o João Batista, Sansão seria um nazireu desde o ventre da mãe (Lc 1:131 5 ).3 O termo nazireu vem de uma palavra hebraica que significa "separar, consagrar". O s nazireus eram indivíduos que, durante um determ inado tem po, consagravam-se de m aneira especial ao Senhor. Abstinham-se de vinho e de bebidas fortes, evitavam tocar em cadáveres e, com o sinal de sua consa­ gração, deixavam o cabelo crescer. O s esta­ tutos acerca da lei do nazireado podem ser encontrados em Núm eros 6.4 J U Í Z E S 13 - 14 A esposa de M anoá deveria ter cuidado o que co m ia e bebia, pois sua dieta ■fl je n cia ria o filho nazireu mesm o antes do ■nscimento e p o d eria contam iná-lo . Infeir~ iente, nem todas as gestantes são cuida­ d a s . Isso fica evidente pelas notícias que ■=r:ebemos da mídia e que mostram as trisi r i c o n se q ü ê n c ia s que os bebês sofrem r.a n d o as mães usam tabaco, álcool e en'Decentes durante a gestação. O voto de ~szireado de Sansão não foi voluntário: foi r^do por D eus, e a mãe do m enino fazia rarte desse voto de consagração. Não apeB s deveria evitar qualquer coisa relacionada ; uvas, mas tam bém com idas consideradas "npuras segundo a lei m osaica (Lv 11; Dt 14:3-20). O voto nazireu costum ava durar um tempc determinado, mas no caso de Sansão, se estenderia por toda a sua vida (Jz 13:7). Era que M anoá e a esposa teriam de ensi■ar ao filho; tam bém teriam de explicar o —otivo de ele não poder co rtar o cabelo. Deus havia tomado essa crian ça para si, e era obrigação dos pais prepará-la para o traraiho do qual o Senhor a havia incum bido. Ele tinha um la r pa ra h o n ra r (vv. 6-23). esposa de M anoá foi, im ediatam ente, contar ao marido sobre a visita e a mensagem raq u ele d e sco n h e cid o , ap esar de o casal =inda não saber que o visitante era o Se*nor (v. 16). M anoá imaginou que se trata.= de um "hom em de D eu s" - talvez um r'o fe ta itinerante - e orou ao Senhor para enviar esse hom em outra vez. E impossível ~ão fic a r im p ressio n ad o co m a d e vo ção resse marido e de sua esposa um ao outro e ao Senhor. O tempo dos ju íze s foi dom i­ nado pela apostasia e a anarquia, mas ainda havia lares israelitas consagrados ao Senhor e que criam na o ração, e D eus continuava :3 e ran d o por meio deles. Deus respondeu às orações de M anoá e deu-lhe a o p o rtu n id a d e de fa z e r um a rergun ta im portante, mas que o A njo do 5 £ s h o r não respondeu: "Q u an d o se cum: ' :rem as tuas palavras, qual será o modo de viver do m enino e o seu serviço ?" (v. ' _ . A lei do Antigo Testam ento não apenas dava instruções sobre os alim entos lim pos 145 e im undos para os nazireus, com o também dizia aos pais com o deveriam criar os filhos (D t 6). Não havia necessidade de o Senhor dar m ais in stru çõ es a M an o á e à esposa quando a Palavra de D eus já lhes dizia o que fazer. O m ensageiro sim plesm ente re­ petiu a advertência que já havia dado à es­ posa de M anoá. Em seu desejo de ser um anfitrião gentil e atencioso, M anoá pediu ao convidado que esperasse enquanto ele e a esposa lhe pre­ paravam uma refeição (6:18, 19; G n 18:1-8). O visitante deu um a resposta enigm ática: não com eria dos alimentos deles, mas per­ mitiria que oferecessem um holocausto ao Senhor. A final, o filho que lhes havia sido prom etido era um a dádiva de D eus, e deve­ riam dar louvores e graças ao Senhor. M anoá, porém , pensou consigo mesmo: 5e não p o sso honrar esse hom em de D eus agora, então talvez possa fazê-lo no futuro, d ep o is qu e suas palavras se cum prirem e o m enino nascer. (O b se rve que M anoá creu na mensagem e usou o termo "quando" em vez de "se".) M anoá teria de saber o nome do hom em para p o d er en co ntrá-lo nove meses depois, mas o visitante não lhe res­ pondeu, dizendo apenas que seu nom e era "m aravilhoso" (ver G n 3 2 :2 9 ). Essa é a mes­ ma palavra usada para o M essias em Isaías 9 :6 e traduzida por "m aravilhosam ente" em Juízes 13:19. N orm alm ente, os ad oradores israelitas levavam suas ofertas ao altar do tabernáculo em Siló, mas um a v e z que o "hom em de D eus" ordenou a M anoá que oferecesse um holocausto, ele poderia fazê-lo ali m esm o o n d e se e n c o n tra v a , u san d o um a ro ch a com o altar. D e repente, o visitante subiu aos céus na cham a do altar! Só então M anoá e a esposa descobriram que aquele era o Anjo do S e n h o r . M anoá encheu-se de temor, pois os israelitas criam que ninguém poderia ver D eus e sobreviver (ver Jz 6:19-23). Usando de bom senso, a esposa de M anoá o con­ venceu de que não era possível morrerem e, ao mesm o tempo, cum prirem as prom es­ sas de Deus. Todo bebê nascido num lar tem ente a D eus tem a responsabilidade de honrar o 146 J U Í Z E S 13 - 14 nome de sua família. A vida incoerente de Sansão trouxe vergonha à casa de seu pai, d a m e sm a fo rm a c o m o e n v e rg o n h o u o nome do Senhor. O s parentes de Sansão ti­ veram de extrair seu corpo dos escom bros de um templo filisteu e levá-lo para casa a fim de que fosse sepultado (1 6 :3 1 ). D e cer­ ta forma, foi um dia de vitória sobre os ini­ migo de D eus, mas tam bém foi um dia de derrota para a fam ília de Sansão. 2. O DEFENSOR COM UM PO DER in v e n c í v e l (Jz 1 3 :2 4 , 25 ) O bebê nasceu e recebeu o nom e de San­ são, que significa "ensolarado" ou "brilho". Sem dúvida, trouxe luz e alegria para M anoá e a esposa, um casal que acreditava que ja­ mais teria uma fam ília. Tam bém com eçou a trazer luz para Israel durante os dias de tre­ vas da opressão filistéia. Enquanto o texto diz que o Espírito de D eus "veio sobre" ou­ tros ju íze s (Jz 3 :1 0 ; 6 :3 4 ; 1 1 :2 9 ), som ente no caso de Sansão diz-se que "o S e n h o r o ab ençoou" (Jz 1 3 :2 4 ; ver Lc 1:80 e 2 :5 2 ). A mão de D eus estava sobre ele de maneira especial. O segredo da fo rça extra o rd in ária de Sansão era seu voto nazireu, sim bolizado pelos cabelos que nunca haviam sido co r­ tados (1 6 :1 7 ), e a fonte dessa fo rça era o Espírito Santo de D eu s (1 3 :2 5 ; 1 4 :6 , 19, 1 5 :1 4 ). A narrativa não diz se a constitui­ ção física de Sansão era, de algum m odo, diferente daquela de outros hom ens, ap e­ sar de ser possível que se parecesse com os hom ens fortes retratados nos livros in­ fantis de histórias da Bíblia. Talvez no início de sua ad o lescê n cia , quando os m eninos israelitas tornavam-se "filhos da lei", Sansão tenha co m e çad o a dem onstrar suas in crí­ veis habilidades. O Livro de Juízes registra apenas alguns dos grandes feitos de Sansão: matar um leão só com as mãos (1 4 :5 , 6); exterm inar trinta filisteus (v. 19); apanhar trezentas raposas (ou chacais) e am arrar tochas na cauda desses anim ais (1 5 :3 -5 ); ro m per ca d e ia s (1 5 :1 4 ; 16:9, 12, 14); matar mil hom ens com a quei­ xada de um jum ento (1 5 :1 5 ); carregar a porta da cidad e de G a z a (1 6 :3 ); e derrubar um edifício filisteu (Jz 16:30). Juízes 1 6 :2 4 dá a entender que ele realizou muitos outros fei­ tos além desses citados acim a, o que irritou ainda mais o povo filisteu. A o re fle tir sobre o relato da vid a de Sansão, tem-se a im pressão de que ele era um sujeito que gostava de diversão, com um bom senso de hum or e que, por vezes, não levava muito a sério os dons que havia rece­ bido de Deus. Ter senso de humor é positivo, mas deve ser eq u ilibrad o com um a dedi­ cação séria às coisas do Senhor. "Servi ao S e n h o r com tem or e alegrai-vos nele com trem or" (Sl 2 :1 1 ). O poder de Sansão era uma arm a para lutar e um instrumento para edificar, não um brinquedo para se divertir. O b serve ainda outra co isa: Sansão tra­ balhou sozinho. Em m om ento algum "juntou as tropa s" e tentou unir Israel para livrar-se do jugo filisteu. D urante vinte anos, foi um defensor de seu povo, mas não conseguiu agir co m o seu líder. D e acordo com Joseph Parker, Sansão foi "um elefante quanto à fo rça , mas um bebê quanto à fraq u eza". Podem os acresce n tar que, em se tratando da lid e r a n ç a n a c io n a l, fo i u m a o v e lh a perdida! 3. O HO M EM (Jz 1 4 :1 -2 0 ) DE CARÁTER INCONSTANTE D e acordo com H ebreu s 1 1 :32 , Sansão foi um hom em de fé, mas certam ente não foi fiel nem aos en sin a m en to s de seus pais. nem a seu voto nazireu, nem às leis do Se­ nhor. Não tardou para que Sansão perdes­ se quase tudo o que D eus havia lhe dado, exceto sua grande força, o que tam bém aca­ bou perdendo. E le p e rd e u o re sp e ito p e lo s p a is (vv. 14 ). O Senhor havia dado a Sansão uma he­ rança piedosa, e ele havia sido educado para honrar a Deus. Porém , quando se apaixonou, Sansão não deu ouvidos às advertências dos pais. Havia entrado em território inimigo e percorrido mais de sete quilôm etros quan­ do encontrou uma filistéia que cativou seu coração e com a qual resolveu se casar. É evidente que esse casam ento transgredia a lei de Deus (Êx 34:12-16; Dt 7:1-3; ver tam­ bém 2 C o 6:14-18). J U Í Z E S 13 - 14 Sansão estava vivendo pelas aparências e ~ão pela fé. Era co n tro la d o pela "conr.c is c ê n c ia dos olhos" (1 jo 2 :1 6 ) e não pela e de Deus. A questão mais séria era que 5-i'são não estava agradando nem ao Se­ nhor e nem aos pais, mas apenas a si mesJz 14:3, 7, ver 2 C o 5 :1 4 , 15 ).5 Q u an d o D eus não tem perm issão de ii .e r n a r nossa vida, ainda assim ele prevalece e faz cum prir sua vontade, a despeito i e nossas d e cisõ es. Por certo , nós é que --.aímos perdendo ao nos rebelarm os contra ete, mas Deus cum pre seus propósitos por ~>eio de nós ou apesar de nós (Ed 4:10-14). r-iisã o deveria estar com eçando uma guer­ ra e não um casam ento, mas Deus usou esse aco n te cim e n to para o fe re ce r a Sansão a ::3 rtu n id a d e de atacar o inimigo. Em de­ li : -renda disso, Sansão matou trinta hom ens Oz 14:19), queim ou as plantações do inimiz-j (Jz 15:1-5), exterm inou grande número re filisteus (vv. 7, 8) e deu cabo de mil ho~tens (v. 1 5). Sansão não havia planejado •jd o isso, mas, mesm o assim, Deus permi• u que os acontecim entos se desenrolassem :essa forma. E le p e rd e u sua sep a ra çã o co m o n a zire u vv. 5-9). Ao que parece, quando Sansão e ^eus pais desceram a Tim na a fim de fazer os preparativos para o casam ento, Sansão saiu da estrada principal (separando-se de seus pais) e fez um desvio, passando por ; gumas vinhas, onde foi atacado por um -?ão. U m a vinha era um lugar perigoso para -Ti homem que se abstém de uvas (Nm 6:14 '. Será que Deus enviou o leão com o adver­ tência para Sansão de que estava trilhando D cam inho errado? O Espírito Santo deu a Sansão o poder de derrotar o inimigo, mas ían são persistiu em seu cam inho de desored iência rumo ao interior do território ini-ligo e a um casam ento ilícito. A lgum as sem anas depois, quando Saníão voltou para bu scar sua noiva, passou ■ovamente pela vinha, dessa v e z provavel­ mente para ver seu troféu e talvez contar •antagem sobre ele. Seu pecado com eço u com "a co n cu p iscê n cia da carn e" e "a con:jp is c ê n c ia dos olhos" para, depois, incluir ain d a "a s o b e rb a da v id a " (1 Jo 2 :1 6 ). 147 Q u an d o Sansão com eu o mel da carcaça do leão, foi contam inado pelo corpo de um anim al m orto, destruindo, assim , parte da consagração de seu voto nazireu. Na ver­ dade, já havia perdido dois terços de seu voto, um a v e z que havia se contam inado ao entrar na vin h a.6 E le p e r d e u o c o n tro le so b re a lín gu a (vv. 10-18). Um a v e z que Sansão não havia trazido amigos para servir com o "padrinhos" (ver M t 9:1 5), os filisteus juntaram trinta ho­ mens para fazerem as vezes de amigos do noivo. É possível que esses homens também tivessem a função de guardar Sansão, pois sua reputação o havia precedido e ninguém sabia ao certo o que ele poderia fazer em seguida. É bem provável que o am biente es­ tivesse tenso no co m eço da festa, de modo q u e Sansão p r o c u r o u a le g ra r u m pouco as co m e m o raçõ es pro pond o um enigm a. O mais triste é que criou esse enigma com base em seu pecado! Não levou a sério o fato de haver transgredido os votos nazireus. D eso­ bedecer a Deus é horrível o suficiente, mas fazer disso uma piada é sinal de insensibili­ dade espiritual ainda mais grave. Sairia caro os trinta convidados fo rnece­ rem sessenta roupas de festa para Sansão, de m odo que ficaram d esesp erad o s para descobrir a resposta do enigma. A única saí­ da foi conseguir a ajuda da esposa de San­ são. Assim , am eaçaram matá-la e atear fogo à casa de seu pai se ela não lhes desse a resposta até o fim da sem ana. Sansão re­ cusou-se firm em ente a contar-lhe o segre­ do, m as acabo u ce d e n d o no sétim o dia. Talvez haja algum a relação com o fato de que o casam ento deveria ser consum ado no sétimo dia. Prim eiro a m ulher filistéia o se­ duziu (Jz 14:1), depois o dominou (v. 17) e, por fim, ela o traiu (v. 1 7). E assim que o mun­ do trata os cristãos que fazem concessões. Sansão poderia m atar leões e rom per co r­ das, mas não era cap az de resistir ao poder das lágrimas de uma mulher. C om o sua esposa se sentiu ao ser co m ­ parada a uma novilha? O provérbio significa sim plesm ente: "V o cê s só conseguiram acer­ tar porque quebraram as regras do jog o", uma vez que as novilhas não eram usadas 148 JUÍZ ES 1 3 - 1 4 para lavrar. Tendo em vista que os co nvid a­ dos haviam usado de desonestidade, teori­ cam ente, Sansão poderia, tam bém , ter se recusado a pagar o prêm io; porém , em sua generosidade, concordou em cum prir a pro­ messa. É possível que tenha descoberto que a esposa havia sido am eaçada e não deseja­ va colocar a m ulher e sua família em perigo outra vez. A queles que não conseguem controlar a língua não são capazes de controlar o res­ to do corpo (Tg 3 :2 ), e no caso de Sansão, as co n se q ü ê n cia s dessa falta de co n tro le foram trágicas. Sansão p e rd e u a calm a (vv. 19, 2 0 ). Ele foi até A squelom , que ficava a pouco mais de trinta quilôm etros de Tim na, para que a notícia da m atança dem orasse a chegar na cidade onde se casou. Sua brincadeira so­ bre o leão e o mel se transformou em um assunto da m aior seriedade, pois causou a morte de trinta hom ens, cujos trajes Sansão tomou para si. Sua raiva foi tanta que nem sequer consum ou o casam ento, voltando di­ retam ente para a casa dos pais em Z o rá .7 Enquanto estava fora de Tim na, a esposa foi entregue ao padrinho de honra. O Senhor usou essa reviravolta para motivar Sansão a 1. lutar contra os filisteus, em vez de oferecerlhes festas. Se Sansão tivesse conseguido faze r as coisas a sua maneira e consum ado o casa­ mento com a filistéia, teria dificultado ainda mais o trabalho para o qual Deus o havia cha­ mado. Além de pecar, os cristãos de hoje que entram em alianças ilícitas servem de estorvo à obra do Senhor (2 C o 6:14-18). Se Sansão tivesse buscado a orientação de Deus, o Se­ nhor o teria dirigido. Em vez disso, resolveu seguir seu próprio cam inho, e o Senhor pre­ valeceu sobre suas decisões egoístas. "Instruir-te-ei e te ensinarei o cam inho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho. Não sejais com o o cavalo ou a mula, sem entendim ento, os quais com freios e cabrestos são dom inados; de outra sorte não te obedecem " (Sl 3 2 :8 , 9). Se olhar­ mos para o Senhor pela fé, ele pode nos co n d u zir co m o os pais guiam seus filhos. M as se derm os as costas a ele, não lhe resta outra co isa a fazer senão nos tratar com o anim ais e colocar em nós freios e cabrestos. Sansão estava sem pre se precipitando im­ p e tu o sam e n te feito um ca va lo ou em pa­ cando feito uma mula, de modo que Deus precisou discipliná-lo. O termo "Palestina" em nossa língua vem do nome "Filístia". 2. W ood, 3. Dentre outros servos de Deus escolhidos desde antes de seu nascim ento, podem os citar Jeremias (Jr 1:4, 5) e Paulo (G l 1:1 S l Leon. The Distressing Days o ft h e Judges. Grand Rapids: Zondervan Publishing H ouse, 1975, pp. 302-305. 4. O termo "nazireu " não deve ser confundido com "nazareno" (M t 2 :2 3 ; 26 :7 1 ). U m a vez que Jesus bebia vinho (M t 11:1 9 ; Mc 5. A s palavras "só dela me agrado" e "dela se agradou" significam , literalmente, "parece certa a meus olho". Essas declarações apesar de o Salmo 1 3 9:15, 16 ensinar que o Senhor participa da concepção de toda criança. 11:25) e tocou o corpo de pessoas mortas (Lc 7 :1 4 ; 8 :54 ), fica evidente que não era nazireu. nos fazem lem brar d e que, no tem p o dos ju íze s, "cada qual fazia o que achava m ais reto " (Jz 17:6; 2 1 :25). Em v ez de seguir ao Senhor, Sansão estava seguindo o resto do povo e fazendo o que "estava na m oda". 6. Sem dúvida, o banquete de sete dias para com em orar as núpcias (Jz 14 :1 7) incluía vinho, e é bem provável que Sansão tenha bebido.. Era o noivo e esperava-se que incentivasse os convidados a se divertir. A palavra traduzida por "bodas", no original tem o sentido de "festa com bebedeira". 7. Havia uma form a de casam ento na qual a esposa ficava com os pais e o marido a visitava de tem pos em tem pos. M as, ainda que esse fosse o caso, a esposa esperaria que o marido consum asse o casam ento antes de partir. Talvez Sansão planejasse fazê-lo quando a visitasse na colheita do trigo (Jz 15:1-3), mas, então, descobriu que não era m ais sua esposa! 10 A Luz Q u e se A p ag ou J u íz e s 1 5 - 1 6 vida de Sansão ilustra com o nem sem ­ pre um bom co m e ço é garantia de um bom fim .1 O poeta norte-am ericano H en ry H a d s w o rth Long fellow disse q ue: "A arte de co m e çar é algo form idável, porém mais form idável ainda é a arte de term inar". Por e ííe m otivo, Salom ão escreveu : "M elh o r é : fim das coisas do que o seu p rin cípio " iEc 7:8). No com eço de sua carreira, Sansão serriu ao Senhor com o um brilho radiante, mas sua luz com eçou a enfraquecer, à medida rue se entregou a suas paixões. Nas últimas renas de sua vida, vem os a luz de Sansão lo agar e o defensor cego de seu povo ser soterrado pelos m ontões de escom bros de templo pagão. M esm o considerando que ele matou mais filisteus em seu martírio do : j e ao longo de sua carreira com o ju iz, as : risas poderiam ter sido muito diferentes se Sansão tivesse co n q u istad o p rim eiro a si -lesm o, antes de tentar conquistar os inim i­ gos do Senhor. D e acordo com Spurgeon: ; j a vida toda foi uma série de milagres e re desatinos". O bserve as cenas finais da vida Sansão : a ra saber por que ele não term inou bem. 1. S a n s ã o se v i n c a (J z 15 :1-8) D desejo im petuoso de Sansão de ir à forra ra re c ia co n tro lar sua vid a. Seu lem a era: \ssim com o me fizeram a mim, eu lhes fiz a eles" (Jz 1 5 :1 1 ). Entendo que, com o de■e~sor de Israel, Sansão havia sido cham ado ra ra derrotar o inim igo, mas nosso m aior resejo é vê-lo lutando nas "batalhas do Se-rsor" e não apenas em seus conflitos pes­ soais. Q u an d o D avi enfrentou os filisteus, considerou-os inimigos do Senhor e honrou o nom e de D eus com sua vitória (1 Sm 1 7). Com o cristãos, precisam os estar atentos para não encobrir m otivações egoístas com uma capa de zelo religioso, cham ando isso de "indignação santa". A vingança pessoal e o benefício próprio, em lugar da glória ao Senhor, já foram a força m otriz de inúmeros "defensores" dentro das igrejas. Aquilo que alguns consideram zelo piedoso pode, na verdade, ser fúria pecam inosa que brota do egoísmo e que se alim enta do orgulho. Exis­ te uma ira santa que devem os sentir quan­ do vem os o crescim ento da perversidade e a opressão dos indefesos (Ef 4 :2 6 ), mas a linha que separa a indignação justa de uma "birra religiosa" é extrem am ente tênue. A vin g a n ça p o r se u c a sa m e n to a rru i­ n a d o (vv. 1-5). A pesar de não haver consu­ mado seu casamento, Sansão considerou-se legalm ente casado com a mulher de Tim na. Assim , levou consigo um presente ao visitála na casa do pai. Q ual não foi seu choque ao descobrir que não apenas não estava ca­ sado, com o tam bém a m ulher que am ava encontrava-se casad a com o padrinho de honra!2 Sansão havia pago o "preço da noi­ va" para ter a esposa e, agora, estava sem seu dinheiro e sem mulher. A fúria de Sansão foi tanta que nem mes­ mo a oferta de uma noiva mais nova e ainda mais bela foi suficiente para acalm á-lo. Se alguém deveria ser castigado era seu sogro, o verd adeiro culpado . A final, tom ou o di­ nheiro de Sansão e entregou a noiva para o hom em errado! No entanto, Sansão resol­ veu extravasar sua ira contra os filisteus, quei­ mando suas plantações de cereais. A palavra traduzida por "raposas" tam­ bém pode significar "ch acais", e é bem pro­ vável que Sansão tenha usado estes últimos. As raposas são anim ais solitários, enquanto os chacais andam em grandes alcatéias. Por isso, seria muito mais fácil Sansão capturar trezentos chacais, sendo que, para isso, cer­ tamente contou com a ajuda de outros ho­ m ens. Se tivesse co lo cad o um a to cha na cauda de cada anim al, cada um teria fugido im ediatamente para sua toca. Porém, ao co ­ locar dois animais juntos e depois soltá-los, 150 JUÍZ ES 1 5 - 1 6 Sansão teria ce rteza quase absoluta de que o m edo do fogo faria com que entrassem em pânico. A ssim , correriam freneticam en ­ te de um lado para o outro nos cam pos e ateariam fogo nos ce rea is. Em seguida, o fogo se espalharia para as vinhas e os oli­ vais, ca u sa n d o d e v a sta çã o q u e c a u s a ria enorm es prejuízos. Não sabem os ao certo por que escolheu destruir as plantações dos filisteus de m a­ neira tão estranha. Se havia outros homens aju d an d o S an são , co m esse m éto d o ele poderia atacar vários cam pos ao mesmo tem­ po; por não co n seg u irem v e r os an im ais correndo no meio da plantação, os filisteus ficariam assustados e confusos sem saber o que estava causando os incêndios. Sem dú­ vida, os chacais fariam um barulho terrível, especialm ente quando fossem envoltos pe­ las cham as ou pela fum aça. Seu enigm a e sua rima (Jz 15:16) mostram que Sansão ti­ nha um senso de hum or infantil e, talvez, essa form a de provocar o incêndio das plan­ tações tenha sido apenas mais um a diver­ são para ele. Não devem os nos esquecer, porém, de que Deus usava as façanhas de Sansão para perturbar os filisteus e preparálos para a derrota certa que viria alguns anos depois. A vingança p ela m o rte da esposa (vv. 68 ). A v io lê n c ia gera m ais v io lê n c ia , e os filisteus não ficaram de braços cruzados en­ quanto seus alim entos e sua riqueza se co n­ sumiam em cham as. Imaginaram que Sansão estava por trás dos incêndios e não hesita­ ram em revidar. U m a vez que não tinham e s p e ra n ç a s de v e n c e r S a n sã o , a tacara m quem estava mais perto e despejaram sua ira sobre a esposa e o sogro de Sansão. Na realidade, de nada adiantou aquela mulher filistéia ter traído Sansão (Jz 1 4 :1 5 ). "Se as­ sim procedeis, não desistirei enquanto não me vingar" (Jz 1 5 :7 ). Não sabem os quantos filisteus ele matou ou quantas armas usou, mas foi uma "grande m atança". D epois do ataque, Sansão retirou-se para uma caverna na "rocha de Etã". Essa não é a m esma Etã citada em 1 C rô nicas 4:32 (muito distante) e nem em 2 C rônicas 1 1 :6 (ainda não havia sido c o n stru íd a ). Tratava-se de um lugar elevado em Judá, próxim o a Lei, de onde Sansão podia observar os inimigos com fa­ cilidade e segurança. 2 . San são se d efe n d e ( J z 1 5 :9 - 2 0 ) C o m o Sansão atacou os filisteus, os filisteus foram à forra e atacaram Israel; afinal, os israelitas não tinham arm as nem exército. A invasão de Judá não ajudou a tornar Sansão benquisto pelo povo, que infelizm ente se contentava em sujeitar-se a seus vizinhos e em fazer o que podia naquela situação. Em vez de encarar Sansão com o seu libertador, os h om ens de Judá co n sideraram -no um agitador. E difícil ser líder quando não há seguido­ res, mas parte da culpa foi do próprio Sansão. Ele não desafiou o povo, não organizou os israelitas nem confiou que D eu s lhes daria a vitória. Preferiu trabalhar so zinho , lutando as batalhas do Senhor com o se fossem suas rixas pessoais. Vem os que Sansão foi cha­ m ado para co m eçar a libertar a nação (1 3 :5), m as me p a re ce que se "p o n tap é in icia l" poderia ter sido mais enérgico. Q u an d o o povo de Deus acom oda-se na situação pre­ sente e seus líderes não os estimulam a agir, as coisas não vão nada bem. Q u an d o os hom ens de Judá desco bri­ ram que os filisteus desejavam capturar e am arra r so m e n te S a n sã o , o fere ce ram -se para ajudar. Em que triste estado encontrase um a n ação cu jo s cid ad ão s co labo ram com o inimigo e entregam o próprio líder escolhido por Deus! Enquanto Sansão exer­ ceu sua função de ju iz, esse foi o único mo­ mento em que Israel reuniu um exército e, ainda assim, com o propósito de capturar um d e se u s p r ó p r io s h o m e n s ! N o e n ta n to , Sansão percebeu que, se não se entregasse, o exército filisteu causaria grande sofrimen­ to em sua terra, de m odo que se rendeu voluntariam ente. A fim de se defender, teria sido obrigado a lutar contra o próprio povo. Para escapar, o que poderia ter feito com facilidade, teria sido forçado a deixar três mil hom ens de Judá nas mãos do exército filisteu. Essa decisão de Sansão teve um toque de heroísm o que passou d esp ercebid o pelos hom ens de Judá. JUÍZES 1 5 - 1 6 Pelo poder do Espírito Santo, Sansão romceu facilm ente as amarras com as quais os -om ens de Judá haviam atado seus braços, c-egou a queixada nova de um jumento (uma c je ixad a mais velha seria quebradiça demais) e matou mil filisteus. Só nos resta imaginar o : je os homens de Judá pensaram ao ver seu orisioneiro, seu próprio irmão, matar sozinho os invasores. Será que algum deles teve von­ tade de pegar as armas dos filisteus mortos e de participar da batalha? Será que os israelitas sabiam usar essas armas? Sansão sabia se expressar. Em seu ban­ quete de casam ento havia criado um enig­ ma astuto (1 4 :1 4 ). D e p o is d essa grande .itória, escreveu um poem a baseado na se­ m elhança dos sons das palavras hebraicas - im o r ("jum ento") e hom er ("m onte"). James Moffatt apresenta a seguinte tradução: "C o m a queixada de um jum ento empilhei-os num montão. C om a qu eixada de um jum ento ataquei quem me ataco u ".3 Porém , sua com em oração de vitória não durou muito tem po, pois D eus o lembrou ;e que era apenas um hom em e precisava í e água para sobreviver. Nas Escrituras, é comum o triunfo ser seguido de uma prova­ ção. Assim que os israelitas term inaram de atravessar o mar Verm elho, viram-se seden­ tos (Êx 15:22-27) e famintos (Êx 16). A vitó­ ria de Elias no monte C arm elo foi seguida de sua fuga humilhante para o monte Horebe 1 Rs 18 - 19). Se os triunfos não forem con­ trabalançados pelas provações, há sem pre o perigo de nos encherm os de orgulho e de confiança própria. Se ao menos Sansão tivesse dado ouvi­ 151 term inar a vida nas mãos dos pagãos filisteus. Infelizm ente, foi exatam ente isso o que acon­ teceu . Porém , D eu s foi m ise rico rd io so e abriu um a fonte de água num a cavid ad e. Sansão saciou a sede e cham ou o lugar de "A fonte do Q u e Clam a" (A R C ). O lugar onde Sansão exterm inou os filisteus foi cham ado de "M onte da Q u e ixa d a ". Alguns traduto­ res dão a entender que a água veio da quei­ xada, pois o nom e do lugar em hebraico é Lei, que significa "queixada, de modo que Juízes 15:19 diz: "Então, o S e n h o r fendeu a cavidade que estava em Lei". 3 . S a n s ã o exp õe-se à t e n t a ç ã o (Jz 1 6 :1 -3 ) G a z a era um a cidade portuária im portante, situada a cerca de sessenta e cin co quilô­ metros de Z o rá, cidade natal de Sansão. O texto não diz o m otivo de Sansão ter ido para lá, mas é pouco provável que estivesse em busca de prazeres sensuais. H avia pros­ titutas em abundância na terra de Israel, ape­ sar de essa prática ser condenada pela lei (Lv 1 9 :2 9 ; Dt 2 2 :2 1 ). Foi depois de sua ch e­ gada a G a z a que Sansão viu uma prostituta e de cid iu visitá-la. M ais um a v e z , a concu p iscên cia dos olhos e a co n cu p iscên cia da carne juntaram-se para exercer domínio sobre Sansão e fazer dele um escravo de suas paixões. Para nós, parece inacreditável que um servo de D eus (Jz 15 :1 8 ), que fez grandes coisas pelo poder do Espírito, visitasse uma prostituta, mas o relato bíblico é claro. Sem dúvida, o Senhor não aprovava esse tipo de c o m p o rta m e n to , e s p e c ia lm e n te d e um dos a essa ad vertên cia de D eus e se não tivesse suplicado apenas por água, mas tamoém por orientação! As palavras: "N ão nos deixes cair em tentação" teriam constituído jm a oração perfeita para aquele mom ento. C om o somos rápidos em clam ar por ajuda oara o corpo quando, talvez, nossas m aiores necessidades encontram -se no ser interior. É quando som os fracos que som os fortes nazireu, e esse episódio foi mais um passo na jo rn ad a de Sansão rumo às trevas e à d estruição. Nos últim os anos, tem os visto nos Estados U nidos escândalos suficientes o co rrerem no m inistério para nos m anter sem pre alertas. "A q u ele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1 C o 10:12). N ão é nossa cu lp a se Satanás e seus d e m ô n io s nos te n tam , m as q u a n d o nós (2 C o 1 2 :1 0 ), e ao depender em tudo do Senhor, estarem os absolutam ente seguros. mesm os nos expom os à tentação, passamos a ser nosso próprio inimigo. D eus não nos tenta (Tg 1:12-15). Q u an d o oram os: "N ão nos d e ixes ca ir em te n ta ç ã o " (M t 6 :1 3 ), A oração de Sansão mostra que se consi­ derava um servo de Deus e que não desejava 152 JUÍZES 1 5 - 1 6 estam os pedindo que não tentem os a nós mesmos e que não nos co lo q u em o s em situa­ çõ es qu e nos levem a tentar a D eus. Nós o tentam os ao forçá-lo a intervir e nos salvar ou ao desafiar o Senhor a nos impedir. Pode aco ntecer de o caráter do ser hum ano se deteriorar a ponto de não precisar mais ser tentado a pecar. Tudo o que pessoas assim precisam é de uma oportunidade para pe­ car, e elas próprias se encarregarão de ten­ tar a si mesm as. U m a aventura sexual ilícita co m eça doce com o o mel, mas term ina tão amarga quanto o absinto (Pv 5:1-14). Sansão, o ser hum ano, transformou-se em Sansão, o anim al, enquanto a prostituta o co n d u zia para o m atadouro (Pv 7:6-23). A notícia de que Sansão estava em G a z a espalhou-se, e o povo colocou guardas na porta da cidade para capturar e matar Sansão pela m anhã. Porém , Sansão decidiu sair da cidade no meio da noite, enquanto os guar­ das estavam dorm indo. O fato de as portas estarem cerradas não o assustou. Pegou as portas, as om breiras e as trancas e levou-as em bora! D ependendo da tradução de Juízes 16:3, entende-se que ele carregou tudo até de Hebrom , cerca de sessenta e quatro qui­ lômetros de lá, ou até uma colina defronte de Hebrom . No entanto, as duas interpreta­ ções são possíveis. A porta da cid ad e não servia ap enas co m o pro teção, mas tam bém com o lugar onde os oficiais se encontravam para rea­ lizar suas transações (D t 2 5 :7 ; Rt 4 :1 , 2). "Possuir as portas dos inimigos" era uma me­ táfora para "derrotar os inimigos" (G n 22:1 7; 2 4 :6 0 ). Q uand o Jesus falou de as portas do inferno (hades) não prevalecerem contra a Igreja (M t 1 6 :1 8 ), estava descrevendo a vi­ tória da Igreja sobre as fo rças de Satanás e do mal. Por meio de sua m orte e ressur­ reição, Cristo havia "atacado as portas do inferno", levando-as em bora num gesto de triunfo! 4 . San são t r a i a si m es m o ( J z 1 6 :4 - 2 2 ) O vale de Soreque ficava entre Z orá e Tim na, na fronteira de Judá com a Filístia. A cidade de Bete-Semes situava-se nesse local. Sempre que Sansão entrava em território inim igo, "descia" tanto em term os geográficos quan­ to espirituais (1 4 :1 , 5, 7, 10). Dessa v ez, apai­ xonou-se por uma m ulher que encontrou no vale , não muito longe de casa. E perigoso demorar-se na fronteira com o território ini­ migo, pois quem faz isso pode acabar sen­ do pego. Assim com o D avi e Bate-Seba, Sansão e Dalila estim ularam a im aginação de inú­ m eros escrito res, artistas, com p osito res e dramaturgos. Handel incluiu Dalila em seu oratório Sansão, e Saint-Saens escreveu uma ópera sobre Sansão e Dalila. (A peça Bacchanale ainda é um a co m p o sição musical bastan te to ca d a em co n ce rto s.) Q u an d o Sansão envolveu-se com Dalila no vale de Soreque, jam ais sonhou que seu relaciona­ mento com ela se transform aria num filme de H ollyw ood, apresentado em telas enor­ mes e cores vividas. N ão há co n sen so quanto ao significado Alguns acreditam que indicando que talvez entre os estudiosos do nom e de Dalila. quer dizer "devota", fosse uma prostituta cultuai. No entanto, Dalila não é cham ada de prostituta com o a m ulher em G aza, ape­ sar de ser bem provável que essa fosse sua o c u p a ç ã o . A liá s , D a lila nem s e q u e r é identificada com o filistéia. Porém, pela for­ ma com o tratou com os líderes filisteus, temse a im pressão de que fazia parte de seu povo. O utro s estudiosos acreditam que seu nom e vem do termo hebraico c/a/a/, que sig­ nifica "enfraquecer, em pobrecer". Q u e r essa derivação seja correta quer não, ela certa­ mente enfraqueceu e em pobreceu Sansão! C ad a um dos líderes filisteus prometeu pagar a Dalila uma quantia considerável em dinheiro se ela seduzisse Sansão e desco­ brisse a fonte de sua força extraordinária.4 A intenção deles não era matar Sansão, mas sim neutralizar seu poder, capturá-lo, torturálo e, em seguida, usá-lo para seus propósi­ tos. A capacidade de exibir e de controlar o grande defensor de Israel daria aos filisteus tanto segurança quanto grandeza entre as naçõ es e, sem dúvida algum a, satisfaria o ego do povo ao hum ilhar os israelitas. Sansão deveria ter percebido o perigo quando Dalila com eçou a interrogá-lo sobre JUÍZES 1 5 - 1 6 : segredo de sua força e, com o José (G n 3 9 :1 2 ; 2 Tm 2 :2 2 ), deveria ter fugido o mais •aoido possível. Porém , estava preso a ela re la paixão e anestesiado pelo pecado, de —odo que não foi capaz de agir de modo ■acionai. Q u alqu er um poderia ter lhe dito : j e Dalila o estava fazendo de bobo, mas Sansão não teria acreditado. É pouco provável que os filisteus que se esconderam em seus aposentos tenham se -e.elado cada vez que Sansão escapou de í-ias am arras, pois desse m odo teria descoberto que Dalila havia preparado uma arma: "iou o nom e do Senhor em vão. C a n se ­ i s 'q u e b ra r sete dos dez m andam entos sem sezuer sair de casa é uma façanha e tanto! A mãe de M ica quebrou os dois primeiR K m andam entos ao co nfeccio n ar um ídoo e incentivar o filho a m anter em casa um 'santuário" particular. D e acordo com Deu•^'onômio 12:1-14, deveria haver som ente s. tti lugar de adoração em Israel, e o povo *ão tinha perm issão de possuir os próprios santuários particulares. Além disso, na ver:ad e , a mãe de M ica não tratou dos pecaro s do filho e, por certo, o caráter dele não -iudou para m elhor depois que ela lidou cam a situação. M as o que poderia se espen r, uma vez que ela m esma também era uma cessoa corrupta? M ica não apenas possuía um santuário : articular, com o tam bém nom eou o próprio ' no para servir de sacerdote. Sem dúvida, M ica sabia que o Senhor havia escolhido a •amília de A rão para constituir o único sa­ cerdócio de Israel e, se alguém fora dessa •amília fizesse as veze s de sacerdote, deve■a ser morto (Nm 3 :1 0 ). Pelo fato de M ica e de sua fam ília não se sujeitarem à au torid ade da Palavra de Deus, seu lar era um lugar de confusão reliziosa e moral. No entanto, não era muito citerente de muitos lares de hoje, onde o cinheiro é o deus ao qual a fam ília dedica s ja devoção , os filhos roubam dos pais e "nentem sobre o que fizeram , onde a honra r.a fam ília é um co nceito desco nh ecid o e :n d e não há espaço para o Deus verdadein . A televisão fornece todas as "im agens" zue uma fam ília poderia desejar "adorar", e :o u c o s se preocupam com as declarações ru e iniciam com "assim diz o Senhor". Lembro-m e de ouvir V ance H avn er di­ zer: "N ão devem os nos preocupar com o 'ato de o governo não permitir que as crian:a s tenham Bíblias na esco la. Elas recebe■ão Bíblias de graça quando forem para a prisão". Porém, hoje em dia, nossas prisões encon"am -se tão superlotadas que o governo não sabe o que fazer. Se cada fam ília colocasse 157 Cristo com o o C ab e ça de seu lar, podería­ mos tratar alguns crim es de nosso país desde as raízes. O s lares piedosos são os alicerces de uma sociedade justa e feliz. o n f u s ã o n o m in i s t é r i o (Jz 1 7 : 7 - 1 3 ) D eus não apenas instituiu o lar e instruiu os pais sobre com o ed u car os filhos (D t 6) co m o tam bém instituiu a lideran ça espiri­ tual da co m u n id ad e de ad o raçã o . Sob a antiga aliança, o tabern ácu lo e, posterior­ mente, o templo eram o centro da com unida­ de, e o sacerdócio arônico era responsável pela supervisão de am bos. Sob a nova alian­ ça, a Igreja de Jesus C risto é o tem plo de D eus (Ef 2:1 9-22), e o Espírito Santo cham a e prepara m inistros para servirem ao Senhor e a seu povo (1 C o 12 - 14; Ef 4:1-1 6). Em sua Palavra, D eus dizia aos sacerdotes do Antigo Testam ento o que deviam fazer, e, nos dias de hoje, por m eio de sua palavra, 2 .C o Espírito Santo guia a Igreja e exp lica sua ordem e seu m inistério. Um jovem levita cham ado Jônatas (Jz 1 8 :3 0 )' vivia em Belém de Judá, que não era uma das cidades designadas para os sa­ cerdotes e levitas (Js 2 1 ; Nm 35). É provável que se encontrasse naquela cidade porque 0 povo de Israel não estava sustentando o tabernáculo e seus ministros com os dízim os e ofertas com o D eus havia ordenado que fizessem (Nm 18:21-32; Dt 1 4 :2 8 , 29 ; 26:121 5). Por que viver num a cidade levítica só para passar fome? Q uan d o povo de Deus torna-se indiferente às coisas espirituais, uma das prim eiras evid ências dessa apatia é o declínio em sua contribuição ao Senhor, e, em decorrência disso, todos sofrem. Em vez de buscar a vontade do Senhor, Jônatas foi procurar um lugar onde viver e trabalhar, mesm o que isso significasse aban­ donar seu cham ado com o servo de D eus. A nação encontrava-se num ponto baixo de sua espiritualidade, e ele poderia ter feito algo a fim de ajudar a trazer o povo de volta a Deus. Era apenas um hom em , mas Deus não precisa de mais do que isso para com e­ çar uma grande obra e faze r diferença na história de uma nação. Em vez de colocar-se à disposição de D eus, Jônatas mostrou-se 158 JUÍZES 1 7 - 1 8 disposto a servir apenas aos hom ens e aca­ bou encontrando um trabalho confortável com M ica. Se Jônatas é um exem plo típico dos ser­ vos de D eus nesse período da história, en­ tão não é de se adm irar que a nação de Israel estivesse confusa e corrom pida. Esse homem não deu valor algum a seu cham a­ do com o levita, servo escolhido de D eus. O s levitas eram encarregados não apenas de ajudar os sacerdotes em seus m inistérios (Nm 3:6-13; 8:1 7, 18) com o também de en­ sinar a lei ao povo (N e 8:7-9; 2 C r 17:7-9; 3 5 :3 ) e de participar da m úsica sagrada e dos louvores de Israel (1 C r 2 3 :2 8 -3 2 ; Ed 3 :1 0 ). Jônatas abriu mão de tudo isso em troca do conforto e da segurança no lar de um idólatra. No entanto, o m inistério de Jônatas não era, de m aneira algum a, de caráter espiri­ tual. Em primeiro lugar, ele era um sacerdo­ te contratado e não um pastor de verdade (Jz 18 :4 ; Jo 1 0 :1 2 ,1 3 ). Não servia ao verda­ deiro Deus vivo, mas trabalhava para M ica e para seus ídolos. Jônatas não era um portavo z do Senhor; antes, transm itia às pessoas apenas a m ensagem que desejavam ouvir (Jz 18:6). Q uand o recebeu a oferta de um lugar em que haveria m ais dinheiro, m ais pessoas e mais prestígio, aceitou-a im edia­ tam ente e se alegrou com ela (v. 20 ). Em seguida, ajudou seu novo em pregador a rou­ bar os deuses de seu antigo em pregador! Sem pre que a igreja possui "m inistros co n trata d o s", não tem com o desfrutar as bênçãos de Deus. A igreja necessita de pas­ tores autênticos e fiéis que trabalhem para D eus, não visando o benefício próprio, mas alim entando e protegendo o rebanho. O s verdadeiros pastores não vêem seu trabalho com o um a "carreira" nem correm atrás de um "em prego m elhor" quando surge uma o portunidade. A ntes, ficam onde D eus os colocou e não saem de lá até que o Senhor os envie a outro lugar. O s verd ad e iro s pastores receb em seu ch am ad o e autoridade de D eu s, não das pessoas (G l 1:6ss), e honram o Deus verda­ deiro, não ídolos feitos por mãos humanas. Nos dias de hoje, deve cau sar tristeza ao coração do Senhor ver as pessoas adorando ídolos ministeriais do "sucesso ": as estatísti­ cas, as construções e a reputação. Na "socie­ dade de co n sum o " de hoje, pregadores e "profetas" auto-ordenados não têm dificul­ dade alguma em encontrar seguidores e em vender seus artigos religiosos a uma igreja que age mais com o um fã clube de Holly­ w ood do que com o povo santo de D eus. E, para piorar, esses m ercenários cham am aqui­ lo que está ocorrendo de "bên ção de D eus". O s Jônatas e os M icas sem pre vão se en­ contrar, pois precisam um do outro. A parte triste da história é que M ica acre­ ditava que possuía o favor de D eus, pois um sacerdote levítico de verdade servia com o seu cap elão p esso al. M ica p raticava uma religião falsa e adorava falsos deuses (acres­ centando Jeová à mistura, só para garantir) e, enquanto isso, se fiava num a falsa segu­ rança de que D eus o estava abençoando! Mal sabia que viria um tempo em que seu sacerdote e seus deuses lhe seriam toma­ dos e que não restaria coisa alguma de sua religião. 3. C o n f u s ã o (Jz 18:1-31) n a s o c ie d a d e D eus deveria ser o rei de Israel, e sua Pala­ vra a lei para governar a sociedade, mas o povo preferiu fazer as coisas "a sua manei­ ra". Se os israelitas tivessem deixado seus ídolos e se os an cião s de Israel tivessem consultado e obedecido à lei de Deus para a glória do Senhor, Israel poderia ter sido governada com sucesso. Em vez disso, po­ rém, "cad a um fazia o que achava mais reto (Jz 2 1 :25), resultando num a sociedade cheia de com petição e de confusão. Veja os pecados da tribo de Dã quando seus mem bros tentaram melhorar sua situa­ ção dentro de Israel. C o b iça (vv. 1, 2 ). A tribo de D ã era des­ cendente do quinto filho de Jacó, nascido de Bila, serva de Raquel (G n 30:1-6). Apesar de não ser um a tribo grande (Nm 1:39), re­ cebeu um excelente território quando a ter­ ra foi dividida (Js 19:40-48). No entanto, os danitas não conseguiram derrotar nem ex­ pulsar o inimigo de seu território (Jz 1 :34) e. JUÍZES 1 7 - 1 8 rir ííe modo, decidiram mudar para o Norte, n a io ria das tribos havia conseguido conlar o inimigo, desapossá-lo e apropriar-se sua herança, mas os danitas cobiçaram :erras de outros e tomaram-nas usando ■lolência. O Senhor havia conduzido a divisão dos “ órios tribais usando a direção de Josué a ajuda do sumo sacerdote, Eleazar, e anciãos das tribos (Js 19:51). Assim com o com as nações (At 1 7 :2 6 ), Deus colo ­ cada tribo exatam ente onde desejava ficasse. Ao rejeitar o território que o r havia separado para ela, a tribo de estava opondo-se à vontade de Deus. Mas não é justam ente essa a causa da ;r ia dos problem as em nossa sociedaEm v e z de se sujeitarem à vontade de s, as pessoas querem aquilo que outro 159 aliás era boa pergunta (1 Rs 19:9, 13) - , ele lhes disse a verd ade: havia sido contratado para aquele em prego! Tendo em vista que outra pessoa pagava a co nta, os espias pen­ saram ser adm issível obter o "co nselho es­ piritual" de Jônatas, e ele lhes disse o que queriam ouvir.3 Se a tribo de Dã desejasse, verdadeira­ mente, receber a orientação de Deus, pode­ ria ter consultado o sumo sacerdote. Mas, na realidade, rejeitaram o conselho de Deus ao se recusar a manter a terra que havia separa­ do para os danitas. Assim, é pouco provável que Deus lhes revelaria alguma coisa (Jo 7:17). A rro m b a m e n to , in vasão, ro u b o e in ti­ m id a çã o (vv. 14-26). Q uand o estava a ca­ minho de tomar a terra de Laís, o povo de D ã parou na casa de M ica em Efraim. O s espias danitas contaram aos outros que M ica i e estão dispostas a fazer praticamen-possuía um a co leção m aravilhosa de deu­ le qualquer coisa para conseguir o objeto ses, dando a entender, evidentem ente, que a co leçã o seria de grande valo r para eles i e seu desejo (Tg 4:1-3). A perversão deste enquanto viajavam , guerreavam e se assen­ _ _ndo é alim entada pela "co rru p ção das paixões" (2 Pe 1:4). Seja pela produção de tavam em seu novo lar. Enquanto os homens 'nografia, pela venda de drogas ou pela arm ados estavam na porta da cidade, os cin­ co espias que conheciam Jônatas invadiram ro m o ç ã o de jogos de azar, pessoas ávidas o santuário e roubaram os deuses. por riqueza atendem os desejos hum anos e Q uand o os cin co hom ens com seus des­ acabam ganhando dinheiro e destruindo vi­ pojos religiosos chegaram à porta da cida­ ras. G ra ç a s ao poder da m ídia m oderna, de, o sacerdote ficou chocado ao descobrir ís c e c ia lm e n te da televisão , a indústria da o que haviam feito.4 No entanto, os danitas ro p a g a n d a cria nas pessoas um anseio por com praram seu silêncio oferecendo-lhe um lodo tipo de produtos, serviços e experiên: as em ocionantes. Assim , as pessoas gastam novo contrato, e, uma vez que Jônatas não passava de um m ercenário, estava sem pre r 'n e iro com coisas de que não precisam , a de im pressionar outros com as quais na pronto a aceitar a melhor oferta. O s danitas não apenas invadiram o santuário de M ica •e-dade não se im portam , mas é esse ciclo rue sustenta os negócios e a eco n om ia.2 O s anciãos de Israel deveriam ter impe«Sdo os danitas de deixar o lugar onde Deus ■s havia co locado e de rumar para o norte, on de m ataram p e sso as in o ce n te s e roura-am suas terras. Porém , a co b iça possui . ~,a força extraordinária, e é difícil controlar quem desenvolve apetite por "algo m ais". Um co n se lh o p e c a m in o so (vv. 3-6). Foi e roubaram seus deuses com o tam bém le­ varam em bora seu capelão. Foi um dia pro­ dutivo para os hom ens de Dã! O s danitas colocaram as mulheres e as crianças na frente, o lugar mais seguro, uma v e z que os ataques viriam da retaguarda. Q uand o o povo de D ã havia viajado certa : cialeto de Jônatas que cham ou a atenção dos cinco espias, pois ele não falava exata—-ente com o um hom em efraim ita. Q uand o k-e perguntaram o que um sacerdote levita ‘ a z a num a residência em Efraim - o que deuses nem sacerdote. Assim, reuniu os vizi­ nhos e, juntos, foram atrás dos invasores. Afi­ nal, um homem deve proteger seus deuses! D e nad a a d ia n to u . U m a v e z q u e os danitas estavam em m aior núm ero e eram distância, M ica descobriu que seu santuário havia sido depenado e que ele não tinha mais 160 JUÍZ ES 1 7 - 1 8 fortes demais para ele, M ica e os vizinhos tiveram de bater em retirada e voltar para casa derrotados. A triste pergunta de M ica: "Q u e mais me resta?" (Jz 1 8 :2 4 ) revela a in­ sensatez e a infelicidade de uma religião sem o verdadeiro D eus vivo. O s idólatras ado­ ram deuses que podem carregar consigo, mas os cristãos adoram um D eus que os carrega (Is 46:1-7). V io lên cia e h o m ic íd io (vv. 7-13, 27-29). O s cin co espias viajaram mais de cento e cinqüenta quilôm etros para o norte, de seu acam pam ento em Z o rá até Laís ("Lesém ", Js 1 9 :4 7 ), cid ad e habitada por sidônios a cerca de cinqüenta quilôm etros do mar M e­ diterrâneo. O s sidônios eram pacíficos, não se metiam nos negócios alheios e não pos­ suíam tratados com nenhum a outra gente. Eram um po vo "seguro [...] em paz e co n ­ fiado" (Jz 1 8 :7 ), que vivia isolado, um alvo perfeito para a tribo guerreira de Dã. C om seiscentos hom ens arm ados, além de suas m ulheres e crianças (v. 2 1 ), os da­ nitas m archaram para o norte e tom aram Laís, m atando todos os habitantes e in cen­ diando a cidad e. D epois disso, reconstruíram-na e, cheios de orgulho, cham aram -na de D ã, segundo o nom e do fundad or de sua tribo. Infelizm ente, aquilo que Jacó pro­ fetizou sobre a tribo de D á se cum priu (G n 4 9 :1 7 ). Alguém disse que, no m undo de hoje, há som ente três filosofias de vida: (1) "o que é meu é meu e de mim ninguém tom a"; (2) "o que é seu é meu e vou tom ar para mim; e (3) "o que é meu é seu e vou com partilhar com vo cê". O s danitas seguiam a segunda filosofia, com o fazem os inúm eros am bicio­ sos deste mundo. Um dos negócios de maior crescim ento nos Estados U nidos é o setor de instalação de sistemas de segurança do­ m ésticos. O núm ero de tiroteios em sh o p ­ ping centers e em restaurantes fast-food tem assustado tanta gente a ponto de muitos fa­ zerem suas com pras por telefone. A capa da revista Tim e de 23 de agosto de 1993 cham ou os Estados Unidos de "A A m érica da V io lê n cia".5 Não sabem os quantos habitantes havia em Laís, mas o exterm ínio cruel de algumas centenas de pessoas é um crim e de propor­ ções absurdas. Infelizm ente, creio que fomos expostos a tanto crim e e violência na mídia que esse tipo de notícia já não nos pertur­ ba. "Testem unham os um novo tipo de vio­ lência", escreveu Arthur Beissner na revista S p o rts lllustrated (1e de m arço de 1976). "É a violência que não serve de meio para al­ cançar algo, mas sim com fins recreativos, para o prazer." Podemos acrescentar que a violência tam bém é um meio de ganhar di­ nheiro, fato que tanto os cineastas quanto os produtores de televisão já mostraram cla­ ram ente. Id o la tria (vv. 30, 3 1 ). D ã foi a primeira tribo de Israel a adotar oficialm ente um sis­ tema religioso idólatra. A pesar de haver uma casa de Deus em Siló, os danitas preferiram suas imagens e ídolos. M uitos anos depois, quando o reino se dividiu, Jeroboão I de Is­ rael co lo c o u b e ze rro s de ouro em D ã e Berseba e incentivou a nação toda a abando­ nar o verdadeiro Deus vivo (1 Rs 12:25-33).6 O relato de M ica, Jônatas e os danitas é mais do que uma parte da história antiga. E um a revelação da perversid ade que mora no co ração hum ano e da falta de esperança de uma sociedade sem Deus. Nosso mundo m oderno colocou ídolos no lugar do verda­ deiro Deus vivo e criou sua própria religião hum anista com pleta, até com "sacerdotes" - os especialistas que dizem que a Bíblia está errada e que as idéias deles estão cer­ tas. Porém, nem seus ídolos nem seus sacer­ dotes têm poder algum contra a violência do coração humano. Q uand o Dw ight D. Eisenhow er era pre­ siden te dos Estados U n id o s, organizou o "Sim pósio da C asa Branca sobre Crianças e Jovens" na esperança de encontrar soluções para o problem a da delinqüência juvenil que naquele tem po, já assolava a nação. Eu esta­ va inscrito nesse sim pósio, mas não pude ir por motivos familiares. No entanto, um amigo meu que trabalha­ va com o ministério internacional M ocida­ de para Cristo participou do tal simpósio e me deu o seguinte relatório (paráfrase rrvnha): "Fiquei sentado naquela sala durante horas, o u vin d o p sicó lo g o s, ed u cad ores e JUÍZES 1 7 - 1 8 :-~ in o lo g istas falando sobre os adolescentes e sobre com o ajudá-los e fui me cansanr>: daquilo tudo. Por fim, pedi a palavra e contei de nossa e xp e riê n cia no m inistério • 'o c id a d e para C risto so b re co m o delin: -en te s haviam sido tran sfo rm ad o s pelo poder do evangelho. A sala toda se calou e, :z o depois, alguns dos participantes comep r a m a ficar sem graça, a limpar a garganta k £ m exer com seus papéis. Q uem presidia i 'eunião agradeceu minhas palavras e pas­ tou, im ed iatam e n te , ao item seguinte da iíe n d a . Só então percebi que e/es não queouvir!" 161 W illiam Butler Yeats estava certo: trata-se de um "colapso interno". O lar, o ministério e a sociedade estão se desintegrando diante de nossos olhos, e as pessoas não querem ouvir a verdade! Porém, quer esteja interessa­ do quer não, o mundo precisa ouvir que Jesus Cristo morreu pelos pecadores e que o po­ der de Cristo pode transformar corações, la­ res, igrejas e a sociedade, se o povo crer nele. Nas palavras do pregador e poeta inglês John D onne (falecido em 1631): "Cristo toca seu tambor, mas não usa de co ação com os hom ens. Cristo é servido por voluntários". Vo cê está disponível? Em Juízes 18 :3 0, Jônatas é identificado com o "filho de G érson, o filho de M anassés", o que é impossível, uma v ez que Gérson era um dos filhos de M oisés e não pertencia à tribo de M anassés (Êx 2 :2 2 ; 1 C r 2 3 :1 4 ,1 5 ). C o m o levita, deveria ser da tribo de Levi. O acréscim o da letra n (em hebraico, nun) ao nom e "M oisés" mudaria essa designação para "M a n assés". N o original hebraico, o nun encontra-se acima da linha, m ostrando que a letra foi acrescentada ao texto posteriorm ente. Estudiosos do r'-ebraico acreditam que, em seu zelo de proteger o bom nome de M oisés, um escriba alterou o texto para que não houvesse um idólatra na família de M oisés. Aparentem ente, o escriba se esqueceu de Arão. Com isso, não tenho intenção alguma de condenar o setor publicitário. A publicidade e a propaganda realizam um serviço de tg-ande valor ao nos dizer onde encontrar produtos e serviços de que precisam os de fato. É quando os publicitários promovem desejos prejudiciais criando "im agens" que apelam para os instintos mais baixos do coração humano que discordo inteiramente deles. O orgulho, a co b iça e a com petição por status não são as m otivações mais saudáveis para quem deseja construir lares fortes ou uma sociedade segura e justa. É bom ter coisas que o dinheiro pode com prar se, com isso, não perderm os aquilo que o dinheiro não pode comprar. O fato de as palavras de Jônatas terem se cum prido não absolve nem o levita e nem os espias de seu envolvim ento com atividades fora da vontade de Deus. A profecia de Jônatas se cum priu porque os danitas eram fortes e o povo de Laís era fraco e desprotegido. Por mais sérios que sejam esses crim es, confesso que não posso evitar de sorrir ao imaginar cinco homens valentes roubando deuses que não podiam pro teger nem a si m esm os! As passagens que me vêm à mente são Isaías 40:18-31 e 44:9-20, bem como o Salm o 115. Por mais crítica que seja a atual taxa de crim inalidade nos Estados Unidos, devem os cuidar para não idealizar o passado nem distorcer as proporções. Ver S l o a n , Irving J. O u r Violent Past. Nova York: Random House, 1970. A violência encontra-se arraigada no coração hum ano (G n 6 :5 ,1 1 ,1 2 ) e som ente a graça de Deus pode removê-la. O s estudiosos não apresentam um consenso quanto ao significado do term o "cativeiro" em Juízes 18 :3 0. Caso se trate do cativeiro do reino do Norte na Assíria em 722 a .C ., então essas palavras foram acrescentadas ao texto por um editor em data posterior. No entanto, a frase que se repete com freqüência: "não havia rei em Israel" indica que o Livro de Juízes foi escrito durante os primeiros anos da monarquia, séculos antes da invasão assíria. É possível que esse cativeiro fosse uma referência à invasão dos filisteus ou, talvez, a algum conflito local sobre o qual não temos qualquer inform ação. Jônatas provavelmente ?e casou com uma m oça de Dã, e seus filhos deram continuidade ao falso sacerdócio que ele havia iniciado, mas não sabemos oual foi sua duração. Se tivéssem os essa inform ação, poderíam os determ inar a data do "cativeiro". que chegue à conclusão de que este levita, 12 G u erra e P az J u íz es 1 9 - 2 1 e folheássem os um jornal ou revista se S manai depois de ler esses três capítulos, teríamos de admitir que os tempos não mu­ daram m uito. Isso porque, nessas últim as páginas do Livro de Juízes, encontram os rela­ tos de violência conjugal, de hom ossexuali­ dade ostensiva, de estupro múltiplo seguido de hom icídio, de injustiça, de fratricídio e de rapto. E o tipo de narrativa que quase nos faz concordar com o que disse, em 1 783, o ensaísta inglês Samuel Johnson: "V iv i o sufi­ ciente para ver o que há de mais horrível". O que ele diria em nosso tempo? E claro que acontecim entos desse tipo são o alim ento diário de gente que gosta de ver vio lê n cia na T V e, de acordo com os pesquisadores, aquilo que acontece nas te­ las é im itado nas ruas. Segundo um estudo da A m erican P sycholog ical A sso cia tio n , os programas de horário nobre da T V mostram cerca de cinco atos violentos por hora, e, nas manhãs de sábado, quando as crianças assistem a desenhos anim ados, esses atos violentos por hora se m ultiplicam cinco ve­ z e s (U S A Toda y, 2 de agosto de 1 9 9 3 ). Q uanta esperança há para um a nação que se entretém com a violência? O m al tem um a te n d ê n c ia a c re s c e r quando não é devidam ente tratado. O pe­ cado na cidade de G ib e á acabou contam i­ nando a tribo de Benjam im e causando uma guerra em Israel. 1. A PERVERSIDADE (Jz 19:1-28) DE UMA CIDADE H o sp ita lid a d e em Belém (vv. 1-9). Se você pensou que Jônatas, o levita (caps. 17 - 18), era um homem depravado, então é provável cujo nome não é citado, era um desavergo­ nhado do pior tipo. Passou a m aior parte do tem po se d ivertin d o (1 9 :4 , 6, 8, 2 2 ); c a ­ m inhou em trevas e co lo c o u em risco a própria vid a e a daqueles que o acom pa­ nhavam (vv. 9-14); tratou a co n cu b in a de m odo revoltante tanto quand o ela estava viva quanto depois que m orreu, e foram seus atos que desencad earam uma guerra civil em Israel. U m a co n cu b in a era um a espo sa com direito apenas a com ida, roupas e privilégios conjugais (Êx 2 1 :7-11; Dt 21:10-1 4). Seus fi­ lhos eram considerados legítimos, mas pelo fato de a mãe ser vista com o esposa de se­ gunda categoria, não tinham, necessariam en­ te, direito a uma participação na herança da fam ília (G n 25:1-6). Se a esposa de um ho­ mem era estéril, às vezes ele tom ava para si um a concubina a fim de estabelecer a famí­ lia. A pesar de o concubinato ser regulam en­ tado por lei, o Senhor não o aprovava nem o en co rajava e, no entanto, enco ntram os vários hom ens do Antigo Testam ento que tiveram concubinas, inclusive Abraão, Jacó, G id eão , Saul, Davi e Salom ão. A co n cu b in a desse relato foi infiel ao marido e fugiu em busca de proteção para a casa de seu pai em Belém (Lv 2 0 :1 0 ). Com o passar do tempo, o marido da concubina co m eçou a sentir sua falta, de m odo que viajou até Belém , perdoou-a e os dois se re­ conciliaram . O marido e o sogro descobri­ ram que gostavam da co m p an h ia um do outro e passaram cin co dias com endo, be­ bendo e se divertindo. O que o levita não suspeitava é que não havia m otivo algum para se alegrar, pois seu casam ento estava prestes a term inar em tragédia. Para m im , esse levita ilustra o caráter de muitos cristãos de nosso tem po. São fi­ lhos da luz, mas agem com o filhos das tre­ vas (1 Ts 5:1-8). O julgam ento está prestes £ ser executado, mas não pensam em outra coisa senão em gozar a vida. Num momen­ to em que a nação estava tão afastada de D e u s, co m o era po ssível esse levita des­ perdiçar o tempo co m en d o , bebendo e se divertin d o ? "Afligi-vos, lam entai e chorai. JUIZES 1 9 - 2 1 erta-se o vosso riso em pranto, e a vos; egria, em tristeza" (Tg 4 :9 ). íe m dúvida há um "tem po para rir" (Ec e Deus quer que desfrutem os suas dá(1 Tm 6:1 7); mas, para muitos cristãos, ■te~ipo para rir é o tem po todo! Em um núdemasiado de igrejas, o riso do "entreento religioso" substituiu a quietude da da adoração. O santuário transforse num teatro. Q uand o os fiéis se reúa coisa mais im portante é "se divertir", ‘im de enganar nossa consciência, temos "devocional curta" antes de term inar a e agradecem os piedosam ente a Deus ter nos dado tanto divertim ento. Gosto tanto de bom humor e de riso quanru alq u er outra pessoa, mas cre io que, fcáelizmente, a igreja está perdendo a no(ã o de tem or e precisa ap render a chorar. esse levita risonho estivesse andando na |L .- . orando e buscando a vontade de Deus, f a feito outros planos e salvo a esposa da í^ o n h a , do abuso, da dor e da morte. A h o sp ita lid a d e em G ib eá (vv. 10-21). tem po dos ju íz e s, era perigoso viajar rante o dia (5:6) e ainda mais arriscado • ija r â noite. O levita não queria ficar em >r'íjsalém, pois a cidade encontrava-se nas is de jebuseus pagãos. Assim , avançou Js c in c o q u ilô m etro s até G ib e á , onde poderia ficar com o próprio povo. Mas, no f i n das contas, os h om en s de C ib eá mosse tão perversos quanto os pagãos a seu r! Para com eçar, ninguém em G ib e á rece­ beu os visitantes nem abriu as portas de sua u s a para hospedá-los. Um a vez que o levita :^ 'reg ava co nsigo su prim en tos em quan■sc^de suficiente para seu grupo e seus ani—ais, não seria incôm o d o para ninguém , n a s , ainda assim, não houve quem os rece­ besse. A hospitalidade é uma das leis sagraz í s do O rie n te , e nenhum d e sco n h e cid o le v e ria ser tratado com negligência. Porém, e m e n te um hom em daquela cidade - na -riííd a d e , um efraimita - dem onstrou algu—a pre o cu p ação . N ão apenas acolheu os . ;itantes em sua casa, com o usou de suas : _3prias provisões para alim entar os convi­ dados e seus animais. 163 O povo de D eus é ordenado a praticar a hospitalidade. Trata-se de um dos elem en­ tos da qualificação pastoral (1 Tm 3 :2 ; Tt 1 :8). "N ão negligencieis a hospitalidade, pois al­ guns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos" (H b 13:2). A in iq ü id a d e em G ib e á (vv . 2 2 -2 8 ). G ib e á havia se tornado com o Sodom a, uma cidade tão perversa que o Senhor a apagou da face da terra (G n 19). O s hom ens da ci­ dade entregavam-se a práticas imorais, con­ trárias à natureza (Rm 1:24-27) e às leis (Lv 1 8 :2 2 ; 2 0 :1 3 ; ver 1 C o 6:9 , 10). Em Juízes 1 9 :2 2 , o original traz o term o "co n h ece r" ou "ter relações sexuais com alguém ", tradu­ zido para nossa língua pelo verbo "abusar". Esses pecad ores se em polgaram ao saber que h avia um hom em novo na cid ad e e quiseram aproveitar a ocasião. O anfitrião mostrou-se co rajoso ao des­ crever corretam ente os desejos desses ho­ mens co m o "m al" e "lo u cu ra " (vv. 2 3 , 24) e tentou evitar que violentassem seu hós­ pede. Assim co m o Ló em Sodom a, o anfi­ trião lhes o fere ce u a filha , o que m ostra com o era pouca a co nsideração que alguns hom ens reservavam às m ulheres e à pure­ za sexual naquele tem po. É difícil entender co m o um pai p o d eria o fe re ce r a própria filha para ser sacrificada à lascívia de uma turba. No entanto, muitos pais hoje perm i­ tem que a m ente e o co ração de seus fi­ lhos e filhas sejam violados por aquilo que vêem e ouvem no cinem a, na televisão e em sh o w s de ro ck. A castidade da m ente e do co ração é essencial para a castidade do co rp o. C om medo de que a multidão o matas­ se (2 0 :5 ), o levita os acalm ou entregandolhes sua co n cu b in a, que teve de suportar m últiplos estupros durante toda a noite (v. 2 5). Nosso co ração se enche de revolta com a idéia de que um hom em seja tão insensí­ vel aos se n tim e n to s de um ser h um an o criado à imagem de Deus, tão indiferente à santidade do sexo e à responsabilidade do casam ento e tão despreocupado com as leis de D eus a ponto de sacrificar a esposa para salvar a própria pele. Seria possível que ele a estivesse castig ando por ter sido infiel? 164 JUÍZES 1 9 - 2 1 Se esse foi o caso, então o castigo provou ser muito m aior que o pecado. M as as coisas ficaram ainda piores. O le­ vita não apenas entregou a esposa às perver­ O a p e lo (vv. 12-17). As onze tribos con­ cordaram "com o um só hom em " em atacar G ib e á, mas primeiro enviaram representan­ tes por toda a tribo de Benjam im , instando sões daquela turba impiedosa, com o também conseguiu deitar-se e dorm ir enquanto abu­ savam da mulher na rua! Q ual é o limite da o povo a confessar sua perversidade e a en­ tregar os culpados. D e acordo com Levítico 2 0 :1 3 , os hom ossexuais devem ser mortos, mas não era esse o crim e que as tribos esta­ vam julgando. U m a vez que o levita havia entregue a co ncu bin a voluntariam ente aos dureza do coração de um homem? E com o foi tão ingênuo de esperar que a concubina ainda estivesse viva na manhã seguinte? Ao encontrá-la morta no degrau da por­ ta, mas sem sentir qualquer culpa, colocou o corpo da mulher sobre um dos jum entos e rumou para casa. Então, fez algo terrivel­ m ente d e sp re zív e l: profanou e m utilou o co rp o da co n cu b in a cortando-o em doze partes e enviando uma parte para cada uma das do ze tribos de Israel. É evid en te que desejava m obilizar o apoio das tribos e cas­ tigar os homens de G ib eá que haviam mata­ do a esposa, mas, na verdade, era ele quem havia permitido que a matassem ! Sem dúvi­ da, havia outras form as de cham ar a aten­ ção para o crim e de G ib e á .1 Se o levita tivesse ido a Siló, onde ficava o tabernáculo (1 8 :3 1 ), e tivesse consultado o sum o sacerdo te, poderia ter tratado da questão de acordo com a lei de Deus e evi­ tado uma porção de problem as. No entan­ to, um a v e z que os ânim os se inflam aram em Israel, foi difícil im pedir que o fogo se espalhasse. 2. A OBSTINAÇÃO (Jz 20:1-48) DE UMA TRIBO A a ssem bléia (vv. 1-11). A notícia repulsiva do levita gerou os resultados que ele deseja­ va: líderes e soldados de todo Israel, com e x c e ç ã o de Ben jam im (v. 3) e de JabesG ilead e (2 1 :8 , 9), se reuniram em M ispa a fim de determ inar o que fazer.2 D epois de ouvir a acusação do levita contra os hom ens de G ib eá, o povo de Israel deu o veredicto e fez um voto. D e acordo com o veredicto, os hom ens de G ib e á eram culpados e de­ veriam ser entregues às autoridades para que fossem executados (D t 13:12-18). O voto era de que nenhum a das tribos ali representadas daria suas filhas em casam ento aos homens de Benjam im (Jz 21:1-7). hom ens de G ib eá, dificilm ente seu pecado poderia ser cham ado de adultério (D t 2 2 :2 2 ). A pena por estupro era a morte, e estupros múltiplos provavelm ente eram considerados ainda mais graves (D t 2 2 :2 5 , 26). Talvez as tribos estivessem citando a lei a respeito dos hom ens perversos de um a cidade (D t 13:1218) e usando-a com o base para suas medi­ das práticas. Q ualqu er que fosse a lei a que estives­ sem obedecendo, as tribos se preocuparam em "tirar de Israel o m al", frase encontrada pelo m enos nove vezes em Deuteronôm io. O s hom ens de G ib e á eram perversos e de­ veriam ser castig ados para que o Senhor pudesse, assim , se agradar de seu povo e purificar a terra. Porém , o povo de Benjam im recusava-se a adm itir que G ib e á havia pe­ cado e a entregar os hom ens que haviarr com etido a perversidade. E possível que alguns tenham interpreta­ do a obstinação de Benjam im com o um ato de patriotism o : estavam ap enas tentando proteger seus cidadãos. Porém , sua recusa em cooperar foi, sem dúvida, um ato de re­ belião contra o Senhor. Q u an d o o pecado não é trazido à tona, confessado e castiga­ do, contam ina a sociedade e profana a ter­ ra. O s hom ens pe rverso s de G ib e á erarr com o tum ores cancerosos que precisavam ser extirpados do corpo. "N ão é boa a vos­ sa jactân cia. Não sabeis que um pouco de ferm ento leveda a massa toda?" (1 C o 5:6). E qual foi o resultado? A tribo de Ben­ jam im declarou guerra às outras tribos de Israel! As onze tribos possuíam quatrocen­ tos mil hom ens em seu exército (Jz 20:2) enquanto os benjam itas possuíam apenas vinte e seis mil hom ens que m anejavam a espada e setecentos "hom ens escolhidos" JUÍZES 1 9 - 2 1 165 r~oecializados no uso de fundas (vv. 15, 16). : :ré m , ap esar d essa terrível disp arid ad e, r^ m irmãos lutando contra irmãos! Q u an d o o povo de D eu s se recusa a J e c e r à Palavra, os resultados são semtrágicos. A vid a espiritual da igreja é iquecida e, por fim, destruída quando a egação faz vistas grossas para o pecae deixa de disciplinar os transgressores, tipo ssível haver união no meio do povo Deus enquanto alguns acobertam o peo e permitem que contam ine o corpo. O a ta q u e (vv. 18-40). O s representantes de G ib e á e caíram numa em boscada. Mais de vinte e cin co mil benjam itas m orreram no cam po de batalha, nas estradas ou en­ quanto fugiam para o deserto. G ib eá foi cap­ o nze tribos dirigiram-se ao tabernáculo Siló (Jz 1 8 :3 1 ; 1 Sm 1 :9 )3 e procuraram - j a vontade de D eus lançando sortes 2 0 :9 ) ou através do uso de Urim e Tumim sacerdote (Êx 2 8 :3 0 ). D eus lhes deu issão de lutar, e o ataque deveria ser ado pela tribo de Judá. No prim eiro dia, s perm itiu que os benjam itas vencese m atassem vinte e dois mil soldados dias foi tal que restaram apenas seiscentos ho m ens, os quais foram para a pedra de Rim oni, form ação rochosa sem elhante a um forte próxim a a G ib eá. Q u e alto preço a tri­ bo de Benjam im pagou por se re cu sa r a obedecer à lei do Senhor! litas. A s o n ze trib o s pran tearam d iante do U m a vez arrefecida sua fúria, as onze tribos deram-se conta de que haviam praticam en­ Senhor e buscaram sua vo ntade. O b serve os "filh o s de B e n ja m im ", em Ju íze s 20:18, tornam-se "Benjam im , nosso irm ão" ent Juízes 2 0 :2 3 . Talvez esse tenha sido o :tiv o pelo qual D eus permitiu que os israeia s p erd e ssem a p rim eira b a ta lh a. Essa re T o ta deu-lhes a oportunidade de refletir o r e o fato de que estavam lutando contra Sangue de seu sangue. Porém , no segundo d a da guerra, Benjam im venceu novam en­ t e dessa v e z matando dezoito mil homens, dúvida a situação era sombria. Mais um a ve z, as o n ze tribos buscaram i '"ace do Senho r, d essa v e z com je ju m , ^ c-ifício s e lágrim as. O Senhor respondeu ; ?uas o raçõ es não apenas para dizer-lhes ju e deveriam atacar novam ente, mas tam■Em para garantir-lhes que, dessa ve z, se- im vitoriosos. A estratégia em pregada no terceiro dia h sem elhante àquela que Josué usou em te exterm inado um a tribo de Israel e caíram em pranto (vv. 2 ,1 5 ). O fereceram sacrifícios ao Senhor, mas não há registro algum de que o povo tenha se hum ilhado, confessa­ do seus pecados e buscado a ajuda do Se­ nhor. Deus havia lhes revelado sua vontade anteriorm ente (2 0 :1 8 , 23, 28), mas não há qualquer evidência de que receberam sua Palavra depois do final da batalha. Posso estar errado, mas imagino que o turada, seus habitantes foram m ortos e a cidad e foi queim ada. O exército de Israel destruiu, ainda, várias outras cidades, reali­ zando uma operação de lim peza. No p rim eiro ce n so depo is do êxo d o , havia 3 5 .4 0 0 hom ens de guerra em Benja­ mim (Nm 1:37), número que aum entou para 4 5 .6 0 0 no tem po do segundo censo (Nm 2 6 :4 1 ). O exterm ínio nessa guerra de três 3. O QUEBRANTAMENTO (Jz 21:1-25) DE UMA NAÇÃO Senhor não estava satisfeito com o povo de B en jam im , pois os b en jam itas ain d a não haviam confessado seu pecado nem admiti­ do seu erro. O s seiscentos soldados encur­ ralados na pedra de R im om continuavam não buscando a Deus. Estavam apenas fu­ gindo do exército vencedor. Se alguém ti­ vesse sugerido que fossem todos a Siló para encontrar-se com Deus e co locar em ordem o relacionam ento com ele, talvez tivesse fei­ to alguma diferença. M is 8). Seguros de si depois de dois dias Em vez de obter orientação do Senhor, • tórias (jz 2 0 :3 0 , 31 ; ver tam bém 16:20), as o nze tribos se estribaram em sua própria Denjamitas confrontaram o exército israesabedoria a fim de resolver o problem a (Tg t o e mataram cerca de trinta homens, mas, 3:13-18). O s seiscentos hom ens que resta­ mesm o tem po, foram atraídos para fora ram de Ben jam im precisavam de esposas 166 JUÍZ ES 1 9 - 2 1 para restab elecer a tribo, mas as o n ze tri­ bos haviam jurado que não lhes dariam as filhas em casam ento. D e onde viriam essas esposas? lição e as do ze tribos de Israel foram sal­ vas. O s seiscentos hom ens de Benjam im juntam ente com suas respectivas esposas voltaram para sua herança, lim param os es­ O s israelitas resolveram o problema ma­ tando mais gente de seu próprio povo! Nin­ guém de Jabes-Gileade havia se apresentado com b ros, restauraram as cidad es e recom e­ çaram a vida. No entanto, todo esse m assacre e des­ truição o co rreu po r causa de um levita que não teve a coragem de fazer o que era cer­ to e de tratar com dignidade sua concubina M ais uma vez, com o nos casos de Jônatas M ica e dos danitas (Jz 17 - 18), o problema havia com eçado em casa. O andamento de uma nação reflete o andamento de seus lares. Pela quarta vez (Jz 17:6; 1 8 :1 ; 19:1). : escritor nos diz que "não havia rei em Is­ rael" e, pela segunda v e z (1 7:6), acrescente que "ca d a qual fa z ia o que ach a va mais reto". H o je em dia, não há rei em Israel, p o s a nação escolheu Barrabás em lugar de sus (Lc 23:13-25), e os judeus d isseram :' q u erem o s que este reine so b re nó s" l 19:14). Pelo fato de não haver rei em Isn o povo está se rebelando contra Deus e faj I para lutar, o que significava duas co isas: não haviam p a rtic ip a d o do ju ra m e n to e m e­ reciam ser castigados. É possível que, quando as do ze partes da con cu bin a foram envia­ das para todo Israel, tam bém tenha sido fei­ ta uma advertência segundo a qual a tribo ou cidade que se recusasse a ajudar na luta co n tra Benjam im seria tratada da m esm a form a que os benjam itas. Foi esse tipo de aviso que o rei Saul deu quando usou uma abordagem sem elhante (1 Sm 11:7). Se esse é o caso, os hom ens de JabesG ilead e sabiam o que estava em jogo quan­ do não foram à luta, e eles próprios foram responsáveis pela destruição subseqüente de sua cidade. O s executores encontraram na cidade quatrocentas virgens, m ulheres que podiam tornar-se esposas de dois terços dos soldados que estavam em Rim om . Haviam passado quatro meses vivendo na rocha (Jz 2 0 :4 7 ), mas poderiam pegar suas noivas e voltar para casa. Q u e alto preço foi pago por essas esposas! M as esse é "o salário do pecado". (Para casos precedentes, ver Nm 3 1 :1 7 e Dt 2 0 :1 3 , 14.) O s anciãos se reuniram novam ente para discutir com o poderiam encontrar esposas para os duzentos hom ens que haviam resta­ do. Alguém se lembrou de que muitas das virgens das tribos participavam de uma festa anual em Siló. Se os duzentos homens restan­ tes de Benjam im se escondessem próxim o àquele local, cada um deles poderia raptar uma m o ça e levá-la para casa com o esposa. As tribos não estariam quebrando seu voto, pois não estariam en tre g a n d o as m o ças com o noivas. Elas seriam tom adas. A pesar de se tratar de uma questão de sem ântica, as tribos concordaram com o plano. A ssim , os seiscentos hom ens consegui­ ram suas noivas, as on ze tribos cum priram seu voto, os cidadãos de G ib eá foram casti­ gados, a tribo de Benjam im aprendeu sua zendo o que lhe parece melhor, uma situa­ ção que só m udará quando o Rei voltar e assentar-se em seu trono na Terra. Porém , o povo de Deus hoje não v i\e I no Livro de Juízes, mas sim no Livro de Rute. É difícil crer que a história narrada no L K 1-; de Rute o correu no tem po dos ju íze s (R: 1:1). A narrativa de Rute é uma história de am or sobre um hom em à procura de unu noiva; é uma história d e redenção, sobre urr hom em rico disposto a pagar o preço po' sua noiva am ada e tomá-la para si. É uma história d e colheita, sobre o Senhor da cera juntando seus feixes. Em nosso tempo, todo o povo de D e u ; I com p artilha do am or divino. Pertencem o? e x c lu siv a m e n te ao Sen h o r, pois ele n o ; | redimiu por seu sangue quando morreu nós na cruz. Trabalham os juntos em sua ce - I fa. Q u e vid a m aravilh o sa em m eio a urm undo desp ed açad o pelo pecado e pek egoísmo! E que privilégio extraordinário | derm os co m p artilhar com outros as Bc Novas! Em qual dos livros você está vivendo, i Livro de Juízes ou no de Rute? JUÍZ ES 1 9 - 2 1 167 O rei Saul usou abordagem sem elhante para incitar o povo a lutar contra os am onitas, mas cortou em pedaços um a junta de bois (1 Sm 1 1 :1 -7). A transgressão de G ib eá foi tão terrível que o profeta O séias referiu-se a ela séculos depois com o um exem plo de grande pecado (O s 9:9 e 10:9). 1 Não se esqueça de que esse acontecim ento ocorreu no com eço do período dos Juízes, um tempo em que a nação não se encontrava sob a opressão estrangeira. Ap esar de não haver um governo central, as tribos ainda estavam unidas e conseguiam reunir soldados e com bater em conjunto. Alguns com entaristas acreditam que foram à cidade de Betei, uma v ez que em hebraico "casa de D eus" é beth-elohim e não bethel. Ver tam bém Juízes 2 0 :2 6 .0 tabernáculo era transferido de um lugar para outro. Prim eiro ficou em Siquém (Js 8:30-35) e depois foi para Siló (Js 18:1 e 2 2 :1 2 ; Jz 18 :3 1). Ficou algum tempo em Nobe (1 Sm 21) e tam bém em G ib eão (1 C r 16:39; 21:29), cidade esta que não deve ser confundida com Gibeá. geografia. Pode usar as nações gentias para disciplinar seu povo, Israel. Pode elevar um governante e derrubar outro. 13 O l h a n d o P a r a T rás e O lh a n d o a o R ed o r (A lg u m a s L iç õ e s do L iv r o de J u íz e s ) o olhar para trás, numa retrospectiva de nossos estudos, e ao olhar ao redor para o nosso mundo e para a Igreja de Cristo, podem os tirar algum as co n clu sõ e s acerca A da vida e do serviço cristão e fazer algumas aplicações ao nosso ministério nos dias de hoje. 1. D eu s está à p r o c u r a d e serv o s Deus está à procura de pessoas disponíveis para ouvir sua Palavra, receber seu poder e fazer sua vontade. Deus pode usar homens e m ulheres de todo tipo. A ssim com o G i­ deão, alguns servos de D eus não têm força em si m esm os, mas são fortes no Senhor. Assim com o Baraque, algumas pessoas não querem lutar sozinhas contra o inimigo. C ada um de nós é diferente do outro, mas todos podem os servir ao Senhor para sua glória. Se Deus nos cham a para servi-lo, não é prim eiram ente em fu n ção de nossas apti­ d õ es e talen to s. C o m fre q ü ê n cia , ch am a p e sso as que p a rece m não ter q u a isq u e r qualidades necessárias para a liderança. Ele as cham a porque se entregaram a ele e se colocaram à sua disposição para fazer sua vontade. Não olhe para si m esm o, não olhe para o desafio, olhe para o Senhor. 2. D eus g o v er n a e prev a lece so br e a HISTÓRIA O Livro de Juízes deixa claro que Deus pode trabalhar dentro de todas as nações e por interm édio delas, quer se trate de seu povo, quer de povos gentios. D eus determ inou os tempos "previam ente estabelecidos e os li­ mites da sua habitação" (At 1 7:2 6 ). Ele é o Deus que opera tanto na história quanto na A p esar de p a rece r que a história não possui determ inado padrão , ap esar de os historiadores o procurarem , sem dúvida a história possui um plano definido, pois Deus está no controle. C om o o Dr. A . T. Pierson costum ava dizer: "A história hum ana é a his­ tória de D eu s". A con tecim ento s que, para nós, parece m acid e n ta is, na verd ad e são programados por D eus (Rm 8 :2 8 ). Por mais som brios que tenham sido os dias nos tem­ pos dos ju íze s, D eus ainda estava assenta­ do em seu trono, realizando seus propósito; Esse fato deve servir de encorajam ento pa-i confiarm os no Senhor e continuarm os a ser­ vi-lo, mesm o que as perspectivas neste m t 'do perverso não sejam as m elhores. 3. D e u s d á à s n a ç õ e s o s l íd e r e s q u e MERECEM A o longo destes estudos, ressaltei, em diver­ sas ocasiões, que as qualidades do caráte' dos ju ízes sofreram um processo de deterio­ ração , co m e çan d o com G id e ã o . Q uand c chegam os a Sansão, vem os um a grande for­ ça física com binada com o tipo mais fracc de caráter. G id eão , Jefté e Sansão levaram a ca b o a in c u m b ê n c ia q u e re ce b e ra m de D eus, mas em termos espirituais, não ofere­ ceram ao povo liderança alguma. Filósofos têm discutido através dos sé­ culos se um indivíduo mau pode ser um bo~ líder. Talvez a pergunta mais essencial seia: "A que tipo de liderança estamos nos refe­ rindo?" Se um general que usa linguage^ vulgar, intim ida seus subalternos, m ente e ignora a Palavra de D eus é um soldado p eriente, ele pode, sem d úvid a, oferec um a liderança eficaz para um exército, rr não dará o tipo de exem plo que constró caráter. D e uma form a ou outra, todos os se de D eus têm seus defeitos, mas isso n deve servir de desculpa para pecarm os n para deixarm os de fazer nosso melhor, vem os todos lutar para construir um cará cristão e desenvolver nossas aptidões p a glória de D eus. A dedicação não subst: JUÍZES • "ao alho feito com desleixo, e o sucesso •a olhos dos hom ens não substitui a se­ l e hança a Jesus Cristo. Assim com o Davi, :-r.e m o s servir ao Senhor tanto com intepridade quanto com aptidão (Sl 7 8 :7 2 ). E m s u a b o n d a d e , D e u s n o s p e rd o a E NOS a j u d a a r e c o m e ç a r 7' ciclo histórico do Livro de Juízes garante : j e D eus nos d iscip lin a quand o d e so b e­ decemos e que nos perdoa quando nos ar­ r e n d e m o s e confessam os nossos pecados, -•elizm ente, não aprendem os com os erros t e outros nem com os próprios fracassos : : passado, mas esse é um dos ossos do ■f ;io de serm os hum anos. Devem os nos lembrar de que a nação de ~-ael possuía uma relação especial de alian: j com D eus. Ele prometeu abençoá-los se : redecessem à sua lei e discipliná-los se deH redecessem . Em lugar algum do Novo Tes•2 —ento, Deus prometeu dar a seu povo de '•>e uma vida fácil e confortável se obedeirre m ao Senhor. Somos cham ados para ser Domo Jesus e devemos nos lembrar de que ■e viveu de maneira perfeita na terra e socom o nenhum outro ser humano. Paulo •o jm homem consagrado ao Senhor e, no í^:anto, passou por inúmeras provações. Se o b e d ecerm o s a D eus ap en as para ::-nseg u ir algo d ele ou para e sca p a r das r- rv a ç õ e s , não estare m o s b u scan d o um -r acionam ento de am or com ele, mas sim ■n "co n trato ": darem os a ele nossa ober è n c ia se ele nos der aquilo que desejan o s. Jesus tratou dessa atitude egoísta em 169 5. A a p e s a r d a in f id e l id a d e d a s p e s s o a s , P a la v r a de D eu s perm a n ece As realizações dos ju íze s se deveram a sua fé na Palavra de D eus (H b 11:32-34). Por vezes, sua fé foi fraca e im perfeita, mas Deus honrou a confiança nele e o nom e do Se­ nhor foi glorificado por interm édio desses indivíduos. Porém , mesm o quando os líde­ res de Israel e o povo desobedeceram ao Senhor, sua incredulidade e desobediência não anularam a Palavra de Deus. A Palavra de D eus n u nca falha. Se lhe o b e d ecerm o s, ele é fiel em nos ab en ço ar, cu m p rir suas prom essas e re aliza r seus pro­ pósitos. Se d e so b e d e cerm o s à vo n tad e de D e u s, e le é fie l em nos d iscip lin ar e em nos levar de volta a um a po sição de sub­ m issão. A Palavra não m uda, nem o caráter de D e u s. C om o seus filhos, vivem os de promessas e não de exp licações. Deus não precisa nos explicar o que faz ou por que está operando de determ inada form a. O Sen h or sem pre dará a seus servos exatam ente as prom es­ sas de que precisam para fazer seu trabalho. 6. D eu s u sa o g o v er n o h u m a n o para c u m p r ir s e u s p r o p ó s it o s N ão havia rei em Israel, mas D eu s ainda podia operar. M esm o quando Israel estava sendo governado por um rei, isso não era garantia de que o povo obedeceria a Deus. O governo é im portante e foi instituído por ■ a parábola dos trabalhadores (M t 20:1-16), foi uma resposta à pergunta de Pedro: j e será, pois, de nós?" (M t 19:27). D evem os o b e d ecer ao Senhor porque • amamos. Por vezes, essa obediência nos e .a rá a passar por provações, mas Deus es- D eus, mas os reis, presidentes, senadores e parlam entares não têm com o im por limites à operação de D eus. D e acordo com Rom anos 13, D eus ins­ tituiu o governo hum ano para nosso próprio bem, e temos a responsabilidade de respei­ tar e de obedecer a esse governo. Podemos não respeitar quem ocupa o cargo, mas de­ vem os respeitar o cargo. D eus já realizou b rá conosco e nos conduzirá até o fim. Pre«if-amos ser com o os três judeus na fornalha x 'ogo: "Se o nosso D eus, a quem servim os, livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de r ; o ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, # : a sabendo, ó rei, que não servirem os a k u s deuses, nem adorarem os a imagem de que levantaste" (D n 3 :1 7 , 18). seus propósitos para seu povo em diferen­ tes tipos de sistemas políticos, inclusive mo­ narquias e ditaduras. Não devem os pensar que ele precisa de um a dem ocracia ou de uma m onarquia constitucional para fazer sua vontade. Deus é soberano! Q u alq uer que seja a form a de governo de um a nação , as palavras de Provérbios 170 JUÍZES 14:34 ainda valem : "A justiça exalta as na­ ções, mas o pecado é o opróbrio dos povos". 7. o As NAÇÕES povo de D s e d e s in t e g r a m quando e u s n ã o é e s p ir it u a l A apostasia e a anarquia andam juntas. So­ mos a luz do mundo e o sal da terra (M t 5:1316), e D eus quer que exerçam os influência positiva sobre a sociedade. Q u an d o a Igreja deixa de ser constituída por um povo santo e obediente ao Senhor, o sal perde o sabor e a luz é toldada. Para G . C am pbell M organ, a Igreja realizou mais coisas para o mundo quando foi menos parecida com ele. Hoje em dia, muitas igrejas acreditam que devem im itar o m undo a fim de alcançá-lo. Q u e grande erro! Q u an d o Israel adotou o estilo de vida das nações pagãs a seu redor, enfraqueceu a própria nação. Q u an d o os israelitas passa­ ram a adorar os íd olos, D eus reteve suas bênçãos. As nações não se desintegram e caem por causa daqueles que vendem por­ nografia ou drogas, mas por causa dos cris­ tãos que deixam de ser sal e luz. A pesar de não aprovar o que fazem , Deus espera que os pecad o res se com p ortem co m o p e ca­ d o res, mas não esp e ra que os sa nto s se com portem com o pecadores. Cristãos que sem pre fazem co n cessõ es não só prejudi­ cam a si m esm os, sua fam ília e sua igreja, mas tam bém contribuem para a degeneração de sua nação com o um todo. 8. D e u s n ã o c o n t a a h is t ó r ia t o d a d e UMA SÓ VEZ Sabem os um bocado sobre D ébora, G id eão, Jefté e Sansão, mas não temos muitas infor­ m a ç õ e s s o b re S an g a r, T o la e Jair. N ão aprouve ao Senhor co locar em sua Palavra todas-as obras de todos os seus servos e, no en tan to , essas p esso as tiveram papel im ­ p o rtante no cu m p rim ento dos propósito s divinos. Pode ser que o povo de D eu s jam ais reconheça o valor do trabalho que você faz para o Senhor. Talvez você seja com o Tola, Ibsã ou Elom, mas não se desanim e! Deus tem todos os registros e, um dia, lhe dará a recompensa por seu serviço fiel. O importante não é outras pessoas verem o que você faz e elogiarem seu trabalho, mas sim servir ao Senhor e procurar lhe agradar. Isso inclui uma advertência: não se apres­ se em julgar o que os outros estão fazendo e não pense que vo cê é o único servo fiel do Senhor. No tem po dos ju íze s, havia di­ versas pessoas servindo a D eus em vários lugares, mas nem todos sabiam de tudo o que estava acontecendo. O mesm o vale para a obra do Senhor em nosso tem po. Apesar de haver um sistem a eficien te de notícias no mundo cristão, nem sem pre sabem os o que D eus está faze n d o em seus servos e por meio deles pelo m undo afora. Q uando j perdem os o alento, talvez seria anim ador saber da história toda. "Portanto, nada julgueis antes do tem- J po, até que ven h a o Senhor, o qual não j som ente trará à plena luz as coisas ocultas j das tre v a s, m as tam b ém m a n ife sta rá o? I desígnios dos co ra çõ e s; e, então, cada um 1 re ce b e rá o seu louvor da parte de D e u s ' (1 C o 4 :5 ). 9. D e u s a in d a a b e n ç o a a q u e l e s q u e VIVEM PELA FÉ Alguém disse bem que ter fé não é crer apesar das evidências (isso é superstição), mas sim o b e d e c e r ap esar das co n se q ü ê n cia s. Poderia acrescentar que tam bém significa obedecer a Deus apesar de tudo o que vemos a nosso redor ou adiante de nós ou de co m o nos sentim os por dentro. A fé não depende de nossas em oções (G id eão estfr va quase sem pre com medo e Sansão sertia que ainda possuía seu antigo poder), nem de nossa in terp reta ção da situ açã o . A fé confia na Palavra de Deus e faz o que e e ordena. I 1 I I I I I I I .] I I Não se pode servir a D eus sem fé, p o i; "Sem fé é im possível agradar a D eus" (H : ' 1 1 :6 ). "Tudo o que não provém de fé é p e cado" (Rm 14 :2 3 ). Se esperarm os até term c; uma fé perfeita, jam ais farem os muita co pelo Senhor. Ele honra até m esm a a fé ç - í é fraca e procura fortalecê-la. Exercitar a ‘ é co m o exe rcitar os m úsculo s: quanto ma í v o cê se exercita, m ais fortes os m úsculos se tornam . I I I 1 I I 1 I JUÍZES 10. A h is t ó r ia d e D e u s a in d a n ã o c h e g o u a o f im : reciso confessar que, ao escrever este livro, houve ocasiõ es em que me senti deprimi4o. Um dia disse a minha esposa que ficaria fefiz quando tivesse term inado esta parte, s o Livro de Juízes não tem muitas notícias boas. M as o Livro de Juízes não é o fim da hislõria! Na verdade, no original, o livro come.2 com as palavras: "E sucedeu que". Se eu ir-n e ç a s s e um livro com essa exp ressão , ■eu editor enviaria o original de volta e me -landaria estudar um pouco mais a sintaxe ée nossa língua. No entanto, em sua form a orig inal, oito Bi. ~os do A ntigo Testam ento co m e çam com *E suced eu q u e ": Josué, Ju ízes, Rute, 1 e 1 Samuel, Ester, Ezequiel e Jonas. Por quê? ^ 'q u e todos são parte d e uma história continua que D eus está escrevend o! O final do _ • -o de Juízes não é o final da obra de Deus ■este m undo, pois esse livro co m eça com ü palavras "E sucedeu que". A história con:n u a ! D eus ainda está trabalhando! Se Juízes trata de um a nação sem rei, •embre-se de que 2 Sam uel é o relato sobre : rei d e D e u s; nesse livro, D avi sobe ao 171 trono e traz ordem e paz à terra. Q u an d o as perspectivas são som brias, lembre-se de que D eu s ainda não term inou sua história. Um amigo meu que trabalha com bas­ quete profissional gosta de assistir a vídeos co m as v itó ria s do tim e pelo qual to rce . M esm o no m om ento mais tenso do jogo ele pode re laxar em frente à TV , p o is já sabe co m o o jo g o vai terminar. Certos dias, o povo de Deus olha para um m undo caótico, uma nação entregue à ganância e à violên cia e um a igreja fraca e dividida e se pergunta se vale a pena andar com Deus e fazer sua vontade. Q uand o isso acontecer, lembre-se de que o povo de D eus sabe co m o a história termina! O último epi­ sódio dessa história não é o Livro de Juízes, mas sim o Livro de Apocalipse! E D eus nos garante que a ju stiça triunfará, que o mal será julgado e que a fé será recom pensada. N enhum cristão pode fa ze r tudo, mas todo cristão pode fazer alguma coisa, e Deus reúne essa "algum a co isa" de todos para realizar sua vontade neste mundo. N unca se sabe o que Deus tem planeja­ do para você, por isso esteja disponível! A final, um dia desses você precisará pres­ tar contas e desejará estar pronto. R ute III. SUBMISSÃO: RUTE ESPERA - 3 ESBOÇO T em a -ch a v e : Em sua providência, D eus co n­ duz e ab en ço a aq u eles que nele confiam . 1. Rute se apresenta a Boaz - 3:1-7 2. Rute é aceita por Boaz - 3:8-15 3. Rute espera Boaz agir - 3:16-18 V e rsícu lo -ch a v e : Rute 2 :1 2 IV. SATISFAÇÃO: RUTE SE CASA - 4 I. TRISTEZA: RUTE CHORA - 1 1. Noem i tenta fugir de seus problem as - 1. Boaz resgata Rute - 4:1-10 2. O povo abençoa Rute - 4 :1 1 , 12 3. Deus dá um filho a Rute e Boaz - 4:1 3-22 1:1-5 2. Noem i tenta encobrir seus erros - CONTEÚDO 1:6-18 3. Noem i fica am argurada com D eus 1:19-22 II. SERVIÇO: RUTE TRABALHA - 2 1. Um novo co m eço - fé —2:1-3 2. Um novo amigo - am or - 2:4-16 3. U m a nova atitud e - e sp e ran ça 2:17-23 1. 2. E im possível fugir (Rt 1).......................................................................173 O m aior destes (Rt 2 ).......................................................................180 3. Encontro à meia-noite (Rt 3 ).......................................................................18c 4. O am or encontra um a solução (Rt 4 )......................................................................... 192 Interlúdio: Reflexões sobre Rute......................197 1 s E I m p o s s ív e l F u g ir R u te 1 (Uma família toma uma decisão errada e ro ca escassez de alim ento p o r três funerais.) i 4 / ^ \ s esforços que fazem os para esca- V _y par de nosso destino só servem para nos co n d u zir até e le." Essas palavras íã o do e n s a ísta n o rte -a m e ric a n o R alp b aldo Emerson em seu livro The C o n d u ct t i Life e são tão verdadeiras hoje quanto na ec 3Ca em que o livro foi publicado em 1860. -elo fato de D eus ter nos dado liberdade de e sco lha , p o d e m o s ig n o rar a v o n ta d e de Deus, discutir com ela, desobedecer-lhe e a:é mesm o lutar contra ela. M as, no final, a .ontade de D eus prevalece, pois: " O conse-io do S e n h o r dura para sem pre" (Sl 3 3 :1 1 ) e "Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os m oradores da terra" íD n 4 :3 5 ). Jó, o patriarca, perguntou: "Q u em por- ou com ele e teve paz?" (jó 9 :4 ). Jó sabia a ■■esposta, com o nós tam bém sabem os: nini jé m . Se obedecerm os à vontade de Deus, :jd o na vida terá co esão; mas se desobede:e m o s, tudo se desintegra. N ão há outra Darte da Bíblia em que essa verdade encon-e-se ilustrada de m odo mais claro do que •as e x p e riê n cia s de Elim eleq u e e de sua reto" (Jz 1 7 :6 ; v e r tam b ém 1 8 :1 1 ; 1 9 :1 ; 2 1 :2 5 ). O Livro de Juízes é a história de Is­ rael em um de seus pontos mais baixos na história: é um registro de divisão, de cruelda­ de, de apostasia, de guerra civil e de vergo­ nha nacional. Em term os espirituais, nossa vid a se p a rece com alguns elem entos do Livro de Juízes, pois não há rei em Israel e continuará não havendo até que Jesus vol­ te. Assim co m o Israel no passado, muitos do povo de Deus, hoje em dia, levam uma vida de incredulidade e de desobediência e não desfrutam as bênçãos de Deus. E incrível com o uma história de am or tão bela pode se passar num período tão cala­ mitoso da história de Israel, mas não é o que acontece hoje em dia? V ivem os tempos co n­ turbados em nível nacional e internacional, de declín io moral, em m eio a dificulda des de todo tipo e, no entanto, Deus am a este m undo perdido e está em busca de uma noiva. A pesar do tem or que em ana das man­ chetes de notícias e dos perigos nas ruas, podem os estar certo s de que D eus ainda am a o mundo e deseja salvar os pecadores. Por mais difíceis que sejam os tem pos, ao co n hecer Jesus Cristo com o Salvador e Se­ nhor, passamos a fazer parte de uma linda história de amor. Porém , o Livro de Rute não apenas é uma história de am or, mas tam bém uma his­ tória de colheita. Durante essa época som ­ bria da história de Israel, D eus procurava uma noiva e tam bém ceifava. Sem dúvida Israel estava co lhendo os frutos de sua deso be­ diência (G l 6 :7 ), mas D eus estava produzin­ do os frutos do Espírito na vida de Rute e de Noem i. Em nosso tempo, o Senhor está bus­ cando uma ceifa e nos cham a a participar com o seus ceifeiros (Jo 4 :34-38). H oje, os esposa, Noem i. cam pos estão brancos para a ceifa, mas ain­ Vem os neste capítulo três erros que deda há poucos ceifeiros (Lc 10:2). \em o s evitar ao tratar dos problem as e proO lugar. Q u e coisa mais estranha haver ações da vida. e sca sse z de alim en to s em Belém , cid ad e cujo nom e significa "casa do pão"! No A nti­ 1. In c r e d u lid a d e : a t e n t a t iv a de f u g irgo Testam ento, muitas vezes a fom e era evi­ DE NOSSOS PROBLEMAS (R t 1:1-5) dência da disciplina de D eus por seu povo \ ép o ca . A vida não era fácil naquela épo­ haver pecado co n tra ele (Lv 2 6 :1 8 -2 0 ; Dt ca, pois: "N aqueles dias, não havia rei em 2 8 :1 5 , 23, 24 ). No tempo dos ju íze s, Israel -rael; cada qual fazia o que achava mais afastou-se repetidam ente de Deus e adorou 174 RUTE 1 os ídolos das nações pagãs a seu redor, e Deus teve de disciplinar seu povo (Jz 2:1019). Até mesm o em Belém , os que eram te­ mentes a Deus tiveram de sofrer por causa dos ím pios. A d e c isã o . Q u an d o os problem as sur­ gem em nossa vid a, podem o s fa ze r uma destas três co isas: suportá-los, fugir deles ou usá-los em nosso favor. Se apenas su­ portarm os nossas pro vaçõ es, elas passam a nos dom inar, e a tendência é nos tornar­ mos e n d u recid o s e am argurados. Se ten­ tarm os escap ar de nossas provações, é bem provável que deixem os passar os propósi­ tos que D eus deseja cu m p rir em nossa vida. Porém , se aprenderm os a usar as provações em nosso favor, elas nos servem e benefi­ ciam , e D eus faz com que todas as coisas co operem para o nosso bem e para sua gló­ ria (Rm 8 :2 8 ). Elim eleque tomou a decisão errada quan­ do decidiu deixar o lar. O que tornou essa decisão tão errada? Ele viveu p e la s a p a rê n c ia s e n ã o p ela fé. A braão com eteu o m esm o erro quando se deparou com a e sca sse z de alim entos na Terra Prom etida (G n 1 2 :1 0 ss). Em vez de esperar que D eus lhe dissesse o que fa­ z e r em seg u id a, fugiu para o Egito e se m eteu num a enrascada. Não im porta qu ão d ifíc e is sejam as c irc u n s tâ n c ia s , o lugar m elhor e mais seguro é dentro da vontade de D eus. É fácil dizer co m o D avi: "Q u em me dera asas co m o de pom ba! V o aria e acharia pouso" (Sl 5 5 :6 ). Porém o mais sá­ bio é apropriar-se das prom essas de Isaías 40:31 e esperar no Senhor, que nos dará "asas com o águias" e, pela fé, elevar-se bem acim a das tem pestades da vida. É im possí­ vel fugir d e seus problem as. C om o viver pela fé? Apropriando-nos das prom essas de Deus e obedecendo à Pala­ vra de D eus, apesar de tudo o que vem os e sentim os e apesar daquilo que pode acon­ tecer. V iver pela fé é entregar-se ao Senhor e confiar plenam ente que irá suprir todas as no ssas n e c e ssid a d e s. N o ssa v id a pela fé glorifica a D eus, testem unha a um mundo perdido e constrói em nós o caráter cristão. Deus ordenou que " O justo viverá pela sua fé" (H c 2 :4 ; Rm 1:1 7; Gl 3:11; Hb 10:38; 2 Co 5:7), e quando nos recusam os a confiar nele, estam os cham an d o D eus de m entiroso e desonrando o Senhor. Existe a sabedoria deste mundo que con­ duz à loucura e à tristeza, e existe a sabe­ doria de D eus que parece loucura para o mundo, mas que co ndu z às bênçãos (1 Co 3:18-20; Tg 3:13-18). "Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio co n cei­ to!" (Is 5:21) E le se c o n c e n tro u nas n e c e ssid a d e s fí­ sica s e n ã o nas e sp iritu a is. Sem dúvida, o desejo de um m arido e pai é prover para a esposa e a fam ília, mas não deve fazer isso de m odo a pe rd e r as b ê n ção s de D eus. Q uan d o Satanás encontrou Jesus no deser­ to, sua prim eira tentação foi sugerir que Cris­ to saciasse sua fom e em vez de agradar o Pai (M t 4:1-4; ver Jo 4 :3 4 ). U m a das menti­ ras prediletas do diabo é: "Afinal de con­ tas, vo cê precisa so b reviver!" Porém , é em D eus que "vivem o s, e nos m ovem os, e exis­ tim os" (At 1 7 :2 8 ), e ele é ca p az de cuidar de nós. Vale a pena refletir sobre o testemunho de D avi: "Fui m oço e já, agora, sou velho porém jam ais vi o justo desam parado, nem a sua d escen d ên cia a m endigar o p ã o " (Sl 3 7 :2 5 ). Ao ver-se diante de um futuro am ea­ çador, o apóstolo Paulo testem unhou: "Po­ rém em nada considero a vida preciosa para mim m esm o" (At 2 0 :2 4 ). Em tem pos de difi­ culdade, se m orrerm os para nós mesmos e co locarm os em prim eiro lugar a vontade de Deus (M t 6 :3 3 ), estejam os certos de que ou ele nos re tirará das d ificu ld a d e s, ou nos acom panhará até o final, enquanto passar­ mos por elas. Ele h o n ro u o in im ig o e não o Sen ho r. Ao se deslocar oitenta quilôm etros para den­ tro de M oabe, o território vizinho, Elimeleque e sua fam ília abandonaram a terra e o povo de D eus em tro ca da terra e do povo do inimigo. O s moabitas eram descendentes de Ló, fruto de sua união incestuosa com suc filha mais velha (G n 19:30-38), e eram inimi­ gos dos israelitas por causa da form a comc haviam tratado Israel durante a jornada dc RUTE 1 175 r-ovo do Egito para C anaã (D t 23:3-6; Nm 2 . D i s s i m u l a ç ã o : a t e n t a t i v a de 22 - 25). M oabe havia invadido Israel e go­ vernado so bre seu povo durante dezoito s-ios (Jz 3:12-14); então, por que Elim eleque foi buscar a ajuda dos moabitas? Um povo rrgulhoso (Is 1 6 :6 ), a quem D eus desprera \a . "M oabe, porém, é a m inha bacia de í.a r " (Sl 6 0 :8 ), um retrato de uma nação - jm ilh ad a lavando os pés dos soldados conr jistad o res. A s co n se q ü ê n cia s. O nom e Elimeleque s gnifica "m eu Deus é rei". Porém , o Senhor ~ão era rei na vida de Elim eleque, pois dei­ ESCONDER NOSSOS ERROS ( R t 1 : 6 - 1 8 ) É im portante considerar os três testemunhos que encontram os nesta seção. O te s te m u n h o d e N o e m i (vv. 6 -1 5 ). Deus visitou seu povo fiel em Belém , mas não sua filh a d e so b e d ie n te em M o a b e . Noem i ficou sabendo que a escassez de ali­ mentos havia acabado, e quando ouviu essa boa notícia, decidiu voltar para casa. Q u an ­ do estam os dentro da vontade do Pai, há sem pre "pão com fartura" (Lc 15:1 7). C om o é triste quando as pessoas apenas ouvem falar das bênçãos de D eus, mas n u n ca as experim entam , pois não se encontram no lugar onde Deus pode abençoá-las. M uitos anos atrás, estava num a reunião de oração com vários líderes do ministério M ocidade para Cristo, inclusive Jacob Stam, irm ão de John Stam, que juntam ente com a esposa, Betty, foi m artirizado na C hina em 1934. Estávam os pedindo que D eus aben­ ço asse um m inistério aqui e um projeto ali e creio que a palavra "abençoar" foi usada uma porção de vezes enquanto orávam os. Então, Jacob Stam orou: "Senhor, pedim os a ti que abençoasse todas essas coisas, mas por favor, Senh o r, faze com q u e seja m o s xou D eus inteiram ente de fora de suas deci­ sões. Fez um a escolha fora da vontade de Deus quando foi m orar em M oabe, o que o levou a outro equívoco, quando seus dois filhos se casaram com m ulheres m oabitas. M alom se ca so u co m R u te (R t 4 :1 0 ), e Quiliom , com O rfa. O s israelitas eram proi­ bidos de se casar com m ulheres gentias, es­ pecialm ente de A m om e M oabe (D t 7:1-11; 23:3-6; Ne 13:1-3; Ed 9:1-4). Foram as mu­ lheres moabitas que, no tempo de M oisés, seduziram os hom ens israelitas e os co n ­ duziram à im oralidade e à idolatria, o que resultou na morte de vinte e quatro mil pesío as (Nm 25). Elim eleque e sua fam ília haviam fugido para M oabe a fim de escapar da fom e, mas ainda assim os três hom ens acabaram m or­ dendo naquela terra. A família havia planeja­ do a p e n a s u m a e s ta d a te m p o rá ria em M oabe, mas ficaram lá d ez anos (Rt 1:4). No final dessa d écad a de d e so b e d iên cia, tudo o que sobrou foram três viúvas solitá-ias e três túm ulos israelitas numa terra pagã. Nada mais (1 :2 1 ). Essas são as tristes conse­ qüências da incredulidade. É im possível fugir dos problem as. Não há com o evitar de levar co n o sco a causa fundam ental da m aioria de nossos proble­ mas: um co ração incrédulo e desobediente. \'as palavras de O sw ald C ham bers: "Q u ase todos co m eçam os com os problem as exter­ nos m aiores e nos esquecem os dos proble­ mas internos. Um hom em deve desco brir qual é 'o grande mal de seu co ração ' antes de ser cap az de resolver suas dificuldades" (The S had ow o f an A gony, p. 76). ab en ço á veis". Se Noem i estivesse naquela reunião, teria de confessar: "Senhor, não sou ab en ço ável". Sem pre que d esobedecem os ao Senhor e saím os de sua vontade, devem os co nfes­ sar nosso pecado e voltar para o lugar de b ên ção . A braão teve de sair do Egito e vol­ tar para o altar que havia ab andonado (G n 1 3 :1 -4 ), e Jacó teve de vo ltar para Betei (3 5 :1 ). O s profetas suplicaram repetidam en­ te ao povo de D eus que deixasse seus pe­ cados e voltasse para o Senhor. "D e ix e o perverso o seu cam inho, o iníquo, os seus pen sam entos; converta-se ao S e n h o r , que se c o m p a d e c e rá d e le , e volte-se p ara o nosso D eus, porque é rico em perdoar" (Is 5 5 :7 ). N oem i tomou a decisão certa, mas com a m o tivação errada. A in d a estava interes­ sada, prim eiram ente, no alimento e não na com unhão com Deus. Não a vem os confes­ sando seu pecado a D eus e pedindo que 176 RUTE 1 ele a perdoasse. Voltava para sua terra, mas não para o seu Senhor. H avia ainda outra coisa errada na form a de Noem i lidar com essa decisão: não q u e ­ ria que as duas noras a acom panhassem . Se era certo Noemi voltar a Belém , onde o ver­ dadeiro D eus vivo era adorado, então era certo O rfa e Rute irem co m ela. N oem i de­ veria ter dito às noras o que M oisés disse ao sogro: "V em co n o sco , e te farem os bem , porque o S e n h o r prom eteu boas coisas a Israel" (Nm 10:29). Em vez disso, Noem i ten­ tou influenciar as duas m ulheres a voltarem para suas famílias e para seus falsos deuses. Por que um a israelita tem ente a Deus, uma filha de Abraão, incentivaria duas mu­ lheres pagãs a adorar falsos deuses? Posso estar errado, mas tenho a im pressão de que Noem i não queria levar O rfa e Rute a Belém , p o is as duas eram prova irrefutável d e que ela e o m arido haviam perm itido qu e os dois filhos se casassem com m ulheres q u e não p er­ tenciam à nação da aliança. Em outras pala­ vras, N oem i estava tentando en co b rir sua desobediência. Se voltasse a Belém sozinha, ninguém ficaria sabendo que sua fam ília ha­ via transgredido a lei de M oisés. " O que enco bre as suas transgressões jam ais prosperará; mas o que as confessa e d e ixa alca n ça rá m ise ricó rd ia" (Pv 2 8 :1 3 ). Q uand o tentam os en co b rir no ssos peca d o s, isso mostra que, na verdade, não os encara­ mos com honestidade nem os julgam os de acordo com a Palavra de D eus. O verdadei­ ro arrependim ento im plica em um a confis­ são honesta e um quebrantam ento interior. "Sacrifícios agradáveis a D eus são o espírito quebrantado; co ração com pungido e con­ trito, não o desprezarás, ó D eus" (Sl 51:1 7). Em vez de estar quebrantada, Noem i sentiase ama.rgurada. O mais triste é que Noemi não apresentou o Deus de Israel de manei­ ra positiva. Em Rute 1 :1 3 , ela dá a entender que D eus era o responsável pela tristeza e dor que as três m ulheres haviam passado: "Porque, por vossa causa, a mim me am ar­ ga o ter o S enhor descarregado contra mim a sua m ão" (v. 13). Em outras palavras: "Eu sou a culpada de todas as provações, então por que ficar com igo? Q u e m sabe o que mais o Senhor tem reservado para mim?" Se N oem i estive sse ca m in h an d o com D e u s, poderia ter ganho O rfa para sua fé e levado para sua casa, em Belém , dois troféus da graça divina. O te stem u n h o d e O rfa (vv. 11-14). As duas noras partiram com Noemi (v. 7), mas ela as deteve e insistiu para que não a acom ­ panhassem . Chegou até a orar por elas (vv. 8, 9), para que o Senhor fosse bom com elas e lhes desse outros maridos e descanso de­ pois de todo seu sofrim ento. Porém , de que adiantariam as orações de uma apóstata (Sl 66:1 8 )? Noem i repetiu três vezes seu pedi­ do para que Rute e O rfa voltassem (Rt 1 :8, 1 1 , 1 2 ). Q uand o viu que hesitavam, com eçou a arrazoar com elas: "Estou velha demais para me casar outra vez e ter outra fam ília", disse Noem i. "E mesm o que pudesse ter mais fi­ lhos, vocês iriam querer desperdiçar os pró­ xim os anos esperando por eles? Poderiam estar na casa de sua mãe, com sua família, aproveitando a vida". O rfa era a mais fraca das duas noras. Par­ tiu para Belém com Noem i, beijou-a, cho­ rou com ela e, no entanto, não ficou com ela. Não estava "longe do reino de D eus" (M c 1 2 :3 4 ), mas tomou a decisão errada e voltou. O rfa beijou a sogra, mas nos per­ guntamos se foi um gesto decisão mostrou que seu dade, estava em sua terra rava encontrar um marido. sincero, pois sua co ração , na ver­ natal, onde espe­ O rfa saiu de cena e nunca mais foi m encionada nas Escrituras. O t e s te m u n h o d e R u te (v v . 1 5 -1 8). Noem i estava tentando acobertar seus atos; O rfa havia resolvido desistir, mas Rute es­ tava preparada para perseverar! Ela se re­ cusou a ouvir as súplicas da sogra para que seguisse o péssim o exem plo da cunhada. Rute teve essa atitude p o rq u e creu no Deus d e Israel (2 :1 2 ). H avia passado por prova­ ções e decepções, mas em vez de culpar a Deus, creu nele e não se envergonhou de confessar sua fé. A pesar do exem plo negati­ vo da fam ília desobediente do m arido, Rute conheceu o verdadeiro Deus vivo, e seu de­ sejo era ficar com o povo de Deus e habitar na terra do Senhor. 177 RUTE 1 •\ conversão de Rute é prova da graça rana de D eus, pois os pecadores só poser salvos pela graça (Ef 2:8-10). Tudo o dela e a seu redor representava uma de obstáculos para a fé, e, no entanto, : reu no D eus de Israel. Suas origens escontra ela, pois Rute era de M oabe, o povo adorava o deus Q uem o s (Nm '2 9 : 1 Rs 1 1 :7, 33 ), culto que aceitava :ios hum anos (2 Rs 3 :2 6 , 27) e incena a im oralidade (Nm 2 5 ). Suas circuns:a s estavam contra ela e poderiam tê-la amargurar-se contra o Deus de Israel. =iro, o sogro m orreu; depois, o marido : cunhad o; ficou viú va e sem qualquer ito. Por que seguir um D eus que trata r-ovo dessa maneira? í jt e am ava profundam ente a sogra, mas mesmo N oem i estava contra ela, pois Rute a voltar para a fam ília e para seus s em M oabe. U m a v ez que Elim eleque m estavam mortos, teoricam ente Rute :3ntrava-se sob a guarda de N oem i e ia ter seguido o conselho da sogra. No to, Deus interveio e, em sua graça, salRute apesar de todos esses obstáculos, por obras de justiça praticadas por nós, segundo sua m isericórdia, ele nos salf (Tt 3 :5 ). D eus tem prazer em mostrar - íericórd ia (M q 7 :1 8 ) e, com freqüência, :*e~ionstra essa m isericórdia às pessoas mais <—-ro váveis nos lugares mais inesperados. Essa é a graça soberana do D eu s que "dese:u e todos os hom ens sejam salvos e chezm ao pleno conhecim ento da verdade" -1 Tm 2:4). A declaração de Rute em 1 :1 6,1 7 é uma confissões mais magníficas das EscrituEm primeiro lugar, confessou seu am or Noemi e seu desejo de ficar com a soaté a morte. Em seguida, confessou sua no verdadeiro D eus vivo e sua decisão adorar som ente a ele. Estava disposta a r pai e mãe (2 :1 1 ), a fim de apegar-se Noemi e ao D eus de seu povo. Rute estaíirm e m e n te "re so lv id a " a aco m p an h ar ;m i (1 :1 8) e a viver em Belém com o povo aiiança de D eus. S o entanto, havia uma lei divina que diNenhum am onita ou m oabita entrará na assem bléia do S e n h o r ; nem ainda a sua d écim a geração entrará na assem bléia do S e n h o r , eternam ente" (D t 2 3 :3 ). Isso significa­ va exclusão perm anente. D e que m aneira, então, Rute poderia participar da congrega­ ção do Senhor? Ao confiar na graça de Deus e entregar-se inteiram ente a sua m isericór­ dia. A lei nos exclui da família de D eus, mas se depositarm os nossa fé em C risto, a graça nos inclui. Ao ler a genealogia de Jesus Cristo em M ateus 1, encontram os o nom e de cinco m ulheres, sendo que quatro delas apresen­ tam credenciais duvidosas: Tam ar com eteu incesto com o sogro (G n 3 8 :3 ); Raabe era uma prostituta gentia (Js 2 :5 ); Rute era uma gentia m oabita desterrada (Rt 1 :5); e a "m u­ lher de U rias" era uma adúltera (2 Sm 1 1 :6). C om o essas m ulheres chegaram a fazer par­ te da família do M essias? Pela graça e mise­ ricórdia soberanas de Deus! Esse D eus "é longânim o para co n vo sco , não querendo que nenhum pereça, senão que todos che­ guem ao arrep e n d im e n to " (2 Pe 3 :9 ). (A quinta m ulher da genealogia é M aria e foi incluída pela graça de D eus e por sua fé. V er Lc 1 :26-56.) 3 . A m a r g u r a : c u lp a r a D e u s p o r n o ssa s p ro v a ç õ e s (R t 1 :1 9 -2 2 ) É provável que as duas viúvas tenham visita­ do os três túmulos de seus entes queridos pela última vez antes de deixar M oabe. C o ­ locaram-se nas mãos do Senhor e partiram para co m eçar uma nova vida. Seria interes­ sante saber sobre o que Rute e Noem i con­ versaram ao viajar de M oabe para Belém . Será que Noem i deu à nora algumas instru­ ções básicas sobre a lei de Moisés? Será que Rute fez perguntas sobre a fé dos israelitas, o povo de Israel e seu novo lar em Belém? Ficam os im aginando quais foram as respos­ tas de Noem i, uma vez que era uma mulher am argurada e com uma fé vacilante no Deus de Israel. Noem i havia passado dez anos longe de sua terra, e as m ulheres da cidade ficaram espantadas quando a viram . Sua pergunta: "N ão é esta Noem i?" indica tanto surpresa quanto confusão. O nom e Noem i significa 178 RUTE 1 "agradável", mas ela não estava fazendo jus a ele. Não era a m esma Noem i de uma dé­ cada antes que o povo da cidade conhecia. Seus dez anos de dificuldades em M oabe e as tristezas que haviam lhe causado deixa­ ram m arcas na aparência e na personalida­ de de Noem i. Em vez de aperfeiçoá-la, as provações da vida a haviam deixado am ar­ ga, sendo esse o sentido da palavra mara. Não podem os controlar as circu n stân ­ cias da vida, mas podem os controlar nossa reação a elas. Essa é a essência da fé: crer que Deus está trabalhando a fim de que tudo coopere para o nosso bem , mesm o quando não sentim os nem vem os isso acon te cen ­ do. "Em tudo dai graças" (1 Ts 5 :1 8 ) trata-se de uma instrução que nem sem pre é fácil de seguir, mas obedecer a essa ordem é o melhor antídoto para um espírito am argura­ do e crítico. Nas palavras do pregador esco­ cês G eorge H. M orrison: "N ove décim os de nossa infelicidade se devem ao egoísm o e são um insulto lan çado à face de D e u s". Noem i estava am argurada contra Deus, pois era prisioneira de seu próprio egoísmo. Em prim eiro lugar, acusou o Senhor de causar-lhe am argura (Rt 1 :20). Havia deixa­ do Belém com o marido e os dois filhos e vo ltad o para ca sa sem e les. P artira para M o abe com suas necessidad es mais bási­ cas supridas, mas voltara sem coisa alguma. Era uma mulher com as mãos vazias, um lar vazio e um co ração vazio . Por não ter se entregado ao Senhor nem aceitado sua dis­ ciplina am orosa, não experim entou o "fruto pacífico [...] de justiça" (H b 12:11). N ão ap en as D e u s h avia lhe ca u sad o amargura, com o tam bém testem unhara con­ tra ela nessas aflições (Rt 1 :2 1 ). É possível que essas p alavras sejam a co n fissã o de Noem i de seus pecados, seu m odo de ad­ mitir que ela e a fam ília haviam pecado ao ir para M oabe? Está dando a entend er que m ereciam tudo o que sofreram ? Em duas o casiõ es, Noem i cham ou D eus de "TodoPoderoso", o nom e hebraico El-Shadai (vv. 20, 2 1 ). U m a co isa é co n h e ce r o nom e de Deus e outra bem diferente é confiar nesse nome e permitir que Deus trabalhe em meio às situ açõ es difíceis da vida. "Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nom e, por­ que tu, S e n h o r , não desam paras os que te buscam " ( S l 9 :1 0 ). Noem i conhecia o nome de Deus, mas não exercitava sua fé. M as será que Noem i era m esm o pobre e vazia ou estava apenas exagerando a situa­ ção, pois seu corpo estava cansado, e sua alm a, amargurada? Pense nos recursos que possuía e que deveriam ter lhe dado ânimo. Em prim eiro lugar, tinha a vida, o que, em si, já é uma dádiva preciosa de Deus uma dádiva que muitas vezes não recebe o devido valor. Noem i deixou três sepulturas em M oabe, mas D eus, em sua bondade, pre­ servou a vida dela e a conduziu de volta a Belém . "N ão tema que sua vida chegará ao fim ", disse John H en ry N ew m an, "m as sim, que nunca terá um co m e ço ". Noem i acre­ ditava que sua vida havia acabado, mas, na verdade, suas provações eram um recom e­ ço. A fé e a esperança de Noem i estavam prestes a sucum bir, mas Deus tinha outros planos para ela! Noem i não apenas tinha vida, mas tam­ bém tinha op ortun id ade. Estava cercada de amigos, sendo que todos desejavam o me­ lhor para ela. A princípio, sua tristeza e am ar­ gura isolaram-na da com unidade, mas, aos poucos, isso foi m udando. Em vez de passar o dia deprim ida, olhando para a parede, fi­ nalmente decidiu olhar pela janela, levantarse e abrir a porta! Na mais escura noite, se olharm os para cim a, ainda conseguirem os ver as estrelas. U m d o s re c u rs o s m ais p re c io s o s de Noem i era sua nora, Rute. Na verdade, foi Rute quem D eus usou e abençoou ao lon­ go do restante do livro, pois Rute era uma m ulher que confiava em D eus e estava intei­ ramente com prom etida com ele. Noem i não tardou a descobrir que a mão de D eus, com suas bênçãos, estava sobre essa jovem e que ele realizaria grandes coisas por intermédio de sua obediência. P o rém , a c im a de tu d o , N o e m i tinha Jeová, o D eu s d e Israel. O Senhor é men­ cionado cerca de vinte e cinco vezes neste livro curto, mas quer Noem i tivesse cons­ ciên cia disso quer não, Deus é o Ator Prin­ cip al desse dram a. "C re io firm em ente na RUTE 1 - ro v id ê n c ia D iv in a " , d isse o P re sid e n te .'•oodrow W ilso n. "Sem ela, iria à loucura. Sem Deus, o mundo seria um labirinto sem >ada." Q uand o tem em os a Deus, não pre: samos tem er qualquer outra coisa. Em seu eito de morte, John W esley declarou: "E o T e lh o r é que D eus está co no sco !" D eus não io e n as está co n o sco , mas tam bém é p o r nós e Se D eu s é por nós, quem será co ntra -os?" (Rm 8 :3 1 ). Q u a n d o as d u a s v iú v a s ch e g a ra m a Be ém, era o tempo da colheita da cevada, rc o c a em que a com unidade expressava alepria e louvores a Deus por sua bondade. Era 179 prim avera, tempo de nova vida e de novos co m e ço s. A le xan d er W h yte costum ava di­ zer, acertadam ente, a sua congregação em Edinburgh que a vida cristã vitoriosa "é uma série de reco m eço s". C om D eus, nunca é tarde dem ais para recom eçar, e era o que Noem i estava prestes a fazer. Ao recom eçar sua vida, vo cê está colo­ cando sua fé em Deus? A final, com ele a seu lado, seus recursos são muito m aiores que seus fardos. Não fique mais olhando para as paredes. Levante-se e, pela fé, abra a porta para um novo am anhã. 1. D 2 O M a io r e v e m o s v iv e r p e l a fé n o S en h o r (Rt 2:1-3) D estes R u te 2 D iz o provérbio que "D e u s ajuda a quem cedo m adruga". Um a vez que Rute não era o tipo de m ulher que ficava ociosa, pediu perm issão a Noem i para respigar nos cam ­ pos, a fim de conseguir alimento para elas. Essa decisão foi um passo de fé da parte de Rute, tomando por base o mandam ento de D eus em sua lei (Lv 1 9 :9 , 10 ; 2 3 :2 2 ; Dt 24:19-22). Sem pre que realizava a ceifa, o povo de D eus deveria pensar nos pobres e (Boaz é su rp reendid o p e lo am or e Rute é sobrepujada pela graça.) d eixar respigas para eles. A final, era Deus quem dava as colheitas e, assim, tinha todo o direito de lhes dizer com o usá-la. A existência dessa lei era prova da preo­ ntes de m udar as circunstâncias em que nos enco ntram o s, D eus deseja trans­ form ar nosso co ra çã o . Se n ossa situação mudar para m elhor, mas continuarm o s os m esm os, na verdade nos tornarem os piores. O propósito de D eus em sua providência não é nos d eixar confo rtáveis, mas sim nos tornar "confo rm es à im agem de seu Filho" (Rm 8 :2 9 ). O que D eus deseja para cada um de seus filhos é que tenham um caráter sem elhante ao de Cristo. N oem i estava am argurada com D eus, mas Rute estava disposta a deixar D eus tra­ cupação de Deus com os pobres dentre seu povo. Israel foi instruído a tratar os pobres com justiça (Êx 2 3 :3 , 6; Lv 1 9 :1 5 ; Pv 22:22, 23) e com generosidade (Lv 19:9, 10). Deus também se preocupava com as viúvas, sen­ do que muitas delas eram, pobres, e orde­ nou a seu povo que cuidasse delas (Êx 22:222 4 ; ver Is 10:1, 2). Rute não era apenas uma viúva pobre, mas também uma estrangeira, de modo que tinha todo o direito de buscar a ajuda e a provisão de Deus. Ele é o Deus "que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o A balhar em sua vida. A ssim , D eus co m eço u a operar por sua graça na vida de Rute. Ela in flu e n cia ria N o em i e, em segu ida, o Se­ nhor re alizaria um a obra m aravilhosa que, a seu tem po, traria ao m undo o Filho de D eus. Rute e N oem i não faziam idéia de que eram parte de um plano eterno, o qual cum priria as prom essas de D eu s a A braão, g a ran tin d o que su a d e s c e n d ê n c ia fo sse bênção para o m undo todo (G n 12:1-3). A história de Rute co m e ça com a m orte do m arido, mas term inará com o nascim ento de um bebê. Suas lágrim as serão transfor­ m adas em vitória. Se q u e re m o s q u e D e u s trab a lh e em e stran g eiro, dando-lhe pão e v e ste s" (D t 1 0 :1 8 ). V ive r pela fé significa crer na Palavra de D eus e agir em função disso, pois "a fé sem obras é m orta" (Tg 2 :2 0 ). U m a vez que Rute acreditava que Deus a am ava e que iria suprir suas necessidades, foi procurar um cam po para respigar. Foi um ato da mais com pleta cher. V em o s a ilu stração desses requisitos nas e x p e riê n cia s de Rute relatad as no ca­ fé, pois, sendo estrangeira, Rute não conhe­ cia os proprietários dos cam pos. Cad a pro­ pried ad e possuía m arcos de delim itação , mas não havia cercas nem placas com os nom es das famílias com o vem os nas proprie­ dades rurais de ho je em dia. A lém disso, co m o m ulher e estrangeira, encontrava-se num a posição especialm ente vu lnerável e precisava tom ar cuidado com o lugar onde ia trabalhar. É nesse m om ento que entra na história um hom em cham ado B o az (Rt 2 :1 , 3), paren­ te de Elim eleque e "senhor de muitos bens' pítulo 2. em sua co m u n id a d e . Seu nom e significa nossa vid a e em nossas circu n stâ n cias de modo a cumprir, pela graça, seus propósitos, há ce rto s requisito s que d evem o s p reen ­ RUTE 2 ' *eie há fo rça". Pela providência de Deus, Rute respigou nas terras de B oaz. D e acorcom a narrativa, "por casualidade" Rute entrou na parte do cam po que pertencia a 5-oaz, mas sem dúvida não foi obra do acaso. Seus passos foram guiados pelo Senhor. "Estando no cam inho, o S e n h o r me guiou" G n 2 4 :2 7 ). A o p e raçã o p ro vid en cial de D eus em ■•assa vida é, ao mesm o tem po, um prazer e um mistério. D eus está sem pre trabalhan­ do co n o sco (M c 1 6 :2 0 ), em nós (Fp 2 :1 2 , 13) e p o r nós (Rm 8 :2 8 ) e realizando os prorositos de sua graça. O ram o s, buscam os sua • : ntade e tom am os decisões (por vezes também com etem os erros), mas é Deus quem :'d e n a os aco n te cim e n to s e que co n d u z ■-eus filhos obedientes. N um a visão espetacular, o profeta Ezequiel viu as obras da pro• irè n c ia divina retratadas num "firm am ento" ru e se m o via por toda parte, com rodas :u jo aspecto e estrutura eram com o se es: ^era uma roda dentro da outra" (Ez 1). Não é algo que podem os explicar, mas, graças a Deus, é algo em que podem os crer e confiar! 2 . D e v e m o s v iv e r p e la g r a ç a de D e u s Rt 2:4 -1 6) Ju a n d o R ute saiu n a q u e la m anh ã para -espigar nos cam pos, estava procurando al;jé m que lhe mostrasse graça (Rt 2 :2 , ver :am bém vv. 10 e 13). A graça é o favor con:edido a alguém que não o m erece e que 'ã o tem com o obtê-lo por seu esforço. Co~io mulher, viúva pobre e estrangeira, Rute "ão poderia reivindicar coisa alguma a quem :u e r que fosse. O cu p ava a posição mais in­ ferior da sociedade. O canal dessa graça foi Boaz. Q u e co n­ solo saber que Deus tem pessoas boas viven­ do em tem pos ruins! Se vo cê só soubesse do que se encontra registrado no Livro de jíz e s , p oderia co n clu ir que os justos ha. iam desaparecid o da terra (Sl 1 2 :1 , 2; Is 5 7 :1 ; 1 Rs 1 9 :1 0 ; Mq 7 :2 ). No entanto, ainza havia pessoas com o B o az que conhe:iam o Senhor e que desejavam obedecer à ; j a vontade. Boaz se preocupava com seus "abalhadores e queria que desfrutassem as :é n çã o s do Senhor (Rt 2:4). 181 Assim que B o az havia cum prim entado seus trabalhadores, percebeu a presença de um a d e sc o n h e cid a em seu ca m p o ; aliás, uma bela desconhecida. Tenho a impressão de que foi um caso de am or à primeira vis­ ta, pois, daquele m om ento em diante, Boaz voltou seu interesse para Rute e não para a colheita. A pesar de ser estrangeira, Rute era uma m ulher livre e desim pedida que, sem dúvida, havia sido notada pelos rapazes da cidade (Rt 3 :1 0 ). Rute 2:11 dá a entender que Boaz já havia ouvido falar de Rute, mas estava prestes a conhecê-la pessoalm ente. M ais uma vez, maravilhamo-nos com a pro vid ência soberana de D eus. O Senhor conduziu Rute ao cam po de Boaz e, em se­ guida, levou Boaz a visitar o cam po enquan­ to Rute estava lá. Poderia ter acontecido de Rute estar descansando na casa que Boaz havia providenciado com o abrigo para seus trabalhadores ou de ter ficado exausta e vol­ tado para c a sa o nde N o em i a esp erava. Q uando entregam os a vida ao Senhor, aquilo que nos acontece não é acidental, mas sim determ inado por D eus. Rute ainda era uma viúva pobre e um a estrangeira, mas Deus estava prestes a criar um novo relacionam en­ to que transform aria suas circunstâncias. Alguns estudiosos vêem em B oaz um re­ trato de Jesus Cristo em seu relacionam ento com sua noiva, a Igreja. Assim com o Rute, o p e cad o r encontra-se fora da fam ília de Deus, falido e sem direito algum de reivindi­ car a m isericórdia divina. M as D eus tomou a iniciativa e proveu um a form a de entrar em sua família pela fé em Jesus Cristo (ver Ef 2:10-22). Falaremos mais sobre esse relacio­ n am en to q u a n d o tratarm o s do "p a re n te resgatador" no capítulo seguinte. O bservem o s, agora, as evidências da gra­ ça de D eus na form a de Boaz relacionar-se com Rute. (1 ) B o a z to m o u a in iciativa (v. 8 ). G ra­ ça significa que D eus dá o primeiro passo a fim de nos socorrer, não porque m ereçam os, mas porque ele nos am a e nos quer para si. "N ó s am am os porque ele nos am ou primei­ ro" (1 Jo 4 :1 9 ). Na salvação, Deus tomou a iniciativa quando nos encontrávam os espi­ ritualm ente m ortos (Ef 2:1-10), sem forças 182 RUTE 2 (Rm 5 :6 ), quando éram os p ecad ores (Rm 5 :8 ) e seus inimigos (Rm 5 :1 0 ). A salvação não foi algo que Deus im provisou, mas sim aq uilo que p lanejo u desd e a ete rn id ad e . Tudo indica que Boaz am ou Rute e, portan­ to, deu os prim eiros passos para suprir suas necessidad es. (2 ) B o a z fa lo u co m R u te (v. 8 ). Foi ele quem se dirigiu a ela prim eiro, pois Rute não teria ousado falar com um hom em , es­ pecialm ente um desco nh ecid o e que era o "sen ho r da ce ifa". Q u e direito um a viúva e estrangeira tinha de se dirigir a um hom em im portante co m o Boaz? E, no entanto, ele interrom peu a co n versa com seu cap ataz para co nversar com um a pobre d esco nh e­ cida respigando em seu cam po. M uitos anos atrás, minha esposa, minha filha mais nova e eu fomos à Grã-Bretanha. Estávamos em Lichfield quando descobrim os que a rainha Elizabeth iria visitar a cidade, a fim de inaugurar uma esco la nova para crianças excepcion ais. Interrom pem os nos­ sos planos e ficam os na rua aguardando, pa­ cientem ente, no meio-fio a chegada de sua com itiva. A rainha passou a uns três metros de nós, juntam ente com sua dam a de com ­ panhia, acenando para a multidão com aque­ le seu jeito característico. Agora, im agine se ela tivesse aberto o vidro do carro e gritado: "O i W arren, Betty e Judy! Vou dizer a meus guardas para to­ marem conta de vo cês!" Se isso tivesse acon­ tecido, todos teriam ficado im pressionados com nossa im portância e talvez até pedido nosso autógrafo. Já pensou? Três cidadãos dos Estados U nid os aos quais a rainha se dirige pessoalm ente! A rainha Elizabeth nunca falou e, prova­ velm ente, nunca falará com igo, mas o D eus Todo-Pod eroso falou co m ig o p o r m eio de Jesus Cristo e de sua Palavra! "D eu s [...] nes­ tes últimos dias, nos falou pelo Filho" (Hb 1:1 , 2). A pesar de tudo o que um mundo inteiro de pecadores fez ao Senhor, em sua graça, ele ainda fala cono sco. Não apenas nos dá a palavra de salvação, mas também nos oferece a orientação de que precisam os para nossa vid a diária. A ssim co m o B oaz instruiu Rute, o Senhor com partilha conosco sua Palavra de sabedoria e co n d u z nossa vida cada dia. C o m o "Senhor da ceifa", ele nos dá um lugar determ inado em seu campo. (3 ) B o a z p ro m e te u p ro te g e r R u te e su­ p r ir suas n e c e ssid a d e s (vv. 9, 14-16). Boaz cham ou Rute de "filha m inha", pois ela era mais jovem do que ele (ver 3 :1 0 ), mas esse tam bém era um tratam ento carinhoso. Ele a trataria com o parte da fam ília (com o Davi fez por M efibosete; ver 2 Sm 9). Boaz ins­ truiu os rapazes para que a protegessem e as m oças para que trabalhassem com ela. Rute deveria ficar junto com as servas que passavam logo depois dos segadores. Em outras palavras, poderia colher o melhor das respigas! B o az chegou até a instruir seus servos a perm itir que ela respigasse no meio dos feixes de espigas e disse-lhes para dei­ x a r ca ir p ro p o sitad am e n te um a parte da colheita para que Rute pudesse apanhá-la. Caso tivesse fom e ou sede, poderia descan­ sar e reanim ar-se junto com os servos de Boaz. Na verdade, Boaz com eu com ela e serviu-a pessoalm ente! (2 :1 4). Q u e retrato m aravilh o so da graça de Deus! O mestre tornou-se com o os servos para que pudesse mostrar seu am or por uma estrangeira. Rute não fazia idéia de que Boaz havia ordenado a seus trabalhadores que fos­ sem generosos para com ela, mas creu na palavra dele e teve suas necessidades supri­ das. Jesus Cristo veio ao m undo com o ser­ vo (Fp 2:1-11) para que pudesse nos salvar e nos tornar parte de sua fam ília. Partilhou conosco as riquezas de sua m isericórdia e am or (Ef 2 :4 ), as riquezas de sua graça (v. 7 as riquezas de sua sabedoria e conhecim erto (Rm 1 1 :33 ), as riquezas de sua glória (Fp 4 :1 9 ) e, além de tudo isso, suas "insondávei; riquezas" (Ef 3 :8 ). N ós, "estrangeiros" indiçnos, som os mem bros da fam ília de Deus e temos toda sua herança a nossa disposiçãc (4 ) B o a z a n im o u R u te (vv. 10-13). A rea­ ção de Rute a B oaz foi de hum ildade e de gratidão. R eco n h eceu que não m erecia : que estava recebendo e aceitou sua graça. Creu nas prom essas dele e se alegrou corr elas. Rute não precisava preocupar-se, p o ; o rico senho r da ce ifa cu id aria dela e de Noem i. C om o sabia que cuidaria dela? B o a ; RUTE 2 _e deu sua palavra, e Rute sabia que ele era :Dnfiável. Rute não olhou para trás, para seu passaro trágico, nem olhou para si mesma, pen­ sando sobre sua triste situação. Lançou-se aos rés do senhor e sujeitou-se a ele. Afastou o : har de sua pobreza e voltou-o para as rique­ zas dele. Esqueceu seus medos e descansou ■as prom essas dele. Q u e excelente exempto a ser seguido pelo povo de Deus hoje! Vejo muita gente infeliz porque não obere c e à a d m o e s ta ç ã o de H e b re u s 1 2 :2 : "olhando firm em ente para [...] Jesus". Pas­ sam tanto tempo olhando para si mesmas, rara as circunstâncias e para as pessoas que reixam de fazer com o Rute, a saber, de conrentrar toda a atenção no Senhor. Em vez re descansar na perfeição do Senhor, vol■am-se para as próprias im perfeições. Em vez òe ver as riquezas espirituais de D eus, queivam-se de sua po breza. V ão à igreja para ' suprir suas necessidades", em vez de ado•ar o D eus que é m aior do que qualquer "ecessidade. Pessoas assim precisam ouvir r conselho de um versinho que me foi en• ado anos atrás por um ouvinte de meu pror a m a de rádio: A palavra traduzida por "respondeu", em Rute 2 :1 1 , significa, literalm ente, "levantou a vo z". Boaz estava se em polgando! Q ueria que todos ouvissem o que pensava de Rute e não teve vergonha de ser identificado com ela. Rute havia confiado em Jeová e prova­ do sua fé ao apegar-se à sogra e tornar-se parte do povo de Israel em Belém . As pala­ vras de Rute: "falaste ao co ração 'd e tua ser­ va", no versículo 13, lembram-nos de que a Palavra de Deus vem do coração de Deus (Sl 3 3 :1 1 ) e fala ao coração de seu povo (Mt 2 3 :1 8 -2 3 ), dando ânim o e esperan ça (Rm 1 5:4). Se ele ouvir as vo zes do mundo, fica­ rá desanim ado, mas se ouvir a vo z de Deus, que vem de sua Palavra, seu coração será enco rajad o . A Palavra de D eus e o Filho de Deus podem saciar inteiram ente o co ração do cris­ tão. Q u an d o buscam os satisfação em outras coisas, acabam os desobedientes e insatisfei­ tos. O mundo perdido labuta por aquilo que não traz saciedade (Is 5 5 :2 ), mas o cristão encontra a plena satisfação em função da graça do Senhor Jesus Cristo (Sl 36:7-9; 6 3 :5 ; 6 5 :4 ; 1 0 3 :5 ; 1 0 7 :9 ). C o m o diz o hino escrito por C la ra T. W illiam s: Olhe para si mesmo e ficará angustiado. Olhe para os outros e ficará deprimido. Olhe para Jesus e será abençoado! 5/ B o a z p ro v id e n c io u para q u e R u te se fa r­ tasse (vv. 14, 18). Tudo isso acon te ceu a Rute com o co nseqüência de sua fé no Deus re Israel. Boaz co nhecia bem a história de Rute, pois as notícias não demoravam a se espalhar numa cidade pequena com o Belém , ía b ia que Rute havia deixado sua terra natal e seus deuses e depositado sua fé em Jeová. Havia se refugiado "sob suas asas". Trata-se de uma imagem que, por vezes, refere-se à ialin h a protegendo os pintinhos (Sl 9 1 :4; M t 23:37), mas tam bém pode ser uma referên­ cia aos querubins no Santo dos Santos (Sl 36:7; 6 1 :4 ). Rute não era mais uma estranzeira e uma desconhecida. Não apenas foi aceita pelo D eus de Israel, co m o também estava habitando com ele no Santo dos San­ tos! (ver Ef 2:11-22.) 183 Fonte eterna, sempre a jorrar, Pão da vida, precioso e abundante, Riqueza infalível sem par, E meu Redentor, a cada instante. Aleluia! Encontrei o Senhor, Pelo qual minIValma ansiou! Jesus satisfaz do meu desejo o ardor Pois, pelo seu sangue, me salvou. D evem os viver pela fé e devem os depender da graça de Deus. M as há ainda um terceiro requisito a ser preenchido. 3 .D e v e m o s v iv e r n a e s p e r a n ç a (R t 2 :1 7 - 2 3 ) Rute trabalhou o dia todo com o co ração alegre e cheio de esperança. Não precisou preocupar-se com o fato de algum homem perturbá-la nem de outros trabalhadores a im pedirem de fazer sua colheita. Recebeu com ida quando teve fom e, bebida quando 184 RUTE 2 teve sede e um lugar para se refazer quan­ do ficou cansada. O s cereais que respigou eqüivaliam a cerca de 18 litros, com ida sufi­ ciente para as duas m ulheres para quase uma Nós, os que crem os em Jesus Cristo, não devem os nos alegrar na esperança? Q uan­ do pensam os em quem ele é, no que ele fez e naquilo que diz em sua Palavra, não sem ana. Além disso, guardou um a porção que sobrou do alm oço (v. 18). Rute não ape­ nas era um a trabalhad o ra diligente com o tam bém cuidava para não desperdiçar nada daquilo que o Senhor havia lhe dado. Q u al seria a reação de Noem i a tudo o que havia acontecid o com Rute? A últim a vez que vim os Noem i, ela estava dividindo sua amargura com as m ulheres de Belém e há motivo algum para nos entregarm os ao desespero. Jesus Cristo é o Filho de Deus. Ele morreu por nós e, agora, intercede por nós no céu. Em sua Palavra, ele nos deu "pre­ ciosas e mui grandes prom essas" (2 Pe 1 :4) que nunca falham. Não im porta com o você culpando D eus por sua infelicidade e pobre­ za. Q u an d o Rute havia pedido perm issão para respigar nos cam po s, N oem i apenas disse: "Vai, m inha filha!" (Rt 2 :2 ). Não deu à nora palavra alguma de ânim o, nem mesmo prom eteu orar por ela. Agora, ouvim os um a palavra nova dos lábios de Noem i: "Bendito" (2:19, 20). Ela não fé em Jesus Cristo. O conferencista agnóstico norte-ameri­ cano, Robert G . Ingersoll, cham ou a espe­ apenas abençoou o benfeitor de Rute como também bendisse ao Senhor! Passou da con­ dição de am argurada para a co n d ição de ab enço ad a. Q u an d o N oem i viu a cevada, abençoou o homem que permitiu que Rute trabalhasse em seu cam po; e quando ficou sabendo que esse homem era Boaz, Noemi bendisse ao Senhor. Q u e grande mudança no coração dessa viúva aflita! Isso aconteceu em decorrência de uma nova esperança, e ça quase incurável e a um ataque cardíaco fulm in an te, d isco rd a in e q u ivo cam en te de Ingersoll. " O co rp o hum ano sofre grande quem lhe deu essa nova esperança foi Boaz. A esperança de Noem i era decorrente d e quem Boaz era: um parente resgatador e tam bém um hom em rico e influente. Com o verem os, o parente resgatador poderia sal­ var os fam iliares da pobreza e dar-lhes um recom eço (Lv 2 5 :25-34). Porém , sua espe­ rança tam bém veio da qu ilo q u e Boaz fez: demonstrou bondade para com Rute e inte­ resse pessoal por sua situação. Q u an d o Rute contou a N oem i o qu e Boaz havia dito, a e sp e ran ça de N o em i se fo rtale ce u ainda mais, pois as palavras de Boaz revelaram seu am or por Rute e seu desejo de fazê-la feliz. Para Noem i, o fato de B oaz insistir para que Rute ficasse perto dos servos dele no cam ­ po era prova de que o parente do marido estava fazendo planos dos quais ela e a nora eram parte. esteja se sentindo hoje, não im porta quão d ifíc il se ja su a s itu a ç ã o , a in d a po d e se regojizar na esperança, se depositar toda sua ran ça de " ú n ic a m en tirosa u niversal que nunca perde a reputação de ser verdadei­ ra". Po rém , o falecid o N o rm am C o u sin s editor da revista The Saturday Review , que sobreviveu de modo m iraculoso a uma doen­ atração em direção à esperança", escreveu Cousins. "Por isso, a esperança do paciente é a arm a secreta do m édico. E o ingrediente escondido na fórm ula de qualquer remédio.' Em seu trabalho com pacientes da Escola de M edicina da Universidade da Califórnia C ou sin s provou co m o a esp erança tem o poder de mudar a vida das pessoas. Para o cristão, a esperança não é um sen­ timento superficial decorrente de fantasias otimistas, do tipo "espero que tudo dê cer­ to". Antes, é um a segurança interior cheia de regozijo e de confiança, ao crerm os nas promessas de D eus e encararm os o futuro com a ajuda do Senhor. Essa esperança é a dádiva de Deus a seus filhos por intermédio do Espírito Santo, que nos faz lem brar das promessas de D eus contidas em sua Palavra (Rm 15:13). O efa de cevada de Rute constituiu as "prim ícias" de tudo o que Boaz ainda faria no futuro, assim com o o Espírito Santo den­ tro de nós constitui as "prim ícias" de tudo o que D eu s prom eteu (Rm 8 :2 3 ). Enquanto o suprim ento de cevada colhida por Rute acabaria em uma sem ana, o testem unho do RUTE 2 Espírito dentro de nós perm anecerá até que -•: ;sas esperanças sejam realizadas quando • rm o s Jesus Cristo. Essa nova esperança em polgante que to­ n o u conta das duas viúvas girava em torno x uma pessoa, Boaz, assim com o o centro tfe nossa esperança é o Filho de Deus. Mehor dizendo, Jesus Cristo é nossa esperança 1 Tm 1:1; 1 Ts 1:3; Cl 1:2 7). Pela fé em Cristo, •ascem os de novo para uma "viva esperan(1 Pe 1:3), e pelo fato de essa esperança ■er viva, ela se fortalece a cada dia e produz ~_tos. As esperanças às quais o mundo se ío e g a são v azia s, mas nossa esp eran ça é w \a , pois está firm ada no Cristo vivo. Em seguida, Noem i explicou a Rute a lei ic e rc a do "parente resgatador" (Lv 25:4755). A segurança de Noem i não se baseou ip e n as na bondade e no am or que Boaz re^ionstrou por Rute, pois esses sentimentos m aravilhosos podem m udar de um dia para outro. Foi o princípio da redenção que Deus havia escrito em sua Palavra que deu i Noemi a certeza de que Boaz as resgata~.i_ C om o parente próxim o, B o az poderia -e d im ir a p r o p r ie d a d e da fa m ília q u e lírn e le q u e havia hipotecado ao levar Noemi e os filhos para M oabe. Noem i não tinha 'ecursos suficientes para resgatar sua pro; - red ad e, m as B o a z p o d e ria co m p ra r as '^ "as de volta e mantê-las na família. No en■ =-'to, esse p ro ce d im e n to e n v o lv ia outra ruestão: a esposa do falecido era incluída :Dm a propried ade. A ssim , o parente resz=;ador deveria casar-se com ela e criar os « o s com o nom e do falecido. Seriam her;e ;ro s das propriedades e do nom e da fa—lia, bem co m o as posses co n tin u ariam « i d o deles. Essa prática é con h ecida com o :asa m en to de levirato" (ver D t 2 5 :5 -1 0 ). l e v ir é um term o do latim que sig n ifica 185 "irm ão do m arido". O autor do Livro de Rute não explica qual era a relação de M alom , marido de Rute (4 :1 0 ), com a propriedade do pai, de m odo que Rute devesse ser in­ cluída na com pra das terras. Não se sabe ao certo quando e por que os israelitas passa­ ram a associar a lei do parente resgatador com a lei do casam ento de levirato, mas esse era o costum e no tempo de Rute. Noem i advertiu Rute a obedecer às or­ dens de Boaz e a ficar perto dos servos dele ao respigar no cam po. A colheita da cevada o corria durante os meses de m arço e abril, e a do trigo nos m eses de jun h o e julho . Enquanto isso, Rute o cupou-se de ju n tar com ida suficiente para si m esm a e para a sogra. Porém, seu trabalho passou a ser mo­ tiv a d o p o r u m a e s p e ra n ç a m a ra v ilh o s a : aguardava com alegria o dia da redenção! (ver Rm 8 :2 3 e Ef 4 :3 0 ). É anim ador ver as m udanças ocorridas em Noem i por causa daquilo que Rute fez. Deus usou Rute para co nverter a amargura de N oem i em gratidão, sua incredulidade em fé e seu desespero em esperança. Um a pessoa que con fia no Senhor e segue sua vontade pode transform ar uma situação de derrota em vitória. Rute foi conduzid a ao cam po de Boaz por sua fé na Palavra de D eus. O am or de Boaz por Rute o com peliu a derram ar sobre ela sua graça e a suprir todas as suas neces­ sidades (a graça é o am or que paga o preço para ajudar alguém que não m erece). Ao experim entar essa graça, Rute encheu-se de nova esperança, enquanto aguardava as pro­ vidências de seu parente resgatador. "Agora, pois, perm anecem a fé, a espe­ rança e o am or" (1 C o 1 3 :1 3 ), e continuam cono sco ao perm anecerm os e crerm os em Jesus Cristo. 3 E nco ntro à M eia -n o ite R ut e 3 Rute, registrados no capítulo 3, vem os os passos que o povo de Deus deve dar a fim de desenvolver um relacionam ento mais pro­ fundo com o Senhor. Assim com o Rute, não devem os nos contentar em viver apenas de re sto s (2 :2 ) nem d e re c e b e r p re se n te s (2 :1 4 ,1 6 ). D e v e m o s an siar so m e n te p e lo Sen ho r; p o is é assim que nos tornam os parti­ cipantes d e tudo o que ele tem. Não busca­ mos as dádivas, mas sim o Doador. 1. R (Um sim ples ato de fé faz nascer um novo dia.) partir do momento em que Boaz entrou na vida de Rute, Noem i se transformou num a pessoa diferente. Sua p re o cu p ação deixou de ser consigo m esm a e com sua A tristeza, voltando-se para Rute e seu futuro. Q u and o servim os a outros, experim entam os a m aior alergia e satisfação. De acordo com D ietrich Bonhoeffer, teólogo alem ão martirizado, Jesus Cristo foi "um hom em dedi­ cado aos outros", um a d efinição bastante apropriada. "N ad a façais por partidarismo ou vangloria, mas por hum ildade, co nsideran­ do cada um os outros superiores a si mes­ mo. Não tenha cada um em vista o que é propriam ente seu, senão tam bém cada qual o que é dos outros" (Fp 2 :3 , 4). Q u a n d o as d u a s v iú v a s ch e g a ra m a Belém , seu plano era que Rute tom asse co n­ ta de N o em i, e as duas sobrevivessem da melhor m aneira possível. M as agora, o pla­ no de Noem i era outro: Rute se casaria com Boaz e todos eles poderiam viver felizes para sem pre. Pelo relato de Rute, Noem i sabia que Boaz se mostraria favorável a esse pla­ no e, assim, colocou suas idéias em prática. N aquele tempo, os casam entos eram arran­ jados pelos pais, de modo que Noem i esta­ va agindo de acordo com os costum es de sua época. Lembre-se de que o Livro de Rute é mui­ to mais do que o relato do casam ento de um a estrangeira rejeitada com um israelita respeitado. Tam bém é um retrato do relacio­ namento de Cristo com aqueles que crêem nele e que lhe pertencem . Nos passos de co m u t e p r e p a r o u - s e p a r a e n c o n t r a r -se B o az (R t 3:1-5) H avia outros hom ens que não teriam hesita­ do em se casar com Rute (v. 10), mas estes não poderiam tê-la redim ido. Som ente urr parente resgatador poderia fazer isso, e Boaz era esse parente. Um a vez que Noem i sabia que Boaz estaria usando a eira naquela noi­ te e que ficaria lá para guardar os cereais, instruiu Rute a se preparar para encontrar-se com ele. A preparação de Rute antes de apre­ sentar-se a Boaz teve cinco partes. Em primeiro lugar, e/a se lavou (v. 3aj. Todos os dias, os quase dois trilhões casas, nas fábricas o calor e a poeira norte-americanos gastarr de litros de água em suas e no cam po. No Oriente, tornavam necessário que as pessoas se lavassem com freqüência, mas nem sem pre havia água em abundância. Para os israelitas, a lei de M oisés exigia que as pessoas realizassem lavagens cerim o nias, que se banhassem e que trocassem de rou­ pa antes de ocasiões especiais (G n 35:1-3). N a verdade, Noem i estava dizendo a Rute que deveria fazer com o uma noiva se pre­ parando para o casam ento (Ez 16:9-12). Se desejarm os aprofundar nosso relacio­ nam ento com o Senhor, é preciso que nos purifiquem os "de toda im pureza, tanto da ca rn e co m o do espírito , a p erfeiço an d o a nossa santidade no tem or de D eus" (2 Co 7:1). Sem pre que pecarm os, devem os orar pedindo: "Lava-m e" (Sl 5 1 :2 , 7); porém , al­ gum as v e z e s D e u s nos d iz : "La v a i-v o s purificai-vos" (Is 1 :1 6 ). Q u an d o buscam os o perdão , D eus nos pu rifica inteiram ente (1 Jo 1:9). No entanto, Deus não faz aquilo que é de nossa responsabilidade. Somente nós mesm os podem os tirar de nossa vida as RUTE 3 : : sas que nos contam inam , e sabem os quais t i » essas co isa s. Isso pode sig n ificar que ae .e m o s lim par nossa biblioteca (At 19:1820 . nossa co leção de fitas e de C D s, a estonte de revistas ou talvez, ainda, exija uma — -d an ça nos program as a que assistim os ha TV. Devem os nos separar de tudo o que -c> contam ina e que entristece o Pai (2 C o f c T 4 - 7 :1 ; Tg 4 :7 , 8). Se os sacerdotes do Antigo Testamento rissem na presença de Deus contam ina­ d o s. co rreriam o risco de ser m ortos (Êx J ü ;l7 - 2 1 ). O povo israelita sabia que a sanera necessária na adoração a Deus 15: 24:1-6), e, no entanto, os cristãos de iz- se apressam a entrar na presença de -5 sem purificar-se dos pecados que tik n deles as bênçãos do Senhor. É de se ic ^ ir a r que nossos culto s, m uitas v e ze s, am uma rotina vazia e que o poder de Z -rjs não se manifeste em nossas reuniões? Em seguida, Rute se u n giu (v. 3 b ). O s ~s do O riente usavam óleos perfum ados para proteger e curar o corpo e tam bém para :-nar-se ag radáveis a outros. U m a noiva a atenção especial ao uso de perfumes :.i-a ficar aprazível (ver C t 1:3, 12-14; 4:11-16). O óleo da unção refere-se à presença e * :p era ção do Espírito Santo em nossa vida. '• J o s os cristãos receberam a unção do Es| ü t o Santo (1 Jo 2 :2 0 , 27) e, portanto, de■rm ser o "bom perfum e de Cristo" para o B ã celestial (2 C o 2 :1 5 ). Q uanto mais nos -namos sem elhantes a Jesus Cristo em ca■£'rr e em conduta, mais aguardamos nos­ so Pai e mais ele pode nos abençoar e nos -sa ' para sua glória. C erta vez, ouvi o Dr. A . W . Tozer dizer: "5e D eus tirasse o Espírito Santo deste mun§D muito daquilo que a Igreja está fazendo ~ão m udaria e ninguém perceberia a dife■ença". O s recursos hum anos que temos à fc p o s iç ã o na Igreja hoje em dia são tantos 3_e conseguim os "servir ao Senhor" sem a tm :ã o do Espírito Santo operando em nossa pda. M as será que é isso o que Deus quer? Enquanto estava aqui na terra, Jesus vi■~j e trabalhou pela unção do Espírito Sant Lc 4:16-19). Se o Filho perfeito de Deus zr&cisava do poder do Espírito, quanto mais 187 nós! Tem os a ousadia de orar apenas pelo poder da carne quando o Espírito está pre­ sente para nos ajudar (Rm 8 :2 6 ; Ef 2 :18)? Tentam os testem unhar de Cristo sem pedir o auxílio do Espírito (At 1 :8)? Podem os ter co m u n hão com o Senhor em sua Palavra sem o ministério do Espírito de Deus (Ef 1 :1 523 e 3:14-21)? No terceiro passo da preparação de Rute, ela tro c o u d e ro u p a s (v. 3 c ). D everia tirar as vestes de viúva triste e vestir-se para um casam ento (ver Is 61:1-3). E provável que Rute não tivesse muitas roupas, mas prova­ velm ente possuía um traje especial para oca­ siões festivas. Noem i estava crente que, em breve, Rute estaria indo a um casam ento! As roupas têm um significado espiritual nas Escrituras. D ep o is de pecarem contra D eus, Adão e Eva tentaram cobrir-se, mas som ente o Senhor poderia perdoá-los e vestilos de modo aceitável; para isso, foi preciso derram ar o sangue de um animal (G n 3:1-8, 2 1 ). O s sacerdotes de Israel usavam vestes especiais e exclusivas (Êx 28). A salvação é retratada com o trocar de roupas (Lc 1 5 :2 2 ; Is 6 1 :1 0 ), e ter vida cristã significa despir-se das "roupas da m orte" da vida velha e ves­ tir-se de "roupas da graça" da nova vida (Cl 3:1-1 7; ver Jo 1 1 :44). N ão p o d e m o s ch e g ar à p re se n ça de Deus com nossa própria justiça, pois "todas as nossas justiças, [são] com o trapo da imundícia" (Is 6 4 :6 ). Só serem os capazes de nos ap ro xim ar de D eus pela ju stiça de C risto (2 C o 5 :2 1 ), pois a graça nos foi concedida " g ra tu ita m e n te no A m a d o " (E f 1 :6 ). Se obedercem os à vontade de D eus e desejar­ m os agradar-lhe, nossas vestes serão res­ plandecentes (Ap 1 9 :8 ); mas se pecarm os, deverem os confessar nossos pecados e bus­ car a purificação no Senhor (Z c 3). Se vo cê deseja ter um relacionam ento mais profun­ do com o Senhor, então: "Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jam ais falte o óleo sobre a tua cab eça" (Ec 9:8). A fim de se preparar para seu encontro com B o az, Rute a p re n d e u c o m o se a p re ­ se n ta r a e le (vv. 3, 4 ). Não havia nada de inapropriado nesse procedim ento, pois era a ú n ica m a n e ira de R ute o fere ce r-se ao 188 RUTE 3 parente resgatador. D everia colocar-se aos pés de seu senhor, e ele faria o resto. Supo nham o s q ue, a ca m in h o da eira, Rute tivesse decidido usar outra abordagem. Por que se deitar aos pés do hom em com quem desejava se casar? Por que descobrir os pés dele e pedir que co locasse um canto de sua capa sobre ela? Sem dúvida, deveria haver um modo melhor de fazer isso! Se ti­ vesse usado outra abordagem , Boaz teria fi­ cado confuso, e o plano todo não teria dado certo. O s sacerdotes do Antigo Testam ento sa­ biam aproximar-se de Deus, pois ele lhes dera as instruções na lei. O s cristãos do Novo Tes­ tamento sabem aproximar-se de Deus, pois, em sua Palavra, ele nos diz com o proceder. Q u e r seja em nossa co m u n hão particular com o Senhor, quer no culto público, não temos direito algum de alterar os princípios estabelecidos por Deus para nos aproxim ar­ mos dele. Durante a sem ana que passam os minis­ trando em Springfield, Illinois, minha esposa e eu resolvemos visitar a casa de Abraham Lincoln. Para entrar ali, cada pessoa precisa­ va adquirir um ingresso que só poderia ser com prado em determ inado local. Tivem os de seguir um guia e não podíam os nos sepa­ rar do grupo durante o tour. Por fim, porém não menos im portante, tivem os de jogar fora os chicletes que estávam os m ascando antes de entrar na casa! Se queríam os ver a casa de Lincoln, precisávam os o bedecer às regras. Assim com o o filho pródigo (Lc 15:11-24), os pecadores podem chegar-se ao Senhor exatam ente com o estão, e ele os receberá e os transformará. Porém , os filhos de Deus devem "se g u ir as regras", se desejam ter com unhão com seu Pai (H b 10:19-25). Q u an ­ do nós, o povo de Deus, nos reunim os para adorar, devem os ter o cuidado de adorá-lo "em espírito e em verdade" (Jo 4 :2 4 ), seguin­ do os princípios apresentados nas Escrituras. Em se tratando de adorar a D eu s, muitas vezes as pessoas fazem o que lhes parece mais certo e co locam invenções hum anas no lugar de instruções divinas. Por fim, Rute p ro m e te u o b e d e c e r (v. 5). "Tudo quanto me disseres farei." Ela não era apenas um a ouvinte da Palavra, mas tam ­ bém praticante. A disposição de obedecer ao Senhor é o segredo de saber o que ele deseja que façam os e de ser abençoados quando o fazem os. "Se alguém quiser fazer a vo n ta d e dele, co n h e c e rá a respeito da doutrina" (Jo 7:1 7). A vontade de Deus não é um buffet de restaurante em que pode­ mos esco lher aquilo que querem os. Deus espera que aceitem os todos os seus planos para nós e que lhe obedeçam os em tudo. Aproximar-se de Deus com os próprios inte­ resses e reservas no coração só nos levará a entristecer o Espírito e a perder o que Deus tem de melhor para nós. 2. R u t e s u j e i t o u -s e a B o a z (R t 3:6-9) A ép o ca da colheita era um tempo especial­ mente alegre para os israelitas (Is 9 :3 ; 16:10 , com o Deus desejava que fosse. " O S e n h o s J teu D eus, há de abençoar-te em toda a tua colheita e em toda obra das tuas mãos, pelo que de todo te alegrarás" (D t 16 :1 5 ). Hoie em dia, a maioria das pessoas vive separada das fontes de seu pão de cada dia e não se dá conta de todo o processo envolvido na produção dos alim entos. Talvez nossas ora­ ções à m esa fossem mais cheias de alegra e de gratidão se tivéssem os co n sciência de tudo o que um agricultor precisa fazer para oferecer nosso sustento. A ceifa e a debulha dos cereais eram tra­ balhos cooperativos. O s hom ens da vila se revezavam no uso da eira, que normalmen­ te consistia num a plataforma elevada, corr freqüência no alto de um a colina, onde po­ deria pegar a brisa da noite. O s feixes eram colocado s no chão e os grãos eram separa­ dos dos talos ao ser pisados por bois (Dt 2 5 :4 ) ou batidos (ver Rt 2:1 7). Um a vez que os grão s h aviam sido se p a ra d o s, os tra­ balhadores os lançavam para o alto, e a bri­ sa levava em bora o palhiço , enquanto os grãos caíam no ch ã o . Em seguida, esses grãos eram jun tad os em m ontes a fim de ser transportados para o com ércio ou para locais de arm azenagem . Era com um os homens trabalharem à noite, quando a brisa era mais forte, e dorm irem no chão da eira para proteger a colheita. RUTE 3 Este capítulo faz m enção dos pés em quarcasiõ es (3 :4 , 7, 8, 14). Rute havia se o aos pés de B oaz em resposta a suas as bondosas (2 :1 0 ), mas dessa vez se ava aos pés dele para propor que se se com ela. Estava lhe pedindo que obese à lei do parente resgatador e que a se com o esposa. O que nos leva à pergunta: "Por que Rute esperou que Boaz a pedisse em casa­ co?" As palavras dele em 3 :1 0 indicam o eiro motivo: ele estava certo de que ela a s a ria com algum dos homens solteiros jovens de Belém. Boaz era um homem velho, e Rute ainda era m oça (4 :1 2 ). ntemente, ele concluiu que estava fora páreo. Porém, o motivo mais importante -oresentado no versículo 12: havia um pae resgatador mais próxim o que tinha prioJe em relação a Rute e à propriedade, e estava esperando que ele tomasse uma e. Rute havia trazido a questão à tona, m odo que B o az poderia ab ordar esse mte e cobrar dele uma definição. C o m o d izia um ca ch o rro fam oso das 'ria s em quadrinhos: "A vida é cheia de rtares abruptos!", e mais de um persom da Bíblia concordaria com ele. Adão leceu e, quando acordo u, descobriu havia sofrido uma cirurgia e que era um em casado. Jacó despertou e descobriu estava casado com a m ulher errada! acordou à meia-noite e encontrou uma e r deitada a seus pés. Q uand o perguntou quem era ela, Rute respondeu, mas não usou a designação ~ioabita". H avia se tornado "se rva" de Estava recom eçando. Neste pequeno das doze vezes em que o nom e de é m e n cio n ad o esp e cifica m e n te , em ocasiões ela é identificada com o sende M oabe (1 :2 2 ; 2:2 , 2 1 ; 4 :5 , 10). Estender a capa sobre uma pessoa signi. a reivindicar essa pessoa para si (Ez 16:8; R i 1 9 :1 9 ), especialm ente pelo casamen■\ palavra traduzida por "cap a" também ‘fic a "asa". Rute havia se abrigado sob a;as do Deus Jeová (2 :1 2 ) e logo estaria as asas de Boaz, seu esposo am ado. Q ue ;e m mais bonita do casamento! 189 3. R u t e d e u o u v i d o s (Rt 3 :1 0 - 1 4 ) a B oaz Na resposta de Boaz a Rute, vem os com o o S e n h o r nos resp o n d e qu and o b u scam o s uma com unhão mais profunda com ele. As­ sim com o Boaz falou com Rute, D eus tam­ bém nos fala por sua Palavra. E le n o s aceita (vv. 8-10). Boaz poderia ter se recusado a desenvolver uma relação com Rute. No entanto, ele a aceitou, pois a am ava. Chegou a chamá-la de "filha m inha" (ver Rt 2 :8 ) e a proferir uma bênção para ela (ver Ef 1:3). Nosso Pai celestial e Redentor b u s c a um re la c io n a m e n to m ais ín tim o co n o sco e não devem os ter m edo de nos aproxim ar e de com partilhar de seu am or (Jo 14:21-24; Tg 4 :7 , 8). Se ao menos conse­ guíssem os com p reend er um a parte ínfim a do grande am or que nosso Resgatador tem por nós, deixaríam os tudo e nos dedicaría­ mos a ter com unhão com ele. E le n o s dá segurança (vv. 11-13). Na es­ curidão da meia-noite, Rute não conseguia ver o rosto de B oaz, mas podia ouvir sua vo z enquanto ele a tranqüilizava: "N ão te­ nhas receio". Nossa segurança não vem de nossos sentim entos ou circunstâncias, mas da Palavra d e Deus. Que firme alicerce, ó santos do Senhor, Foi lançado para vossa fé na Palavra de amor. Durante a Rebelião Boxer, quando os obrei­ ros da China Inland M ission [M issão para o Interior da China] esperavam que houvesse grande sofrim ento, o fundador da m issão, Jam es Hudson Taylor, na ép o ca com quase 80 anos de idade, disse a alguns de seus colegas: "N ão consigo ler, não consigo pen­ sar, não consigo sequer orar, mas sou capaz de co nfiar". "E, assim, a fé vem pela prega­ ção, e a pregação, pela palavra de Cristo" (Rm 10 :1 7 ). "N ão tem as." Essas são as palavras tranqüilizadoras que o Senhor falou a vários de seus servos: Abraão (G n 15:1), Isaque (G n 2 6 :2 4 ), Jacó (G n 4 6 :3 ), M oisés e a nação de Israel (Êx 14 :1 3 ), Josué (Js 8 :1 ; 10 :8 ), o rei Josafá (2 C r 20:1 7), o rem anescente de Judá 190 RUTE 3 que voltou a sua terra (Is 4 1 :1 0, 1 3 ,1 4 ; 4 3 :1 , que ela seguisse os ceifeiros; eles a haviam 5; 4 4 :2 ), o profeta Ezequiel (Ez 3:9 ), o profe­ ta D aniel (D n 1 0 :1 2 , 19), José (M t 1 :2 0 ), Z acarias (Lc 1:13), M aria (M t 1 :30), os pasto­ protegido de qualquer mal e deixado cair de propósito alguns feixes para que ela os recolhesse. Boaz havia partilhado de seu al­ res (M t 2 :1 0 ), Paulo (At 2 7 :2 4 ) e o apóstolo João (Ap 1:1 7). " O Senhor é o meu auxílio, não tem erei" (H b 13:6). Boaz não apenas acalm ou as apreensões de Rute, com o tam bém lhe fez uma prom es­ sa sobre o futuro: "tudo quanto disseste, eu te farei" (Rt 3 :1 1 ). Tudo o que Deus com e­ ça, ele term ina, e tudo o que ele faz, é com m o ço com Rute, dando-lhe pessoalm ente um a p o rção de grãos tostados (R t 2 :1 4 i. Naquele prim eiro dia de respiga, Rute havia voltado para casa com pouco mais de um efa de cereal, mas, dessa vez, Boaz encheu o manto de Rute com seis medidas de ceva­ da, o que eqüivalia a suprim ento suficiente para mais de duas semanas. e xcelê n cia (Fp 1 :6 ; M c 7 :3 7 ). Rute não ti­ nha a obrigação de fazer por si m esm a aqui­ lo que só Boaz poderia fazer. Aquilo que, para Noem i, pareceu um pro­ cedim ento simples, transformou-se em algo um tanto mais com p licado , pois havia um hom em em Belém que era parente mais pró­ B o az não apenas tranqüilizou Rute de suas apreensões com o tam bém supriu suas n e c e ssid a d e s p re se n te s co m b o n d a d e e generosidade. A pesar de ela não lhe haver pedido coisa alguma, ele lhe deu aquele ce­ real, pois a am ava. Estava prestes a se casar com ela e não queria que sua futura noiva precisasse respigar os cam po s co m o uma xim o. Boaz não escondeu esse problem a de Rute, pois não queria que ela voltasse para casa com o co ração cheio de falsas espe­ ranças. A alegria e a paz que se baseiam na ig norância dos fatos não passam de uma ilusão que só causa d e ce p çõ es. A grande p reo cu p ação de B o az era que Rute fosse redimida, mesm o que outro parente tivesse de fazê-lo. Ao considerar esse relato com o um re­ gistro de nossa redenção em Jesus Cristo, é im pressionante com o, ao efetuar nossa sal­ vação em Cristo, D eu s o b e d e ce u à sua p ró ­ pria lei. A lei de D eus dizia: "A alm a que pecar, essa m orrerá" (Ez 1 8 :4 ), e D eus não procurou algum a form a de contornar esse fato. "A quele que não poupou o seu pró­ prio Filho, antes, por todos nós o entregou" (Rm 8 :3 2 ). É claro que não havia nenhum ou tro "p a re n te " que p u d e sse resg atar o m undo p e rd id o . "E não há sa lv a ç ã o em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nom e, dado entre os homens, pelo qual im porta que sejam os sal­ vos" (At 4 :1 2 ). 4 . R u te r e c e b e u p r e s e n t e s d e B o a z ( R t 3 :1 5 - 1 7 ) Durante o tempo em que Rute havia trabalha­ do respigando, Boaz a havia tratado com ge­ nerosidade. Seus servos haviam perm itido pobre trabalhadora. A pergunta em 3 :1 6 : "C o m o se te passa­ ram as coisas, filha m inha?" é um enigma para tradutores e intérpretes, pois, em algu­ mas versões, o texto é traduzido do hebrai­ co por: "Q u em és tu, minha filha?". Por que a própria sogra perguntaria quem ela era? É possível que, em outras palavras, Noem i es­ tivesse perguntando: "V o cê ainda é Rute, a m oabita, ou é a futura esposa d e Boaz1." Rute lembrou-se das palavras de Boaz, com o havia feito anteriorm ente (Rt 2:19-21). e contou a Noem i tudo o que Boaz havia prom etido. Em seguida, Rute mostrou à so­ gra o presente generoso que Boaz havia lhes dado. Sem dúvida, um hom em que manda algo assim para a futura sogra tem grande potencial de ser um bom marido! Noem i não poderia mais dizer que tinha as mãos vazias (1:21). Agora, estavam cheias por causa da graça do parente resgatador. A fé e a obediência de Rute haviam realiza­ do uma transform ação com pleta na vida das duas; agora, viviam pela graça. 5 . R u te e s p e ro u e n q u a n t o B o a z fa z ia A PARTE DELE ( R t 3 : 1 8 ) É "pela fé e pela longanim idade" que herda­ mos as prom essas (H b 6 :1 2 ; 1 0 :3 6 ). Uma vez que Rute e Noem i acreditavam que Boaz RUTE 3 ó r a o que havia prom etido, esperaram par-f-:em en te até receb er as boas novas de r . e Rute iria se casar. "Entrega o teu cami~r d ao S e n h o r , confia nele, e o mais ele fará" d 3 7 :5 ). Confesso que, para mim, esperar é uma c s s coisas mais difíceis de fazer, seja esperar uma mesa num restaurante, seja espejm vôo atrasado partir. Sou uma pessoa ralmente ativa e gosto de ver tudo aconna hora com binada. Talvez por isso, vezes, o Senhor faz as coisas de tal que eu precise esperar. Nesses moos, há três passagens das Escrituras que _ re me a n im a m : "E sp e ra " (R t 3 :1 8 ), lietai-vos" (Êx 1 4 :1 3 ) e, mais um a v e z: ietai-vos e sabei que eu sou D eus" (Sl 10). " Esperai, m inha filh a " - esse foi o consábio de Noem i para sua nora. Rute teria conseguido coisa alguma se tivesse ;uido Boaz até Belém , tentando ajudá-lo rumprir suas prom essas (Is 3 0 :1 5 ). Nossa reza humana fica agitada e quer ajudar , mas quando tentam os fazer isso, só ■amos as coisas. *Aquietai-vos" - essa foi a ordem de Moipara o povo de Israel quando estavam dc perseguid o s pelo e xé rcito eg ípcio , precisavam entrar em pânico, pois Deus a no co n tro le da situ açã o . Então, o or ordenou ao seu povo: "m arch em " 14:15), e os conduziu em segurança na 191 travessia do mar. H á um tempo para esperar e um tempo para m archar, e devem os estar alertas para aq u ilo que D eu s de se ja que façam os. " A quietai-vos e sa b ei q u e eu so u D e u s " (S l 4 6 :1 0 ) - esse é um antídoto m aravilhoso para o espírito inquieto. A palavra hebraica traduzida por "aquietai-vos" significa, "solte, relaxe". É muito fácil ficarm os im pacientes com o Senhor e com eçarm o s a nos intro­ meter em questões que não são de nossa alçada. Ele é D eus, e suas mãos podem fa­ zer o im possível. Nossas mãos acabam atra­ palhando e piorando as coisas. Boaz estava ocupado, trabalhando para cum p rir o que havia prom etido a Rute, e Noem i estava certa de que ele não descan­ saria até que a questão estivesse resolvida. "Estou plenam ente certo de que aquele que com eçou boa obra em vós há de completála até ao D ia de Cristo Jesus" (Fp 1:6). Para mim, é um grande ânim o saber que Jesus C risto está trab a lh an d o in ce ssa n te m e n te por seu povo enquanto intercede no céu (H b 8 :3 4 ) e que trabalha dentro de nós, pro­ curando nos tornar conform es a sua vonta­ de perfeita (H b 1 3 :2 0 , 2 1 ; Fp 2 :1 2 , 13). Você já se colocou aos pés do Senhor da C eifa e confia que ele cum prirá suas pro­ messas? Um a prova de sua confiança é sua dis­ posição de aquietar-se e de deixar que ele faça com o lhe aprouver. 4 O A m o r Enco ntra U m a S o lu ção R ute 4 (Boaz e Rute se casam. O coração vazio de N oem i se en ch e d e alegria e suas m ãos vazias ocupam -se com um m enino.) O Livro de Rute co m e ça com três fune­ rais, mas term ina com um casam ento. O primeiro capítulo registra um bocado de choro, mas o últim o traz superabundância de alegria na pequena cidade de Belém . "Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30:5). Nem todas as his­ tórias da vida têm esse tipo de final feliz, mas a narrativa de Rute nos lembra que, para os cristãos, ainda é D eu s quem escreve o último capítulo. Não precisam os tem er o futuro. O capítulo 4 concentra-se em três pes­ soas: um noivo, uma noiva e um bebê. 1. O n o iv o (R t 4 :1 -1 0 ) A lei do parente resgatador é apresentada em Levítico 25:23-34, e a lei que governava o ca sa m e n to de levirato enco ntra-se em D euteronôm io 25:5-10. O propósito dessas leis era preservar o nom e e proteger a pro­ priedade das fam ílias em Israel. A terra per­ tencia a Deus, e ele não queria que ela fosse explorada por ricos que se aproveitassem dos pobres e das viúvas. Q uand o seguidas, essas leis garantiam que o nom e da família do falecido não m orreria com ele e que sua propriedade não seria vendida para alguém de fora da tribo ou do clã. Infelizm ente, os governantes israelitas não seguiram sempre essa lei, e os profetas tiveram de repreendê-los por roubar terras dos desam parados (1 Rs 21 ; Is 5:8-10; H c 2:9-12). U m a das cau­ sas do cativeiro foi o abuso da terra pelo povo de Israel (2 C r 3 6 :2 1 ). O sig n ifica d o d o resgate. A palavra res­ gatar significa "libertar pelo pagamento de um preço ". No caso de Rute e de Noem i, a propriedade de Elim eleque havia sido ven­ dida ou estava, de algum m odo, hipoteca­ da, e os direitos sobre essas terras haviam sido transferido s para M alo m , m arido de Rute, quando Elim eleque m orreu. Isso expli­ ca o fato de Rute estar envolvida na transa­ ção. No entanto, ela era pobre dem ais para resgatar a terra. Em se tratando do resgate espiritual, to­ das as pessoas encontram -se sob a escra­ vidão do pecado e de Satanás (Ef 2:1-3; Jo 8 :3 3 , 34) e não são capazes de se libertar. Jesus Cristo deu sua vida com o resgate pe­ los pecadores (M c 1 0 :4 5 ; Ap 5:9, 10), e a fé em Cristo é que liberta o cativo. Cad a vez que entro numa livraria, prccuro observar qual é o assunto de m aior de~taque no m om ento; e, nos últimos anos, é o tem a lib erta çã o . V e jo prateleiras de livros sobre vício s, co-dependência e com o encon­ trar a liberdade disso tudo. Em um m u n e: que desfruta mais liberdade política do q^-e em qualquer outra época da história, milhcte de pessoas estão sob o jugo da com ida, c : sexo, das drogas, do álcool, dos jogos d e azar, do trabalho e de vários outros "senh res". A pesar de serm os gratos a Deus pe-= ajuda de conselheiros e de terapeutas, s> m ente Jesus é capaz de libertar aqueles q^-= se encontram escravizados. "Se, pois, o Filh: vos libertar, verd adeiram ente sereis livr (Jo 8:3 6 ). A s ca ra c te rístic a s d o resgatador. N todos poderiam cum p rir os deveres de parente resgatador. Em prim eiro lugar, cisava ser um p a rente p róxim o (Lv 25:2 Esse era o principal obstáculo que B oaz ria de superar, pois havia outro hom em Belém que era um parente mais próxi de Rute do que ele (Rt 3 :1 2 , 13). Ao nessa imagem um tipo de Jesus Cristo, nos lembra de que ele teve de aproximar de nós antes de poder nos resgatar. Ele \ em carne e osso para que pudesse m por nós na cru z (H b 2 :1 4 ,1 5 ). Q uando ceu neste mundo em form a hum ana, tor se nosso "parente p ró xim o", e continu RUTE 4 iD Tio tal por toda a eternidade. Q u e am or nigualável! A fim de se q u a lific a r co m o parente ■esgatador, tam bém era p reciso ter os recurios para pagar o resgate. Rute e Noem i eram ro b re s dem ais para resgatar a si m esm as, — =5 Boaz possuía os recursos necessários r-va libertá-las. Em se tratando da redenção 4e Decadores, não há outro senão Jesus Crisn rico o suficiente para pagar esse preço. D oagamento em dinheiro não pode jam ais ic-srtar pecadores; o resgate foi feito pelo re^am am ento do sangue precioso de Cristo 3e 1:18, 19; ver Sl 49:5-9). Somos resgata­ r e i pelo sangue de Cristo (Ef 1:7), pois ele a s n e sm o se entregou (Tt 2 :1 4 ) e pagou por ■ós o preço do resgate eterno (H b 9:1 2 ). Havia ainda uma terceira qualificação: o r i'e n te resgatador deveria estar d isp osto a z-igar o resgate. Com o verem os neste capííuto, o parente mais próxim o não se mostrou 193 que Rute fazia parte da transação. D e acor­ do com a explicação dele, ao se casar com Rute co locaria em risco a própria herança. Se tivesse um filho com Rute e esse filho fosse seu único herdeiro vivo , então a pro­ priedade de M alom e parte da prop ried a d e desse parente iriam para a fam ília de Elime­ leq ue. E po ssível que o fato de Rute ser m oabita tam bém fosse pro blem ático para ele. (Tanto M alom com o Q uiliom casaramse com m ulheres moabitas e m orreram !) Sem dúvida, B oaz ficou aliviado quando seu parente retirou-se da transação e abriu cam inho para que Rute se tornasse sua es­ posa. Vale a pena observar que o parente mais próxim o tentou proteger seu nom e e sua herança, mas nem seq u er sabem os seu no m e ou o qu e foi feito d e sua família! Boaz assum iu os riscos d o am or e da ob ediência , e seu nom e encontra-se registrado nas Es­ crituras e é lem brado co m ho nra."A quele, r soosto a resgatar Rute, de m odo que Boaz • u-se livre para com prar a propriedade e, n m i ela, adquirir um a esposa. O parente —ais próxim o tinha o dinheiro, mas não a T o tiva ção : tinha medo de co locar em risco a própria herança da família. O m é to d o d e resgate. Na Antiguidade, i oorta da cidade era o fórum oficial, onde R 'ealizavam transações judiciais na presen­ ça dos anciãos (D t 21:18-21; 2 Sm 15:2; Jó lv :7 s s ). Ao chegar à porta de Belém , Boaz pntou dez hom ens para servirem de teste­ munhas da transação. Foi então que o palente mais próxim o passou por lá - outra r^ova da providência de Deus - e que Boaz I rham ou. Estava tudo pronto para a grande porém , que faz a vontade de Deus perm a­ nece eternam ente" (1 Jo 2:1 7). Isso também explica por que o nome de O rfa não apare­ ~ in sa ção que, no final, im plicaria a vinda r : Filho de Deus ao mundo. O tema-chave deste capítulo é resgate. O s termos "resgatar", "com prar" e "redim ir" |fio usados pelo menos quinze vezes neste raoítulo. N ão p o d e haver resgate sem que - a pago um p re ço . Do nosso ponto de vis•.i a salvação é gratuita a "todo aquele que r^.ocar o nom e do Senhor" (At 2 :2 1 ); mas para Deus, foi preciso pagar um alto preço peto resgate. O outro parente estava disposto a comprar ; :erra, mas desistiu quando ficou sabendo retrato de Jesus Cristo, nosso Parente Res­ gatador. A ssim co m o B o a z, Jesus não se ce em Rute 4:9-10. E provável que o costum e de tirar a san­ dália esteja relacionado à ordem divina de cam inhar sobre a terra e de apropriar-se dela (G n 1 3 :1 7 ; D t 11 :2 4 ; Js 1:3). Em anos vin­ douros, as dez testem unhas poderiam ates­ tar que a transação havia sido com pletada, pois viram o parente entregar sua sandália a Bo az. C o m esse gesto, o parente indicou que estava abrindo mão de seu direito de posse sobre aquelas terras. Boaz havia ad­ quirido as terras... e Rute! M encionei anteriorm ente que Boaz é um preocupou se estava co locando em risco a própria herança; antes, ele nos incluiu nes­ sa herança, a fim de que participássem os dela (Ef 1:1 1,18). C o m o B oaz, Jesus fez seus planos em âmbito particular, mas pagou o preço em público, e, da m esm a form a que Boaz, Jesus fez o que fez por am or a sua noiva. Existem , porém , alguns contrastes entre Bo az e o Senhor Jesus C risto. B o az adqui­ riu Rute ao entregar parte de sua riqueza, 194 RUTE 4 enquanto Jesus com prou sua noiva entre­ gando a si mesm o na cru z. Boaz não teve de sofrer nem de morrer para conseguir sua noiva. Boaz tinha um concorrente - o outro resgatador enquanto, no caso de Jesus C risto , não havia co n co rren te algum para desafiá-lo. Boaz tomou Rute para si a fim de suscitar o nom e do falecido M alom (Rt 4 :1 0 ), mas nós, cristãos, glorificam os o nom e do Cristo vivo. H avia testemunhas na terra para atestar que Rute pertencia a B oaz (vv. 9, 10), mas o povo de Deus tem testem unhas no céu : o Espírito e a Palavra (1 Jo 5:9-13). Em Rute 4 :1 , 2, enco ntram o s, em cin co o casiõ e s, as pessoas assentadas. Q u an d o Jesus Cristo term inou de com p rar sua noi­ va, assentou-se no céu (H b 1:3 ; M c 1 6 :1 9 ), pois a transação havia se com p letad o. "Está co n su m ad o !" 2. A n o iv a (Rr 4:11, 12) É m aravilh o so qu and o a co m u n id a d e da aliança alegra-se sinceram ente com a noiva e o noivo, pois aquilo que estão fazendo é a vontade de D eus. Em meu ministério pas­ toral, participei de alguns casam entos que foram qualquer coisa m enos alegres. Nossa vontade era chorar em vez de com em orar. O conhecido artista G eorge Jessel definiu o casam ento com o "um erro que todo homem deve com eter", mas o último lugar a se co­ meter um erro é no altar do m atrim ônio. Ao contrário do que algumas pessoas pensam , o casam ento não é um "assunto particular". Essa união sagrada inclui Deus e o povo de Deus, e todo noivo e noiva devem desejar vivos. Em outra parte, matamos essas crian­ ças. O que Deus dirá disso tudo? Era im portante que as esposas israelitas tivessem filhos, não apenas para perpetuar a nação, mas tam bém porque seria por in­ term éd io de Israel que D e u s en v ia ria ao mundo o M essias. O s israelitas abom inavam tanto o aborto quanto o abandono de crian­ ças à própria sorte para morrer - práticas com uns em outras nações. Lia e Raquel, as duas esposas de Jacó, deram-lhe oito filhos que "edificaram " a nação ao fundar as prin­ cipais tribos de Israel (G n 29:31 - 3 0 :2 4 ; 3 5 :1 8 ). O uso do nom e Efrata em Rute 4:11 é significativo, pois o termo hebraico quer dizer "fértil". O povo queria que Rute fosse fértil e ilustre e que trouxesse honra à pe­ q u e n a c id a d e . R a q u e l foi se p u lta d a em Belém (G n 3 5 :1 9 ), porém, mais importante ainda, a cidade se tornaria conhecida com o o lugar o n d e Jesus C risto nasceu. O povo da cidade tam bém desejava que a casa de B oaz fosse com o a de Perez (Rt 4 :1 2 ; ver M t 1:3). A família de Perez havia se assentado em Belém (1 C r 2 :5 , 50-54), e Boaz era um descendente dele (vv. 18-20). Tamar, a mãe de Perez, não foi uma mulher p ie d o s a , m as seu n o m e en c o n tra -se na genealogia de Jesus (M t 1:3). Q u e m udanças m aravilhosas ocorreram na vida de Rute pelo fato de ela haver con­ fiado em Boaz e deixado que ele trabalhas­ se por ela! Rute passou da solidão ao am or da labuta ao descanso, da pobreza à rique­ za, da p reocu pação à segurança e do de­ sespero à esperança. Não era mais "Rute, a m oabita", pois seu passado havia ficado para trás, e ela estava recom eçando. A partir de então, passou a ser "Rute, a esposa de Boaz", as bên ção s de D eus e do povo de D eus sobre seu casam ento. O povo orou para que Rute fosse fértil e gerasse filhos, um a vez que, em Israel, os filhos eram considerados nom e que usou com orgulho. um a bênção e não um fardo (Sl 127:3-5). U m a das várias im agens da Igreja na Infelizm ente, essa não é a atitude da socie­ Bíblia é aquela de "noiva de Cristo". Em Efédade nos dias de hoje. Nos Estados Unidos, sios 5:22-33, a ênfase recai sobre o am or de a cada ano, um milhão e meio de bebês são Cristo, conform e este é visto em seus ministé­ legalmente mortos ainda no ventre, e seus rios: ele morreu pela Igreja (passado), purifi­ pedaços são rem ovidos com o se fossem tu­ ca e sustenta a Igreja pela Palavra (presentei m ores ca n cero so s. U m a en ferm eira cristã e um dia apresentará a Igreja em glória (fu­ co m en tou com igo certa v e z : turo). C risto está preparando um lindo lar — Num a parte de nosso hospital trabalha­ para sua noiva e, um dia, celebrará seu ca­ mos dia e noite para m anter os bebezinhos sam ento (Ap 19:1-10; 21, 22). RUTE 4 3. O bebê (R t 4:13-22) l e j s havia sido bondoso para com Rute em M :a b e , dando-lhe fé para crer nele e ser salva. \ graça do Senhor continuou quando ela se ~ -d o u para Belém , pois ele a conduziu para : campo de Boaz, onde este apaixonou-se por ela. Sua graça se manifestou, ainda, na z-r-ta da cidade, onde o parente mais próxi■o rejeitou Rute, e Boaz a adquiriu para si. le o o is do casam ento, Deus derramou sua £Tiça sobre Boaz e Rute ao permitir que ela m c e b e s s e (G n 2 9 :3 1 ; 3 0 :1 , 2; 3 3 :5 ) e que, re modo seguro, desse à luz um m enino, B ie o casal cham ou de O b e d e ("servo"). D eus usaria esse bebê co m o fonte de ré Tçã o s para muitos. O b e d e fo i um a b ê n ç ã o p a ra B o a z e &ute. Aquele não era um bebê qualquer, pois ■çcresentava um a dádiva especial de Deus i 5oaz e Rute. E que bênção O b e d e foi para • ;e u lar! Porém , todo bebê é um presente efcecial de D eus e deve ser tratado dessa •>:"Tia. Todo bebê m erece um lar cheio de or e pais atenciosos que desejam educác 'na disciplina e na adm oestação do Sex o r " (Ef 6 :4 ). Q u e grande privilégio trazer mundo uma nova vida e, depois, condu­ z i' essa vida de modo que am adureça e que se tome tudo o que Deus planejou! O b e d e ta m b ém fo i um a b ê n ç ã o pa ra ~mi. Sua avó o "adotou" inform alm ente o seu filho e tornou-se sua mãe de cria. As m ulheres de Belém com partilharam ilegria de Noem i dizendo: "Seja o S e n h o r ito, que não deixou, hoje, de te dar um que será teu resgatador" (Rt 4 :1 4 ). Trade uma referência a O b e d e e não a Para N oem i, O b e d e foi um "restaurador . ida". Todos os avós podem atestar que netos são m elhores do que a Fonte da cntude, pois "voltam os a ser jovens" quan-ossos netos vêm nos visitar. N ão há memaneira d e recobrar o vigor da vida do co m eça r a dar de si m esm o para a geramais jo v em . Todo bebê nascido neste ~do é um voto em favor do futuro, e os ?■ós devem se concentrar nesse futuro, não passado. Ao segurar um bebê, segura-se ■_'jro nos braços. 195 O b e d e tam bém seria uma bênção para Noem i de outra form a: um dia cuidaria da fam ília que o havia co lo cad o no m undo, inclusive da avó, N oem i. B oaz havia resga­ tado a herança da fam ília, e O b e d e daria continuid ade à linhagem da fam ília, prote­ geria sua herança e a usaria para sustentar Noem i. Faria jus a seu nom e e seria um "ser­ vo" para Noem i, sua "m ã e ’ de criação ". Esse m inistério não seria garantido pela lei da terra, mas pelo am or de Rute por sua sogra. O b e d e aprenderia desde cedo a am ar Noem i com o Rute a am ava. O b e d e era fi­ lho único, mas seu am or pela mãe e pela avó seria igual à afeição de sete filhos. O b e d e traria b ê n çã o s a B elém . Ele traria fam a tanto ao nom e de sua família quanto ao nom e de sua cidade natal. O nom e de Elim eleq u e q u ase d e sa p a re ce u de Israel, mas O b e d e tornaria esse nom e conhecido e traria glória a Belém . E evidente que isso ocorreu pela vida e o ministério do rei Davi (v. 22) e de Jesus Cristo, o Filho m agnífico de D avi. Noem i teria o consolo de saber que o nom e da família não pereceria; antes, se tornaria ainda mais conhecido. O b e d e traria b ê n çã o s a Isra el. O b e d e foi avô do rei Davi, um dos m aiores gover­ nantes de Israel. Q uand o o nom e de Davi é m e n cio n ad o , no rm alm ente pensam os em G o lias ou em Bate-Seba. Sem dúvida Davi com eteu um grande pecado, mas também foi um grande hom em de fé usado por Deus para edificar o reino de Israel. Conduziu o povo em vitória sobre os inimigos, na e x ­ pansão de sua herança e, acim a de tudo, no culto a seu D eus. Escreveu cânticos de adoração para os levitas e criou instrumen­ tos m usicais para eles ministrarem. Passou a vida toda juntando riquezas para a constru­ ção do tem plo, e D eus lhe deu o projeto desse santuário, de m odo que Salom ão pu­ desse executar a obra. Tivesse ele na mão uma funda ou uma espada, uma harpa ou um hinário, Davi foi um grande servo de Deus que trouxe bênçãos incontáveis a Israel. O b e d e traria b ê n çã o s a o m u n d o todo. A m aior coisa que Deus fez por Davi não foi lhe dar v itó ria sobre os inim igos nem riquezas para construir o tem plo. O m aior 196 RUTE 4 privilégio que Deus lhe deu foi ser o ante­ passado do M essias. Davi queria construir um a casa para D eus, mas o Senhor disse que construiria uma casa (família) para Davi (2 Sm 7). Davi sabia que o M essias viria da tribo real de Judá (Gn 49:8-10), mas ninguém sabia qual fam ília em ju d á seria escolhida. Deus escolheu a família de Davi, e o Reden­ tor seria co n h ecid o com o "filho de D avi" (M t 1:1). O s b e le m ita s se q u e r im ag in a vam os grandes planos que D eus havia reservado para aquele m enino! O b e d e teria um filho cham ado Jessé, e este teria oito filhos, sen­ do que o mais novo seria D avi, o rei (1 Sm 1. 1 6 :6 -1 3 ).’ D a próxim a vez que contem plar um bebê ou uma criança, lembre-se de que D eus pode ter um grande futuro planejado para esse pequenino. O professor medieval que sem pre tirava o chapéu para seus alu­ nos estava certo, pois era possível que, no meio deles, houvesse um futuro general ou im perador. O s m oabitas não deveriam entrar para a congregação do Senhor "nem ainda a sua décim a geração" (D t 2 3 :3 ). M as o peque­ no Livro de Rute en cerra com um a genea­ logia de dez gerações, que chega ao ápice co m D avi! Jam ais su b estim e o p o d er da graça de Deus. Em 1 Crônicas 2:13-15, o escritor afirm a que Jessé teve sete filhos, mas não se trata de erro nem de contradição. É possível que o fíího cujo nom e não é citado tivesse morrido antes cie se casar ou não tivesse deixado descendentes, de modo que seu nome foi rem ovido da genealogia oficial. coloca-se aos pés de B o az e crê nas pro­ I n t e r l ú d io R eflexõ es S o b r e R u te O propósito fun dam en tal do Livro de Rute é histórico. Ele explica a linhagem re D avi e constrói uma ponte entre o temdos ju ízes e o período em que Deus deu ■n rei a Israel. No entanto, a Bíblia é mais do que um .-o histórico. H á várias lições práticas a ic e n d e r desses acon tecim ento s, as quais r*;-dem nos dar ânim o em nossa cam inhada ■?i3iritual. O Livro de Rute não é exceção . Sem dúvida, esse livro curto revela a pro• •rência de D eus na m aneira de conduzir » .t e e Noem i. Para mim, é anim ador saber Deus ainda cuida de nós, mesm o quanficam os am argurados contra ele, com o ■ >: o caso de Noem i. Deus dirigiu Rute, uma '■•ecém-convertida", e usou sua fé e oben én cia para transform ar a derrota em vitóDeus se preocupa com os detalhes de -essa vida, e esse fato deve nos dar corae alegria ao procurarm os viver cada dia re modo a lhe agradar. O Livro de Rute é um belo retrato da de salvação de Deus. A história comecom Rute, uma forasteira, uma estrangei•nas term ina com Rute, parte integrante com unidade, pois se casou com Boaz, parente resgatador. Ele pagou o preço que ela fosse resgatada. Porém, o livro também ilustra a relação rep en d ên cia do cristão com o Senhor, capítulo 1, Rute nem sequer sabia da ência de B o az. No capítulo 2, Rute é pobre trabalhadora respigando no camre B oaz e recebendo presentes dele. Para Boaz é apenas um hom em poderoso e que se mostra bondoso para com ela. ro n to crítico é o capítulo 3, em que Rute m essas dele. O resultado é registrado no ca p ítu lo 4 : R u te não é m ais um a po bre respigadora, pois agora tem Boaz e tudo o que ele p o ssu i tam bém pertence a ela. M uitos do povo de D eus contentam -se em viver no capítulo 2, ajuntando os restos e faze n d o o m elh o r que podem em sua situação difícil. Q u erem as d ádivas de D eus, mas não uma com unhão mais profunda com ele. C o m o seria d ifere n te ca so se e n tre ­ gassem ao Senhor e se co ncentrassem no D oador, não nas dádivas! M edite em João 14:21-24. O Livro de Rute nos lembra de que Deus está trabalhando em nosso mundo, buscan­ do um a noiva e ceifand o um a co lheita, e devem os encontrar nosso lugar em seu pla­ no para ganhar os perdidos. O s aco n te ci­ mentos do Livro de Rute ocorreram durante o período dos ju íze s, um tempo não muito diferente de nossos dias. Q u em concentra a atenção apenas nos males destes tempos torna-se cínico e pessimista, mas quem per­ gunta a D eus qual é o cam po no qual ele deseja que trabalhe para lhe servir fielm ente experim entará a graça, o am or e a alegria do Senhor. Juízes é o livro em que "não havia rei" (Jz 1 7 :6 ; 1 8 :1 ; 1 9 :1 ; 2 1 :2 5 ). 1 Samuel é o livro do rei esco lh id o p e lo s hom ens, quando Deus deu Saul a Israel, pois o povo pediu por ele. Um dia, as coisas em nosso mundo ficarão tão críticas que as nações clam arão por um rei para alimentá-las e protegê-las. Esse rei virá, e o cham arem os de Anticristo. Porém , 1 Samuel não é o fim da história, pois 2 Samuel é o livro do rei esco lh id o p o r D eu s! D avi entrou em cena e estabeleceu o reino em nom e do Senhor. Sem elhante­ mente, o Rei de D eus virá, julgará o mundo perverso, dará fim à injustiça e estabelecerá seu reino glorioso. Enquanto isso, apesar de viverm os tem ­ pos de grande perversidade, com o os dias dos ju íze s, quando não havia rei em Israel, ainda assim , podem os buscar em prim eiro lugar o reino de D eus e ser súditos fiéis do Rei dos reis (M t 6 :3 3 ). O nom e Elim eleque significa "m eu D eus é rei", mas Elim eleque 198 RUTE não fez ju s a seu nom e, pois duvidou de D eus e lhe d eso b e d e ceu . A p esar de não haver rei em Israel e de tudo parecer estar se desintegrando a nosso redor, pode ha­ ver um Rei em nossa vid a, reinan d o em nosso co ração . Foi o com p rom isso de Rute que fez a diferença em sua vida e na das pessoas a quem am ava. V o cê já se colocou aos pés do Senhor da ceifa? A té que o faça, é im possível Deus ser, para vo cê, tudo o que deseja ser. 1 Samuel ESBO ÇO 7. ~ema-chave: A instituição de um rei em Israel • ersículo-chave: 1 Samuel 12:22 CONTEÚDO O FRACASSO DO SACERDÓCIO - 1- 7 O 2- O 3 O 4 O 5 O nascim ento de Samuel - 1:1 - 2:11 fracasso de Eli - 2:12-36 cham ado de Samuel - 3 resgate da arca - 4 - 6 recom eço espiritual - 7 II. O FRACASSO DO PRIM EIRO REI - 8 - 15 Israel pede um rei - 8 I' 5 Saul é escolhido rei - 9 - 10 A s prim eiras vitórias de Saul - 11 A nação renova a aliança - 12 Saul perde o trono - 13 - 15 II. O TREINAMENTO DO NOVO REI - 1 6 - 3 1 I . Davi é ungido - 16:1-13 1 D avi serve a Saul - 16:14-23 Davi mata a G olias - 17 - Saul inveja a Davi - 18 - 19 5 O am or de D avi e Jônatas - 20 i Davi é forçado a se exilar - 21 - 27, 29 - 30 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. A derrota e a morte de Saul - 2 8 ; 31 "O S enhor dos Exércitos está co n o sco " (1 Sm 1 - 3 )..................................200 A derrota de Israel - A vitória de Deus (1 Sm 4 - 6 )..............................................211 O povo pede um rei (1 Sm 7 - 11)....................................................... 217 Recapitulação e repreensão (1 Sm 12 - 13).................................................... 227 Um voto insensato e uma desculpa esfarrapada (1 Sm 14 - 1 5 )........................234 Deus escolhe um rei (1 Sm 1 6 - 17).....................................................242 Um rei invejoso (1 Sm 1 8 - 19).................................................... 250 D avi no exílio (1 Sm 2 0 - 2 2 ) .................................................... 256 9. Davi, o libertador (1 Sm 23 - 2 4 ) .....................................................265 10. U m a m ulher sábia e um rei 8. insensato (1 Sm 25 - 2 6 ).........................271 11. M orando com o inimigo (1 Sm 27:1 - 2 8 :2 ; 29 - 3 0 ).................. 278 12. O rei está morto (1 Sm 28:3-25; 31 ; 1 C r 10)....................283 13. Q uatro sucessos e três fracassos (Recapitulação de 1 Sam uel)....................288 1 " O S en h o r dos E x érc it o s E stá C o n o sco " pecados e de fracassos do povo de Deus, mas tam bém lembram que Deus está assen­ tado no trono e, quando não lhe é permiti­ do governar, ele prevalece sobre todas as coisas. Ele é o S e n h o r dos Exércitos, e seus propósitos serão cum pridos. 1. D e u s d ir ig e a h is t ó r ia " Q u e são todas as h istórias, senão Deus 1 S a m u el 1 - 3 m a n ife sta n d o a si m e sm o ? ", perg u nto u O liver C rom w ell mais de três séculos atrás; mas nem todos concordam com ele. O his­ m dos títulos mais tem íveis de nosso grande Deus é " S e n h o r dos Exércitos". Esse título é usado quase trezentas vezes nas Escrituras e é encontrado pela primeira vez em 1 Samuel 1 :3. A designação " S e n h o r dos Exércitos" descreve D eus com o Senhor soberano das hostes de estrelas (Is 4 0 :2 6 ), das hostes angelicais ( S l 10 3 :2 0 , 21) e dos exércitos de Israel (Êx 1 2 :4 1 ; Sl 4 6 :7 , 11). Em seu hino Castelo Forte, M artinho Lutero toriador inglês Edward G ib b o n , que escre­ veu D eclin e and Fali o f the Rom an Empire. cham ou a história de "po uco mais que um registro dos crim es, da insensatez e dos in­ fortúnios da hum anidade", e seu contem po­ râneo, Lord Chersterfield, cham ou a história de "um am ontoado co n fu so d e fatos". Mas o Dr. A . T. P ie rso n , pregador e estadista U refere-se ao Senhor com o o Deus que luta e ven ce a batalha. Nossa força nada faz, estam os, sim, perdidos; mas nosso Deus socorro traz e somos protegidos. Defende-nos Jesus, o que venceu na cruz, Senhor dos altos céus; e, sendo o próprio Deus, triunfa na batalha, A história do povo de Israel, conform e esta se encontra registrada na Bíblia, é uma de­ m onstração viva de que o Senhor, d e fato, triunfa na batalha e de que é soberano so­ bre todas as coisas. As pessoas e os acon­ tecim e nto s registrados nas Escritu ras são parte daquilo que os teólogos cham am de "história da salvação", o plano bondoso de Deus de enviar ao mundo o Salvador para m orrer pelos pecad ores. O Livro de Rute term in a com o nom e de D avi (R t 4 :2 2 ), e 1 Sam uel co n ta a h istória da preparação bem -su ced id a de D avi para re in ar so bre Israel. Jesus Cristo, o "Filho de D avi", nas­ ceu na fam ília de Davi. O s livros de Samuel, Reis e C rô n ica s registram um a po rção de m issionário do século passado, expressou muito bem a realidade ao dizer que "n o ssi história é a história de D eu s". Trata-se de algo particularm ente verdadeiro no que se refere à história registrada na Bíblia, pois nela Te­ mos um relato inspirado da mão de D e .f operando nos assuntos da hum anidade, òe modo a trazer ao mundo o Salvador. No Livro de Juízes, "não havia rei era Israel", e o texto descreve uma nação domi­ nada pela an a rq u ia . "N a q u e le s dias, n â : havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto" (Jz 1 7 :6 ; ver também ; 1 8 :1 ; 1 9 :1 ; 2 1 :2 5 ). Israel não era mais u t povo unido, com o no tem po de Josué, sim uma co n fed era ção inform al de tri com ju ízes designados por D eus governan­ do sobre áreas distantes umas das outr Não havia um exército perm anente nem deres militares fixos. Hom ens de diferen tribos se voluntariavam para defender a ra quando eram cham ados para a batalha No entanto, é durante esses dias si brios dos ju ízes que se desenrola a hist registrada no Livro de Rute. Boaz caso com Rute, a m oabita, e de sua união n ceu O b e d e, o pai de Jessé, que se tom pai do rei Davi. N ão havia rei em Israel, ni D eu s estava trabalhan do d e m o d o a pr parar o cam inho para o seu servo escolhi 1 SAMUEL 1 - 3 5) 78:56-72). Se Juízes é o livro no qual "não bá rei", então 1 Samuel é o livro do "rei escolhido pelos ho m en s". O povo de Israel :-ediu um rei, e Deus lhes deu Saul, da tribo re Benjam im , e o reinado de Saul terminou em trem en do fra c a sso . Po rém , o S enh o r ■ i.ia preparado D avi para o trono, e 2 Samuel é o livro do "rei escolhido por D eus". É im possível ler os registros do passado sem ver a mão do " S e n h o r dos Exércitos" ::e r a n d o nos acontecim entos que chama—os de história. O Senhor é m encionado —ais de sessenta vezes em 1 Samuel 1 - 3, s ele é o ator principal desse drama. O s ir'9 S hum anos têm liberdade de tom ar as próprias decisões, sejam elas acertadas ou erradas, mas é Jeová, o Senhor da história, Que, em última análise, cum pre seus propo­ s to s nas nações e por m eio delas (At 14:1517; 17:24-26; Dn 4 :2 5 , 32). D e fato, "nossa ~'í:ória é a história de D eus", verdade que » v e de grande encorajam ento para o povo Ée D eus que sofre por sua fé. Porém , ao ~iesmo tem po, é um a ad vertência aos inré d u lo s que ignoram ou que se opõem à • :- ta d e de D eus, pois, no final, o S e n h o r d s Exércitos triunfará. Samuel foi usado por D eus para trazer I num m omento crítico da história de quando a frágil confederação de tribos isava desesperadam ente de orientação, fio o últim o dos ju íze s (1 Sm 7:15-17; At "5 :2 0 ) e o prim eiro de uma nova linha de tas depois de M oisés (3 :2 4 ). Fundou escola de profetas e ungiu dois reis que fracasso u, e D avi, que foi bemido. N um a época em que as eras se ontavam e em que nada parecia firm e, el foi o líder espiritual da nação de Ise ajudou a conduzi-la à unificação nacioe à reconsagração espiritual. Aparentem ente, na história hum ana, a 'd e está "sem pre no cadafalso", enquana injustiça está "sem pre no trono", mas : não é o ponto de vista do céu. Ao estuSamuel, verem os claram ente que Deus sem pre no controle. Ao mesm o tempo ele é longânim o, m isericordioso e res‘z às orações de seu povo, tam bém é d . justo e castiga o pecad o. H o je em 201 dia, vivem os um tempo de m udanças radi­ cais em âm bito mundial, e a igreja precisa de líderes com o Sam uel, que ajudem o povo de Deus a entender onde estão, quem são e o que são cham ados a fazer. 2 . D e u s re sp o n d e a o r a ç õ e s Sm 1 :1 - 2 8 ) No tempo dos juízes, os israelitas viram-se num a situação crítica, pois lhes faltava uma lid eran ça tem ente a D e u s. O sace rd ó cio estava corrom pido, o Senhor não se com u­ nicava constantem ente com seu povo (3:1) e a lei de M oisés era ignorada por toda a terra. Com o fez em várias outras ocasiões, Deus com eçou a resolver essa situação en­ viando um bebê. O s bebês são a form a de D eus anu n ciar que co n h ece as necessida­ des de seu povo, que se preocupa com ele e que está trabalhando para seu bem. A che­ gada de um bebê traz nova vida e novo co­ m eço; os bebês mostram o cam inho para o futuro, e sua con cepção e nascim ento são milagres que só podem ser realizados por Deus (G n 3 0 :1 , 2). Para tornar esse aconte­ (1 cim ento ainda mais extraordinário, D eus por vezes escolhe m ulheres estéreis para serem m ães, com o quando enviou Isaque a Sara, Jacó e Esaú a Rebeca e José a Raquel. U m la r d iv id id o (vv. 1-8). Elcana era um levita, um coatita da fam ília de Z ufe (1 C r 6:22-28, 34, 35). O s levitas encontravam-se espalhados por toda a terra e, sem pre que necessário, iam a Siló ministrar no taberná­ culo. Elcana vivia em Ram á, na fronteira en­ tre as tribos de Efraim e de Benjam im (ver Js 1 8 :2 5 ). Sam uel, o filho tão co n h ecid o de Elcana, nasceu em Ram á (1 Sm 1:1 9 , 20), onde viveu (1 Sm 7:1 7) e foi sepultado quan­ do morreu (1 Sm 2 5 :1 ).’ Em vários sentidos, Elcana dá a im pres­ são de ser um hom em bom e tem ente a D eus, exceto pelo fato de que tinha duas esposas. Ao que parece, A na era sua primeira esposa e, ao ver que era estéril, Elcana casou-se com Penina para que pudesse ter uma fam ília. Não sabem os o m otivo de Elcana não ter esperado no Senhor e confiado que realizaria seu plano, mas até m esm o Abraão casou-se com Hagar (G n 16) e Jacó acabou 202 1 SAMUEL 1 - 3 tendo quatro esposas! A pesar de a bigamia e o divórcio não serem proibidos pela lei m osaica (D t 21:15-17; 24:1-4), o plano ori­ ginal de Deus era que cada homem se ca­ sasse com um a só m ulher para a vida toda (M c 10:1-9). Todos os anos, Elcana levava a fam ília a Siló para ad o rar (Êx 2 3 :1 4 -1 9 ) e, ju n to s, co m iam um a refeição que fa zia parte da ad oração (D t 12:1-7). Essa visita anual ao tabernáculo deveria ser um acontecim ento alegre para A na, mas a cada ano Penina usa­ va a viagem com o uma oportunidade para irritar a rival e zo m bar de sua esterilidade. A o distribuir a carn e do sacrifício , Elcana precisava dar várias po rções a Penina e a seus filhos, enquanto A na receb ia apenas uma porção. Elcana dava-lhe uma quantidade generosa, mas sem dúvida sua generosidade não com pensava a infertilidade da esposa.2 O nom e "Ana" significa "m ulher cheia de graça" e, sem dúvida, A na demonstrava graça na maneira de lidar com sua esterili­ dade e com as atitudes e palavras cruéis de Pen in a. E lca n a co n se g u iu ter filh o s com Penina, de modo que A na sabia que ela era o problem a e não o m arido. Parecia injusto um a m ulher de índole tão má quanto Penina ter uma porção de filhos, enquanto A na, com toda sua graça, não ter filho algum. A na tam­ bém sabia que som ente o Senhor poderia fazer por ela o que havia feito por Sara e Raquel, mas por que Deus havia lhe cerra­ do a madre? Sem dúvida, essa experiência ajudou a transformá-la numa m ulher de ca­ ráter e de fé e a motivou a dar o melhor de si ao Senhor. Ela expressou sua angústia so­ mente a Deus e não criou problem as na fa­ mília discutindo com Penina. Em tudo o que disse e fez, A na procurou glorificar ao Se­ nhor. Sem dúvida, foi um a m ulher notável que deu à luz um filho extraordinário. Um a ora çã o devota (vv. 9-18). Durante um a das refeições festivas em Siló, A na dei­ xou a família e foi ao tabernáculo orar. H a­ via sentido no coração que D eus desejava que orasse por um filho, uma criança que devolveria ao Senhor para servi-lo por toda a vida. É im pressionante com o, em termos hum anos, o futuro de Israel dependia das orações dessa m ulher piedosa. Na verdade, quanta coisa da história não dependeu das orações de pessoas que sofreram e que se sacrificaram , especialm ente das orações de mães? O primeiro tabernáculo era uma tenda cercad a por divisórias de linho, mas, pela descrição do texto, vem os que, a essa altu­ ra, o santuário de Deus incluía algum tipo de estrutura de madeira com colunas (1:9) e portas (3 :2 ,1 5 ), na qual havia lugar para dorm ir (3:1-3). O conjunto dessa estrutura com o tabernáculo era cham ado de "Casa do S e n h o r " (1 :7 ), "tem plo", "tabernáculo ca C ongregação" e a "m orada" de Deus (2 :3 2 | l Era nesse lugar que o idoso sumo sacerdote Eli assentava-se no trono sacerdotal e supe'visionava o ministério dos sacerdotes, e foi ! a esse local que A na se dirigiu para orar. Seu desejo era pedir ao Senhor um filho e prometer-lhe que esse filho iria servi-lo to­ dos os dias de sua vida. Q u e exem plo de oração temos em Ana! Sua o ração n asceu da tristeza e do sofri­ mento, mas apesar de seus sentim entos, der­ ram ou a alm a perante o Senhor. Foi uma o ração que envo lveu su b m issão , pois se apresentou ao Senhor com o uma serva dis­ posta a fazer aquilo que ele desejasse (ver Lc 1:48). Sua oração tam bém inclui sacrifí­ cio, pois fez um voto de devolver o filho ac Senhor para ser nazireu (Nm 6) e servir a Deus por toda a vida. É possível que, co rr | essa o ração , A n a estivesse fa ze n d o uma "barg anha" com Deus? A credito que não. Ter um filho rem overia sua desgraça e poderia dar fim à perseguição de sua rival, mas ab rir mão desse filho seria outra história. Talvez tivesse sido mais fácil para ela con:nuar vivendo com sua esterilidade do que ter um filho por três anos e, depois, precisa' renunciá-lo para sem pre. Fico im aginando se D eus deu a A na a co n vicção interior de que o filho exerceria papel m arcante no fu­ turo de Israel. A fé e a devoção de A na foram tão fortes que se elevaram acim a da interpretação incorreta e da crítica do mais alto líder escritual de sua nação. Ao entregar ao Senhad o que se tem de m elhor, não é incom u~i 1 SAMUEL 1 - 3 'eceber críticas de quem deveria encorajá3. M oisés foi criticad o pelo irm ão e pela Tnã (Nm 12), D avi pela esposa (2 Sm 6:1223) e M aria de Betânia por um apóstolo (Jo '2 :1 -8 ) e, no entanto, essas três pessoas rereberam a aprovação do Senhor. Nos qua:*o prim eiros capítulo s de 1 Sam uel, Eli é -o rese n ta d o co m o pé ssim o e xe m p lo de seguidor de Jeová e de sumo sacerdote. E rrovável que fosse um hom em voltado aos rróprios prazeres (4 :1 8 ) e, sem dúvida, mos” 0u-se tolerante com relação aos pecados zos filhos (2:22-36). No entanto, tam bém se soressou em julgar e em condenar a devo:ão de uma m ulher tem ente a D eus. Nas r ia v r a s de John Bunyan: "E melhor orar de :x a ç ã o , mas sem palavras, do que orar com ^a.avras, mas sem co ra ção ". A n a orou de : : 'ação . O s líderes do povo de D eus precisam ne sensibilidade espiritual a fim de alegrarse 'com os que se alegram e [chorar] com ■s que choram " (Rm 12 :1 5 ). Eli acusou A na :e haver bebido vinho dem ais quando, na •eídade, o que ela estava fazendo era derra­ mando a alma perante o Senhor em oração 1 Sm 1:15). Em cinco ocasiões, A na referiu-r a si m esm a com o "serva", indicando sua sv-cmissão ao Senhor e a seus servos. O tex'□ não diz que Eli pediu perdão por julgá-la : Dm tanta severidade, mas, pelo menos, deube sua bênção, e ela voltou para a festa com z í z no coração e alegria no rosto. O fardo r u e pesava em seu coração havia sido reti"sdo, e ela sabia que Deus havia respondi­ do à sua oração. Um filh o ilu stre (vv. 19-28). Q uand o os sacerdotes o fereceram o h olocausto logo :edo na m anhã seguinte, Elcana e a família estavam presentes para adorar a D eus, e é rem provável que a alma de A na estivesse ransbord ando de alegria, pois ela havia ofe­ recido um sacrifício vivo ao Senhor (Rm 12:1, I . Ao voltar para casa, Deus respondeu à ila ç ã o de A na e permitiu que ela co nceb es­ se- e, quando a crian ça nasceu, A n a cha"tou o m enino de Sam uel. O termo hebraico ü-a/ quer dizer "pedido" e sama significa "ou. c o " , enquanto e l é um dos nomes de Deus, :e modo que Samuel significa "ouvido por 203 D e u s" ou "p ed id o a D e u s". A o longo de toda a sua vida, Sam uel foi tanto um a res­ posta de o ração co m o um grande hom em de o ração .3 Sem dúvida, A na contou a Elcana sobre seu voto, pois sabia que, de acordo com a lei m osaica, o marido poderia anular o voto da esposa caso não co nco rd asse com ele (Nm 30). Elcana concordou com sua deci­ são e permitiu que ela ficasse em casa com o filho, enquanto o resto da família fazia a viagem anual a Siló. É im possível não adm i­ rar Elcana por aquilo que disse e fez, pois esse era seu filh o p rim o g ê n ito com sua esposa am ada, A na, e pai e filho ficariam se p a ra d o s p e lo resto da v id a . U m filh o primogênito era redimido por sacrifício (Êx 13:11-13), mas Elcana estava entregando seu filho co m o um sa crifício vivo ao Senhor. Com o levita, nazireu, profeta e ju iz, Samuel serviria fielm ente ao Senhor e a Israel e aju­ daria a dar início a uma nova era na história de seu povo. As mães israelitas costum avam desm a­ mar os filhos aos 3 anos de idade e, sem dúvida, durante esses anos preciosos, Ana ensinou o filho e o preparou para servir ao Senhor. Foi só mais tarde, quando Deus lhe falou, que Samuel co nheceu o Senhor pes­ soalm ente (1 Sm 3:7-10). A na era um a mu­ lher de oração (1 :2 7) e ensinou seu filho a orar. Q uand o A na e Elcana levaram Samuel a Siló para entregá-lo ao Senhor, tam bém levaram consigo os sacrifício s necessários para a ad o ração . A lgum as versõ es dizem "três n ovilh os", enquanto outras falam de "um novilho de três anos". Porém , o fato de os pais terem levado um odre de vinho e um efa de farinha, o suficiente para acom ­ panhar três sacrifícios, indica que o correto é m esm o "três no vilh o s", pois para cad a no vilho sacrifica d o eram n ecessá rio s três décim os de um efa de cereal (Nm 2 8 :1 2 ). Q u and o Elcana e A na apresentaram o filho ao Senhor, A na lem brou a Eli que ela era a m ulher que havia orado pedindo um filho três anos antes.4 Será que o homem idoso se lem brava daquela ocasião e, se foi o caso, será que se recordava de com o ha­ via tratado aquela m ulher aflita? O texto não 204 1 SAMUEL 1 - 3 registra se Eli se lembrou do ocorrido, mas ele recebeu o m enino para que se tornasse servo de Deus no tabernáculo e fosse edu­ cado segundo as leis do Senhor. Tendo em vista o estado precário da vida espiritual de Eli e os cam inhos perversos de seus filhos, foi preciso que Elcana e A na ti­ vessem um bocado de fé para deixar o filho inocente sob os cuidados deles. M as o Se­ nhor estava com Sam uel, tom ando co n ta dele e preservando-o da co rru p ção a seu redor. Assim com o Deus protegeu José no Egito, tam bém protegeria Samuel em Siló, e é cap az de proteger nossos filhos e netos neste mundo perverso em que vivem os. O julgam ento sobre Eli e sua fam ília estava a cam inho, mas Deus providenciaria para que Sam uel guiasse a nação e co n d u zisse os israelitas a um novo estágio de seu desen­ volvim ento. Até aqui, a história deixa claro que a vida e o futuro de um a n açã o d ep en d em do caráter da fam ília, e o caráter da fam ília de­ pende da vida espiritual dos pais. D e acor­ do com um provérbio africano: "A ruína de uma nação co m eça nos lares de seu povo"; até mesmo C o nfúcio ensinou que "a força de uma nação nasce da integridade de suas fam ílias". Eli e seus filhos tinham lares "reli­ giosos" que, na verdade, eram ím pios, mas Elcana e A na tinham um lar piedoso, que honrava ao Senhor, e lhe entregaram o que tinham de melhor. A esperança do povo de Israel encontrava-se sobre aquele m enino, ainda tão pequeno, que v ivia no tabernáculo e que ali aprenderia a servir ao Senhor. Nun­ ca subestim e o poder de um lar consagrado a Deus ou o poder de uma criança peque­ na dedicada ao Senhor. 3 . D e u s re c e b e l o u v o r e a d o r a ç ã o Sm 2 :1 - 1 1 ) Depois que A na deixou o filho com Eli, po­ deria ter se retirado sozinha para algum lu­ gar a fim de chorar desconsolada, mas, em vez disso, irrompeu num cântico de louvor ao Senhor. O mundo não entende a relação entre sacrifício e cântico; não com preende com o o povo de Deus consegue cantar en­ quanto se dirige para o sacrifício e sacrificar (1 com cânticos. "Em com eçando o holocaus­ to, com eçou tam bém o cântico ao S e n h o r " (2 C r 2 9 :2 7 ). Antes de ir para o jardim onde seria preso, Jesus cantou um hino com seus discípulos (M t 2 6 :3 0 ); Paulo e Silas canta­ ram hinos ao Senhor depois de terem sido humilhados e açoitados (At 16:20-26). Nos Salm os, enco ntram o s, em várias ocasiões, Davi louvando a Deus em meio a circuns­ tâncias difíceis. D epois de açoitados pelos líderes religiosos em Jerusalém , os apósto­ los "se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de so­ frer afrontas por esse N om e" (At 5 :4 1 ). O cântico de A na, quase no início do Livro de 1 Sam uel, deve ser co m parado ao cântico de D avi, quase no final de 2 Samuel (2 2 ) e tam bém com o cântico de M aria em Lucas 1 :46-55. Esses três cânticos falam da graça im erecid a do Senhor com seu povo, da v itó ria de D eu s sobre o inim igo e da m aneira m aravilh o sa de D e u s fa z e r um a reviravolta nas co isas a fim de re aliza r seus p ro p ó sito s. A q u ilo que M a ria exp resso u em seu câ n tico é e sp e cia lm e n te parecido co m o que A n a can to u em seu hino de louvor. A alegria d o S e n h o r (v. 1). A na orava e se regozijava ao mesmo tempo! Pensava nas bênçãos de D eus sobre a nação bem como sobre si m esma e seu lar. A oração egoísta não é espiritual e não honra ao Senhor. Ana sabia, em seu co ração , que Deus faria gran­ des coisas por seu povo e que seu filho teria im portante papel no cum prim ento da von­ tade de D e u s. Sua ad o ração veio de um coração repleto da alegria do Senhor. No original, o term o "fo rça", nos versí­ culos 1 e 10, ap arece co m o "ch ifre ", uma representação de fo rça ou de pessoa forte (v e r Sl 7 5 :4 , 5, 1 0 ; 8 9 :1 7, 2 4 ; 9 2 :1 0 ; 1 3 2 :1 7 ). Ter sua "fo rça exaltada" significa receb er forças de D eus e ser ajudado por ele de m aneira especial durante um tempc de crise. Ter um a "b o ca que se ri" é umreferência a gloriar-se com a vitória de D euí sobre os inim igos. Um povo derrotado de\e calar-se, mas aqueles que participam da v i­ tória de D eus têm o que dizer para a glória do Senhor. 1 SAMUEL 1 - 3 A expressão "Alegro-me na tua salvação" ~ão indica apenas que A na foi liberta de sua 'fertilid ad e. A na considera esse milagre o :3 m e ço de novas vitórias para Israel, que havia sido repetidam ente invadido, derrota­ do e abusado por seus inimigos (Jz 2:10-23). Mas a p a la v ra h e b ra ic a para sa lv a ç ã o é ■•eshua - Josué - , um dos nom es do Mes5 as prom etido. O rei Davi seria o yeshua de Deus para livrar Israel de seus inimigos, e esus, o Filho de D avi, seria o yeshua de Deus ra ra livrar todos da escravidão do pecado e da morte. A m ajestade d o S e n h o r (vv. 2 , 3 ). É bom ::m e ç a r as orações com louvores, pois o k x j vor ajuda a concentrar-se na glória do í-enhor e não no tam anho das necessidares. Q uando contem plam os a grandeza de Zfeus, com eçam os a ver a vida de outra persr activa. A na co nh ecia o caráter de D eus e exaltou seus atributos gloriosos. C o m eçou reclarando a santidade e a singularidade do Senhor. Esses dois atributos andam juntos, r-ois tanto no hebraico quanto no grego, o :erm o "santo" significa "inteiram ente outro, -eservado, separado". O s judeus ortodoxos confessam diariam ente: "O u ve , Israel, o S e x - í o r , nosso D eus, é o único S e n h o r " (D t - :4 ) . Não há outro D eus, e sem pre que Is-ael se voltava para os ídolos em busca de üuda, perdia as bênçãos do Senhor. A "R och a" é uma imagem do Senhor que repete nas Escrituras. Pode ser encontra­ ra no "C ân tico de M oisés" (D t 3 2 :4 , 15, 18, 30, 3 1 , 3 7) e no câ n tico de D avi (2 Sm 22:32). É uma referência à força, à estabilirad e e à constância e engrandece o fato de ru e Deus não muda, Podemos depender do i-enhor, pois seu caráter é im utável e suas rrom essas nunca falham . "Porque eu, o S e v h o r , não m udo" (M l 3:6 ). O Senhor também é "D eu s da sabedo-a " (1 Sm 2 :3 ), de m odo que as pessoas revem ter cuidado do que falam e de com o 3 la m . Q uand o estamos diante de D eus, que ronhece todas as coisas, tudo o que pen­ samos, dizem os e falam os, não há lugar para rrgulho e arrogância. D eus ouviu todas as ra la v ra s d e sd e n h o sa s de P e n in a co n tra -\na e tam b ém o uviu a o ração v in d a do 205 mais profundo do coração de A na. D eus é onisciente: co n hece todas as coisas; é tam­ bém onipresente e vê todas as coisas. A na se regozijou, pois esse Deus santo é um ju sto ju iz daquilo que seu povo faz. Ao co n trário das pesso as que p articip am de processos judiciais, o Senhor sabe tudo e é c a p a z de nos avaliar, bem co m o nossas ações, com precisão. Pesou Belsazar e des­ cobriu que estava "em falta" (Dn 5 :2 7 ). O Senhor pesa nossas m otivações (Pv 16:2) e nosso coração (Pv 2 4 :1 1 , 12), e suas balan­ ças são p re cisas. A ssim co m o a co n te ceu com A na, pode ser que outros nos enten­ dam mal ou tenham pensam entos malignos sobre nós, mas o Senhor sem pre agirá com ju stiça. A gra ça d o S e n h o r (vv. 4-8a). D eus é santo, justo e sem pre fiel a sua Palavra e a seu caráter. M as tam bém é cheio de m ise­ ricó rd ia e de graça, e com freq ü ên cia faz coisas que nos su rpreendem . A na d escre­ veu alguns atos do Senhor e afirm ou que ele virava tudo de ca b e ç a para b aixo! O "C â n tico de M aria" (M ag nificat), em Lucas 1:46-55, expressa algum as dessas m esm as verd ades. G u erreiro s poderosos caem , enquanto fra c o s e ca m b ale an te s ve n ce m a batalha (1 Sm 2 :4 ; ver Ec 9 :1 1 ). O s ricos, antes far­ tos, buscam algo para co m er e estão dispos­ tos a trabalhar por sua com ida, enquanto os pobres e fam intos têm alim ento em abun­ dância (1 Sm 2 :5 a). A mulher estéril dá à luz sete filhos, enquanto a m ulher com muitos filhos se vê exausta e enfraquecida e sequer consegue desfrutar sua fam ília (v. 5b). A ver­ dade dessa declaração reflete-se no fato de Ana ter dado à luz mais cinco filhos (v. 21). Por ser soberano, o Senhor controla a vida e a morte e tudo o que acontece entre o co m eço e o fim (v. 6). E cap az tanto de nos resgatar da cova com o de permitir que m orram os. Se perm itir que vivam os, pode nos torn ar rico s ou po bres, exaltado s ou hum ilhados, pois ele sabe o que é melhor. Isso não sig n ifica que as pesso as devam conform ar-se m ansam ente com as circuns­ tâncias difíceis da vida sem tomar qualquer atitude, mas sim que não podem os mudar 206 1 SAMUEL 1 - 3 essas circunstâncias sem a ajuda do Senhor (D t 8 :1 8 ). Em sua graça, D eus pode esco ­ lher os pobres e exaltá-los, de modo que se assentem entre os príncipes (ver Sl 113:7, 8 e Lc 1 :52). Ele os tira do pó e do monturo e os co loca em tronos gloriosos! Não foi isso o que D eus fez por Jesus (Fp 2:1-10) e que Jesus fez por nós quando nos salvou (Ef 2:110)? D e fato, por causa da cru z, o Senhor "tem transtornado o m undo" (At 1 7:6), e só possuem visão clara e valores verdadeiros os que crêem em Jesus. A p ro te ç ã o d o S e n h o r ( w . 8b-10a). Deus estabeleceu o mundo de modo que não se movesse do lugar, e aquilo que acontece em nosso planeta está sob os cuidados atencio­ sos do C riador.5 Podemos pensar que Deus abandonou a Terra nas mãos de Satanás e de seus poderes dem oníacos, mas este mun­ do ainda pertence a nosso Pai (Sl 2 4 :1 , 2), e ele colocou seu Rei no trono celestial (Sl 2:79). Enquanto o povo de Deus cam inhar sobre a Terra e andar na luz, o Senhor os guardará e conduzirá seus passos, mas os perversos cam inham na escuridão espiritual, pois de­ pendem da própria sabedoria e força. Pode parecer que os perversos são bem -sucedi­ dos, mas um dia a tem pestade da ira de Deus irrom perá contra eles em julgam ento seve­ ro. D eus é longânim o para com os que o rejeitam, mas seu dia está chegando. O re in o d o S e n h o r (v. 10b). Trata-se de uma declaração extraordinária de que o Se­ nhor dará um rei ungido a Israel e de que o fortalecerá para que sirva a Deus e à nação. Sem dúvida, A na co nh ecia a lei de M oisés, pois nela encontrou as prom essas de um futuro rei. Deus disse a Abraão e a Sara que haveria reis entre seus de scen d e n tes (G n 1 7 :6 ,1 6 ) e repetiu essa p ro m essa a Jacó (3 5 :1 1 ). Nas últim as palavras que proferiu aos filhos, Jacó anunciou que Judá seria a tribo real (4 9 :1 0 ); em D euteronôm io 17:1420, M oisés deu instruções com referência a um futuro rei. Q uand o Israel pediu um rei, Deus estava preparado para conceder-lhes esse pedido. Em vários sentidos, o rei Davi cum priu essa profecia, mas seu cumprimento absoluto encontra-se em Jesus Cristo ("o U n­ gido"), que, um dia, se assentará no trono de Davi e governará sobre seu reino glorioso (Lc 1:32, 33, 69-75). A n a e Elcana deixaram o filho em Siló e voltaram para Ram á com o coração alegre e cheio de expectativa quanto ao que o Se­ nhor faria. Q u e coisa m aravilhosa quando o casal é co nsagrado ao Senhor, adorando juntos e crendo em sua Palavra. A na foi ao lugar de adoração com o coração quebrantado, mas o Senhor lhe deu paz, pois ela orou e se sujeitou a sua vontade. 4. D eu s ju l g a o pec a d o (1 Sm 2:12-36) Até aqui, a narrativa concentrou-se em Elcana e em sua fam ília (1 Sm 1:1 - 2:11), mas a partir desse ponto, muda para Eli e sua famí­ lia (2 :1 2 - 3 :2 1 ). A o longo desta seçã o , ve re m o s um co n tra ste in te n c io n a l en tre Samuel e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias. O s filhos de Eli "desprezavam a oferta do S e n h o r " (2 : 1 7 ) , m as "S a m u e l m inistrava perante o S enhor " (v. 18). O s dois irm ãos co­ m eteram atos de p e rv e rsid a d e no tab e r­ náculo e suscitaram o julgam ento de Deus, mas Sam uel serviu no tabernáculo e cresceu no favor do Senhor (v. 26). A linhagem sacer­ dotal chegaria ao fim na família de Eli, mas Sam uel seria cham ado por D eus para dar continuidade a um sacerdócio santo (1 Sm 2:3 4 - 3:1). Do ponto de vista hum ano, a im pressão era a de que os perversos filhos de Eli escaparam incólum es com sua deso­ bediência, mas D eus estava preparando o julgam ento deles, enquanto capacitava seu servo Samuel para continuar a obra divina. O ju lg a m en to d e D e u s é m e re c id o (vv. 12-21). U m a vez que Eli era um homem ido­ so que não conseguia mais enxergar muito bem (4:15), deixou o trabalho do tabernáculo ao encargo dos dois filhos que, por sua vez se aproveitaram do pai fazendo o que bem entendiam . Hofni e Finéias não conheciam ao Senhor pessoalm ente; antes, eram "filhos de Belial", expressão hebraica para descre­ ver p e sso as d e sp re zív e is que praticavam abertamente o mal (D t 13:13; Jz 19:22; 1 Sm 2 5 :2 5 ; Pv 16:27). Em 2 Coríntios 6:15, Pau­ lo usa Belial com o um sinônim o de Satanás A lei descrevia com precisão as porções dos 1 SAMUEL 1 - 3 sacrifícios que pertenciam aos sacerdo tes Lv 7:28-36; 10:12-15; Dt 18:1-5), mas os dois nnãos tom avam para si toda a carne que rje ria m e, ainda, as partes de gordura que rertenciam ao Senhor. Chegavam até a pe­ gar a carne crua para assá-la e não ter de ;om ê-la co zid a. Eles "desprezavam a oferta ;o S e n h o r " (2 :1 7 ) e pisavam (escarneciam ) -os sacrifícios do Senhor (v. 29). Hofni e Finéias não apenas desrespeita■aTi os sacrifícios no altar, com o tam bém não tinham consideração alguma pelas mu-«res que serviam à porta do tabernáculo 22 ; Êx 3 8 :8 ). Em v e z de prom over o cres:m e n to espiritual dessas m ulheres, os dois "n ã o s as seduziam . N ão eram servas ofi: ais designadas pela lei, mas sim voluntá*as que auxiliavam os sacerdotes e levitas. É rossível que ajudassem a cuidar das crian:as pequenas que vinham com os adultos adorar no templo ou, talvez, que estivessem a sim plesm ente para ficar sença do Senhor. Hoje em de no m inistério ap arece -os noticiários e, apesar de próxim as à pre­ dia, a im oralida­ o casio nalm ente ser algo trágico, -ão é novidade. C o n trastand o com a p erversid ad e dos -lh o s de Eli, vê-se a fid elidad e de Sam uel 1 Sm 2:18-21). Era uma espécie de aprendiz re sacerdote que recebia instruções quanto ao trabalho no santuário e até usava vestes re linho com uma estola, com o faziam os sacerdotes e levitas adultos. A ca d a ano, ruando os pais vinham a Siló, sua mãe trazia .estes novas para o menino em fase de cresrimento. Nas Escrituras, é com um as vestes se referirem à vida espiritual (Is 6 1 :1 0 ; Z c 1:1-5; Ef 4:22-32; Cl 3:8-17; 1 Pe 5:5), e mu­ rar de roupa simboliza um novo com eço (Gn 35:2; 4 1 :1 4 ; 4 5 :2 2 ; Êx 19:10; Ap 3 :1 8 ). As • estes novas de cada ano representavam não aoenas o crescim ento físico de Samuel, mas •ambém seu crescim en to espiritual (1 Sm 2:21), o que nos lembra com o "crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos hom ens" (Lc 2:52). Deus estava prestes a executar seu jul­ gamento sobre a casa de Eli, mas o Senhor abençoou Elcana e A na, bem co m o o lar resse casal, pois lhes deu mais cinco filhos 207 (1 Sm 2 :2 1 ; ver Sl 1 1 3 :9 ). Esse foi o presente de D eus, em sua graça, e tam bém um a res­ posta à oração de Eli (1 Sm 2 :2 0 ), que se ag rad ava de S am u el e era grato por seu m inistério. A n a deu um filho ao Senhor e ele lhe devolveu cinco! O ju lg a m en to de D e u s é d e sp re z a d o (vv. 2 2-26). D e nada adiantou que pessoas te­ mentes a Deus contassem a Eli os pecados que os dois filhos dele estavam praticando. Eli não era um pai muito piedoso nem um grande líder espiritual, e seus filhos despre­ zaram suas adm oestações. É triste quando um pai - especialm ente aquele que também é líder espiritual - perde a influência sobre a própria família, restando-lhe apenas esperar a vinda do julgam ento de D eus. Ló perdeu a influência sobre a família (G n 19:12-14) e, depois que D avi pecou com Bate-Seba, sua influência sobre os filhos enfraqueceu con­ sideravelm ente. Hofni e Finéias não tinham respeito algum pelo Senhor nem pela posi­ ção do pai com o sumo sacerdote, de modo que só restava a Deus julgá-los e co lo car em seu lugar servos que fossem fiéis. O ju lg a m en to d e D e u s é d e cla ra d o (vv. 2 7-36). Um "hom em de D eus", cujo nome não é m encionado, apareceu em Siló para declarar os term os do julgam ento do Senhor sobre Eli e a fam ília. O título "hom em de D eus" é usado cerca de setenta vezes no Antigo Testam ento e costum a referir-se a um profeta enviado pelo Senhor. Em prim eiro lugar, o profeta tratou d o passado (vv. 27, 28) e lem brou a Eli que seu cargo com o sum o sacerdote era um a dádiva recebida pela graça de Deus. O Senhor havia escolhi­ do A rão para ser o prim eiro sumo sacerdote e concedido a ele a prerrogativa de passar essa honra adiante para o filho mais velho (Êx 4:14-16; 28:1-4). Era um privilégio para o sumo sacerdote e seus filhos o ferecer sacri­ fícios no altar de bronze, queim ar incenso no altar de ouro, usar as vestim entas sagra­ das e com er das santas ofertas. Em seguida, o m ensageiro voltou a atenção para o p re ­ sente (1 Sm 2 :2 9 ) e acusou Eli de co locar os filhos à frente do Senhor e de participar de seus pecados. Tolerar o pecado e não tratar dele com severidade é o mesm o que tomar 208 1 SAMUEL 1 - 3 parte dessa transgressão. C o m o sumo sacer­ dote, Eli possuía a autoridade de disciplinar os filh o s, mas se recusou a fazê-lo. "N ão te tornes cúm plice de pecados de outrem " (1 Tm 5 :2 2 ). Se Eli fosse um homem de Deus, preocupado com a glória de Deus, teria cen ­ surado os filhos e os cham ado ao arrependi­ mento, e caso se recusassem a m udar seus cam inhos, teria co locado outros sacerdotes no lugar deles. O tem a principal da mensagem do pro­ feta girava em torno d o futuro (1 Sm 2:3036). Deus havia dado o sacerdócio a A rão e a seus de scen d e n tes para sem pre, e nin­ guém poderia tom ar deles essa honra (Êx 2 9 :9 ; 4 0 :1 5 ; Nm 1 8 :7 ; D t 1 8 :5 ). Porém , os servos de Deus não podem viver com o bem entendem e esperar que o Senhor os honre, "porque aos que me honram , honra­ rei" (1 Sm 2 :3 0 ). O privilégio do sacerdócio continuaria sendo da tribo de Levi e da casa de A rão, mas Deus o tom aria da linhagem de Eli. O s descendentes de Eli se enfraquece­ riam e se extinguiriam e não haveria mais hom ens idosos com o Eli na família. Teriam de m endigar sua com ida e suplicariam uma oportunidade de servir (v. 36). No tem po de D avi, havia pelo menos dois descendentes de Eleazar para cada descendente de Itamar (1 C r 24:1-5), de modo que a fam ília de Eli fo i, aos p o u co s, d e sa p a re ce n d o . O pior, porém , era que, em breve, os dois filhos m im ados de Eli m orreriam no m esm o dia. Até mesm o o tabernáculo ficaria angustia­ do (1 Sm 2 :3 2 ), o que, de fato, aconteceu com a captura da arca e, por fim, a transfe­ rência do tab e rn ácu lo de Siló para N obe (21:1-6; Jr 7:1 4 ). No entanto, grande núm e­ ro de sace rd o tes m o rreu pelas m ãos de Doegue em Nobe, episódio que constituiu o cum prim ento parcial dessa profecia. Eli era descendente de A rão pela linha­ gem de Itamar, o quarto filho de A rão, mas Deus abandonaria essa linhagem e se volta­ ria para os filhos de Eleazar, o terceiro filho de A rão e seu sucessor com o su m o sacer­ d o te .6 D u ra n te o re in ad o de D a v i, tanto Z ado qu e quanto A biatar serviram no ofício de sumo sacerdote (2 Sm 8:1 7), mas quando Salom ão subiu ao trono, rem oveu Abiatar, tataraneto de Eli, de seu sumo sacerdócio, pois havia cooperado com Adonias, filho de D avi, em sua tentativa de tom ar o trono. S alo m ã o n o m eo u Z a d o q u e , da c a sa de Eleazar, sumo sacerdote (ver 1 Rs 2 :2 6 , 27, 35). O s nomes de Eli e de A biatar não apa­ recem na lista de sumos sacerdotes israelitas em 1 C rô n icas 6:3-15. Ao confirm ar Zado ­ que com o sumo sacerdote, Salom ão cum ­ priu a p rofecia proferida pelo hom em de Deus quase um século e meio antes.7 No entanto, o futuro não era de todo sombrio, pois o homem de Deus anunciou que o Senhor levantaria um sacerdote fiel, que agradaria o coração de Deus e faria a vontade dele (1 Sm 2 :3 5 ). A referência imedia­ ta é a Zadoque, mas, em última análise, essas palavras apontam para Jesus Cristo, o único que teria uma "casa estável" e que seria o sacerdote ungido de D eus "para sem pre". Jesus veio da tribo de Judá, de modo que não tinha ligação alguma com a casa de Arão, mas foi instituído sumo sacerdote segundo a ordem de M elquisedeque (H b 7 - 8). 5. D e u s r e c o m p e n s a a f id e l id a d e (1 Sm 3:1-21) M ais um a ve z, vem os o contraste entre a perversidade da família de Eli e a fidelidade do menino Samuel (v. 1). Ele ministrou peran­ te o Senhor sob a orientação de Eli num tem­ po em que Deus não estava falando a seu povo com muita freqüência. O s líderes espi­ rituais eram corruptos e, de qualquer modo, o povo de Deus não obedecia à lei; então, por que Deus deveria revelar-lhes algo novo? Eram tempos de grande tristeza para a nação de Israel, quando o D eus vivo deixava de enviar sinais e mensagens proféticas ao povo (Sl 74:9; Ez 7:26; Am 8 :1 1 , 12; M q 3:6). O silêncio de Deus era o julgamento divino. Porém , D eus estava prestes a mudar a situação e a proferir sua preciosa Palavra a um m enino que ouviria e que obedeceria. U m o u vid o atento (vv. 1-9). E bem pro­ vável que Sam uel tivesse cerca de 12 anos de idade quando D eus lhe falou. A Palavra do Senhor veio a Sam uel enquanto o me­ nino encontrava-se deitado num côm odo contíguo ao tabernáculo, onde Eli também 1 SAMUEL 1 - 3 209 :>:Tnia. A "lâm pada de D eus" era o cande^ rro de ouro com sete hastes, que ficava ■o lugar santo diante do véu, à direita do í' a r de ouro do incenso (Êx 25:31-40; 2 7 :2 0 , É 1 ; 3 7 :1 7 -2 4 ). Era a ú n ica fonte de ilumião no lugar santo, e os sacerdotes de~m mantê-la sempre acesa (Êx 2 7 :2 0 ) e * :a r a r os pavios todas as manhãs e noites, .jn d o oferecessem incenso (Êx 3 0 :7 , 8). candelabro era um sím bolo da luz da ver­ de D eus, concedida ao mundo por seu . Israel. Infelizm ente, naqueles dias, o que não tinha com o saber de quem era a vo z que havia falado com ele. Talvez esti­ vesse usando de cautela ao não aceitar a voz com o sendo de Jeová antes de ter com o se assegurar disso. Por ser obediente a Deus e a Eli, Samuel ouviu a mensagem do Senhor e ficou saben­ do o que Deus planejava fazer. Sem dúvida, era uma mensagem pesada para transmitir a um m enino tão jovem , mas ao fazê-lo, é pos­ sível que Deus estivesse repreendendo a le­ targia espiritual dos adultos, pois a qual deles da luz da Palavra de D eus era muito Deus poderia ter transmitido tal mensagem? , e o sumo sacerdote de D eus mal conQ uando Deus não encontra um adulto obe­ ia enxergar! A arca estava lá, e, dentro diente, por vezes cham a uma criança. "Darencontrava-se a lei de Deus (Êx 25:10Ihes-ei meninos por príncipes" (Is 3:4). 37:1-9; Hb 9:1-5), mas a lei não estava Samuel nada sabia da mensagem que o J c honrada pelo povo de Deus. profeta anônimo havia transmitido a Eli, mas O Senhor falou a Samuel quatro vezes a m ensag em que re ceb eu de D eu s co n ­ Sm 3 :4 , 6, 8, 10), e, nas três prim eiras, firmava as palavras proféticas. O Senhor jul­ í ^ T i u e l pensou que fosse Eli quem o chagaria a casa de Eli, pois seus dois filhos "se ~ =\a. U m a das características de um servo fizeram execráveis" e Eli não tomou atitude é ter ouvidos atentos e resposta im edia­ alguma para refreá-los. Apesar de Eli e seus to Porém, Samuel nunca havia escutado a filhos serem sacerdotes, não havia sacrifício n z de D eus, de modo que não sabia quem algum que pudessem oferecer para expiar seus pecados! Suas transgressões eram deli­ rs :a v a cham an do seu nom e. A ssim com o beradas e provocadoras e, para pecados des­ 5 - íjIo de Tarso, o cham ado e a conversão se tipo, não era possível oferecer sacrifícios ^ Samuel foram sim ultâneos, mas a expe(Nm 15:30). Não apenas haviam profanado 'é n c ia de Samuel ocorreu durante a noite, ■enquanto Saulo viu uma luz resplandecente a si mesmos, mas também ao sacerdócio. O Senhor havia sido longânimo para com a casa quando ouviu a vo z de D eus (At 9:1-9). Eli de Eli, mas seus filhos não haviam se arrepen­ foi perspicaz o suficiente para entender que dido nem deixado seus pecados, e o tempo ira Deus quem estava falando ao m enino, Je modo que instruiu Samuel sobre com o deveria responder. Um a d isp o siçã o o b e d ie n te (vv. 10-14). Samuel obedeceu a Eli, voltou para o lugar :nde dormia e esperou que a voz o cham as­ se novamente. Dessa vez, Deus disse o nome do menino duas vezes, pois o Pastor cham a fvjas ovelhas pelo nome e elas lhe dão ouvibos (Jo 10:3, 14).8 Além disso, o Senhor aproomou-se de Samuel enquanto falava com ele. Essa experiência não foi um sonho ou visão, Tias sim um exem plo de manifestação da pre­ sença do Senhor. A resposta de Samuel foi: Fala, porque o teu servo ouve" (1 Sm 3:10). Mas por que Samuel deixou de fora a palavra " S e n h o r " (ver v. 9)? Porque ainda não conheo Senhor pessoalm ente (v. 7), de modo do arrependimento já havia passado. U m co ra çã o h u m ild e (vv. 15-18). Samuel ouviu a voz de Deus e recebeu a mensagem dele, mas ainda assim se levantou logo cedo e foi cumprir suas tarefas habituais. Abriu as portas do santuário para que o povo pudes­ se entrar e oferecer sacrifícios9 e não com en­ tou com Eli o que Deus havia lhe dito. Essas atitudes mostram um grau extraordinário de m aturidade para um m enino com o ele. A maioria dos jovens teria se orgulhado de sua experiência com o Senhor e corrido de um lado para outro, transm itindo a mensagem sem ao menos parar a fim de abrir as portas. Foi somente quando Eli assim lhe ordenou que Samuel contou a mensagem de julga­ mento que Deus havia lhe revelado. 210 1 SAMUEL 1 - 3 Q u al teria sido a reação de Eli à men­ sagem: subm issão ativa ou resignação passi­ va? M eu voto vai para a resignação, a mesma atitude dem onstrada por Ezequias quando Isaías lhe disse que suas atitudes insensatas um dia causariam a ruína do reino de ]udá (Is 39). Eli era um hom em idoso e não havia sido bom pai nem sace rd o te fie l; já fora advertido de que o julgam ento estava a ca­ minho. Seus dois filhos m orreriam no mes­ mo dia, e sua fam ília perderia o privilégio do sacerdócio; assim, que m otivo havia para viver? Deus havia escolhido Samuel para ser ju iz, sacerdote e profeta, de m odo que a luz da verdade continuasse a brilhar em Israel. Tudo o que restava ao velho era esperar pa­ cientem ente que a espada caísse sobre ele e sua família. C om o todos nós, Eli tinha seus defeitos, mas devem os dar o devido valor a sua atitu­ de positiva em relação ao jovem Sam uel, seu sucessor com o líder espiritual de Israel. Não é todo servo veterano que mostra cortesia na hora de descansar as ferram entas de tra­ balho e deixar que o aprendiz assum a seu lugar. Até o fim da vida, pode-se dizer que 1. Eli pelo menos se preocupou com a arca de Deus e com o futuro de sua nação, e sua m orte foi causad a pela notícia da derrota de Israel e da captura da arca. Se tivesse m o strado um p o u co d essa co n sid e ração quando os filhos ainda eram jovens com o Sam uel, as coisas teriam sido diferentes. U m viver p ie d o s o (vv. 19-21). O texto diz, pela segunda vez, que Sam uel cresceu (2 :2 1 ; 3 :1 9 ), mas a essa afirm ação é acres­ centado que "o S e n h o r era com ele". A mes­ ma d eclaração é feita mais adiante sobre o jo vem Davi (1 Sm 1 6 :1 8 ; 1 8 :1 2 ,1 4 ). O Se­ nhor estava contra Eli e seus filhos, mas suas b ê n çã o s encontravam -se sobre Sam uel e seu m inistério. Ao contrário dos outros juí­ zes, as palavras e a in fluên cia de Samue. alcançaram a nação toda. O povo reconhe­ ceu que D eus havia cham ado Sam uel para ser profeta e proclam ar a Palavra e a vonta­ de de D eus. O Senh o r voltou a aparecer de tem pos em tem pos em Siló e a revelarse a seu profeta. Israel estava prestes a pas­ sar por um re co m eço que o levaria a novos desafios e perigos, bem co m o a novas bên­ çãos e vitórias. Ramá quer dizer "altura" e Ramataim significa "as duas alturas". Várias cidades apresentam o termo ramah em seu no-^e (Js 13:26; 19:29; 21:38; Jz 4:5; 1 Sm 30:27), porém o mais provável é que Elcana e sua família vivessem em Ramataim, fronteira entre Benjamim e Efraim. Elcana era da tribo de Levi, mas vivia em Efraim. 2. Várias versões trazem a expressão "porção dupla" em 1 Samuel 1:5, mas o original também é traduzido por "porção especiaT; alguns estudiosos propõem "somente uma porção". Tudo indica, porém, que Elcana estava tentando mostrar o amor espeaai que sentia por sua esposa num momento difícil, de modo que a porção oferecida também deve ter sido especial. 3. O Salmo 99:6 e Jeremias 15:1 descrevem Samuel como um homem de oração, e ele é citado em Hebreus 11:32 como 4. Em seu breve discurso registrado em 1 Samuel 1:25-28, Ana usou, com freqüência, formas diferentes do termo hebraico sa-at homem de fé. Para exemplos de orações específicas de Samuel, ver 1 Samuel 7:8, 9; 8:6; 12:18, 19, 23; 15:11. que significa "pedido" e constitui a base do nome Samuel. O termo "devolvido", no versículo 28, significa "entregue". \ entrega de Samuel ao Senhor por Ana foi um gesto definitivo. 5. É evidente que a terra não repousa sobre o alto de colunas. Trata-se de uma forma de linguagem poética baseada ■ arquitetura daquela época. Ver também Jó 38:4; Salmos 75:3; 82:5; 104:5; Isaías 24:18. 6. Não há registro algum nas Escrituras de como o sumo sacerdócio passou da linhagem de Eleazar para Itamar e daí, posteriormente, 7. O s sacerdotes que servirão no templo durante a Era do Reino serão da família de Zadoque (Ez 40:45, 46; 43:19; 44:10-16 1 8. A repetição do nome, quando Deus fala, também pode ser vista quando o Senhor se dirige a Abraão (Gn 22:11), a M oisés 9. Samuel teria um ministério de "abrir as portas" para outros. Abriu as portas da monarquia a Saul, que não a colocou a serviço para Eli. (Êx 3:4), a Marta (Lc 10:41) e a Paulo (At 9:4; 26:14). da glória de Deus, e também para Davi, que usou seu cargo para servir a Deus e ao povo. Samuel fundou uma escola de profetas e abriu as portas do ministério a homens que lhe foram enviados por Deus. Abriu as portas de um novo com eço par* a nação de Israel, que se encontrava em decadência tanto em termos espirituais quanto políticos. 2 A D e r r o ta de Israel A V it ó r ia de Deus 1 S am u el 4 - 6 arca da aliança é m encionada pelo m e­ nos trinta veze s nestes três capítuios e 'epresenta o D eus je o v á , a figura central r e toda a história de Israel. A arca era a A ;e -;a mais im portante do tabernáculo e fi:= .a no Santo dos Santos. Dentro da arca ficav■am as duas tábuas da lei, e sobre ela • a . ia um "p ro p iciató rio " dourado, no qual i presença gloriosa de D eus habitava (Êx 2 5:10-22). Para os olhos da fé, D eus enconte-se evidente e ativo em todos os acon ­ tecim e nto s re g istrad o s n estes c a p ítu lo s . Nenhum dos acontecim en tos ocorreu por v id e n te , pois tudo fazia parte do plano de Deus para d iscip lin ar seu povo, julg ar os zecadores e, a seu tem po, estab elecer seu re ungido. 1 . A P a l a v r a f ie l de D e u s 1 S m 4:1-22) •\ssim que D eus co m e ça a revelar sua Paavra a seu povo, o inim igo ap arece para itacar. O s filisteus são m encionados nas Es­ crituras já nos tem pos de Abraão (G n 2 1 :32 ; • er 1 0 :1 4 ), e nos Livros de Samuel são citaj o s mais de cento e cinqüenta vezes. Eram, i princípio, um povo da região do Egeu e jm a gente voltada para o mar. Invadiram o •e"itório da costa do M editerrâneo (Fenícia) e procuraram controlar toda a terra conhe­ cida com o Palestina (o nom e "Palestina" vem do term o "Filístia "). A co nq uista da Terra ^rometida por Israel causou grande trans•Drno para os filisteus e, em várias ocasiões, esse povo tentou expulsar os israelitas da egião. É bem provável que a batalha aqui -nencionada tenha sido um a reação de Is­ rael a uma dessas invasões filistéias. Isra e l fo i d e rro ta d o (vv. 1-10). A feca era uma cidade filistéia situada ao norte, a cerca de cin co quilôm etros da cidade israelita de E b e n é ze r ("p e d ra da a ju d a " ).1 Siló ficava cerca de trinta e dois quilôm etros a leste de Ebenézer. No confronto inicial, os filisteus derrotaram Israel e mataram quatro mil ho­ mens, causando a perplexidade dos anciãos israelitas. A final, Israel não era a nação es­ colhida de D eus e o Senhor não lhes havia dado a terra com o sua propriedade? Se os an ciãos tivessem se lem brado dos term os da aliança de Deus, teriam percebido que essa derrota vergonhosa havia sido causada pela desobediência de Israel à lei de Deus (Lv 2 6 :3 9 ; Dt 2 8 :2 5 ). O S en h o r h avia lhes dito claram e n te com o com bater suas guerras (D t 20 ), mas em vez de sondar seu co ração e de confes­ sar seus p e cad o s, os israelitas d e cid iram imitar M oisés e Josué e levar a arca da alian­ ça junto consigo para a batalha (ver Nm 10:33-36; Js 3 - 4 e 6). Porém , essa aborda­ gem foi apenas uma form a de "usar D eus" para cum prir propósitos hum anos. Ao con­ trário de M oisés e de Josué, não buscaram a vontade de D eus e, certam ente, não esta­ vam procurando glorificar ao Senhor. O pior é que Hofni e Finéias carregariam a arca de Deus! C om o seria possível que Deus aben­ ço asse dois h om ens p e rverso s co n tra os quais já havia decidido executar seu julga­ mento (1 Sm 2 :2 9 , 34 - 4 :4 ,1 7)? Porém , a esperança de Israel era que a presença da arca salvaria os israelitas de seus inim igos.2 Q uand o Hofni e Finéias apareceram no acam pam ento carregando a arca de Deus, os soldados e anciãos gritaram, cheios de entusiasm o, mas sua autoco nfiança carnal serviu apenas de prelúdio para outra derro­ ta. A arca poderia estar com eles no acam ­ pam ento, mas o Senhor estava contra eles. O s gritos de alegria talvez tenham levanta­ do seu moral, mas não garantiam, de modo algum , a vitória. Tudo isso só serviu para aum entar a determ inação do exército filisteu de lutar com mais vigor e de vencer a bata­ lha, o que de fato aco n te ceu e causou a morte de trinta mil soldados israelitas. Deus não permite ser "usado" para que pessoas 212 1 SAMUEL 4 - 6 perversas alcancem seus próprios objetivos egoístas. D eus prom eteu: "aos que me hon­ ram, honrarei" (1 Sm 2 :3 0 ). A a r c a f o i c a p tu ra d a (v. H a ) . N os controlá-los no passado. A o assentar-se em seu lugar especial junto ao tabernáculo, Eli não estava preocupado com os filhos; an­ tes, estrem eceu por causa da arca de Deus. versículos 11-22, encontram os cinco vezes a oração: "Foi tomada a arca de Deus" (1 Sm 4 :1 1 , 17, 19, 21, 22). N unca antes na histó­ ria de Israel a arca de D eus havia caído nas mãos do inimigo! Sua santidade era tal que a arca perm anecia atrás do véu do taberná­ culo e era vista apenas pelo sumo sacerdo­ te uma vez por ano no dia da expiação (Lv 16). No tempo em que a nação vagou pelo deserto, quando o acam pam ento se deslo­ cava, a prim eira coisa que o sacerdote fazia era cobrir a arca com o véu (Nm 4 :5 , 6) e, só então, cuidava do restante da mobília do tabernáculo. A arca de Deus era o trono de Deus (2 Sm 6 :2 ; ver tam bém Sl 80:1 e 9 9 :1 ); agora se encontrava em território inimigo! O s israelitas haviam se esquecido de que a arca era o M as será que Eli não sabia que Deus ainda estava em seu trono celestial, m esm o que seu trono aqui na terra tivesse sido vulgari­ zado e transform ado num amuleto? O Se­ nhor não era cap az de proteger a própria trono de Deus som ente quan do Israel se su­ jeitasse a ele e o b ed ecesse à sua aliança. Q u al­ quer outra coisa não passava de superstição ignorante, com o acreditar em am uletos. Não era pecado levar a arca para a batalha se o povo encontrava-se, verdadeiram ente, co n­ sagrado ao Senhor e se possuía o desejo de honrá-lo. D eus colocou a arca nas mãos de pagãos, mas os filhos de Eli viviam com o pagão s en q u an to m inistravam d ian te da arca, de m odo que não fazia grande dife­ rença. Deus usaria a arca para ensinar algu­ mas lições importantes tanto para os israelitas quanto para os filisteus. O s d o is sacerdotes foram m ortos (v. 1 1b). Esse acon tecim en to cum priu a Palavra de Deus proferida a Eli pelo profeta anônim o (2:27-36) e a Samuel quando ele foi cham a­ do pelo Senhor (3:11-18). Deus havia sido longânim o para com H ofni e Finéias, en ­ quanto profanavam os sacrifícios do Senhor e o povo de D eus, mas sua hora havia chega­ do e seus pecados os haviam encontrado. O su m o sa ce rd o te m o rre u (vv. 12-18). Eli sabia que seus filhos haviam entrado no Santo dos Santos e levado a arca para o cam ­ po de batalha, mas não fora ca p a z de detê-los, assim co m o não havia conseguido mobília e a própria glória? O m ensageiro correu prim eiro à parte mais m ovim entada de Siló e ali transmitiu a triste notícia da derrota de Israel, e o lamen­ to ruidoso do povo cham ou a atenção de Eli. C orreu, em seguida, até o sumo sacer­ dote e lhe contou sobre a derrota de Israel e so bre o m a ssacre que o co rre ra , no qual Hofni e Finéias haviam sido mortos e - como se estivesse guardando a notícia mais trági­ ca para o final - que a arca de D eus havia sido tom ada pelos filisteus. Eli deve ter so­ frido um derram e ou um ataque cardíaco, pois caiu para trás, quebrou o pescoço e m orreu. Eli "era hom em [...] pesado",3 pro­ v av e lm e n te de co m e r ca rn e d e m ais dos sacrifícios (2 :2 9 ) e de levar uma vida seden­ tária. A morte de Eli e de seus dois filhos foi o com eço do cum prim ento da profecia se­ gundo a qual a linhagem de Eli no sacerdó­ cio seria extinta e uma nova linhagem seria introduzida. A gló ria d e D eu s p a rtiu (vv. 19-22). A esposa de Finéias possuía percepção espiri­ tual mais profunda do que seu sogro, seu marido e seu cunhado. O s dois irm ãos usa­ ram a arca com o um am uleto, Eli estava in­ teressado na segurança da arca, mas ela se preocupou com a glória de Deus. Cham oi, seu filho de Icabô - "Foi-se a glória de Is­ rael" - e, logo em seguida, faleceu.4 A pre­ sença da glória de Deus no acam pam ento era um sinal esp ecial de que os israelitas eram o povo de D eus (Êx 4 0 :3 4 ; Rm 9:4V, porém , uma vez que a glória havia partido, o favor especial de D eus não estava mais sobre eles. Q u an d o o rei Salom ão consa­ grou o templo, a glória de Deus voltou (1 Ri 8 :1 0 ), mas antes da destruição de Jerusalém, o profeta Ezequiel viu a glória de Deus dei­ xar o tem plo e a cidade (Ez 8 :4 ; 9 :3 ; 10:4. 1 SAMUEL 4 - 6 ' 1 1 :22, 23 ). Ezequiel tam bém viu o futuK) :em plo milenar e a volta da glória de Deus Ez 43:1-5). A glória de Deus só retornou à Berra com o nascim ento de Cristo, o Salvaáo - do mundo (Lc 2:8-11; Jo 1:14). Nos dias x noje, a glória de Deus habita em seu povo x m odo individual (1 C o 6 :1 9 , 2 0 ) e em Igreja de modo coletivo (Ef 2:19-22). Esse acontecim ento trágico foi tão signittza tiv o que o salm ista inclui-o em um de salmos (Sl 7 8 :6 0 , 61). Porém , a captura ia arca pelos filisteus foi apenas parte da * itória, pois o Senhor abandonou o tabernác_ o em S iló e p e rm itiu q u e este fo sse restruído pelo inimigo (Jr 7:12-14; 2 6 :6 , 9). Ds filisteus acabaram devolvendo a arca, que fc o u primeiro em Bete-Semes e, depois, em Dairiate-Jearim (1 Sm 6:13-21). É bem proíável que os sacerdotes tenham construído ilgum tipo de tabernáculo em N obe (1 Sm 1" :1 ss), mas no tem po de Salom ão, o san■_.ário ficava em G ibeão (1 C r 2 1 :2 9 ; 1 Rs 3:4 ). Q u an d o Salom ão term inou de cons~uir o tem plo, juntou a este o tabernáculo 2 C r 5:5). O s filhos perverso s de Eli acreditaram rue seu su b terfú g io sa lv a ria a gló ria de Deus, mas só conseguiram m andar embopa essa glória! 2. O PODER VINDICADOR DE DEUS >1 S m 5:1-12) -6 cin co cidades-chave dos filisteus eram -íd o d e , G a z a , A squelom , G ate e Ecrom , e :ad a uma possuía um governante ou "prín:ípe" (6 :1 6 ,1 7). O s filisteus colocaram a arca -o tem plo do deus D agom em A sd o d e , 213 seguinte, os adoradores encontraram Dagom prostrado diante da arca, com o se fosse um de seus devotos. A ssim co m o todo íd olo morto, Dagom teve de ser erguido à posi­ ção original (Sl 115), mas o que ocorreu na manhã seguinte foi ainda pior. O tronco de Dagom estava prostrado diante da arca da aliança, mas sua cabeça e seu braço haviam sido decepado s e co lo cad o s no lim iar do templo! No entanto, a história não terminou aí, pois Deus não apenas humilhou o deus dos filisteus co m o tam bém julgou o povo que adorava esse deus. Q uand o os filisteus tomaram a arca e, em sua arrogância, trata­ ram o Senhor com o se fosse apenas outra divindade qualquer, atraíram sobre si o ju l­ gamento de Deus. Ao reunir as evidências, tudo indica que o Senhor infectou cam undongos ou ratos (1 Sm 6:4) no meio do povo e usou-os para espalhar uma praga terrível. D e acordo com a aliança, o Senhor deveria ter enviado essa afliçã o so b re os israe lita s in cré d u lo s (D t 2 8 :5 8 -6 0 ), m as, em sua g raça, o S en h o r castigou o inimigo. Alguns estudiosos acre­ ditam que se tratou de um a epidem ia de peste bubônica, causando inchaços doloro­ sos nos gânglios linfáticos, especialm ente na região da virilha. O utros acreditam que foi uma praga de tum ores, talvez casos graves de hem orróidas (ver 1 Sm 5 :9 ), apesar de ser difícil de entender, nesse caso, a partici­ pação dos ratos. Q u alquer que tenha sido o castigo, foi algo que causou dor e humilha­ ção nos filisteus; eles, por sua vez, atribuí­ ram seu sofrim ento à presença da arca. Porém , os cinco príncipes filisteus esta­ reuses. Na mitologia filistéia, Dagom era o :e u s principal e pai de Baal, deus da tem- vam preocupados em preservar a glória de sua vitória. Se pudessem provar que a cala­ midade era uma coincidência, ficariam com a arca e continuariam a engrandecer Dagom, afirm ando sua superioridade em relação a Jeová. A maneira mais fácil de fazer isso era transportar a arca para outra cidade e ver o que acon te ceria, de m odo que a levaram oestade, cuja adoração causou tantos transiornos para Israel. Dagom não representava am eaça algu•na, pois o D eus Jeová era e é plenam ente rap az de cu id ar de si m esm o! N a m anhã para G ate... e a praga se repetiu nessa cida­ de! Em seguida, levaram a arca para Ecrom, onde o povo protestou e o rdenou que a co lo casse m em outro lugar! D eus m atou vários cidadãos ("a mão de D eus castigara como e vid ê n cia de que Dagom era mais •Drte e poderoso do que Jeová. No com eço ra batalha, os filisteus se assustaram ao saber rue o Deus de Israel estava no acampamen•; mas depois da vitória filistéia, com eçatam a escarnecer de Jeová e a exaltar seus 214 1 SAMUEL 4 - 6 duram ente ali") e tam bém enviou uma pra­ ga dolorosa sobre o povo de Ecrom , exata­ m ente com o havia feito com os habitantes de Asdode e de G ate. D eus havia se vindicado e provado que fora sua mão que havia destruído a estátua de Dagom , trazendo afli­ ção sobre o povo filisteu. Ninguém poderia cham ar a erupção dessas pragas de simples co in cid ê n cia . Porém , os prín cipes filisteus ainda tiveram de encontrar uma form a de se livrar da arca sem se hum ilhar e, talvez, sem trazer mais julgam ento. 3. A PROVIDÊNCIA SÁBIA DE DEUS (1 S m 6 :1 -1 8 ) As experiências descritas em 1 Samuel 5:112 ocorreram ao longo de um período de sete meses, sendo que, no final desse tem­ po, os cin co prín cipes d ecid iram que era hora de livrar-se da arca. Ainda que não qui­ sessem admitir, Jeová havia se vindicado di­ ante dos filisteus e hum ilhado seu falso deus. Insistindo em m anter a dignidade, os prínci­ pes procuraram um modo de enviar a arca para apaziguar Jeová, confeccionando para isso m odelos em ouro dos ratos e dos tumo­ res. Se as vacas não rum assem para o terri­ tó rio dos israe lita s, os filiste u s poderiam pegar de volta o ouro. Se as vacas atraves­ sassem a fronteira com Israel, o Senhor seria apaziguado e não enviaria mais pragas para a Filístia. Esse plano perm itiria q u e o Senhor re ce b e sse a glória sem que os p rín cip e s filisteus fossem envergonhados. Ao levar em consideração que as vacas estavam amamentando seus bezerros e mugindo por eles e que nunca haviam puxado um carro antes, era muito im provável que tomassem a estra­ da de Ecrom para Bete-Semes. O s cin co prín­ cipes e seus sábios haviam pensado em tudo. D e u s d isp õ e (vv. 10-18). M as haviam se enganado. O s príncipes filisteus não conhe­ ciam o verdadeiro Deus vivo, mas as vacas sabiam quem era seu C riad o r e o bedece­ ram a suas ordens! " O boi co n hece o seu possuidor, e o jum ento, o dono da sua man­ jedo ura" (Is 1 :3). Atravessaram a fronteira e chegaram à cidad e levítica de Bete-Semes (Js 21:13-16), onde os hom ens trabalhavam de volta para Israel sem o envolvim ento di­ reto deles próprios ou de seu povo. nos cam pos colhendo o trigo. O s israelitas O h o m em p õ e ( w . 1-9). O s sábios filis­ receberam a arca de volta com grande ale­ teus criaram outra form a de testar o Deus gria, e os levitas a tiraram do carro e a colo­ caram numa grande pedra no cam po. de Israel. Se Jeová, representado pela arca, era de fato o verdadeiro D eus vivo, então G ratos porque o trono de D eus havia e/e que levasse a arca de volta a seu lugar! sido devolvido a seu povo, os levitas ofere­ O s prín cipes traçaram um pia no q u e os ab­ ceram as vacas com o holocaustos ao Senhor so lveria de qu alquer re sp o n sab ilid ad e ou e, em sua alegria, desconsideraram que, de culpa. Tom ariam duas vacas com seus be­ acordo com a lei, som ente anim ais machos zerros e as separariam deles. Atrelariam as poderiam ser sacrificados (Lv 1:3 ). Outros vacas a um carro novo, co locariam a arca hom ens da cidade trouxeram mais sacrifícios. sobre o carro e soltariam as vacas. Se elas C o lo ca ram os presentes de ouro sobre a não se movessem ou se fossem para junto pedra e o fereceram -no s ao Senhor. Uma de seus b ezerro s, seria "p ro va" de que o v e z que Siló havia sido destruída e que não Deus de Israel não estava no controle e de existia mais um santuário para a adoração, que os filisteus não tinham o que temer. Se um a pedra grande foi usada com o altar, e o as vacas sim plesm ente vagassem de um lado Senhor aceitou as ofertas. Deus quer um co­ para o outro sem rum o certo, os príncipes ração contrito e quebrantad o e não uma po deriam ch e g ar à m esm a co n clu sã o . O obediência servil à lei (Sl 5 1 :1 5-1 7). O inimi­ mais provável era que as vacas voltassem go estava por perto (1 Sm 6 :1 6 ), e os israelitas para seus bezerros, um a vez que estavam não se atreveram a deixar aquele lugar, para cheias de leite do qual iriam querer se livrar onde as vacas foram direcionadas por Deus. e do qual os bezerros precisavam . D eus havia feito o que Dagom jamais M as os sábios não pararam por aí. D e ci­ seria capaz fazer: guiou as vacas, manteve diram que a nação deveria enviar dádivas sua atenção presa à estrada certa, superot 1 SAMUEL 4 - 6 I desejo delas de ir para junto de seus be■erros e levou-as para a cidade levítica de í-e-e-Semes. Sua providência governa todas ü coisas. Infelizmente, os sacerdotes e levitas p o fizeram bem o seu trabalho, e aquilo r . e deveria ter sido m otivo de grande ale­ s -a acabou trazendo tristeza em função da -sensatez hum ana. A seu tempo, a arca receoeria um novo local, quando o rei Davi a — nsportasse para o lugar especial que ha:«ra preparado em Jerusalém (2 Sm 6 :1 2ss). 4 . A IRA SANTA DE D E U S (1 S m 6 : 1 9 , 2 0 ) Os hom ens de Bete-Sem es deveriam ter cor»srto a arca, que não deveria ser vista por c-essoa algum a exceto o sum o sacerdote, e esse erro lhes custou caro. Alguns ficaram curiosos, olharam dentro da arca e foram mortos. Se os filisteus pagãos foram julga­ dos pela m aneira de tratar a arca, o povo s'aelita, que co n h ecia a lei e que v iv ia numa cidade levítica, deveria ser ainda mais 'esp o n sável! O núm ero preciso de pessoas mortas é -'otivo de controvérsia entre os estudiosos, pois cinqüenta mil parece ser elevado de—ais para uma cidade do tam anho de BeteSemes. Alguns acreditam que não passaram :straram-se cruciais para que o povo pas­ masse em segurança por essa fase perigosa ; e transição. 1. O p o vo b u sca a o S e n h o r (1 S m 7 : 3 - 1 7 ) 5am uel estava cie n te da in q u ie ta ç ã o do e de seu desejo de m udanças e sabia ru e períodos de transição fazem aflorar o ru e há de m elhor ou de pior nas pessoas. Deus cham ou Sam uel para co nstruir uma :o n te entre a era turbulenta dos ju íze s e a -ova era da m onarquia, tarefa nada fácil. De .m a coisa Samuel estava certo: com ou sem -ei, a nação jam ais seria bem-sucedida se o povo não colocasse o Senhor em primeiro ugar e cresse som ente nele. Por esse mo:\o , convocou uma assem bléia em M ispa, dovo uma cidade em Benjam im (Js 1 8 :2 6 ), onde desafiou o povo da aliança de D eus a voltar para o Senhor. O s isra elita s d eixa ra m se u s fa lso s d e u ­ ses (vv. 3, 4 ). A idolatria havia sido um pe­ cado constante em Israel. A fam ília de Jacó havia carregado falsos deuses consigo (G n 3 5 :2 ), e quando os hebreus eram escravos no Egito, adotaram os deusés e deusas dos egípcios, e, depois do êxod o, os israelitas adoraram alguns desses ídolos durante as jo rnadas pelo deserto (At 7 :4 2 , 4 3 ). M oisés ordenou que Israel destruísse todo e qual­ q uer vestígio da religião ca n a n éia , mas o povo acabou se entregando novam ente à idolatria e adorando os deuses de seus ini­ migos derrotados. Sam uel citou e sp e cifica­ m ente os baalins e astarotes (1 Sm 7 :3 , 4). Baal era o deus can an eu da tem p estade, para o qual os israelitas se voltavam com freqü ên cia quando a terra passava por um período de seca. A starote era a deusa da fe rtilid a d e , c u ja a d o ra çã o in c lu ía ritu a is in d e scritive lm e n te se n su a is. O s israe litas não viram ap enas um a re p resen tação de D eus no m onte Sinai, mas sim ouviram a vo z do Senhor. Sabiam , portanto, que ado­ rar qualquer im agem de seu D eus co nsti­ tuía um a prática ilícita. D e ix a r os falsos deuses era ap enas o co m eço do processo de volta para o Senhor. Além disso, os israelitas deveriam preparar o coração para o Senhor e se consagrar so­ mente a ele (v. 3). Essas instruções estavam de acordo com o prim eiro m and am ento: "N ão terás outros deuses diante de m im " (Êx 2 0 :3 ). Um ídolo é um substituto para D eus: qualquer coisa a que servim os e na qual confiam os em lugar de Deus. O s israe­ litas adoravam ídolos de m adeira, de pedra e de metal, mas os cristãos de hoje possuem ídolos mais sutis e atraentes: casas e pro­ priedades, riq u eza, carro s, cargos e re co ­ nhecim ento, am bição e, até mesm o, outras pessoas. Q u alquer coisa em nossa vida que ocupe o lugar de D eus e que exija o sacrifí­ cio e a dedicação que pertencem somente ao Senhor é um ídolo e deve ser lançada fora. O s ídolos do coração são muito mais perigosos do que os de um templo. 218 1 SAMUEL 7 - 1 1 C o n fe ssa ra m se u s p e c a d o s (vv. 5, 6 ). Sam uel p lan ejava c o n d u z ir o povo a um tem po de ad oração e de intercessão para que fossem libertos dos inim igos, m as, se C o m o v im o s, Sam uel era um hom em de oração (Sl 9 9 :6 ), e, naquele dia, D eus lhe respondeu. Ao o ferecer o holocausto no fi­ nal do dia, o Senhor trovejou contra os sol­ os israelitas tivessem qualqu er iniqüidade no c o ra ç ã o , o S en h o r não os o u v iria (Sl 6 6 :1 8 ). N ão bastava apenas destruir seus dados filisteus, confundindo-os de tal modo que foi fácil Israel atacá-los e derrotá-los. Q u an d o nos lem bram os de que Baal era o Deus cananeu da tem pestade, vem os com o o poder do trovão de D eus é ainda mais significativo. O Senhor m anteve os filisteus afastados de Israel todos os dias de Sam uel. Em decor­ rência dessa vitória, os israelitas recupera­ ram cidades que haviam perdido na batalha e até ganharam os am orreus com o seus alia­ dos. Sem pre que o povo de D eus depende de seus planos e recursos, seus esforços fra­ cassam e envergonham o nom e de Deus. Porém , quando o povo de Deus confia no Senhor e ora, ele supre suas necessidades e íd olos, mas tam bém era preciso que co nfes­ sassem seus pecados e que se entregassem ao Sen ho r. D u as c o n s id e ra ç õ e s in d icam que essa assem bléia ocorreu durante a Fes­ ta dos Tabern ácu los. Em prim eiro lugar, o povo derram ou água diante do Senhor, algo que se tornou um a p rática re lacio n ad a à Festa dos T abern ácu lo s, co m em oran d o as ocasiões em que o Senhor proveu água no deserto (Jo 7:37-39). Em segundo lugar, o povo jeju o u , um a prática requerida apenas no dia anual da exp iação , que an teced ia a Festa dos T ab e rn ácu lo s.1 A principal atividade daquele dia foi a confissão do povo. "P ecam o s contra o Se­ n h o r . " A prom essa da alian ça de D eus a Israel era a de que ele perdoaria seus pe­ cados, se os confessassem ao Senhor com sin ce rid ad e (Lv 2 6 :4 0 -4 5 ), pois não havia sacrifício s su ficien tes nem rituais ca p azes de purificá-los de seus pecados. "Sacrifícios agradáveis a D eus são o espírito quebrantado; co ração com pungido e contrito, não o desp rezarás, ó D eus" (Sl 5 1 :1 7). Essa pro­ m essa de perdão e de bênção foi reiterada por Salom ão mais adiante na história de Is­ rael, por ocasião da consagração do tem ­ plo (2 C r 7 :1 4 ). O raram ao S e n h o r p e d in d o sua ajuda (vv. 7-1 1, 13, 14). Q u an d o os filisteus sou­ b e ra m d e s s e g ra n d e a ju n ta m e n to de israelitas, suspeitaram que Israel estava pla­ nejando um ataque, de modo que os cinco príncipes filisteus convocaram suas tropas e se prepararam para invadir a nação vizinha. Israel não possuía um exército perm anente nem um governante para organizar uma for­ ça militar, de m odo que se sentiam im po­ tentes. Porém , sua m aior arm a era a fé no Deus Jeová, fé que se expressava por meio da oração. "U n s confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém , nos gloriaremos em o nome do S e n h o r , nosso D eus" ( S l 2 0 :7 ). seu no m e é g lo rific a d o . U m hom em ou mulher de oração é mais poderoso do que todo um exército! Não é de se adm irar que o rei Jeoás tenha cham ado o profeta Eliseu de "C arros de Israel e seus cavaleiros!" (2 Rs 1 3 :1 4 ), título que Eliseu usou para Elias, seu mentor (2 Rs 2 :1 2 e ver 6 :1 7 ). Será que te­ mos hom ens e m ulheres de oração desse tipo hoje? C om em oraram a vitória (v. 12). A práti­ ca de co locar pedras para com em orar acon­ tecim entos im portantes faz parte da cultura dos hebreus desde o tem po em que Jacó ergueu um m em orial em Betei (G n 28:2022 ; 3 5 :1 4 ). Josué colocou doze pedras no meio do rio Jordão (Js 4 :9 ) e outras doze na margem ocidental em Gilgal, a fim de mar­ car o local onde as águas se abriram e Israel atravessou para a terra prom etida (4:1-8,1921). Um montão de pedras no vale de Acor servia para lem brar os israelitas da desobe­ diência de A cã (7:24-26), e outro montão m arcava o lugar onde o rei de Ai havia sido sepultado (8 :2 9 ). A inda outro conjunto de p e d ra s e n c o n tra v a - s e na c a v e rn a de M aquedá, a fim de m arcar o local onde cin­ co reis haviam sido derro tad o s e morte s. (1 0 :2 5 -2 7 ). A ntes de sua m orte, Josué er­ gueu um a grande pedra para servir de teste­ m unho e lembrar os israelitas do voto que 1 SAMUEL 7 - 1 1 iam feito de servir e de obedecer somenao Senhor (24:26-28). "E b en é ze r" significa "ped ra de ajuda", ■ o m onum ento era uma lem brança aos litas de que D eus os havia ajudado até e de que co ntinuaria a ajudá-los se consem nele e guardassem sua alian ça. O ■ador da M issão para o Interior da Chi|. H udson Taylor, costum ava pendurar todas as casas onde m orava um a placa : dizia: "E b en é ze r - Jeová Jiré". Juntas, js palavras em hebraico significam : "Até ui nos ajudou o Senho r e nos aju dará ~ui em d ia n te ". Q u e grande estím u lo h a ra nossa fé! Respeitaram S a m u e l (vv. 15-17). É bem provável que essa assem bléia em M ispa te­ nha marcado o início do ministério público Samuel à nação toda de Israel, de modo que. daquela ocasião em diante, foi ponto lí it r a l de unidade política e de autoridade •riDiritual. A nação sabia que Samuel era um c e r escolhido por Deus (3 :2 0 - 4:1 ), e, quanr : e le m o rre u , Israel in teiro o pranteou 2 3 :3 ). Samuel vivia em Ram á e instituiu um õrcuito ministerial para ensinar a lei ao povo, B u y ir caso s litigiosos, acon selh ar e julgar. > ejs dois filh o s o assistiam servin d o em ie "se b a (8:1, 2). Era uma bênção para Israel jta um hom em com o Samuel para conduzi>:s. mas os tem pos estavam m udando, e os ^"ciãos israelitas queriam que a nação acom: unhasse essas m udanças. 2 . O POVO REJEITA O SENHOR 1 S m 8:1-22) Zerca de vinte a vinte e cin co anos se pas­ m a m entre os acontecim entos registrados kb capítulo 7 e os do capítulo 8. Samuel era ■n homem idoso, prestes a sair de cena, e ia% ia surgido em Israel outra geração, com ceres novos e cheios de idéias. A vida confriu a , as circunstâncias mudam e o povo de Deus deve ter sabedoria para se adaptar a ■ovos desafios sem ab ando nar as antigas convicções. Assim com o tantos outros gran:e s líderes, em sua velhice Samuel foi obrigaMd a tomar decisões difíceis. Aposentou-se certo de que havia sido rejeitado pelo povo ■0 qual havia servido tão fielm ente. Samuel 219 o bedeceu ao Senhor, mas o fez com dor no co ração . Deus havia escolhido M oisés para lide­ rar a nação de Israel e Josué para sucedê-lo (D t 31:1-15), mas Josué não recebeu instru­ ções do Senhor para im por as mãos sobre um sucessor. D eixou os anciãos que havia treinado para servir ao Senhor, mas quando estes morreram , a nova geração afastou-se de D eus e seguiu os ídolos de C an aã (Jz 2:10-15). C om referência ao sacerdócio, o que ocorreu foi uma sucessão autom ática, e, sem pre que fosse preciso, Deus poderia levantar profetas, mas quem iria liderar o povo e p ro vid en ciar para que a lei fosse obedecida? D urante o período dos ju ízes, Deus levantou líderes aqui e ali e lhes deu grandes vitórias, mas ninguém possuía au­ toridade sobre a nação com o um todo. "N a ­ queles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto" (Jz 2 1 :25 ; ver 1 7 :6 ; 1 8 :1 ; 1 9 :1 ). A "n ação " de Israel era, na verdade, uma confederação informal de tribos soberanas, e esperava-se que cada tribo buscasse ao Senhor e a sua vontade. A re iv in d ic a çã o p o r um re i (vv. 1-9). Sa­ bendo que Israel precisava de um governo central mais forte, os anciãos apresentaram a Sam uel seu pedido e vários argum entos para apoiá-lo. Destes, os dois prim eiros de­ vem ter ferido Samuel até a alm a: ele estava velho e não tinha sucessor algum e seus fi­ lhos não eram piedosos e aceitavam subor­ nos (1 Sm 8:3-5). C om o é triste ver que tanto Eli quanto Sam uel tiveram filhos que não seguiram o Senhor. Eli foi com placente de­ mais com os filhos rebeldes (2 :2 9 ), e talvez Samuel tenha passado tem po dem ais longe de casa, percorrendo seu circuito m iniste­ rial pelas cidades de Israel. O s filhos ficaram distantes dele, na cidade de Berseba, onde Samuel não poderia supervisionar o traba­ lho que realizavam . Porém , se os anciãos sabiam dos pecados dos filhos do sacerdo­ te, então é bem provável que o pai também soubesse. Q uand o os anciãos pediram para ter um rei "co m o o têm todas as n açõ es" (1 Sm 8 :5 , 20), estavam se esquecendo de que a força de Israel deveria ser diferente da força 220 1 SAMUEL 7 - 1 1 de outras nações. O s israelitas eram o povo da aliança de D eus, e ele era seu Rei. A gló­ ria de D eu s habitava no meio d eles e a lei M oisés preparou a nação para um rei quan­ do falou à nova geração, pouco antes de entrarem na terra prom etida (D t 17:14-20). de Deus era sua sabedoria. (Ver Êx 19:3-6; 3 3 :1 5 , 16; Lv 18:30 e 2 0 :2 6 ; Nm 2 3 :9 .) Po­ rém, os anciãos preocupavam-se com ques­ tões de segurança nacional e de proteção contra os inimigos a seu redor. O s filisteus a in d a eram um a n a ç ã o p o d e ro s a , e os am onitas também representavam uma am ea­ O m aior pecado de Israel não foi pedir um rei, mas sim insistir que Deus lhes desse um rei im ediatam ente. O Senhor havia pla­ nejado um rei para eles - Davi, o filho de Jessé - , mas ainda não era o m omento de ele aparecer. A ssim , o Senhor respondeu ao ça (1 Sm 1 2 :1 2 ). Israel não tinha um exército perm anente nem um rei para comandá-lo. O s anciãos se esqueceram de que o Senhor era o Rei de Israel, aquele que dava a seu povo o exército e a capacidade de derrotar os inimigos. Samuel era um hom em de profunda per­ cepção espiritual e sabia que essa reivindi­ ca ção de um rei era sinal de d e cad ên cia espiritual entre os líderes. Não estavam re­ jeitando a Sam uel, mas sim a D eu s, e era isso o que pesava no co ra ção de Sam uel quando orou ao Senhor pedindo sabedoria. Não era a primeira vez que o povo rejeitava ao Senhor. No Sinai, seu pedido foi: "fazenos d e u se s" (Êx 3 2 :1 ), e d e p o is de seu fracasso humilhante em Cades-Barnéia, dis­ seram: "Levantem os um capitão e voltem os para o Egito" (Nm 1 4 :4 ).2 Sem pre que a lide­ rança de um a igreja entra em d ecad ência espiritual, essa igreja torna-se mais parecida com o mundo e usa os m étodos e recursos do m undo para tentar re aliza r a obra de D e u s. O s lid eres israe lita s do tem p o de Samuel não acreditavam que Deus poderia derrotar os inim igos e proteger seu povo, de modo que escolheram fiar-se em um bra­ ço de carne. Deus nunca se surpreende com as atitu­ des de seu povo e tam bém não fica sem saber o que fazer. "O S e n h o r frustra os de­ sígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do S e n h o r dura para sem­ pre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações" ( S l 3 3 :1 0 , 11). H á inúmeras evi­ dências, ao longo do Pentateuco, de que, um dia, Israel teria um rei. Deus prometeu a Abraão, Sara e Jacó que haveria reis em sua descendência (G n 1 7 :6 , 17; 3 5 :1 1 ), e Jacó havia cham ado Judá de tribo real (4 9 :1 0 ). pedido do povo nom eando Saul seu rei e usou Saul para disciplinar a nação e preparála para Davi, o hom em que Deus havia es­ c o lh id o . O fato de Saul ser da trib o de Benjam im e não de Judá já é forte indício de que não se esperava, em momento algum, que ele instituísse uma dinastia. "Dei-te um rei na m inha ira e to tirei no meu furor" (O s 1 3 :1 1 ). O m aior julgam ento que D eus pode enviar sobre nós é deixar que façam os as coisas a nosso modo. "C oncedeu-lhes o que pediram , mas fez definhar-lhes a alm a" (Sl 106:15). Porém, o Senhor queria que seu po­ vo entrasse n essa nova fase inteiram ente cônscio da situação, de modo que ordenou a Sam uel que lhes dissesse o preço que te­ riam de pagar se quisessem ser governados por um rei. O p r e ç o d e um re i (vv. 70-22). O que vale para indivíduos tam bém vale para na­ çõ e s: quem tira da vida o que quer paga por isso. Sob o reinado do D eus Jeová, a nação tinha segurança e suficiência, desde que o bedecesse ao Senhor, cujas exigências não eram desm edidas. O b e d ecer à aliança de Deus significava viver uma vida feliz, en­ quanto o Senhor lhes provia tudo de que precisavam e muito mais. Porém , a palavrachave no discurso de Samuel é tomar, nãc dar. O rei e sua corte precisariam ser susten­ tados, de m odo que tom aria seus filhos e filhas, suas propried ades, suas colheitas e seus rebanho s. O s m elhores jo vens ser\iriam no exército e nos cam pos do rei. Suai filhas seriam cozinheiras e padeiras para : rei. Ele tom aria propriedades e parte de suai colheitas, a fim de alim entar os oficiais e servos do palácio. A pesar de tais aspectos não terem ficado muito evidentes nos rei­ n ados de Saul e de D a v i, ce rtam e n te se tornaram patentes no tem po de Salomãc 1 SAMUEL 7 - 1 1 | ! Rs 4:7-28). Chegou o dia em que o povo r^ Tiou pedindo alívio do jugo pesado que •??íe rei havia posto sobre os israelitas para - a i t e r a glória de seu reino (1 Rs 12:1-4; te r Jr 22:13-17). A pesar das advertências, o povo insistiu 3 _e D eus lhe desse um rei. N aquele m o iMento, a prioridade dos israelitas não era i i a d a r a D e u s, mas sim ter garantias de r o t e ç ã o co ntra os inim igos. Q u e ria m als-em que os julgasse e que com batesse suas ? i:a lh a s , alguém que pudessem ver e se­ guir. C o n sid eravam d ifícil dem ais co n fia r n m Deus invisível e obedecer a seus man­ damentos m aravilhosos. A pesar de tudo o ;u e o Senho r havia feito por Israel desde : iham ado de Abraão até a conquista da ~~ ra Pro m etid a, deram as co stas para o D eijs Todo-Poderoso e escolheram sujeitarse ao governo de um frágil ser humano. 3. \ OBEDIÊNCIA AO SENHOR 1 S m 9:1 - 10:27) I> enfoque passa de Sam uel para Saul, rei resignado por D eus para Israel. Saul era de 5-enjamim, tribo que, por pouco, não fora íice rm in a d a em d e co rrê n cia de sua rebeiã o contra a lei (Jz 1 9 - 20 ). Jacó com parou 5-eijamim com um "lobo que despedaça" C n 4 9 :2 7 ), e a tribo envolveu-se em inúmeb s batalhas. O território de Benjam im ficaa entre Efraim e Judá, de modo que a tribo Me Saul era adjacente à tribo real de Judá. ■ ‘ r-esar do que Saul disse a Samuel em 1 Sa— je l 9 :2 1 , ele pertencia a um a fam ília po­ r o s a e rica, com servos, propriedades e anim ais. No tocante a seu aspecto físico, Saul era iito . bem apessoado e forte, o tipo de rei ru e o povo iria admirar. Até mesm o Sam uel, oom toda sua percepção espiritual, empolso j-se quando o viu (1 0 :2 3 , 24 ). Esse ponto 'r2co de Samuel - sua adm iração pelas quacades fí sicas - transp areceu até m esm o :„ a n d o foi ungir D avi (16:1-7). Saul tinha in s id e ra ç ã o pelos sentim entos do pai (9:5) •e persistia no desejo de o b e d ecer à von•ade dele. O fato de haver dedicado tanto ‘■e-npo e esforço procurando anim ais perdi::■> indica que não era do tipo que desistia 221 facilm ente. Saul possuía certa modéstia (v. 21 ; 10:14-16), mas não havia indicação al­ guma de que tivesse vida espiritual ativa. O en co ntro e n tre S a m u e l e S a u l (9:12 5 ). Saul vivia em G ib eá, localizada a cerca de oito quilôm etros de Ram á, cidade onde Sam uel m orava. No entanto, Saul nem se­ quer sabia de um fato conhecido por todo Israel (3 :2 0 ): que um homem' de Deus cha­ mado Sam uel vivia em Ram á (9 :6 ). C om o era possível Saul viver tão perto do líder es­ piritual de Israel e não saber dele? Trata-se, em parte, de um mistério, mas tam bém indi­ ca que Saul sim plesm ente vivia e trabalhava nas lavouras com a fam ília em G ib eá e cui­ dava de sua vida. Ao que parece, não partici­ pava das festas anuais e não se preocupava muito com questões espirituais. Assim com o muitas pessoas h oje em dia, não era contra a religião, mas não fazia da busca ao Se­ nhor uma parte essencial de sua vida. Feliz­ m ente, o servo sabia quem era Sam uel, e Saul deu ouvidos a seu conselho! Um aco n te cim e n to um tanto insignifi­ cante reuniu Saul e Sam uel: o extravio das jum entas de Q u is. Evidentem ente, eram ani­ mais valiosos, e, mais tarde, alguém os en­ controu e devolveu a Q uis (1 0 :2), mas quem iria pensar que o prim eiro rei de Israel seria cham ado para o trono enquanto procurava jum entas perdidas? Davi cuidava de ovelhas (Sl 78:70-72; 1 Sm 17:15) e considerava o povo de Israel um rebanho carente de pro­ teção e de orientação (2 Sm 2 4 :1 7 ). O Se­ nhor trabalha de m aneiras incom uns, mas se Saul não tivesse obedecido ao pai e ouvi­ do seu servo, a história poderia ter sido bem diferente. O s dois hom ens chegaram às portas de Ram á no final da tarde, pois as moças esta­ vam saindo para buscar água. Ao perguntar às jovens se o vidente estava lá, receberam um a resposta longa e detalhada. Talvez as m o ças israelitas estivessem co n ten tes de poder conversar com um desconhecido alto e bem apessoado! A té mesmo o momento em que Saul chegou na cid ad e foi provi­ dencial, pois Samuel apareceu assim que o futuro rei e seu servo entraram na cidade. Samuel estava se dirigindo a um "alto" fora 222 1 SAMUEL 7 - 1 1 da cidade, onde iria o ferecer um sacrifício ao Senhor. Um a vez que não havia um san­ tuário central em Israel naquela ép o ca, o povo levava seus sacrifícios a um santuário consagrado ao Senhor que ficava num mon­ te próxim o à cidade. As nações pagãs ado­ ravam seus falsos deuses em lugares altos e tam bém se entregavam a práticas im orais nesses lugares, mas o povo de Israel era proi­ bido de imitar tais costum es (Sl 7 8 :5 8 ; O s 4:11-14; Jr 3 :2 ). No dia anterior, o Senhor havia dito a Samuel que Saul viria a Ramá, de m odo que o sacerd o te estava prepara­ do para encontrá-lo e para transmitir-lhe a mensagem de Deus. O termo "príncipe", em 1 Samuel 9 :1 6 , significa sim plesm ente "líder". Q uand o Saul apareceu, o Senhor falou no­ vam ente a Samuel e confirm ou que aquele era, de fato, o homem que havia escolhido e que Sam uel deveria ungi-lo rei. Um dos títulos dado aos reis era "ungido de D eus" (1 Sm 12 :3 ; 2 4 :6 ; 2 6 :9 , 11, 16; Sl 2 :2 , 6). Assim com o havia feito com Sansão (Jz 13:5), o Senhor usaria Saul para en fraq u ecer os filisteus, preparando Israel para a conquista final desse inimigo sob a liderança de Davi (1 C r 18:1). A resposta de Samuel ao pedido de Saul deve ter espantado o rapaz. Saul descobriu que estava falando justam ente com o ho­ mem a quem procurava e que, em seguida, jantaria com Samuel. Ficou sabendo que o profeta tinha uma mensagem especial para ele e que as jum entas perdidas haviam sido en co ntradas e devolvidas ao pai de Saul. Além disso, todo o desejo de Israel co n cen­ trava-se em Saul, pois a nação inteira queria ter um rei. Saul não entendeu o que Samuel estava dizendo, mas isso tudo lhe seria ex­ plicado no dia seguinte. Samuel ignorou os protestos de Saul, segundo os quais ele era um joão-ninguém que pertencia a um a tri­ bo insignificante, e acom panhou Saul e seu servo à sala de banquetes no alto, onde se­ ria realizada a refeição. U m a vez realizada a oferta p acífica, Saul recebeu a po rção es­ pecial que cabia ao sacerdote (1 Sm 9 :2 4 ; Lv 7 :3 2 , 3 3 ), e Sam uel lhe inform ou que aquela porção havia sido separada especial­ m ente para ele. C o isas estranhas estavam a c o n te ce n d o ! D e p o is do ban q u ete, Saul voltou com Samuel para sua casa e lá tive­ ram um a longa co n v e rsa , durante a qual Sam uel explicou a Saul os acontecim entos que haviam levado àquele encontro. S a m u el u nge S a u l (9 :2 6 - 10:16). Logo cedo, na manhã seguinte, Samuel acom pa­ nhou Saul e seu servo até a saída da cidade, enviou o servo adiante e, em seguida, un­ giu Saul com o primeiro rei de Israel. Daque­ le m om ento em diante, Saul passou a ser o novo líder do povo de Deus ("herança"), mas som ente Samuel e Saul sabiam disso. Com o o jo vem Saul poderia ter ce rte za de que D eus o havia escolhido de fato? Samuel deu a Saul três sinais, acontecim entos especiais com os quais iria se deparar no cam inho para casa. Prim eiro, encontraria dois hom ens que lhe diriam que os anim ais perdidos haviam sido encontrados (1 0 :2), notícia esta que Saul já havia recebido de Sam uel. Ao que pare­ ce, esses hom ens sabiam quem Saul era e que havia estado longe de casa à procura das tais jum entas. Foi uma experiência pos^ tiva para o jovem rei, pois serviu para asse­ gurá-lo de que D eu s era capaz d e resolver seus problem as. Um a das grandes falhas de Saul com o líder era sua dificuldade de não interferir nas situ açõ es e de d e ixar Deus operar. Em term os m ais atuais, Saul tinha "m ania de controlar" tudo. No entanto, en­ q u a n to Saul e seu s e rv o ja n ta v a m com Sam uel, Deus trabalhava para salvar os ani­ mais perdidos. O segundo sinal ocorreria no carvalho de Tabor, onde Saul encontraria peregrinei a cam inho de Betei (vv. 3, 4). A pesar da in­ credulidad e de Israel, ainda havia pessoas devotas na terra que honravam e buscava- * ao Senhor.3 É bem provável que existisse e ~ i Betei um lugar con sagrado ao Senhor r 2 0 :1 8 , 2 6 ), e talvez os três cordeiros, o . nho e os três pães fossem presentes para levitas que viviam naquele local. Um a que, até então, não havia um santuário c trai, é possível que os três cordeiros fos para os sacrifícios. Esses hom ens saudari Saul e lhe dariam dois dos três pães, se que ele deveria aceita r o presente. D 1 SAMUEL 7 - 1 1 a mostrando a Saul que ele não apenas eria seus problem as, co m o tam bém 'ia suas n ecessidades. C om o prim eiro rei Israel, ele teria de reunir um exército e ecer com ida e equipam entos necessáa esses hom ens e teria de depender do or. O terceiro sinal era associado ao poder itual (1 Sm 10:5, 6). Saul encontraria um de profetas voltando de uma cerimôze adoração num alto, os quais estariam ’ tizando. O Espírito Santo viria sobre Saul ela ocasião e ele se juntaria aos profeem sua adoração extática. Nesse sinal, Deus disse a Saul que p o deria investi-lo do p o d e r n ecessá rio para o se rv iç o . "Q u e m , ;< :'ém , é su ficiente para estas co isas?", é unta no coração de todo servo de Deus Co 2 :1 6 ), e a única resposta correta é: :»ssa suficiência vem de D eus" (3 :5 ). No ~ nto, mais tarde Saul, se tornaria extrelente auto-suficiente e rebelde, e o Seretiraria dele seu Espírito (1 Sm 16 :1 4 ; 615). Q uand o Saul deixou Samuel e partiu de :a para casa, D eus "lhe mudou o cora(1 Sm 1 0 :9 ; ver v. 6). Não considere declaração com o um caso de "regeneio", dentro dos padõres do Novo Testato, pois se refere principalm ente a uma de e a um a perspectiva diferente. Esse agricultor passaria a pensar e a agir um líder, o rei de sua nação, um estae guerreiro cuja responsabilidade era ir a Deus e obedecer à sua vontade. O rito Santo o capacitaria ainda mais para ir a D eus, desde que ele andasse em diência à vontade do Senhor (v. 6). Pelo de Saul ter se tornado orgulhoso e indeente e por ter se rebelado contra Deus, -ei perdeu o poder do Espírito, bem com o » e j reinado e, por fim, tam bém a vida. C ad a um desses acontecim entos ocore x a ta m e n te co n fo rm e S am u el h avia prometido, mas o texto descreve apenas o •í^contro de Saul com os profetas (vv. 10' 3 No tempo do Antigo Testam ento, Deus /a seu Espírito Santo a pessoas escolhia fim de capacitá-las para realizarem ia s especiais e, da m esm a forma, Deus 223 tam bém poderia retirar seu Espírito. O s cris­ tãos de hoje, que se encontram sob a nova aliança, têm o Espírito habitando dentro de­ les para sem pre (Jo 1 4 :1 6 , 17) com o selo de Deus mostrando que somos seus filhos (Ef 1:13, 14). Q uand o D avi pediu a Deus que não retirasse dele o Espírito Santo (Sl 51 :1 1 ), pensava especificam ente naquilo que Deus havia feito com Saul (1 S rrv 1 6 :1 4 ; 2 8 :1 5 ). O s cristãos de hoje podem entristecer (Ef 4 :3 0 ) e apagar (1 Ts 5 :1 9 ) o Espírito, mas não podem mandá-lo em bora. O Espírito possibilitou que Saul tivesse (provavelm ente, pela prim eira v e z na vida) um a e xp e riê n cia pessoal com o Senhor e que a expressasse por meio do louvor e da adoração. Se Saul tivesse continuado a ali­ m entar esse relacionam ento com o Senhor, sua vida teria sido muito diferente. Seu or­ gulho e sua sede de poder tornaram-se pe­ cados constantes. Q uand o a notícia de que Saul havia profetizado com os profetas es­ palhou-se, alguns de seus am igos falaram dele com desdém (1 Sm 10:11-13). Não há evidência alguma de que Saul fosse exces­ sivam ente p erverso , mas era um a pessoa m undana, não espiritual, o últim o hom em que seus amigos esperavam ver tendo expe­ riências desse tipo. A pergunta: "Está tam ­ bém Saul entre os profetas?" passou a ser usada sem pre que alguém fazia algo que, para sua personalidade, era incom um e ines­ perado. U m a v e z que os profetas muitas vezes herdavam o m inistério de seus pais (Am 7 :1 4 ) e eles próprios eram cham ados de "pais" (2 Rs 2 :1 2 ; 6 :2 ), a segunda per­ gunta foi: "Q u e m é o pai deles?" M esm o depois de Saul ter sido apresentado ao povo com o seu rei, nem todos em Israel se im­ pressionaram com ele (1 Sm 10:27). Saul voltou para casa e retom ou o tra­ balho no cam po, co m o se nada de extraor­ d in ário tivesse o co rrid o . N ão disse co isa algum a à fam ília sobre ter sido ungido rei e, ao que p a rece , a n o tícia de suas e x p e ­ riências proféticas não chegou a G ib e á. O s aco n te cim e n to s dos dias anterio res d eve­ riam ter m ostrado a Saul que D eus estava com ele (v. 7) e que cu idaria dele, suprindo suas necessidad es, se co nfiasse no Senhor 224 1 SAMUEL 7 - 1 1 e o b ed ecesse a ele. Saul tam bém deveria ter p e rc e b id o q u e p o d e ria c o n fia r que Samuel lhe transmitiria a mensagem de Deus e que desobedecer a Samuel significava de­ sobedecer ao Senhor. M ais um a tarefa aguar­ dava a Saul, e era ela en co ntrar-se com Sam uel um G ilg al em data que lhe seria mostrada (v. 8). Tratava-se de um teste para determ inar se Saul era, verdadeiram ente, de­ dicado ao Senhor e se estava disposto a aca­ tar ordens. Infelizm ente, Saul foi reprovado. S a m u el apresenta S a u l a o p o v o (10:172 7 ). Samuel convocou outra assem bléia em M isp a, com o propó sito de ap resen tar o novo rei ao povo. Fiel a seu cham ado profé­ tico, Samuel com eçou pregando um serm ão e lem brando o povo de sua redenção do Egito pela graça e pelo poder de D eus, bem com o sua obrigação pactuai de o bedecer ao Senhor. Porém , os israelitas haviam deso­ bedecido ao pedir um rei! Haviam pecado, mas o Senhor atenderia seu pedido. Som ente Deus e Samuel sabiam que o rei já havia sido esco lhido e ungido, mas Samuel desejava que as tribos entendessem que Jeová estava no controle do processo de seleção. Pediu às tribos que se apresen­ tassem - provavelm ente pela representação de seus anciãos - , e a tribo de Benjam im foi selecionada. É possível que essa seleção te­ nha ocorrido lançando-se sortes (14:40-42) ou, talvez, um dos sacerdotes tenha usado o Urim e o Tumim para determ inar a vonta­ de do Senhor (Êx 2 8 :3 0 ). Em seguida, o clã de Matri foi selecionado e, desse clã, a famí­ lia de Q u is e, por fim, o jovem Saul. M as Saul havia d e sa p are cid o ! Sam uel teve de consultar o Senhor novam ente para descobrir que o rei estava escondido entre os carros e a bagagem. Por certo, uma forma nada au spiciosa de co m e ça r seu reinado! O fato de Saul ter se escondido foi provoca­ do por modéstia ou por medo? Provavelm en­ te pelo m edo, já que a verdadeira humildade aceita a vontade de Deus e, ao mesm o tem­ po, depend e da fo rça e da sab ed o ria do Senhor. C o m o disse A n d rew M urray: "A ver­ dadeira humildade não consiste em pensar sobre si mesm o de modo depreciativo, mas sim de nem sequer pensar em si m esm o". C aso Saul estivesse se concentrando na gló­ ria de Deus, teria se apresentado na assem­ bléia e aceitado hum ildem ente o cham ado do Senhor. Em seguida, pediria ao povo que orasse por ele e que o seguisse enquanto procuraria fazer a vontade de Deus. O prim eiro ato oficial de Saul indicou que o futuro seria problem ático. Saul foi um governante cheio de relutância, que seguiu as em oções em vez de fortalecer a fé. Num instante servia com o soldado corajoso e al­ truísta e, no m om ento seguinte, não passa­ va de um au to crata e g o cên trico . Evitar a aclam ação nacional é um a coisa, mas evitar a responsabilidade recebida de Deus é ou­ tra bem diferente. Nas palavras de G . Cam p­ bell M organ: "Se Deus cham ou um homem para reinar, esse indivíduo não tem direito algum de se escon der".4 Samuel fez o que pôde para consertar a situação em baraço­ sa. A presentou Saul com o o rei escolhido por D eus, de m odo que a nação teve de aceitá-lo, e destacou as características físi­ cas adm iráveis de Saul. O povo ficou impressionado, mas, certam ente, Samuel sabia que não era preciso ser um hom em alto e mus­ culoso para realizar a obra do Senhor. Alguns anos depois, D eus usou o adolescente Davi para matar um gigante (ver Sl 147:1 0 ,1 1 )! A coisa mais sábia que Sam uel fez na­ quele dia foi ligar a m onarquia à aliança di­ v in a (1 Sm 1 0 :2 5 ). Seu p rim eiro discurso sobre o rei havia sido negativo (1 Sm 8:1018), mas este discurso e docum ento foram positivos e ressaltaram os deveres tanto dc rei quanto do povo. Sem dúvid a, S am u d tom ou com o ponto de partida as palavras de M o isés em D e u te ro n ô m io 17:14-20 e lembrou o povo de que mesm o o rei de\eria sujeitar-se ao S enh o r e a sua Palavra_ H avia um só D eus, uma só nação e uma aliança, e o Senhor ainda está no poder. Term inada a assem bléia, todos voltar para casa, inclusive o rei, acom panhado um grupo de valentes que se tornaram s oficiais e seus homens de confiança. Seg ram Saul, porque D eus lhes tocou o c~ ção. Alguns do povo deram presentes a S co m o sinal de re ve rên cia ao rei, mas u grupo o desprezou e rid icularizo u . Co 1 SAMUEL 7 - 1 1 Saul poderia tê-los tratado com severidaT ia s preferiu calar-se, No entanto, poste- lente, m ostrou-se disposto a m atar o 0 filho, jônatas, pelo simples fato de o haver co m ido um pouco de mel! A ilidade em ocional de Saul fez com que sse por Davi um dia e tentasse matá-lo outro. O s e r v iç o d o S en h o r Sm 1 1 : 1 - 1 5 ) dos motivos pelos quais Israel pediu um *oi para que a nação se unisse sob um ■ e tivesse m ais o p o rtu n id a d e de en.tar os inimigos. O Senhor aceitou desao nível de incredulidade dos israelitas e lhes um rei com a aparência de um guernato. Infelizm ente, o povo de D eus connum homem feito de pó, alguém a quem sem admirar. No entanto, a nação não no Senhor que, ao longo de toda a hisde Israel, havia se mostrado poderoso favor de seu povo. Em sua graça, Deus a Saul uma oportunidade de mostrar seu :er e de consolidar sua autoridade. O desa fio (vv. 1-3). O s am onitas eram endentes de Ló, o sobrinho de Abraão 1 9 :3 0 -3 8 ) e, p o rta n to , p a ren te dos 225 de reunir um exé rcito . É interessante que ninguém de Jabes-Gileade respondeu à co n­ vo cação para juntar-se ao exército quando a nação teve de castigar a perversidade de G ilead e em Benjam im (Jz 2 1 :8, 9), mas agora estavam p ed ind o que seu s co m p atrio tas israelitas os salvassem! A co n q u ista (vv. 4-11). E estranho que os mensageiros de Jabes-Gileade não tenham se apressado a entrar em contato prim eira­ m ente co m S am u e l e Saul. Seu p ro fe ta, Samuel, havia orado, e Deus havia dado a vitória sobre os filisteus; seu novo rei, Saul, tinha consigo criar o núcleo de um exército. Levaria algum tem po para os israelitas se acostum arem com a nova form a de gover­ no. Q uand o recebeu a notícia, Saul estava arando um cam po com uma junta de bois. O s israelitas eram co nhecidos por suas ex­ pressões ruidosas e veem entes de tristeza, e, quando Saul ouviu o povo chorando, per­ guntou o que havia acontecido. O rei mal havia entendido a situação quando recebeu uma dádiva do Espírito de Deus e seu espíri­ to encheu-se de indignação justa ao ver algo assim ocorrendo em Israel. No mesm o instante, Saul entrou em ação e usou um modo dram ático para enviar aos se su b m e te sse m ao castig o incapate de ter o olho direito vazado. Arquei- hom ens de sua nação a mensagem de que Israel precisava deles para lutar. (C o m pare essa passagem com aquilo que o levita de Juízes 19 fez.) Além disso, ao enviar a co n­ v o cação , identificou-se com Sam uel, pois ele e Sam uel estavam trab alh an d o ju n to s. O Senhor operou em favor de Saul ao co locar o tem or no coração do povo, de modo que trezentos e trinta mil hom ens se reuniram para a batalha. Saul juntou o exército em Bezeque, a cerca de trinta e dois quilôm e­ e espadachins ficariam em desvantagem com bates e todos seriam humilhados e ados com o prisioneiros de guerra derJ s. Sem precisar matar um só israelita, : poderia subjugar a cidade, tomar suas ~zas e escravizar o povo. tros de Jabes-Gileade e, em seguida, enviou um a m ensagem à cid ad e avisand o que o socorro estava a cam inho e que o exército chegaria lá no dia seguinte, por volta do meio da m anhã. O s habitantes da cidade usaram de astúcia e disseram aos am onitas que se O s anciãos da cidade mostraram sabe1 ao pedir um a sem ana de p razo , na ança de encontrar alguém que pudes- entregariam no dia seguinte, dando a Naás a falsa segurança que levou seu exército a baixar a guarda. E possível que Saul co n h e c e sse a his­ tória de G id e ã o e de sua vitó ria sobre os itas. O perigo que Naás ("serpente") e exército representavam contribuiu para os israelitas pedissem um rei; agora, ' - encontrava-se acam pado ao redor de ileade, cidade a cerca de oitenta quitros da casa de Saul. Em vez de dar inía um cerco longo e dispendioso, Naás :eu negociar com o povo da cidade e ar os habitantes. Tudo o que exigiu foi íalvá-los, e Naás co n co rd o u , pensando os pobres israelitas não seriam capazes 226 1 SAMUEL 7 - 1 1 m idianitas, um a v e z que, assim co m o G i­ deão, ele dividiu seu exército em três partes e atacou durante a noite (Jz 7 :1 6 , 19). A vigilha da manhã ia das duas às seis, de modo que ele pegou o exército inimigo de surpresa e o aniquilou. Saul foi bem -sucedido, pois recebeu o poder do Espirito de D eus, que usou os talentos naturais de Saul, mas tam­ bém lhe deu a sabedoria e a força n ecessá­ rias. C om andar um exército de trezentos e trinta mil hom ens não era fácil, mas Deus deu a vitória. A vontade de D eus jam ais nos co ndu zirá a um lugar onde a graça de Deus não possa nos guardar e usar. Q uand o Saul foi escolhido rei, recebeu autoridade de D eus e de Israel, mas quando conquistou essa grande vitória, alcanço u a grandeza diante do povo. Um verdadeiro lí­ der precisa das duas coisas. As dificuldades com eçaram mais tarde, quando a soberba de Saul cresceu e sua autoridade com eçou a destruir seu caráter e grandeza. Davi sentia-se hum ilhado por seu sucesso, mas Saul tornou-se cada vez mais orgulhoso e abusivo. Adm iram os Saul por não usar essa vitória com o form a de livrar-se dos inimigos, mas sim com o um meio de glorificar ao Senhor (1 Sm 1 1 :1 3 ; Lv 1 9 :1 8 ; Rm 1 2 :1 7 ). O s ver­ dadeiros líderes usam sua autoridade para honrar a Deus e para edificar seu povo, mas os líderes fracos usam o povo para aum en­ tar sua autoridade. M ais adiante, foi isso o que Saul com eçou a fazer e foi o que o con­ duziu a seu fracasso. 1. Sam uel aproveitou a o portunidade para ajuntar a nação , dar graças ao Senhor e con­ firm ar Saul e seu reinado. O s israelitas reuniram-se em G ilgal, próxim o ao rio Jordão, lugar que trazia lem branças solenes ao po\ c de D e u s (Js 4 :1 9 - 5 :1 1 ; 7 :1 6 ; 1 0 :8 -1 5 ; 1 3 :4 ). N a assem bléia em M ispa, aceitaram o rei que D eu s havia lhes dado, mas em G ilgal confirm aram Saul com o seu rei diarte do S en h o r (1 Sm 1 2 :1 ). N o sso termo m o d e rn o para isso se ria " c o ro a ç ã o " . As ofertas p a cíficas faziam parte de um a c e r m ônia da aliança na qual o povo oferecia sacrifício s a D eu s e, depois, fazia uma re­ feição com algum as p o rçõ es dos anim a i que haviam entregue ao Senhor. Estava cla­ ro para todos que o rei e a n ação haviam entrado num relacionam ento renovado de alian ça co m o Senhor e tinham a responsa­ bilidade de o b e d ecer a ele. Sam uel havia ungido Saul em partícula(1 0 :1 ) e depois o apresentara ao povo (v .. 17-27), e então, co nd uzind o Israel num a : :» de con sag ração ao Senhor. Foi um a o ca­ sião de reavivam ento espiritual e de reg:z ijo nacio n al. Saul havia passado em s e u prim eiro teste, mas não tardaria a fracassa' num teste m uito mais sim ples, perdendo se.i reino. A n d re w Bonar, um hom em tem er-e a D eus, co stum ava d ize r: "P erm an eçam :^ tão vigilantes depois da vitó ria quanto an­ tes da batalha". Saul ven ceu sua prim eira batalha, perderia a vitória. O gesto d e derram ar água tam bém pode ser considerado uma libação, sim bolizando a consagração total ao Senhor, pois vez que os líquidos são derramados, não podem m ais ser recuperados. V er Salm o 6 2 :8 ; Lam entações 2 :1 9 ; Filipenses t . 2 Tim óteo 4 :6 .0 único jejum oficial no calendário de Israel ocorria no Dia da Expiação, mas isso não impedia o povo de em outras épocas do ano. A situação era crítica, e a nação precisava confessar-se honestam ente ao Senhor. 2. A nação de Israel rejeitou o Deus Pai quando pediu um rei; o Deus Filho quando disse: "N ão temos rei, senão César" (Jo 19:1 3. "Vo ltar a Betei" significa voltar para o Senhor. Foi o que fizeram Abraão (1 Sm 1 2 :8 ; 13:1-4) e Jacó (G n 2 8 :1 8 , 19; 35:1 4. The W estminster Pulpit. Londres: Pickering and Inglis, s.d., vol. 9, p. 14. e o Deus Espírito Santo quando apedrejou Estêvão (A t 7:51-60). 4 R e c a p it u l a ç ã o R epreen sã o 1 Sam uel e 12-13 aul e o povo se regozijaram grandem en­ te com o livramento de Jabes-Gileade das r ; dos am onitas, e Saul teve o cuidado car a glória ao Senhor (1 1 :1 3 ). Samuel a vitória com o um a grande oportunida­ de "[renovar] ali o reino" (v. 14) e de lemL' ao povo que o D eus Jeová ainda era Rei. O fato de Saul ter com andado o :x it o num a grande vitória seria um a tenpara os israelitas depositarem sua fé seu novo rei, e Samuel desejava que o •o sucesso de Israel se baseasse na cona somente em Jeová. O rei era apenas servo de D eus para o povo, e tanto o rei 3-anto o povo deveriam o b ed ecer à alian:o m D eus. Em sua mensagem de despe­ di, Samuel defendeu o próprio ministério 2:1-5), recapitulou as m isericórdias de Deus fe r a com Israel (vv. 6-11) e adm oestou o po•r. -- temer ao Senhor e a obedecer à alian­ ça .v . 12-25). Samuel m encionou o nom e Senhor pelo menos trinta vezes em sua » e - ;a g e m , pois o desejo de seu co ração «Tí ver o povo voltar para o Senhor e honrar aliança. ' .A IN T E G R ID A D E D E U M L ÍD E R 1 S m 12:1-5) Dedir um rei, o povo havia rejeitado a ania de Jeová e a liderança de Sam uel, h fm o dos ju íze s (1 Sm 7 :6 , 1 5-1 7). D eve -er ; do doloroso para Sam uel realizar essa a assem bléia co m o líder e transferir a toridade civil a Saul. Sem dúvida havia ,jd o e sp e ra n ça s de que seus filho s o ed eriam , mas eles seq u e r foram c o n ­ dados (8:1-3). A s do ze tribos haviam sigovernadas por ju íz e s durante q u ase q u inh en to s ano s, mas os tem pos haviam m udado, e o povo queria um rei. Antes de deixar seu cargo de ju iz, Samuel precisava esclarecer tudo o que havia se passado e dar testemunho de que suas mãos estavam lim pas, e o povo não poderia encontrar nele culpa alguma. Para m uitos dos que estavam naquela asse m b lé ia, Sam uel sem pre havia estado presente. Alguns o conheciam desde m eni­ no e, mais tarde, com o o rapaz em Siló que aprendia a servir com o sacerdote, enquan­ to outros se lembravam de quando ele havia com eçad o a proclam ar a Palavra do Senhor (3 :2 0 ). H a v ia ca m in h ad o diante do povo quase toda a sua vida e, agora, estava dian­ te deles "[e n v e lh e c id o ]... cheio de cãs" e desafiando-os a acusá-lo de usar sua auto­ ridade em benefício próprio. As palavras: "Eism e aq u i" (1 2 :3 ) lem b ram a re sp o sta de Sam uel na noite em que o Senhor o cha­ mou (3:4-6, 8, 16). No O riente, esperava-se que as autoridades civis usassem seus cargos para ganhar dinheiro, mas Samuel não ha­ via seguido esse cam inho. Ele obedeceu à lei de M oisés e m anteve as mãos limpas (Êx 2 0 :1 7 ; 22:1-4, 9; 2 3 :8 ; Lv 1 9 :1 3 ; Dt 1 6 :1 9 ; 2 4 :1 4 ). Tendo um exem plo tão piedoso dian­ te de si, nós nos perguntamos o que teria le­ vado os filhos de Samuel a aceitar subornos. A ssim co m o Jesus, Sam uel colocou-se diante do povo e perguntou: "Q u em dentre vós me co nvence de pecado?" (Jo 8 :4 6 ). O povo ouviu o que Samuel disse e deu teste­ m unho de que ele havia falado a verdade. Sam uel era um hom em íntegro, enquanto Saul se m o straria um hom em h ip ó crita e doble. Q uand o a assem bléia deu seu voto de co nfiança a Sam uel, o profeta cham ou o Senhor e o novo rei para servirem de teste­ munhas daquilo que o povo havia dito. Se, em algum m om ento, o povo m udasse de idéia, teria de tratar com D eus e com seu rei escolhido! É m aravilhoso chegar aos anos finais e poder recapitular a vida e o ministério sem medo nem vergonha. Q u e todos possamos d ize r com o Jesus C risto: "Eu te glorifiquei na terra, consum ando a obra que me confíaste para fazer" (Jo 1 7:4). 228 2. A I N I Q Ü I D A D E (1 S m 12:6-25) 1 SAMUEL 1 2 - 1 3 DE UM A N AÇÃO Um a vez que afirmaram a credibilidade de Sam uel, os israelitas tiveram de a ce ita r a análise dele acerca da situação em que se encontravam . Sam uel recapitulou a história de Isra e l d e sd e M o isé s até seu s d ias e enfatizou aquilo que o Senhor, em sua gra­ ça, havia feito por seu povo. A g ra d e ce i ao S e n h o r (vv. 6-11). D eus e não o povo - é quem havia n o m eado M oisés e A rão (v. 6) e quem os capacitara deuses de seus vizinhos, de modo que Deus precisou discipliná-los (vv. 9-11). Entramos assim , no Livro de Ju íze s, com seus sete ciclo s de d esobediên cia, disciplina e livra­ mento (Jz 2:10-23). D e acordo com o argu­ m ento de Sam uel, D eus sem pre proveu um líder quando necessário, e a nação não te­ ria precisado de um ju iz se o povo tivesse sido fiel a D eus. Em 1 Samuel 12:11, Jerubaa ("q u e Baal co n te n d a [p o r si m e sm o ]") ■ ** G id eão e, em algum ass versões, Baraqu é cham ado de Bedã. Samuel incluiu-se ra para os feitos poderosos que haviam reali­ zado em favor do povo de Israel. Sam uel não tinha medo de mostrar os pecados de Israel e, em seguida, de desafiar o povo a consagrar-se ao Senhor e à sua aliança. A l­ guém disse que aprendem os com a história que não aprendem os co isa algum a com a história; Samuel não queria que o povo co ­ m etesse esse erro. Porém , seu discurso foi mais do que uma aula de história; tam bém foi um julgam ento. As palavras de Sam uel, no versículo 7, têm tom jud icial: "ponde-vos aqui" dá a idéia de pôr-se de pé no início de uma audiência e "pleitear" significa "resolver um caso de lití­ gio". Samuel iria provar ao povo que havia sido justo e fiel em tudo o que havia feito por Israel, mas os israelitas haviam sido in­ fiéis e desobedientes. O Senhor entrara em aliança som ente com Israel, e a obediência de Israel a essa a lia n ça po ssib ilitava que desfrutassem as b ên ção s que D eus havia prom etido. Essas bênçãos incluíam viver na Terra Prom etida, ser protegidos dos inimigos e ter cam p o s, rebanhos e fam ílias férteis. lista, pois foi o último ju iz (7:15). Tem ei ao S e n h o r (vv. 12-19). Q ual de­ veria ter sido a reação de Israel diante ce uma história nacional co m o essa? Deverian? Se não obedecessem , o Senhor os discipli­ naria e reteria suas bênçãos. (Ver D t 28 30 e Lv 2 6 .) Todo israelita sabia disso, mas nem todos co m preendiam , de fato, o que isso significava. Q u an d o estavam no Egito, os hebreus clam aram ao Senhor por socorro, e ele lhes enviou M oisés e A rão (1 Sm 1 2 :8 ). D eus li­ bertou o povo e o conduziu até C anaã, dan­ do-lhe vitória sobre os habitantes da terra. Porém, uma vez que estavam assentados na terra prometida, os israelitas tornaram-se con­ descendentes e passaram a adorar os falsos m ilagre nos lem bra dos sinais realizados M oisés e A rão no Egito. Sam uel estava vando aos israelitas que D eus era capaz fazer qualquer coisa por eles se confias no Senho r e se o b e d ecesse m a ele, sem D eu s um sim ples rei era im pote Q u an d o os israelitas im ploraram a Sa por livram ento, agiram de m odo pare com o Faraó, que confessou seu pecado suplicou a M oisés por alívio (Êx 8 :8 ; 2 8 ; 1 0 :1 6 , 1 7), e é bem provável que arrependim ento fosse tão insin cero q to o do Faraó. ter expressado gratidão ao Senhor e confia­ do que ele continuaria a cuidar de seu po\c Deveriam ter confessado seu pecado de ir'credulidade e crido som ente em D eus. Mas em vez disso, o que fizeram ? Assim que os am onitas atacaram , os israelitas pediram u~ rei e trocaram o governo do Senhor, seu R ei pela liderança de um simples homem ! D e ^ lhes deu o que pediram , mas, nessa transa ção, Israel saiu em desvantagem . Porém , nem tudo estava perdido. De^.-nunca é pego de surpresa e, por am or ce seu nom e, não iria desertar seu povo. Se : povo tem esse ao Senhor e o seguisse, continuaria a cuidar de Israel e usaria rei para guiá-los e protegê-los. Em segu: Sam uel dem onstrou o poder extraordi rio do Senhor ao orar, e, em resposta a pedido, D eus fez cair uma tem pestade m eio da estação seca da colheita do t(m eados de m aio a m eados de ju n h o ). E; 1 SAMUEL 1 2 - 1 3 O b e d e c e i a o S e n h o r (vv. 20-25). Samuel : assou do im perativo "T e m e i" para "N ão ■emais", ao incentivar o povo a aceitar a si• ja ç ã o que sua in c re d u lid a d e lhes havia :-iado e a aproveitar-se dela ao m áxim o. Quantas vezes, em nossa vida, recebem os algo que gostaríamos de não ter pedido! Por :au sa de sua santa aliança e de sua grande ■ delidade, o Senhor não rejeitaria nem abannonaria seu povo. O propósito de D eus era .s a r Israel para glorificar seu nom e, um proc-ósito que ele cum priria. O povo de Israel ro nhecia os term os da alian ça: se obede:essem , o Senhor os ab ençoaria; se deso-edecessem , o Senhor os disciplinaria. De .m a form a ou de outra, Deus seria fiel a sua r alavra; a questão principal era se Israel se■a fiel. O s israelitas haviam com etido um . mas D eus os ajudaria, se o tem essem >e obedecessem a ele. Samuel deixou claro que, qualquer que a decisão do povo, ele obedeceria ao hor. Parte dessa o b e d iê n cia co nsistiria orar fielm ente pelo povo e em ensinara Palavra de D eus. A oração e a Palavra D eus sem pre andam juntas (At 6 :4 ; Jo 15: 7; Ef 6 :1 7 , 18). O coração de Sam uel esm a ferido, mas com o servo fiel do Senhor, r-erced eu pelo povo e procurou conduzib r»elo cam inho certo. Para o povo de D eus, re xar de orar é pecar contra o Senhor e, no í^ :anto, se há um a coisa faltando nas igrei í de hoje é a oração, especialm ente a ora:ão por aq ueles que exercem autoridade 1 Tm 2:1-4). Ao pensar nas grandes coisas que Deus fez por nós, que outra atitude poderíam os I B ’ senão temê-lo, agradecer a ele e servir-lhe *r~\ verdade todos os dias de nossa vida? A i ança de Deus com Israel ainda estava em .tgor: se o bedecessem , ele os abençoaria, : se desobedecessem , ele os disciplinaria, íam u el advertiu: "Se, porém , perseverardes ■n fazer o mal, perecereis, tanto vós com o I .osso rei" (1 Sm 1 2 :2 5 ). É possível que Samue! e stive sse se referin d o e sp e cifica_ ente à advertência dada por M oisés em r e jt e r o n ô m io 2 8 :3 6 , in clu íd a na aliança óculos antes de Israel ter um rei: " O S e n h o r r evará e o teu rei que tiveres constituído 229 sobre ti a uma gente que não conheceste, nem tu, nem teus pais". Infelizm ente, Israel desobedeceu aos term os da aliança, e Deus teve de e n viar seu povo para o exílio na Babilônia. D e tempos em tem pos, as igrejas e ou­ tros m inistérios cristãos enfrentam novas si­ tu a ç õ e s e d e c id e m q u e d e v e m e fe tu a r m udanças organizacionais. C ad a ministério precisa de um Samuel para lembrar seus mem­ bros dos princípios espirituais im utáveis: o caráter de D eus, a Palavra de D eus, a neces­ sidade da fé e a im portância da obediência. O s métodos são muitos, os princípios são poucos. O s métodos sempre mudam, os princí­ pios nunca se alteram. Co m o dizia o antigo lem a do ministério M o­ cidade para Cristo: "Ligados a nosso tempo, mas ancorados à Rocha". Algum as mudan­ ças são inevitáveis e necessárias, mas nem por isso precisam destruir a obra de Deus. 3. A IR R E S P O N S A B IL ID A D E D O R EI ( 1 Sm 1 3 : 1 - 1 4 ) A narrativa dos capítulos 1 3 - 1 5 concentrase no início do reinado de Saul, esp e cial­ m ente em seu relacionam ento com D eus e com Sam uel. Vem os Saul tom ando decisões tolas e im prudentes e tentando encobrir sua desobediência com mentiras. Foi o com eço de um declínio trágico, que term inou na casa de uma feiticeira e com o suicídio de Saul no cam po de batalha. Davi entra em cena no capítulo 16, e o texto descreve os confli­ tos cada vez mais profundos de Saul com D eus, consigo m esm o e com D avi. Pode­ mos acom panhar os passos que conduziram o rei ao seu fracasso calam itoso. O rg u lh o (vv. 1-4). Saul havia reinado du­ rante dois anos quando co m e ço u a orga­ n iza r um e x é rcito p e rm a n e n te .2 M ais de trezentos mil homens haviam se voluntariado para livrar o povo de Jabes-Gileade (1 Sm 1 1 :8 ), mas Saul esco lheu ap enas três mil homens, com andando uma parte desse gru­ po e colocando o resto sob o com ando de seu filho, Jônatas. O acam pam ento de Saul 230 1 S A M U E L 12 - 13 ficava em M icm ás, e o de Jônatas, a cerca de vinte e cin co quilôm etros de lá, em G ibeá. O fato de Israel estar reunindo um exército co locou os filisteus em estado de alerta. A Filístia p o ssu ía g u a rn içõ e s em difere n te s partes do país e m onitorava a situação de perto. Jônatas nos é apresentado com o um sol­ dado valente e vitorioso. Seu ataque ao pos­ to avançado dos filisteus em G eb a foi uma declaração de guerra, e os filisteus não tar­ daram em responder. A ssim , teve início a guerra de libertação de Israel, que só chega­ ria ao fim durante o reinado de D avi. M as quem tocou a trom beta e, ao que parece, assumiu todo o crédito pela vitória? Saul, fi­ lho que Q uis! Em sua posição de co m an­ dante suprem o, com eçou a convo car mais hom ens, pois sabia que ainda havia muitas batalhas pela frente. C om o teria sido bom se Saul houvesse dado o devido crédito a seu filho corajoso! Por que Saul cham ou seus com patriotas israelitas de "os hebreus" em v e z de "ho ­ mens de Israel"? E possível que o nom e ti­ ve sse o rig em em Éb e r, a n te p a ssa d o de Abraão (G n 10:21), ou talvez viesse do termo que significa "atravessar". O s antepassados de A b raão foram aq u eles que "habitaram dalém [atravessaram] do Eufrates" (Js 2 4 :2 , 3). C a n a ã era a "te rra dos heb reu s" (G n 4 0 :1 5 ); os egípcios se recusavam a com er com "os hebreus" (G n 4 3 :3 2 ) e um egípcio "espancava um dos hebreus" (Êx 2 :1 1 ). Nas Escrituras, o term o é usado principalm ente por estrangeiros falando com israelitas ou sobre eles, ou, ainda, por israelitas falando sobre si m esm os a estrangeiros. Tem-se a im pressão de que, em várias ocasiões, "hebreu" é usado co m o um term o expressando desprezo. Será que Saul não respeitava seu povo? Q u alq u e r que tenha sido o m otivo para usar essa palavra, sua ordem foi clara: reúnam-se em Gilgal, no lugar indicado por Samuel (1 Sm 10:8ss). In c re d u lid a d e e im p a c iê n cia (vv. 5-9). A s tropas filistéias reuniram-se em M icm ás, cerca de trinta quilôm etros a oeste de G il­ gal, e era evidente que Saul e seu exército estavam em m inoria.3 O s hom ens de Saul com eçaram a se esconder e a abandonar o exército, atravessando o rio; os que ficaram estavam paralisado s de m edo. C o n fo rm e Samuel havia ordenado, Saul esperou sete dias (1 0 :8 ) e, quanto m ais esperava, mais preocupado ficava. Seu exército sum ia aos poucos, o inimigo se m obilizava, e a situa­ ção era desesperadora. Por que Sam uel dem orou? Estava ten­ tando faze r Saul fracassar ou apenas lem­ brando o novo rei de quem ainda estava no controle? Sam uel só teria a perder se Saul fosse derrotado no cam po de batalha e sa­ bia que Deus dom inava a situação, mesmo depois de nom ear o novo rei. Além disso, aquela reunião havia sido m arcada uns dois anos antes (v. 8) e, sem dúvida, Samuel lem­ brara Saul desse com prom isso mais de uma vez. Esse encontro era uma forma d e Deus testar a fé e a paciência de Saul. Sem fé e sem paciência, não podem os receber aqui­ lo que o Senhor nos prom ete (H b 6 :1 2 ); a incredulidade e a im paciência são sinais de im aturidade espiritual (Tg 1:1-8). Até apren­ derm os a confiar em D eus e a esperar p e ;: tem po dele, não terem os co m o assim ila' outras lições que ele deseja nos ensinar, nem poderem os receber as bênçãos que ele tem re se rvad a s para nós. Saul podia ser b e n apessoado, forte e mais alto do que os os­ tros hom ens, mas se não tivesse o coração em ordem com Deus, não teria nada. Um a coisa é conquistar a vitória com andando uraf exército de mais de trezentos mil h o m e r; (1 Sm 11:8) e outra, bem diferente, é lutacom apenas seiscentos hom ens (v. 15)! é nesse m omento que a fé entra em cena. tj Saul não queria sair para a batalha antes o ferecer um sacrifício ao Senhor, que, em si, talvez fosse uma form a sutil superstição, com o levar a arca para a ba lha. Posteriorm ente, Sam uel lem brou a Sr que o Senhor deseja obediência, não sa~ fícios (1 5 :2 2 ). Sem esperar pelo sacerd designado por D eus, Saul ofereceu o sa fício , e, naq uele exato m om ento, Sam chegou ao acam pam ento . Se Saul tive esperado apenas mais alguns minutos, n de grave teria aco n te cid o , mas sua im ciência lhe custou caro. 1 SAMUEL 1 2 - 1 3 D issim u la çã o (vv. 10-12). À medida que : caráter de Saul se deteriora, pode-se vê-lo ertganando a si mesm o e a aos outros cada ez mais. Sua prim eira atitude dissim ulada em Gilgal ocorreu quando saudou Samuel : : 'dialmente, esperando que o sacerdote lhe :e sse uma bênção. Saul estava sendo hipócrita e agindo com o se não tivesse feito nada : e errad o . "S e d isserm o s que m antem os ram unhão com ele e andarm os nas trevas, -íentim os e não praticamos a verdade" (1 Jo I * ) . Sua segunda m entira foi culpar Samuel c os soldados, em vez de assum ir a respons-aoilidade. Era culpa de Samuel por sua de-Tora e cu lp a do exército por desertar de seu rei. Saul com eçou a frase com o verbo ken do ", o que ind ica que estava sendo : in d uzid o pelas aparências e não pela fé. Mentiu pela terceira v e z ao d izer q u e preciK * j obrigar-se a oferecer o sacrifício. Será zue não poderia ter se "forçado" a orar ou ; reunir alguns de seus oficiais a fim de supli­ car o auxílio do Senhor? A vontade obedeà m ente e ao coração, mas o raciocínio r : s desejos de Saul estavam inteiramente -ira da vontade de Deus. Q uem tem facilidade para inventar des:J p a s raramente fará qualquer outra coisa, e aqueles que são rápidos na hora de colo­ ra ' a culpa nos outros não devem reclam ar zuando os outros jogarem a culpa sobre eles. -dão culpou Eva, e Eva culpou a serpente, i a s nem Adão nem Eva declararam humilrem ente: "Peq uei". Ao longo de toda a sua zarreira, o rei Saul mostrou-se adepto da prá■ca de m inim izar os próprios pecados e de í'f a t iz a r os erros de outros, mas não é as- m que um hom em de Deus con duz o povo Ao Senhor. In se n sa te z (vv. 13, 14).* Foi insensatez :a parte de Saul pensar que poderia desozedecer a Deus e escapar incólum e, e que essa d e so b e d iê n cia traria as b ê n çã o s de Deus sobre ele e seu exército. "Pratiquem os -rales para que venham bens" (Rm 3 :8 ): essa é a lógica do inferno, não a lei do céu. Saul foi insensato ao concluir que o sacrifício de _m rei, na hora errada, era tão bom quanto : sacrifício de um sacerdote na hora certa. Foi insensato ao ser levado pelas aparências, 231 em vez de agir pela fé nas prom essas de D eus, "e tudo o que não provém de fé é p ecad o" (Rm 1 4 :2 3 ). Saul tinha o m esm o tipo de fé supersticiosa que os filhos de Eli demonstraram ao levar a arca para o cam po de batalha. Não sabia coisa alguma sobre a "obed iência por fé" (Rm 16:26). O orgulho, a im paciência, a desobediên­ cia e a dissim ulação de Saul foram vistos e julgados pelo Senhor, e Samuel declarou a sentença: um dia, a coroa seria tom ada de Saul e dada a outro, nesse caso, D avi. Saul continuaria a ser rei, mas não instituiria uma dinastia duradoura, e nenhum de seus filhos o sucederia no trono de Israel. Porém , mes­ mo que Saul não tivesse pecado, com o sua dinastia poderia durar "para sem pre" (1 Sm 1 3 :1 3 ) quando Saul era da tribo errada e D eu s já havia esco lhid o D avi para ser rei sobre Israel? U m a possível resposta é que Jônatas, o filho mais velho de Saul, poderia ter governado com Davi - o que, de fato, era o plano de D avi e Jônatas (1 Sm 2 0 :3 1 , 4 2 ; 23:16-18). E evidente que a dinastia de Davi instituiria a linhagem m essiânica, mas alguém da fam ília de Saul teria servido na corte junto com um rei davídico. O pecado de Saul em Gilgal custou-lhe a dinastia, e seu pecado envolvendo os amalequitas custou-lhe o reino. A cab ou perdendo a coroa e a vida (ver 1 5:16-34, especialm en­ te 23, 27-29; 16:1). Deus queria um rei cujo coração estive­ sse em ordem diante do Senhor, um homem com o coração de um pastor, e encontrou essa disp o sição em D avi (1 Sm 1 3 :1 4 ; Sl 7 8 :7 2 ; 8 9 :2 0 ; At 13:22). "Ao governar Israel, esse homem [Saul] não passava de um guerreiro, mas em mo­ mento algum foi um pastor", disse G . C am p­ bell M organ. D avi, por outro lado, possuía o co ra çã o de um pastor, pois o S en ho r era o seu Pastor (Sl 2 3 :1 ). D avi estava sob uma autoridade maior, de modo que tinha o di­ reito de exercer sua autoridade. 4. A IN S E G U R A N Ç A D E U M E X É R C IT O (1 S m 13:15-23) Saul havia fracassado terrivelm ente, mas, no capítulo 14, verem os o grande sucesso de 232 1 SAMUEL 1 2 - 1 3 Jônatas co m o com andante. Esta passagem d e sc re v e o triste e stad o do e x é rc ito de Israel, revelando quão inadequada era a li­ derança de Saul e quão extraordinária foi a vitória de Jônatas. Saul viveu pelas ap arên­ cias e quase não teve fé algum a, enquanto Jônatas viveu pela fé e fez grandes coisas para o Senhor. U m e x é rcito m in g u a d o (vv. 15, 16). Saul havia juntado mais de trezentos mil hom ens para resgatar o povo de Jab es-G ilead e e, depois, cortou o núm ero de soldados do exército perm anente para três mil. A essa altura, porém , não tinha mais do que seis­ centos hom ens. O exército filisteu era um "povo em multidão com o a areia que está à beira-mar" (v. 5), sím ile usada tam bém para o exército que G id eão enfrentou (Jz 7:12) e o exército de Saul era duas vezes m aior que o de G id eão ! A diferença não estava tanto no tam anho do exército, mas sim na força da fé de seu com andante. G id eão creu que o Senhor lhe daria a vitória, e D eus o h o n ro u ; Saul d e so b e d e ce u ao S en h o r, e Deus o castigou. Saul havia juntado um exér­ cito enorm e por m edo (1 1 :7 ), de m aneira que, quando seus hom ens passaram a te­ m er o inimigo em v e z do rei, com eçaram a desertar do acam pam ento e a procurar re­ fúgio. Jônatas sabia que Deus não precisava de g ra n d es n ú m e ro s p ara c u m p rir seus p ropó sitos (1 4 :6 ), mas que honrava um a grande fé. Um exé rcito a m ea ça d o (vv. 17, 18, 2 3 ). O s filisteus enviaram , repetidam ente, grupos de ataque para proteger as estradas e as pas­ sagens que os israelitas poderiam usar caso atacassem e, ao mesm o tempo, impediram que qualquer habitante da região ajudasse o exército de Israel. H avia três grupos desse tipo: um foi para o norte, em direção a O fra, outro se dirigiu para Bete-Horom, a oeste, e o terceiro foi para o leste, rumo a Zeboim . Um quarto destacam ento deslocou-se para o sul, em direção a G ib eá, a fim de evitar que o exército israelita subisse para G eb a (v. 23). Q u e esperança restava aos israelitas com todos esses soldados filisteus m oven­ do-se de um lado para outro na região? Para onde Israel se virasse, iria se deparar com o inimigo! No entanto, D eus usaria Jônatas e seu escu d eiro para conquistar uma grande vitória, pois para Deus nada é im possível. U m e x é rc ito d e s titu íd o (vv. 19-22). A falta de hom ens no exército de Saul era pro­ blem ática o suficiente, mas, pior ainda, era o fato de esses hom ens não estarem devi­ d am en te e q u ip a d o s. Q u a n d o os filisteu s invad iram e subjugaram a terra de Israel, deportaram todos os ferreiros para que os israelitas não pudessem co n feccio n ar armas nem co n sertar seus im plem entos agrícolas. Tin h am de pagar valo res e xo rb itan tes só para m andar afiar as ferram entas que usa­ vam no cam po. O s benjam itas ainda eram hábeis no uso de fundas (Jz 20:1 5, 1 6), mas as fundas não eram adequadas para com ­ bates a curta distância. A lém disso, o que poderiam fazer contra o grande núm ero de carro s do e xé rcito filisteu? O e xé rcito is­ raelita era pequeno em núm ero e em quan­ tidade de arm as, mas possuía um grande D e u s, caso se d isp u sesse a co n fia r nele. Tudo isso prepara o cen ário para a vitória em o cion an te de Jônatas, descrita no capí­ tulo 14, que contrasta com a triste derrota de seu pai no capítulo 15. A m aneira com o funciona ou deixa de funcionar a Igreja de Jesus Cristo hoje pode. por vezes, assemelhar-se ao exército de Saul, mas se esse é o caso, nós somos os únicos culpados. Por sua obra magnífica na cru z, c Senhor derrotou todos os inimigos e colo­ cou seu poder à disposição de seu povo. Tem os a arm adura e as armas de que preci­ samos (Ef 6:1 Oss), e sua Palavra nos diz tudc o que necessitam os saber sobre a estratégia do inimigo e sobre os recursos que temes em Cristo. O que ele nos pede é que con­ fiem os nele e que obedeçam os a suas o'dens, e ele nos ajudará a vencer a batalha. "Sede fortalecidos no Senhor e na for do seu poder" (Ef 6 :1 0 ) pois "do S e n h o r e guerra" (1 Sm 1 7:47). 1 SAMUEL 1 2 - 1 3 233 .As letras hebraicas que representam r e d , bem com o k e n são bastante parecidas, e um copista do m anuscrito hebraico poderia facilm ente se equivocar. O s m anuscritos originais das Escrituras são inspirados e inerrantes, mas é possível que pequenos erros num éricos e de ortografia tenham se infiltrado nas cópias. O texto hebraico de 1 Samuel 13:1 d iz: "Saul era filho de um ano em seu reinado e reinou dois anos sobre Israel", sem dúvida uma declaração enigm ática. Algumas versões d izem : "Saul estava com 30 anos de idade quando se tornou rei e reinou sobre Hrael durante quarenta e dois anos", mas esses núm eros não se encontram no texto original. O utras traduções dizem que ele estava com 40 anos de idade quando iniciou seu reinado e que reinou durante trinta e dois anos, números que, mais uma vez, não passam de conjecturas; ou ainda: "U m ano reinara Saul em Israel. No segundo ano de seu reinado sobre o povo, escolheu para si três mil hom ens de Israel" (1 Sm 13:1, 2). D e acordo com Paulo, Saul reinou quarenta anos (At 13 :2 1). U m a vez que iònatas, filho de Saul, tinha idade suficiente para ser o com andante do exército, é bem possível que Saul tivesse 40 anos de idade ou mais quando se tornou rei. Se reinou durante trinta anos, então estava com 70 anos de idade quando morreu. Alguns oonologistas conjecturaram que Saul nasceu em 1080 a .C . e subiu ao trono em 1050 a.C ., aos 30 anos de idade. Caso Saul lenha morrido aos 70 anos de idade, isso ocorreu no ano de 1010 a .C . Ver The Expositor's Bible Com m entary, vol. 3, p. 373, para a cronologia sugerida por Ronald Youngblood. E evidente que não existe consenso entre os estudiosos do Antigo Testamento, o que é com preensível, tendo em vista o fato de as inform ações factuais não serem com pletas. Nenhum a questão doutrinária é afetada por esse problem a. Assim com o o latim, a língua hebraica usa letras para representar números, de modo que era fácil os copistas se equivocarem . Alguns estudiosos acreditam que "trinta mil carros" é um erro de um escriba e que o número correto deve ser três mil. É possível que o / no final de Israel tenha sido copiado duas vezes, transformando desse m odo o núm ero "três" em "trinta". Nas guerras da Antiguidade, o número de soldados da cavalaria era sem pre m aior que o número de soldados que conduziam os carros, e a cavalaria do exército filisteu contava com um total de seis mil homens. Porém , qualquer que seja o número, o exército israelita sem dúvida era minoria diante do inimigo. Saul chamou-se de "louco " em 1 Sam uel 2 6 :2 1 , e Davi admitiu que havia procedido loucam ente ao fazer um censo do povo 12 Sm 24 :1 0 ; 1 C r 2 1 :8 ). A diferença é que Davi foi sincero em sua confissão, arrependendo-se verdadeiram ente de seu pecado. Em 2 Crô nicas 16:9, o profeta Hanani disse ao rei Asa que ele havia procedido loucam ente ao roubar do templo de Deus a fim de contratar soldados pagãos para lutar em suas batalhas. Toda desobediência a Deus é loucura e termina em fracasso e sofrimento. estab e le cer um novo posto avançado, a fim 5 U m e V o t o I n sen sa t o U m a D esc u lpa E sfa r r a pa d a 1 Sam uel 14-15 ão é nada agradável observar o declínio contínuo do rei Saul. O rei já havia de­ monstrado sua incredulidade e im paciência (cap. 13) e, agora, revela ainda mais de sua deso bediên cia e desonestidade. A história de Saul chega a seu auge quando o rei visi­ ta uma feiticeira e, depois, com ete suicídio no cam po de batalha. Sir W alter Scott esta­ va certo quando escreveu em seu poem a "M arm io n ": N Oh! que teias emaranhadas tecemos, Quando, primeiramente, a arte de enga­ nar praticamos! Estes capítulos nos ensinam três lições im­ portantes, às quais devem os dar ouvidos e obedecer, se desejam os a bênção de Deus em nossa vida e serviço. 1. A fé em D e u s r e d u n d a e m v it ó r ia (1 S m 1 4 : 1 - 2 3 ) O e n fo q u e d e ste c a p ítu lo vo lta-se para Jônatas, o filho mais velho de Saul que ven­ ceu a prim eira batalha principal contra os filisteus, vitória esta pela qual seu pai assu­ miu todo o crédito (13:1-7). É uma bênção extra o rd in ária da graça de D eu s que um homem com o Saul tivesse um filho tão ex­ ce le n te quanto Jônatas. Era um guerreiro valente (2 Sm 1:2 2 ), um líder nato e um ho­ mem de fé que procurou fazer a vontade de D eus. Com o desenrolar do relato, fica cla­ ro que Saul invejava Jônatas e sua populari­ dade e que essa inveja cresceu à m edida que Jônatas e D avi se tornaram am igos fiéis. Jô n a ta s in icia o a ta q u e (vv. 1-15). O s filiste u s en viaram um d e stacam e n to para de guardar a passagem em M icm ás (1 3 :23 ). e Jônatas co nsid ero u essa m ovim entação um a o portunidade para atacar e ver o Se­ nhor operar. Em sua incredulidade, Saul es­ tava hesitand o (1 4 :2 ), enquanto seu filhe estava agindo pela fé. D eus havia cham a­ do Saul para co m e ça r a libertar Israel dos filisteus, mas grande parte do tem po, o re só deu continuid ade ao que outros haviarr co m e çad o . A p esar de tudo o que o Senhor havia feito por ele e de tudo o que Sam uhavia lhe ensinado, Saul não era um hom ede fé que confiava em D eus e que procura­ va glorificá-lo. Saul tinha um sacerdote dc Senh o r que o servia, um hom em ch a m a c : A ías, da linhagem rejeitada de Eli (v. 3), mas o rei nunca esperava pelo co nselho do Se­ nhor (vv. 18-20). Saul é um exem plo tri5:r do hom em com um do m undo, que terra parecer religioso e faze r o trabalho do Se­ nhor, mas ao qual falta uma fé viva em De..: e um co ração que deseja honrá-lo. Infeliz­ m ente, a história da Igreja registra relatos de um núm ero e n o rm e de pessoas talen­ tosas que "usaram D e u s" para alcançar oi próprios objetivos, m as que, no final, aba'donaram o Senhor e term inaram seus d as em desonra. Por que Jônatas não contou ao pai tinha um plano para derrotar o inimigo? que, em sua incredulidade, Saul teria \ do um em preendim ento de fé tão ousa e Jônatas não q u eria d isco rd ar dele n mom ento tão crítico. É possível que Jôna tenha sido insubo rdinado a seu pai e m andante, mas ainda assim seu plano era abordagem mais sensata. C om sua falsa s e * sação de segurança, as tropas filistéias novo posto avan çad o não se assustari com um par de israelitas que conseguis' atravessar a passagem e escalar os pen cos. O s guardas poderiam pensar que er dois israelitas querendo desertar do exérci­ to de Israel e se refugiar junto ao inimi Jônatas não estava prestes a deixar que inimigo atacasse primeiro. É impossível não admirar Jônatas por fé no Senhor. Talvez, ao escalar as roc ele tenha meditado nas promessas de vit~ 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 is por D eus na aliança. "Perseguireis os s inim igos, e cairão à espada diante . ós. C inco de vós perseguirão a cem , e dentre vós perseguirão a dez m il; e os ~s inimigos cairão à espada diante de ' (Lv 2 6 :7 , 8; ver Dt 2 8 :7 ). Agir sem pro­ sa s é presunção e não fé, mas quando :em as prom essas de D eus, pode-se avancom plen a c o n fia n ç a . "P o rv e n tu ra , o OR nos ajudará nisto, porque para o S enenhum im pedim ento há de livrar com to s ou com poucos" (1 Sm 14 :6 ; ver Jz 6 7 " Se Deus é por nós, quem será contra ? ' (Rm 8 :3 1 ). Porém , o plano de ataque de Jônatas a do plano de G id eão em pelo menos aspectos: não era um ataque surpresa nte a noite e ele e seu escudeiro deixa, p ro p o sita d a m e n te , que os guardas eus os vissem . Era a reação dos guardas daria a Jônatas a orientação de que prea v a .1 Jô n a ta s d e v e ria e s p e ra r q u e os teu s fossem até onde estava ou deveria ontrar-se com eles em território inimigo? ndo os dois hom ens se revelaram ao igo, os filisteus apenas riram e zombadeles. Trataram-nos com o anim ais assuss que haviam acabado de sair da toca com o soldados desertando da causa de I e se juntando ao exército filisteu. Esse tipo de arrogância tão autoconfianera exatam ente o que Jônatas queria ver, foi o que deu a ele e a seu escudeiro a tunidade de se aproxim arem dos guarantes de atacar. Q u em teria m edo de soldado acom p an h ad o do escudeiro? esses dois hom ens tinham , a seu lado, Deus Todo-Poderoso! "U m só homem denvós perseguirá mil, pois o S e n h o r , v o s s o s, é quem peleja por vós, com o já vos neteu" (Js 2 3 :1 0 ). O s dois israelitas co;os mataram rapidam ente vinte homens, d Senhor honrou sua fé enviando um terito! "M as o S e n h o r , teu D eus, tas entre' e lhes infligirá grande confusão, até que am destruídas [as nações inim igasj" (D t ~:23). O acam pam ento inimigo foi tomado terror e de confusão, preparando, assim, caminho para um a grande vitória do exérde Israel. 235 S a u l assiste à batalha (vv. 16-19). Saul e seus seiscentos hom ens estavam de volta em G ibeá, onde Saul vivia, e as sentinelas nas muralhas da cidade eram capazes de ver as fo rças filistéias re tro ced en d o , mas não ti­ nham com o explicar o motivo dessa retirada. Será que parte do exército de Israel havia planejado um ataque furtivo sem a perm is­ são de Saul? Q u em estava fáltando? Jônatas e seu e scu d e iro ! Era a segu n d a v e z que Jônatas agia por co n ta própria (1 3 :3 ), e é provável que irritasse Saul saber que o filho era tão independente. A o estudar a vida de Saul, en co ntram o s ca d a v e z mais e vid ên ­ cias de que ele era obcecad o pelo controle. Invejava o sucesso de outros, suspeitava de qualquer estratégia que ele próprio não ti­ vesse criado ou, pelo menos, aprovado e era im pied oso quando se tratava de rem over pessoas que desafiavam sua lideran ça ou que tornavam clara a sua insensatez. Saul pediu ao sacerdote que lhe trou­ xesse a arca do S en h o r e, de ce rto , tam ­ bém a estola sa ce rd o ta l.2 É bem possível que estivesse planejando levar a arca para o cam po de batalha com o exército - uma tática im prudente que só havia trazido ju l­ gam ento no tem po de Eli (cap. 4). Enquan­ to isso, o sacerdo te poderia usar a estola para determ inar a vontade de D eus naque­ la situação. Porém , o sacerdote nem sequer teve a ch an ce de desco brir qual era a von­ tade de D eus, pois assim que Saul ouviu o barulho da batalha aum entando, interrom ­ peu os pro cedim entos religiosos e tomou sua decisão . M ais um a v e z, a im paciên cia e a a u to c o n fia n ç a de Saul m ostraram -se mais fortes, e ele agiu sem saber qual era a vontade de D eus e sem receb er a bênção do Senhor (D t 2 0 :4 , 5). Estava terrivelm en­ te ansioso para provar que era um soldado tão com p etente quanto Jônatas, e seu dese­ jo mais ardente era vingar-se dos inimigos (1 Sm 1 4 :2 4 ). Saul apressou-se ao cam po de batalha esp iritu alm en te d esp reparado , não para honrar a D eus, mas para cum prir os próprios objetivos. Isra e l entra na batalha (vv. 20-23). Q u an ­ do Saul e seu exé rcito deslocaram -se em direção à batalha, receberam reforços dos 236 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 israelitas que haviam desertado para o acam ­ pamento inimigo (v. 21) e dos hom ens que haviam fugido do com bate e se escondido (v. 2 2 ). Ficam o s im aginando que tipo de soldados eram esses desistentes e com o se saíram na batalha. O fato de Saul ter aceitado esses homens de volta pode indicar que es­ tava co nfiando em seu exército e não no Senhor. Seiscentos soldados não constituem um grande exército, de modo que ele rece­ beu, de bom grado, até o mais fraco dos hom ens que quisesse voltar. No entanto, em poucas horas, Saul estaria disposto a matar o próprio filho por haver com ido um pouco de mel e quebrado o voto insensato do pai! O desequilíbrio em ocional de Saul e seu ra­ cio cín io contrad itó rio apareciam repetid a­ mente e causaram grandes estragos em seu reino. Um dia ele avançava im petuosam en­ te com o um cavalo; no dia seguinte, em pa­ cava feito uma mula (Sl 3 2 :9 ). Não foi Saul com seu exército que ven­ ceu a batalha, mas sim o Senhor, que usou Jônatas e seu escud eiro (1 Sm 1 4 :2 3 , ver 1 4 :6 , 12 e 45 ). O exército israelita perse­ guiu os filisteus pelos quase vinte quilôm e­ tros de M icm ás até Bete-Áven, e o Senhor os capacitou a derrotar o inim igo. M as o exército de Saul havia entrado na batalha tão tarde e os hom ens estavam tão fracos e fam intos que não conseguiram obter uma vitória d ecisiva (v. 3 0 ). U m a das m arcas do verdadeiro líder é saber quando agir, e Saul havia perdido tem po assistindo à batalha de longe em v e z de buscar a vontade do Senhor. 2. P a l a v r a s in s e n s a t a s r e d u n d a m t r a n sto r n o s em (1 Sm 14:24-52) O estado espiritual de nosso coração revela-se não apenas por nossos atos, mas tam ­ bém por nossas palavras. "Porque a boca fala do que está cheio o co ração" (M t 12:34). Q uando lemos as palavras do rei Saul registra­ das nas Escrituras, elas revelam, com freqüên­ cia, um co ra ção co ntrolado pelo orgulho, pela insensatez e pela dissim ulação. D izia coisas tolas para impressionar as pessoas com sua "espiritualidad e", quando, na verdade, estava cam inhando longe do Senhor. U m voto in sen sa to (vv. 24-35). O cora­ ção de Saul não estava em ordem com Deus, e, num ato de im prudência, o rei forçou seu exército a concordar com um voto de jejuar até o anoitecer (v. 24 ). Não impôs o jejum por ser da vontade de D eus, mas porque desejava que seus soldados pensassem que ele era um hom em inteiram ente consagra­ do ao Senhor. No entanto, essa ordem foi mais uma mostra da fé confusa e supersti­ ciosa de Saul. Acreditou que seu jejum , em conjunto com a presença da arca, impres­ sionaria o Senhor e faria com que lhes des­ se vitória. Porém , Jônatas e seu escudeiro já estavam desfrutando a vitória sem a arca e sem jejum ! N enhum co m and ante sensato privaria seus soldados de alimento e de energia em meio à luta. Se tivesse sido uma ordem do Senhor, ele teria concedido as forças neces­ sárias, mas Deus não deu instrução alguma desse tipo a Saul. M o isés je ju o u durante quarenta dias e quarenta noites quando es­ tava no alto da m ontanha com o Senhor (Êx 3 4 :2 8 ), pois o Senhor o sustentou. M as os soldados de Saul ficaram "angustiados" (1 Sm 1 4 :2 4 ), "exau sto s" (v. 28) e "exaustos em extrem o" (v. 31), em função desse jejum des­ necessário. Q uand o o bedecem os às orden; de D eus, cam inham os pela fé, mas quancc» o b e d ecem o s a regras hum anas a rtific ia '; apenas tentam os o Senhor. O prim eiro ca>: é prova de confiança, enquanto o segunc: é prova de p re su n çã o . P re cisam o s tod atentar para a adm oestação dada em E siastes 5 :2 : "N ão te precip ites com a boca, nem o teu coração se apresse a nunciar palavra alguma diante de Deus". Q uand o Jônatas e seu escudeiro jun ram-se ao exército israelita em sua mar~_ não sabiam da ordem im prudente que o havia dado, e Jônatas com eu um pouco mel de um favo que havia caído no c L Assim , um dos soldados lhe disse que havia co locad o um a m aldição sobre q quer soldado que com esse durante aq dia. Por que ninguém avisou jô n atas tes? Talvez os soldados tivessem espera de q u e a " d e s o b e d iê n c ia " in o c e n te Jônatas abrisse cam inho para que todos 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 ssem com er! Imagino se Saul não estapropositadam ente co locando a vida de filho em perigo. Jônatas, porém , não se -trou muito preocupado e teve até a oua de adm itir que a liderança do pai hacausado transtornos a israel (v. 29). O voto insensato de Saul nao apenas raqueceu os soldados fisicam ente e serde estorvo para que perseguissem o ini:o, com o tam bém criou nos hom ens um jo anormal pelo alim ento. Q uand o o Sol oôs e trouxe um novo dia, o voto já não a mais em vigor e os soldados agiram o animais, atacando os espólios, matanas ovelhas e bois e co m en do a carne ia com sangue. Q uand o os israelitas abaé =t i um anim al, deveriam d eixar esco rrer •;-'o o sangue antes de preparar a carne, J' , em hipótese alguma, o sangue deveria usado co m o alim ento (Lv 3 :1 7 ; 7 :2 6 ; '7 : 10-14; 2 2 :2 8 ; Dt 1 2 :2 3 , 2 4 ; ver Gn 9:4). fcn vo to v e rd a d e ira m e n te e sp iritu a l fa z aio rar o que há de melhor nas pessoas, mas : voto carnal de Saul trouxe à tona o que ia de pior. Com o fazia com freqüência, o rei assumtu a "liderança espiritual" e ordenou aos homens que levassem os animais para uma ^edra grande a fim de serem abatidos e para r _ e o sangue esco rresse m ais facilm ente. Não construiu um altar para que os animais fossem oferecidos com o ofertas pacíficas (Lv 3; 7:11-34), das quais algumas partes eram 5-roaradas para o consum o num a refeição rie com unhão. Saul fez um a tentativa medtocre de transform ar um a orgia gastronô- ca num culto de ad oração, mas não se saiu nada bem. O s hom ens estavam faminPre e mais interessados em com er do que em adorar ao Senhor. Um ju lg a m e n to in se n sa to (vv. 3 6 -5 2). Sem dúvida, Saul percebeu que essa demora em G ibeá, bem com o a im posição do voto —orudente, já haviam custado uma grande •rrória aos israelitas, de m odo que tentou ::n s e r t a r a situação. Resolveu deslo car o íxé rcito naquela m esm a noite e estar pron■ para su rp reen d er os filisteus logo pela -a n h ã . O exército não resistiu à idéia, mas : sacerdote A ías sugeriu, sabiam ente, que 237 se detivessem ali tempo suficiente para co n­ sultar o Senhor. O texto não diz que méto­ do Aías usou para determ inar a vontade de D eus, mas qualquer que tenha sido, Deus não respondeu. A pesar de Saul não ser um hom em piedoso, o voto que havia feito em nom e do Senhor era legítimo e, se o Senhor o tivesse ignorado, teria desonrado o pró­ prio nom e. Além disso, Deus estava usando esse acontecim ento para repreender Saul e tam bém para honrar Jônatas. Saul ficaria sa­ bendo que seus hom ens am avam Jônatas e que estavam preparados para defendê-lo. Saul já sabia que Jônatas não estava en­ tre os soldados (v. 1 7), portanto supôs que o filho não tinha conhecim ento do voto. Mas se ele fora informado a respeito do voto e, ainda assim, o havia quebrado, isso teria tor­ nado seu pecado ainda maior. D e qualquer m odo, Jônatas seria culpado e poderia ser executado. Tem os a im pressão de que Saul estava praticam ente determ inado a rebaixar e a destruir o próprio filho, e ficou ciaro que Jônatas não concordava com a política nem com as práticas do pai. D aí Saul ter feito outro voto (v. 39). Pelo fato de seu coração não estar em ordem diante de D eus, o rei estava tom ando o nom e do Senhor em vão (Êx 2 0 :7 ). D essa ve z, foram lançadas sortes, que indicaram Saul e Jônatas. D a segunda vez, a sorte caiu sobre Jônatas. D eus poderia ter m udado os resultados (Pv 1 6 :3 3 ), mas desejava que tudo viesse à luz e que o rei Saul fosse hum ilhado, pois o problem a ha­ v ia co m e çad o com o orgulho do rei. O s hom ens louvaram Jônatas, não Saul, com o aquele que havia dado grande vitória a Is­ rael, e, se o Senhor havia usado Jônatas de m odo tão m aravilhoso, por que o filho do rei d e veria ser e xe cu tad o ? Q u a n d o essa questão finalm ente foi resolvida, era tarde dem ais para seguir o exé rcito filisteu , de modo que Saul e seus hom ens se retiraram . Por certo, a vitó ria m andou os filisteus para casa, mas eles voltaram a am e a ça r Israel rep etid am e n te (1 Sm 1 4 :5 2 ). Essa vitó ria teve efeito positivo sobre a reputação de Saul e o ajudou a co nso lid ar seu reino. Nos versículo s 47, 48 e 5 2 , o escritor apresenta 238 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 um resum o de algumas das principais vitó­ rias de Saul e inform a que ele convocou para seu exército todo hom em apto que pôde encontrar. em vez de confessar seus pecados. Não im­ portava o que acontecia, era sem pre culpa de outro. Estava mais preocupado em manter uma boa imagem diante dos demais do que O s fatos sobre a fam ília real são resum i­ dos nos versículos 49-51, mas quando com ­ parados a outros textos (1 Sm 9 :2 ; 2 Sm 2 1 :8; 1 C r 8:29-33; 9 :3 9 ), revelam alguns proble­ mas. Saul era neto de Abiel e filho de Q uis (1 Sm 9 :1 , 2). Era sobrinho de Ner, enquanto A b n er ("filho de N er") era capitão do exérci­ to (1 4 :5 1 ). Som ente três filhos são m encio­ nados (Jônatas, Isvi e M alquisua), ao passo que textos posteriores falam de Abinadabe e Esbaal (1 C r 8 :3 3 ; 9 :3 9 ). Saul teve duas filhas, M erabe e M ical, e todos esses filhos eram de sua esposa A inoã. Sua concubina Rispa deu à luz A rm oni e M efibosete (2 Sm 2 1 :8 ). Jônatas, M alquisua e A binadabe m or­ reram com o pai em G ilb o a (1 Sm 3 1 :1 , 2), e A bner declarou Isbosete sucessor do pai ao trono (2 Sm 2:8ss). É bem provável que Isbosete seja o Esbaal de 1 C rô n icas 8 :3 3 e 9 :3 9 , pois não era in co m um os ho m ens israelitas terem mais de um nom e. M as o que foi feito de Isvi? Seria outro nom e para Esbaal (Isbosete), uma vez que os dois no­ mes não são encontrados juntos em nenhum em ser verdadeiramente bom diante de Deus. O b s e rv e os estág io s desse ep isód io que custou a Saul seu reino e, por fim, sua vida. S a u l d e s o b e d e c e a D eu s (vv. 1-11). Os am alequitas eram descendente de Esaú, o irm ão incrédulo de Jacó (G n 3 6 :1 2 ,1 5 ,1 6 ; H b 1 2 :1 4 - 1 7 ), se n d o in im ig o s do povo israelita. O exército de A m aleque atacou os israelitas logo depois que o povo deixou o Egito, e os am alequitas foram derrotados, pois D eus ouviu as orações de M oisés e aju­ dou o exército de Josué. N aquele tempo, o S e n h o r d e cla ro u g u e rra p e rp e tu a m e n te co n tra A m a le q u e (Êx 1 7 :8 -1 6 ), e B alaão profetizou sua derrota final (N m 2 4 :2 0 ; ver texto? Se esse é o caso, então Saul teve qua­ tro filhos com A inoã - Jônatas, o mais ve­ lho, depois Isvi / Esbaal / Isbosete, seguido de M alquisua e A binadabe. U m a vez que o filho mais velho e os dois mais m oços foram mortos em com bate, restava Isbosete, o se­ gundo filho de Saul, para reivindicar a co ­ roa. Sem dúvida, é possível que Isvi tenha m orrido antes, restando, portanto, Esbaal / Isbosete para reinar, ou se Esbaal m orreu, então Isvi / Isbosete sobreviveu e teve um curto reinado. 3. A DESOBEDIÊNCIA E A DISSIMULAÇÃO REDUNDAM EM 1ULGAMENTO (1 S m 15:1-35) Esse é o capítulo central da história de Saul. O Senhor lhe deu outra o portunidade de provar seu valor e, mais uma vez, Saul fracas­ sou, mentiu sobre o que havia ocorrido e foi julgado. Saul tinha o costum e de falar em vez de realizar e de inventar desculpas tam bém Dt 25:17-19). Algumas pessoas têm dificuldade em crer que o Sen ho r o rd enasse que um a nação inteira fosse destruída em fu n ção de algo que seus antepassados haviam feito séculos antes. É possível que alguns desses críticos fiem -se m ais em sen tim en to s do que em verdades espirituais, sem perceber com o o Senhor havia sido longânimo com essas na­ ções e com o elas eram indescritivelm ente perversas (ver 1 Sm 15:18, 3 3 ; G n 15:16). A alian ça de D eus com o povo de Israel in­ cluía a seguinte prom essa: "Am aldiçoarei os que te am ald iço are m " (G n 1 2 :3 ), e D e _ ; sem pre cum pre sua Palavra. Povos com o os am alequitas, que desejavam exterm inar os israelitas, não estavam apenas d e cla ran cn guerra contra Israel, mas tam bém se opc~do ao D eus Todo-Poderoso e a seu granc-s plano de redenção para o m undo in te i-:. O u as pessoas são a favor ou são contra :> Senhor, e, caso sejam contra ele, devem s> frer as conseqüências. Sabendo da a lia n ;a de Deus com Abraão, Saul permitiu que : s queneus escapassem (1 Sm 15:6), pois ha­ viam sido am igáveis com Israel. Eram des­ cendentes dos m idianitas, e M oisés havia sa casado com uma m ulher de M idiã (Êx 2:1 c J 21, 2 2 ; ver Jz 4 :1 1 ). A história mostra c o r :> as n a çõ e s que p e rse g u iram Israel fora~t julgadas com severidade. 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 Saul fez algo adm irável ao ter o cuidado re proteger os qu en eu s, mas não teve o ~iesmo cuidado com referência à vontade áe D eus. Destruiu tudo o que era abominá•e e desp rezíve l, mas perm itiu que o rei -gague vivesse e que os soldados israelitas :T ia sse m para si "o m elhor" dos rebanhos. se o Senhor diz que algo é condena­ do. com o podem os dizer que é "o melhor"? TAi dos que ao mal cham am bem e ao bem, : : Té m , -tal" (Is 5 :2 0 ). Sem dúvida, Saul tinha ho~rens su ficie n tes para e xe cu tar o se rviço ::T ip le to , mas decidiu fazer as coisas a sua -raneira. O profeta Sam uel ficou sabendo da desobediência de Saul antes de o exér:.ro voltar da batalha e se entristeceu pro-jn d a m e n te . O term o h e b ra ic o sig n ifica rueim ar" e indica indignação justa, ira sanla. Samuel teve pena de Saul pelo resto de ; ja vida (1 6 :1 ) e clam ou ao Senhor (1 5 :11 ). Servir a D eus de modo aceitável envolve •azer a vontade de Deus da maneira certa, ~o m om ento certo e pelos motivos certos. Deus havia dado a Saul outra chance, e o •ei havia fracassado com pletam ente. Não é de se admirar que seu mentor, Sam uel, esti­ vesse irado e entristecido. Saul era o homem ru e Deus havia escolhido para ser rei, e Sa­ muel desejava que ele fosse bem-sucedido. S o final, o fato de Saul não ter exterm inado •xJo s os am alequitas resultou em sua morte 2 Sm 1:1-10). Q uanto à questão de D eus "arrepender>e" (1 Sm 15 :1 1 ), não há contradição algu~ia entre essa declaração e o versículo 29 .e r a nota núm ero 4). S a u l m e n te p a ra S a m u e l (vv. 12-15). \ o s olhos dos soldados e do povo de Israel, Saul havia conquistado uma grande v i­ tória sobre um inimigo de longa data, mas aos olhos de D eus, havia sido um a derrota. S o entanto, o rei estava tão im pressionado ronsigo m esm o que foi até o C arm e lo e ergueu um m onum ento de pedra em sua -om enagem e, depois, seguiu para G ilgal, nnde h a v ia p e c a d o c o n tra o S e n h o r e ía m u e l anteriorm ente (1 3 :4ss). É possível nue, com isso , e stiv e sse ten tan d o evitar ía m u e l? T alve z, mas seus esfo rço s foram -úteis. A casa de Sam uel em Ram á ficava 239 a ce rca de vinte e quatro quilôm etros de Gilgal, possivelm ente um dia de viagem para o profeta idoso. A saudação de Saul foi absolutam ente hipócrita. Não tinha bênção alguma para dar a Sam uel e não havia feito a vo n tad e do Senhor. Em prim eiro lugar, mentiu para si m esm o, pensando que poderia escapar incó ­ lume de sua dissim ulação, e, depois, mentiu para Samuel que, aliás, já sabia da verdade. Tentou até mentir para Deus ao dizer que usaria os anim ais que havia poupado para oferecer com o sacrifício! (ver 1 Jo 1:5-10). Saul culpou os soldados por guardar os es­ p ó lio s, m as, c e rta m e n te , c o m o seu c o ­ mandante, poderia tê-los controlado. "Eles" pouparam o melhor, mas "nós" destruímos inteiramente o resto! Para Saul, a culpa era sem pre de alguma outra pessoa. S a u l d isc u te co m S a m u e l (vv. 16-23). O im perativo enfático de Samuel - "Espera" in d ica que Saul estava se viran d o para ir em bora ou significa "chega de mentir"? Tal­ vez as duas coisas, pois Saul não desejava d isc u tir seu s a ssu n to s com S a m u e l. No entanto, Sam uel tinha um a m ensagem do Senhor, e Saul sabia que era melhor escutar. Chegaria o dia em que Saul daria qualquer c o isa para o u vir um a p alavra do S en h o r (1 Sm 28:4-6). O rapaz outrora m odesto (9 :2 1 ), pela segunda vez, deliberadam ente desobedecia à vontade do Senhor, tendo, até m esm o, erguido um m onum ento em homenagem ao ocorrido. Deveria ter aniquilado a nação que, durante séculos, havia feito o que era mau, mas ele próprio acabou fazendo o mal. C o n ­ frontado com essa acusação, Saul com eçou a argum entar com o servo de D eus e a ne­ gar que tivesse feito algo errado. Pela segun­ da vez, mentiu quando disse: "executei as palavras do S e n h o r " (1 Sm 1 5 :1 3 , 2 0 ); pela segunda vez, jogou a culpa sobre seu exér­ cito (vv. 1 5, 21) e, pela segunda vez, usou a desculpa esfarrapada de que consagraria os anim ais que havia poupado com o sacrifício ao Senhor (vv. 15, 21). O profeta rejeitou as três mentiras e ex­ plicou o motivo de D eus não considerar os anim ais um sa crifício ac e itá ve l: o Senho r 240 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 deseja uma vida de obediência sincera, não anim ais mortos sobre o altar. D eus não pre­ cisa de qualquer doação nossa (Sl 50:7-15), e o sacrifício que deseja é um co ração quebrantado e contrito (5 1 :1 6 , 17). O sacrifício sem obediência não passa de hipocrisia e de ritual religioso vazio (Is 1:11-17; Jr 7:21 26 ; Sl 40:6-8). "Pois m isericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecim ento de Deus, mais do que holocaustos" (O s 6 :6 ). O s lí­ deres religiosos do tempo de Jesus não en­ tenderam essa verdade (M t 9:9-13; 12:1-8), ainda que, ocasionalm ente, alguém no meio da multidão tenha conseguido captar a m en­ sagem (M c 12:28-34). Samuel era levita e profeta, de modo que certam ente não estava criticando o sistema sacrificial de Israel. Por intermédio de M oisés, o Senhor havia estabelecido os critérios para a adoração em Israel, e era correto o povo levar seus sacrifícios ao Senhor. Essa era a form a de ad oração que D eus havia deter­ m inado. Po rém , os ad o rad o re s d everiam aproxim ar-se do Senhor com um co ração submisso e com fé verdadeira, do contrário seus sacrifícios seriam em vão. Q uand o Davi estava no deserto e longe dos sacerdotes e do santuário de D eus, sabia que o Senhor aceitaria a adoração de seu coração. "Suba à tua presen ça a m inha o ração , co m o in­ censo, e seja o erguer de minhas mãos com o oferenda vespertina" (Sl 14 1 :2 ). A adoração cristã de hoje deve ir além da mera execu ção de uma liturgia. Devem os adorar a D eus "em espírito e em verdade" (Jo 4 :2 4 ), "Louvando a Deus [...] com cânticos espirituais, com gra­ tidão, em vosso co ração " (C l 3 :1 6 ). M as o p ro feta p ro sseg u iu , re ve lan d o que o co ração de Saul era controlado pelos pecados de rebelião e de obstinação (arro­ gância), e, aos. olhos de D eus, eram perversidades sem elhantes à feitiçaria e à idolatria (posteriorm ente, Saul, de fato, recorreu à fei­ tiçaria). O s dois pecados eram indício de um co ração que havia rejeitado a palavra do Senhor. C o n h ecer a vontade de Deus e de­ sobedecer deliberadam ente a ela é colocarse acim a de D eus e, portanto, tornar-se seu próprio deus. Trata-se do tipo mais abom i­ nável de idolatria. S a u l é re je ita d o p o r D e u s (vv. 24-29). O rei Saul passou de "dei ouvidos à v o z do S e n h o r " (1 Sm 1 5 :2 0 ) para "p eq u ei".3 Porém, não foi um a expressão verdadeira de arre­ pendim ento e de pesar por haver pecado, pois quando repetiu essas palavras, acres­ centou: "honra-me, porém , agora, diante dos an ciãos do meu povo " (v. 30 ). E evidente que o rei estava mais preocupado com sua reputação diante do povo do que com seu caráter diante de Deus, o que não expressa a atitude de um hom em verdadeiram ente quebrantado pelo pecado. Saul tam bém ad­ mitiu que havia poupado Agague e os ani­ mais, pois temeu o povo em v e z de tem er o Senhor e seus m andam entos. Porém , essa foi apenas outra in d icação de que estava mais interessado em m anter a imagem dian­ te do povo do que em agradar a D eus. Samuel recusou acom panhar Saul até o altar, pois sabia que o Senhor não receberia a adoração do rei, uma vez que o havia re­ jeitado. No caso anterior de desobediência, Saul havia perdido sua dinastia (1 Sm 1 3 :1 4i mas dessa vez, havia perdido seu trono. Não era mais o rei de Israel, pois Samuel iria un­ gir D avi para exe rce r essa fun ção . Saul já havia sido advertido sobre esse julgamento, e agora a sentença estava prestes a ser exe­ cutada. Q uand o Samuel virou-se para partir, Saul agarrou as borlas na bainha de s u = í vestes (Nm 15 :3 8 , 39) e rasgou o manto do profeta (ver 1 Rs 1 1 :29-39). Samuel usou iss:> com o ilustração e anunciou que Deus h ava rasgado o reino das mãos de Saul. Samuel cham ou D eus de "G ló ria de Israel", norre que se refere à glória, em in ên cia e perfeção de Deus. C om o era possível um D eu i tão m aravilhoso ser culpado de mudar ou de mentir? O Senhor havia anunciado que Saul perderia o reino e que nada o faria vol­ tar atrás.4 S a u l é re je ita d o p o r S a m u e l (vv. 30-3St. A Palavra de D eus sim plesm ente não penetrou a mente e o coração de Saul, e ele continuou preocupando-se em manter a re putação em vez de co locar a vida em orderr diante do Senhor. Não se sabe, ao certo, : que levou Sam uel a mudar de idéia e a r adorar com Saul, mas os gestos do profeta 1 SAMUEL 1 4 - 1 5 repois disso não deixam dúvida algum a do ic iic io n a m e n to de Samuel em relação ao ■ i Samuel despedaçou o rei Agague publi­ camente e, assim , mostrou ao povo que Saul n o havia cum prido sua missão. Sam uel vollou para seu lar em Ram á e Saul para sua casa em G ib e á, e Samuel não fez mais viaK i s públicas nem particulares para se enoontrar com o rei. Saul visitou Samuel uma «e z em Ram á (19:23, 24). Sentimos por Sam uel, que, certam ente, n íre u muito por causa do povo e do rei dese ado com tanto ardor. Na introdução da —onarquia em Israel, Sam uel foi substituído po r um líder inferior a ele em todos os sentiAos. Samuel fez o que pôde para aconselhar 241 o rei e para fortalecer o reino, mas Saul in­ sistiu em conseguir tudo a sua m aneira. C ada vez que Saul receb eu um a m issão, não a cum priu com o deveria e, quando confron­ tado, mentia e co locava a culpa em outros. A m aior parte das vitórias de Israel deu-se sob o com ando de Jônatas. Foi um tempo difícil para Sam uel, mas D eus ainda estava assentado no tro'no e ainda tinha um rei ver­ dadeiro esperando para ser ungido. O rei Saul havia perdido sua dinastia, seu caráter, seu trono e sua coroa. Também ha­ via perdido um amigo piedoso. Q uand o Davi entrou em cena, Saul perdeu o controle e o bom senso e, por fim, perdeu a última bata­ lha e a vida. O "teste" de jônatas não foi uma dem onstração de incredulidade com o foi o da lã de G id eão (Jz 6:36-40). jônatas já possuía a fé necessária para derrotar o inimigo, mas desejava saber de que m aneira o Senhor queria que atacasse. É errado os filhos de Deus "colocarem a lã no chão da eira" e imporem condições para D eus cum prir a fim de que obedeçam ao Senhor. Por vezes, o Senhor inclina-se até nosso nível de fraqueza e satisfaz nossas condições, mas não se trata de uma prática que edifica a fé do cristão. i A oração: "traze aqui a arca de D eus", no versículo 18, é incom um , pois a arca não era usada para determ inar a vontade de Deus. Seria de se esperar que o rei ordenasse: "traze aqui a estola sacerdotal", com o acontece em 1 Samuel 2 3 :9 e 3 0 :7 . A estola fazia parte das vestes oficiais do sum o sacerdote e nela ficavam guardados o Urim e o Tum im (Êx 28:6-30), usados para determ inar a vontade de D eus. Em duas ocasiões, o Faraó disse "Pequei" (Êx 9 :2 7 ; 10 :1 6), mas foram apenas confissões vazias. Assim que a situação m elhorou no Egito, o Faraó retomou sua oposição a M oisés e a Deus. Balaão disse "Pequei" (Nm 22 :3 4), mas continuou sendo inimigo de Israel. Judas só admitiu seu pecado, mas nunca se arrependeu (M t 2 7 :4 ). Davi declarou com sinceridade: "Pequei contra o S e n h o r " (2 Sm 12 :1 3; 24 :1 0 , 17; S l 5 1 :4), com o também o fe z o filho pródigo (Lc 15 :1 8, 21). 4. Q uando a Bíblia fala que D eus "se arrependeu", usa linguagem humana para descrever uma verdade divina. Deus conhece o futuro, inclusive as respostas a suas ordens, e jam ais fica sem saber o que fazer. Por certo, muda suas ações de acordo com aquilo que as pessoas fazem , mas isso não tem relação alguma com sua natureza imutável nem com seus atributos. Jonas anunciou que Nínive seria destruída, mas a cidade arrependeu-se, e o Senhor retirou seu julgam ento. D o ponto de vista humano, Deus pareceu m udar de idéia, mas não foi o que ocorreu do ponto de vista divino. Deus é sem pre fiel a sua natureza e coerente com seus atributos e planos. Nada o pega de surpresa. o rei Saul, é pou co provável que o povo tivesse esco lhido D avi, mas ele era o prefe­ rido de D eus. "Tam bém esco lheu a D avi, 6 D eu s Esc o lh e um 1 Sam u el 1 6 - 1 7 R ei seu servo , e o tom ou dos redis das ove­ lhas; tirou-o do cuidado das ovelhas e suas crias, para ser o pastor de Jacó , seu povo, e de Israel, sua h erança" (Sl 7 8 :7 0 , 71). C o n­ sid e rem o s alguns fatos so b re esse rap az incom um . B elém - a cid a d e de D avi (w . 1-5). Apesar de ser uma cidade pequena em Judá, a maio­ ria dos israelitas conhecia Belém. Foi quando ualquer um que tenha ficado profun­ Jacó e sua família estavam a cam inho de Betei damente decepcionado com um am i­ que Raquel, sua esposa mais amada, faleceu go ou membro da família pode entender p o ró x im o a B e lé m , e n q u a n to d a va à lu z motivo de Samuel, um homem idoso, ter se Benjamim (G n 35:16-20). Foi em Belém que lamentado durante tanto tempo pelo rei Saul. Rute, a viúva moabita, encontrou seu mari­ do, Boaz, e deu à luz O bede, avô de Davi (Rt Israel havia rejeitado a liderança de Samuel, uma vez que ele estava muito velho, e os 4:13-22; M t 1:3-6). O próprio Davi tomaria israelitas não queriam que os filhos de Samuel Belém um lugar famoso, com o também o fa­ o sucedessem, pois aceitavam subornos e per­ ria Jesus, o Filho de Davi, que nasceu nessa vertiam a justiça (8:3). Porém, o rei Saul era cidade, conform e haviam prometido as Escri­ culpado de desobedecer às ordens inequívo­ turas (M q 5:2; M t 2:6 ). O nom e Belém quer dizer "casa do pão", e foi lá que o pão da cas de Deus e também de mentir sobre o que havia feito e, em decorrência desses pecados, vida desceu do céu e veio habitar no mundc havia perdido o trono. Ainda estava ocupan­ com o ser humano. Em sua posição de ju iz e profeta, Samuel do o cargo e, no entanto, não era capaz de liderar a nação, e Samuel havia rompido seu tinha o direito de viajar com o bem lhe aprourelacionamento com ele (15:34, 35). Em sua vesse, a fim de servir ao Senhor e a seu povo. tristeza, Samuel deve ter se sentido o maior No entanto, eram tempos difíceis, pois Sairi dos fracassados com o pai, líder espiritual e era um hom em desconfiado e seus espiai mentor do novo rei. A expressão traduzida por poderiam relatar ao rei qualquer coisa que "ter pena" significa "prantear pelos mortos" e Sam uel fiz e ss e . Partin do de R am á, onde revela a profundidade da tristeza de Samuel. Samuel morava, a estrada para Belém passa­ H á um tempo para prantear (Ec 3:4), mas va por G ibeá, onde ficava o quartel-generaJ também há o momento de agir (Js 7:10), e, de Saul; o rei iria querer saber para onde para Samuel, esse momento havia chegado. Samuel se dirigia e o que pretendia fazer lál Apesar do que sentia em relação a si mes­ A fim de evitar problemas, Deus ordenou que mo, o trabalho de Samuel ainda não havia seu servo tomasse uma novilha e anunciasse chegado ao fim, pois Deus queria que ele que iria realizar uma oferta pacífica em Belé~ ungisse o novo rei. Se Saul foi "o rei aclama­ para um grupo seleto de pessoas, inclusive do pelo povo", Davi foi o rei escolhido por Jessé e seus filhos. Nessa ocasião, Deus mos­ Deus, e os acontecim entos registrados nes­ traria a Samuel qual dos filhos de Jessé o prctes dois capítulos mostram claram ente que a feta deveria ungir rei. mão de Deus estava sobre Davi, o líder se­ O s anciãos de Belém sabiam que SauS e gundo o coração do Senhor. Samuel não se entendiam , de modo que i chegada de Samuel os deixou sobressaltado^ 1. D e u s e s c o l h e u D a v i (1 Sm 16:1-13) Será que Samuel estava alistando seguidore.Caso houvesse uma eleição em Israel com para formar um grupo de resistência a Saul' i a finalidade de escolher um substituto para se Saul interpretasse a presença do profe:= Q 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 ■a pequena cidade com o uma declaração l e guerra? Samuel apressou-se em tranquilizá4os e instruiu-os a santificar-se e a participar do sacrifício e do banquete subseqüente. 1 santificação" im plicava que cada conviz^zo deveria tom ar um banho e trocar de I D _ p a (Êx 9:10-1 5), pois ninguém que se en::~ tra s se cerim onialm ente im puro poderia r-articipar do banquete sacrificial (Lv 7:192 ’ I. Jessé e seus filhos consideraram uma f-ande honra ser convidados para esse ban:_ e t e , e é evidente que ninguém além de í-a~iuel sabia por que haviam sido incluídos. A fam ília d e D avi (vv. 6-10). Antes de os rtnvidados se sentarem para a refeição co->unitária, Sam uel exam inou por alto os sete • 'o s de Jessé, im aginando que a fam ília ~íeira estava presente e baseando-se nas aoarências em v e z de agir pela fé. Não sabemos qual era a aspecto dos dois filhos de farnuel, mas sabem os que o pai deles pres­ ta v a atenção na ap arência dos outros. Sa—:je l já havia se esquecido do erro que havia toTietido em relação a Saul (9 :2 ; 1 0 :2 3 , 24). Itavi era o oitavo filho de Jessé, e as Escritu­ ras dão o nom e de seis de seus irm ãos: E :a b e, o prim ogênito; A binadabe, o segunllo : S im éia, o terceiro , tam bém cham ado 5-amá; Natanael, o quarto; Radai, o quinto e 3 zém , o sexto (1 C r 2:13-15). Davi é apre­ sentado com o o sétimo filho nessa genealoi a , mas 1 Sam uel 16:10,11 deixa claro que d e era o oitavo e o caçula. Ao que parece, ■n dos irm ãos m orreu sem deixar herdeide m odo que seu nom e foi tirado da le^ealogia. D avi também tinha duas irmãs: Z e ru ia , m ãe de A b isa i, Jo a b e e A sa e l, e pos. -i>igail, mãe de Am asa (1 C r 2 :1 6 ,1 7 ). To­ dos esses hom ens exerceram papéis im por­ tantes no reino de Davi. Sem dúvida, não havia outra fam ília em 5-r em que pudesse dizer que possuía sete i-nãos, hom ens de força e de grandeza e, mo entanto, nenhum deles era o rei escolhido r i D eus! Samuel viu as feições e o aspecto re cada um, mas o Senhor examinou-lhes o ::'a ç ã o . Som ente Deus pode sondar o co ­ a ç ã o e con h ecer as verdadeiras m otivações r.a; pessoas (1 C r 2 8 :9 ; Jr 1 7 :1 0 ; Rm 8 :2 7 ; H b 4 :1 2 ). 243 A p ro fissã o d e D avi - p a sto r (v. 11). Davi era tão desconceituado em sua família que Jessé nem foi cham á-lo no local onde ele cuidava do rebanho para convidá-lo a parti­ cipar do banquete!1 Saul estava escondido no meio da bagagem quando Samuel o cha­ m ou, mas D avi estava ocupado cuidando das ovelhas do pai. No Antigo Testamento, os reis e seus o ficiais eram co nsid erad o s "pastores" do povo (ver Jr 2 3 ; Ez 34), e Davi era um homem com o coração de um pas­ tor (ver 2 Sm 7 :8 ; 1 C r 21 A 7; Sl 78:70-72). A Igreja de Cristo, nos dias de hoje, bem com o cada líder espiritual, precisa ter o coração de um pastor e cuidar com carinho dos co r­ deiros e ovelhas do rebanho de D eus (Jo 10:1-18; 21:15-19; 1 Pe 5). O s bois podem ser tangidos, mas as ove­ lhas devem ser conduzidas para que não se d isp ersem . O pastor deve co n h e c e r suas ovelhas ind ividu alm ente, amá-las e cu id ar delas de acordo com suas necessidades. As ovelhas em geral são indefesas e não enxer­ gam muito bem, de modo que dependem do pastor para guiá-las e protegê-las. Apesar de Davi ser, literalm ente, um pastor, via-se com o uma das ovelhas do Senhor e escre­ veu sobre isso no Salm o 23. Esse salmo não foi escrito por um rapaz, mas sim por um hom em experiente e temente a D eus, que olhou para trás, para uma vida longa, e co n ­ fessou que o Senhor lhe havia sido fiel to­ dos os dias de sua vida (Sl 2 3 :6 ). D avi era exatam ente o tipo de líder que Israel preci­ sava para reparar todo o estrago que Saul havia causado à nação .2 D e u s ch a m a p e sso as o c u p a d a s , não quem procura m aneiras de fugir das respon­ sabilidades. M oisés (Êx 3), G id eão (Jz 6), Elias (1 Rs 1 9:19-21), Neem ias (N e 1), Am ós (Am 7:1 4 , 15), Pedro, André, Tiago e João (M c 1:16-20) e M ateus (M t 9:9-13) estavam tra­ balhando quando o Senhor os cham ou. O padrão de Deus para a liderança é declara­ do em M ateus 2 5 :2 1 : "M uito bem , servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te co lo carei; entra no gozo do teu senhor". Davi havia sido fiel com o servo sobre pou­ co, e Deus o promoveu a fim de governar sobre muito; de um rebanho de ovelhas para 244 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 um a nação inteira! Ao contrário de Saul, foi possível confiar a Davi o exercício da autori­ dade, pois ele próprio havia se sujeitado à autoridade e se mostrado fiel. A ap a rên cia d e D avi (v. 12a; v er 17:42). A pesar de a aparência física não ser o atri­ buto mais im portante de um rei (1 6 :7 ), a com p leição de Davi era tão m arcante que o Senhor cham a nossa atenção para ela. Saul era diferente da maioria dos semitas de sua época, pois era alto, enquanto a característi­ ca distintiva de Davi era o fato de sua pele ser clara e não morena. A palavra traduzida por "ruivo" é a m esm a que aparece no ape­ lido de Esaú: "Edom - verm elho" (G n 25:24- o poder de que precisam os, pois Jesus dis­ se: "Sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15:5). Até que ponto o pai e os irm ãos de Davi en te n d eram essa u nção? D ian te do rela­ cio n am en to sub seq ü en te com o rei Saul, ta lv e z tenh am in te rp re ta d o esse a co n te ­ cim ento com o um a consagração para que D avi servisse ao rei. E bem provável que Samuel tenha conversado com D avi em par­ ticular e explicado que ele havia sido esco­ lhido pelo Senhor para ser o próxim o rei. Se esse foi o caso, seu com portam ento enquan­ to estava a serviço de Saul foi notavelmente maduro para um rapaz que, um dia, usaria a coroa. Sem dúvida, foi essa certeza sobre o 3 4 ). D e aco rd o com a in te rp re ta çã o de alguns, isso não sig n ifica que D avi fosse ruivo, mas apenas que, ao contrário de ou­ tros semitas, tinha a pele e os cabelos cla­ ros. Assim com o José, era bem apessoado (3 9 :6 ) e tinha personalidade cativante (1 Sm 1 6 :1 8 ). Era o tipo de pessoa que atraía ou­ tros e que conquistava sua confiança. A u n çã o d e D avi (vv. 12a, 13). Depois de olhar para os sete filhos de Jessé, Samuel finalm ente encontrou o hom em escolhido pelo Senhor, o hom em segundo o coração de D eus (1 3 :1 4 ). É interessante o fato de Davi ("am ado") ser o oitavo filho, pois nas Escrituras esse número é, com freqüência, a representação de um novo co m eço . D e fato, Deus usou Davi para prom over um recom e­ ço em Israel, tanto em termos políticos quan­ futuro que ajudou Davi a manter-se fiel du­ rante os anos subseqüentes de provações e de perseguições.5 Porém , suas provações e testes ao longo daqueles anos no deserto ajudaram a desenvolver sua fé e seu caráter piedoso e a prepará-lo para o ministério que Deus planejou para ele. Q uand o Davi e Jônatas tornaram-se ami­ gos (1 8 :1 ) e fizeram um a aliança de fidelida­ de mútua (1 8 :3 ; 2 0 :1 6 ), por certo, Davi lhe to espirituais.3 Nas Escrituras, som ente profetas, sacer­ dotes e reis eram ungidos, e a unção deve­ ria ser realizada por uma pessoa autorizada pelo Senhor. N a im ageria b íb lica, o óleo pode sim bolizar o Espírito Santo e a co nces­ são de seu poder a seus servos (Z c 4). Tanto o termo hebraico "M essias" quanto o termo grego "C risto" significam "ungido". O Espíri­ to de D eus veio sobre o jovem Davi com g ra n d e p o d e r, e d a q u e le m o m e n to em diante, Davi foi um hom em de Deus. Simul­ ta n e a m e n te , p o ré m , o Esp írito de D e u s deixou Saul (1 Sm 1 6 :1 4).4 Sem o poder do Espírito, o servo de Deus é incapaz de fazer a vontade de seu Senhor e de glorificar a Cristo. Ao perm anecer em Cristo, recebem os Saul deveriam mantê-lo informado sobre o ; passos de D avi, e Saul lhes contou que Davi havia sido escolhido para ser o próxim o rei revelou que era o rei ungido de D eus. Q uan­ do D avi subisse ao trono, Jônatas seria o segundo no poder (23:16-18). Dificilm ente foi Jônatas quem contou a Saul, um homem paranóico, sobre Davi e sua aliança, mas de algum modo o rei descobriu que Davi era seu sucessor (2 0 :3 0 , 31) e tentou matá-lo com em penho redobrado. O s hom ens de ( 2 2 : 6-8 ). 2. D eu s pr epa r o u D avi (1 Sm 1 6 : 1 4 - 2 3 ) Davi sabia que o Senhor havia estado pre­ sente em sua con cepção e que havia orga­ nizado sua estrutura genética (Sl 139:13-16 . O Senhor determ inou que Davi seria forte e de boa aparência, que teria talento para ; m úsica, que seria cauteloso e valente. Afc sim com o Paulo foi um vaso preparado p : Deus para um trabalho específico (G l 1 :1 5 ; A t 9 :1 5 ), Davi foi o servo que D eus prepare para cum prir seus propósitos para seu povol 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 O s servos de Saul sabiam que havia algo oe muito errado com seu senhor e atribuíco rretam ente os ataques do rei à incia de um espírito maligno. Deus havia itido que esse espírito perturbasse Saul 1 Sm 16:14, 23 ; 1 8 :1 0 ; 19:9) com o parte sua disciplina pela rebelião do rei. Saul ■ a, por natureza, um hom em desconfiado fe .ingativo, o que deu a esse espírito um ito de apoio para operar (Ef 4:25-27). O ■o homem no reino preparado para mi­ ar a Saul era Davi! Davi era poeta e m úsico e possuía aptipara tocar harpa e para com por cânticos. No final de sua vida, ficou conhecido com o "navioso salmista de Israel" (2 Sm 2 3 :1 ). Não í com um encontrar talentos artísticos desse *p o num homem que tam bém era um soldai o enérgico e general destem ido. Escreveu salmos, organizou o m inistério de m úsica 'o templo (1 C r 25) e forneceu instrumen■>s para os m úsicos (2 3 :5 ). C om os despoos de suas m uitas batalhas, providenciou n a te ria is para a co n stru ção do tem plo e ;^siou pelo privilégio de construir uma casa :a r a o Senhor. Seja qual for o ponto de vista ; j e se use para analisar a vida e as aptidões :e D avi, chega-se sem pre à co n clu são de ;u e ele era um indivíduo singular e de que rra assim porque Deus o havia criado desse modo! Foi a aptidão m usical de D avi que lhe reu acesso à corte do rei e que, posterior­ mente, o prom oveu ao se rviço militar. As :po rtunidad es da vida apareceram de acor­ do com seus talentos, e D avi teve a sabedoria de o bedecer à vontade de D eus. Assim :o m o se recusou a vestir a arm adura de Saul jo enfrentar G o lias, tam bém rejeitou tudo aquilo que não havia sido preparado para ele pelo Senhor. "G uia-m e pelas veredas da js tiç a por am or do seu nom e" (Sl 2 3 :3 ; Ef 2: 10). A chave para o sucesso de Davi é apre­ sentada em 1 Sam uel 1 6 :1 8 : "o S e n h o r é :om ele" (ver 1 8 :1 2 , 14, 28). Esse também foi o segredo do sucesso de José (G n 3 9 :2 , i , 21, 23 ), de Josué (Js 6 :2 7 ) e de Sam uel 1 Sm 3 :1 9 ) e constitui o a lice rce para a • ida cristã bem -sucedida nos dias de hoje. 245 Davi conhecia seus dons (Rm 12:3) e usouos em sua vida diária. Ele am ava e adorava o Senhor e entregou-se à obra a que Deus o havia cham ado para realizar. Enquanto Davi seguiu o Senhor, Deus o abençoou e usou para sua glória. Em seu prim eiro encontro, Saul "amou m uito" Davi (1 Sm 16 :2 1 ), de modo que não fazia idéia que seu novo escudeiro seria o próxim o rei de Israel. Porém , esse am or foi sendo substituído, aos poucos, pela inveja e, depois, pelo medo (1 8 :8 , 9, 12, 15), até que Saul resolveu matar Davi. Saul tornouse inimigo de Davi (1 8 :1 9 ), mas D avi nunca o tratou com o tal. Davi comportou-se com sabedoria e procurou ajudar Saul a superar seus ataques de depressão, mas estes só pio­ raram. Sem Deus, Saul não passava de um fracassado. 3 . D eus c o n d u z iu D avi (1 S m 1 7 : 1 - 2 7 ) Davi não ficava o tempo todo no acam pa­ mento de Saul; passava tem poradas com o rei ou em sua casa conform e se fazia neces­ sário (v. 15). Sem pre que era cham ado para ajudar Saul, Davi deixava seu rebanho com um homem de co n fian ça (v. 20) e se apres­ sava para o acam pam ento, onde tinha até sua tenda (v. 54). Foi só depois que Davi matou G olias que Saul nomeou-o um de seus escudeiros (1 8 :1 , 2). D avi era um hom em conduzido pelo Espírito, e todas as suas de­ cisões precisavam estar dentro da vontade de D eus. O utros poderiam ir e vir com o bem lhes ap ro uvesse, mas D avi era co n d u zid o pela mão providencial de D eus. Vem os essa orientação divina nos acontecim entos rela­ tados no capítulo 17. G o lias é descrito co m o um gigante de mais de quatro metros e sessenta centím e­ tros de altura, que vestia uma co u raça de escam as pesando mais de sessenta quilos e carregava uma lança de quase oito quilos. Sem dúvida, era um adversário descom unal. H avia se apresentado ao exército de Israel todas as manhãs e noites durante quarenta dias e, ao que parece, Davi chegou no últi­ mo dia (1 7 :1 6 ). Jessé escolheu o dia certo para enviar Davi ao cam po de batalha, a fim 246 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 de entregar alim entos a seus três irm ãos e ao com andante deles (vv. 1 7, 18). A o con­ trário dos exércitos m odernos, os soldados da an tig u idade deveriam p ro v id e n cia r os pró prio s suprim entos e aju d ar a fo rn ecer provisões a outros. Davi levantou bem cedo e ouviu o desa­ fio matinal de G o lias a Saul e a seu exército. Se os israelitas conseguissem encontrar um cam p eão ca p a z de derro tar G o lia s, os fi­ listeus se sujeitariam aos israelitas e seriam seus servos, mas se isso não acontecesse, os israelitas deveriam considerar-se derrota­ dos e tornar-se servos dos filisteus (vv. 8, 9). Infelizm ente, ninguém no exército israelita apresentou-se com o voluntário, nem o rei Saul, que era bem mais alto que a m aioria dos homens. Um a vez que Israel havia chega­ do a um m om ento de crise nesse co n fro n ­ to , Saul fez uma oferta generosa ao homem que se prontificasse a calar G o lia s: ele se casaria com um a de suas filhas, receb eria muitas riquezas e a casa de seu pai seria isenta de im postos. Saul esperava que al­ guém fosse tentado por essa oferta e pro­ curasse derrotar G o lias. Davi reagiu com a mais com pleta aver­ são ao discurso de G o lias. Q u em era aque­ le filisteu incircunciso para blasfem ar contra o D eus de Israel? Lembre-se de que Davi era jovem dem ais para servir no exército , mas, para ele, qualquer um no acam pam en­ to com fé em Jeová seria cap az de desafiar G o lias e de derrotá-lo! No entanto, viu ho­ mens fugindo do cam po de batalha só de olhar para o gigante; até mesm o o rei Saul estava aterrorizado (vv. 11, 2 4 ).6 D eus havia co n d u zid o D avi até o acam pam ento para essa ocasião, e o rapaz estava pronto a acei­ tar o desafio. 4. D e u s a n im o u D avi (1 Sm 17:28-39) Sem pre que dam os um passo de fé para lu­ tar contra o inimigo, há alguém a nosso re­ dor para nos desanim ar, e, com freqüência, e ssa re sistê n c ia c o m e ç a no p ró p rio lar. Eliabe, o irm ão mais velho de D avi, ficou zangado quando soube que Davi estava fa­ zend o perguntas sobre a oferta de Saul e ridicularizou o irmão caçula (vv. 28-30). — Som os soldados e você é só um pastorzinho! Veio só para assistir à batalha! Volte para casa, vá cuidar de seu pequeno reba­ nho e deixe o com bate por nossa conta! Sem dúvida, o fato de não ter havido batalha algum a não envergonhava Eliabe; tam bém se esqueceu de que, em primeiro lugar, D avi estava lá para entregar suprimen­ tos a e le , A b in a d a b e e Sam á. Esses três hom ens haviam visto Davi ser ungido por Sam uel, mas não entenderam o que isso sig­ nificava. "Assim, os inimigos do homem se­ rão os da sua própria casa" (M t 1 0 :3 6 ; ver Mq 7:6) - foi o que Jesus prometeu e exata­ mente o que ocorreu no caso de Davi. O mesm o aconteceu com José, tratado pelos irm ãos com ódio, m entiras e vendido por eles com o escravo. M oisés foi criticado pe­ los irm ãos, A rão e M iriã (Nm 12), e a família de Jesus aqui na terra não o com preendeu e se opôs a seu ministério (M c 3:31-35; Ja ; 7:1-10). No entanto, Davi não permitiu que as palavras ríspidas de Eliabe o desanimas­ sem , pois sabia que Deus poderia ajudá-lo a derrotar o gigante. Porém , o rei Saul também não foi de gran­ de aju d a com suas palavras e co n s e lh o ;. "C o ntra o filisteu não poderás ir para pelejacom ele; pois tu és ainda m oço, e ele, gue'reiro desde a sua m ocidade" (1 Sm 1 7:33 . Saul estava repetindo o relato dos dez efpias incrédulos, que viram os gigantes em C an aã e decidiram ser im possível entrar na terra prom etida (Nm 1 3 :2 8 , 29 ). Q uand o . vem os de acordo com as ap arên cias, ca culam os tudo pelo ponto de vista h u m a r:, o que nos leva sem pre a desanim ar. Poré~ . quando vivem os pela fé, D eus entra na equa­ ção e muda todos os resultados. D avi havia experim entado o poder de D eus em sua vida e sabia que o Senhor j » deria transform ar sua fraq ueza em pode' Enquanto cuidava de suas ovelhas, Davi ha­ via matado um leão e um urso e sabia que c Senhor seria capaz de livrá-lo das mãos de G o lia s. Era co m o se v isse G o lia s ap era? com o mais um animal atacando o reban- : de Deus! Saul não havia experim entado pe~ soalm ente esse poder m aravilhoso de D e .i. de modo que aconselhou Davi a vestir s_a 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 247 i-m adura. Não tinha a fé necessária para crer Davi considerou esse desafio uma disputa r - e Deus poderia fazer algo novo e, portanentre o verdadeiro Deus de Israel e os falsos •3, sugeriu o método testado e aprovado de deuses dos filisteus. : embate. O rei Saul era um adulto e, aliás, D eus quer usar seu povo a fim de en­ _~i homem grande e forte. Davi não passagrandecer seu nom e a todas as nações da •3 de um adolescente. Imagine, assim , com o Terra. Esse propósito fazia parte do cham a­ ; arm adura de Saul ficou no corpo de Davi! do de Abraão (G n 12:1-3) e da escolha de “ orém, hom ens e m ulheres de fé obedecem , Israel para ser povo de Deus (D t 2 8 :9 , 10). = despeito de tudo o que os entendidos te­ Um dos propósitos do tém po que Israel pas­ lh a m a dizer. sou no Egito, bem com o dos julgam entos O ânim o de Davi procedia de D eus, e que D eus enviou contra o Faraó, era pro­ esse foi um dos segredos de sua vida. "Poclam ar o nom e e a glória de Deus a toda a •em Davi se reanim ou no S e n h o r , seu D eus" terra (Êx 9 :1 6 ). A separação das águas do Sm 3 0 :6 ). A pesar das críticas e dos con­ mar Verm elho para que Israel saísse do Egi­ celhos desanim adores e inapropriados, Davi to e a abertura do rio Jordão para que en­ :Dnfiou no Senhor, seu D eus, e o Senhor trasse em C anaã foram testemunhos a todas as naçõ es de que o D eus de Israel era o '^compensou sua fé. Deus verdadeiro (Js 4 :2 3 , 24). Até mesm o a 5 .D e u s c a p a c it o u D a v i co nstrução do tem plo deu testem unho do 1 Sm 17:40-58) Deus de Israel às nações gentias, para que Todos os gigantes de D eus foram hom ens estas o conhecessem e tem essem (1 Rs 8 :4 2 , ~2cos que fizeram grandes coisas para ele, 43). O que o Senhor fez por interm édio de pois contaram co m o certo que o Senhor D avi ficaria registrado, seria co ntad o por todo o mundo e traria grande honra ao nome estaria a seu lado." Jam es H udson Taylor, -jndador da M issão para o interior da China, do Senhor. escreveu essas palavras, porém , mais do que A própria arm a que Davi utilizou - uma funda - era a arm a de um pastor, quase um sso, colocou-as em prática. "Sou um servo cem pequeno de um Senhor muito eminenbrinquedo de criança, e, no entanto, Deus a usou para derrotar o gigante e o exército ■e disse a uma congregação na Austrália. dos filisteus. Q uand o G olias viu um m enino Davi entendia o significado dessa declaravindo em sua direção, com uma funda em : I : \ pois, quando enfrentou o gigante, não uma das mãos e um bastão na outra, riu-se r ü s a v a de um a d o lesce n te . No entanto, dele e perguntou: "Sou eu algum cão, para >=oia que o Senhor estaria com ele. vires a mim com paus?". M as Davi anunciou A vitória fo i d o S e n h o r (vv. 40-47). Infe--^ente, esse relato dram ático é considera: : antes de tudo, uma história infantil ou, então, a base para uma alegoria sobre com o reTOtar os "gigantes" de nossa vida. Apesa- de haver diversas ap licaçõ es para uma que seu verdadeiro poder era o nom e do Senhor dos Exércitos, nom e que G olias e os filisteus haviam insultado. D avi queria que lassagem bíblica, existe apenas uma inter:^etação, e, nesse caso, a interpretação é :o e Davi fez o que fez para a glória de D eus. Davi apresentou-se para o desafio em nome Senhor, o D eus dos exércitos de Israel, e :L e ria que G o lias, o exército filisteu e toda i :erra soubessem que o verdadeiro D eus •tso era o D eus de Israel (v. 46 ). G olias ha« a ridicularizado o D eus de Israel e blasfe- espadas nem de lanças, mas que é cap az de livrar seu povo a seu m odo, usando os meios mais m odestos. Não é de se admirar que Davi e Jônatas tenham se tornado am i­ gos tão chegados, pois os dois criam num D eus poderoso e desejavam lutar as bata­ lhas desse Deus e glorificá-lo (1 Sm 13 :6 ; Sl 3 3 :16-22; 44:6-8). A vitó ria tam b ém fo i d e D a v i (vv. 4851a). O Senhor usa determ inados m eios para cum prir seus propósitos, e D avi foi o servo Io - a d o contra o nom e do Senhor, mas Davi estava prestes a retificar essas declarações. todos ali reunidos - israelitas e filisteus so ub essem que o Senho r não p recisa de 248 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 preparado para aquela ocasião. C o m o pas­ tor trabalhando sozinho nos cam pos, apren­ deu a confiar em D eus e, co m o guardião fiel do re b an h o , tornou-se hab ilid o so no m anejo da funda. Davi possuía uma fé segura em D eus, pois havia descoberto que o Se­ nhor era confiável nas situações de crise e que não o abandonaria naquele momento. O Espírito de D eus habitava no co rp o de Davi e o cap acitaria de modo a ven ce r a batalha. Deus guiou a pedra, que afundou na testa do gigante, e ele caiu com o rosto em terra diante dos dois e x é rc ito s .7 D avi colocou-se sobre o corpo caído de G olias, tomou a espada do gigante e cortou-lhe fora a ca b e ça, ato que não apenas garantiu a morte da vítim a, com o tam bém humilhou o guerreiro filisteu e seu exército, anunciando a vitória total. Anos depois, Davi escreveu: " O Deus que me revestiu de força e aperfei­ çoou o meu cam inho [...]. Ele adestrou as minhas mãos para o com bate, de sorte que os meus braços vergaram um arco de bron­ z e " (SI 1 8 :3 2 , 34). E transform ou-se num a vitória d e Isra e l (w . 51b-54). M esm o sendo jovem , Davi mos­ trou uma das m arcas de um grande líder: assum iu risco s e abriu cam in h o para que outros pudessem p articip ar da vitó ria. O s filisteus não cum priram sua parte do aco r­ do e, portanto, não se entregaram a Israel (v. 9). Em vez disso, fugiram de medo, e os israelitas os perseguiram por mais de quin­ z e quilôm etros até as cidades de G ate (a cid ad e natal de G o lia s; 1 Sm 1 7 :4 ) e de Ecrom , matando soldados inimigos ao lon­ go de todo o cam in ho .8 No final, aquela foi uma grande vitória para o exército de Saul. Q uand o os israelitas voltaram para o acam ­ pam ento filisteu, tom aram os despojos da vitória que o Senhor e Davi haviam conquis­ tado. Ao que parece, D avi acom panhou os hom ens na perseguição ao inimigo (v. 57) e com eçou a adquirir a reputação de ser um soldado valente (1 8 :7). D espojou o gigante, pegou sua arm adu ra e co locou-a em sua tenda. Posteriorm ente, a espada de G o lias apareceria na cidade israelita de Nobe (21:19), de modo que Davi deve tê-la consagra­ do ao Senhor entregando-a aos sacerdotes. Em que m om ento Davi levou a cabeça de G olias a Jerusalém? É bem provável que isso tenha acontecid o mais tarde, quandc conquistou a cidade e fez dela a sua capital (2 Sm 5:1-10). N aquele tempo, a cidade era co nhecida com o Jebus e era habitada pelos je b u se u s (Jz 1 9 :1 0 ), de m o do que esse versícu lo foi incluído no texto em ocasião posterior, quando o nom e da cidade já ha­ via sido alterado. Q u and o Davi mudou-se para a cidade com o rei, sem dúvida trouxe co n sig o v ário s tro féus p re cio so s de suas batalhas. Por mais horrível que fosse, a ca­ b e ça de G o lias serviria para lem brar D a\i de que poderia confiar no Senhor para lhe dar a vitória ao procurar glorificar somente o nom e dele. A vitó ria n ã o fo i d e S a u l (vv. 55-58). Q u an d o Jônatas atacou o posto avançado dos filisteus (14:1-23), Saul foi um expectador, e suas d ecisõ es insensatas quase lhe custaram a vitória. M ais uma vez, Saul apena? assistiu enquanto Davi derrotava sozinho : inimigo. Esse foi seu padrão de liderança ate o fim trágico de sua vida. Saul sabia quem Davi era, mas pergun­ tou a A b n er quem era o pai do rapaz, pois, naquele tempo, esse era o m odo de identifi­ car as pessoas. Jessé havia sido m enciona­ do anteriorm ente nos m eios em que Saul co n vivia (1 Sm 16 :1 8 ), mas é possível que Abner não estivesse presente e que Saul ti­ vesse facilm ente se esquecido (sabem os : no m e dos pais de n o sso s c o n h e c id o s?}. C om o m úsico oficial de Saul, Davi ia e m nha do acam pam ento para casa e só esta\a presente quando Saul era oprim ido pelo es­ pírito maligno, de modo que podem os des­ culpar Saul por não saber quem era Jessè O acordo era que a família do cam peão se­ ria isenta de impostos e o rapaz se casaria com uma das filhas de Saul (1 7 :2 5 ), de modc que Saul teria de perguntar sobre o pai. Por fim , é possível que Saul quisesse saber se havia mais hom ens com o Davi no lugar de onde o rapaz tinha vindo . É provável que não soubesse que três dos irmãos de Da\ eram soldados de seu exé rcito , mas, sem dúvida, não faria mal ter mais alguns homens com o aquele jovem ! (ver 1 Sm 1 4 :5 2 ). Come 1 SAMUEL 1 6 - 1 7 ■quitado da vitória daquele dia, Davi pasj a fazer parte da com itiva perm anente A ) rei. Alguém disse bem que há os que fazem ü coisas acontecerem , há os que assistem enquanto as coisas acontecem e há quem ■em sequer sabe que algo está acontecenDavi estava ciente da situação de Israel e sabia o que estava aco n te cen d o . Tin h a : : nsciência de que não era um conflito físico entre dois exércitos, mas sim um a batalha 5. : 249 espiritual entre a verdade e a falsidade, a fé e a superstição, entre o verdadeiro D eus vivo e ídolos mortos. A fé de Davi elevou a guerra a outro plano, com o tam bém o fez Paulo em Efésios 6:1 Oss. Nossa batalha é contra Satanás e seu exército, e as arm as humanas de nada valem nesse conflito. A fé em Deus nos torna co-participantes com o Senhor da batalha pela verdade. "E esta é a vitória que vence o mundo - a nos­ sa fé" (1 Jo 5 :4 ).9 O termo hebraico traduzido por "o mais m oço", no versículo 11, significa "o m enor". Saul era conhecido por sua altura (1 Sm 9 :2 ; 10 :2 3), mas Davi não se destacava da multidão. Desde o com eço de seu m inistério, Davi é considerado um homem de espírito humilde. 2 Logo no início de sua vida, Davi reconheceu que o Deus Jeová era Rei (Sl 59 :1 3 ). Bem-aventurado o líder que reconhece que está sob a autoridade do Senhor! L Noé foi a "oitava pessoa" (2 Pe 2:5 ), e oito pessoas foram salvas na arca para recom eçar a civilização (1 Pe 3 :2 0 ). O s meninos israelitas eram circuncidados no oitavo dia, o que lhes dava uma nova posição dentro de Israel, passando a ser considerados “filhos da aliança", e o primogênito era consagrado ao Senhor no oitavo dia (Êx 22 :2 9 , 30). 4. No Antigo Testam ento, o Espírito de Deus era colocado sobre pessoas cham adas pelo Senhor para cum prir determinados propósitos, mas o Espírito também poderia deixá-las, com o aconteceu com Saul. Esse fato ajuda a explicar a oração de Davi no Salmo 5 1 :1 1. O s cristãos de hoje fazem parte da nova aliança e têm a certeza de possuir o Espírito para sempre (Jo 14 :1 6). O s verdadeiros cristãos são selados pelo Espírito quando de sua conversão, e o selo refere-se à posse e proteção perm anentes (Ef 1:13 , 14 e 4 :3 0 ). I De acordo com alguns cronologistas, Davi nasceu por volta de 1085 a .C . e foi ungido em 1070 a .C ., aos 15 ou 16 anos de idade. C inco anos depois (1065 a .C .), fugiu de Saul e passou os dez anos seguintes no exílio. Em 1055 a.C ., foi coroado rei de Judá, aos 30 anos de idade (2 Sm 2). 4. O m edo parecia ser um problem a constante para Sauí. V er 1 Sam uel 13 :11; 15 :2 4 ; 17 :11; 18:12; 28 :5. A fé e o m edo não podem ocupar, sim ultaneam ente, o m esm o coração (M t 8 :26 ). O gigante estava usando seu capacete ou sua certeza da vitória era tanta que nem o havia trazido consigo? No entanto, capacete algum seria capaz de impedir uma pedra impulsionada pela força divina de penetrar o crânio de G olias. É bem provável que G o lias estivesse em posição de com bate, ligeiramente inclinado para frente e se aproxim ando de D avi, sendo que esse fator, juntam ente com o peso de sua arm adura, o levou a cair com o rosto em terra. A. A expressão "Israel e Judá", no versículo 52, tam bém aparece em 1 Sam uel 18:16, indicando que Saul não tinha uma nação nem um exército unificado. Depois da m orte de Saul e de seus filhos, foi a tribo de Judá que recebeu Davi de braços abertos com o seu rei (2 Sm 2:1-4). 9. Alguns estudiosos do Antigo Testam ento acreditam que Davi escreveu o Salm o 8 para glorificar a vitória de Deus sobre Golias. Tanto 1 Samuel 17 quanto o Salm o 8 enfatizam o nome de D eus, as aves do céu e as feras do cam po, bem com o o desejo de Deus de cuidar do frágil ser hum ano e de usá-lo para seus propósitos. 7 U m R ei I n v e jo s o 1 S am uel 1 8 - 1 9 ara ir à guerra, os hom ens israelitas de P veriam ter, pelo m enos, 20 anos de ida­ de (Nm 1:3), mas é provável que D avi tives­ se apenas 18 anos quando se tornou oficial num po sto e le v a d o do e x é rc ito isra e lita (1 8 :5 ). D esde o co m eço dessa nova incum ­ bência, o jovem viu-se num conflito mortal com o rei Saul. D avi não criou problem as para Saul, mas sim revelou perturbações pro­ fundas que já se enco ntravam presentes. Davi era um hom em honesto que vivia pela fé, enquanto Saul era um homem dissim ula­ d o , in trig u is ta e m u n d a n o . D a v i h a v ia aceitado sua nom eação com o próxim o rei de Israel com grande hum ildade, enquanto Saul beirava a paranóia ao tentar proteger seu trono. Deus tinha abandonado Saul, mas havia dado o poder de seu Espírito a Davi, e o rapaz com andou os soldados de Saul em v itó rias su cessivas. Podem os aco m p an h ar alguns dos principais estágios da oposição cada vez mais intensa de Saul a D avi. 1 . S a u l d e s e ja a m o r t e d e D a v i (1 S m 18:1-12) H ouve um tempo em que Saul "am ou mui­ to" Davi (1 6 :2 1 ), mas a atitude do rei transformou-se em inveja e, depois, em ódio. No entanto, o Senhor estava com D avi (1 8 :12 , 14, 2 8 ), e Saul não poderia lhe fazer mal. Ao longo do período de cerca de dez anos du­ rante o qual Davi foi um fugitivo, o Senhor não apenas frustrou repetidam ente os planos de Saul com o tam bém usou a hostilidade do rei para am adurecer D avi e transformá-lo num hom em de coragem e de fé. Enquanto Saul protegia seu trono, Davi estava sendo preparado para assum ir seu trono. A m o r (w . 1-4). Muitos leitores da Bíblia ainda vêem Davi e Jônatas com o dois ado­ lescentes brincalhões que gostavam um do outro, pois tinham interesses em com um , mas esse é um retrato superficial e equivocado. U m a vez que fazia parte do exército do pai, Jônatas deveria ter pelo menos 20 anos de idade, e o fato de já estar no com ando de um terço do exército e de ter conquistado duas grandes vitórias (13:1-4; 14:1 ss) indica que era um soldado experiente, não um ado­ lescente im aturo. Alguns cronologistas bíbli­ cos calculam que havia, possivelm ente, uma diferença de idade de vinte e cin co a vinte e oito anos entre Davi e Jônatas. D epois de ouvir seu pai e D avi conver­ sarem, Jônatas desenvolveu uma afeição por D avi co m o só acontece entre com panhei­ ros de co m b ate.1 Jônatas era o filho mais velho de Saul, o próxim o candidato ao tro­ no de Israel que, na verdade, o Senhor já havia entregue a D avi, de m odo que a ami­ zade entre os dois foi, sem dúvida alguma singular. Q uand o Jônatas entregou suas ves­ tes oficiais e sua arm adura a Davi, fazendc dele um amigo e um igual, estava reconhe­ cendo que, um dia, D avi tomaria seu lugar ind icand o que D avi deve ter lhe contadc sobre sua unção. O s dois am igos fizerarr uma aliança, de acordo com a qual, quandc Davi se tornasse rei, Jônatas seria o segun­ do no poder (2 0 :1 6 , 1 7 , 4 2 ; 23:16-18 ) , e Davi se com prom eteu a proteger da morte a fa­ m ília de Jônatas. Saul não se agradou nem um pouco ca am izade de seu filho com D avi. Em prime no lugar, Jônatas era o melhor com andante de Saul e servia para m anter uma boa im agedo rei. Saul tam bém tem ia que Jônatas l e velasse segredos da corte a D avi, e o desp-azer do rei só aumentou quando d e sco b "que D avi já havia sido ungido para sucecélo. Saul considerava Davi um inimigo, ur~a am eaça ao futuro de seu filho, ainda q--a esse não fosse o modo de Jônatas encara- a situação. Porém , quando um líder alimentase de orgulho, inveja e m edo, suspeita da tudo e de todos. P o p u la rid a d e (vv. 5-7). "C o m o o cri; prova a prata, e o forno, o ouro, assim, : 1 SAMUEL 1 8 - 1 9 mem é p ro v a d o p e lo s lo u v o re s q u e 251 descreve-a co rretam en te com o "po dridão dos ossos". E a dor que sentim os dentro de nós quando alguém realiza ou recebe algo que pensam os que nos pertence. A inveja é o pecad o de pessoas bem -sucedidas que não suportam ver outros galgarem novas p o siçõ es e, m ais ce d o ou m ais tarde, to­ marem seu lugar. Som os, por nossa própria natureza, seres orgulhosos que desejam re­ co n hecim en to e aplauso e, desde a infân­ cade, ainda não estam os prontos para uma cia, somos ensinados a com petir. O Dr. Bob ;-'om oção. C o o k lembrava-nos com freqüência de que Davi foi um sucesso absoluto em suas todo mundo ostenta um a placa que diz: "Por atitudes, conduta e serviço, e os servos de favor, façam com que me sinta im portante". Saul, bem com o o povo de Israel, demonsBoa parte da publicidade m oderna desen­ T 2 r a m seu reconhecim ento e seus louvores volve-se a partir da inveja e contrasta astu­ em público. Essa aclam ação popular comeciosam ente "aqueles que têm " com "aqueles Bd u depois da vitória extraordinária de Davi que não têm ", instigando estes últim os a -obre G o lia s, quando o exército de Israel com prar seus novos produtos e a ficar em c-e^seguiu os filisteus por m ais de q u inze dia com "aqueles que têm ". As pessoas inve­ :_,ilôm etros, derrotou-os e tomou seus des­ josas estouram o limite do cartão de crédito pojos (1 Sm 17:52ss). Q u an d o Saul e seus para com p rar coisas de que não precisam homens voltaram para o acam pam ento, as com o simples objetivo de im pressionar ou­ — jlh e re s foram ao encontro dos soldados tros que nem sequer se im portam! ■ítoriosos e louvaram tanto Saul quanto DaM as a inveja con duz facilm ente à ira, e ■i. C om o era costum e da cultura hebraica, esta, por sua vez, é muitas vezes o primeiro K u louvor foi exagerado, mas, em certo senpasso para o hom icídio (M t 5:21-26). Isso Édo, tam bém verdadeiro. A vitória de Davi explica por que Saul atirou sua lança em Davi sobre G o lias permitiu que o exército todo quando o rapaz estava tentando acalm ar o :e Israel conquistasse os filisteus, de modo rei e ajudá-lo a superar sua depressão. O S e n h o r p e rm itiu que D a v i e s c a p a s s e , e :xie os feitos heróicos de cada soldado fo-aTt, na verdade, um triunfo para Davi. quando Davi voltou à presença do rei, Saul Inveja e ira (vv. 8-11). "Q u an d o um co ­ tentou matá-lo outra vez. É provável que es­ ses dois acon tecim en to s tenham ocorrido lação orgulhoso encontra-se com lábios bajiad o res, tem-se uma conjuntura perigosa", depois da vitória sobre G o lias, mas antes de r íse John Flavel, escritor e ministro presbiteDavi ser nom eado oficial do exército, e, no " =no do século dezessete. Ao que parece, entanto, Davi perm aneceu fiel a seu rei. ;icân tico das m ulheres não afetou Davi, mas M e d o (v. 12). O Senhor protegeu seu ser­ enfureceu Saul. O rei já havia perdido seu vo Davi da mão hom icida de Saul, fato que ■e:no (1 5 :2 8 ), mas ainda assim perguntou: só fez crescer o medo de Saul (vv. 1 5, 29). ■;ue lhe falta, senão o reino?" A reação de Sem dúvida, o rei sabia que estava lutando Saul ao sucesso de D avi foi exatam ente o uma batalha perdida, pois o Senhor estava :p o sto da atitude de João Batista quando do lado de D avi e havia retirado seu Espírito de Saul. Porém , Saul m anteve um a fachada r»e falaram sobre o grande sucesso de Jea is : "C o nvém que ele cresça e que eu dim i­ de valentia na tentativa de im pressionar seus nua" (Jo 3 :3 0 ). oficiais com sua autoridade. M esm o que Saul A inveja é um inimigo traiçoeiro e pe­ tenha errado o alvo, as pessoas a seu redor rigoso, um câ n c e r que co rró i lentam ente entenderam a mensagem inequívoca que o ■e ssa vid a interior e que nos leva a d ize r rei estava transm itindo: "Saul é o rei e seu e a fazer coisas terríveis. Provérbios 1 4 :3 0 desejo é que D avi seja morto". re:ebe" (Pv 2 7 :2 1 ). A ssim com o o crisol e i fornalha testam o metal e o preparam para : -.so, os elogios testam e preparam as pes~:as para aquilo que D eus tem planejado a elas. A form a de reagir ao louvor reve3 que há em nosso íntim o e se estam os ntos a receb er novas responsabilidades. Se o louvor nos co ndu z à hum ildade, Deus pode nos usar, mas se ele nos enche de vai- 252 2 . Saul 1 SAMUEL 1 8 - 1 9 p la n e ja a m o r t e d e D avi (1 Sm 1 8 : 1 3 - 3 0 ) "C re r é viver sem tram ar", porém Saul era m elhor em criar tramas do que em confiar no Senhor. Se Saul desobedecia a D eus, ti­ nha sem pre uma desculpa preparada a fim de livrá-lo de qualquer dificuldade, e se as pessoas questionavam sua liderança, pensa­ va em formas de eliminá-las. Tom ado de ira e de inveja e determ inado a não abrir mão da coroa, Saul decidiu que o jo vem Davi deveria ser morto. S a u l envia D a vi para a batalha (vv. 1316). Um a vez que Davi era um soldado ex­ cepcional e um líder nato, o mais lógico a fazer era dar-lhe uma missão que o afastaria do cam po, colocando-o num a situação em que o inimigo pudesse matá-lo. Saul nomeou D avi com andante sobre mil hom ens e en­ viou-o a lutar contra os filisteus. Se Davi fosse morto em com bate, a culpa seria do inimi­ go, e se perdesse a batalha, mas sobrevives­ se, sua popularidade ficaria abalada. Porém, o plano do rei não funcionou, pois Davi ven­ ceu todas as batalhas! Afinal, o Senhor esta­ va com ele, e o poder de D eus estava sobre ele. Em vez de elim inar D avi ou de enfra­ q uecer sua popularidade, o plano de Saul só contribuiu para transformar o rapaz num herói ainda mais adm irado pelo povo, o que fez crescer o medo que Saul tinha de Davi. S a u l exige um a façanha im p o ssív el (vv. 17-27). Saul havia prom etido dar um a de suas filhas em casam ento ao hom em que m atasse G o lias (1 7 :2 5 ), mas ainda não ha­ via cum prido a prom essa. O fato de Davi ter matado G olias não era suficiente, pois Saul esperava que Davi "[guerreasse] as guerras do Senhor" a fim de obter sua esposa, a fi­ lha mais velha de Saul, cham ada M erabe. A torpeza de Saul era tal que não se im porta­ va de usar a própria filha com o instrumento para se livrar de Davi. O texto não entra em detalhes, mas, ao que parece, Davi teria de lutar um determ inado núm ero de batalhas, a fim de que o casam ento pudesse ocorrer. Sem dúvida, Saul tinha esperanças de que Davi fosse morto durante uma dessas bata­ lhas, de modo que o rei não tivesse de en­ tregar sua filha. Porém , Davi hum ildem ente recusou a oferta, dizen do que sua fam ília não era digna de aparentar-se com o rei, de m odo que Saul entregou M erabe a outro pretendente.2 A ssim , para sua felicidad e, Saul desco­ briu que M ical, sua filha mais nova, estava apaixonada por Davi! Saul conversou com Davi sobre o assunto e disse que lhe daria outra ch an ce de reivindicar sua recom pen­ sa. M ais uma vez, Davi recusou a oferta, mas Saul insistiu. Dessa vez, pediu a alguns ser­ vos que mentissem a Davi, dizendo-lhe que Saul gostava dele e queria que se casasse com M ical, e que a corte de Saul concorda­ va com a proposta. Porém , Davi esquivouse dizendo a verdade: era de um a família hum ilde e não tinha dinheiro algum para pagar o dote de casam ento (G n 3 4 :1 2 ; Êx 2 2 :1 6 ). Q uand o os servos transmitiram a Saul a resposta de Davi, o rei astucioso viu nessa situação um a e xce le n te o p o rtu n id ad e de atacar os inimigos e de livrar-se de Davi ao m esm o tem po. Saul instruiu seus servos a com unicarem a D avi que, com o dote pela noiva, o rei desejava apenas o prepúcio de cem "filisteus incircuncisos". Saul estava cer­ to de que, mais cedo ou mais tade, Davi seria morto nessa missão. M ais uma vez, o rei estava usando uma de suas filhas em um plano para destruir um hom em inocente e. nesse caso, um hom em que M ical verdadei­ ramente amava. Não é relevante determ inar se a expres­ são "ven cid o o p ra zo " (1 8 :2 6 ) refere-se a um novo prazo ou ao primeiro que Saul ha­ via estabelecido para M erabe, pois Davi e seus ho m ens3 cum priram a m issão e fize­ ram mais do que Saul havia pedido. D a . i sobreviveu outra v e z às batalhas e trouxe para o rei duzentos prepúcios. M ais um d c; planos de Saul havia fracassado, e o rei teve de entregar M ical a Davi para ser sua esposa. C re sc e o m e d o d e S a u l (vv. 28-30). Não era a prim eira vez que isso aco n tecia (v.. 12 ,1 5 ), mas as em oções distorcidas de S a J o controlavam de tal m odo que ele ficou o bcecad o pelo desejo de matar o genro. Em m om ento algum, Davi considerou Saul seu inimigo (ver a dedicatória do SI 18), mas a:e 1 SAMUEL 1 8 - 1 9 I dia em que morreu no cam po de batalha S â jlfo i seu inimigo. D avi prosseguiu lutando os com bates do Senhor, e o Senhor conti-_o u a lhe dar grande sucesso e a engrande­ ce 's e u nom e acim a do nom e dos m elhores :>nciais de Saul. Sem dúvida, Davi ficou aten• : ao que Deus operava dentro dele e por ■•.ermédio dele; por certo, a m em ória des­ se ; acontecim entos serviu-lhe de estím ulo durante os dias tão difíceis no exílio . "Se ^eus é por nós, quem será contra nós?" (Rm S:31). 3. S aul p r o c u r a o p o r t u n id a d e s p a ra m a ta r D a v i (1 Sm 1 9 :1 - 1 7 ) A mente e o coração de Saul estavam tom a­ dos de tal m aneira pelo ódio por Davi que o admitiu abertam ente a Jônatas e a seus cortesãos que planejava matar o genro. Saul ha\ ia passado do estágio de conspirar nos ■^astidores e estava determ inado a destruir Davi da maneira mais rápida possível, orde­ nando que Jônatas e os cortesãos se juntas­ sem a ele nessa cam panha. A esperança de ;-ael encontrava-se no coração e no minis­ tério de D avi, e, no entanto, Saul desejava matá-lo! D avi co n q u istaria os inim igos de ;-ael e consolidaria o reino. Ajuntaria grande parte das riquezas em pregadas na cons­ trução do tem plo, escreveria salmos para os e»itas entoarem em louvor a Deus e até cria■ia instrum entos m usicais para tocarem . A aiiança de Deus com Davi m anteria uma luz *e;plandecente em Jerusalém ao longo dos dias som brios de decadência nacional, e o lum prim ento dessa aliança traria ao mundo )esus Cristo, o M essias. Não é de se admirar 253 que um hom em tão m agnífico fosse filho de um pai tão perverso! Se Jônatas fosse egoís­ ta, teria ajudado a elim inar D avi para ga­ rantir a coroa para si. Em vez disso, porém, sujeitou-se à vontade de Deus e ajudou Davi. Jônatas apresentou dois argumentos ao pai: (1) Davi era um hom em inocente que não m erecia a m orte;4 e (2) Davi havia ser­ vido Saul fielm ente ao co n qu istar grandes vitórias sobre os inimigos de Israel. Davi era um homem valioso e útil e jam ais havia pe­ cado contra o rei. Jônatas não m encionou que D avi tam bém era querido pelo povo, pois tal declaração só teria suscitado a ira e a inveja do rei. Saul estava num a fase de sanidade e concordou com seu filho, ch e­ gando até a jurar que não mataria Davi. Saul era um mentiroso e seus juram entos não sig­ nificavam coisa alguma (1 4 :24 , 44), mas esse co m p ro m isso perm itiu que D avi vo ltasse para a corte. Q uand o os filisteus atacaram Israel no­ v am e n te , D avi saiu co m seu s h o m en s e conquistou um a vitória absoluta. Isso só sus­ citou a inveja e a ira do rei e, mais um a vez, Saul tentou cravar D avi na parede (1 8 :1 0 , 11). Satanás é um mentiroso e um hom icida (Jo 8 :4 4 ), e, um a vez que Saul estava sob o controle do maligno, quebrou seu juram en­ to e atirou sua lança. Davi sabia que era ch e­ gada a hora de deixar a presença de Saul e de se esconder, mas, antes disso, voltou para casa a fim de ver a esposa, M ical. D esde então, Davi passaria por um exílio de quase A in terv en çã o d e Jôn ata s (vv. 1-10). Sem dúvida, Saul sabia que Jônatas daria a notícia a seu amigo tão querido, mas talvez fosse ; ; o o que o rei quisesse. Se não conseguia matar D avi, então quem sabe o am edron­ tasse de tal m odo que deixasse a terra e - jn c a mais fosse visto. D e fato, Jônatas rela•cu a Davi as palavras do rei e sugeriu que seu am igo se esco nd esse nos cam po s na dez anos, durante os quais Deus o transfor­ maria num líder. A d iss im u la ç ã o d e M ic a l (vv. 11-17). Saul imaginou que Davi voltaria para casa, de modo que, naquela noite, enviou homens para vigiar a casa de D avi e matá-lo quando saísse na m anhã seguinte. C o n h ece n d o o raciocínio do pai, M ical insistiu para que Davi partisse ainda naquela noite e fugisse para um lugar seguro. Ela o ajudou a descer por uma janela e usou um ídolo e um pouco de pêlo de cabra para dar a im pressão de que Davi ainda estava na cam a. Não se sabe o que M ical estava faze nd o com um íd olo ^ anhã seguinte, quando Jônatas falaria com 3 pai em favor de D avi. É im pressionante pagão (ídolo do lar), especialm ente um que era do tam an ho de um hom em . (R aq u el ru e Satanás estivesse tão determ inad o a matar Davi! 254 1 SAMUEL 1 8 - 1 9 escondeu dois ídolos do lar em baixo de uma sela - C n 31:33-35.) É possível que o ídolo fosse apenas um busto, e que M ical tenha usado os pêlos de cabra5 para a cab eça e travesseiros para sim ular o corp o. M esm o casada com um hom em segundo o coração do Senhor, M ical ainda adorava ídolos e, assim co m o o pai, era uma intriguista. Enquanto M ica l ocupava-se com suas intrigas, D avi orava e confiava no Senhor, e o Salm o 59 é resultado dessa experiência. Ao ler esse salmo, vem os que os espias de Saul corriam por toda a parte, esperando que Davi saísse de casa, e ouvim os Davi compará-los a cães rosnando e vagando pelas ruas da cidade. Porém , a fé de Davi estava firm a­ da no Senhor, uma vez que só ele poderia ser sua defesa e refúgio. Isso não significa que Davi tenha rejeitado qualquer plano para escapar, pois o Senhor usa meios humanos para alcançar fins divinos, mas significa que a fé de Davi não estava em si mesm o nem nos planos de M ica l, m as no Senhor dos exércitos de Israel. Pela m anhã, quando os hom ens do rei exigiram que M ical lhes entregasse o mari­ do, ela lhes disse que D avi estava doente, e, quando os hom ens relataram isso a Saul, ele ordenou que lhe trouxessem D avi com cam a e tudo! Porém , quando foram buscá-lo, os hom ens do rei d esco b riram a verd ad e , e M ical foi repreendida pelo pai por sua dissi­ m ulação, ainda que estivesse apenas seguin­ do seu exem plo! Assim com o o pai, mentiu e disse que Davi havia am eaçado matá-la se não cooperasse. 4. O p r ó p r i o S aul s a i p a r a m a t a r D a v i (1 S m 19:18-24) Davi buscou refúgio com Samuel em Ramá, pois sabia que ele era um amigo piedoso e confiável. Sam uel levou-o para a casa dos profetas, onde poderiam adorar e buscar ao Senhor. O term o naioth sig n ifica "h ab ita­ çõ es", provavelm ente um a referência à par­ te de Ram á onde a "escola de profetas" se reunia. Lá, Samuel e D avi adorariam e ora­ riam pedindo sabedoria a D eus, e os profe­ tas orariam com eles. Porém , os espias de Saul estavam por toda a parte e disseram a Saul onde poderia encontrar D avi. Assim , o rei enviou três grupos diferentes de solda­ dos para prender D avi, mas quando estes chegavam ao lugar onde os profetas esta­ vam reunidos, eram im ediatam ente tomados pelo Espírito e com eçavam a louvar e a ado­ rar a Deus! O term o hebraico traduzido por "profetiza r" pode significar “entoar cânticos e lo u var a D e u s" e tam b ém "p re n u n ciar acontecim entos". O s soldados de Saul não se tornaram profetas, mas apenas proferiram palavras inspiradas pelo Espírito de D eus. O Senhor não protegeu Davi e Samuel envian­ do um exército, mas sim enviando o Espírito Santo para transform ar guerreiros em ado­ radores. "Porque as arm as da nossa m ilícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas" (2 C o 10:4). Três grupos de soldados haviam fracas­ sado, de modo que Saul decidiu ir pessoal­ mente a Ramá. A presença de D avi em Ramá não era segredo algum, pois as pessoas 5 beira do grande poço sabiam onde ele e Samuel se encontravam e disseram a SauL Talvez a cidade inteira soubesse que algum tipo de "avivam ento espiritual" estava o co r­ ren do na escola de profetas. Saul apressouse até o lugar indicado, e, quando chegou lá, o Espírito de D eus tam bém veio sobre ele, levando-o a louvar ao Senhor. Saul re­ moveu as vestes reais que se sobrepunham às roupas normais, tornando-se, desse modo com o qualquer outro hom em e, em segui­ da, deitou-se no chão diante de Sam uel. Esse seria o último encontro dos dois até a n fatídica em que Samuel voltou do reino mortos para julgar o rei (1 Sm 28:7ss). Saul teve um a e xp e riê n cia parecida de­ pois que Sam uel o havia ungido com o r^ (1 0 :9 -1 3 ), e dessa o casião veio o ditador "Está tam bém Saul entre os profetas?", pois da e x p e riê n cia de Saul em Ram á, provérbio voltou à m oda. Esses dois ac tecim entos provam que um a pessoa p ter um a e xp e riê n cia relig io sa extraordi ria e, ainda assim, não passar por uma tra fo rm ação de caráter. No caso de Saul, duas experiências foram , de fato, envia pelo Senhor, mas Saul não se b enefici delas. M anifestações religiosas especiais n 1 SAMUEL 1 8 - 1 9 255 " s c a m , in e q u ivo ca m en te, que um a pes- lugar próxim o a G ib e á . D avi e Jônatas fa­ ■oa seja seq u e r salva (M t 7 :2 1 -2 3 ). Judas riam um a últim a ten tativa de co n cilia çã o com Saul, o que acabaria quase custando a vid a de Jônatas. Saul era um "hom em de ânim o dobre, inconstante em todos os seus cam inhos" (Tg 1 :8). Dali em diante, tentaria governar a terra e derrotar os filisteus e, ao m esm o tempo, perseguir D avi e fazer o pos­ sível para matá-lo. Q uanto -mais Davi se esgueirava para longe dele, mais fanático Saul se tornava. Por fim, deu cabo da própria vida no cam po de batalha onde lutava sem a aju­ da do ú nico hom em que p o deria ter lhe dado a vitória. ; -egou serm ões e até realizou m ilagres (M t ■ 0 : 1-8 ) e, no entanto, jam ais creu em Jesus 0 : 6:67-71; 1 3:1 0, 11; 1 7 :1 2 ) e traiu o Se•■xjr, com etendo suicídio em seguida. Assim : m o Judas, Saul teve diversas oportunidaies de ver a mão do Senhor operando e, - : entanto, em m om ento algum passou por . - i a transform ação de vida pela graça do Senhor. Enquanto Saul estava entretido com a escola de profetas, Davi escapou de Ramá e roi encontrar-se com Jônatas em algum Encontrar qualquer outra coisa nessa am izade além de uma afeição madura entre dois homens tementes a Deus é distorcer as Escrituras. Se tivesse havido algo de pecam inoso em seu relacionam ento, sem dúvida o Senhor jam ais teria abençoado e protegido D avi, o qual não poderia, de m odo algum, ter escrito o Salm o 18:19-27 d ez anos depois. £ M erabe e o m arido tiveram cinco filhos, todos eles sacrificados pelos gibeonitãs com o intento de dar cabo de uma grande 2 A expressão "hom ens de D avi" é encontrada com freqüência ao longo da narrativa de Sam uel (1 Sm 18 :2 7 ; 23:3-5; 2 4 :3 ; escassez de alim entos na terra (2 Sm 2 1 :1-9). 25 :1 2 ,1 3 ). A o que parece, alguns de seus soldados perm aneceram com ele e se tornaram seus "soldados de elite" durante o tempo do exílio. Consideravam , com razão, uma grande honra serem conhecidos com o "hom ens de Davi". •* O derramam ento de sangue inocente era um crim e gravíssimo em Israel. As seis cidades de refúgio haviam sido separadas para que inocentes envolvidos em hom icídios culposos não fossem tratados com o assassinos (D t 19:1-10), e o ritual da novilha verm elha expiava, pelo sangue inocente derram ado, homicídios dos quais não se tinha conhecim ento (D t 21:1-9). Deus abom ina o derram am ento de sangue inocente (Pv 6 :1 6 ,1 7 ), e os profetas clam aram contra esse pecado (Is 5 9 :7 ; Jr 7:6; 22 :1 7 ; 2 6 :1 5 ). Essa foi um das transgressões que causou a queda de Jerusalém e do reino de Judá (2 Rs 21 :1 6 ). O pêlo de cabra lembra-nos a história d e c o m o ja c ó enganou o pai em G ên esis 2 7 :1 5 , 16. Sem dúvida, M ical conhecia essa história. do rei, nem incitado rebelião alguma contra 8 D avi no E xílio 1 S a m u el 2 0 - 2 2 á quem tenha criticado Davi, cham an­ do-o de im pulsivo por haver deixado R am á e seu am igo Sam uei e fugido para C ib e á a fim de falar com Jônatas. Porém , Davi sabia que a experiência extática de Saul não duraria muito tem po e que não trans­ form aria o co ração do rei. Saul havia prom e­ tido a Jônatas que não atentaria contra a H vida de Davi (1 9 :6), mas já havia quebrado essa prom essa quatro vezes (vv. 20-24), de modo que a coisa mais sábia que Davi pode­ ria fazer era afastar-se de Saul e esconder-se. Perm anecer em G ib e á não seria um exercí­ cio de fé para D avi, mas sim um a atitude presunçosa com a qual ele estaria tentando a Deus. O dram a destes três capítulos en­ volve quatro personagens: Jônatas, Saul, Davi e Doegue. 1. J ô n a t a s , u m a m ig o f i e l (1 S m 2 0 :1 -2 3 ) Em toda a literatura, Jônatas e Davi destacam-se com o exem plos de amigos dedica­ dos. A situação de Jônatas era mais difícil, pois desejava ser leal ao pai e, ao mesmo tempo, ser amigo do próxim o rei de Israel. A lealdade divida, especialm ente dentro da família, é uma das situações mais dolorosas que enfrentam os na vida de fé (M t 10:3439), mas Cristo requer dedicação absoluta a ele e à vontade dele para nossa vida. A co n versa (vv. 1-10, 18-23). Davi encon­ trou-se com Jônatas em algum lugar próxim o a G ib eá e não perdeu tempo em confrontar o amigo querido com a pergunta mais pre­ mente: "E qual é o meu pecado diante de teu pai, que procura tirar-me a vida?" Davi não havia d eso b ed ecid o a ordem algum a o trono, com o também não havia transgre­ dido a lei de D eus, e, no entanto, Saul esta­ va decidido a matá-lo.1 Davi sabia que Saut era um homem invejoso, decidido a manter o trono e a passá-lo a seus descendentes, mas Davi acreditava que o Senhor poderia rem over Saul de cena em seu tempo e a sua m aneira (26:7-11). Davi am ava Jônatas pro­ fundam ente e não desejava magoá-lo criti­ cando o pai, mas a situação toda havia se tra n sfo rm a d o num a q u e stão de v id a ou morte. A resposta de Jônatas p arece um tanto ingênua, especialm ente ao considerar-se a d e claração de Saul em 1 Sam uel 19:1 e seu c o m p o r ta m e n to em R a m á . S a u l h avia atirado sua lança em Davi pelo m enos très v e z e s (vv. 10, 1 1 ; 19-.9, 10) e enviado trèí grupos de soldados para prendê-lo; por fim , o próprio Saul havia se dirigido a Ramá. a fim de cu id ar pessoalm ente do assunto (w . 20-24). Q u e mais Jônatas precisava com c prova de que o pai era um hom em pertL'bado e decid ido a destruir o rei ungido de Deus? Jônatas acreditou equivocadam en:e que seu relacionam ento com o pai era bas­ tante próxim o e que Saul lhe confiava se_seg red o s, mas os ac o n te cim e n to s subse­ qüentes deixaram claro que jô n atas estava errado, pois Saul tentou m atar até o pró­ prio Jônatas! Davi refutou o argumento de Jônatas a f ­ inando que, para Saul, a coisa mais lógica a fazer era manter o filho primogênito desí"form ado. Saul sabia que Davi e Jônatas eranr amigos chegados e que Jônatas ficaria a flh j se descobrisse as verdadeiras intenções do pai. A questão era tão séria que D avi não podia sequer acreditar naquilo que Saul czia a Jônatas. "A penas há um passo entre mim e a m orte" (2 0 :3 ). Tratava-se de uma verdade tanto em termos m etafóricos qua> to literais, pois em três ocasiões Davi ha1. ; se esquivado da lança do rei. Jônatas ofereceu-se para ajudar de quaquer modo que o amigo sugerisse, e D s r' propôs um teste simples para determ inar : que Saul sentia, de fato, por ele. Era co me cada fam ília israelita realizar uma f 1 S A M U E L 2 0 - 22 -= lua nova (N m 1 0 :1 0 ; 2 8 :1 1 -1 5 ; Sl 8 1 :3), e Saul contaria com a presença de Davi. Se : genro e principal herói militar de Saul não :i't ic ip a s s e da festa, seria um insulto para : rei e tam bém para a fam ília real, de modo :u e a ausência de Davi ajudaria a revelar a . erdadeira atitude de Saul para com o futu-3 rei. Caso Saul se enfurecesse, a avaliação de Davi seria confirm ada, mas se Saul acei­ tasse a ausência do genro e não insistisse ■a questão, Jônatas estaria certo. O único zroblem a desse plano é que Jônatas preci­ saria m entir e d ize r que D avi havia ido a B e lé m , a fim de participar de um banquete rom a própria fam ília. Davi estaria escondi­ d o no cam po, esperando Jônatas lhe dizer se era seguro ou não voltar para casa.2 Q u e m aneira segura Jônatas poderia usar z-è~a transmitir essa mensagem a D avi (1 Sm 20 : 10)? Não poderia co nfiar num dos ser• as para dar o recado, de modo que, apesar : : perigo, ele próprio teria de servir de men­ 257 em que é descrito o cuidado com passivo de Davi para com M efibosete, o filho aleija­ do de Jônatas. Jônatas reafirmou seu juram ento e incluiu toda a casa de Davi (2 0 :1 6 ), pedindo que Davi tam bém repetisse seu juram ento. Não há m enção alguma de que tenha sido ofere­ cido um sacrifício (G n 15) ou de que tenha sido assin ado algum d o cum en to pactu ai, pois o am or dos dois hom ens pelo Senhor e um pelo outro era suficien te para selar o acordo. Jônatas havia dado muita alegria e ânim o a Davi durante aqueles anos difíceis, mas não era da vontade de Deus que Davi se juntasse em caráter perm anente a Saul e a sua fam ília, pois pertenciam à tribo errada e representavam uma m onarquia condena­ da e rejeitada. D avi nunca teve um co-regente, pois Jônatas foi morto em com bate (1 Sm 3 1 :1 , 2), e Davi rejeitou M ical, a filha de Saul, com o esposa, e ela morreu sem fi­ lhos (2 Sm 6:16-23). Q u alqu er filho ao qual sageiro. Jônatas criou um plano simples, no :u a l atiraria três flechas no cam po onde Davi estaria escondido (v. 20 ). Jônatas cham aria : rap az que o estava aju d an d o e, desse ~iodo, daria a D avi um sinal e lhe diria o que fazer. M esm o se os espias de Saul esti­ vessem por perto, não entenderiam o que se passava. A alian ça (vv. 11-17). Do versículo 11 eté o versículo 23, D avi perm anece calado, enquanto Jônatas recapitula a alian ça que -aviam feito um com o outro (18:1-4). Jôna-js chegou a fazer um juram ento e prom e­ teu transm itir a D avi a m ensagem correta -o terceiro dia do banquete, de modo que ele ficasse sabendo se a disposição do rei era am igável ou se estava irado .3 Jônatas M ical tivesse dado à luz teria causado co n­ fusão na linhagem real. além da crise im ediata e tratou de acon­ tecimentos futuro. Sabia que, um dia, Davi se tornaria rei e orou para que o Senhor ise n ç o a sse seu reinado. Em sua aliança, con­ cordaram que Jônatas governaria juntam en­ te com D avi, co m o o segundo no poder 123:1 6-18). Em seguida, Jônatas pediu que, se q u a lq u e r co isa lhe a c o n te c e s s e , D avi rfo m e te sse não exterm in ar sua fam ília, e que D avi en co ntrava-se ce rim o n ialm e n te impuro e, portanto, im possibilitado de par­ ticipar do banquete real naquele dia. A re­ Davi concordou. A expressão "bondade do (2 0 :1 4 ) ap arece em 2 Sam uel 9, Se esse era o caso, tudo o que precisava fazer era separar-se dos outros durante aq u ele $ £ '. h o r " 2. S a u l, um r e i o (1 S m 2 0 :2 4 - 4 2 ) f e n d id o No prim eiro dia da festa, Davi escondeu-se na pedra de EzeI e esperou pelo sinal de Jônatas, uma v e z que havia a possibilidade rem ota de que o rei se m ostrasse favorável a recebê-lo de volta em sua corte. A a u sên cia d e D a vi (vv. 24-29). Sem pre com medo de ser atacado por alguém, Saul sentava-se com as costas voltadas para a pa­ rede, tendo A bner no lugar vizinho ao seu e Jônatas do outro lado da mesa. O lugar de Davi ao lado de Jônatas estava vazio , mas o rei não fez qualquer com entário, certo de feição consistia basicam ente de carne das ofertas p a cíficas realizadas na lua nova, e qualquer um que estivesse cerim onialm en­ te im puro era proibido de participar (Lv 7:20, 21). Talvez Davi tivesse tocado algo im undo ou tido relações com a esposa (15:16-18). 258 1 S A M U E L 2 0 - 22 dia, lavar-se, trocar de roupa e voltar ao con­ vívio social no dia seguinte. Porém , quando os hom ens se reuniram para a refeição no segundo dia, D avi não estava presente mais uma vez, indicando a Saul que a ausência de seu genro devia-se a algo mais sério do que uma simples contam i­ nação ritual. Era possível rem over a conta­ m inação ritual em um dia, mas Davi estava ausente já há dois dias. D esconfiado de tudo o que fugia à norm a entre seus oficiais, Saul perguntou a Jônatas qual era o motivo da ausência de D avi, cham ando-o desd enho ­ sam ente de "filho de Jessé" e não pelo seu nom e que, a essa altura, era tão conhecido. P o ste rio rm e n te , Saul ten taria h u m ilh ar o sum o sa cerd ote A im eleq u e, cham ando-o de "filho de A itube" (1 Sm 2 2 :1 1 ,1 2 ). Foi então que Jônatas inseriu sua m enti­ ra na co n versa e, depois disso, nada mais deu certo. Jônatas não disse que Jessé, o pai de D avi, o havia cham ado, mas sim que um de seus irm ãos havia insistido que ele participasse do banquete de sua família. Tal­ vez Jônatas esperasse que o pai iria supor tratar-se de um dos três irm ãos de D avi que serviam no exército do rei (1 7 :1 3 ), o que teria tornado a situação mais fácil de Saul aceitar. Jônatas tam bém usou um verbo que significa "sair, faze r um a visita rápida", de modo que Saul não suspeitasse que D avi estava pretendendo demorar-se em Belém para reunir os próprios soldados e tom ar o trono. A fú ria d e S a u l (vv. 30-34). Q u an d o o coração está repleto de ódio, não é preciso m uita co isa para que esse sentim ento se transforme em palavras (M t 1 2 :3 4 , 35). É pos­ sível que Saul estivesse rum inando há algum tem po so b re co m o Davi o havia insultado ao não com p arecer à festa, e quanto mais pensava, mais sua ira se inflamava. Porém, em vez de atacar D avi, o rei Saul atacou o próprio filho! Se o Senhor não tivesse inter­ vindo em Ramá, Saul teria matado Davi na presença do profeta Sam uel (1 Sm 19:2224 ); nessa ocasião, Saul afrontou o filho en­ quanto com iam um a refeição sagrada! O discurso de Saul pareceu infamar a pró­ pria esposa, mas uma com preensão correta de suas palavras mostra que descrevem s e . filho com o o mais desprezível dos seres. De acordo com Saul, a traição de Jônatas ao tef am izade com Davi indicava que ele não e 'í filho de Saul, mas sim de algum outro hol mem, pois um filho de Saul jam ais trairia j pai. Assim , Jônatas estaria difam ando a p-> pria mãe e dizendo que ela não passava x uma prostituta qualquer, um a tran sg re sso r da lei de M oisés e um a pervertida. Ao a dar D avi e não proteger o pai, Jônatas ha', .i envergonhado a mãe tanto quanto se t i\ ~ se exposto sua nudez. Ela havia dado à l_ r Jônatas para que fosse sucessor do rei, e filho havia recusado a coro a em favor filho de Jessé. Na verdade, o rei esbraveja1, lz — Você não é m eu filho! D e ve ser um bastardo! A grande preocupação de Saul era preservar um reino que o S en h o r já havia torr ad o dele. Deus havia deixado bem claro qLe nenhum dos filhos de Saul jam ais herdaria : trono e que Davi era seu rei escolhido, de modo que Saul lutava contra a vontade ce D eus e pedia que Jônatas fizesse o mesmcSaul estava ciente de que o filho sabia ondeD avi havia se e sco n d id o e ordeno u qt_e Jônatas encontrasse D avi e que o trouxesse até ele para ser executado. Q uand o Jônatas protestou contra o pai e se recusou a obe­ decer à ordem do rei, Saul atirou sua lane; contra ele! Jônatas saiu da mesa e n fu re cic: e passou o resto do dia jejuando. O alerta d e Jôn a ta s (vv. 35-42). Jônatas esperou até o dia seguinte e se dirigiu a : cam po com um de seus servos, co m o se fosse praticar com seu arco e flecha. Cc~form e havia prom etido a Davi, atirou três M chas (v. 20), sendo que mandou uma dela; para bem longe do servo , de m odo qce Jônatas precisou gritar algo para o rap ar Suas palavras, porém , eram para D avi: " G . re! Apressa-te! N ão te dem ores!" Q uando rapaz voltou com as flechas, Jônatas en' gou-lhe o arco e mandou-o de volta para cid ad e e depois correu para encontrar com Davi. Esse não foi o último encontro dos (23:16-18), mas sem dúvida foi uma de dida com ovente. O s dois choraram , por 1 S A M U E L 2 0 - 22 quem mais se em ocionou foi Davi. Não sa­ bia quantos anos de exílio o esperavam e talvez jam ais voltasse a ver seu amigo queri­ do. O s povos do O rien te M édio não têm vergonha de chorar, de se abraçar e de se beijar em encontros e partidas (G n 3 1 :5 5 ; A t 2 0 :3 7 ). Jônatas deve ter anim ado Davi ao dizer: "Vai-te em paz". O s dois homens reafirm aram sua aliança, sabendo que o Se­ nhor havia ouvido suas palavras e sondado seu co ração .4 Davi partiu e viajou quase seis quilôm etros até a cidade levítica de Nobe, enquanto Jônatas voltou para G ib eá e conti­ nuou com o oficial do exército de seu pai. D e z anos depois, Saul, Jônatas e seus irm ãos seriam mortos pelos filisteus no cam ­ po de batalha (1 Sm 31:1-6). 3. D a v i, um e x il a d o esp er a n ç o so (1 Sm 2 1 :1 - 2 2 :5 ) A fuga de D avi para Nobe marcou o início de seu exílio, que durou cerca de dez anos (21:1 - 2 9 :1 1 ). Nem todas as experiências de Davi no deserto encontram-se registradas, mas o texto nos apresenta o suficiente para mostrar que ele foi um hom em de fé e cora­ gem. Apesar de ser difícil determ inar o con­ texto de todos os salm os, é bem provável que os anos em que D avi viveu com o fugiti­ vo encontrem-se refletidos nos Salm os 7, 11 - 13, 16, 17, 22, 25, 31, 34, 35, 52 - 54, 56 - 59, 63, 64, 142, 143. O Salm o 18 é seu câ n tico de lo u vor quand o D eus lhe co n ­ cedeu a vitória sobre os inimigos.5 É m aravi­ lhoso saber que Davi escreveu tantos salmos de ânim o durante esse período de grande sofrim ento e, nessas palavras, o povo de Deus nos dias de hoje pode encontrar força e coragem para tempos de provação. Jesus citou os Salm os 22:1 e 3 1 :5 quando estava na cruz. D a v i se d irig e a N o b e (2 1 :7 -9 ). N obe era uma cidade levítica, cerca de cin co qui­ lôm etros ao sul de G ib e á , onde ficava o tabernáculo (a arca ainda se encontrava na casa de A binadabe em Quiriate-Jearim ; 7:1). Em fu n ção de sua am izad e com Sam uel, Davi sabia que poderia encontrar refúgio e iiu d a no m eio dos sacerdotes; além disso, cossuía uma profunda devoção ao santuário 259 do Senhor (Sl 27:4-6). O fato de Davi ter ch e g ad o so zin h o assustou A im e le q u e , o sumo sacerdote, neto de Eli, tam bém conhe­ cido com o Aías (1 Sm 14:3). A im eleque sa­ bia da reputação e da posição de D avi e estranhou que não estivesse viajando com um a com itiva real. Se "o rei" em 1 Samuel 2 1 :2 é uma refe­ rência ao D eus Jeová (ver 2 0 :4 2 ), não era m entira de D avi, pois sem d ú vid a estava cuidando do trabalho do Senhor, com o fa­ ria pelo resto de sua vida. Porém , se essa declaração é uma mentira intencional, Davi não estava co nfiand o , mas sim tram ando. Talvez estivesse fazendo isso para proteger o sum o sacerdo te de quaisquer investiga­ ções futuras de Saul, mas seu plano falhou, pois Saul matou Aim eleque e todos os sacer­ dotes, com exceçã o de Abiatar, por haverem conspirado com seu inimigo. No entanto, é possível que D avi tivesse pedido a alguns de seus hom ens que se encontrassem com ele na caverna de A dulão (ver 2 2 :2 ). É isso o que indica a referência de Davi à pureza ri­ tual de seus homens. D avi p recisava de alim ento, de m odo que A im eleque deu-lhe os pães sagrados do tabernáculo, reservados som ente aos sacer­ dotes (Lv 24:5-9). Se o povo estivesse levan­ do seus dízim os ao tabernáculo conform e a lei ordenava, haveria muito mais com ida dis­ ponível, mas aqueles eram tempos de deca­ dência espiritual em Israel. Jesus usou esse episódio para ensinar um a lição sobre a ver­ dadeira obediência e o discernim ento espi­ ritual (M t 12:1-8; M c 2 :2 3 -2 8 ; Lc 6 :1 -5 ).6 Aim eleque desejava certificar-se de que os hom ens de D avi estavam , de fato, ritual­ m ente puros, e D avi garantiu-lhe que nem os hom ens nem seu equipam ento haviam sido contam inados (Lv 15:16-18). Davi tam ­ bém pediu a espada de G o lia s, que, por algum m o tivo, fic a v a guardad a no tab e r­ náculo juntam ente com a estola sacerdotal (Èx 28:4-13). Davi estava pronto a seguir via­ gem, levando consigo alim entos para forti­ ficá-lo e uma espada para protegê-lo. A presença de Doegue no tabernáculo é um m istério. Ele era um edom ita e, portan­ to, não havia nascido com o filho da aliança, 260 1 S A M U E L 2 0 - 22 mas havia sido "detido perante o S e n h o r " no santuário (1 Sm 2 1 :7 ). É possível que fos­ se um prosélito e que seguisse a fé hebraica a fim de não perder o em prego. C o m o che­ fe dos pastores de Saul, era fácil que Doegue houvesse se contam inado e estivesse levan­ do um sacrifício para o Senhor. Davi sabia que Doegue contaria a Saul o que havia vis­ to em N o be e que isso traria p roblem as (2 2 :9ss). D e N o b e para C a te (2 1 :1 0 -1 5). Por al­ gum tempo, Davi não foi im pelido por sua fé em D eus, mas sim por seu medo de Saul, de modo que se apressou por mais de trinta e seis quilôm etros até a cidade inimiga de G ate, de onde havia vindo G olias, o gigante filisteu (1 7:4). Não era um lugar seguro, mas depois de ver Doegue em Nobe, talvez Davi tenha decidido que sua presença em qual­ quer parte de Israel colocaria em risco a pró­ pria vida e a de seus amigos, de modo que decidiu deixar a terra. Além disso, o último lugar onde Saul iria procurá-lo seria na Filístia. A rep utação de D avi co m o grande guer­ reiro o havia p re ce d id o / e o rei e seus co n­ selheiro s não viram co m bons olhos sua presença na cidade. Por isso, Davi fingiu estar lo uco , o que perm itiu que escap asse in có ­ lum e com facilidad e. Se D avi tivesse espe­ rado no S en h o r e b u scad o sua vo n ta d e , talvez não tivesse se metido em encrencas. O s Salm os 34 e 56 são resultantes dessa estranha experiência. O Salm o 56 foi sua ora­ ção a Deus pedindo socorro quando a situa­ ção tornou-se perigosa, e o Salm o 34 foi seu hino de louvor depois que D eus o livrou, apesar de m encionar "tem ores" (SI 3 4 :4 , 7) e livramento do mal (1 Sm 2 1 :6 , 17, 19). A ênfase do Salm o 56 é sobre a difam ação e os ataques verbais dos líderes filisteus ao ten­ tarem fazer seu rei tomar uma providência com relação a Davi. Não há dúvida de que Davi viveu dias de medo enquanto ficou em G ate, mas m anteve a fé lembrando-se das promessas de Deus (vv. 10, 11) e do cham a­ do de Deus em sua vida (v. 12). D e acordo com o Salmo 34, Davi orou muito enquanto estava em G ate (vv. 4-6, 17-22), e o Senhor o ouviu. Davi aprendeu que o tem or do Se­ nhor vence todos os outros medos (vv. 9-16). Sem dúvida o Senhor foi m isericordioso com Davi e permitiu que ele fugisse de volta para a própria terra. Não im porta com o nos sen­ timos ou quão desanim adoras as circunstân­ cias pareçam ser; o lugar mais seguro do mundo é dentro da vontade de Deus. D e G ate para a caverna d e A d u lã o (22 :1 , 2 ). Essa caverna era um lugar bastante conhe­ cido em Judá, cerca de dezesseis quilôm e­ tros de G ate e vinte e quatro quilôm etros de Belém , a cidade natal de D avi. Pelo me­ nos, D avi encontrava-se em território am i­ go, e os valentes de Judá e de Benjam im juntaram-se a seu bando (1 C r 12:16-18). Foi nesse lugar que Davi ansiou por um pouco de água do poço em Belém e três de seus valentes passaram pelas linhas inimigas a fim de buscá-la para seu líder (2 Sm 23:13-17). S aben do que aq u ela água havia custado muito aos três hom ens, que arriscaram a vida a fim de buscá-la, D avi derram ou-a com o libação ao Senhor. O s grandes líderes não se esquecem do valo r de seus seguidores nem tratam com descaso os sacrifícios que fazem além de seu dever. A fam ília toda de D avi juntou-se a ele na ca ve rn a, o que sig nifica que seus irm ãos desertaram do exército de Saul e tornaramse fugitivos com o D avi. Sabiam que Davi era o rei ungido de D eus, de modo que se liga­ ram ao futuro de sua nação. M uitos outros viram em Davi a única esperança de um rei­ no bem-sucedido, de modo que também se dirigiram a ele aqueles que se achavam em dificuldades por causa de Saul bem como os en d ivid ad o s e os d esco nten tes com a fo rm a de Saul go ve rn ar Israel (ver 1 Sm 1 4 :2 9 ). No final, Davi ficou com quatrocen­ tos excelentes guerreiros, núm ero que po^ terio rm ente subiu para seiscentos (2 3 :1 3 ; 2 5 :1 3 ; 2 7 :2 ; 3 0 :9 ). Alguns de seus valentes e seus líderes são relacionados em 2 Samuel 23:8-39 e em 1 C rôn icas 1 1 :1 0-41. Saul po~suía um exército de três mil hom ens e s c o a ­ dos (1 Sm 2 6 :2 ). O s verdadeiros líderes atraem as melhcres pessoas, que vêem neles as qualidace-f de caráter que mais adm iram . A s pess que cercaram Davi teriam passado desper bidas pela história se não tivessem se uni 1 S A M U E L 2 0 - 22 a ele, assim com o os discípulos de Jesus te-am morrido no anonim ato se não tivessem andado com Cristo. Deus não costum a cha­ g a r grandes e poderosos para serem seus servos, mas sim aqueles cujo coração está aoerto a ele e que se mostram ansiosos para :b e d e ce r à sua vontade (1 C o 1:26-31). O ;e q u e n o bando de rejeitados que se juntou a Davi representava o futuro de Israel, e a :è n ç ã o de Deus estava sobre eles. A históría revela que é o rem anescente dedicado, ; o r m enor que seja, que tem a chave para o -jtu ro da obra de D eus neste mundo. O s Salm os 57 e 142 são associados ao •empo em que Davi perm aneceu na caver-a de Adulão e enfatizam a fé de D avi em Deus com o seu refúgio. Q uand o Davi ora• a a caverna tornava-se um santo taberná: j Io , onde pela fé era ca p a z d e encontrar acrigo sob as asas dos querubins no Santo ^os Santos (5 7 :1 ). O que para outros pare; a uma caverna, para D avi era um santuá' 0 divino, pois o Senhor era sua porção e -eu refúgio (1 4 2 :5 ). Para D avi, a vida de fujitivo era com o estar na prisão (v. 7), mas ele confiava que o Senhor o acom panharia até o fim da provação. Sabia que Deus cumpriria suas prom essas e que lhe daria o trono e o reino. D e A d u lã o pa ra M o a b e (2 2 :3 , 4 a ). Davi "onrou o pai e a mãe e procurou protegêos, de modo que pediu ao rei de M oabe :u e lhes desse abrigo até o final do exílio. O s moabitas eram descendentes de Ló, fru­ to de sua relação incestuosa com sua filha —.ais velha (G n 19:30-38). Nos dias de M oi­ sés, os moabitas não eram um povo muito estimado pelos israelitas (D t 2 3 :3 -6 ), mas Rute, bisavó de D avi, era de M oabe (Rt 4:182 2 1, o que pode ter ajudado Davi a conse­ guir o apoio dos moabitas. D e A d u lã o para o " lugar se g u ro " (2 2 :4 b ). Depois que D avi garantiu a segurança de 261 e pode se referir a esconderijos naturais no deserto. Davi viveu "no deserto, nos lugares seguros" (2 3 :1 4 ), enquanto procurava pro­ teger a si mesm o e a seus amigos e sobre­ pujar Saul e seus espias. Porém , o profeta G ad e advertiu Davi de que a fortaleza no deserto não era segura e de que deveria voltar para a terra de Judá, de modo que D avi mudou-se para o bos'que de H erete, nas pro xim id ad es da ca ve rn a de A d u lão . Hereth quer dizer "m ata fechada". O profeta G a d e vo lta a a p are ce r nas narrativas da vida de Davi. Foi ele quem trans­ mitiu a Davi a mensagem do Senhor depois de D avi ter realizad o um ce n so do povo (2 Sm 2 4 :1 1 -1 9 ; 1 C r 2 1:9-19) e tam bém quem ajudou D avi a organizar o ministério de m úsica no santu ário do Sen ho r (2 C r 2 9 :2 5 ). A lém disso, G a d e escreveu um livro sobre o reinado de Davi (1 C r 2 9 :2 9 ). Poste­ riorm ente, o sacerdote Abiatar escaparia do m assacre de sacerdotes em N obe prom ovi­ do por Saul e se juntaria a D avi, de modo que o rei teria à sua disposição o ministério de um profeta e de um sacerdote. 4. D o e g u e , um se rvo D I S S I M U L A D O (1 Sm 2 2 :6 - 2 3 ) D escobrim os nesta passagem o motivo de o escrito r haver m e n cio n ad o D o egue no versículo 7, pois ele aparece com o persona­ gem central no drama. O n d e quer que haja um líder intriguista, terá seguidores igualmen­ te dados a intrigas, pois cada um se repro­ duz segundo sua espécie. Seguidores desse tipo são pessoas dispostas a fazer qualquer coisa para conseguir a aprovação de seu lí­ der e receb er suas recom pensas, e Doegue era um hom em assim. O m om ento era per­ seus pais, voltou a Adulão e, de lá, deslocou grupo para um "lugar seguro" ou "for­ feito para que usasse suas inform ações a fim de agradar o rei e de elevar-se acim a dos outros funcionários da corte. O fato de estar acusando o rei ungido de Deus não o inco­ m odava, nem o fato de m entir sobre o sumo sacerdote. Não é de se adm irar que Davi taleza", o qual, para muitos estudiosos, lo;alizava-se em M assad a, pró xim o ao mar ••lorto, cerca de cinqüenta e seis quilômetros a sudoeste de A dulão. O term o hebraico meMida significa "fortaleza" ou "lugar seguro" tenha desprezado Doegue e expressado sua repugnância com as palavras do Salm o 52. A ira d o re i ( w . 6-10). O rei Saul em pu­ nhava sua lança (1 Sm 1 8 :1 0 ; 1 9 :9 ; 26:72 2 ), enquanto julgava sob uma árvore numa 262 1 S A M U E L 2 0 - 22 co lin a8 próxim a a G ibeá, quando recebeu a notícia de que seus espias9 haviam desco­ berto o esconderijo mais recente de D avi. E do rei", e Saul não queria saber dessa desig­ nação ; A itu b e, por outro lado, quer dizer "bom irm ão". E evidente que o rei esta\2 bem provável que esse esconderijo fosse a fo rtaleza perto do mar M orto (1 Sm 2 2 :4 , 5), o que explica o motivo de Deus ter en­ viado uma mensagem a G ad e, alertando o fazendo todo o possível para envergonhar o sumo sacerdote, quando, na verdade, deve­ ria estar confessando -lhe seus p ecad os e buscando o perdão de D eus. D e fato, Saul estava realizando um julgam ento ilegal apre­ sentando quatro acusações: Aim eleque deu pão a Davi e forneceu-lhe um a arm a, con­ sultou a D eus por ele e, portanto, partici­ pou da "co n sp iração " para m atar Saul, de modo que Davi pudesse subir ao trono. Em grupo de Davi para que voltasse a Judá. Saul usou esse acontecim ento com o ocasião para repreender severam ente seus oficiais, sen­ do que todos eram da tribo de Benjam im . Sem pre desconfiado de traição no meio de seus funcionários, Saul lembrou os homens de que ele era o rei e, portanto, o único que poderia recompensá-los por seu serviço fiel. Davi atraiu homens dispostos a arriscar a vida por ele, mas Saul usou de suborno e de medo para manter seus soldados unidos. Saul tinha certeza de que seus oficiais conspira­ vam contra ele, pois haviam se recusado a dizer-lhe que Davi e Jônatas tinham feito uma aliança com respeito ao reino. Jônatas era o líder da conspiração, que incluía alguns dos hom ens aos quais Saul se dirigia. O s traido­ res trabalhavam para Davi, pois este lhes pro­ m etera reco m p ensá-lo s. A lém disso, Saul estava certo de que Davi planejava matá-lo! Doegue disse a verdade quando contou que havia visto Davi em Nobe e que o sumo sacerdote A im eleque havia lhe dado com ida e a espada de G o lias. Porém , não há evidên­ cia alguma de que o sumo sacerdote tenha usado o Urim e o Tumim a fim de determ i­ nar a vontade de Deus para Davi (Êx 2 8 :3 0 ; Nm 2 7 :2 1 ). A espada de G olias era guarda­ da perto da estola, e é possível que Doegue tivesse visto o sumo sacerdote segurando a estola, mas isso não prova que A im eleque havia co nsultado o Senhor para D avi. No entanto, essa m entira foi b e n éfica para a imagem de Doegue e péssim a para a ima­ gem de Davi. O ju lg a m e n to ile g a l (vv. 11-15). Nobe ficava próxim a a G ib eá, de modo que Saul m andou co n vo car im ediatam ente o sum o sacerdote, toda a sua fam ília e os sacerdotes de N obe. Saul recusou-se a cham ar o sumo sacerdote pelo nom e e, da m esma form a que D o e g u e , referiu-se a ele co m o "filh o de A itube". O nom e A im eleque significa "irm ão m om ento algum, a paranóia de Saul mostrase mais evidente ou perigosa do que nesse episódio. Q u a n d o A im e le q u e o uviu tais acusa­ ções, a primeira coisa que fez foi defender Davi e, só depois, apresentou um relato da­ quilo que ele próprio havia feito. Lembrou o rei de que Davi havia sido um servo fiel, ar­ gumento usado anteriorm ente por Jônatas. filho de Saul (1 9 :4 , 5). A nação toda respei­ tava Davi com o guerreiro valente e fiel. Pcrém, mais do que isso, D avi era genro ce Saul, m em bro da fam ília real, que sem prí havia obedecido às ordens do rei. Era tido em alta estim a pelos funcionários do paacio e havia até mesm o servido com o capi­ tão da guarda pessoal de Saul (2 2 :14 ). Se a in te n ç ã o de D avi fo sse m atar S au l, se~ dúvida teria encontrado inúm eras oportuni­ dades de fazê-lo antes de fugir. Talvez ai palavras do sacerdote tenham lem brado : rei de que era Saul quem havia tentado rr~ tar Davi e não o contrário. A im eleq u e negou que tivesse usado i estola a fim de determ inar a vontade de D e .í para Davi. Antes, declarou com ousadia qL-e se houvesse feito isso, teria sido a p rim e 'i vez, pois jam ais havia usado a estola desse m odo.10 Esse ato seria o equivalente a aba"donar Saul em troca de Davi! O sacerdc*e encerrou sua defesa afirm ando que ele e sud família não tinham conhecim ento algum Di­ urna conspiração e, portanto, era im p o s» vel que estivessem participando de algu_ i conluio secreto. A sen tença injusta (vv. 16-19). Não qualquer evidência de que Aim eleque te 1 S A M U E L 2 0 - 22 cometido um crim e capital, mas Saul anun:io u que ele e a fam ília deveriam morrer, '•(esmo que o sumo sacerdote fosse culpaio , o que não era o caso, a lei não permitia nue se castigasse a fam ília inteira pelo peca: : do pai (D t 2 4 :1 6 ). Seu crim e era saber ;u e Davi havia fugido e não relatar o fato a Saul. As coisas que Sam uel dissera ao povo em sua ad ve rtên cia sobre a m onarq uia e :ctra s coisas ainda p io res estavam ocorren: : (1 Sm 8:10-18). O governo de Saul usava • igilância constante, sistema no qual cada : cadão policiava o outro e relatava ao rei c.a n d o alguém se opunha a sua liderança. ael havia pedido um rei, "com o o têm to­ das as nações", e foi o que o povo recebeu! O s guardas que estavam com Saul resaram-se a m atar os sacerdotes. Isso nos "az lembrar da ocasião em que Saul orde* : j que o povo matasse Jônatas por haver rxeb rad o o voto e os israelitas se recusap n a lhe o bedecer (1 4 :41 -4 6 ). Saul sabia que D oegue estava pronto a praticar esse maligno, de modo que lhe deu permis­ são para executar A im eleque e sua família, :en ta e cinco sacerdotes do Senhor. Men: - ;s o e hom icida (Jo 8 :4 4 ), Doegue foi além ordens de Saul, dirigindo-se até N obe, o "d e exterm in o u toda a p o p u la ção bem :: tio os anim ais dom ésticos. 263 A inda que esse julgam ento injusto e essa sentença ilegal sejam perturbadores, deve­ mos ter em mente que faziam parte do pla­ no de D eus. O exterm ínio dos sacerdotes consistiu no cum prim ento parcial da profe­ cia om ino sa feita a Eli, o sum o sacerdote infiel (1 Sm 2:27-36; 4:10-18), pois Deus pro­ meteu co locar a casa de Z ado qu e no lugar da linhagem de Eli (1 Rs 2 :2 6 , 27 ; 4:2 ). O sa c e rd o te p ro te g id o (vv. 2 0 -2 3 ). O único sobrevivente do m assacre de Nobe foi A biatar, um dos filhos de A im eleq u e, que se tornou sum o sacerdote. Sabia que sua ú n ica e sp e ra n ça era juntar-se a D avi, de modo que fugiu para Q u e ila , onde D avi en­ contrava-se acam pado (2 3 :6 ). O texto não revela quando D avi se m udou de H erete para Q u e ila , mas ter consigo um sacerdote com um a estola foi um a ajuda eno rm e para D avi e seu grupo. O s quatrocentos hom ens tinham o profeta G ad e , o sacerdote A b ia­ tar e o rei D avi e lutavam as batalhas do Sen ho r.11 D avi tom ou sobre si a culpa pelo m assacre dos sacerdotes, mas tam bém as­ su m iu a re s p o n s a b ilid a d e de c u id a r de A biatar e de certificar-se de que fosse m an­ tido em segurança. Davi se tornara oficialm ente fora-da-lei, mas o Senhor estava com ele e, um dia, se­ ria o m aior rei de Israel. Em seus salm os, D avi m enciona com freqüência que sua vida estava constantem ente em perigo, pois havia sem pre alguém querendo matá-lo: Salmos 3 4 :4 ; 3 8 :1 2 ; 4 0 :1 4 ; 5 4 :3 ; 6 3 :9 ; 7 0 :2 . O Salm o18 resume os d ez anos de exílio de Davi e com o o Senhor o sustentou e ajudou. Ao que parece, Davi possuía um esconderijo especial conhecido somente por ele e por Jônatas, um lugar próxim o à pedra de Ezel, onde Davi se escondeu quando todos os seus problem as com Saul tiveram início (1 Sm 1 9 :2 ; 2 0 :1 9 ). O termo hebraico ezel quer d izer "a partida", algo significativo quando vem os que foi nesse local que D avi e Jônatas se separaram e de onde Davi partiu, deixando de servir a Saul. A prom essa de Jônatas de que dirá a verdade a Davi dá quase a im pressão de ele estar m inim izando o ódio do pai por Davi ■w. 12, 13). Talvez fosse natural um filho mostrar-se mais esperançoso sobre o tem peram ento do pai do que a vítim a dos abusos desse m esm o hom em , mas Jônatas não tardou a descobrir que, se tivesse a oportunidade, Saul tam bém o mataria. As palavras de Jônatas: " O S e n h o r seja entre mim e ti" não devem ser equiparadas ao acordo entre Labão e Jacó na cham ada 'b ên ção de M ispa" (G n 3 1 :43-53), que na verdade não é um a bênção. D avi e Jônatas confiavam no Senhor e um no outro; sabiam que Deus cuidaria deles e que cum priria seus propósitos. Labão e Jacó não confiavam um no outro e lembraram um ao outro de que o Senhor os estaria observando para certificar-se de que nenhum dos dois ultrapassaria o lim ite dem arcado a fim de atacar o outro. Não existe consenso entre os estudiosos da Bíblia quanto à autenticidade de todos os sobrescritos históricos anexos aos salmos, mas os salm os que não possuem sobrescrito algum representam um mistério ainda maior. Nesta obra, parto do pressuposto de que os sobrescritos são autênticos. 264 1 S A M U E L 2 0 - 22 6. O fato de Jesus m encionar Abiatar e nao A im eleque pode decorrer do fato de A biatar ser o único sacerdote sobrevivente ao 7. O s filisteus cham avam Davi de "rei", pois sabiam com o era benquisto pelo povo de Israel. Era o "rei" do cam po de batalha. 8. A palavra "R am á", que aparece em algumas versões no versículo 6, significa "altura" e, portanto, tam bém é traduzida por m assacre ordenado por Saul. "num a colina". É evidente que Saul e seus oficiais não poderiam estar em Ram á e G ib eá ao m esm o tem po, apesar de as d ia s cidades ficarem a menos de oito quilôm etros um a da outra. 9. Saul alistou todas as pessoas que pôde para ajudá-lo a encontrar D avi e usou de suborno e de intim idação para obter os resultados desejados (1 Sm 2 3 :7 , 19, 25, 27; 2 4 :1 ; 2 6 :1 ). 10. Algumas traduções do versículo 15 indicam que essa não era a primeira v ez que o sumo sacerdote consultava o Senhor p a ra D avi. Porém , não há indicação alguma de que Davi tenha ido alguma v ez a N obe pedir que o sum o sacerdote determinasse para ele a vontade de D eus, inclusive na ocasião descrita por Doegue. Davi era sim plesmente um funcionário público a serviço de Saul e não tinha direito algum de pedir ao sum o sacerdote que consultasse o Senhor para ele. M ais tarde, quando Abiatar fugiu e se juntou ao grupo de Davi, usou a estola para determ inar a vontade do Senhor. 11. Infelizm ente, Abiatar tomou o partido de Adonias quando este tentou usurpar o trono, e Salom ão o substituiu por Azarias òa fam ília sacerdotal de Zadoque. Esse foi o último passo para elim inar a fam ília de Eli do sacerdócio levítico. 9 D a v i, o L iber t a d o r 1 Sam uel 23 - 24 o segundo capítulo de seu livro U p from Slavery, Bo o kerT. Washington escreveu: Aprendi que o sucesso não deve ser mediÚo pela posição que alguém conseguiu al:an çar na vida, mas sim pelos obstáculos que ronseguiu superar enquanto tentava progre: r". D e acordo com essa medida tão ade:ja d a , D avi foi um hom em extrem am ente N T-em-sucedido. Durante dez anos, foi consirerado um fora-da-lei e, no entanto, lutou as _ atalhas do Senhor e livrou Israel de seus ini~àgos. Viveu com seus homens fiéis em luga­ res ermos da terra e, em várias ocasiões, teve de fugir para salvar a própria vida. No entan• j. sabia que, no final, o Senhor o livraria e _e daria o trono prometido. A coroação de Davi não foi im portante apenas para o povo Israel, mas também para todo o povo de I>eus de todas as eras. Isso porque, da linha­ gem de Davi, um dia viria o Redentor, Jesus ie N azaré, Filho de Davi e Filho de Deus. 1 . D a v i l i v r a a c id a d e de Q u e i la d o s -ilis te u s (1 S m 23:1-6) Queila era um a cidade fronteiriça em judá, a pouco menos de vinte quilôm etros da ci:a d e filistéia de C a te e a cerca de dezesseis ruilôm etros a oeste do bosque de Herete, c nde Davi e seus hom ens estavam acampa:o s (2 2 :5 ). Situada tão próxim a ao território 'im ig o , Q u eila era bastante vulnerável, escecialm en te durante a ép o ca da co lheita, zuando o exército filisteu estava à procura : e alim ento. Se o rei Saul tivesse se preo:upado em defender seu povo em vez de entregar-se à sua obsessão de encontrar e de matar D avi, teria enviado um destacam en­ to para proteger Q ueila. Tanto os espias de Saul quanto os de Davi não paravam de trabalhar, e os espias de Davi relataram que os filisteus estavam atacando Q u eila. Davi não tomou nenhum a providên­ cia antes de descobrir qual era a vontade de D eus, prática que todo líder precisa imitar, pois é fácil nossos interesses pessoais se co locarem no cam inho daquilo que o Se­ nhor deseja fazer. D e que maneira D avi des­ cobriu a vontade de D eus, uma vez que o sacerdote A biatar ainda não se encontrava no acam pam ento (2 3 :6 )? O profeta G ad e estava com D avi (2 2 :5 ), e é bem provável que tenha orado ao Senhor pedindo orien­ tação . D epois que A b iatar chegou com a estola, sem pre que era n ecessá rio tom ar decisõ es im portantes, D avi costum ava pe­ dir que ele consultasse o Senhor (v. 9; 2 5 :3 2 ; 26:1 1, 2 3 ).1 A ssim que D avi recebeu do Senho r o sinal para avançar, m obilizou seus homens, sendo que estes não se m ostraram muito em polgados com o plano. Era aceitável luta­ rem contra os filisteus, inimigos de longa data do povo de Israel, mas não queriam lutar contra seus irm ãos israelitas. E se Saul se voltasse contra D avi e seus homens? Nesse caso, o bando de seiscentos hom ens ficaria encurralado entre dois exércitos! Não dese­ jando im por as próprias idéias sobre os ho­ mens, D avi consultou o Senhor novamente e, mais uma vez, recebeu a instrução de res­ gatar o povo de Q u eila. Não se tratou de incredulidade da parte de D avi, pois deposi­ tava sua fé no Senhor. Antes, foi o medo no co ração de seus hom ens que fez com que estivessem despreparados para a batalha. D eus cum priu sua prom essa e ainda fez mais, pois não apenas ajudou Davi a exter­ minar os invasores filisteus, com o tam bém permitiu que tirasse deles grande quantida­ de de despojos. Davi mudou-se para Q ueila - uma cidade fortificada e foi para lá que A biatar se dirigiu quando fugiu de N obe, carregando consigo a preciosa estola sacer­ dotal (22:20-23; 2 3 :6 ). Porém , os espias de Saul não descansavam e descobriram que Davi encontrava-se em Q u eila, uma cidade com m uralhas e portas. Saul disse a seus soldados que iriam a Q u eila para salvar a 266 1 S A M U E L 23 - 24 cidade, mas sua verdadeira intenção era cap­ turar D avi, certo de que, dessa vez, ele não poderia escapar. Saul não apenas se m os­ os dias, deixando de lado os assuntos im­ portantes do reino. Porém, o Senhor esta'. 2 com Davi e providenciou que, em momen­ trou disposto a m assacrar os sacerdotes de N obe com o tam bém teria destruído o pró­ prio povo da cidade de Q u eila só para con­ seguir chegar até Davi. Q uem é controlado pela m aldade e pelo ódio perde com rapi­ d ez a cap acid ad e de avaliar co rreta m en te as situações e não tarda a abusar de sua to algum, Saul fosse bem -sucedido em sua busca. Zife era uma cidade pequena, cerca de vinte e quatro quilôm etros a sudeste ce Q u eila, no "deserto de Z ife", que fazia parte do deserto de Judá. Era uma região p o ­ bre, próxim a ao mar M orto, um lugar once a fé e a coragem de Davi foram grandem en:e testadas. Q uand o os visitantes da Terra Sa-ta vêem essa região desértica hoje em d a muitas vezes se admiram de que Davi tenha conseguido sobreviver ali. Jônatas, o amigo querido de D avi, arr ícou a vida para visitá-lo no deserto "e lh(| fortaleceu a confiança em D eus" (v. 16). Esse é o último encontro dos dois registrado na~ Escrituras. Jônatas só é m encio nad o n o ^ m ente em 1 Samuel 3 1 :2, onde o texto re a- autoridade. 2. D a v i l i v r a s e u s h o m e n s e a si m e sm o de S a u l (1 S m 23:7-29) Q uand o estava a serviço de Saul, Davi se esquivara das lanças do rei, frustrara uma tentativa de seqüestro e escapara da violên­ cia de três co m p anhias de soldados e do p róprio Saul. Um a v e z qu e era um fugitivo com a cab eça a prêm io e com mais de seiscentas pessoas sob seus cuidados, Davi pre­ cisava ter muito cuidado com o que fazia e para onde ia. Talvez houvesse outro Doegue escondido nas sombras. D e Q u eila para o d e se rto d e Z ife (vv. 71 8 ). O s e sp ias de D avi não tard aram a informá-lo de que Saul plenejava ir a Q u eila, de modo que, com a ajuda de Abiatar, Davi buscou a orientação do Senhor. Sua grande preocupação era se o povo de Q u eila o en­ tregaria e denunciaria seus hom ens a Saul. Um a v e z que D avi havia salvado a cidade dos filisteus, esperava que seus habitantes demonstrassem gratidão protegendo-o, mas não foi o que aconteceu .2 O Senhor avisou D avi de que deveria sair da cidad e, pois o povo estava p rep arad o para entregá-lo a Saul. Sem dúvida, os habitantes de Q u eila tem iam que, se não cooperassem com Saul, ele os exterm inaria com o havia feito com a população de N obe. D avi se lem brava de sua dor profunda pela tragédia de N obe e não queria que outra cidade fosse destruída por sua causa. Conduziu seus hom ens para fora da cidade e "se foram sem rumo certo" (v. 13), até que se assentaram no deserto de Zife (v. 14). Q uand o Saul recebeu a notícia de que Davi havia saído de Q u eila, suspendeu o ata­ que, mas continuou a perseguir Davi todos ta que morreu no cam po de batalha. Jô n a U ; não fazia idéia de que seria morto antes c~\ Davi tornar-se rei, pois conversou com sobre a futura co-regência e renovou ele a aliança que haviam feito (1 8 :8 ; 20:3" Garantiu a Davi que Deus certam ente o rei e que ele seria sem pre liberto das intri de Saul para capturá-lo. jônatas admitiu seu pai estava a par de todos esses pia D e Z ife pa ra o d e se rto d e M aom 19-28). O s zifeus não estavam interes em seguir o plano de D eus; sua m aior cupação era proteger-se da fúria do rei Sabiam onde D avi se esco n d ia, de m que transmitiram essa inform ação impo te a Saul, cuidando para dirigir-se a ele c "rei". Essa foi a maneira de os zifeus m rem a Saul que eram leais a ele, não a Saul continuava manipulando os israelira; fazendo-os sentir pena dele (v. 2 1 ; 21. usando um a co m b in açã o de autopi crescente e de poder im placável, que cia funcionar. O caráter de Saul se de rava rap id a m en te, m as, en q u an to issc Senhor moldava Davi com o homem v de Deus. Saul era um guerreiro apto o su fic para saber que não poderia encontrar no deserto de Judá sem alguma orient esp e cífica, de modo que pediu aos z 1 S A M U E L 23 - 2 4 ;u e lhe fornecessem inform ações mais precisas. Q u eria saber quais eram os esconderijos -as rochas e cavernas que Davi costum ava _sar e os cam inhos escondidos que usava. _ ma v e z que tivesse o mapa, poderia realizar .m a busca na região e encontrar, sem de~iora, seu inimigo. M as Davi tam bém tinha espias a seu serviço e sabia o qu e Saul estana fazend o ; além disso, o Senhor cuidava zo futuro rei. Davi saiu da região de Zife e lirigiu-se cerca de cinco quilôm etros para o sul, entrando no deserto de M aom . Determ inado a capturar a D avi, Saul o seguiu até o deserto de M aom , e os dois exércitos se encontraram na "penha", uma -lo ntanha co n hecida na região. Saul dividiu seu exército e mandou que m etade circun­ dasse um lado da m ontanha, enquanto o -estante circundava o outro lado, num a m ovi~ientação de torquês que teria, sem dúvida, :errotad o D avi e seus seiscentos soldados. : orém, o Senhor estava no controle e levou : s filisteus a atacarem parte de Judá, fazen­ do com que Saul e seus hom ens tivessem de abandonar sua investida contra D avi. O •jtu ro rei e seus hom ens foram salvos no .ítim o instante, mas D eus cum priu suas pro-tessas. A fim de com em orar esse salvamenio extra o rd in ário , os israe litas cham aram aquele local de Sela H a m m ah lekoth, que 5'gnifica "a pedra da partida". A expressão -ebraica tem o sentido de "um a pedra lisa" e. portanto, "um a pedra escorregadia", em cutras palavras, "a Pedra de Escape". Davi deslocou-se rapidam ente de M aom para o deserto de En-Gedi, próxim o ao mar M orto, .m lugar seguro e com suprim ento abun­ dante de água. Foi nessa ocasião que Davi escreveu o 5almo 54, um pedido de salvação e de vindicação do Senhor. Davi sabia que os bajula­ dores do círculo de oficiais de Saul, pessoas :o m o D o e g u e, co n tavam m entiras a seu ■espeito e davam a im pressão de que Davi desejava matar o rei. Esses aduladores espe­ ravam ser recom pensados por Saul, mas acaoaram derrotados, pois foram leais ao rei errado. O s líderes q u e gostam de bajulação e de elogios, incentivando e recom pensan­ do quem procura apenas satisfazer seu ego, 267 jam ais serão capazes de desenvolver outros líderes nem de realizar a vontade de Deus para a glória do Senhor. Davi desenvolveu oficiais que foram "hom ens valentes" (1 C r 2 1 ; 2 Sm 24), mas Saul atraiu oficiais que não passavam de "débeis m orais". "Assim , pois, pelos seus frutos os co nh ecereis" (M t 7: 20 ). 3. D a v i l i v r a Saul (1 Sm 24:1-22) d a m o r te No Salm o 5 4 , D avi orou pedin d o que o Senhor o vindicasse e que lhe desse a opor­ tunidade de provar a Saul que não era um fora-da-lei tentando matá-lo para usurpar seu trono. Afinal, Saul não era apenas o rei de Davi com o tam bém seu com andante e so­ gro, e, apesar das atitudes perversas de Saul, D avi jam ais o co n sid ero u seu inim igo.3 Deus respondeu à oração de Davi quando Saul e seus soldados o encontraram em En-Cedi. A tenta ção d e D a vi (vv. 1-4). Davi e seus hom ens esconderam -se num a caverna am ­ pla — havia muitas desse tipo na região de En-Gedi - , e Saul escolheu justam ente aquela com o lugar para "aliviar o ventre". Em se tra­ tando de questões de higiene, a lei de M oi­ sés era bastante rígida, especialm ente com relação ao acam pam ento militar (D t 23:1214). Todo soldado deveria fazer suas neces­ sidades fora do acam pam ento e, junto com as arm as, levar consigo um a pazinha para cavar um buraco e enterrar seus excrem en­ tos. Isso significava que Saul estava afastado do acam pam ento e, portanto, bastante vul­ nerável. Sem dúvida, desejava ter privacida­ de e sentiu que não estava correndo perigo. O fato de entrar exatam ente no esconderijo de Davi não apenas com provou que os es­ pias de Saul eram incom petentes, com o tam­ bém que o Senhor ainda estava no controle da situação. Enquanto D avi e seus hom ens se aper­ tavam contra as paredes no fundo da caver­ na, sussurravam uns para os outros qual era o significado daquele acontecim ento extra­ o rd in ário . O s hom ens asseveraram que a presença de Saul na caverna era o cum pri­ mento de um a prom essa de Deus segundo a qual ele entregaria Saul nas mãos de D avi.4 268 1 S A M U E L 23 - 24 M as quando foi que D eus disse isso? Esta­ vam se referindo às palavras de Sam uel a Saul em 1 Samuel 15:26-29 ou à mensagem de Deus a Sam uel em 1 Samuel 16:1? Tal­ vez essa idéia tivesse vindo das palavras de Jônatas em 1 Samuel 2 0 :1 5 , que alguns dos hom ens podem ter ouvido pessoalm ente. E bem provável que os líderes dos seiscentos hom ens tenham d iscutido essas questões entre si, pois seu futuro estava diretam ente ligado ao de Davi, e, sem dúvida, chegaram a alg u m as c o n c lu s õ e s e q u iv o c a d a s . Em momento algum Davi planejou matar Saul, pois estava certo de que o Senhor o tiraria de cena a seu m odo e a seu tempo (1 Sm 26:9-11). Para os hom ens de D avi, pareceu provi­ dencial que Saul se encontrasse a sua m ercê (1 Sm 2 4 :4 ; Êx 2 1 :1 3 ), e tanto Davi quanto Saul concord aram com eles (1 Sm 2 4 :1 0 , 1 8). M as essa não era a questão. A pergun­ ta fundam ental era: "de que m aneira o Se­ nhor deseja que usem os essa ocasião?" O s hom ens de D avi consideraram a situação um a oportunidade de vingança, enquanto D avi co n sid e ro u a m esm a situ a çã o um a oportunidade de dem onstrar m isericórdia e de provar que não havia dolo em seu cora­ ção. D eus lhe dava a chance de responder à própria oração em que pedia vindicação (SI 5 4 :1 ). Davi esgueirou-se até o manto que Saul havia posto de lado, cortou uma beira­ da dessa vestim enta e voltou ao fundo da caverna. Saul saiu de lá sem perceber o que havia acontecido, A c o n v icç ã o d e D avi (vv. 5-7). Davi co ­ nhecia bem dem ais a verdade da Palavra de D eus para interpretar esse acontecim ento com o um sinal de que devia matar Saul, pois a lei diz: "N ão m atarás" (Êx 2 0 :1 3 ). M atar o inimigo no cam po de batalha ou um atacante em defesa própria era um a coisa, mas assas­ sinar um rei que nem sequer desconfiava do que estava acontecendo era outra bem diferente. D avi lembrou seus hom ens de que Saul era o ungido do Senhor e de que ne­ nhum a pessoa de Israel tinha o direito de atacá-lo. O s israelitas não deveriam sequer am aldiço ar seus governantes, quanto mais matá-los, pois am ald iço ar um governante estava na m esm a categoria que blasfem ar contra o nome do Senhor (2 2 :2 8 ). No en tan to, a c o n s c iê n c ia de D avi o perturbou, pois ele cortara um pedaço da orla do manto de Saul. Esse gesto transmitiu três m ensagens. Prim eiro, foi um ato inso­ lente de desrespeito, que humilhou Saul, mas tam bém foi um gesto sim bólico não muito diferente do que Saul fez com o manto de Samuel depois do fiasco no episódio com os am alequitas (1 Sm 1 5 :2 7 , 2 8 ). Ao cortar parte do manto real, Davi estava declarando que o reino havia sido transferido para ele. Por fim, aquele pedaço d e pano era prova de que Davi não tinha intenção de matar o rei e de que os bajuladores da corte não passavam de mentirosos. O s homens de Davi teriam matado Saul num piscar de olhos, mas seu com andante sábio os deteve. O s líderes devem saber com o interpretar os aconteci­ mentos e reagir da maneira correta. A v in d ica çã o d e D a vi ( w . 8-15). Q uando Saul estava a uma distância segura, D avi saiu da caverna e o cham ou. Ao usar o título "O rei, meu senhor" e prostrar-se com o rosto em terra, D avi enfatizou aquilo que h avli dito a seus hom ens e mostrou a Saul que não era um rebelde. M esm o que não seja­ mos capazes de respeitar uma pessoa que o cupa determ inado cargo, devem os mostra' respeito pelo cargo em si (Rm 13:1-7; 1 Pe 2:13-1 7). Davi dem onstrou respeito cham an­ do Saul de "m eu senhor" (1 Sm 2 4 :6 , 8, 10i. "o ungido do S enhor " (vv . 6, 10), "o rei" (w . 8, 14) e "m eu pai" (v. 11). A aparição púbRca ousada de Davi tam bém mostrou a Sauí e a seu exército que seu sistema de espienagem era de um a ineficiência absurda. U san d o o p e d aço do m anto de Saui com o prova, Davi iniciou sua defesa desma^ carando a dissim ulação dos cortesãos que d ifam avam D a v i p ara S aul. A ló g ica e-a irrefutável: D avi tivera a opo rtunidade ce matar Saul e se recusara a fazê-lo. Davi chegou a adm itir que alguns de seus ho m e^ haviam insistido para que matasse o rei, ma;; ele os repreendeu. Davi não era culpado qualquer mal contra Saul nem de qualq transgressão contra o Senhor, enquanto “ era culpado de tentar matar D avi. "Julgue 1 S A M U E L 23 - 24 entre mim e ti", disse D avi, "e vin­ gue-me o S e n h o r a teu respeito [prove que os teus o ficiais são m en tiro so s]; porém a S en h o r m inha mão não será contra ti". Saul havia esperado que D avi m orresse nas m ãos dos filisteus (1 8 :1 7 ) ou dos próprios soldados 19 :2 0 , 21 ), mas tais esperanças haviam sido frustradas. No final, foi Saul quem m orreu oela p ró p ria m ão no ca m p o de b atalh a 131:1-6). Davi citou um provérbio co nh ecido5 para confirm ar o que estava dizendo: "D o s per­ versos procede a perversid ade" (2 4 :1 3 ), o que significa sim plesm ente que o caráter é revelado pela conduta. O fato de D avi não ter matado o rei indicava que Davi não ti­ nha o caráter de um rebelde nem de um -o m icid a. Porém , ao m esm o tem po, D avi sugeria fortem ente que o caráter de Saul era duvidoso, pois havia tentado matar o gen­ ro! M as o que o rei estava fazendo, de fato, ao perseguir Davi? A penas perseguindo um cão morto ou uma pulga que pulava de um jg a r para o outro! (pulgas e cães andam juntos). N aquele tem po, a expressão "cão •norto" era uma form a humilhante de opróorio (1 7 :4 3 ; 2 Sm 3 :8 ; 9 :8 ; 16:9), de modo que D avi estava se hum ilhando diante do rei e do Senhor. Davi encerrou sua defesa asseverando, pela segunda vez (1 Sm 2 4 :1 2 , 15), que o Senhor era o justo ju iz e que plei­ tearia a causa de seu servo fiel (SI 3 5 :1 ; 4 3 :1 ; ver 1 Pe 2 :2 3 ). A a testa çã o d e D a v i (vv. 16-22). M ais uma vez, o rei Saul revelou seu estado men­ tal confuso ao levantar a vo z e perguntar se era Davi quem estava falando. Por certo, Davi havia falado o suficiente para Saul identifi­ ca r que, de fato , aq u ele era seu g e n ro .6 Q uanto às lágrimas de Saul, o rei havia m a­ n ife sta d o re a ç õ e s e m o tiv a s te m p o rá ria s com o essa em ocasiões anteriores, mas elas nunca levavam ao arrependim ento nem a uma m udança em seu coração. Saul descreveu três possíveis com porta­ m entos: o divin o , de acordo com o qual 1. 269 pagam os o mal com o bem ; o hum ano, de acordo com o qual pagam os o bem com o bem e o mal com o mal; e o dem o níaco , de acordo com o qual pagam os o bem com o mal. Saul adm itiu que D avi era um ho­ mem piedoso que, ao poupá-lo, havia pago o mal com bem . No entanto, Saul estava possuído por forças dem oníacas e fez o que era mal ao único hom em que poderia tê-lo destruído. Saul confessou abertam ente sa­ ber que D avi seria o p ró xim o rei (2 3 :1 7 ; 2 4 :2 0 ) e que ele co nso lid aria a nação de Israel, d esp edaçad a por Saul. M esm o assim , a m aio r p re o cu p ação de Saul era com o pró prio nom e e com seus d escen d en tes, não com a saúde espiritual do povo. Saul fez D avi jurar que não exterm inaria sua fa­ m ília quando subisse ao trono. D avi havia feito uma alian ça sem elhante com Jônatas (2 0 :1 4 -1 7 , 4 2 ) e estava disposto a prom e­ ter a m esm a co isa a Saul. C om o é triste que os pecados de Saul tenham destruído toda a sua fam ília com e xce çã o de M efibosete, o filho aleijado de Jônatas adotado por Davi (2 Sm 9). Por saber do cham ado de Deus e por crer na prom essa do Senhor, Davi pôde ser tão ousado diante de Saul e de seu exérci­ to. Sem dúvida, foi uma santa ousadia que p o cedeu de um co ra ção em ordem com D eus. C h eg aria o dia em que D avi e sua causa seriam vindicados, e o Senhor julga­ ria os que se opuseram a ele. Saul retornou a G ib eá, mas apesar de suas lágrimas e de seu discurso em otivo, voltou a perseguir Davi (1 Sm 2 6 :2 , 21). Davi vencera muitas batalhas e cria nas prom essas de Deus, mas uma de suas m aio­ res vitórias ocorreu naquela caverna, quando se refreou e im pediu seus hom ens de m a­ tarem Saul. "M elh or é o longânim o do que o herói da guerra, e o que dom ina o seu espírito, do que o que tom a uma cidade" (Pv 1 6 :3 2 ). Trata-se de um ótim o exem plo a todos nós, mas especialm ente para aqueles aos quais o Senhor confiou a liderança. O próprio D avi foi cham ado de profeta (2 Sm 2 3 :2 ; A t 4 :2 5 ), m as esse dom parece ter sido usado principalm ente para escrever os Salm os, especialm ente aqueles que falam do M essias. 270 1 S A M U E L 23 - 24 2. Davi poderia reivindicar direitos dobrados sobre Q ue ila: era seu irm ão, m em bro da tribo de Judá e tam bém foi seu libertador. 3. No sobrescrito do Salm o 18, D avi separou Saul de seus inimigos. 4. Saul estava certo de que o Senhor havia entregado Davi em suas mãos (23 :7 ), e os hom ens de Davi estavam certos de que o 5. Davi usou um provérbio conhecido que hoje faz parte das Escrituras. No entanto, isso não significa que provérbios populares Senhor havia entregado Saul nas mãos de Davi! Tudo depende do ponto de vista! tenham a m esm a autoridade que a Palavra inspirada de Deus. Alguns provérbios contêm certa sabedoria prática, mas os provérbios têm a tendência de entrar em contradição. O conselho "prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém" é contrabalançado p or "quem muito pensa nada faz" e "a ausência aum enta o am or" p or "longe dos olhos, longe do coração". 6. É possível que o escritor tenha considerado essa questão com o um reflexo das palavras de Isaque para Jacó, o qual, na ocasião, passava-se por Esaú: "és meu filho Esaú ou não?" (G n 2 7 :2 4 ). No entanto, o m entiroso era Saul e não Davi. 10 U ma um M u l h e r S á b ia R ei I n sen sa t o e 1 S am u el 2 5 - 2 6 s relacionam entos pessoais constituem grande parte de nossa vida, sendo que o mais im portante é nosso relacionam ento com o Senhor. Se, desde a infância, você e O eu tivéssem os mantido uma lista das pessoas cue entraram e saíram de nossa vida, fica-'amos adm irados com o número e a variecade de papéis que desem penharam . Sem le var D e u s em c o n s id e ra ç ã o , o filó so fo estivador Eric Hoffer disse que os outros são "os escrito res e produtores do roteiro de nossa vida: colocam -nos para desem penhar jm papel e, seja isso de nossa vontade ou "ão , nós o interpretam os". M as não se pode deixar Deus de fora! Afinal, é ele quem es­ creve o roteiro para nós, quem escolhe o elenco e quem nos co lo ca nas cenas que clanejou. Se seguirm os sua direção, a vida torna-se o cum prim ento gratificante da von­ tade dele, mas se nos rebelarm os, a trama ;e transform ará em tragédia. Estes dois ca p ítu lo s registram quatro acontecim entos que revelam o envolvim ento ce D avi co m quatro tip o s d ife re n te s de oessoas. 1. D a v i p e rd e u m a m ig o i1 S m 25 :1) \ morte de Sam uel, profeta e ju iz de Israel, é m encio nad a duas v e ze s no livro (1 Sm 2 8 :3 ). As duas referências afirmam que todo c Israel pranteou sua morte e se reuniu para ;epultá-lo. E claro que nem todo israelita es­ tava presente no funeral, mas os líderes das :'ib os participaram dessa última homenagem c um grande hom em . A fé e a coragem de Samuel ajudaram Israel a fazer a transição da desunião política para uma m onarquia relativam ente unida. U m a v e z que o rela­ cio nam ento entre Saul e Sam uel havia se rom pido vários anos antes, é pouco prová­ vel que o rei estivesse presente no funeral, mas ainda clam aria a Samuel por socorro, mesmo depois da morte do profeta (cap. 28). O povo de Israel nem sem pre foi obe­ diente a Samuel ao longo da vida dele, mas teve o cuidado de honrá-lo quando morreu. Assim é a natureza hum ana (M t 23:29-31). Porém , em vez de preparar um túmulo sofis­ ticado em algum lugar público im portante, Samuel pediu para ser sepultado em sua casa em Ram á, provavelm ente no jardim ou no quintal. C om todo seu orgulho, o rei Saul havia preparado para si um monum ento no C arm elo (1 Sm 1 5 :1 2 ), mas Samuel - aque­ le que verdadeiram ente m erecia reconheci­ mento - fez um pedido hum ilde: descansar no próprio lar. D avi sabia que seria perigoso ir ao fune­ ral em Ramá, pois Saul teria espias no local, de modo que se retirou para o deserto. Davi dem onstrara am or e respeito por Sam uel enquanto o profeta estava vivo e, portanto, não havia necessidade alguma de fazer uma aparição pública. Samuel ungira Davi rei de Israel e, em várias ocasiões, protegera e acon­ selhara o futuro rei. C o m o é m aravilhoso quando os cristãos da geração mais velha passam tem po com líderes m ais jo vens e ajudam a prepará-los para servir ao Senhor e a seu povo, e com o é anim ador quando os líderes mais jovens ouvem e aprendem ! Sam uel era o tipo de m entor e co nse­ lheiro espiritual do qual todo líder precisa, pois colocava aquilo que era relevante para Deus antes dos interesses políticos do mo­ mento. Para Sam uel, era muito mais im por­ tante agradar ao Senhor do que ser estim ado pelo povo. Q uando o povo de Israel quis um rei, esse pedido cortou o coração do profe­ ta, mas ele obedeceu às ordens do Senhor e ungiu Saul. Não tardou para que se de­ cepcionasse com Saul, mas, em seguida, o Senhor orientou-o a que ungisse D avi. Sa­ muel faleceu sabendo que o reino estaria em boas mãos. Q u an d o Samuel faleceu, Davi encontrava-se em M assada ("lugar seguro"; 2 4 :2 2 ) e, 272 1 S A M U E L 25 - 26 acom panhado de seus hom ens, saiu de lá e foi para o "deserto de Parã", mais de cento e sessenta quilôm etros ao sul de M assada. Talvez Davi sentisse que, ao perder a influên­ cia e as orações de Sam uel, correria perigo ainda m aior e, portanto, precisava distanciarse mais de Saul. Em lugar de "Parã", alguns textos trazem o nome "M aom ", um lugar de refúgio próxim o ao mar M orto, onde Davi havia estado anteriorm ente (2 3 :24 ). O s acon­ tecim entos da história de Nabal desenrola­ ram-se em M aom , perto do C arm elo (2 5 :2), o que indica a possibilidade de Davi ter se esco ndido em M aom . Pode ser que Davi tenha fugido para o deserto de Parã, voltan­ do depois para M aom , mas considerando a natureza do terreno e a dificuldade da jorna­ da, essa idéia parece não ter fundam ento. 2. D a v i d e s c o b r e u m i n im ig o (1 S m 25:2-13) Durante a estadia anterior de Davi em M aom (2 3 :2 4 s s ), região ad jacen te ao C a rm e lo ,1 seus hom ens haviam servido de m uro de proteção para os rebanhos de Nabal e para os que cuidavam de seus animais. Nabal era um homem muito rico, porém nada genero­ so. Q uand o Davi retornou às cercanias das terras de Nabal, era tempo da tosquia, um a co n te cim e n to fe stiv o (2 Sm 1 3 :2 3 ) que o co rria toda p rim avera e no co m e ço do outono. Davi tinha esperanças de que Nabal o recom pensasse e a seus hom ens por seus serviços, pois certam ente m ereceriam algu­ ma coisa por terem protegido as ovelhas e cabras de Nabal dos ladrões que costum a­ vam aparecer no tempo de tosquia. A expectativa de Davi era lógica. Q u al­ quer homem com três mil ovelhas e mil cabras poderia dar alguns anim ais para alim entar seiscen tos hom ens que havia arriscad o a própria vida para guardar parte de sua rique­ za. Sem dúvida, por uma sim ples questão de cortesia, Nabal deveria convidar Davi e seus hom ens a partilhar de sua com ida numa ocasião festiva em que a hospitalidade era a ordem do dia. A lim entar seiscentos hom ens no deserto não seria uma tarefa simples, de modo que Davi enviou dez de seus rapazes para explicar a situação e pedir que fossem co n vid ad o s para a festa. N abal recusou-se a ouvir. Nabal é descrito co m o um hom em de caráter "duro e m aligno" (1 Sm 2 5 :3 ). Era da tribo de Judá e da fam ília de C alebe, um dos dois espias que haviam insistido para que Israel entrasse na terra prom etida (Nm 13 14; Js 14:6, 7).2 No entanto, o nom e Calebe tam bém significa "um cã o ", de m odo que talvez o escritor desejasse, ainda, transmitir esse sen tid o . Esse hom em era co m o um anim al obstinado e m aldoso do qual nin­ guém poderia aproximar-se com segurança (1 Sm 25:1 7). Um de seus servos, bem como a própria esposa, o cham aram de "filho de Belial", dizendo que "a loucura [estava] com ele" (vv. 1 7, 25 ). O termo hebraico beliya' al significa "indignidade" e, no Antigo Testamen­ to, refere-se a pessoas que transgrediam a lei d e lib e ra d a m e n te e que d e sp re zava m aq ueles que eram bons (ver D t 1 3 :1 3 ; Jz 1 9 :2 2 ; 2 0 :1 3 ; 1 Sm 2 :1 2 ). No Novo Testa­ m ento, o term o refere-se a Satanás (2 Co 6 :1 5 ). Q uand o os jovens explicaram -lhe educa­ dam ente a situação , N abal insultou-os. O term o hebraico descreve o guincho de uma ave de rapina ao atacar a presa. E usado para retratar os hom ens famintos de Saul ao ata­ car os despojos e abater os animais (1 Srr 1 4 :3 2 ; 1 5 :1 9 ). Suas palavras são registradas em 1 Samuel 2 5 :1 0 , 11 e, sem dúvida, reve­ lam o co ração de um hom em egoísta, arro­ gante e rebelde. Abigail reco nh eceu D av com o rei (vv. 28 e 30) e o cham ou de "m e t senho r", mas Nabal com parou D avi a ufr servo rebelde que abandonou seu se n h c' (v. 10)! Por certo, Nabal era um sim patizan­ te de Saul e não de D avi, outra evidência de que, ao contrário d e sua esposa, seu coraçãc não tinha lugar para as coisas espirituais. Aa observar os pronom es pessoais no versícuic 11, pode-se reco nhecer de im ediato seu o í gulho e presunção. Nabal sequer deu crédi­ to a Deus por enriquecê-lo (D t 8 :1 7 , 18; L : 12:15-21)! O s jovens relataram a resposta de Naba a D avi que, no m esm o instante, se irou e jurou vingança contra ele. D avi foi capaz ce perdoar Saul, que desejava matá-lo, mas nãc 1 S A M U E L 25 - 26 zòde perdoar Nabal, que se recusou a ali'nentá-lo e a seus hom ens. Nabal era ingrato e egoísta, mas esses não eram crim es capi­ nais; Saul era invejoso e estava o b ce cad o com o desejo de matar um homem inocen:e. Davi deixou-se controlar por sua ira e não carou a fim de consultar o Senhor, mas se aoressou em satisfazer sua sede de vingan­ ça. Se Davi tivesse levado a cabo o que in­ tentava, teria com etido um pecado terrível e causado grande estrago em seu caráter e e n sua carreira, mas, em sua m isericórdia, d Senhor o deteve. O s servos do Senhor devem manter-se . gilantes em todo o tem po, para que o ini~iigo não os ataque de surpresa nem os do­ mine. "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, com o eão que ruge procurando alguém para de.orar" (1 Pe 5 :8 ). Davi era um homem piez o so e um líder co m p eten te, mas até os -íelhores hom ens são, na melhor das hipó­ teses, apenas seres humanos. 3 . D a v i t o m a u m a e s p o s a p a r a si 1 S m 25:14-44) Q uand o não dam os ao Senhor perm issão ie governar nossa vida, ainda assim ele pre­ valece. Deus viu que Davi estava prestes a se pre cip itar e a agir co m in sen satez, de Tiodo que providenciou para que uma muner sábia e corajosa o detivesse. O p la n o sá b io d e A b ig a il (vv. 14-19). Q u e r tivesse co n sciê n cia disso quer não, quando esse jovem anônim o relatou a A b i­ gail o que seu senhor havia feito, estava ser.in d o ao Senho r. Sabia que não p o deria co n versar sobre co isa algum a com Nabal v. 1 7), de modo que foi, im ediatam ente, pro­ curar sua senhora, uma mulher sábia e pru­ dente. N aquele tem po, os pais arranjavam os casam entos de seus filhos, portanto, não nos surpreende ver uma mulher sábia casa­ da com um hom em insensato. (Infelizm en­ te, isso ainda o co rre com fre q ü ên cia nos dias de hoje sem a ajuda dos pais!) Sem dúvida, os pais de Abigail consideraram uma felicidade que sua filha se casasse com um hom em tão rico. Ela acatou o desejo dos pais, mas a vida ao lado de Nabal deveria 273 ser fastidiosa. Seu m arido só queria saber de dinheiro, com ida, bebida e de faze r as coisas a seu modo. O servo relatou com o D avi e seus ho­ mens haviam protegido os pastores e seus rebanhos e com o Nabal havia se recusado a retribuir esse favor. Será que o rapaz sabia que D avi e seus hom ens estavam a cam i­ nho para confrontar Nabal ou sim plesm en­ te supôs que isso poderia acontecer? Talvez o Senhor tenha lhe dado uma intuição espe­ cial de que a situação estava prestes a se com plicar. Nabal e seus hom ens não tinham com o se defender de Davi e de seus quatro­ centos homens. Porém, se Davi tivesse con­ seguido cum prir seu intento, só teria dado a Saul a prova necessária de que Davi era um renegado e de que seu com portam ento re­ queria providências drásticas. Abigail juntou com ida suficiente para os hom ens de D avi, mas não disse coisa algu­ ma ao marido. Ela era a senhora da casa e poderia usar as provisões da fam ília com o lhe parecesse melhor, inclusive partilhando com outros esse suprim ento. Nabal não te­ ria concordado com Abigail, apesar de sua intervenção ter sido para o bem dele. Ela não estava roubando do m arido, mas sim saldando uma dívida que ele havia se recusa­ do a pagar. A fim de fa zer um a pequena econom ia, Nabal colocara em perigo todos em sua casa e, esp ecialm ente, arriscara a própria vida. A s d e sc u lp a s h u m ild e s d e A b ig a il (vv. 20-35). Som ente um Deus soberano pode­ ria ter providenciado que Abigail encontras­ se Davi quando este estava prestes a atacar. Abigail curvou-se diante de Davi e reconhe­ ceu-o com o senhor e rei; na verdade, usou o term o "senh o r" quatorze veze s em seu discurso. Nabal não teria aprovado suas pa­ lavras nem suas ações, pois era partidário de Saul e considerava Davi um rebelde (v. 10). Abigail era uma m ulher de fé, que acre­ ditava que D avi era o rei escolhido de Deus e que Saul era apenas "um hom em " (v. 29). C o n fe s so u , m ais q u e d e p re ssa , que seu m arido era um "ho m em de Belial" (v. 25, ver v. 1 7) que fazia jus a seu nome - "lou­ co" - e explicou que ela não ficara sabendo 274 1 S A M U E L 25 - 26 antes que Davi havia pedido alim ento. A s­ sumiu a culpa por essa "transgressão" (vv. 24, 2 8 ).3 No restante de seu discurso, Abigail con­ centrou-se em Davi e no Senhor e não em Davi e Nabal, e sua ênfase foi sobre o futu­ ro de Davi. A essa altura, D avi co m eço u a acalmar-se e a perceber que se encontrava na presença de uma m ulher extraordinária. Ela ressaltou que o Senhor havia im pedido Davi de vingar-se, e Davi reconheceu que isso era verdade (vv. 32-34). Abigail admitiu que o marido m erecia ser julgado, mas seu desejo era que o Senhor o julgasse, não o rei. D e fato, ela declarou que o Senhor ju l­ garia todos os inimigos do rei. Abigail lembrou Davi de que o Senhor havia lhe dado uma "casa firm e" (ou seja, uma dinastia perm anente), de modo que ele não precisava tem er o futuro. D avi estava seguro, sua vida mantinha-se "atada no fei­ xe dos que vivem com o S e n h o r " ; mas seus inimigos seriam lançados longe com o a pe­ dra que Davi usou para derrotar G olias (ver Jr 1 0 :1 8 ). Não im portava o que Saul havia planejado fazer com D avi, o Senhor cum pri­ ria suas prom essas e colocaria Davi no tro­ no de Israel. A ssim , D avi, ficaria contente por não ter derram ado sangue a fim de se vingar ou de conseguir o reino. O Senhor trataria Davi com bondade, e o rei não teria coisa alguma a temer. Abigail apresentou apenas um pedido para si m esm a: que Davi se lem brasse dela quando entrasse em seu reino (1 Sm 2 5 : 31). Tratava-se de um pedido velado de casam en­ to, caso Nabal viesse a falecer? O u Abigail estava apenas pensando no futuro, vendo a si m esm a com o uma viúva que poderia ser beneficiada pela am izade com o rei? Talvez estivesse acautelando D avi para que se lem ­ brasse dela e de seu co nselho quando se tornasse rei, a fim de não ser tentado a to­ mar as coisas nas próprias mãos e se esque­ cer da vontade de D eus. Na verdade, Davi não esperou muito tempo depois da morte de Nabal para casar-se com Abigail! Davi bendisse o Senhor por tê-lo impe­ dido, providencialm ente, de matar pessoas inocentes e tam bém bendisse Abigail por seu conselho sábio. Foi perspicaz ao ouvir uma repreensão feita com sabedoria (Pv 15:5, 10, 31-33). É pouco provável que Saul tivesse dado ouvidos ao conselho de um a mulher. Davi escreveu no Salm o 1 4 1 :5 : "Fira-me o justo, será isso m ercê; repreenda-m e, será co m o óleo sobre a m inha ca b e ça, a qual não há de rejeitá-lo". A maneira de receber uma repreensão ou um conselho é um teste de nosso relacionamento com o Senhor e de nosso desejo de viver de acordo com sua Palavra. Davi admitiu que estava errado, o Se­ nhor o perdoou e interveio em sua situação. O ca sam ento in e sp e ra d o d e A b ig a il (w . 3 6 -4 4 ). Nabal festejava, enquanto o julga­ mento estava prestes a lhe sobrevir! Não se deteve para agradecer a D eus as bênçãos que havia lhe enviado nem considerou que havia recebido essas bênçãos apesar de sua m aldade e por causa da fé da esposa. Para Nabal, a idéia de felicidade não incluía lou­ var a Deus e alim entar os famintos, mas sim com er, fartar-se e em bebedar-se. Nabal não professava fé algum a; antes, era co m o as pessoas que Paulo descreveu: " O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre e a glória deles está na sua infâm ia, visto que só se preocupam com as coisas terre­ nas" (Fp 3 :1 9 ). Abigail foi prudente ao esperar para con­ tar ao m arido o que havia feito. A notícia deixou-o tão aturdido que sofreu um derra­ me e ficou paralisado por dez dias, depois dos quais o Senhor lhe tirou a vida. O que causou esse derrame? Foi seu orgulho e a raiva ao descobrir que a esposa havia tido a o u sad ia de aju d ar D avi sem a perm issão dele? O u foi o choque de perceber o perigo que havia corrido e com o sua casa por pou­ co não havia sido exterm inada? E se Saui ficasse sabendo que Abigail havia feito ami­ zad e com Davi? O rei poderia considerar Nabal um inimigo e mandar castigá-lo. Q uer tenha sido um desses motivos, quer a com ­ binação de todos eles que causou a parali­ sia de Nabal, foi o Senhor quem , por fim. tirou-lhe a vida. Infelizm ente, ele morreu dc modo que havia vivido: com o um louco. Quando Davi soube da morte de Nabal louvou ao Senhor por vingá-lo e por impedi-lo 1 S A M U E L 25 - 26 de ter execu tado essa vingança com as próorias m ãos. D avi preocupava-se com a glória de D eus e com o avanço de seu reino. Sem d úvid a, A big ail deve ter ficad o co n ­ tente de ver-se livre do jugo de um hom em tão p e rverso , com o qual pro vavelm en te -avia se casado contra a vontade. Abigail causara tam anho im pacto em D avi com seu caráter e sabedoria a ponto de ele co n si­ derar que seria um a boa rainha. A ssim , en. iou m ensageiros a fim de pedir a m ão de Abigail em casam en to. Era um a o po rtun i­ dade que m ulher algum a re cu saria, e ela se sujeitou a seu rei e se o fereceu até para iavar-lhe os pés! A o casar-se com A bigail, D avi não apenas tom ou para si um a boa esposa, co m o tam bém se apropriou de toda a riq ueza de N abal, cujas propriedades fi­ cavam perto de H e b ro m , onde posterior­ mente D avi estabeleceu sua residên cia real (2 Sm 2 :1 -4 ; 5 :5 ). D avi já h avia tom ado A ino ã co m o esposa, um a v e z que o nom e dela sem p re a p a re c e antes do nom e de Abigail (1 Sm 2 7 :3 ; 3 0 :5 ; 2 Sm 2 :2 ). Ela deu à luz A m nom , o prim eiro filho de D avi, en­ quanto Abigail deu-lhe Q u ileab e, tam bém cham ado de D aniel (1 C r 3 :2 ). M as e quanto a M ical, filha de Saul e primeira esposa de D avi que havia ajudado a salvar sua vida? D epois que Davi fugiu de casa, Saul entregou-a a outro hom em , pro­ vavelm ente usando essa aliança com o uma forma de fortalecer a própria posição e de rom per a ligação de Davi com o trono. Não havia nenhum a form a legal de divórcio, de modo que Saul forçou M ical a ter um rela­ cionam ento adúltero. Q u an d o D avi estava reinando sobre a tribo de Judá em Hebrom , ordenou que M ical lhe fosse devolvida (2 Sm 3:13-16). Porém , ela não continuou sendo uma esposa am orosa, e é provável que te­ nha se ressentido com o fato de Davi haver tomado o trono de Saul. M ical morreu sem filhos (6:16-23). 4 . D a v i p o u p a a v id a d o rei ! 1 Sm 26:1-25) A lguns estu d io so s do A ntigo Testam en to tentaram provar que o relato desse capítulo não passa de um a adaptação da narrativa 275 encontrada no capítulo 24, mas as evidên­ cias mostram-se contrárias a essa interpreta­ ção. H á diferenças em termos de localização (um a caverna em En-Gedi; o acam pam ento de Saul próxim o a H aquila), de hora (dia; noite), de atividades (Saul entrou na caver­ na; Davi entrou no acam pam ento), de rea­ ção de Davi (cortou uma parte do manto de Saul; tom ou a lança e 0 jarro de água de Saul) e de palavras de D avi (falou apenas com Saul; falou com Saul e A bn er). A se­ gunda experiência com Saul foi, sem dúvi­ da, mais audaciosa da parte de Davi, uma vez que estava no acam pam ento de Saul. O e p is ó d io re c e n te de D a v i com N a b al e Abigail havia lhe dado segurança sobre seu futuro reinado, ensinando-lhe uma lição va­ liosa sobre a vingança. Traição (vv. 1-4). A ssim com o N abal, os zifeus eram parentes de C aleb e (1 C r 2 :4 2 ), mas, com o m em bros da tribo de Judá, de­ veriam ter sido leais a D avi. Na esperança de obter o favor do rei, entregaram D avi a Saul pela segunda vez (1 Sm 23:1 9ss; ver Sl 54 ). Saul havia aprendido a dar o devido valo r à ap tidão de D avi co m o perito em táticas, de m odo que tom ou três mil de seus hom ens para vascu lh ar o deserto à procura de D avi. No entanto, D avi já estava à frente de Saul, pois seus espias haviam localizado o acam pam ento do rei, e D avi encontravase seguro no deserto. O Senhor m anteve D avi em segurança e livrou seu ungido sem ­ pre que Saul dele se aproximava. "Livrou-me de forte inimigo e dos que me aborreciam , pois eram mais poderosos do que eu" (Sl 18 : 17 ). A u d á cia (vv. 5-12). O Senhor deve ter instruído Davi a ir até o acam pam ento de Saul naquela noite, pois fez Saul e seus ho­ m ens caírem num sono profundo. Saul e Abner, seu capitão (1 4 :1 0 ) e tam bém seu primo (v. 50), dorm iam no meio do acam pa­ mento, cercados de carros e de bagagens. Por causa do sono sobrenatural enviado pelo Senhor, Davi e seu sobrinho, A bisai, conse­ guiram penetrar até onde Saul e A bner esta­ vam deitados.4 Essa é a prim eira m enção que as Escrituras fazem a A bisai. C om o de costu­ me, Saul havia deixado a lança à mão, pois 276 1 S A M U E L 25 - 26 a arm a sim bolizava sua posição e autoridade (2 6 :7 , 11; 2 2 :6 ; 1 8 :1 0 ; 1 9 :9 ; 2 0 :3 3 ). Abisai estava certo de que era da vonta­ de de Deus que Davi matasse Saul e desse cabo de seu reinado egoísta e de sua perse­ guição im placável ao verdadeiro rei de Israel, mas Davi o deteve. Davi acertara essa ques­ tão na caverna (24:1-6) e não havia necessi­ dade de voltar a considerá-la. Tam bém tinha visto o que o Senhor fizera a Nabal. Davi estava certo de que a vida de Saul chegaria ao fim no m omento certo e da m aneira cer­ ta, por morte natural ou pelo julgam ento de D eus, e então o trono seria seu. Q uand o Abisai olhava para Saul, via um inimigo, mas quando Davi olhava para ele, via o "ungido do S e n h o r " . Em vez de tirar a vida de Saul, Davi tomou dele uma lança e um jarro de água, de modo que pudesse provar a Saul, pela segunda vez, que não tinha intenção alguma de matá-lo. Davi não deixou Abisai segurar a lança para que não fosse tentado a usá-la. T e ria sido fá c il arg u m en tar que D avi havia se enganado na cavern a e que D eus estava lhe dando outra ch a n c e de m atar Saul, mas a decisão de D avi era baseada em princípios e não em circu n stâncias. Davi sab ia que era errad o to ca r o ungido de D eus, m esm o que o rei não estivesse ser­ vin do com o D eus desejava que o fize sse. É possível que D avi não fosse ca p az de res­ peitar o hom em , mas dem onstrou respeito por seu cargo e pelo D eu s que h avia co n fia­ do esse cargo a Saul. E sc á rn io (vv. 13-16). D avi e seu sobri­ nho dirigiram-se ao monte do outro lado do acam pam ento de Saul, um lugar seguro de onde poderiam ser ouvidos, e, de lá, Davi cham ou os soldados do acam pam ento, es­ pe cia lm e n te A b n er, guarda-costas do rei. Teve o cuidado de não humilhar Saul na pre­ sença de seus hom ens, apesar de Saul não ter co m o esca p ar facilm en te da n atu reza em baraçosa daquela situação. Davi não se identificou a Abner, referindo-se a si mesmo apenas com o "um do povo" (v. 15). A au­ sência da lança e do jarro de água era prova suficiente de que alguém havia, de fato, se aproxim ado do rei e de que poderia tê-lo m atado. A bner era culpado e poderia ter sido disciplinado por não cum prir seu dever. D e s o n e s tid a d e (vv. 17-25). Saul reco­ nheceu a voz de Davi e respondeu chamando-o de "m eu filho D avi", mas D avi não o cham ou de "m eu pai", com o havia feito an­ tes (2 4 :1 1 ). Dirigiu-se a Saul apenas como "ó rei, meu senhor". M ical, a filha de Saul, não era m ais esposa de D avi (2 5 :4 4 ), de modo que Davi não era mais genro do rei. Além disso, sem dúvida Saul não o havia tra­ tado com o filho. M ais um a vez, Davi tentou arrazoar com Saul e lhe mostrar com o estava errado em sua form a de pensar e de agir. Davi deseja­ va saber qual havia sido seu crim e para que Saul o perseguisse e quisesse matá-lo. Se D avi h avia tran sg red id o um a das leis de D eus, estava disposto a levar um sacrifício para que seu pecado fosse perdoado pelo Senhor. Porém, se Saul estava tratando Da\i com o crim inoso em função das mentiras que seus oficiais haviam lhe contado, e/es eram os transgressores e não D avi, portanto te­ riam de pagar por seus pecados. Saul e seus oficiais haviam expulsado D avi da p ró p n ; terra, a herança que o Senhor havia concedido a sua fam ília, e se Davi se m udasse p a 'í outras terras, co m o p oderia ad orar Jeo\ 9 longe do sacerdócio e do santuário?5 Porém , se Davi não era culpado de me nem de pecado algum, o que levava Sa_ a investir tanto tempo e energia em sua seg u ição ? O rei de Israel p e rse g u ia u perdiz pelo sim ples privilégio de derra seu sangue! (Perdizes não gostam de v Correm de uma cobertura para outra.) teve outra de suas recaídas sentim entais ( 24:1 7) e confessou que era um louco e u t i pecador. Prometeu a D avi que não lhe f mal, mas Davi não acreditou nele e res deu: "Eis aqui a lança, ó rei; venha aqui dos m oços e leve-a" (1 Sm 2 6 :2 2 ). Q ua D avi corto u a orla do m anto de Saul caverna, lembrou-o de que seu reino s separado dele, mas ao tomar-lhe a lança, milhou o rei e tirou dele o símbolo de autoridade. Davi poupara a vida de Saul pela segu vez e sabia que o Senhor o recom pens 1 S A M U E L 25 - 26 pelo que havia feito (Sl 7 :8 ). Porém , D avi não esperava que sua vida fosse valorizada por Saul da m esm a form a com o prezava a ■da do rei, pois sabia que não poderia con­ t a r nele. Antes, pediu ao Senhor que o re­ compensasse com proteção e segurança, da -iesm a form a com o havia protegido o rei •er Sl 18:20-27). As últimas palavras de Saul a Davi das cuais se tem registro encontram-se em 1 Sa~iuel 2 6 :2 5 e consistem num a declaração cue afirm a a grandeza dos feitos de Davi e a certeza de seu reinado. O s dois homens 277 se separaram , sendo que Saul rumou para a vergonha e a morte e Davi para a glória e vitória finais. Porém , antes disso, a increduli­ dade de Davi o levou a Ziclague, na terra dos filisteus, onde viveu cerca de um ano e m eio. Em breve, os anos que Davi passou vagando e sendo provado chegariam ao fim e ele estaria pronto a assentar-se no trono de Israel e a governar o povo de D eus. Um dia, D avi faria um a recapitulação daqueles anos difíceis e veria, em suas experiências dolorosas, som ente a bondade e m isericór­ dia do Senhor (Sl 2 3 :6 ). Não se trata do monte C arm elo , situado no extrem o norte, na fronteira entre A ser e M anassés, próxim o ao mar M editerrâneo. 2. A árvore genealógica de C alebe encontra-se em 1 Crô nicas 2:18-54, sendo interessante observar que a avó de Calebe chamava-se Efrata (2 :5 0 ), antigo nome de Belém (G n 3 5 :1 6 ). O utro dos descendentes de Calebe chamava-se Belém (1 C r 2:51 , 54; 4:4 ). U m a v ez que tanto Davi quanto Nabal eram da tribo de Judá, e tendo em vista que Davi era de Belém , talvez ele e Nabal fossem parentes distantes! Se esse é o caso, Davi teria duas vezes mais direito à hospitalidade de Nabal. O bserve que Davi refere-se a si m esm o com o "filho" de Nabal (v. 8), o que indica que esperava o respectivo tratamento. 3- Essa "transgressão" talvez incluísse mais do que apenas o egoísm o e a falta de generosidade de Nabal. Davi havia jurado matar Nabal e todos os seus homens, e é possível que, de algum modo, Abigail tivesse ficado sabendo desse juram ento. A o que parece, essa m ulher sábia tinha conhecim ento do que estava se passando no acam pam ento de D avi. Se Davi não cum prisse seu juram ento, por mais insensato que este fosse, pecaria contra o Senhor, mas Abigail declarou que assumiria a culpa em seu lugar. R ebeca ofereceu-se para tomar sobre si a m aldição de Jacó caso seu plano falhasse (G n 27:11-13). Porém , se fosse da vontade de Deus que Davi cum prisse seu juram ento, não teria intervindo da m aneira com o o fez. * Abisai, Asael e Joabe eram filhos de Zeruia, irmã de Davi (1 C r 2 :16 ), portanto, sobrinhos de Davi. Abner, capitão de Saul, matou Asael, de modo que, para a tristeza de D avi, Joabe e Abisai perseguiram o capitão e o mataram (2 Sm 2 - 3). Abisai tornou-se um dos melhores líderes militares de Davi e salvou a vida dele quando foi atacado por um gigante (2 Sm 2 1 :1 5-17). Naquele tem po, muita gente acreditava que os deuses limitavam-se apenas ao território do povo que os adorava; assim, quando alguém se mudava para outra terra, era costum e adotar o deus desse novo local. Aqueles que adoravam Jeová deveriam fazê-lo na terra de Israel. Por certo, D avi não acreditava nessa m entira; antes, exaltava Jeová com o Senhor sobre toda a Terra. V er os Salmos 8, 138, 139. 11 M o rando com o I n im ig o 1 S a m u e l 2 7 :1 - 2 8 :2 ; 2 9 - 3 0 uma idade mais m adura, D avi ouviria Deus lhe dizer: "Instruir-te-ei e te ensi­ N narei o cam inho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho. Não sejais com o o cavalo ou a m ula" (Sl 3 2 :8 ,9 ). O cavalo é im pulsivo e se apressa des­ cuidadam ente, enq ua nto a mula é obstina­ da e em paca - e todos nós im itamos um e outro... D eus não quer tratar-nos com o os hom ens tratam com os anim ais. D eseja ter in tim id ad e c o n o sco e nos guiar sob seu olhar, com o um pai orienta um filho. Q u an ­ do contem plam os a face do Senhor, pode­ mos vê-lo sorrir ou franzir a testa e discernir, por seu olhar, para onde deseja que vam os. Estes capítulos registram as experiências de Davi quando vivia sem esse tipo de orienta­ ção íntim a e am orosa. 1. D a v i d e ix a a t e r r a (1 S m 2 7 :1 , 2) Davi havia passado cerca de sete anos com o fugitivo quando decidiu refugiar-se em G ate, mas é provável que, antes disso, já tivesse em mente a idéia de sair de Israel (2 6 :1 9 ). H avia motivos de sobra para Davi ficar na terra e co n tin u ar a co n fia r que D eu s iria protegê-lo e suprir suas n ecessidad es. A fi­ nal, era o rei ungido de Israel e sabia que, a seu tempo, D eus lhe daria o trono. Abigail havia lhe garantido isso (25:27-31), e até m es­ mo Saul adm itira que, no final, D avi sairia ve n ce d o r (2 6 :2 5 ). Saul não cum p riu suas p ro m e ssas de d e ix a r D avi em p a z, e as bajulações constantes dos m entirosos que faziam parte do seu círculo mais íntim o in­ centivaram o rei a continuar sua perseguição. A vida diária de exilado no deserto estava com eçando a deixar Davi deprim ido. Além de se preocupar com a própria segurança, deveria ainda cuidar de duas esposas e de seiscentos homens. "Até quando, S e n h o r ? Esquecer-te-ás de mim para sem pre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutan­ do dentro de m inha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?" (S l 1.3:1, 2). Em cerca de três anos o exílio de D avi chegaria ao fim, e ele estaria governando o povo de Judá em Hebrom , mas não havia com o sa­ ber disso. A fim de receber as prom essas de Deus, é preciso ter fé e tam bém paciência (H b 6 :1 2 ), e D avi parecia estar vacilando nesses dois elem entos essenciais. Precisava da fé e da coragem expressadas no Salmo 27:1-3, mas, antes de criticá-lo com severi­ dade e x c e ssiv a , d e v e m o s n o s lem brar d e o casiões em que fizem os a m esma coisa. Essa cena me traz à m em ória um a situa­ ção sem elhante na vida de Cristo, quando estava prestes a enfrentar a cru z (Jo 12:2033). "Agora, está angustiada a m inha alma. e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisam ente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nom e" (Jo 12:27, 28). A glória do Pai encontrava-se acim a de todas as coisas no coração de Jesus, enquan­ to a m aio r p re o cu p ação de D avi era se_ conforto e segurança. No entanto, o Senhoestava usando as dificuldades na vida de D a\i para transformá-lo num hom em de Deus e prepará-lo para o trono. N essa ocasião, po­ rém, Davi decidiu seguir o cam inho que lhe pareceu m elhor e resolver seus problem a; sozinho. O s filhos de Deus devem ter o cuidado de não se entregar ao desalento. M oisés •cou desanim ado com o peso de seu trabaIho e quis morrer (Nm 1 1 :1 5 ), e Elias fugiu do dever por causa do m edo e do desâni­ mo (1 Rs 19). Q u an d o com eçam os a olhapara D eus através de nossas circunstância.; em vez de olhar para nossas circunstâncias com os olhos de D eus, perdem os a fé a paciência e a coragem e dam os a vitória ao inim igo. "C o nfia no S e n h o r de todo o te„ co ra ção e não te estribes no teu própr : entendim ento" (Pv 3:5 ). 1 S A M U E L 27 : 1 - 2 8 : 2 ; 2 9 - 30 "N as tuas mãos, estão os meus dias; li•a-me das mãos dos meus inimigos e dos -ieus perseguidores" (SI 3 1 :1 5 ). 2 . D a v i e n g a n a o in im ig o (1 Sm 2 7 :3 - 2 9 :1 1 ) N o co m eço de seu exílio, D avi fugira para Gate em busca de segurança, só para des­ cobrir que sua vida continuava em perigo, de modo que, para escapar, precisou fingir due estava louco (21:10-15). Naquela épo­ ca. porém , D avi estava sozinho, enquanto, nessa vez, voltou para G ate com duas espo­ sas e co m o o co m an d an te de seiscen tos soldados valentes. "C re r é viver sem tramar", e Davi continuou usando de dissim ulação. Enganou A quis em três coisas: ao pedir uma :d a d e , ao fazer referência aos ataques que seus hom ens realizaram e ao declarar seu desejo de lutar as batalhas do rei. S e u p e d id o p o r um a c id a d e (2 7 :3 -7 ). Sem dúvida, a notícia de que Saul estava •entando matar Davi chegara até os filisteus, de modo que qualquer inimigo de Saul era -em-vindo em G ate. A aptidão tática de Davi e a eficiência de seus valentes no com bate : odiam ser úteis a Aquis. Porém, é bem poss vel que Davi tenha trazido consigo de duas = três mil pessoas (1 Sm 30:1-3), um a multi­ dão e tanto para ap arecer de repente na ci­ dade de G ate. Na verdade, D avi não desejava ficar em Ia t e , pois lá o rei e seus oficiais investigariam suas atividades, de modo que pediu ao que desse a ele e a sua gente uma cida­ de só para eles. Usou de grande diplom acia 20 elaborar o pedido, humilhando-se diante do rei ("por que há de habitar o teu servo : antigo na cid ad e real?") e garantindo a -quis que seus serviços estariam sem pre a s ja disposição. Satisfeito por poder tirar toda 2duela gente de Gate, onde provavelm ente estavam causando problem as de suprimenIb de água e de alim ento, e pronto a fortale­ cer seu exército, Aquis aceitou a idéia sem demora. Entregou a D avi a cidade de Zicla£ je , cerca de quarenta quilôm etros a sudo­ este de G ate, na fronteira com a tribo de S meão, que na época se encontrava sob o controle dos filisteus. A herança da tribo de 279 Sim eão situava-se dentro da tribo de Judá, o que exp lica o fato de Z icla g u e ser asso cia­ da às duas tribos (Js 1 5 :3 1 ; 1 9 :5 ). Porém , desde o m om ento em que Aquis entregou a cidad e a D avi, ela passou a pertencer aos reis de Judá. D avi e seus hom ens não po­ deriam ter co n seg u id o m elho r quartel-general para suas o perações e fizeram bom uso dele. S e u s r e la t o s d o s a ta q u e s (2 7 :8 - 1 2 ). Aquis pensou que Davi e seus hom ens esti­ vessem atacando cidades e vilas em Judá, quando, na verdade, estavam atacando as vilas e cam pos dos aliados de Aquis! Davi estava exterm in and o o povo que Josué e seus sucessores não haviam conseguido eli­ minar quando entraram na terra, conform e as ordens dadas por M oisés em Deuteronômio 20:16-18. Ao mesm o tempo, elim inava o risco de que qualquer um dos sobreviven­ tes levasse até G ate a notícia de que Davi estava m entindo. Davi entregou a Aquis pre­ sentes dos despojos das batalhas, transmitindo-lhe relatos falsos de suas atividades, e Aquis acreditou nele. Q u an d o Judá recebeu a notícia de que D avi estava atacando os inimigos, a popularidade do futuro rei entre os líderes de Israel cresceu ainda mais. Sua re sp o n sa b ilid a d e na batalha (2 8 :1 , 2 ; 2 9 :1 -1 1 ). Foi nessa batalha que Saul e seus filhos m orreram (31:1-6), e foi a mão provi­ dencial do Senhor que impediu Davi e seus h o m ens de p a rticip are m desse co m b ate. Aquis deixou claro a D avi que esperava que ele e seus hom ens lutassem ao lado dos sol­ dados filisteus, mas D avi lhe deu um a res­ posta evasiva. "Assim saberás quanto pode o teu servo fazer" (1 Sm 2 8 :2 ). O rei inter­ pretou essas palavras com o "até agora, você recebeu apenas relatos das minhas façanhas e das proezas de meus hom ens, mas essa b atalh a nos d ará a o p o rtu n id a d e de lhe mostrar pessoalm ente nossa aptidão". M as será que esse era o verdadeiro significado das palavras de Davi? Por certo ele não luta­ ria contra seu povo, de modo que é bem provável que tivesse em m ente um plano alternativo. No entanto, o rei ficou tão im­ pressionado que nom eou D avi co m o seu guarda-costas vitalício !1 280 1 S A M U E L 27 : 1 - 2 8 : 2 ; 2 9 - 30 O s soldados reuniram-se e m archaram , num desfile, com os cinco príncipes filisteus (6 :1 6 , 17) com an dando as com p anhias, e Davi e seus hom ens na retaguarda protegen­ do o rei. Q uand o os príncipes (com andantes militares) dos filisteus viram o rei com Davi e seus seiscentos vale n tes, reagiram com protestos: "Estes hebreus, que fazem aqui?", pergunta que deve ter espantando Aquis, pois o rei co n fia va p lenam en te em D avi. M ais que depressa, A quis garantiu a seus co m a n d a n te s que h avia o b se rv a d o D avi durante um ano - aliás, desde o prim eiro dia em que Davi havia deixado Saul (21:1015) - e que confiava nele. O s líderes não poderiam discutir com seu rei, mas sugeriram uma m edida de seguran­ ça. Lembraram que, num a batalha anterior, alguns soldados israelitas do exército filisteu haviam desertado de seus postos e lutado do lado de Israel (1 4 :2 1 ), algo que D avi e seus homens tam bém eram capazes de fa­ zer. Por certo, Saul era inimigo de Davi, mas havia a po ssib ilid ad e de os dois se re co n ­ ciliarem e de lutarem juntos. A final, o povo costum ava cantar: "Saul feriu os seus milha­ res, porém Davi, os seus dez milhares" (1 Sm 2 8 :5 ; 1 8 :7 ; 2 1 :1 1 ), sugerindo que, no passa­ do, os dois haviam lutado juntos. A coisa mais segura a fazer era enviar Davi de volta a Ziciague, para longe da batalha, e deixar que realizasse os próprios ataques militares em outras regiões. O rei transmitiu a mensagem a Davi, que continuou usando de dissim ulação ao fingir ficar profundam ente ofendido com tal or­ dem . A caso ele não havia se mostrado con­ fiável? Q u eria sair à guerra e "pelejar contra os inimigos do rei, [seu] senhor", outra de­ claração am bígua que o rei interpretou a seu favor. M as quem era o "rei e senhor" de Davi - o rei Saul (2 4 :8 ; 2 6 :1 7 ), Aquis ou o Rei Jeová? E quem eram os inimigos de D avi os israelitas ou os filisteus? A quis, porém , partiu do pressuposto de que era o rei de Davi, de modo que lhe ordenou que deixas­ se C ate sem qualquer tumulto e voltasse para Z iciague, a fim de não provocar os prínci­ pes filisteus. Eles tinham diante de si uma batalha difícil, e Aquis queria que estivessem em condiçõ es ideais de com bate. Davi obe­ deceu e voltou para Z icia g u e.2 A pesar de D eus ter sido bondoso ao li­ vrar D avi e seus hom ens de participarem dessa batalha, o Senhor não tem obrigação algum a de salvar seu povo de situ açõ e s causad as por suas d ecisõ es pecam inosas. C olhem os aquilo que sem eam os, e, poste­ riormente, Davi foi enganado por membros de sua corte e até mesmo da própria família. 3 . D a v i lib e r t o u o s c a t iv o s S m 3 0 :1 - 2 0 ) D avi e seus hom ens foram im pedidos de com bater junto com os filisteus, mas ainda (1 lhes restava uma batalha a lutar, dessa vez contra os am alequitas, inimigos declarados dos israelitas (Êx 1 7:8-16; Dt 25:1 7). Pelo fato de Saul haver conquistado apenas uma vitó­ ria incom pleta sobre os am alequitas (15:111), esse povo ainda estava livre para atacar os israelitas. Perigo (vv. 1-6a). Talvez o Senhor tenha permitido o ataque a Ziciague a fim de in­ centivar Davi a sair do território inimigo e a voltar para Judá, que era seu lugar. O s líde­ res am alequitas sabiam que Davi estava em G ate e que toda a atenção voltava-se para o confronto entre os israelitas e os filisteus. Era o m om ento perfeito de desforrar-se de Davi por seus ataques e, ainda, de conseguir al­ guns despojos. U m a v e z que a maioria dos hom ens estava com D avi, os habitantes de Z icia g u e não tinham co m o o ferecer qual­ quer resistência, de modo que os invasoreí sim plesm ente raptaram o povo e levararr to d a a riq u e z a q u e p u d eram en co n tra r. Q u eim aram a cidad e, o que para eles fci um ato de vingança, mas que, da parte da Senhor, talvez tenha sido um a m ensage— m ostrando a D avi que era hora de pensaem voltar a judá. Só podem os im aginar o horror e a triste­ z a de D avi e de seus seiscentos h o m e rí. que jam ais haviam perdido uma batalha. Sua cidade havia sido incendiada, toda a sua ri­ q u eza fora levada em bora, e suas mulhere» e seus filhos haviam sido raptados. Foi pe.a m isericórdia do Senhor que os amalequitas pouparam as m ulheres e as crian ças, pois, 1 S A M U E L 2 7 : 1 - 2 8 : 2 ; 2 9 - 30 em seus ataques, D avi e seus hom ens mata*am muitas m ulheres e crianças (2 7 :1 1 ). A e x p re s sã o : "o s le v a ra m c o n s ig o " (3 0 :2 ) I gnifica, literalmente, "os tocaram de lá" e dá a im pressão de anim ais sendo tocados por pastores e boieiros. O s hom ens se acaba*am de tanto chorar, e Davi "m uito se angus* ou", verbo que significa que foi esprem ido rantra um canto, da m esm a form a que um :leiro aperta a argila dentro de um molde.  n im o (vv. 6b-15). As pessoas reagem de m aneiras diferentes às m esm as circuns­ tâncias, pois aquilo que a vida faz conosco depende daquilo que ela enco ntra dentro de nós. H o u v e quem q u ise sse ap ed re ja r Davi, reação, sem dúvida algum a, insensata. M ais do que nunca, precisavam de seu der; de que modo a morte dele iria resolver : problema? Não culpam os esses hom ens co r estarem tão aflitos, mas questionam os o 'ato de deixarem o coração prevalecer so­ bre a mente. Davi sabia que o ânim o de que rre cisava só poderia vir do Senhor. Orde-ou que o sacerdo te A b ia ta r trouxesse a estola e, ju n to s, bu scaram a vo n ta d e de Deus. Saul havia consultado o Senhor, mas ~ão havia recebido resposta algum a (28:3- 6 : porém , em sua graça, o Senhor respon­ deu ao pedido de D avi. Sem dúvida, Davi ~ão estava viven d o em obediência, mas ain­ da assim D eus lhe respondeu (SI 103:3-10). Tendo recebido garantias do Senhor de due sua perseguição ao inimigo seria bem-jce d id a , Davi e seus hom ens montaram em -^us anim ais e percorreram os mais de vinte e cinco quilôm etros até o ribeiro de Besor, :n d e d uzen to s hom ens tiveram de parar, :o is estavam exaustos. (O term o hebraico •■aduzido por "can sad os" significa "exau ri­ dos".) Essa parada poderia ter levado Davi a desanimar, porém ele e quatrocentos ho­ mens seguiram viagem . M as para onde de.eriam ir? O Senhor não lhes havia dito onde os am alequitas encontravam-se acam pados, ~ias D avi confiou que D eus iria guiá-lo. Foi então que encontraram um escravo egípcio abandonado por seu senhor am alequita, pois estava doente. A quele hom em poderia ter ~iorrido no deserto, mas Deus o preservou Dor am or a seu servo Davi. E bem provável 281 que o senhor desse escravo fosse um ho­ mem im portante, pois o servo sabia dos pla­ nos do grupo de am alequitas que haviam atacado Z iclag u e e foi ca p az de co n d u zir Davi até o acam pam ento. O senhor daque­ le escravo havia esperado que ele m orresse, mas D eus o conservara com vida para que Davi salvasse as famílias capturadas. Vitória (vv. 16-20). Tom ados de uma fal­ sa im pressão de segurança, os am alequitas com em oravam sua grande vitória, quando Davi e seus hom ens atacaram e pegaram o acam pam ento de surpresa. M ataram todos os am alequitas, exceto quatrocentos rapa­ zes que fugiram , resgataram todos os que haviam sido capturados e tomaram de volta seus pertences tom ados de Ziclague. A vi­ tória não foi apenas com pleta, mas também lucrativa para D avi, pois tom ou as riquezas e despojos dos am alequitas para si. A o recapitular o que o Senhor fez por D avi nessa fase som bria de sua vid a, podese co m p reend er m elhor co m o D eus ajuda seu povo quando este se enco ntra envol­ vido em problem as e crises. Em prim eiro lugar, o Senhor anim ou D avi para que não se d esesperasse e para que cresse que o Senhor o ajudaria. Sem pre que surge uma crise, precisam os de coragem para enfrentála, e não d e v e m o s tentar jo g ar a cu lp a em outros nem faze r de co nta que tudo está bem . O Senhor tam bém deu sabedoria para que D avi d iscern isse as p ro vid ências que deveria tom ar e deu-lhe forças para faze r o que era preciso. D avi e seus hom ens esta­ vam cansad os, mas o Senhor capacitou o com andante e quatrocentos de seus valen ­ tes de m odo que perseverassem em sua b u sca pelos invasores am alequitas. O Se­ nhor tam bém forneceu a D avi as inform a­ çõ e s n ecessá rias para que en co n tra sse o acam pam ento inimigo no meio de um im en­ so deserto. Q uand o dam os um passo de fé e co n fia m o s no Sen h o r, ele nos co n d u z sem pre que precisam os. Por fim , D eus deu a D avi e a seus hom ens a força necessária para derrotar o inimigo e recu perar os pri­ sioneiros e os despojos. "Entrega o teu cam inho ao S e n h o r , con­ fia nele, e o mais ele fará" (SI 37 :5 ). 282 1 S A M U E L 2 7 : 1 - 2 8 : 2 ; 29 - 30 4 . D a v i d i v i d i u o s d e s p o jo s (1 Sm 3 0 :2 1 - 3 1 ) Q u an d o Davi declarou a seus soldados: "Este é o despojo de D avi" (1 Sm 3 0 :2 0 ), não es­ tava tomando para si todas as riquezas dos am alequitas de m aneira egoísta, mas ap e­ nas declarando que providenciaria para que os espólios fossem distribuídos. Cad a um de seus valentes recebeu sua parte, bem com o os duzentos hom ens que haviam ficado can­ sados dem ais para continuar a perseguição. A generosidade de Davi perturbou alguns dos "m aus e filhos de Belial, dentre os ho­ mens que tinham ido com D avi" (v. 2 2 ), mas Davi não lhes deu ouvidos. Determ inou, com grande cortesia, a regra de que em seu exér­ cito os despojos fossem divididos entre to­ dos os hom ens, inclusive aqueles que não haviam lutado co n tra o inim igo. A fin al, o Senhor é quem lhes dera a vitória, de modo que ninguém tinha o direito de reivindicar espólios para si com o se fosse algo que o Senhor lhe devesse. Deus havia sido bondo­ so e generoso ao entregar o inimigo em suas mãos, e eles deviam ser bondosos e gene­ rosos ao dividir sua riqueza com outros. D avi tam bém enviou presentes desses espólios aos anciãos das cidades na região Sul de Jud á, lugares onde ele e seus ho­ mens haviam se esco nd id o no tem po em que vagaram pela região (2 3 :2 3 ). O s habi­ tantes dessas cidades haviam ajudado Da\ a fugir de Saul, e D avi sentia que m ereciarr algum tipo de pagam ento por sua bonda­ de. A final, se Saul tivesse desco berto o que haviam feito, a essas pessoas poderiam te' sido m ortas. No entanto, D avi não esta\a apenas ag rad ecen d o a esses líderes, mas tam bém preparando o cam inho para a oca­ sião em que voltaria à terra deles com o re de Israel. A p esar de a cidade ter sido queimac= pelo inim igo, D avi voltou a Z iciag u e a fim de esperar por notícias da batalha entre b rael e os filisteus. Estava certo de que nã teria de esperar m uito tem po, ce rteza lo e : co m p rovada, pois as notícias chegaram - : terceiro dia (2 Sm 1 :1 , 2). D ep o is de o u . ' o relato da m orte de Saul e de seus filh e ; Davi buscou a o rientação do Senhor, c _ e o e n vio u a H e b ro m (2 :1 -4 ). D avi rein sobre Judá durante sete anos e m eio, t do H ebrom com o sua capital (v. 11). O Senhor havia cum prido sua prom e' e as peram bulações de D avi pelo des haviam chegado ao fim. A designação "guarda pessoal", em 1 Samuel 2 8 :1 , tam bém pode ser traduzida por "aquele que guarda minha cabeça", que Aquis não se recordava de que Davi havia cortado fora e guardado a cabeça de G o lias (17:54)? O s líderes de estavam preocupados com o que Davi faria com a cabeça de seus soldados (29 :4). Pode-se ver aqui outro paradoxo inten Davi era guarda-costas de Saul (2 2:14 ), e Saul não confiava nele, mas D avi estava enganando Aquis, e o rei o havia no seu guarda-costas! Davi separou-se do rei ao am anhecer (2 9 :1 0 ,1 1 ), mas Saul foi encontrar-se com uma feiticeira ao anoitecer (28 :8), ru para a derrota e a morte que o esperavam. an te s (7 :7 - 1 4 ); em se g u n d o lu g ar, S aul encontrava-se em apuros, e Samuel não es­ tava a seu lado para transmitir-lhe o conse­ 12 O R ei E stá M orto 1 Samuel 2 8 :3 - 2 5 ; 3 1 ; 1 C r ô n ic a s 10 O Livro de 1 Samuel co m eça com o nas­ cim ento de Sam uel, um bebê espe­ cial, e term ina com a m orte de Saul, um "o m em c u lp a d o . O s p rim eiro s ca p ítu lo s z 'am em torno do tabern ácu lo , onde Deus talou ao jovem Sam uel, e os últim os capítu­ lo s concentram -se num hom em abandonamo com o qual D e u s se recu so u a falar. 'iT iu e l orou e D eus derrotou os filisteus; 5 =ul buscou a ajuda de D eus, mas o Senhor ■ o resp o nd eu, e os filiste u s derrotaram taael. 1 Sam uel é o livro do rei escolhido c-í os hom ens e um registro da decadênõa. derrota e m orte de Saul. 2 Sam uel é o '•rgistro da vida de D avi, o rei escolhido por D e u s, e m ostra co m o D e u s transfo rm o u peq u en o pastor de o velhas num po­ r o s o m o narca. O s últim os dias de Saul ião relatados nesses dois capítulos finais de 1 Samuel. 1 . U m a n o it e d e d is s im u l a ç ã o « u ç ã o e d e (1 S m 2 8 : 3 - 2 5 ) De todas as "ce nas noturnas" da Bíblia \ aliás, não são poucas é possível que seja uma das mais estranhas e mais draiicas. O espírito de um hom em m orto ou para anunciar o fim de um rei desespe" , que não conseguia achar uma saída. í^~tuel e Saul encontraram -se pela última e não foi uma reunião feliz. S a u l n ã o re c e b e u a a ju da d e D e u s (vv. ) . Vim os anteriorm ente que Sam uel hafalecido (2 5 :1 ), mas há, possivelm ente, :s m otivos para que esse fato seja repeti: : aqui. Em prim eiro lugar, Israel encona-se em apuros, e Sam uel não estava ente para salvar o povo com o havia feito lho de Deus. Samuel havia dito a Saul e ao povo que precisavam derro tar os filisteus (7 :3 ). Porém , a fé dos israelitas em D eus foi enfraquecendo gradativam ente sob a lide­ rança do rei Saul, que, nesta passagem, pode ser visto buscando deliberádam ente a ajuda do maligno. Israel estava no fundo do poço, mas se o Senhor os havia abandonado, era som ente porque, antes de tudo, Saul havia abandonado o Senhor. O exército filisteu já se m obilizava, e Saul e seus hom ens não estavam preparados para confrontá-los. Q u and o viu o inimigo ajuntar-se, Saul se encheu de medo e estrem e­ ceu. O s filisteus estavam reunidos em Afeca, enquanto o exército de Israel encontrava-se em Jezreel (2 9 :1). O s filisteus deslocaram-se para Jezreel (v. 11) e, por fim, para Suném (2 8 :4 ), onde se prepararam para atacar o e x é rc ito isra e lita p o s ic io n a d o no m o nte G ilb o a (v. 4; 3 1 :1 ). Saul tentou entrar em co ntato com o Senhor por meio de sonhos, mas não obte­ ve resposta algum a. A o contrário de Davi (2 2 :5 ), Saul não estava acom panhado de um profeta, sendo que Davi tam bém tinha co n­ sigo um sacerdote e uma estola (2 3 :6 ). E provável que o "U rim " m encionado em 2 8 :6 seja referência a uma nova estola feita para Saul, uma vez que a estola do tabernáculo encontrava-se com D avi. Não im portava o meio que Saul tentasse usar, não receberia resposta alguma de D e u s.1 Porém , ao longo de grande parte de sua vida, não havia se interessado pela vontade de D eus, pois de­ sejava fazer as coisas a seu modo. É de se adm irar que Deus abandonasse Saul no fi­ nal da carreira desse rei? "Então, me invocarão, mas eu não res­ pon d erei; procurar-m e-ão, porém não me hão de achar. Porquanto aborreceram o co ­ nhecim ento e não preferiram o tem or do S e n h o r ; não quiseram o meu conselho e des­ prezaram toda a m inha repreensão. Portan­ to, com erão do fruto do seu procedim ento e dos seus próprios conselhos se fartarão" (Pv 1:28-31). 284 1 S A M U E L 2 8 : 3 - 2 5 ; . 3 1 ; 1 C R Ô N I C A S 10 S a u l d e s o b e d e c e u à Palavra d e D e u s (vv. texto, parece evidente que Sam uel, de fato, 7-14). A inform ação, no versículo 3, sobre Saul haver expulsado de Israel todos os que se dedicavam a práticas do espiritism o ser­ ve para nos preparar para o choque de ver Saul procurando a ajuda de um a m édium. A lei de M oisés condenava todas as formas de espiritismo (Êx 2 2 :1 8 ; Lv 19 :3 1 ; 2 0 :6 ; Dt 18:913), de modo que Saul havia feito o que era certo ao mandar esses indivíduos em bora, mas agiu errado quando buscou sua ajuda. A o ir atrás da m édium , pecou deliberada­ apareceu para a mulher, mas que e/a ficou espantada quan do isso ocorreu . Samuel não se manifestou do reino dos mortos em fun­ ção da co m p e tê n cia dessa m édium , mas porque foi da vo n tad e de D eu s que iss:> ocorresse. Não se tratava de um demôn im itando Samuel nem de truques astutos da m édium ; do contrário, ela não teria ficado tão assustada. Seu grito alto deixou claro q t e a m ulher não esperava que isso aconteces­ se. Som ente a médium viu Samuel (vv. 1 3 . m ente e foi um hipócrita. O fato de alguns servos saberem onde m orava a médium in­ dica que a cam panha de Saul para limpar Israel dessa gente não havia sido com pleta e que nem todos os seus oficiais concorda­ vam com o rei. Alguns deles conheciam uma m édium que Saul havia deixado passar em 14), mas o profeta falou diretam ente a S a . e não por interm édio da mulher. Samuel e ra um profeta de Deus e não precisava de "por­ ta-voz" para transmitir a mensagem do S e nhor. Na verdade, o versículo 21 indica que a m ulher nem estava perto de Saul enquan­ sua cam panha. Na noite anterior à batalha (1 Sm 2 8 :1 9 ), Saul disfarçou-se, despindo-se de todo sím­ bolo de realeza e vestindo-se com roupas com uns. Do monte G ilb o a até Endor, teria de percorrer dezesseis quilôm etros e passa­ ria bem perto das linhas filistéias, de modo que não lhe convinha ser reconhecido com o rei de Israel. A lém disso, não desejava qu e a médium soubesse quem ele era. Saul com e­ çou seu reinado no am anhecer do dia em que foi ungido rei pelo profeta Samuel (9:26), mas terminou seu reinado saindo durante a noite para visitar um a m édium . Q u e b ro u exatam ente a m esma lei que havia tentado co locar em prática. A mulher não era fácil de enganar. Q u e ­ ria ter certeza de que não se tratava de uma arm adilha para pegá-la e condená-la, pois o espiritism o era considerado crim e capital em Israel. Saul jurou usando o nom e do Senhor, cuja lei estava .transgredindo, que ela não seria pro cessad a, de m odo que a m ulher concord ou em cooperar. Saul não apenas transgrediu a lei, com o também incentivou a m ulher a fa zer o m esm o! Pediu qu e en­ trasse em contato com Sam uel, com o qual Saul não quis falar quando o profeta ainda estava vivo. Sa u l d e s c o b riu o p la n o d e D e u s (vv. 1519). C o n sid eran d o o sentido expresso do to Sam uel com unicou a mensagem ao rei. Saul tinha apenas um a pergunta a Sa­ muel: " O que devo fazer?" O s filisteus esta­ vam prontos para atacar. Saul não passava de um hom em fraco e preocupado, e tu cn o que havia feito para descobrir a vontace de D eus não havia fu n cio n ad o . "D e u s se desviou de m im ". Em sua breve mensagem, Sam uel usou sete veze s a designação "Se­ n h o r " , ao lem brar a Saul que Deus o h av a deixado porque ele se recusara a obedece* à vontade de D eus. O Senhor arrancou :> reino das mãos de Saul, pois o rei não h av a o b e d e c id o à o rd e m de e x t e rm in a r os am alequitas (1 5 :2 8 ), e, pela prim eira vez. S am u el a n u n cio u que D avi era o "co rrpanheiro" que herdaria o reino (2 8 :1 7 ). notícia mais terrível, porém , era que, no d = seguinte, Saul e seus filhos seriam abatidos na batalha e se juntariam a Samuel no rein ai dos m ortos.2 S a u l d e se sp e ro u -se c o m su a situ a çã o (vv. 20-25). O rei estava assentado num le próxim o à parede e, quando ouviu as p a J vras de Samuel, caiu estirado no chão, í~:e»l ram ente debilitado. Q u eria uma m ensa£~ -i do Senhor, mas, qu an do ela veio, não foi a mensagem que desejava receber. Ao ouvir :► anúncio de sua morte, estrem eceu de m e?ai e se sentiu enfraquecido pela fom e. O : j a levaria um general a je ju a r antes de u ~ .J batalha estratégica? Saul estava tentanoaj 1 S A M U E L 2 8 : 3 - 2 5 ; . 3 1 ; 1 C R Ô N I C A S 10 ::m p r a r a ajuda do Senhor co m o havia feianterio rm ente (1 4 :2 8 )? Alguns estudio ­ sos acreditam que os m édiuns exigiam que je ju asse antes de co nsu ltar os m ortos, Me m odo que talvez fosse esse o caso de Saul. D e qualquer m odo, suas ações foram "sensatas, pois je ju ar não torna pessoa alp im a m erecedora das bênçãos do Senhor, :=so seu co ração não esteja em ordem com D e u s. A m édium assumiu um papel maternal e r ~olorou que o rei com esse algo. Tinha dian3e de si uma longa viagem de volta para o ;:a m p a m e n to e, no dia seguinte, deveria ; : Tiandar seus soldados na batalha contra os filisteus. Com o havia feito insensatam en­ te em outras ocasiões, Saul tentou mostrarr valente e se fazer de herói, substituindo a sanidade por bravatas, mas as súplicas insis■nfees da médium e dos hom ens do rei foo m mais persuasivas. É bem provável que a “ êdium fosse uma m ulher de posses, uma r z que tinha em casa um bezerro cevado, Dois essa era a dieta dos ricos, uma iguaria ~í'a para o povo em geral. Sem dúvida, foi ia refeição digna de um rei, mas também r sua "últim a ceia" antes de deixar esta vida. * declaração final deste capítulo nos lembra io que acon teceu com Judas: "Ele, tendo -■rcebido o bocado, saiu logo. E era noite" 0 o 13:30). Não podem os deixar de sentir pena de Saul e, ao mesm o tem po, de admitir que ele - : u x e sobre si essa triste sina. Se tivesse roedecido ao Senhor, não teria perdido o m no, e se tivesse parado de perseguir Davi, r .estindo o tempo em desenvolver seu exérDto. estaria muito mais capacitado a enfrenb r os filisteus em Jezreel. A pesar de todas i f bênçãos que Deus deu a Saul e de todas ís oportunidades que o rei teve de crescer esciritualm ente, não estava preparado para :rar, nem para lutar e nem para morrer. 2. U m d i a d e v e r g o n h a e 1 S m 31:1-10; 1 C r 10) 285 carreira com grande sucesso; afinal, o povo cantava: "Saul feriu os seus m ilhares". A de­ cadência de Saul com eçou na ocasião em que deixou de elim inar todos os am alequitas. Q uand o Davi entrou em cena, a inveja que Saul sentia do sucesso do rapaz obcecou-o de tal modo que o rei tornou-se paranóico e perigo so . Saul possuía m uitas q ualid ades excelentes, mas estas não incluíam a fé hu­ milde e obediente a D eus. Saul perdeu tudo em função de seu orgulho e desobediência. S a u l p e rd e u o e x é rcito (1 Sm 3 1 :1 ; 1 C r 10:1). O s soldados de Saul não estavam à altura do exército filisteu, com suas grandes divisões e inúmeros carros. Alguns deserta­ ram, outros m orreram no cam po de bata­ lha. O s filisteus preferiam lutar em terrenos planos, pois dependiam de seus carros, en­ quanto Israel tentava atraí-los para a região m ontanhosa ao redor do monte G ilb o a. Is­ rael estava em m enor núm ero e era inferior em capacidade, mas, mesm o que houvesse d e m o n stra d o fo rç a su p e rio r, o e x é rc ito israelita teria sido derrotado. H avia chega­ do a hora do julgam ento de Saul. Sem as orações de Samuel e sem a liderança ungida de Davi, o exército de Israel estava destina­ do à derrota. S a u l p e rd e u a vida (1 Sm 3 1 :2 -7 ; 1 C r 10:1-6). Um a das primeiras regras da guerra na A ntiguidade era "m atar o rei inim igo!" (ver 1 Rs 2 2 :3 1 ). Saul encontrava-se no cam ­ po de batalha com três de seus quatro fi­ lhos; por algum m otivo, Isbosete (tam bém conhecido com o Esbaal) não estava com eles (2 Sm 2 :8 ; 1 C r 8 :3 3 ; 9 :3 9 ). O s três filhos m orreram prim eiro e, em seguida, Saul foi atingido por um a flecha, que o feriu m or­ talm ente, e o rei pediu que seu escudeiro o m atasse. O s filisteus eram fam osos por ab usar de suas vítim as e por humilhá-las, especialm ente no caso de oficiais e de reis. Saul tem ia ser to rtu rado até a m orte, de m odo que, quando o rapaz não atendeu à Samuel 1 4 :4 7 , 48. Trata-se de um registro sua súplica, ele próprio caiu sobre sua es­ pada e m o rreu .3 Logo em seguida, o rapaz se m atou, e toda a guarda pessoal de Saul bem com o os o ficiais a seu redor ac a b a ­ ável, que apresenta Saul com o general uistador e herói nacional. C o m eçou a ram m orrendo. Foi uma vitória absoluta para os filisteus. d e d er r o ta D registro m ilitar de Saul é re sum id o em 286 1 S A M U E L 2 8 : 3 - 2 5 ; . 3 1 ; 1 C R Ô N I C A S 10 O reinado de Saul foi trágico, e tudo indi­ ca que sua morte era inevitável, mas com o é triste que três de seus filhos tenham m or­ rido com ele no cam po de batalha! Jônatas havia sonhado em ser co-regente de D avi (1 Sm 23:16-18), sonho que nunca se reali­ zou. Q uantas vezes o pecado de um causa o sofrimento e até a morte de outros. "E há pecado para a m orte" (1 Jo 5 :1 6 ). O s peca­ dos tanto de Saul quanto de Eli (1 Sm 4:118) custaram-lhes a própria vida e a de seus filhos. Deus não faz acepção de pessoas. S a u l p e rd e u a honra (1 Sm 3 1:8-10; 1 C r 1 0 :8 -1 0 ). D e p o is da b a ta lh a, o e x é rc ito vitorioso ocupava-se principalm ente em hu­ milhar os prisioneiros e os que estavam mor­ rendo e em despojar os mortos, uma vez que os espólios da batalha constituíam parte im­ portante do pagam ento dos soldados por haverem arriscado a vida. O s filisteus tiveram grande prazer em humilhar o corpo de Saul. Despiram-no de sua armadura e cortaram fora sua cabeça; depois de exibirem ambos em vários lugares de sua terra (1 C r 10:9), colo­ caram-nos em seus templos. A arm adura foi colocada no templo de sua deusa Astarote, e a cabeça no templo do deus Dagom. Por fim, exibiram em público os corpos mutilados de Saul e de seus filhos no muro externo de BeteSeã, cidade controlada pelos filisteus no vale de Jezreel. Para um israelita, deixar de rece­ ber sepultamento adequado era tanto uma humilhação quanto um sacrilégio, e ter o cor­ po mutilado e depois exibido era ainda mais escandaloso. O s filisteus estavam declaran­ do a seu povo e a seus ídolos que haviam conquistado uma grande vitó ria sobre seu maior inimigo, o povo de Israel. Dagom ha­ via triunfado sobre Jeová! S a u l p e rd e u a co ro a (2 Sm 1:1-10). O relato da -morte de Saul transmitido a Davi pelo am alequita foi, em grande parte, uma m entira. O hom em viu-se "por acaso " no local da batalha - o que, na verdade, signifi­ cava que se encontrava no local para rou­ bar os despojos - e tom ou duas insígnias reais do corpo de Saul. Não dera o golpe de m isericórdia em Saul, pois o rei havia tirado a própria vida e já estava morto quando o hom em chegou. D epois de rem over a coroa e o bracelete reais, o am alequita (que ta k e z fosse m ercenário de um dos exércitos) ceveria ter rem ovido o co rp o do cam po c í batalha para um lugar seguro e tê-lo proteedo até que pudesse receber sep ultam en::i adequado. O am alequita pensou que se^.í. atos de h ero ísm o conquistariam a apro\ — ção de Davi, mas, em vez disso, foram suai sentença de morte. Em função de seus pecad os, Saul pe'deu, em prim eiro lugar, sua dinastia (1 Sn» 13:11-14), depois, perdeu seu reino (15:2431) e, por fim , sua coroa. Podem os aplica-, aqui, a advertência do Senhor em Apocalipse 3 :1 1 : "Venho sem dem ora. C onserva o q te tens, para que ninguém tome a tua c o ro a \ "A cautelai-vos, para não perderdes aqui n que temos realizado com esforço, mas pa-a receberdes com pleto galardão" (2 Jo 8). 3. Um m o m e n t o d e o u s a d i a e d e d e v o c à o (1 Sm 31:11-13; 1 C r 10:11-13) Enquanto os filisteus com em oravam a dew rota de Israel e humilhavam Saul e os filhes, os hom ens de Jabes-Gileade ficaram saben­ do da tragédia e organizaram um a missân de resgate. A prim eira grande vitória do rei Saul havia sido a libertação de Jabes-Gileacr' dos am onitas (1 Sm 1 1 :1-11), de modo qL-r! o povo da cidade sentiu a obrigação de v i a dicar a m em ória de Saul. Todos os seus h> m ens valentes percorreram durante a n a -e o cam inho de vinte e cinco a trinta quilôrre-^ tros até a cidade de Bete-Seã e tomaram quatro corpos m utilados e em d e c o rrr ção. A fim de fazer essa viagem , tiveram atravessar o rio Jordão e de passar por tr tório inimigo. Saul não havia sido um I espiritual, mas foi um com andante cora~ e o primeiro rei de Israel. M esm o que seja m o s ca p a z e s de re sp e itar o ho devem os dem onstrar respeito por seu c O s homens arriscaram a vida n o v a " e levaram os corpos para Jabes-Gileade. crem aram os co rp o s para rem over a mutilada e decom posta e deixaram os para que fossem sepultados. Essa crem não foi realizada por uma questão de ção, pois os israelitas não costumavam mar os m ortos. Em caso s de em ergê! 1 S A M U E L 2 8 : 3 - 2 5 ; . 3 1 ; 1 C R Ô N I C A S 10 •navam-se co rp os m utilados e decoms a ponto de não poderem ser devidate lavados e ungidos para o enterro, de b que os ossos recebessem sepultamen:ig n o . D e p o is que o povo de Jabesade sepultou os ossos, os habitantes da ~e jejuaram por sete dias, num tributo a 1 e a seus filhos. 287 Em várias ocasiõ es, Saul julgou causas sob uma árvore em Ram á (1 Sm 2 2 :6 ), e foi sepultado ju n to com seus filhos sob uma árvore próxim a a Jabes-C ilead e. Posterior­ mente, Davi exum ou os ossos de Saul e de Jônatas e providenciou para que fossem se­ p u lta d o s no tú m u lo de su a fa m ília em Benjam im (2 Sm 2 1 :1 3 , 14). Não há contradição alguma entre 1 Samuel 2 8 : 6 : "Consultou Saul ao S e n h o r " e 1 Crô nicas 10 :1 3, 14: "consultara uma necrom ante e não ao S e n h o r " . São empregadas duas palavras hebraicas diferentes. Em 1 Sam uel 2 8 , o term o usado é sha'al, que significa "pedir, solicitar" e, em 1 C rô nicas 10, o termo usado é daresh, que significa "buscar com cuidado". D e fato, Saul pediu ajuda, mas não o fez com um coração sincero nem buscou o auxílio de Deus constantem ente com o Davi e Sam uel. Viuse em apuros e, portanto, clam ou ao Senhor. 2. O s hebreus usavam o term o sh eo l para descrever a cova, em si, e também o reino dos mortos. O termo equivalente em grego é hades. O s corpos tanto dos que são salvos quanto dos que não o são vão para a cova, mas as almas têm destinos diferentes. Lucas 16:19-31 dá a entender que o sh eo l / hades era dividido em duas áreas: um lugar de descanso e de bênçãos para os justos e outro de sofrim ento para os perversos. Em sua ascensão, Cristo esvaziou a parte equivalente ao paraíso e levou essas alm as consigo para o céu. H o je, quando os cristãos m orrem , vão im ediatam ente para a presença do Senhor (2 C o 5:1-8). No julgam ento do grande trono branco, o hades será esvaziado dos espíritos de perdidos e a cova entregará os corpos (Ap 20:11-18). O s que não são salvos serão considerados culpados e lançados no inferno, o lago de fogo. H ades é a "casa de detenção", mas o inferno é a "penitenciária" de onde ninguém foge. Saul é um dos sete hom ens nas Escrituras que tirou a própria vida: Abim eleque (Jz 9 :5 4 ); Sansão (Jz 16:26-30); Saul (1 Sm 3 1 :4 ); o escudeiro de Saul (1 Sm 3 1 :5 ); Aitofel (2 Sm 17 :2 3); Zinri (1 Rs 16 :1 8); e Judas (M t 2 7 :6 ). co m e ço u com A n a, um a m ulher hum ilde 13 Q uatro S u cesso s cuja subm issão e fé em D eus são um exem­ plo a ser seguido. e 1. A n a , u m a m u l h e r p i e d o s a O nom e A na significa "graça", e, sem dú\ rês ra c a sso s da, ela fez jus a seu nom e. Deus lhe deu a graça de que precisava para suportar os in­ R e c a p it u l a ç ã o d e 1 S a m u e l sultos que sofria de Penina, a segunda espcsa de Elcana, bem com o a vergonha e a do' de não ter filhos. Recebeu a graça necessaria para falar de modo bondoso e am á\e u ando Ben jam im Fran klin, estad ista com aqueles que não a entenderam e criti­ caram (C l 4 :6 ). Deus lhe deu a graça de con­ norte-am ericano, assinou a D eclaração ceber um filho, de consagrá-lo ao Senhor e. de In d e p e n d ê n cia , no dia 4 de ju lh o de 1 776, fez o seguinte com entário: "D evem o s depois, de cantar sobre o que havia feito! O perm anecer unidos ou, sem dúvida alguma, cântico de A na foi tão lindo e cheio de sig­ serem os, um a um, elim inados". O cam inho n ificad o que M aria o tom ou em prestad o quando louvou ao Senhor por sua graça para perco rrid o desde a assin atu ra de um do­ cum ento até a conquista da unidade nacio­ com ela (Lc 1 :46-55). A na era um a mulher de "fé e longanimtnal foi longo e árduo, mas, a seu tem po, os dade" (H b 6 :1 2 ), que se entregou a Deu.Estados U nidos da A m érica surgiram no ce ­ pediu um filho e esperou no Senhor que e e nário p o lítico , onde se enco ntram desde respondesse a seu modo e em seu t e m p :. então. Seus dois lemas resum em o milagre Foi paciente em casa, enquanto suporta, a realizado: "E pluribus unum : D e muitos, um T F Q só" e "Em Deus confiam os". O primeiro lema refere-se ao que aconteceu, e o segundo, à m aneira com o isso ocorreu. A nação de Israel tinha diante de si de­ safio sem elhante. D epois da m orte de Josué, Israel se transformara, gradualmente, numa nação dividida. Em vez de confiar no Senhor, os israelitas com eçaram a adorar os deuses de seus vizin hos pagãos, e os laços espiri­ tuais que uniam as tribos com eçaram a en­ fraquecer e a romper-se. Logo, cada um fazia o que lhe parecia melhor, sem qualquer con­ sideração pela aliança firm ada com o Senhor. Então, o povo pediu um rei, alguém que unisse a nação e co n d u zisse o exército à vitória. Deus atendeu ao pedido e lhes deu Saul, mas não o fez para resolver os proble­ mas do povo, e sim para provar aos israelitas que sua m aior necessidade era confiar em D eus e obedecer à sua Palavra. Foi som ente quando Davi entrou em cena que os aconte­ cimentos nacionais com eçaram a tomar ou­ tro rumo, surgindo uma luz no fim do túnel. D avi foi ungido por S am uel, filho de Elcana e de A n a, de m odo que a história os ataques verbais de Penina, e foi p a cie r:e com Eli, quando ele a acusou falsamente ce estar em briagada. Para sua felicidade, te-e um marido dedicado que a amou e que a en co rajo u a o b e d e ce r ao Senhor. H o u .; m om entos em que a vid a foi muito d ifk I para A na, mas ela perseverou em fé, esp-erança e am or e, por fim, alcançou a vitóra. A n a percebeu aquilo que muitos de n « esquecem os: Deus trabalha na vida de "pes­ soas com uns" e por interm édio delas para cum prir seus propósitos. O Senhor não pe­ diu a A n a que co m a n d asse um e x é rc it: com o fez com Débora (Jz 4 - 5), nem que intercedesse junto a um rei, com o fez c Ester. Sim plesm ente, pediu-lhe que ater._ se ao desejo do seu coração e que desse luz um filho. "Agrada-te do S e n h o r , e ele tis fará os desejos do teu co ração " (S! 3~ Tudo o que A n a queria era ser uma mu consagrada a Deus e obediente a sua tade. Desse m odo, ajudou a salvar a na de Israel. H á tanta traição , m atan ça e co n f registradas em 1 Sam uel que é anima 1 SAMUEL encontrar, logo no início do livro, uma muner que re p resen ta o que D e u s tem de ~ielhor para dar. O s líderes de Israel haviam "a ca ssa d o , de m odo que D eus procurou .m a m ulher que pudesse usar para ajudar a ra z e r a verdade, a paz e a ordem a seu povo. B a serviu a D eus sendo sim plesm ente uma ~iulher fazendo o que um a mulher poderia *azer: dar à luz um bebê e consagrando essa :'ia n ç a ao Senhor. "Faz que a mulher estéril viva em família e seja alegre m ãe de filho s. A le lu ia !" (SI 113:9). 2. E l i , u m sa c er d o t e c o n d esc en d en t e E í foi um pai tolerante que, por vezes, re;re e n d e u os filhos pelos pecados que co~ietiam, mas que não tom ou providências :a ra disciplinar esses hom ens e, muito me'o s , para co lo c a r outros em seu lugar. O ~abalho do tabernáculo seguia certa rotina, ~ias não havia qualquer poder espiritual evi­ dente nem uma palavra vivificadora do Se-hor. O retrato que vem os de Eli é de um "ornem o b e so , id o so , assen tad o em sua :adeira especial, enquanto dirigia o taberná:iilo , fingindo, entrem entes, não ver o que í-e passava a seu redor e fazendo ouvidos -o u c o s ao que escutava. Era o líder da reli­ gião de Israel e precisava desesperadamente de um a e xp e riê n cia revigorante com o Senhor. No entanto, foi louvável o sacerdote ter ibençoado o pedido de oração de Ana (1 Sm 1 :1 7) e ter receb id o de braços abertos o zequeno Sam uel, quando ela o consagrou 50 Senhor. O s filhos de Eli não eram a me­ nor com panhia para um m enino inocente, ■nas o Senhor e Eli cuidaram para que Sa—uel não fosse contam inado. Eli ensinou a Samuel as verdades da Palavra de Deus e o nstruiu quanto ao trabalho e os costum es :d tabernáculo. Samuel nasceu no sacerdó:io , mas, posteriorm ente, D eus o cham ou :ara ministrar com o profeta e juiz. Ainda podem os elogiar outra atitude de HL Q uando o Senhor enviou sua mensagem ao jovem Sam uel, Eli aconselhou o menino a escutar a mensagem e a sujeitar-se à vonlade de D eus. "É o S e n h o r ; faça o que bem 289 lhe aprouver" (1 Sm 3 :1 8 ). Não é fácil deter­ minar se essa declaração foi um a confissão de resignação im potente ou uma submissão honrável, mas não devem os julgar Eli sem saber de todos os fatos. Ao ver Deus ope­ rando na vida do jovem Sam uel, é bem pro­ vável que Eli o tenha incentivado e orado por ele. Não há registro algum de que inve­ jasse o m enino pelo fato de as m ensagens de D eus estarem sendo tran sm itidas por in term éd io dele. Bem -aventurados são os cristãos mais idosos que ajudam a nova ge­ ração a con h ecer a Deus e a viver para ele! Por mais que Eli tenha fracassado com rela­ ção aos filhos, ajudou Samuel a tomar o rumo certo, algo que beneficiou toda a nação. O último dia do ministério de Eli foi difí­ cil: seus dois filhos morreram , a arca da alian­ ça foi ca ptu rada pelo inim igo e su a nora faleceu dando à luz um filho, Icabô, "foi-se a glória de Israel". Porém , D eus ainda esta­ va assentado no trono, e o jovem Samuel continuava se preparando para preencher a brecha e para e xe rce r lideran ça espiritual sobre Israel. Eli não havia sido um grande líder espiritual, mas foi um pequeno elo na cadeia que levou à unção de D avi e, por fim, ao nascim ento do Redentor. 3 . Sam u el, u m s e r v o f ie l Samuel nasceu num a ép o ca em que a na­ ção e sua religião encontravam-se encalha­ das num a poça de água parada, mas logo ele se viu tentando navegar em meio a um mar tem pestuoso. FHavia um clim a de mu­ dança no ar, e os sacerdotes eram treinados a proteger a tradição, não a prom over trans­ form ações. O s líderes israelitas queriam um rei, alguém que pudesse unificar o povo e protegê-lo das nações a seu redor. Samuel considerou essa atitude um desprezo à so­ berania de Jeová, mas o Senhor instruiu-o a fazer o que o povo estava pedindo e ungir Saul com o rei. Samuel esforçou-se ao m áxi­ mo para informar o povo sobre com o seria a vida sob um regime m onárquico, mas, ao que parece, suas palavras não fizeram dife­ rença alguma. Pela votação do povo, Samuel havia sido deposto de sua posição de ju iz, mas ainda 290 1 SAMUEL era o sa cerd o te e profeta d e D eu s e ajudou Saul a co m e çar bem seu reinado. Samuel co n d u ziu Israel a um a re no vação de sua aliança com o Senhor. Q u and o Saul liber­ tou o povo de Jabes-Gileade, Sam uel fez um discurso com ovente de despedida, no qual prometeu orar pela nação. Porém , não de­ m orou a ficar evidente que Saul não pos­ suía qualquer discernim ento espiritual e que estava usando o reinado para sua autopro­ m o çã o , não para aju d ar o povo. M entiu sobre sua desobediência deliberada, perdeu o reino e mandou Samuel de volta para casa, em Ram á, com o coração partido. O s verdadeiros agentes de transformação não ficam parados reclamando e lembrando os bons e velhos tempos. Q uando Deus dis­ se a Samuel para ir a Belém ungir um novo rei, o profeta arriscou a vida e obedeceu. Foi quando Davi entrou em cena. As Escrituras não dizem que instruções Samuel deu a Davi, mas o profeta reconheceu que a mão de Deus estava sobre o m enino e, sem dúvida, o ensi­ nou sobre o Senhor e seu povo. Samuel foi o elo vivo de Deus entre o passado e o futuro de Israel e desem penhou com eficiência seu papel. D em onstrou sua am izade por D avi quando o futuro rei estava em perigo, orou por ele e creu que Deus cuidaria dele. Samuel é um exem plo para todos os cris­ tãos de mais idade que têm a tendência de glorificar o passado e de resistir às m udan­ ças no presente, tendo perdido a esperança no futuro. Sem abandonar o passado, Samuel aceitou as transform ações, esforçando-se ao m áxim o para que tudo desse certo e, quan­ do isso não acon teceu, confiou que D eus traria um futuro melhor. Deus não abando­ nou o reino, mas sim plesm ente escolheu um hom em melhor do que Saul para co locar à frente, e Samuel ajudou a instruir esse ho­ mem. Todo líder precisa de um Sam uel, al­ guém em contato com D eus, que confira o devido valor ao passado, mas que esteja dis­ posto a seguir o Senhor até uma nova era, uma pessoa de fé e coragem que veja a mão de D eus operando onde os outros en xer­ gam apenas confusão. A consciência de Samuel não estava à ven­ da, e ninguém poderia acusá-lo de colocar o dinheiro antes do m inistério. A única man­ cha em sua reputação foi a cobiça de seus dois filhos, que usaram o m inistério deles para encher os próprios bolsos. As Escrituras não dizem coisa alguma sobre a esposa ce Sam uel, de modo que talvez tenha morrido jovem , privando os filhos de seus cuidados e de sua instrução no tem or do Senhor. Sa­ muel se ausentava de casa com freqüência, ao percorrer o circuito que havia determina­ do para seu ministério, e é possível que os m e n in o s ten ham p a ssad o tem po dem ais sozinhos. D e nada adianta criticar a história depois que já sabem os seu fim. Porém, de­ pois de ver o que Samuel fez por Davi, tal­ v e z p o ssa m o s perdoá-lo por a q u ilo que deixou de fazer pelos filhos. 4. S a u l, um rei in s t á v e l O maior problema de Saul era sua falta de alicerces espirituais sobre os quais construir uma vida piedosa. Ainda que fosse mais alto do que todo o resto do povo a seu redor, não passava de um anão, se com parado com Davi ou mesmo com seu filho Jônatas. Essa falta de experiência espiritual levou à sua se­ gunda deficiência: falta de confiança em ã mesmo e no Senhor. A fim de encobrir essa falha, o rei adotou um estilo de liderança ali­ mentado por seu ego e que mantinha todcs a seu redor em estado permanente de m e c c , No início de seu reinado, quando d e v e ra encorajar o povo, escondia-se no meio c a bagagem! No entanto, durante seu re in a c :, manteve sempre consigo sua lança, não nas para se proteger, mas para lembrar a dos quem era o chefe. Acreditou em todas as mentiras sobre Davi qu e lhe davam rr tivo para ju n tar seus soldados contra e e esquecendo as necessidades de sua n a çã a Davi não entrou em cena criando blem as, mas apenas os trazendo à luz. hom em inseguro com o Saul não cons suportar co nco rrên cia e co m p etência e, tanto, considerou Davi seu inimigo. O am ava a Davi e o respeitava, o que apenas para fazer a paranóia de Saul cer ainda mais rapidam ente. O rei torn um hom em de m ente dobre, "incons em todos os seus cam inhos" (Tg 1:81. 1 SAMUEL jm lado, perseguia D avi e tentava matá-lo e, por outro, chorava quando via Davi ou ouvia sua vo z e tentava parecer arrependi­ do e pesaroso. Seu coração era o solo raso da parábola que Jesus contou sobre o Se­ meador. Não havia profundidade alguma, as lágrimas eram tem porárias e nenhum fruto duradouro aparecia. Por mais paradoxal que pareça, foi seu sucesso que contribuiu para a ruína de Saul. Charles de G aulle, ex-presidente da França, aisse certa vez que: "o sucesso contém em si a sem ente do fracasso e vice-versa". Essas jem en tes de fracasso são plantadas pelas mãos do orgulho, e o orgulho era um dos pecados recorrentes de Saul. D e um a hora oara a outra, foi forçado a deixar o trabalho previsível de lavrador e de criador de reba­ nhos para se dedicar ao trabalho im previsível de rei, responsabilidade para a qual não es­ tava preparado. O Senhor o teria ajudado, com o fez com M oisés, Josué e G id eão, mas Saul escolheu fazer as coisas a sua m aneira. Q uando o sucesso vem antes de estarmos preparados, pode nos destruir e tom ar de nós aquilo que constitui o verd adeiro su­ cesso. Saul não soube distinguir entre uma coisa e outra. Q uand o Saul fracassava, aprendeu a in• entar desculpas em v e z de confessar seus erros, o que serviu apenas para enredá-lo ainda mais em suas mentiras. Sua vida e ser. iço real foram parte de um a triste farsa aplaudida por bajuladores e abom inada pelo Senhor. Saul não deu ouvidos a M oisés, a Sam uel, a Jônatas nem a D avi, e uma vez q ue havia rejeitado a Palavra de D e u s, a única vo z que lhe restou foi a do diabo. "N ão conheço personagem mais triste do que Saul quando Deus o deixou", disse Charles Haddon Spurgeon. "M as, de algum modo, não haveria angústia na alma de Saul que per­ sistisse se houvesse, verdadeiramente, conhe­ cido o Senhor. Não creio que chegou a co­ nhecer a Deus no mais íntimo de sua alma. Depois que Samuel o ungiu, Saul se 'transfor­ mou em outro hom em ', mas nunca veio a ser um novo ho m em ..."1 Nas palavras de G . Campbell M organ: "N o governo de Israel, foi um guerreiro e nada mais; Saul jam ais foi um 291 pastor".2 Empunhou sempre uma lança, mas nunca segurou o cajado de pastor. Q u an d o D eus cham a as pessoas para servir, co n h ece sua capacidad e de realizar o trabalho que co loca diante delas e jam ais as abandona, desde que creiam e o bede­ çam . Foi aí que Saul fracassou. Q uand o Deus é deixado de fora da equação, a resposta é sem pre zero. Séculos depois, outro hom em de nome parecido entrou em cena: Saulo de Tarso, que logo ficou co nhecido com o Paulo, "o peq u en o ''.5 Ele declarou ser "o m enor de todos os santos" (Ef 3 :8 ), em contraste gri­ tante com o Saul do Antigo Testam ento, com toda sua estatura e porte físico vigoroso. O rei Saul se matou no cam po de batalha, en­ quanto Saulo morreu com o um m ártir fora da cid ad e de Rom a. Pouco antes de sua m o rte, S au lo /P a u lo e scre v e u a T im ó te o : "C om bati o bom com bate, com pletei a car­ reira, guardei a fé" (2 Tm 4 :7 ). D e z segundos depois de morrer, o rei Saul deve ter desejado poder dizer as mes­ mas palavras. 5 . Jô n a ta s, u m a m ig o g e n e r o s o G eo rg e M atheson, pregador e com positor inglês, estava certo quando cham ou Jônatas de "arco-íris em meio à tem pestade".4 Não encontramos Jônatas proferindo uma só pala­ vra pessimista nem questionando a capaci­ dade de Deus de levar a cabo aquilo que precisava ser feito. Ele e seu escudeiro enfren­ taram um posto avançado filisteu e venceram . Jônatas desafiou abertam ente as instruções absurdas do pai e ensinou a seus soldados um a lição sobre a conduta militar correta. A rriscou a vida para ajudar Davi a fugir e, depois, foi encontrar-se com ele no exílio, a fim de poder animá-lo. Herdeiro natural do trono, Jônatas despojou-se de suas vestes reais e de sua armadura, entregando-as a Davi. Jônatas não se im portava de ser o segun­ do no poder. Am ava Davi, e o am or sempre co loca as outras pessoas em prim eiro lugar. Jônatas fez uma aliança com Davi de acordo com a qual se tornaria co-regente quando Davi subisse ao trono, promessa que, infe­ lizm ente, D avi não pôde cum prir. Jônatas 292 1 SAMUEL amou seu pai e sua nação até o fim e mor­ reu no cam po de batalha, enquanto tentava defender o rei e o país. É triste que um prín­ cipe tão nobre tenha m orrido por causa da péssim a lid eran ça do pai, mas D eu s não queria a linhagem de Saul e de Davi ocupan­ do a sala do trono ao mesm o tempo. Jônatas deixou para trás um belo exem ­ plo do que a verdadeira am izade deve ser: honesta, afetuosa, disposta a sacrificar-se em busca do bem-estar dos outros e sem pre tra­ zendo esperança e ânim o quando a situa­ ção é difícil. Jônatas não conseguiu obter uma coroa na terra, mas, sem dúvida, rece­ beu uma coroa no céu. "Sé fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap 2 :1 0 ). 6 . D a v i, u m pa sto r c o r a jo s o O itavo filho e caçula da família, Davi tinha tudo para viver e morrer no anonimato, mas foi um homem segundo o coração de Deus, e o Senhor colocou sua mão sobre ele. E pena que, ao ouvir seu nome, as pessoas se lem­ brem im ediatam ente de seu pecad o com Bate-Seba e do assassinato do marido dela, pois, por mais terríveis que sejam esses peca­ dos, Davi foi um grande homem e serviu a Deus de forma extraordinária. Também deve­ mos nos lembrar de como ele construiu e pro­ tegeu o reino de Israel, dos muitos salmos que escreveu e dos sacrifícios que fez no campo de batalha para juntar riquezas a fim de cons­ truir o templo. Deus perdoou Davi, e o rei pagou caro por seus pecados, mas o Senhor jam ais o desprezou nem recusou seu servi­ ço dedicado. "Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a D eus" (Rm 14:12). D avi era um hom em com sede de D eus. Invejava os sacerdotes por terem o privilé­ gio de habitar na casa do Senhor e de viver perto de sua presença. No entanto, viu Deus nas montanhas e rios tanto quanto em seu santuário e ouviu a voz de Deus no trovão. Para D avi, Deus estava por toda parte, e a m aior honra para ele - mais elevada do que a de ser rei - era ser servo do Senhor e cum­ prir os propósitos divinos na terra. P rim eiram e nte , D e u s treino u D avi na solidão, enquanto o rapaz cuidava do reba­ nho. No m om ento certo, trouxe-o para o primeiro plano e continuou a prepará-lo por m eio do sofrimento. Alguns de seus irmãos o criticaram , o rei tentou matá-lo e os corte­ sãos mentiram a seu respeito, mas Davi le­ vou um a vid a aberta diante do Senho r e nunca olhou para trás. Não foi perfeito, nem afirm ou, em m omento algum, que fosse, mas seu co ração estava determ inado, e seu de­ sejo mais ardente era glorificar a D eus e com pletar seu trabalho. A pesar de ter, ocasionalm ente, vacilado em meio às dúvidas, Davi creu nas promes­ sas de D eus e nunca deu lugar à increduli­ dade. A dúvida é um a recaída tem porária do co ração , mas a incredulidade é uma re­ beldia perm anente da volição, e disso Davi jam ais foi culpado. M esm o durante o tem­ po em que perm aneceu em território inimi­ go, buscou m aneiras de realizar algo para fazer avançar o reino de Deus. D avi foi um a co m b in açã o singular de soldado e pastor, músico e tático militar, co­ mandante e homem com um . Apesar de seus pecados e falhas - que, aliás, todos nós te­ m o s-, foi o maior rei de Israel e sempre o será, até que o Rei Jesus venha reinar no tro­ no de Davi com o Príncipe da Paz. Da próxi­ ma vez que nos sentirmos tentados a enfatizar os aspectos negativos da vida de Davi, deve­ mos nos lembrar de que Jesus não teve ver­ gonha de ser cham ado "Filho de Davi". Q u a tro su ce sso s: A n a, um a dona de casa; Sam uel, profeta e sacerdote; Jônatas, príncipe e am igo; e Davi, pastor. D ois fracassos: Eli, sacerdote, e Saul, rei E o Senhor co ntinua a nos d ize r: "Per­ mita que Jesus seja o rei de sua vid a. Seja b em -sucedido!" 1. M etropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 48, p. 521. 2. The W estminster Pulpit, vol. 9, p. 17. 3. O nome "Paulo" vem do latim paulus, que significa "diminuto, pequeno". 4. M ath eso n , George. Representative M en o f the O ld Testament: Ishm ael to Daniel. Hodder and Stoughton, 1900, p. 173. 2 S a m u e l e 1 C rô n ic a s ESBO ÇO ESBOÇO Tema-chave: O poder de Deus restaura Israel com o nação ersículo-chave: 2 Samuel 22:29-31 D escendência: a genealogia das doze tribos - 1 - 9 Unidade: a nação é reunida - 10 - 16 Dinastia: a aliança de Deus com Davi - 1 7 Vitória: as fronteiras são expandidas 1 8 -2 1 Eficiência: a nação é organizada - 22 - 29 I. DAVI UNE O POVO - 1 - 7 1. Um novo rei - 1:1 - 5:5 2. Um a nova capital - 5:6 - 6:23 3. Um a nova dinastia - 7:1-29 I. O MINISTÉRIO NO TEMPLO II. DAVI EXPANDE AS FRONTEIRAS 2 2 - 2 6 ; 2 8 :1 - 2 9 :2 0 - 8 :1 - 1 0 : 1 9 ' . Derrota os inimigos de Israel 8:1-14; 10:1-19 II. O EXÉRCITO - 2. O rg aniza o reino - 8:15-18 III. O HERDEIRO DO TRONO - 3. Honra M efibosete - 9:1-13 III. DAVI DESOBEDECE AO SENHOR - 1 1 :1 - 2 0 : 2 6 '. 2. 3. 4. O s pecados de Davi - 1 1 :1 - 12:31 O s pecados de Am nom - 13:1-22 O s pecados de A bsalão - 13:23 - 19:8 O retorno de D avi a jerusalém - 28 - 29 CONTEÚDO 1. 2. D avi, o rei de Judá (2 Sm 1:1 - 2 :7 ; 1 C r 10:1-12)................ 295 Davi observa e espera (2 Sm 2 :8 - 4 :1 2 ) ............................................... 301 3. Davi, o rei de Israel (2 Sm 5 - 6; 1 C r 3:4-8; 11:1-9; 1 3 :5 - 1 6 :3 ) 3 08 4. A dinastia, a bondade e as conquistas de Davi (2 Sm 7 - 10; . 19:9 - 2 0 :2 6 IV. DAVI ENCERRA SEU REINADO - 2 1 :1 - 2 4 : 2 5 1. A dem onstração de respeito por Saul 21:1-14 2. A derrota dos filisteus - 21:15-22 3. O louvor ao Senhor - 22:1 - 2 3 :7 4. A honra a seus valentes - 23:8-38 5. A com pra de um local para o tem plo 24:1-15 27 5. 6. 7. 1 C r 1 7 - 19)..................................... 315 A desobediência, a dissim ulação e a disciplina de Davi (2 Sm 11 - 1 2 ) .................................................... 325 O s filhos rebeldes de Davi (2 Sm 13 - 1 4)....................................................334 A fuga de Davi para o deserto (2 Sm 15:1 - 1 6 :1 4 )........................................342 294 8. 2 SAMUEL A vitória doce e am arga de Davi (2 Sm 16:15 - 1 8 :3 3 ).....................................350 9. O retorno de D avi e dos problemas (2 Sm 19:1-40)......................... 357 10. As novas lutas de Davi (2 Sm 19:41 - 2 1 :2 2 ; 1 C r 20:4-8)....................................... 362 1 1 . 0 cântico de vitória de Davi (2 Sm 22; SM 8 )............................................... 367 12. As memórias e os erros de Davi (2 Sm 23 - 24; 1 C r 11:10-41; 21:1-26)................................................................373 13. O legado de Davi (1 C r 22 - 2 9 )................................................... 382 1 D a v i, o 2 (V e r R ei Sam uel 1 C r ô n ic a s de J udá 1:1 - 2 : 7 10:1-12) urante dez anos, Davi foi um exilado D com a ca b e ça a prêm io, fugindo de 5aul e esperando o m om ento em que Deus D colocaria no trono de Israel. Durante esse oeríodo difícil, Davi cresceu em sua fé e em seu caráter piedoso, e D eus o preparou para d trabalho do qual o havia incum bido. Q u an ­ do o dia da vitória chegou, Davi teve o cui­ dado de não se im por ao povo, um a vez :u e muitos ainda eram leais à casa de Saul. Não podem os deixar de adm irar Davi por ; j a paciência e sabedoria ao conquistar a afeição e a fidelidade do povo e ao procurar „n ifica r um a nação d e sp ed a çad a usando „m a abordagem cautelosa. "E ele os apas­ centou consoante a integridade do seu co­ ração e os dirigiu com mãos precavidas" (Sl 78:72). 1. V in d ic a ç ã o (2 Sm 1 :1 -1 6 ) O Senhor im pediu D avi e seus hom ens de ajudarem os filisteus em sua batalha contra Saul e Israel, de modo que Davi voltou para Z iciag u e. C heg an do lá, d e sco briu que os amalequitas haviam invadido a cidade, levaco todo o povo e as riq u ezas e deixad o Z ic ia g u e a rru in a d a . Em sua p ro v id ê n cia , Deus conduziu Davi ao acam pam ento ama­ lequita. D avi derrotou o inimigo, libertou as -nulheres e as crianças e resgatou todos os bens da cidade, bem com o os despojos que os am alequitas haviam juntado em seus atacues. Voltou, em seguida, para Z iciag u e e esperou notícias do cam po de batalha (1 Sm 29 - 30). U m m en sa g eiro d issim u la d o (vv. 1-10). Enquanto D avi exterm inava os am alequitas, os filisteus subjugavam Saul e seu exército no m onte G ilbo a, onde mataram Saul e três dos seus filhos (1 Sm 31; 1 C r 10:1-12). No dia se g u in te , q u a n d o D a v i v o lta v a p ara Z icia g u e , os filisteu s hum ilhavam Saul ao profanar o corpo do rei e de seus filhos, e o m ensag eiro am ale q u ita partia para dar a n o tícia a D avi. O am ale q u ita levou pelo menos três dias para chegar a Ziciague, que ficava a quase trinta quilôm etros do local da batalha. Assim , no terceiro dia depois de sua volta a Z iciag u e, D avi recebeu as notícias trágicas de que Israel havia sido derrotado e de que Saul e três dos seus filhos estavam m ortos.1 A s Escrituras apresentam três relatos da morte de Saul e de seus filhos: 1 Samuel 3 1 :113, o relato do m ensageiro em 2 Sam uel 1:1-10 e o registro em 1 C rô nicas 10:1-14. D e acordo com 1 C rô nicas 1 0 :4 ,5, Saul co ­ meteu suicídio lançando-se sobre sua espa­ da, mas o m ensageiro afirmou que matara Saul a fim de salvá-lo de mais sofrimento e hum ilhação. 1 C rô nicas 1 0 :1 4 informa que foi D eus quem matou Saul por sua rebelião, especialm ente ao pecar buscando a orien­ t a ç ã o de u m a m é d iu m . S o m e n te co m grande dificuld ade consegue-se co n cilia r os relatos de 1 Sam uel 31 e de 1 C rô n ica s 10 com o relato do m ensageiro, de modo que o mais provável é que o am alequita estives­ se m entindo. Sem dúvida alguma, o homem havia es­ tado no cam po de batalha. Enquanto pro­ curava despojos, encontrou o corpo de Saul e de seus filhos antes que os filisteus os iden­ tificassem e tomou as insígnias de realeza de Saul, seu bracelete e a co ro a de ouro que usava no capacete. M as, ao contrário do que afirm ou o am alequita, não foi ele quem matou Saul, pois o rei e seus filhos já estavam mortos. Ao dizer que o havia feito, o m ensageiro perdeu a própria vid a.2 U m a das palavras-chave neste capítulo é o verbo cair, encontrado nos versículos 4, 10, 12, 19 e 27. Q uand o Saul com eçou a carreira de rei, foi descrito com o um homem alto, que "sobressaía a todo o povo" (1 Sm 9 :2 ; ver 1 Sm 10:23 e 1 6 :7 ), mas acabou com o um rei caído. Caiu estendido por ter­ ra na casa da m édium (1 Sm 2 8 :2 0 ) e caiu 296 2 S A M U E L 1:1 - 2 : 7 no campo de batalha diante do inimigo (1 Sm 3 1 :4). Davi humilhou-se diante de D eus, e o Senhor o exaltou, porém o orgulho e a re­ belião de Saul o conduziram a um triste fim. "Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1 C o 1 0 :1 2).3 Saul foi ungido rei na aurora de um novo dia (1 Sm 9 :2 6 , 2 7 ), mas escolheu cam inhar em trevas (2 8 :8 ) e desobedecer à vontade de Deus. U m acam pam ento e n triste cid o (vv. 11, 12). O m ensageiro am alequita deve ter fica­ do espantado e, depois, am edrontado ao ver m e n sag eiro e c o n c lu iu q u e ele m e re cia morrer. Caso o relato dele fosse verdadeiro. 0 homem havia assassinado o rei ungido de Deus e deveria, portanto, ser morto. Caso seu relato não fosse verdadeiro, o fato de o am alequita inventar uma história sobre ter executado o rei revelava seu coração per­ verso. "Po r tua própria boca te co nd enarei' (Lc 1 9 :2 2 ). O s israelitas haviam recebido a ordem de e xte rm in a r os am ale q u itas (Êx 1 7:8-16; Dt 25:1 7-19), de modo que, quan­ do D avi ordenou que o m ensageiro fosse executado, estava sim plesm ente obedecen­ D avi e seus hom ens rasgando as vestes e do ao Senhor, algo que Saul não havia feito pranteando a morte de Saul. Havia pensado que todos em Z icla g u e se alegrariam ao (1 Sm 1 5). A o execu tar o m ensageiro, o futuro rei ou vir a notícia da m orte de Saul, sabendo de Israel vindico u Saul e seus filhos e de­ que isso significava o fim de seus dias peri­ m o n stro u p u b lic a m e n te q u e n ão h avia gosos com o fugitivos. Provavelm ente, espe­ rava alguma recom pensa por ser o portador considerado Saul seu inimigo. Foi um gesto perigoso, pois Davi e seus hom ens viviam de uma notícia tão boa, mas é evidente que em território filisteu, e o rei filisteu ainda pen­ não conhecia o co ração de Davi. Aos olhos de D avi, em m omento algum Saul havia sido sava que Davi era seu amigo e aliado. Essa postura de Davi em favor do rei morto de seu inimigo (2 Sm 2 2 :1 ), e em duas ocasiões, Israel poderia ser considerada um ato de trai­ quando Davi poderia ter matado Saul, dei­ ção. Porém , o Senhor havia vindicado Davi xou claro que jam ais iria ferir o ungido do e este, por sua vez, havia vindicado Saul e Senhor (1 Sm 24:1-7; 26:1-11). O m ensageiro afirm ou que era am ale­ não teve m edo. Ao ser relatada ao povo de Israel, a conduta de Davi e de seu acampa­ quita, filho de um estrangeiro que vivia em mento ajudaria a co nven cer os israelitas de Israel (2 Sm 1 :13). M as, se estivesse mesmo vivendo na terra de Israel, saberia que o rei que D avi era, de fato, o hom em escolhido dessa nação era o ungido do Senhor. Se um por D eus para ser seu rei. israelita fiel tivesse en co ntrad o os quatro c o rp o s , te ria p ro c u ra d o e s c o n d ê -lo s e protegê-los dos filisteus, mas os am alequitas eram inimigos de Israel, exatam ente o povo que Saul deveria ter elim inado (1 Sm 15). É bem provável que o m ensageiro fosse, de fato, um am alequita, mas que não vivia em Israel. Ao que parece, ganhava a vida seguin­ do o acam p am en to filisteu e pro curando restos de despojos depois das batalhas. Ao afirm ar ser filho de um estrangeiro que vivia em Israel, estava re ivin dicando certos pri­ v ilé g io s e s p e c ific a d o s na lei de M o isé s, privilégios estes que certam ente ele não me­ recia (Êx 2 2 :2 1 ; 2 3 :9 ; Lv 1 9 :3 3 ; 2 4 :2 2 ; Dt 2 4 :1 7 ). U m ju lg a m e n t o ju s t o (v v . 1 3 -1 6 ). Q uand o o período de pranto encerrou, no final do dia, Davi continuou interrogando o 2 . L a m e n t a ç ã o (2 S m 1 :1 7 - 2 7 ) A tristeza de Davi pela morte de Saul e de Jônatas foi sincera, e a fim de ajudar o po\ :> a lembrar-se dos dois, D avi escreveu urra elegia com o vente em hom enagem a eles O rdenou que seu lamento fosse ensinado e entoado em sua tribo ancestral de ju d á e. sem dúvida, o povo de outras tribos tam­ bém aprendeu e estimou essas palavras. O s orientais não se envergonham de d e m o ra trar suas em oções e, com freqüência, seu; poetas escrevem cânticos para ajudá-los a com em orar tanto experiências alegres quan­ to dolorosas. M oisés ensinou a Israel um cântico sobre a apostasia (D t 32), e, em va­ rias o casiõ es, os profetas escreveram c a 'tos fúnebres para anunciar um julgamei im inente (Is 1 4 :1 2ss; Ez 2 7 :1 ss; 28:11-19 2 S A M U E L 1:1 - 2 : 7 Esse lam ento ficou conhecido com o "O Tântico do A rco " (v. 1 8)4 e encontrava-se •egistrado no Livro dos Justos (Js 1 0 :1 2 , 13), _ n a coletânea de poem as e de cânticos que rom em orava aco n te cim e n to s im portantes re história de Israel. O tem a principal dessa r egia é "C o m o caíram os valentes!" (vv. 19, 25 27), e a ênfase recai sobre a grandeza de Saul e de Jônatas mesm o na derrota e na -x jrte . Davi proclam ou sua destreza e bra. ura bem com o sua disposição de entregar i . da por seu país. Assim com o em Hebreus 297 usavam óleo sobre seus escudos de couro o cântico não traz qualquer registro dos :e ca d o s ou dos erros na vida de Saul e de lònatas. D avi se d irig e ao p o v o d e Isra e l (vv. 19, 20). Davi cham a o rei morto e seu exército oe "A tua glória, ó Israel" e de "valen tes".5 Não demonstraram grande poder ou glória para conservá-los, mas o rei tam bém era o líder de D eus, ungido com óleo. Saul e seus três filhos haviam perdido seus escudos e a vida, e seus escud os haviam sido profana­ dos com sangue. D avi exalta S a u l e jô n a ta s (vv. 2 2 , 2 3 ). Esta parte constitui o cerne do cântico, re­ tratando Saul e Jônatas com o guerreiros vi­ toriosos. As setas de Jônatas acertaram seu alvo, e a espada de Saul "não voltou v a zia ".6 Foram rápidos co m o águias (D t 2 8 :4 9 ) e fortes com o leões (2 Sm 1 7 :1 0 ). Para Davi, p o ré m , esses h o m ens não foram ap enas excelentes soldados, mas tam bém homens de benevolência, am ados em vida e na mor­ te e leais um ao outro e ao povo. Em sua re u n iã o na c a sa da m é d iu m , Saul fic o u sabendo que ele e seus filhos morreriam na­ na batalha em G ilbo a, mas Saul ainda era o 3er escolhido de D eus, e seus soldados ain­ da eram tropas do S en ho r dos Exércitos. quele dia na batalha (1 Sm 2 8 :1 9 ) e, no en­ tanto, entrou na peleja determ inado a dar o m áxim o de si. Jônatas sabia que o pai havia %k)ssa tendência é esquecer que Saul e seus homens haviam arriscado a vid a a fim de jta r e de vencer várias batalhas im portan­ tes (1 Sm 1 4 :4 7 ,4 8 ) e que as m u lh e re s sraelitas cantavam : "Saul feriu os seus mihares" (1 Sm 18:7). Davi instou com o povo desobedecido a D eus e pecado contra Davi, mas, ainda assim, ficou ao lado dele na luta. A pesar de o exército de Israel ter sido derro­ tado, Davi queria que o povo se lembrasse da grandeza do rei e de seus filhos. D a v i se d irig e às filh a s d e Je ru sa lé m (v. 2 4 ). M esm o com suas im p erfe içõ e s e fracassos, durante seu reinado, Saul trouxe estabilidade à nação. As tribos haviam co lo­ cado de lado sua independência e co nco r­ rência egoístas e lutavam juntas em prol de m elhorias, inclusive em sua situação econô­ m ica. A com binação de fatores com o as vi­ tórias de Saul sobre as nações inimigas, a m aior segurança nas vilas e lavouras e a co ­ ;u e não espalhassem a terrível notícia da : e rrota de Israel, pois os filisteus cuidariam : ;so . G ate era a capital da Filístia, onde os deres se a leg raria m co m su a v itó ria , e -íq u e lo m era o principal centro religioso, onde o povo daria graças a seus ídolos por iiu d ar seu exército a derrotar Israel. D avi se d irig e às m ontanh as d e G ilb o a 'v. 2 1 ). Trata-se do local onde a batalha foi ~avada e Saul foi derrotado (2 Sm 1:6; 1 Sm 2 8 :4 ; 3 1 :1 ). Davi orou para que Deus aban­ donasse tal lugar e não enviasse chuva nem zrvalho aos cam pos, nem desse colheitas ■artas aos lavradores da região, mesm o que ;so significasse não haver ofertas de cereais 20 Senhor. Pediu que a criação de D eus se jn tasse a ele em seu pranto pela derrota de srael e pela queda de seu rei. Em sua refe­ rência ao escudo, Davi falava em term os li­ berais, m etafóricos ou ambos? Saul carregava _m escudo, e o rei de Israel era com parado i um escudo (Sl 8 4 :9 ; 8 9 :1 8 ). O s guerreiros la b o raçã o en tre as tribos co o p e ro u para aum entar a riqueza de Israel. Ao que pare­ ce, Davi descreve m ulheres abastadas e seus luxos, retratando, talvez, esposas de oficiais do rei que havia visto quando serviu na cor­ te de Saul. "[Vestir-se] de rica escarlata" é uma expressão co nhecida que significa "des­ frutar grande fortuna". D a v i fala d e Jô n a ta s, seu am igo q u e ri­ d o (vv. 2 5 , 2 6 ). É co m um , em cântico s fú­ nebres, citar o nom e do falecido e dirigir-se a ele. A expressão "m eu irm ão Jônatas" tem sentido duplo , pois D avi e jô n a ta s eram 298 2 S A M U E L 1:1 - 2 : 7 cu n h a d o s (D a v i era c a sa d o co m M ic a l, irm ão de Jônatas) bem co m o am igos queri­ dos que haviam feito um a aliança para divi­ dir o trono, tendo D avi com o rei e Jônatas co m o segundo no poder (1 Sm 2 3 :1 6 -1 8 ). A idéia de um tom hom ossexual na form a co m o D avi expressa seu afeto p o r Jônatas é uma distorção de suas palavras. Salom ão d e sc re v e o am or en tre m arido e m ulher co m o algo "forte com o a m orte" (C t 8 :6 ), e a am izade entre D avi e Jônatas possuía essa m esm a força. 1 Sam uel 18:1 d iz: "A alma de Jônatas se ligou com a de D avi; e Jônatas o am ou co m o à sua p ró p ria alm a". Davi en cerro u seu lam ento repetind o o refrão co m ovente - "C o m o caíram os valentes!" - e com p arand o Saul e Jônatas com arm as de guerra perdidas, que não poderiam tor­ nar a ser usadas. A o com por e ensinar essa elegia, é pos­ sível que Davi tivesse em mente vários pro­ pósitos. Em primeiro lugar, hom enageou Saul e Jônatas e ensinou o povo a respeitar a m onarquia. Um a vez que Saul foi o primei­ ro rei de Israel, o povo poderia co ncluir que todos os reis subseqüentes seguiriam seu mau exem plo, talvez até levando a nação à ruína, de m odo que D avi procurou fo rta­ lecer o conceito de m onarquia. O cântico tam bém deixou claro a todos que Davi não guardava qualquer rancor de seu sogro e so­ berano. Por fim, Davi deu um exem plo a ser seguido por todos nós ao oferecer um tri­ buto carin ho so àqueles que m orreram na batalha ao proteger sua pátria. 3.C oroação (2 S m 2 :1 -4a ) Davi era o rei de Israel por direito e não podia fic a r em Z icla g u e , uma v e z que a cidad e encontrava-se em território inimigo. E bem provável que Aquis, o rei filisteu, acreditasse que Davi ainda se achava sob sua autorida­ de, mas Davi sabia que deveria voltar para sua terra e co m eçar a reinar sobre o próprio povo. Davi costum ava buscar a vontade de D eus quando precisava tom ar decisões e o fazia pedindo a A biatar que consultasse a estola (1 Sm 23:9-12) ou pedindo a G ad e que orasse a Deus, solicitando uma palavra de sabedoria (2 2 :5). D avi era de Judá,7 de modo que a mais lógica a fazer era ir viver no meie próprio povo. Em qual cidade, porém veria residir? D eus lhe deu permissão voltar a Judá e lhe disse para habitar em H e b ro m , que fic a v a a ce rca de quarenta quilôm etros de Ziclagu e. A o mudar-se para lá, D avi havia voltado para seu povo, mas ainda se encontrava à som bra dos filisteus. H ebrom era im portante para a história de Israel, pois próxim o à essa cidade ficava o local onde Abraão e Sara, Isaque e Rebeca e Jacó e Lia haviam sido sepultados. A cida­ de situava-se dentro da herança de Calebe um grande homem da história do povo ce Israel (Js 1 4 :1 4 ). A bigail, um a das esposa5 de D avi, havia sido casada com um calebita e Davi herdara a propriedade dele, que fica­ va próxim a ao deserto de M aom (1 Sm 25:2). É bem provável que Hebrom fosse a cidade mais im portante da região Sul de Judá, de modo que Davi mudou-se para lá com seus hom ens, e eles foram viver nas cidades me­ nores ao redor de H ebrom . Pela primeira vez em dez anos, Davi e seus valentes não erann mais fugitivos. Seus hom ens haviam sofride com ele e logo passariam a reinar com e;e (ver 2 Tm 2 :1 2 ). Q u and o D avi assentou-se em Hebrom, seu retorno a Judá foi o sinal para o p o s ; reconhecê-lo co m o seu líder, de m odo que os anciãos de Judá ungiram D avi novam en­ te e o p ro c la m a ra m seu rei (v e r 1 Sm 1 6 :1 3 ).8 Se A bner, capitão de Saul, também tivesse aceitad o a vo n tad e de D eus e se sujeitado a D avi, um a difícil guerra civil t e ria sido evitada. Porém , a lealdade ao antgo regim e (A bner era sobrinho de Saul) e : desejo de proteger os próprios interesses levaram A b n er a lutar contra D avi em vez de segui-lo. Enquanto Davi vivia em Ziclague, vol tários das tribos de Benjam im , de Gade de M anassés haviam se juntado a ele (1 12:1-22), de m odo que, não apenas D possuía um exército enorm e e experie com o tam bém contava com uma ampla presentação de algum as das outras tri Em breve, D avi conquistaria a lealdade todo o Israel. 2 S A M U E L 1:1 - 2 : 7 Em sua ascensão ao trono de Israel, Davi lu stra a carreira de Jesus Cristo, o Filho de Davi. Assim com o o pastor D avi, Jesus veio, =ite s de tudo, em form a de servo humilde e b ungido rei longe dos olhos do público. C om o Davi no exílio, Jesus é Rei nos dias hoje, mas ainda não está reinando no ~ono de Davi. A ssim com o Saul nos temro s de D avi, hoje em dia, Satanás ainda tem = iberdade de obstruir a obra do Senhor e de opor-se ao povo de D eus. Um dia, Jesus ■d tará em glória, Satanás será capturado e esus governará em seu reino glorioso (Ap 3:1 1 - 2 0 :6 ). H o je, o povo de D eus ora • elm ente: "V en h a o teu reino " (M t 6 :1 0 ) e espera com grande ansied ad e a vo lta de seu Rei. D avi estava com trinta anos de idade rja n d o os anciãos de ju d á o proclam aram •e e reinou em Hebrom durante sete anos e meio (2 Sm 2 :1 1 ). Q u e grande bênção para jd á ter um líder tão com petente e piedoso! 4. R e c o n h e c im e n t o ( 2 S m 2 :4 b - 7 ) Davi era um hom em com o coração de um castor que se preocupava com o seu povo •■er 2 Sm 24:1 7), e um dos prim eiros assun'35 dos quais tratou foi a sina de Saul e de ;eus três filhos que morreram com ele. Quanzo perguntou aos líderes de Judá sobre o íepultam ento da fam ília real, estes lhe con'aram co m o os hom ens de Jabes-G ileade -aviam a rriscad o a vid a para resgatar os ruatro corpos, queim ar a carne m utilada e recom posta e, depois, sepultar seus ossos em Jabes (1 Sm 3 1 :8 -1 3 ). O povo de Jare s-G ile a d e se lem brou de co m o, muitos in o s atrás, Saul havia salvado sua cidade 1 Sm 11). Jabes-Gileade ficava do outro lado do rio Drdão, na tribo de G ad e, e os homens que -esgataram os corpos tiveram de viajar no 299 sentido noroeste e de atravessar o Jordão até chegar a Bete-Seã, em uma jornada de cerca de quarenta quilôm etros, ida e volta. Foi um a missão corajosa, e D avi agradeceu a eles por sua dedicação a Saul e ao reino de Israel. Dem onstraram "hum anidade", e o Senhor usaria de "m isericórdia e fidelidade" para com eles. Vinte e cin co anos depois, Davi exum ou os restos mortais de Saul e de seus filhos que m orreram com ele e os se­ pultou novam ente em Benjam im , tribo de origem da fam ília de Saul (2 Sm 21:12-14). N o e n tan to , D a v i usou essa o ca siã o com o um a oportunidade para convidar os hom ens corajosos de Jabes-Gileade a apoiálo. H aviam se mostrado valentes por Saul e poderiam , portanto, ser valentes por Davi. Alguns guerreiros de G ad e já haviam se jun­ tado ao exército de D avi enquanto ele se encontrava em Ziciague (1 C r 12:8-15), afir­ m ando sua ce rte z a de que ele era o rei ungido de D e u s. Infelizm ente, o povo de Ja b e s-G ile a d e não e sco lh e u sujeitar-se a D avi, mas sim seguir A bn er e Isbosete, filho inexpressivo de Saul. O povo de Jabes-G ileade perm itiu que sua afeição por Saul o ceg asse e não foi ca p a z de enxergar o plano de D eus para sua n ação . Tinham um bom m otivo, mas fizeram a esco lh a errada. Q u an tas veze s, na história da Igreja, o povo de D eus dei­ xou que a afeição hum ana e o re co n h eci­ m ento prevalecessem sobre a vontade de D eus! Jesus Cristo é o Rei e m erece nossa subm issão, lealdade e o b ed iên cia. C o lo ca r líderes hum anos à frente do Rei ungido de D eu s é cria r divisão e fraq u e za no m eio dos seguidores do Senhor e causar inúm e­ ros problem as para o povo do Senhor. Nas palavras de A gostinho de H ipo na: "O u Je­ sus Cristo é Senhor de tudo ou não é Se­ nhor de coisa algum a". É interessante que 1 Samuel registra a cena de um mensageiro transmitindo as más notícias da derrota ao sacerdote Eli (1 Sm 4), e, nessa passagem, um mensageiro transmite ao rei Davi notícias que considera boas. Eli tombou para trás e m orreu, porém, nesse caso, o m ensageiro é que foi m orto. Em 1 Sam uel, a arca foi tomada pelo inimigo, mas posteriorm ente foi recuperada por Israel, enquanto aqui os corpos da fam ília real é que foram levados e, mais tarde, recuperados e sepultados. 2. A m orte de Saul nos lem bra de A p o calip se 3 :1 1 : "V e nho sem d em ora. C o n se rv a o que tens, para que ninguém tom e a tua co ro a". 300 2 S A M U E L 1:1 - 2 : 7 3. Saulo de Tarso, um homem cujo nome no original é o m esm o do rei Saul, com eçou seu ministério ao cair por terra (A t 9:4 4. Algumas versões da Bíblia dão a im pressão de que Davi escreveu esse cântico para incentivar os rapazes a aprenderem a usar 2 2 :7 ; 26 :1 4 ), mas no final de sua vida, nós o vem os em pé e cheio de ousadia ao lado de seu Senhor (2 Tm 4 :1 6 , 17). o arco, uma idéia que não encontra apoio no texto hebraico. É possível que essa elegia tenha sido cham ada de "Cântico do A rco " em função de uma referência ao arco de Jônatas no versículo 22. Esse nome identificava a melodia usada para entoar o cântico. Por certo, Davi não estava incentivando os arqueiros a praticar mais porque Saul e Jônatas haviam sido derrota na batalha, pois esse cântico exalta a destreza militar dos dois homens. 5. O termo hebraico traduzido por "glória" tam bém pode significar "gazela". Aos olhos de Davi, Saul era com o uma gazela 6. A metáfora da "espada que devora" (i.e., que bebe, consom e) é bastante com um no Antigo Testam ento (D t 3 2 :4 2 ; 2 Sm majestosa abatida na montanha. 2:26 1 1 :25; Is 3 1 :8; Jr 12 :1 2). A espada de Saul devorou muito sangue e foi saciada. 7. Tudo indica que, assim com o cooperava com Saul e as outras tribos, naquela época, a tribo de Judá tam bém mantinha uma 8. Davi foi ungido três v ezes: primeiro em particular por Sam uel (1 Sm 16 :1 3), depois publicam ente pelos anciãos e pelo povo postura um tanto "separada" (ver 1 Sm 1 1 :8; 1 5 :4 ; 17 :5 2; 18 :1 6 ; 3 0 :2 6 ). de Judá (2 Sm 2:4) e, por fim , tam bém publicam ente pela nação toda (5:3). devido tempo, descobriu que Davi era o rei 2 D avi O 2 bserva e Sam uel E sper a 2:8 - 4:12 om o disse N apoleão em seu leito de m orte: "Para governar, o im portante não é seguir uma teoria mais ou menos váli­ da, mas sim construir com a matéria-prima que se encontra à m ão. A quilo que é ine. itável deve ser aceito e transform ado em . antagem ". Se essa declaração é verdadei­ ra, então D avi foi um líder extrem am ente C eficaz nos sete anos e meio que reinou em Hebrom . Enquanto Joabe com andava o exér­ cito de Judá, D avi o b servava e esperava, sabendo que um dia o Senhor abriria cam i­ nho para que reinasse sobre todo o Israel. Deus havia cham ado Davi não apenas para ser rei, mas tam bém pastor e líder espiritual de seu povo. Davi teve de esperar o tempo de Deus, enquanto suportava pacientemente as conseqüências das am bições egoístas e das atitudes irresponsáveis de líderes mo­ tivados pelo orgulho e pelo ódio. Davi apren­ deu a construir com a matéria-prima que se encontrava a sua disposição e a confiar que D eu s usaria d e ce p çõ e s em favo r de seu povo. 1 . A b n e r: o p r o c la m a d o r d o n o v o re i ( 2 S m 2 :8 - 3 2 ) O ator principal nessa parte da história é Abner, sobrinho de Saul e com andante de seu exército (1 Sm 1 4 :5 0 ). Foi A b n er que levou D avi a Saul depois que D avi matou G o lias (1 Sm 17:55-58) e foi junto com ele que Saul perseguiu Davi durante dez anos (26:5ss). A bner foi censurado e humilhado por Davi quando deixou de proteger o rei ■1 Sm 26:13-16) e, portanto, não nutria qual­ quer afeição especial por Davi. O povo de Israel ho n rava D avi a cim a de Saul e, no escolhido por D eus para Israel. Um a v e z que os soldados de D avi já eram com andados por Joabe, o que seria de A bner quando Davi subisse ao trono? G rande parte daquilo que A bner fez durante esses sete anos e meio não foi para a glória de Deus nem para o fortalecim ento de Israel, mas sim para de­ fender interesses próprios. Estava cuidando da pessoa mais im portante do m undo: ele m esm o. A b n e r rejeita o re in a d o d e D avi (vv. 811). O povo de Judá obedeceu à vontade de D eus e ungiu Davi para reinar sobre eles. A bner, porém , deso b ed eceu ao Senho r e declarou Isbosete - o único filho de Saul que havia sobrevivido - rei "sobre todo o Israel". A bner sabia que D avi era o escolhi­ do de D eus, um líder com petente e corajo­ so, mas deliberadam ente se rebelou contra o Senhor e nom eou Isbosete. Israel havia pedido um rei "co m o o têm todas as na­ çõ es" (1 Sm 8:5), e, quando um rei morria, as outras nações proclam avam o filho mais velho do m onarca com o sucessor. Três dos filhos de Saul haviam sido mortos em co m ­ bate, de modo que Isbosete era o único que restava da fam ília real. A s Escrituras não revelam m uita coisa sobre Isbosete, mas fica claro que não pas­ sou de um governante inexpressivo, m ani­ pulado por A b n e r (2 Sm 3 :1 1 ; 4 :1 ). Sem dúvida, tinha idade suficiente para lutar no exército com o pai e os irm ãos, mas Saul o deixou em casa a fim de proteger a m onar­ quia. (Talvez tam bém não fosse um bom soldado.) Tanto Saul quanto A bner sabiam que Deus havia tomado a dinastia de Saul (1 Sm 13:11-14). Ao descobrir que ele e os filhos morreriam na batalha, é bem provável que Saul tenha tom ado as medidas cabíveis para proclam ar seu quarto filho rei de Israel. E possível que Isbosete tenha sido coroado pelo general, porém jam ais foi ungido pelo Senhor. Em 1 Crô nicas 8 :3 3 , ele é cham ado de Esbaal, que significa "hom em do Senhor". O termo "baal" quer dizer "senhor" e tam­ bém era o nom e de uma divindade cananéia, de modo que talvez esse seja o motivo para a m udança de n om e.1 302 2 S A M U E L 2:8 - 4:12 A bner levou Isbosete para M aanaim , do lado leste do Jordão. Nessa cidade levítica de refúgio, Isbosete estaria seguro (Js 2 1 :38), e ali A bner instituiu a capital para "todo o Israel". No entanto, é bem provável que te­ nha levado pelo m enos c in c o anos para A bner persuadir as tribos (com exceção de Judá) a seguir seu novo rei. Isbosete foi co ­ roado no início do reinado de sete anos e seis meses de Davi sobre Judá e foi assas­ sinado depois de reinar apenas dois anos sobre "todo o Israel". Esses foram os dois últim os anos do reinado de D avi em H e ­ brom. O governo de Isbosete foi curto, e, de qualquer m odo, todos sabiam que, na v e rd a d e , qu em e stava no co m a n d o era Abner. Essa situação tem um tom m oderno, pois tanto a esfera religiosa quando a esfera polí­ tica de nosso tem po são o cu p ad as pelos mesm os três tipos de pessoas. H á os fracos com o Isbosete, que chegam ao poder por­ que "têm as costas quentes". H á os fortes e egoístas com o Abner, que sabem m anipular outros para seu benefício pessoal. Também há mulheres e hom ens de D eus com o Davi, cham ados, ungidos e preparados, mas que precisam esperar pelo tempo de Deus antes de poder servir. A o longo de mais de cin­ qüenta anos de m inistério, vi igrejas e ou­ tros trabalhos deixarem de lado mulheres e hom ens de Deus e colocarem pessoas sem qualificação em posições de liderança pelo simples fato de serem mais conhecidas ou de "terem as costas quentes". A bner conseguiu o que queria, mas per­ deu tudo em poucos anos. A b n e r d esa fia o e x é rc ito d e D a vi (vv. 12-17). Q uand o A bner proclam ou Isbosete rei, na verdade estava declarando guerra con­ tra D avi e sabia disso. M as, a essa altura, A bner contava com o apoio de todas as tri­ bos, exceto de Judá, e acreditava que pode­ ria derrotar Davi na batalha sem qualquer dificuldade e dom inar todo o reino. Certo da vitória, A bn er propôs um a co m p etição entre os dois exércitos, a ser realizada no açude a cerca de trinta e seis quilôm etros ao norte de G ib e ão . Esse desafio não foi muito diferente daquele lançado por Golias, quando o gigante filisteu propôs que um do ; soldados de Saul lutasse contra ele (1 Sm 17:8-10). No entanto, A b n er estava se r e belando contra D eus, enquanto Davi era o líder escolhido por Deus! Essa é a prim eira vez que vem os Joabe. sobrinho de D avi e com andante de suas tro­ pas.2 O s dois exércitos encontraram -se no açude, e do ze soldados de Benjam im en­ frentaram doze hom ens de Judá - e todos os vin te e quatro h o m e n s foram m ortos! N aquele dia, o cam po de batalha recebeu um novo nom e: Cam po dos G u m es Afiados ou "C am p o das Espadas". Joabe e A bner não perderam tempo e colocaram seus homens em form ação para a batalha, e "seguiu-se crua peleja naquele dia". A bner foi derrota­ do nesse dia, p re n u n cian d o o que ainda estava por vir. A b n e r mata o so b rin h o d e D avi (vv. 182 3 ). Joabe, A bisai e A sael eram sobrinhos de D avi, filhos de sua irm ã Z eru ia (ver 1 Cr 2 :1 3 -1 6 ).3 Q u e r por iniciativa própria quer por ordem do irmão, A sael foi atrás de Abner, pois sabia que matar o general inimigo tra­ ria confusão e faria todo o exército adversá­ rio se dispersar. Se foi Joabe quem ordenou que o jovem A sael, conhecido por sua ligei­ re za , pe rse g u isse A b n er, ta lv e z estivesse pensando em seu futuro, pois A bn er pode­ ria am eaçar sua posição de com andante do exército. O registro deixa claro que A bner não ti­ nha desejo algum de ferir nem matar o ra­ paz, mas A sael foi persistente. Primeiro A brelhe disse para desviar-se para a direita c j para a esquerda e tom ar o que quisesse de um dos soldados inimigos mortos. Em s e g .da, advertiu Asael de que, se o matasse, d a' 3 início a uma briga sangrenta entre fa m ília que p o deria durar anos. A b n e r co n h ec ; Joabe e não tinha vontade algum a de c ;início a um possível conflito fam iliar que se estenderia pelo resto de suas vidas. Já ba~tava A bner e Joabe serem com andantes i*< vais. Q uand o Asael se recusou a desistir perseguição, A b n er usou de astúcia e em ­ pregou um dos artifício s m ais antigos ce b a ta lh a: parou de re p en te e d e ixo u q _e A sa el se arro jasse diretam en te so bre sufll 2 S A M U E L 2 : 8 - 4: 1 2 lança. A extrem id ade da lança oposta à pon­ ta co stu m ava ser afiada, de m odo que a lança pudesse ser cravada no solo, em po­ sição de prontidão (1 Sm 2 6 :7 ). A sael caiu no chão e m o rre u .4 Sua m orte se deu no transcurso da batalha, apesar de tudo indi­ car que A b n er não tinha planos nem dese­ java matá-lo. A b n e r p e d e um a tré g u a (vv. 2 5 -3 2 ). Joabe e Abisai, os dois irm ãos de Asael, de. iam estar perto dali, pois co ntinuaram a perseguição a A bner, decididos, sem dúvi­ da alguma, a vingar o sangue do irm ão. Po'é m , A bner foi salvo por seus soldados e, tanto ele quanto os benjam itas, se retiraram Dara o monte de A m á. A b ner sabia que ha. ia sido derrotado (vv. 3 0 ,3 1 ), de m odo que oediu uma trégua. Talvez tivesse suspeitado que a morte de A saeí seria um incentivo para aue Joabe e Abisai parassem de lutar e cui­ dassem do sepultam ento. Tendo em vista aue Benjam im e Judá eram irm ãos, ambos -.lhos de Jacó , por que deveriam lutar um contra o outro? No entanto, o próprio A bner ~avia com eçad o a batalha, de modo que só poderia culpar a si mesm o. Hom em dado a ;ntrigas, A bner tinha em m ente um plano que ne daria os dois exércitos sem que precisas­ se derram ar sangue. Joabe conhecia o coração de Davi e saoia que ele ansiava por união e paz e não por divisão e guerra, de modo que tocou a trombeta e deteve seus soldados, a fim de que cessassem a perseguição ao inimigo. Em seguida, disse a A bner: "Tão certo com o vive D e u s, se não tivesses falado, só am anhã cedo o povo cessaria de perseguir cada um a seu irm ão" (v. 27 ). A b ner e seus homens cam inharam a noite toda de volta para Maanaim, e Joabe e seu exército voltaram para Hebrom , parando em Belém , ao longo do cam inho, para sepultar Asael de modo apro­ priado. Durante a m archa, que se estendeu noite adentro, Abisai prem editou um modo de vingar a morte do irmão. 303 de cerca de dois anos, durante os quais oco r­ reram confrontos ocasionais e não longas batalhas subseqüentes. Davi esperava, certo de que Deus cum priria suas promessas e que lhe daria o trono de Israel. O governo de Davi em Hebrom estava indo "de força em força" (SI 8 4 :7 ), enquanto a aliança das tri­ bos sob o com ando de Isbosete e A bner se tornava cada vez mais fraca.' Porém , homem astuto que era, A bner usava sua posição na casa de Saul para fortalecer a própria autori­ dade, pois se preparava para fazer a Davi uma oferta irresistível (v. 6). Q uanto a Davi, sua fam ília tam bém au­ mentava (ver ainda 1 C r 3:1-4); com o qual­ quer outro m onarca do O rien te, o harém do rei ia ficando cada vez maior. Sem dúvi­ da, Salom ão, filho de Davi, iria muito além do pai antes d ele ou de qua/quer rei de Is­ rael ou de Judá depois dele (1 Rs 1 1 :3 ).5 Davi se mudara para Hebrom com duas esposas e, a essa altura, contava com seis filhos de seis esposas diferentes. A poligamia, que teve início com Lam eque, descendente de Caim (G n 4 :1 9 ), era tolerada em Israel, mas proi­ bida para seus reis (D t 1 7:1 7). A m nom , o prim ogênito de D avi, acaba­ ria por estuprar sua meia-irmã, Tam ar (cap. 13), sendo assassinado por Absalão, irmão de Tam ar por parte de pai e mãe, que, por sua vez, seria morto na tentativa de usurpar 0 trono de seu pai (caps. 14 - 18). O fato de A bsalão ter parentesco com a realeza por parte de mãe pode tê-lo incentivado em sua cam panha para assumir o reino. Sem dúvi­ da, o casam ento de D avi com M aaca foi m otivado por questões políticas, a fim de q u e D a v i tiv e s s e um a lia d o p ró x im o a Isbosete. Q uileab e é cham ado de Daniel em 1 C rô n icas 3 :1 . Nos últim os dias de D avi, quando se encontrava enferm o, Adonias ten­ taria tom ar o trono e seria executado por Salom ão (1 Rs 1 - 2). Não tem os qualquer inform ação sobre Sefatias e sua m ãe, Abital, nem sobre Itreão e sua mãe, Eglá. Depois de mudar a capital para Jerusalém , Davi to­ 2. A b n e r , o n e g o c i a d o r (2 S m 3:1-21) mou para si ainda mais esposas e concubinas e teve mais onze filhos (2 Sm 5:13-16). A oração "durou muito tempo a guerra", no versículo 1, indica um estado de hostilidade A b n e r deserta para o la d o d e D avi (vv. 6-11). Além de ser um político pragmático, 304 2 S A M U E L 2 : 8 - 4: 1 2 A bner tam bém era um general sagaz, e seu princípio fundam ental podia ser resum ido e m : " fiq u e se m p re do la d o v e n c e d o r" . Q uand o se deu conta de que não havia fu­ turo algum para o trono de Isbosete, deci­ diu transferir sua lealdade para o outro lado, garantindo, assim , a própria seguran ça e, possivelm ente, salvando vidas. Davi era co ­ nhecido por sua benevolência e havia de­ m o nstrad o um a p a c iê n c ia e x tra o rd in á ria com a casa de Saul. O texto não diz se A bn er teve, de fato, relações com a co n cu b in a Rispa, e o gene­ ral negou tal aco n te cim e n to firm em e n te ; p orém , se esse foi o caso , com eteu uma ofensa gravíssim a. O harém do rei falecido pertencia a seu sucessor, nesse caso, Isbosete (ver 2 Sm 12:8 e 16:15-23). Q u alq u er hom em que sequer pedisse uma dessas m u­ lheres estava p ed in d o p ara si o rein o e, portanto, era culpado de traição. Essa foi a causa da m orte de A donias (1 Rs 2 :1 3 -2 5 ). E possível que A bn er tenha tom ado Rispa com o sim ples propósito de d esencad ear um a briga com Isbosete e de declarar sua m udança de partido. Se essa era sua inten­ ção, de fato foi bem -sucedido. E evidente que o rei não era forte o suficiente para se opor a A bner, o qual havia an un ciado sua m udança para o lado de D avi. A expressão "trono de D avi" é usada pela prim eira vez nas Escrituras no versículo 10 e, com o pas­ sar do tem po, adquire significado m essiâ­ nico (Is 9 :6 , 7). A b n e r n e g o cia em n o m e d e D a v i (vv. 12-21). Esse ep isód io é um bom exem p lo do estilo "ir-e-vir" da d ip lo m a cia na A n ti­ guidad e. • Abner enviou mensageiros a Davi ofe­ recendo colocar todo o Israel sob seu governo (v. 12). • Davi enviou mensageiros a Abner aceitando sua oferta, desde que, an­ tes disso, Abner lhe enviasse Mical, esposa de Davi e irmã de Isbosete (v. 13). • Abner recomendou a Isbosete que atendesse o pedido, e Davi também enviou uma mensagem a Isbosete solicitando que Mical fosse enviada a Hebrom (v. 14). • Abner conferenciou com os anciãos de Israel (vv. 1 7, 18). • Abner conferenciou com os líderes de Benjamim (v. 19). • Abner e vinte representantes das tribos foram a Hebrom, levando consigo Mical (vv. 15, 16, 20). • Abner e Davi entraram num acordo sobre como seria a transferência do reino; ambos participaram de um ban­ quete e fizeram uma aliança (v. 21). Nos prim eiros estágios dessas negociações, teria sido perigo so e im p ru d e nte D avi e A b n e r se e n co n tra re m p esso alm en te, de modo que dependeram de seus oficiais para fazer os contatos necessários. D avi não ti­ nha m otivo para não colaborar com Abner. uma vez que em m om ento algum havia es­ tado em guerra com ele ou com o rei Saul. Um confronto direto era a única alternativa para esse tipo de diplom acia, e Davi era um hom em pacífico . Por seu casam ento com M ical, Davi passara a fazer parte da família de Saul, de modo que deveria mostrar certo respeito tanto a A b n er quanto a Isbosete. Além disso, estava decidido a unir as tribos o mais rápido possível sem derram am ento desn ecessário de sangue. D epo is de uma espera de sete anos, havia chegado o mo­ mento de Davi agir. Por que D avi im pôs a volta de M ical com o condição para o prosseguimento das negociações? Em prim eiro lugar, ela ainda era sua esposa, apesar de Saul tê-la entre­ gue a outro hom em . D e z anos antes, quan­ do haviam se ca sa d o , M ical am ava D a\i profundam ente (1 Sm 1 8 :2 0 ), e não temos m otivo algum para crer que o sentim ento não fosse recíproco. Fazia parte da boa di­ plom acia convidar sua "rainha" a juntar-se a ele, e o fato de ela ser da casa de Saul aju­ dou a fortalecer os laços de união. Ao rei­ vindicar a filha de Saul, D avi tam bém estava reivindicando todo o reino, e quando Abner levou M ical a H ebrom , seu gesto foi uma d e claração pública de que havia rompido com a casa de Saul e se aliado a Davi. 2 S A M U E L 2 : 8 - 4: 1 2 3. A b n e r , a v ít im a (2 S m 3 :2 2 - 3 9 ) O s preparativos para uma transição pacífica pareciam estar em ordem , mas o cam po dioiom ático ainda tinha m inas esco n d ias e prestes a exp lo d ir. Isbosete co n tin u ava a ocupar o trono, e Davi teria de lidar com ele e com os partidários leais à casa de Saul. A bner havia matado Asael, e Joabe aguar­ dava o m om ento certo de vingar a morte do irmão. Jo a b e cen su ra D a vi (vv. 22-25). Davi en­ viara Joabe e alguns de seus hom ens a um ataque para obter os recursos necessários a fim de ajudar a sustentar o reino. Q uando ioabe voltou e ficou sabendo que Davi ha. ia recebido A bner e lhe oferecido um ban­ quete, não pôde conter sua ira e censurou o rei.6 A idéia central desse parágrafo é que o general de Saul e o hom em que havia matado Asael viera e partira dali "em paz" |2 Sm 3 :2 1 , 23 ), coisa que Joabe não conse­ guia entender. Seu coração ainda sofria com a perda do irm ão, e Joabe não era cap az de co m p reend er as decisõ es políticas de seu rei. E evid en te que Joabe tam bém estava protegendo seu cargo, assim co m o A bner defendia o dele, mas, ao contrário de Davi, ioabe não p un h a fé algum a n aq uilo que Abner dizia ou fazia. Joabe estava certo de que não havia qualquer relação entre a visi­ ta de A b ner e a transferência do reino para as mãos de D avi. O general astuto estava apenas sondando a situação e se preparan­ do para um ataque. O texto não registra um a resposta de Davi. Joabe nunca fora um indivíduo tratá.e l (3 :3 9 ), e sua relação de parentesco só dificultava as coisas. A dinâm ica da família de D avi - as muitas esposas e filhos e os parentes em cargos de autoridade - criou núm eros problem as ao rei. O silêncio de Davi não foi uma expressão de consentim en­ to, pois não co ncordava com seu general; a n te s, foi um s ilê n c io que d e m o n stro u autocontrole e profundo desejo de reunificar a nação. D avi não queria prom over a "p az a qualquer p re ço ", pois era um hom em de itegrid ade, mas não estava disposto a dei­ xar que seu general im petuoso se lançasse num a cam panha de vingan ça pessoal em 305 nom e do rei. O s sentim entos do Salm o 120 podem , sem dúvida, ser aplicados à situa­ ção de Davi nessa época. Jo a b e engana e m ata A b n e r (vv. 2 6 , 2 7 ). Joabe acusou A bn er de m entiroso (v. 25), mas ele próprio usou de dissim ulação! Com fre q ü ên cia, som os cu lp ad o s dos m esm os pecados de que acusam os a outros e "gen­ te da m esma laia se co nh ece". E bem prová­ vel que Joabe tenha enviado m ensageiros em nom e do rei; do contrário, A bner teria sido mais cauteloso. A bner não vira jo ab e na casa de Davi, de modo que deve ter su­ posto que o general de D avi ainda estava longe em sua expedição de ataque. Joabe e seu irm ão, Abisai (v. 30 ), ficaram à espera de A bner e o levaram para uma parte isola­ da da porta da cidade, onde o esfaquearam sob a quinta costela, o mesm o lugar onde havia cravado sua lança em Asael (2 :2 3). Sob todos os aspectos, a morte de A bner foi um erro. O s dois irm ãos sabiam o que o rei queria e, no entanto, co lo caram d elib e­ rad am ente seus interesses pessoais antes daquilo que era im portante para o reino. A sael havia p erseguid o A b n e r no cam po de batalha, de m odo que sua m orte havia sido m ais um a baixa decorrente da guerra; a morte de A bner, por outro lado, foi assas­ sinato. H ebrom era um a cidad e de refúgio, um s a n tu á rio o n d e alg u ém a c u s a d o de hom icídio podia receb er julgam ento justo, mas os dois irmãos sequer deram aos anciãos de H ebrom a oportunidade de exam inar o ca so . A b n e r m atou A sael em autodefesa, mas quando A bisai e Joabe mataram Abner, foi pura vingança. A b n er não teve qualquer ch an ce de se defender. A m orte de Asael o co rreu em plena luz do dia, e todos ao redo r p o d eriam dar testem u n h o do que havia o co rrid o , enquanto A b n er foi enga­ n ado e le vad o para a e s c u rid ã o . A b isa i acom panhara D avi até o acam pam ento de Saul e presenciara a ocasião em que Davi h a v ia se re c u s a d o a m a ta r S au l (1 Sm 2 6 :6 s s), de m odo que sabia que D avi ja ­ mais aprovaria Saul. Ficam o s reu pensando na tram a para o assassinato do general de im aginando se A b n e r m or­ que D avi estava en vo lvid o assassiná-lo. 306 2 S A M U E L 2 : 8 - 4: 1 2 D a v i h o m e n a g e ia A b n e r (vv. 2 8 -3 9 ). Q u an d o Davi recebeu a notícia da morte de A bner, negou im ediatam ente qualquer ser rei, mas sim que era "contido e bondo­ so", co ntrastando com os sobrinho s "for­ tes". D avi havia experim entado a bondade envolvim ento com o que seus dois sobrinhos haviam feito. Chegou a ponto de am aldiçoar a casa de Joabe, citando algumas das pra­ gas sobre as quais M oisés havia advertido na aliança (D t 2 8 :2 5 -2 9 , 58-62). D avi publi­ cou um édito real ordenando que Joabe e seu exército pranteassem a m orte de A bner e que com p arecessem a seu funeral. A ex­ pressão "todo o povo" é usada sete vezes de D eus (2 2 :3 6 ) e tentou tratar os outros com o D eu s o havia tratado. Sem dúvida, foi longe dem ais nessa abordagem com rela­ ção à própria fam ília (1 8 :5 ,1 4 ), mas foi um hom em segun d o o c o ra çã o de D eu s (SI 103:8-14). Tudo o que lhe restava fazer era nos versículo s 31-37 e refere-se aos hom ens do e xé rcito de Jo ab e (2 :2 8 ; 1 2 :2 9 ). D avi lhes ordenou que rasgassem as roupas, ves­ tissem p ano s de saco e ch o ra ssem pela m orte de um grande hom em , e o próprio D avi acom panhou o ataúde até o local do sepultam ento. Pelo fato de Joabe e de A bisai estarem entre os p ranteadores o ficia is, é bem provável que muitos do povo nem sou­ bessem que eles eram os assassinos. Davi não os levou a julgam ento e, ao que pare­ ce , suas d e cla ra çõ e s nos v e rsícu lo s 29 e 39 foram ditas em particular a seu co nse­ lho mais íntim o. A inda que os dois irm ãos não m erecessem , D avi esforçou-se ao má­ xim o para protegê-los. Assim com o fez na ocasião da morte de Saul e Jônatas, Davi escreveu uma elegia para hom enagear o general morto (vv. 33, 34, 38). D eixou claro que A bner não havia morrido em decorrência de alguma insensatez de sua parte e que, em m om ento algum de sua carreira militar, havia sido prisioneiro. A bner fora abatido por hom ens perversos que o haviam enganado. D avi tam bém ho m ena­ geou A bner sepultando-o na cidade real de Hebrom em vez de levá-lo de volta a Benja­ mim. Posteriorm ente, Davi disse a seus ser­ vos mais próxim os que A bner havia sido "um príncipe e grande hom em ". Além disso, no­ meou Jaasiel, o filho de Abner, governante sobre a tribo de Benjam im . O lam ento de D avi por si m esm o, no versículo 39, foi ouvido por seu "círculo mais íntim o" e seleto e constituiu uma expressão dos problem as de D avi com a própria famí­ lia. A palavra "fraco" não é um a indicação de que Davi não fosse forte o suficiente para 4 . Is b o s e t e , o f r a c a s s a d o d e ixar o ju lgam ento aos cu id ad o s do Se­ nhor, pois ele nunca falha. (2 S m 4:1-12) Se Davi considerou-se fraco em decorrên­ cia do co m portam ento de seus sobrinhos, deveria ter pensado na situação de Isbosete depois da morte de Abner. Pelo m enos, Davi era um grande guerreiro e um líder com pe­ tente, enquanto Isbosete não passava de um fantoche nas mãos de seu general. Agora, seu general estava morto. O s mem bros das tribos em seu reino sabiam que a morte de A bner significava o fim do governo de seu rei e, sem dúvida, esperavam um a invasão im ediata de Davi e de seu exército. O povo em geral não sabia das intenções de Davi nem de seu encontro recente com Abner. Foi um dia de angústia para Isbosete e seu povo. O relato sobre Baaná e Recabe faz lem­ brar o am alequita em 2 Samuel 1, o homem que afirm o u ter m atado Saul. Esses dois hom ens, oficiais de escalão inferior do exér­ cito de Abner, pensaram ser capazes de con­ seguir re co m p e n sas e um a p ro m o ção de D avi caso m atassem Isbosete. M as assim com o o am alequita, os dois estavam enga­ nados. O único herdeiro do trono de Saul que sobrevivera era um m enino aleijado de do ze anos de idade cham ado M efibosete. A ssim , se Baaná e Recabe m atassem o rei, o cam inho estaria livre para D avi subir ao trono e unir a nação (verem os M efibosete outra vez em 2 Sm 9:1-13; 16:1-4; 19:24-30: e 2 1 :7 , 8). Entraram na casa do rei com a desculpa de que tinham ido buscar cereais para seus hom ens e mataram o rei enquanto este se encontrava adorm ecido e vulnerável. Se c 2 S A M U E L 2:8 - 4:12 assassinato de A bner pode ser considerado um crim e hediondo, esse hom icídio foi ain­ da pior, pois o único "crim e" de Isbosete era ser filho de Saul! Não havia transgredido lei alguma e não teve a ch an ce de se de­ fender. Seus assassinos sequ er m ostraram 'espeito pelo corpo, uma v e z que o decapi­ taram , a fim de levar a cab eça com o prova a D a v i e de receber sua recom pensa. Muito c io r foi os dois assassinos dizerem a Davi :u e o Senhor o havia vingado! A resposta de Davi deixou claro que, em -íom ento algum de sua carreira, havia que­ brado o m andam ento de Deus assassinan­ do alguém a fim de cum prir seus propósitos carticulares. O Senhor o havia protegido e cuidado dele durante os d ez anos de exílio e por mais de sete anos com o rei em Heorom. Assim com o fez na morte de Saul e íe Abner, D avi deixou bem claro que, de n o d o algum, estava envolvido no que havia ocorrido. Teria sido fácil para os inimigos de Davi com eçarem boatos difam adores de que o rei havia arquitetado as duas mortes a fim de abrir cam inho ao trono de Israel. O b e d ecen d o às ordens do rei, os guar­ das mataram os dois assassinos confessos, cortaram as mãos e os pés dos dois e pen­ duraram seus corp os co m o prova da ju sti­ ça do rei. M utilar um co rp o desse m odo e 307 expô-lo publicam ente era a m aior de todas as hum ilhações (D t 2 1 :2 2 , 23). D avi provi­ denciou para que a cabeça de Isbosete fos­ se sepultada em H ebrom , no sepulcro de Abner, uma vez que os dois eram parentes. O s quatro "re is" sobre os quais Paulo escreveu em Rom anos 5 certam ente esta­ vam em ação nessas cenas da vida de Davi. O pecado reinou (5 :2 1 ) por meio das men­ tiras de homens que se odiavam e que pro­ curaram destruir uns aos o utros. A m orte reinou (5 :1 4 , 1 7) com o exterm ínio de Asael, A b n e r e Isbosete, ju n tam en te com quase quatrocentos soldados abatidos no conflito no açu d e de G ib e ã o . Porém , a graça de Deus tam bém reinou (5 :2 1), pois o Senhor protegeu Davi e prevaleceu sobre os peca­ dos do ser hum ano, a fim de cum prir seus propósitos divinos. "O n d e abundou o peca­ do, superabundou a graça" (5 :2 0 ). M as Davi "[reinou] em vida'' (5:1 7) e deixou que Deus o controlasse ao enfrentar situações subse­ qüentes de em ergência. Davi agiu pelo po­ der de Deus, que atravessou todas as crises com ele e que o ajudou a vencer. Em meio aos problem as e tribulações de hoje, o povo de D eus pode "reinar em vida por meio de Jesus Cristo" se nos entregar­ mos a ele, se esperarm os nele e se crerm os em suas promessas. 0 tio-avô de Saul também tinha o nome "B aal" (1 C r 9 :3 6 ), e M efibosete, filho de Jônatas, também era cham ado de "M eribeBaal" (1 C r 8:34 ). Joabe era sobrinho de D avi, mas, ao que parece, Davi não exercia muito controle sobre ele (ver 3 :39 e 18:5, 14). N o final do reinado de Davi, Joabe conspirou para tornar Adonias, filho de D avi, sucessor do rei; quando Salom ão subiu ao trono, ordenou que Joabe fosse executado por traição (1 Rs 2). De acordo com 2 Samuel 1 7:25, Zeruia era meia-irmã de D avi. Se Naás era mãe de Abigail e de Z eruia, então era a segunda m ulher de Jessé. Se Naás era o pai, então teve Abigail e Zeruia e faleceu, e a esposa, cujo nome não é m encionado, casou-se com Jessé. Q uem quer que fosse, Zeruia sem dúvida teve três filhos extraordinários. 1 Crônicas 2 7 :7 diz que Zebadias, filho de Asael, sucedeu o pai no com ando de sua divisão. 2 Samuel apresenta um padrão interessante, no qual encontram os uma lista de nomes (de filhos ou oficiais) no final das seções históricas: 1:1 - 3 :5 ; 3 :6 - 5 :1 6 ; 5 :1 7 - 8 :1 8 ; 9:1 - 20 :2 6. Essa situação nos lembra da parábola do filho pródigo (Lc 15:11-32). Abner, o "soldado pródigo", voltava para casa, e Davi lhe ofereceu um banquete. Joabe, o "irm ão m ais velho", poderia muito bem ter dito: "fui fiel a você e arrisquei m inha vida; e, no entanto, nunca me ofereceu um banquete!" 3 D a v i, o 2 ( V er R ei de I srael S am u el 5 — 6 1 C r ô n ic a s 3 :4 - 8 ; 11:1-9; 13: 5 - 16: 3) ta m bém S ue vida mais extraordinária e variada Davi teve! Q u an d o era pastor, matou ;ão e um urso, vitórias que o prepara­ ram para abater o gigante G o lias. D avi foi servo do rei Saul e tornou-se amigo querido de Jônatas, filho de Saul. Durante cerca de d ez anos, viveu com o exilado no deserto da Judéia, escondendo-se de Saul e apren­ dendo a confiar cada vez mais no Senhor. Esperou com paciência que Deus lhe desse o trono prom etido, m omento que finalm en­ te havia chegado. É pela fé e paciência que o povo de D eus recebe a herança das pro­ messas do Senhor (H b 6 :1 2 ), e D avi creu em D eus nas situações mais difíceis. H e r­ dou um povo dividido, mas, com a ajuda de D eus, trouxe união e fez de Israel um reino forte e poderoso. Estes capítulos descrevem os passos de Davi a fim de unir e fortalecer a nação. 1. D a v i a c e it o u a c o r o a (2 S m 5:1-5) O assassinato de Isbosete deixou as onze tribos sem rei e sem um herdeiro ao trono de Saul. A bner estava m orto, mas havia pre­ parado o cam inho para Davi ser proclam a­ do rei das do ze tribos (2 Sm 3:17-21). Na seqüência, os líderes de todas as tribos reu­ niram-se em Hebrom e coroaram Davi com o seu rei. As qualificações para o rei de Israel en­ contravam-se escritas na lei de M oisés em D euteronôm io 17:14-20. O prim eiro e mais im portante requisito era ser alguém escolhi­ do pelo Senhor dentre o povo de Israel, um rei "que o S e n h o r , teu Deus, escolher" (1 7:1 5, 2 0 ). O povo sabia que Samuel havia ungido Davi para ser rei cerca de vinte anos antes e que era da vontade de Deus que Davi subis­ se ao trono (2 Sm 5 :2 ). A nação precisava de um pastor, e Davi era esse pastor (SI 78:707 2). Saul havia sido "o rei esco lhido pelo povo", mas não a prim eira escolha do Se­ nhor, pois Deus o havia dado com o julga­ mento contra Israel pelo fato de seu povo querer ser com o as outras nações (1 Sm 8; O s 1 3 :1 1 ). O Senhor am ava seu povo e sa­ bia que precisava de um pastor, de modo que preparou Davi para ser seu rei. Ao con­ trário de Saul, um benjam ita, D avi era da tribo real de Judá (G n 4 9 :1 0 ), nascido e cria­ do em Belém . G raças a isso, pôde fundar a dinastia que trouxe ao m undo Jesus Cristo, o M essias, que tam bém nasceu em Belém. O s hom ens reunidos em H ebrom lem­ braram Davi de que pertencia à nação como um todo, não apenas à tribo de Judá (2 Sm 5 :1). No co m eço da carreira de D avi, o povo reconheceu que a mão de Deus estava so­ bre ele, pois o Senhor lhe deu sucesso em seus grandes feitos militares. H avia represen­ tantes de todas as trib o s na re u n ião em H ebrom , e todos declararam com entusias­ mo sua lealdade ao novo rei (1 C r 12:2340). Um total de 3 4 0 .8 0 0 oficiais e outros hom ens co m pareceram a essa reunião, to­ dos leais a Davi. Ficaram com Davi durante três dias e celebraram a bondade de Deus a seu po vo.1 Israel foi fundado com o nação na alian­ ça de Deus com seu povo, conform e expres­ so na lei de M o is é s , e s p e c ia lm e n te em D euteronôm io 27 - 30 e em Levítico 26. Se o rei e o povo obedecessem à vontade de D eus, ele os abençoaria e cuidaria deles, mas se deso b ed ecessem e adorassem a falsos deuses, o Senhor os disciplinaria. Cad a novo rei deveria declarar a suprem acia e a autori­ dade da lei de Deus, prom eter o bedecer a ela e, até mesm o, fazer uma cópia dessa le para seu uso pessoal (D t 1 7 :1 8 -2 0 ). Dav entrou em aliança com o Senhor e com o povo, concordando em defender e obede­ cer à lei de Deus e reinar no tem or do Se­ nhor (ver 1 Sm 10:1 7-25; 2 Rs 11:17). Q u a n d o D avi era a d o le s c e n te , havia recebido a unção de Samuel em particular 2 SAMUEL 5 - 6 1 Sm 1 6 :1 3 ), e os anciãos da tribo de Judá 0 haviam ungido quando se tornou seu rei aos trinta anos de idade (2 Sm 2 :4 ). Nessa reunião em Hebrom , porém , os anciãos de todo Israel ungiram Davi e proclamaram-no seu rei. Davi não era um amador, mas sim um guerreiro experiente e um líder co m p e­ tente que, sem d ú vid a algum a, po ssu ía a bênção de Deus sobre sua vida e ministé­ rio. D epois de passar por anos de turbulên­ cia e de divisão, a nação tinha, finalm ente, um rei escolhido por Deus e pelo povo. Deus leva tem po para preparar seus líderes, e é lam entável quando alguém "alcan ça o su­ cesso" antes de estar pronto. 2. D a v i e s t a b e l e c e u u m a n o v a c a p it a l 12 S m 5:6-10; 1 C r 11:4-9) A b n er e Isbosete h aviam estabelecido sua capital em M aanaim (2 Sm 2 :8 ), do outro lado do rio Jordão, na fronteira entre G ad e e M anassés, enquanto a capital esco lhid a por D avi havia sido H eb ro m , na tribo de ludá. Porém , nenhum a dessas cidades era adequada para o novo rei, que procurava reunir a nação e co m e ça r de novo. D avi demonstrou sabedoria ao escolher com o sua capital a cidade de Jerusalém , pertencente aos jebuseus e localizada na fronteira entre Benjam im (a tribo de Saul) e ju d á (a tribo de Davi). Jerusalém não havia pertencido a ne­ nhuma das tribos, de m odo que ninguém poderia acusar Davi de favoritismo na insti:jiç ã o de sua nova capital. As considerações políticas eram impor:antes, mas tam bém em term os de seguran­ ça e de topografia, Jerusalém era a cidade ' ideal para uma capital. Construída sobre um monte rochoso e cercada de três lados por .ales e montes, a única parte vulnerável da cidade era sua face Norte. A o sul ficava o ■ ale de Hinom , a leste, o vale do Cedrom e a oeste, o vale Tiropeom . "Seu santo monte, oelo e so branceiro , é a alegria de toda a terra; o monte Sião, para os lados do Norte, a cidade do grande Rei" (Sl 4 8 :2 ). "D esde Sião, excelên cia de form osura, resplandece D eu s" (Sl 5 0 :2 ). O povo de Israel sem pre amou a cid ad e de Jeru salém , e, hoje em Dia, ela é reverenciada por judeus, cristãos 309 e m uçulm anos. Por certo, nascer em Jerusa­ lém era uma grande honra (Sl 87:4-6). O Senhor deve ter guiado Davi de modo especial na escolha de Jerusalém para ser sua capital, pois a cid ad e exe rce ria papel estratégico no desdobram ento de seu gran­ de plano de salvação. Deus havia prom eti­ do aos israelitas indicar um lugar para onde poderiam se dirigir a fim de adorar ao Se­ nhor (D t 12:1-7), e é bem provável que tenha revelado a Davi que esse lugar era Jerusa­ lém. Posteriorm ente, Davi adquiriu em Sião a pro p ried ad e onde o tem plo seria co ns­ truído por seu filho, Salom ão (2 Sm 24). A Igreja considera a Jerusalém aqui da terra um a cidade de servidão legalista, mas vê a Jerusalém celestial com o sím bolo da alian­ ça da graça em Cristo Jesus (G i 4:21-31) e o lar etern o d o po vo de Cristo (H b 12:18-24; Ap 21 - 22 ). Deus colocou seu Rei no trono (Sl 2 :6 ) e, um dia, falará em sua ira e julgará os que se opuserem a ele e a sua verdade. O s jebuseus que viviam em Jerusalém acreditavam que sua cidadela era invencível e que até cegos e coxos eram capazes de defendê-la, declaração jactan ciosa que irou Davi. Ele sabia que o Senhor havia prom eti­ do a M oisés que Israel conquistaria todas as nações de C anaã, inclusive os jebuseus (Ex 2 3 :2 3 , 24 ; D t 7:1-2; 2 0 :1 7 ), de modo que planejou seu ataque pela fé. Davi prometeu ao hom em que entrasse na cidade e que a subjugasse o com ando de seu exército e até m esm o explicou com o isso deveria ser fei­ to: subindo pelo canal de água. Joabe, so­ brinho de Davi, aceitou o desafio, tomou a cidade e tornou-se capitão dos soldados do rei. Escavaçõ e s re alizad as no m onte Sião mostram que era difícil, porém não impossí­ vel, subir por esse ca na l. D avi o cu po u o monte e cham ou a parte Sul de "cidade de D avi". Nos anos subseqüentes, Davi e seus sucessores reforçaram o baluarte construin­ do muralhas. A palavra "M ilo " (v. 9) significa "plenitu­ de" e se refere ao aterro feito com pedras na face sul do monte para apoiar mais cons­ truções e uma muralha. O s arqueólogos de­ senterraram uma estrutura escalonada com cerca de quinhentos metros de com prim ento 310 2 SAMUEL 5 - 6 e trezentos de largura, que servia de terraço de apoio para outras construções; supõem que seja, justam ente, "M ilo ". Tanto Salom ão quanto o rei Ezequias fortificaram essa par­ te do monte Sião (1 Rs 9:1 5, 24 ; 1 1 :2 7; 2 C r 3 2 :5 ). A bênção de D eus estava sobre Davi, perm itindo que prosperasse em tudo o que se dispunha a fazer por seu povo. E provável que tenha sido nessa ép o ca que Davi levou a cabeça de G o lias para Je­ rusalém com o lem brança da fidelidade de Deus para com seu povo (1 Sm 17:54). 3. D a v i f e z a l i a n ç a s p o l í t i c a s (2 S m 5:11-16; 1 C r 3:5-9; 14:1-7) Israel era uma nação pequena que se distinguia dos vizin h o s por seu relacionam ento especial de aliança com o verdadeiro Deus vivo (Nm 23:7-10), e os israelitas foram ad­ vertidos a não fazer com seus vizinhos alian­ ças p o lític a s q u e co m p ro m e te ss e m seu testem unho. A menos que tenha sido suce­ dido por um rei de mesm o nom e, Hirão pro­ vavelm ente iniciava seu reinado sobre Tiro, pois manteve relações am igáveis tanto com D avi quanto com Salom ão durante os reina­ dos de am bos (1 Rs 5). É bem possível que o palácio de Davi tenha sido construído depois de sua cam pa­ nha militar bem-sucedida contra os filisteus (1 Rs 5:17-25) e pode ter sido a form a de Hirão reco nhecer a ascensão de Davi ao tro­ no. Sem dúvida, o rei fenício tam bém apre­ ciou o fato de D avi ter derrotado os filisteus, seus inimigos beligerantes. Do ponto de vis­ ta prático, os fenícios precisavam m anter um bom relacionam ento com os israelitas, pois Israel p o deria facilm e n te b lo q u ear a rota com ercial de Tiro e os fenícios dependiam dos lavradores israelitas para lhes fornecer alimento (ver At 1 2 :2 0 ). Davi interpretou a gentileza de H irão com o mais um a prova de que o Senhor havia, de fato, estabeleci­ do seu trono em Israel. A s referências ao p alácio de D avi e à sua alian ça com H irão proporcionaram ao escritor a oportunidade de m encio n ar a fa­ mília de D avi, a "casa" que o Senhor estava ed ificando para ele (Sl 127). D eutero nô m io 1 7 :1 7 proibia que o rei de Israel tom asse várias esposas para si, mas, ao que parece, Davi desconsiderou essa lei, com o também o fez Salom ão depois dele (1 Rs 4 :2 6 ; 1 1 :14 ). Pelo m enos um a das esposas de Davi era uma princesa (3 :3 ), o que indica que esse casam ento realizou-se em função de uma alian ça política, e, sem dúvida, houve ou­ tras uniões sem elhantes. Essa era uma das form as de consolidar as relações diplom áti­ cas com outras nações. As Escrituras apresentam quatro listas dos filhos de D avi, que nasceram enquanto ele reinou em H ebrom (2 Sm 3:2-5) e depois que se mudou para Jerusalém (5:13-16; 1 C r 3:1-9; 14:4-7). Sua prim eira esposa foi M ical, filha de Saul (1 Sm 1 8 :2 7 ), que não teve fi­ lhos (2 Sm 6 :2 3 ). Em H e b ro m , A in o ã de Jezreel deu à luz Am nom , o primogênito de Davi (3 :2 ); Abigail, a viúva de Nabal, deu à luz Q u ile ab e ou D aniel (3 :3 ); da princesa M aaca, n asceu A b salão (3 :3 ) e sua irm ã, Tarnar (1 3 :1 ); Hagite deu à luz Adonias (3:4); de Abital nasceu Sefatias (3 :4 ); e Eglá deu à luz Itreão (3 :5 ). Em Jerusalém , Bate-Seba teve quatro filhos com D avi (1 C r 3 :5 ): Sim éia (ou Sam ã), Sobabe, N atã e Salom ão. Suas outras esposas, cujos nom es não são men­ cionados (1 C r 3:6-9), deram à luz Ibar, Elisam a, Elifelete (ou Elpelete), Nogá, Nefegue. Jafia, Elisama, Eliada (ou Beeliada; 1 C r 14:7 e Elifelete.2 D a v i tam b ém gerou filh o s co m suas concubinas, de m odo que teve uma família grande. Não é de se admirar que alguns deles tenham se envo lvid o em diversas intrigas palacianas e causado tristezas profundas ao rei. A lei afirm ava claram ente que o rei não deveria ter muitas esposas, mas tanto Davi quanto Salom ão ignoraram esse preceito, e os dois pagaram caro por sua desobediên­ cia. Tudo indica que algumas das esposas co m o M aaca, representavam alianças que Davi havia feito com reis vizinhos a fim de ajudar a garantir a segurança de Israel. 4. D a v i d e r r o t o u o s f i l i s t e u s (2 S m 5:1 7-25; 1 C r 14:8-17) Enquanto Davi estava quieto em seu canto em Hebrom , os filisteus pensaram que con­ tinu ava sendo um de seus vassa lo s, mas 2 SAMUEL 5 - 6 quando se tornou rei de todo o Israel, os filisteus viram que era seu inimigo e parti­ ram para o ataque. É bem provável que es­ ses ataques tenham ocorrido antes de Davi mudar-se para Jeru salém , pois ele e seus homens estavam na "fortaleza" (2 Sm 5:1 7), uma região no deserto onde ele havia vivi­ do no tempo em que Saul estava decidido a matá-lo (1 Sm 2 2 :4 ; 2 3 :1 3 ,1 4 ).3 D avi rece­ beu a notícia da ap ro xim ação do exército filisteu, m anobrou seus soldados rapidam en­ te e e n c o n tro u os in v a so re s no v a le de Refaim, bem próxim o a Jerusalém . C o m o em outras ocasiões, Davi consul­ tou o Senhor ao planejar seu ataque, prova­ velm ente por meio do Urim e do Tum im ou pedindo que o profeta G ad e buscasse sa­ ber a vontade de D eus. D epois de receber do Senhor a garantia de que ele daria a vitó­ ria a Israel, Davi encontrou os filisteus pou­ co mais de três quilôm etros a sudoeste de Jerusalém e forçou-os a recuar. O s inimigos saíram do cam po de batalha com tanta pres­ sa que deixaram seus ídolos para trás, e Davi e seus hom ens queim aram essas im agens. O s filisteus tinham certeza de que a presen­ ça de seus deuses lhe garantiria a vitória, mas estavam enganados. D avi deu toda a glória a Deus e cham ou o local de Baal-Perazim, que significa "o Senhor que rom pe". Alguns com entaristas acreditam que foi nessa o casião que os guerreiros de G ad e juntaram-se ao exército de Davi (1 C r 12:815) e que, tam bém , três dos "valentes" de Davi romperam as linhas filistéias e conse­ guiram a água do poço de Belém para Davi (2 Sm 23:13-17; 1 C r 11:15-19). Essa faça­ nha exigiu um bocado de coragem e de fé, e o que esses soldados fizeram foi a respos­ ta a um d esejo d o coração de Davi, não a uma ordem vinda de sua boca. Foram bus­ car a água porque am avam seu rei e deseja­ vam lhe agradar. Q u e exem plo para nós! O s filisteus voltaram a lutar contra Davi, e, mais um a vez, Davi buscou a vontade do Senhor. Ao contrário de Josué depois da vi­ tória em Jericó (Js 6 - 7), D avi não partiu do pressuposto de que a m esma estratégia fun­ c io n a ria n o v a m e n te . D e u s lhe fo rn e c e u outro plano de batalha, ele o bedeceu, e o 311 Senhor lhe deu a vitória. O que foi o estron­ do no topo das árvores? A penas o vento? Anjos (Sl 104:4)? D eus chegando para co n­ duzir seu povo à vitória? A estratégia funcio­ nou, e D avi perseguiu o inimigo desde G eb a até G eze r, uma distância de quase vinte e cinco quilôm etros. Com essa vitória, Israel recuperou o território que Saul havia perdi­ do em sua últim a batalha. Em cam panhas subseqüentes, Davi tam bém tomou de vol­ ta as cidades que os filisteus haviam tirado de Saul (2 Sm 8 :1 ; 1 C r 1 8 :1 ). Davi travou diversas batalhas com os filisteus, e Deus lhe deu vitórias seguidas (2 Sm 21:15-22). H avia muito tempo, o povo reco nhece­ ra que Davi era um guerreiro hábil e valente, e essas duas vitórias trouxeram mais glória a Deus e honra a seu servo. Ao derrotar os filisteus, Davi mandou um a mensagem aos inimigos de Israel: deveriam ter cuidado com o que faziam a ele e a seu povo. 5. D a v i m u d o u a a r c a d a a l i a n ç a de l u c a r (2 S m 6:1-23; 1 C r 13:1-13; 15:1 - 16 :3)4 A arca da aliança deveria p erm an ecer no Santo dos Santos do tabernáculo, pois sim­ bolizava o trono glorioso de Deus (Sl 8 0 :1 ; 9 9 :1 ). No entanto, por mais de setenta anos, a arca não ficou no santuário do Senhor em Siló. O s filisteus capturaram a arca quando Eli era ju iz (1 Sm 4) e, depois, a devolveram aos israelitas por causa do julgam ento que o Senhor enviou sobre o povo filisteu. Pri­ meiro, a arca foi levada a Bete-Semes e, em seguida, a Q uiriate-G earim , onde ficou guar­ dada na casa de A binadabe (1 Sm 5:1 - 7:1). Dois sumos sacerdotes - Z adoque e A im e­ leque (2 Sm 8 :1 7 ) - ministraram durante o reinado de D avi, e é possível que um deles servisse no santuário em Siló, depois trans­ ferido para G ib e ão (2 C r 1:1-6), enquanto o outro ministrava na corte em Jerusalém . Davi ergueu uma tenda para a arca na Cidade de D avi, mas a mobília do tabernáculo só foi transferida para Jerusalém depois que Salo­ mão terminou a construção do tem plo (1 Rs 8:1-4; 2 C r 5:1-5). A p rim eira tentativa (6:1-11). Por que D a­ vi queria a arca em Jerusalém? Em primeiro 312 2 SAMUEL 5 - 6 lugar, desejava honrar ao Senhor e lhe dar o lugar que lhe era devido co m o Rei de Israel. No entanto , D avi tam bém nutria em seu coração o desejo secreto de construir um santuário para o Senhor (ver 2 Sm 7; Sl 132:1 5), e o primeiro passo para isso era levar a arca à capital. Davi sabia que o Senhor de­ sejava ter um santuário central (D t 12:5, 11, 21 ; 1 4 :2 3 , 2 4 ; 1 6 :2 , 6, 11; 2 6 :2 ) e sua espe­ rança era que Deus lhe permitisse construir esse lugar. O sonho de D avi não se realizou, mas ele com prou o terreno onde o templo foi construído (2 Sm 2 4 :1 8ss) e forneceu o projeto, os recursos e os materiais necessá­ rios para a construção (1 C r 28 -2 9 ). Sem dúvida, tam bém havia um motivo político para transferir a arca para Jerusalém , p ois ela sim b o liz a v a "u m a n açã o , sob o governo de D e u s". D avi envolveu todos os líderes mais im portantes de Israel no plane­ jam ento desse evento e enviou um convite geral aos sacerdotes e levitas, para que fos­ sem a Jerusalém . "Reuniu, pois, Davi a todo o Israel, desde Sior do Egito até à entrada de Ham ate, para trazer a arca de D eus de Quiriate-Jearim " (1 C r 13 :5 ). H am ate m arca­ va a fronteira do extrem o Norte da terra dada por D eus a Israel (Nm 3 4 :8 ). Davi tinha es­ peranças de que as divisões passadas e as diferenças entre as tribos fossem esquecidas, enquanto o povo se concentrava no Senhor. A presença da arca significava a presença de D e u s, a qual sig n ifica v a se g u ra n ça e vitória. Porém , uma co isa ficou faltando: Davi não consultou o Senhor sobre esse assunto. A m udança da arca para Jerusalém parecia um a id éia sensata, e todos co n co rd ara m com entusiasm o, mas o rei não seguiu seu costum e de pedir que o Senhor o orientas­ se. Afinal, aquilo que agrada o rei e o povo pode não ser, necessariam ente, aquilo que é agradável a D eus, e se não é agradável ao Senhor, não tem sua bênção. A prim eira ten­ tativa de Davi foi um terrível fracasso, pois os levitas não levaram a arca sobre os om ­ bros. Deus havia dado instruções específi­ cas, por intermédio de M oisés, sobre com o o tabernáculo deveria ser erguido, desm on­ tado e transportado (Nm 4 ), sendo que as peças mais im portantes de sua mobília de­ veriam ser carregadas sobre os om bros dos levitas, descendentes de C o ate (vv. 9-20). Q uand o usaram um carro de boi novo, se­ guiram o exem plo dos pagãos filisteus (1 Sm 6), não as instruções transmitidas por M oisés no monte Sinai. Tem os aqui uma lição bastante clara: a obra do Senhor deve ser feita à m aneira do Senhor; do contrário, não terá sua bênção. O fato de todos os líderes de Israel co n cor­ darem que fosse usado um carro de boi não legitim izava essa prática. Q u an d o pareceu que a arca iria cair do carro, U zá teve a ou­ sadia de segurá-la e m orreu. Porém , Deus havia advertido sobre essa questão na lei de M oisés e, por certo, todo israelita conhecia a lei (Nm 1:51; 4 :1 5 , 20). Não há evidência algum a de que A binad abe fosse um levita nem de que seus filhos, U z á e Aiô, fossem sequer qualificad o s a ficar perto da arca, quanto mais tocá-la. M ais que depressa, Davi providenciou para que a arca fosse levada à casa de um levita cham ado Obede-Edom (1 C r 1 5 :1 8 , 21, 2 4 ; 16:5; 26:4-8, 15), local onde ela perm aneceu por três meses. No início de novos períodos da história bíblica, por vezes, Deus m anifestava seu jul­ gamento de modo a lem brar seu povo de que um a coisa não muda: o povo de Deus deve obedecer à Palavra de D eu s. D epois que o tabernáculo foi erguido e que o mi­ nistério sacerdotal foi ordenado, Nadabe e Abiú, filhos de A rão , m orreram por terem tentado aproximar-se indevidam ente do san­ tuário levando consigo "fogo estranho" (Lv 10). Q u an d o Israel entrou na terra de Canaã e co m e ço u a conquistá-la, D eus o rd en o t que A cã fosse executado por desobedece' e tom ar para si despojos de Jericó (Js 6 — Nos com eço s da Igreja do Novo Testam e'to, A nanias e Safira foram mortos por mer~:a D eus e a seu povo (At 5). Aqui, no c o r e ço do reinado de Davi em Jerusalém , D e_lembrou os israelitas de que, ao servi-lo, n ã : deveriam imitar outras nações, pois necesstavam som ente da sua Palavra. A Igreja de hoje precisa dar ouvidos = essa lem brança e voltar à Palavra de Deus i fim de co m p reend er qual é a vontade oz 2 SAMUEL 5 - 6 Senhor. Não há união ou entusiasm o que compense a desobediência. Não é possível, re modo algum, esperar a bênção de Deus ruando sua obra é feita de acordo com pa­ drões hum anos e quando se imita o mundo em v e z de obedecer à Palavra. Pode ser que :odo o povo aprove o que fazem os, mas e ruanto à aprovação de Deus? O s padrões mundanos, em últim a análise, term inam em morte. A segunda tentativa (6:1 2 -1 9 ). Q uando Davi ficou sabendo que a presença da arca estava trazend o bênçãos sobre a casa de Obede-Edom , desejou que ele próprio e seu covo fossem abençoados. A arca deveria fi­ car na tenda erguida para ela em Jerusalém . Um a vez que 1 e 2 C rô nicas foram escritos co ponto de vista sacerdotal, o relato da se­ gunda tentativa é bem mais com pleto do que 3 registro de Sam uel (1 C r 15:1 - 1 6 :3 ). Dessa vez, Davi estava determ inado a reali­ zar a obra de Deus à maneira de D eus e, portanto, enviou os levitas à casa de ObedeEdom, a cerca de dezesseis quilôm etros de jerusalém , e eles levaram a arca para Jerusa­ lém sobre os om bros. Para certificar-se de que o Senhor não enviaria outro julgam ento, depois dos seis prim eiros passos que deram, os levitas pararam, e os sacerdotes oferece­ ram um boi e um novilho cevado. Q uand o o Senhor não irrompeu em julgam ento, tive­ ram certeza de que aquilo que estavam fa­ zendo era agradável a Deus (1 C r 1 7 :2 6 ).5 Q uand o a procissão chegou à tenda em Je­ rusalém, os sacerdotes ofereceram mais ca­ torze sacrifícios (1 C r 15:26). Davi dançou com grande entusiasm o em adoração perante o Senhor, vestindo-se para a ocasião com uma estola sacerdotal de linho lv. 14). Posteriorm ente, sua esposa acusouo de expor-se de modo vergonhoso (v. 20), mas de acordo com 1 C rô n icas 1 5 :2 7 , ele também usava um manto real sob a estola. •\pesar de não ser da tribo de Levi, Davi atuou tanto co m o rei quanto co m o sacerdote um retrato de Jesus, o Filho de Davi, que exer­ ce essas duas funções "segundo a ordem de M elquisedeque" (H b 6 :2 0 - 8 :1 3 ; Sl 110). No tem po de A braão, M elq uisedeque era rei e sacerdote de Salém (G n 14:17-24), e 313 a essa altura D avi adorava co m o rei e sa­ cerdote em Jerusalém . A procissão foi acom ­ panhada por levitas tocando instrum entos m usicais e entoando cântico s de louvor ao Senhor. A dança de Davi foi pessoal e sincera, feita diante do Senhor ao celebrar a chega­ da de sua presença na capital. E provável que alguns dos salm os (24, 47, 68 , 95, 99, 105, 106, 132; ver 1 C r 1 6:7-36) reflitam seus pensam entos e sentim entos nessa ocasião. Na A n tig u id a d e , a d a n ça d e se m p e n h a va papel im portante tanto nos cultos pagãos quanto na adoração em Israel (Sl 149:3) e tam bém na com em o ração de ocasiões es­ p eciais com o casam entos, reuniões de fa­ mília (Lc 1 5 :2 5 ) e vitórias militares (Jz 1 1 :34). N orm alm ente, eram as m ulheres que dan­ çavam e cantavam diante do Sen h o r (Êx 15 :2 0 , 21 ; 1 Sm 1 8 :6 ; Sl 68:24-26); quando as danças eram realizadas por pessoas de am bos os sexos, os hom ens ficavam separa­ dos das m ulheres. A s danças religiosas são m e n cio n ad as ou ficam su bentend idas ao longo do Livro de Salm os (2 6 :6 , 7; 3 0 :1 1 ; 4 2 :4 ; 150:4). O Novo Testam ento não apresenta qual­ quer evidência de que a dança fosse uma "form a artística de ad oração" usada na sina­ goga ju d aica ou na liturgia da Igreja primiti­ va. O s gregos introduziram a dança no culto da Igreja depois da era dos apóstolos, mas essa prática levou a sérios problem as mo­ rais e acabou sendo proibida. Era difícil para as co n g reg a çõ es faze rem d istin ção entre "danças cristãs" e danças realizadas em ho­ menagem a uma deusa ou deus pagão, de modo que a Igreja aboliu essa prática, e, pos­ terio rm en te , os p a triarcas e c le siá stico s a co n denaram . Q u an d o a arca encontrava-se acom oda­ da em segurança na tenda, D avi abençoou o povo (outro ato sacerdotal) e distribuiu en­ tre todos um a porção de pão e carne (ou vinho) e um bolo de passas. M ais uma vez, isso nos traz à m em ória a im agem do reis a c e rd o te M e lq u is e d e q u e , q u e v e io de Salém e deu pão e vinho a Abraão (G n 14:18, 19). Porém , quando Davi voltou para casa a fim de abençoar sua fam ília, descobriu que 314 2 SAMUEL 5 - 6 a esposa se envergonhou dele e até mesmo palavras, D avi não precisava do conselho o d e sp rezo u por ter d a n çad o co m tanto entusiasm o em público (vv. 16, 20-23). E in­ espiritual da filha carnal de um rei destituído e desonrado. Talvez M ical não tivesse gos­ tado daquilo que D avi disse sobre a negli­ gência de Saul em relação à arca (1 C r 13:3). Davi am ava M ical e a quis de volta quando se tornou rei (2 Sm 3:12-16), mas o am or pode ser facilm ente magoado quando me­ nos se espera. M ical disse que Davi havia se humilha­ teressante observar que, de acordo com o texto, M ical viu "o rei D avi" (v. 16), não "seu m arido", e que ela é cham ada de "filha de Saul" (v. 20), não de "esposa de D avi". Ao dirigir-se a D avi, M ical usou a terceira pes­ soa ("Q u e bela figura fez o rei de Israel"), não a segunda pessoa, mais íntim a, e seu discurso foi extre m am e n te sarcástico . Foi uma grande infelicidade o dia tão alegre de celebração de Davi ter encerrado com a re­ cepção cruel e insensível da própria esposa. M uitas v e ze s, porém , os servo s de D eus passam rapidam ente da m ontanha da glória para o vale das sombras. Não há evidência alguma de que Davi fosse cu lpado de q u alqu er das acu saçõ es de M ical. Vestiu-se de modo apropriado, não se expôs indevidam ente ao povo, e sua dan­ ça foi realizada perante o Senhor, que sabia o que se passava em seu coração. Davi re­ conheceu em M ical o mesm o orgulho e falta de visão espiritual do pai, Saul, cujo único desejo era obter e m anter sua popularida­ de. Davi preferiu viver e servir de modo a agradar ao Senhor. Lem brou a M ical que o Senhor o havia escolhido para tom ar o lugar do pai dela no trono e de que faria tudo o que o Senhor o im pelisse a fazer. Em outras 1. do diante do povo, mas D avi respondeu a essa acusação dizendo que ela seria ainda mais hum ilhada e, daquele dia em diante, deixou de lhe co nceder seus privilégios con­ jugais. N aquele tem po, não ter filhos era uma grande hum ilhação para uma esposa, espe­ cialm ente se o marido a rejeitava. Porém, a esterilid ad e de M ical foi um a b ê n ção do Senhor, pois evitou que a fam ília de Saul tiv e sse co n tin u id a d e em Israel e, assim , am eaçasse o trono de Davi. Jônatas e Davi haviam feito um a alian ça de governar em conjunto (1 Sm 23:16-18), mas Deus rejei­ tou esse plano ao perm itir que Jônatas fosse morto em com bate. O Senhor desejava que a linhagem e o trono de Davi fossem manti­ dos separados de qualquer outra dinastia, pois a linhagem de Davi chegaria a seu auge com o nascim ento de Jesus Cristo, o M es­ sias. Esse será o tema do próxim o capítulo da história de Davi. C o m o foi que todo esse povo se reuniu em Hebrom para com er e beber durante três dias sem transtornar a cidade e suà econom ia? E possível que 1 C rô n icas 13:1 nos dê a resposta, pois, apesar de o cronista apresentar os totais das u n id a d e s m ilitares leais a D avi, talvez apenas os oficiais tenham com p arecid o à coroação, ou seja, cerca de 3 .7 5 0 hom ens. N e - " todos os soldados estavam presentes, mas todos estavam representados e, por meio de seus oficiais, declararam le a ld a ò e ao novo rei. 2. O nome "Elifelete" aparece duas vezes na lista e também é indicado com o "Elpelete". 3. Se o feito corajoso desses três valentes ocorreu nessa época, então Davi encontrava-se na caverna de Adulão (2 Sm 2 3 :1 3 |J 4. A lguns estudiosos do A ntig o Testam ento situam esse evento num p erío do p osterio r da carreira de D avi, d ep ois de hav«r p ecad o com Bate-Seba e de ter lutado inúm eras batalhas c o n tra o inim igo (2 Sm 8 - 12 ). V e r D a y , W illia m C r o c k e t t A H arm ony o f the B o o k s o f Sam uel, Kings a n d C h ro n icle s. Baker Bo ok H o use , 19 64. 5. É pouco provável que esses sacrifícios tenham sido oferecidos a cada seis passos enquanto a procissão se dirigia a Jerusaie**. A jornada teria sido extrem am ente longa e exigido um número enorm e de sacrifícios. U m a vez que Davi teve certeza ú i aprovação de D eus, a m archa prosseguiu confiantemente. 4 A D inastia , a B o n d a d e e as C o n q u ist a s de D avi 2 Sam uel 7 - 1 0 1V e r t a m b é m 1 C r ô n i c a s 1 7 - 1 9 ) estes quatro capítulos, vem os o rei Davi envolvido em quatro atividades im por­ N tantes: ele aceita a vontade de Deus (cap. 7), luta as batalhas de Deus (cap. 8), com ­ partilha a bondade de Deus (cap. 9) e de­ fende a honra de D eus (cap. 10). Porém , essas ativid ad es não eram n o vidade para Davi, pois, mesm o antes de ser coroado rei sobre todo Israel, servira ao Senhor e a seu povo dessa maneira. Davi não mudou pelo rato de usar uma coroa e de assentar-se num trono, pois em seu caráter e conduta sem­ pre viveu com o rei. C om o é triste que, do capítulo 11 em diante, vejam os D avi desobe­ decend o ao Senhor e sofrendo as co n se­ qüências dolorosas de seus pecados. A ndrew Bonar estava certo quando disse: "Perm a­ n eçam o s tão vig ilan te s d e p o is da v itó ria quanto antes da batalha". 1 . D a v i a c e it o u a v o n t a d e de D e u s (2 S m 7:1-29; 1 C r 17:1-27) O que os reis faziam no mundo antigo quan­ do não tinham guerras nas quais lutar? Nabucodonosor inspecionou sua cidade e se .angloriou perguntando: "N ão é esta a gran­ de Babilônia que eu edifiquei [...]?" (Dn 4 :3 0 ). Salom ão ajuntou riquezas e esposas, receoeu visitantes estrangeiros e escreveu livros, enquanto Ezequias parece ter supervisiona­ do estudiosos que copiaram e conservaram as Escrituras (Pv 2 5 :1 ). M as, de acordo com 2 Samuel 7:1-3, temos a im pressão de que, em suas horas vagas, Davi meditou sobre o Senhor e conversou com Natã, seu capelão particular, sobre form as de m elhorar as co n­ diçõ es espirituais do reino de Israel. Davi não foi sim plesm ente um governante, mas tam bém um pastor que se preocupava com seu povo. Q uand o estava descansando, pen­ sava no trabalho que poderia realizar, e ao ser bem-sucedido, pensava em D eus e em sua bondade para com ele. Neste capítulo, o Senhor concedeu uma revelação a Natã e a Davi que costum a ser cham ada de aliança d a vídica.1 Essa declara­ ção não apenas teve grande significado para Davi em seu tempo, com o também é rele­ vante nos dias de hoje para Israel, para a Igreja e para o mundo em geral. O sig n ifica d o da alian ça para D a v i (vv. 1-9). Não nos adm iram os com o desejo de Davi de construir uma casa para o Senhor, pois era um homem segundo o co ração de Deus e ansiava por honrar ao Senhor de to­ das as maneiras possíveis. Durante os anos de exílio, Davi havia feito um voto ao Se­ nhor de que iria construir-lhe um templo (SI 132:1-5), e o fato de trazer a arca a Jerusa­ lém foi, certam ente, o primeiro passo para o cum prim ento desse voto. Nesse momento, Davi sentia-se perturbado, pois vivia numa casa confortável de pedra com painéis de ce d ro , enquanto o trono de D eu s estava numa tenda, e o rei com partilhou sua preo­ cupação com Natã. Essa é a prim eira vez que Natã aparece nas Escrituras. G a d e havia sido o profeta de D avi durante o exílio (1 Sm 2 2 :5 ) e não saiu de cen a m esm o depois que D avi foi coro ado (2 Sm 2 4 :1 -1 8 ). N a verd ade, G ad e e N atã trabalharam juntos m antendo em dia os registros oficiais (1 C r 2 9 :2 5 , 29) e orga­ nizando o culto (2 C r 2 9 :2 5 ). M as, ao que parece, Natã foi a v o z profética de D eus a D avi durante seu reinado. Foi N atã quem confrontou D avi com seu pecado (cap. 12) e tam b ém quem p ro v id e n cio u para que Salom ão fosse co ro ad o rei (1 Rs 1:11 ss). D avi teve quatro filhos com Bate-Seba e deu a um deles o nom e de N atã (1 C r 3 :1 -5 ).2 A o instruir D avi a fazer tudo o que estives­ se em seu co ra ção , N atã não estava afir­ m ando que os desejo s de D avi eram , de fato, a vontade de D eus. A ntes, incentivou o rei a ir atrás do que queria e a descobrir o que o Senhor desejava que fizesse. Deus respondeu dando a N atã um a mensagem 316 2 SAMUEL 7 - 1 0 especial ao rei, a qual o profeta transmitiu fielm ente. Na primeira parte da m ensagem , Deus lem brou a Davi que, em m om ento algum, havia pedido a qualquer tribo ou líder tribal que co n stru ísse um a casa para ele. D eus h avia o rd e n a d o q u e M o isé s fiz e s s e um tabernáculo, onde D eus habitaria, e havia se contentado em viajar com seu povo pe­ regrino e em habitar com ele onde quer que acam passe. U m a v e z que Israel estava na terra e tin h a p a z, não p re c is a v a de um templo, mas sim de um líder que se preo­ cupasse com o povo, e, por isso, Deus ha­ via cham ado Davi para apascentar o povo de Israel. Deus esteve com Davi para prote­ ger sua vida e para fazê-lo prosperar em seu serviço e engrandeceu o nom e de Davi. A p e­ sar de seus desejos e de seu voto, D avi não iria construir o tem plo. O melhor que pode­ ria fazer pelo Senhor era con tinu ar pasto­ reando o povo e servindo de exem plo de vida piedosa. Essa declaração deve ter sido uma de­ cepção para D avi, mas ele a aceitou com reverência e deu graças ao Senhor por toda a su a b o n d a d e p a ra co m e le . Q u a n d o Salom ão consagrou o tem plo, explicou que D eus havia aceitado o desejo de Davi no lugar de sua co n cretização : "Já que desejaste edificar uma casa ao meu nom e, bem fi­ zeste em o resolver em teu co ração" (1 Rs 8 :1 8 ; ver 2 C o 8 :1 2 ). O s servos de D eus devem aprender a aceitar as decepções da vida, pois com o A . T. Pierson costum ava di­ zer: "As decepçõ es que tem os são oportu­ nidades de D eus". O sig n ifica d o da alian ça para Isra e l (vv. 10-15). O s propósitos de Deus e seu relacio­ nam ento com o povo de Israel são funda­ mentados em sua aliança com Abraão (C n 12:1-3; 15:1-15). Pela graça, Deus escolheu Abraão e prometeu lhe dar uma terra, um grande nom e, m uitos descendentes e sua bênção e proteção. Tam bém prometeu que o m undo todo seria ab enço ad o por inter­ m édio da descendência de Abraão, afirm a­ ção q u e se refere a Jesus Cristo (C l 3:1-16). Deus cham ou Israel para ser o canal humano pelo qual seu Filho e sua Palavra poderiam vir ao mundo. A aliança de Deus com Davi desenvolve-se dessa a lian ça com A braão, pois se refere à nação, à terra e ao Messias. O Senhor com eçou falando da terra de Israel (v. 10) e prometeu "descanso" a Israel. O term o "descanso" é parte im portante do vocabulário profético e se refere a diversas bênçãos relacionadas ao plano de Deus para seu povo. O con ceito de "d escan so " teve início com o descanso de Deus ao com ple­ tar a criação (C n 2:1-3), o que serviu de base para que Israel guardasse o sábado (Êx 20:811). D epois que D eus libertou Israel do Egi­ to, prom eteu lhes dar "de scan so " em sua própria terra (Êx 3 3 :1 4 ; Dt 2 5 :1 9 ; Js 1:13, 15 ). D avi estava tão o cu p a d o com suas guerras que não podia construir o templo (1 Rs 5:1 7 ),3 mas quando D eu s deu des­ canso a Israel, Salom ão construi a casa do Senhor usando o projeto e os m ateriais que D eus havia dado a D avi (1 Rs 5:1-4; 8 :5 6 ; Sl 8 9 :19-23). O c o n c e ito de " d e s c a n s o " vai além dessas questões, pois tam bém se refere ao descanso espiritual que os cristãos têm em Jesus Cristo (M t 1 1 :28-30; Hb 2:10-18; 4:1416). Esse conceito tam bém vislum bra o rei­ no futuro de Israel e o descanso que o povo de D eus desfrutará quando Jesus Cristo se assentar no trono de Deus (Is 1 1 :1 -12; 65:1 725 ; Jr 31:1-14; 5 0 :3 4 ). Em seguida, o Senhor passou das promes­ sas sobre a terra e a nação para as promessa; sobre o trono e a fam ília de Davi (vv. 11-16 _ Todo rei se preocupa com o futuro de seu reino, e o Senhor prometeu dar a Davi alg: acim a e além de qualquer coisa que o rei p u d e s s e te r im a g in a d o . D a v i d e s e ja v a edificar um a casa para Deus (o tem plo), m a; D eus prom eteu edificar uma casa para Davi - uma dinastia eterna! A palavra "casa" é usada quinze vezes neste capítulo e se rerere ao palácio de Davi (vv. 1, 2), ao tem p'■ :> (vv. 5-7, 13) e à dinastia de D avi, culmina-do com Jesus Cristo, o M essias (vv. 11, 13Ü 16, 18-29). Deus anunciou a vinda do Salvador pe ai prim eira vez em G ên esis 3 :1 5 , inform anc:i que o Salvador seria um ser hum ano e nâ:> um anjo. D e acordo com G ênesis 12:3, d a 2 SAMUEL 7 - 1 0 • 'ia de Israel e abençoaria o m undo todo, e Zénesis 4 9 :1 0 diz que viria da tribo de Judá. Nessa aliança, D eus anunciou a Davi que o Messias viria por sua fam ília, e a profecia de M iquéias 5:2 afirm a que ele nasceria em 5^!ém, a C idade de Davi (ver M t 2 :6 ). Não é de se admirar que o rei se tenha enchido ze tanto júbilo ao saber que o M essias seria conhecido com o "o Filho de D avi" (M t 1:1)1 Nessa seção, o Senhor se refere a Salo~iâo e tam bém ao Salvador, aquele que é maior do que Salom ão" (M t 1 2 :4 2 ). Salo~ião construiria o templo que Davi desejava -rifica r, mas seu reinado teria fim; o Messías, porém, reinaria eternam ente. Davi teria -'n a casa para sem pre (2 Sm 7:25, 29 ), um reino para sem pre (v. 16), um trono para í-ímpre (vv. 13,16) e glorificaria o nom e de s para sem pre (v. 26). Tudo isso se cum priu em Jesus Cristo, o c de Davi (Sl 89:34-37; Lc 1:32, 33, 69; 2:29-36; 13:22, 2 3 ; 2 Tm 2 :8 ), e se ma­ tará quando ele voltar, estabelecer seu prom etido e se assentar no trono de i. As bênçãos espirituais que Deus conteu a Davi são oferecidas hoje em Jesus :odos os que crerem nele (Is 55:1-3; At 12 --39). Jesus Cristo as cum prirá literalmente : reino futuro prom etido a Israel (Is 9:1-7; 1 1 : 1- 1 6 ; 1 6 :5 ; Jr 3 3 :1 5 -2 6 ; Ez 3 4 :2 3 , 2 4 ; 37 : 2 4 , 2 5 ; O s 3 :5 ; Z c 12:7, 8).4 O trono de D avi ch e g o u ao fim em 5 8 6 a .C . com le d e q u ia s, o último rei de Judá, mas a linhai de Davi continuou e trouxe ao mundo s Cristo, o Filho de D eus (M t 1:12-25; 1:26-38, 54, 55: 68-79). Do ponto de vista hum ano, a nação de tecael teria perecido rapidam ente se Deus b q tivesse se mantido fiel à sua aliança com D avi, que foi "a lâm pada de Israel" (2 Sm 1 1 : 1 7 ). Por mais que os reis e o povo te" a m se corro m pido , o Senhor preservou _~ia lâmpada para Davi e para Israel (1 Rs • 1 :3 6 ; 1 5 :4 ; 2 Rs 8 :1 9 ; 2 C r 2 1 :7; Sl 1 3 2 :1 7 ). Quer reconheçam quer não, os judeus têm -ma grande dívida para com Davi por seu •emplo, pelos instrumentos e cânticos usa­ dos no tem plo, pela organização do minis'erio do tem plo e pela proteção de Israel das nações inimigas. Floje, devem os muito 317 a Davi por ter mantido a luz brilhando, a fim de que o Salvador pudesse vir ao mundo. D eu s d iscip lino u Israel pelos pecad os do povo, porém jam ais rompeu sua aliança nem removeu sua m isericórdia (2 Sm 7:1 5; 2 2 :5 1 ; 1 Rs 3 :6 ; 2 C r 6 :4 2 ; Sl 8 9 :2 8 , 33, 49). O sig n ifica d o da alian ça para o s cristã os d e h o je (vv. 18-29). O b servam o s anterior­ m ente que a Igreja deve sua existência ao fato de Deus ter usado a fam ília de Davi para trazer ao m undo o Salvador e que há um futuro para Israel, pois Deus deu a Davi um trono para sem pre. A form a de Davi reagir a essa Palavra extraordinária de D eus é um ótimo exem plo a seguir hoje. Ele se humi­ lhou diante do Senhor, cham ando a si mes­ mo pelo m enos dez veze s de servo de D eus. O s servos costum avam ficar alertas e à es­ pera de ordens, mas Davi assentou-se dian­ te do Senhor. A alian ça que D eus firm ou com Davi era incondicional; tudo o que Davi p recisava fa ze r era aceitá-la e d e ixar que Deus cum prisse a parte dele. Assim com o um a crian ça pequena falando com a mãe ou com o pai amoroso, o rei chamou a si mes­ mo de "D avi" (v. 20) e derram ou seu cora­ ção perante o Senhor. Em prim eiro lugar, concentrou-se no p re ­ sen te, ao dar louvores pelas m isericórdias que Deus havia lhe concedid o (vv. 18-21). Foi a graça de Deus que conduziu Davi até lá, dos apriscos para o trono; depois, Deus lhe falou de sua descen dência, que se es­ tenderia a um futuro distante. Nos versículos 18 a 20 e 28 e 29, D avi dirige-se a D eus com o " S e n h o r D eus", em hebraico, "Jeová Adonai, o Senhor Soberano" (nos vv. 22 e 25 é usada a designação "Jeová Eloim ", o D eus de poder). Som ente um D eus de gra­ ça soberana poderia fazer tal aliança e so­ m ente um D eus de poder soberano seria capaz de cumpri-la. Davi pergunta se Deus se relaciona com todos os seres hum anos dessa maneira (v. 19). D e certa forma, a res­ posta é não, pois D eus escolheu a casa de D avi para trazer seu Filho ao m undo; por outro lado, porém , a resposta é sim, pois qualquer pecador pode crer em Jesus Cristo e ser salvo, passando a fazer parte da famí­ lia de Deus. Davi considerou as promessas 318 2 SAMUEL 7 - 1 0 dessa alian ça um a "g ra n d eza" (v. 2 1 ) em função do am or de Deus e da segurança de sua Palavra. Nos versículos 22 a 24, Davi olhou para o passado e viu a graça maravilhosa de Deus para com Israel. O Senhor escolheu Israel em lugar das outras nações da Terra e se revelou a seu povo ao dar as leis no monte Sinai e ao proferir sua Palavra por interm é­ dio de seus profetas (ver Dt 4 :3 4 ; 7:6-8; 9:4 , 5; Ne 9 :1 0 ). D eus é Senhor sobre todas as nações, mas fez grandes coisas por Israel, seu povo escolhido. Davi reconheceu a ver­ dade m aravilhosa de que Deus havia esco­ lhido Israel para ser seu povo para sempre! A terceira parte da oração e louvor de Davi (vv. 25-29) voltou-se para o futuro, co n­ form e a revelação da aliança que o rei havia acabado de receber. D eus proferiu sua Pala­ vra, e D avi creu nela, pedindo ao Senhor que a cum prisse para seu povo. O desejo de D avi era que Israel co n tin uasse com o nação e que o Senhor fosse engrandecido por interm édio de seu povo. O rei pediu que sua casa fosse edificada conform e o Senhor havia prometido (v. 27 ), mesm o sendo uma d ecepção para ele saber que não iria edificar uma casa para D eus. O versículo 27 pede: "venha o teu reino" e o versículo 28 : "seja feita a tua vontade". Para D avi, bastou sim­ plesm ente ouvir as prom essas e crer nelas, mas ele tam bém orou pedindo que o Se­ nhor as cum prisse. Davi serve de exem plo para nós em sua h um ild ad e, fé e su bm issão à vo n tad e de D eus. 2. D a v i l u t a a s b a t a l h a s (2 Sm 8:1-18; 1 Cr 18) d o S en h o r Este capítulo resum e as vitórias do exército de Israel sobre seus inim igos, acon tecim en ­ tos que ocorreram mais provavelm ente en­ tre os capítulos 6 e 7 de 2 Sam uel (ver 7:1). O S en h o r ajudou D a v i, Joabe e A b isai a conquistar os inim igos de Israel no O este (v. 1), no Leste (v. 2 ), no N orte (vv. 3-12) e no Sul (vv. 13, 14). Para um relato paralelo, ver 1 C rô n ica s 18 - 19. O rei Saul havia lutado contra vários desses m esm os inim i­ gos (1 Sm 1 4 :4 7 ). D evem os considerar as atividades mili­ tares de Davi à luz das alianças de Deus com Israel por m eio de A b ra ã o (G n 12, 15 ), M oisés (D t 27 - 30) e do próprio Davi (2 Sm 7). O Senhor havia prom etido a Israel a terra que se estendia do rio do Egito até o rio Eufrates (G n 1 5:1 7-21; Dt 1 :6-8; 1 1 :24 ; 1 Rs 4 :2 0 , 21) e usou Davi para ajudar a cum p ressa prom essa. Durante o reinado de S au l Israel perdera territórios para seus inim igc?. e D avi retomou-os; além disso, expandiu as fronteiras de Israel e tomou posse de terras não co n q u istad as no tem po de Josu é (Js 13:1-7). Davi firm ou tratados de vassalagem com a m aioria dessas n açõ e s e c o Io c o l guarnições em suas terras a fim de manter i autoridade de Israel (v. 6). Por ser um ho­ mem de fé, Davi creu nas promessas de D e _ í e agiu em função delas para que seu p o v: fosse abençoado. Porém, as vitórias de D avi também signi­ ficaram paz para o povo de Israel, de modo que po deriam v iv e r n o rm alm en te, sem i a m eaça constante de seus vizin h o s. Israel tinha uma grande obra a realizar na terra ao servir de testem unho do verdadeiro D e - í vivo e dar ao mundo as Escrituras e o Me~sias. Além disso, as vitórias de Davi resul'5ram em mais riq u ezas para o tesouro do Senhor, fornecendo assim os materiais que Salom ão construísse o templo (w . 1 13; 1 C r 22 ). Hoje em dia, a Igreja de C não usa arm as militares para lutar as L lhas de D eus (Jo 18:36-38; 2 C o 10:3-6; 6:14-18), mas podem os em punhar a fé e coragem de Davi e de seus soldados e cuperar para o Senhor territórios p e rd ic :e O e ste : os filiste u s (v. 1) eram inii de longa data dos israelitas e se apro\ vam de toda e qualquer oportunidade atacá-los. Em 2 Samuel 21:15-22, são cio n a d a s pelo m enos quatro ca m p a r diferentes dos filisteus (ver também 1 C r 2 8), e o texto d e screve a m orte de v f gigantes bem com o a derrota dos filis Israel capturou diversas cid ad es, incl G ate, cidade natal de G o lias. Q uand o jovem , D avi havia matado G o lias, mas rante a primeira cam panha, não conse m atar o gigante Isb i-B en o b e , sendo 2 SAMUEL 7 - 1 0 Abisai, sobrinho de D avi, precisou salvá-lo 121:15-17). O s homens de Davi aconselharamno a parar de participar pessoalm ente das ^atalhas, e ele deu ouvidos a seu conselho, rem -aventurado o líder que reco nhece suas "a q u e z a s e que adm ite a necessidad e de mudanças! O nom e "M etegue-Am á" (N VI) suer dizer "as rédeas da m etrópole" e pro­ vavelmente se refere a uma cidade filistéia importante capturada por Israel; sua locali­ zação perm anece um m istério. "Tom ar as -edeas" de algo significa assum ir o controle 319 com seus inimigos e deles recebeu tributos :a rte de Ló, sobrinho de Abraão e pai de ;eu antepassado M oabe (G n 19:30-38). Pelo ■ato de os moabitas terem contratado o pro­ feta Balaão para am aldiçoar Israel e de, pos­ terio rm en te , Balaão ter levado m u lh e res moabitas a seduzir os hom ens israelitas (Nm 22 - 25 ), o Senhor declarou guerra a essa ~ação, e D avi sim plesm ente deu co ntinui­ dade a essa cruzad a. A maioria dos conquis­ tadores teria exterm inado todo o exército, mas D avi poupou um em cada três soldaro s e impôs um tributo sobre a nação. N o rte : o s ara m eu s e sírio s (vv. 3-13). Zob á ficava ao norte de D am asco e fazia ~arte de uma confederação de nações cha­ (2 Sm 8:6-10). S u l: o s ed o m ita s (vv. 12-14). 1 C rônicas 1 8 :1 2 , 13 cita os edom itas com o inimigos (ver 1 Rs 1 1 :1 4b-18), mas é possível que, nessa é p o ca, Edom se en co ntrasse sob o controle dos sírios e aram eus e que estes tam bém estivessem envolvidos na batalha. Ao que parece, enquanto Israel atacava os sírios e aram eus no Norte, os moabitas os atacaram do Sul, mas o Senhor deu a Israel um a grande vitória. A pesar de Davi e Joabe serem os líderes conquistadores nessa ba­ talha, foi o Senhor quem recebeu a glória quando Davi com em orou a vitória no Salmo 60. A expressão "sobre Edom atirarei a minha sandália" (6 0 :8 ) é m etafórica e possui senti­ do duplo: (1) Deus tom a posse de Edom co­ mo seu território; e (2) Deus trata Edom co m o um escravo que lim pa os sapatos de seu Senhor. Exprim e a hum ilhação que Deus fez sobrevir aos edom itas orgulhosos conquis­ tados por Davi. D avi tam bém derrotou os am alequitas (v. 12 ), in c u m b ê n cia que Saul, seu an te­ cessor, não havia levado a cabo com suces­ so (1 Sm 15). D esde os tempos de M oisés, o Senhor declarou guerra a A m aleque (Êx 1 7 :8 -1 2 ; Nm 1 4 :4 5 ; D t 2 5 :1 7 -1 9 ) e D avi apenas deu co n tin uid ad e a essa cru zad a. Conform e o Senhor havia prometido (7:9), Davi foi vitorioso sobre seus inimigos. A fam a de D avi cresceu drasticam ente em função dessas vitórias (v. 13), e D avi teve o cuidado de dar a glória a D eus (8 :1 1 , 12). A a d m in is t r a ç ã o em J e r u s a lé m (v v. 15 -1 8 ).5 V encer as batalhas é uma coisa, ad­ mada de "os sírios" em algumas versões, mas a tradução mais precisa é "os aram eus". No entanto, seus vizinhos - os sírios - tenta-3m salvá-los, mas também foram derrotados, ;e modo que toda a região ao norte do Eufra-es ficou sob o dom ínio de D avi. Com isso, ministrar os assuntos de uma nação em cres­ cim ento é outra bem diferente, e, nesse caso, D avi tam bém m ostrou co m p e tê n cia. G o ­ vernou com ju stiça e eqüidade e serviu a todo o povo (v. 15). Davi descreveu um lí­ der desse tipo em 2 Samuel 23:1-7 e o co m ­ irael adquiriu instalações militares im portan­ tes e tam bém o controle de valiosas rotas parou à aurora e ao sol depois da chuva. Por certo, Davi representou a aurora de um :e caravanas que passavam por esse territó~o. Israel pôde tributar os com erciantes que cassavam por lá e, assim, aum entar sua ren- novo dia a Israel depois das trevas do reina­ do de Saul. Em deco rrência disso, Deus usou Davi para trazer a calm aria depois da tem­ :a . Ao derrotar os aram eus e os sírios, Davi •ambém criou um relacionam ento amigável pestade. D eus am a a eqüidade e a justiça (Sl 3 3 :5 ) e m anifesta am bas ao governar e forçar à subm issão. L e ste : o s m o a b ita s (v. 2 ) haviam sido amigáveis com Davi porque pensaram que e ra inimigo de Saul (1 Sm 14:47) e também corque Davi era aparentado dos moabitas cor parte de sua bisavó, Rute (Rt 4:18-22). Enquanto estava no exílio, D avi chegou até a co locar seus pais sob a guarda do rei de M oabe (1 Sm 2 2 :3 , 4 ). N a re alid ad e , os moabitas eram parentes dos israelitas pela 320 2 SAMUEL 7 - 1 0 sobre seu universo (Sl 3 6 :6 ; 9 9 :4 ; Is 5 :1 6 ; Jr 9 :2 4 ; Am 5 :2 4 ). D e fato, Davi foi um homem segundo o coração de Deus. Um bom governante deve nom ear su­ bordinados com petentes e sábios, e foi o que Davi fez. Joabe, sobrinho de Davi, havia matado A bn er de modo traiçoeiro (3:27-39), mas Davi o escolheu para ser com andante de seu exército. Sabem os po uca co isa so­ bre Josafá e seu cargo no governo de Davi. E provável que o "cronista" fosse o oficial que mantinha os registros e que aconselha­ va o rei com o secretário de Estado. Também é possível que fosse o presidente do conse­ lho do rei. A situação em Isaías 36 indica que o secretário/cronista era membro do alto escalão (ver vv. 3, 22). Tanto Z adoque quanto Abim eleque ser­ viam com o sacerdotes, pois a arca enco n­ trava-se em Jerusalém e o tabernáculo em G ib e ã o (1 C r 1 6 :3 9 ss). Saul ordenou que D o e g u e m atasse o sace rd o te A im e le q u e (1 Sm 2 2 :6 ss). Abiatar, filho do sacerdote, sobreviveu ao m assacre de sacerdotes em N o b e e se ju n to u ao grupo de D avi em Q u e ila (2 2 :2 0 ; 2 3 :6 ). A co m p a n h o u D avi durante seus anos de exílio e é bem prová­ vel que tenha tido um filho, ao qual deu o nom e de A im eleque, em homenagem ao avô m artirizado do m enino. Q u an d o alcançou a idade apropriada, o rapaz serviu com o pai e com Z adoque. Encontram os Zadoque e Abiatar trabalhando juntos quando a arca foi levada para Jerusalém (2 Sm 1 5 :2 4 , 35) e quando A bsalão rebelou-se contra D avi (2 Sm 1 7 :1 5 ; 19:11, 12). Seraías, o escrivão, tam bém era conhe­ cido com o Seva (2 0 :2 5 ), Sausa (1 C r 18:16) e Sisa (1 Rs 4 :3 ). A referência em 1 Reis in­ form a que dois de seus filhos herdaram seu cargo. A esco lha mais notável foi Benaia, com andante da guarda pessoal de D avi e valente guerreiro (2 Sm 23:20-23), que tam­ bém era sacerdote (1 C r 2 7 :5 ). No Antigo Testam ento, não era incom um um sacerdo­ te tornar-se profeta (Jerem ias, Ezequiel), mas um sacerdote servir com o oficial militar é um caso excepcio nal. O s queretitas e peletitas eram m ercenários estrangeiros excelen ­ tes em seu trabalho, os quais constituíam a guarda p e sso al de D a v i. N o re in ad o de Salom ão, Benaia tornou-se um assessor ines­ timável (1 Rs 1 :38, 44). A pesar de nem todos os filhos de D a\i terem se m ostrado h om ens dig n o s, ele os co loco u para servir co m o o ficiais em seu governo. Além de ser bom para eles, era uma form a de o rei obter inform ações sobre o que estava aco n tecend o no país. O título "m inistro" é uma tradução do termo hebraico para "sacerdote". Um a vez que Davi era da tribo de Judá, nem ele nem os filhos pode­ riam entrar nos lugares santos do tabernáculo e ministrar com o sacerdotes, de modo que o term o provavelm ente quer dizer "conse­ lheiros particu lares". Eram hom ens que ti­ nham acesso ao rei e que o assistiam na adm inistração dos assuntos do reino. 3. D a v i c o m p a r t il h o u D eu s a b o n d a d e d e (2 Sm 9 :1- 13) "A bondade de D eus" é um dos dois temas deste capítulo (vv. 1, 3, 7) e significa a mise­ ricórdia e o favor do Senhor com os que não são m erecedores. Paulo viu a bondade de Deus na vinda de Jesus Cristo, em sua obra na cruz (Tt 3:1-7 [3 :4 ]; Ef 2:1-9 [2:7] . Pelo m odo com o D avi tratou M efibosete. observam os um retrato da bondade de Deus com os pecad ores. D avi havia prom etido tanto a Saul quanto a Jônatas que não exter­ m inaria seus descendentes quando se tor­ nasse rei (1 Sm 20:12-17, 4 2 ; 2 4 :2 1 ) e, nc caso de M efibosete, filho de jônatas, Da^ não ap enas cum p riu sua prom essa com c tam bém foi além de seu dever. O segundo tem a im portante desse capí­ tulo é a realeza de Davi. O nom e "D avi" é usado sozinho seis vezes neste capítulo; e~ seis o ca siõ e s, ele é ch am ad o de "re i", e em um caso, de "rei D avi" (v. 5). Ninguém em todo o Israel além de Davi poderia ter dem onstrado tam anha bondade para com M efibosete, pois Davi era o rei. H avia her­ dado tudo o que tinha pertencido ao rei Saul (1 2 :8) e poderia dispor de tais coisas c o r '; bem lhe aprouvesse. Sem dúvida, tem os a c .i um retrato de Jesus Cristo, o Filho de D e .i que por sua morte, ressurreição e ascensãc foi glorificado no trono celestial e, a g c a 2 SAMUEL 7 - 1 0 pode co n ceder suas bênçãos espirituais aos pecadores necessitados. O nom e "D avi" sig­ nifica "am ado", e Jesus é o Filho am ado de D eus (M t 3 :1 7 ; 1 7 :5 ), en viado ao m undo oara salvar os pecadores. O re i en co n tra M e fib o s e te (vv. 1-4). É im portante o b servar que a m o tivação de D avi para pro curar M e fib o se te não foi a condição triste de um hom em aleijado, mas sim o desejo de Davi de honrar Jônatas, o pai desse hom em . D avi fez o que fez "por am or a Jônatas" (1 Sm 20:11-1 7). M efibosete estava com cinco anos de idade quando seu pai m orreu em com bate (2 Sm 4 :4 ) e, por­ tanto, a essa altura, estaria com cerca de vin­ te e um anos de idade e tam bém tinha um filho (2 Sm 9 :1 2 ). Davi não poderia dem ons­ trar am or nem bondade a Jônatas, de modo que procurou um dos parentes do am igo ao qual pudesse expressar sua afeição. O "nesmo acontece com os filhos de D eus: são chamados e salvos, não por m erecerem alíu m a coisa de D eus, mas por am or a Jesus Cristo, o Filho de D eus (Ef 1:6; 4 :3 2 ). Em sua zraça, Deus nos dá aquilo que não merece-t o s e, em sua m isericórdia, ele não dá aquilo ru e m erecem os. Davi descobriu o paradeiro de Mefibofete por m eio de Z ib a, adm inistrador das o ropriedades de Saul. Z ib a respondeu às rerguntas de D avi sobre M efibosete, mas acabou mostrando ser um hom em dissimu­ lado e mentiu ao rei sobre M efibosete quanro D avi fugiu de A bsalão (16:1-4) e quando Davi voltou a Jerusalém (1 9 :1 7 , 24-30). A ;om bin ação da im pulsividade de Davi com a falsid ad e de Z ib a custou a M efib o se te -íetade de suas propriedades. O re i cham a M e fib o se te (vv. 5-8). O que teria passado pela mente desse príncipe aleiado ao ser convocado a se apresentar diante do rei? Se ele acreditava no que seu avô -avia dito sobre Davi, deve ter ficado com -'ledo de ser m orto; mas se havia dado ouviro s às palavras do pai sobre Davi, deve ter ;e alegrado. Alguém teve de ajudar o rapaz a chegar até o palácio, onde ele se prostrou riante de D avi - algo difícil para um homem aleijado de am bos os pés - e reconheceu íu a indignidade. O rei chamou-o pelo nome 321 e lhe garantiu, no mesmo instante, que não havia coisa alguma a temer. Em seguida, Davi "adotou" M efibosete extra-oficialm ente ao devolver-lhe as terras que o pai, Jônatas, te­ ria herdado de Saul e, depois, ao convidá-lo a viver no palácio e com er à mesa do rei. Davi havia com ido à mesa de Saul, o que por pouco não lhe custou a vida, mas M efi­ bosete podia assentar-se à m esa de D avi, e sua vida seria protegida. O fato de D avi ter tom ado a iniciativa de resgatar M efibosete nos lembra de que foi D eus quem deu o prim eiro passo em nos buscar e não nós. Estávamos separados de D eus e éram os seus inimigos; no entanto, ele nos am ou e enviou seu Filho para mor­ rer por nós. "M as D eus prova seu próprio am or para conosco pelo fato de ter Cristo m orrido por nós, sendo nós ainda pecad o ­ res" (Rm 5:8 ). Para D avi, resgatar e restaurar M efibosete custou-lhe apenas as terras de Saul, pelas quais ele nem sequer havia pago. Para que Deus nos restaurasse e aceitasse em sua fam ília, foi preciso que Jesus sacrifi­ casse sua vida. Nossa herança é muito mais do que um pedaço de terra aqui no mundo: é um lar eterno no céu! O r e i dá riq u e z a s a M e fib o se te (vv. 913). Davi incluiu M efibosete em sua fam ília, supriu suas necessidades, protegeu-o e per­ mitiu que com esse à mesa dele. Não seria fácil cuidar de um hom em adulto, aleijado de am bos os pés, mas Davi prometeu que o faria. Antes, M efibosete havia contado com o serviço de Z ib a e de seus quinze filhos, além de mais vinte servos (v. 10), mas, a par­ tir daquele dia, teria todos os recursos e a autoridade do rei de Israel a sua disposição! Z iba, seus filhos e servos continuariam tra­ b alh an do nas terras de M efib o se te e lhe dariam os lucros, mas essa receita seria in­ significante se com parada à riqueza do rei. Em quatro ocasiões nesta passagem Davi diz que M efibosete "com eria à sua m esa" (vv. 7, 10, 11, 13), o que mostra que o filho de Jônatas seria tratado com o filho de Davi. M e fib o s e te c o n s id e ra v a -s e um "c ã o m orto" (v. 8), assim com o nós também está­ vam os "m ortos" em nossos pecados e trans­ gressões quando Jesus nos cham ou e nos 322 2 SAMUEL 7 - 1 0 deu uma nova vida (Ef 2:1-6). Tem os uma posição m ais elevad a do que aq uela que D avi deu a M efibosete, pois nos assentam os no trono com Jesus Cristo e reinam os em vida com ele (Rm 5 :1 7 ). Deus nos dá as ri­ quezas de sua m isericórdia e graça (Ef 2:47) e também as "insondáveis riquezas" em Cristo (Ef 3 :8 ). Deus supre todas as nossas necessidades, usando para isso não os te­ souros de um rei aqui da terra, mas sim "sua riq u eza em glória" (Fp 4 :1 9 ). M efib osete passou o resto de seus dias na Jerusalém aqui da terra (2 Sm 9 :1 3 ), mas os filhos de Deus de hoje já são cidadãos da Jerusalém celestial, onde habitarão para sem pre com o Senhor (H b 12:22-24). Esse episódio com ovente da vida de Davi ilustra não apenas a experiência espiritual do cristão em Jesus Cristo, mas também nos re­ vela que Davi foi, de fato, um homem segun­ do o coração de Deus (1 Sm 13:14; At 13:22). Foi um pastor com especial preo cup ação pelas ovelhas aleijadas de seu rebanho.6 Um últim o fato a ser o bservado é que, quando alguns dos descen den tes de Saul foram esco lhid o s para serem executad o s, D avi protegeu M efibosete da m orte (2 Sm 21:1 -11, especialm ente o v. 7). H avia outro d e scen d e n te ch am ad o M efib o se te (v. 8), mas D avi soube distinguir entre um e ou­ tro! A ap licação espiritual para o cristão de hoje é evidente: "Agora, pois, já nenhum a co nd enação há para os que estão em C ris­ to Jesus" (Rm 8 :1 ). "Porque D eus não nos destinou para a ira, mas para alcan çar a sal­ vação m ediante nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5:9 ). "Q u em nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nom e do unigênito Filho de D eus" (Jo 3 :1 8 ). M efibosete é um nom e difícil de guardar e de pronunciar, mas nos lem bra de algu­ mas verdades maravilhosas sobre a "bonda­ de de D eus" dem onstrada por nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador e Senhor. 4 . O REI DEFENDE A HONRA DE D EU S ( 2 Sm 1 0 :1 - 1 9 ; 1 C r 1 9 :1 - 1 9 ) M ais uma vez, Davi desejava demonstrar bon­ dade, mas nesse caso sua tentativa acabou em guerra e não em paz. Suas propostas ao povo vizinho foram interpretadas incorreta­ m ente e D avi teve de defender a própria honra, bem com o a honra do Senhor e de seu povo. U m a ofensa p ú b lica (vv. 1-5). A prim ei­ ra vitória militar de Saul foi sobre Naás e o exército am onita, quando atacaram JabesG ilead e (1 Sm 11). Assim com o os amonitas, os moabitas eram descendentes de Ló (G n 19:30ss) e, portanto, parentes dos israelitas. D e que maneira Davi desenvolveu uma re­ lação amigável com os am onitas, uma vez que seu antecessor havia guerreado contra eles? E provável que isso tenha ocorrido en­ quanto D avi se encontrava no exílio e quan­ do parecia estar em guerra com Saul. Ao longo dos anos de sua vida co m o "foragi­ do", Davi tentou construir uma rede de ami­ zades fora de Israel, na esperança de que esses contatos lhe fossem úteis quando se tornasse rei. A expressão "usar de bondade" pode ter o significado de "fazer uma alian­ ç a ",7 de modo que talvez Davi desejasse não apenas consolar Hanum , mas tam bém fazer um tratado com ele. D avi enviou um a delegação de o fic ia i da corte a Hanum , mas a im aturidade e a ignorância prevaleceram sobre a sab e d o re o bom senso. O novo rei inexperiente deu ouvidos a seus conselheiros desconfiados e tratou os hom ens de Davi com o se fossem espias. (Anos depois, Roboão, filho de Salcm ão, com eteu um erro parecido e se g u L co n selh o s im prudentes. V er 1 Rs 12.) O s am onitas rasparam o rosto dos em baixadcres, d e ix a n d o ap e n as um lado da b a r t ; intacto e, depois, cortaram as vestes dos c rciais até a cintura. O s hom ens israelitas de* veriam m anter a barba in tacta (Lv 19:22P 2 1 :5; Dt 14:1, 2), e m exer com a barba um hom em era um grande insulto. Todos israelitas deveriam vestir-se com sobried de modo que o gesto de expor o corpo queles hom ens dessa form a deve ter ainda mais em baraçoso. Esse era o trata to reservado a prisioneiros de guerra (Is 2 4), e, também, removeram algumas das de suas vestes, um símbolo que os idení va com o israelitas (Dt 2 2 :1 2 ; Nm 15:37— 2 SAMUEL 7 - 1 0 A p rim eira batalha (vv. 6-14). O s m em ­ bros da delegação não teriam dificuld ade em arranjar outras roupas, mas levaria algum tempo para que a barba voltasse a crescer, de m odo que ficaram em Jericó até que tivessem recobrado uma aparência apresen­ tável. No entanto, uma nova barba não apa­ garia antigas ofensas. Q uand o o rei Hanum permitiu que seus oficiais maltratassem a de­ legação, não apenas insultou os hom ens pes­ soalm ente, com o também insultou o rei Davi que os havia enviado e a nação que repre­ sentavam . Em resum o, foi uma declaração de guerra. M as o rei Hanum não estava preparado para a guerra, especialm ente contra um ge­ neral experiente com o Joabe e um m onarca :’ustre com o D avi, de modo que pagou cem talentos de prata (1 C r 19:6) para contratar soldados do Norte, inclusive sírios e arameus, nações que Davi acabou derrotando (2 Sm 3 :1 2 ).8 Esses trinta e três mil soldados junta'am-se ao exé rcito am onita para atacar o exército de Israel. Joabe enfrentou dois ini­ migos que procuraram derrotar o exército israe lita e m p reg an d o um m o vim e n to de torquês, com os sírios e arameus vindo do Norte e os am onitas vindo do Sul. Joabe agiu com prudência e dividiu suas forças, co lo ­ cando o irmão Abisai no com ando do fron­ te, ao sul, e, pela graça do Senhor, Joabe derrotou de tal modo os soldados do Norte 323 que sua vitória assustou os soldados do Sul, levando-os a fugir para Rabá, capital forti­ ficada de Am om . A seg u n da batalha (vv. 15-19). D avi co ­ m andou pessoalm ente a batalha contra os sírios9 e, juntam ente com o exército de Is­ rael, conquistou a vitória. C om isso, os sírios to rn aram -se estad o s-vassalo s do im p ério cada v e z m aior de D avi. Joabe mostrou-se prud ente, mais um a v e z , ao esperar para erguer um ce rco con tra R abá, esperando até a prim avera do ano seguinte para reali­ z a r um no vo a ta q u e ( 1 1 :1 ) . O g e n era l israelita tom ou a cidad e, e D avi foi en cer­ rar o ce rco e receb er as honras (1 2 :26 -3 1 ). Foi enq uanto Joab e e seus hom ens esta­ vam sitiando R abá que D avi perm aneceu em Je ru sa lé m e co m e te u a d u lté rio com Bate-Seba. Sem dúvida, Davi foi um guerreiro que lutou as batalhas do Senhor, e Deus esteve com ele e lhe deu vitória. Estendeu o im pé­ rio israelita do rio do Egito, no Sul, até o rio Eufrates, no N o rte ; no Leste, co n q u isto u Edom, M oabe e Am om e, no Norte, derro­ tou os aram eus e sírios, inclusive Ham ate. Pelas dádivas de D eus e com seu auxílio, D avi tornou-se, sem dúvida alguma, o maior rei de Israel e sua figura militar mais expres­ siva. Foi abençoado com hom ens de cora­ gem, com o Joabe e Abisai, e também com seus "valentes" (2 Sm 2 3 ; 1 C r 11:10-47). 1. O termo "aliança" não é usado em 2 Samuel 7, mas Davi o empregou em 23:5 quando se referiu à revelação que havia 2. A maioria dos estudiosos chegou à conclusão de que Bate-Sua e Bate-Seba eram a mesma mulher. No mundo antigo, não era 3. De acordo com 1 Crônicas 22:8 e 28:1-3, o fato de Davi ter derramado muito sangue foi outro motivo pelo qual Deus 4. Em sua aliança com Abraão, Deus lhe prometeu muitos descendentes e, posteriormente, comparou seu número ao pó da recebido de Natã. incomum uma pessoa ter mais de um nome ou o nome ter mais de uma grafia. escolheu Salomão para construir o templo. terra (Gn 13:16) e às estrelas do céu (Gn 15:1-6), indicando um povo terreno e celeste. O s judeus são o povo de Deus aqui na terra e receberam dele a promessa de um reino terreno, mas todos aqueles que crêem em Cristo são filhos de Abraão (Gl 3:1-18), pois todos nós fomos salvos pela fé e não pela obediência à lei. 5. Esta é a terceira de quatro "listas oficiais" encontradas em 2 Samuel, sendo que cada uma delas encerra uma divisão principal do livro: 1:1 - 3:5 (filhos de Davi em Hebrom); 3:6 - 5:16 (filhos de Davi em Jerusalém); 5:17 - 8:18 (oficiais de Davi em Jerusalém); 9:1 - 20:26 (oficiais de Davi mais tarde em seu reinado). 6. Uma escola de intérpretes acredita que Davi só estava colocando Mefibosete sob "prisão domiciliar" a fim de ter certeza de que o filho de Jônatas não criaria problemas no reino. Acontecimentos subseqüentes mostram que, na verdade, era Ziba, o administrador de Mefibosete, que precisava ser vigiado! Além disso, de que modo um jovem aleijado seria capaz de prejudicar 324 2 SAMUEL 7 - 1 0 o maior rei de Israel? Davi convidou Mefibosete a assentar-se com ele à mesa do palácio não para proteger a si mesmo, para demonstrar seu cuidado pelo rapaz, por amor ao pai dele. 7. A bondade (misericórdia) é, por vezes, relacionada à realização de uma aliança (ver Dt 7:9, 12; Js 2:12; 1 Sm 20:8, 14-17; Dn 9:4). 8. Lembre-se de que 2 Samuel não foi escrito em ordem cronológica e, portanto, versículos como 8:12 são resumos de guerras que o escritor descreve posteriormente. 9. Numa batalha anterior, Davi quase foi morto por um gigante cham ado Isbi-Benobe, sendo salvo pelo sobrinho, AbisaiNaquela ocasião, os líderes militares aconselharam Davi a não ir mais à guerra (2 Sm 2 1 :15-1 7), e ele aceitou o conselho. O objetivo de sua presença na campanha contra a Síria (10:15-19) era cuidar da movimentação das tropas, mas não envolver em combate direto. 5 A Desobediência, a D issim u lação e a D isciplina de D a v i 1 do pecado perdoado trazem consigo triste­ za am arga e profunda. Estes dois capítulos descrevem sete está­ gios da experiência de D avi. Ao estudar esta passagem , lembremo-nos da adm oestação de Paulo: "Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1 C o 10:12). 1. A 2 Sam u el 1 1 - 1 2 o contrário das biografias prom ocionais e dos textos distribuídos para a im pren­ sa, a Bíblia sem pre diz a verdade sobre as pessoas. D evem os considerar um estímulo saber que até mesm o os m elhores hom ens A e m ulheres encontrados nos registros bíbli­ cos tinham, assim com o nós, suas fraquezas e fracassaram . No entanto, o Senhor, em sua graça soberana, pôde usá-los para cum prir seus propósitos. Noé foi um hom em de fé e de obediência, mas se em briagou. Em duas o casiõ e s, A b raão m entiu sobre a espo sa; Jacó mentiu ao pai, Isaque, e ao irm ão, Esaú. M oisés perdeu a cabeça quando matou um egípcio, e Pedro perdeu a coragem e negou a Cristo três vezes. N esta passagem , vem os D avi - o ho­ mem segundo o co ração de D eus, o homem que co m eteu adultério e depois m atou um com patriota - em seus esforços desespera­ dos para e n co b rir seu p e cad o. D avi pas­ sou pelo m enos nove meses recusando-se a c o n fe s s a r suas tra n sg re ssõ e s, até que D eus lhe falou, e o rei buscou ao Senhor e re co m eço u sua vid a. N o entanto , pagou caro por seus p e cad o s, pois co m o disse C harles Spurgeon: "D e u s não perm ite que seus filhos pequem com su cesso". Infeliz­ m ente, D avi sofreu as co n se q ü ê n cia s de seus pecad os para o resto da vid a, e o mes­ mo aco n tecerá co n o sco se nos rebelarm os contra Deus, pois o Senhor disciplina a quem am a e p ro cura co nduzi-lo s à o b e d iê n cia. Pagamos adiantado pelas coisas boas que recebem os na vida, pois som os preparados por D eus para aquilo que tem reservado oara nós. Q u an to ao mal, porém , pagamos Dor ele em prestações, e as co n seqü ências c o n c e p ç ã o (2 Sm 11: 1-3) A tentação e o pecado de Davi ilustram o que diz Tiago 1:14, 15: "C ad a um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a co b iça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consum ado, gera a m orte". Não é difícil ver com o os pecados de D avi se de­ senvolveram . O c io sid a d e (vv. 1, 2 a ). O relato dos pe­ cados de Davi é apresentado no contexto do cerco de Joabe a Rabá, principal cidade dos am onitas (1 1 :1 ,1 6 ,1 7 ; 1 C r 20:1-3). O exército am onita havia fugido para a cidade fortificada de Rabá (2 Sm 1 0 :1 4 ), e Joabe e os soldados de Israel estavam esperando o povo ficar sem com ida e sem água para, então, atacar a cidade. Davi enviou Joabe e seu exército para sitiar Rabá, mas ele mes­ mo ficou em Jerusalém . E provável que fos­ se abril ou maio, que as chuvas de inverno tivessem cessado e que o clim a estivesse fi­ cando mais quente. D e acordo com os cál­ culos de cronologistas, a essa altura, Davi deveria estar com cerca de cinqüenta anos de idade. Por certo, o rei havia sido aconse­ lhado por seus líderes a não se envolver di­ retam ente nas batalhas (2 Sm 2 1 :1 5-1 7), mas ain d a assim p o d e ria ter aco m p an h ad o o exército para ajudar a desenvolver a estraté­ gia e oferecer liderança moral. Q u e r Davi tenha ficado em Jerusalém por um bom motivo quer não, uma coisa é ver­ dade: "Satanás sem pre encontra algum tipo de maldade para o cupar mãos o ciosas".2 O ócio não é apenas a ausência de atividade, pois todos nós precisam os de descanso em intervalos regulares; antes, o ócio tam bém é a atividade sem propósito algum. D epois de cochilar durante a tarde, Davi deveria ter se d e d icad o im ed iatam en te a algum a tarefa adm inistrativa para ocupar sua mente e seu 326 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 co rp o ou, se queria cam inhar, deveria ter co n vid ad o alguém a ir com ele. "S e está ocioso, não fique sozinho", escreveu Samuel Johnson. "E se está sozinho, não fique ocio­ In fo rm a çã o (v. 3 ). Q uand o D eus proíbe algo e cham a de pecado, não devem os pro­ curar descobrir mais sobre o assunto. "Q u e ­ ro que sejais sábios para o bem e símplices so". Se Davi tivesse seguido esse conselho, teria poupado a si mesm o e sua fam ília de muito sofrimento. Q uand o Davi colocou de lado sua arm a­ dura, deu o prim eiro passo rumo à derrota moral, um princípio que se aplica, igualm en­ te, aos cristãos de hoje (Ef 6:10-18). Sem o capacete da salvação, não pensam os com o criaturas salvas, e sem o peitoral ("couraça") da ju stiça , não tem os com que proteg er nosso co ração . Na falta do cinto da verda­ de, acreditam os facilm ente em mentiras ("Po­ dem os nos safar dessa!"), e sem a espada da Palavra e o escudo da fé, ficam os im po­ tentes diante do inimigo. Sem a oração, não tem os forças e, quanto ao calçado da paz, Davi cam inhou em meio a batalhas pelo res­ to da vida. Estava mais seguro no cam po de batalha do que dentro dos m uros de sua casa! Im a g in a çã o (v. 2 b ). Não se pode culpar um homem se uma mulher bonita entra em seu cam po de visão, mas se o hom em se dem ora deliberadam ente e olha outra vez a fim de alim entar sua lascívia, está procuran­ do problemas. Jesus disse: "O u vistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma m ulher com intenção im pura, no co ração , já adulterou com ela" (M t 5 :2 7 , 28 ). Q u an d o D avi parou e olhou dem oradam ente pela segunda vez, sua im aginação pôs-se a trabalhar e com e­ para o mal" (Rm 16 :1 9 ). Davi co nhecia a lei sobre adultério, então por que enviou men­ sageiros para investigar a mulher?3 Porque, em seu co ração , já havia tom ado Bate-Seba para si e estava ansioso para se encontrar com ela. Descobriu que Bate-Seba era uma çou o processo de co n cep ção do pecado. Teria sido o m om ento perfeito de dar as costas de um a vez por todas ao que havia visto, sair do terraço do palácio e ir para um lugar mais seguro. Q u an d o José enfrentou tentação parecida, apressou-se em fugir (G n 39:11-13). "Vigiai e orai, para que não entreis em ten tação ; o espírito, na verd ad e, está se passava, o Senhor D eus sabia e não apro­ vava o que Davi estava fazendo. Deus de_ tempo para o rei recobrar o juízo e busca.* perdão, porém Davi só endureceu o co ra çã: e continuou a fingir que estava tudo berr pronto, mas a carne é fraca" (M t 2 6 :4 1 ). Davi deveria ter orado pedind o: "N ão nos deixes cair em tentação". Ao se dem orar e olhar, Davi tentou a si m esm o; ao enviar mensageiros, tentou Bate-Seba; e ao se en­ tregar aos desejos da carne, tentou o Senhor. mulher casada, fato que deveria ter sido su­ ficiente para im pedir que prosseguisse com seu plano perverso. Q uand o soube que ela era esposa de um de seus soldados valen­ tes, que se encontrava no cam po de batalha (2 3 :9), deveria ter se dirigido à tenda da con­ gregação, se prostrado com o rosto em ter­ ra e suplicado pela m isericó rd ia de Deus. Pela b reve g en ealo g ia ap resen tad a, Davi deveria ter percebido que Bate-Seba era neta de Aitofel, seu conselheiro predileto (2 3 :34 ; 16:23). Não é de se admirar que Aitofel tenha tomado o partido de A bsalão quando este se rebelou contra o pai e usurpou o reino! Davi co n hecia a lei e deveria tê-la recor­ dado e aplicado em seu coração. "N ão cobiçarás a mulher do teu próxim o" (Êx 2 0 :1 7): "N ão adulterarás" (Êx 2 0 :1 4 ). Davi tambérr sabia que os servos do palácio viam e ob­ viam tudo o que aco n te cia e relatavam 2 outros, de m odo que não seria ca p az ce fazer coisa alguma às escondidas. E prová­ vel que já fosse de conhecim ento geral que o rei estava mostrando interesse pela esp sa de seu próxim o. Porém, mesm o que nin­ guém além do m ensageiro soubesse o que 2. A p e rp e tra çã o (2 Sm 11 :4 ) Um dos mistérios desse episódio é a di síção de Bate-Seba em acom panhar os sageiros e em sujeitar-se aos desejos de D O term o h eb raico trad uzid o por "traz (laqah) pode significar, sim plesm ente, ' car, receber ou adquirir", ou tam bém p ser trad u zido por "agarrar, pegar à for 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 tom ar". Porém , não pareceu ter havido evi­ dência alguma de força ou de vio lên cia no texto, e o leitor supõe que Bate-Seba co o­ perou com os m ensageiros. M as por quê? Bate-Seba sabia por que D avi a desejava? Em caso afirm ativo, será que se deteve para pensar que, uma v e z que sua m enstruação havia term inado havia pouco tempo (v. 2), encontrava-se no período fértil? Talvez ela quisesse ter um filho com o rei! 1 Reis 1 re­ vela que Bate-Seba não era exatam ente do tipo passivo. "Será que essa jovem dona de casa arm ou toda a situação?", pergunta o professor E. M . Blaiklock. "Podem os encon­ trar mais do que simples suspeitas de que ela atirou a rede na qual Davi caiu tão facil­ m ente".4Talvez ela tivesse pensado que Davi havia recebido notícias da frente de batalha a respeito do marido. Porém, não cabia ao rei transmitir notificações militares. Será que sentia falta do am or de seu m arido e seu oanho de purificação em público foi um con. íte a qualquer hom em que, por acaso, a estivesse observand o ? Se ela re cu sasse o pedido de D avi, o rei castigaria o marido? iO que, aliás, aconteceu de qualquer form a!) N enhu m cid ad ão isra e lita d e v ia o b e ­ diência a um rei quando este transgredia a lei de D eus, pois o rei havia feito uma alian­ ça com Deus e com o povo de sujeitar-se à lei divina. Será que Bate-Seba pensou que, ao sujeitar-se a D avi, estaria obtendo uma arma para ajudá-la no futuro, especialm ente caso seu marido fosse morto em combate? Podemos fazer essas e muitas outras pergun­ tas, mas encontrar as respostas para elas não é nada fácil. O texto bíblico não dá detalhes, e as conjecturas não são de grande ajuda. O pecado que a lascívia de Davi havia concebido estava para nascer, o qual traria : risteza e morte. D e acordo com Provérbios 6 , em breve D avi seria caçado (v. 26), quei­ mado (vv. 27, 28 ), desgraçado e arruinado (vv. 3 0 -3 3), tudo isso por ap en as alguns minutos de p razer proibido. O s film es de H ollyw ood, os programas de T V e a literatu­ ra de ficção atual usam histórias sobre adul­ tério com o uma form a de entretenim ento, o que serve apenas para mostrar com o an­ dam as coisas. Hoje em dia, pessoas fam osas 327 admitem que foram infiéis ao cônjuge, mas isso não parece causar qualquer dano a sua imagem pública ou a sua renda. D ivórcios com base ap enas em questõ es vagas de "inco m p atibilid ade" sim plificam o procedi­ m ento, mas não evitam as co n seq üên cias em ocionais dolorosas da infidelidade. Pasto­ res e conselheiros sabem com o não é fácil para as vítim as encontrarem a cura e recons­ truírem sua vida e seu lar, e, no entanto, a mídia continua ensinando com o rom per os votos matrim oniais e, aparentem ente, esca­ par incólum e. D avi e Bate-Seba pecaram contra D eus, pois foi Deus quem instituiu o casam ento e criou as regras que o governam. Israel con­ siderava o adultério um pecad o tão sério que, tanto o hom em quanto a m ulher que o com etiam , eram levados para fora da cida­ de e apedrejados (Lv 2 0 :1 0 ; Dt 2 2 :22-24; Jo 8:1-6). Deus leva a sério os votos m atrimo­ niais que noivos e noivas fazem , mesm o que os jovens casais não os considerem de modo tão judicioso (M l 2 :1 4 ; Hb 13:4). 3. A o c u lt a ç ã o (2 Sm 11:5-27) "A m ulher concebeu e mandou dizer a D avi: Estou grávida" (2 Sm 1 1 :5). Estas são as úni­ cas palavras de Bate-Seba registradas em todo o episódio, mas são palavras que Davi não queria ouvir. Podemos parafrasear essa mensagem curta com o: "A bola está de seu lado da quadra". Tático perspicaz, D avi mais que depressa desenvolveu um plano para ocultar seu pecado. Cham ou Urias do cam ­ po de batalha, na esp erança de que esse soldado valente fosse para casa e passasse algum tem po com a esposa. Na verdade, Davi ordenou que fosse para casa (v. 8), mas o soldado deso b ed eceu a essas ordens e passou a noite com os servos do rei. Davi até enviou com ida de sua própria mesa para que Urias e a esposa desfrutassem um ban­ quete, mas Urias nem levou esse presente para casa. Ficam os im aginando se Urias ti­ nha ouvido algo que o deixou desconfiado. O s palacianos são fam osos por suas fofocas. D avi teve de pensar em outro plano. Seu próxim o artifício foi cham ar U rias para outra aud iên cia no dia seguinte, sendo que 328 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 durante esse encontro o rei o repreendeu por não voltar para casa. C o m o um verda­ deiro soldado, U rias censurou brandam en­ te o rei por sugerir que um de seus homens colocasse o prazer pessoal antes do dever, especialm ente quando seus com panheiros estavam no cam po de batalha. Até mesmo a arca da aliança encontrava-se numa ten­ da, então por que Urias deveria desfrutar sua casa e sua esposa? 1 Samuel 2 1 :5 indica que os so ldado s de D avi abstinham -se de re­ la çõ e s se xu ais en q u an to cu m p riam seus deveres militares (regra baseada em Lv 1 5:1618); de modo que Urias deve ter ficado sur­ preso com a sugestão de seu com andante. O terceiro artifício de Davi foi convidar U rias para com er com ele antes de voltar à batalha. Durante essa refeição, Davi passoulhe o cá lic e tantas v e ze s que U rias ficou em briagado. No entanto, m esm o bêbado, U rias mostrou ser um hom em mais digno do que Davi quando estava sóbrio, pois re­ cusou mais uma vez ir para casa. Urias era um soldado de corpo e alm a, e mesm o de­ pois que o álcool derrubou suas defesas, perm aneceu fiel a sua m issão. H avia ap e­ nas uma coisa a fazer: Urias deveria morrer. Se Davi não conseguisse convencer Urias a ir para casa, teria de tirá-lo do cam inho para que pudesse se casar com a viúva do solda­ do, e, quanto antes o fizesse, melhor. Davi estava quebrando cad a um dos d e z m an­ dam entos. C o b iço u a espo sa do pró xim o e com eteu adultério com ela. Em seguida, deu falso testemunho contra o próximo e deu ordens para que fosse morto. Davi pensou estar enganando a todos quando, na verda­ de, estava apenas enganando a si mesmo. Achou que poderia escapar da culpa, enquan­ to, na realidade, só a estava alim entando e, por fim, não havia com o fugir do julgam ento de D eus. "O que encobre as suas transgres­ sões jam ais prosperará" (Pv 2 8 :1 3 ). Joabe havia sitiado Rabá e ordenado que seus hom ens não se aproxim assem do muro para que não fossem feridos e mortos. Por v e ze s, alguns soldado s am onitas saíam à porta da cidade para tentar atrair os solda­ dos israelitas para mais perto e atacá-los. Sendo um homem perspicaz, é possível que Joabe tenha lido as entrelinhas da carta de Davi e deduzido que a única coisa que Urias possuía e que Davi poderia desejar era uma bela esposa, de modo que cooperou com o plano. A final, o fato de saber dessa intriga de D avi poderia, algum dia, ser uma arma nas mãos de Joabe. A lém disso, o próprio Joabe já matara A sael, A bner (2 Sm 2:1 7-24' 3:27ss) e ainda iria matar Am asa (2 Sm 20:61 0 ), de m odo que e n te n d ia do assunto. Joabe sabia que não poderia en viar Urias até as muralhas sozinho, pois isso levantaria suspeitas. Portanto, mandou tam bém vários "servos do rei" (v. 24), que morreram junto com Urias só para que D avi encobrisse seus pecados. É possível que esses "servos do re i' fossem mem bros da guarda pessoal de D a\i. os m elhores soldados israelitas (8 :1 8). A expressão de tristeza de Bate-Seba pe a m orte do marido guerreiro, ainda que since­ ra, talvez tenha sido am enizada pelo fato de saber que logo estaria vivendo no palácio, E provável que as pessoas tenham se espanta­ do quando se casou tão rapidam ente, log> depois do funeral, com ninguém menos (fcl que o rei. Porém , seis m eses depois, qua*do deu à luz um m enino, o espanto foi g e a l outra vez. 2 Samuel 3:1-5 dá a entender q .e Bate-Seba foi a sétima esposa de Davi, mas ao contar com M ical, que não teve filhosjj Bate-Seba foi a oitava. Nas Escrituras, o núrrero oito indica, co m freqüência, um recorr— ço e, com o nascim ento de Salom ão a D e Bate-Seba, essa esperança se cum priu. No entanto, D avi ainda tinha assun pendentes dos quais precisava cuidar, o Senhor estava desgostoso com tudo o o rei havia feito. 4. A c o n f is s ã o (2 Sm 12:1-14) Natã teve o privilégio de transmitir a Dav mensagem sobre a aliança de Deus corr rei e seus descendentes (2 Sm 7), mas z. teve de realizar uma cirurgia espiritual e confrontar D avi com seus pecados. H pelo m enos seis m eses, o rei vin ha e brindo seus pecados, e o bebê de Bate-' estava prestes a nascer. A tarefa que o nhor havia dado a Natã não era nada f mas fica evidente que o profeta preparo; 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 329 com cu id ad o antes de se en co ntra r com D avi. O ju lg a m en to (vv. 1-6). Ao contar uma história sobre um crim e de outro hom em , \ a t ã preparou D avi para lidar com os pró­ o pecado dos outros (M t 7:1-3)! Roubar e matar um animal dom éstico não era um cri­ me capital em Israel, mas D avi estava tão irado que exagerou o crim e e também o cas­ tigo. A té esse mom ento, o rei vinha minim i­ prios pecados, e é possível que Davi tenha censado que Natã estava lhe apresentando -m caso verídico do tribunal de Jerusalém . Matã aproveitou-se do fato de o rei haver baixado a guarda para estudar suas reações e discernir o que deveria fazer em seguida, j m a vez que D avi havia sido pastor de ove!nas, sua atenção seria ca tivad a por uma -istória sobre o roubo de uma cordeirinha inocente e, com o rei, D avi era responsável cor garantir que as famílias pobres tivessem acesso à justiça. Deus orientou Natã para que escolhes­ se as palavras com cuidado, de modo a lemorar Davi daquilo que havia feito. O profeta afirmou que a co rd eirin h a "co m ia do seu oocado [do bo cad o do hom em pobre] e zando as conseqüências de seus atos sem tom ar qualquer atitude, quando, na verdade, aquilo que havia feito a Urias era digno da pena de morte. Tanto D avi quanto Bate-Seba deveriam ter sido mortos por apedrejam ento (Lv 2 0 :1 0 ; Dt 2 2 :22-24; Jo 8:1-6). U m a vez que conhecia a lei, D avi calculou que o ho­ mem rico deveria dar quatro ovelhas com o restituição ao proprietário do qual havia rou­ bado a cordeirinha (Êx 2 2 :1 ). O v e re d ic to (vv. 7-9). O profeta p erce­ beu que, apesar de Davi estar extrem am en­ te irado, tam bém estava vulnerável e pronto para que a espada do Espírito atravessasse seu coração (H b 4 :1 2 ; Ef 6:1 7). Com um gol­ pe rápido, N atã disse: "Tu és o h om em !" do seu copo bebia; dorm ia nos seus bra­ ços" (v. 3). Isso deveria ter lem brado Davi das palavras de U rias em 2 Sam uel 1 1 :1 1 : "H ei de eu entrar na m inha casa, para co ­ m er e beber e para me deitar com m inha m ulher?" M as só q u and o N atã falou do -ornem rico que roubou e matou a cordei'in h a q u e D a v i m o stro u algum tip o de (2 Sm 1 2 :7 ) e prosseguiu em sua tarefa de mostrar o espelho que revelava com o o rei era, na verd ad e , um hom em d e sp rezíve l. Natã explico u a D avi o m otivo de haver rou­ bado a co rd eirinha de U rias. Em prim eiro lugar, o rei se esqueceu da bondade do Se­ nhor, que lhe dera tudo o que ele possuía e teria lhe d a d o m uito mais (vv. 7, 8). Em segund o lugar, D avi havia d e sp re za d o o re ação , enfu re cen d o -se com os p e cad o s desse outro hom em ! (ver 1 Sm 2 5 :1 3 , 22, 33 para outro exem plo da ira de D avi). Ao aue p arece, D avi não se deu co n ta de que ele era o hom em rico, U rias era o hom em pobre e Bate-Seba, a cord eirinha que havia m andam ento de D eus e agido com o se ti­ vesse o privilégio de pecar (v. 9). Ao cobiçar, co m eter adultério, dar falso testem unho e matar, D avi quebrou quatro dos d ez m an­ dam ento s e p e n so u q u e p o d e ria esca p a r incólum e! Já era terrível D avi ter providen­ ^oubado. O "v ia ja n te " ao qual o hom em rico deu de co m e r representa a tentação e a lascívia que visitaram D avi no terraço e ciado para que U rias fosse m orto, mas pior ainda foi ter usado, para isso, a espada do inim igo! A se n te n ça (vv. 10-12). O adultério de D avi com Bate-Seba havia sido um pecado passional, im pulsivo, que o arrebatara, mas o pecado de m andar m atar U rias havia sido cu e se ap o d e ra ram d e le . Se a b rirm o s a o o rta, o p e cad o entra co m o co n v id a d o , mas logo se torna o senhor da casa (ver C n 4 :6 , 7). Davi julgou o hom em rico sem perceber que estava julgando a si m esm o. D e todos os tipos de cegueira, o pior é aquele que nos cega para o que som os. Nas palavras c e Joseph Butler: "M uitos hom ens parecem aesconhecer inteiramente o próprio caráter" e D avi era um deles.5 C o m o é fácil perceber um crim e prem ed itad o, d elib erado e v e r­ gonhoso. T alvez, por esse m otivo, 1 Reis 15:5 enfatize o "caso de U rias, o heteu" e não m encio ne Bate-Seba. Porém , o Senhor julgou os dois pecad o s, pois D avi pagou caro por sua lascívia e por seu dolo. Deus retribuiu a D avi "em esp écie" (D t 1 9 :2 1 ; Êx 330 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 2 1 :2 3 -2 5 ; Lv 2 4 :2 0 ), um princípio espiritual que D avi expressou em seu "salm o de vitó­ ria" depois da m orte de Saul (Sl 18:25-27). A espada não deixou a casa do rei, e suas esposas foram tom adas e violadas da m esm a form a com o ele havia tom ado BateSeba. D e fato, a retribuição foi quádrupla, pois o bebê de Bate-Seba m orreu e seu s fi­ lhos, A m n o m , A b sa lã o e A d o n ia s, foram mortos (2 Sm 1 3 :2 9 ; 1 8 :1 4 , 15; 1 Rs 2 :2 5 ). Tamar, a bela filha de D avi, foi estuprada por seu m eio irm ão (cap. 13), e as concubinas de Davi foram hum ilhadas publicam ente por A bsalão quando ele tomou o reino (1 6 :22 ). D urante o resto de sua vida, D avi passou por uma sucessão de tragédias, quer em sua família qu er em seu reino. Q u e alto preço pagou por aq u eles m o m ento s de p aixão com a esposa do próxim o! O s castigos que Deus determ inou para Davi haviam sido prescritos na aliança de D eus com Israel, a qual o rei deveria guar­ dar (Lv 2 6 ; Dt 2 7 —30). Se a nação se rebe­ lasse contra D eus, ele m ataria seus filhos na batalha (Lv 26:1 7; D t 2 8 :2 5 , 26), tomaria suas crianças (Lv 2 6 :2 2 ; Dt 2 8 :1 8 ), daria suas es­ posas a outros (D t 2 8 :3 0 ) e até mesm o tira­ ria Israel da terra e a levaria para o exílio em outro país (D t 28:63-68). C o m o resultado da rebelião de A bsalão, D avi foi obrigado a fu­ gir de Jerusalém e a viver no deserto. Po­ rém , a aliança tam bém incluía um a seção sobre o arrependim ento e o perdão (D t 30; Lv 2 6 :4 0 ss), e Davi creu nessas palavras. O p e rd ã o (vv. 13, 14). O prisioneiro con­ denado sabia que o julgam ento era verda­ deiro e a sentença era justa, de modo que, sem qualquer argum ento, confessou: "P e­ quei contra o S e n h o r " ( v . 13).6 Natã garantiu a D avi que o Senhor havia perdoado seu pecado. "Se confessarm os os nossos peca­ dos, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecad os e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1:9). "Se observares, S e n h o r , iniqüidades, quem , Senhor, subsistirá? Contigo, po­ rém, está o perdão, para que te tem am " (Sl 1 3 0 :3 , 4). Não é de se admirar que, posteriorm en­ te, Davi tenha escrito que o Senhor "é quem perdoa todas as tuas iniqüidades [...] quem da cova redim e a tua vida [...]. Q uanto dista o O riente do O cidente, assim afasta de nós as nossas transgressões" (Sl 103:3, 4, 12). No entanto, a resposta de Natã incluiu um "m as" ("M as, posto que"), pois apesar de D eus, em sua graça, haver perdoado os pecados de Davi, em sua soberania, teve de perm itir que D avi sofresse as conseqüências desses pecados, a co m eçar pela morte do bebê de Bate-Seba. Ao longo de todos os m eses que passou em silêncio, Davi sofrerá profundam ente, co m o é possível perceber em suas duas orações de confissão (Sl 32 e 5 1). O Salm o 32 retrata um hom em idoso e enferm o, não um guerreiro vig oroso, e : Salm o 51 descreve um hom em temente 2 D eu s q u e havia p erd id o quase tudo - s l í pureza e alegria, seu testemunho, sua sabe­ doria e sua paz - , um hom em cu jo grande m edo era que D eus tirasse dele o Espírito Santo, com o havia feito com Saul. Davi pas­ sou por dores físicas e em ocionais intensas mas deixou para trás duas orações precicsas para todos os cristãos que pecaram. Em função da obra com pleta de Cris*: na cruz, Deus pode salvar os pecadores e perdoar os cristãos desobedientes e, quant: antes os perdidos e os rebeldes se voltarepara o Senhor e se arrependerem , m elh c' será para eles. D avi escreveu: "C o n fe sse ke o meu pecad o e a m inha iniqüidade nãc mais ocultei. D isse: confessarei ao S e n h o s as m inhas transgressões; e tu perdoaste ; iniqüidade do meu pecad o. Sendo assirtodo hom em piedoso te fará súplicas e~ tempo de poder encontrar-te" ( S l 3 2 :5 , 6^ "Buscai o S e n h o r enquanto se pode acha' invocai-o enquanto está perto" (Is 55:6 . 5. A d is c ip l in a (2 Sm 12:15-23) A disciplina não é um castigo imposto um ju iz irado que deseja fazer cum prir a antes, é um a dificuldade permitida por Pai carinhoso que deseja que seus filhos sujeitem a sua vontade e que desenvoh um caráter piedoso. A disciplina é uma pressão do am or de D eus (Pv 3 :1 1 , 12), e termo hebraico usado em Hebreus 12:5-' significa "a ed u cação de um a criança, trução, ensino". O s m eninos gregos iam p i- í 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 o gymnasium ainda pequenos e aprendiam a correr, lutar, nadar e fazer exercício s de iT e m e sso , a fim de desenvolver uma "m en­ te sã e um corpo são". Na vid a cristã, nem sempre a disciplina é uma reação de D eus a dossa desobediência. Por vezes, ele nos pre­ para para um desafio que terem os pela fren­ te, com o um técnico preparando atletas para os jogos O lím pico s. Se o pecado não tives­ se co nseqüências dolorosas nem fosse se­ guido de q u a lq u e r d isc ip lin a da m ão de Deus, em que tipo de m undo insolente e irresponsável viveríam os? Bate-Seba deu à luz um m enino, o qual Natã prenunciou que m orreria, mas, ainda assim, Davi jejuou e orou, pedindo a Deus due cu ra sse a cria n ça . O S en ho r não in­ terrompeu as orações de Davi nem lhe or­ denou que p arasse de in te rc e d e r; afinai, oiante de todos os pecados que Davi havia cometido, não lhe faria mal passar o dia em Dração. D epois dos meses de silêncio e de separação de D eus, havia m uita coisa que Davi precisava colocar em dia com o Senhor. O bebê viveu apenas uma sem ana, e os pais ~ão puderam circuncidá-lo nem dar-lhe um nome no oitavo dia. Seu filho, Salom ão, re­ cebeu dois nom es (vv. 24, 25 ), mas esse fi-ho sequer teve um nome. Por que um D eus justo e am oroso não 'espondeu às o rações de um pai arrepen­ dido e extrem am ente aflito e não curou a criança?7 A final, não era culpa do bebê que os pais tivessem pecado contra o Senhor. A oropósito, por que Deus permitiu que Urias e alguns de seus com p anheiros do exé rci­ to m orressem em R abá só para que D avi se casasse com Bate-Seba? C o n tin u e faze n ­ do perguntas desse tipo e, no final, chega-á à m aior dúvida de todas: "p o r que um D eus de am o r p erm ite que o mal exista "este m undo?". Posteriorm ente, D avi olhou ca ra trás e c o n sid e ro u essa e x p e riê n c ia dolorosa co m o parte da "bo n dad e e mise-icórdia" de D eu s (Sl 2 3 :6 ) tanto para com ele quanto para com o bebê. "N ão fará jus­ tiça o Ju iz de to da a terra?", pergun to u ■\braão (C n 1 8 :2 5 ). A o ouvir as terríveis norc ia s do julgam ento de D eus sobre sua fa~iília, até m esm o Eli, o apóstata, confessou: 331 o S e n h o r ; faça o que bem lhe ap rouver" (1 S m 3 :1 8 ). Não há respostas simples que façam nossa mente sossegar, mas há muitas promessas confiáveis para aq uecer nosso co ­ ração, e a fé se alim enta de prom essas, não de explicações. U m a co isa é certa: a sem ana de jejum e o ração de D avi em súplica pelo bebê foi uma dem onstração de sua fé no Senhor e de seu am or por Bate-Seba e seu filhinho. Poucos m onarcas do O rie n te teriam derra­ m ado um a lágrim a sequer ou expressado uma só frase de tristeza se um bebê nasci­ do de uma das "esp o sas" do harém m or­ resse. A pesar de seus muitos pecad os, D avi ainda era um pastor sensível e um hom em segundo o co ração de D eus. Não havia sido "en d u recid o pelo engano do pecad o" (H b 3 :1 3 ). D avi se lavou, tro co u d e roupa, ado­ rou ao Senhor e voltou para a sua vid a, com todas as respectivas de ce p çõ es e deveres. "É Nas Escrituras, lavar-se e tro car de roupa sim bo liza um reco m eço (G n 3 5 :1 , 2; 4 1 :1 4 ; 4 5 :2 2 ; Êx 1 9 :1 0 ; Lv 1 4 :8 , 9; Jr 5 2 :3 3 ; Ap 3 :1 8 ). Não im porta o tem po nem a intensi­ dade da disciplina do Senhor, ele "não re­ preende perpetuam ente, nem co nserva para sem pre a sua ira" (Sl 1 0 3 :9 ). Pela graça e a m isericórdia de D eus, podem os sem pre re­ co m eçar. As palavras de Davi no versículo 23 ser­ vem de grande consolo para os que perde­ ram um filho pequeno, mas nem todos os estudiosos do Antigo Testam ento co n co r­ dam que as palavras do rei sejam uma reve­ lação de Deus. Talvez estivesse simplesmente dizendo: "M eu filho não pode voltar da cova nem do mundo dos espíritos que partiram, mas um dia eu me encontrarei lá com ele". Porém, que consolo há para nós no fato de que, um dia, todos m orrem? A declaração "não voltará para m im " mostra que Davi acre­ ditava que seu filho não seria reencarnado e que, tam bém , não ressuscitaria antes do tem po do Senhor. Além disso, afirm a que Davi esperava ver e reco nh ecer o filho na vida futura. Para onde Davi iria um dia? "H a ­ bitarei na C asa do S e n h o r para todo o sem­ pre" (Sl 2 3 :6 ; ver tam bém Sl 1 1 :7 ; 1 6 :1 1 ; 1 7 :1 5 ).8 S S líO T tÇ A AÜ&RgY C L A » 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 332 6. O c o n s o lo (2 Sm 12 :24 , 25) a co n clu ir o ce rco de Rabá (2 Sm 1 0 :1 4 ; Não im porta quão arrasados nos sintamos pela mão disciplinadora de nosso Pai am o­ roso, o Senhor tam bém oferece consolo (ver 1 1 :1 ; 1 2 :2 6 -3 1 ). A o s p o u co s, o e xé rcito israelita havia tom ado conta da cidade, pri­ meiro da região onde ficava o palácio real Is 4 0 :1 , 2, 9-11, 28-31). Antes de o menino morrer, Deus cham ou Bate-Seba de "m ulher de U rias" (v. 15), talvez porque essa era sua identidade quando o bebê foi co nceb id o , mas, no versículo 24, ela é a esposa de Davi, indicando que, assim com o D avi, ela tam ­ bém estava re co m eçan d o . Q u e evid ên cia extraordinária da graça de D eus o fato de a (v. 26) e, depois, da parte que controlava seu abastecim ento de água (v. 2 7 ). Joabe estava pronto para a últim a investida que encerraria o cerco, mas queria que o rei es­ tivesse lá para com andar o exército. Q uais­ quer que fossem seus defeitos, pelo menos Joabe desejava honrar seu rei. Davi foi a Rabá e liderou as tropas de incursão que derruba­ ram a cidade. Nenhum rei conseguiria usar por muito tempo uma coroa que pesava de vinte e cin­ co a trinta e três quilos, de modo que a "co­ roação" de Davi foi um ato de Estado breve, porém oficial, indicando a apropriação de A m om com o seu território. (A coroa im pe­ rial usada pelos reis e rainhas da Inglaterra pesa menos de um quilo e meio e, para os m o narcas, já parece um tanto pesada!) A coroa era extrem am ente valiosa, de modo que Davi a levou junto com a grande quan­ tidade de despojos encontrada na cidade. É bem provável que a m aior parte dessa riqueza tenha sido acrescentada aos tesouros do Se­ nhor e usada para a construção do templo. "m ulher de U rias" ser m encionada na genea­ logia do M essias (M t 1 :6), juntam ente com Tam ar (M t 1 :3 ; G n 38), Raabe e Rute (M t 1:5; Js 2 e 6:22-25; Rt 1, 4; Dt 2 3 :3 ). Pelo m enos nove m eses encontram -se condensados nos versículos 24 e 25, nove meses da graça e da terna m isericórdia de Deus. Foi Deus quem fez com que o corres­ se a co n cepção e quem providenciou para que aquele bebê tivesse a "estrutura genéti­ ca" necessária para realizar sua vontade (Sl 139:13-1 6 ) . " O S e n h o r o am ou" de m aneira muito particular e até mesm o deu a Salom ão ("p a cífico ") um nom e especial: "Jedidias am ado pelo S e n h o r " . U m a vez que Davi sig­ nifica "am ado", pai e filho foram ligados por nom es sem elhantes. Deus havia dito a Davi que esse filho nasceria e construiria o tem­ plo (2 Sm 7:12, 13; 1 C r 22:6-10) e cumpriu sua promessa. Toda v ez que Davi e Bate-Seba olhavam para Salomão, sua presença os lem­ brava de que Deus havia perdoado seu pas­ sado e garantido seus planos para o futuro. 7. Â S C O N Q U I S T A S (2 Sm 12:26-31; 1 C r 20:1-3) No en tan to, D avi ainda tinha o trabalh o do reino a realizar, in clu sive aju dar Joabe 1. Davi co loco u alguns de seus prisionei­ ros de guerra para trabalhar com serras, pi­ caretas e m achados e pôs outros para fazer tijolos. Em sua graça, D eus concedeu essa vitória a D avi, apesar de o rei ter se mostra­ do um hom em rebelde. Ele e seu exército voltaram para Jerusalém , onde D avi a in c í passaria por mais disciplinas, dessa vez pat meio dos mem bros adultos de sua famíl i . H avia forçado os am onitas a deixarem suas espadas, mas uma espada havia sido dese~bainhada em sua família. 1 C rô n icas não apresenta relato algum dos grandes pecados de D avi. Esse livro foi escrito do ponto de vista do sa ce rd o o o J e sua ênfase é sobre a grandeza dos reis, não sobre seus pecados. D avi e Salom ão são descritos com o "g o ve rnà-íic* ideais". 2. W atts, 3. O verbo "enviar" é repetido com freqüência nos capítulos 11 Isaac. "D ivin e Songs for Children", 1715. e 12. Ver 11:1, 3, 4, 5, 6 (duas vezes), 8, 12, 14, 18, 22; 1 2 _ lJ 25, 27. O s pecados de Davi m obilizaram todo mundo! 4. B l a ik l o c k , 5. B u tler , E. M . Professor Blaiklock’s H a nd b oo k o f Bible People. Londres: Scripture U nion, 1979, p. 210. Joseph. Fifteen Serm ons. Charlottesville, V A : Ibis Publishing, 1987, p. 114. 2 SAMUEL 1 1 - 1 2 ó. 333 Saul usou a declaração "pequei" três vezes, m as não com sinceridade (1 Sm 15 :2 4 , 30; 26 :2 1). Davi disse "pequei" pelo menos cin co vezes (2 Sm 12 :1 3 ; 24 :1 0 , 17 [1 C r 2 1 :8 , 17]; Sl 4 1 :4 ; 5 1 :4 ). Davi foi o filho pródigo do Antigo Testamento, aquele que se arrependeu e "voltou para casa", onde encontrou perdão (Lc 15 :1 8, 21 ). Para outras pessoas que fizeram essa mesma declaração, ver Êxodo 9 :2 7 ; Números 2 2 :3 4 ; Josué 7:20 ; 2 Sam uel 19 :2 0 ; M ateus 27:4. W. Com o aconteceu com Jonas e a cidade de Nínive, o decreto de julgamento de Deus pode ser interrompido pelo arrependimento das pessoas envolvidas (Nínive só caiu m ais de um século depois). A previsão de que o bebê de Bate-Seba m orreria cumpriuse na m esm a sem ana, pois Deus escolheu agir naquele m om ento. O caráter e os propósitos de Deus não mudam, mas a fim de cum prir esses propósitos, ele muda seu tem po e seus métodos, ê. U m a v e z que as Escrituras não apresentam uma revelação conclusiva sobre a questão da m orte de crianças, os teólogos buscam uma solução para esse problem a, enquanto cristãos fiéis e tementes a Deus, muitas vezes, não chegam a um consenso. Para um a visão teológica equilibrada e sensível, ver N a s h , Ronald H . W hen a Baby Dies. Zondervan, 1999. os pecad os de Davi (1 2 :1 3 ), mas o rei des­ cobriu que as co n seq ü ê n cias de pecados p e rd o a d o s são dolorosas. D eus havia aben­ ço ad o D avi com m uitos filhos (1 C r 2 8 :5 ), mas o Senho r transform aria algum as des­ sas bênçãos em m aldições (M l 2 :1 , 2). "A tua m alícia te castigará, e as tuas infidelida­ des te rep reend erão " (Jr 2 :1 9 ). O s aconte­ 2 Sam uel 1 3 - 1 4 cimentos dos capítulos 13 e 14 desdobram-se co m o um a sinfonia trágica com cin co mo­ vim entos: do am or à lascívia (1 3 :1-1 4 ), da la s c ív ia ao ó d io (1 3 :1 5 - 2 2 ), do ódio ao im os nos d e z p rim eiros cap ítu lo s de h om icídio (1 3 :23 -3 6 ), do hom icídio ao exí­ 2 Samuel com o Deus deu poder a Davilio (1 3 :3 7 -3 9 ) e do exílio à re co n ciliação para derrotar os inim igos de Israel e para (1 4 :1-2 3 ). consolidar e expandir o reino. Em seguida, D avi com eteu os pecados de adultério, ho­ 1. Do A M O R À L A S C Í V I A (2 Sm 13:1-14) m icídio e falso testemunho (caps. 11 - 12); A b salã o é m e n cio n ad o p rim eiro , pois os o restante do livro mostra Davi lutando com capítulos 1 3 - 1 9 concentram -se na "histó­ problemas causados pelos próprios filhos. Fo­ ria de A bsalão"; Tam ar era sua irmã por par­ 6 Os Filh o s Rebeldes de D avi V ram dias som brios e cheios de decepções, mas o rei continuou a depender do Senhor, que, por sua vez, o capacitou a superar es­ sas provações e a preparar as nações para o reinado de seu filho, Salom ão. Aquilo que a vida faz co n o sco depend e do que a vida encontra em nós, e, no caso de D avi, en­ controu uma fé vigorosa no D eus vivo. A bsalão é o ator principal dessa parte do drama, pois contribuiu para transformar o drama em tragédia.1 O s três herdeiros do trono de Davi eram A m nom , o primogênito de D avi, A b salã o , seu terceiro filh o ,2 e o quarto filho, Adonias (1 C r 3 :1 , 2). D eus ha­ via advertido Davi de que a espada não se apartaria de sua casa (2 Sm 1 2 :1 0 ), e Absalão (que significa "p a c ífic o ") foi o prim eiro a empunhá-la. O julgam ento de Davi contra o hom em rico da história de Natã foi: "pela cordeirinha restituirá quatro veze s" (1 2 :6 ), e esse julgam ento foi executado contra o pró­ prio D avi. O bebê de Bate-Seba m orreu; A bsalão matou Am nom por haver estupra­ do Tam ar; Joabe matou Absalão durante a batalha no monte Efraim; e Adonias foi mor­ to ao tentar usurpar o trono de Salom ão (1 Rs 2:12-25). Davi estava reinando sobre Israel, mas o pecado e a morte reinavam sobre sua fam í­ lia (Rm 5 :1 4 , 17, 21). D eus havia perdoado te de pai e m ãe. Tanto Tam ar quanto Absalão eram conhecidos por sua beleza física (1 3 :1; 1 4 :2 5 ). Sua mãe era M aaca, princesa da casa real de Talmai em C esu r, um pequeno reino aram eu próxim o ao mar da G aliléia. Por cer­ to, Davi havia tomado M aaca com o esposa a fim de estabelecer um tratado de paz com o pai dela. O fato de A bsalão ter sangue real nas veias tanto por parte de pai com o de mãe pode tê-lo im pelido em sua busca egoísta por um reino. A m nom era o filho mais velho de Davi e, ao que tudo indicava, o herdeiro ao tro­ no, de modo que talvez sentisse que tinha mais privilégios que os outros filhos. O amor anorm al que nutriu por sua meia-irmã era perverso e, no m om ento que esse desejo teve início, A m nom deveria ter parado de alimentá-lo (M t 5:27-30). Não se tratava ape­ nas de um pecado contrário à natureza, mas tam bém de uma vio lação dos padrões de pureza sexual estabelecidos pela lei de Deus (L v 1 8 :9 - 1 1 ; 2 0 :1 7 ; D t 2 7 :2 2 ) . Porém , Am nom apaixonou-se de tal modo por Tamar que acreditou estar am ando de verdade a m oça, chegando a ad o ecer com o resultado desse sentim ento. As princesas virgens eram mantidas isoladas em seus aposentos, separa­ das até mesm o dos parentes do sexo opos­ to, e a im aginação de A m no m trabalha\a 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 in c e s sa n te m e n te e n q u a n to p e n sa v a em Tamar. Jon adabe era prim o de A m no m , filho de Sam á, irm ão de D avi, cham ado aqui de Sim éia (1 Sm 1 6 :9 ). Tam bém era um ho­ mem astucioso e, provavelm ente, funcionário de segundo escalão no palácio. Jonadabe ap are ce no vam ente em 2 Sam uel 1 4 :3 2 , depois que A m nom é m orto pelos servos de A bsalão. Q u alq u er um que facilita o pe­ cado em nossa vida certam ente não é um am igo verdadeiro. Na verdade, ao seguir o co nselho de Jonadabe, Am nom acabou por tornar-se estuprador, co m eter incesto e ser assassinado. É bem provável que Am nom tivesse co ­ m eçado a se recuperar da sua "enferm idade am orosa", pois precisou fingir estar doente quando Davi foi visitá-lo. Talvez o filho do rei tenha pensado: "Se meu pai conseguiu safar-se de um adultério, então, sem dúvida também posso me safar de um estupro"... prova do poder destrutivo dos maus exem ­ plos. "C o m o fonte que foi turvada e manan­ cial corrupto, assim é o justo que cede ao perverso" (Pv 2 5 :2 6 ). A fam ília de Davi ha• ia sido turvada, e as conseqüências seriam trágicas. Davi era conhecido por sua sabe­ doria e discernim ento aguçado (2 Sm 14:1 7, 20 ), mas depois de todo o ep isód io com Bate-Seba, parece ter perdido parte de sua o ersp icácia. A o o rd e n ar que Tam ar aten­ desse o pedido do meio-irmão, condenou a ■;lha a uma experiência de dor e de huminação e, dois anos depois, quando Davi per­ mitiu que Am nom participasse do banquete de Absalão, mandou seu primogênito para " o matadouro. Tam ar preparou os bolos especiais para Am nom , o qual pediu que todos saíssem para que ele pudesse desfrutar sua refeição com a irm ã e, depois, violentou Tamar. Aqui­ lo que pensava ser am or, na verdade não passava de lascívia, uma paixão que se apo­ derou dele de m odo a transformá-lo num animal. E evidente que Tamar resistiu o quan­ to pôde. Sua recusa em cooperar baseou-se na lei de Deus e na responsabilidade de Israel em ser diferente dos vizinhos pagãos (v. 12). O pecado de Davi havia dado ocasião a que 335 o inimigo blasfem asse contra D eus (v. 14). O uso que Tam ar faz dos termos "loucura" e "loucos" (vv. 1 2 ,1 3 ) nos lembra de G ênesis 34 e de Juízes 19 - 2 0 , mais duas cenas desprezíveis de estupro registradas nas Es­ crituras (ver G n 3 4 :7 ; Jz 19 :2 3 , 24 ; 2 0 :6 , 10). Tam ar tentou ganhar tempo sugerindo que Am nom pedisse perm issão ao rei para ca­ sar-se com ela (v. 13), apesar de saber que esse tipo de casam ento era proibido pela lei de M oisés (Lv 18:9-11; 2 0 :1 7 ; Dt 2 7 :2 2 )? 2. D a l a s c í v i a a o (2 Sm 13:15-22) ó d io Am nom pensou que am ava Tamar. ro, afligiu-se por causa dela (vv. 1, pois, caiu enfermo de desejo por ela ponto de em agrecer (v. 4 ). Porém , Prim ei­ 2), de­ (v. 2) a depois de com eter esse ato vergonhoso, sentiu ódio intenso por Tam ar e quis se livrar dela! O verdadeiro am or jam ais violaria o corpo do outro sim plesm ente para satisfazer apetites egoístas nem tentaria persuadir o outro a desobedecer à lei de D eus. Em seus desejos sensuais, A m n o m confu ndiu la scívia com am or e não percebeu que existe uma linha tênue que separa o am or egoísta (lascívia) do ódio. Antes de pecar, queria Tam ar so­ mente para si; mas depois de pecar, não viu a hora de livrar-se dela. O s pecados sexuais produzem esse tipo de dano em ocional. A o tratar outras pessoas com o objetos a serem usados, termina-se por deixá-las de lado, com o brinquedos quebra­ dos ou roupas velhas. No versículo 1 7, a pa­ lavra "m u lh e r" não ap arece no texto em hebraico, de modo que Am nom estava di­ zen d o : "Jogue fora esta coisa!". Isso explica por que Tam ar acusou Am nom de ser ainda mais cruel ao expulsá-la do que ao violentála. Um a vez que havia perdido a virgindade, não havia muitas possibilidades de casam en­ to para Tamar, e ela não poderia mais viver nos aposentos junto com as virgens. Para onde iria? Q u em lhe daria abrigo? Q u em iria querê-la? C om o seria cap az de provar que Am nom era o agressor e que ela não o ha­ via seduzido? Tam ar dirigiu-se aos aposentos do irmão, Absalão, pois, num a sociedade polígam a era 336 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 responsabilidade de um irmão por parte de pai e mãe proteger a honra da irm ã.4 Q u an ­ do Absalão viu as lágrimas, as vestes rasga­ das e as cinzas sobre sua cabeça, percebeu a profunda aflição e hum ilhação de Tam ar e deduziu que Am nom a havia violentado. Sua pergunta: "Esteve A m nom , teu irm ão,5 co n­ tigo?" (v. 20) revela essa co nclusão, pois a expressão "estar com alguém " é um eufe­ m ism o e q u ivale n te a "ir para ca m a com alguém ". O s m exericos do palácio não dei­ xavam passar muita coisa, de modo que é bem provável que A bsalão tivesse ficado sa­ bendo da "doença" de Am nom e da visita que Tam ar pretendia fazer aos aposentos do meio-irmão. M as se Absalão estava tão preo­ cupado com a irmã, por que não a alertou a ficar longe de Am nom ? O rei havia ordena­ do que Tam ar visitasse o meio-irmão, e as palavras de Absalão não poderiam mudar a ordem do rei. Não havia o que fazer senão adverti-la a não ficar sozinha com Am nom . Talvez Tam ar tenha dito que contaria ao rei o que havia acontecido, mas seu irmão sugeriu que esperasse. Por quê? Sem dúvida, a mente astuta de Absalão já estava criando um plano para cum prir três propósitos: vin­ gar Tamar, livrar-se de Am nom e colocar-se com o o próxim o na linha de sucessão ao trono! Sua declaração "é teu irm ão" (v. 20) significa: "Se fosse outro hom em , eu a vin­ garia im ediatam ente, mas uma vez que ele é teu irm ão, será preciso ter p aciência e es­ perar um a o p o rtu nid ad e". A b salão estava tentando evitar um escândalo que entriste­ ceria a fam ília e que prejudicaria seus pla­ nos de tomar o trono. O rei Davi soube da tragédia e se enfure­ ceu, mas o que poderia dizer? A lem brança dos próprios pecados calou sua boca. Além disso, com o castigar o filho prim ogênito e herdeiro de seu trono? D e acordo com a lei, se um hom em estuprava um a virgem que não estava noiva, deveria pagar uma multa ao pai dela e se casar com a m oça, sendo proibido de se divorciar (D t 2 2 :2 8 , 29). Po­ rém, a lei tam bém não perm itia o casam en­ to entre meios-irmãos, de modo que Am nom casar-se com Tam ar estava fora de questão (Lv 1 8 :9 ). Davi havia com etido dois crim es capitais - adultério e hom icídio - , e Deus não havia aplicado a lei a ele. Assim , nem Davi nem Absalão disseram coisa alguma a Am nom sobre seu ato per­ verso. Na verdade, A bsalão sequer falou com Am nom ("nem mal nem bem "), mas simples­ mente esperou o m omento certo para matálo e vingar a irm ã. No entanto, Jonadabe, am igo de A m no m , sabia que A bsalão de­ sejava m atar A m nom , pois disse: "assim já o revelavam as feições de Absalão, desde o dia em que sua irmã Tam ar foi forçada por A m n o m " (1 3 :3 2 ). Se Jon adabe pôde per­ c e b e r o que estava a c o n te c e n d o , ta lv e z outros tam bém tenham suspeitado de algu­ ma co isa. A la scív ia de A m n om havia se transform ado em ódio, mas a essa altura, era A bsalão quem estava alim entando em seu co ra çã o o ódio que daria à luz o hom icídio (M t 5 :2 1 , 22). Então, com Am nom fora do cam inho, A bsalão poderia se tornar rei.6 3. D o Ó D I O A O H O M I C Í D I O (2 Sm 13:23-36) Nas palavras do escritor francês Emile Gaboriau: "A vingança é um fruto saboroso que deve ser guardado até am adurecer". Absalão esperou dois anos para vingar o estupro da irm ã, mas, quando chegou a hora, estava pronto para agir. G raças à generosidade do pai, os príncipes não apenas possuíam car­ gos oficiais, mas também eram proprietários de terras e de rebanhos. As terras e os reba­ nhos de A b salão ficavam em Baal-Hazor, cerca de vinte e dois quilôm etros de Jerusa­ lém. Era costum e em Israel preparar enor­ m es banq u etes na é p o ca da to sq uia das ovelhas e convidar os mem bros da família e os am igos para com p artilhar essa ocasião festiva. A bsalão pediu ao pai que com parecesse à festa e que levasse consigo seus oficiais, mas Davi recusou o convite, explicando que um núm ero tão grande de convidados seria um a d esp esa d e sn e ce ssá ria para o filho. A bsalão esperava uma resposta desse tipo, pois não queria que D avi e seus guardas estivessem presentes quando Am nom fosse morto. Então, perguntou a Davi se permitiria que A m nom , seu sucessor, com parecesse à 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 festa, pedido que deixou Davi um tanto apre­ ensivo. Porém , D avi sabia que o príncipe herdeiro o representava com freqüência em o casiõ e s que exigiam a p re se n ça do rei, então por que não representar D avi no ban­ quete de Absalão? Além disso, dois anos se oassaram desde que Am nom havia violenta­ do Tamar, e A bsalão não tinha feito coisa aiguma contra ele. A fim de garantir certa segurança a A m n o m , D avi foi ainda mais longe e permitiu que todos os filhos adultos do rei com parecessem ao banquete, supon­ do que A bsalão não ousaria atacar Am nom diante de tantos mem bros da família. Porém , durante esses dois anos, Absalão havia aperfeiçoado seu plano e feito prepa­ rativos para fugir. D avi, seu pai, havia provi­ d en cia d o para que U ria s, o heteu, fo sse morto e havia sobrevivido, então por que o mesmo não poderia se aplicar a seu filho, Absalão? Assim com o o pai, Absalão usou as mãos de outros para executar o crim e e o fez quando a vítim a menos esperava. Davi la v ia em briagado Urias, mas não conseguiu co lo c a r seu plano em p rá tica, en q u an to Absalão em briagou o irmão e fez exatam en­ te aquilo que havia planejado. A bsalão se­ guiu o péssim o exem plo do pai e com eteu jm hom icídio premeditado. Q uand o Absalão deu a ordem para que os servos m atassem A m n om , os príncipes que se encontravam no banquete fugiram, tentando se salvar, certos de que A bsalão havia planejado exterm inar toda a fam ília real e tomar o trono. O s jovens m ontaram em suas mulas, "anim ais da realeza" (1 8 :9 ; 1 Rs 1:33, 38, 44 ), e voltaram a Jerusalém tão rá­ pido quanto seus anim ais eram capazes de andar. M as A bsalão tam bém fugiu (vv. 34, 37), e é provável que seus servos o tenham acom panhado. Nos versículos 30 a 36, que constituem uma inserção, deslocamo-nos de Baal-Hazor oara Jerusalém e vem os os príncipes que naviam fugido da festa do ponto de vista de D avi. A ntes de os guardas na m uralha da cidad e co n segu irem distinguir os hom ens que cavalgavam em disparada rumo a Jeru­ salém, um m ensageiro da casa de Absalão chegou anunciando que todos os filhos do 337 rei haviam sido mortos na casa de Absalão! (As más notícias espalham-se rapidam ente e são, com freqüência, exageradas.) Davi ras­ gou as vestes e se lançou por terra em sinal de luto (1 2 :16 ), sem dúvida alguma culpan­ do-se por ter permitido que os filhos compare­ cessem ao banquete de Absalão. Jonadabe, sobrinho de D avi, que sabia mais do que estava disposto a admitir, relatou a verdade ao d ize r que ap en as A m no m havia sido m orto.7 Até mesm o essa notícia, porém , foi um golpe terrível para Davi, pois Am nom era seu prim ogênito e herdeiro do trono. O s príncipes que haviam fugido chegaram em segurança, e todos se reuniram para expres­ sar sua tristeza profunda, pois Am nom esta­ va m orto por ordem de Absalão. O problem a da vingança é que, na ver­ dade, não resolve coisa alguma e acaba se vo ltando con tra aq u ele que a tom ou nas mãos e ferindo o vingador. "Ao se vingar", escreveu Francis Bacon, "um homem colo­ ca-se no m esm o nível do inim igo, mas ao abrir mão da vingança, torna-se superior a e le ".8 N inguém foi tratado de m odo mais injusto e desum ano do que Jesus Cristo em seu julgam ento e cru cificação , e, no entan­ to, ele se recusou a revidar. Cristo é nosso exem plo (1 Pe 2:18-25). O velho slogan: "não se e x a sp e re , vin g u e -se !" pode ag rad ar a alguns, porém jam ais será agradável ao Se­ nhor. O modo de viver do cristão é de per­ dão e de fé, confiando que o Senhor fará tudo cooperar para o nosso bem e para a sua glória (1 Pe 4:12-19). 4 . D O H O M IC ÍD IO AO EXÍLIO (2 S m 13:37-39) O texto diz, em duas ocasiões, que Absalão fugiu (vv. 34, 37 ), e é bem provável que te­ nha escapado durante a confusão, quando os outros filhos do rei tam bém fugiram. So­ m ente A bsalão e seus servos culpados sa­ biam o que aco n te ce ria no banq uete, de m odo que os convid ados foram pegos de surpresa. Todos foram testemunhas do "mais vil dos hom icídios" e podiam facilm ente de­ clarar que Absalão era culpado. Absalão fugiu quase cento e trinta quilô­ metros para o nordeste, para a casa dos avós 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 338 m aternos em G esu r, onde seu avô Talmai era rei (3 :3 ). Sem dúvida, esse refúgio havia sido preparado de antem ão e, possivelm en­ te, Talmai teria se agradado de ver o neto Israel tivesse um príncipe pronto para reinar, caso alguma coisa acontecesse a Davi, que estava, a essa altura, com quase sessenta anos de idade. No entanto , A b salão não coro ado rei de Israel. Em Jerusalém , Davi pran teava seu p rim o g ê n ito , A m n o m . Em G esu r, porém , o filho exilad o estava, por poderia voltar para casa a menos que Da\i assim o permitisse, e o rei não daria sua per­ missão até que estivesse convencido de que era a co isa certa a fazer. Era obrigação do rei cum prir a lei, e Absalão era culpado de tramar o assassinato do meio-irmão, Am nom .' Davi am ava seu filho e, sem dúvida algu­ ma, sabia de sua parcela de culpa por tê-lo certo, tram ando com o poderia tomar o rei­ no do pai. A tristeza normal é curada com o devido tempo e, depois de três anos, Davi estava conform ado com a morte do prínci­ pe herdeiro. A oração: "o co ração do rei com eçava a inclinar-se para A b salão " (1 4 :1 ) tem , pelo menos, duas interpretações. Pode significar que Davi desejava muito ver o filho outra vez - o que é com preensível - ou que Davi plan ejava p e rseg u ir A b sa lã o e a c e rta r as contas co m ele, mas qu e sua ira foi se apa­ gando aos poucos. Prefiro a segunda interpre­ tação. Se D avi tivesse realm ente desejado que A bsalão voltasse, poderia ter consegui­ do isso com facilidade, uma vez que Joabe era a favor dessa idéia (1 4 :2 2 ), e os paren­ tes de D avi em G e su r teriam co o p erad o . Porém , quando A bsalão voltou para casa, Davi manteve-se distante dele por dois anos (v. 28)! Se o rei estivesse m esm o ansioso para rever o filho, sua atitude foi bastante estranha. A o que parece, o co ração de Davi estava dividido: sabia que o filho m erecia ser castigado, mas, ao m esm o tem po, era co nh ecido pela leniência com que tratava os filhos (1 Rs 1:6). A princípio, a intenção de Davi era tratar A bsalão com severidade, mas, por fim, mudou de idéia à medida que sua atitude foi se alterand o. C o n fo rm e o capítulo 14 explica, Davi transigiu quando, fin alm en te , trouxe A b salã o de vo lta para casa, mas, ao mesmo tempo, o castigou ao ad iar um a re co n cilia ç ã o co m p leta. C in co anos se passaram até que pai e filho se en­ contraram outra vez (2 Sm 1 3 :3 8 ; 14:28). m im ado, mas co m o resolver esse dilem a; jo a b e ofereceu a solução para o problema. Jo a b e apresenta sua a rgu m en tação ao re i (vv. 1-20). Assim com o Natã havia con­ frontado Davi, o pecador, contando-lhe uma história (12:1-7), Joabe confrontou Davi, o pai, com um relato inventado d e um proble­ ma fam iliar narrado por uma m ulher que era não apenas sábia, mas tam bém um a boa atriz. Ela procurou o rei vestida em trajes de luto e lhe contou os problem as de sua famí­ lia. Seus dois filhos haviam discutido no cam­ po e um deles havia matado o outro (uma história parecida com a de Caim e A bel, Gn 4 :8 -1 6 ). O s outros parentes queriam exe­ cutar o filho culpado e vingar o sangue do irmão (Nm 3 5 :6 ss; Dt 19:1-14), mas a mu­ lher discordava deles. M atar seu único filho daria cabo de sua fam ília e "[apagaria] a últi­ ma brasa" (v. 7). D e acordo com a lei, o filho que havia assassinado o irmão era culpado e deveria ser executado (Êx 2 1 :1 2; Lv 24:17),. (2 S m 14:1-33) mas ela desejava que o rei perdoasse o filho culpado. A história de Natã sobre a cordeirinha com oveu Davi com o pastor de ovelhas, e essa história sobre um a fam ília em pé de guerra tocou seu co ração de pai. Sua pri­ m eira reação foi garantir-lhe: "eu darei or­ dens a teu respeito" (v. 8), mas, para ela. isso não era suficiente. Por vezes, as engre­ nagens do governo se movem com lentidão e seu caso era um a q u e stão de v id a o l morte. Q u an d o a m ulher declarou que as­ Joabe conhecia o rei muito bem e identifi­ cou os sinais de que Davi ansiava por ver o filho exilado. C om o com andante do exérci­ to, um a das preocupações de Joabe era que sum iria a culpa pela decisão que o rei to­ masse, Davi prometeu protegê-la de qualqueum que falasse contra ela sobre esse a ssi.'to (vv. 9, 10). Nem assim, porém , a mulhí-- 5. Do E X ÍL IO À R E C O N C IL IA Ç Ã O 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 • cou satisfeita, de modo que pediu ao rei :u e jurasse, garantindo que seu filho não seria morto, ao que Davi concordou (v. 11). _ m juram ento feito em nom e do Senhor "ansform ava as palavras num a obrigação e ~ão podia ser ignorado. A m ulher havia encurralado D avi (vv. 1217). Se eie se dispusera a proteger um filho zjlp a d o que sequer co n h ecia, ainda m aior seria sua obrigação de proteger o próprio ~ ho am ado! Ela havia abordado o rei com -T ia questão envolvendo o futuro de uma cequena fam ília, mas a questão de Absaão dizia respeito ao futuro de um a nação ite ira . O rei não queria ver o único filho e -erdeiro daquela m ulher ser executado, mas estava disposto a perm itir que o príncipe “ erdeiro fosse m antido no e xílio . Se per­ doou o assassino do filho daquela mulher, co r que não poderia perdoar o hom em que "avia planejado a m orte de Am nom ? Q u an ­ to tempo o rei ainda iria esperar até man­ car buscar o filho? A final, a vida é curta e, cuando chega ao fim , é com o água derra­ mada na terra que não pode ser recuperaca. Execu tar o assassino não pode trazer de volta a vítim a, então por que não lhe dar mais um a chance? Deus não faz acepção de pessoas, e sua lei é perfeita, mas até m esm o D eus cria for­ mas de dem onstrar m isericórdia aos trans­ gressores e de perdoá-los (v. 14). Por certo, ele castiga o pecado, mas também procura m aneiras de reconciliar o pecador consigo. iÉ possível que a mulher tivesse em mente Éx 32:30-35 e 34:6-9.) A caso o Senhor não havia perdoado os pecados de Davi? A mu­ lher confessou seu tem or de que sua família executasse seu filho e tirasse dela a herança que Deus havia lhe dado. Foi um discurso com ovente, que tocou D avi. Porém, sendo um homem sábio, o rei se deu conta de que o significado mais pro­ fundo da súplica dessa m ulher ia muito além dos limites de sua fam ília e propriedade. Davi :eve discernim ento suficiente para perceber que ela estava falando do rei, de A bsalão e do futuro de Israel, a herança de D eus. A essa altura, tam bém deve ter co m p reend i­ do que a história toda não passava de uma 339 invenção e que outra pessoa estava por trás de tudo o que a suposta viúva havia falado. A verdade, então, veio à tona, revelando que, de fato, Joabe havia tram ado todo o episó­ dio, mas sua m otivação era das mais nobres: "Para mudar o aspecto deste caso foi que o teu servo Joabe fez isto" (v. 20). J o a b e a g ra d ece a o r e i (vv. 21-27). Sem dúvida, foi Joabe quem levou a mulher ao palácio para ter essa audiência com o rei e é provável que tenha ficado na sala e ouvi­ do todo o diálogo dos dois. Davi havia ju ra­ do proteger a m ulher e seu filho, de modo que não lhe restava outra co isa a fazer se­ não permitir que Absalão voltasse para casa. Assim , ordenou que Joabe fosse a G esu r e trouxesse o exilado para Jerusalém . As pala­ vras de Joabe no versículo 22 sugerem for­ tem ente que havia discutido o assunto com Davi mais de uma v e z e que se regozijou grandem ente ao v e r a questão reso lvid a. G e su r ficava a quase cento e trinta quilô­ metros de Jerusalém , e Joabe não perderia tempo na viagem , de modo que A bsalão pu­ desse estar de volta em casa um a sem ana ou dez dias depois. No entanto, algum as restriçõ es foram im postas ao príncipe herdeiro. D everia per­ m anecer em suas próprias terras - o que eqüivalia praticam ente a uma prisão dom i­ ciliar - e não teria perm issão de ir ao palá­ cio ver o pai. D avi estava testando o filho para determ inar se poderia confiar nele, ou talvez tivesse pensado que essas restrições assegurariam ao povo que o rei não estava m im ando o filho problem ático. Porém , es­ sas lim itações não foram em pecilho para a expansão da popularidade de Absalão, pois era am ado e louvado pelo povo. O fato de ter tram ado a m orte do m eio-irm ão e de haver provado sua culpa ao fugir não signi­ ficava muita coisa para o povo, pois as pes­ soas precisam de ídolos, e que figura mais apropriada que a de um príncipe jovem e bem apessoado? A falta de caráter era irre­ levante; o que im portava era sua posição, sua riq u e za e sua e x c e le n te a p a rê n c ia .10 A bsalão era um íco ne de m asculinidade, e o povo o invejava e admirava. As coisas não mudaram muito. 340 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 Q uaisquer que fossem, possivelm ente, os general, pois a lei exigia que um incendiário atributos de A bsalão, uma coisa que lhe fal­ tava era um grande núm ero de filhos para dar continuidade a seu nom e "céleb re". E ressarcisse o p ro p rietário do cam p o cuja plantação ele havia destruído (Êx 2 2 :6 ). O povo ficou sabendo do incêndio, de modo que Joabe pôde visitar Absalão sem medo provável que os três filhos m encionados no versícu lo 2 7 tenham m orrido ainda muito jovens, pois 2 Samuel 18:18 diz que, naque­ la época, Absalão não tinha filho algum. Não é de surpreender que tenha dado à sua filha o nom e da irmã, Tamar. Sem pre um egotista, Absalão ergueu uma coluna para servir de lem brança a todos de sua grandeza. Jo a b e leva A b sa lã o ao r e i (vv. 2 8 -3 3). Um a "m ulher sábia" dissim ulada poderia ter uma audiência com o rei, mas o próprio filho do rei foi banido de sua presença. Absalão aceitou esse arranjo por dois anos, crendo que Joabe conseguiria que Davi aceitasse um a reconciliação, mas Joabe não fez coisa alguma. Absalão sabia o que significava ser banido da presença do rei: ninguém espe­ raria que herdasse o trono. Era uma situa­ ção com plicada, pois, mais do que qualquer outra coisa, Absalão desejava ser rei de Is­ rael. Um hom em astuto com o Joabe deve ter percebido que A bsalão tinha planos de subir ao trono e que a popularidade cada v e z m aior do príncipe poderia oferecer-lhe o apoio de que precisava para assumir o con­ trole do reino. Sabendo com o a situação era instável, o general persp icaz afastou-se de A bsalão, a fim de não dar a im pressão de que estava sendo controlado pelo príncipe egotista. D epois de dois anos de espera, durante os quais convocou Joabe duas vezes e foi ignorado, Absalão decidiu que era necessá­ rio tomar uma medida drástica. O rdenou que seus servos ateassem fogo à plantação de cevada de seu vizinho, que, por acaso, era Jo ab e.11 Com isso, conseguiu a atenção do de ser mal interpretado. Absalão apresentou duas alternativas ao general: ou ele o levava ao rei e deixava que recebesse seu filho e que o perdoasse ou o levava à justiça e provava que era culpado de um crim e capital e m erecia morrer. Absalão preferia ser executado a continuar vivendo sob vergonhosa prisão domiciliar. Joabe esta­ va entre o fogo e a frigideira, pois ele próprio havia planejado a volta de Absalão a Jerusa­ lém. Sabia que o povo jam ais permitiria que sua figura real mais querida fosse julgada e condenada por um crim e, mas com o garan­ tir que o rei se reconciliaria com seu filho? jo a b e transmitiu a mensagem de Absalão a Davi, e o rei convidou o filho a visitá-lo, re­ cebendo-o com um beijo de reconciliação. D epois de cinco anos de separação, pai e filho se reuniram (2 Sm 1 3 :3 8 ; 14:28). Não há registro algum de que Absalão tenha se arrependido e pedido perdão ao pai, ou que tenha visitado o templo e ofere­ cido os devidos sacrifícios. Apesar de pai e filho estarem juntos outra vez, não se trata­ va de uma paz verdadeira, mas sim de uma trégua muito delicada. A bsalão ainda alimen­ tava am bições secretas e estava determina­ do a tom ar o trono de Davi. U m a vez livre, o príncipe poderia visitar a cidade e desfru­ tar a ad ulação da m ultidão, enquanto, ao mesm o tempo, organizava calm am ente seus sim patizantes para a futura rebelião. Dav: estava prestes a perder o trono, a coroa, as c o n cu b in a s, o co n se lh e iro de co n fian ça, Aitofel, e, por fim, o filho, A bsalão. Seria o momento mais som brio da vida do rei. 1. M esm o depois da m orte de Absalão, seu nom e e sua m em ória lembravam o povo do mal (2 Sm 2 0 :6 ; 1 Rs 2 :7, 28; 1 5 :2 ,1 0 : 2. É bem provável que Q uileabe (ou Daniel), segundo filho de Davi, tenha m orrido ainda jovem , pois exceto pela genealogia real 2 C r 11:20, 21). ele não é m encionado no relato bíblico (1 C r 3:1). 3. Talvez tivesse em m ente Abraão e Sara (G n 2 0 :1 2), m as isso foi antes da lei de Moisés. 4. Q uand o Diná foi estuprada (G n 34), Sim eão e Leví, seus irmãos por parte de pai e mãe, trataram de vingá-la (ver G n 29:3235; 30:17-21). 2 SAMUEL 1 3 - 1 4 5 341 O termo hebraico "Am nom " é um dim inutivo: "O pequeno Am nom esteve com você?". Absalão não escondeu a aversão total que sentia pelo meio-irmão. •5 Alguém sabia que Salom ão era o filho de D avi escolhido por Deus para ser o próxim o rei? Talvez não, pois o Senhor ainda não havia revelado sua vontade. D e acordo com alguns cronologistas, o nascim ento de Salom ão ocorreu antes do pecado de Am nom contra Tamar, mas Bate-Seba havia dado à luz três outros filhos antes de Salom ão (2 Sm 5 :14 ; 1 C r 3 :5 ; 14:4). Deus prometeu a Davi que um de seus filhos seria seu sucessor e construiria o tem plo (2 Sm 7:12-15), mas o texto não registra que, nessa ocasião, o Senhor tenha anunciado o nome do filho em questão. Am nom e Absalão já haviam nascido, e esse anúncio dá a entender que o filho escolhido ainda estava por nascer.1 Crô nicas 22:6-10 indica que, a certa altura, o Senhor disse a Davi que Salom ão seria seu sucessor (ver 28:6-10; 2 9 :1 ). Q u e r soubessem quer não, Am nom e Absalão estavam lutando uma batalha perdida. Parece estranho Jonabe ter feito esse anúncio, pois, com isso, estava praticamente confessando que tinha algum conhecim ento da trama. Porém , Davi e seus servos sabiam que Jonadabe era confidente de Am nom e, sem dúvida, concluíram que ele e Am nom haviam discutido a atitude de Absalão e concluído que não havia mais perigo algum. Jonadabe era um homem astuto demais para se com prom eter diante do rei. 8. 9. " O f Revenge", The Essays o f Francis Bacon. Deus resolveu o problema dos pecadores enviando seu Filho para morrer na cruz, guardando, desse modo, a lei e, ao mesmo tempo, oferecendo a salvação a todos aqueles que crêem em Cristo. Ver Rom anos 3:19-31. 10. O peso dos cabelos que o barbeiro de Absalão cortava depende de quanto era um "peso real" (v. 26). Se era de 11,5 gramas, então eram aparados d ois quilos e m eio d e cabelos. A ca lvície era ridicularizada em Israel (2 Rs 2:23). 11. Podem-se traçar paralelos interessantes entre A bsalão e Sansão. O s dois se distinguiam pelos cabelos, pois Sansão era nazireu (Jz 13:1-5), e os dois atearam fogo em plantações (Jz 15:4, 5). A perda de seus cabelos causou a derrota de Sansão (Jz 1 6 :1 7ss), e é provável que os cabelos espessos de A bsalão tenham contribuído para que ficasse preso pela cab e ça aos galhos da árvore na qual Joabe o encontrou e matou (2 Sm 18:9-17). O editor de jo rnal H . L. M en cken definiu 7 A um demagogo de maneira um tanto extre­ mada, porém bastante clara: "E alguém que Fu g a de D avi P a r a o D eserto 2 S a m u e l 15: 1 - 1 6 : 1 4 prega doutrinas que sabe serem falsas a ho­ m ens que sabe serem idiotas". O escritor Jam es Fenim ore C o oper expressou-se bem quando disse que demagogo "É aquele que prom ove os próprios interesses ao fingir pro­ funda dedicação aos interesses do povo". Absalão não era apenas um mentiroso de primeira linha, mas também um homem pa­ ciente e capaz de discernir o momento certo xperim entar o poder de Deus ao enfren­ tar gigantes ou lutar contra exércitos é uma coisa; outra bem diferente é ver pessoas destruindo seu m undo bem diante de seus olhos. Deus havia disciplinado Davi, mas o E rei sabia que o poder de Deus poderia ajudálo tanto na hora do so frim ento quanto na hora da conquista e escreveu em um de seus salmos no exflio: "São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação para ele. Porém tu, S e n h o r , és o meu escudo, és a m inha glória e o que exaltas a minha cabe­ ça" (Sl 3 :2 , 3). Davi reconheceu que a mão am orosa e d iscip lin ad o ra de D eu s estava sobre ele e admitiu que m erecia cada um de seus golpes. M as creu tam bém que a bondade e o poder de D eus continuavam operando em sua vida e que o Senhor não o havia abandonado com o fizera com Saul. O Senhor ainda realizava sua vontade per­ feita e, em m om ento algum, Davi mostrou maior fé e subm issão do que quando foi for­ çado a deixar Jerusalém e se esconder no deserto. Essa passagem apresenta três reis. 1. A b s a l ã o , o r ei im p o s t o r d e I sra el (2 Sm 15:1-12) Se já houve um homem perfeitam ente pre­ parado para ser um dem agogo1 e faze r o povo se desviar, esse foi Absalão. Era bem apessoado, com um charm e difícil de resistir (1 4 :2 5 , 26) e tinha em suas veias sangue real tanto por parte de pai quanto de mãe. O fato de esse príncipe não ter caráter al­ gum não era im portante para a maioria do povo, que, com o um rebanho de ovelhas, seguia qualquer um que falasse o que deseja­ vam ouvir e que lhes desse o que queriam . de agir. Esperou durante dois anos até man­ dar matar Am nom (1 3 :23 ) e, posteriormente, esperou quatro anos antes de rebelar-se aber­ tamente contra o pai e tomar o trono (v. 7 ).2 Ao ier os "salmos do exílio" de Davi, temos a impressão de que, nessa época, o rei se en­ contrava enferm o e não estava cuidando di­ retam ente dos assuntos do reino, dando a Absalão a oportunidade de tomar seu lugar e de assumir o controle.3 O príncipe egotista mostrou-se habilidoso ao usar de todos os artifícios a sua disposição para encantar o povo e granjear seu apoio. Davi havia con­ quistado o coração do povo pelo sacrifício e serviço, mas A bsalão o fez do m odo mais fácil, com o se faz hoje em dia: criando uma imagem irresistível de si mesmo ao povo. Da\i foi um herói, enquanto Absalão foi apenas u m a c e le b r id a d e . In fe liz m e n t e , m uito s israelitas haviam se acostumado com seu rei e não lhe davam mais o devido valor. Tudo indica que a cam panha de Absalão com eçou logo depois da reconciliação com 0 pai, uma vez que, a partir de então, estava livre para ir aonde quisesse. Sua prim eira pro­ vidência foi co m eçar a andar em um carro puxado por cavalos e acom panhado de cin­ qüenta guarda-costas, que anunciavam sua presença. O profeta Samuel havia previsto esse tipo de com portam ento da parte dos reis de Israel (1 Sm 8 :1 1 ) e M oisés havia ad­ vertido contra a aq u isição de cavalos (Dt 1 7 :1 6 ). D avi escreveu em Salmos 2 0 :7 : "U ns confiam em carros, outros, em cavalos; nós porém , nos gloriaremos em o nom e do Se­ n h o r , nosso D eus". U m a vez que Davi não estava à disposçã o , A b salão encontrava-se pessoalm ente 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 com o povo na estrada que levava à porta da cidad e, para onde os israelitas se diri­ giam todas as m anhãs a fim de que suas queixas fossem exam inadas e que suas cau­ sas fossem ju lg ad as. Na A ntig u id ad e, a por­ ta da cid a d e e q ü iv a lia à p re fe itu ra e ao fórum (Rt 4:1 ss; G n 2 3 :1 0 ; Dt 2 2 :1 5 ; 2 5 :7 ), e A bsalão sabia que en co ntraria ali muita gente insatisfeita se perguntando por que o sistema ju d icial não fun cio nava com efi: ência. (Ver 2 Sm 19:1-8.) A bsalão cum p ri­ m entava esses visitantes com o se fossem amigos de longa data e desco bria de onde haviam vin do e quais eram seus problem as. C o n co rd a va com todos que suas queixas eram válidas e que deveriam ser decididas em favor deles no tribunal do rei. Suas pa­ lavras não passavam de bajulação vulgar do tipo mais desp rezível, mas o povo adorava. A bsalão afirm ava que poderia cu id ar m e­ lhor dos assuntos do reino se, ao m enos, fosse ju iz (v. 4), uma form a sutil de criticar o pai. Q u an d o as pessoas co m eçavam a se curvar diante de Absalão por ser o príncipe ^erdeiro, estendia a mão a fim de detê-las, puxava-as para junto de si e as beijava (v. 5). Esse gesto nos lembra do beijo hipócrita de Judas ao saudar Jesus no jardim (M t 26:4750; M c 1 4 :4 5 ). Levou apenas quatro anos para o mag­ netismo de Absalão reunir um número con­ siderável de seguidores devotos por toda a terra. As pessoas com as quais Absalão se encontrava voltavam para a casa e conta.a m aos am igos e v iz in h o s q u e h aviam conversad o pessoalm ente com o príncipe "erdeiro, e, ao longo desse período de qua­ tro anos, esse tipo de apoio conquistou mui­ tos amigos para Absalão. A rapidez com que foi capaz de influenciar a mente e o cora­ ção do povo serve-nos de advertência hoje, lembrando que, um dia, surgirá um líder que tontrolará a mente das pessoas de todo o Tiundo (Ap 13 :3 ; 2 Ts 2). Até mesm o o povo Israel será enganado e firm ará uma alian:a com esse governante, sendo que, depois, d e se voltará contra os judeus e tentará des"uí-los (Dn 9 :2 6 , 27). Jesus disse aos líderes jd e u s de seu tem po: "Eu vim em nom e de -neu Pai, e não me recebeis; se outro vier 343 em seu próprio nom e, certam ente, o recebereis" (Jo 5:4 3 ). A bsalão vinha enganando os irmãos e o povo de Israel havia anos, e, quando o mo­ mento certo chegou, deu um passo ousado e mentiu para o pai (2 Sm 19:7-9). O prínci­ pe não se encontrava mais sob prisão dom i­ ciliar, de modo que não havia necessidade de receber perm issão para sair de Jerusalém, mas, ao fazê-lo, A b salão conseguiu várias coisas. Em prim eiro lugar, poderia dizer a qualquer um que perguntasse que Davi ha­ via permitido a ida do filho a Hebrom para que cum prisse um voto feito enquanto esta­ va no exílio em G esur. Em segundo lugar, dissipava as apreensões que poderiam sur­ gir em decorrência do banquete que Absalão havia oferecido no passado, no qual Am nom havia sido m orto. Em terceiro lugar, dava credibilidade a seu convite a duzentas pessoas-chave da adm inistração de D avi, que com pareceram de bom grado ao banquete. O s convidados devem ter ficado im pressio­ nados ao ver essas duzentas pessoas im por­ tantes em Hebrom . O fato de o banquete estar relacionado ao cum p rim ento de um voto conferiu ao en co ntro certa aura reli­ giosa (D t 32:21-23), pois foram oferecidos sacrifícios ao Senhor. O que poderia dar er­ rado num banquete dedicado ao Senhor? A bsalão estava usando o nom e do Senhor para ocultar seus pecad os.4 O golpe de mestre de Absalão foi co n­ quistar o apoio de A itofel, o conselheiro mais astuto de Davi, e, quando os convidados o viram no banquete, tiveram certeza de que tudo estava bem. No entanto, Aitofel fez mais do que co m p arecer à co m em o ração ; tam ­ bém se uniu a A b sa lã o em sua re b elião contra o rei Davi. E provável que toda essa operação tenha sido idealizada por Aitofel. Afinal, Davi havia violentado Bate-Seba, neta de Aitofel, e m andado matar o marido dela (ver 2 Sm 2 3 :3 4 ; 1 C r 3 :5 ). Era a grande oportunidade de Aitofel vingar-se de D avi. Porém , ao apoiar A bsalão, Aitofel rejeitou Salom ão, filho de Bate-Seba, o qual Deus ha­ via escolhido para ser o próxim o rei de Is­ rael. A o mesmo tem po, estava rum ando para a morte, pois, assim com o Judas, rejeitou o 344 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 verdadeiro rei, saiu e com eteu suicídio (ver 2 Sm 1 7 :2 3 ; Sl 4 1 :9 ; 55:12-14; M t 26:21-25; Jo 1 3 :1 8 ; At 1:1 6 ). Aitofel havia enganado Davi, seu rei, e pecara contra o Senhor, que havia escolhido Davi. Por que A bsalão decid iu co m e çar sua insurreição em Hebrom ? Um dos motivos foi o fato de a cidade ser a antiga capital de Judá, e talvez alguns tivessem se ressentido com o fato de D avi ter m udado a capital para Jerusalém . A bsalão havia nascido em Hebrom e poderia dizer que possuía maior afinidade com seus habitantes. Hebrom era uma cidade sagrada para os israelitas, pois havia sido designada para os sacerdotes e era relacionada a C alebe (Js 21:8-16). Situa­ da a po uco m ais de trinta q u ilô m etro s a su d o e ste de Je ru s a lé m , era um a cid a d e murada, ponto de partida ideal para invadir Jerusalém e tom ar o trono. Com duzentos oficiais de Davi "presos" dentro dos muros de Hebrom , seria fácil a A bsalão assum ir o controle do reino. 2. D a v i , o v e r d a d e ir o (2 Sm 15:13-23) r ei d e I s r a el Absalão e Aitofel ordenaram que seus trombeteiros e mensageiros ficassem prontos para agir, e, ao sinal, a notícia espalhou-se rapi­ dam ente por toda a terra: "Absalão é rei em H eb ro m !" O mensageiro anônim o que in­ form ou Davi, na verdade, ajudou a salvar a vida do rei. Por mais apático que Davi esti­ vesse até então, entrou im ediatam ente em ação, pois, nos m om entos de crise, mostra­ va sempre o melhor de si. D a vi a ssu m e o c o n tro le (vv. 13-16). Sua prim eira ordem oficial foi para que sua fa­ m ília, seus o fic ia is e sua guarda pesso al d e ix a sse m Je ru sa lé m im e d ia ta m e n te . Se A bsalão conseguisse o apoio de todo o Is­ rael, seria fácil para os exércitos de Judá e das tribos do Norte cercarem a cidade, blo­ queando qualquer saída. Davi sabia que o m esm o Absalão que havia matado Am nom tam bém mataria os irmãos e talvez até o pai, de modo que era absolutam ente necessário que todos fugissem . Além disso, se Absalão tivesse de atacar Jerusalém , exterm inaria seus habitantes, e não havia motivo para centenas de pessoas inocentes m orrerem . Foi um ges­ to típico de D avi arriscar a própria vida e abandonar o trono a fim de proteger a ou­ tros. Seus servos juraram fid elidad e ao rei (v. 16), com o tam bém o fez sua guarda pes­ soal (vv. 18-22). A s dez concubinas que Davi deixou para trás a fim de adm inistrar a casa s e ria m , p o s te rio rm e n te , v io le n ta d a s por A bsalão (16:20-23), ato que declarava que ele havia tomado posse do reino de seu pai. D a v i m o b iliz a su as tro p a s (vv. 17-22). D avi e seu grupo fugiram para o Nordeste, afastando-se de Jerusalém na direção opos­ ta a H ebro m . Q u an d o chegaram à ultim a casa da periferia de Jerusalém , fizeram uma pausa para descansar, e Davi passou as tro­ pas em revista. Entre os soldados, estava a g u a rd a p e ss o a l do rei (o s q u e re tita s e peletitas, 8 :1 8 ; 2 3 :2 2 , 23) e, tam bém , seis­ centos filisteus que haviam seguido Davi de G ate e que se encontravam sob o com ando de Itai (1 Sm 2 7 :3 ). Itai garantiu a lealdade absoluta de seus soldados ao rei. O teste­ munho de fidelidade desse gentio a Davi (v. 21) é uma das grandes confissões de fé e de lealdade encontradas nas Escrituras e pode ser colocada ao lado da confissão de Rute (1 :1 6 ) e das palavras do centurião romano (M t 8:5-13 ).5 D avi ch ora (v. 2 3 ). A palavra-chave des­ ta seção é o verbo "passar", usado nove ve­ zes. Davi e seu povo passaram o ribeiro ce Cedrom (v. 23 ), que corria pelo Leste de Jerusalém com um grande vo lum e de água durante o inverno e precisava ser atravessa­ do para se chegar ao monte das O liveiras. Essa cen a nos lembra da experiência de Je­ sus quando foi ao jardim (Jo 18:1). Naqueie exato m omento Judas, um dos próprios dis­ cípulos, o estava traindo e providenciando para que fosse preso. O povo chorava e~quanto and ava ap ressad am en te e seu 'e* ch o rava com eles, ainda que, talve z, pa» motivos diferentes (vv. 2 3 ,3 0 ). Seu própr : filho o havia traído, ju n tam e n te com seu amigo e conselheiro particular, e o povo insensato pelo qual o rei havia feito tanta coi­ sa nem sab ia o que estava acontecend o "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem " (Lc 2 3 :3 4 ). 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 Será que D avi sentia o peso da culpa, enquanto, mais um a ve z, seu filho am ado Absalão desafiava a vontade de D eus e m a­ goava o pai tão profundamente? Ele e o fi­ no haviam se reconciliado, mas o rapaz não -avia mostrado qualquer sinal de contrição por seus pecad os nem pedido perdão ao oai ou ao Senhor. "N ão se apartará a espa­ da jam ais da tua casa", havia sido a senten­ ça om inosa proferida pelo profeta de Deus e que estava se cum prindo. O bebê de BateSeba n o rre ra e A m nom fora assassinado. Davi não queria que Absalão morresse (1 8 :5), mas o jovem seria morto por Joabe, a tercei­ ra "prestação" do pagamento doloroso de Davi (1 2 :6 ). A donias tam bém m orreria numa tentativa frustrada de tornar-se rei (1 Rs 1) e, então, a dívida estaria paga. Pela segunda vez em sua vida, D avi foi obrigado a fugir para o deserto a fim de se salvar. Q uand o era jovem , fugiu da fúria in­ vejosa do rei Saul, e, dessa vez, tentava es­ capar da conspiração de seu filho, Absalão, e de seu antigo conselheiro, Aitofel. Ao dei­ xar Jerusalém , Davi poupara a cidade de uma carnificina, mas ele e a fam ília estavam em perigo, sem saber o que seria do futuro do reino e da aliança de Deus com Davi. 3. J e o v á , o r ei s o b e r a n o d e I s r a el (2 Sm 1 5 :2 4 - 16:14 ) Ao ler os salmos do exílio de Davi, é im pos­ sível não ver sua confiança em D eus e sua co nvicção de que, por mais desordenadas e perturbadas que estivessem as coisas, o Senhor continuava em seu trono. Q uaisquer cue fossem seus sentimentos, Davi sabia que E o Senhor seria sem pre fiel a sua aliança e zumpriria suas prom essas. O Salm o 4 pode, muito bem, ser o cântico que Davi entoou a Deus naquela prim eira noite longe de casa, e o Salm o 3 o que ele orou na manhã se­ guinte. Nos Salm os 41 e 55, derram ou o coração diante do Senhor; Deus o ouviu e, í a seu tempo, respondeu a suas súplicas. O s Salmos 61, 62 e 63 nos permitem ver o que se passava no coração aflito de Davi, enquan­ to pedia orientação e forças de D eus. O b ser­ ve que cada um desses três salmos term ina com um a d e cla raçã o veem ente de fé no ------------------------------------------ 345 Senhor. H o je, é possível encontrar coragem e co n fian ça em nossos m om entos de difi­ culdade ao ver com o o Senhor respondeu a Davi e foi fiel a ele em sua hora de angústia. O S e n h o r re c o n h e ce a fé d e D avi (15:242 9 ). Z ad o q u e e A biatar dividiam as funções do sum o sacerdote e ajudaram a transferir a arca para Jeru salém (1 C r 15:11 ss), de m odo que lhes p areceu por bem levar a arca a D avi. A bsalão havia usurpado o trono do pai, mas os sacerdotes não perm itiriam que tom asse o trono de D eus. Juntaram-se ao grupo de D avi, que, a essa altura, en­ contrava-se acam p ad o , e levaram consigo muitos dos levitas, sendo que A biatar ofe­ receu sacrifício s (v. 2 4) e, sem dúvida, cla­ mou ao Senhor pedindo que guiasse e que protegesse o rei. D avi, porém , ordenou que levassem a arca de volta a Jerusalém ! Não queria que o trono de Deus fosse tratado com o am uleto, co m o havia a c o n te cid o no tem po de Eli quando a glória partiu de Israel (1 Sm 4). A bsalão e seus hom ens tentavam transfor­ mar a glória de D avi em opróbrio (Sl 4 :2 ), mas o favor de Deus estava sobre seu rei e o restauraria a seu trono. D avi havia visto o poder e a glória de D eus em seu santuário (Sl 6 3 :2 ) e, pela fé, os veria no deserto. M as, mesm o que D eus rejeitasse D avi, o rei esta­ va preparado para aceitar a vontade sobe­ rana de Jeová (v. 2 6 ).6 Eli havia feito um a declaração parecida (1 Sm 3 :1 8 ), mas era uma expressão de resignação, não de co n­ sagração. No caso de Davi, o rei entregara todo seu ser ao Senhor, dizendo: "seja feita a tua vontade e não a minha". A fé sem obras é m orta, de modo que Davi incum biu os dois sacerdotes de ser seus olhos e ouvidos em Jerusalém e de transmi­ tir toda e qualquer inform ação que pudesse ajudá-lo a planejar sua estratégia. Aim aás, filho de Zado que, e tam bém Jônatas, filho de A b iatar, seriam os m ensageiros e leva­ riam as inform ações a D avi. O rei era um tático de grande com petência, e, ao ler 1 Sa­ muel 19 - 2 8 , d e sco b rim o s que po ssuía um sistema eficiente de espias que o manti­ nha informado de todos os m ovimentos de Saul. Davi teria concordado com o conselho 346 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 atribuído a O liver C rom w ell: "R ap azes, co­ loquem sua confiança em Deus, mas man­ tenham a pólvora sem pre seca". A despeito do que pudesse fazer aos oficiais do rei, di­ ficilm ente Absalão atacaria os sacerdotes e levitas, que teriam liberdade de co ntin u ar seu trabalho praticam ente sem ser notados. Q u a n d o os dois sace rd o tes e seus filhos voltaram a Jerusalém com a arca, é provável que os seguidores de A bsalão tenham inter­ pretado esse ato co m o mais quatro votos em favor do novo rei. O S e n h o r vê as lágrim as d e D avi (1 5 :3 0 ). Nas palavras de A . W . T o ze r:7 "A Bíblia foi escrita com lágrimas, e é às lágrimas que ela entrega seus tesouros mais preciosos". Davi era um hom em forte e valente, mas não ti­ nha medo de chorar abertam ente (hom ens de verd ade choram , sim, inclusive Jesus e Paulo). Lemos sobre as lágrimas de Davi no Salmo 6, que pode ser um salmo do exílio (vv. 6-8), bem com o nos Salm os 3 0 :5 ; 3 9 :1 2 ; e 5 6 :8 . "Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniqüidade, porque o S e n h o r ouviu a vo z do meu lam ento" (Sl 6 :8 ). "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração com pungido e contrito, não o desprezarás, ó D eus" (Sl 5 1 :1 7 ). Por certo, não faltavam motivos para as lágrimas de D avi, pois seus pecados haviam trazido tristeza e m orte sobre sua fam ília. Am nom fora assassinado, e Tamar, violenta­ da; agora, Absalão - o próprio filho do rei estava no processo de usurpar o trono de Israel e rum ando para a morte certa. Aitofel, amigo e conselheiro de D avi, voltara-se con­ tra ele, e o povo pelo qual Davi havia arrisca­ do a vida em tantas ocasiões o abandonava a fim de seguir um rebelde egotista que não havia sido escolhido por D eus. Se havia um homem com todo o direito de chorar, esse era D avi. Assim com o as crianças desobe­ dientes choram quando recebem um a surra, é fá til as pessoas chorarem quand o estão sendo d iscip lin ad as por seus p e cad o s, e, uma vez term inada a surra, se esquecem da dor. No entanto, as lágrimas de Davi eram muito mais profundas. Estava preocupado não apenas com o bem-estar de seu filho rebelde, mas tam bém com a segurança de Israel e com o futuro do m inistério que Deus havia dado a essa nação com o testemunho para o mundo todo. A aliança de D eus com Davi (2 Sm 7) garantia que seu trono perma­ neceria para sem pre, e isso se cum priu em C risto; mas essa prom essa tam bém signifi­ cava que Israel não seria destruído e que a lâmpada de Davi não se apagaria de modo perm anente (1 Rs 1 1 :3 6 ; 1 5 :4 ; 2 Rs 8 :1 9 : 2 1 :7 ; Sl 1 3 2 :1 7 ). D eus seria fiel no cumpri­ mento de sua aliança, e D avi sabia que seu trono estava seguro nas mãos do Senhor. O S e n h o r re s p o n d e à o ra çã o d e D avi (1 5 :3 1 -3 7 ). O u tro m ensageiro chegou ao acam pam ento de Davi e informou ao rei que A ito fe l h a v ia d e se rta d o p ara o lad o de Absalão (ver v. 12). "Até o meu amigo ínti­ mo, em quem eu confiava, que com ia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar" (S l 4 1 :9). "N ão é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria [...] mas és tu, ho­ mem meu igual, meu com panheiro e meu íntim o am igo" (S l 55:12-14). O que devemos fazer quando um de nossos confidentes mais chegados nos trai? O mesmo que D avi: orar e adorar. " O S e n h o r , peço-te que transtor­ nes em loucura o conselho de Aitofel" (2 S m 1 5 :3 1 ). Então, "ao chegar D avi ao cim o, onde se costum a adorar a D eus" (v. 32 ), Davi viu Husai, a resposta a sua oração! Husai é cha­ mado de "am igo de D avi" (v. 37; 1 C r 27:33), indicando que era amigo na corte e conse­ lheiro especial do rei. Husai era arquita, o que significava que vinha de um grupo de descen dentes de C an aã , portanto gentios (C n 10:1 7; 1 C r 1:15). A cidade de A rca fi­ cava na Síria, a cerca de trezentos e vinte quilôm etros de D am asco e a oito quilôme­ tros a leste do mar. As conquistas de D a .i haviam chegado até essa região, no N o re . e alguns desse povo haviam passado a a c :rar o Deus verdadeiro de Israel e a servir £ seu rei. Davi fez com Husai o mesm o que ha'. ; feito com Z adoque, A biatar e os dois filhos dos sacerdotes: enviou-o de volta a Jeru í^ lém para "servir" a A bsalão. Esses cinco h > m ens estavam se arriscando por am or a : Senhor e ao reino, mas consideraram ur-a 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 nonra servir a seu rei e ajudar a restituí-lo ao trono. Todas as pessoas às quais D avi deu in cum b ên cias e sp e cíficas poderiam d ize r: "Eis aqui os teus servos, para tudo quanto determ inar o rei, nosso senhor" (v. 1 5). Tra­ ta-se de uma excelente declaração a ser ado­ tada pelos cristãos hoje para expressar sua devoção a Cristo. Husai voltou a Jerusalém logo depois que Absalão havia chegado, e é possível que a em polgação do povo ao saudar seu novo rei tenha perm itido que entrasse na cidade sem ser notado, ou talvez tenha reforçado sua posição juntando-se ao povo na recep­ çã o . E claro que, m ais tarde, H usai cu m ­ prim entaria o rei e co locaria mãos à obra, fazendo todo o possível para em bargar os planos do novo rei e para manter D avi infor­ mado. Se há coisa m elhor do que o b te r uma resposta de oração é ser uma resposta de oração, e Husai foi a resposta às orações de Davi. Em termos hum anos, se não fosse pelo conselho de Husai a Absalão, Davi poderia ter sido morto no deserto. O S e n h o r su p re as n e c e ssid a d e s d e D avi (16:1-4). O encontro de Davi com Husai foi uma resposta de oração, mas seu encontro com Z iba supriu uma necessidade imediata que acabou criando um problem a, só resol­ vid o depois que D avi reassum iu o trono. Ziba havia sido um dos administradores das terras de Saul, bem com o responsável por M efibosete, o filho aleijado de Jônatas (cap. 9). Sabendo que Z ib a era um oportunista m al-intencionado, D avi desconfiou de sua visita, de seus presentes e da ausência de M efibosete, que havia ficado sob os cuida­ dos de D avi. Z iba havia levado consigo dois jum entos para Davi e sua família, bem com o porções generosas de pão, vinho e frutas. O s presentes eram coisas de que necessita­ vam e foram devidam ente apreciados, mas o que preocupava Davi era a m otivação por trás dessa generosidade. Z iba mentiu ao rei e fez todo o possível para difamar seu jovem senhor, M efibosete. Davi estava cansado e profundam ente ma­ goado, de modo que não era o melhor mo­ mento para julgar o caráter de qualquer um. Aceitou a história de Z ib a - que depois foi 347 d esm en tid a (2 Sm 1 9 :2 6 ,2 7 ) - e fe z um julgam ento precipitado, que deu a Z ib a a p ro p rie d a d e p e rte n c e n te , p o r d ire ito , a M efib ose te . "R esp o n d er antes de o u vir é estultícia e vergonha" (Pv 18:13). O s líderes que servem ao Senhor devem estar sempre alertas a fim de não tom ar d ecisões precipita­ das com base em inform ações incom pletas. D e u s h onra a su b m issã o d e D avi (16:514). Por meio das mentiras de Ziba, Satanás atacou Davi com o uma serpente enganado­ ra (2 C o 11 :3 ; G n 3:1-7). Em seguida, pelas palavras e pedras de Sim ei, Satanás manifes­ tou-se com o leão devorador (1 Pe 5:8 ). Z iba contou mentiras, Simei atirou pedras, e os dois perturbaram o rei. Davi estava próxim o a Baurim ,8 na tribo de Benjam im , onde as forças partidárias de Saul ainda eram fortes. Sim ei encontrava-se na en costa de uma co ­ lina oposta a D avi e acim a dele, de modo que foi fácil jogar pedras e torrões de terra sobre Davi e seu grupo. Davi estava exausto e desanim ado e, no entanto, jam ais dem ons­ trou tanta grandeza com o quando permitiu que Sim ei p ro ssegu isse co m seu ataq ue. A bisai mostrou-se mais do que disposto a passar e m atar o hom em que atacava o rei, mas D avi não perm itiu que o fizesse. A bisai ta m b é m h a v ia d e s e ja d o m a ta r S au l no acam pam ento de Israel (1 Sm 26:6-8) e aju­ dara seu irm ão, Joabe, a assassinar A bner (2 Sm 3 :3 0 ), de modo que Davi sabia que as palavras de A bisai deveriam ser levadas a sério. "Fo ra daqui, fora, hom em de sangue, hom em de Belial", gritou Sim ei, mas Davi não revidou. Simei estava culpando Davi pela morte de Saul e de seus filhos, pois, afinal de contas, quando eles morreram , Davi fa­ zia parte, oficialm ente, do exército dos filis­ teus. Ao que parece, o fato de Davi estar a quilôm etros de distância do cam po de ba­ talha na ocasião da morte deles não im por­ tava para Sim ei. E bem provável que esse benjam ita leal culpasse Davi pela m orte de Isbosete, o filho de Saul que havia herdado o trono do pai, e tam bém de Abner, o fiel com andante de Saul, sem deixar de fora, ain­ da, U rias, o heteu. "Eis-te, agora, na tua des­ graça, porque és homem de sangue" (v. 8). 348 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 Sua expressão de ira contra D avi era uma transgressão da lei, pois Êxodo 2 2 :2 8 diz: "C o ntra Deus não blasfemarás, nem amaldi- de vadear o rio Jordão, possivelm ente nas cercanias de G ilgal ou Jericó , e descansa­ ram nesse local. Atravessaram o rio bem ce­ çoarás o príncipe do teu povo". A atitude de Davi foi de subm issão, pois aceitou os insultos de Sim ei co m o prove­ nientes das m ãos de D eus. D avi já havia anunciado que aceitaria qualquer coisa que o Senhor lhe enviasse (1 5 :2 6 ) e, nesse mo­ m ento, provou sua d eclaração . A o refletir sobre o fato de ser um adúltero e hom icida que m erecia morrer e, no entanto, que Deus do na m anhã seguinte e prosseguiram até M aanaim (2 Sm 1 7 :2 2 , 24), local onde Jacó havia feitos os preparativos para se encon­ trar com o irm ão, Esaú, e onde havia lutado com Deus (G n 32). Talvez Davi tenha se lem­ brado desse acontecim ento e recobrado a coragem ao pensar no exército de anjos que Deus enviou para proteger Jacó. Em que esse sofrimento todo beneficiou Davi? Tornou-o mais sem elhante a Jesus Cris­ to! Foi rejeitado por seu próprio povo e traí­ do por um amigo próxim o. Abriu mão de tudo por am or ao povo e teria entregue até mesmo a vida para salvar seu filho rebelde, que m erecia morrer. Assim com o Jesus, Davi atravessou o Cedrom e subiu o monte das O liveiras, Foi acusado falsam ente e tratado de modo vergonhoso e, no entanto, sujei­ tou-se à vontade soberana de D eus. "Ele. quando ultrajado, não revidava com ultraje: quando maltratado, não fazia am eaças, mas entregava-se àq u ele que julg a retam ente' (1 Pe 2 :2 3 ). D avi perdera o trono, mas o Deus Jeová ainda era soberano e cum priria as promes­ permitiu viver, por que Davi se queixaria de pedras e de terra? E se A bsalão, o próprio filho de Davi, estava determ inado a matá-lo, por que um desconhecido deveria ser casti­ gado por insultar o rei e atirar coisas nele? Davi acreditava que um Deus justo faria o balanço geral e daria a gente com o Absalão e Simei o que lhes era devido. Talvez Davi tiv e sse em m ente as p alavras de D e u te ­ ronômio 3 2 :3 5 : "A mim me pertence a vin­ g ança, a re trib u iç ã o " (ver Rm 1 4 :1 7 -2 1 ). Q uand o Davi recuperou o trono, perdoou Simei (2 Sm 19:16-23) que, posteriorm ente, foi co nfin ado por Salom ão em Jerusalém , o nde p o deria ser m antido sob vig ilân cia. Q u a n d o , num gesto de arro g ân cia, Sim ei ultrapassou seus limites, foi preso e executa­ do (1 Rs 2:36-46). Davi e seu grupo foram cerca de trinta e dois quilôm etros para além de Baurim, a fim 1. sas feitas a seu servo. Fiel a sua aliança, o Senhor lembrou-se de D avi e de todas as provações pelas quais passou (Sl 132:1) e se lembra de nós nos dias de hoje. O term o "dem agogo" vem de duas palavras gregas: d em os ("p ovo ") e agogos ("g uiar"). U m verdadeiro líder usa sua autoridade para ajudar o povo, enquanto um dem agogo usa o povo para obter autoridade. O s dem agogos fingem s« p reocupar com as necessidades do povo, mas sua ún ica p reo cup ação é alcan çar o poder e desfrutar os ganhos de soa desonestidade. 2. O s textos hebraicos mostram variações de "quatro" a "quarenta". Se o número certo é quarenta, então não sabem os quand» a contagem foi iniciada. Q uarenta anos a partir de que acontecimento? Alguns cronologistas datam a rebelião de Absalão m a» ou menos entre 1027 a .C . e 1023 a .C ., o que seria aproxim adam ente quarenta anos depois que Davi foi ungido por S a m ja i mas por que escolher esse acontecim ento com o ponto de partida? Parece razoável aceitar "quatro" com o sendo o númca i correto e datar esse período a partir da reconciliação de Absalão com o pai (14 :33). 3. A m aioria dos estudiosos identifica os Salmos 3, 4, 41, 55, 61 - 63 e 143 com o "salm os do exílio", e alguns acrescenta^ a estes os Salm os 25, 28, 58 e 109. O s Salmos 41 e 55 indicam que Davi não estava bem de saúde. Ver, ainda, Salmos 61 7. Se, de fato, Davi estava enferm o, não era capaz de atender às necessidades do povo e nem de ouvir seus problem as e Absalão aproveitou-se da situação. 4. Certa v ez, Davi m entiu sobre seu com parecim ento a um a festa a fim de enganar o rei Saul (1 Sm 2 0 :6 ) - nossos p ecad ad nos encontram . 5. Davi enfrentou prova sem elhante quando era com andante da guarda pessoal de Aquis, rei dos filisteus (1 Sm 29). 2 S A M U E L 15: 1 - 1 6 : 1 4 349 6. A declaração de D avi: "Eis-me aqui" fa z lem brar Abraão (G n 2 2 :1 , 11), Jacó (G n 3 1 :1 1 ; 4 6 :2 ), M oisés (Êx 3:4), Samuel (1 Sm 7. Tozer, A . W . C o d Tells the M an W ho Cares. Christian Publications, 1970, p. 9. 8. Foi em Baurim que M ica, esposa de Davi, ao ser devolvida a ele, despediu-se de seu segundo marido, que chorou amargamente 3:4, 16) e Isaías (Is 6 : 8 ), homens que se entregaram ao Senhor. (3:13-16). Dessa vez, é D avi quem está chorando. 8 A V itó r ia D o c e e A m a r g a de D avi 2 Sam u el 1 6 : 1 5 - 1 8 : 3 3 oi em seu d iscurso diante do C o n g re s­ so dos Estados U n id o s, no dia 19 de abril de 1 9 5 1 , que o general D o uglas M acA rth u r fez a fam o sa d e cla ra çã o : "N a guer­ ra, nada substitui a vitó ria ". Porém , vário s esp e cialistas m ilitares garantem que as for­ ças arm adas só podem v e n ce r batalhas e que, a longo p ra zo , n ing uém v e n c e , de fato, um a guerra. Isso porq ue o p reço é alto d e m a is. Para c a d a p a la v ra do livro F M ein K a m p f [M in h a Luta] de H itler, m o rre­ ram cento e vin te e cin co pessoas na Se­ gunda G u e rra M u n d ial. C o n sid eran d o -se as arm as n u c le a re s m o d e rn a s, n in g u ém sa iria v ito rio s o de um a T e rc e ira G u e rra M u n d ial. O s exércitos de Davi e de A bsalão esta­ vam prestes a en trar em co m b ate num a guerra civil que nem pai nem filho po de­ riam "v e n ce r", mas na qual am bos os lados poderiam perder. A vitó ria de D avi signi­ ficaria a m orte do filho, A bsalão, e do am i­ go, A ito fel. A v itó ria de A b salão p o deria sig n ificar a m orte para D avi e de outros m em bros de sua fam ília. H o je em dia, diría­ mos que é uma situação sem saída; na A n ­ tig u id ad e, a e xp ressã o usada seria "u m a vitó ria p írric a ".1 A bsalão estava co nfiando em seu char­ me, em sua popularidade, em seu exército e na sabedoria de A itofel, porém D avi co n­ fiava no Senhor. "O u v e , ó D e u s, a m inha súplica; atende à m inha o ração. D esd e os confins da terra clam o por ti, no abatim en­ to do meu co ração . Leva-me para a rocha que é alta dem ais para m im " (SI 6 1 :1, 2). O que a co n te ceu com D avi durante es­ ses tem pos de provação? 1 . Seu t r o n o fo i u su rp a d o (2 S m 16:15-23) Esse parágrafo retom a a narrativa interrom­ pida em 2 Sam uel 1 5 :3 7 para nos informar da fuga de D avi e de seus encontros co"~ Z ib a e Sim ei. G ra ç a s ao fato de D avi te' partido tão depressa, a rebelião de Absalão foi um golpe pacífico , e o príncipe tom o„ Jerusalém sem sofrer qualquer oposição exatam ente o que D avi queria (1 5 :1 4 ). Ao contrário de A bsalão, D avi era um home~i com o coração de um pastor que pen prim eiro no bem de seu povo (2 4 :1 7 ; 78 :70-72). H u sa i co n q u isto u a co n fia n ça de A ' lã o (vv. 16-19). A ssim que teve oportun: de, H usai entrou na sala de audiência rei e se apresentou o ficialm en te ao n c .c m onarca. Não queria que A bsalão pei se que ele era um espia, apesar de ser tam ente essa a sua fun ção . Era o hom e~ que D e u s havia co lo c a d o em Jerusalém para fru strar o co n se lh o de A ito fe l. S e d ú vid a, A b salão fico u surpreso em ver : co nselheiro de seu pai em Jerusalém , m a su a s a u d a ç ã o s a rc á s tic a n ão p e rtu r H usai, que se dirigiu a A bsalão de m respeitoso. E preciso ler as palavras de H usa ao novo rei com m uita atenção, a fim não interpretá-las eq uivo cad am ente. H usai ofereceu a saudação habitual pressando respeito: "V iva o rei, viva o rei ' mas não disse "re i A b sa lã o ". Em seu c ção, estava se referindo a D avi, mas o rei não entendeu esse sentido das palar de H usai. Em seu orgulho, A bsalão pe~ que Husai o estava cham ando de rei. serve, mais um a ve z, que H usai não cita nom e de A bsalão nem diz que servirá novo rei. No versícu lo 18, H usai está í do de D avi, pois o Senhor jam ais havia co lhid o A b salão para ser rei. A lém di Husai não prom eteu servir A bsalão, mas servir "diante de seu filho [do filho de D Em outras palavras, H usai estaria na sen ça de A bsalão, mas estaria servin do S en h o r e a Davi. A soberba de Absalão vou-o a crer que as palavras de Husai cavam-se a ele e aceitou H usai com o um de seus conselheiros. Essa decisão . 2 S A M U E L 16: 15 - 18: 33 351 do Senhor e preparou o cam inho para a dern t a de Absalão. A b sa lã o seg u iu o c o n s e lh o d e A ito fe l w . 20-23). A bsalão tinha duas tarefas im­ portantes a cum prir antes de poder gover~ar sobre o reino de israel. Em primeiro lugar, deveria tom ar o trono do pai e divulgar uma declaração pública de que era, oficialm en­ te, o novo rei. Ao contrário de Davi, seu pai, ;u e buscava o Senhor por meio do Urim e ro Tumim ou de um profeta, A bsalão proturou a experiência e a sabedoria humanas - e, do ponto de vista hum ano, Aitofel era dos m elhores conselheiros. Porém , este 'ambém não buscava nem desejava fazer a . ontade de D eus. Seu m aior objetivo era vinsar-se de Davi pelo pecado que este havia zometido contra a neta, Bate-Seba, e o ma'd o dela, Urias, o heteu. Era costum e um novo rei herdar as espo­ sas e o harém do m onarca anterior, de modo tiv e sse co lo c a d o em p rá tica o plano de Aitofel, D avi teria sido morto, e os proble­ mas de Absalão estariam resolvidos. Porém , Davi havia orado pedindo que Deus trans­ form asse os conselhos de Aitofel em loucura (1 5 :3 1 ), e Deus usou Husai para fazer exa­ tam ente isso. O b serve que Aitofel colocouse em prim eiro plano usando exp ressõ es com o: "Deixa-m e escolher-[...] e me disporei [...] e perseguirei" e assim por diante. Seu desejo era ser general do exército, pois que­ ria supervisionar pessoalm ente o assassina­ to de seu inimigo, o rei D avi. Seu plano era e ficie n te : usar um peq u en o e xé rcito que pudesse deslocar-se rapidam ente, atacar de surpresa durante a noite e ter com o objeti­ vo central a morte de Davi. Na seqüência, Aitofel traria de volta os seguidores de Davi, e estes deveriam jurar lealdade ao novo rei. Seria uma vitória rápida, sem muito derra­ mamento de sangue. :u e , ao seguir o conselho de A itofel, Absalão estava declarando que, a partir de então, ele era o rei de Israel (ver 3 :7 ; 12:8 e 1 Rs 2 :2 2 ). -So tomar as concubinas do pai, A bsaião tor'o u -se inteiram ente ab o m in ável ao pai e destruiu qualquer ponte que poderia levar a Husai não estava na sala quando Aitofel descreveu seu plano, de m odo que A bsalão cham ou-o e lhe contou o que seu co n se­ lh e iro p re d ileto h avia dito. D irig id o pelo Senhor, H usai usou de um a abordagem in­ teiram ente distinta e se concentro u no ego .m a reconciliação. O novo rei estava dizen­ do a seus seguidores que não havia mais -.olta e que a revolução iria prosseguir. Po'ém, mesm o sem perceber, estava fazendo —lais do que isso: cum pria a profecia de Natã, segundo a qual as esposas de D avi seriam . "olentadas em público (1 2 :1 1 ,1 2 ). D o ter­ do jovem rei. A resposta de H usai não é um a série de d eclaraçõ es em prim eira pes­ soa, girando em torno d ele m esm o , mas sim um a série de afirm ações sobre o novo rei, o que, sem dúvida, estim ulou a im agi­ nação e o egotism o de A bsalão. Husai usou suas palavras para m ontar a arm adilha na raço de sua casa, D avi havia co b içad o Ba­ te-Seba (1 1 :2-4) e, nesse m esm o local, as esposas de D avi seriam violentadas. qual A bsalão caiu. Em prim eiro lugar, H usai explico u por que o conselho de Aitofel não era sábio "des­ ta v e z ", ainda que tivesse sido em outras 2. S ua o r a ç ã o f o i r e s p o n d id a 2 S m 17:1-28) ocasiões (vv. 7-10). Q uanto à idéia de con­ centrar-se exclusivam ente no assassinato de D avi, A bsalão sabia que o pai era um gran­ de tático e um guerreiro valente, cercad o de soldados experien tes que não tem iam co isa algum a. Estavam todos enfurecid os, pois haviam sido expulsos de seus lares. Eram Depois de alcançar seu prim eiro objetivo e de assum ir a po sição de au to rid ade real, Absalão precisava certificar-se de que Davi e ;eus seguidores não voltariam para recuperar o reino. A solução era simples, porém drásti­ ca: era necessário encontrar o pai e matá-lo. Para resolver essa questão, Absalão buscou a orientação de seus dois conselheiros. O co n se lh o d e H u sa i p re v a le ce u (vv. 114).2 Do ponto de vista hum ano, se Absalão co m o um a ursa roubada de seus filhotes. (Husai faz uso magistral das metáforas!) Além disso, D avi era astuto demais para ficar com seus soldados e bu scaria um esco n d erijo seguro, onde não pudesse ser preso. Seus 352 2 S A M U E L 1 6 : 1 5 - 18: 33 hom ens estariam montando guarda e mata­ riam qualquer um que se ap roxim asse. O exército de Davi era experiente demais para ser pego despreparado num ataque surpre­ sa. Um a investida desse tipo, com um exér­ cito pequeno, não funcionaria. Se o exército invasor fosse rechaçado, a notícia se espa­ lharia, e o povo ficaria sabendo que as forças de A bsalão haviam sido derrotadas; assim, todos os seus h o m ens fu g iriam . A b salã o co m eçaria o reinado com um fiasco militar. Então, Husai apresentou um plano que superava todas essas dificuldades. Em primei­ ro lugar, o novo rei deveria com andar pes­ so alm ente o e xé rcito , o que co n seg u isse reunir "desde D ã até Berseba". Essa suges­ tão agradou ao ego vaidoso de A bsalão e, em sua im aginação, podia ver-se com andan­ do o exército numa grande vitória. Claro que não era um militar experiente, mas que dife­ rença fazia? Q u e excelente maneira de co­ m eçar seu reinado! Absalão não se deteve para pensar que levaria tempo para reunir tropas "de D ã até Berseba", uma dem ora que Davi poderia usar para atravessar o rio Jordão e "sum ir do m apa". É evidente que Husai estava interessado em ganhar tempo para que Davi fizesse exatam ente isso. C om um exé rcito tão grande sob seu co m ando , A bsalão não teria de depender de um ataque surpresa, mas poderia "cair sobre" os hom ens de D avi, cobrindo uma área am plá, com o o orvalho da m anhã que cai sobre a terra. Para onde quer que os hom ens de Davi fugissem, iriam se deparar com soldados de Absalão e não teriam com o escapar. Em vez de poupar os hom ens de D avi, o exército de Absalão os exterm inaria para que não causassem problem as no futu­ ro. Ao perceber que A bsalão talvez se preo­ cup asse com a q.uestão do tem po, H usai respondeu a suas objeções no versículo 13. Se, durante a dem ora causada pelo proces­ so de reunir seus soldados, A bsalão ficasse sabendo que Davi havia levado seus homens para um a cidad e m urada, sua tarefa seria ainda mais fácil. A nação toda obedeceria ao novo rei e trabalharia em conjunto para derrubar a cidad e, pedra por pedra! Um a dem onstração e tanto de poder! O discurso prático de Aitofel foi esque­ cido, à m edida que o plano grandioso de Husai, entrem eado de im agens vividas, foi cativando o coração e a mente de Absalão e de seus líderes. D eus havia respondido a o ração de D avi e co nfundid o o conselho de Aitofel. Absalão cavalgaria adiante de seu exército determ inado a vencer. Porém, o que estaria a sua espera seria uma derrota humi­ lhante. " O S e n h o r frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do S e n h o r dura para sem pre; os desígnios do seu coração , por todas as ge­ rações" ( S l 3 3 :1 0 , 11). A re d e d e esp io n ag em d e D avi fu n c io ­ n o u (vv. 15-22). Davi e seu grupo estavam acam p ad o s nos vaus do Jordão, a pouco mais de trinta quilôm etros de Jerusalém , e os dois corredores estavam de prontidão em En-Rogel, no vale do C edrom , a menos de dois quilôm etros de Jerusalém . Husai trans­ mitiu a mensagem aos dois sacerdotes e lhes pediu que dissessem a Davi para atravessar o Jordão o mais rápido possível. O rei nãc devia se demorar, pois se Absalão mudasse de idéia e adotasse o plano de Aitofel, por a tudo a perder. Z adoque e A biatar pediram a um a serva, cujo nom e não é m encionado, que passasse a mensagem adiante a Jônatas e A im aás. O s dois correram ce rca de um quilôm etro e meio para o sul até a casa de um colaborador em Baurim. Porém, um ra­ paz os viu sair de lá e reconheceu os filhos dos sacerdotes. A nsioso por im pressionar c novo rei, co nto u a A b salão o que estava acontecend o, e os guardas de Absalão fo­ ram atrás dos dois jovens. Aqui, o relato se parece com a história dos dois espias registrada em Josué 2. Raabe escondeu os dois espias sob feixes de linhc no terraço de sua casa. A m ulher em Baurim esco n d e u os dois co rre d o re s num poço cobriu a abertura com um pano e espalhou sobre ele cereais, com o se estivesse secan­ do os grãos ao sol. U m a vez que não tinha obrigação alguma de colaborar com o pla­ no perverso de A bsalão, a m ulher mandou os guardas para a direção errada, e os dois jovens foram salvos. Chegaram ao acampa­ mento de D avi, transm itiram a m ensagerr 2 S A M U E L 16: 15 - 18: 33 ao rei e insistiram para que atravessasse logo o Jordão, o que Davi fez sem dem ora. O s guardas voltaram para Jerusalém de mãos v azia s, m as A b salão não co nsid ero u esse insucesso um problem a sério. Q u e grande erro! A ito fe l co m e te u su ic íd io (v. 2 3 ). O que levou Aitofel a tirar a pró pria vida? Ficou ~iagoado por A bsalão rejeitar seu conselho? Não. O que o motivou foi saber que o con­ celho de Husai causaria a derrota de A bsalão e que, com o conselheiro, ele estava a servi­ ço do rei errado. U m a vez que havia traído : rei Davi, Aitofel seria executado ou baniro para sem pre do reino. Em vez de humih a r a si mesm o e sua fam ília com essa pena, :;'!o co u seus negócios em ordem e depois se enforcou. Seu suicídio nos lem bra do que jd a s fez (M t 2 7 :5 ) e mostra o que D avi haria escrito em dois de seus salmos do deserk> (Sl 4 1 :9 ; 55:12-15; ver Jo 13 :1 8 ). Em Atos * :1 5-22, Pedro citou outros dois salmos que referiam a Judas (Sl 6 9 :2 5 e 109:8). Aitofel havia sido um servo fiel do rei e de seu reino até que decidiu, em seu cora:ão , vingar-se de D avi por aquilo que o rei havia feito a Bate-Seba e a Urias. Essa sede de vin g a n ça o tornou tão o b ce cad o que -itofel deixou de ser um servo do Senhor e com eçou a servir aos próprios desejos pera m in o s o s . C o n h e c ia as a m b iç õ e s de ^ósalão, mas ocultou-as de D avi e colabo'3u com o príncipe herdeiro em seu golpe re Estado. Porém , apesar de toda sua sabeio ria , Aitofel estava apoiando o rei errado, e o Senhor teve de julgá-lo. Tanto Aitofel ruanto A b salã o acab aram d ep en d urad o s re uma árvore. C o m o é triste quando uma Dessoa leva um a vida exem plar e produtiva ■r, depois, fracassa vergonhosam ente no fi­ nal. Existem insensatos de todas as idades, e -aitofel foi um deles. Todos nós precisam os :r a r para o Senho r nos ajudar a term inar bem. D avi re c e b e u o c u id a d o d e am igos (vv. 24-29). Davi e seu grupo vadearam o rio e ihegaram a M aanaim , antiga capital das dez —oos durante o breve reinado de Isbosete, flh o de Saul (2 :8 ). Foi em M aanaim ("dois icam pam entos, dois exércitos") que Jacó viu 353 o exército de anjos que D eus havia enviado para protegê-lo (G n 32), mas Davi não teve visão alguma, No entanto, D eus muitas ve­ zes usa "anjos" hum anos para ajudar seus servos e, dessa vez, cham avam-se Sobi, Maquir e Barzilai. A basteceram o rei e seu grupo com provisões e providenciaram para que fossem bem cuidados. D eus preparou uma mesa para D avi enq uanto'seus inimigos se aproxim avam (Sl 2 3 :5 ). O exército de Absalão estava sob o co ­ m ando de A m asa, sobrinho de D avi e pri­ mo de Joabe (v. 25 ). Evidentem ente, Absalão era o com an dante suprem o (1 7 :1 1 ). Q u e coisa triste ver um filho lutando contra o pai, tio contra sobrinho, primo contra primo e ci­ dadão contra cidadão! U m a guerra já é ter­ rível em si m esm a, mas um a guerra civil é ainda pior. A bsalão e seu exército atravessa­ ram o Jordão com a intenção de encontrar o exército de Davi em algum lugar perto do bosque de Efraim, cerca de cin co quilôm e­ tros a noroeste de M aanaim . É provável que o bosqu e de Efraim tenha re ce b id o esse nom e de efraimitas que atravessaram o rio e se assentaram na margem ocidental na re­ gião de G ileade. 3. S eu f i l h o f o i m o r t o (18:1-18) Sabendo que o inimigo estava para chegar, Davi contou seus soldados, dividiu-os em três com panhias e co locou Joabe, A bisai e Itai no com ando. Q u alquer que fosse a aborda­ gem de Absalão e de Am asa, os hom ens de Davi poderiam m anobrar e ajudar uns aos outros. Davi ofereceu-se para acom panhar o exército, mas o povo lhe disse para ficar num lugar seguro na cid ad e m urada (ver 2 Sm 21:15-17, um episódio ocorrido bem antes da rebelião de A bsalão). "Tu vales por dez mil de nós", argumentou o povo. Sabia que os soldados de A bsalão iriam atrás do rei e que não se preocupariam com os sol­ dados. Se Davi ficasse na cidad e, poderia e n viar refo rço s ca so fossem n e ce ssá rio s. Davi aceitou a decisão deles; de qualquer m odo, não queria lutar contra o filho. M as também não queria que seu exérci­ to lutasse contra seu filho! Absalão havia fi­ cado à porta de Jerusalém e atacado o pai 354 2 S A M U E L 16: 15 - 18:33 (15:1-6), e naquele m omento Davi estava à porta da cidade instruindo seus hom ens a tratar A bsalão "com brandura". Por certo, não era esse o tratam ento que A bsalão ha­ via reservado para o pai! H avia assassinado A m nom , expulsado D avi de Jerusalém , to­ mado o trono, violentado as concubinas de Davi e, agora, estava determ inado a matar o rei. Não é o tipo de hom em que alguém gostaria de proteger, mas se Davi tinha um defeito, esse era m im ar os filhos (1 Rs 1:5, 6; ver 1 Sm 3 :1 3 ). Porém, antes de criticar Davi, devem os nos lem brar de que ele foi um ho­ mem segundo o coração de D eus. Sejam os gratos porque nosso Pai no céu não nos tra­ ta de acordo com nossos pecados (Sl 103:114). Em sua graça, ele nos dá aquilo que não m e re c e m o s e, em sua m ise ricó rd ia , deixa de nos dar aquilo que m erecerm os. Jesus não m erecia m orrer, pois não tinha pecado algum e, no entanto, tomou sobre si o castigo que nos era devido. Q u e grande Salvador! A batalha espalhou-se por toda a região, e muitos soldados morreram por causa do bosque fechado. Não sabem os quantas bai­ xas houve de cada lado, mas é bem prová­ vel que a maioria dos dez mil hom ens que m orreram fosse do exército de Absalão. Tan­ to a espada quanto o bosque devoraram suas vítim as. (Trata-se de um a m etáfora usada anteriorm ente em 1 :22 e 2 :2 6 .) Porém , Deus não precisava de uma espada para deter o rebelde A bsalão; sim plesm ente usou o ga­ lho de um a árvore! O texto não registra a relação desse acidente com a cabeleira pe­ sada de A bsalão, mas é uma ironia algo que lhe dava tanto orgulho (1 4 :2 5 , 26) acabar contribuindo para sua m orte. Por certo, a soberba conduz ao julgam ento. O utro exem ­ plo disso é Sansão (Jz 16). "Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho dos que tramam se precipita" (Jó 5:1 3 ). O s soldados que encontraram Absalão dependurado da árvore não ousaram tocálo, mas Joabe sabia muito bem o que queria fazer. O general que havia promovido a re­ conciliação entre Davi e Absalão ignorou as ordens de Davi e matou o rapaz.3 Absalão rejeitou o plano de Aitofel de "m atar somente o rei", m as Joabe co m p rou essa idéia! O ve rsíc u lo 11 sugere que Joab e h avia es­ palhado discretam ente a notícia de que re­ com pensaria o soldado que matasse o filho rebelde. O soldado que poderia ter recebi­ do a recom pensa recusou-se a matar Absalãc por dois m otivos: não queria desobedecer ao rei e não estava certo de que Joabe o defenderia se o rei descobrisse. Afinal, Davi havia matado o hom em que alegou ter dado cabo de Saul (1:1-16) bem com o os dois hom ens que disseram ter matado Isbosete, filho de Saul (4:1 ss). O s soldados sabiam que Joabe não queria ser pego m andando matar o filho do rei, quando Davi havia ordenado justam ente o contrário. A morte de Absalão marcou o fim da guerra e da rebelião, de modo que Joabe retirou seus soldados. Tanto Absalão quanto Aitofel morreram dependurados em árvores e, para um israe­ lita, pendurar um corpo num a árvore pro­ vava que o morto era am aldiçoado por Deus (D t 2 1 :2 2 , 2 3 ; G l 3 :1 3 ). Ao consider os cri­ mes que esses dois homens com eteram , nãc é de se admirar que tenham sido am aldiçoa­ dos. No entanto, Deus, em sua graça, per­ doou D avi do mesm o crim e e permitiu que vive sse . Por algum tem p o, A b sa lã o foi c hom em mais benquisto do reino, mas termi­ nou sepu ltado num a co va, co m o corpo coberto de pedras. Ao que parece, seus tréi filhos haviam m orrido (1 4 :2 7 ), não restancn ninguém em sua fam ília para dar continudade a seu nom e, fato que havia le v a c :i A bsalão a erguer um a coluna para mante' vivo seu nom e (v. 1 8). Até m esm o essa co Lna não existe mais, e o que hoje é cham ado de "Túm ulo de A bsalão", no vale do C ed ro r-, na realidade é do tem po de H ero des. -H m em ória do justo é abençoada, mas o norr.e dos perversos cai em podridão" (Pv 1 0 :7 l 4. E le se e n t r is t e c e u p r o f u n d a m e n t e (2 S m 18:19-33) A guerra e a rebelião haviam chegado ao fim l Joabe só precisava avisar o rei e levá-lo de volta em segurança a Jerusalém . Porém , fc i uma vitória doce e, ao m esm o tempo, amar­ ga para D avi. Q uand o o inimigo é seu fi é im possível haver triunfo ou celebração. 2 S A M U E L 16: 15 - 18: 33 Aim aás era um corredor conhecido (v. 27) e se ofereceu para levar a notícia ao rei em M aanaim , ce rca de cin co quilôm etros de :n d e se encontravam . Por m aior que fosse í ra ab astado s que saíram ao en co ntro D avi qu and o ele chegou a M aanaim , quais, juntos, supriram as necessidades rei e de seu grupo (1 7:27-29). Depois d: Barzilai voltou para sua casa em Rog cerca de trinta a quarenta quilôm etros 2 S A M U E L 19: 1 - 4 0 norte. Q uand o ficou sabendo que Davi es­ tava voltando para Jerusalém , desceu até o Jordão para despedir-se dele. Não tinha pe­ cados a confessar, diferentem ente de Simei, nem algum m a l-en ten d id o a e s c la re c e r, como M efibosete. Barzilai não desejava fa.o r algum do rei. Tudo o que queria era en. iá-lo de v o lta para c a sa em se g u ra n ça, sabendo que a guerra havia term inado. Es­ sas duas viagens devem ter sido difíceis para um hom em de oitenta anos, mas ele deseja­ va dar o melhor de si a seu rei. Davi queria recom pensar Barzilai cuidan­ do dele no palácio em Jerusalém . Além de e xp ressa r sua gratidão, o fato de ter um homem tão im portante com o Barzilai em Je­ rusalém fortaleceria as relações com os ci­ dadãos da região da T ran sjo rd â n ia num a época em que a união era um bem precio­ so. Barzilai, porém , recusou gentilm ente a oferta de Davi afirm ando que já estava ve­ lho dem ais. As pessoas mais idosas não gos­ tam de se mudar e preferem morrer em casa e ser sepultadas com os entes queridos. Em sua idade, Barzilai não poderia mais desfru­ tar devidam ente os privilégios da vid a na 1. 361 corte e seria um fardo para o rei, cujas preo­ cupaçõ es já não eram poucas. Porém , Barzilai estava disposto a permitir que o filho, Q u im ã, tom asse seu lugar (1 Rs 2 :7 ) e se m udasse para Jerusalém . Q u eria que outros desfrutassem aquilo que não lhe era necessário . Nas palavras de M atthew H en ry: "Aqueles que são idosos não devem privar os jovens dos prazeres que eles pró­ prios desfrutaram no passado nem obrigar os jovens a se aposentar co m o eles". Barzilai atravessou o rio junto com Davi e Q u im ã e percorreu uma distância curta com os dois. Em seguida, se despediram , e Davi beijou afetuosam ente o amigo e benfeitor.4 No tem­ po de je re m ia s, havia um lugar cham ado Jerute-Quim ã ("habitação de Q uim ã") pró­ xim o a Belém (Jr 4 1 :1 7 ), e é possível que tenha sido nesse lugar que o filho de Barzilai se assentou com a família. M as os problem as de Davi ainda não ha­ viam term inado, pois a eterna rixa entre as dez tribos e Judá voltaria à tona e, por pouco, não causaria outra guerra civil. Shakespeare estava certo: "Inquieta deita-se a cab eça que usa a co ro a".5 Em 2 Sam uel, a expressão "o povo" refere-se aos seguidores de D avi, especialm ente a seu exército. V er 15 :1 7, 23, 24, 30; 16 :1 4; 1 7 :2, 3 ,1 6 , 22; 18:1-4, 6 ,1 6 ; 19:2, 3, 8, 9, 39. O utra expressão usada para seu exército é "os hom ens/servos de D avi" (2:1 3, 15, 17, 30, 3 1 ; 3 :2 2 ; 8 :2 , 6, 14; 10:2, 4 ; 11:9, 11, 13, 17; 12 :1 8; 15 :1 5; 1 6 :6 ; 18:7, 9; 1 9 :6 ; 2 0 :6 ). 2. Simei identificou-se com a "casa de José" (v. 20), sendo a primeira vez que essa expressão é usada no Antigo Testamento. Refere-se às d ez tribos lideradas por Efraim, filho mais novo de José. A s d ez tribos do Norte costum avam ser cham adas de "Efraim " ou de "filhos de José". 3. A tradução "a Jerusalém ", no versículo 25, deve ser lida com o "de Jerusalém ". 4. O "episódio de Absalão" teve início no m om ento em que D avi beijou o filho depois que havia passado dois anos em prisão dom iciliar (1 4 :3 3 ) e term inou quando D avi beijou Barzilai. 5. H en ry IV, Parte 2, ato 3, cena 1. 10 As 2 N o v a s Lutas de D avi Sam uel ( V e r ta m b é m O 19 : 4 1 1 - 21:22 C r ô n ic a s 2 0 :4 - 8 ) bem-humorado poeta O gden Nash es­ cre v e u em tom s é rio : "A s p e sso as seriam capazes de sobreviver a seus proble­ mas normais se não fossem todas as dificul­ dades que causam a si m esm as!" Ao ler o relato da vida de Davi em sua idade mais avançada, percebem os com o isso é verdade. Todos os pais têm problem as pre­ visíveis com os filhos, mas os pecados dos filhos de Davi pareciam bater todos os re­ c o rd e s, e sp e c ia lm e n te co m re fe rê n c ia a A bsalão. Todos os líderes enfrentam dificul­ dades com os seguidores, mas no caso de D avi, a espada reluziu repetid am ente em Israel, enquanto irmão lutava contra irmão. Q u e dolorosas são as co n seq ü ê n cia s dos pecados perdoados! Estes capítulos descre­ vem quatro conflitos com os quais Davi teve de lidar depois que a rebelião de Absalão havia sido contida. 1. C o n f l it o t r ib a l (2 S m 19:41 - 2 0:4, 14-26) Em algumas pessoas, as crises fazem aflorar o que há de melhor, e em outras, o pior. O s representantes das tribos estavam reunidos em Gilgal a fim de escoltar seu rei de volta a Jerusalém , mas em v e z de se regozijarem com a vitória que Deus havia dado a seu povo, as tribos lutavam entre si. O s "hom ens de Israel" eram as dez tribos do Norte, ira­ das com a tribo de Judá, a qual havia assim i­ lado a tribo de Sim eão. O motivo da ira de Israel era o fato de Judá não ter esperado que os outros chegassem ao local a fim de ajudar a levar Davi para casa. Judá havia "se­ qüestrado" o rei, ignorando e insultando as outras tribos. Judá respondeu que Davi era de sua tribo, de modo que recaía sobre eles m aior responsabilidade de cuidar do rei. Is­ rael argumentou que tinham dez partes em D a v i, en q u an to Jud á tin ha ap e n as duas, com o se o rei fosse alguma em presa na bol­ sa de valores. Ao que parece, ninguém ins­ tou as tribos a clam ar ao Senhor pedindo ajuda e a lem brar que Gilgal era o lugar onde Israel havia recom eçado no tem po de Josué (Js 3 - 5). A s raízes do conflito entre Judá e Israel eram profundas, assim com o as origens dos conflitos que dividem tantas naçõ es hoje. Q uand o o rei Saul reuniu seu primeiro exér­ cito, as tropas foram divididas entre Judá e Israel (1 Sm 1 1 :8 ), divisão que persistiu ao longo de todo seu rein ad o (1 5 :4 ; 1 7 :5 2 ; 1 8 :1 6 ). D epois da morte de Saul, as dez tri­ bos de Israel apoiaram o filho dele, Isbosete. enquanto Judá seguiu Davi (2 Sm 2 :1 0 ,11 ). E evidente que Judá estava obedecendo à vontade de Deus, pois o Senhor havia esco­ lhido D avi para ser o próxim o rei de seu povo. M esm o nos tem pos de D avi ainda existia essa rivalidade entre as tribos (2 Sm 1 1 :1 1 ; 1 2 :8 ). Jesus disse que "Todo reino dividido contra si mesm o ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mes­ m a não su b sistirá " (M t 1 2 :2 5 ). Q u a n d o Roboão subiu ao trono depois da morte de seu pai, Salom ão, essa divisão tornou-se airda mais profunda, e o reino se dividiu em Israel e Judá. O discurso de um aspirante a líder mutas vezes é suficiente para co m eçar um con­ flito, e, nesse caso, o nom e desse pretenso líder era Seba. Por ser um benjam ita, apoia­ va a casa de Saul e, provavelm ente, era u a oficial do exército do Norte. Se as dez tri­ bos se separassem do reino, talvez pudesse com andar seu exército. Seba não d e c la rc . guerra, mas apenas dispensou o exército e os cidadãos das tribos do Norte e lhes disse para deixarem de seguir Davi. No fundo, po­ rém, suas palavras foram uma declaração ce guerra, pois Seb a perco rre u as tribo s c:> Norte em busca de seguidores (2 0 :1 4 ). An que parece, não foram muitos os que o apo V ram, e Seba e seus partidários acabaram "a cidade murada de Abel-Bete-M aaca. 2 S A M U E L 1 9: 41 - 21 : 22 Joabe assum iu no vam ente o com ando das tropas de Davi e seguiu Seba até AbelBete-M aaca, cercou a cidade e com eçou a sitiá-la. Pela terceira vez na "história de D avi", um a m ulher m udou o curso dos a co n te ­ cim entos. Abigail foi a prim eira dessas mu­ lheres (1 Sm 25 ); a m ulher de Teco a foi a segunda (2 Sm 14). A m ulher sábia cham ou Joabe de dentro da cidad e e lhe garantiu que ninguém ali se aliou a quaisquer rebel­ des e que, portanto, não m ereciam ser ata­ cad o s. T alve z tivesse em m ente a lei em Deuteronôm io 20:10-16, de acordo com a qual uma cidade deveria o ferecer uma ofer­ ta de paz antes de ser atacad a. Q u an d o Joabe explicou que estava apenas atrás de Seba, a m ulher convenceu os habitantes de Abel a m atarem o líder rebelde e a salvar a cidade. M as Seba não foi um bode expiató­ rio, pois com o oficial que havia se rebelado contra o rei, o benjam ita m erecia m orrer. Seba queria ser cabeça do exército, mas, em vez disso, sua cabeça é que foi jogada por sobre o muro para o exército. O capítulo encerra com mais uma lista de oficiais de Davi (ver 8:15-18), ã qual são a c re s c e n ta d o s do is n o m e s: A d o rã o (ou Adonirã) era encarregado dos trabalhos for­ çados e Ira, o jairita, era o capelão de Davi. O s "trab a lh o s fo rça d o s" eram re aliza d o s pelos prisioneiros de guerra, mas, por vezes, os israelitas eram co n vo cad o s para ajudar nos programas de construção do governo. Do reinado de Salom ão em diante, o oficial encarregado desses projetos não teve uma vida fácil (1 Rs 4 :6 ; 5 :1 4 ; 1 2 :1 8 ss; 2 C r 10 :1 8 , 19). Agora, devem os retroceder um pouco a fim de descobrir com o jo a b e recuperou o com ando do exército de Davi. 2. C o n f l i t o p e s s o a l (2 S m 20:4-13) Q uando D avi ficou sabendo que Seba esta­ va conclam ando o povo a se rebelar, mais q u e d e p re ss a e n v io u um a m e n sag em a A m asa, seu novo com andante (1 9 :1 3 ), or­ denando que reunisse os soldados em três dias e que fosse a Jerusalém . C o m o estrate­ gista experiente, Davi sabia que a insurrei­ ção deveria ser cortada pela raiz antes que 363 ganhasse fo rça entre a população insatisfei­ ta da terra, o que poderia levar a outra guer­ ra. M ilhares de súditos de Davi haviam se disposto a seguir A bsalão e, ao que parecia, as tribos do N orte estavam dispostas a se­ guir qualquer um. Porém, A m asa não com pareceu com o exé rcito no dia m arcad o, e D avi teve de entregar o com an d o das tropas a A bisai. Am asa havia sido com andante do exército de A bsalão, de modo que Davi talvez sus­ peitasse que o havia traído juntando-se a Seba. A exp licação mais lógica para a de­ m ora de A m asa era que os h om ens não confiavam nele e não queriam segui-lo, ar­ riscando a vida para lutar sob seu com ando. Levando consigo os oficiais de Joabe e os "valentes" de Davi, Abisai reuniu o exército de Judá rapidam ente e rumou para o norte, a fim de deter Seba. Q ual não foi a surpresa deles quand o en co n tra ram A m asa e seu exército na pedra grande junto a G ib e ão , ce rca de nove quilôm etros a noroeste de Jerusalém . Am asa estava a cam inho para se apresentar a D avi e receber suas ordens. A p esar de não ter cargo oficial, Joabe acom panhou o irmão, A bisai, a fim de aju­ dá-lo no que fosse possível. O s dois haviam lutado juntos na batalha no bosque de Efraim e derrotado A bsalão. Joabe não tinha qual­ quer afeição por Am asa, o com andante que havia traído D avi e liderado o exército de Absalão (1 7 :2 5 ). Além disso, Am asa tomara o lugar de Joabe com o com andante das tro­ pas de D avi, um a nom eação que deve ter hum ilhado Joabe (D avi fez essa m udança porque Joabe havia dado cabo de A bsalão). Joabe sabia que ele e o irmão, A bisai, pode­ riam d ar co n ta da revo lta de S eb a, mas Am asa era fraco e inexperiente dem ais para com andar um exército vitorioso. Co m o na ocasião em que assassinaram A bner (3:27-39), Joabe e Abisai devem ter tram ado algo rapidam ente assim que viram A m asa se aproximar. Joabe havia assassina­ do A b n e r1 e A b salão , de m odo que suas mãos já estavam m anchadas de sangue. O gesto ardiloso com a espada deu a Am asa a im pressão de que se tratava de um enco n­ tro informal, mas foi a maneira astuciosa de 364 2 S A M U E L 1 9: 41 - 21 : 22 Jo a b e pegar A m asa d esp reven id o (ve r Jz 3:20-23). M ais um a vez, a espada caiu so­ bre a casa de Davi, pois A m asa era seu pri­ mo. Não havia m otivo para m atar Am asa. Por certo, ele havia se aliado a Absalão, mas Davi havia declarado anistia, a qual também in clu ía Joabe, que havia m atado A b salão. Joabe poderia ter tom ado o co m ando de Am asa sem m aiores dificuldades, mas a ín­ dole do veterano era tal que ele preferia ex­ term inar os que estavam em seu cam inho. Não queria ver líder algum de Absalão ain­ da vivo e criando problem as para Davi. Joabe deixou A m asa caído numa poça de sangue no meio da estrada, levando todo o exército a interrom per a m archa de súbito diante daquela cena. A batalha nem havia com eçad o e lá estava seu com andante, mor­ to no meio do cam inho! Joabe e Abisai parti­ ram em perseguição a Seba, mas o exército não os seguiu, pois com o acontece em aci­ dentes de trânsito hoje em dia, todos os que passavam precisavam parar e olhar, causando um congestionam ento. U m dos hom ens de Joabe teve o bom senso de co locar o corpo à beira da estrada e cobri-lo. Em seguida, convocou os soldados de Am asa para que apoiassem Joabe e Davi, e os hom ens con­ co rd a ra m . T e ria sido m ais p o litica m e n te correto dizer "D avi e A bisai", pois D avi ha­ via entregado o com ando a A bisai. Joabe, porém , tomou de volta seu antigo cargo e se recusou a entregá-lo (v. 2 3 ). M ais uma vez, Davi teve de ceder aos jogos de poder de Joabe. Por certo, alguém sepultou o corpo, uma vez que era considerado algo muito grave em Israel não sepultar os mortos devidam ente. 3 . C o n f l i t o é t n ic o ( 2 Sm 2 1 :1 - 1 4 ) O livro encerra com .um registro de duas ca­ lamidades nacionais: uma seca decorrente do pecado do rei Saul (21:1-14) e uma praga causada pelo pecado do rei Davi (24:1-25). Entre esses dois acontecim ento trágicos, o escritor apresenta um resumo de quatro vitó­ rias (21:15-22) e um a lista dos valentes de Davi (23:8-39), bem com o dois salmos escri­ tos de Davi (22:1 - 23 :7 ). M ais uma vez, ve­ mos Davi com o soldado, cantor e pecador. P e c a d o (vv. 1-4). Em parte algum a das Escrituras é explicado quando ou por que Saul matou os gibeonitas, rom pendo, assim, a alian ça que Israel havia feito com esse povo no tem po de Josué (Js 9). Josué havia tentand o tirar proveito de seu erro, pois co lo co u os gibeonitas para trabalhar co r­ tando lenha e carregando água, mas o ju­ ram ento dos israelitas obrigava-os diante de D eus a proteger os gibeonitas (Js 10). Saul m atou vários gibeonitas, mas sua intenção era eliminá-los de todo, tratando-se, portan­ to, de um caso de "exterm ín io étnico " e de gen o cíd io . A vida religiosa de Saul é um mistério. Na tentativa de parecer piedoso, fez votos insensatos que ninguém co nseguiria cum ­ prir (1 Sm 14:24-35) e, ao mesm o tempo, ignorou ordens claras do Senhor (1 Sm 13. 1 5 ). D e u s ordeno u que Saul m atasse os am alequitas, e ele não o fe z; no entanto, exterm inou os gibeonitas! O utro mistério é o fato de Jeiel, bisavô de Saul, ser progenitor dos gibeonitas (1 C r 8 :29-33; 9:35-39), de modo que Saul matou os próprios parentes. G ibeão tornou-se uma cidade levítica (Js 2 1 :1 7 ) e, durante algum tem po, abrigou o tabernáculo (1 Rs 3 :4 , 5). A cidad e ficava em Benjam im , tribo de Saul, o que talvez seja um a pista para o com p ortam ento de Saul. Já era problem ático o suficiente ver os pagãos gibeonitas vivos e tranqüilos na ter­ ra de Israel, mas será que precisavam morar no território de Benjam im ? U m a das táticas de "liderança" de Saul era recom pensar seus hom ens com casas e terras (1 Sm 2 2 :7 ); tal­ vez, para fazer isso, tenha confiscado pro­ p ried a d e s dos g ib eo n ita s. Q u a lq u e r que tenha sido o m otivo e o m étodo, mesmo em seu túm ulo, Saul trouxe julgam ento scbre o povo de Israel, um a vez que a seca e a fom e continuaram por três anos (2 1 :1 ,1 0 . É possível que o prim eiro ano de seca tenha sido causad o por algum a mudança clim ática inesperada, e, durante o seguncc ano, talvez os israelitas dissessem : "Logo ai co isa s vão m e lh o rar". M as q u and o , pe :> terceiro ano co n se cu tiv o , a terra teve de suportar a escassez de chuva e de alimen­ tos, D avi buscou o Senhor. Estava escrito na 2 S A M U E L 1 9: 41 - 2 1 : 2 2 aliança do Senhor com Israel que ele envia­ ria chuvas à terra, caso seu povo o honrasse e lhe obedecesse (D t 28:1-14). D avi sabia que o pecado de hom icídio contam inava a terra (Nm 35:30-34), e era exatam ente isso o que estava causand o todo o transtorno. Talvez por interm édio do profeta N atã ou de Ira, capelão do rei, o Senhor disse a Davi: "H á culpa de sangue sobre Saul e sobre a sua casa, porque ele matou os gibeonitãs" (v. 1). Fazia mais de trinta anos que Saul ha­ via m orrido, e o Senhor esperou paciente­ mente para tratar do pecado dele.2 R e trib u içã o (vv. 5-9). Q uand o ficou sa­ b e n d o dos fato s, D a v i o fe re ce u im e d ia ­ tam e n te um a re stitu iç ã o p e lo s p e ca d o s terríveis de seu antecessor, pois desejava que os gibeonitãs ab enço assem o povo de Is­ rael e, desse m odo, desfrutassem as b ên çã o s de Deus (G n 12:1-3). Porém , os gibeonitãs não queriam dinheiro; sabiam que um ho­ m icida não poderia pagar resgate nem inde­ nizar os sobreviventes (N m 3 5 :3 1 -3 3 ). O s gibeonitãs deixaram claro que sabiam qual era seu lugar em Israel: eram servos e resi­ dentes estrangeiros e não tinham direito al­ gum de pleitear sua c a u s a .3 Porém , seria necessário derram ar sangue a fim de expiar o sangue gibeonita derram ado (Êx 2 1 :24 ; Lv 24:19-21; Dt 1 9 :2 1 ). A nação sofria por cau­ sa dos pecados de Saul, e matar qualquer um não resolveria o problem a. O s gibeonitãs pediram que sete hom ens descendentes de Saul fossem sacrificados diante do Senhor; isso daria fim à seca e à fome. Davi sabia que os israelitas eram proibi­ dos de o fe re c e r sa c rifíc io s hu m an o s (Lv 18:21; 20:1-5; Dt 12:29-32; 18:10) e que a morte de sete hom ens em sacrifício não ti­ nha valor expiatório. Nós, que tem os hoje o Novo Testam ento e que com preendem os o evangelho de Jesus Cristo, vem os esse epi­ sódio todo com um misto de espanto e de repugnância, mas não devem os nos esque­ cer de que estam os lidando com a lei, não com a graça, e se trata de Israel, não da Igre­ ja. A lei de M oisés exigia que um hom icídio não s o lu c io n a d o fo sse e x p ia d o p o r um s a crifício (D t 2 1 :1 -9 ), quanto m ais o e x ­ term ínio exp lícito perpetrado por um rei! 365 Porém, devem os nos lem brar de que a mor­ te dos sete hom ens não serviu de expiação, mas sim de retribuição legal. A pesar de D avi não haver com etido o crim e, teve de escolher os sete hom ens que iriam m orrer, tarefa nada fácil (talvez Davi tivesse pensado nos que m orreram em de­ co rrê n cia de seus pecad os: o bebê de Ba­ te-Seba; U rias, o heteu; A m no m ; A bsalão; A m asa). Por causa do voto que havia feito a Jônatas de proteger seus d escend entes (1 Sm 20:12-1 7),4 o rei não citou o nome de M efibosete e escolheu dois filhos de Rispa, con cu b in a de Saul, e tam bém os cinco fi­ lhos de M erabe, filha de Saul casada com Adriel (2 Sm 2 1 :8 ).5 Esse fato ocorreu duran­ te a colheita da cevada, em m eados de abril, e os corpos ficaram expostos por cerca de seis m eses, até as chuvas chegarem ; a seca term inou em outubro. Pendurar um corpo era uma forma de desgraçar a pessoa e de am aldiçoá-la (D t 2 1 :2 2 , 23). C om p a ixã o (vv. 10-14). A lei exigia que os corpos expostos fossem retirados até o pôr-do-sol e sepultados. A fim de ter certeza de que todo o possível havia sido feito para tratar do crim e de Saul, Davi permitiu que os corp os ficassem expostos até virem as chuvas, indicando que o Senhor havia volta­ do a abençoar seu povo. Durante todo esse tem po, Rispa protegeu os co rp os de seus filhos e sobrinhos, num ato de am or e de coragem . Rispa era a co ncubina envolvida no ep isód io em que A b n er ab ando no u a casa de Saul e aliou-se a Davi (3:6-12). Porém , Davi foi ainda mais longe. O rd e­ nou que os ossos fossem recolhidos, e que, juntam ente com os ossos de Saul e de seus filhos, enterrados pelos hom ens de JabesG ile a d e (1 Sm 3 1 ), fossem co lo cad o s no túm ulo da fam ília de Saul (vv. 12-14). Todo israelita d e se ja va ser sepu ltado de m odo apropriado junto a seus antepassados, e Davi concedeu essa bênção a Saul e a sua famí­ lia. Q u a isq u e r que sejam as dúvid as que ainda restam sobre esse acontecim ento sin­ gular, uma coisa é certa: os pecados de um hom em podem causar tristeza e morte para sua fam ília, m esm o depois de m orto e se­ pultado. Também devem os dar crédito a Davi 2 S A M U E L 1 9: 41 - 2 1 : 2 2 366 por tratar e n e rg icam e n te do pecad o por am or à nação e, ao mesmo tem po, mostrar bondade para com a casa de Saul. 4. C o n f l it o n a c io n a l (2 S m 21:15-22; 1 C r 20:4-8) Estes quatro conflitos ocorreram no co m eço do reinado de D avi, provavelm ente antes que transform asse Jerusalém em sua capi­ tal e antes que os filisteus se opusessem a sua ascensão ao poder. O s quatro episódi­ os en vo lve ram "d e sce n d e n te s dos gigan­ tes"6 da Filístia, sendo um deles irm ão de G o lia s (v. 1 9). No primeiro conflito (vv. 15-17), D avi lu­ tou tanto que ficou fraco, pois os filisteus concentravam -se nele, não nos outros sol­ dados. Isbi-Benobe queria matar Davi e ti­ nha uma lança de bronze que pesava quase quatro quilos. M as Abisai, sobrinho de Davi que o exasperou em mais de uma ocasião, socorreu o rei e matou o gigante. Foi então que os líderes militares decidiram que o rei era vulnerável e valioso dem ais para ser sa­ crificado no cam po de batalha. O rei era a "lâm pada de Israel" e deveria ser protegido (ver 1 Rs 1 1 :3 6 ; 15 :4 ; 2 Rs 8 :1 9 ; 2 C r 21 :7 ). 1. O segundo em bate com os filisteus (2 Sm 2 1 :1 8 ; 1 C r 2 0 :4 ) ocorreu em G o b e, local im p o ssíve l de d e te rm in a r co m p re cisão , onde Israel venceu a batalha porque um dos valentes de Davi matou o gigante (ver 1 C r 1 1 :29). O fato de os nomes desses gigantes aparecerem no texto mostra que eram guer­ reiros conhecidos. O terceiro conflito com os filisteus (v. 19) foi, novam ente, em G o b e, e, dessa vez, o gigante morto foi o irmão de G olias (1 Cr 2 0 :5 ). Sabem os pouco sobre Elanã, exceto que veio de Belém e que era um dos valen­ tes de Davi (2 Sm 2 3 :2 4 ). A quarta batalha ocorreu em território inimigo, na cidade de G ate (vv. 20-22; 1 C r 20:6-8), e Jônatas, sobrinho de D avi, matou o gigante que, assim com o G o lias, havia de­ safiado Israel e o D eus de Israel (ver 1 Sm 17: 10). Q uand o, em sua adolescência, Davi ma­ tou G olias, sem dúvida deu aos homens de Israel um bom e xe m p lo do que significa confiar em Deus para alcançar a vitória. É bom saber matar os gigantes em sua vid a mas não se esqueça de ajudar outros a ma­ tar os gigantes na vida deles. Jo a be matou A bner, p ois este havia m atado seu irmão, Asael, e o fez próxim o a G ib eã o , o n d e Jo a be encontrou-se co m Amasa (2 :1 2ss). Talvez a m em ória da m orte de seu irm ão tenha instigado Joabe, apesar de Am asa não ter qualquer relação com esse acontecimento. 2. N ão se sabe por que os gibeonitas não apresentaram essa questão a D avi bem antes, pois, um a vez que eram residentes estrangeiros em Israel, tinham direitos civis. Durante a prim eira parte de seu reinado, D avi estava protegendo e expandindo 0 reino, e, nos últim os anos, tratava de problem as decorrentes dos próprios pecados, de m odo que talvez tenha levado algum tem po para a questão chegar aos ouvidos do rei. A o enviar seca e fom e, o Senhor cum priu as estipulações da aliança (Lv 2 6 :1 8-20 ; D t 2 8 :2 3 , 24). 3. A lei de M oisés concedia certos direitos a residentes estrangeiros, e Israel havia recebido a advertência de não oprim ir os estrangeiros na terra (Êx 2 2 :2 1 ; Lv 19 :3 4; D t 2 4 :1 7 ). A o que parece, nem o juram ento de Josué nem a lei de M oisés impediram Saul de tentar exterm inar os gibeonitas. 4. No entanto, Davi fez uma promessa semelhante a Saul (1 Sm 24:20-22) e, nesse caso, estava ordenando a morte de descendentes de Saul. Porém, a execu ção de cin co homens não era o m esm o que m andar exterm inar toda a fam ília. 5. De acordo com 6 :2 3 , M ical m orreu sem ter filhos, de modo que o texto deve d izer "M erabe". Ela era filha de Saul com Ainoã (1 Sm 14 :4 9) e casada com Adriel (1 Sm 18:17-19). 6. O texto hebraico d iz "descendentes de Rafa", sendo que esse term o significa "gigante" (D t 2 :1 1 , 2 0 ; Js 1 2 :4 ; 1 3 :1 2 ; 17 :1 5: 1 C r 2 0 :4 , 6, 8). 11 O C â n t ic o de V de D avi itó ria 2 S am u el 2 2 ( V er ta m bém o Salm o 18) sua dinastia (2 Sm 7) e lhe deu as vitórias registradas em 2 Samuel 8 e 10. Podemos concluir, ainda, pelos versículos 20 a 27, que escreveu o salmo antes de com eter os pe­ cados gravíssimos relacionados a Bate-Seba e a Urias (2 Sm 11 - 12), pois jam ais pode­ ria ter escrito os versículos 2 0 a 27 depois desse triste episódio. O salmo enfatiza aquilo que o Senhor, em sua graça e m isericórdia, fez por D avi. I . O S e n h o r liv r o u a D a v i m 1 Samuel 2, há o registro do cântico que A n a entoou quando levou o filho, Sam u e l, p ara s e rv ir ao S en h o r no ta b e r­ náculo, e em 2 Samuel 22, há o cântico de Davi depois que o Senhor o ajudou a derro­ tar os inimigos (v. 1; Sl 18, título). E extrem a­ mente significativo que esses dois livros, tão pesados e cheios de morte, com ecem e ter­ m inem com louvo res! N ão im porta quão sombrios sejam os dias ou quão dolorosas as m em órias, podem os sem pre louvar ao Senhor. Neste cântico, Davi agradeceu ao Senhor E as muitas vitórias que lhe havia dado e sua bondosa atuação ao conduzi-lo ao trono de Israel. O b serve que Saul não é incluído na relação de inimigos de Davi, pois, a despei­ to de tudo o que Saul fez contra ele, em momento algum Davi o considerou um ini­ migo. E bem provável que 2 Samuel 22 seja a versão original, mas quando o cântico foi adaptado para a adoração com unitária, Davi escreveu uma nova abertura: "Eu te am o, ó S e n h o r , fo rça m inha" (Sl 1 8 :1 ). O term o hebraico usado para "am ar", nessa declara­ (2 S m 22:1-19) A palavra-chave desse cântico é "livrar" (vv. 1, 2, 18, 20, 44, 49 ), tendo com o significa­ dos "tirar do perigo, agarrar, levar em bora, permitir escapar". Antes de se tornar rei, Davi passou pelo menos dez anos sendo perse­ guido por Saul e por seu exército; de acor­ do com o registro bíblico, Saul tentou matar D avi pelo m enos c in c o v e z e s (ver 1 Sm 18 :1 0 , 11; 19:8-10, 18-24). D epois que se to rn o u rei, D avi teve de lutar co n tra os filisteus, os am onitas, os sírios, os moabitas e os edom itas, e Deus capacitou-o a triunfar sobre todos os inimigos. Davi com eçou seu cântico louvando ao Senhor por aquilo que ele é: uma rocha, uma ção, significa "am or profundo e fervoroso", não apenas uma em oção passageira. Além disso, Davi removeu do versículo 3 as pala­ vras: "D a vio lê n cia tu me salvas". Existem diferenças, mas elas não devem nos im pe­ dir de co m p reend er a m ensagem gloriosa desse cântico de louvor. fortaleza, um libertador (v. 2), imagens sem dúvida provenientes dos anos que D avi pas­ sou no deserto, quando ele e seus homens esconderam -se em cavernas e em fortalezas naturais. A declaração: "D eu s, o meu roche­ do" (v. 3) pode ser traduzida por: "M eu Deus sem elh ante a um a ro ch a ". A im agem do Senhor, "a ro ch a", já aparece em G ênesis 4 9 :2 4 e é u s a d a , co m fr e q ü ê n c ia , no "cântico de M oisés" em D euteronôm io 32 (vv. 4, 15, 18, 30, 31 ). A na em pregou essa expressão em seu cântico (1 Sm 2 :2 ), e pa­ lavras sem elhantes podem ser encontradas em várias ocasiões nos salmos. Um a rocha lembra força e estabilidade, algo confiável e im utável. Por mais que os inimigos de Davi É pouco provável que esse cântico te­ nha sido escrito logo depois da derrota de Saul e do in ício do re in ad o de D avi em H ebrom . Podem os inferir, pelo versículo 51, que D avi escreveu esse salmo depois que Deus firm ou com ele a alian ça acerca de tentassem destruí-lo, ele estava sem pre pro­ tegido e era sem pre conduzido pelo Senhor. D eus era um escud o ao redor dele e um libertador em todo tem po de perigo. A imagem da rocha dá lugar à imagem da torrente (vv. 4-7), que, por sua vez, leva 368 2 S A M U E L 22 ao retrato vivido da tem pestade (vv. 8-20). Enquanto estava exilad o no deserto, Davi certam ente viu muitas tem pestades (ver Sl 29 ), que transform avam os leitos secos de ria ch o s em to rren tes in ten sas (Sl 1 2 6 :4 ). Q ualqu er que fosse a estação do ano, Davi sem pre lutava contra as fortes correntezas da oposição de Saul. O nd as de morte, tor­ rentes de im piedade, cadeias infernais e tra­ mas ocultas de morte enchiam a vida de Davi de dificuldades e de perigos. Não é de se admirar que dissesse a Jônatas: "apenas há um passo entre mim e a m orte" (1 Sm 2 0 :3 ). O que fazer quando se está morrendo afogado numa torrente de oposição? Clamar ao Senhor e confiar, e ele dará a ajuda n eces­ sária (v. 7). Davi era um hom em de oração que dependia do Senhor para ter sabedoria, força e livram ento, e o Senhor jam ais falhou com ele. Por que Deus esperou tantos anos antes de livrar Davi e de colocá-lo no trono? D entre outras coisas, porque o Senhor esta­ va constituindo para si um lider, algo que poderia ser feito som ente por m eio de pro­ vações, de sofrimento e de batalhas. Porém, o Senhor tam bém tinha em vista a hora cer­ ta: "vin do , porém , a plenitude do tem po" (C l 4 :4 ), o M essias viria ao m undo nascido Jeová conquistaria a vitória. Por isso, dava toda a glória ao Senhor. Davi declarou que Deus não apenas "desceu" (v. 10), mas tam­ bém lhe "estendeu... a m ão" e o tom ou; tirou-o das muitas águas perigosas (v. 1 7). da fam ília de Davi. Q uand o Senhor respondeu aos clam o­ res de Davi e o livrou de Saul e dos inimigos do povo de D eus, foi com o uma grande tem­ pestade caindo sobre a terra (2 Sm 22:8-20). Davi descreve a intervenção divina com o um terrem oto (v. 8) seguido de relâmpagos, fogo e fum aça (v. 9). O Senhor estava irado (ver Sl 7 4 :1 ; 140:1 0 )! Tendo o céu escuro com o pano de fundo, o Senhor fez descer uma nuvem im pelida por querubins.1 A tem pes­ tade caiu com toda sua fúria! Nas Escrituras, uma tem pestade pode retratar um exército avançando (E z 3 8 :9 ; Dn 1 1 :4 0 ; Hb 3 :1 4 ) ou o julgam ento de D eus (Jr 1 1 :6 ; 2 3 :1 9 ; 2 5 :3 2 ). As setas de Deus eram com o raios, sua voz com o o trovão, e o vento era o bu­ far de suas narinas. Não é de se adm irar que seus inim igos fugissem aterrorizados! Davi não se considerava um grande com andante que havia liderado um exército vitorioso, mas sim um servo de D eus que co n fiava que ra superficial desses versículos pode nos dar a im pressão de que Davi estava se vanglo­ riando, mas de modo algum esse é o caso. 2. O S e n h o r r e c o m p e n s o u a D a v i (2 S m 22:20-28) D urante pelo m enos d e z anos, Davi havia passado por "apertos", mas o Senhor o co n ­ duziu a um "lugar esp aço so " (v. 2 0 ). Deus pôde lhe dar um lugar maior, pois D avi ha­ via sido engrandecido em sua própria vida m ediante as e xp e riê n cia s de aflição e de provação . "N a angústia, me tens aliviado" (Sl 4 :1 ). Em várias o casiõ e s, D avi clam ou ao Senhor, pois seu sofrim ento era cada vez mais intenso; porém , ao m esm o tem po, o S en h o r estava engrandecendo seu se rvo e preparando-o para um lugar m aior ( S l 18:19, 3 6 ). "Em meio à tribulação, invoquei o Se­ n h o r , e o S e n h o r me ouviu e me deu folga'' ( S l 1 1 8 :5 ). Na escola da vida, Deus promo­ ve aqueles que, nos tempos de dificuldade, ap rendem as liçõ es da fé e da p a ciê n cia (H b 6 :1 2 ), e D avi havia aprendido bem suas liçõ es. A ju s tiç a d e D a v i (vv. 21-25). Um a leitu­ Davi louvava ao Senhor por capacitá-lo para que tivesse uma vida irrepreensível em meio a situações perigosas e desconfortáveis. Ima­ gine com o era difícil guardar a lei do Senhor no m eio do deserto da Judéia, quando se estava fugindo para salvar a própria pele! Em tudo o que fazia, Davi procurava agradar ao Senhor, obedecer à sua lei e confiar em suas prom essas. Esses versículo s descrevem Da­ vi com o um hom em íntegro (ver Sl 78 :7 2 ), um hom em segundo o co ra çã o de Deus (ver 1 Sm 1 3 :1 4 , N VI). Davi conhecia as pro­ m essas de D eu s na alia n ça , apropriou-se delas e foi honrado pelo Senhor. O rei Sa_l transgrediu os term os da aliança e foi julga­ do pelo Senhor. Isso não significa que Davi foi perfeito e que sem pre fez a coisa certa. Teve seus dias de d e se sp ero , qu and o fugiu para o la c : 2 S A M U E L 22 in im ig o em b u sca de a ju d a , m as fo ram incidentes na vida de um hom em que, de outro m o do, d edico u-se in teiram e n te ao Senhor. Davi honrou ao Senhor e nunca se vo lto u p ara íd o lo s. N ão en ve rg o n h o u o nome do Senhor e teve o cuidado de prote­ ger seus pais (1 Sm 22:1-4). Q u an d o se viu diante de oportunidades de matar Saul, recusou-se a tocar o ungido de D eus e a co ­ meter hom icídio. Não há evidência alguma de que, durante seus "anos de batalha", Davi tenha sido ladrão, adúltero ou que desse falso testemunho contra outros (na verdade, foram Saul e seus hom ens que m entiram sobre Davi). Foi um hom em generoso, que não alim entou a co b iça em seu co ra ção . Não sabem os com o D avi guardou o sába­ do enquanto estava longe da com unidade da aliança, mas não há m otivo algum para crer que tenha quebrado o quarto manda­ mento. M edido de acordo com os parâm e­ tros de justiça da lei, Davi foi um hom em de mãos limpas e de co ração puro (SI 24:3-6) e recebeu sua recom pensa do Senhor. A fid e lid a d e d o S e n h o r (vv. 26-28). O Senho r n un ca vai con tra os próprios atri­ butos. D e u s sem p re trata as p e sso as de acordo com suas atitudes e ações. D avi foi m isericordioso para com Saul e poupou a vida dele em , pelo m enos, duas ocasiões, e o Senhor foi m isericordioso para com Davi. "Bem -aventurados os m isericordiosos, por­ que alcançarão m isericórdia" (M t 5:7 ). Davi foi fiel ao Senhor, e o Senhor foi fiel a ele. D avi foi justo e sincero em seu serviço a D eus. Não foi perfeito - ninguém aqui na terra é - , mas foi irrep re en sível em suas m o tivaçõ es e leald ad e ao Senho r. N esse sentido, seu co ração era lim po: "Bem -aven­ turados os limpos de coração , porque verão a D eus" (M t 5:8). A o contrário de Saul, D avi não foi per­ verso em seu co ra ção , mas se sujeitou à vontade de D eus (v. 2 7 ). A segunda parte d e sse v e rs íc u lo pode ser tra d u zid a por: "co m o desonesto, astuto te m ostras", o que nos lem bra de que ter fé é viver sem tram ar nem inventar desculpas, duas práticas nas quais Saul se destacava. O term o hebraico trad u zid o por "p e rv e rso ", "p e tu la n te " ou 369 "desonesto" vem de um radical que signifi­ ca "lutar". Davi não lutou contra Deus nem contra a vontade do Senhor, com o fez Saul, por isso Davi foi exaltado, e Saul, humilhado (1 Pe 5 :5 ,6 ; Tg 4 :1 0 ). Por fim, D avi foi humilde e quebrantado diante do Senhor, enquanto Saul promoveu a si mesm o e se colocou em primeiro lugar. "Tu salvas o povo hum ilde, mas, com um lance de vista, abates os altivos" (v. 28). Ana tocou nesse tema im portante em seu cântico ao Senhor (1 Sm 2 :3 , 7,8). Q uand o co m e­ çou a reinar, Saul "se sobressaía de todo o povo do om bro para cim a" (1 Sm 1 0 :2 3 ,2 4 ), mas, no final da vida, caiu com o rosto em terra na casa de um a feitice ira (2 8 :2 0 ) e, dep o is, caiu so bre a esp ad a, co m eten d o suicídio no cam po de batalha (31:1-6). "Aque­ le, pois, que pensa estar em pé veja qu e não caia" (1 C o 10:12). Davi prostrou-se em subm issão, e o Se­ nhor o exaltou em honra. Saul exaltou a si m esm o e acabou caindo com o rosto em terra em hum ilhação. Deus é sem pre fiel a seu caráter e a sua aliança. E essencial co n h ecer o caráter de Deus, a fim de saber e de fazer a vontade dele e de agradá-lo. D avi co nhecia a aliança de D eus, portanto entendia o que Deus es­ perava dele. O caráter e a aliança de Deus são os alicerces para as prom essas de Deus. Se ignorarmos seu caráter e aliança, jam ais conseguirem os nos apropriar de suas pro­ m essas. 3 . O S e n h o r c a p a c it o u a D a v i Sm 2 2 :2 9 - 4 3 ) Nesta estrofe de seu cântico, D avi olha para trás e se lem bra de com o o Senhor o aju­ dou durante os anos difíceis de exílio. O S e n h o r ilu m in o u a D a v i (v. 2 9 ). A im agem de um a lâm pada acesa pode ser uma referência à bondade de Deus ao man­ ter vivo seu povo (Jó 18:5, 6; 21:1 7). A vida de Davi estava sem pre em perigo, mas o Se­ nhor o preservou e supriu todas as suas ne­ ce ssid a d e s. Po rém , um a lâm p ad a a ce ssa tam bém se refere ao reinado de um m onar­ ca. O s hom ens de Davi temiam que, um dia, (2 fosse morto na batalha e que a "lâm pada de 370 2 S A M U E L 22 Israel" se apagasse (2 Sm 2 1 :1 7 ). M esm o depois que Davi m orreu, o Senhor foi fiel a sua prom essa na aliança e m anteve acesa a lâmpada de Davi ao preservar sua dinastia (1 Rs 1 1 :3 6 ; 1 5 :4 ; 2 Rs 8 :1 9 ; 2 C r 2 1 :7 ; Sl 1 3 2 :1 7 ). D eus tam bém ilum inou D avi de outra maneira, pois lhe revelou sua vontade por meio do uso do Urim e do Tum im. Saul to­ mou as próprias decisões, mas Davi buscou o S e n h o r . N o s dias som brios do exílio, Davi pôde d ize r: " O S e n h o r é a m inha luz e a m inha salvação; de quem terei medo? O S e­ n h o r é a fortaleza da m inha vida; a quem tem erei?"2 (Sl 2 7 :1 ). O S e n h o r d e u p o d e r a D avi (vv. 30-35). O retrato dessa passagem mostra um guer­ reiro valente que não de ixa co isa algum a impedi-lo de alcançar a vitória. D eus deu po­ der a Davi para que enfrentasse o inimigo sem m edo, correndo em meio aos soldados e a suas barricadas e, até m esm o, escalan­ do muralhas para tomar uma cidade. O ca­ m inho do Senhor é perfeito (v. 31 ), e ele tornou perfeito o cam inho de D avi (v. 33), pois confiou no Senhor. D eus protegeu Davi na batalha, pois ele creu inteiram ente na Palavra perfeita de Deus. O corpo de D avi pertencia ao Senhor (ver Rm 1 2 :1 ), que usou os braços, os pés e as mãos de seu servo (vv. 33-35) para ven­ cer o inimigo. Davi era um guerreiro de gran­ de talento, mas foi o poder da unção do Senhor que o capacitou a ser vitorioso no cam po de batalha. C om o uma co rça ligeira, co nseguiu alca n ça r as alturas, e seus pés não vacilaram (v. 3 7 ). D eus fortaleceu os braços de D avi de m odo que pudesse ver­ gar um arco de bro nze e atirar flechas com grande poder. Na força do Senhor, D avi foi invencível. O S e n h o r en g ra n d eceu a D avi (vv. 364 3 ). O Senhor alongou o cam inho de Davi (v. 37) e levou seu servo a um lugar espaço­ so (v. 20 ), uma verdade m aravilhosa sobre a qual falam os anteriorm ente. A declaração extraordinária: "a tua clem ên cia me engran­ deceu" (2 Sm 2 2 :3 6 ) revela com o Davi co n­ sid erava a b so lu tam e n te ad m irável que o Deus Todo-Poderoso se dignasse a lhe dar atenção. Davi sem pre se viu com o um sim­ ples pastor israelita, sem qualquer posição especial em Israel (1 Sm 1 8 :1 8 , 23), mas o Senhor "inclinou-se" para engrandecê-lo. Fez de Davi um grande guerreiro e lhe deu um grande nom e (2 Sm 7 :2 3 ), e Davi reconhe­ ceu essa m isericórdia inexplicável de Deus. Seu m aior desejo, porém , era engrandecer o nom e de Jeová diante das nações (2 Sm 7:18-29). A co ndescendência bondosa de Deus é um tema muitas vezes deixado de lado pelo povo de Deus. Assim com o fez com Davi, Deus Pai digna-se a trabalhar em nossa vida a fim de nos capacitar para aquilo que esco­ lheu para nós (ver tam bém Is 5 7 :1 5 ), e Deus Filho, sem dúvida, se humilhou por nós quan­ do veio à terra com o servo e com o sacrifício pelo pecad o (Fp 2:5-11). O Santo Espírito aceitou vir à terra e viver com o povo de Deus! Ao olhar para trás, para os anos difí­ ceis no exílio, Davi não viu a "severidade' de Deus, mas sim sua brandura. Viu "bon­ dade e m isericórdia" o seguindo (Sl 2 3 :6 i. O servo da parábola que cham ou seu se­ nhor de "hom em severo" (M t 2 5 :2 4 ) certa­ mente não via as coisas da m esm a forma que o rei Davi! Podem os não gostar das descrições que Davi faz de suas vitórias, mas devem os nos lembrar de que lutava as batalhas do Senhor. Se e s s a s n a ç õ e s tiv e s s e m d e rro ta d o e destruído Israel, o que teria acontecido com o grande plano de D eus para a salvação do mundo? Não teríam os a Bíblia nem um Sal­ vador! A o se rebelarem contra o Senhor e adorarem ídolos, essas nações pagãs peca­ ram de m odo d elib erado e indesculpável (Rm 1 :1 8ss; Js 2). Durante muitos anos, o Senhor fora paciente com elas (C n 15:16>. mas essas nações rejeitaram sua graça. Da\i perseguiu os inimigos quando tentaram fugir (2 Sm 2 2 :3 8 , 4 1 ); derrotou-os, aniquilou-os e moeu-os com o o pó da terra! Tornaram-se com o lama nas ruas. 4. O S en h o r esta b eleceu a D avi (2 Sm 2 2 :4 4 - 5 1 ) Um a coisa é lutar as guerras e derrotar os ini­ migos e outra bem diferente é manter e ss~ 2 S A M U E L 22 nações sob controle. D avi não apenas pre­ cisou unificar e liderar as doze tribos de Is­ rael, com o tam bém teve de lidar com o as nações sob o dom ínio de Israel. O S e n h o r e n tro n iz o u a D avi (vv. 44-46). A s n a ç õ e s g e n tias n ão q u e ria m um rei ocupando o trono de Israel, especialm ente um estrategista brilhante, guerreiro valente e líder querido com o D avi. Porém , Deus não ap en as e sta b e le c e u D a v i em seu tro n o , com o tam bém lhe prom eteu um a dinastia que jam ais teria fim. O Senhor prometeu a Davi um trono e cum priu a prom essa. A ju­ dou Davi a unir o próprio povo e a lidar com aqueles ainda leais a Saul. A palavra "estran­ geiros", nos versículos 45 e 4 6 , refere-se às nações gentias. A s vitórias do Senhor assus­ taram esses povos e os fizeram fugir para seus esconderijos. Um dia, acabariam sain­ do de suas frágeis fortalezas e se sujeitariam a Davi. O S e n h o r exaltou a D avi (vv. 47-49). O grito de louvor de D avi: "V ive o S e n h o r " ( v . 47) era seu testemunho claro aos povos sob o domínio de Israel de que os ídolos deles não poderiam salvá-los nem protegê-los (ver Sl 115). Somente Jeová, o Deus de Israel, é o verdadeiro Deus vivo, e as vitórias e entronização de D avi provaram que D eus estava com ele. Davi sempre teve o cuidado de exal­ tar o Senhor, não a si mesmo (M t 6 :3 3 ; 1 Sm 2 :3 0 ). Se engrandecerm os nosso nom e ou nossos feitos, pecarem os, mas se o Senhor nos engrandece, glorificará seu nome (Js 3:7). O S e n h o r eleg eu a D avi (vv. 50, 5 1 ). O fato de D eus ter escolhido Davi para ser rei e de ter feito com ele uma aliança dinástica é o fundam ento para tudo o que Deus fez por seu servo. Israel foi cham ado a testemu­ nhar às nações, e era responsabilidade de D avi co n stru ir um reino que h o n rasse o nom e do Senhor. Infelizm ente, em d e co r­ rência de seu pecado com Bate-Seba, Davi trouxe opróbrio ao nom e de D eus (2 Sm 12:14). Ainda assim, D avi era o rei e o ungi­ do de D eus, e a aliança entre D eus e Davi perm anece até hoje e se cum prirá, finalm en­ te, com Jesus Cristo em seu reino. Paulo citou o versículo 50, em Romanos 15:9, com o parte do encerram ento de sua 371 adm oestação aos cristãos da igreja de Rom a para que recebessem uns aos outros e pa­ rassem de julgar uns aos outros. O s cristãos gentios em Rom a desfrutavam de liberdade em Cristo, enquanto muitos cristãos jud eus ainda viviam sob o jugo da lei de M oisés. Paulo ressalta que C risto veio para m inis­ trar tanto a ju d e u s quanto a gen tio s, ao cum p rir as prom essas de D eus aos judeus e ao m orrer pelo povo de Israel, bem com o pelos povos de outras nações. D esd e o iní­ cio de Israel, quando Deus cham ou Abraão e Sara, era in ten ção do Senhor incluir os gentios em seu plano de salvação pela gra­ ç a (C n 1 2 :1 -3 ; Lc 2 :2 9 - 3 2 ; Jo 4 :2 2 ; Ef 2:11 ss). A seqüência em Rom anos 15:8-12 é sig­ n ific a tiv a . Jesus co n firm o u as p ro m essas feitas a Israel (v. 8), e Israel levou a m ensa­ gem de salvação aos gentios (v. 9). Tanto os cristãos jud eus quanto os cristãos gentios, com o um só corpo, louvam juntos ao Se­ nhor (v. 10), e todas as nações podem ouvir as boas novas do evangelho (v. 11). Q u an ­ do Jesus voltar, reinará tanto sobre judeus quanto sobre gentios em seu reino glorioso (v. 12). Sem pre fez parte do plano de Deus que a nação de Israel servisse de veículo para levar a salvação ao mundo perdido. "Ao S e n h o r pertence a salvação!" (Jn 2 :9 ). "A sal­ vação vem dos judeus" (Jo 4 :2 2 ). O s gentios devem muito aos judeus (Rm 1 5 :2 7 ), e os cristãos gentios devem pagar essa dívida. Precisam mostrar o devido valor a Israel orando por sua salvação (Rm 9:1-5; 1 0 :1 ) e pela paz de Jerusalém (Sl 1 2 2 :6 ), testem un h and o com am or qu and o D eus oferece oportunidades (Rm 1:16) e com par­ tilhando com eles quando surgem necessi­ dades materiais (Rm 1 5 :2 7 ). A o re cap itular esse salm o, percebe-se o que tocava mais profundam ente o co ra­ ção de D avi. Ele viu e m encionou D eus pelo m e n o s d e z e n o v e v e z e s . V iu D e u s nas coisas da vida, tanto nas o casiõ es alegres quanto nas tem pestades. V iu o propósito de D eus em sua vida e em Israel co m o na­ ção, regozijando-se por ser parte desse pro­ pósito. Porém , o mais em polgante é que, apesar de todos os problem as pelos quais 372 2 S A M U E L 22 D avi passou, ainda viu a mão bondosa de D eus m oldando sua vida e cum prindo seus propósitos (v. 35). O s problem as cada vez m aiores (Sl 2 5 :1 7 ) "en g ran d e ceram " Davi 1. (Sl 4 :1 ), preparando-o para dar passos maio­ res (2 Sm 2 2 :3 7 ) no lugar espaçoso que Deus havia preparado para ele (2 Sm 2 2 :2 0 ) - uma experiência que também podem os ter. Em Ezequiel 1, o profeta viu o trono glorioso de Deus numa plataforma esplendorosa de cristal, com um querubim em cada canto, co m o "ro d as" carregando o trono d e um lugar para o outro. A imagem d o trono d e D eus com o um carro nos lembra de que ele pode d escer do céu e ajudar seu povo e de que nada é capaz de impedi-lo. 2. A luz é usada com freqüência nas Escrituras com o imagem de D eus (Sl 8 4 :1 1 ; Is 6 0 :1 9 , 2 0 ; Ez 1 :4, 2 7 ; Dn 2 :2 2 ; M q 7:8: M l 4 :2 ; Lc 2 :3 2 ; Jo 8 :1 2 ; 1 Tm 6 :1 6 ; 1 Jo 1:5 ; A p 2 1 :23). 12 As M em órias e os E rro s de D avi 2 Samuel 23 - 2 4 ( V er A 1 C rônicas 11 :104 1 ; 21:1-26) também morte do rei Davi não é relatada em 2 Sam uel, mas sim em 1 Reis 2:1-12. Porém , 2 S am u el 23 e 2 4 registram seu último salmo, os nom es de seus maiores sol­ dados e o triste relato de seu pecado ao rea­ lizar um censo do povo. O s capítulos 21 a 24 servem de "apêndice" a 2 Samuel e, ao que parece, concentram -se nos aspectos di­ vinos e hum anos da liderança. As decisões de um líder podem ter sérias conseqüências, o que é com provado pelos pecados de Saul 'cap. 21) e Davi (cap. 2 4 ). O s líderes devem depender do Senhor e lhe dar a glória, com o declaram os dois salmos de Davi. Além dis­ so, nenhum líder é cap az de fazer todo o trabalho sozinho, com o indica a lista dos va­ lentes de D avi. Em 2 Samuel 23 a 24 , são apresentados três retratos de D avi que ilus­ tram a grandeza e o caráter hum ano desse iíder. 1 . D a v i, o c a n t o r in s p ir a d o (2 S m 23:1-7) Pelo menos setenta e três salmos do Livro de Salm os são atribuídos a Davi, mas seu último salmo encontra-se som ente aqui em 2 Samuel 23. A oração "as últimas palavras de D avi" significa "suas últimas palavras es­ critas inspiradas pelo Senhor". É possível que o salmo tenha sido escrito nos dias finais de sua vida, pouco antes de D avi morrer. Um a vez que o tema dessa com posição é a lide­ rança piedosa, talvez D avi tenha escrito es­ sas palavras esp ecialm ente para Salom ão, mas têm muito a ensinar a todo o povo de D eus hoje. O s p riv ilé g io s da lid e ra n ça (vv. 1, 2 ). Davi nunca deixou de se adm irar do fato de Deus tê-lo cham ado para tornar-se rei de Is­ rael, de liderar o povo de D eus, de lutar as batalhas de Deus e até mesm o de ajudar a escrever a Palavra de D eus. Foi por meio da linhagem de Davi que Deus trouxe ao mun­ do o M essias. D o ponto de vista hum ano, Davi era um "joão-ninguém ", um pastor, o caçula dos oito filhos de uma fam ília israelita com um . No entanto, Deus o escolheu e o criou para tornar-se o m aior rei de Israel. O Senhor havia dado a Davi mãos habilidosas e um coração íntegro (Sl 78:70-72), preparando-o para con h ecer sua vontade. Com o filho de jessé, D avi era mem bro da tribo real de Judá, o que não era o caso de seu ante­ cessor, Saul (ver G n 4 9 :1 0 ). D avi não re alizo u q u alq u e r fo rm a de autoprom oção a fim de alcan ça r a grande­ za; foi o Senhor quem o esco lheu e que o elevou ao trono (D t 1 7 :1 5 ). O Senhor pas­ sou trinta anos preparando D avi, prim eiro com as ovelhas no pasto, depois com Saul no acam p am en to do e xé rcito e, por fim , com os próprios hom ens valentes no de­ serto da Judéia. O s grandes líderes são trei­ nados nos bastidores antes de co m eçarem a trab a lh ar em p ú b lico . Nas p alavras de G o e th e : " O s talentos são mais d esenvolvi­ dos na solidão, e o caráter é m elhor form a­ do nos vagalhões tem pestuosos do m undo". Davi tinha as duas coisas. H avia sido fiel em sua vid a particu lar co m o servo , de modo que D eus pôde elevá-lo publicam ente, a fim de q u e se to rn a sse um g o ve rn an te (M t 2 5 :2 1 ). O Senhor seguiu esse m esm o pro­ c e d im e n to ao p re p a ra r M o is é s , J o s u é , N e em ias, os ap óstolos e até seu próprio Filho (Fp 2:5-11; Hb 5 :8 ). O Dr. D. M artyn Lloyd-Jones costum ava d ize r: "É triste quan­ do um jovem alcan ça o sucesso antes de estar preparado para ele". D avi estava pre­ parado para o trono. D eus dá poder àqueles que cham a, e ungiu D avi com seu Espírito (1 Sm 1 6 :1 2 , 13). C o m o dizia o Dr. A. W . T o ze r: "N u n ca siga um líder antes de ver o óleo da unção em sua testa", o que explica por que tantos hom ens com petentes procuraram Davi e se juntaram a seu grupo. É preciso mais do que talento e treinam ento para ser um verdadeiro 374 2 S A M U E L 23 - 24 líder eficaz e ter a habilidade de recrutar e da área em presarial de hoje com param líde­ de treinar outros líderes. Jesus lembrou a seus discípulos, e a nós tam bém : "Sem mim nada res eficazes com pastores de ovelhas sensí­ veis às necessidades do rebanho.1 podeis fazer" (Jo 1 5 :5 ). O s líderes religiosos que seguem os p rin cíp io s daquilo que o mundo cham a de "sucesso " raramente rea­ lizam algo duradouro e que glorifica a Deus. "Aquele, porém, que faz a vontade de Deus perm anece eternam ente" (1 Jo 2:1 7). É bom ser instruído pelos homens, mas é ainda mais Davi usou uma bela metáfora para retra­ tar o trabalho de um líder: a chuva e o sol, que juntos produzem frutos proveitosos em v e z de espinhos dolorosos (vv. 4-7). Davi e xe m p lifico u esse p rin cíp io em sua vida, pois sua ascensão ao trono significou a au­ im portante ser treinado pelo Senhor. "N o s­ so Senhor passou trinta anos preparando-se para três anos de serviço ", escreveu O sw ald Cham bers. " O mais típico, hoje em dia, é ter três horas de preparação para trinta anos de serviço ". Porém , o Espírito não apenas concedeu poder a Davi para a batalha, mas tam bém o inspirou a escrever belos salmos que conti­ nuam ministrando a nosso coração . Dam os valo r ainda m aior a esses salm os quando pensam os nas provações que Davi deve ter suportado a fim de nos o ferecer suas pala­ vras. Davi deixou claro que não estava es­ crevendo apenas poesia religiosa, mas sim a Palavra de Deus. Pedro cham ou Davi de "profeta" (At 2 :3 0 ) e, em Pentecostes, citou as palavras de Davi sobre a ressurreição e ascensão do M essias (At 2:24-36). Ao ler os Salmos, lê-se a Palavra de D eus e aprendese sobre o Filho de Deus. A s re sp o n sa b ilid a d e s da lid era n ça (vv. 3-7). Deus não treinou Davi apenas para exi­ bi-lo, mas tam bém para que realizasse um trabalho im portante, e o m esm o se aplica a todos os verdadeiros líderes. D avi deveria governar sobre o povo de D eus, "rebanho do seu pastoreio" (Sl 1 0 0 :3 ), um a respon­ sabilidade assustadora. Trata-se de um a in­ cum b ência que exige integridade ("justiça" = retidão) e atitude subm issa ao Senhor ("te­ mor do S e n h o r"). Sem a ju stiça e sem o tem or do Senhor, um líder torna-se um dita­ dor e abusa do povo de D eus, tocando-o feito gado em vez de conduzi-lo com o ove­ lhas. Davi foi um m onarca que liderou na qualidade de um servo que governa, e sua grande preocupação era com o bem-estar do povo (2 Sm 24:1 7). Para mim, é um grande ânim o ver que até mesm o os especialistas rora de um novo dia para a nação de Israel. Nesse sentido, ele nos lem bra do que ocor­ reu quando Jesus veio à terra (ver Sl 72:5-7; Is 9 :2 ; 5 8 :8 ; 6 0 :1 , 19; Ml 4:1-3; M t 4:13-16; Lc 2 :2 9 -3 2 ). C om a co ro ação de D avi, as tem pestades que Saul havia causado na ter­ ra chegaram ao fim, e a luz do semblante de D eus passou a brilhar sobre seu povo. Sob a liderança de D avi haveria uma colheita de bênçãos do Senhor. Com a ajuda de D eus, os líderes devem criar um am biente no qual seus colaborado­ res sejam capazes de crescer e de produzir frutos. O ministério envolve tanto a luz do sol quanto a chuva, tanto dias claros quanto nublados, mas o ministério de um líder pie­ doso produzirá chuvas leves e vivificadoras e não tem pestades destruidoras. C o m o é agradável seguir um líder que faz aflorar o que há de melhor em nós e que nos ajuda a produzir frutos para a glória de Deus! Líde­ res não espirituais produzem espinhos que irritam o povo e que dificultam seu progres­ so (vv. 6, 7). Em seu cântico, Davi foi além dos prin­ cípios de liderança e celebrou a vinda do M essias (v. 5). M encionou a aliança que o Senhor fez com ele (2 Sm 7), a qual lhe ga­ rantia uma dinastia e um trono para sempre, uma aliança que se cum priu em Jesus Cristo (Lc 1:32, 33, 68-79). Parece mais apropria­ do ler as declarações no versículo 5 com c perguntas: "N ão está assim com D eus a mi­ nha casa? N ão estab eleceu , pois, com igo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura?" A primeira pergunta não indica que todos os filhos de Davi fossem piedo­ sos, pois sabem os que esse não era o caso. A p enas d iz que a casa (d inastia) de Davi estava segura, pois contava com as promes­ sas da aliança de D eus. Nada poderia mudar 2 S A M U E L 23 - 2 4 essa alia n ça , ete rn am e n te garantida pelo caráter de Deus. No texto original, Davi usou, mais uma vez, a imagem do fruto, no versículo 5: "Não me fará ele prosperar [frutificar] toda a minha salvação e toda a minha esperança?" O de­ sejo de Davi era que Deus cumprisse sua pro­ messa e enviasse o Messias, que nasceria dos descendentes de Davi. Em termos históricos, o trono de Judá chegou ao fim em 586 a.C. com o reinado de Zedequias, mas não foi o fim da família de Davi ou de Israel com o na­ ção. Em sua providência, o Senhor preservou Israel e a sem ente de Davi para que Jesus Cristo pudesse nascer em Belém , a Cidade de Davi. A nação era pequena e fraca, mas o M essias veio mesmo assim! "D o tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo" (Is 11:1; ver 4 :2 ; 6 :1 3 ; e 53:2). Po­ rém, um dia, os perversos da terra serão ar­ rancados com o espinhos e queimados (vv. 6, 7; ver M t 3:10, 12; 13:40-42). 2. D a v i , u m l í d e r d e t a l e n t o (2 Sm 2 3 :8-3 8 ; 1 C r 11:10-47) Nesta passagem, são relacionados os nomes e alguns feitos dos homens mais im portan­ tes que seguiram D avi e que ficaram a seu lado durante os anos difíceis do exílio e ao longo de seu reinado. O s trê s p r im e iro s " v a le n te s " d e D a v i (2 Sm 2 3 :8 -1 2 ; 1 C r 11:10-14). O primeiro citado é o de Josebe-Bassebete, tam bém cha­ mado de Jasobeão (v. 8; 1 C r 1 1 :1 1 ). Era chefe dos capitães do exército de Davi, fa­ moso por ter m atado oitocentos soldados inimigos "de uma v ez". Em 1 C rônicas 11:11, a Palavra d iz que ele matou trezentos ho­ mens. C om o observam os anteriorm ente, a transmissão de núm eros de um m anuscrito para outro pelos copistas causava, por ve­ zes, essas pequenas diferenças. Será que o tem or do Senhor fez todos esses hom ens se lançarem de um penhasco ou será que a coragem de Jasobeão inspirou outros a en­ trarem na batalha de modo que recebeu cré­ dito pela vitória? O texto não revela com o realizou esse feito, mas é pouco provável que tenha dado cabo desses hom ens um a um com sua lança. 375 Eleazar (vv. 9, 10) era da tribo de Benja­ mim (1 C r 8 :4 ) e lutou contra os filisteus ao lado de D avi, provavelm ente em Pas-Damim (1 Sm 1 7 :1 ; 1 C r 1 1 :1 2 , 13). Enquanto m ui­ tos dos soldados israelitas se retiravam da luta, ele p erm aneceu em seu lugar e lutou até sua espada fic a r "p eg ad a" à m ão. O Senhor honrou a fé e a coragem de D avi e de Eleazar e deu a Israel um a grande vitó ­ ria, depo is da qual os so ldado s voltaram para o ca m p o de batalh a e to m aram os despojos dos inimigos m ortos. A ssim com o D a v i, E le a za r não se m ostrou egoísta na hora de dividir os despojos da batalha, pois a vitó ria viera do Senhor (1 Sm 3 0 :2 1 -2 5 ). O terceiro "vale n te " foi Sam a (vv. 11, 12), tam bém usado pelo Senho r para trazer a vitó ria em Pas-Dam im (1 C r 1 1 :1 3, 14). M as por que arriscar a vid a a fim de defender um cam po de lentilhas ou cevada? A terra pertencia ao Senhor (Lv 2 5 :2 3 ) e havia sido dada aos israelitas a fim de que a usassem para a glória de D eu s (Lv 1 8 :24-30). Sam a não q u e ria que os filiste u s co n tro la ssem aquilo que pertencia a Jeová, pois os israe­ litas eram m ordom os da terra de D eus. Res­ peitar a terra significava honrar ao Senhor e sua alian ça com Israel. O s e g u n d o g r u p o d e trê s " v a le n te s" (vv. 13-17; 1 C r 11:15-19). O s nomes des­ ses três não são citados, mas fazem parte dos "trinta" relacionados nos versículos 24 e 29. Isso indica que não eram os três ho­ mens citados anteriorm ente. Todas as pes­ soas são criadas iguais diante de Deus e da lei, mas nem todos são iguais em term os de talentos e de habilidades; alguns têm mais dons e oportunidades do que outros. Porém, o fato de não conseguirm os realizar tantas coisas quanto "os três prim eiros" não deve nos im pedir de fazer nosso melhor e, quem sabe, form ar um "segundo grupo de três". Deus não nos m ede de acordo com aquilo que ajudou outros a realizar, mas de acordo com o que deseja que façam os com as apti­ dões e oportunidades que concedeu a nós em sua graça. O fato de D avi estar esco ndido num a caverna próxim a a Belém ind ica que esse acontecim ento ocorreu enquanto fugia de 376 2 S A M U E L 23 - 24 Saul ou logo depois que foi proclam ado rei em Hebrom e os filisteus o atacaram (2 Sm 5 :1 7 ; 1 C r 14:8). Era tempo da colheita, o que significa que não havia chovido e que as cisternas estavam vazias. Não havia água na caverna, e D avi teve sede da água do poço em Belém , do qual ele costum ava b e ­ b er quan do era m enino. O texto indica que Davi falou consigo mesmo sobre a água e não deu ordem alguma, porém o m aior de­ sejo desses três hom ens era agradar seu lí­ der. Estavam perto o suficiente para ouvir as palavras sussurradas por D avi, foram leais o suficiente para considerar o desejo dele uma ordem e co rajo so s o suficien te para o b e­ d ecer a qualquer custo. Viajaram mais de dezoito quilôm etros, rom peram as linhas ini­ migas e voltaram com a água. Q u e exem plo extraordinário para nosso re lacio nam ento com nosso Com andante e Salvador! O que quer que o Senhor colocasse nas mãos de Davi, ele sem pre usava para honrar a Deus e para ajudar seu povo - uma funda, um a espada, um a harpa, um cetro e até mesm o um copo de água e essa ocasião não foi exceção . Ao olhar para o copo, Davi não viu água; viu o sangue de três homens que haviam arriscado a vida para satisfazer seu desejo. Beber aquela água seria o mes­ mo que hum ilhar todos os seus hom ens e trivializar o ato de bravura daqueles três he­ róis. Passaria a mensagem de que, na verda­ de, a vida deles não era im portante para seu líder. Em vez disso, Davi transformou a ca­ verna num tem plo e derram ou a água com o libação ao Senhor, conform e havia visto os sacerdotes fazerem no tabernáculo. A liba­ ção acom panhava a oferta de outro sacrifí­ cio, com o, por exem plo, um holocausto, e não costum ava ser oferecida de modo inde­ pendente. Era um ato de consagração que sim bolizava a vida de uma pessoa derram a­ da a serviço do Senhor. O s três hom ens en­ tregaram a si m esm os com o sacrifício a Deus para servir a D avi (Rm 12:1), de modo que D avi a cresce n to u sua o ferta à deles para mostrar-lhes que estava plenam ente de acor­ do com sua devoção a Jeová. Parafrasean­ do as palavras de Davi em 2 Samuel 2 4 :2 4 , ele não trataria com o se fosse nada aquilo que havia custado tudo àqueles três homens. Todos os líderes precisam seguir o exem plo de D avi e mostrar a seus seguidores com o dão valor a eles e aos sacrifícios que fazem . Jesus entregou-se com o sacrifício por nós e tam bém com o libação (Sl 2 2 :1 4 ; Is 5 3 :1 2 ). Paulo usou a imagem da libação para des­ crever a própria consagração ao Senhor (Fp 2 :1 7 ; 2 Tm 4 :6 ). M adre Teresa costum ava dizer: "N ão som os capazes de fazer gran­ des coisas, mas apenas pequenas coisas com grande am or". Porém , fazer pequenas coi­ sas m otivados pelo am or a Cristo as trans­ form a em grandes realizações. Jesus disse q u e, sem p re que d e m o n stra m o s am or e bondade e procuram os suprir as necessida­ des de outros, dam os a nosso Senhor um copo de água fresca (M t 25:34-40). D o is " v a le n te s" e s p e c ia is (vv. 18-23; 1 C r 11:20-25). Abisai (vv. 18, 19) era sobri­ nho de Davi e irmão de Joabe, com andante do exército de Davi. Tam bém era irm ão de Asael, morto de modo traiçoeiro por Abner: Joabe e A bisai m ataram A bner, causando grande tristeza a Davi (2 Sm 2 - 3). Abisai foi um homem corajoso que, nessa passagem é elogiado por ter matado trezentos solda­ dos inimigos. Porém , em algumas ocasiões, mostrou ter mais zelo do que sabedoria. Q uis m atar Saul num a noite em que estava no acam pam ento do rei com D avi, mas Davi rejeitou a idéia (1 Sm 26). Além disso, ofere­ ceu-se para decapitar Simei por ter am aldiçoa­ do Davi (2 Sm 16:9-11; 19 :2 1 ). Com andou o exército no cerco a Rabá (10:10-14) e sal­ vou a vida de Davi durante um a luta com um gigante (2 1 :1 5 -1 7 ). A bisai manteve-se leal a D avi durante a rebelião de A bsalão e ficou no com ando de um terço do exército de D avi (1 8 :2 , 12).2 Tam bém liderou o se­ gundo grupo de três valentes e era tido err alta estima. Benaia (vv. 20-23; 1 C r 1 1 :22-25) era urr hom em extraordinário, nascido para servino sacerdócio (1 C r 2 7 :5 ), mas que se tornoc soldado e com andante da guarda pessoa de D avi (2 Sm 8 :1 8 ; 2 0 :2 3 ). Encontram oí na Bíblia sacerdotes que se tornaram profetas, com o Jerem ias, Ezequiel e João Batista mas Benaia é o único sacerdote citado que 2 S A M U E L 23 - 24 se tornou um soldado. Lutou bravamente no cam po de batalha e participou de alguns conflitos interessantes. F. W . Boreham tem um ótimo serm ão sobre o episódio em que Benaia matou um leão e no qual ressalta que Benaia deparou-se com o pior dos inimigos (um leão), no pior dos lugares (um a cova), na pior das circunstâncias (um dia de neve)... e venceu! Benaia foi leal à casa de Davi e apoiou Salom ão quando este subiu ao trono (1 Rs 1:8-10). Q u an d o Joab e tentou pro­ clam ar Adonias rei, foi Benaia quem o exe­ cutou, cum prindo, desse modo, a ordem de Davi a Salom ão (1 Rs 2 :5 , 6). Salom ão fez de Benaia o líder do exército no lugar de Joabe (1 Rs 2 :3 5 ; 4 :4 ; 1 C r 2 7 :5 , 6). Joiada, o filho de Benaia, não seguiu a carreira mili­ tar, mas se tornou conselheiro do rei Salo­ mão no lugar de Aitofel (2 7 :3 4 ). O s trinta (vv. 2 4 -3 9; 1 C r 11:26-47). Saul destacava-se da multidão por sua altura, mas foi Davi quem mostrou ter o tipo de caráter e de grandeza que atraía os que estavam em busca de verdadeira liderança. Um a das m arcas dos verdadeiros líderes é que têm seguidores d e d icados, não apenas bajula­ dores egoístas e parasitas (o termo mais pre­ ciso é "sicofanta", derivado de uma palavra grega que significa "inform ante" ou "escova-botas"). O s oficiais de Saul eram hom ens nos quais não se podia confiar e que pre­ cisavam ser subornados a fim de prestar ser­ viços leais ao rei (ver 1 Sm 2 2 :6ss), mas os homens de D avi estavam dispostos a m or­ rer por seu líder e, de fato, foi o que alguns deles fizeram . U m a v e z que os povos antigos tinham dois ou mais nom es que podiam ser grafados de formas diferentes, não é fácil correlacionar essa lista em 2 Samuel 23 com a de 1 C rô ni­ cas 11. Alguns nom es na lista de Samuel não aparecem na lista de C rô n icas, mas esta últi­ ma traz dezesseis nom es a mais (1 C r 1 1 :414 7 ). É possível que se trate de substitutos ou de "reservas".3 O s nom es que não apa­ recem na lista de C rô nicas são Sam a, filho de A gé (v. 11), Elica (v. 25 ), Eliã (v. 34) e Igal (v. 3 6 ). A s d iferenças entre as duas listas são mínimas e, sem dúvida, a com posição desse grupo mudava de tem pos em tempos, 377 à m edida que os hom ens morriam e eram substituídos. Nesta lista, os hom ens foram divididos em quatro grupos: os três valentes (vv. 812), o segundo grupo de três valentes (vv. 13-1 7),4 dois líderes especiais (vv. 18-23) e "os trinta" soldados extraordinários (vv. 243 9 ).5 No versículo 36, trata-se do nom e de um só hom em ("Igal, filho de Natã [que era filho] de Z o b á") ou dos nom es de dois ho­ mens ("Igal, filho de Natã e o filho de Zobá")? Com exceção dos três homens que trouxe­ ram água para D avi, os nomes de todos os outros são relacionados, de modo que pa­ rece estranho a lista omitir o nom e de um só hom em . E bem provável que o versículo 36 registre o nom e de um indivíduo, o que significa que havia trinta e dois soldados no grupo dos "trinta" - os vinte e nove cujos nom es aparecem na lista, mais os três ho­ mens dos versículos 13 a 1 7. Talvez o termo "os trinta" fosse sim plesm ente um codinom e para os soldados de elite de D avi, não obs­ tante o núm ero exato de m em bros, assim com o "os do ze" designava o grupo de após­ tolos de Jesus. Se acrescentarm os aos trinta e dois hom ens os três valentes dos versículos 8-12, mais Abisai e Benaia, tem os o total de trinta e sete indicado no versículo 39. D ois nom es são co nhecidos: A sael, so­ brinho de Davi e irmão de Joabe e de Abisai (vv. 2 4 ), e Urias, o heteu, marido de BateSeba (v. 39; 1 C r 1 1 :4 1 ). O s dois estavam mortos, mas seus nom es perm aneceram na lista de grandes guerreiro s. Q u e tragédia Davi ter tirado a vida de um de seus melhores soldados só para encobrir o próprio pecado! H á dois outros fatos dignos de observa­ ção. Em prim eiro lugar, D avi não realizou suas co nq uistas so zin h o ; teve a ajuda de muitos seguidores dedicados. Consideram os Davi um guerreiro poderoso, o que de fato era, mas até onde teria ido sem seus solda­ dos com petentes e leais? A maioria dos ho­ mens que aparecem na lista vinha de Judá, o que não causa espanto, uma vez que Davi era da tribo de Judá e reinou ali antes da u n ificaçã o n acio n al. Porém , o grupo dos "trinta" tam bém incluía hom ens de Benja­ mim, a tribo de Saul, e vários soldados das 378 2 S A M U E L 23 - 24 nações vizinhas. Todos esses hom ens reco­ nheceram que a mão de Deus estava sobre D avi e d e se jaram p a rticip a r daq u ilo que D eus estava faze n d o . Essa diversidade de com andantes em seu exército é louvável na liderança de Davi. Em segundo lugar, Deus lembrou-se de cada um dos homens, providenciou para que a m aioria deles fosse anotada na sua Pala­ vra e, um dia, recom pensará cada um deles pelo ministério que realizaram . O nom e de D avi é citado mais de mil vezes na Bíblia, enquanto a maioria desses hom ens é men­ cionada apenas uma ou duas vezes. Porém, q u a n d o se e n c o n tra re m co m o S en h o r, "cad a um receb erá o seu louvor da parte de D eus" (1 C o 4:5 ). Joabe foi com andante de todo o exérci­ to (2 0 :2 3 ), mas é citado nessa lista militar som ente em relação a seus irmãos Abisai (v. 18) e Asael (v. 2 4 ; 1 C r 1 1 :20 , 26 ). No final, Joab e foi desleal a D avi e tentou co lo car Adonias no trono, o que lhe custou a vida (1 Rs 2:28-34). 3 . D a v i, o p e c a d o r a r r e p e n d id o (2 S m 24 ; 1 C r 21) Lê-se, em 2 Samuel 2 4 :1 , que Deus incitou Davi a contar o povo, enquanto 1 C rônicas 2 1 :1 indica Satanás com o o culpado. O s dois estão certos: D eus permitiu que Satanás ten­ tasse a D avi, a fim de realizar os propósitos que tinha em mente. Satanás, sem dúvida, fez oposição ao povo de Deus ao longo da história do Antigo Testam ento, mas esse é um de quatro casos, no Antigo Testam ento, em que Satanás é m en cion ad o de m odo específico e visto trabalhando abertam ente. As outras três ocasiõ es são a tentação de Eva (G n 3), o ataque a Jó (Jó 1 - 2) e a acusa­ ção ao sumo sacerdote Josué (Z c 3 ).6 U m re i o rg u lh o so (vv. 1-9; 1 C r 21:1-6). Não havia nada de ilegal em re aliza r um censo, desde que fosse feito de acordo com as regras estabelecidas em Êxodo 30:11-16 (ver tam bém Nm 3:40-51). O meio siclo re­ cebido no censo era usado para pagar as contas do santuário de Deus (Êx 38:25-28). C om o bom cidadão judeu, Jesus pagou esse imposto do templo (M t 17:24-27), mesm o sabendo que grande parte do ministério do tem plo, naquela época, era corrupta e rejei­ tada por seu Pai (M t 2 3 :3 7 - 2 4 :1 ). O termo "povo", em 2 Samuel 2 4 :2 , 4, 9, 10, referese às forças arm adas de Israel e é usado com esse sentido em 1 Samuel 4 :3 , 4, 1 7. Porém, o censo ordenado por Davi não tinha o pro­ pósito de coletar o imposto anual do templo. Antes, foi um censo militar para determinar o tam anho de seu exército, com o fica claro no versículo 9. H aviam sido realizados cen­ sos militares, no passado, sem que o Senhor tivesse julgado a nação (Nm 1 e 26). O que houve de errado nesse censo? Joabe e seus capitães foram contra o pla­ no (v. 4), e o discurso de jo ab e, no versículo 3, indica que a ordem de Davi foi motivada pelo o rg u lho . O rei quis en g ran d e ce r as próprias realizações em vez do nome do Se­ nhor. É possível que D avi tenha racionali­ zad o esse desejo argum entando que seu filho, Salom ão, era um hom em pacífico e sem experiência militar. Davi desejava certi­ ficar-se de que Israel teria as forças necessá­ rias para m anter a paz. O u tro fator pode ter sido o plano de Davi de organizar o exército, o governo e, tam bém , os sacerdotes e levi­ tas, para que Salom ão pudesse administrar tudo com mais facilidade e conseguir se de­ dicar à construção do templo (1 C r 22 - 27). Q u alq u er que tenha sido a causa, o Se­ nhor se desagradou (1 C r 2 1 :7 ), mas per­ mitiu que Joabe e seus capitães passassem os nove meses e vinte dias seguintes con­ tando os israelitas com vinte anos ou mais e aptos para o serviço militar. Por vezes, o m aior julgam ento de D eus é sim plesm ente perm itir que façam os as coisas à nossa ma­ neira. O s recenseadores partiram de Jeru­ salém , viajaram para o leste, atravessando o Jo rd ão , e co m e ça ra m a co n tag em em A roer, nas vizinhanças do mar M orto. D es­ locaram-se para o norte por G ad e e G ileade até a fronteira de Israel, no extrem o norte, onde Davi havia conquistado território e ex­ pandido seu reino (2 Sm 8). Foram, então, para o oeste, até Tiro e Sidom e depois para o sul até Berseba, em Judá, a cidade fron­ teiriça mais distante em Israel. D e Berseba voltaram a Jerusalém , mas não contaram os 2 S A M U E L 23 - 24 levitas (isentos do serviço militar; Nm 1:49; 2 :3 3 ) nem os h o m en s de B e n ja m im . O tabernáculo situava-se em G ibeão , na tribo de Benjam im (1 C r 16 :3 9 , 40 ; 2 1 :2 9 ), e é possível que Joabe tenha co nsiderado im­ prudente invadir o território sagrado numa missão pecam inosa com o aquela. D e qual­ quer modo, Saul era de Benjam im , e ainda havia vários bolsões de resistência na tribo. A tribo de Benjam im era próxim a dem ais de Jerusalém , e Joabe não queria correr qual­ quer risco. O total incom pleto de homens foi de um m ilhão e trezentos m il.7 Um re i cu lp a d o (vv. 10-14; 1 C r 21:713). Ao perceber sua insensatez em levar a cabo tal plano, Davi confessou seu pecado e buscou ao Senhor. Pelo menos seis vezes nas Escrituras, vem os Davi confessando: "pe­ quei" (2 Sm 1 2 :1 3 ; 2 4 :1 0 , 1 7; Sl 4 1 :4 e 5 1 :4; 1 C r 2 1 :8). Ao confessar seu pecado de adul­ tério e h o m icíd io , D avi d eclaro u : "Peq uei contra o S e n h o r " , mas ao confessar seu pe­ cado de contar o povo, disse: "M u ito pequei no que fiz " (grifo m eu). A m aioria de nós considera o pecado de Davi em relação a Bate-Seba muito mais grave e insensato do que o pecado da contagem do povo, mas D avi p erceb eu a en o rm id ad e do que ha­ via feito. O pecado de Davi com Bate-Seba custou a vid a de quatro filhos de D avi (o bebê, A m nom , A bsalão e A donias) e tam ­ bém a vida de Urias. Porém , depois do cen­ so, Deus enviou uma praga que tirou a vida de setenta mil pessoas. O Senhor deve ter concordado com Davi que, de fato, ele ha­ via pecado muito. O pecado de Davi com Bate-Seba foi um pecado da carne, de ceder à lascívia numa tarde de ócio (2 Sm 1 1 :2 ; G l 5 :1 9 ), mas o censo foi um pecado do espírito (ver 2 Co 7:1), um ato deliberado de rebelião contra D eus. Foi motivado pelo orgulho, e o orgu­ lho encontra-se no topo da lista de pecados que Deus abom ina (Pv 6 :1 6 , 17). " O orgu­ lho é o solo em que crescem todos os ou­ 379 tratam os culpados de maneira distinta (D t 19:1-13; Êx 21:12-14). O censo foi uma re­ belião intencional, e Davi pecou deliberada e conscientem ente. Além disso, Deus deu a Davi mais de nove meses para se arrepen­ der, mas o rei recusou-se a ceder. Em diver­ sas cenas da história de D avi, Joabe não é retratado co m o um hom em piedoso, mas até mesm o Joabe e seus oficiais se opuse­ ram a esse projeto. Davi deveria ter dado ouvidos ao conselho deles, mas estava de­ term inado a realizar o censo. Em sua graça, D eus perdoa nossos pe­ cados quando os confessam os (1 Jo 1:9 ), mas, em seu justo governo, permite que so­ fram o s as c o n se q ü ê n c ia s. N esse ca so , o Senhor concedeu a Davi até mesm o o privi­ légio de esco lh e r as co n se q ü ê n cia s. Isso porque a desobediência de Davi foi um pe­ cado consciente, uma escolha deliberada da parte do rei, de modo que D eus perm itiu que fizesse outra escolha e determ inasse o castigo. G a d e 8 deu três escolhas ao rei e dis­ se-lhe para refletir sobre elas, tom ar um a decisão e dar sua resposta quando o profe­ ta voltasse. Entre uma visita e outra do profeta, Davi deve ter buscado o Senhor, pois Deus dim i­ nuiu o período da fom e de sete para três anos, o que explica a aparente discrepância entre 2 Samuel 2 4 :1 3 e 1 Crônicas 2 1 :1 2 . Em sua m isericórdia, Deus abreviou os dias de sofrimento para seu povo escolhido (M t 2 4 :2 2 ). O s três castigos são citados na alian­ ça de D eus com Israel (D t 2 8 ), de modo que Davi não deve ter se surpreendido: fom e - 2 8 :2 3 , 24 , 38-40; derrota m ilitar - 2 8 :2 5 , 26 , 41-48 e peste - 2 8 :2 1 , 22 , 27, 28, 35, 6 0 , 6 1 .9 Na lei de Israel, o pecado involun­ tário do sumo sacerdote eqüivalia ao peca­ do de toda a congregação (Lv 4:1-3,13,14), logo, as penas aplicadas a um rei que havia pecado voluntariam ente deveriam ser mui­ to mais pesadas! C on h ecen do a m isericór­ dia de D eus, D avi foi sábio ao escolher a peste com o castigo. tros pecados", escreveu W illiam Barclay, "e a fonte de todas as outras transgressões". Tanto as Escrituras quanto a lei civil fazem U m r e i a r re p e n d id o (vv. 15-25; 1 C r 2 1 :1 4 -3 0 ). A peste com eçou no dia seguin­ distinção entre p ecad os co n sid e rad o s de paixão e pecados deliberados de rebelião e te pela manhã e continuou no decorrer dos três dias determ inados, quando o A njo de 380 2 S A M U E L 23 - 24 julgam ento terminou seu trabalho em Jeru­ salém, da m esma form a com o Joabe e seus hom ens haviam feito (v. 8). O coração de pastor de D avi se quebrantou sob o peso do julgam ento, e ele suplicou ao Senhor que o castigasse no lugar do povo. Q u e motivo Deus teria para matar setenta mil hom ens e, ao mesm o tempo, preservar a vida de Davi? Devem os observar que, de acordo com 2 Sa­ muel 2 4 :1 , D eus estava irado co m Israel e não com Davi, de modo que deveria estar castigando o povo por algum pecado que havia com etido. Alguns estudiosos sugerem que a praga tirou a vida dos israelitas que seguiram A b salão em sua rebelião e que rejeitaram Davi com o seu rei. É uma possibi­ lidade, mas o texto não a confirm a. D eus perm itiu que D avi visse o Anjo de julgam ento pairando sobre Jerusalém , pró­ xim o à eira do jebuseu Araúna (O rnã). O s jebuseus foram os prim eiros habitantes de Jerusalém , de m odo que O rn ã havia se su­ jeitado ao governo de Davi e se tornado um cidadão respeitável. A passagem não diz se D avi ouviu a ordem de D eus para que o A njo cessasse a praga, mas D avi sabia que D e u s era m ise ric o rd io s o e b o n d o so , de modo que pediu m isericórdia pelo "rebanho do seu pastoreio" (Sl 1 0 0 :3 ). O s anciãos es­ tavam com D avi (1 C r 2 1 :16 ) e o acom panha­ ram, prostrando-se com o rosto em terra em contrição humilde e adoração. Foi o peca­ do de Davi que desencadeou a crise, e é possível que esses líderes tenham percebi­ do que a nação tam bém havia pecad o e m erecia sentir a disciplina de Deus. O profeta G ad e voltou a aparecer, des­ sa v e z com uma mensagem de esperança. D eus deveria construir um altar na eira de O rn ã e oferecer sacrifícios ao Senhor naque­ le local, e a praga cessaria. C om o rei, Davi poderia ter tom ado posse da propriedade (1 Sm 8 :1 4 ) ou tê-la pedido em prestada, mas insistiu em comprá-la. Davi sabia do alto pre­ ço do pecado e se recusou a dar a Deus algo que não lhe havia custado co isa algu­ ma. Por cinqüenta siclos de prata, com prou os bois para os sacrifícios, usando seus jugos de m adeira com o lenha e, por seiscentos siclos de ouro, adquiriu toda a eira (2 Sm 2 4 :2 4 ; 1 C r 2 1 :2 5 ). Q u an d o o sacerdote ofereceu os sacrifícios, D eus enviou fogo dos céus para consumi-los, indicando que havia aceitado a oferta (1 C r 2 1 :2 6 ; Lv 9:2 4 ). Sabendo que o rei poderia muito bem com prar sua propriedade, por que O rn ã es­ tava tão ansioso para entregá-la de graça a D avi? O u será que sua o ferta foi apenas outro caso da tradicional cortesia do O rien­ te na arte da barganha? (ver G n 23). Talvez O rn ã se lem brasse do que havia acontecido aos descendentes de Saul por causa daqui­ lo que Saul havia feito aos gibeonitas (2 Sm 21:1-14) e não quisesse colocar em perigo a vida de seus filhos (1 C r 2 1 :20). A terra que Davi havia com prado não era uma propriedade qualquer, pois naquele lo­ cal Abraão havia co locado o filho, Isaque, sobre o altar (G n 22), e, nele, Salomão cons­ truiu o templo (1 C r 2 2 :1 ; 2 C r 3:1). Depois que a praga cessou, Davi consagrou o local ao Senhor (Lv 2 7 :2 0 , 21) e o usou com o lu­ gar de sa crifício e ad o ração . O altar e o tabernáculo ficavam em G ibeão , mas Deus permitiu que Davi adorasse em Jerusalém. A terra foi santificada e, um dia, se tornaria o tem plo de D eus. D avi anunciou: "Aqui, se levantará a Casa do S e n h o r Deus e o altar do holocausto para Israel" (1 C r 2 2 :1 ); a partir de então, tiveram início os preparativos para que Salom ão construísse o templo. Se alguém lhe pedisse para citar os dois pecados mais graves de D avi, é bem prová­ vel que respondesse: "o adultério com BateSeba e a contagem do povo", e teria razão. Porém , partindo desses dois p eca d o s graves, D eus edificou um tem plo! Bate-Seba deu à luz Salom ão, a quem Deus escolheu com o sucessor de Davi ao trono. Na propriedade que Davi com prou e onde ergueu o altar, Salom ão construiu o tem plo, consagrandoo para a glória de D eus. O que D eus fez por Davi certam ente não é pretexto para pecar (Rm 6 :1 , 2), pois D avi pagou caro por esses pecados. Porém , co nh ecer o que Deus fez por D avi serve de estím ulo para buscarm os ao Senhor e confiarm os em sua graça quan­ do lhe desobedecem o s. "M as onde abun­ dou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5 :2 0 ). Q u e D eus m isericordioso servim os! 2 S A M U E L 23 - 24 381 No Antigo Testam ento, Deus considerava os governantes de Israel pastores, o que explica passagens com o Jeremias 10:21, 12:10, 23:1-8, 2 5 :3 6 ; Ezequiel 34:1-18; Zacarias 10:2, 11:15-17. 2 Samuel 8:13 dá crédito a Davi pela grande vitória contra os edom itas, enquanto 1 Crô nicas 18:12 atribui a vitória a Abisai. 0 sobrescrito do Salm o 60 afirm a que Joabe tam bém participou desse acontecim ento. É bem provável que Davi estivesse no com ando e que Joabe e seu irmão, Abisai, tenham liderado o exército no cam po de batalha. Naquela época, era costum e o rei receber crédito por vitórias com o essa (ver 2 Sm 12:26-31). Para um excelente quadro com parativo dos valentes de Davi, ver W alvo o rd , John; Z u c k , Roy. (O rgs.) The Bible K now ledge Com m entary, Victor. V. Antigo Testamento, pp. 47 8, 479. Alguns estudiosos acreditam que os três homens que trouxeram água do poço de Belém foram aqueles cujos nomes são citados nos versículos 8 a 12, mas, ao que parece, o versículo 13 indica que eram outros três homens, parte dos "trinta". As duas expressões "os três" e"os trinta" são encontradas várias vezes nesses capítulos. Para "os três", ver os versículos 9, 13, 16-19, 22, 23; para "os trinta" ver versículos 13, 23, 24. Em 1 Crô nicas 11, "os três" são m encionados nos versículos 12, 15, 18-21, 24, 25; e "os trinta" nos versículos 15, 25 e 42. Para um estudo dessas quatro aparições de Satanás e de sua aplicação para os cristãos hoje, ver minha obra, The Strategy o f Satan [A Estratégia de Satanás] (Tyndale H ouse). 1 Crônicas 2 1 :5 registra 1 .10 0.000 homens, mas é preciso lembrar que Joabe não com pletou o censo (1 C r 27 :2 3 , 24), e valores diferentes foram registrados em ocasiões distintas ao longo dos nove m eses de levantam ento. O b servar, ainda, que 2 Samuel 2 4 :9 especifica "oitocentos mil hom ens de guerra", ou seja, um exército perm anente com experiência, enquanto outros trezentos mil hom ens tinham idade para com bater, m as não possuíam experiência de com bate, isso nos dá o total de 1 .10 0.000 homens registrado em 1 Crônicas 21:5. &. O profeta G ad e aparece pela primeira v ez nas Escrituras depois que Davi fugiu de Saul (1 Sm 2 2 :5 ). É possível que fosse um especialista em liturgia israelita, um a vez que ajudou Davi a organizar os levitas para sua participação na adoração no templo. Também manteve um registro oficial dos acontecim entos do reinado de Davi (1 C r 29 :2 9). 9 Em mais de uma ocasião, D eus enviou pragas sobre Israel para castigar seu povo (N m 1 1 :31-34; 14:36-38; 16:46-50; 2 1 :49; 2 6 :9 , 10). É evidente que essa m edida estava de acordo com o que havia sido estipulado em sua aliança, a qual o povo havia transgredido. 13 O Leg a d o 1 C rônicas de D avi 22 - 29 avi "[serviu] à sua própria geração, co n­ form e o desígnio de D eus" (At 13:36). Q uem serve à sua geração fielm ente, tam­ bém serve às gerações futuras. "Aquele, po­ rém, que faz a vontade de D eus perm anece D eternam ente" (1 Jo 2 :1 7 ). O legado de Davi enriqueceu o povo de Deus, Israel, durante séculos. Davi não apenas providenciou todo o necessário para a construção do templo, co m o tam bém escreveu câ n tico s e criou instrum entos m usicais para serem usados nos cultos de adoração (1 C r 2 3 :5 ). O mais im portante, porém , é que o Salvador veio ao mundo por intermédio da fam ília de Davi, sendo "a R aiz e a G e ra çã o de D avi" (Ap 2 2 :1 6 ), de modo que Davi continua a enri­ quecer a Igreja nos dias de hoje. Q u an d o o u vim o s o nom e de D avi, é possível que a prim eira coisa que nos vem à mente seja Bate-Seba e os pecados do rei, mas esses capítulos apresentam D avi com o o construtor, um homem que arriscou a vida a fim de ajuntar riquezas para a construção do tem plo para a glória de D eus. Ele é um grande exem plo para os crisrãos de todas as idades que desejam viver para Cristo de modo produtivo e deixar um legado de bên­ çãos espirituais. 1. M o t iv a ç ã o e s p ir it u a l Alguns leitores da Bíblia, hoje, podem ser tentados a passar rapidam ente por estes ca­ pítulos, pular todas as listas de nom es e pros­ seguir a leitura com o reinado de Salomão em 2 C rô n ica s, mas isso seria um grande erro. Pense no ânim o e na orientação que estes capítulos devem ter o ferecido ao re­ m anescente judeu que voltou a Jerusalém depois do cativeiro na Babilônia (ver os li­ vros de Esdras, Neem ias, Ageu e Z acariasi. Essas pessoas corajosas tiveram de recons­ truir o templo e de organizar seu ministério, e, para elas, ler estes capítulos lem braria que estavam realizando a obra de Deus. O Se­ nhor deu cada detalhe do primeiro templo e de seu ministério a Davi, o qual, por sua vez, transmitiu as instruções a Salom ão. Es­ tas "listas de nom es" ajudaram Zorobabel e o sumo sacerdote Josué a exam inar as cre­ denciais dos que desejavam servir no templo (Ed 2:59-64) e recusar os não qualificados. Estes capítulos serviram de ânim o aos ju d eu s em seus trabalhos sécu lo s atrás e tam bém podem nos anim ar hoje em dia na edificação da Igreja (Ef 2:19-22). Ao ler 1 Coríntios 3:9-23 e co m p arar essa passagem com 1 C rô n ica s 22 , 28 e 29 , vem o s parale­ los que devem nos estim ular a ed ificar a Igreja da form a que a Palavra de D eus or­ d e n a .1 D avi sabia que o tem plo de Deus deveria ser co nstruído com ouro, prata e pedras p recio sas (2 2 :1 4 ; 2 9 :1 -5 ), e Paulo fez um a ap lica ção espiritual desses mate­ riais para a igreja local. Representam a sa­ bedoria de D eus, conform e apresentada na Palavra de D eus (Pv 2:1-10; 3 :13-15; 8:1 O 2 1 ). A m adeira, o feno e a palha podem ser reunidos na sup erfície, mas se d e se ja m :? obter ouro, prata e pedras preciosas, prec is a m o s c a v a r p a ra e n c o n t r á - lo s . N ã o e d ific a m o s a Igreja com id éias hum anas engenhosas nem imitando o mundo, mas sina pelo ensinam ento e obediência às verdace-í preciosas da Palavra de D eus (ver 1 C o 3 :' S2 0 para a opinião de Paulo sobre a sabec > ria deste m undo). Salom ão não precisou desenhar os pidjl jetos do tem plo, pois o Senhor já os entre­ gara a Davi (1 C r 2 8 :1 1 , 12). Q uand o lem ~ a Palavra e oram os, o Senhor mostra se_? planos para cada igreja local. "D e se n vo h e i a vossa salvação com tem or e trem or" ( r r 2 :1 2 , 13). Essas palavras foram escritas pa_a a igreja de Filipos, e, apesar de terem u ~ \ a aplicação pessoal a cada cristão, sua p r i~ pal ênfase é sobre o ministério da congrega­ ção em caráter coletivo. Alguns líderes ^a igreja local vivem freqüentando sem in án -í 2 SAMUEL e palestras na tentativa de aprender com o e-diíicar a igreja, quando, na verdade, é provável que devessem ficar em casa, cham ar a greja para orar e buscar a D eus em sua PaLa\ ra. Deus tem planos diferentes para cada greja, e não devem os imitar uns aos outros cegam ente. O templo foi construído para mostrar a glória de D eus, e nossa tarefa na igreja local é g lo rifica r a D eus (1 C o 1 0 :3 1 ; 1 4 :2 5 ). Q u an d o Salo m ão consagrou o tem plo, a glória de D e u s foi h ab itar n aq u e le local Rs 8:6-11); mas quando Israel pecou, a glória d eixou o tem plo (Ez 1 0 :4 , 18, 19; 1 1 :2 2 , 2 3 ). Ficam o s im aginan do quantas igrejas locais cum prem toda a rotina de cul­ tos, domingo após domingo e, no entanto, não têm sequer resquícios da glória de Deus. O tem plo deveria ser um a "C asa de O ra ­ ção para todos os povos" (Is 5 6 :7 ), mas os líderes religiosos transform aram -no num co ­ vil de salteadores (M t 2 1 :1 3 ; Lc 1 9 :4 6 ; Jr 7 :1 1 ). O covil de salteadores é o lugar onde os ladrões vão se esco nd er depois de prati­ carem seus crim es, o que sugere que um culto pode ser um bom lugar para fingir espiritualidade (1 Jo 1:5-10). Q uan tas igre­ jas são co n h e cid a s por ter um m inistério e ficaz de oração? Podem ser casas de m ú­ sica, de ensino e até m esm o de atividades sociais, mas será que são casas de oração? O templo foi construído, e Deus o hon­ rou com sua presença, pois os líderes e o povo de Israel deram o melhor de si ao Se­ nhor, sacrificaram e seguiram suas instruções. Trata-se de um bom exem plo a seguir hoje em dia. Som os privilegiados em ajudar na edificação da igreja, e nosso motivo deve ser tão-somente a glória de Deus. 2. O C U I D A D O N O S (1 C r 22:1-19) P R E P A R A T IV O S O Senhor não permitiu que Davi construís­ se o tem plo, mas honrou os preparativos que fez para que seu filho, Salom ão, cum prisse essa tarefa. D e acordo com um antigo dita­ do: " O que é bem com eçad o já está meio acabado", e Davi cuidou de preparar Salo­ mão, o povo e os materiais para esse grande projeto (ver o s vv. 3, 5 e 14). 383 O lo ca l, o s m ateriais e os tra b a lh a d o ­ re s (vv. 1-4). Não se sabe, ao certo, quando 0 Senhor co m eço u a transm itir a Davi os projetos para o templo e para seus funcio­ n ário s, mas ao que p a rece , a co m p ra da propriedade de O rnã foi um sinal para Davi entrar em ação. Q u an d o Deus enviou fogo do céu para consum ir os sacrifícios de Davi (2 1 :2 6 ), o rei soube que seus pecados ha­ viam sido perdoados e que se encontrava novam ente em com unhão com o Senhor. Porém, Davi tam bém se deu conta de que seu altar havia se tornado um lugar muito especial para o Senhor e continuou a ofere­ cer sacrifícios ali em v e z de ir ao tabernáculo em G ib e ã o . O Senho r lhe revelou que o monte M oriá era o local em que desejava que o tem plo fosse construído. É possível que D avi tenha escrito o Salm o 30 nessa ép oca, apesar de ainda não haver um edifí­ cio para consagrar. Pela fé, consagrou ao Senhor a propriedade que havia com prado e o tem plo que, um dia, seria edificado so­ bre aquela terra.2 Davi recrutou tanto israelitas quanto re­ sidentes estrang eiros (1 Rs 5 :1 3 -1 8 ) para ajudar na construção do templo. Essa divi­ são do governo de Davi encontrava-se sob a responsabilidade de Adorão (2 Sm 2 0 :2 4 ), tam bém cham ado de Adonirão (1 Rs 4 :6 ).3 O s trinta mil trabalhadores israelitas co rta­ vam m adeira no Líbano durante um mês e, depois, voltavam para casa por dois meses, enquanto os cento e cin qüenta mil traba­ lhado res "estran g e iro s" cortavam e trans­ portavam pedaços enorm es de pedra dos montes, sob a supervisão de contram estres israelitas (1 Rs 5:13-18; ver tam bém 9:151 9; 2 C r 2 :1 7 , 18). A presença de gentios trabalhando lado a lado com israelitas mos­ tra que o templo era, de fato, um a casa de oração para todas as nações. Não devem os im aginar que os estrangeiros eram tratados com o escravos, pois a lei de M oisés proibia claram ente esse tipo de prática (Êx 2 2 :2 1 ; 2 3 :9 ; Lv 19 :3 3 ). D avi passou anos ajuntando m ateriais para o tem plo, sendo que seu valo r total era incalculável. M uita coisa veio dos des­ pojos das batalhas que D avi lutou e venceu 384 2 SAMUEL (18:9-11; 26:26-28). Davi, o guerreiro, havia derrotado os inimigos de Israel e tom ado sua riqueza para que seu filho, Salom ão, tivesse a paz e as provisões necessárias para cons­ truir a casa de Deus. Salom ão> o co n stru to r (vv. 5-16). Alguns cronologistas bíblicos acreditam que Davi estava com cerca de sessenta anos de idade quando deu início ao programa de constru­ ção do tem plo, mas não sabem os quantos anos Salom ão tinha na época. Davi disse que seu filho ainda era "m o ço e tenro" (2 2 :5 ; 2 9 :1 ), e depois de sua ascensão ao trono, Salom ão referiu-se a si mesm o dizendo: "não passo de uma crian ça" (1 Rs 3 :7 ). Isso expli­ ca por que Davi admoestou e incentivou o filho, várias vezes, a obedecer ao Senhor e a term inar o trabalho que lhe havia sido de­ signado por Deus (22:6-16; 2 8 :9 , 10, 20, 21). Davi tam bém admoestou seus líderes a in­ centivar e ajudar o novo rei nesse grande projeto. D avi desejava que tudo estivesse prep arad o antes de sua m orte, para que Salom ão tivesse o que precisaria para cons­ truir a casa de Deus. Davi encorajou Salom ão ao garantir-lhe que o projeto do templo era da vontade de D eus, e, portanto, o Senhor o ajudaria a co n ­ cluí-lo (vv. 6-10). Deus havia capacitado seu pai para lutar nas batalhas do Senhor e para trazer paz para Israel, e era chegada a hora de construir a casa de Deus (2 Sm 7:9). O Senhor havia dito a D avi que teria um filho para levar a cabo essa tarefa (7:12-16; 1 C r 1 7 :1 1 ; ver Dt 12:8-14). Davi colocou a ênfa­ se sobre o fato de que o tem plo deveria ser construído não para a glória do nom e de D avi nem de Salom ão, mas sim para a glória do nom e do Senhor (vv. 7, 8, 10, 19). Davi queria certificar-se de que Salom ão iria glo­ rificar o Senhor, não construir um m onum en­ to em honra'a si mesmo. Davi também encorajou o filho ao lembrá-lo da fidelidade de Deus (vv. 11-13). Se confiasse no Senhor e lhe obedecesse em tudo, o Senhor m anteria Israel em paz e em segurança e o capacitaria para com pletar o projeto (ver 28:7-9, 20 ). As palavras "se for­ te e corajoso, não tem as, não te desalentes" nos lem bram de M o isés en co rajan d o seu sucessor, Josué (D t 31:5-8, 23), e o Senhor repetiu essas palavras a Josu é depo is da morte de M oisés (Js 1 :6, 9). M oisés e Josué foram hom ens fiéis; Deus os conduziu en­ quanto atravessavam todas as pro vações, capacitando-os a com pletar seu trabalho, e faria o mesmo por Salomão. O terceiro estím ulo de Davi a seu filho foi a enorm e quantidade de riquezas que o rei h avia acum u lad o para o p ro jeto , ju n ­ tam ente com o grande núm ero de traba­ lhadores que recrutara (vv. 14-16). Parece incrível, mas o rei disse que havia ajuntado 3 .4 0 0 toneladas de ouro e 3 4 .0 0 0 tonela­ das de prata e que havia tanto bronze e ferro que nem poderiam ser pesados. Pelo me­ nos, Salom ão não teria de passar o chapéu! O s líd e re s d e Isra e l (vv. 17-19). D avi or­ denou aos líderes que co operassem com Salom ão e que o ajudassem a com pletar o projeto. Lembrou-os de que a paz e o des­ canso desfrutados então se deviam somente ao fato de D eus ter usado Davi para derro­ tar os inimigos de Israel e expandir suas fron­ teiras (o bserve a m enção do term o "p az" nos vv. 9 e 18 e tam bém em 2 3 :2 5 ). Um a vez que o tem plo estava sendo construído para D e u s, era im perativo que os líderes buscassem ao Senhor e que mantivessem o coração em ordem diante dele. D avi havia co locado seu trono em Israel e desejava que a arca - o trono de Deus - também ficasse lá. Sua única preocupação era que o nome de Deus fosse glorificado. 3. A O R G A N I Z A Ç Ã O D O (1 C r 23:1 - 2 6 :3 2 ) TEM PLO D avi sabia que, a fim de D eus ser glorifica­ do, também era preciso organizar e prepa­ rar os ministros do templo. M uitas vezes, os program as de con strução das igrejas concentram-se tanto nos aspectos financeiros e m ateriais que deixam de lado as questões espirituais e, assim, uma congregação após­ tata e dividid a reúne-se para co n sagrar o novo edifício! C o m o adm inistrador com pe­ tente, Davi organizou os levitas (cap. 23 ), os sacerdotes (cap. 24), os cantores do templo (cap. 25) e os oficiais do tem plo (cap. 26). D avi desejava ter ce rteza de que tudo na 2 SAMUEL casa do Senhor seria feito "com decência e ordem " (1 C o 1 4 :4 0 ). D avi e seus dois sa­ cerdotes lançaram sortes para tom ar essas decisões (2 4 :5 , 6, 31 ; 2 5 :8 ; 2 6 :1 3 , 14, 16). Foi esse m esm o processo que Josué usou quando deu às tribos sua herança na Terra Prom etida (Js 1 4 :2 ; 2 3 :4 ). 385 tom arem conta do santuário enquanto os sacerdotes ministravam no altar não signifi­ ca que seu trabalho era m enos importante para o ministério do Senhor. Cad a servo era im portante para D eus, e cada ministério era n ecessário . Davi não apenas organizou os m úsicos do san tuário , mas tam bém lhes fo rn e ce u instrumentos m usicais adequados para usar no louvor ao Senhor (v. 5; 2 C r 29:25-27; Am 6 :5 ). N ada do que os levitas e sace r­ dotes faziam no templo foi deixado ao en­ cargo do acaso ou da in venção hum ana; No entanto, a organização não era um fim em si, pois essas pessoas foram orga­ n izad as para se rvir. A e x p ressã o "p ara o ministério da C asa do S e n h o r " (ou termos sem elhantes) é usada várias v e ze s nestes capítulos, a fim de nos lem brar de que o ministério é a principal responsabilidade do antes, foi tudo ordenado por D eus. Nadabe servo do Senhor na casa de Deus (ver 2 3 :2 4 , e Abiú, os filhos de A rão, o sumo sacerdote 26, 28 , 32; 2 5 :1 , 6, 8, 30; 2 8 :1 3 , 14, 20, 21;(2 4 :1 , 2), foram m ortos pelo Senhor por de­ senvolverem sua própria form a de adoração 2 9 :5 , 7; 2 C r 3 1 :1 6, 1 7). U m a coisa é preen­ cher um cargo, mas outra bem diferente é (Lv 10). usar esse cargo para servir ao Senhor e a O s deveres levíticos são apresentados nos versículos 24 a 32. O s israelitas estavam seu povo. desfrutando descanso em sua terra e haviam O s levitas (2 3 :1 -3 2 ; ver tam bém o cap. deixado de ser um povo nôm ade, de modo 6). O autor de Crônicas não registra o co n­ que os levitas não precisavam mais levar as flito familiar ocorrido quando Salom ão subiu várias partes do tabern ácu lo de um lugar ao trono (1 Rs 1 - 2), mas o versículo 1 indi­ para o outro (ver Nm 4). A construção do ca um a prim eira nom eação e 2 9 :2 2 , outra tem plo significava que os levitas seriam ne­ depois desta. Porém , é possível que o ver­ cessários para novas incum bências. U m a de sículo 1 signifique, sim plesm ente, que Davi suas tarefas seria m anter o templo limpo e anunciou Salom ão seu sucessor, com o em arrum ado, certificando-se de que os arredo­ 2 8 :4 , 5, enquanto 2 9 :2 2 descreve a coroa­ res do tem plo fossem conservados cerimoção propriam ente dita. (Temos a im pressão niaim ente puros. Tam bém deveriam cuidar de que a co roação de Salom ão descrita em que houvesse farinha suficiente para as ofer­ 1 Reis 1 foi preparada às pressas.) A ascen­ tas. Em todos os sacrifícios diários, m ensais são pública e formal de Salom ão ao trono é e anuais realizados, o coral de levitas deve­ descrita em 29:21-25. ria oferecer louvores ao Senhor. O s levitas ajudavam os sacerdo tes no O s sa ce rd o te s (24:1-31). Era importante ministério e, de acordo com a lei, deveriam que os sacerdotes fossem , de fato, descen­ ter, no m ínimo, trinta anos de idade (v. 3; dentes de A rão. No tem po de D avi, havia Nm 4 :3 ; ver tam bém Nm 8 :2 4 ). Posterior­ dois sum os sacerdotes, Z ad o q ue, um des­ mente, esse limite foi antecipado para vinte cendente de A rão por Eleazar, e A im eleque, e dois anos de idade (v. 2 4 ). O s trinta e oito filho de A biatar, da linhagem de Itamar. A bia­ mil levitas foram divididos em quatro gru­ tar foi amigo e sacerdote de D avi durante pos: cada um com um ministério esp ecífi­ os anos de exílio (1 Sm 2 0 :2 0 ss) e também co: vinte e quatro mil levitas para ajudar os durante a rebelião de Absalão (2 Sm 15:24sacerdotes no santuário, seis mil com o "ofi­ 29). Infelizm ente, A biatar não foi leal a Salo­ ciais e ju ize s" (ver 26:1-32), quatro mil com o "porteiros" (ver 26:1-19) e quatro mil com o mão e tomou o partido de Adonias em sua cantores (ver 25:1-31). H avia um tem plo e cam panha pelo trono, de m odo que Salo­ mão teve de expulsar A biatar de Jerusalém um sum o sacerdote, mas uma diversidade (1 Rs 2:22-27). Abiatar era da linhagem de Eli, de dons e de m inistérios não muito diferen­ tes da Igreja de hoje. O fato de os levitas rejeitada e julgada por Deus (1 Sm 2:30-33; 386 2 SAMUEL ver tam bém 2 Sm 2 2 :2 6 , 27). As vinte e qua­ tro famílias (clãs) de sacerdotes foram desig­ nadas por sortes para servir no santuário em épocas definidas e, no restante do tempo, d e veriam tra b a lh a r nas c id a d e s le v ítica s instruindo o povo. Esse procedim ento co n ­ tinuava em vigor quando Z acarias serviu no tem plo (L c 1:5-9). Z a ca ria s era do clã de Abias (2 4 :10 ). O s m ú s ic o s (2 5 :1 -3 1 ), Além do toque cerim onial das trombetas (N m 10), a lei de M oisés não faz qualquer outra m enção de m úsica com relação à adoração em Israel, e, no entanto, esse capítulo descreve uma o rg a n izaçã o co m p le x a de vin te e quatro grupos de cantores e de m úsicos. Davi foi um escritor de salmos e um m úsico talentoso (2 Sm 2 3 :1 , 2; 1 Sm 1 6 :1 8 ), e é provável que a adoração m usical no santuário tenha se desenvolvido sob sua orientação (v. 6), le­ vando a inovações aprovadas pelo Senhor (2 C r 2 9 :2 5 ). Essa passagem m enciona har­ pas, alaúdes e cím balos (v. 1); outros textos fazem m en ção de trom betas (1 C r 1 3 :8 ; 15:24, 28 ; 2 C r 5 :1 3 ; 2 0 :2 8 ) e tam bém de corais (1 C r 15 :2 7 ). Três le v ita s de grande ta le n to fo ram incum bidos da m úsica instrum ental e dos c â n tic o s nos cu lto s de a d o ra ç ã o . A sa fe escreveu pelo m enos vinte salm os (5 0 , 73 - 83) e tocava cím balos (1 6 :5 ). H em ã tam ­ bém era cham ado de "vidente do rei' (v. 5), o que ind ica que tinha o dom especial de d iscern ir a vontade de D eu s. O Senhor pro­ meteu dar a H em ã uma fam ília num erosa (v. 5), e todos os seus filhos foram m úsicos. O nom e de Jedutum é relacionado a Judá e significa "lo u vo r", um bom nom e para um regente de coral. Jedutum tam bém é asso­ ciado aos Salm os 39, 62 e 77. O verbo "pro fetizar" é usado duas ve­ zes nos versículos 1 a 3 para descrever o ministério de Asafe, H em ã e Jedutum . O ter­ mo norm alm ente se referia ao ministério de profetas na declaração da Palavra de Deus. C o stum a-se d ize r que "os profetas eram proclam adores bem com o prenu nciad ores". Não apenas previam o futuro, mas também falavam das necessidades presentes. M iriã dirigiu as m ulheres no louvor ao Senhor e foi cham ada de profetisa (Êx 15 :2 0 ). O radi­ cal do termo hebraico naba significa "bor­ bulhar, efervescer", referindo-se ao fervor e e m p o lg a çã o do p ro fe ta ao p ro c la m a r a mensagem de Deus. O utro s dizem que sua o rig em é um rad ica l árabe que sig nifica "anunciar". O im portante é que os homens que dirigiram a ad oração no santuário de Israel não eram necessariam ente profetas no sentido técnico da palavra, mas que eles e seus cantores proclam avam a Palavra (a men­ sagem de Deus) com entusiasm o e alegria. O s o fic ia is d o te m p lo (26 :1 -3 2 ). Esses oficiais incluíam os porteiros (vv. 1-19), os tesoureiros (vv. 20-28) e outros oficiais es­ palhados por locais fora de Jerusalém (w . 29-32). O s porteiros foram nom eados para guardar as portas do templo, ficando quatro guardas nas portas Norte e Sul e seis nas portas Leste e O este (vv. 17, 18). D ois guar­ das cuidavam dos depósitos; tam bém havia guardas fora da área do templo. Certos de­ talhes sobre a área do tem plo não se encon­ tram registrados nas Escrituras, o que torna difícil apresentar uma descrição exata.4 Ao que parece, os guardas observavam o povo que entrava e saía para se certificarem de que ninguém profanava o tem plo nem se com portava de modo a envergonhar o san­ tuário do Senhor. O s tesoureiros (vv. 20-28) guardavam os dois tesouros do templo, um para as ofertas gerais e outro para as "coisas consagradas" recebidas do povo, especialm ente despojos de guerra (vv. 20-28). (Ver 2 Rs 12:4-16.) Saul e Davi contribuíram para esse tesouro, como tam bém o fizeram outros líderes, com o o profeta Sam uel e os generais A bner e Joat>e O terceiro grupo de oficiais do templo (vv. 2 9-32) era co n stitu íd o de "o ficia is e ju íze s" nom eados para tarefas fora do tem­ plo, até mesm o a oeste do Jordão. Manti­ nham o rei em contato com os assuntos das tribos de Rúben e G ad e e da meia tribo de M an assés. Eram re sp o n sáveis, ain d a, por m anter essas tribos envolvidas em "todos os negócios de D eus" (v. 32), ou seja, todos os aco n te cim e n to s religiosos im portantes de Israel. U m a vez que ficavam separados das outras tribos, os israelitas da Transjordânia 2 SAMUEL poderiam descuidar-se da o bservân cia das festas anuais ou mesm o dos sábados sem a­ nais. Isso explica por que esses oficiais fo­ ram selecionados dentre os funcionários do templo. Além disso, é bem possível que fos­ sem responsáveis pela coleta de impostos. 4. A d m in is t r a ç ã o (1 C r 2 7 :1 - 3 4 ) m il it a r A fim de Salom ão poder construir o templo, era necessário que Israel continuasse sendo uma nação forte e que tivesse paz com os vizinhos, pois o jovem Salom ão não era um gênio militar com o o pai, D avi. Era preciso o rganizar o exé rcito , os líderes tribais, os administradores e os conselheiros para ser­ vir ao rei pessoalm ente. O s ca p itã e s (vv. 1-15). O exé rcito de D avi era constituído de duzentos e oitenta e oito mil hom ens - o que não poderia ser considerado um exército perm anente m ui­ to grande - com posto de do ze divisões de vinte e quatro mil hom ens cada, de modo que cada hom em servia um mês por ano. Porém , no caso de uma em erg ên cia m ili­ tar, o exé rcito todo poderia ser co n v o ca ­ do. C ad a divisão m ilitar m ensal ficava sob o com ando de um dos "valen tes" de D avi re lacio nado s em 1 C rô n ica s 11. O s doze com andantes eram Jasobeâo (1 C r 2 7 :2 , 3; 387 A menção das tribos e de seus líderes trou­ xe à memória o censo fatídico realizado por D avi (2 1 :1-1 7 ; 2 Sm 24 ). Essa inform ação adicional nos ajuda a entender por que os números são diferentes nos dois relatos (24:9; 2 1 :5 ): Joabe não terminou o censo, e nem todos os números foram registrados. O s a d m in istra d o re s d o r e i (vv. 25-31). H avia, durante o reinado de Saul, um tipo de estrutura tributária (1 Sm 1 7:2 5 ), mas esta não é m encionada nos registros do reinado de D avi. No governo de Salom ão, os impos­ tos tornaram-se insuportáveis (1 Rs 4 :7 , 26-28; 12:1-24). D avi possuía fazend as, pom ares, vinhas e rebanhos de ovelhas e gado usa­ dos para suprir as necessidades do palácio. Tinha depósitos para seus alimentos e, uma v e z que seus gostos não eram tão extrava­ gantes quanto os de Salom ão, aquilo que Davi recebia do Senhor rendia muito mais. O s co n se lh e iro s d o re i (vv. 32-34). Todo líder precisa de um grupo mais íntim o de pessoas para aconselhá-lo, obrigá-lo a exa­ minar as próprias decisões e m otivações e ajudá-lo a buscar ao Senhor. Jônatas, tio de Davi, é elogiado e, ao que parece, Jeiel era o tutor dos filhos da fam ília real. Aitofel ha­ via sido um amigo de confiança e conselhei­ ro sábio de Davi, mas se juntou a Absalão na rebelião e cometeu suicídio quando Absalão \ er 1 1 :1 1 ); D odai (v. 4; ver 1 1 :1 2 ); Benaia, com andante da guarda pessoal de D avi (vv. 5, 6; ver 1 1:22-25); A sael, sobrinho de Davi iv. 7; ver 1 1 :2 6 ); Sam ute (v. 8; ver 1 1 :2 7 ); Ira (v. 9; ver 1 1 :2 8 ); H eles (v. 10; ver 1 1 :2 7 ); Sibecai (v. 11; ver 1 1 :2 9 ); A b ie ze r (v. 12; ver 1 1 :2 8 ); M aarai (v. 1 3; ver 1 1 :3 0 ); outro Benaia (v. 14; ver 1 1 :3 1 ) e H eldai (v. 15; ver 1 1 :3 0 ). O s líd e re s trib a is (vv. 16-24). Cad a tri­ bo possuía um líder (Nm 1 - 2, 4) e era divi­ dida em unidades m enores (grupos de dez, de cinqüenta, de cem e de mil; Êx 18:17- rejeitou seu conselho (2 Sm 15:30, 31; 16:15 - 17:23). Husai foi o homem cujo conselho Absalão aceitou, o que levou à derrota do exército rebelde. O substituto de Aitofel foi "Joiada, filho de Benaia". É provável que esse Benaia seja filho do com andante da guarda pessoal do rei, o sacerdote Benaia. O sacer­ 23), e cada unidade tinha seu líder. Por al­ gum motivo, as tribos de G ad e e A ser não são m encionads nessa lista, mas a fim de chegar ao total de doze, Levi é incluída com as tribos de José (Efraim e M anassés). O rei poderia convocar doze hom ens e, por meio deles, com unicar-se com todo o povo. nha em mente. Nem sempre a prioridade de Joabe era servir aos interesses de Davi. dote Abiatar era um dos assessores de maior confiança do rei Davi (1 Sm 22:20-23) e, ape­ sar de Joabe e Davi não serem amigos che­ gados, D avi precisava do co m andante do exército dentro de seu círculo mais íntimo, nem que fosse apenas para saber o que ti­ 5 . C o n s a g r a ç ã o s in c e r a (1 C r 28:1 - 2 9 :2 0 ) N ão há estru tu ra e o rg a n iza çã o h u m ana capazes de substituir a consagração sincera 388 2 SAMUEL ao Senhor. Davi estava prestes a sair de cena e a ser sucedido por um filho inexperiente, e a co nstru ção do tem plo era um a tarefa grande dem ais para qualquer pessoa ou gru­ po de pessoas. Sem a bênção do Senhor, não havia esperança alguma de sucesso para o povo. O s líderes vêm e vão, mas o Senhor p e rm an e ce, e é ao S en ho r que devem os agradar. D a v i d esa fia o s líd e re s (2 8 :1 -8 ). D avi reuniu em Jerusalém os líderes citados nos capítulos anteriores e recapitulou para eles a história de seu grande desejo de construir seguir, de modo geral, o padrão do taber­ náculo, o edifício construído por Salom ão era muito m aior e mais com plexo do que a construção de M oisés. Davi lem brou Salo­ mão de que esses projetos não eram ape­ nas uma sugestão do Senhor, mas sim uma com issão divina. O Senhor tam bém orde­ nou a organização dos sacerdotes e levitas. M oisés teve de seguir fielm ente o modelo que Deus havia lhe dado no monte (Êx 25:9, 4 0 ; H b 8 :5 ), e S a lo m ã o d e v e ria fa z e r o m esm o. O projeto do tem plo in d icava a o bedecer à lei do Senhor. Se guardassem os termos da aliança e obedecessem a Deus, ele cum priria suas prom essas e abençoaria a nação. Enquanto obedecessem aos termos da aliança de D eus, possuiriam a terra e des­ frutariam suas bênçãos. D a v i a p resen ta as re s p o n sa b ilid a d e s a quantidade de material a ser usada para cada utensílio e peça de mobília e para cada par­ te da construção (vv. 1 3-19), e nada disso deveria ser alterado. A segunda contribuição de Davi foi ou­ tra palavra de estím ulo para fortalecer a von­ tade e a fé de Salom ão (v. 20). Assim com o M oisés encorajou Josué (D t 3 1 :6 , 7), Davi disse a Salom ão que o Senhor jam ais o aban­ d o n aria e que ele p o d e ria e n co n tra r em Deus toda a sabedoria e forças necessárias para com pletar o projeto.5 A terceira contribuição que Salom ão re­ cebeu do pai foi um grupo de pessoas pre­ paradas para trabalhar com ele e para levar o projeto a cabo (v. 2 1 ). Vim os com o Davi Sa lo m ã o (2 8 :9 , 10). C abia a Salom ão a gran­ de responsabilidade de servir de exem plo e de o bedecer à lei do Senhor. Um "coração organizou os diversos níveis de líderes, tan­ to civis quanto religiosos, de modo que pu­ dessem trabalhar em harm onia e seguir o íntegro" é o que não se encontra dividido e é inteiramente consagrado ao Senhor. E triste que, em sua idade mais avançada, Salom ão tenha se tornado um homem inconstante e com eçad o a adorar ídolos, pois isso levou à disciplina de Deus e à divisão do reino. M ais uma vez, Davi exortou Salom ão a "ser for­ te" (2 2 :1 3 ), um a adm oestação que repetiria pela terceira v e z antes do fim de seu discur­ so (v. 20). O Dr. .Lee Roberson costum a di­ ze r que: "a ascensão e queda de todas as coisas se deve à liderança". Se uma lideran­ ça é fiel ao Senhor e confia nele, D eus lhe dá sucesso. D a v i tra n sm ite su a s c o n tr ib u iç õ e s ao p ro je to (2 8 :1 1 — 2 9 :9 ). A prim eira contri­ buição de Davi a Salom ão foi um projeto, por escrito, do tem plo e de sua m obília e utensílios (vv. 11-19). A p esar de o templo novo rei. Assim com o o Senhor havia provi­ do trabalhadores capacitados para construir o tem plo para o Senhor. É bom o povo sa­ ber o que se passa no coração de seu líder e com o Deus trabalhou na vida dele. Davi enfatizou que o Senhor é quem o havia es­ colhido, ungido e escolhido Salom ão para ser seu sucessor. Lem brou aos líderes a alian­ ça que D eus, em sua graça, havia feito com a casa de Davi e a sua responsabilidade em o tabernáculo (Êx 3 5 :25-35; 3 6 :1 , 2), tam­ bém fo rn e c e ria os trab a lh ad o re s de que Salom ão precisava para construir o templo de Jeová, uma prom essa que o Senhor cum­ priu (2 C r 2 :1 3 , 14). Além disso, todo o po\c daria ouvidos e obedeceria às ordens de se t novo rei. A quarta contribuição de Davi foi a própria provisão de riquezas que havia ajuntado para a construção do templo (29:1-5). De acordo com 2 2 :1 4 , os despojos das bata­ lhas consagrados ao Senhor constituíam um total de 3 .4 0 0 toneladas de ouro e 34.0C-I toneladas de prata. Davi acrescento u, ain­ da, de seu próprio tesouro, mais de 100 to­ neladas de ouro e 235 toneladas de pra:c (v. 4). Isso significa que D avi forneceu 3.500 2 SAMUEL :onelad as de ouro e 3 4 .2 3 5 toneladas de prata. M as, em seguida, o rei instou seus líde­ res a contribuírem com generosidade para o "fundo de construção" (vv. 6-9), e eles for­ neceram 1 68 toneladas de ouro e depois mais 1.270 quilos do mesm o metal, 336 to­ neladas de prata, bem com o 675 toneladas de b ro n ze e 3 .7 5 0 toneladas de ferro e tam­ bém pedras preciosas. Essa oferta nos lem­ bra do "ouro, prata, pedras preciosas" (1 Co 3 :1 2 ) citados por Paulo. O mais extraordiná­ rio com relação aos líderes e suas ofertas é que contribuíram de bom grado, e todos se "alegraram com grande jú bilo " por esse pri­ vilégio! Dessa vez, nos lembramos das pala­ vras de Paulo em 2 Coríntios 8:1-5 e 9 :7 . D a v i clam a ao S e n h o r (29 :1 0 -2 1). Esta o ração m agnífica inicia com o louvor e a adoração ao Senhor (vv. 10-14). Deus aben­ çoara D avi ricam ente, de modo que o rei ab enço a a D eus com toda gratidão! Suas palavras constituem um curso breve de teo­ logia. Ele bendiz o D eus de Israel e reco­ nhece sua grandeza, poder, glória, vitó ria e majestade. Tudo pertence a Deus, e ele é soberano sobre todas as coisas! Seu nome é grande e glorioso! M as quem é Davi e seu povo que possam ofertar tão generosam en­ te ao Senhor? A final, todas as coisas vêm dele, e quando dam os, apenas devolvem os ao Senhor aquilo que ele já nos deu em sua graça. Em contraste com o Deus eterno, Davi 389 que adorem som ente ao Senhor e que não transformem as riquezas no seu deus. Com o qualquer pai temente a D eus, Davi encerrou sua oração intercedendo pelo fi­ lho, Salom ão, para que fosse sem pre obe­ diente àquilo que estava escrito na lei e que fosse bem -sucedido na construção do tem­ plo para a glória de D eus. (N o v. 19, o ter­ mo p a lá cio " sig n ifica "q u álq u e r estrutura palaciana de grandes proporções".) Em se­ guida, convocou a congregação para louvar ao Senhor, e o povo o bedeceu, curvou-se e até se prostrou com o rosto em terra em sinal de su b m issão e de a d o ra çã o . Q u e m aneira extraordinária de dar início a um programa de construção! 6. C eleb ra ç ã o aleg re (1 C r 2 9 :2 1 - 2 5 ) No dia seguinte, D avi ofereceu sacrifícios ao Senho r e um banquete a seus líderes. O s holocaustos foram sacrificados a fim de expressar a consagração total do povo ao Senhor. A lém disso, porém , D avi realizou declara que ele - o rei! - é com o qualquer outro ser hum ano, um forasteiro e estran­ geiro na Terra. D eus é eterno, mas a vida humana é breve, e ninguém pode evitar a hora inescapável da morte. (Nesta passagem, Davi faz lem brar M oisés no Salmo 90.) Um a ofertas p acíficas, e parte de cad a sacrifício foi usada para um a refeição de co m unhão. Foi uma ocasião de grande alegria que ch e­ gou ao auge com a co ro ação de Salom ão. Era e xtre m am e n te im p o rtan te que os re­ presentantes de todo o Israel concordassem que Salom ão era o rei escolhido por D eu s; de outro m odo, jam ais teria sido cap az de liderá-los na construção do tem plo. D avi foi u ngido por S am u el em p a rtic u la r (1 Sm 1 6 :1 3 ) e, d e p o is, p u b lic a m e n te em H e ­ brom em duas o casiõ es (2 Sm 2 :4 ; 5 :3 ), de m odo que, na verdade, foi ungido três ve­ zes. Na m esm a co m em o ração , Z ad o q u e foi ungido sum o sacerdote, o que indica que vez que todas as coisas vêm de D eus e que a vida é breve, o mais sábio a fazer é devol­ ver ao Senhor aquilo que ele nos dá e inves­ tir no que é eterno. A biatar foi colocad o de lado. Posteriorm en­ te, A b iatar mostrou-se um traidor, ap oian­ do A d o n ias, e foi aposentado (1 Rs 2 :2 6 , 2 7 , 35). Davi garante ao Senhor que as ofertas vieram do fundo de seu coração e do cora­ ção de seu povo e foram entregues com ale­ gria e sinceridade. O rei ora pedindo que seu povo tenha sem pre um coração cheio de generosidade, gratidão e alegria e que seja sempre fiel a seu Deus. Em outras palavras, O livro encerra com um tom m elancóli­ co, ao registrar a morte do rei Davi. C om o diz um provérbio russo: "Até mesmo o maior dos reis deve receber seu repouso final com a ajuda de uma pá". E verdade, mas há aque­ les que, mesm o de seu túmulo, glorificam o nom e de Deus! D aquele dia em diante, Davi 390 2 SAMUEL seria o parâm etro usado para medir todos os reis de Israel (1 Rs 3 :3 ; 1 5 :5 ; 2 Rs 18:3; 2 2 :2 ; 1 4 :3 ; 15:3, 3 4 ; 1 6 :2 ; 1 8 :3 ; 2 0 :3 ). O legado de D avi é longo e rico . Ele unificou a nação , deu ao povo paz em sua terra e am pliou as fronteiras do reino. D eus o escolheu para estab elecer a dinastia que, a seu tem po, trouxe ao m undo Jesus, o Sal­ vador. D avi fo rneceu grande parte da rique­ za usada para co nstruir o tem plo, o filho para construí-lo e o local onde o tem plo foi ed ificad o . D eus deu a D avi o projeto do tem plo, e D avi recrutou os trabalhad ores para executá-lo. 1. D avi escreveu cântico s para os levitas cantarem em sua adoração a D eus e tarrbém lhes fo rneceu instrum entos m u sica7;O rg anizo u o m inistério no tem plo e ensnou ao povo que a adoração a D eus era a m aior de todas as prioridades para a nação. Antes de morrer, encorajou Salom ão, desa­ fiou os líderes e deu ao novo rei um p o \ : unido, entusiasm ado com a construção da Casa de D eus. H oje, a vida de Davi ser\e para nos ensinar tanto o que devem os co­ mo o que não devem os fazer. O s hinos de D avi fazem parte de nossa leitura, medita­ ção e cânticos. Infelizm ente, muitos pregadores bem-intencionados interpretam de m aneira equivocada a passagem de 1 Coríntios 3:9-23 e pregam sobre "a edificação de sua vida". É possível fazer tal aplicação, porém a interpretação fundamental está ligada ã edificação da igreja local. Para uma exposição dessa passagem, ver minha obra Be W ise (Victor). 2. Sem dúvida, esse salm o encaixa-se com as experiências de Davi descritas em 1 Samuel 24 e em 1 Crônicas 21. Seu o r g u i» o levou a pecar (vv. 6, 7), e a nação estava sob pena de morte. Porém , Deus respondeu a suas súplicas por livram ento, e a r a divina não se prolongou. 3. Adorão não era um homem benquisto. Depois da morte de Salomão, Roboão, filho do rei, subiu ao trono. O s israelras estavam cansados dos impostos de Salom ão e de seus grandes programas de construção e apedrejaram Adorão até a í t k x i p (1 Rs 12:18). 4. 1 Crô nicas 26 :1 8 costum a ser usado por pessoas que gostam de criticar as Escrituras: "N o átrio ao ocidente, quatro junto ao cam inho, dois junto ao átrio". A que se referem esses números? Vários estudiosos do hebraico acreditam que se tratam x colunatas e que se referem a uma área a oeste do templo propriam ente dito. 5. Permita-me fazer uma observação pessoal. N a década de 1950, quando pastoreava minha primeira igreja, o Senhor rx » orientou a iniciar um programa de construção. Não sou construtor e tenho dificuldade até para entender uma planta baixaL Um dia, durante m inha hora devocional, estava lendo a Bíblia quando me deparei com 1 Crô nicas 2 8 :2 0 , e o Senhor me oem essa passagem com o uma prom essa de sucesso, promessa esta que me ajudou a levar a c a b o aquela empreitada. 1 R eis ESBOÇO enquanto os dois livros de Crô nicas abran­ gem a história do reino unido e depois do Tema-chave: A liderança irresponsável des- reino de Judá sob o ponto de vista sacerdo­ tal. Estes livros não apresentam apenas um registro h istó rico , m as tam b ém en sin am teologia, especialm ente com relação à fide­ lidade de D eus em guardar sua aliança, à soberania de D eus na direção do destino de todas as nações e à santidade de Deus em sua oposição à idolatria. E especialm en­ te im portante a form a com o os quatro livros exaltam a dinastia davídica e, desse modo, preparam o cam inho para a vinda do M es­ sias. O s livros de Reis identificam oito reis de Judá, descendentes de D avi, que agrada­ ram ao Senhor: A sa (1 Rs 15:9-15); Josafá (2 2 :4 1 - 4 3 ); Joás ou Je o ás (2 Rs 1 2 :1 -3 ); A m azias (14:1-4); A zarias ou U zias (15:1-4); Jotão (15:32-38); Ezequias (18:1-3) e Josias (2 2 :1 , 2). O s governantes do reino do norte não foram tem entes a D eus e não faziam trói nações Versículos-chave: 1 Reis 9:4-9 I. O REINO PROTEGIDO 1 RS 1:1 - 2:46 1. O s últimos dias de Davi - 1 :1 - 2:12 2. O s prim eiros atos de Salom ão - 2:13-46 II. O REINO ENRIQUECIDO 1 RS 3:1 - 10:29 1. A dádiva de sabedoria de Deus - 3:1-28 2. A organização do governo - 4:1-34 3. A construção do templo - 5:1 6 :3 8 ; 7:13-51 4. A consagração do templo - 8:1 - 9:9 5. A construção das casas reais - 7:1-12 6. Projetos reais variados - 9:10-24 7. A glória de Salom ão - 10:1-29 parte da dinastia de Davi. III. O REINO DIVID IDO 1 RS 11:1 - 14:31 1. A insensatez de Salom ão - 11:1-43 2. A insensatez de Roboão - 12:1-24; 14:21-31 3. A insensatez de Jeroboão - 12:25 - 14:20 CONTEÚDO 1. O ca so e aurora (1 Rs 1 :1 - 2 :4 6 ; 1 C r 2 9 :2 2 -3 0 )...........393 2. Sabedoria do alto (1 Rs 3:1 - 4 :3 4 ; 2 C r 1)............................401 O sonho de Davi é realizado (1 Rs 5:1 - 6 :3 8 ; 7:13-51; 2 Cr 2 - 4 ) ... 409 A casa de Deus e o coração 3. IV. OS REINOS DESTRUÍDOS 1 RS 15:1 - 22:53 4. 1. Judá - 15:1-24 2. Israel - 15:25 - 22:53 de Salom ão (1 Rs 8:1 - 9:9, 25-28; 2 C r 5 - 7)...........................................416 5. O s dois livros de Reis registram cerca de qua­ trocentos anos da história de Israel e Judá, O reino, o poder e a glória (1 Rs 7:1-12; 9 :1 0 - 10:29; 2 C r 8:1 - 9 :2 8 )...............................426 392 6. 7. 8. 9. 1 REI S O hom em sábio insensato (1 Rs 11:1-43; 2 C r 9:29-31)......................432 O homem que se recusou a ouvir (1 Rs 12:1-24; 14:21-31 ; 2 C r 10:1 - 1 2 :1 6 ).........................438 Um novo rei, um antigo pecado (1 Rs 12:25 - 1 4 :2 0 )......................................447 O desfile dos reis (1 Rs 15:1 - 1 6 :2 8 ; 1 C r 13 - 16).... 455 10. Q u e venha o fogo! (1 Rs 17:1 - 1 8 :4 6 )........................................4 ' 1 1 . 0 homem das cavernas (1 Rs 19:1-21)................................................... 469 12. A cabe, o escravo do pecado (1 Rs 20:1 - 2 2 :5 3 ) ........................................477 13. Reflexões sobre responsabilidade (Recapitulação de 1 Reis).........................485 1 O caso e A urora 1 R e is 1 :1 - 2 : 4 6 (1 C r ô n i c a s 2 9 : 2 2 - 3 0 ) // A crise não faz a pessoa; a crise mostra / V do que a pessoa é feita." D e uma forma ou de outra, encontram os essa afir­ m ação nos e scrito s de p e n sad o re s m ais perceptivos desde a antigüidade até o pre­ sente. O u tra versão d iz: " O que a vida faz com vo cê depende do que ela encontra em você". O mesmo sol que endurece o barro derrete o gelo. O reino de Israel estava passando por uma crise, pois o rei Davi encontrava-se em seu leito de morte. Diante dessa crise, pessoas diferentes reagiram de m aneiras distintas. 1. A d o n ia s , o o p o r t u n is t a (1 Rs 1:1-10) Ao ver-se diante de um a crise, o verdadeiro líder pergunta: " O que posso fazer para aju­ dar o povo da m elhor m aneira possível?" D iante de uma crise, um oportunista pergun­ ta: "C o m o posso usar essa situação para me prom over e conseguir o que desejo?" O s oportunistas costum am aparecer sem ser co n vid ad o s, voltam a atenção para si m esm os e acabam tornando a crise ainda pior. Adonias era um hom em desse tipo. A o ca siã o (vv. 1-4). Adonias era o filho m ais ve lh o de D avi d e p o is da m orte de A m nom , Q u ile ab e e A b salão e estava, na ép o ca, com c e rc a de 35 ano s de idade. Am nom , o primogênito de Davi, foi morto por A bsalão; seu segundo filho, Q uileab e (ou D aniel), deve ter m orrido jovem , pois não há registro algum de sua vida, e o terceiro filho, Absalão, foi morto por Joabe (1 C r 3:1, 2). C om o filho mais velho de D avi, Adonias sentia que o trono lhe pertencia por direito. Afinal, seu pai era um hom em enferm o que não tardaria a falecer, e era im portante ha­ ver um rei para o trono de Israel. Assim com o seu irmão mais velho, Absalão (2 Sm 15:16 ), A do nias aproveitou-se de uma oportu­ nidade quando Davi não estava em seu me­ lhor m om ento e se en co ntrava acam ad o . Porém, A donias subestimou a resistência e a sabedoria do velho guerreiro, e, no final, seu orgulho custou-lhe a vida. Abisague foi com panheira e enferm eira de Davi e, provavelm ente, era considerada um a co n cu b in a, de m odo que não havia nada de imoral em seu relacionam ento. Tor­ nou-se um a figura de grande im po rtân cia depois da morte de Davi (2:13-23). Adonias com eteu o erro de pensar que o pai não estava mais plenam ente lúcido e resolveu, desse m odo, interferir nos planos do rei. Em v e z de d e m o n stra r c o m p a ix ã o pelo pai, Adonias decidiu reivindicar o trono para si. Se conseguisse o apoio dos irm ãos, de líde­ res do governo, dos sacerdotes e do exérci­ to, poderia dar um golpe e tornar-se rei. O s tra id o re s (vv. 5-7). Seguindo o exem ­ plo de A b sa lã o , seu irm ão infam e (2 Sm 15:7-12), A do nias co m eço u a promover-se e a b u s c a r a p o io p o p u la r. A ssim co m o A bsalão, era um hom em bem apessoado e que havia sido m im ado pelo pai (v. 6 ; 2 Sm 13 - 14); sem pensar muito, o povo juntouse a sua c ru z a d a . C o m a stú cia , A d o n ias conseguiu o apoio tanto do exército quan­ to do sacerd ó cio ao co lo car Joabe com o general e A b ia ta r co m o sum o sacerd o te. Esses dois h o m en s h aviam se rv id o D avi durante anos e ficado a seu lado em suas provações mais difíceis, mas acabaram tra­ indo o rei. A donias sabia que o Senhor ha­ via escolhido Salom ão para ser o próxim o rei de Israel (2:1 5) e, sem dúvida, A biatar e Joab e tam bém estavam a par desse fato. Q u an d o o Senhor fez sua aliança com Davi (2 Sm 7), indicou que um dos filhos ainda não nascidos de D avi seria seu sucessor e construiria o tem plo (1 C r 2 2 :8 -1 0 ), e esse filho era Salom ão (1 C r 2 8 :4 , 7). A donias, A biatar e Joabe estavam se rebelando co n ­ tra a vontade de D e u s, esquecendo-se de que " O co nselho do S e n h o r dura para sem ­ pre" ( S l 3 3 :1 1 ). 394 1 R E I S 1:1 - 2 : 4 6 O s fié is (vv. 8-10). Imitando, mais uma vez, A bsalão, Adonias ofereceu um grande banquete (2 Sm 15:7-12) e convidou todos os irm ãos, exceto Salom ão (v. 26). Também ignorou vários líderes im portantes do reino, inclusive Z adoque, sumo sacerdote, Benaia, com andante da guarda pessoal do rei, o pro­ feta Natã e os "valentes" de Davi (2 Sm 23).' Foi um banquete de co roação, e os co nvi­ d ados proclam aram A d o n ias rei de Israel (v. 25). É possível que alguns dos presentes pensassem que o rei D avi, então enfermo, tivesse im posto as mãos sobre A donias de­ clarando-o rei. Afinal, os irmãos de Adonias encontravam-se no banquete, indicando que não tinham a intenção de reivindicar o tro­ no. No entanto, os convidados tam bém es­ tavam cientes da ausência de Salom ão, de Z ad o q u e , de Benaia e de Natã. Será que alguém perguntou quando e onde Natã ha­ v ia ungido A donias? Se essa unção havia ocorrido, por que aquele acontecim ento era tão secreto? O s servos fiéis de D eus e de Davi haviam sido deixados de fora, um sina! evidente de que Adonias havia nom eado a si m esm o co m o rei sem qualquer autorida­ de de Davi ou do Senhor. Em várias ocasiões da história na Bíblia, tem-se a im pressão de que "a verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar" (Is 5 9 :1 4 ), mas o Senhor sem ­ pre cum pre seus propósitos. "Enlaçado está o ím pio nas obras de suas próprias m ãos" (Sl 9 :1 6 ). O grande banquete de Adonias foi o sinal que os servos leais a D avi precisa­ vam para declarar Salom ão o próxim o rei de Israel. 2. N a t ã , o l e g a l is t a (1 Rs 1:11-53) Um dos amigos mais leais do rei Davi foi o profeta Natã. D eu as boas novas da aliança de D eu s com D avi e seus d e scen d e n tes (2 Sm 7:1-17) e pastoreou Davi durante os dias som brios após o adultério do rei com BateSeba (2 Sm 12). É possível que Natã tam ­ bém tivesse talentos m usicais, uma vez que ajudou Davi a organizar o culto no santuário (2 C r 2 9 :2 5 , 2 6 ). Q uand o Salom ão nasceu, Natã disse aos pais que o Senhor desejava que o m enino tam bém fosse cham ado de "Jedidias, por am or do S e n h o r " (2 Sm 12:24, 2 5 ). A o fic a r s a b e n d o do b a n q u e te de A do nias e de sua re ivin d icação do trono, Natã pôs mãos à obra no mesm o instante. N atã in fo rm o u Bate-Seb a (vv. 11-14). A pesar de o texto não dizer coisa alguma so b re Bate-Seba desd e o n ascim en to de Salom ão, não devem os concluir, com isso, que ela tenha sido uma figura irrelevante nos assuntos do palácio. A p en as sua conduta nesse capítulo já deixa claro que ela era uma m ulher corajosa que desejava fazer a vonta­ de de Deus. Por certo, seu filho deveria rei­ nar sobre Israel depois de D avi, e se Adonias tivesse conseguido subir ao trono, Bate-Seba e Salom ão teriam sido mortos (vv. 12, 21). M as o fato de Natã procurar im ediatam en­ te Bate-Seba ind ica que ele sabia do que a futura rainha-m ãe era ca p a z . A lém disso, o modo com o Adonias a abordou e como Salom ão a recebeu (2:13-19) dem onstram que os dois hom ens a reconheciam com o um a m u lh e r de in flu ê n c ia . In fe lizm e n te , muitos vêem Bate-Seba apenas com o a "adúL tera", quando, na verdade, foi sua interven­ ção que salvou Israel de uma tragédia num m om ento crítico. Bate-Seba in fo rm o u D a vi (vv. 15-21). O profeta dera a Bate-Seba a notícia a ser trans­ m itid a, um a d e c la ra ç ã o s u c in ta que ela expandiu e transformou num discurso com o­ vente. A palavra-chave de toda essa situa­ ção é "jurar", usada nos versículos 13, 17. 29 e 30. Natã e Bate-Seba sabiam que Davi havia prom etido que Salom ão seria o próxi­ mo rei, pois Salom ão havia sido escolhido por D eus. Davi havia notificado publicam en­ te a nom eação de Salom ão quando anun­ ciou a construção do tem plo (1 C r 22, 2 8 1. Q uand o Deus deu um nom e especial a Salo­ mão, sem dúvida foi uma indicação de que ele seria sucessor de Davi (2 Sm 1 2 :2 4 , 25). Bate-Seba curvou-se diante do rei (v. 16, e ver 23, 31, 4 7 , 53) e, então, lembrou-o do juram ento que havia feito, segundo o qual Salom ão seria o próxim o rei de Israel. E_ seguida, informou a Davi que Adonias es:^ va oferecendo um banquete de coroação e que A biatar e Joabe estavam lá, ju n tam e r:e com todos os filhos do rei, exceto S alo m ã: . 1 RE I S 1 1 - 2 : 4 6 Por certo não se tratava de um banquete em hom enagem a Salom ão! Adonias havia se proclam ado rei, mas todo Israel esperava a declaração oficial de D avi com referência a seu sucessor. O golpe de m isericórdia de Bate-Sabe foi m encionar um fato óbvio: caso Adonias se tornasse rei, mais que depressa se livraria de Bate-Seba e de seu filho. Abisague foi testem unha de tudo o que BateSeba disse (v. 1 5), e a providência que o rei tomasse seria uma questão de vida ou morte. Natã in fo rm o u D avi (vv. 22-27). Enquan­ to Bate-Seba estava c o n v e rsa n d o com o m arido, N atã chegou ao palácio e foi anun­ ciad o , de m odo que Bate-Seba retirou-se (v. 28 ). Natã entrou nos aposentos reais e fez duas perguntas ao rei: D avi anunciou que Adonias se assentaria em seu trono? D e­ clarou seu filho mais velho rei em segredo, sem co m unicar a seu servo, o profeta (vv. 24, 27)? No m eio dessas duas perguntas, Natã relatou que, naquele instante, Adonias estava celebrando sua coroação, que todos os filhos do rei - com exceçã o de Salom ão - estavam no banquete, no qual também se encontravam presentes A biatar e todos os com andantes militares. Natã não m encionou jo abe, mas Bate-Seba já havia falado dele. O que Natã revelou foi que Joabe havia le­ vado consigo seus oficiais, de m odo que o exército estava apoiando A do nias. No en­ tanto, Natã, Z ado que e Benaia - servos leais do rei - haviam sido ignorados. Assim sen­ do, Natã imaginou se A donias possuía, de fato, autoridade para se proclam ar rei. É bem provável que esse relato de Natã tenha trazido à m em ória de Davi os dias ter­ ríveis da rebelião de A bsalão, e o rei não desejava que a nação passasse por outra guerra civil. Salom ão era um hom em de paz (1 C r 2 2 :9 ) e, educado no palácio, não ti­ nha experiência alguma em guerras com o o pai. Além disso, se houvesse um a guerra civil, com o Salom ão poderia construir o templo? D avi d e u in stru çõ e s a seu s servo s leais (vv. 28-37). D avi reagiu à crise im ediatam en­ te e pediu a Natã que cham asse Bate-Seba de volta para junto de seu leito. O s dois fica­ ram sozinhos (v. 32 ), e D avi falou a BateSeba reafirm ando que seu filho, Salom ão, 395 seria o próxim o rei de Israel. H avia jurado isso a Bate-Seba em particular e não volta­ ria atrás em sua palavra. Porém , D avi foi mais longe ainda e d eclarou Salom ão seu co-regente naquele m esm o dia! "Farei no dia de hoje" (v. 30 ). Se Davi esperasse tem po dem ais, a rebelião de A donias poderia ga­ nhar fo rça , e, depois que D avi falece sse , quem teria autoridade para agir? A o fazer de Salo m ão seu co-regente naq uele m es­ mo instante, D avi m antinha-se no controle e Salom ão seguiria suas o rdens. Salom ão não era mais apenas um prín cipe ou her­ deiro legítim o: era co-regente com seu pai e rei de Israel. Em seguida, Davi mandou cham ar seus servos leais - o profeta Natã, o sacerdote Z a d o q u e e o com an dante de sua guarda pessoal, Benaia - , hom ens nos quais sabia que poderia confiar. Instruiu-os a proclam ar S alom ão rei num a ce rim ô n ia pú b lica em G io m , um lugar im portante de nascentes na encosta oriental do monte Sião, menos de dois quilôm etros acim a do vale (ao norte) de En-Rogel, onde Adonias estava oferecen­ do seu grande banquete (v. 9). A notícia não tardaria a chegar aos ouvidos de Adonias! Salom ão deveria m ontar na m ula real, en­ quanto se proclam ava que Salom ão estava dividindo o trono com Davi e seria seu su­ ce sso r. Z a d o q u e e N atã d e veriam ungir Salom ão com óleo sagrado do tabernáculo. A trom beta seria tocada para an u nciar ao povo que se tratava de um acontecim ento oficial. Salom ão era, agora, rei e governante sobre Israel e Judá2 (ver 4 :2 0 , 25). Benaia era filho de um sacerdote (1 C r 2 7 :5 ), mas escolheu a carreira militar e se tornou um dos valentes de Davi (2 Sm 23:2023) e com andante da guarda pessoal do rei, os queretitas e peletitas (v. 38; 2 Sm 8 :1 8 ). D e p o is de o u v ir as in s tru ç õ e s de D a v i, Benaia falou com entusiasm o, m anifestan­ do sua co n co rd ân cia e, assim , garantindo tanto a Davi quanto a Salom ão o apoio dos soldados sob seu com ando. Posteriorm en­ te, Salom ão ordenaria que Joabe fosse exe­ cutado por traição e daria seu cargo a Benaia (2 :3 5 ). Benaia foi tão leal a Salom ão quanto havia sido a Davi. 396 1 REIS 1 : 1 - 2 : 4 6 O S e n h o r in fo rm o u a Isra e l (vv. 38-53). ' Sob a proteção da guarda pessoal de Davi, Z adoque, Natã e Benaia seguiram exatam en­ te as instruções do rei e proclam aram a todo o Israel que Salom ão era o rei. O povo mos­ trou sua em polgação tocando instrumentos e gritando: "V iva o rei Salom ão!" Esse cla­ mor ecoou vale abaixo e chegou a En-Rogel, onde o povo estava gritando: "V iv a o rei Adonias!" (v. 25). Ao term inarem sua refeição, A donias e seus convidados ouviram o clam or e o som da trom beta e se perguntaram o que estaria ocorrendo em Jerusalém . Será que Davi ha­ via falecido? Era um a declaração de guerra? Sua pergunta foi respondida com a che­ gada de Jônatas, filho do sacerdote Abiatar, que havia ajudado Davi durante a rebelião de Absalão (2 Sm 17:17-22). Adonias pen­ sou que Jônatas trazia boas novas, mas, ao invés disso, as noticias eram as piores possí­ veis para o pretenso rei bem co m o para A biatar e Joabe. Jônatas transmitiu seu rela­ to co m o testem unha o cular, dizen do que havia visto Salom ão m ontado na m ula real e assistido à unção do novo rei por Zado que e Natã. O s versículos 4 7 e 48, porém , des­ crevem o que se passou nos aposentos de Davi (vv. 36, 37) e só nos resta im aginar onde Jônatas conseguiu essa inform ação. É possí­ vel que tenha ouvido Benaia d ize r a seus soldados que seriam tão leais a Salom ão quanto haviam sido a Davi? Natã ou Z ad o ­ que citaram para o povo as palavras de Davi? Jônatas deixou claro que naquele m om en­ to Salom ão era rei de Israel. Adonias, seus com panheiros de conspiração e seus convi­ dados sabiam o que isso queria dizer: todos estavam sob enorm e suspeita. O s convida­ dos - inclusive os príncipes que, em sua in­ genuidade, participavam do banquete - se levantaram todos e fugiram de volta para a cidade em busca de segurança, enquanto Adonias foi buscar asilo no tabernáculo. O lugar para onde se dirigiu era a tenda em Je­ rusalém, dentro da qual ficava a arca (1 Cr 16:1, 37). O tabernáculo, contendo o restan­ te da mobília e dos utensílios, estava situado em G ibeão (1 C r 16:39, 40 ; 1 Rs 3:4). Nessa tenda em Jerusalém havia um altar, e Adonias agarrou os chifres do altar, com o as pessoas em perigo costum avam fazer antes do esta­ belecim ento das cidades de refúgio (2 :2 8 : Êx 2 1 :1 3 , 14). Pelo menos, era um lugar de asilo e adiava o julgamento, dando ao acusa­ do a oportunidade de uma audiência (Dt 19). Salom ão dem onstrou m isericórdia para com o irm ão e lhe permitiu que voltasse pa­ ra casa em Jerusalém , o que equivaleu a uma prisão dom iciliar, pois os guardas do rei man­ teriam Adonias sob vigilância o tempo todo. Porém , Salom ão tam bém advertiu seu irmão para ter cuidado com seu com portam ento, pois, sendo um rebelde, Adonias m erecia a pena de m orte4 e, se saísse da linha, seria e x e c u ta d o . A d o n ia s cu rvo u -se diante de Salom ão, mas seu coração não se sujeitara ao Senhor e nem a Salom ão. 3. D a v i , o r e a l is t a (1 Rs 2:1-11; 1 C r 29:26-30) Davi "[serviu] à sua própria geração, confor­ me o desígnio de D eus" (At 1 3 :3 6 ), mas tam­ bém se preocupou com Salom ão e com a geração seguinte. Possuía inimigos - alguns deles em seu palácio e em seu círculo mais íntim o - , de modo que desejava certificarse de que o novo rei não herdaria antigos problem as. D urante seu longo reinado de quarenta anos, D avi havia unificado a na­ çã o , derrotado seus inim igos, organizado com sucesso os assuntos do reino e realiza­ do preparativos mais do que adequados para a construção do tem plo. Então, entoou seu último cântico (2 Sm 23:1-7) e transmitiu uma última incum bência a Salom ão.5 " C o lo q u e o S e n h o r em p rim e iro lugar" (vv. 1-4). O Antigo Testam ento registra as últimas palavras de Jacó (G n 49), M oisés (D t 33), Josué (23:1 - 2 4 :2 7 ) e Davi (1 Rs 2:111). "Eu vou pelo cam inho de todos os mor­ tais" é uma citação de Josué no final de sua vid a (Js 2 3 :1 4 ) e a ex o rta ç ã o : "C o rag em , pois, e sê hom em " (1 Rs 2 :2 ) lembra as pala­ vras que o Senhor disse a Josué no início de seu ministério (Js 1:6). Salom ão era um jo­ vem que havia levado uma vida protegida, de m odo que precisava dessa adm oestação. Na verdade, desde o início de seu reinado, teria de tomar algumas decisões com plicadas 1 R E I S 1: 1 - 2 : 4 6 e de dar ordens difíceis. D avi já havia encar­ regado Salom ão da construção do tem plo 1 C r 2 2 :6 -1 3 ), tarefa que levaria sete anos para ser com pletada. Um dia, Salom ão che­ garia ao fim da vida, e Davi queria que ele fosse cap az de olhar para trás com satisfa­ ção. Bem -aventurado aquele cujo co ração está em ordem com D eus, cuja consciência está tranqüila e que pode olhar para trás e nizer com o o M estre: "Eu te glorifiquei na terra, consum ando a obra que me confiaste oara fazer" (Jo 1 7:4). As palavras de Davi são paralelas às de Moisés quando ele com issionou Josué (Dt 31). Primeiro, M oisés admoestou Josué a "ser lo m e m " e a encarar suas responsabilidades com coragem e fé (vv. 1-8); depois, M oisés deu a lei aos sacerdotes e adm oestou o povo nclusive Josué) a conhecê-la e lhe obede­ cer. Esperava-se do rei que ele fosse versado na lei de D eus e na aliança (D t 17:14-20), pois, ao o b e d ecer à Palavra de D eus, en­ contraria sabedoria, forças e bênção.6 Porém, Davi tam bém lembrou ao filho a alian ça especial que o Senhor havia feito com re fe rê n c ia à d in astia d a víd ic a (v. 4; 2 Sm 7:1-17). Advertiu Salom ão de que, se desobedecesse à lei de D eus, traria discipli­ na e aflição sobre si e sobre a terra, mas, se obedecesse aos m andam entos de D eus, o Senhor abençoaria o rei e seu povo. M ais im portante ainda, Deus providenciaria para que sem pre houvesse um descendente de Davi assentado no trono. D avi sabia que Is­ rael tinha um ministério a realizar, servindo de veículo para o Redentor prom etido que viria à terra e que o futuro do plano redentor de D eus dependia de Israel. C o m o é triste saber que Salom ão não seguiu inteiramente a lei de Deus e foi um canal de prom oção da idolatria na terra e, posteriorm ente, a cau­ sa da divisão do reino. "P ro teja o r e in o !" (vv. 5-9). D avi sabia que havia perigos escondidos nas sombras em seu reino e advertiu Salom ão para que agisse sem dem ora e tratasse de dois ho­ mens perigosos. O prim eiro nom e que ci­ tou foi o de Joa be, com andante do exército do rei. Joabe havia ficado ao lado de Davi durante muitas grandes provações, mas, de 397 quando em vez, havia feito prevalecer a pró­ pria vontade e era culpado de matar homens in o ce n tes. Joab e era so b rin h o de D avi e irm ão de A bisai e de A sael, e todos eles foram guerreiros notáveis. M as Joabe havia assassinado Abner, pois este havia matado Asael (2 Sm 2:12-32). Joabe tam bém matou o filho de D avi, A bsalão, mesm o depois de Davi ter dado ordens de capturá-lo vivo (2 Sm 18). M atou A m asa, o qual D avi havia no­ m eado para ser com andante de suas tropas (2 Sm 20), e apoiou A donias em sua tentati­ va de tom ar o trono (1 Rs 1 :7). Joabe havia particip ado do plano de D avi para m atar Urias, o marido de Bate-Seba (2 Sm 1 1 :14ss), e talvez o general astuto estivesse usando aquilo que sabia para intim idar o rei. Davi não m encionou Urias nem Absalão a Salo­ mão que, por sua vez, já sabia que Joabe era um traidor do rei. O segundo hom em perigoso a ser men­ cionado foi Sim ei (vv. 8, 9). Era um benjamita e parente de Saul que desejava ver a linha­ gem de Saul de volta ao torno e que am al­ d iço o u D a v i q u a n d o e sta v a fu g in d o de A bsalão (2 Sm 16:5-13). A m aldiçoar um rei era uma transgressão à lei (Êx 2 2 :2 8 ), mas Davi aceitou a m aldade de Simei com o dis­ ciplina do Senhor. Posteriorm ente, Q uand o D avi vo lto u ao tro n o, Sim ei hum ilhou-se diante do rei, e Davi o perdoou (2 Sm 19:1823). Porém , D avi sabia que as tribos do Nor­ te nutriam certo favoritismo pela fam ília de Saul, de modo que advertiu Salom ão a man­ ter Simei sob vigilância. Davi não se lem brou apenas de homens perigosos com o Joabe e Simei, mas também de pessoas que o haviam ajudado, com o Barzilai (v. 7), que havia suprido as neces­ sid a d es de D avi e de seu povo quand o fugiam de Absalão (2 Sm 1 7:27-29). Davi ha­ via desejado recom pensar Barzilai, dandolhe um lugar a sua mesa, mas o homem idoso preferiu morrer em sua casa. Pediu a Davi que c o n c e d e s s e essa h o nra a seu filho , Q u im ã (2 Sm 19:31-38). D avi, porém , ins­ truiu Salom ão a cuidar de todos os filhos de Barzilai, não apenas de Q uim ã. Por certo, Davi "foi pelo caminho de todos os m ortais" e "m o rreu em ditosa v e lh ice , 398 1 REIS 1 1 - 2 : 4 6 cheio de dias, riquezas e glória" (1 C r 2 9 :2 8 ). Salom ão já era rei, e seu trono estava garan­ tido, de modo que não houve necessidade de quaisquer d ecisões ou cerim ônias oficiais. 4. S a l o m ã o , o (1 Rs 2 :1 2 - 4 6 ) e s t r a t e g is t a O novo rei tinha pronta uma lista de coisas im portantes a fazer: tratar de Joabe e Simei, recom pensar os filhos de Barzilai e construir o templo. Porém, sua primeira grande crise foi gerada pelo meio-irmão, Adonias. O p e d i d o d e A d o n ia s (v v . 1 3 -2 5 ). S a lo m ã o h a v ia u sad o de b o n d a d e co m A do nias e aceitado sua su jeição ao novo regim e (1 :5 3 ), apesar de saber, sem dúvi­ da, que o irm ão era um hom em eng ana­ dor, preparado para atacar novam ente. O fato de A donias procurar a rainha-mãe para apresentar seu pedido m ostra que espera­ va dela um a grande in fluên cia sobre o fi­ lho. A d e claração de A donias, no versícu lo 15, ind ica seu racio cínio co nfuso, pois se Salom ão era o esco lhido de D eus para o trono, e A donias sabia disso, então por que tentou um golpe para tom ar a coroa? A s­ sim co m o A bsalão, pensou que a m anifes­ tação po p ular e o clam o r do povo eram sinônim o de garantia de su cesso. É possí­ vel que A do nias tenha dito que Salom ão recebeu o reino do Senhor som ente para im pressionar Bate-Seba. O s estudiosos diferem em sua interpre­ tação do papel de Bate-Seba nessa situação. Alguns dizem que ela foi extrem am ente in­ gênua ao transm itir o pedido a Salom ão. Porém , a rainha-mãe já havia mostrado ser uma m ulher corajosa e influente. É bem pro­ vável que suspeitasse de outra conspiração, pois sabia que ter a esposa ou concubina de um rei era prova de possuir o reino. Foi isso o que levou A bsalão a tom ar para si publicam ente as concubinas de D avi (2 Sm 16:20-23), anunciando ao povo que era o novo rei. E difícil acreditar que a mãe do rei desconh ecesse esse fato. Posso estar erra­ do, mas creio que ela deu atenção ao pedi­ do de Adonias sa bendo q u e Salom ão usaria isso co m o op ortun id ade para desm ascarar o plano d o irmão. A o tom ar A bisague co m o esposa, Adonias estaria afirm ando ser co-regente de Salomão! Salom ão detectou de im ediato o motivo por trás do pedido e disse: "P e ça o reino para ele tam bém !" O rei sabia que Adonias, A biatar e Joabe ainda estavam unidos em busca do controle do reino. Ao pedir Abisa­ gue para si, Adonias emitiu o próprio man­ dato de execução , e Benaia tirou a vida do traidor. Davi não estava lá para sentir a dor da morte de mais um filho, mas a execução de Adonias foi o último pagamento de uma dívida quádrupla que Davi havia assumido (2 Sm 1 2 :5 , 6). O bebê m orreu, A bsalão matou A m nom , Joabe matou A bsalão e Be­ naia executou Adonias. Davi pagou quatro vezes por seus pecados. A d e p o siçã o d e A b ia ta r (vv. 2 6 , 2 7 ). Mas Salom ão não parou aí: também depôs o sa­ cerdote Abiatar, que havia apoiado Adonias. aposentando-o na cidade levítica de Anatote, cerca de cinco quilôm etros de Jerusalém. Posteriorm ente, Anatote seria a cidade de o rig e m do p ro fe ta Je re m ia s . A o d e p o r Abiatar, Salom ão cum priu a profecia dada a Eli, segundo a qual sua fam ília não perma­ neceria no sacerdócio (1 Sm 2:27-36; ver Ez 4 4 :1 5 , 16). Z ad o q u e foi nom eado sumo sa­ cerdote (v. 35), e seus descendentes preen­ cheram esse cargo até 171 a .C . Salom ão reconheceu o fato de A biatar haver servido a D avi fielm ente, de modo que não orde­ nou sua execução. A e x e c u ç ã o d e Jo a b e (vv. 2 8 -3 5). Sem dúvida, Joabe possuía um a rede de espio­ nagem eficiente e, quando recebeu a noti­ cia de que A do nias havia sido morto, soube que era o próxim o da lista. Fugiu até o tabe­ rnáculo que D avi havia erguido em Jerusa­ lém para abrigar a arca da aliança (2 Sm 6:1 7 e pediu asilo agarrando-se aos chifres dc altar. Porém , som ente quem tivesse com e­ tido hom icídio culpo so poderia fazer isso e reivin d icar seu direito a um julgam ento e, no caso de Joabe, ele era culpado tanto de assassinato quanto de ter traído os reis D avi e Salom ão. Joabe desafiou Benaia e S alom ão se recusando a sair do local sa­ grado, mas Salom ão não se deixaria tratar de m odo tão arrogante por um h om em qu e 1 RE I S 1:1 - 2 : 4 6 era claram ente um traidor e um assassino. Apesar de ser soldado, Benaia era de família sacerdotal, de modo que não transgrediu lei alguma ao entrar nos recintos sagrados, e ele foi e matou Joabe junto ao altar e o se­ pultou. D epois desse episódio, Salom ão pro­ moveu Benaia a com andante do exército no lugar de Joabe (v. 35). É im portante com preender que Salom ão não estava agindo apenas por vingança no lugar do pai, D avi. Salom ão explicou que a morte de Joabe removeu a m ancha do san­ gue inocente que o com andante havia der­ ramado quando matou A bner e Am asa. O derram am ento de sangue ino cente co n ta­ m inava a terra (N m 35:30-34), e o sangue da vítim a clam ava a D eus por vingança (G n 4 :1 0 ). As cidades de refúgio existiam para pessoas que haviam m atado alguém aciden­ talmente. Poderiam fugir para uma das seis cidades e re ce b e r pro teção, enquanto os anciãos investigavam o caso. Porém , assas­ sinos co m o Joabe não d everiam re ceb er qualquer m isericórdia, mas sim ser executa­ dos para que o sangue inocente que haviam derram ado deixasse de contam inar a terra (D t 19:1-13; 21:1-9; Lv 18:24-30). O trata­ mento de Saul para com os gibeonitas havia contam inado a terra e criado problem as para Davi (2 Sm 21:1-14), e Salom ão não queria que isso acontecesse em seu reinado. A ou sa dia d e S im e i (vv. 36-46). Com o parente de Saul (2 Sm 1 6 :5 ; 1 Sm 10 :2 1 ), Sim ei era um ag itador em p o ten cial que poderia instigar a tribo de Benjam im contra o novo rei e, talvez, incitar as dez tribos do Norte a se rebelar. Davi havia trazido união e paz para o reino, e Salom ão não queria que Sim ei causasse problem as. O rd en o u , portanto, que Simei fosse trazido a Jerusa­ lém, que construísse uma casa na cidade e que não saísse de lá. Se deixasse a cidade e atravessasse o vale de C ed rom , seria e xe­ cutado. Naquela época, Jerusalém não era uma cidade grande, de modo que os homens de Salom ão poderiam vigiar o benjam ita que havia am ald iço ad o D avi e jo g ad o terra e pedras nele. Simei acatou a ordem de Salom ão du­ rante três anos e, depois, desobedeceu ao 399 novo rei. Q u a n d o dois de seu s escravo s fugiram e percorreram os quarenta quilôm e­ tros até G ate, Simei decidiu ir buscá-los pes­ soalm ente e trazê-los de volta. C laro que poderia ter contratado alguém , mas resol­ veu fazer ele mesm o o serviço . Talvez pen­ sasse que isso não violaria as estipulações do acordo ou que não houvesse soldados vigiando. O mais provável é que tenha de­ safiado deliberadam ente as ordens de Sa­ lom ão, testando seus limites para ver o que o rei faria - o que não demorou a descobrir. Salom ão sabia que Simei havia deixado Je­ rusalém e, quando Simei voltou, confrontouo com seu crim e. O discurso de Salom ão foi curto, porém enérgico, e condenou Simei por seus atos contra Davi e pelo que havia acabado de fazer a Salom ão. A história aca­ bou com Benaia executando o traidor. Salom ão devia ser um "hom em de paz" (1 C r 22:6-10, N V l) e, no entanto, com eçou seu reinado ordenando três execuçõ es. Po­ rém, a verdadeira paz deve basear-se na jus­ tiça e não nos sentim entos. "A sabedoria, porém , lá do alto é, prim eiram ente, pura; depois, p a cífica" (Tg 3 :1 7 ). A terra estava co ntam inada com o sangue inocente que Joab e h avia derram ad o e só p o d e ria ser p u rificad a com a e xe cu çã o do assassino. M esm o depois de Joabe ter matado A bsalão, Davi não o executou, pois o rei sabia que ele próprio tinha sangue em suas mãos (Sl 5 1 :1 4 ). Davi era culpado de pedir a Joabe que derram asse o sangue inocente de Urias, mas as m ãos de Salom ão estavam limpas. Salom ão foi, de fato, um "hom em de paz" e alcançou essa paz fazendo justiça na terra. D o ponto de vista hum ano, foi o ocaso de D avi e a aurora de Salom ão, mas do pon­ to de vista divin o: "A vereda dos justos é com o a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Pv 4 :1 8 ). C om o líder, D avi foi sem elhante à "lu z da manhã [...] com o manhã sem nuvens" (2 Sm 2 3 :4 ), e, por am or a D avi, o Senhor manteve a lâm­ pada brilhando em Jerusalém (1 Rs 1 1 :3 6 ; 2 Rs 8 :1 9 ). Até hoje, lemos e cantam os seus salmos e estudam os sua vida, e essa luz con­ tinua a brilhar sobre nós e a nos ajudar a encontrar nosso cam inho. 400 1. 1 RE I S 1:1 - 2 : 4 6 Não temos com o identificar, com certeza, Simei e Rei (v. 8), a menos que sejam os irmãos de Davi, Sim éia e Radai, que exerciam cargos no governo (1 C r 2 :1 3 ,1 4 ). Também havia um Simei, filho de Elá, que serviu na corte de Salom ão (1 Rs 4:18 O Simei em 1 Reis 1:8, sem dúvida, não era o m esm o Simei que am aldiçoou Davi durante a rebelião de A bsalão (2 Sm 16:512; 19:18-23). 2. Davi governou um reino unido, de modo que a expressão "sobre todo o Israel e Judá" parece estranha. Porém , esse registre foi escrito muitos anos depois da oco rrên cia dos acontecim entos relatados e depois de o reino ter se dividido. 3. 1 Crônicas 29:23-25 registra outra cerim ônia de coroação para Salom ão. N ão sabem os ao certo se se trata da mesma cerim ônia descrita em 1 Reis 1 ou de uma celebração posterior, de m aiores proporções, planejada com mais cuidado. Parece pouco provável que, em seu estado de enferm idade, D avi tenha se levantado do leito de m orte para fazer o s discursos registrados em 1 Crô nicas 28:1 - 2 9 :2 0 , com parecido à segunda unção de Salom ão e depois voltado a seus aposentos para morrer. 1 Crô nicas 29 :2 2 afirm a que "pela segunda vez, fizeram rei a Salom ão" e que "o ungiram ao S e n h o r " , de modo que o acontecim ento em 1 Reis 1 deve corresponder à primeira unção. É possível que o autor de Crônicas tenha elim inado tal inform ação a essa altura do relato com o form a de resumir os últimos acontecim entos da vida de Davi (29:21-30). Em tempos de crise, não era incom um a coroação do novo rei ser realizada às pressas e, mais tarde, ser feita outra cerim ônia maior e ma*s form al. A narrativa apresenta alguns problem as cronológicos, mas diante da situação tão instável, não é impossível que Deus tenha dado a D avi as fo rças necessárias para p articip ar nos grandes eventos púb licos d escritos em 1 C rô n ic as 28 -2 9 A segunda unção de Salom ão foi necessária para determinar, de uma v ez por todas, que ele era o novo rei. Davi foi ungide três vezes (1 Sm 16 :1 3 ; 2 Sm 2 :4 e 5:3). 4. U m a vez que Adonias foi o líder da rebelião, a m aior parte da responsabilidade recaiu sobre ele. Salom ão não perdoou apenas Adonias, mas também os outros filhos de Davi que com pareceram ao banquete (1 :9). Salomão sabia que haviam sido enganados por Adonias e participado inocentem ente do banquete. U m a v ez que estavam lá, descobriram o motivo da com em oração, mas teria sido perigoso partir, sabendo que todos os oficiais do exército tam bém estavam presentes. As notícias transmitidas por Jônatas foram o pretexto de que precisavam para fugir. 5. O s cronologistas têm dificuldade em calcular a idade d e Salom ão q ua nd o ele assum iu o trono, assim c o m o tam bém não sabem os quantos anos Davi ainda viveu depois de declarar Salomão seu co-regente. Davi estava com 30 anos de idade quando com eçou a reinar em Hebrom (2 Sm 5:1-5) e reinou durante sete anos naquela cidade e mais trinta e três anos err Jerusalém , de modo que estava com 70 anos quando faleceu. Se estava com 50 anos quando com eteu adultério com BateSeba e se Salomão foi o filho que nasceu depois da morte do primeiro bebê do casal (2 Sm 12:24, 25), então é possível que Salom ão tivesse 18 ou 19 anos de idade quando se tornou rei. Porém, 1 Crônicas 3:5 sugere fortemente que Salomão foi o quarto filho dos dois, de m odo que talvez tivesse até 15 anos quando subiu ao trono. Davi descreveu Salom ão com o sendo "m oço e tenro [inexperiente]" (1 C r 2 2 :5 ), mas talvez essa fosse a linguagem de um pai idoso ao olhar para seu sucessor Criado entre os muros protegidos do palácio, Salom ão não era um homem de aptidões tão abrangentes quanto o pai, mas sera que algum líder considera seu filho preparado para assumir o lugar dele? 6. Para exem plos de pessoas que obedeceram à lei de D eus, ver 2 Reis 14:6; 18:4, 6. 2 S a b e d o r ia do A 1 Rs 3:1 - 4:34 (2 C rô n icas 1) lto nom e (Jo 1 0 :2 3 ; At 3 :1 1 ; 5 :1 2 ). Seu pai, Davi, foi reco nh ecido co m o o líder ideal, e seu registro tornou-se o parâm etro usado para medir todos os reis subseqüentes de Judá. No entanto, em m omento algum Salom ão é destacado com o um governante piedoso. O s capítulos 3 e 4 descrevem aconteci­ mentos ocorridos durante os três primeiros an o s do re in a d o de S a lo m ã o , an tes de co m e ça r a co nstrução do tem plo (6 :1 ), e mostram Salom ão exercendo vários papéis. uando Salom ão subiu ao trono, o povo 1. O P A C I F I C A D O R (1 Rs 3:1 a ) de Israel não dem orou a descobrir que O nom e de Salom ão vem do termo hebraico ele não era outro D avi. Era um estudioso, shatom, que significa "p az", e, durante seu não um soldado, um homem mais interessa­ reinado, Israel teve paz com seus vizinhos. do em erguer edifícios do que em guerrear. Seu pai, Davi, havia arriscado a vida no cam ­ Davi desfrutou a vida simples de um pastor, po de batalha e derrotado as nações inimi­ mas Salom ão esco lheu viver em m eio ao gas a fim de tom ar suas terras para Israel, luxo. Tanto Davi quanto Salom ão escreve­ mas Salom ão usou uma abordagem diferen­ ram cânticos, mas Salom ão é mais con h eci­ te em relação à diplom acia internacional. Fez do por seus provérbios. Encontram os vários tratados com outros governantes casandodos cânticos de Davi no Livro de Salm os, se com suas filhas, o que ajuda a explicar o mas, com exceção dos Salm os 72 e 127 e fato de ele ter setecentas esposas princesas de Cantares de Salom ão, nenhum dos outros bem com o trezentas concubinas (1 1 :3). Ao três mil cânticos de Salom ão chegou até nós. que parece, Salom ão firm ou alianças com Davi foi um pastor que am ou e serviu o quase todos os governantes cujas filhas es­ tavam em idade de se casar! No entanto, a rebanho de Deus, enquanto Salom ão tornouse uma celebridade que usou o povo para lei de M oisés advertia que os reis de Israel manter seu estilo de vida extravagante. Q u an ­ não deveriam m ultiplicar esposas para si (Dt 17:14-20). do D avi m orreu, o povo ch o ro u , mas de­ pois da morte de Salom ão, o povo implorou Sua prim eira noiva depois de tornar-se rei foi a filha do Faraó do Egito, uma nação a Roboão que aliviasse o jugo pesado que Salom ão havia co locado sobre eles. Davi foi inimiga de longa data de Israel. Essa aliança um guerreiro que depositou sua confiança indica que o Egito havia decaído considera­ no Senhor, enquanto Salom ão foi um políti­ velm ente no cenário internacional, pois os co que depoistou sua confiança na autori­ governantes egípcios não costum avam en­ dade, em tratados e em grandes realizações. tregar as filhas em casam ento aos gover­ Nas palavras de Frederick Buechner: " O rei nantes de outras nações.2 E significativo que Salom ão foi um dos bufões mais sábios a Salom ão não tenha co locado a esposa egíp­ usar uma co ro a ".1 cia no palácio real onde Davi havia morado, Salom ão é m encionado quase trezentas pois este ficava próxim o à arca da aliança vezes no Antigo Testam ento e um a dúzia (2 C r 8 :1 1 ). Em vez disso, hospedou-a em de vezes no Novo Testam ento. Seu nome outra residência real até que o próprio palá­ aparece na genealogia de Jesus (M t 1:6, 7), cio ficasse pronto. Salom ão passou sete anos e ele é citado com o um exem plo de esplen­ construindo o tem plo de D eus, mas treze dor (M t 6 :2 9 ; Lc 1 2 :2 7 ) e de sabedoria (M t anos construindo um palácio para si mes­ 1 2 :4 2 ; Lc 1 1 :3 1 ). É id en tificad o tam bém mo (1 Rs 6 :3 7 - 7:1). com o o construtor do tem plo (At 7:4 7 ), e O siste m a c o m p le x o de tra ta d o s de uma das colunatas do templo recebeu seu Salomão opôs-se ao caráter singular de Israel Q 402 1 RE I S 3: 1 - 4 : 3 4 co m o povo de D eu s entre as n açõ e s do mundo. Israel era o povo santo de Deus, um povo escolhido no meio do qual o S e n h o r habitava (Êx 3 3 :1 6 ; Dt 4 :7 , 8, 32-34). Deus não havia feito aliança alguma com as na­ ções gentias nem havia lhes dado sua Pala­ vra, seu santuário ou sacerdócio sagrado (Rm 9:1-5). Deus dissera aos israelitas: "Eu sou o S e n h o r , v o s s o D e u s, que vos separei dos povos" (Lv 2 0 :2 4 , 26 ). Enquanto Israel co n­ fiasse no Senhor e lhe obedecesse, o povo "[habitaria] seguro" (D t 3 3 :2 8 ). O profeta descreveu Israel com o "povo que habita só e não será reputado entre as nações" (Nm 2 3 :9 ). O Senhor colocou Israel entre as nações gentias para lhes servir de testem unho do verdadeiro Deus vivo, para ser uma "lu z para os gentios" (Is 4 2 :6 ). Se Israel tivesse se m an­ tido fiel às estipulações da aliança de Deus (D t 2 7 - 30 ), o Senhor os teria abençoado e usado com o exem plo prático para as nações pagãs a seu redor. Em vez disso, os israelitas imitaram os gentios, adoraram os seus ído­ los e abandonaram o testemunho do D eus verdadeiro. Por esse motivo, Deus teve de discipliná-los e, posteriorm ente, de enviá-los para o cativeiro na Babilônia. D eus queria que Israel fosse "cab eça" das nações, mas, em fu n ção de sua tran sigência, tornou-se "caud a" (D t 2 8 :1 3 , 44 ). É possível que, a seu ver, Salom ão estivesse fazendo progressos políticos ao incluir Israel na com unidade in­ ternacional, mas a co n seqü ên cia disso foi, na realidade, um retrocesso espiritual. Salo­ mão tam bém fez acordos co m erciais van­ tajosos co m outras nações (10:1-15, 22), e Israel prosperou, mas o preço pago por esse sucesso foi alto demais. A verdadeira prosperidade de Israel só se dava na m edida em que o povo confiava em D eus e obedecia às estipulações de sua aliança. Se fossem fiéis ao Senhor, ele havia prometido lhes dar tudo de que precisavam , protegê-los de seus inimigos e ab ençoar seu trabalho. Porém , desde o início da monar­ quia em Israel, os líderes deixaram claro que desejavam ser com o "todas as nações" (1 Sm 8), e Salom ão contribuiu para os aproxim ar desse objetivo. Por fim , Salom ão casou-se com várias mulheres pagãs e com eçou a ado­ rar seus falsos deuses, de modo que o Senhor precisou discipliná-lo (ver 1 Rs 11). 2. O c o n s t r u t o r (1 Rs 3:1 b) Salom ão é lem brado com o o rei em cujo reinado o templo foi construído (caps. 5 7; 2 C r 2 - 4). Sua aliança com H irão, rei de Tiro , deu-lhe acesso a m adeira da melhor qualidade e a trabalhadores com petentes. A lém disso, porém, construiu o próprio pa­ lácio (7:1-12), constituído da área onde ele vivia e da "C asa do Bosque do Líbano" um lugar onde arm as de vários tipos eram guardadas e exibidas (1 0 :1 6 , 17), o Salão das C olunas e a Sala do Julgam ento. Cons­ truiu, ainda, uma casa em Jerusalém para sua esposa egípcia, a filha do Faraó (2 C r 8:11). O esplendor dessas construções era motivo de grande adm iração para os visitantes ofi­ ciais do reino (cap. 10). A pesar de ele próprio não ser um guer­ reiro, Salom ão preocupou-se com a segu­ rança da terra. Expandiu e fortificou "M ilo" (9 :2 4 ; 1 1 :2 7 ), um aterro ou muralha de pro­ teção que Davi havia com eçado a construir (2 Sm 5:9). A palavra m illo significa "encher". Salom ão interessava-se particularm ente por cavalos e carros, tendo construído estábu­ los em cidades especiais para esse fim (4 :2 6; 9:1 7-1 9; 10:26-29). Ele mesm o se tornou um negociante de cavalos e de carros, im por­ tando-os e dep o is os ve n d e n d o a outras nações (2 C r 1:14-17; 9:25-28), auferindo, sem d ú v id a alg u m a, c o n s id e rá v e l lu cro . Construiu ainda cidades para servir de ce­ leiro em locais estratégicos (9:15-19; 2 C r 8 :1 -6 ). N a q u e le tem p o , Israel co n tro la va diversas rotas co m erciais im portantes que exigiam proteção, e tais cidades abrigavam soldados bem com o suprim entos de com i­ da e arsenais. Salom ão transgrediu a lei de M oisés não apenas m ultiplicando esposas e cavalos e dependendo de carros (D t 17:14-17), mas tam b ém , co n trarian do o m andam ento do Senhor, foi buscá-los no Egito! O rei deveria p re p ara r para si um a c ó p ia do Livro de Deuteronôm io (D t 1 7:18-20), e ficam os ima­ ginando qual foi a reação de Salom ão ao ler 1 R E I S 3:1 - 4 : 3 4 esse m andam ento sobre esposas e cavalos. O u será que alguma vez meditou sobre o que seu pai escreveu no Salm o 2 0 :7 (ver tam bém 33:16-19)? D urante o reinado de Salom ão, o esplendor externo e a riqueza de Israel, na verdade, só serviam para en­ cobrir a deterioração interna, que acabou levando à divisão e destruição. 3. O a d o r a d o r (1 Rs 3:2-15) Salom ão ce rtam e n te co m e ço u bem , pois "am ava ao S e n h o r andando nos preceitos de D avi, seu pai" (v. 3); mas um bom co m e­ ço não é garantia alguma de um bom final. Saul, o prim eiro rei de Israel, com eçou com humildade e vitória, mas term inou rejeitado pelo Senhor e com etendo suicídio no cam ­ po de batalha. O próprio Salom ão escreveu em Eclesiastes 7 :8 : "M elh o r é o fim das co i­ sas do que o seu princípio" e "M elho r é a boa fam a do que o ungüento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nasci­ m ento" (Ec 7 :1 ). R ecebem os nosso nom e logo depois que nascem os e, entre o nasci­ mento e a m orte, engrandecem os ou dene­ grimos esse nom e. D ep o is da m orte, não podem os m elhorar uma péssim a reputação e nem o contrário. Nas palavras do poeta norte-am ericano Long fello w : "G ra n d e é a arte de com eçar, mas ainda m aior é a arte de term inar". C o n sa g ra çã o (vv. 2 -4 ). D eus d esejava que Israel tivesse um lugar central de ado­ ra ç ã o e q u e não im ita sse as n a çõ e s de C an aã construindo "altos"4 onde lhes pare­ ce sse m elhor. Q u an d o os israelitas entra­ ram na terra, foram instruídos a dar fim a 403 lém, mas o restante do tabernáculo, inclusive o altar dos sacrifícios, ainda se encontrava em G ib e ão , ce rca de oito quilôm etros ao norte de Jerusalém . Salom ão reuniu os líde­ res de Israel e providenciou para que fos­ sem até G ibeão com ele a fim de adorar ao Senhor (2 C r 1:1-6). Esse acontecim ento se­ ria não apenas um ato de consagração, mas tam bém mostraria ao povo a união dos líde­ res de sua n açã o . Salom ão o fere ce u mil holocaustos aos Senhor, e ele e seus oficiais louvaram e buscaram ao Senhor juntos. O s holocaustos representavam a consagração total ao Senhor. R evelação (v. 5 ). A assem bléia estendeuse ao longo de todo o dia, e tanto o povo quanto o rei passaram a noite em G ibeão , sendo que Salom ão recebeu um sonho ex­ traordinário do Senhor. D avi tinha Natã e G ad e com o conselheiros, mas, ao que pare­ ce, não havia profeta algum no círculo de conselheiros de Salom ão. Em duas ocasiões, o Senhor falou ao rei por interm édio de so­ nhos (ver 9:1-9). Por vezes, Deus com unica­ va suas m ensagens por meio de sonhos, não apenas a seus servos, mas tam bém a pes­ soas de outras naçõ es, com o A bim eleque (G n 2 0 ), os servos egípcios do Faraó (G n 40) e o próprio Faraó (G n 41). Salom ão ouviu o Senhor d ize r: "Pede- e o culto ce n traliza d o fosse estab elecid o na terra, o povo de Israel adorou o Senhor em altos. C om o tem po, esse term o passou a significar um "lugar de ad o ração", e era nesses santuários tem porários que os israeli­ tas adoravam Jeová. me o que queres que eu te dê" (v. 5). Essa ordem do Senhor foi tanto um a revelação da graça de Deus com o uma prova do cora­ ção de Salom ão (o verbo "ped ir" é usado oito vezes nessa passagem). Aquilo que as pessoas pedem costum a revelar seus verda­ deiros desejos, e estes, por sua vez, depen­ dem de com o cada um vê sua missão de vida. Se Salom ão tivesse sido um guerreiro, talvez tivesse pedido vitória sobre os inimi­ gos. No entanto, via-se com o um líder jovem precisan d o desesperadam ente de sabedo­ ria para servir da m elhor m aneira possível o povo escolhido de D eus. Era sucessor de Davi, o m aior rei de Israel, e sabia que o povo não poderia evitar compará-lo com o G ibeão era um desses lugares sagrados, pois abrigava o tabernáculo. C o m o primei­ pai. Porém , mais do que isso, havia sido cha­ m ado para co nstruir o tem plo do Senhor, ro passo para a construção do templo, Davi havia levado a arca da aliança para Jerusa­ um a tarefa en orm e para um líder inexp e­ riente. Salom ão sabia que não tinha meios esses "altos" e aos ídolos adorados nesses locais (Nm 3 3 :5 2 ; Dt 7 :5 ; 12:1 ss; 3 3 :2 9 ). Porém , até que o tem plo fosse construído 404 1 RE I S 3: 1 - 4 : 3 4 de levar a cabo esse grande em preendim en­ to sem sabedoria do céu. P e tiçã o (vv. 6-9). A o ração de Salom ão O rei conclui sua o ração antevendo o futuro e pedindo ao Senhor a sabedoria ne­ ce ssá ria para g o vern ar a n açã o (v. 9). A sabedoria era um elem ento im portante na foi curta, d ireta e proferida co m hum ilda­ de, pois três vezes se referiu a si m esm o co m o "teu servo ". Prim eiro, Salom ão recapitulou o passado e agradeceu a D eus pela fidelidade e am or inabalável que havia de­ m onstrado a seu pai (v. 6). Salom ão reco ­ nheceu a bondade de D eus ao guardar seu vida do O riente Próxim o, e todos os reis ti­ nham seu grupo de "sábios" que os acon­ selhavam . Salom ão, porém , não pediu um com itê de conselheiros, mas sim sabedoria para si m esm o. N aquele tem po, a pessoa sábia era a que mostrava aptidão para admi­ pai em meio a várias tribulações e, depois, ao lhe dar um filho para herdar o trono. Salom ão refere-se aqui à alian ça que Deus havia dado a D avi quando o rei expressou o desejo de seu co ração de co nstruir um tem plo para o Senhor (2 Sm 7). N essa alian­ ça, D e u s pro m eteu a D avi um filh o que co n stru iria o tem plo, e Salom ão era esse filho. Salom ão adm itiu que não era rei pelo fato de D eus haver reco nh ecido suas apti­ dões, mas sim porque o Senhor fora fiel a suas prom essas a D avi. Assim , Salom ão passou para o presente e reconheceu a graça de Deus ao fazer dele nistrar a vid a.5 Significava muito mais do que a capacidade de ganhar o pão: era a habili­ dade de construir a vida e de aproveitar ao m áxim o o que trazia consigo. A verdadeira s a b e d o ria e n v o lv e ap tid ão nas re la ç õ e s humanas bem com o a capacidad e de com ­ preender e de cooperar com as leis funda­ mentais colocadas por Deus na criação. As pessoas sábias não apenas têm conhecim en­ to da natureza hum ana e do m undo criado, mas tam bém sabem com o usar esse conhe­ cim ento da m aneira correta na hora certa. A sabedoria não é uma idéia abstrata nem teórica; é extrem am ente prática e pessoal. o rei (v. 7). Porém, confessou tam bém sua juventude e in exp eriên cia e, portanto, sua necessidade prem ente da ajuda de D eus, a fim de poder ser bem-sucedido com o rei de Israel. E provável que, nessa época, Salom ão tivesse cerca de 2 0 anos de idade e, sem dúvida, era bem mais jovem que seus con­ selheiros e oficiais, sendo que alguns deles haviam servido a seu pai. Referiu-se a si mes­ mo com o "um a crian ça" (1 C r 2 2 :5 ; 29:1 ss), um sinal tanto de honestidade quanto de hum ildade. A expressão "não sei com o conduzir-m e" refere-se a liderar a nação (Nm 2 7 :1 5 -1 7 ; Dt 3 1 :2 ,3 ; 1 Sm 1 8 :1 3 ,1 6 ; 2 Rs Há muitas pessoas espertas o suficiente para conseguir ter uma boa vida, mas que não têm a sabedoria necessária para construir uma vida boa, uma existência plena de rea­ lização, que honre o Senhor. Salom ão pediu ao Senhor que lhe desse um "coração co m preensivo", pois, por me­ nor que seja a questão, se o coração estiver errado, a vida toda estará errada. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida" (Pv 4 :2 3 ). A palavra traduzida por "com preensivo" significa "que ouve"; Salom ão queria ter "um coração que o uve". O verdadeiro entendi­ mento vem de ouvir o que D eus tem a dizer e, para o israelita do Antigo Testam ento , "o u vir" significava "o b e d e ce r". Q u an d o o Senhor fala co no sco , não tem os a opção de analisar e de julgar o que ele diz; trata-se som ente de lhe obedecer. Um coração com ­ 11 : 8 ). Em sua oração, o rei não apenas confes­ sou sua pequenez, mas tam bém a grandeza de Israel (v. 8). O povo de Israel era o povo de Deus! Isso significava que Deus tinha para eles um grande propósito a ser cum prido na terra e que seu rei carregava a grande respon­ sabilidade de governá-los. Deus havia multi­ plicado a nação e cum prido sua prom essa a Abraão (G n 12:2; 1 3 :1 6 ; 15:5), Isaque (Gn 2 6 :1 -5 ) e Jacó (G n 2 8 :1 0 -1 4 ), e Salom ão desejava que a bênção continuasse. p re en sivo po ssui um en te n d im e n to m ais profundo e discernim ento. É cap az de fazer distinção entre coisas diferentes (Fp 1:9-11). Sabe o que é real e o que é artificial, o que é temporal e o que é eterno.6 Esse tipo de 1 R E I S 3: 1 - 4 : 3 4 co m p reensão é descrito em Isaías 11:1-5, uma profecia sobre o M essias. O s cristãos de hoje podem apropriar-se da promessa de Tiago 1 :5. A p ro v a çã o (vv. 10-13). Deus se agradou do pedido de Salom ão por sabedoria, pois foi prova de que o rei estava preocupado em servir a Deus e a seu povo, em co n he­ cer e fazer a vontade de D eus. Salom ão não leu M ateus 6 :3 3 , mas co loco u as palavras desse versículo em prática... e o Senhor lhe deu as bênçãos adicionais que ele nem ha­ via pedido! Deus sem pre dá o melhor para os que deixam a esco lh a nas m ãos dele. Q uand o lemos o Livro de Provérbios, vem os que o am o r à sa b e d o ria e a p rá tica do discernim ento podem levar a essas bênçãos adicionais (ver Pv 3:1 , 2, 10, 13-18). Nos ca­ pítulos subseqüentes, verem os a riqueza e a honra de Salom ão e com o ele atraiu visitan­ tes de outras nações que desejavam ouvir sua sabedoria. O b rig a çã o (v. 14). O Senhor teve o cui­ dado de lem brar a Salom ão que sua obe­ diência à aliança de Deus e sua devoção ao Senhor eram as chaves para suas bênçãos futuras. Salom ão deveria escrever a própria cópia de D euteronô m io (D t 17:18-20), in­ cluindo a aliança descrita em D euteronôm io 28 - 30. Salom ão tam bém co nhecia as estipulações da alian ça que D eus havia feito com seu pai, D avi (2 Sm 7:1-17), e que ela exigia o b e d iê n cia da parte do filho e su­ cessor de Davi (vv. 12-16). Deus prometeu estender a vida de Salom ão, se ele obede­ cesse à Palavra (Pv 3 :2 , 16), pois estaria hon­ rando a Deus e a seu pai, Davi, e poderia apropriar-se da prom essa de Êxodo 2 0 :1 2 (ver Ef 6:1-3). Infelizm ente, mesm o com toda a sua sabedoria, Salom ão se esqueceu de sua parte no acordo e, aos poucos, desgar­ rou-se para o pecado e a desobediência, de modo que Deus precisou discipliná-lo.7 Q uand o Salom ão voltou a Jerusalém , foi até a tenda que abrigava a arca e ofereceu mais sacrifícios naquele local (v. 1 5). A arca representava a presença de Deus no meio de seu povo e o governo do Senhor sobre os israelitas (Sl 8 0 :1 ; 9 9 :1 ). Salom ão reco ­ nheceu o governo soberano de Deus sobre 405 sua vida e sobre a vida de sua nação. Em outras palavras, Salom ão sabia que era o segundo no poder. Foi quando com eçou a se esquecer dessa verdade básica que se me­ teu em dificuldades. 4. O á r b it r o (1 Rs 3:16-28) O s líderes escolhidos por Deus não podem perm anecer para sem pre nos altos da glória espiritual; antes, devem levar essa glória e bênção consigo para o lugar onde cum prem seus deveres e exercem seu serviço . Jesus deixou o monte da transfiguração e foi para o vale do conflito (M t 17:1-21), e Paulo dei­ xou as alturas do céu para carregar, na terra, a dor do espinho na carne (2 C o 12:1-10). Salom ão havia adorado em G ib e ão e Jeru­ salém, mas estava de volta às responsabili­ dades do trono. Assim com o seu pai, Salom ão se fez aces­ sível ao povo com um (2 Sm 14). Deus havia dado a Salom ão um dom especial de sabe­ doria, e agora o rei poderia colocá-lo em prática. Salom ão se pusera diante da arca, o trono de D eus, e o povo poderia ficar dian­ te do trono do rei e buscar ajuda. Porém , o fato de Salom ão receber duas prostitutas na sala do trono foi, sem dúvida, uma dem ons­ tração de sua condescendência. Assim com o Jesus, recebeu "publicanos e pecad ores" (Lc 1 5 :1 , 2), com a diferença de que Jesus fa­ zia muito mais do que resolver os proble­ mas deles: transform ava-lhes o co ra ção e perdoava seus pecad os. Em todos os senti­ dos, Jesus é "m aio r do que Salom ão" (M t 1 2 :4 2 ). A pesar de ter-se a im pressão de que a prostituição era tolerada em Israel, a lei de M o isés determ inava algum as restriçõ es e castigos severos (Lv 1 9 :2 9 ; 2 1 :7 , 9, 14; Dt 2 3 :1 8 ). O Livro de Provérbios advertia os rapazes sobre os ardis da m eretriz ("da m u­ lher alheia, da estranha"), e Paulo instruiu os cristãos a se m anterem longe das prostitutas (1 C o 6:1 5, 16). Essas duas m ulheres viviam com outras prostitutas num bordel, e ambas engravidaram e deram à luz. Não podem os evitar sentir pena dessas crianças, que vie­ ram ao m undo num lugar com o esse, sem pais para sustentá-las ou protegê-las. Porém, 406 1 RE I S 3: 1 - 4 : 3 4 0 tipo de hom em que visita prostituta tam­ bém pode não ser o melhor dos pais! U m a v e z que não houve testem unhas do nascim ento desses dois bebês e da mor­ te de um deles, o caso não poderia ser ju l­ gado num tribunal do modo habitual. Seria a palavra de uma mulher contra a palavra da o utra, m esm o fica n d o evid en te que um a delas estava m entindo. Usando da sabedoria que Deus havia lhe dado, Salom ão colocou de lado a palavra das mulheres e foi direto ao coração delas, pois o co ração de todo o problem a é o problem a no coração. Ao suge­ rir que "dividissem o bebê" entre si, Salom ão revelou o coração da mãe verdadeira e lhe deu o bebê. O texto não diz o que ele fez com a m ulher que mentiu e roubou (seqües­ trou) o bebê. Esperam o s que a m ãe ver­ dadeira tenha abandonado seus cam inhos pecam ino so s e criado seu filho nos ca m i­ nhos do Senhor. Esse acontecim ento foi o principal assun­ to em Israel durante sem anas, e a decisão de Salom ão deixou claro a todos que o rei era, de fato, um homem sábio. 5. O A D M I N I S T R A D O R (1 Rs 4:1-28; 2 C r 1:14-17) Davi era um administrador com petente (2 Sm 8:15-18; 20:23-26), e seu filho herdou dele a m esm a aptidão. A p esar de Salom ão ter grande sabedoria e autoridade, não era ca­ paz de tratar sozinho dos assuntos do reino. Um bom líder esco lhe pessoas com peten­ tes para trabalhar consigo e perm ite que usem seus dons e, desse m odo, sirvam ao Senhor e ao povo. O s p rin c ip a is líd e re s (vv. 1-6). A zarias era o sum o sacerdo te (v. 2 ). Era filh o de Aim aás e neto de Z adoque, o sacerdote que serviu tão fielm ente a D avi. A o que parece, Aim aás havia falecido e, portanto, seu filho recebeu o cargo. Ver 2 Sam uel 1 5 :2 7 , 3 6 ; 1 C rô nicas 6:8 , 9. Enquanto Davi teve ape­ nas um escriba, Salom ão teve dois (v. 3), e estes eram filhos de Sisa, o escriba de D avi. Sisa tam bém era co n hecid o com o Seraías (2 Sm 8:1 7), Seva (2 Sm 2 0 :2 5 ) e Sausa (1 C r 1 8 :1 6 ). O reino de Salom ão era muito maior e mais com plexo do que aquele sobre o qual seu pai reinou, de modo que a m anutenção dos registros era mais trabalhosa. Josafá havia sido cronista durante o rei­ nado de Davi (2 Sm 8 :1 6 ; 2 0 :2 4 ), e Benaia fora nom eado com andante do exército por Salom ão (2 :3 5 ). Benaia era de fam ília sacer­ dotal, mas escolheu seguir a carreira militar. Abiatar havia sido exilado em decorrência de sua particip ação na conspiração envol­ vendo Adonias (2 :2 7), e Z adoqu e havia fa­ lecido e sido substituído por seu neto. Uma vez que tanto Z adoque quanto A biatar ha­ viam servido a Davi, os dois aparecem na listagem oficial. A zarias era encarregado dos doze oficiais que supervisionavam os doze distritos dem arcados por Salom ão em Israel (vv. 7-19). O texto não explica se seu pai era 0 profeta Natã (1 :1 1 ), Natã, filho de Davi (2 Sm 5 :1 4 ) ou outro homem cham ado Natã, um nom e com um em Israel. Z a b u d e era um sace rd o te que servia com o conselheiro especial do rei; Aisar admi­ nistrava os assuntos com plexos relacionados à casa do rei e Adonirão era encarregado dos que eram recrutados para trabalhar nas obras públicas do reino (9:15-23; 2 C r 2:2, 1 7 ,1 8 ; 8:7-10). Esses trabalhadores não eram israelitas, mas sim estrangeiros que viviam em Israel. Porém , para a construção do tem­ plo, Salom ão recrutou israelitas para dedica­ rem quatro m eses de trabalho por ano ao serviço público (5:13-1 8). Adonirão também era conhecido com o A dorão e foi morto por apedrejam ento pelo povo quando Roboão subiu ao trono (1 Rs 12:18-20). Samuel ha­ via advertido o povo de que seus reis fariam coisas com o submetê-los a trabalhos força­ dos (1 Sm 8:12-18). O s in t e n d e n t e s (v v . 7 -1 9 , 2 7 , 2 8 ). Salom ão dem arcou doze "distritos" de dife­ rentes tam anhos e colocou um intendente sobre cada um. As dem arcações dos distri­ tos desconsideravam as dem arcações tradi­ cionais das tribos e até incluíam territórios que Davi havia tom ado em batalhas, sendo que cada distrito deveria fornecer alimento para a casa do rei durante um mês por ano. E bem provável que os intendentes também coletassem impostos e supervisionassem o recrutam ento militar e os trabalhadores que 1 RE I S 3: 1 - 4 : 3 4 serviam no templo e em outros projetos de construção do rei. Ao estabelecer distritos que passavam por cim a de antigas fronteiras, é possível que Salom ão desejasse m inim izar a lealdade tribal e elim inar algumas das ten­ sões entre Judá e as tribos do Norte. Em vez disso, porém, o plano serviu para agravar as tensões, especialm ente pelo fato de Judá não ter sido incluída no programa de divisão dos distritos. U m a vez que era a tribo real e que abrigava a cidade real, Judá era administra­ da separadam ente. U m rei com setecen tas espo sas e tre­ zentas co n cu b in as, além de inúm eros fun­ cionários e con vid ado s freqüentes, devia ter uma peq uena m ultidão para alim entar. A rainha de Sabá foi acom pan h ad a de "m ui grande co m itiv a ", da qual pro vavelm ente faziam parte várias centenas de pessoas. D e acordo com os versículo s 22 e 23 , as refei­ ções de um dia no palácio consum iam mais de 6 .7 0 0 litros de farin h a fina e m ais de 1 3 .6 0 0 litros de farin h a grossa, d ez bois cevados, vinte bois de pasto, cem ca rn ei­ ros e vário s outros tipos de anim ais e de aves. S alo m ão tam b ém p re cisa v a de c e ­ reais para alim e n ta r seus m uitos cavalo s e, talvez, para isso é que se usava a farinha grossa (de ce vad a ). É possível que as na­ çõ e s co n q u ista d a s c o n s id e ra s s e m e ssas doações m ensais uma parte de seu tributo, mas para as tribos de Israel, o sistem a com o um todo era um a form a hum ilhante de e x ­ torsão. Não é de se adm irar que, depois da m orte de Salom ão, as dez tribos tenham se revoltado co n tra "to dos os cavalo s e ho­ 407 Josafá, o cronista (vv. 12 e 3). Esses doze h o m ens possuíam grande poder sobre a nação e faziam parte da burocracia corrupta so bre a qual Salom ão escreveu em Eclesiastes 5:8-12. D istin ç õ e s e sp e cia is (vv. 2 0 -2 8). A na­ ção de Israel ganhou fam a por sua grande população, sua paz e segurança, suas cons­ truções, seu rei sábio e p e la satisfação a seu estilo de vid a, pois os israelitas "co m iam , bebiam e se alegravam " (v. 20). É evidente que a p o p u la ção cre sce u , pois isso fazia parte das prom essas de D eus aos patriarcas (C n 1 5 :5 ; 1 7 :8 ; 22:1 7; 2 6 :4 ; 3 2 :1 2 ) e de suas prom essas da aliança (D t 28:1-14). A expan­ são territorial tam bém era parte da prom es­ sa de D eus (G n 1 5 :1 8 ; Êx 2 3 :3 1 ; D t 1 :7 ; Js 1 :4). As nações tributárias sujeitavam-se ao governo de Salom ão e lhe traziam presen­ tes todos os anos, e Salom ão desfrutava gran­ des bênçãos resultantes da aliança de Deus com D avi (2 Sm 7). C ontrariando a lei de Deus, Salom ão m ultiplicou cavalos na terra (D t 1 7 :1 6 ) e co n stru iu cid ad es esp e cia is para abrigá-los (v. 26 ; 10:26-29; 2 C r 1:1417; 9 :2 5 , 2 8 ).8 6. O e s tu d io s o (1 Rs 4:29-34) O rei Davi desfrutava e valorizava o mundo que Deus havia criado e escreveu hinos de louvor sobre o C riado r e sua criação, mas Salom ão olhou para a natureza mais com o o b je to de e stu d o . D e u s deu a S alo m ão sa b e d o ria e am p litu d e de e n te nd im e n to muito m aior que as dos grandes sábios do O riente, e ele pôde tirar da natureza lições mens do rei". Por algum motivo, cinco dos intenden­ tes são identificados pelos nom es dos pais. No hebraico, o termo ben significa "filho de" (8-11, 13). É possível que o filho de Abinadabe (v. 11) fosse filho do irmão de D avi e, portanto, prim o de Salom ão (1 Sm 1 6 :8 ; 1 7 :1 3 ). C aso u -se co m um a das filhas de Salomão, com o tam bém o fez Aim aás (v. 15). É bem provável que Salom ão tenha instituí­ do esse sistema de fornecim ento vários anos depois do início de seu reinado, uma vez detalhadas sobre as criaturas viventes feitas por D eus. Eclesiastes 2 :5 diz que Salom ão plantou grandes jardins e, sem dúvida, foi neles que observou o modo com o as plan­ tas e as árvores se desenvolviam . Etã e Hem ã são m e n cio n a d o s em 1 C rô n ic a s 1 5 :1 9 com o mem bros da equipe musical de Davi, encarregados de dirigir a adoração no san­ tu ário. É provável que Etã seja o m esm o hom em conhecido com o Jedutum , que es­ creveu os Salm os 39 e 89 (1 C r 1 6 :4 1 , 42 ; 2 5 :1 , 6) e o Salm o 88 é atribuído a Hem ã. que não tinha filhos adultos quando foi co­ roado. Baaná provavelm ente era irm ão de Esses hom ens tam bém eram conhecidos por sua sabedoria. Além de 1 C rô nicas 2 :6 , não 408 1 R E I S 3: 1 - 4 : 3 4 tem o s q u a lq u e r o u tra in fo rm a çã o so bre Calco l e Darda. A m aio ria dos três mil p ro vé rb io s de Salom ão se perdeu, pois menos de seiscen­ Enquanto Salom ão era rei, a paz e a pros­ p e rid a d e g overnaram co m ele, mas não im portava quão bem-sucedido seu reino pa­ recia aos cidadãos e visitantes, nem tudo ia tos encontram-se registrados no Livro de Pro­ vérbios. Tam bém não existem mais o "Livro da História de Salom ão" (1 1 :4 1 ) e nem os livros sobre esse rei escritos por Natã, Aías e Ido (2 C r 9 :2 9 ). Encontram os diversas refe­ rências à natureza em Provérbios, Eclesiastes e Cantares, de modo que as investigações científicas de Salom ão resultaram em verda­ des espirituais e lições práticas para a vida. O rei tornou-se um a ce le b rid a d e interna­ cio n a l, e p e sso as im p o rtantes de todo o m undo foram co n hecer seus tesouros e ou­ vir sua sabedoria. bem em Israel. Durante o período entre sua ascensão ao trono e a consagração do tem­ plo, tudo indica que Salom ão andou com o S e n h o r e p ro c u ro u lhe ag rad a r. Po rém , A lexander W h yte expressou uma verdade de m odo m uito v ivid o ao escre ve r que "um verm e esco n d id o [...] ca rco m ia , o tem po to do , o bastão real no qual S alo m ão se ap o iava".9 Salom ão não tinha a dedicação inabalável ao Senhor que caracterizou seu pai; além disso, suas muitas esposas pagãs estavam plantando no coração do rei uma sem ente que daria frutos amargos. 1. B uech n er, 2. O dote que a esposa de Salom ão recebeu do Faraó foi a cidade filistéia de G e z e r (1 Rs 9 :1 6 ). O Egito havia conquistado a Frederic. Peculiar Treasures. Nova York: H arper and Row, 1979, p. 161. Filístia e ainda exercia autoridade sobre a região. A princesa não foi a primeira esposa de Salomão, pois Roboão, o primogênito e sucessor do rei, tinha uma m ãe am onita cham ada Naam á (1 4 :2 1 ). É provável que Salom ão já fosse casado antes de tornarse rei, uma vez que Roboão estava com 41 anos de idade quando assumiu o trono, e Salom ão reinou durante quarenta anos. 3. O s israelitas não deveriam se casar com m ulheres pertencentes às nações pagãs da terra de Canaã (Êx 3 4 :1 6 ; D t 7:1 ss), lei que Salom ão acabou transgredindo. Não parecia haver qualquer regra quanto a um israelita tomar para si uma esposa egípcia. D iz a tradição judaica que sua esposa adotou a fé em jeová. 4. Esses lugares eram cham ados de "altos" (bam ah), pois costum avam situar-se em colinas afastadas da cidade, no meio da natureza e "m ais perto" do céu. O termo bamah significa "elevação ". A adoração nesses santuários pagãos costum ava incluir orgias indescritíveis. Alguns israelitas adoraram Baal nos altos no período dos juízes (Jz 6 :2 5 ; 13 :1 6). Nos dias de Samuel e Saul, nem sem pre os sacrifícios eram oferecidos no altar do tabernáculo (1 Sm 7:10; 9:11-25; 1 3 :9 ; 14 :3 5 ; 16:5). Davi construiu um altar no monte M oriá (1 C r 21 :2 6), prenunciando, sem dúvida alguma, o tem plo que seria construído ali. A adoração nos altos foi uma tentação constante no tempo da m onarquia em Israel e em Judá, e mal um rei havia destruído esses santuários pagãos, seu sucessor os reconstruía. 5. Ver minha obra sobre Provérbios: Be Skillful, Victor, 1995. 6. Dois termos hebraicos diferentes são traduzidos por "com preensivo" nesta passagem. No versículo 9, o termo shama significado "ouvir, escutar, obedecer". A confissão de fé hebraica diária é cham ada de "Shem a" e com eça com as palavras, "O u ve , Israel' (D t 6 :4, 5). A palavra usada nos versículos 11 e 12 é b/n e significa "distinguir, discernir, separar". Em conjunto, os termos querem dizer "ouvir com a intenção de ob edecer e exercitar discernim ento a fim de com preender". 7. A Bíblia registra quatro ocasiões em que Deus falou com Salom ão: em G ib eão (3:10-15), durante a construção do templo (6:11-13), depois da conclusão dos projetos de construção (9:3-9) e quando Salom ão desobedeceu ao Senhor e adorou ídolos (1 1 :9-13). O b serve que, nos três primeiros casos, a ênfase é sobre a obediência. 8. Salom ão não precisava de quarenta mil cavalos quando tinha apenas 1.4 0 0 carros (1 Rs 1 0 :2 6 ; 2 C r 1 :1 4), de m odo que c núm ero quatro mil em 2 C rô nicas 9 :25 exp ressa, sem dúvida, a quantidade correta. Se cada carro era puxado por doèç cavalos, ainda sobravam 1.2 0 0 cavalos para as cid ad es fortificadas que Salom ão havia levantado e, tam bém , para outros serviços de Estado. 9. W h yte, Alexander. Bible Characters from the O ld and N ew Testaments. Kregel: 1990, p. 284. seu reinado,1 e estes capítulos registram vá­ rios estágios do projeto. 3 0 S o n h o de D avi E R e a l iz a d o 1 R eis 5:1 - 6 : 3 8 ; 7 :13-5 1 (2 C rô n icas 2-4) / / S . ( ão entrarei na tenda em que moro, I \ | 1. A A Q U I S I Ç Ã O D O S M A T E R IA IS (1 Rs 5:1-12; 2 C r 2:1-16) U m a v e z que havia previsto a construção do tem plo, Davi havia separado alguns dos despojos das batalhas especialm ente para o Senhor (1 C r 2 2 :1 4 ).'Essa riqueza totalizou 3 .4 0 0 toneladas de ouro, 3 4 .0 0 0 toneladas de prata e uma quantidade de bronze, fer­ ro, m adeira e pedras que nem foi medida. Davi entregou toda essa riqueza publicam en­ n e m s u b ire i a o le ito e m q u e r e p o u ­ te a Salom ão (1 C r 29:1-5). Acrescentou a s o , n ã o d a r e i s o n o a o s m e u s o lh o s , n e m r e p o u s o à s m in h a s p á lp e b r a s , a té q u e e u e n c o n t r e lu g a r p a ra o S e n h o r , m o ra d a p a ra 0 Poderoso de Jacó" (S l 132:3-5). Foi o que escreveu o rei D avi, pois seu desejo mais profundo era construir um templo para a gló­ ria do Senhor. "U m a coisa peço ao S e n h o r , e a buscarei: que eu possa m orar na Casa do S e n h o r todos os dias da m inha vida, para contem plar a b e leza do S e n h o r e m editar no seu tem plo" (S l 2 7 :4 ). O Senhor co nhecia o coração de Davi, mas deixou claro que tinha outros planos para o seu servo am ado (2 Sm 7). D avi esta­ va tão ocupado lutando guerras e expandin­ do as fronteiras do reino de Israel que não tinha tempo de supervisionar um projeto tão com plexo e trabalhoso. Deus havia escolhi­ do Salom ão, um "hom em sereno", para cons­ truir o templo, e seu pai o preparou para essa incum bência e o encorajou (1 C r 22 e 28). D esde o tempo de M oisés, o povo leva­ va suas ofertas e sacrifícios ao tabernáculo, mas não eram mais um povo peregrino e, sim, um a nação assentada em sua terra. O tabernáculo era uma construção frágil e por­ tátil e havia chegado a hora de Israel cons­ truir um tem plo para seu grande D eus. As nações a seu redor possuíam templos dedi­ cados a seus falsos deuses, de m odo que era mais do que certo o povo de Israei cons­ truir um templo m agnífico para a honra de Jeová dos Exércitos, o verdadeiro Deus vivo. Salom ão com eçou as obras no segundo mês 1 equivalente a abril/m aio em nosso calen ­ dário) do ano de 9 6 6 a.C ., o quarto ano de ela, ainda, seu tesouro pessoal e, depois, con­ vidou os líderes de Israel a contribuir tam­ bém (1 C r 29:1-10). O total final foi de 3 .6 6 8 toneladas de ouro e mais de 3 4 .0 0 0 tonela­ das de prata, sem falar nos milhares de tone­ ladas de bronze e de ferro bem com o de pedras precio sas. Foi um grande co m e ço para um grande projeto. Davi entregou, ainda, a Salom ão as plan­ tas do tem plo conform e as havia recebido do Senhor (1 C r 28). Tam bém reunira alguns artesãos e trabalhadores para seguir essas plantas e trabalhar na m adeira e nas pedras, a fim de preparar o m aterial para o tem plo (1 C r 22:1-4). Hirão, rei de Tiro, havia forne­ cido trabalhadores e materiais para a cons­ trução do palácio de D avi (2 Sm 5 :1 1 ), e D avi pediu sua ajuda para preparar a ma­ deira para o tem plo (1 C r 2 2 :4 ). Salom ão aproveitou essa am izade e pediu a H irão que fo rn e c e sse os trab a lh ad o res e a m adeira necessários para o templo. Hirão enviara suas saudações a Salom ão, na co roação do novo rei, e Salom ão retribuí­ ra com um agradecim ento oficial e com um pedido de ajuda para a grande em preitada em Jerusalém . Em sua mensagem , Salom ão indicou que sabia que Davi havia discutido esse projeto com H irão, de modo que não era a prim eira vez que essa questão lhe era apresentada. Davi havia falado a Hirão até mesm o sobre a aliança de Deus (2 Sm 7) e sobre com o Salom ão havia sido escolhido pelo Senhor para construir a casa de Deus. Salom ão havia deixado claro que não esta­ va construindo um m onum ento para a glória 410 1 R E I S 5: 1 - 6 : 3 8 ; 7:1 3-51 de seu pai, mas sim um tem plo para a honra do nom e do Senhor (v. 5; ver 8:16-20, 29, 33, 35, 41-44). Salom ão tam bém solicitou um artífice m estre que pudesse fazer entalhes delica­ dos e belos para as guarnições do templo (7 :1 3 , 14; 2 C r 2 :7 ), e o rei Hirão enviou-lhe o artífice Hirão (ou Hirão-Abi; 2 C r 2 :1 3 , 14). Ele era filho de um casam ento misto, pois seu pai era fenício e sua mãe era da tribo de N a fta li.2 M e ta lú rg ic o de g ran d e tale n to , m o delo u as duas co lu n a s da en trada do tem plo, bem com o as guarnições de metal do interior do tem plo. Assim com o quando M oisés construiu o tabernáculo , o Senhor reuniu os trabalhadores necessários e os ca­ pacitou a ex e cu ta r sua obra (Êx 3 1 :1 -1 1 ; 35:30-35). Na verdade, a carta de Salom ão foi um contrato com ercial, pois nela o rei ofereceu pagar pela m adeira fo rn ecen d o alim entos anualm ente à casa de H irão (5 :1 1 ) e tam­ bém pagar aos trabalhadores um a grande som a por seus serviços (2 C r 2 :1 0 ). Até o trabalho ser com pletado, a casa do rei Hirão receb eria cerca de quatro milhões e meio de litros de trigo e mais de quatrocentos mil litros do mais puro azeite de oliva. O s traba­ lhadores receberiam um pagam ento único de quatro milhões e m eio de litros de trigo, a m esm a quantia de cevada e mais de qua­ trocentos mil litros de vinho e azeite de oliva, sendo que tudo isso deveria ser dividido entre eles. Em sua resposta, H irão aceitou os term os do contrato e descreveu o proce­ dimento. Seus hom ens cortariam as árvores no Líbano, preparariam as toras e as leva­ riam pela costa até Jope (atual Jafa; 2 C r 2 :1 6 ) em navios ou am arradas em form a de balsas. Em Jope, os hom ens de Salom ão pe­ gariam a m adeira e a transportariam por ter­ ra até o local da construção, percorrendo uma distância de cerca de cinqüenta e seis quilôm etros.3 C om o qualquer pastor ou conselho de igreja pode com provar, programas de cons­ trução não são nada fáceis e fazem aflorar o que há de melhor ou de pior no povo de D eus. Porém , assim com o M oisés que su­ pervisio n ou a co nstrução do tabernáculo, Salom ão tinha m uita coisa a seu favor. O s dois hom ens sabiam que Deus os havia es­ colhido para dirigir o trabalho e que ele os capacitaria para que com pletassem sua in­ cu m b ê n cia com su cesso . O s dois líderes possuíam um a q u an tid ad e extra o rd in ária de riquezas e de materiais a sua disposição antes de co m eçar e os dois receberam plan­ tas da construção do próprio Senhor. Am ­ bos foram abençoados com outros líderes que contribuíram com generosidade a fim de apoiar o projeto. 2, O R EC R U TA M EN TO DE TR A BA LH A D O R ES (1 Rs 5:13-18; 9:15-23; 2 C r 2:2, 1 7 , 1 8 ; 8 :7 - 1 0 ) Seria preciso um a grande fo rça de trabalho para derrubar as árvores, aparar as toras e transportá-las até o local da co nstrução, a fim de serem usadas pelos construtores. O censo incom pleto de Davi havia revelado a existência de um m ilhão e trezentos mil ho­ mens fisicam ente aptos em Israel (2 Sm 24:9), e Salom ão recrutou apenas trinta mil para trabalhar no tem plo, cerca de 2,3 % do con­ tingente total de trabalhadores disponíveis. D ez mil desses hom ens passavam um mês a cada quadrim estre do ano ajudando os ho­ mens de Hirão a derrubar árvores no Líba­ no e, depois, passavam dois m eses em casa. Esses hom ens eram cidadãos israelitas e não eram tratados com o escravos (9 :2 2 ; ver Ls. 25:39-43). O texto não diz se tiveram uma participação no pagamento prom etido por Salom ão aos trabalhadores de H irão, mas é provável que não. Salom ão tam bém realizou um censo dos estrangeiros que se encontravam na terra e recrutou cento e cinqüenta mil desses ho­ mens para cortar e transportar as pedras para o tem plo (5:15-18; 9:15-23; 2 C r 2 :1 7 , 18 8 :7-10). D esse grupo, setenta mil levavam cargas, enquanto oitenta mil cortavam blo­ cos de calcário dos montes. H avia três mi capatazes responsáveis por esse grupo e tre­ zen to s su p erviso re s estrang eiros e, sobre todos eles, d uzen to s e cin q ü en ta oficiais israelitas. O s blocos de pedra deveriam ser cortados com grande precisão para que se encaixassem perfeitam ente quando fo sse- 1 RE I S 5: 1 - 6 : 3 8 ; 7:1 3-51 montados no local do tem plo (6 :7 ), tarefa 3ue exigia planejam ento cuidadoso e super.isão especializada. Apesar de o recrutam ento ter envolvido núm ero pequeno de cidadãos do sexo m asculino, os israelitas se ressentiram por Salom ão levar trinta mil dos seus hom ens para trabalhar no Líbano quatro meses por anos. Essa atitude de crítica contribuiu para fortalecer a revolta do povo contra Roboão e para desencadear a divisão do reino de­ pois da m orte de Salom ão (12:1-21). D e fato, em se tratando de trabalho e de impostos, Salom ão colocou um jugo pesado sobre o povo. Tanto israelitas quanto gentios ajudaram na construção do tem plo, fato significativo, pois o tem plo deveria ser um a "C a sa de O ra ção para todos os povos" (Is 5 6 :7 ; M t 2 1 :1 3 ; Lc 1 9 :4 6 ). D ep o is do cativeiro, os judeus que reconstruíram o tem plo conta­ ram com a ajuda do governo persa e, no tem plo de H erodes, havia um a área espe­ cial para gentios. Infelizm ente, alguns dos líderes religiosos ju d eu s transform aram o átrio dos gentios num m ercado para venda de sacrifícios e câm bio de dinheiro estran­ geiro para a m oeda local. A Igreja de hoje é o tem plo de D eus, com posta daqueles que crêem em Jesus Cristo, sejam eles judeus ou gentios (Ef 2:11-22). Esse templo está sendo "edificado" para a glória do Senhor, à me­ dida que "pedras que vivem " - tanto dos judeus quanto dos gentios - são acrescen­ tadas pelo Espírito Santo (1 Pe 2:5 ). O s trabalhadores de Hirão no Líbano não eram adoradores de Jeová, e os estrangei­ ros na terra de Israel não eram prosélitos à fé dos israelitas; no entanto, Deus usou es­ ses dois grupos de "forasteiros" para edificar seu templo sagrado. O Senhor "deseja que todos os hom ens sejam salvos" (1 Tm 2 :4 ), mas mesm o quando não crêem nele, Deus pode usá-los para cum prir seus propósitos. Usou N abucodonosor e os babilônios para disciplinar Israel, cham ou N abuco do no so r de "m eu servo" (Jr 2 5 :9 ) e usou C iro, rei da Pérsia, para libertar Israel e ajudar o povo a reconstruir o templo (Ed 1). Isso deve servir de estímulo a nossa oração e serviço , pois o 411 Senhor pode usar as pessoas às quais da­ mos menos valor para realizar sua vontade aqui na terra. Deus pode até mesm o traba­ lhar por interm édio de mem bros não-cristãos do governo, a fim de abrir portas a seu povo e de suprir suas necessidades. 3. A C O N S T R U Ç Ã O D O T E M P L O (1 Rs 6:1-38; 2 C r 3:1-17) Q u ais foram os dois pecados mais graves de Davi? A m aioria das pessoas responde­ ria: "seu adultério com Bate-Seba e o censo do po vo ", e sua resposta estaria co rreta. C o m o re su ltad o do p e cad o de co n ta r o povo, D avi com prou um a propriedade no m onte M o riá, on d e co nstru iu um altar e adorou ao Senhor (2 Sm 2 4 ). Davi casou-se com Bate-Seba, e Deus lhe deu um filho, o qual cham aram de Salom ão (2 Sm 12:24, 25). Agora, vem os Salom ão construindo um tem plo na propriedade de Davi no monte M oriá! D eus usou as conseqüências dos dois pecados mais sérios de Davi - uma proprie­ dade e um filho - para construir um templo! "M as onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5 :2 0 ). Não se trata de um incentivo ao pecado, pois Davi pagou caro pelas duas transgressões, mas é um estímu­ lo a servir a Deus depois que nos arrepen­ dem os e que confessam os nossos pecados. Satanás quer nos co n ven cer de que tudo está perdido, mas o D eus de toda a graça ainda está operando (1 Pe 5:10). A e stru tu ra e x te rn a (vv. 1-10, 3 6 -3 8 ; 2 C r 3 ). No m undo antigo, usava-se com o m edida o "cô vad o cu rto " ou cô vad o co ­ m um ", com cerca 46 centím etros, e o "cô va­ do longo", com quase 55 centím etros. Nas medidas do templo, foi em pregado o côvado com um (2 C r 3 :3 ), o que significa que a es­ trutura tinha aproximadamente 30 metros de com p rim ento, 10 m etros de largura e 15 metros de altura. Na frente do templo, havia um pórtico m edindo 10 metros de largura e 5 metros de profundidade, e o santuário era cercado por um átrio para os sacerdotes. Este era separado de um átrio externo por um m uro feito de blocos de pedra e de m adeira (v. 3 6 ; 2 C r 4 :9 ). Jerem ias 3 6 :1 0 cham a o átrio dos sacerdotes de "átrio superior", o 412 1 R E I S 5: 1 - 6 : 3 8 ; 7:1 3-51 que sugere que ficava num nível mais eleva­ do que o átrio externo. As portas do templo eram voltadas para o leste, com o tam bém o era a porta do tabernáculo. D iferentem ente do tabernáculo, o tem­ plo possuía três andares de câm aras anexas às suas paredes externas ao sul, a oeste e ao norte. Cad a câm ara tinha 2,5 metros de altura, e as paredes que sustentavam essas advertência sem elhante foi incluída na alian­ ça que Deus deu a M oisés em D euteronô­ mio 28 - 30, de modo que não se tratava de uma revelação nova para Salom ão. Foi a segunda vez que D eus falou com Salomão sobre obediência (ver 3:5ss) e voltaria a fa­ lar com o rei sobre esse assunto depois da consagração do templo (9:3-9). A estru tu ra interna (vv. 14-35). Q uando câm aras eram co n stru íd a s co m o três d e­ graus, sendo que as câm aras ficavam sobre suportes de m adeira apoiado s nesses de­ graus. A s câm aras do piso superior tinham a estrutura básica do ed ifício estava com ­ pleta, os trabalhadores concentraram -se na parte interna do templo, a mais importante, pois era o lugar onde os sacerdotes iriam ministrar ao Senhor. A s paredes internas eram apaineladas do piso ao teto com tábuas de cedro revestidas de ouro (v. 22) e entalha­ das com flores abertas, querubins e palmei­ ras, e o piso era reco berto de tábuas de cipreste (ou pinho), tam bém revestidas de ouro (vv. 15 e 3 0 ). Um par de portas be­ lam ente entalhadas separava o átrio dos sa­ cerdotes do Lugar Santo (vv. 31-35). Assim com o os querubins, essas portas eram feitas de m adeira de oliveira coberta com ouro, e até m esm o suas dobradiças eram de ouro (7 :5 0 ). Correntes de ouro passavam por den­ tro do Santo dos Santos (v. 21). Na extrem idade oeste situava-se o Lugar Santo; a 20 metros da porta ficava o maravi­ lhoso véu que dividia o santuário do Santo cerca de 3,5 metros de largura, as do segun­ do piso, 3 metros e as do piso inferior, 2,5 metros de largura. É provável que essas câ­ maras fossem usadas com o depósitos. No meio da parede Sul do templo, havia uma porta que levava às câm aras do piso inferior e um a escada em espiral para o segundo piso e o piso superior. Em cada piso, deve­ ria haver um co rre d o r estreito ligando as câm aras. Nas paredes do lado Norte e do lado Sul havia janelas estreitas acim a do ter­ ceiro piso que deixavam penetrar um pou­ co de c la rid a d e no s a n tu á rio (v. 4 ). O tabernáculo de M oisés não possuía janelas. N o entanto, a luz necessária para que os sacerdotes ministrassem no Santo Lugar era fo rn e c id a por d ez ca n d e lab ro s, cin co na parede Norte e cinco na parede Sul. É evi­ dente que uma estrutura tão grande e pesa­ da exigia uma fundação forte (v. 38). U m a m ensagem divina (vv. 11-13). Não sabem os quem transmitiu essa mensagem (provavelm ente um profeta) ou quanto dela foi com unicada, mas o Senhor enviou sua Palavra ao rei num a o casião em que este estava desanim ado com o trabalho de cons­ trução ou (o que é mais provável) quando com eçou a se orgulhar daquilo que realiza­ va. O Senhor lem brou Salom ão, com o deve nos lembrar a todo tempo, de que ele não se im pressiona com nosso trabalho se não vive rm o s em o b e d iê n cia a ele. O que o Senhor deseja é um coração obediente (Ef 6:6). Deus cumpriria suas promessas a Davi e Salom ão (2 Sm 7), não porque Salom ão houvesse construído o templo, mas porque havia o b edecido à Palavra de D e u s. U m a dos Santos (2 C r 3 :1 0 ). Essa divisão criava uma sala em form a de cubo, com 10 metros de lado (v. 2 0 ).4 No tabernáculo de Moisés, o Santo dos Santos também era um cubo, mas m edia apenas 5 metros de lado. Na ver­ dade, as dim ensões do tem plo eqüivaliam ao dobro das medidas do tabernáculo - 30 metros por 10, no caso do tem plo, e 15 me­ tros por 5, no caso do tabernáculo. As pare­ des do Santo dos Santos eram apaineladas com cedro e cobertas de ouro, e o piso era feito de tábuas de cipreste folheadas a ouro. A té mesm o os pregos usados no Santo do Santo eram folheados a ouro. Era no Santo dos Santos que ficaria a arca da aliança. A arca representava o trono de Deus, que se encontrava "entronizado acim a dos querubins" (Sl 8 0 :1 ). Era um a arca de ma­ deira com 1,15 metro de com prim ento, 68 centím etros de largura e 68 centím etros de 1 R E I S 5: 1 - 6 : 3 8 ; 7:1 3-51 altura. Pelo fato de as duas tábuas da lei es­ tarem guardas dentro da arca, tam bém era ch a m a d a de " a rc a do T e s te m u n h o " (Êx 2 5 :2 2 ). H avia sobre a arca um "propiciatório" e, em cada extrem idade, um querubim feito de m adeira de oliveira e revestido de ouro. No tem plo, os querubins tinha quase 5 me­ tros de altura, com asas m edindo quase cin­ co m etros de com prim ento, de m odo que, quando a arca se encontrava no Santo dos Santos, as quatro asas se estendiam de pa­ rede a parede (ver vv. 23-28 e Êx 25:10-22 e 37:1-9). U m a v e z por ano, o sumo sacerdo­ te tinha perm issão de entrar no Santo dos Santos, aspergir o sangue do sacrifício sobre o propiciatório e, assim, cobrir os pecados do povo por mais um ano (Lv 16). Hirão moldou duas colunas grandes de bronze, cada uma com quase 9 metros de altura e 6 metros de circu n ferên cia.5 Tinham ce rca de 10 ce n tím etro s de espessu ra e, portanto, eram ocas (Jr 5 2 :2 1 ); tam bém não sustentavam parte alguma do templo. No alto de cada coluna (2 Rs 25:1 7), ficava apoiado um capitel decorativo com 1,20 metro de altura. O s capitéis eram com postos de uma cúpula, pétalas de lótus e correntes entretecidas com romãs. Um a das colunas se cha­ mava Jaquim ("ele estabelece") e a outra se cham ava Boaz ("nele há força"), e as duas ficavam do lado de fora da entrada do Lugar Santo. Essas duas definições referem-se, sem dúvida alguma, a Deus, e as duas colunas davam testem unho ao povo de Israel que Deus havia estabelecido sua nação, e a fé de Israel em Jeová era sua fonte de força. Alguns vêem nessas palavras uma referên­ cia à dinastia de Davi, estabelecida por Deus (2 Sm 7) e perpetuada por ele. 4. A M O BÍLIA E OS UTEN SÍLIOS (1 Rs 7:13-51; 2 C r 4) DO TEM PLO A m obília e os utensílios do tem plo eram im portantes para os sacerdotes, pois sem esses itens não podiam realizar seu ministé­ rio nem agradar ao Senhor. O alta r d e b ro n z e (2 C r 4 :1 ). Q uem se aproxim ava do tem plo pelo lado leste, che­ gava à entrada do átrio interno dos sacerdo­ tes. Era para essa entrada que o povo levava 413 as ofertas e sacrifício s a serem ap resenta­ dos ao Senhor. Do lado direito, voltado para o norte, ficava o altar de bron ze com 10 m etros de cad a lado e 5 m etros de altura (2 C r 4 :1 ), onde o fogo era mantido aceso e os sacerdotes ofereciam os sacrifícios (ver 8 :6 4 ; 9 :2 5 ; ver Êx 27:1-8; 38:1-7). A altura do altar indica a existência de degraus que levavam a uma borda, em que os sacerdo­ tes poderiam ficar em pé e ministrar (ver Ez 43:13-17). Alguns estudiosos acreditam que o altar, em si, não tinha 5 metros de altura, mas que era mais baixo e ficava sobre uma pedra, que o elevava. O altar do tabernáculo tinha apenas 1,5 metro de altura. O m a r d e fu n d iç ã o (vv. 2 3-26; 2 C r 4:25, 10). À esquerda da entrada, do lado sul do átrio (v. 39), ficava o imenso "m ar de fun­ d ição " substituindo uma bacia m enor que ocupava esse lugar no átrio do tabernáculo (vv. 23-26; ver Êx 30:1 7-21; 3 8 :8 ). Era redon­ do, feito de bro nze e tinha um palm o de espessura, com im agens de lírios fundidas ao redor da borda, e uma parte interior, que poderia conter quase 66 mil litros de água.6 Esse tan q u e e n o rm e m e d ia 5 m etros de d iâm e tro e 2 ,5 m etro s de altu ra. Ficava apoiado sobre as costas de d o ze estátuas fundidas de bois, em conjuntos de três, sen­ do que cada conjunto encontrava-se volta­ do para um a direção diferente. É possível que esses doze bois representassem as doze tribos de Israel (ver 2 Rs 16:17). D e ve ria haver um sistem a para retirar pequenas quantidades de água a fim de que os sacerdotes pudessem lavar as mãos e os pés, mas esse sistema não é explicado no texto. Talvez houvesse torneiras na base do tanque. Se os sacerdotes não mantivessem as mãos e os pés limpos ao ministrar no tem­ plo, colocariam a própria vida em perigo (Êx 3 0 :2 0 ). Nas Escrituras, a água para beber é um retrato do Espírito de Deus (Jo 7:37-39), e n q u an to a água para lavar s im b o liz a a Palavra de Deus (SI 1 1 9 :9 ; Jo 1 5 :3 ; Ef 5:252 7 ). Ao trabalharem para o Senhor no tem­ plo, os sacerdotes se contam inavam e de­ viam ser purificad o s; ao servir ao Senhor, também podem os nos contam inar e preci­ samos da "lavagem com água pela palavra". 414 1 R E I S 5: 1 - 6 : 3 8 ; 7:1 3-51 Jesus retratou essa verd ad e em João 1 3, quando lavou os pés de seus discípulos. O s d e z su p o rte s e p ia s (vv. 2 7 -3 9; 2 C r 4 :6 ). Eram carros de metal belam ente deco­ rados, m edindo 2 metros de cada lado e 1,5 metro de altura, com alças nos quatro can­ tos. C ad a suporte podia sustentar uma pia com quase 900 litros de água. O s suportes ficavam no átrio dos sacerdotes, adjacentes ao santuário - cinco do lado Norte e cinco do lado Sul. Um a vez que os suportes eram apoiados em rodas, podiam ser facilm ente transportados. Eram usados para a lavagem e preparação dos sacrifícios (2 C r 4 :6 ) e, tal­ vez, para a lim peza geral do templo. A água suja era levada em bora e jogada fora num local apropriado, e as pias eram enchidas com água limpa do mar de fundição. Vale a pena observar que esses suportes não eram apenas práticos e úteis, mas tam­ bém muito bonitos, o que nos ensina que Deus vê a beleza da santidade e a santidade da beleza (Êx 2 8 :2 ; Sl 2 9 :2 ; 96:6, 9; 110:3). O altar d e o u ro d o in c e n so (6 :2 0 , 2 2 ; 7 :4 8 ). Esse altar era feito de cedro coberto com ouro, mas o texto não especifica suas dim ensões. Ficava diante do véu que sepa­ rava o Lugar Santo do Santo dos Santos e, nele, os sacerdotes queim avam incenso a ca d a m anhã e no final da tarde, quando faziam a m anutenção das lâmpadas (Êx 30:110; 37:25-29). Nas Escrituras, o incenso quei­ mando representa nossas orações subindo ao Senhor (Sl 141:1, 2; Ap 5 :8 ; Lc 1:8-10). Deus deu a M oisés a receita para a mistura de e s p e c ia r ia s u s a d a na a d o ra ç ã o no tabernáculo e no templo (Êx 30:34-38); essa mistura não deveria ser imitada nem em pre­ gada para qualquer outro propósito. O altar de ouro do incenso era usado som ente para esse fim e, no dia anual da expiação, o sumo sacerdote aplicava sangue a esse altar para limpá-lo e purificá-lo (Êx 3 0 :1 0 ). Sem mãos limpas e um co ração puro (ver Sl 24:3-5), não podem os nos aproxim ar do Senhor e esperar que ele ouça nossas orações e lhes responda (Sl 6 6 :1 8 ; Hb 10:19-25). O s ca stiçais e as m esas de ouro ( w . 48, 4 9 ; 2 C r 4 :7 , 8, 19, 2 0 ). No tabern ácu lo construído por M oisés, havia apenas uma mesa para os pães, mas o tem plo p o ssu a dez m esas de ouro, cinco alinhadas de caca lado do Lugar Santo. O tabernáculo tinha um castiçal de ouro com sete lâm padas, mas no tem plo havia dez castiçais de ouro no Lugar Santo, cinco na parede Norte e cinco na parede Sul. Eram esses castiçais que for­ neciam a luz necessária para o m inistério no Lugar Santo. O s u ten sílio s variados (vv. 40-50; 2 C r 4 :7 , 8, 11-22). A fim de realizar seu trabalho, os sacerdotes precisavam de vários utensí­ lios, inclusive de tesouras ("espevitadeiras"i para aparar os pavios das lâmpadas, bacias para aspergir água e sangue dos sacrifícios, louças, conchas, panelas grandes para cozi­ nhar a carne das ofertas pacíficas e pás para remover as cinzas. O templo era uma estrutura imponente, com mobília cara feita de ouro e bronze polido, mas o ministério diário seria impossível sem esses pequenos utensílios. É difícil calcular o custo dessa constru­ ção em m oeda atual. Não basta saber ape­ nas o valor dos metais preciosos hoje em dia, mas tam bém é preciso co n hecer o po­ der aq uisitivo das pesso as na é p o ca. Em seguida, deve-se calcu lar o que Salom ão pa­ gou pela mão-de-obra e pelos m ateriais e tentar expressar esses valores em equivalen­ tes contem porâneos. Ao considerar que as paredes e pisos internos eram revestidos de ouro, bem com o a mobília, as portas e os querubins, pode-se afirmar, com toda certe­ za, que o custo dessa construção foi exorbi­ tan te . N o en ta n to , to d a essa b e le z a foi destruída e a riqueza foi tom ada quando c e x é rcito b a b ilô n io ca p tu ro u Je ru salé m e destruiu o templo (ver Jr 52). Nabucodonosor saqueou o tem plo, deportou os cativos em etapas e, por fim , seus hom ens incendiaram a cidade e o santuário para conseguirem o ouro que havia nos edifícios. C o m o é triste ver que Salom ão, o ho­ mem que construiu o templo, foi também c homem que se casou com uma infinidade de m ulheres estrangeiras e que incentivou a idolatria em Israel, exatam ente o pecado que levou a nação a se afastar do Senhor, tra­ zendo sobre o povo o julgam ento abrasador de Deus. 1 RE I S 5: 1 - 6 : 3 8 ; 7 : 13 - 51 415 1. Depois do cativeiro na Babilônia, o rem anescente de Judá com eçou a reconstruir o tem plo no m esm o ano (Ed 3:8). 2. 2 Crô nicas 2 :1 4 identifica sua mãe com D ã e não com Naftali, mas ao nos lem brarm os de com o Salom ão estabeleceu os novos distritos e fronteiras, não se trata de um problem a. As tribos de D ã e Naftali eram unidas de modo a constituir o oitavo distrito de Naftali, supervisionado por Aim aás (1 Rs 4 :15 ). 3. Hirão também forneceu a Salom ão madeira para seu palácio. A o que parece, a conta de Salomão foi tão alta que ele não pôde pagar à vista, pois Hirão também lhe emprestou ouro. C o m o garantia, Salom ão deu a H irão vinte cidades na fronteira entre a G aliléia e a Fenícia, mas Hirão não ficou satisfeito com elas (1 Rs 9:10-14). Posteriorm ente, Salom ão conseguiu pagar sua dívida e reaver as cidades (2 C r 8:1 ). É evidente que todos esses pagam entos em alim ento e em ouro vieram do bolso do povo de Israel e, portanto, não é de se admirar que os israelitas protestassem e pedissem alívio tributário depois da morte de Salom ão (1 Rs 12:1-15). 4. O tem plo tinha 15 metros de altura, o que significa que havia um vão de 5 metros acim a do Santo dos Santos. O texto não diz 5. D e acordo com 2 Crô nicas 3:15 , as colunas tinham 35 côvados de altura, o que alguns consideram ser a som atória da altura 6. 1 Reis 7 :26 indica que o tanque com portava 2 .0 0 0 batos ou cerca de 4 4 .0 0 0 litros, enquanto 2 C rô nicas 4 :5 d iz 3.0 0 0 se ou com o esse espaço era usado. de ambas. batos ou cerca de 6 6 .0 0 0 litros. O valo r m aior pode se referir à capacid ade total do tanque, e o m enor, à quantia que costum ava ser m antida no m ar de fu ndição. A água era um bem precioso no O rien te e era preciso muito trabalho para encher esse tanque enorm e. 4 A C a sa de D eu s e o C o r a ç ã o de S a l o m ã o 1 Reis 8:1 - 9 : 9 , 2 5 - 2 8 (2 C rô n ic a s 5 - 7 ) // o n cidadãos, não podem os escapar V __ da história." Abraham Lincoln disse essas palavras no Congresso dos Estados U ni­ dos em 1 de dezem bro de 1862, mas o rei Salom ão poderia tê-las dito ao falar aos líde­ res de Israel quando consagrou o tem plo durante a Festa dos Tabernáculos no vigési­ mo quarto ano de seu reinado.1 Não importa onde o povo de D eus esteja neste mundo ou em que século, suas raízes encontram-se em Abraão, M oisés e Davi. O rei D avi é men­ cionado doze vezes nesta seção 2, e o nome de M oisés é citado três vezes. Durante sua o ração, Salom ão referiu-se à aliança de Deus com seu pai (2 Sm 7) e tam bém à aliança dada por D eus a M oisés e registrada em D euteronôm io 28 - 30. A tônica de sua ora­ ção era que Deus ouviria as orações dirigidas ao tem plo e perdoaria aqueles que houves­ sem pecado, e esse pedido tem com o base a promessa dada em Deuteronôm io 30:1-10. O s reis de Israel deveriam copiar de próprio punho o Livro de D eutero nô m io (D t 17:182 0 ), e as várias referências que Salom ão faz a D euteronôm io indicam que ele conhecia bem esse livro. Q u e tipo de "casa" Salom ão consagrou naquele dia? 1. U m a c a sa d e D e u s (1 Rs 8:1-11; 2 Cr 5:1-14) Salom ão reuniu em Jerusalém os líderes das tribos de Israel e todos os cidad ão s que pu­ dessem com p arecer, gente de norte a sul (v. 65), a fim de o ajudarem a consagrar a casa de Deus. O termo "casa" é usado vinte e seis vezes nesta passagem (trinta e sete vezes em 2 C r 5 - 7), pois esse edifício era, de fato, a "casa de D e u s" (vv. 10, 11, 17 etc.) Porém , o que fazia desse edifício tão dispendioso "a C asa do S e n h o r " ? Não era sim plesm ente o fato de Deus ter ordenado q u e fo sse e d ific a d a e d e te r e s c o lh id o Salom ão para fazê-lo, nem o fato de forneci­ do a planta da construção para D avi e pro\ ido a riqueza para realizá-la. Essas questões eram im portantes, porém o que tornava o templo "a C asa do Senhor" era a presença do Senhor Deus Jeová no santuário. A arca fo i levada pa ra d en tro d o tem­ p lo (vv. 1-9; 2 C r 5:1-9). No Santo dos San­ tos, Jeová encontrava-se "entronizado acima dos querubins" (Sl 8 0 :1 ). As nações pagãs tinham seus tem plos, altares, sacerdotes e sacrifícios, mas seus tem plos eram vazios e seus sacrifícios eram inúteis. O verdadeiro D eus vivo habitava no tem plo no monte Moriá! Por isso, o prim eiro ato de consagração de Salom ão foi providenciar que a arca da aliança fosse trazida da tenda que D avi ha­ via erguido para ela (2 Sm 6:1 7) e colocada no santuário interno do tem plo.3 O s uten­ sílios e a m obília do tabernáculo também foram levados para o tem plo e guardados la (2 C r 5 :5 ). A arca da aliança foi o único item da mobília original que continuou em ser\iço, pois nada poderia substituir o trono de Deus nem a lei de Deus que ficava dentro da arca. O fato de esse culto de consagra­ ção ter sido realizado durante a Festa dos Tabernáculos é significativo, pois a arca ha­ via co ndu zid o Israel durante a jo rn ad a do povo pelo deserto. O s sacerdotes colocaram a arca diante dos grandes querubins que H irão havia fei­ to, cujas asas se estendiam por toda a largu­ ra do Santo dos Santos (6:23-30). O s que­ rubins, no prim eiro propiciatório de ouro, eram voltados um para o outro, enquantc os novos querubins olhavam para o Lugar Santo, onde os sacerdotes ministravam. Os anjos de Deus não apenas "perscrutam " os m istérios da graça de D eus (1 Pe 1:12), mas tam bém contem plam o ministério do po\c de Deus e aprendem sobre essa graça (1 Cc 4 :9 ; 1 1 :1 0 ; Ef 3 :1 0 ; 1 Tm 5 :2 1 ). Em outros tem p o s, um a vasilh a com m aná e a vara de A rão ficavam diante da arca (Êx 1 6 :3 3 : 1 R E I S 8: 1 - 9 : 9 , 25 - 2 8 Nm 1 7 :1 0 ; Hb 9 :4 ), am bos com o lem bran­ ça da rebelião de Israel (Êx 16:1-3; Nm 16). Mas a nação estava recom eçando, e esses objetos não eram mais necessários. O im­ portante era que Israel o bedecesse à lei de Deus guardada dentro da arca. O s israelitas não eram mais um povo peregrino, mas as varas para carregar a arca foram m antidas com o lem brança da fidelidade de Deus para com eles durante aqueles quarenta anos de disciplina. A gló ria d e sce u (vv. 70, 71; 2 C r 5:7714). A arca era apenas um símbolo do trono e da presença de D eus; o im portante era a presença verdadeira do Senhor em sua casa. U m a v e z que Salo m ão e o povo haviam honrado a Deus e co lo cad o seu trono no Santo dos Santos, a glória de Deus desceu e encheu a casa do Senhor. A nuvem de gló­ ria havia conduzido Israel pelo deserto (Nm 9:15-23); mas, nessa ocasião, a glória veio habitar dentro do lindo tem plo construído por Salo m ão . Enquanto a glória e n ch ia a casa, os sacerdotes louvavam a D eus com suas v o ze s e instrum entos, pois o Senhor habita no meio dos louvores de seu povo (Sl 22 :3 ). A presença da glória de D eus era a mar­ ca distintiva de Israel com o nação (Êx 33:1223; Rm 9:4 ). O s pecados do povo levaram a glória de D eus a deixar o tabernáculo (1 Sm 4:19-22), mas agora ela estava de volta. A nação voltaria a pecar e a ser levada para a Babilônia, onde o profeta Ezequiel teria uma visão da glória de Deus deixando o templo lEz 8:1-4; 9 :3 ; 10:4, 18, 19; 1 1 :2 2 , 23). Po­ rém, D eus tam bém permitiria que Ezequiel visse a glória vo ltan do para o tem plo do Reino (43:1-5). A glória veio à terra na pes­ soa de Jesus Cristo (Jo 1:1 4 ; M t 1 7:1-7), mas os pecadores crucificaram "o Senhor da gló­ ria" (1 C o 2 :8 ). Q uand o Jesus voltou ao céu, a nuvem de glória o acom panhou (At 1 :9), e a casa de Deus ficou "deserta" (M t 2 3 :3 8 24 :2 ). D e sd e a vin d a do Espírito em Pentecostes (At 2), a glória de D eus habita em cada um dos filhos de D eus individualm en­ te (1 C o 6 :1 9 , 20) bem com o na igreja local 1 C o 3 :1 6 ) e na Igreja universal (Ef 2:19-22). 417 Até que Jesus venha para nos levar à glória eterna, nosso privilégio e responsabilidade é glorificar a Deus, enquanto servimos aqui na terra. C ada grupo de cristãos que adora ao Senhor em espírito e em verdade deve mani­ festar a glória do Senhor (1 Co 14:23-25). 2. U m a c a s a d e t e s t e m u n h o (1 Rs 8:12-21; 2 Cr 6:1-11) Deus não apenas habita, por sua graça, no meio de seu povo, com o tam bém lhes dá sua Palavra e cum pre fielm ente suas prom es­ sas. Esse é o tem a principal dessa parte, pois nela Salom ão glorificou Jeová recapitulando a história da construção do templo. O m isté rio d e D e u s (vv. 12, 13; 2 C r 6 :1, 2 ). O rei encontrava-se em pé sobre sua plataforma especial (2 C r 6 :1 3 ), voltado para o santuário. O s sacerdotes estavam junto ao altar (5 :1 2 ) e o povo se reunia em assem ­ bléia; todos haviam acabado de contem plar a m a n ife staçã o m a ravilh o sa da gló ria de D eus. No entanto, Salom ão co m eço u seu discurso dizendo: " O S e n h o r declarou que habitaria em trevas espessas" (v. 12). Por que falar de trevas quando haviam acabado de ver a glória radiante de Deus? Salom ão esta­ va se referindo às palavras do Senhor a M oi­ sés no monte Sinai: "Eis que virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quan­ do eu falar contigo e para que tam bém creiam sempre em ti" (Êx 19:9). D e fato, havia um a nuvem espessa de trevas sobre o mon­ te (Êx 1 9 :1 6 ; 2 0 :2 1 ; D t 4 :1 1 ; 5 :2 2 ), e M oisés entrou nessa escuridão com grande temor (H b 12:18-21). Salom ão estava ligando os aco n te cim e n to s do dia da co n sag ração à experiência passada de Israel no Sinai, pois o povo de Deus não deve ser separado de suas raízes na história. Deus é luz (1 Jo 1:5) e habita na luz (1 Tm 6 :1 6 ), mas não pode revelar-se inteiramente aos seres hum anos, pois "hom em nenhum verá a m inha face e viverá." (Êx 3 3 :2 0 ). A ênfase no Sinai era em ouvir Deus e não ver Deus, para que o povo de Israel não fosse tentado a co n feccion ar imagens de Deus e adorá-las. C o m o a Igreja de hoje, Israel de­ veria ser um povo da Palavra, ouvindo-a e lhe obedecendo. O rei Davi imaginou o Senhor 418 1 RE I S 8: 1 - 9 : 9 , 2 5 - 2 8 com densa escuridão sob seus pés e com um pavilhão de trevas sobre si (Sl 18 :9 , 11; ver 9 7 :2 ). D eus tem certo mistério que nos conduz à hum ildade, pois nem sem pre en­ tendem os o Senhor e seus cam inhos, mas o mistério tam bém nos incentiva a confiar nele e a descansar em sua Palavra. Salom ão não queria que o povo pensasse que Deus ha­ via se tornado seu "vizinh o " e que, portanto, podiam falar com ele com o bem entendes­ sem. "O S e n h o r , porém , está no seu santo tem plo; cale-se diante dele toda a terra" (H c Deus cum priu aquilo que falou (v. 15), e o que prom eteu a Davi realizou por intermé­ dio de Salom ão (v. 20 ). Porém , D eus fez tais coisas para a honra de seu nom e e não para a glória de Davi ou de Salom ão (vv. 16-201. O nom e de Deus é m encionado pelo me­ nos quatorze vezes no discurso e na oração de Salom ão. O rei teve o cuidado de dar toda a glória a D eus. Sem pre que o povo fosse adorar, deveria lembrar-se de que a existência do tem plo se devia à bondade e à fidelidade do Senhor. 2 : 2 0 ). Assim com o um servo se reportando a seu senhor, Salom ão anu n ciou que havia construído a casa a fim de servir de habita­ 3 . U m a casa de o r a ç ã o ( 1 R s 8 :2 2 - 5 3 ; 2 C r 6 :1 2 - 4 2 ) ção para D eus (v. 13). Isso nos lembra de que M oisés concluiu o trabalho de construir e de erguer o tabernáculo (Êx 4 0 :3 3 ); nosso Salvador terminou tudo o que o Pai o havia instruído a fazer (Jo 1 7 :4 ); e tanto João Ba­ tista quanto Paulo com pletaram sua carreira com sucesso (At 1 3 :2 5 ; 2 Tm 4 :7 ). Todos prestarem os contas de nossa vida e serviço quand o virm os o S en h o r (Rm 1 4 :1 0 -1 3 ). C abe a nós ser fiéis ao cham ado que Deus está nos dando para que term inem os bem. A b o n d a d e e fid e lid a d e d e D e u s (w . 152 1 ). Ao longo de mais de cinqüenta anos de ministério, tive o privilégio de ajudar vá­ rias igrejas locais a consagrar novos santuá­ rios e, em m inhas mensagens, sem pre tentei enfatizar a obra de Deus na história de seu povo. C o m o A . T. Pierson costum ava dizer: "a história hum ana é a história de D eus". É fácil para mem bros novos de um a igreja e para a nova geração não dar o devido valor ou nem se lem brar da história de sua igreja. O s sábados semanais, as festas anuais (Lv 23) e a presença do tem plo dariam testemunho ao povo de Israel, a seus jovens e velhos, de que Jeová era seu D eus. O verbo "lem brar" é usado pelo menos quatorze vezes no Li­ vro de Deuteronôm io, pois Deus não que­ ria que seu povo se esquecesse das lições do passado. Em sua bondade e graça, D eus fez uma aliança com Davi sobre sua fam ília e seu tro­ no (2 Sm 7) e incluiu nessa aliança a pro­ messa de um filho que construiria o templo. ajoelhou-se na plataforma especial próxim a ao altar enquanto fazia essa oração com suas mãos estendidas ao céu. O s israelitas não conheciam nossa postura tradicional de ora­ ção ("m ãos juntas e olhos fechado s"). Sua De acordo com 2 Crô nicas 6 :1 3 , Salomão postura era olhar para o alto, pela fé, volta­ dos para Deus no céu (ou para o tem plo), e erguer as m ãos abertas para m ostrar que eram pobres e que estavam à espera de uma resposta (vv. 38, 54; Êx 9 :2 9 , 33 ; Sl 6 3 :4 : 8 8 :9 ; 1 4 3 :6 ). Essa prática foi transportada para a Igreja prim itiva (1 Tm 2 :8 ). O termo "céu(s)" aparece pelo menos doze vezes nos versículos 22 a 54. Salom ão com eçou sua oração com lou­ vores e ações de graças ao Senhor, o Deus que havia feito e cum prido sua aliança. "Não há D eus com o tu" (v. 23 ; com parar com Êx 15:11 e D t 4 :3 9 ). Em seguida, referiu-se à a lia n ç a de D e u s co m D a v i, a lia n ç a que nom eava Salom ão herdeiro de Davi e cons­ trutor do templo (2 Sm 7). Porém , Salomão também se apropriou da prom essa da aliarv ça sobre a dinastia davídica, orando para que a linhagem real de D avi perm anecesse, con­ form e Deus havia prom etido. Sem dúvida, o cum prim ento m áxim o dessa prom essa deuse em Jesus C risto (Lc 1:26-33, 67-75; At 2 :2 9 , 30; Rm 1:3). Enquanto Salo m ão o rava, foi tom ado pelo contraste entre a grandeza de Deus e a insignificância do trabalho do rei na cons­ trução do templo. C om o era possível o Deus Todo-Poderoso, o D eus dos céus, habitar 1 R E I S 8: 1 - 9 : 9 , 2 5 - 2 8 num edifício feito por mãos humanas? Salo­ mão havia expressado essa m esm a verdade ao rei H irão antes de co m e çar a construir \2 C r 2 :6 ), e o profeta Isaías voltou a essa déia (Is 6 6 :1 ). Estêvão referiu-se a essas palavras em sua defesa diante do conselho judeu ("Sinéd rio "; At 7:47-50); Paulo enfa­ tizou essa verdade ao pregar para os gentios (A t 1 7 :2 4 ). Salom ão p erceb eu que a dis­ posição de D eus de habitar no meio do seu povo era, de todo, um ato da graça divina. O tem a central de sua oração encontrase nos versículos 28 a 3 0 : o Senhor manteria seus olhos sobre o tem plo e seus ouvidos atentos às orações do povo; responderia a eles quando orassem voltados para o tem ­ plo. Pediu que o Senhor perdoasse os peca­ dos do povo quando orassem (vv. 30, 34, 36, 39, 50) e que fizesse justiça "ao seu ser­ vo e ao seu povo de Israel" (v. 59). Salom ão conhecia as estipulações da aliança enco n­ tradas em D euteronôm io 28 a 29, e as cala­ m idad es que m e n cio n o u em sua o ração eram justam ente as disciplinas que o Senhor prometeu enviar se Israel desobedecesse à le i. P o ré m , S a lo m ã o tam b ém sa b ia que D euteronôm io 30 prom etia perdão e restau­ ração, se o povo de D eus se arrependesse e buscasse ao Senhor. Jonas voltou-se para a direção do tem plo, orou e D eus o perdoou (Jn 2 :4 ); D an iel orou pelo povo de D eus voltado em direção a Jerusalém (Dn 6 :1 0 ). "Porque a m inha casa será cham ada Casa de O ra ção para todos os povos" (Is 5 6 :7 ; M t 2 1 :1 3 ; M c 1 1 :1 7 ; Lc 19:46). Salom ão apresentou ao Senhor sete pe­ didos específicos: (1 ) Ju stiça na terra (vv. 31 , 3 2 ; 2 C r 6:22 , 2 3 ). Salom ão havia com eçado seu reinado se rvin d o de árb itro en tre duas m ulheres (3:16-28), mas era im possível ao rei tratar de cada caso de conflito pessoal na terra e, ao mesm o tempo, cum prir todos os seus deveres reais. Assim , foram nom eados ju ize s em Israel para arbitrar casos locais (Êx 18:13-27; 2 1 :5 , 6; 22:7-12; Dt 17:2-13; 2 5 :1 ); os sacer­ dotes tam bém estavam à dispo sição para ap licar a lei e tom ar decisõ es (1 C r 2 3 :4 ; 2 6 :2 9 ). Se um hom em era acusado de pe­ car contra o irmão, o acusado poderia jurar 419 no altar do templo, e o Senhor declararia se tal hom em era inocente ou não. C o m o esse veredicto era declarado não é explicado, mas é possível que o sacerdote usasse o Urim e o Tumim (Êx 2 8 :3 0 ; Lv 8 :8 ). A justiça na terra é essencial para que os cidadãos desfrutem a vida, a liberdade e a busca da felicidade. C o m o é triste ver que, em anos posteriores, foram os reis ím pios de Israel e de Judá que permitiram a injustiça na terra. A responsabilidade dos ju ize s era julgar, "condenando o perverso [...] e justificando ao justo", mas no tocante à nossa salvação, D eus justifica o perverso (Rm 4 :5 ) com base no sacrifício realizado por Cristo na cruz (Rm 5:6). D eus condenou todas as pessoas com o pecadoras (Rm 3 :2 3 ) de modo que pudesse demonstrar sua graça a toda a hum anidade, salvando os que crerem em seu Filho. (2 ) D e rro ta m ilita r (vv. 3 3 , 3 4 ; 2 C r 6 :2 4 , 2 5 ). Essa derrota é causad a pelo fato de o povo ter pecad o de algum m odo (Js 7), levando o Senhor a desagradar-se dele. Se Israel o b ed ecesse às estipulações da ali­ ança, haveria paz na terra, e D eus daria a seu povo v itó ria sobre qualquer inim igo que os atacasse. Porém , se Israel pecasse, Deus perm itiria que seus inimigos triunfassem so­ bre eles (Lv 26:6-8, 14-1 7, 25 , 33 , 36-39; Dt 2 8 :1 , 7, 15, 2 5 , 26 , 49-52). Se essa derrota levasse o povo ao arrep en d im en to , D eus os perdoaria e faria com que os prisio nei­ ros fossem libertados e m andados de volta para casa. (3 ) S eca na terra (vv. 3 5 , 3 6 ; 2 C r 6 :26 , 2 7 ). Israel tinha a escritura da terra em fun­ ção da aliança de Deus com A braão, mas só poderia tomar posse desse território e des­ frutar suas bênçãos ao obedecer às leis de D eus. U m a das disciplinas mais severas rela­ cionadas na aliança era a seca na terra (Lv 2 6 :1 9 ; D t 28:22-24, 48). O Senhor prom e­ teu a seu povo que en viaria a chu va nas devid as estaçõ e s (D t 1 1 :1 0 -1 4 ) so m en te se o honrassem . Um a vez qu e os israelitas dedicavam-se ao pastoreio e ao plantio de lavo u ras, as ch u v as eram ab so lu tam en te n ecessá rias para sua so b re v iv ê n cia . S em ­ pre que o povo obedecia ao Senhor, desfru­ tava colheitas abundantes, e seus rebanhos 420 1 R E I S 8: 1 - 9 : 9 , 2 5 - 2 8 perm aneciam saudáveis e se m ultiplicavam . 0 propósito da seca era co n d u zir o povo ao arrependim ento, e Deus prometeu per­ d o ar seu s p e ca d o s e e n v ia r a ch u v a (ver 1 Rs 18). (4 ) O u tras ca la m id a d es naturais (vv. 374 0 ; 2 C r 6 :2 8 -3 1 )? Deus advertiu na aliança que a desobediência de Israel traria a disci­ plina de D eus sobre eles. O Senhor enviaria fom e (Lv 2 6 :2 6 , 2 9 ; Dt 28:1 7, 48 ), ferrugem nas lavouras (Lv 2 6 :2 0 ; Dt 2 8 :1 8 , 22, 30, 39, 40), invasões de insetos (D t 2 8 :3 8 , 42) e di­ versas doenças e pragas (Lv 2 6 :1 6 , 2 5 ; Dt 2 8 :2 1 , 22, 27, 35, 59-61). Porém, se obede­ cessem a D eus, ele protegeria o povo e a terra dessas ca lam id ad es. M ais um a ve z, porém , Salom ão pediu ao Senhor que per­ doasse seu povo quando confessassem seus pecados e que restaurasse sua terra (ver 2 C r 7:13, 14). Em sua oração, Salom ão m encionou a terra com freqüência (vv. 34, 36, 37, 40 , 41, 46-48) pois ela fazia parte da herança que Israel havia recebido do Senhor. Q uand o o povo co m eço u a pecar, D eus os castigou na terra (ver o Livro de Juízes), e, quando persistiram em sua rebelião, ele permitiu que as nações inimigas os levassem para fora da terra. Em 722 a.C ., os assírios conquistaram Israel e assimilaram o povo de lá, e, em 606586 a.C ., os babilônios derrotaram Judá, in­ cendiaram Jerusalém e o tem plo e levaram m uitos do povo cativos para a Babilô nia. Q u an d o D eus castigou seu povo fora da terra, finalm ente os curou de sua idolatria. (5 ) O s e stra n g e iro s q u e viria m p a ra r o ra r (vv. 41-43; 2 C r 6:32 , 3 3 ). Não se trata, aqui, dos estrangeiros que viviam em Israel, que se assentaram na terra e que possuíam certos privilégios e responsabilidades sob a lei (Lv 1 6 :2 9 ; 1 7:10, 12; 1 8 :2 6 ; 1 9 :3 4 ; 2 0 :2 ; 2 5 :6 , 45 ). Antes, esse "estrangeiro" represen­ ta todos aqueles que viriam a Israel, pois haviam ouvido falar da grandeza do Senhor e de seu templo (trabalhadores gentios ha­ viam ajudado a construir o tem plo). Era res­ ponsabilidade de Israel ser uma "lu z" para as nações pagãs e lhes mostrar a glória do verdadeiro Deus vivo. Salom ão estava pen­ sando nisso quando pediu ao Senhor que ouvisse as orações de pessoas fora da alian­ ça e lhes respondesse, "a fim de que todos os povos da terra co n heçam o teu nome, para te tem erem " (v. 4 3 ; ver v. 60). Se essas pessoas com eçassem a orar ao Senhor Jeová, talvez viessem a crer nele e a adorá-lo. D esd e o início de Israel co m o nação, quando Deus cham ou Abraão e Sara para deixarem U r e irem a C anaã, D eus declarou seu desejo de que Israel fosse uma bênção para o m undo todo (G n 12:1-3). O s julga­ m entos de D eus contra o Faraó e o Egito foram um testemunho às nações (Êx 9:16), com o tam bém o foi a separação das águas do mar Verm elho no êxodo (Js 2:8-13). Q uan­ do D eu s seco u o Jordão para que Israel pudesse entrar na Terra Prom etida, revelou seu poder e glória às outras nações (Js 4:23, 2 4 ). Sua b ê n ção sobre Israel na terra de C anaã foi testem unho para as nações pagãs (D t 28:7-14), com o tam bém o foi a vitória de D avi sobre G o lias (1 Sm 1 7 :4 6 ). Deus nos ab en çoa para que possam os ser uma bênção, não para acum ularm os bênçãos e para nos vangloriarm os. O s israelitas oravam: "S eja D eus gracioso para c o n o s c o , e nos ab enço e, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que se co n heça na terra o teu cam inho e, em todas as nações, a tua salva­ çã o " (Sl 6 7 :1 , 2). A Igreja de hoje precisa fazer essa m esm a o ração e ter em mente esse mesm o propósito. (6) E xércitos na batalha (vv. 44 , 4 5 ; 2 C r 6 :3 4 , 3 5 ). Q u an d o D eus enviou seu povo para a batalha, foi uma "guerra santa" que só poderia ser vencida pela força e pela sa­ bedoria do Senhor. U sando trom betas de prata, os sacerdotes davam o toque cham an­ do para a batalha (2 C r 13:12-16; Nm 1 0 :'1 0 ). A ju d avam o e xé rcito a determ in ar a vontade de D eus (1 Sm 2 3 :1 , 2) e encora­ javam os homens a lutar para a glória do Se­ nhor e a confiar som ente nele (D t 20:1-4). M esm o no meio da batalha, os soldados po­ deriam olhar em direção ao templo e pedir a Deus que os ajudasse. Ao descrever o equ pamento do soldado cristão, Paulo incluiu a oração com o uma das partes essenciais para a vitória (Ef 6 :1 8 , 19). D e acordo com o es­ critor francês Voltaire: "Diz-se que Deus e s :; 1 RE I S 8: 1 - 9 : 9 , 2 5 - 2 8 sem pre do lado dos batalhões mais pode­ rosos", mas a verdade é que Deus está do lado daqueles que oram de acordo com sua vontade. (7 ) D erro ta e ca tive iro (vv. 46-53; 2 6:36-39). O pronom e "eles", no versículo 46, refere-se ao povo de Israel e, com o a histó-ia de Israel deixa claro, a nação estava pro­ pensa a pecar. Todos nós somos pecadores (Pv 2 0 :9 ; Rm 3 :2 3 ), mas a bênção especial 3e D eus sobre Israel e sua aliança com eles tornava a desobediência dos israelitas ainda mais séria. A o desobedecerem à lei de Deus e imitarem as transgressões de seus vizinhos id ólatras, estavam p e can d o co n scie n te e deliberadam ente. Na aliança, Deus advertiu que a rebelião persistente levaria ao cati\eiro (Lv 26:27-45; Dt 28:49-68). A s outras form as d e disciplina tiraram as b ên çã o s da terra, mas o cativeiro tirou o povo da sua pátria. O povo de D eus experim entou der­ rotas e o exílio. A Assíria conquistou Israel, o reino do Norte, em 722 a.C ., e os babi­ lônios conquistaram Judá, o reino do Sul, em 606-586 a .C ., e levaram o povo cativo para a Babilônia. Esse acontecim ento terrí­ vel foi previsto por Isaías (6 :1 1 , 12; 11:11, 12; 3 9 :6 ) e M iquéias (4 :1 0 ); Jerem ias reve­ lou que o cativeiro na Babilônia se estende­ ria por setenta anos (Jr 25:1-14; 29:11-14). Q u an d o o profeta D aniel entendeu o que Jerem ias escreveu, com eçou a orar para que Deus cum prisse sua prom essa (D t 30:1-10) e libertasse a nação (Dn 9:1 ss). Sem dúvida, outros judeus tementes a Deus ("o rem anes­ cente") também intercederam , e Deus tocou C iro, rei da Pérsia, para que permitisse que os ju d eu s voltassem a sua terra e reco ns­ truíssem seu tem plo (Ed 1; 2 C r 3 6 :2 2 , 23). Salom ão apresentou ao Senhor vários motivos pelos quais o Senhor deveria per­ doar seu povo quando se arrependessem e voltassem para ele. Afinal, era seu povo, que ele havia tomado para si e livrado da escra­ vidão no Egito (v. 51). Israel era seu povo especial, separado das outras nações para glorificar a D eus e realizar sua m issão na terra. M ais um a v e z , Salom ão revelou seu co n h ecim en to do Livro de D eutero nô m io (4 :2 0 ; 7 :6 ; 9:26-29; 32 :9 ). 421 Encerrou sua oração pedindo ao Senhor que conservasse seus olhos sobre o templo e sobre o povo que adorava ali e que manti­ vesse os ouvidos atentos para os pedidos C r daqueles que oravam no tem plo ou volta­ dos para sua d ireção (2 C r 6 :4 0 -4 2 ). Sua bênção no versículo 41 pode ser encontra­ da no Salm o 132:8-10 .5 Israel não era mais um povo peregrino, mas ainda precisavam do Senhor para guiá-los e ajudá-los (ver tam­ bém as palavras de M oisés em Nm 10 :3 5 , 36). G raças às vitórias de Davi no cam po de batalha, Deus cum priu suas promessas e deu descanso a Israel; mas com o disse A ndrew Bonar: "Perm aneçam os tão vigilantes depois da vitória quanto antes da batalha". Salom ão en cerro u a oração com um a sú plica para que o Senhor não o rejeitasse - o rei ungi­ do, filho de D avi e seu h erdeiro. O pedido "lembra-te das m isericórdias que usaste para com Davi, teu servo" (2 C r 6 :4 2 ), refere-se às promessas de Deus a Davi na aliança (2 Sm 7; Sl 89:19-29). Essas "fiéis m isericórd ias prom etidas a Davi" (Is 5 5 :3 ) incluem a vinda de Jesus C ris­ to, o Filho de D avi, para ser o Salvador do mundo (At 13:32-40). 4. U m a c a s a d e l o u v o r (1 Rs 8:54-61; 2 Cr 7:1-3) O rei havia ficado ajoelhado na plataforma especial próxim o ao altar com as mãos le­ vantadas a Deus, mas, nesse m om ento, co­ locou-se em pé a fim de dar ao povo uma bênção do Senhor. N orm alm ente, eram os sacerdo tes que ab ençoavam o povo (Nm 6:22-27), mas num a ocasião especial com o aquela, o rei poderia dar a bênção, com o Davi havia feito (2 Sm 6 :1 8 , 20 ). Salom ão abençoou todos os presentes e, por inter­ médio deles, a nação toda, e deu graças a Deus por suas grandes misericórdias. Ao recapitular a história nacional de Is­ rael, sua conclusão foi que as promessas de Deus jam ais haviam falhado nem sequer uma vez. O povo de D eus havia falhado com o Senhor em várias o casiõ es, mas ele havia sido fie l às su as p ro m e ssas. P ro m eteu a M oisés que daria descanso à nação, e ele o fez (Êx 3 3 :1 4 ). Pelo seu poder, capacitou 422 1 RE I S 8: 1 - 9 : 9 , 25 - 2 8 Josué a vencer as nações em C anaã e a to­ m ar posse da herança de Israel. M oisés dis­ se ao povo que, quando tivessem entrado no descanso prom etido, D eus lhes daria um santuário central onde poderiam oferecer seus sacrifícios e adorar a D eus (D t 12:114), e agora lhes havia provido esse templo. Em seu discurso de despedida aos líderes, Josu é e n fa tizo u essa m esm a v erd ad e (Js 2 3 :1 4 , 1 5, e ver 2 1 :45). M as Josué também os lembrou de que as advertências se cum ­ pririam , bem com o as prom essas, e os ad­ moestou a obedecer ao Senhor em todas as co isas. Salom ão enfatizou especialm ente uma prom essa que D eus deu aos patriarcas, a qual repetiu com fre q ü ên cia ao longo da história de Israel, de que o Senhor não dei­ xaria seu povo nem o abandonaria. D eus esteve com Abraão durante toda a vida do patriarca e prometeu estar com Isaque (G n 2 6 :3 , 24) e Jacó (G n 2 8 :1 5 ; 3 1 :3 ; 46:1-4). Ele renovou sua prom essa a M oisés (Êx 3 :1 2 ; 3 3 :1 4 ), e M oisés repetiu-a a Josué (D t 31:68, 1 7). O Senhor também fez essa prom essa diretam ente a Josué (Js 1 :5, 9; 3 :7 ; ver 6 :2 7 ). Prometeu a m esm a coisa a G id eão (Jz 6 :1 5 , 16), e o profeta Samuel repetiu essas pala­ vras à nação (1 Sm 1 2 :2 2 ). D avi encorajou Salom ão com essa prom essa, quando o en­ carreg ou da co n stru ção do tem plo (1 C r 2 8 :2 0 ). Posteriorm ente, o profeta Isaías repetiu essa prom essa e consolou o povo de Judá que passaria pelo cativeiro na Babilônia (Is 4 1 :1 0 , 17; 4 2 :1 6 ; 4 4 :2 1 ; 4 9 :1 4 -1 6 ). O Se­ nhor usou-a para anim ar Jerem ias (Jr 1 :8, 19; 2 0 :1 1 ), e, antes de subir aos céus ao en­ contro do Pai, Jesus também prometeu não deixar nem abandonar seus discípulos (M t 2 8 :1 9 , 20). A Igreja de hoje pode apropriarse dessas prom essas com o fizeram os ho­ mens e m ulheres tem entes a Deus há tanto tem po (H b 1 3 :5 ). V er tam bém os Salm os 2 7 :9 ; 3 7 :2 5 , 28; 3 8 :2 1 . Salom ão tam bém pediu a ajuda de D eus para si m esm o e para seu povo, a fim de que tivessem o d e se jo de o b e d e c e r aos mandam entos do Senhor (v. 58). O rei co­ nhecia o Livro de Deuteronôm io e é possível que tivesse em mente a passagem de 5:29: "Q uem dera que eles tivessem tal coração, que me tem essem e guardassem em todo o tem po todos os meus m andam entos, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos, para sem pre!" Salom ão adm oestou o povo a ter um co ração sincero e a seguir o Se­ nhor fielm ente (v. 61). Por fim , Salom ão pediu ao Senhor que se lem brasse da oração que ele havia profe­ rido com seus lábios e feito de co ração (w . 59, 60). As palavras que dizem os não pas­ sam de um sussurro e de um som e duram pouco mais que um m om ento. Trata-se de um incentivo a lem brarm os que nenhum a oração dirigida ao Senhor com fé jam ais é esquecida, pois D eus se lembra de nossas orações e responde a elas a seu tempo e de sua maneira (ver Ap 5 :8 e 8:3). A oração de Salom ão não foi egoísta. Seu desejo era que Israel fosse fiel ao Senhor, a fim de que to­ das as nações da Terra pudessem conhecer o Deus de Israel e crer nele. C om o é anima­ dor saber que a oração de um homem pode tocar e in flu en ciar o m undo inteiro! Deus ainda quer que sua casa seja cham ada de "C asa de O ra ção para todos os povos". O Senhor atendeu o pedido de Salomão enviando fogo do céu para consum ir os sacri­ fícios sobre o altar e, mais uma vez, a glória de Deus encheu o tem plo (2 C r 7:1-3). Deus en viou fogo do céu quand o o sacerdo te A rão abençoou o povo (Lv 9 :2 3 , 24) e tam­ bém quando o profeta Elias clam ou a Deus (1 Rs 18 :3 8 ). Nessa passagem, enviou fogo quando o rei Salom ão ofereceu sua oração e seus sacrifícios ao Senhor. O povo todc respondeu curvando-se por terra e louvan­ do ao Senhor. Imagine o som de milhares de pessoas gritando: "porque [ele] é borr porque a sua m isericórdia dura para sem­ pre" (2 C r 7:3 ). Deus havia aceitado a ora­ ção do rei e a adoração do povo! 5. U m a c a sa de c o m u n h ã o (1 Rs 8:62-66; 2 Cr 7:4-10) A assem bléia que se reuniu para a consa­ gração do tem plo veio desde o extrem o suí do reino ("o rio do Egito") até suas frontei­ ras mais ao norte ("a entrada de H am ate") e 1 R E I S 8: 1 - 9 : 9 , 2 5 - 2 8 formou "um a grande congregação" (v. 65; e ver 4 :2 1 ). M uitas dessas pessoas trouxe­ ram sacrifícios ao Senhor; o próprio Salomão ofereceu vinte e dois mil bois e cento e vin­ te mil ovelhas e cabras. O novo altar era pequeno dem ais para o ferecer tantos ani­ mais, de modo que, para agilizar o procedi­ mento, o rei santificou o átrio e o usou para os sacrifícios. Era co stu m e co m e m o ra r e se alegrar durante a sem ana separada para a Festa dos Tabernáculos. A festa celebrava o cuidado e a bondade de Deus com seu povo durante os anos que passaram no deserto, e o povo de Israel poderia olhar para trás e dar graças por isso. Porém , a partir d aqu ele dia, os israelitas tam bém olhariam para trás e dariam graças pelo novo templo, pelas prom es­ sas de D eus e pela presença da glória do Senhor. Assim com o os outros sacrifícios, a oferta p a cífica (Lv 3 e 7 :11-34) era ap re­ sentada ao Senhor, mas parte da carne era entregue ao sacerdote e parte ficava com o adorador. Ele e sua família poderiam desfru­ tar um banquete e até convidar amigos para com partilhar da refeição. O s israelitas cria­ vam anim ais para obter leite, lã e crias e não com iam carne com freqüência, de modo que o banquete de com unhão era uma ocasião muito especial. A consagração durou uma semana, a festa estendeu-se por mais uma se­ mana, e o evento encerrou com um dia de assem bléia solene (2 C r 7:8, 9). É bem pro­ vável que os sacrifícios tenham sido ofere­ cidos dia após dia, pois a carne das ofertas pacíficas só poderia ser consum ida durante um ou dois dias, e todos os restos deviam 423 (1 C o 1 1:20-22, 33, 34 ; Jd 12). O s membros das várias congregações em Jerusalém cos­ tum avam co m e r juntos (A t 2 :4 2 -4 7 ; 4 :3 5 ; 6 :1 ), e a hospitalidade é uma virtude enco­ rajada com fre q ü ê n cia nas ep ístolas (Rm 1 2 :1 3 ; 1 6 :2 3 ; 1 Tm 3 :2 ; 5 :1 0 ; T t 1 :8 ; 1 Pe 4 :9 ; 3 Jo 8). "Portanto, quer com ais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória d e 'D e u s" (1 C o 10:31). A s ofertas pacíficas mostram que Jesus Cristo é nossa paz (Ef 2 :1 4 ) e aquele que nos concedeu a dádiva de sua paz (Jo 14:27). Por causa de seu sacrifício na cru z, "temos paz com D eus" (Rm 5 :1 ) e, ao nos entregar­ mos a ele, podem os ter "a paz de D eus" em nosso co ração (Fp 4:6-9). C o m o povo de D e u s, nos "alim en tam o s" de Jesus C risto quando lemos a Palavra e a tornam os parte de nossa vida obedecendo ao que ela orde­ na. Jesus Cristo é o centro de nossa com u­ nhão, assim com o as oferta pacíficas foram o centro da com unhão na consagração do tem plo. Deus não vive nas construções que fa­ zem o s com mãos hum anas, mas, quando nos reunim os nesses locais consagrados a ele, devem os enfatizar a o ração , a com u­ nhão, a alegria e o testem unho. Essas reu­ niões são ocasiões tanto de alegria quanto de solenidade. "Servi ao S e n h o r com temor e alegrai-vos nele co m trem o r" (Sl 2 :1 1 ). Q uan d o o Espírito Santo está no controle, os encontros são caracterizados pelo rego­ zijo e, tam bém , pela reverência. 6. U m a c a s a de r e s p o n s a b ilid a d e (1 Rs 9:1-9; 2 Cr 7:11-22) ser queim ados no terceiro dia (Lv 19:5-8). A p esar de algum as igrejas exagerarem A presença da glória de D eus no tem plo e o fogo que desceu do céu para consum ir na com ida - "o santuário transformou-se em refeitório" não há nada de errado em o povo de Deus repartir refeições. Em várias ocasiões, Jesus usou o contexto da refeição para ensinar a Palavra e, de tempos em tem­ pos, a Igreja primitiva realizava o que cha­ mavam de agape ou "banquete de am or", no qual todos contribuíam com os alim en­ tos, constituindo, talvez, a única refeição mais co m p leta que alguns deles faziam na se­ mana, especialm ente no caso dos escravos os sacrifícios garantiram a Salom ão que sua o ração havia sido o uvida e aceita pelo Se­ nhor. Porém , não haveria sem pre o m esm o esplendor de glória no tem plo, nem fogo do céu para consum ir todos os sacrifício s, de modo que o Senhor proferiu sua Pala­ vra a Salom ão, um a vez que "a palavra do S en h o r... p e rm an e ce ete rn am e n te " (1 Pe 1 :2 5 ). P ro m e ssa (vv. 1-3; 2 C r 7 :1 1 -1 6 ). Com o havia feito em G ib e ã o (3 :4 , 5), o Senhor 424 1 R E I S 8: 1 - 9 : 9 , 25 - 2 8 apareceu a Salom ão e deu-lhe a Palavra que ele precisava ouvir. G arantiu ao rei que ou­ vira sua oração e que responderia a ela. Seus olhos estariam sobre a casa que Salom ão havia construído e consagrado, e seus ouvi­ dos estariam atentos para as orações de seu povo. O povo e seu rei haviam consagrado o templo ao Senhor, agora o Senhor santifi­ cada o templo e o tom aria para si. O nome de Deus estava no tem plo, seus olhos esta­ vam s o b re e le e se u s o u v id o s estavam atentos. Sem dúvida, aquela era a casa do Senhor. O texto em 2 C rônicas 7:11-16 m encio­ na a lg u n s dos p e d id o s e s p e c ífic o s que Salom ão havia feito em sua oração, e o Se­ nhor prometeu responder a todos esses pe­ didos. Estava disposto a perdoar seu povo quand o p e cassem , caso se hu m ilh assem , orassem , buscassem ao Senhor e deixassem seus pecad o s. D eus não fez alian ça com nenhum a outra nação além de Israel, mas uma vez que os cristãos de hoje são o povo de D e u s e que são ch a m a d o s pelo seu nom e, podem apropriar-se dessa promessa. O b e d iê n cia (vv. 4, 5 ; 2 C r 7 :1 7 , 18). O Senhor levou o assunto para um nível extre­ mamente pessoal e falou de modo específi­ co a Salo m ão, referindo-se à alian ça que Deus havia feito com Davi, pai de Salomão (2 Sm 7). O Senhor reafirm ou as estipula­ ções dessa aliança e garantiu a Salom ão que um rei da linhagem de Davi ocuparia o tro­ no, enquanto seus descendentes o bedeces­ sem à lei e andassem no tem or do Senhor. Salom ão não poderia esperar as bênçãos de Deus sim plesm ente porque Davi era seu pai e por ele ter obedecido a Davi e construído o tem plo. Era preciso que Salom ão fosse, com o seu pai, um homem segundo o cora­ ção de D eus (1 Sm 1 3 :1 4 ) e um hom em íntegro (Sl 7 8 :7 2 ). E interessante que o Se­ nhor não disse coisa alguma sobre o adulté­ rio, a dissim ulação e a trama de Davi para m atar U rias. Tratavam -se de transgressões graves pelas quais D avi havia pago muito 1. caro, mas Davi as havia confessado, e o Se­ nhor as havia perdoado. A d v e rtê n c ia (vv. 6-9; 2 C r 7:19-22). Deus havia dado ao povo de Israel sua Palavra e esperava que obedecessem e que o rei pra­ ticasse a lei, servindo de exem plo a outros. É triste que, depois da m orte de Salom ão, a nação tenha se dividid o, e os dois reinos entraram num declínio gradual até que, por fim , am bos foram destru íd o s. C o m essas palavras, o Senhor estava apenas recapitulando as estipulações da aliança apresenta­ das em Levítico 26 e D euteronô m io 28 a 30, uma aliança que o povo judeu conhecia bem . O reino de Judá adorou ídolos, deso­ bedeceu ao Senhor e cham ou sobre si a sua disciplina. O exército babilônio destruiu a terra, arrasou Jerusalém , saqueou e incen­ diou o tem plo que Salom ão havia consagra­ do. Em v e z de traze r b ênção s para todas as nações da terra, a cidade e o templo ar­ ru inad o s seriam m otivo de esp anto p a ra v isita n te s de o u tras n a çõ e s e o b je to de rid icu larização . Antes de julgarm os a linhagem real de D avi, considerem os quantas igrejas locais, escolas, instituições denom inacionais e ou­ tros m inistérios cristãos abandonaram a fé e deixaram de trazer glória ao Senhor. Pode­ mos declarar francam ente: "Icab ô - foi-se a glória", com respeito a várias construções nas quais Cristo costum ava ser honrado e das quais o evangelho de Jesus Cristo era transmitido para um mundo perdido. D epois da m orte de Salom ão em 931 a .C ., a dinastia de Davi iria estender-se até o reinado de Z edequias (597-586 a .C .), pois Deus cum priria sua prom essa a Davi. Porém, nos dias de hoje, o único judeu vivo e qua­ lificado para assentar-se no trono de Davi e q u e p o d e c o m p ro v a r su as q u a lific a ç õ e s através de sua genealogia é Jesus de N azaré Filho de D avi, Filho de D eus. Um dia, ele reinará do trono de Davi e "a terra se enche­ rá do co n h ecim en to da glória do S e n h c x . com o as águas cobrem o m ar" (H c 2:141. A seqüência de acontecim entos conform e registrados em 1 Reis parece ser a seguinte. Em primeiro lugar, a estrutura do templo foi construída em sete anos (6:1-38). Em seguida, os palácios reais foram construídos em treze anos (7:1-12), num tota 1 RE I S 8: 1 - 9 : 9 , 25 - 2 8 425 de vinte anos para todas essas construções (9:1 0). Ao longo desse período, Hirão estava confeccionando a mobília e os utensílios do tem plo e supervisionando o trabalho dentro do edifício (7:13-51). U m a vez que toda a obra foi concluída, Salomão consagrou o templo (8:1-66), sendo que depois disso Deus apareceu a Salom ão pela segunda vez (9:1-9). As palavras do Senhor a Salom ão em 9:3 [2 C r 7:12] não são tão significativas, caso se considere que a consagração ocorreu treze anos antes. O texto m enciona a cidade de Davi (v. 1), a escolha de Davi por Deus (v. 16) e, especialm ente, a aüança de Deus com Davi (vv. 15-18, 20, 24-26). O Senhor cum priu sua promessa e deu ao rei um filho, o qual construiu o templo que Davi desejava edificar (v. 20). Q uand o o povo saiu da cerim ônia de consagração e do banquete que se seguiu, regozijou-se com as coisas boas "que o S e n h o r fizera a D avi" (v. 66). A primeira tentativa de Davi de levar a arca para Jerusalém foi um fracasso total, mas sua segunda tentativa foi bem-sucedida. Salomão seguiu o exem plo de seu pai ao oferecer vários sacrifícios, enquanto os sacerdotes levavam a arca da cidade de Davi para o tem plo. Porém, diferentemente do pai, Saiom ão não dançou na procissão sagrada. A m ó s 4 d escreve co m o D eus enviou vários d esse s julgam entos so b re o reino d e ísraeJ. De modo geral, os estudiosos acreditam que o Salmo 123 foi redigido para ser usado quando a arca fosse levada para o tem plo e este fosse consagrado. O peticionário pedia a Deus que abençoasse o rei (Salom ão) por am or a Davi (vv. 1, 10), ou seja, em função da aliança que Deus havia feito com Davi em 2 Samuel 7. Davi desejava construir o tem plo (vv. 2-9), mas Deus escolheu seu filho para levar a cabo essa incum bência. O Senhor também prometeu m anter os descendentes de Davi no trono (vv. 11, 12, 17) e derrotar os inimigos de Israel (v. 18). (2 C rô n ic a s 8:1 - 9 : 2 8 ) co m p rim e n to , 25 m etros de largura e 15 metros de altura (as medidas do templo em metros eram 30 x 10 x 15). O edifício todo incluía dois pórticos ou colunatas, a residên­ cia do próprio Salom ão, uma residência pa­ ra sua esposa egípcia2 (e, talvez, para parte de seu harém ), uma sala do trono ("Sala do Julgam ento") e um salão espaçoso para re­ cepções - todos integrados por grande pá­ tio separado por paredes sem elhantes às do maioria das pessoas se lembra do rei Salom ão com o o homem que construiu o templo de D eus em Jerusalém , mas durante seu reinado, ele se ocupou com várias atividades diferentes. Estes capítulos regis­ tram uma série de vinhetas que descrevem algum as das coisas que Salom ão fez para expandir seu reino e melhorar sua vida. Po­ rém , essas ativid ad es tam b ém revelam o caráter de Salom ão e mostram algumas de suas áreas de fraqueza que, posteriorm ente, renderam-lhe amarga colheita. Aos poucos, Salom ão passou a mostrar mais interesse nos preços do que nos valores, na reputação do que no caráter, no esplendor do reino do que no bem do povo e na glória do Senhor. tem plo. N ão tem o s um a d e sc riç ã o d e talh ad a para usar com o base, mas tudo indica que, ao se aproxim ar da construção, chegava-se a um pórtico m enor que servia com o entra­ da principal (v. 7). Este levava a um pórtico m aior ou co lun ata com colunas de cedro, que provavelm ente servia de sala de espera. D esse local, passava-se ao Salão das Colu­ nas, um grande salão de reuniões com ses­ senta colunas de cedro (vv. 2, 3), sendo que quarenta e cin co delas sustentavam um teto com vigas de cedro que constituía o piso do segunda andar. H avia quinze colunas em lados opostos, junto às paredes laterais, à direita e à esquerda da entrada e quinze no centro da sala, todas sustentando vigas de cedro. O s outros quinze pilares foram colo­ 5 O R e in o , o P o d e r e a G l ó r ia 1 Reis 7 : 1 - 1 2 ; 9 : 1 0 - 1 0 : 2 9 A 1 . S a l o m ã o c o n s t r ó i u m p a lá c i o (1 Rs 7:1-12) O trabalho de construção da estrutura do tem plo levou sete anos para ser com p leta­ d o ,1 m as aind a foram n e c e s sá rio s v á rio s anos para H irão e sua equipe decorarem o interior e fazerem a m obília e os utensílios. Enquanto estavam ocupados com o tem plo, Salom ão planejou e construiu um palácio para si, um a co m b in ação de residência pes­ soal, palácio do governo, arm aria e centro o ficial de re cep çõ es. "Em preendi grandes o bras", escreveu o rei, "edifiquei para mim casas" (Ec 2 :4 ). Ao ler essa descrição do projeto, tem-se a im pressão de que envolveu várias estrutu­ ras isoladas, mas 1 Reis 9 :1 0 refere-se a "duas casas [construções]", o templo e a "casa do rei [palácio]". O palácio tinha o dobro do tam anho do tem plo e provavelm ente dois ou até três andares. M edia 50 m etros de ca d o s e strate g icam e n te em lugares mais necessários, especialm ente próxim o à entra­ da (ver v. 6). Em função desse grande núm ero de co­ lunas de cedro do Líbano, essa construção era co nh ecida com o "C asa do Bosque do Líbano". Esse salão de recepções era, sem dúvida, usado para eventos oficiais do go­ verno. Salom ão ocupava esse espaço para e xibir trezentos escudos grandes e duzen­ tos m enores, todos feitos de madeira reves­ tida de ouro (1 0 :1 6 , 17). O revestimento de cada um dos escudos m aiores pesava qua­ se 4 quilos, num total de 750 quilos de ouro: o revestim ento de ca d a um dos escud os m enores pesava pouco menos de 2 quilos, num total de mais de 500 quilos. Conside­ rando os quinhentos escudos, o revestimen­ to totalizava aproxim adam ente 1.300 quilos de ouro. Um a vez que o ouro era m aleá\e dem ais para o fe re ce r p ro teção , esses es­ cudos não eram usados na batalha, mas sirr 1 REIS 7: 1- 12; 9 : 1 0 - 1 0 : 2 9 para im pressionar os visitantes. Esses arte­ fatos só eram tirados da "C asa do Bosque" quando exibidos em o casiõ es cerim oniais especiais. Saindo desse salão, passava-se para a sala do trono ou "S ala do Ju lg am en to ", onde Salomão reunia-se com seus oficiais, arbitra­ va as disputas a ele encam inhadas e julgava questões relacionadas ao governo. Era nes­ sa sala que ficava seu trono m agnífico des­ crito em 10:18-20. O s aposentos pessoais de Salom ão e, supostam ente, os aposentos da rainha, ficavam atrás dessa sala do trono (7:7, 8). É evidente que havia outras entra­ das para as várias partes do edifício, todas elas protegidas pela guarda especial do rei, e Salom ão possuía um saguão particular que levava de sua residência para o tem plo. Per­ to do templo do Senhor, o "palácio" de Salo­ mão devia ser uma construção im ponente. 2. S a l o m ã o d e c e p c io n a u m a m ig o (1 Rs 9:10-14; 2 C r 8:1, 2) Davi e Hirão de Tiro haviam sido bons am i­ gos, e D avi havia lhe co ntad o sobre seus planos de construir um tem plo para o Se­ nhor (5:1-3), planos estes que o Senhor não permitiu que Davi levasse a cabo. D epois da morte de D avi, Salom ão tornou-se amigo de Hirão (Pv 2 7 :1 0 ) e o contratou para aju­ dar a construir o tem plo (5:1-12). H irão en­ viaria m adeira e trabalhadores, se Salomão pagasse a mão-de-obra e fornecesse alim en­ to em troca do material. Salom ão também recrutou hom ens israelitas para cortar pedras (5:13-18) e os estrangeiros que viviam na terra para carregar cargas (9 :1 5 , 20-23; 2 C r 8:7-10). Porém , 1 Reis 9:11 e 14 inform a que H i­ rão tam bém forneceu a Salom ão 120 talen­ tos de ouro (cerca que 4 toneladas e meia)! O rei Salom ão tinha pelo menos 3 .4 0 0 tone­ ladas de ouro à sua d isp o sição antes de com eçar a construir o templo (1 C r 22:1416), e o fato de ter em prestado ouro de H i­ rão é motivo de surpresa. O ouro, a prata e os outros materiais para o tem plo inventa­ riados em 1 C rô nicas 22 , 28 - 29 eram todos consagrados ao Senhor, de modo que não poderiam ser usados para qu alqu er outra 427 construção. Isso significa que Salom ão pre­ cisou de ouro para o conjunto de constru­ ções do "p alácio ", talvez para os escudos de ouro, de modo que o tomou em presta­ do de H irão, dando-lhe vinte cidades com o garantia. Essas cid ad es ficavam em lo cali­ zação conveniente, na fronteira da Fenícia com a G alilé ia.3 Além do fato de que Salom ão não deve­ ria ter sido tão extravagante na construção de seu "p alácio ", tam bém não deveria ter entregado vinte cidades sim plesm ente para pagar suas dívidas. Toda a terra pertencia ao Senhor e não poderia ser transferida de dono em caráter perm anente (Lv 2 5 :2 3 ). Um dos propósitos do ano de jubileu (Lv 25:8ss) era garantir que a terra que havia sido ven­ dida voltaria aos proprietários originais, para que nenhum clã ou tribo fosse privado de sua herança. Porém , Salom ão estava co m e­ çando a se co m p ortar co m o seu sogro egíp­ cio , que havia e xte rm in ad o a p o p u la ção toda de um a cid ad e canan éia e dado a ci­ dade à filha com o presente de casam ento (v. 16). No entanto, H irao não gostou das c i­ dad es que S alo m ã o lhe deu! D e p o is de examiná-las, cham ou-as de "C a b u l", termo que tem um som parecido com a palavra h eb raica que sig n ifica "im p restável". Não considerou a garantia à altura do investim en­ to que havia feito. M as, ao que parece, a história teve um final feliz. Salom ão deve ter pago o que havia tomado em prestado, pois H irão lhe devolveu as cidades, e Salom ão as reconstruiu para os israelitas (2 C r 8 :1 , 2). Será que Salom ão pagou esse em préstim o com os 120 talentos de ouro que recebeu com o presente da rainha de Sabá (10:10)? N esse episódio, Salom ão mostra aspec­ tos perturbadores de seu caráter, inclusive o custo extravagante do palácio que o le­ vou a fazer um em préstim o e, depois, o fato de dar a um am igo um a garantia de pouco valor, a qual, na verdade, nem lhe perten­ cia para que entregasse a outro. Em term os hum anos, se não fosse por H irão , o templo não teria sido construído, e não era desse modo que Salom ão deveria tratar um am i­ go generoso. 428 1 RE I S 7: 1-1 2; 9 : 1 0 - 1 0 : 2 9 3 . S a l o m ã o f o r t a l e c e se u r e i n o (1 Rs 9:15-24; 2 C r 8:1-11) Q u an d o o Senhor apareceu a Salom ão em G ib e ão , prom eteu dar-lhe tam anhas rique­ zas e honras que não haveria nenhum ou­ tro rei com o ele em todos os dias de sua vid a (3 :1 3 ). O Senhor cum priu essa prom es­ sa: tornou céleb re o nom e de Salom ão e levou suas realizaçõ es a serem adm iradas por pessoas de outras nações. D avi, o pai de Salom ão, havia conquistado território ini­ migo e expandido o reino, mas não havia procurado construir um a rede de relações (2 Sm 5:9) e à qual Salom ão deu continuida­ de (9 :2 4 ; 1 1 :27). O rei e sua fam ília, o povo e a cidade, bem com o a riqueza no templo e no palácio precisavam ser protegidos. A fim de realizar esse trabalho, o rei recru­ tou os estrangeiros em Israel, os descenden­ tes dos ca n a n eu s que haviam governado sobre aquela terra no passado (v. 2 0 ; Gn 15:18-21; Js 3 :1 0 ). Na construção do tem­ plo, Salom ão havia recrutado, tam b ém , a ajuda tem porária de hom ens israelitas (5 :1 3 , 14; 9 :1 5 , 22, 23), mas nenhum trabalhador israelita era tratado com o escravo. Nesses projetos de co nstrução, os israelitas foram designados supervisores e oficiais. internacionais que tornaria Israel poderoso entre as nações. D avi era um general enér­ gico q u e não tem ia inim igo algum , mas Salom ão era um diplom ata astuto e um po­ lítico que não perdia o portunidade algum a de aum entar sua riq ueza e poder. Esta se­ ção apresenta um a lista de realizaçõ es de Salom ão tanto em nível dom éstico quanto Todos os anos, os hom ens israelitas adultos q ue se e n co n tra v am em Israel d e veriam com p arecer a Jerusalém para celebrar a Pás­ in tern acio n al. Não co stum am os pensar em Salom ão com o um militar, mas esta cam panha espe­ cífica encontra-se registrada nas Escrituras (2 C r 8 :3 ). Ham ate era um a cidade ao norte de Dam asco, na fronteira setentrional mais extrem a do reino de Israel (Nm 3 4 :8 ; Js 13:5), e até mesmo pessoas dessa região com pa­ receram à co n sag ração do tem plo (8 :6 5 ; 2 C r 7 :8 ). A cid ad e situava-se num a rota co m ercial de grande im portância, da qual Salom ão poderia co letar taxas e im postos alfandegários e tam bém se proteger de in­ vasões. Além de Ham ate, Salom ão fortificou Hazor, M egido e G e z e r e tranformou-as em "cidades-celeiro", ou seja, lugares onde eram arm azen ad o s carro s, cavalo s, arm as e ali­ mentos para as tropas israelitas. Salom ão sabia que, se não protegesse as regiões mais remotas do reino, poderia acabar se vendo em conflitos com seus vizinhos, apesar dos tratados que tinha com eles. Salom ão tam bém fortificou e aum entou "M ilo ", a área de terraços ad ja c e n te aos muros de Jerusalém que reforçava a susten­ tação das muralhas e dava m aior proteção à cidad e. A palavra m illo significa "en ch e r". Tratava-se de um a "fo rtific a ç ã o ch e ia de terra [aterrada]", um a obra iniciada por Davi coa, o Pentecostes e a Festa dos Tabernácu lo s (Êx 2 3 :1 4 -1 9 ; D t 1 6 :1 -1 7 ). Para os cristãos de hoje, essas três festas significam, respectivam ente: a m orte e ressurreição de Cristo, o Cordeiro de Deus, por nossos peca­ dos (Jo 1:2 9 ; 1 C o 5 :7 ); a ressurreição de Cristo e a vinda do Espírito Santo (1 C o 1 5 :2 3 ; A t 2 ); e a futura reunião do povo de Deus no reino (Ap 20:1-6). Para o povo de Israel, a Páscoa servia para lem brar seu livramento da escravidão no Egito, enquanto a Festa dos T a b e rn á cu lo s co m e m o rava o cu id ad o de Deus durante os anos que passaram no de­ serto ; a Festa das P rim ícias (Penteco stesj celebrava a bondade de Deus ao enviar as colheitas. Salom ão vivia em Jerusalém , mas deu o exem plo para o povo indo ao tem plo e ofe­ recend o sacrifícios. Sem dúvida, os sacer­ dotes eram encarregados de oferecer tanto os sacrifícios quanto o incenso. O s holocaus­ tos sim b o lizavam a co n sag ração total ao Senhor; as ofertas pacíficas referiam-se à paz co m D eu s e co m u nh ão co m ele e uns com os outros e a queim a de incenso retratava as orações oferecidas ao Senhor (Êx 30:1-10: Sl 1 4 1 :2 ; Ap 8 :3 ). As Escrituras não mostram nenhum caso de pessoas com uns levando incenso para ser oferecido no altar de ouro 4. S a l o m ã o a d o r a a o S e n h o r (1 Rs 9:25; 2 C r 8:12-16) 1 REIS 7: 1- 12; 9 : 1 0 - 1 0 : 2 9 uma vez que essa era uma tarefa realizada duas vezes por dia pelos sacerdotes repre­ sentando todo o povo. Porém , o Salm o 72, "U m Salm o para Salom ão", m enciona ora­ ções contínuas a serem feitas pelo rei (v. 1 5) e n ão há m o tiv o alg u m p a ra c re r q u e Salom ão era im pedido de fornecer as espe­ ciarias necessárias para o incenso especial (1 0 :2 ,1 0 ; Êx 30:34-38). O relato de 2 Crônicas 8 também dá a entender que Salomão fornecia os sacrifícios que deveriam ser oferecidos durante essas festas, bem com o nos sábados especiais e 429 de volta 4 2 0 talentos de ouro, cerca de 16 toneladas desse metal. Esses navios traziam , ainda, artigos de luxo com o m arfim , m aca­ cos e pavões. Ao que parece, Salom ão tam­ bém tinha um zoológico (Ec 2:4-9). Isso nos faz lem brar as palavras do poeta inglês O liver G oldsm ith: De mal a pior vai a terra, e a males maiores se expõe Quando a riqueza acumula, e seus homens se decompõem...4 nas festividades da lua nova. C om esse res­ peito, obedeceu à lei de M oisés e também seguiu o plano instituído por Davi, seu pai, para o ministério dos sacerdotes e levitas no templo (1 C r 23 - 26). Asafe era o líder dos músicos (1 C r 16:4, 5), e havia mais de qua­ tro mil cantores divididos em vinte e quatro grupos. C ad a cantor ministrava no tem plo durante duas semanas todos os anos. Havia também um coro especial de 288 cantores (1 C r 2 5 :7 ). Salom ão cuidou para que os cânticos e os instrumentos de Davi fossem usados e para que seu plano para a organiza­ ção dos sacerdotes e levitas fosse respeitado. A visita da rainha de Sabá (10:1-13) foi, sem dúvida, motivada tanto pelos em preendim en­ tos m ercantis de Salom ão quanto pelo pró­ prio desejo da rainha de conhecer o rei de Israel, ver as glórias de seu reino e testar sua tão estim ada sabedoria. Sabá era um a na­ ção rica e altam ente civilizad a, situada na região sudoeste da A rábia, e a rainha trouxe 5 . S a l o m ã o a m p lia s u a i n f l u ê n c i a neles quando viu tudo com os próprios olhos - uma experiência que nos faz lem brar Tom é (Jo 20:24-29). O registro de sua visita nos dá a oportu­ nidade de vislum brar co m o era a vida no palácio. A rainha não apenas ficou maravi­ lhada com o palácio de Salom ão, mas tam­ bém im pressionada com as refeições (4 :7 , 22, 23 ), as roupas e a conduta dos servos, a disposição dos lugares dos oficiais e co nvi­ dados e a riqueza incrível exibida sobre as m esas e ao redor d elas. C a m in h o u com Salom ão pelo saguão particular do rei que levava até o templo, onde assistiu ao rei ado­ rando (ver 10:5 e 2 C r 9 :4 ). A sabedoria de Salom ão e a riqueza de seu reino a sobre­ pujaram , ainda que ela própria não fosse, de m odo algum , um a indigente! A rainha (1 Rs 8:26 - 10:13; 2 C r 8:17 - 9:12) Salom ão era um grande em preendedor e, além de negociar acordos com várias na­ ções, criou uma força naval e contratou os experientes m arinheiros de H irão para ad­ ministrá-la. U m a v e z que os israelitas eram, em grande parte, um povo desassociado do litoral, não eram dados a atividades maríti­ mas. A ssim , Salom ão dependia dos fenícios, um povo costeiro, para cuidar desse aspec­ to de seus em preendim entos. A im portação de produtos do O rien te encheu os cofres de Salomão e os ajudou a atribuir um aspec­ to mais internacional ao reino. Essa expan­ são certam ente gerou oportunidades para os israelitas testem unharem de seu Deus aos povos pagãos, mas não há registro algum desse tipo de ministério. Salom ão tinha de manter um orçam ento enorm e e precisava de todo o dinheiro que podia conseguir. N um a viagem , as em barcações trouxeram consigo presentes caros que tam bém servi­ ram de amostra daquilo que seu país tinha a o ferecer (Is 6 0 :6 ; Jr 6 :2 0 ; Ez 3 8 :1 3 ). Ela "lhe expôs tudo quanto trazia em sua m ente", e Salom ão lhe disse o que ela desejava saber. A quilo que ela ouviu e viu lhe tirou o fôle­ go, pois havia ouvido relatos, mas só creu levou presentes caros a Salom ão, inclusive um a grande quantid ad e de e sp e cia rias e 120 talentos (quatro toneladas e m eia) de ouro. Salo m ão retribuiu oferecendo-lhe o 430 1 REIS 7: 1-12; 9 : 1 0 - 1 0 :2 9 que ela quisesse da abundância de riquezas do rei. A rainha não pôde se conter e anunciou, tinham posses, enquanto a rainha era ex­ trem am ente rica. No entanto, as portas do palácio estavam abertas para essas três mu­ publicam ente, que Salom ão e seus servos deveriam ser as pessoas mais felizes da Terra e, no entanto, Salomão escreveu no Livro de Eclesiastes: "Vaidade de vaidades, tudo é vai­ dade"! Ficamos imaginando se, aos poucos, os oficiais e servos de Salomão não se acos­ tumaram com todo esse esplendor e luxo da vida na corte, especialm ente a exibição ex­ travagante de riqueza. O próprio Salom ão lheres que buscaram Salom ão, e o rei pro­ curou ajudar todas elas. Claro que a rainha de Sabá negociou um acordo de com ércio com Salomão, mas não há evidência alguma de que tenha crido no verdadeiro Deus vivo. Sem d ú vid a, a rede de co m é rcio que S a lo m ã o e s ta b e le c e u c o n trib u iu p ara o crescim ento da econom ia de Israel e trouxe vários visitantes influentes a Jerusalém , mas será que ajudou a aproxim ar o rei e seu povo de Deus? Israel não deveria ficar isolado da com unidade internacional, pois deveria ser uma luz aos gentios, mas tam bém era ne­ cessário que se m antivesse separado dos pecados das nações que não conheciam o escreveu que: "M elhor é o pouco, havendo o temor do S e n h o r , do que grande tesouro onde há inquietação. M elhor é um prato de hortaliças onde há am or do que o boi ceva­ do e, com ele, o ódio" (Pv 15:16, 17). O uvir as palavras de Salomão poderia empolgar os convidados de seus banquetes, mas não era a primeira vez que os oficiais e servos ou­ viam aquele discurso. Um dos perigos de vi­ ver nesse tipo de situação é que com eçam os a não dar mais o devido valor às coisas e, depois de um tempo, já não lhes damos va­ lor algum. Isso se aplica tanto aos tesouros espirituais quanto à riqueza material. Q uand o a rainha disse: "Bendito seja o S e n h o r , teu D e u s", não estava declarando sua fé pessoal em Jeová. N aquele tem po, as pessoas criam em "divindades territoriais". C ad a país tinha seu deus ou deuses (1 Rs 2 0 :2 8 ), e, quando alguém deixava sua terra, deixava para trás tam bém seus deuses (1 Sm 2 6 :1 9 ). Q u an d o voltasse para casa, a rainha adoraria os deuses de sua terra, mesm o ten­ do visto as glórias do Deus de Israel e ouvido sua sabedoria. Jesus não elogiou a rainha de Sabá por sua fé, mas pelo fato de que ela se e sfo rço u ao m á xim o , v ia ja n d o q uase 2 .5 0 0 quilôm etros para o u vir a sabedoria de Salom ão, quando o Filho de D eus, aque­ le que é "m aior do que Salom ão", estava no m eio dos judeus (M t 12:39-42). A tristeza das oportunidades perdidas! É interessante fazer contrastar esse rela­ to do encontro entre Salom ão e a rainha de Sabá com o prim eiro ato de ju stiça de Sa­ lom ão com o rei, quando recebeu as duas prostitutas (3 :1 6ss). Elas eram mulheres do povo, enquanto a outra era rainha; elas não v e rd a d e iro D e u s v iv o . O aflu xo de m er­ cadorias estrangeiras foi acom panhado de um a afluência de idéias estrangeiras, inclu­ sive de conceitos de religião e de adoração e, por fim, influenciado pelas esposas estran­ geiras, o próprio Salom ão sucum biu à idola­ tria (1 1 :1ss). 6 . S a l o m ã o v iv e c o m e s p le n d o r (1 Rs 10:14-29; 2 C r 9:13-28) Q u a n d o D eu s prom eteu dar sab ed o ria a Salomão, também lhe prometeu riquezas e honra (3:13). Não é pecado ter nem herdar riquezas. Abraão era um homem extremamen­ te rico que passou seus bens para o filho. Isaque (G n 24:34-36). Não há nada de errado em ganhar dinheiro honestamente, mas amar o dinheiro e viver apenas com o propósito de adquirir riquezas é pecado (1 Tm 6:7-10). N a s p a la v ra s do p ró p r io S a lo m ã o : "Q u em am a o dinheiro jam ais dele se farta: e quem am a a ab und ância nunca se farta da renda; também isto é vaidade" (Ec 5:10). Alguém disse com sabedoria que: "É bom ter as coisas que o dinheiro pode comprar, desde que não se perca as coisas que o di­ nheiro não pode com prar". A renda anual de Salom ão era de 666 talentos (cerca de vinte e duas toneladas e meia) de o uro.5 Essa riqueza era proveniente de várias fontes: (1) impostos, (2) pedágios e taxas alfandegárias, (3) com ércio, (4) tributo 1 RE I S 7 : 1 - 1 2 ; 9 : 1 0 - 1 0 : 2 9 de governantes vassalos e (5) presentes. Seu uso de trabalho recrutado tam bém era um tipo de renda. Era preciso um bocado de dinheiro para sustentar o estilo de vida ex­ travagante do rei e, depois da morte de Sa­ lomão, o povo protestou contra o jugo que pesava sobre eles e pediu que essa carga fosse aliviada (12:1-15). Por que Salom ão precisava de quinhen­ tos escudos, em cuja co nfecção foi usada mais de uma tonelada de ouro? Por que pre­ cisava de um trono de marfim recoberto de ouro? Por que ele e seus convidados preci­ savam beber de taças de ouro? Para que serviam os milhares de cavalos e carros? Q u e necessidade havia de ter setecentas espo­ sas e treze n ta s co n cu b in a s? A o p ro cu ra r alcançar cada uma dessas m etas, Salom ão d e so b e d e c e u à Palavra de D eus! O Senhor advertiu em D euteronôm io 17:14-20 que o rei de Israel não deveria m ultiplicar seus ca­ valos nem buscar esses anim ais no Egito e que tam bém não deveria m ultiplicar esposas nem o uro. Salo m ão não ap en as adquiriu milhares de cavalos, com o também se tornou negociante desses anim ais! D euteronôm io 17:20 cham a a atenção do rei para o fato de que ele deve perm anecer humilde diante do Senhor: "para que o seu coração não se eleve acim a dos seus irm ãos". Não é difícil 1. 431 crer que o coração de Salom ão se enalteceu de orgulho, sentim ento que sem pre leva à destruição e à queda (Pv 16:18). Para o mundo daquele tem po e, espe­ cialm ente, para o povo de Israel, Salom ão tornou-se um m odelo de riqueza e de es­ plendor, e, sem dúvida, havia muitos que o invejavam . Porém , jesu s disse que um dos lírios criados por seu Pai era mais belam en­ te param entado do que Salom ão em toda sua glória (M t 6:28-30). A verdadeira beleza vem de dentro, do "hom em interior do co ­ ração" (1 Pe 3:4 ). Q uanto mais precisarm os acrescentar a nossos bens para que as pes­ soas nos adm irem , menos riqueza e beleza verdadeiras terem os. D avi teve profetas e sacerdotes que o aconselharam e até mesm o o advertiram e repreenderam , mas, ao que parece, ninguém adm oestou Salom ão a dedicar mais atenção a edificar a vida em vez de acum ular uma fortuna. D e acordo com um provérbio ro­ m ano: "As riquezas são com o água salgada: quanto mais vo cê bebe, mais sedento fica". H erny David Thoreau disse que um homem é rico em proporção ao número de coisas sem as quais consegue viver, e Jesus per­ guntou: "Pois que aproveitará o hom em se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (M t 16 :2 6 ). A m adeira e as pedras precisavam ser trazidas de lugares distantes, e as pedras deviam ser cortadas com precisão, a fim de se encaixarem na estrutura sem precisar de m aiores ajustes, um processo dem orado. A execução do trabalho delicado com ouro dentro do tem plo, além da confecção das várias peças de mobília e utensílios, também exigiu um bocado de tempo. Isso explica por que as duas construções dem oraram vinte anos para ser com pletadas. 2. O texto não d iz coisa alguma sobre Naam á, a esposa am onita de Salom ão que deu à luz Roboão, filho primogênito de Salom ão e seu sucessor ao trono (14 :21). 3. O controle sobre as cidades daria a Hirão quaisquer recursos disponíveis, inclusive a tributação dos cidadãos ou o recrutamento 4. G o l d s m it h , 5. É inútil relacionar o número 66 6 com A pocalipse 13:18. Ao som ar os 120 talentos de ouro de Hirão (9:1 4) com os 420 destes para servi-lo. Não era uma form a agradável de Salom ão tratar o próprio povo. O liver. "The Deserted Village", linhas 51 e 52. talentos trazidos pela m arinha m ercante (9 :2 8 ) e os 120 recebidos da rainha de Sabá (1 0 :1 0 ), tem-se um total de 66 0 talentos. Diz-se que, nas Escrituras, o número 6 refere-se ao homem , sem pre um número aquém do sete, o número perfeito que pertence som ente a D eus. Se isso for verdade, os 666 talentos de Salom ão representam a riqueza absoluta do hom em , porém não a verdadeira riqueza eterna que só vem de D eus. Não trouxem os coisa alguma a este m undo e não levaremos coisa alguma conosco (1 Tm 6 :7 ; Jó 1:2 1 ; Sl 49 :1 7 ). 6 O H o m e m S á b io I n sen sa t o 1 R eis 1 1 : 1 - 4 3 (2 C r ô n ic a s 9 : 2 9 - 3 1 ) / / A s Escrituras jam ais se esquivam dos í \ defeitos dos heróis", escreveu o grande com entarista inglês A le xan d er Maclare n. " O s retratos que ap resen tam não en cobrem as falhas; antes, as apresentam com absoluta fid elidad e".1 Essa honestidade bíblica inspirada pode ser vista no registro da vida do rei Salom ão. Deus deu a Salom ão sabedoria incom um , riquezas extraordinárias e grandes oportunidades, mas em sua idade mais avançada, o rei afastou-se do Senhor, tomou decisões insensatas e não terminou bem. "A estultícia do homem perverte o seu cam inho" (Pv 1 9 :3 ). Salom ão escreveu es­ sas palavras, e é provável que acreditasse nelas, mas não lhes deu ouvidos. Não é difícil acom panhar os passos do declínio de Salomão. 1 . S a l o m ã o d e s o b e d e c e u ã P a l a v r a de D eus (1 Rs 11:1-8) Voltar ao Egito pode ter sido o prim eiro pas­ so de Salom ão para longe do Senhor. To­ mou para si uma esposa egípcia (v. 1; 3:1 ; 9 :2 4 ) e co m p ro u ca va lo s e ca rro s dessa nação (4:26-28; 10:26-29) - dois atos que revelam a incredulidade de Salom ão. Casouse com um a princesa egípcia, a fim de fir­ mar um tratado de p.az com o pai dela, e quis cavalos e carros, pois não confiava que Je o vá p o d e ria , de fato , pro teg er a terra. Salom ão não acreditava naquilo que seu pai, Davi, havia escrito: "U n s confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém , nos gloria­ remos em o nome do S e n h o r , nosso D eus" (Sl 2 0 :7 ). Seus casam entos e a co leção de cavalos e de carros que possuía constituíam atos de desobediência direta a ordens claras do Senhor (D t 1 7 :1 6 ; 7:1-6; Êx 2 3 :3 1 -3 4 : 3 4 :1 5 , 16; Js 2 3 :1 2 , 13). O mau exem plo de Salo m ão ao esco lh e r esp o sas de n açõ es pagãs criou problem as para Esdras e Neemias quase quatro séculos depois (Ed 9 :2 ; 1 0 :2 , 3; Ne 13:23-27). Em term os de "geografia b íblica", o Egi­ to representa a escravidão do m undo.2 O deserto retrata a incredulidade do povo de D eus nos dias de hoje, enquanto, com o Is­ rael, ficam vagando de um lado para o ou­ tro e não se apropriam de sua herança em C risto .3 A Terra Prom etida representa o des­ canso que D eus dá àqueles que crêem em C risto , que se sujeitam a ele e que avan­ çam para a conquista pela fé. Todos os cris­ tãos foram libertos do sistem a do mundo, contrário a D eus (C l 1 :4), e todos os cris­ tãos são exo rtad o s a apropriar-se de sua herança em Cristo no presente e não vagar pela vida sem propósito. N enhum cristão precisa con fiar no m undo para co isa algu­ ma, pois já receb em o s de Cristo todas as bên ção s de que precisam os (Ef 1 :3 ; 2 Pe 1:1-4). Estam os fisicam ente no m undo, mas não pertencem os espiritualm ente ao mun­ do (jo 1 7:14-19), e todas as nossas necessi­ dad es são su p rid as pelo Pai no céu (M t 6 :1 1 ; Fp 4 :1 9 ). O perigo do casam ento com incrédulos é descrito no versículo 2, um a citação de D euteronôm io 7:4: "pois elas [farão] desviar teus filhos de m im " - exatam en te o que aco n teceu com Salom ão (vv. 3, 4, 9). O s am onitas e moabitas eram descendentes de Ló, sobrinho de A braão (G n 1 9 :3 0 ss). O s am onitas adoravam o terrível deus M oloque e sacrificavam suas crianças nos altares des­ sa divindade (Lv 1 8 :2 1 ; 20:1-5; e ver Jr 7:2934; Ez 16:20-22). Q uem o s era o deus mais im portante dos moabitas, e Astarote, a deu­ sa do povo de Tiro e Sidom . U m a vez que era a d eu sa da fe rtilid ad e , a ad o raçã o a Astarote incluía a "prostituição legalizada", tanto de m ulheres quanto de hom ens que atuavam com o prostitutos tem plares numa form a de adoração indescritivelm ente obs­ ce n a (ver D t 2 3 :1 -8 ; 1 Rs 1 4 :2 4 ; 1 5 :1 2 ; 2 2 :4 6 ). O s bab ilô nio s tam bém adoravam essa deusa e a cham avam de Ishtar. 1 REIS 1 1 : 1 - 4 3 Salom ão havia exortado o povo, dizen­ do: "Seja perfeito o vosso coração para com o S e n h o r " (8 :6 1 ); em outras palavras, tenham um c o ra çã o in teiram e n te co n sag rad o ao Senhor. M as o coração do próprio rei não era perfeito para com Deus (v. 4). Salom ão não abandonou Jeová de todo, mas fez dele um dos muitos deuses que adorava (9 :2 5), uma conduta que violava diretamente os dois primeiros m andam entos dados no Sinai (Êx 20:1-6). O Senhor Jeová é o único D eus, o verdadeiro Deus vivo, e não aceita ser colo­ cado no mesm o nível que os falsos deuses das nações. "Eu sou D eus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro sem elhante a m im " (Is 4 6 :9 ). A transigência de Salom ão não ap are­ ceu de um dia para o outro, pois o rei foi se entregando aos poucos à idolatria (Sl 1:1). Prim eiro, permitiu que suas esposas adoras­ sem os próprios deuses, depois tolerou sua idolatria e até construiu santuários para es­ ses deuses. Por fim , co m eço u a participar das práticas pagãs com suas esposas. O am or sensual do rei por suas muitas esposas foi mais atraente que seu am or pelo Senhor, o Deus de Israel. Salom ão foi um homem de coração dividido e desobediente, e pessoas instáveis e de co ração dobre são perigosas (Tg 1:8). D e que maneira Israel poderia ser luz para as nações gentias quando seu rei adorava e apoiava abertam ente os deuses dessas nações? Salom ão costum ava ofere­ cer sacrifícios e queim ar incenso ao Senhor Jeová, mas, quando ficou mais velho, com e­ çou a incluir em sua adoração os falsos deu­ ses venerados por suas esposas (8 :2 5 ; 1 1 :8). A o ler o Livro de Eclesiastes, desco bri­ mos que, quando o coração de Salom ão co ­ m eçou a se afastar do Senhor, o rei passou por um período de cinism o e de desespero. Chegou até mesm o a questionar se valia a pena viver. U m a vez que o rei deixou de cam inh ar lado a lado com o Senhor, seu coração ficou vazio, de modo que saiu em busca de prazer, envolveu-se em em preen­ d im en to s c o m e rc ia is co m v á ria s n a çõ e s estrangeiras e se dedicou a um enorm e pro­ grama de construção. Porém , em momento algum encontrou alegria nessa vida. No Livro 433 de Eclesiastes, Salom ão escreve pelo menos trinta vezes a palavra "vaidade". Seu am or pelos valo res espiritu ais foi substituído por um am or pelos prazeres físi­ cos e pela riqueza material e, aos poucos, seu co ra ção se distanciou do Senhor. Pri­ m eiro, tornou-se amigo do mundo (Tg 4:4), depo is, foi co n tam in ad o pelo m undo (Tg 1 :2 7 ), em seguida passou a am ar o mundo (1 jo 2:1 5-1 7) e a se conform ar com o mun­ do (Rm 1 2 :2 ). Infelizm ente, o resultado desse declínio pode levar o indivíduo a ser conde­ nado com o mundo e a perder tudo (1 Co 1 1 :3 2 ). Foi o que aconteceu com Ló (G n 13:10-13; 1 4 :1 1 , 12; 19:1 ss), e é o que pode acontecer com os cristãos nos dias de hoje. 2 . S a lo m ã o i g n o r o u a s a d v e r t ê n c ia s de D e u s (1 Rs 11:9-13) O Senhor não se im pressionou com o es­ plendor real de Salom ão, pois o Senhor vê o co ração (1 Sm 1 6 :7 ) e sonda o coração (1 C r 2 8 :9 ; Jr 1 7 :1 0 ; Ap 2 :2 3 ). Foi Salom ão quem escreveu: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele pro­ cedem as fontes da vida" (Pv 4 :2 3 ). No en­ tanto, em sua velh ice, seu coração estava afastado do Senhor. D epois da descoberta do sistema circulatório por W illiam Harvey, no século xvn, é de conhecim ento geral que o centro da vida hum ana, em nível físico, é o coração. No entanto, essa verdade aplicase não apenas ao corpo, mas tam bém ao espírito. D evem os am ar a Deus de todo o nosso co ração (D t 6 :5 ) e receb er sua Pa­ lavra em nosso coração (Pv 7:1-3). Deus de­ seja que façam os sua vontade de coração (Ef 6 :6 ). Se nosso coração não está em or­ dem com D eus, tudo em nossa vida estará errado, por mais bem-sucedidos que possa­ mos parecer aos outros. Q u a n d o Salo m ão n a sce u , foi grande­ m en te am ad o pelo S e n h o r e re ce b e u o nom e especial de "Jedid ias", que significa "por am or do S e n h o r " (2 Sm 1 2 :2 4 , 25 ; ver nota na N VI, 1 2 :2 5 : "am ado pelo S e n h o r " ). Vem os aqui, porém , que o Senhor estava irado com Salom ão, pois o coração do rei havia se afastado do Senhor. Salomão estava dando as costas para a riqueza de bênçãos 434 1 REIS 1 1 : 1 - 4 3 que D e u s h avia lhe c o n c e d id o p e can d o deliberada e conscientem ente. Em primeiro lugar, o Senhor havia dado a Salom ão um de consagração, poderia ter olhado em di­ reção ao tem plo e confessado seus peca­ dos ao Senhor. pai que, apesar de não ser perfeito (e quem é?), era co n sagrado ao Senho r e sincero. Davi havia orado por Salom ão e o havia es­ tim ulado a fazer a vontade de Deus e a cons­ truir o tem plo. O Senhor havia aparecido a Salom ão em duas ocasiõ es (3 :5 ; 9 :2 ) e o havia lembrado das estipulações da aliança que havia realizado com o pai (2 Sm 7). Sem d ú v id a, Salo m ão c o n h e c ia os term o s da aliança em D euteronôm io 28 a 30, pois fez referência a eles em sua oração quando con­ sagrou o templo. N ão sab e m o s de q u e m a n e ira D e u s transmitiu essa advertência a Salom ão; tal­ vez tenha sido por interm édio de um profe­ ta. S ab e m o s, p o ré m , que D e u s ad ve rtiu Salom ão de que, depois de sua morte, seu reino seria dividido e seu filho reinaria ape­ nas sobre as tribos de Judá e de Benjam im . As outras dez tribos se tornariam o reino do Norte, Israel. O verbo "tirar", no versículo 11, tem o sentido de "rasgar" e é retom ado na dram atização do profeta A ías, quando ras­ gou o manto novo de Jeroboão em doze partes (vv. 29ss). Essa divisão do reino n lo seria a obra pacífica de um diplom ata, mas sim o trabalho doloroso de um Senhor irado. Se não fosse pela aliança de Deus com Davi e pelo am or de Deus por Jerusalém , a cidade onde ficava seu tem plo, ele teria to­ mado o reino todo das mãos dos descen­ dentes de Salom ão. Deus prometeu a Davi uma dinastia que não teria fim e, portanto, manteve um descendente de Davi no trono em Jerusalém até que a cidade foi tomada pelos babilônios e destruída. É evidente que o cum prim ento final dessa prom essa encontra-se em Jesus Cristo (Lc 1 :32, 33 , 6 9 ; At 2:29-36; Sl 89:34-37). O nom e de D eus es­ tava sobre o tem plo (1 Rs 8 :4 3 ), de modo que ele preservou Jerusalém ; a aliança de D eus estava com D avi, de m odo que ele preservou a dinastia de D avi. Assim é a gra­ ça de Deus. Não há evidência alguma de que Salo­ mão tenha dado ouvidos a essa advertên­ cia. Se ele tivesse se lembrado de sua oração 3 . S a l o m ã o r e s is t iu à d i s c i p l in a de D eus (1 Rs 11:14-25) O s inúm eros casam ento s de Salom ão ha­ viam sido sua garantia de paz com os gover­ nantes v izin h o s, e o reinado de Salom ão havia sido pacífico. Porém , seu sistema logo co m eçaria a se desintegrar, pois o Senhor levantou "adversários" contra Salom ão (w . 14, 23, 25) e os usou para disciplinar o mo­ narca rebelde. Essa disciplina de Deus sobre os herdeiros d eso bedien tes de D avi fazia parte da aliança (2 Sm 7:14, 15) e foi reafir­ mada a Salom ão quando Deus lhe falou em G ibeão (3 :1 4). O fato foi repetido a Salomão quando o rei estava construindo o templo (6:11-13) e depois da consagração do tem­ plo (9:3-9). Ver também 1 C rôn icas 2 2 :1 0 e Salm os 89:30-37. Por certo, era impossível que o rei não tivesse co n h e cim e n to dos perigos de desobedecer ao Senhor. Três adversários de Salom ão são men­ cionados de modo específico. H a d a d e, o edo m ita (vv. 14-22). Salomão tinha mulheres de Edom em seu harém (v. 1), mas isso não im pediu H ad ad e de causar problem as para Israel. Davi e Joabe haviam conquistado uma grande vitória sobre Edom e exterm inado a população m asculina (2 Sm 8 :1 3 , 14; 1 C r 18:11-13; ver Sl 60, título), porém H adade, um dos príncipes, havia fu­ gido juntam ente com alguns líderes de seu pai e encontrado asilo com o Faraó no Egi­ to. Ao que parece, tratava-se de um novo Faraó que não considerava necessário reco­ nhecer o pacto nupcial de Salom ão com a princesa egípcia. Esse governante do Egito não apenas deu a H adade alim ento e um lugar para viver, mas tam bém lhe entregou a própria cunhada com o esposa, e Hadade teve um filho com ela. Isso significava que o Egito e Edom estavam aliados contra Israel. Com a morte do rei Davi e de seu gene­ ral, Joabe, H adade e seus hom ens puderam voltar em segurança para Edom. Em sua terra, H adade planejou fortalecer a nação e diri­ gir uma série de ataques contra os israelitas. 1 RE I S 1 1 : 1 - 4 3 435 Sabia que não poderia tomar o reino de Sa­ lomão, mas o Senhor usou-o para perturbar Salomão e seus soldados com uma série de ataques nas fronteiras. Essa irritação co n s­ tante do Sul deveria ter lem brado Salom ão de qu e D eu s o estava disciplinando e cha-nando de volta a uma vida de obediência. Rezom de D am asco (vv. 23-25). Q uan ­ do Davi derrotou os sírios em Z o b á (2 Sm 3:5-8), um jovem cham ado Rezom fugiu para D am asco com seus soldados e se declarou rei. Ao que parece, Davi o reconheceu com o rei, e é bem provável que Rezom fosse um de p ro e m in ê n c ia d u ra n te o re in a d o de Salom ão, mas a partir desse tempo até o fim do reino de Judá, a presença dos profetas seria m arcante. Q uand o os reis ou sacerdo­ tes desprezavam abertam ente a Palavra de D eu s, o Sen h o r costum ava enviar um profe­ ta para adverti-los. O s profetas eram mais "prociam adores" do que "prenunciadores". Traziam uma mensagem de D eus para o pre­ sente e, se algo do futuro lhes era revelado, tinha com o propósito ajudá-los a cham ar o povo de volta à o b ed iên cia à vontade de D e u s.4 -ornem com petente, pois o poder da Síria cresceu sob sua liderança. M as Rezom aliouse a Hadade, líder de Edom, e com eçou a atormentar Salom ão no Norte. Rezom fun­ dou uma dinastia de governantes fortes na região (c o n h e cid a co m o A rã), sendo que :odos causaram problem as para os reis de jd á (15:18-20; 20:1 ss; 2 R s 8 - 1 3 e 1 5 - Aías dram atizou sua mensagem rasgan­ do suas vestes novas em doze partes e en­ tregando dez dessas partes a Jeroboão. Essa era a maneira de Deus dizer que Jeroboão se tornaria rei sobre as dez tribos de Israel no N o rte.5 Aías explicou por que duas tri­ bos continuaram reservadas para a casa de Davi e por que o filho de Salom ão estava 16 passim ). Rezom era rei de A rã (Síria) no tempo do profeta Isaías (Is 7:1-8; 8 :6 ; 9 :1 1 ). recebendo apenas essas duas tribos. Salo­ mão havia pecado grandem ente ao introdu­ zir a idolatria na terra, pecado que, a seu tempo, destruiria a nação e levaria o povo 4. S a l o m ã o o p ô s - s e a o s e r v o de (1 Rs 11:26-43; 2 C r 9:29-31) D eus Hadade atacou Salom ão do Sul e Rezom o atacou do Norte, mas Jeroboão era um dos líderes de Salom ão que am eaçou o rei de dentro de seus escalõ es oficiais. Jeroboão era um efraim ita que dem onstrava possuir excelente aptidão administrativa, cham ando a atenção do rei. U m a v e z que Jeroboão era da tribo de Efraim, Salom ão encarregouo da fo rça de trabalho da casa de José, a saber, de M anassés e Efraim. A essa altura, a nação estava cansada dos projetos de cons­ tru ção de S alo m ão e, e sp e cia lm e n te , da m aneira com o ele recrutava israelitas para trabalhar nessas obras (5:13-18), e o jovem Jeroboão foi apresentado às correntes vela­ das de oposição ao rei. Esse conhecim ento, além do fato de Salom ão tê-lo colocado so­ bre tribos do Norte, o ajudaria quando che­ gasse a hora de estabelecer seu reino com as dez tribos do Norte. ao cativeiro. Foi por am or a Davi que Deus protegeu Judá e Jerusalém . Salom ão não havia obe­ decido às estipulações da aliança que Deus havia feito com o pai do rei (2 Sm 7), mas D eus seria fiel à sua Palavra (2 Sm 7:11-13). A lâm pada continuaria a brilhar por Davi até o final da m onarquia em Judá com a queda de Zedequias (2 Rs 25 ; ver 1 Rs 1 1 :36 ; 15:4; 2 Rs 8 :1 9 ; 2 1 :7 ; Sl 1 3 2 :1 7 ). Aías encerrou sua mensagem acautelando Jeroboão de que aquilo que havia acon­ tecido com ele era obra som ente da graça de D eus. Ele deveria levar a sério seu cha­ mado e obedecer à Palavra do Senhor, do contrário Deus o disciplinaria da m esm a for­ ma co m o estava d isc ip lin a n d o S alo m ão . D eus daria a Jeroboão uma dinastia dura­ doura se ele o b ed ecesse à lei do Senhor. No entanto, essa dinastia não substituiria a Um dia, enquanto trabalhava, Jeroboão foi detido pelo profeta A ías de S iló , que dinastia de Davi em Judá, pois era da dinastia de Davi que viria o M essias e que cum priria as promessas da aliança. Deus hum ilhou os tinha uma m ensagem de D eus para ele. O s profetas não desem penharam papel de gran­ sucessores de Davi dando-lhes apenas duas tribos, mas não os rebaixaria para sempre. 436 1 REIS 1 1 : 1 - 4 3 Q uand o o M essias viesse, a nação seria cura­ da de sua divisão (Jr 3 0 :9 ; Ez 3 4 :2 3 ; 37:152 8 ; O s 3 :5 ; Am 9 :1 1 , 12), e o Rei governaria soberano sobre todo o Israel.6 U m a vez que Aías e Jeroboão estavam sozinhos no cam po quando a mensagem foi transm itida (v. 2 9 ), não sabem o s com o a notícia do cham ado especial de Jeroboão chegou aos ouvidos do rei Salom ão. E pos­ sível que Jero b o ão tenha co n tad o o que o correu a seu círculo mais íntim o, que se encontrava aflito com a form a com o o rei estava tratando o povo, ou talvez Deus te­ nha dado perm issão a A ías para en viar a mensagem a Salom ão. Essa mensagem foi a última palavra de disciplina e de repreensão de D eus para o m onarca rebelde, pois que modo mais eficaz haveria de fazer o rei des­ pertar do que tomar a m aior parte do reino de seu sucessor? Salom ão deveria ter se pros­ trado com o rosto em terra numa dem ons­ tração de arrependim ento e de contrição e ter buscado a face do Senhor, mas em vez disso, tentou matar seu rival. Jeroboão foi buscar refúgio no Egito, onde o novo Faraó era Sisaque, hom em sem com prom isso al­ gum com a casa de Davi. Salom ão havia ab an d o n ad o o Senhor (v. 3 3 ; ver 9 :9 ), pecado que se repetiria com vários reis de Israel e de Judá (1 8 :1 8 ; 19:10, 14; 2 Rs 1 7 :1 6 ; 2 1 :2 2 ; 2 2 :1 7 ). O pecado da idolatria traspassava o cerne da fé de Israel, pois Jeová era o único e verdadeiro Deus vivo, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Salom ão reinou de 971 a.C . a 931 a.C . Será que o rei voltou para o Senhor antes de morrer? O s estudiosos da Bíblia não apre­ sentam um consenso em suas interpretações e respostas. Sem dúvida, a adm oestação em Eclesiastes 12:13, 14 indica que houve arre­ pendim ento e restauração, e esperam os que seja isso o que ocorreu. As realizações de uma vida extrem am ente cheia foram regis­ tradas não apenas em 1 Reis e 2 C rônicas, mas tam bém em alguns livros que não che­ garam até nós, inclusive os Atos de Salom ão (p ro va velm e n te um registro o fic ia l), livro escrito pelo pro feta N atã, bem co m o os registros de Aías e de Ido. Salom ão é o pri­ meiro rei israelita cuja morte foi registrada nas "palavras oficiais" dos versículo 41 a 43 e de 2 C rônicas 9:29-31. Ver tam bém 2 Crô­ nicas 9 :2 9 ; 1 2 :1 5 ; 2 6 :2 2 e 3 2 :3 2 . Assim com o o rei Saul, Salom ão recebeu grandes oportunidades, mas não as aprovei­ tou ao m áximo. Possuía am plos conhecim en­ tos sobre an im ais e plantas, sobre co m o enriquecer a nação e construir edifícios, mas não com partilhou o co nh ecim en to do Se­ nhor7 com os gentios que passaram por sua sala do trono. A ssim co m o seu pai, Davi, Salom ão possuía talento natural para apre­ ciar m ulheres, mas quando Salom ão pecou, não teve o co ração sincero e o espírito que­ brando de arrependim ento de D avi. A que motivou a vida de Salom ão foi a grandeza do reino e não a glória do Senhor. O rei sábio deixou para trás o templo de Deus, seu palácio real, uma nação servil e uma econom ia em dificuldades, bem como os livros de Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salom ão. D urante seu reinado, a nação p erm an eceu unida, mas um a linha muito fina de cisão acabou se manifestando em uma rebelião aberta e, posteriormente, na divisão do reino. A avid ez de Salom ão por riqueza e realizações colocou um gran­ de peso financeiro sobre a nação ; depois de sua morte, o povo se revoltou. Porém , os israelitas fizeram pior do que isso: seguiram o mau exem plo de Salomão e co m eçaram a adorar os deuses de seus vizinhos. Foi esse pecado, mais do que qual­ quer outro, que causou a queda de Israel e de Judá. C o m o escreveu W illiam Sanford LaSor: "Salom ão im portou esposas, e as es­ posas im portaram deuses; Salom ão tolerou e encorajou a idolatria e construiu lugares de adoração para essas idólatras. O que po­ deria se esperar do povo senão que seguis­ se o mesm o rumo?" Q u e nossa su jeição possa ser sem pre sincera e fiel a Jesus C risto, aquele que é "m aio r do que Salom ão", que m orreu por nós, que vive por nós e que, um dia, virá nos buscar! 1 REIS 1 1 : 1 - 4 3 M ac laren , 437 Alexander. Expositions o f H o ly Scripture sobre 1 Reis 1 1 :4 - 1 3 . Gosto da definição de "m undo" apresentada por F. W . Robertson em sua coletânea de serm ões, vol. 4, p. 165: "O mundo é 0 conjunto de homens de todas as idades que vivem som ente de acordo com os axiom as de seu tem po". A o acum ular riquezas e m ultiplicar esposas e em seu desejo de viver em esplendor, Salom ão estava imitando os potentados do O riente em v ez de seguir a Palavra de Deus e o exem plo de Davi, seu pai. Apesar do que dizem os com positores de hinos, cruzar o Jordão e entrar na terra de Canaã não é um retrato da ida para o céu. Certam ente não vam os precisar batalhar para entrar no céu! Trata-se de um retrato da decisão de dar as costas ao passado e de entrar, pela fé, em nossa herança presente em Cristo, as bênçãos que ele deseja que desfrutemos e o trabalho que deseja que façam os. Tudo isso é explicado no Livro de Hebreus. Para casos de profetas que demonstraram grande coragem ao confrontar reis, ver 13:1-10; 14:1-18; 16:1-4; 20 :2 2ss; 22 :1 ss; 2 Reis 1. Samuel havia rasgado o manto de Saul e usado o acontecim ento para transmitir uma mensagem (1 Sm 15 :2 7), e Davi também havia cortado um pedaço do manto de Saul (1 Sm 24:4-6). Trata-se de uma imagem óbvia. Estudiosos do Antigo Testamento observaram que, logo no início da história de Israel, já havia uma rivalidade entre as dez tribos do Norte e as duas tribos do Sul, de modo que não foi fácil dividir a nação. V er Juizes 5:14-16; 2 Samuel 19:41-43; 2 0 :2 ; 1 Reis 1:35; 4 :2 0 , 25. Essa rivalidade terá fim quando o M essias reinar (Is 11:13). LaSo r, W Miam Sanford. C rea t Personalities o f the O ld Testament. Revell, 1959, p. 125. 7 0 H o m e m Q ue se R e c u s o u a O u v ir 1 R eis 1 2 : 1 - 2 4 ; 1 4 : 2 1 - 3 1 (2 C r ô n ic a s 10: 1 - 1 2 : 1 6 ) m ulheres da corte. Isso incluía as esposas e co n cubinas de Salom ão, que Roboão her­ dou quando se tornou rei. Aquilo que a vida nos faz depende da­ quilo que encontra em nós. A o longo dos d ezessete anos de reinado de R oboão, o modo com o reagiu às situações revelou que tipo de pessoa ele era de fato. Pelo menos quatro ca racterísticas destacam -se em seu breve período de governo. 1. U m r e i a rro g a n te (1 Rs 12:1-17; 2 C r 10:1-19) I am bém aborreci todo o meu trabaI lho, com que me afadiguei debaixo A le x a n d e r M a cla re n ch am o u esse relato ap ropriadam ente de "um a história m iserá­ do sol", escreveu Salom ão em Eclesiastes, vel de im becilidade e ignorância". A história "visto que o seu ganho eu havia de deixar a revela que, quaisquer que fossem os talen­ quem viesse depois de mim. E quem pode tos de Roboão, o rei não possuía o dom de dizer se será sábio ou estulto?" (Ec 2 :1 8 , 19). se relacionar com as pessoas e de entender S alo m ã o foi s u c e d id o p o r seu filh o , suas necessidades. Davi foi um rei que amou Roboão, que tom ou decisões inteligentes em seu povo e que arriscou a vida pelo bemalgumas ocasiões, mas que, na m aior parte estar dos israelitas. Salom ão foi um rei que do tempo, mostrou-se um governante insen­ não serviu o povo, mas o usou para satisfa­ sato. No co m e ço do reinado de R oboão, z e r seus desejos pessoais. Roboão foi um uma decisão egoísta de sua parte dividiu a rei que ignorou as lições do passado, fechou n ação e, no quarto ano de seu governo, os ouvidos às vo zes de sofrim ento do povo Roboão decidiu dar as costas ao Senhor e e mostrou que não tinha co m p etência para adorar a ídolos, o que fez sobrevir o julga­ governar. m ento de D e u s. D ificilm en te poderíam os A a ssem bléia em S iq u ém (vv. 1-3; 2 C r considerar seu reinado bem-sucedido. 10:1-3). E quase certo que Salom ão tenha D e acordo com 1 Reis 1 4 :2 1 , Roboão estava com 41 anos de idade quando com e­ deixado claro que Roboão deveria ser o pró­ çou a reinar.1 U m a vez que Salom ão reinou xim o rei, mas, ainda assim , era necessário durante quarenta anos (1 1 :4 2 ), isso signifi­ que o povo confirm asse essa escolha e en­ ca que Roboão nasceu antes de Salom ão trasse em alian ça com D eus e com o rei. subir ao trono. Porém , o mesm o texto diz Isso havia sido feito quando Saul tornou-se rei (1 Sm 10:17) e também quando Davi e q u e a m ãe de R o b o ão era um a m ulh e r am onita cham ada N aam á,2 o que significa Salom ão foram co ro ados (2 Sm 2 :4 ; 5:1 ss; que a princesa egípcia com a qual Salom ão 1 Rs 1:28ss). Roboão e seus oficiais esco­ se casou não era sua prim eira esposa es­ lheram Siquém com o local de encontro, e trangeira (3 :1 ). Davi, pai de Salom ão, havia Jeroboão e os hom ens do Norte com pare­ se casado com uma princesa de G esur, uma ceram .3 Jeroboão havia voltado de seu asilo nação na Síria, e essa esposa lhe deu à luz e era o líder reconhecido das dez tribos do A bsalão (2 Sm 3 :3 ). Sem dúvida, foi um a jo ­ Norte. Roboão sabia que esse hom em era gada política da parte de D avi, de modo que, seu inimigo, mas não ousou opor-se a ele talvez, o casam ento de Salom ão com uma abertam ente, pois não desejava indispor-se m ulher am onita não perturbou Davi em sua com o povo. Sem dúvida, Roboão também velhice. Segundo o texto hebraico de 14:21: sabia da profecia de A ías segundo a qual Jeroboão governaria sobre o reino do Nor­ "N aam á era o nom e de sua mãe, am onita" (ênfase minha), indicando que ela ocupava te, mas talvez não pensasse que isso, de fato, uma posição em inente em relação às outras se co ncretizaria. Por certo, acreditava que a // 1 RE I S 1 2 : 1 - 2 4 ; 1 4 : 21 - 31 dinastia de Davi e a prosperidade de Salo­ mão prevaleceriam , mas havia se esquecido de 2 Samuel 7:12-14. Se Roboão escolheu Siquém para essa reunião tão im portante, foi uma das coisas mais inteligentes que fez. Siquém ficava cer­ ca de sessenta e quatro quilôm etros ao nor­ te de Jerusalém , um a boa cidade central para uma reunião desse tipo. Era localizada em M anassés, o que agradaria o povo das dez tribos do Norte. O túm ulo de José encontra­ va-se em Siquém (Js 2 4 :3 2 ), o tabernáculo havia ficado em Siló, na tribo de Efraim, e o profeta Sam uel era da região m ontanhosa de Efraim (1 Sm 1:1). Abraão, pai do povo de Israel, havia estado em Siquém (G n 12:6), e Jacó tam bém havia passado por lá (G n 3 3 :1 8 ). Josué havia confirm ado a aliança de Israel nesse lo cal (Js 2 4 ), de m odo que Siquém era uma cidad e de grande im por­ tância histórica e espiritual para a fé do povo de Israel. Efraim e M a n a ssé s, d e sc e n d e n te s de José, consideravam -se as principais tribos de Israel e expressaram abertam ente seu res­ sentim ento com os líderes de Judá (Sl 78:60, 67). D avi havia recebido de braços abertos voluntários de Efraim e de M anassés em seu grupo de guerreiros (1 C r 1 2 :3 0 , 31 ); mas, durante ano s, essas duas tribos lançaram sem entes de divisão e de discórdia na terra (ver Jz 8 :1 ; 12:1). Talvez Roboão pensasse que um a co ro a ç ã o em Siquém seria um passo em direção à paz e à união entre o Norte e o Sul, quando, na verdade, aconte­ ceria exatam ente o oposto. A petição das d e z tribos (vv. 4, 5; 2 C r 10:4, 5). Sob a direção de Jeroboão, os líde­ res das dez tribos protestaram contra o jugo pesado que o pai de Roboão havia co lo ca­ do sobre eles, inclusive os altos im postos e os trabalhos forçados. A o que parece, quan­ do Salom ão reorganizou a terra em d o ze distritos (4:7-19), Judá não foi incluída, e é possível que essa política tenha sido segui­ da quando recrutou os trabalhadores (5:1318). Não é difícil entender a reação das ou­ tras tribos a esse favoritismo ostensivo. Por que essas pessoas esforçadas deveriam se sacrificar para que o rei vivesse numa casa 439 im ponente, fosse m im ado por servos e se banqueteasse diariam ente? O povo encon­ trava-se debaixo de um jugo doloroso e es­ tava cansado dessa situação. Nos dias dos ju ize s, quando Israel havia pedido um rei, Samuel advertiu o povo de que o luxo de ter um m onarca lhe custaria caro (1 Sm 8:10-22). Salom ão fez exatam en­ te as coisas sobre as quais Samuel havia ad­ vertido e, a menos que Roboão m udasse sua política, essas práticas teriam continuidade. É bem provável que Roboão tenha se exaspe­ rado com o fato de Jeroboão ser o porta-voz das dez tribos do Norte, pois, certam ente, estava a par da profecia de Aías e do fato de que seu pai havia tentado matar Jeroboão (11:29-40). Além disso, Jeroboão era muito benquisto no Egito, e Roboão não sabia o que ele e o Faraó haviam planejado juntos. O reino não estava em sua melhor form a, e som ente Roboão poderia m elhorar as co i­ sas. A q u eles que visitavam Israel ficavam pasm os diante do que viam , mas não eram capazes de detectar a deterioração moral e espiritual que se infiltrava nos alicerces do reino, a co m eçar pela sala do trono. O povo estava disposto a servir a Roboão se ele tam bém lhes servisse e facilitasse um pouco a vida deles. Todos os verdadeiros grandes líderes de Deus haviam sido servos do povo - M oisés, Josué, Samuel e, espe­ cialm ente, D avi - , mas Salom ão havia opta­ do por ser uma celebridade em vez de um servo, e Roboão estava seguindo o péssimo exem plo de seu pai. Q uand o o Filho de Deus veio à terra, assumiu a form a de servo (Lc 2 2 :24-27; Fp 2:1-13) e ensinou seus discípu­ los a liderar pelo serviço . Jesus lavou os pés dos discípulos com o exem plo de serviço hu­ milde (Jo 13:1-17) e deseja que sigamos o exem plo dele, não que im itemos os "grandes líderes" do m undo secular (M t 20:25-28). A recom endação dos conselheiros (vv. 6-11; 2 C r 10:6-11). Devem os dar crédito a Roboão por haver pedido um prazo, a fim de poder pensar e consultar seus conselhei­ ros. No entanto, o tem po não resolve os problem as; o que conta é aquilo que os lí­ deres fazem com o tem po. Não há evidên­ cia alguma de que o rei tenha buscado ao 440 1 REIS 1 2 : 1 - 2 4 ; 1 4 : 2 1 - 3 1 Senho r em o ração ou de que tenha co n ­ sultado o sumo sacerdote ou um profeta. Temos a im pressão de que já havia se deci­ dido, mas estava disposto a passar por todo o processo a fim de agradar o povo. Um a das m arcas da liderança de Davi foi sua dis­ posição de humilhar-se, buscar a vontade de D eus e, depois, p edir a b ê n ção de D eu s sobre suas decisões. O s líderes que tentam im pressionar o povo com suas aptidões, mas que não separam o tempo necessário para buscar a Deus, apenas provam que não sa­ bem aquilo que é m ais im po rtante na li­ derança espiritual: que ocupam o segundo lugar no poder (ver Js 5:13-15). A o tomar decisões importantes, devemos buscar conselho espiritual (Pv 1 1 :1 4 ; 1 5 :2 2 ; 2 4 :6 ), mas é im portante nos certificarm o s de que falarem os com cristãos maduros que podem nos guiar pelo cam inho certo. D e acordo com o escritor inglês Frank W . Boreham : "Tom am os nossas decisões e, então, elas se viram e nos tomam de surpresa". Por vezes, nos esquecem os de nossas decisões, mas elas não se esquecem de nós, pois co ­ lhem o s aquilo que sem e am o s. Se d e sc o ­ brirmos que escolhem os seguir um desvio, devem os admitir o fato, confessar nosso pe­ cado e pedir ao Senhor que nos conduza de volta ao cam inho certo. O s anciãos deram a Roboão o melhor conselho possível: seja um servo do povo e o povo servirá a vo cê. Porém , uma vez que Roboão já havia se decidido, rejeitou essa resposta im ediatam ente e se voltou para seus contem porâneos, os quais ele sabia que lhe daríam a resposta que desejava ouvir. Não tinha intenção alguma de pesar os fatos, de buscar a vontade de Deus e de tom ar a de­ cisão mais sábia. Em mais de cinqüenta anos de m inistério, vi supostos líderes cristãos que usaram a m esm a abordagem de Roboão causarem estragos terríveis na obra do Se­ nhor e, depois, partirem , deixando para trás seu veneno e escom bros, que levam anos para serem removidos. O mundo antigo respeitava a idade e a maturidade, mas nossa sociedade m oderna venera a juventude. Em nossas igrejas e minis­ térios paraeclesiásticos, há uma necessidade prem ente de um eq uilíbrio entre as gera­ çõ es, no qual os mais velhos e os mais jo­ vens com unicam -se e aprendem uns com os outros, com o numa família (Tt 2:1-8; 1 Tm 5 :1 , 2). Um amigo me contou que desejava co m eçar uma igreja só para pessoas acima de 50 anos de idade, e eu sugeri que colo­ casse um coveiro no conselho. O propósito de D eus é que sua igreja inclua hom ens, m ulheres, idosos, jo vens e gente entre os dois extrem os e que todos aprendam uns com os outros. Há pessoas insensatas de todas as idades, e a idade não é garantia alguma de sabedoria, nem mesm o de expe­ riências proveitosas. O s jo vens em minha vida me ajudam a ficar em dia com o pre­ sente e eu os ajudo a ficar em dia com o passado, de modo que vivem os num rela­ cionam ento de equilíbrio e de amor. O s co n se lh e iro s m ais jo v e n s estavam interessados, antes de tudo, em ser im por­ tantes e em eng randecer a si m esm os e à autoridade do novo rei. Na opinião deles, o m elhor a faze r era dar um a dem onstra­ ção de força. O s jo vens, de um m odo ge­ ral, procuram ter autoridade e liberdade, até que, para sua tristeza, descobrem que po­ dem não estar prontos a usar essas dádivas com sabedoria. D epois de adm oestar tan­ to os cristãos idosos quanto os mais jovens, Pedro escreveu: "outrossim , no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de hum ilda­ de, porque D eus resiste aos soberbos, co n­ tudo, aos hum ildes co n ce d e a sua graça" (1 Pe 5:5 ). A d e c la ra ç ã o d o r e i (vv. 12-17; 2 C r 10:12-17). Um hom em de 41 anos que ha­ via crescido no palácio e que havia recebi­ do três dias para refletir sobre uma questão e, além disso, tinha acesso àqueles que po­ deriam determ inar a vontade de Deus, não deveria jam ais ter tom ado esse tipo de deci­ são. O pai de Roboão havia, até m esm o, escrito provérbios sobre sabedoria, sendo que um deles dizia: "A resposta branda des­ via o furor, mas a palavra dura suscita a ira" (Pv 15:1). Porém , a liderança de Roboão era m otivada pelo orgulho, não pela hum ilda­ de, e o orgulho não quer saber de bondade e de m ansidão. "Alguém há cuja tagarelice 1 RE I S 1 2: 1 - 2 4 ; 1 4: 2 1 - 31 441 é com o pontas de espada, mas a língua dos sábios é m edicina" (Pv 1 2 :1 8 ). O rei respondeu ao povo com rispidez, um adjetivo que eqüivale ao termo hebraico traduzido por "duro" no versículo 4. Roboão falou com aspereza, e suas palavras foram duras; em vez de aliviar o jugo, o rei anun­ ciou que o tornaria ainda mais pesado e mais cortante. Seu dedo mindinho era m aior que a cintura de seu pai; se seu pai havia usado açoites, ele subm eteria o povo a flagelos (os chicotes com pedaços de metal, sem elhan­ tes aos flagelos rom anos, eram cham ados de "esco rp iõ es"). Tanto com suas palavras quanto com sua atitude, o novo rei deixou de Davi (2 Sm 2 0 :1 ), deixaram a assem bléia e proclam aram Jeroboão seu rei. As únicas e xceçõ es foram os cidadãos vindos das dez tribos e que, por algum motivo, haviam se assen tado em Judá. Estes p erm an eceram fiéis ao trono de Davi. A prim eira decisão oficial de Salom ão conferiu-lhe a reputação de possuir grande sabedoria (3:16-28), mas a prim eira decisão oficial de seu filho mostrou à nação que ele era insensato e im prudente. Durante séculos, o povo de Israel considero u a divisão do reino a m aior tragédia de sua história e o parâmetro usado para medir todas as outras calam idades (Is 7:1 7). claro ao povo que ele era im portante e po­ deroso, enquanto eles eram insignificantes e fraco s, m ensagem , sem dúvid a algum a, 2. U m r e i i r a d o (1 Rs 12:18-24; 2 C r 10:18, 19; 11:1-4) perigosa. Roboão representava a terceira geração da dinastia davídica e, com freqüência, é a terceira geração que co m eça a destruir aqui­ lo que as gerações anteriores construíram . O povo de Israel serviu ao Senhor nos dias de Josué e nos dias dos anciãos que ele ha­ via treinado , mas, quando veio a terceira geração, os israelitas voltaram-se para os ído­ los, e a nação se desintegrou (Jz 2:7-10). Vi esse mesm o fenôm eno ocorrer em em pre­ sas e em igrejas. O s fundadores trabalharam arduam ente e realizaram grandes sacrifícios a fim de co m eçar um negócio ou uma igre­ ja, e a segunda geração mantém-se fiel aos exem plos e crenças dos fundadores. A ter­ ceira geração, porém , herda tudo sem ter de trabalhar nem de pagar pelo que rece­ beu e destrói aquilo que outros haviam se esforçado tanto para construir. É evidente que, se a segunda geração não ensinar a seus sucessores os cam inhos do Senhor, ou se os mais jovens não aceitarem os ensina­ mentos, não será motivo de espanto ver a terceira geração se d esviar (D t 1 1 :1 8 -2 1 ; 3 2 :4 6 ; Ef 6:4 ). A s co n se q ü ê n cia s do d iscurso de Ro­ boão foram previsíveis: "todo o Israel" (isto é, as d ez tribos do N o rte )4 anu n ciou sua decisão de separar-se das outras duas tribos e de estabelecer o próprio reino. Gritaram as palavras de Seba, perturbador no tempo Enquanto Roboão ainda estava em Siquém, procurou tardiam ente usar de diplom acia. Enviou um de seus oficiais de co nfian ça a uma reunião das dez tribos, a fim de tentar uma reconciliação ou, pelo menos, de man­ ter a discussão em andam ento. Sua escolha de m ediador foi im prudente, pois Adorão era e n carre g ad o dos trab alh o s fo rça d o s, possivelm ente um a das áreas mais espinho­ sas da d isp u ta .5 T a lv e z A d o rão e stive sse autorizado a negociar cargas mais leves de trabalho ou mesm o reduções nos impostos, mas, se esse era o caso, seu fracasso foi mo­ num ental. O povo apedrejou o m ediador, e o rei, assustado, fugiu para Jerusalém assim que soube do ocorrido . Roboão havia se­ guido o conselho errado, usado a aborda­ gem errada e escolhido o m ediador errado. O que mais poderia fazer de errado? D eclarar guerra! A final, ele era o rei e, ao declarar guerra, poderia afirm ar sua autoridade e mostrar sua fo rça m ilitar. A lém disso, talvez seu rival, Jeroboão, acabasse morrendo no cam po de batalha. Afinal, seu pai, Salom ão, havia man­ dado matar Jeroboão (1 1 :4 0 ), e Salom ão era o homem mais sábio do mundo. As dez tri­ bos se rebelaram contra o rei e até mataram um hom em inocente, cuja única tarefa era buscar a paz. O am ado rei D avi declarou guerra aos am onitas pelo simples fato de te­ rem envergonhado seus enviados (2 Sm 10), 442 1 REIS 1 2 : 1 - 2 4 ; 1 4 : 2 1 - 3 1 ao passo que o enviado de Roboão havia sido assassinado. A s dez tribos do Norte es­ tavam dividindo aquilo que o Senhor havia unido e m ereciam ser castigadas. Haviam até convocado uma assem bléia e nom eado Jeroboão seu rei! Desrespeitar a aliança de Deus e abandonar a linhagem davídica eram decisões perversas. Ao que parecia, todas as co n sid e raçõ e s apontavam logicam ente para uma só co nclusão: guerra. Tod as as c o n sid e ra ç õ e s, e x c e to um a: essa guerra era da vontade de Deus? D e ­ pois que Roboão havia reunido um exército de 180 mil hom ens,6 descobriu que havia perdido seu tem po. O Senhor enviou o pro­ feta Sem aías7 para dizer ao rei que deveria suspender o ataque e m andar os hom ens de volta para casa. A pesar de os aconteci­ mentos serem conseqüência da insensatez de Roboão e da agressividade de Jeroboão, foi Deus quem ordenou e prevaleceu, a fim de causar a divisão, cum prindo, desse modo, a profecia de Aías. Cad a hom em havia agi­ do livrem ente, com o tam bém seus co nse­ lheiros e, no entanto, a vontade de D eus havia sido feita (ver A t 2 :2 3 ). Nosso D eu s soberano é tão grande que perm ite às pes­ soas tom arem as próprias decisões e, ainda assim, cum pre seus propósitos. O plano de Deus era apenas um elem en­ to; outro era o fato de ser errado para Judá e Benjam im lutar contra os irm ãos (v. 24). Parece estranho, mas conflitos fam iliares e nacionais são m encionados repetidam ente na história de Israel. A braão e Ló tiveram um desacordo (G n 13), e Abraão lembrou seu sobrinho de que não deveriam brigar, pois eram irm ãos (1 3 :8 ). Jacó e Esaú tiveram conflitos que se estenderam por toda a vida e que foram perpetuados durante séculos por seus d e sc e n d e n te s (G n 2 7 :4 1 -4 6 ; Sl 1 3 7 :7 ; O b 10-13). José era odiado pelos ir­ mãos (G n 37), e A rão e M iriã criticaram o irm ão, M oisés (Nm 12). Saul era inimigo de Davi e, em várias ocasiões, tentou matá-lo. "O h ! C o m o é bom e agradável viverem uni­ dos os irm ãos!" (Sl 1 3 3 :1 ).8 Na história do Antigo Testam ento, en ­ contram os, com freqüência, um profeta co n­ frontando um rei com a declaração: "Assim diz o S e n h o r " . Sem pre que um rei, um sa­ cerdote ou mesm o outro profeta saíam da linha, um pro feta ap resentava-se para repreendê-lo, e, se a mensagem desse enviado de Deus era ignorada, a mão de julgam ento do Senhor pesava sobre o culpado (ver 1 Rs 1 3 :2 1 , 2 2 ; 14:6-11; 16:1-4; 2 0 :2 8 s s; 2 Rs 1:1 6 ; 2 2 :1 4 , 15). Israel deveria ser o povo da Palavra de D eus, e a Palavra de D eus de­ veria receb er m aior co nsideração do que, até m esm o, a palavra do rei. Pode-se dizer a favor de Roboão que ele cancelou o ataque, apesar de ter havido, em anos vindouros, um a série de incidentes e de conflitos acirrados entre Roboão e Jero­ boão na fronteira entre os dois reinos (1 4 :2 0 ; ver tam bém 1 5 :6 , 16, 32 ; 2 C r 1 1 :1 ). No entanto, é possível que Roboão tenha fica­ do grato por seus planos nunca terem dado certo. C om o o pai, não era um guerreiro e não estava plenam ente seguro da vitória. Segundo o plano de Deus, deveria haver dois reinos, e isso encerrava o assunto. Pelo me­ nos Roboão sujeitou-se à Palavra de Deus. N esse ponto do relato, o escritor inter­ rom pe a história de Roboão para nos falar sobre Jeroboão. O relato de Roboão é ex­ pandido em 2 C rôn icas 11:5-22 e, depois, retom ado e concluído em 1 Reis 14:21-36 (2 C r 12:1-16). 3. U m r e i a s t u t o (2 C r 11:5-22) Roboão ouviu e obedeceu à mensagem de Deus transm itida por Sem aías, e o Senhor com eçou a lhe dar sabedoria e a abençoar sua vida e seu trabalho. Se ele tivesse conti­ nuado a trilhar esse cam inho, teria conduzi­ do Judá ao tem or do Senhor e à verdadeira grandeza, mas se afastou de Deus e perdeu as bênçãos que ele e seu povo poderiam ter desfrutado.9 D e u s a b e n ç o o u seu s p ro je to s d e co n s­ tru ç ã o (vv. 5-12). Seu pai, Salom ão, havia protegido as fronteiras com cidades fortifi­ ca d as, on de ficavam so ld a d o s, ca va lo s e carros (1 Rs 9:15-19; 2 C r 8:1-6), e Roboão seguiu esse bom exem plo. As cidades que esco lheu form avam um a m uralha de pro­ teção para Jerusalém ao leste, a oeste e atravessando a região Sul. O rei sabia que 1 R E I S 12: 1 - 2 4 ; 1 4: 2 1 - 31 Jeroboão era benquisto no Egito, de modo que ta lv e z e stiv e sse p e n san d o no Faraó quando colocou essa linha de defesa. E inte­ ressante que não separou cidades defensivas na fronteira ao norte. D epois da advertên­ cia de Sem aías, é possível que o rei tenha hesitado em provocar as tribos do Norte ou em dar a im pressão de que Judá estava se preparando para guerrear. Talvez tivesse es­ peranças de que um a "p o lítica de portas abertas" aliviasse a tensão e facilitasse a ida do povo das dez tribos para Jerusalém. D eu s a ben çoou seu povo (vv. 13-17). O rei Jeroboão nom eou os próprios sacer­ dotes e transformou as dez tribos do Norte num centro de idolatria, mas, durante três anos, Roboão manteve o povo de Judá fiel à lei de M oisés. Em decorrência disso, os sacer­ dotes e levitas em Israel que eram dedicados ao Senhor foram para Judá e enriqueceram grandem ente a nação. Alguns sacerdotes e levitas sim plesm ente "recorreram a Roboão" (v. 13) e perm aneceram em Israel, mas ou­ tros abriram mão de suas propriedades em Israel e se mudaram de vez para Judá (v. 14) O u tro grupo p e rm an e ceu em Israel, mas viajava para Jerusalém três vezes por ano a fim de com parecer às festas anuais (v. 16). (Até certo ponto, temos esses m esm os três grupos nas igrejas de hoje.) O acréscim o desses sacerdotes e levitas tementes a Deus e de suas famílias à população de Judá for­ taleceu o reino e trouxe as bênçãos do Se­ nhor. "Feliz a nação cujo Deus é o S e n h o r, e o povo que ele escolheu para sua herança" (Sl 3 3 :1 2 ). Deus abençoou sua família (vv. 18-23). Assim com o D avi e Salom ão, Roboão deso­ bedeceu à Palavra e tomou para si muitas esposas (D t 1 7 :1 7 ). O texto só registra o nom e de duas das suas esposas: M aalate, neta de Davi por parte de pai e mãe, e M aaca, filha de A bsalão. Um a vez que Absalão, fi­ lho de Davi, tinha apenas uma filha, Tamar (2 Sm 1 4 :2 7 ), é possível que M aaca fosse sua neta. 1 Reis 15:2 diz que M aaca era filha 443 neta de Absalão e bisneta do rei D avi. Pelo m enos duas das dezoito esposas de Roboão eram de linhagem davídica pura. Era importante que reis e rainhas tivessem famílias grandes para que houvesse um her­ deiro para o trono e substitutos, caso algo ac o n te c e s s e ao p rín cip e h e rd e iro . O rei Roboão foi abençoado com uma prole nu­ merosa: vinte e oito filhos 'e sessenta filhas. O rei tomou uma decisão sábia ao nomear os filhos adultos oficiais e os distribuiu por toda Judá e Benjam im . Esse sistema teve vá­ rios resultados que trouxeram paz e eficiência para o palácio. Em primeiro lugar, os prínci­ pes não estavam apenas atrás dos próprios interesses, envolvidos em intrigas palacianas, com o haviam feito alguns dos filhos de Davi para a infelicidade de seu pai. Roboão havia crescido em meio ao luxo, mas teve o bomsenso de pôr seus filhos para trabalhar. O segundo benefício foi a possibilidade de Roboão avaliar o caráter e as aptidões desses filhos e d e cid ir qual deles o su ced e­ ria. Deus cham ou Davi para ser rei e, depois, lhe disse que Salom ão seria seu sucessor. Não há evidência alguma de que D eus te­ nha nom eado um sucessor para Salom ão, de modo que Salom ão deve ter escolhido Roboão para assum ir o trono. D ep o is de observar os filhos, Roboão escolheu Abias, filho de M aaca, para ser seu herdeiro, ape­ sar de seu filho M aalate ser o primogênito (vv. 18, 19). Em primeiro lugar, Roboão co ­ locou Abias com o "chefe, príncipe entre seus irm ãos" (v. 22), o que indica que Abias era o braço direito do pai, talvez até seu co-regente. Roboão reconheceu em seu filho a aptidão necessária para um reinado bem-su­ cedido. Infelizm ente, Abias não fez jus a seu nom e: "Jeová é pai". E possível que as "m uitas m ulheres" que Roboão obteve para seus filhos fossem re­ sultado de tratados para garantir a paz entre Judá e seus vizinhos. Esse foi o plano segui­ do por seu pai, Salomão. de A bsalão, e, em 2 C rô n ica s 13 :2 , ela é cham ada de M icaía, filha de Uriel de G ibeá. 4. U Se esse Uriel era, de fato, o marido de Tamar, a única filha de Absalão, então M aaca era Roboão andou com o Senhor durante três anos depois de tornar-se rei (2 C r 1 1 :1 7 ), m r ei a p ó sta ta (1 Rs 14:21-31; 2 C r 12:1-16) 444 1 REIS 1 2 : 1 - 2 4 ; 14 :2 1 -3 1 mas, no quarto ano de seu reinado, quando seu trono estava seguro, ele e todo o judá afastaram-se de Jeová e passaram a adorar ídolos (2 C r 12:1, 2). "Fez ele o que era mal, porquanto não dispôs o coração para bus­ car ao S e n h o r " (2 C r 1 2 :1 4 ). A expressão "deixar os m andam entos do S e n h o r " e ou­ tras sem elhantes ocorrem com freqü ência no registro dos reinados dos m onarcas de Judá e Israel (1 Rs 1 8 :1 8 ; 1 9 :1 0 , 14; 2 Rs 1 7 :1 6 ; 2 1 :2 2 ; 2 2 :1 7 ; 2 C r 1 2 :1 , 5; 1 3 :1 0 , 11; 1 5 :2 ; 2 1 :1 0 ; 2 4 :1 8 , 20, 2 4 ; 2 6 :6 ; 2 9 :6 ; 3 4 :2 5 ). D avi havia ad vertid o Salom ão so­ bre esse pecado (1 C r 2 8 :9 , 20), com o tam­ bém o próprio Senhor havia feito (1 Rs 3 :1 4 ; 9:4-9; 11:9-13). No entanto, em sua idade mais avançada, Salom ão adorou tanto ao Senhor quanto os ídolos abom ináveis dos pagãos. Salom ão foi influenciado a adorar os ídolos por suas esposas pagãs, e talvez Roboão tenha sido influenciado por sua mãe am onita. Q u alqu er que tenha sido a influên­ cia, o rei sabia que estava rom pendo a alian­ ça e pecando contra o Senhor . O z e lo santo d e D e u s (vv. 21-24). Q u an ­ do a Bíblia fala que o Senhor é um "D eus z e lo so " (ver 1 4 :2 2 ), refere-se a seu am or zeloso por seu povo, am or que não tolera co n co rrê n cia . Israel "casou-se" com o Se­ nhor no m onte Sinai, quando am bos en­ traram em alia n ça , e a id o latria era um a transgressão terrível desse pacto, o equiva­ lente a uma esposa com eter adultério.10 Sem dúvida, Roboão sabia o que Deus havia dito à nação no monte Sinai: "porque eu sou o S e n h o r , teu D eus, D eus zeloso " (Êx 2 0 :5 ). Essa m esma verdade tam bém faz parte do cântico de M oisés: "A zelos me provocaram com aquilo que não é D eus; com seus ídolos me provocaram à ira" (D t 3 2 :2 1 ; ver tam ­ bém Sl 7 8 :5 8 ; Jr 4 4 :3 ). Paulo usou a imagem do casam ento quando advertiu a igreja para que ficasse longe da idolatria pagã (1 Co 1 0 :2 2 ), e Tiago cham ou os cristãos profa­ nos de "infiéis [adúlteros]" (Tg 4:4). O rei permitiu e apoiou a construção de santuários idólatras na terra (os "altos"), dei­ xou que fossem erguidas pedras sagradas ("e stá tu a s"), im agens fá lica s e po stes de A será ("colunas e postes-ídolos"). Também permitiu a existência de prostitutos templares de am bos os sexos para servir o povo nesses santuários, um a prática abom inável proibida pela lei de M oisés (D t 2 3 :1 7 , 18). A idolatria e a im oralidade andam juntas (Rm 1:21-27), e não dem orou para que os peca­ dos de paganism o condenados pela lei se tornassem práticas com uns e aceitas em Judá (Lv 18, 20 ; Dt 18:9-12). O povo de Judá não era mais uma luz para os gentios; em vez disso, a escuridão dos gentios havia invadi­ do a terra e estava apagando sua luz. Antes de julgarm os o rei e o povo de Ju d á, ta lv e z d e vêsse m o s e x a m in a r nossa vida e nossas igrejas. Pesquisas indicam que, em se tratando de m oralidade sexual, o povo "nascido de novo" das igrejas não tem um estilo de vida muito diferente das pessoas não cristãs fora da igreja. O s ídolos materia­ listas e hu m an istas do m undo não salvo infiltraram-se nas igrejas e são tolerados e prom ovidos. O Senhor castigou Roboão por seus pecados. Q uanto tem po levará até que o Senhor discipline sua igreja? A d isc ip lin a a m orosa d e D e u s (vv. 253 1 ; 2 C r 12:1-16). Deus foi paciente com o povo de Judá e Roboão durante um ano, mas, no quinto ano do reinado de Roboão, a longanim idade do Senhor havia chegado ao fim. Deus dirigiu Sisaque, rei do Egito, a invadir Judá com um grande exército e, ape­ sar das novas defesas de Roboão, derrotou uma cidade após a o utra.11 (D e acordo com uma inscrição egípcia, Sisaque tomou cen­ to e cin qüenta e seis cidades em Israel e Judá.) Q uand o os egípcios chegaram a Jeru­ salém, o profeta Sem aías voltou a entrar em cena com uma mensagem curta e objetiva de D eus: "V ó s me deixastes a mim, pelo que eu também vos deixei em poder de Sisaque" (1 2 :5). Sem pre que o povo de Deus é discipli­ nado em decorrência de seus pecados, pode re co m e ç a r o u vin d o a Palavra de D eu s e humilhando-se diante do D eus da Palavra. Essa foi a prom essa que Deus deu a seu povo quando Salom ão consagrou o tem plo (2 C r 7 :1 3 , 14). Roboão e seus oficiais hum ilha­ ram-se diante do Senhor, e ele im pediu Sisa­ que de atacar Jerusalém . Porém , Judá ainda 1 RE I S 12: 1 - 2 4 ; 1 4: 2 1 - 31 se encontrava sob o poder de Sisaque e te­ ve de lhe pagar tributo. O povo de Deus descobriu que sua "lib erd ade para pecar" os conduziu à dolorosa e dispendiosa servi­ dão sob o poder do Egito, pois as conseqüên­ cias do pecado sem pre custam caro. A fim de cum prir as exigências de Sisa­ que, Roboão lhe deu ouro do tem plo e do palácio do rei, inclusive os quinhentos es­ cudos de ouro que Salom ão havia feito para a "C asa do Bosque do Líbano" (1 Rs 10:16, 1 7). Pobre dem ais para fazer outros escudos iguais, Roboão os substituiu por escudos de bronze, e as cerim ônias reais continuaram com o se nada tivesse acontecido. Q uantas vezes tesouros preciosos de gerações ante­ riores se perdem por causa do pecado e, depois, são substituídos por rep ro d uçõ es baratas. A vida continua, e ninguém parece 1. 445 notar a diferença. Foi o que aconteceu com a igreja de Laodicéia (Ap 3:17-19). D epo is da invasão de Sisaque em 925 a .C ., Roboão reinou por mais do ze anos e m orreu em 913 a .C . Se tivesse continuado a an d ar com o S en h o r e a co n d u z ir seu povo à fidelidade na alian ça com D eus, o Senh o r teria feito grandes co isas por ele. Em v e z disso, po rém ; seus p ecad os e os pecad os do povo que o seguiu deixaram a nação mais fraca, mais pobre e sob o do­ m ín io do in im ig o . C o m o d isse C h a rle s Spurgeon: "D e u s não perm ite que seu povo peque com su cesso". Roboão foi "pelo cam inho de todos os mortais" e morreu aos 58 anos de idade. Nos­ sa esperança é que a hum ilhação dele e de seus líderes tenha durado para o resto de suas vidas e que tenham andado com o Senhor. Há aqueles que questionam com o é possível um homem de 41 anos ser cham ado de "jovem e indeciso" (2 C r 13:7), mas idade e maturidade são duas coisas diferentes. Durante a segunda parte do reinado de Salomão, Roboão tomou para si dezoito esposas e sessenta concubinas, e sua família foi constituída de vinte e oito filhos e sessenta filhas (2 C r 11:18-21). 2. Salvo duas exceçõ es, quando o texto apresenta inform ações sobre um rei de Judá, inclui o nome de sua mãe. Era importante 3. Alguns estudiosos acreditam que Jeroboão estava realizando uma reunião no reino do Norte e que Roboão viu esse que a linhagem de Davi fosse identificada com precisão. As exceções são Jorão (2 Rs 8:17) e A caz (2 Rs 16:2). acontecim ento com o uma oportunidade de conseguir um a audiência e de criar alguns laços com o reino do Norte. Se esse é o caso, sem dúvida Roboão transformou uma excelente oportunidade numa terrível calam idade. 4. A e xp ressão "todo o Israel" pode sig nificar os dois reinos (2 C r 9 :3 0 ; 1 2 :1 ) ou apenas as d e z tribos (2 C r 1 0 :1 6 ; 1 1 :1 3 ). 5. Esse homem tinha vários nomes ou se trata de três homens distintos com nomes parecidos? Adorão era encarregado dos O leitor deve con sid erar o con texto e usar de discernim ento . trabalhos forçados durante o reinado de Davi (2 Sm 20 :2 4), e Adonirão, durante o reinado de Salom ão (1 Rs 4:6). O homem enviado por Roboão é cham ado de Adorão (2 C r 10:18). É difícil crer que um homem possa ter servido durante tantos anos, mas talvez tenha sido o caso. Alguns estudiosos acreditam que trata-se de três homens: A dorão, que serviu Davi, Adonirão, que serviu Salomão, e o filho ou neto do primeiro Adorão, com o mesmo nome do pai ou avô, que serviu Roboão. Mas será que Roboão enviaria um oficial inexperiente e relativamente desconhecido a uma missão diplomática de tamanha importância? É mais provável que o nome Adorão seja outra form a de Adonirão, o homem que serviu Salom ão, pois era o jugo de Salomão e não de Davi que estava oprim indo o povo. 6. No último censo de Davi, Joabe relatou quinhentos mil homens fisicam ente aptos e disponíveis para ir à guerra em Judá (2 Sm 2 4 :9 ), enquanto as tribos do Norte possuíam oitocentos mil homens. Esses números haviam sido levantados mais de quarenta anos antes, mas talvez a população não tivesse mudado tanto. 7. Em 1 Reis 12 :2 2, Sem aías é cham ado de "hom em de D eus", título usado com freqüência para os profetas, especialm ente em 1 e 2 Reis (1 Rs 1 2 :2 2 ; 13:1, 2 6 ; 17 :1 8 , 24; 2 0 :2 8 ; 2 Rs 1:9, 11; 4 :7 , 9, 16, 22, 25, 27, 40, 42; 5 :1 4 ). M oisés recebeu esse título (D t 3 3 :1 ; Js 1 4 :6 ), e Paulo usou-o para Tim óteo em 1 Tim óteo 6:11 e em 3:1 7 para referir-se a todos os cristãos consagrados. 8. O povo judeu deve ser reconhecido e elogiado com o a única nação na história a ter deixado um retrato preciso de seus líderes e um relato factual de sua história. A Bíblia é um livro judeu e, no entanto, não apresenta um ponto de vista otimista com relação a Israel. É evidente que as Escrituras foram inspiradas por Deus, mas ainda assim foi preciso um bocado de honestidade e de humildade para escrever esse registro e admitir sua veracidade. 1 RE I S 12: 1 - 2 4 ; 1 4 : 21 - 31 446 9. Tanto em Reis quanto em Crônicas, a mensagem de obediência e de bênção é transmitida de maneira bastante clara. Poren\ não devemos concluir que todos os que são obedientes a Deus escapam de sofrimentos e de provações, pois mais de u rr -e piedoso teve problemas pessoais e alguns deles íoram assassinados. Nenhum rei foi perfeito, mas a aliança d e D eus com Israe assegurava que ele abençoaria a nação se o povo obedecesse à sua vontade. 10. Esse tem a é expandido e ilustrado no Livro de O séias. A esposa do profeta O séias tornou-se uma prostituta, e ele te\e oe comprá-la de volta num m ercado de escravos. 11. Não se trata do mesmo Faraó que fez um tratado com Salomão e que lhe deu uma filha para ser sua esposa. O novo Faraó nãc tinha uma relação amigável com Judá. 8 U m N o v o R ei, u m A n t ig o P e c a d o 1 R eis 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 rei Jero boão1 era um homem de ação e não um filósofo. Cham ou a atenção de Salom ão por manter-se ocupado, ser efi­ ciente, confiável e produtivo (1 1:26-28). Era o líder popular ideal, que sabia com o lutar em favor do povo e defender suas causas. Se alguém lhe perguntasse sobre sua fé pes­ soal no Senhor, sua resposta seria um tanto o b scu ra. Ele havia v ivid o no Egito tem po suficiente para desenvolver uma tolerância à idolatria bem com o uma com preensão de com o a religião pode ser usada para contro­ lar o povo. Nesse sentido, Jeroboão seguiu a m esma linha de N abucodonosor (Dn 3), de H e ro d e s A g rip a I (A t 1 2 :1 9 - 2 5 ), do anticristo (Ap 13, 1 7) e dos demagogos da moda nos dias de hoje. Porém, ao longo dos vinte e dois anos de seu reinado, Jeroboão com eteu três erros. O 1. N ão cre u nas p ro m e ssa s de D e u s (1 Rs 12:25-33) Um a vida de cia à vontade m essas, mas Q uando Aías sucesso depende da obediên­ de D eus e da fé em suas pro­ je ro b o ã o falhou em am bos. transmitiu a Jeroboão a m en­ sagem de Deus garantindo-lhe o trono do reino de Israel (11:28-39), o profeta deixou exem plo de Salom ão e conduziu o povo à idolatria. Essa mensagem deveria ter servido de advertência a Jeroboão, a fim de que fos­ se fiel ao Senhor e que se mantivesse afas­ tado de falsos deuses. O Senhor tam bém prometeu edificar para que Jeroboão "um a casa estável" (1 1 :3 8 ). Um a grande prom es­ sa na qual, no entanto, Jero b o ão não foi cap az de crer. M e d o (vv. 25-28). U m a das primeiras evi­ dências de incredulidade é o m edo. Tiram os os olhos do Senhor e co m eçam os a olhar para as circunstâncias. "Por que sois tímidos, hom ens de pequena fé?", perguntou Jesus aos discípulos (M t 8:23-27), lembrando-os de que a fé e o medo não podem coexistir no mesm o coração por muito tempo. O medo de Jeroboão era que o reino do Sul o ata­ casse e que o próprio povo desertasse dele e voltasse a Jerusalém para adorar. A lei não apenas determ inava que o tem plo em Je­ rusalém era o único local onde deviam ser oferecidos os sacrifícios (D t 12), com o tam ­ bém ordenava que todos os hom ens israe­ litas fossem ao templo três vezes por ano, a fim de o b se rv a r a c e le b ra ç ã o das festas prescritas pela lei (Êx 23:14-1 7). E se o povo decidisse ficar em Judá e não voltar mais a Israel? M esm o que voltassem para o Norte depois da adoração em Jerusalém , quanto tempo conseguiriam viver dividindo sua leal­ dade entre os dois reinos? Talvez Jeroboão tenha se lem brado da situ açã o d ifícil de Isb o se te, o su ce sso r de Saul que tentou governar sobre as dez tribos do Norte, mas fracassou e foi assassinado (2 Sm 4). Se hou­ vesse um movim ento popular em Israel de­ fendendo a união dos dois reinos, Jeroboão seria um hom em morto. S egu rança (v. 2 5 ). Assim com o Salomão trono (2 Sm 7:1-17). Tratava-se de uma m e­ dida que protegia a linha m essiânica para que o Salvador pudesse vir ao m undo. O Senhor arrancou d ez das d o ze tribos das (9:1 5-19; 1 1 :27) e com o Roboão (2 C r 1 1 :51 2), o rei Jero b o ão fo rtifico u sua capital (Siquém ) e reforçou as defesas de outras cid ad es-ch ave co n tra q u a isq u e r in vaso re s. Penuel (Peniel) ficava a leste do Jordão e era fam osa por ser o lugar onde Jacó lutou com o anjo do Senhor (C n 32). Ao que parece, posteriorm ente, Jeroboão mudou a capital de Siquém para T irza (1 4 :1 7 ), ou talvez ti­ mãos de Roboão, pois ele seguiu o péssimo vesse outro palácio nesse local. Em vez de claro que a divisão política não dava espa­ ço a um afastam ento religioso. D eus teria dado a Jeroboão o reino todo, mas havia feito uma aliança eterna com D avi, prom e­ tendo manter um de seus descendentes no 448 1 REIS 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 co n fia r qu e o S e n h o r seria seu escu d o e defensor, Jeroboão confiou nas próprias de­ fesas e estratégias. Substitutos (vv. 26-33). A solução mais fácil para o problem a de jero b o ão com rela­ ção à lealdade do seu povo foi estabelecer um centro de adoração para eles no territó­ rio de Israel. Porém , que autoridade o rei possuía para criar uma religião rival, quando o povo de Deus havia recebido sua forma de adoração das mãos do próprio Deus? E claro que não poderia construir um templo Jerusalém e outro em Dã, no extrem o norte (ver O s 8:5 , 6; 1 3 :2 , 3). A adoração ao Se­ nhor não podia ser mais conveniente! "Bas­ ta de subirdes a Jerusalém ", disse o rei ao povo (v. 28), e os israelitas se mostraram ex­ trem am ente dispostos a acreditar nele. O rei construiu santuários em Betei e em Dã e permitiu que o povo edificasse os próprios altos mais perto de casa. Instituiu por decre­ to real uma religião do tipo "faça você mes­ m o" e, com o no Livro de Juizes, "cada qual fazia o que achava mais reto" (Jz 1 7 :6 ; 18:1; para co m p etir com o tem plo de Salom ão em Jerusalém , nem escrever um a lei à altura daquela que M oisés havia recebido de Jeo­ vá e, muito menos, instituir um sistema sacrificial que garantisse o perdão dos pecados. Não era nenhum M oisés, e certam ente não poderia declarar ser Deus! O que Jeroboão fez foi aproveitar-se da tendência dos israelitas de se entregarem à idolatria e do desejo da maioria das pessoas de ter uma religião conveniente, não muito custosa e próxim a o suficiente da fé autori­ zad a para m anter a co n sciê n cia tranqüila. 1 9 :1 ; 2 1 :2 5 ). Se os cananeus e os egípcios podiam adorar bezerros, os israelitas tam­ bém p o d iam ! Je ro b o ã o se e sq u e ce u d e Êxodo 20:1-3 e 22 a 23, mas o Senhor não! U m a religião p re cisa de m inistros, d e modo que Jeroboão nomeou todo tipo de gente para servir com o "sacerdotes" nos aL tares em D ã e em Betei (1 3 :3 3 , 34 ; 2 Cr 11:13-17). O único requisito era que cada candidato trouxesse consigo um novilho e sete carneiros (2 C r 1 3 :9 ).3 Ao entregar a lei a M oisés, Deus havia deixado claro que os filhos de A rão serviriam com o sacerdotes no Jeroboão não disse ao povo para esquecer Jeová, mas sim para adorá-lo na form a de um bezerro de ouro. O rei havia visto está­ altar (Êx 28:1-5; 29:1-9; 40:12-16) e que, se qualquer um de outras tribos tentasse servir, seria m orto (Nm 3:5-10). Nem m esm o os tuas de bezerros e de touros tanto no Egito quanto na terra de C anaã e, supostam ente, essas im agens "co ntinham " a form a invisí­ vel dos d e u se s. Nas relig iõ es pagãs que Jero b o ão estava im itan d o , os b e ze rro s e touros sim bolizavam a fertilidade. Jeroboão deu as costas para a mensagem mais im por­ tante transmitida no monte Sinai: o Senhor Jeová de Israel é um Deus que se fará ouvir, mas não ver nem tocar. O u vir a sua Palavra é o que produz a fé (Rm 10:1 7), e a fé nos capacita a obedecer. Porém , a maioria das pessoas não quer viver pela fé, preferindo viver de acordo com as aparências e satisfa­ z e r seus sentidos. A s palavras de Jero b o ão no v ersícu lo 2 8 dão a entender que Jeroboão também tinha em mente o bezerro de ouro de Arão levitas, que eram da tribo de Levi, tinham perm issão de servir no altar, estando sujei­ tos à pena de morte caso o fizessem (Nm 3 :5 -1 0 , 3 8 ; 4 :1 7 - 2 0 ; 1 8 :1 -7 ). S ace rd o tes (Êx 32:1-8, especialm ente o v. 4 ).2 Porém , o rei foi mais longe do que A rão : fez dois be­ zerros de ouro e colocou um em Betei, na fronteira m eridional do reino, bem perto de ilegítimos em templos ilegítimos jam ais p o­ deriam ter acesso a Deus ou apresentar sa­ crifícios aceitáveis ao Senhor. A religião d e Jeroboão era um culto criado por mãos hu­ manas e que agradava o povo, protegia o rei e unificava a nação - exceto pelos levi­ tas fiéis que abandonaram o reino do Norte e se mudaram para Judá, a fim de adorar a Deus de acordo com os ensinam entos das Escrituras (2 C r 1 1 :1 3-1 7). A lei de M oisés exigia que os israelitas com em orassem sete festas anuais prescritas por D eus (Lv 23 ), de modo que Jeroboão instituiu uma festa para o povo do reino do Norte. A Festa dos Tabernáculos deveria ser co m em orad o durante um a sem ana inteira no sétimo mês do ano. Era uma festa alegre, na qual, para lem brar do tempo que havia 1 REIS 1 2 : 2 5 - 1 4 :2 0 p a ssad o no d e se rto , o povo v iv e ria em tendas e celebraria a bondade de D eus por lhes dar a colheita. A festa de Jeroboão foi co lo cad a no oitavo m ês, de m odo que o povo precisava esco lhe r de qual festa iria participar, separando desse modo os judeus leais dos falsos adoradores. M as para que viajar até Jerusalém quando era tão mais fá­ cil ir a Betei e a Dã? Com a instituição de seu calendário reli­ gioso, tem plos, altares e sacerd ó cio , Jero­ boão declarou a si mesm o sacerdote (vv. 32, 33)! O ferecia incenso e sangue dos sacrifí­ cios com o os sacerdotes autorizados faziam no tem plo, exceto pelo fato de que o Se­ nhor nunca reconheceu os sacrifícios desse rei. O sacrifício do d écim o quinto dia do oitavo mês era relacionado à festa que Jero­ b o ão h a v ia o rd e n a d o e, p o s siv e lm e n te , co n sistia num a im itação do dia anual da expiação. O rei tinha todos os ingredientes necessários para um a "religião", porém lhe faltava o elem ento mais essencial: o Senhor Deus Jeová! A p o sta sia . V ivem o s hoje num a era em que a "religião inventada" é popular, apro­ vada e aceita. O s líderes cegos que condu­ zem outros cegos asseveram que vivem os numa "sociedade pluralista" e que ninguém tem o direito de afirm ar que apenas uma revelação é verdadeira e apenas um cam i­ nho para a salvação é correto. M inistros e "profetas" autodesignados criam a própria teologia e a passam adiante, com o se fosse a verdade. Não se interessam nem um pou­ co no que as Escrituras tem a dizer; antes, colocam suas "palavras fictícias" (2 Pe 2:3) no lugar da Palavra imutável e inspirada de D eus, levando m uita gente crédula a cair nessas mentiras e ser condenada (2 Pe 2 :1 , 2). A "religião" de Jeroboão incorporava ele­ mentos da lei de M oisés e das nações que os israelitas haviam conquistado. H o je em dia, seu sistema seria considerado "eclético " (seletivo) ou "sincrético " (que com bina vá­ rias partes), mas Deus o cham ou de heresia e de apostasia. Q uand o o profeta Isaías con­ frontou a nova religião em seus dias, clam ou: "A lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jam ais verão a alva." (Is 8 :2 0 ). 449 Pelo fato de Jeroboão não crer na pro­ m essa de D e u s, tran sm itida pelo profeta A ías, com eçou a trilhar os cam inhos da in­ credulidade e co nduzir o povo a um a falsa religião. Essa religião que inventou era con­ fortável, conveniente e barata, mas também não era autorizada pelo Senhor. Ia contra a vontade de Deus revelada nas Escrituras e tinha com o propósito a unificação do reino de Jeroboão e não a salvação do povo e a glória de D eus. Era um a religião feita por mãos hum anas, e D eus a rejeitou inteiram en­ te. Séculos depois, Jesus disse à m ulher de Sam aria (o antigo reino de Israel): "V ó s ado­ rais o que não conheceis; nós adoram os o que co n h ecem o s, porque a salvação vem dos judeus" (Jo 4 :2 2 ). Ao fazer essa declara­ ção, Jesus elim inou, no mesmo instante, qual­ quer outra religião e afirm ou que o único cam inho para a salvação vinha dos judeus. Jesus era judeu, e a fé cristã nasceu da reli­ gião ju d aica. Não obstante nossa "so cied a­ de pluralista" m oderna, o apóstolo Pedro estava certo: "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe ne­ nhum outro nom e, dado entre os homens, pelo qual im porta que sejam os salvos" (At 4 :1 2 ). 2. N ão de D e u s deu o u v id o s à s a d v e r t ê n c ia s (1 Rs 13:1-34) Este longo capítulo não é sobre profetas mais jovens e mais velhos, mas sim sobre Jeroboão e seus pecados. O ministério do profeta mais jo vem é de grande im p o rtân cia para este relato, pois tudo o que ele disse e pelo que passou, inclusive sua morte, foi parte da ad­ vertência de Deus ao rei Jeroboão. D e acor­ do com o versículo 33, o rei não voltou para D eu s: "D ep o is dessas coisas, Jeroboão ain­ da não deixou o seu mau cam inho". Nesse capítulo, um profeta m orreu, mas no capítu­ lo seguinte, o p rín cip e h erdeiro m orre! E evidente que Deus estava tentando cham ar a atenção de Jeroboão. A m ensagem (vv. 1, 2 ). O profeta anô­ nimo veio de Judá, pois lá ainda havia ser­ vos fiéis de Deus que o Senhor podia usar. Encontrou Jeroboão no santuário em Betei, que acabou se tornando o "santuário do rei" 450 1 RE I S 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 (Am 7:10-13). Q u and o alguém cria a pró­ sistema religioso tão bem -sucedido. Q u an ­ pria religião, co m o no caso de Jero boão, pode fazer o que bem entende, e Jeroboão do Jeroboão estendeu a mão e apontou para o profeta, o Senhor tocou o braço do rei e o e s c o lh e u s e r rei e ta m b é m s a c e rd o te . Jerem ias e Ezequiel foram sacerdotes cha­ mados para ser profetas, mas a lei m osaica não perm itia que os reis servissem com o sacerdotes (2 C r 26:16-23). Jesus Cristo é o único Rei que tam bém é Sacerdote (H b 7 8), e todos os que crêem em Cristo são "rei­ feriu. Q u e experiência humilhante para um rei e sacerdote! N aquele instante, o altar se partiu, deixando cair as cinzas que estavam sobre ele. Em várias ocasiões, Deus auten­ ticou sua Palavra ao dar sinais miraculosos (H b 2:1-4), mas som ente com o propósito de enfatizar a m ensagem . A pesar do orgu­ no, sacerdotes para o seu Deus e Pai" (Ap 1:6) e "sacerdócio real" (1 Pe 2 :9 ). O "sa­ cerdó cio" de Jeroboão era espúrio e foi rejei­ tado pelo Senhor. Talvez por isso o profeta anônim o de Judá tenha transmitido sua men­ sagem enquanto o rei estava junto ao altar. O profeta falou ao altar e não ao rei, com o se Deus não quisesse mais se dirigir a Jeroboão, um homem tão cheio de si e ocupa­ do com seus planos que não tinha tempo de ouvir a Deus. D e acordo com a m ensa­ gem, o futuro estava nas mãos da casa de Davi e não na casa de Jeroboão. Por causa dos cam inhos maus de Jero boão, o reino de Israel seria contam inado de tal modo pela idolatria e por seus respectivos pecados que o reino seria exterm inado em duzentos anos. Em 722 a.C ., os assírios tomaram Israel, e as tribos do Norte saíram de cen a.4 A dinastia de D avi continuou até o reinado de Zedequias (597-586 a.C .), que foi o último rei de Judá antes de a Babilônia conquistar Jerusa­ lém em 586 a.C . lho obstinado de Jeroboão e de sua desobe­ diência deliberada, o Senhor, em sua graça, A mensagem do profeta olhou adiante trezentos anos e viu o reinado de Josias (640609 a.C .), um rei piedoso que erradicou a idolatria da terra, inclusive o santuário do rei em Betei (2 Rs 2 3 :1 5 , 16). Josias profa­ nou o altar queim ando ossos hum anos sobre ele e, depois, demoliu o altar, reduzindo-o a pó. A profecia çumpriu-se exatam ente con­ form e havia sido anunciado. Essa promessa era tão precisa que o profeta chegou até a citar o nome do rei! (Ver tam bém Is 4 4 :2 8 ; 4 5 :1 , 13.) O s m ila gres (vv. 4-6). O rei não deu aten­ ção alguma à mensagem de D eus; tudo o q u e q u e ria e ra c a s tig a r o m e n sa g e iro . Jeroboão ficou furioso ao ouvir que, um dia, um rei d e Judá profanaria e destruiria seu curou o braço do rei (ver Êx 8 :8 ; At 8 :2 4 ). Tam bém é um a pena que o rei estivesse mais preocupado com a cura física de seu corpo do que com a cura moral e espiritual de sua alma. O rei foi testemunha de três milagres em apenas alguns minutos e, no entanto, não há evidência alguma de que tenha se con­ vencido da culpa por seus pecados. O s mi­ lagres, por si mesm os, não convencem da c u lp a nem p ro d u ze m fé sa lv a d o ra , mas cham am a atenção para a Palavra. Q uando Jesus ressuscitou Lázaro dentre os mortos, algumas das testemunhas creram em Cristo, enquanto outras foram direto para os líde­ res religiosos jud eus e criaram um tumulto (Jo 1 1 :4 5 -5 4 ). O s m ilagres não possuem , n ecessariam en te, fu n ção evang elística (Jo 10:40-42), e aqueles que afirmaram crer em Cristo apenas em função de seus milagres, na verdade, não passavam de "crentes não salvos" (Jo 2:23-25). A m ano bra (vv. 7-10). Jeroboão era um hom em astuto e tentou arm ar uma cilada para o profeta convidando-o para uma refei­ ção no palácio. Satanás vem com o um leão para nos devorar (1 Pe 5 :8 ) e, quando isso não funciona, aparece com o uma serpente para nos enganar (2 C o 1 1 :3 ; G n 3:1 ss). A ordem do rei - "Prendei-o!" - transformouse em "Vem com igo a casa", mas o profeta recusou o convite, pois sabia que sua co­ missão vinha do Senhor, que o com pelia a deixar Betei sem se dem orar lá. Se o profeta tivesse dividido uma refeição com o rei, esse único ato simples teria acabado com a efi­ cá cia de seu testem unho e m inistério. No O riente, co m partilhar uma refeição é sinal 1 RE I S 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 de am izade e de apoio. O profeta certam en­ te não desejava ser amigo de um hom em tão perverso nem dar a im pressão de que ap o iava suas obras p e cam in o sa s. "C o m o fonte que foi turvada e m anancial corrupto, assim é o justo que cede ao perverso" (Pv 2 5 :2 6 ). Um servo de D eus que se mostra condescendente turva as águas e confunde aqueles que são tem entes ao Senhor. O pro­ feta recusou a am izade, a com ida e os pre­ sentes do rei. Assim com o Daniel, ele disse: "O s teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêm ios a outrem " (D n 5:1 7 ). O erro (vv. 11-34). O rei não foi capaz de enganar o homem fiel de Judá, mas um velho profeta ap osentado co nseguiu lu d i­ briá-lo!5 Essa narrativa apresenta alguns ele­ mentos que causam perplexidade, mas não devem os nos esquecer da mensagem prin­ cipal: se o Senhor castigou a desobediência de um profeta iludido, quão mais severo se­ ria seu castigo sobre um rei perverso que pecava deliberadam ente! O profeta de Judá não transigiu em sua m ensagem, mas cedeu em sua conduta e pagou por sua desobe­ diência com a vida. O Senhor estava dizen­ do ao rei Jeroboão: "Se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai com p arecer o ím pio, sim, o pecador?" (1 Pe 4 :1 8 ; ver tam ­ bém Pv 11:31). Algum as características do profeta mais velho me perturbam . Em prim eiro lugar, o que ele estava fazend o em Betei, quando poderia viajar alguns quilôm etros e i r a Judá? Tem os a im pressão de que esse profeta não era exatam ente um gigante esp iritu al, de outro modo o Senhor o teria cham ado para repreender o rei. O fato de mentir para ou­ tro profeta levanta algumas dúvidas sobre seu caráter. Tam bém me incom oda que ele tenha chorado a morte do rapaz quan do ele contribuiu para que ela ocorresse e, depois, tenha sep u ltad o o hom em que ajudou a matar. Será que estava tentando expiar os próprios pecados contra o outro profeta? O profeta mais jovem fez bem seu traba­ lho e saiu da cidade. Se tivesse seguido seu cam inho e não se dem orasse debaixo de uma árvore, teria escapado da oferta tenta­ dora feita pelo profeta m ais ve lh o . C o m 451 fre q ü ên cia, os servo s de D eus enfrentam tentações depois de m om entos de grande sucesso e em polgação (ver 1 Rs 18 e 19). O s filhos do velho profeta testemunharam a confrontação com Jeroboão junto ao altar e contaram ao seu pai o que o profeta de Judá havia dito sobre o rei e sobre sua com issão do Senhor (vv. 8-10). Q uand o o profeta mais velho encontrou o-mensageiro de D eus, ten­ tou deliberadam ente seu colega a desobe­ decer à com issão do Senhor, e o rapaz caiu na armadilha! O profeta mais velho não de­ veria ter tentado um colega a desobedecer, mas o profeta mais jovem não deveria ter se apressado em aceitar as palavras do homem idoso. Se D eus deu ao hom em de Judá uma mensagem e as instruções para transmiti-la, Deus também poderia lhe com unicar qual­ quer m udança nos planos. Q u a n d o um hom em com p ro b lem as em ocionais disse a C harles Spurgeon que D eu s havia lhe revelad o que ele deveria pregar no lugar de Spurgeon no domingo seguinte no M etropolitan Tabernacle, Spur­ geon respondeu: "Q u an d o o Senhor me disser a m esm a coisa, eu o aviso". O utros cristãos podem usar a Palavra para nos ani­ mar, advertir e corrigir, mas cu ida do para não deixar que outros cristãos lhe digam qual é a vontade de D eus para sua vida. O Pai ama cad a um de seus filhos individualm ente e deseja revelar sua vontade a cada um pes­ soalm ente (Sl 3 3 :1 1 ). Por certo, há seguran­ ça na multidão de conselheiros, desde que estejam andando com o Senhor. Porém , não há garantia alguma de que se descobriu qual é a vontade de Deus só porque a idéia foi aprovada por um com itê. Um a vez que ele sabia o que o profeta de Judá deveria fazer, por que o homem mais ve lh o m en tiu d e lib e ra d a m e n te ao rap az incentivando-o a d eso b ed ecer ao Senhor? Será que o profeta idoso estava preocupa­ do que o profeta visitante tum ultuasse as coisas em seu meio confortável em Betei, criando problem as para ele e outros condes­ cendentes satisfeitos? Talvez o profeta mais jovem estivesse sentido orgulho daquilo que havia feito ao pregar uma mensagem pode­ rosa e ao realizar três milagres, e o Senhor 452 1 RE I S 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 usou o hom em mais velho para testá-lo e trazê-lo de volta ao que era mais fundam en­ (v. 33 ). Porém , a ad ve rtên cia seguinte de D eus foi mais direta. tal. Ao contar uma mentira, o profeta idoso tentou o rapaz, mas ao voltar para Betei, o 3. N ão profeta mais jovem tentou a si mesmo (esta­ va fora da vontade de Deus) e ao Senhor. Por que o jovem visitante não buscou ao Senhor e descobriu sua vontade? O texto relata apenas os acon tecim en to s, sem es­ p e c ific a r as m o tiv a ç õ e s do c o ra ç ã o dos participantes, de m odo que não podem os responder a quaisquer dessas perguntas com certeza. Um dos acontecim entos mais estranhos foi o Senhor ter enviado sua Palavra ao pro­ feta mais velho que estava fora da vontade de Deus! M as D eus falou a Balaão, que não era, necessariam ente, um homem consagra­ do e dedicado, bem com o a Elias (1 Rs 18) e Jonas (Jn 3 - 4). D epois da refeição, o jo ­ vem profeta partiu para casa, e um leão o encontrou no cam inho e o matou. Porém, m esm o esse acontecim ento apresenta um aspecto m iraculoso, pois o leão não despe­ daçou o corpo, não atacou a mula e a mula não fugiu. O s anim ais devem ter ficado lá um longo tem po, pois testem unhas con ta­ ram a história em Betei, e o povo foi ver o que havia acontecido, sendo que no meio dos observadores estava o profeta mais ve­ lho, que retirou o corpo de lá e o sepultou. Sem dúvida, a notícia chegou ao palácio, e talvez o rei tenha se alegrado ao saber que seu inimigo estava m orto. Porém , as pala­ vras do profeta não haviam morrido! E a pró­ pria m orte do servo do Senho r era outra advertência a Jeroboão de que ele deveria obedecer à Palavra de Deus. O profeta idoso recobrou a coragem , pois declarou publicam ente que a profecia feita no altar em Betei se cum priria (vv. 31, 3 2), o que, de fato, ocorreu (2 Rs 23:15-18). Trezen to s anos depo is, o rei Josias viu o túmulo do profeta mais velho e se animou por lembrar que o Senhor cum pre sua Pala­ vra. M as será que algum desses aco n te ci­ m entos estranhos falou ao co ração do rei Jeroboão sobre sua culpa e o levou ao arre­ pendim ento? "D e p o is dessas coisas, Jero ­ boão ainda não deixou o seu mau cam inho" re ce b e u a a ju d a de D e u s (1 Rs 14:1-20) Não lemos nas Escrituras que Jeroboão tenha buscado a vontade de D eus, orado buscan­ do d isce rn im e n to espiritual ou que tenha pedido ao Senhor para faze r dele um ho­ mem piedoso. Ele orou pedindo a cura para seu braço e, nessa passagem, pede ao pro­ feta Aías que cure seu filho, o príncipe her­ deiro do trono. Fica claro que, para ele, as bênçãos físicas eram mais im portantes que as espirituais. A ssim com o m uitos que se dizem cristãos sendo mem bros negligentes de igrejas, a única hora que Jeroboão quis a ajuda do servo de Deus foi quando estava com problemas. A esp osa fing id a (vv. 1-3). A bias não era mais criança nessa época. O príncipe tinha idade suficiente para receb er a aprovação do Senhor (v. 13) e para ser estim ado pelo povo, pois os israelitas prantearam sua mor­ te (v. 18). Sem dúvida o rem anescente pie­ doso em Israel depositou suas esperanças no jovem príncipe, mas Deus julgou a famí­ lia real e os cidadãos apóstatas ao tirar o m enino daquele poço de im oralidade cha­ mado Israel. "Perece o justo, e não há quem se im pressione com isso; e os hom ens piedo­ sos são arrebatados sem que alguém consi­ dere nesse fato; pois o justo é levado antes que venha o mal" (Is 5 7 :1 ). O rei queria a ajuda do profeta, mas era orgulhoso dem ais para adm itir o fato ou para encarar A ías. O profeta ainda vivia em Siló (1 1 :29), pois estava idoso e fraco demais para mudar-se para Judá e desejava ser fiel até o final e advertir Jeroboão das conseqüências de seus pecad os. Por acaso, o rei achava que um disfarce enganaria o profeta piedo­ so, m esm o que já não pudesse enxergar? Em sua cegueira, Aías podia ver mais do que Jeroboão e sua esposa com seus olhos sau­ d á ve is.6 O s presentes que a rainha levou consigo eram dádivas de um trabalhad or com um , não algo que um rei daria a alguém. O p ro fe ta d e d isc e rn im e n to (vv. 4-6). T irza ficava a pouco mais de 30 quilômetros 1 RE I S 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 de Siló, mas o profeta sabia que a m ulher estava a cam inho antes mesm o de ela che­ gar à cidade. O profeta idoso sabia quem estava vindo, o motivo de sua vinda e o que deveria dizer à mulher. "A intim idade do S e ­ n h o r é para os que o tem em " (Sl 2 5 :1 4 ). "C ertam ente o Senhor não fará coisa algu­ ma, sem prim eiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas" (Am 3:7). Jeroboão enviou a esposa até A ías, mas Aías disse à mulher que ele havia sido enviado a ela! Deulhe a mensagem que ela deveria transmitir ao m arido, uma mensagem nada boa. A mensagem reveladora (vv. 7-16). Em primeiro lugar, o profeta lem brou Jeroboão da graça de D eu s no passado (vv. 7-8a). O Senhor havia escolhido Jeroboão e o havia elevado de líder distrital a governante sobre o reino do N orte.7 Deus havia arrancado as dez tribos da casa de D avi entregando-as a Jeroboão. Em seguida, porém , Aías revelou os p e ca d o s d e je ro b o ã o no presente (vv. 8b9). A o contrário de D avi, cujo co ração foi inteiram ente consagrado ao Senhor, Jero ­ boão fez mais mal do que Saul, Davi e Salo­ mão juntos. Deixou o D eus verdadeiro de Israel e confeccionou falsos deuses, perm i­ tindo, depois, que o povo das dez tribos os adorasse. O rg an izo u uma religião forjada, p ro v o co u a ira d o S e n h o r e se re c u so u a ouvir os profetas enviados para adverti-lo. Isso levou Aías a falar da revelação do futuro de Jeroboão (vv. 10-16). Para co m e­ çar, ao contrário do rei D avi, Jeroboão não estabeleceria uma dinastia, ainda que Deus tiv e sse p ro m e tid o a b e n ço á-lo co m um a "casa estável" se ele o bedecesse ao Senhor (1 1 :3 8 ). Tod os os d e scen d e n tes do sexo masculino da fam ília de Jeroboão seriam ex­ term inados; o Senhor faria um a "lim p eza" na família de Jeroboão e elim inaria todos os possíveis herdeiros, da m esm a form a que os servos rem oviam o esterco de uma casa (D eus não tinha muita consideração pelos filhos do rei!). Pior do que isso, porém, ne­ nhum deles, exceto A bias, o príncipe her­ deiro enferm o, teria um enterro decente e honroso. O s cachorros carniceiros da cidade e as aves de rapina dos cam pos devorariam os corpos desses filhos, que perm aneceriam 453 para sem pre insepultos, uma terrível humi­ lhação para qualquer israelita. Em seguida, Aías tratou do assunto em questão: o futuro do príncipe herdeiro en­ ferm o. Abias m orreria, teria um enterro dig­ no e seria pranteado pelo povo. O único filho do rei Jeroboão que poderia reinar com ju stiça lhe seria tirado, não por ser perverso, mas por ser bom e' Deus desejar poupá-lo do sofrim ento que se encontrava pela fren­ te para o reino (Is 5 7 :1 ). Ao olhar para o futuro (v. 14), Aías viu Nadabe, filho e her­ deiro de Jeroboão, reinando por dois anos e depois sendo assassinado por Baasa, um hom em da tribo de Issacar (1 5:25-31). Baasa não apenas m ataria Nadabe, mas também exterm inaria a fam ília de Jeroboão, cum prin­ do, assim, a profecia de Aías (1 5 :2 9 ). Então, o profeta cego vislu m brou um futuro ainda mais distante (vv. 15, 16) e viu o reino todo de Israel derrotado pelo exérci­ to inimigo (Assíria), arrancado de sua terra e disp erso entre as n açõ e s, o que o co rreu em 722 a.C . O reino de Israel possuía um novo sistema religioso, mas ainda estava sob a alian ça do Senhor (Lv 2 6 ; Dt 28 - 30). Essa aliança advertia os israelitas de que sua desobediência à lei de Deus redundaria em derrota militar e em dispersão nacional (D t 2 8 :2 5 , 26, 49-52; Lv 2 6 :1 7 , 2 5 , 33-39; ver tam bém D t 7:5 e 12:3, 4). Q u al seria a cau­ sa de tão terrível julgamento? Israel seria jul­ gado "por causa dos pecados que Jeroboão co m eteu e pelos que fe z Israel co m e ter" (v. 16). Assim com o D avi foi o parâmetro de Deus para medir os reis bons, Jeroboão foi o exem plo de D eus para o que houve de pior entre os reis maus. Ver 1 Reis 1 5 :3 4 ; 16:2, 3, 7, 19, 26 , 31 ; 2 2 :5 2 ; 2 Reis 3 :3 ; 9 :9 ; 1 0 :2 9 , 31 ; 13:2, 6, 11; 1 4 :2 4 ; 15:9, 18, 24 2 8 ; 17:21, 22. O cum prim ento desolador (vv. 17-20). Ao que parece, além do palácio de Siquém, Jeroboão possuía outro palácio em Tirza, e é bem possível que essa residência real fi­ casse nas ce rcan ias da cidad e. A ías havia dito à esposa de Jero b o ão que a crian ça m orreria assim que ela entrasse na cidade (v. 12), mas o versícu lo 1 7 dá a entender que ele morreu quando ela pisou no limiar 454 1 RE I S 1 2 : 2 5 - 1 4 : 2 0 da porta. D e fato, todo o Israel pranteou a morte desse filho e lhe deu um funeral dig­ no de um príncipe herdeiro. A mão do rei havia sido curada, seu altar havia sido des­ truído (13:1-16) e, agora, seu filho havia mor­ rido. Em breve, seu exército seria derrotado pelo rei de Judá, tam bém cham ado A bias (2 C r 13). Q u an tas vezes D eus precisaria adverti-lo antes de Jeroboão se arrepender? N in g u ém era c a p a z de p e c a r co m o Jeroboão, filho de Nebate. Durante os vinte e dois anos em que reinou sobre Israel, levou a fam ília e a nação à ruína. Jeroboão mor­ reu e foi sucedido por seu filho, Nadabe, que, por sua vez, foi assassinado. Um dia, não h averia m ais d e scen d e n te m asculino algum do rei Jeroboão, com o tam bém não seria mais possível identificar as dez tribos de Israel. "D ecerto estrem eço por meu país quan­ do reflito que Deus é justo e que sua justiça não pode dorm ir para sem p re...".8 Thom as Jefferson escreveu essas palavras em 1781, mas são igualmente válidas para nós hoje. 1. Não confunda este Jeroboão com o outro jeroboão, o décim o quarto rei de Israel que reinou de 782 a 753 a .C . e cuja história 2. É pouco provável que Arão estivesse tentando introduzir um novo deus em Israel; antes, estava apresentando jeo vá na forma encontra-se registrada em 2 Reis 14:23-29. de um bezerro de ouro (Êx 32). O bezerro deveria "ajudar” os israelitas em sua adoração ao Senhor. Sem dúvida, Arão sabia que Jeová era o único Deus verdadeiro, mas também sabia que o povo fraco não era capaz de viver pela fé num Deus invisível, especialm ente quando seu líder, M oisés, já estava ausente havia quarenta dias. Esse fato não redime Arão de sua culpa, mas nos ajuda a entender m elhor a m entalidade do povo. Era mais fácil adorar o Deus invisível por meio do bezerro visível, e não demorou para que a idolatria levasse à indecência e à imoralidade (Êx 32:6, 19; 1 Co 10:1-8). Q uaisquer que fossem as justificativas apresentadas por Arão, ele havia pecado e dado ao povo aquilo que queriam , mas não aquilo de que precisavam ; nos dias de hoje, há falsos mestres fazendo a mesma coisa (2 Pe 2; jd 1 ss). 3. De acordo com Êxodo 29, em sua consagração, Arão e seus filhos precisaram de um touro para uma oferta pelo pecado, um carneiro para um holocausto e outro carneiro para uma oferta pacífica. O culto de consagração levou sete dias para ser com pletado. É evidente que Jeroboão não estava seguindo as instruções de Deus. 4. H á quem fale sobre "as dez tribos perdidas de Israel", mas não se trata de um conceito bíblico. Deus sabe onde os filhos de Abraão estão e ele os ajuntará quando for a hora certa. Algumas nações declararam ser descendentes das cham adas dez tribos perdidas, mas tais alegações são infundadas. Jesus falou das "doze tribos de Israel" (M t 19 :2 8; Lc 22 :3 0), e Paulo referiuse às "nossas doze tribos'' com o entidades existentes em sua época (At 26 :7 ); Tiago escreveu sua epístola para as "d oze tribos que se encontram na Dispersão" (Tg 1:1 ). Em sua visão de acontecim entos futuros, o apóstolo João viu doze tribos seladas por Deus (Ap 7:4) e doze portas com os nomes das doze tribos (Ap 21 :1 2). 5. Não encontram os em parte alguma das Escrituras um caso de um servo do Senhor que tenha se "aposentado" e ficado inativo esperando morrer. Em vez de se mudar para Judá ou de ficar em Israel para fazer frente à falsa religião, esse homem idoso aceitou a situação em que se encontrava e se acom odou. M oisés e outros profetas serviram até o fim, e não há qualquer evidência de que os apóstolos tenham abandonado seu cham ado quando chegaram a uma idade avançada. Durante muitos anos, o Dr. W illiam Culbertson foi deão e, depois, presidente do Instituto Bíblico M oody em Chicago; costum ava terminar suas orações em público dizendo: "E, Senhor, ajuda-nos a terminar bem ". 6. Apesar de Saul ter se disfarçado, tanto Samuel quanto a feiticeira o reconheceram (1 Sm 28). O perverso rei Acabe se disfarçou para a batalha, na esperança de que o rei Josafá fosse morto, mas ainda assim Acabe é quem foi atingido por uma flecha perdida (1 Rs 22:30ss). O piedoso rei josias mostrou-se insensato e interferiu em assuntos do Faraó Neco; então se disfarçou e foi morto em com bate (2 C r 35:20-25). Deus vê quem está por trás dos disfarces. 7. O profeta Natã usou uma abordagem semelhante ao confrontar o rei Davi (2 Sm 12:7, 8a). 8. J ef fer so n , Thom as. Notes on Virgínia. K o c h , Adrienne; P e d e n , W illiam . (Eds.).Tfre Life and S elected Writings o f Thomas lefterso -. Nova York: M odern Library, p. 258. m onarcas, o que nos ajuda a entender por que os cronologistas bíblicos nem sem pre apresentam um consenso. 9 O D 1 esfile d o s R eis R eis 15: 1 - 1 6 : 2 8 (2 C r ô n ic a s 1 3 - 1 6 ) e não fosse pela mão dom inadora de um Deus soberano, a nação israelita jam ais teria cum prido o cham ado do Senhor de dar testem unho do ú n ico e verd ad e iro D eus vivo, de redigir as Escrituras e de trazer ao mundo o Salvador. Agora, havia dois reinos em v e z de um, e líderes e pessoas do povo de am bos os reinos haviam se afastado do Senhor a fim de dedicar-se ao serviço a ído­ los. O s sace rd o tes ain d a m inistravam no templo em Judá, mas durante os 345 anos desde Roboão até Zedequias, som ente oito dos dezenove reis de Judá foram tidos com o "bo n s". Q uanto aos vinte reis de Israel, a m aio ria não passou de ho m ens eg o ístas co n sid e ra d o s "m a u s". A lg u n s foram m e­ lhores do que outros, mas nenhum foi igual a Davi. Não se esqueça de que os livros de Reis e de C rô nicas não registram a história exa­ tam ente sob o m esm o ponto de vista. O enfoque de 1 e 2 Reis é sobre os reis de Israel, enquanto em 1 e 2 C rônicas, a ênfa­ se é sobre a dinastia de Davi em Judá. Israel, o reino do Norte, posteriorm ente cham ado de S am a ria, é m e n cio n a d o em C rô n ic a s apenas em relação a Judá. O utra coisa a lem­ brar é que os dois reinos usavam sistemas diferentes para m anter registros oficiais. Em Judá, o reinado de um m onarca era conta­ do a partir do com eço do ano seguinte àque­ le em que ele havia com eçado a governar, ao passo que, em Israel, a contagem co m e­ çava exatam ente no ano em que o rei subia ao trono. A lém disso, alguns reis tiveram filhos com o co-regentes durante os anos fi­ nais de seu reinado. Esses fatos com plicam o cálculo da duração do reinado de alguns 1. A C O N T I N U I D A D E D E U M A D I N A S T I A (1 Rs 15:1-24; 2 C r 13 - 16) Israel, o reino do Norte, teve nove dinastias em cerca de 250 anos, enquanto o reino do Sul m anteve fielm ente a dinastia davídica durante 350 anos, e seria dessa dinastia que Jesus Cristo, o Filho de Davi, viria ao mundo (M t 1:1). Apesar de todos os seus defeitos, o reino de Judá identificava-se com o verda­ deiro D eus vivo, praticava a ad o ração no tem plo e tinha reis da fam ília de D avi. Dois desses reis - Abias e A sa - são m enciona­ dos nestes capítulos. A b ia s (vv. 1-8; 2 C r 13). Esse filho de Roboão havia sido escolhido a dedo pelo pai em função da aptidão que demonstrou (2 C r 1 1 :2 2 ); porém , não era um hom em piedoso (1 5 :3 ). A b ia s reinou ap en as três anos (913-910). Era da linhagem de Davi por parte de pai e de mãe, pois Absalão, o filho infam e de D avi, era seu avô. Abias podia ter o sangue de Davi correndo em suas veias, mas não tinha o coração perfeito de Davi batendo em seu peito. Roboão, o pai de A b ias, m antivera um estado co n stan te de guerra com Jeroboão, e Abias deu continui­ dade à tradição. Porém , Abias conhecia bem a história e cria naquilo que Deus havia dito a M oisés e a D avi. Teve a coragem de pregar um ser­ mão a Jeroboão e a seu exército de oitocentos mil hom ens, duas vezes m aior que o e x é rcito de Jud á, lem bran do -os dos v e r­ dadeiros alicerces da fé do povo de Deus (2 C r 13:4ss). Usou com o palanque o mon­ te Z em araim , um lugar proem inente situa­ do na fronteira entre Benjam im e Israel (Js 1 8 :2 2 ). C o m eço u o serm ão lem brando a Jeroboão que a linhagem de Davi era a ver­ d a d e ira d in a stia re al, seg un d o a a lia n ça inalterável de Deus com Davi (2 C r 13:4, 5; 2 Sm 7). A expressão "aliança de sal" signifi­ ca "aliança perpétua" (Nm 18:19). Prevendo o argumento de que o Senhor tam bém havia nom eado Jeroboão para ser rei, Abias explicou o motivo da divisão do 456 1 R E I S 1 5: 1 - 1 6 : 2 0 reino (2 C r 13:6, 7). Jeroboão rebelara-se con­ tra Salom ão e Roboão e teve de fugir para o Egito em busca de segurança. Então, em sua im atu ridade, Roboão deu ou vidos a co n ­ selhos im prudentes e tom ou um a decisão insensata, que levou Jero boão a tornar-se re i.1 M as o plano original de Deus era que a linhagem de D avi reinasse sobre o reino uni­ do. Em 1 e 2 C rô nicas, a ênfase recai sobre o caráter legítimo da dinastia davídica (1 C r 1 7 :1 4 ; 2 8 :5 ; 29:1 1, 23; 2 C r 9:8). U m a vez determ inada a questão de que os filhos de D avi deveriam assentar-se no trono, Abias lembrou a Jeroboão que som en­ te os filhos de A rão poderiam servir no tem­ plo (2 C r 13:8-12). O único templo do Senhor com au to rização divina encontrava-se em Jerusalém . Lá, os sacerdotes - filhos de Arão - realizavam a form a de adoração ordena­ da pelo Senhor por interm édio de M oisés. Judá adorava ao verdadeiro Deus vivo, en­ quanto Israel adorava dois bezerros de ouro. O s sacerdotes de Israel eram hom ens co n­ tratados, não servos do Senhor com uma nom eação divina. Em Judá, o povo honrava o Senhor D eus Jeová. "Eis que D eus está co no sco ." Portanto, se Israel atacasse Judá, estaria lutando contra o Senhor! O s guardas de Abias não estavam muito atentos, pois enquanto A bias falava, alguns dos soldados de Jeroboão colocaram -se atrás do rei e lhe arm aram um a cilada. Se Judá atacasse, seu exército teria de lutar em duas frentes de batalha, o que, sem dúvida, era uma situação perigosa. É im portante ter uma teologia correta, mas tam bém é im portante ter uma boa estratégia e guardas alertas em serviço. No entanto, Abias estava disposto a enfrentar o desafio e clam ou a Deus pedin­ do livram ento. Ao mesm o tempo, os sacer­ dotes tocaram as.trom betas (Nm 10:8-10), e o exército de Judá soltou um grande brado, exatam en te co m o o povo havia feito em Jericó (Josué 6), e o Senhor lhes deu a vi­ tória no mesmo instante.2 M ais da metade do e x é rcito de Jero b o ão foi m orto pelo exército de Judá, e os soldados de A bias se deslocaram para o norte e tomaram a cida­ de de Betei, a pouco mais de 16 quilôm e­ tros de Jerusalém . D e Betei, dirigiram-se oito quilôm etros para o norte e tomaram Jesana e, cerca de 6 quilôm etros a nordeste, toma­ ram Efraim (Efrom ). Abias não apenas der­ rotou o exército de Israel, com o tam bém desferiu um golpe do qual Jeroboão nunca se recuperou. D epois disso, o Senhor feriu Jeroboão, e o rei morreu (2 C r 1 3 :2 0 ; 1 Rs 14: 19, 20 ). O Senhor agiu desse modo para a glória do próprio nom e. Em 1 Reis, Abias não é considerado um governante piedoso, mas é elogiável que tivesse com preensão da ver­ dade de Deus e fé no poder dele. Abias não era um Josué, mas o Deus de Josué ainda era o Deus de seu povo e se mostrou fiel a ele. Abias tornou-se cada vez mais podero­ so, teve muitos filhos e ajudou a dar continui­ dade à dinastia de D avi. D eus usa pessoas im perfeitas para fazer sua vontade, se elas confiarem no Senhor. Asa (vv. 9-24; 2 Crônicas 14 - 16). Asa, filho de A bias, reinou quarenta anos (910 86 9 ). C o m eço u seu reinado com um cora­ ção semelhante ao de Davi (1 Rs 1 5:11; 2 C r 14:2), mas, apesar de ter sido um rei bom durante grande parte da vid a, rebelou-se contra o Senhor nos últimos cinco anos de seu rein ado. A palavra "m ã e ", em 1 Reis 1 5 :1 0 deve ser "avó", pois se refere à mes­ ma pessoa m encio nad a no versículo 2. O povo ju d eu não id e n tificava os graus de parentesco com a m esma precisão que usa­ mos para falar da fam ília hoje em dia. A vida e o reinado de A sa dividiram-se em três par­ tes principais. (1) Paz e vitória (1 Rs 15:9-11; 2 C r 14:1 - 15:7). G raças à vitória de seu pai sobre Jeroboão (2 C r 13), A sa teve paz durante os d ez prim eiros anos de seu reinado (2 C r 14:1). Nesse tem po, realizou uma reforma nacional, purificou a terra da idolatria e ins­ tou o povo a buscar ao Senhor (vv. 2-5). Além disso, fortificou a terra construindo cidades de defesa e form ando um exército de 580 mil hom ens (vv. 6-8). A ênfase, porém , não recai sobre as realizações militares, mas sim sobre o fato de Judá buscar ao Senhor (v. 7). Foi D eus quem lhes deu paz, pois eles o buscaram . Usaram esse tempo de paz prepa­ rando-se para qualquer guerra que pudesse 1 R E I S 15: 1 - 1 6 : 2 0 ocorrer, pois a fé sem obras é m orta. Asa fez bem em se preparar, pois o exército egíp­ cio liderado por Z erá, o etíope, atacou Judá. O s dois exército se defrontaram em Maressa, cerca de quarenta quilôm etros a sudoeste de Jerusalém . Assim com o seu pai, A sa soube de que modo invocar ao Senhor no dia de dificul­ dade (1 4 :1 1 ; 13:14-18). O rei tinha con h eci­ mento de sua situação, pois identificou Judá com o "o fraco". O exército de Z erá era qua­ se duas vezes m aior que o de Asa, e os ho­ mens de A sa não tinham carros. Q u e r por meio de muitos soldados, quer de poucos, o Senhor poderia operar com grande poder. É possível que Asa tivesse em mente as pa­ lavras de Jônatas quando orou desse modo (1 Sm 14:6). Talvez estivesse pensando, tam­ bém, naquilo que Salom ão havia pedido em sua oração na consagração do tem plo (2 C r 6 :3 4 -3 5 ). O livram ento súbito em m eio à batalha é um tema que se repete ao longo de 2 C rô nicas (13:14-18; 14:11, 12; 18 :3 1 ; 20:1 ss; 32:20-22). A m otivação de A sa não era sim plesm en­ te derrotar um inimigo perigoso, mas tam ­ bém glorificar Jeová. Assim co m o D avi se aproxim ando de G o lias, ele atacou o exér­ cito inimigo "em nome do S e n h o r dos Exérci­ tos, o D eus dos exércitos de Israel" (1 Sm 17:45). Em resposta à oração de fé do rei A sa, o Senhor derrotou co m p letam ente o exército egípcio e permitiu que A sa e seus homens perseguissem os egípcios rumo ao sul, até G erar. N esse local, os hom ens de Judá e Benjam im saquearam as cidades ao redor de G erar e levaram de volta para casa uma quantidade enorm e de despojos. Essa derrota do exército egípcio foi tão absoluta e humilhante que os egípcios só voltaram a atacar o povo de Judá quase trezentos anos d epo is, quand o o rei Josias se defrontou com as tropas do Faraó N eco em Carquem is (2 C r 35:20-24). O Senhor enviou o profeta A zarias ao encontro de Asa e do exército vitorioso para lhes transmitir uma mensagem de estímulo e de advertência (ver tam bém 1 Rs 12:2124 ; 2 C r 16 :7 ). Vários generais já venceram uma batalha, mas depois perderam a guerra 457 por causa de orgulho ou de descuido, e o S en h o r não q u e ria que A sa ca ísse nessa arm ad ilh a. A m ensagem de A z a ria s foi a m esm a do rei A sa: busquem ao Senhor, obe­ deçam -lhe e sejam fortes no Senhor (2 C r 15:1-7; ver tam bém 14:4 e D t 4 :2 9 ). Azarias re cap itu lo u os dias so m b rio s dos ju iz e s , quando a nação não tinha um rei, nem um sacerdo te piedo so, nem alguém que e x e ­ cutasse a lei (Jz 2 :1 1 , 12). Pelo fato de o povo ter se entregado à idolatria, a terra era assolada pelo inimigo, e não era seguro via­ ja r (Jz 5 :6 ; 19 :2 0 ). Isso cum pria as advertên­ cias da alian ça (D t 2 8 :2 5 , 26, 30, 49-52). Porém , sem pre que o povo clam ava a Deus e deixava os ídolos, em sua m isericórdia, o Senhor os perdoava e os defendia de seus inimigos. A zarias admoestou o rei e o povo a co locar mãos à obra, a construir a nação e a servir ao Senhor fielm ente. (2 ) R e fo rm a e re n o v a ç ã o (vv. 12-15; 2 C r 15:8-19). Essa é a segunda fase da re­ form a de A sa e, sem dúvida, ele tratou do pecado na terra com mais severidade do que havia feito na p rim eira fase. Expulsou os prostitutos cultuais dos santuários, pois se tratava de uma prática proibida pela lei de D eus (D t 23:1 7), assim com o a própria sod o m ia(Lv 1 8 :2 2 ; 2 0 :1 3 ; ver também Rm 1:27 e 1 C o 6 :9 ). A lém disso, m ostrou grande coragem ao rem over a própria avó da po­ sição de rainha-m ãe, pois ela possuía um santuário idólatra num bosque. O texto não informa onde essa riqueza consagrada havia ficado guardada, mas diz que A sa levou-a para o tesouro do tem plo, pois havia sido consagrada ao Senhor. É provável que fos­ sem despojos tirados dos inimigos que Asa e seu pai haviam derrotado com a ajuda do Senhor. M ais um a v e z , rem oveu os ídolos da ter­ ra e fez reparos no altar do sacrifício que ficava no átrio dos sacerdotes diante do tem­ plo. O relato não diz com o ou por que o altar sofreu danos, mas, sem o altar, os sacer­ dotes não tinham onde o ferecer sacrifício s. Salom ão consagrou o tem plo por volta de 9 5 9 a .C ., e o décim o quinto ano do reina­ do de A sa co rre sp o n d e a 8 9 6 a .C . (2 C r 15:10), de modo que o altar havia sido usado 458 1 R E I S 15: 1 - 1 6 : 2 0 continuam ente por mais de sessenta anos. Talvez estivesse apenas gasto, mas um al­ tar m alcuidado não é um testem unho muito bom do estado da religião na terra. O termo hebraico tam bém pode significar "renovar", de modo que talvez o altar tivesse sido co n­ sagrado novamente ao Senhor. Um a coisa foi rem over ídolos e reparar o altar, mas outra bem diferente foi tratar da necessidade mais prem ente, que era consa­ grar o povo mais uma vez. No décim o quinto ano de seu reinado, A sa convocou uma gran­ de assem bléia para se reunir em Jerusalém , adorar ao Senhor e renovar sua aliança.3 Não só o povo de Judá e de Benjam im com pare­ ceu, com o tam bém pessoas devotas vieram de Efraim, de M anassés e de Sim eão. O que as atraiu foi o fato inequívoco de que o Senhor estava com A sa. Um a vez que se reuniram no terceiro mês, é provável que estivessem co m em o rand o a Festa de Pentecostes (Lv 23:1 5-22). O rei levou despojos de batalhas, inclusive metais preciosos, para ser co nsa­ grados ao Senhor (1 Rs 1 5 :1 5 ) e tam bém anim ais para sacrifícios (2 C r 15:11). Em épocas im portantes ao longo da his­ tória do povo de Deus, encontram os líderes e pessoas renovando seu com prom isso com o Senhor, um bom exem plo a ser seguido pela Igreja de hoje. D epois que a nação atra­ vessou o rio Jordão e entrou na terra, os israe­ litas renovaram sua aliança com o Senhor (Js 8 :3 0 s s). Josu é co n vo co u um a reunião sem elhante perto do final de sua vida (Js 24). Q u a n d o Saul foi e s c o lh id o para ser rei, Samuel convocou uma assem bléia e um tem­ po de renovação (1 Sm 1 1 :1 4 - 12 :2 5 ). Tan­ to o rei Joás quanto o rei Josias renovaram a a lia n ça entre eles, o povo e D e u s (2 Rs 1 1 :4ss; 23:1 ss). Um reavivam ento ou reno­ vação espiritual não significa pedir algo novo a D eus, mas sim uma renovação da devo­ ção àquilo que ele já nos deu. Asa não reor­ ganizou os sacerdotes nem fez reformas no edifício do templo, assim com o tam bém não im portou novas idéias de culto das nações pagãs a seu redor. A penas conduziu o povo a um a reconsagração à aliança que o Se­ nhor já havia lhes dado. O povo buscou ao Senhor de todo o coração, e ele os o uviu.4 D eus se agradou desse novo passo de com ­ promisso e deu paz a Judá e Benjam im por mais vinte anos. (3 ) R eca íd a e d isc ip lin a (vv. 16-24; 2 C r 16:1-14). Ao que parece, o rei A sa descui­ dou de seu relacionam ento com o Senhor, pois Deus enviou Baasa, o rei de Israel, para lutar contra ele.5 Baasa fortificou Ramá, situa­ da p o u co m enos de d ez q uilô m etro s ao norte de Jerusalém . Desse posto avançado, seria possível m onitorar aqueles de seu povo que fossem a Jerusalém e tam bém lançar ataques contra Judá. Depois de tudo o que Senhor havia fei­ to por Asa, seria de se esperar que ele con­ vocasse uma reunião com todo o povo para confessar os pecados, buscar ao Senhor e descobrir sua vontade sobre essa situação difícil. Emm vez disso, porém , o rei lançou mão de recursos políticos. Tom ou os tesou­ ros sagrados do tem plo e os entregou a BenH adade, rei da Síria, fazendo um pacto com um a n ação pagã (D avi havia derrotado a Síria! Ver 2 Sm 8:3-12 e 1 C r 18:3, 4). C o m a Síria atacan d o Israel pelo Sul, Baasa foi obrigado a d e ixar R am á e a se deslocar para o norte a fim de defender seu país. O rei A sa não apenas seguiu o péssi­ mo exem plo de seu pai, Abias, ao fazer uma aliança fora da vontade de Deus, com o tam­ bém insistiu que B en -H adade m entisse e rom pesse seu tratado com Israel! As Escritu­ ras não dizem quando Abias fez um pacto com Ben-Fladade, mas é possível que tenha se casad o com um a das p rin cesas sírias, garantindo, assim, a paz e seguindo o exem ­ plo de Salom ão (2 C r 13:21). Ben-Hadade tomou o ouro e a prata, que­ brou a prom essa que havia feito a Israel e ajudou Judá. Capturou as cidades de Ijom, D ã e Abel-M aim , ao norte, e depois, mar­ chou pela tribo de Naftali e tomou todas as cid ad es-celeiro s m ais im p o rtan tes. D esse m odo, adquiriu controle sobre as principais rotas com erciais e debilitou o poder e a ren­ da de Baasa. Um a vez cum prido seu propó­ sito, A sa recrutou o povo para ir a Ram á e carregar pedras e madeiras de lá e, com esse material, o rei construiu duas cidades fortifi­ cadas: M ispa, cerca de quatro quilôm etros 1 R E I S 15:1 - 1 6 : 2 0 ao norte de Ramá, e G eb a, aproxim adam en­ te a m esm a d istân cia a leste. Judá havia esten d id o suas fro n teiras até Betei (2 C r 1 3 :1 7 ), e esse novo terreno militar tornaria sua posição ainda mais protegida. Todos ficaram contentes com o resulta­ do do tratado, exceto o Senhor. Ele enviou o profeta H anani para repreender o rei e dar-lhe a Palavra do Senhor. Era trabalho do profeta repreender reis e outros líderes, in­ clusive sacerdotes, quando desobedeciam à lei do Senhor. A mensagem do profeta foi clara: se Asa tivesse confiado no Senhor, o exército de Judá teria derrotado tanto Israel quanto a Síria. Em vez disso, Judá sim ples­ mente conseguiu algumas cidades, o tesouro do Senhor foi saqueado e o rei encontravase numa aliança pecam inosa com os sírios. Hanani lembrou A sa de que o Senhor não havia lhe faltado quando Z erá e o enorm e exército egípcio atacaram Judá. A contrata­ ção dos sírios havia sido uma decisão insen­ sata. Judá pagaria pelo erro do rei ao longo dos anos subseqüentes, e a Síria se tornaria um problem a constante para o reino de Judá. O problem a fundam ental de Judá não foi sua falta de defesas, mas sim a falta de fé do rei. Ao contrário de Davi, cujo coração foi sincero diante do Senhor (ver 1 Rs 15:5, 11), o coração de A sa estava dividido: um dia co nfiava no Senhor e no dia seguinte co nfiava no braço de carn e. Um co ração perfeito não é um coração sem pecado al­ gum; antes, é um coração entregue de todo ao Senhor e inteiramente confiante nele. O rei A sa revelou a perversid ade de seu co ­ ração ao irar-se, rejeitar a m ensagem do profeta e mandar prendê-lo. Ao que parece, algumas pessoas que se opuseram à políti­ ca internacional de A sa e à form a com o mal­ tratou o servo de D eus foram brutalmente oprim idas pelo rei. D eus co n cedeu a A sa um tem po para se arrepender, mas o rei se recusou a mudar seus cam inhos. No trigésimo nono ano do reinado de Asa, o Senhor o afligiu com uma doença nos pés, que deve ter lhe causado dores e incôm odos consideráveis. M ais uma vez, o rei deu as costas para o Senhor, recusan­ do-se a confessar seus pecados e buscar a 459 Jeová, procurando, em vez disso, a ajuda de seus m édicos. Asa faleceu dois anos depois, e o trono foi entregue a seu filho, Josafá, que provavelm ente havia servido com o coregente durante os últimos anos da vida do pai.6 A sa foi um homem que com eçou bem e viveu um a vida de fé, mas, chegando a seus últim os anos, rebelou-se contra o Se­ nhor. O povo fez uma grande fogueira em hom enagem a A sa ; porém , aos olhos de Deus, os últimos anos desse rei viraram fu­ m aça (1 C o 3:13-1 5 ).7 2. U m a d in a stia c h e c a a o fim (1 Rs 15:25 - 16:22) A essa altura, o historiador volta-se para o relato sobre os reis de Israel e perm anece nesse enfoque até o final do livro. A história dos reis de Judá encontra-se principalm ente em 2 C rô nicas. A dinastia de Davi é m encio­ nada em 1 e 2 Reis apenas quando algo oco rre entre Judá e Israel. A dinastia que co m e ço u com Jero b o ão estava prestes a term inar. N ada be é a ssassin ado (1 5 :2 5 -3 1). Jero­ boão reinou sobre Israel durante vinte e dois anos (1 4 :2 0 ) e se tornou o principal exem ­ plo de um rei perverso (ver 1 5 :3 4 ; 16:2, 19, 26 etc.). Nadabe herdou do pai o trono e tam b ém seu m odo de vid a p e cam in o so . H avia reinado apenas dois anos quando foi assassinado por Baasa, um homem de Issacar, com o resultado de um a conspiração que havia se desenvolvido no reino. Nadabe es­ tava com o exército de Israel conduzindo o cerco de G ibetom , uma cidade filistéia ao sul de Ecrom . Essa cidade fronteiriça havia sido motivo de atrito entre Israel e os filisteus. Na verdade, pertencia à tribo de D ã (Js 19:4345) e era uma cidade levítica (Js 2 1 :2 3 ), e Nadabe queria recuperá-la para Israel. Baasa não apenas matou o rei com o tam­ bém tomou o trono e, assim , cum priu a pro­ fecia de Aías de que a família de Jeroboão seria inteiram ente exterm inada em função dos pecados que Jeroboão havia com etido (14:10-16). Se Jeroboão tivesse obedecido à Palavra de Deus, teria desfrutado a bênção e o auxílio do Senhor (1 1:38 , 39), mas, pelo fato de haver pecado e levado sua nação a 460 1 RE I S 1 5:1 - 1 6 : 2 0 pecar, o Senhor teve de julgar o rei e seus descendentes, e esse foi o fim da dinastia de jero bo ão I. B a a sa d e s o b e d e c e a D e u s ( 1 5 :3 2 16 :7 ). Baasa colocou seu palácio em Tirza e reinou sobre Israel durante vinte e quatro anos. Em vez de evitar os pecados que cau­ saram a extinção da fam ília de Jeroboão - a qual o próprio Baasa havia exterm inado o rei imitou o estilo de vida de seu antecessor! Alguém disse bem que a única co isa que aprendem os com a história é que não apren­ dem os coisa algum a com ela. Baasa havia destruído a dinastia de Jeroboão, mas não poderia destruir a Palavra de D eus. O Se­ nhor enviou o profeta Jeú para transmitir ao rei Baasa a mensagem séria de que, depois de sua morte, sua fam ília seria exterm inada e outra dinastia seria destruída em d e co r­ rência do pecado de seu pai. O s d escen ­ dentes de Bassa seriam mortos, e os corpos se tornariam alimento para os cães e abutres. Era uma hum ilhação trem enda não sepultar o corpo de um israelita.8 F/á é assassin ado (1 6 :8 -1 4 ). Baasa teve morte natural, mas não foi o que ocorreu com seu filho e sucessor. Ao que parece, Elá era um hom em devasso que preferia embriagarse com os amigos a servir ao Senhor e ao povo. É provável que Arsa fosse o primeiroministro, e tanto ele quanto o rei esquece­ ram as palavras de Salom ão, que sabia pelo menos alguma coisa sobre a realeza: "Ai de ti, ó terra cujo rei é criança e cujos príncipes se banqueteiam já de m anhã. Ditosa, tu, ó terra cujo rei é filho de nobres e cujos prín­ cipes se sentam à mesa a seu tempo para refazerem as forças e não para bebedice" (Ec 1 0 :1 6 , 17). D essa vez, o assassino foi Zinri, o capi­ tão de m etade dos carros do exército de Israel. C o m o alto com andante, Z in ri tinha acesso direto ao rei, e que m om ento me­ lhor poderia haver para matá-lo do que quan­ do estivesse em briagado? C o m o havia feito o pai de Elá, Zinri tomou o trono e, uma vez no poder, assassinou todos os mem bros da fam ília de Baasa. O rei Baasa havia cum pri­ do a profecia de A bias, e Zinri cum priu a profecia de Jeú. Porém, o que mais cham a a atenção é o fato de que um a pessoa que cum pre uma profecia divina não é isenta do pecado. Tanto Baasa quanto Zinri foram as­ sassinos e regicidas, e o Senhor os respon­ sabilizou e exigiu que prestassem contas. A dinastia de Jeroboão havia chegado ao fim e a dinastia de Baasa não existia mais. Em Judá, a dinastia de Davi perm anecia. 1. Esta interpretação da decisão insensata de Roboão veio de seu filho e não do Senhor; não foi proferida por um profeta 2. Ao que parece, o pano de fundo para esse acontecim ento é a vitória de Josué em Jericó. O Senhor estava à frente das tropas 3. A convocação de assem bléias é de grande importância na história de Israel, tanto antes quanto depois da divisão do reino (ver 4. O fato de a sujeição à aliança ser uma questão de vida ou morte não significa que Judá havia se tornado brutal ou que o inspirado. É de se esperar que um filho defenda o pai. (v. 12; Js 5:13-15), os sacerdotes tocaram as trombetas, o povo gritou (Js 6:1-21) e a vitória foi inteiramente do Senhor. 1 C r 13:2-5; 2 8 :8 ; 2 9 :1 ; 2 C r 5 :6; 20 :3 ss; 30:1 ss). reavivamento foi realizado pela espada. Aqueles que se recusaram a buscar a Deus e a renovar a aliança estavam se declarando idólatras e, de acordo com Deuteronôm io 13:6-9, os idólatras não deveriam ser poupados. O s que se recusaram a submeterse sabiam o que a aliança dizia, de modo que, ao declarar sua devoção a um deus estrangeiro, estavam tomando a própria vida nas mãos. 5. Vê-se aqui um problem a cronológico, uma vez que Baasa subiu ao trono durante o terceiro ano do reinado de Asa e reinou vinte e quatro anos (1 Rs 15 :3 3), o que significa que m orreu no vigésim o sétim o ou vigésim o oitavo ano, sendo impossível, portanto, ter atacado Judá no trigésim o sexto ano de reinado de A sa. O Dr. G ieason A rcher sugere que a palavra traduzida por "reinad o" em 2 C rô n icas 16:1 deve ser entendida com o "reino", ou seja, "no trigésim o sexto ano do reino de Judá". Assim , o escritor estava determ inando a data desse acontecim ento desde a divisão do reino em 931-930 a .C . e não da ascensão de Asa ao trono em 910 a .C . Alguns estudiosos consideram esses números erros de um copista, pois no hebraico a diferença entre as letras usadas para 36 e 16 é muito pequena. V e r A pp. 22 5, 226. rc h er. E n cycío p ed ia o f Bible D ifficu k ies. Zondervan. 1 RE I S 15: 1 - 1 6 : 2 0 6. 461 O fato de os m édicos não poderem ajudar A sa não deve ser interpretado com o uma rejeição divina a essa profissão. Deus pode curar por vários m eios ou diretamente (is 38 :2 1 ), e Lucas, o "m édico am ado", fazia parte da equipe missionária de Paulo (C! 4 :14 ). Até mesmo Jesus disse que os enferm os precisam de um m édico (Lc 5:27-32). Usar 2 Crônicas 16:12 com o um argumento para as "curas pela fé” e contra buscar a ajuda de um m édico é interpretar e aplicar incorretam ente uma afirm ação bastante clara. A doença de Asa foi um julgam ento do Senhor, e, nesse caso, buscar a ajuda de m édicos constituiu um ato de rebelião contra o Senhor. O rei recusou-se a arrepender-se, de modo que Deus recusou-se a permitir que fosse curado. 7. O corpo de Asa foi colocado no túmulo preparado para ele. A "queim a" de perfumes e de especiarias não tem relação aiguma com a prática da crem ação, considerada repreensível em Israel. 8. A oração "porque matara a casa de jero b oão", em 1 Reis 1 6 :7 , indica que, apesar de Baasa ter feito a vontade de D eus ao matar Nadabe e ao exterm inar a casa de Jeroboão, ainda assim era responsável por suas m otivações e seus atos. Baasa não realizou essa obra terrível com o um servo santo do Senhor, mas sim com o um assassino perverso que queria o trono. 10 Q ue V en h a o Fo g o ! 1 Reis 17: 1 - 1 8 : 4 6 de Baal para uma com petição em público. Não apenas operou milagres, mas ainda os experim entou na própria vida. Estes dois ca­ pítulos registram sete milagres realizados ou experim entados por Elias. 1. U m a seca p o r t o d a a t e r r a (1 Rs 17:1) lias, o tesbita,1 entra em cena de repente e som e tão rapidam ente quanto apare­ ceu, só para voltar a ser visto três anos depois no desafio aos sacerdotes de Baal. Seu nome significa "o S e n h o r (Jeová) é m eu D e u s", designação apropriada para um hom em que cham ou o povo de volta ã adoração a Jeová (1 8 :2 1 , 39). O perverso rei A cab e havia per­ E m itido que a esposa, Jezab el, trouxesse a adoração de Baal para Israel (16:31-33), e a rainha mostrou-se decidida a extinguir a ado­ ração a Jeová (1 8 :4 ). Baal era o deus fenício da fertilidade que enviava chuvas e colhei­ tas abundantes, e os rituais associados a sua ad oração eram ind escritivelm ente im orais. Assim com o Salom ão, que contribuiu para as práticas idólatras das esposas pagãs (11:18), A cab e cedeu aos desejos de Jezabel e até construiu para ela um templo particular de adoração a Baal (1 6 :3 2 , 33). O plano da rainha era exterm inar os adoradores de Jeová e levar todo o povo de Israel a servir a Baal. O profeta Elias é uma figura importante no Novo Testam ento. João Batista veio no espírito e no poder de Elias (Lc 1:17), e al­ guns do povo chegaram a pensar que ele era o Elias prometido (Jo 1 :2 1 ; Ml 4 :5 , 6; M t 17:10-13). Elias estava com M oisés e Jesus no monte da Transfiguração (M t 17:3), e al­ guns estudiosos acreditam que M oisés e Elias são as testemunhas descritas em A pocalipse 11:1-14. Elias não era um pregador refinado com o Isaías e Jerem ias e, sim, mais um refor­ m ador rude, que desafiou o povo a abando­ nar seus ídolos e voltar para o Senhor. Foi um hom em corajoso que confrontou A ca ­ be pessoalm ente, repreendendo o pecado do rei, e que também desafiou os sacerdotes O povo de Israel dependia das chuvas sazo­ nais para que suas plantações produzissem . Se o Senhor não enviasse as primeiras chu­ vas em outubro e novem bro e a chuva serôdia em m arço e abril, logo haveria grande fom e na terra. Porém , a bênção das chuvas sem i-an u ais d e p e n d ia da o b e d iê n c ia do povo à aliança do Senhor (D t 11). Deus ad­ vertiu o povo de que sua d e s o b e d iê n c ia transform aria o céu em bronze e a terra em ferro (D t 2 8 :2 3 , 24; ver Lv 2 6 :3 , 4, 18, 19). A terra pertencia ao Senhor, e, se o povo a contam inasse co m seus ídolos, o S en h o r não enviaria suas bênçãos. É bem provável que Elias tenha se apre­ sentado diante do rei A cab e em outubro, na ép oca em que as primeiras chuvas deve­ riam ter co m eçad o . Não chovia havia seis m eses - de abril a outubro - , e o profeta anunciou que não cho veria nos três anos seguintes!2 O povo estava adorando Baal em vez de Jeová, de modo que o Senhor não poderia enviar a chuva prom etida e, ao mes­ mo tem po, m anter a aliança. Deus é sem­ pre fiel a sua aliança, seja para ab enço ar o povo por sua obediência, seja para disciplinálo por seus pecados. Deus havia retido as chuvas em decorrên­ cia das orações fervorosas de Elias e voltaria a enviar as chuvas em resposta à intercessão de seu servo (Tg 5 :1 7 , 18). Nos próxi­ mos três anos, as condições meteorológicas em israel seriam contro ladas pela palavra de Elias! O s três anos e meio de seca prepa­ rariam o povo para o confronto dramático entre os sacerdotes de Baal e o profeta do Senhor no monte Carm elo. C om o servo fiel, atento às ordens de seu senhor, Elias colocou-se diante de Deus e o serviu. (Posterior­ mente, seu sucessor, Eliseu, usaria a mesma term inologia. Ver 2 Rs 3 :1 4 e 5 :1 6 .) Um a seca prolongada, an u n ciad a e contro lada 1 R E I S 1 7:1 - 1 8 : 4 6 por um profeta de Jeová, deixaria claro a todos que Baal, deus da tem pestade, não era, de m aneira alguma, um deus verdadeiro. 2. A lim e n to t r a z id o p o r pássaros im un dos (1 Rs 17:2-7) Jezabel deve ter prom ovido sua cam panha para exterm inar os profetas do Senhor de­ pois que Elias saiu da presença do rei (18:4). Q u an d o a seca prosseguiu e a fom e ch e­ gou à terra, A cab e com eçou a procurar Elias, o hom em que, na opinião do rei, era a cau­ sa de todos os problem as (18:1 7). Em certo sentido, de fato foi Elias que causou a seca, mas o pecado de A cab e e de Jezabel é que levou a nação a transgredir a aliança com Deus e a cham ar sobre si a disciplina de D eus. O Senhor havia preparado um esconderijo especial para seu profeta à beira de um ria­ cho a leste do Jordão e tam bém havia provi­ d e n ciad o alguns "se rv o s" in com un s para alimentá-lo. O Senhor costum a conduzir seus fiéis a dar um passo de cada vez, enquanto seu coração perm anece em sintonia com a Palavra. Deus não deu a Elias um cronograma 463 servo. O s corvos não levaram a Elias as car­ caças que estavam acostum ados a com er, pois esse tipo de com ida seria im unda para um israelita devoto. O Senhor proveu a co­ mida, e os pássaros forneceram o meio de tran sp o rte! A ssim co m o D eu s fe z ca ir o maná sobre o acam pam ento de Israel du­ rante sua jornada pelo deserto, tam bém en­ viou o alim ento necessário a Elias enquanto o profeta aguardava um sinal para mudar-se de lá. D eus alim enta os animais e os corvos (Sl 1 4 7 :9 ; Lc 12:24) e os usou para levar co­ mida a seu servo. Com a intensificação da seca, a torrente seco u, deixando o profeta sem água; mas ele não tomou atitude alguma enquanto a Palavra de D eus não lhe veio para dizer o que fazer. Alguém disse bem que a vontade de Deus nunca nos co ndu z a um lugar em que Deus não pode nos proteger ou cuidar de nós, e Elias descobriu isso por experiên­ cia própria (ver ls 3 3 :1 5 , 16). 3. A lim e n to de recipientes vazio s (1 Rs 17:8-16) para o profeta acom panh ar nos três anos seguintes. A ntes, dirigiu seu servo a cada co n jun tu ra crítica em sua jo rn ad a, e Elias obedeceu pela fé. D eus ordenou a Elias: "V á se esconder!", e, três anos depois, essa ordem mudou para: "A p resen te -se !" A o d e ixar seu m inisté rio público, Elias criou outra "seca" na terra uma ausência da Palavra do Senhor. A Pala­ vra de D eus era, para o povo de Israel, com o a chuva do céu (D t 3 2 :2 ; Is 5 5 :1 0 ): essen­ cial para sua vida espiritual, revigorante e provinda som ente do Senhor. O silêncio do servo de Deus foi um julgam ento divino (Sl 74 :9 ), pois não ouvir a Palavra viva de Deus é o m esm o que perder a própria vida (Sl 2 8 :1 ). Na torrente de Q uerite, Elias teve se­ gurança e sustento. A té o dia em que se­ cou, o ribeiro proveu água e, a cada manhã e tarde, os corvos levaram carne e pão ao profeta. Na lista m osaica de anim ais e de Elias passou cerca de um ano em Q uerite, até que Deus lhe disse para deixar aquele local. A instrução de Deus pode ter espan­ tado o profeta, mas o Senhor ordenou que ele viajasse na direção norte, mais de cin­ qüenta quilôm etros até a cidade fenícia de Sarepta. D eus estava enviando Elias para um território gentio e, um a v e z que Sarepta não ficava muito longe de Sidom , a cidade natal de Jezabel, o profeta estaria vivendo em ter­ ritório inimigo! A lém disso, foi instruído a morar com uma viúva que Deus havia esco­ lhido para cuidar dele, e as viúvas estavam entre as pessoas mais necessitadas da terra. U m a vez que grande parte do suprim ento alim entos proibidos (Lv 1 1 :1 3-1 5; Dt. 14 :1 4 ), o co rvo era considerado "im undo" e "abo­ mas sim pelas prom essas divinas. Nas palavras de W atchm an N ee: "D ada m inável" e, no entanto, D eu s usou esses animais para ajudar a sustentar a vida de seu a nossa tendência de olhar para o balde e de esquecer a fonte, D eus com freqüência de com ida da Fenícia vinha de Israel (1 Rs 5 :9 ; A t 1 2 :2 0 ), não haveria alim ento em a b u n d â n cia em S are p ta. Porém , quand o Deus nos envia, devem os o bedecer e dei­ xar o resto ao encargo dele, pois não vive­ mos de acordo com explicaçõ es humanas, 464 1 R E I S 17: 1 - 1 8 : 4 6 muda seu meio de suprir as necessidades, a fim de m anter nossos olhos fixos na fonte". Depois que a nação de Israel entrou na Terra Prometida, o maná parou de cair no acam pa­ mento, e Deus mudou a forma de alim entar o povo (Js 5:10-12). D urante os prim eiros anos da Igreja em Jerusalém , os cristãos ti­ nham tudo de que precisavam (At 4 :3 4 , 35), mas alguns anos depois, os cristãos em Je­ rusalém p re cisaram re c e b e r a aju d a dos cristãos gentios em Antioquia (At 1 1 :27-30). Elias estava prestes a aprender o que Deus dá-nos hoje" é mais do que uma frase numa oração que, por vezes, recitam os sem muita reflexão. Trata-se da expressão de uma gran­ de verdade: o Senhor cuida de nós e pode usar muitas mãos para nos alimentar. Antes do pão, vem a farinha alva, Antes da farinha, vem o moinho triturador, Antes do moinho, o trigo, o sol e a chuva, O agricultor - e a vontade do Pai, nosso Provedor. podia fazer com vasilhas vazias. O fato de essa m ulher ter sido instruída pelo Senhor (v. 9) não prova que acreditava no D eus de Israel, pois o Senhor deu ordens a um rei pagão com o C iro (2 C r 3 6 :2 2 ), che­ gando até a chamá-lo de "pastor" (Is 4 4 :2 8 ). A viúva referiu-se a Jeová com o "o S e n h o r , teu D e u s" (v. 12, ênfase m inha), pois era cap az de discernir facilm ente que o desco­ nhecido falando com ela era um israelita; no entanto, nem isso é prova de que ela fosse temente a D eus. É provável que Elias tenha fic a d o co m ela d u ran te dois anos (1 8 :1), e, durante esse tempo, a viúva e seu filho certam ente deixaram a idolatria e de­ positaram sua fé no verdadeiro Deus vivo. O s recursos da viú va eram escassos: um pouco de azeite num frasco , um punhado de cevada num a vasilha grande de cereal e 4. V id a para um m enino m o r to (t Rs 17:17-24) alguns gravetos para fazer um fogo. O s re­ cursos de Elias, porém , eram abundantes, com a dor da perda, mas por que a viúva acusou seu hóspede? Ela considerava Elias um hom em de Deus e, talvez, achasse que a presença dele em sua casa seria uma pro­ teção para ela e seu filho. O u , quem sabe, tenha sentido que Deus havia inform ado seu hóspede sobre sua vida pregressa, algo que ela deveria ter confessado ao profeta. Suas palavras nos lembram da pergunta dos discí­ pulos em João 9 :2 : "M estre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" A resposta de Elias foi levar o m enino para seu quarto no andar de cim a da casa, talvez no terraço, e clam ar ao Senhor pela vida da crian ça. O profeta não podia crer que o Senhor proveria alim ento miraculosam ente para os três e, depois, perm itiria que o m enino m orresse. Não fazia sentido. Elias não se estendeu sobre o corpo morto pois o D eus Todo-Poderoso havia prom e­ tido cuidar dele, de sua anfitriã e do filho dela. Elias transm itiu à viú va a prom essa de que nem a vasilha de cereal nem o frasco de azeite ficariam vazio s até o fim da seca e da fom e. Um dia, D eus enviaria as chu­ vas, mas até então co ntinuaria a prover o pão para el.es -p ro m e ssa que, de fato, o Senhor cum priu. Em nossa sociedade m oderna, com seus cartões de crédito e toda a co n ven iên cia para fazer com pras, precisam os nos lembrar de com o cada refeição que fazem os é um milagre da mão de D eus. Talvez m orem os longe dos agricultores que cultivaram nos­ sos alim entos, mas não podem os viver sem eles. O pedido: "o pão nosso de cada dia Este é o primeiro caso de ressurreição regis­ trado nas Escrituras. A s evidências parecem deixar claro que o filho da viúva morreu, não apenas desm aiou ou entrou em transe tem­ porário. A crian ça parou de respirar (v. 17), e seu espírito deixou o corpo (vv. 21, 22). D e acordo com Tiago 2 :2 6 , quando o espí­ rito deixa o corpo, a pessoa está morta. A grande aflição tanto da mãe quanto do pro­ feta dá a entender que o m enino morreu e, referindo-se ao ocorrido, os dois usam o ter­ mo "m atar" (vv. 18 e 20). A reação da mãe foi sentir-se culpada por causa de seus pecados no passado. Ela acreditava que a morte do filho era a manei­ ra de Deus castigá-la por suas transgressões. Não é incom um as pessoas sentirem culpa 465 1 R E I S 1 7:1 - 1 8 : 4 6 do menino na esperança de transferir sua vida para a criança, pois sabia que somente Deus pode dar vida aos mortos. Sem dúvida, sua postura indicou uma identificação total com o m enino e com sua necessidade, fato im­ portante quando intercedemos por outros. Foi depois de Elias ter se estendido sobre a crian­ ça pela terceira vez que o Senhor a ressusci­ tou, uma lembrança de que nosso Salvador ressuscitou no terceiro dia. Porque o Senhor vive, podemos tomar parte em sua vida ao crer nele (ver 2 Rs 4 :3 4 e At 20 :1 0 ). O resultado desse milagre foi a confis­ são pública da m ulher de sua fé no Deus de Israel. Ela sabia, sem som bra de dúvida, que Elias era um verdadeiro servo de D eus, não apenas outro mestre religioso à procura de sustento. Tam bém sabia que a Palavra que ele havia lhe ensinado era, de fato, a Palavra do verdadeiro D eus vivo. Durante o tempo em que ficou hosperado com a viúva e seu filho, Elias mostrou que Deus sustenta a vida (a farinha e o óleo não acabaram ) e que Deus dá a vida (o m enino foi ressurreto). Elias não ficou no ministério público um longo tem po, no entanto, seu ministério par­ ticular à m ulher e a seu filho foi igualmente im portante, tanto para o Senhor quanto para eles. O servo que não se "esconde" e que não ministra a apenas algumas pessoas não está, de fato, preparado para ficar no monte C arm elo e pedir fogo e chuva do céu. As pessoas fiéis no pouco e em lugares peque­ nos mostram que o Senhor pode confiar-lhes m uito, diante de m ultidões e em lugares maiores (M t 2 5 :2 1 ). Elias havia provado o po­ der de Deus no próprio território de Baal, de modo que estava pronto a desafiar Baal no reino de Israel. D urante esses três anos em que viveu co m o um h o m em p e rse g u id o e e x ila d o (1 8 :1 0 ), Elias havia aprendido muito sobre o Senhor, sobre si mesm o e sobre as necessi­ dades das pessoas. H avia aprendido a viver um dia de cada vez, confiando que Deus lhe daria o pão de cada dia. O povo passou três anos perguntando: "O n d e está o profe­ ta Elias? Será que ele é capaz de fazer algu­ ma coisa para aliviar os fardos que estamos carregando por causa da seca?" O Senhor, porém , se p re o cu p a mais com o obreiro do que com a obra e estava preparando Elias para o m aior desafio de fé em todo seu m inistério. Porém , antes de encerrar o relato sobre a estadia de Elias com a viúva de Sarepta, devem os co nsiderar com o o S e n h o r usou essa história no serm ão que Jesus pregou na sinagoga em N azaré (Lc 4:16-30). Na pri­ meira parte de seu serm ão, os ouvintes apro­ varam e elogiaram as "palavras de graça" de Jesus. M as, em seguida, ele os lembrou de que a graça soberana de Deus havia alcan­ çado outras nações além do povo da alian­ ça de D eus. Elias, o grande profeta de Israel, ministrou a uma viúva gentia e a seu filho e morou com eles, quando poderia ter minis­ trado a qualquer uma das muitas viúvas de Israel. Em sua segunda ilustração , usou o m inistério de Eliseu, sucessor de Elias, que curou da lepra um general gentio (2 Rs 5:115). Sem d ú vid a, havia d iverso s leprosos israelitas que o profeta poderia ter curado! Jesus enfatizou a graça de D eus, pois queria que a congregação orgulhosa de ju ­ deus na sinagoga percebesse que o Deus de Israel também é o D eus dos gentios (ver Rm 3 :2 9 ) e que tanto judeus quanto gentios são salvos ao crer nele. E claro que os ju ­ deus não aceitaram a idéia de que eram pecadores com o os gentios e de que preci­ savam ser salvos, de modo que rejeitaram o m ensageiro e a mensagem e levaram Jesus para fora da sinagoga, a fim de lançá-lo coli­ na abaixo. O ministério de Elias à viúva e a seu filho foi prova de que D eus não faz acepção de pessoas e de que "todos peca­ ram e carecem da glória de D eus" (Rm 3 :2 3 ). Q u e r se trate de um judeu religioso, quer de um gentio pagão, o único cam inho para a salvação é a fé em Jesus Cristo. 5. Fo co d o céu (1 Rs 18:1-40) Elias havia passado três anos escondido, pri­ m eiro , à b eira da to rren te de Q u e rite e, depois, com a viúva em Sarepta, mas então recebeu a ordem de "apresentar-se" ao per­ verso rei A cabe. Porém, juntam ente com o m and am ento de D e u s, tam bém veio sua promessa de que enviaria as chuvas e de que 466 1 RE I S 1 7:1 - 1 8 : 4 6 daria fim à seca que havia provocado para castigar a nação idólatra por mais de três anos. Obadias encontra-se com Elias (vv. 1-6). O s estudiosos não apresentam um consen­ so quanto ao caráter de O badias, governa­ d o r do p a lá c io . U m h o m em de g rand e autoridade, era tanto administrador do palá­ cio real quanto m ordom o e supervisor de tudo o que o rei possuía. Porém , era um servo corajoso de D eus (seu nom e significa "servo de Jeová") ou um indivíduo vacilante e tímido com medo de dar seu testemunho? O texto diz que O badias "tem ia muito ao S e n h o r " e provou isso durante a "lim peza" realizada por Jezabel ao arriscar a vida para salvar cem profetas do Senhor3 - uma atitu­ de que não se parece com o tipo de coisa que um homem vacilante em seu testemu­ nho faria! Por que dizer ao rei e à rainha o que estava fazendo pelo Senhor? Deus ha­ via colocado O badias no palácio para usar a autoridade que lhe havia sido divinam en­ te co nced id a, a fim de ap oiar os profetas fiéis numa ép o ca em que servir ao Senhor abertam ente era algo perigoso. O rei e O badias estavam procurando por toda a parte grama ou outro tipo de forra­ gem que pudesse ser usada para alimentar as mulas e os cavalos usados pelo exército. A c a b e não estava p a rticu la rm e n te p re o ­ cupado com o povo da terra, mas queria que seu exército estivesse forte caso houvesse uma invasão. É impressionante observar que o rei estava disposto a deixar a segurança e o conforto de seu palácio para percorrer a ter­ ra em busca de alimento para os animais. Ao que parece, quando A cabe estava longe de Jezabel, era uma pessoa muito melhor. O Senhor conduziu Elias até a estrada que O badias estava usando, e os dois homens se encontraram . A reverência de O badias por Elias e por seu ministério era tanta que ele se prostrou com o rosto em terra e o chamou de "m eu senhor Elias". O objetivo de Elias era confrontar o perverso rei A cabe, mas não iria p ro c u rá -lo , de m odo q u e in c u m b iu O badias de dizer ao rei onde o profeta se encontrava. Podemos entender a preocupa­ ção de O badias com o que poderia aconte­ cer caso o rei voltasse e não encontrasse o profeta. A cab e passara três anos atrás de Elias, de modo que, sem dúvida, havia se­ guido várias pistas falsas e não estava inte­ ressado em perder tem po e energia num m om ento tão crítico da história de Israel. Além disso, A cab e poderia castigar O badias ou mesm o suspeitar que ele fosse seguidor do D e u s de E lias. P o ré m , q u a n d o Elias garantiu ao oficial que ficaria onde estava e que esperaria pelo rei, O badias partiu para transmitir a mensagem a A cabe. Nem todos os servos de Deus devem ficar em evidência com o Elias e outros profetas. Deus tem servos em muitos lugares realizan­ do a obra para a qual ele os cham a. Nicodemos e José de Arim atéia não alardearam sua fé em Cristo, no entanto, Deus os usou para sepultar devidam ente o corpo de Cristo (Jo 19:38-42). Ester não falou de suas origens até que se tornou absolutamente necessário usar esse fato para salvar a vida de seu povo. Ao longo dos séculos, inúmeros cristãos tive­ ram uma atitude discreta, no entanto reali­ zaram grandes contribuições para a causa de Cristo e a expansão do seu reino. Elias encontra-se com o rei Acabe (vv. 17-19). Elias fez tudo de acordo com a Pala­ vra do Senhor (v. 36), inclusive confrontar o rei e convidar A cabe e os sacerdotes de Baal para um encontro no monte Carm elo. Acabe cham ou Elias de "perturbador de Israel", mas, na verdade, foram os pecados do rei que cau­ saram as perturbações na terra. Sem dúvida, A cabe conhecia as estipulações da aliança e entendia que as bênçãos do Senhor depen­ diam da obediência do rei e de seu povo. Tanto Jesus quanto Paulo foram acusados de ser perturbadores (Lc 2 3 :5 ; At 16:20; 17:6), portanto Elias estava em boa com panhia. O monte Carm elo ficava próxim o à fron­ teira entre Israel e a Fenícia, de modo que era um bom lugar para o deus fenício Baal encontrar-se com Jeová, o D eus de Israel. Elias disse a A cab e para levar não apenas os 4 5 0 profetas de Baal, mas tam bém os 400 profetas de A será, a "esposa" de Baal. Ao que p arece, som ente os profetas de Baal aceitaram o desafio (vv. 22, 26, 40 ); O s profetas de Baal encontram-se com o Deus de Israel (vv. 20-40). Representantes 1 R E I S 1 7:1 - 1 8 : 4 6 das d ez tribos do reino do N orte co m p a­ receram , e foi a esse grupo que Elias se diri­ giu no início da reunião. Seu propósito não era apenas desm ascarar o falso deus Baal, mas tam bém trazer o povo transigente de volta ao Senhor. Por causa da influência de A cabe e de Jezabel, o povo estava "coxean­ do" entre duas opiniões e tentando servir tanto a Jeová quanto a Baal. Assim com o M oisés (Êx 3 2 :2 6 ) e Josué (Js 2 4 :1 5 ), Elias pediu um a decisão definitiva dos israelitas, mas o povo se calou. O silêncio foi por causa de sua culpa (Rm 3 :19) ou porque desejavam saber o que aconteceria a seguir? Eram um povo fraco, sem verdadeira co n vicção . No teste, Elias deu a vantagem para os profetas de Baal. Poderiam construir seu al­ tar primeiro, escolher o sacrifício e oferecêlo prim eiro e poderiam dem orar o quanto quisessem fazendo suas preces a Baal. Q u an ­ do Elias disse que era o único profeta do Senhor, não estava se esquecendo dos pro­ fetas que O badias havia escondido e prote­ gido, mas sim afirm ando ser o único que servia ao Senhor abertam ente e, portanto, em minoria absoluta diante dos 450 profe­ tas de Baal. Porém, aquele que tem D eus a seu lado, na verdade, é a maioria absoluta, de m odo que o profeta não tem eu. Sem dúvida, as orações dos 4 5 0 profetas fervo­ rosos seriam ouvidas por Baal e ele enviaria fogo do céu! (Ver Lv 9 :2 4 e 1 C r 2 1 :2 6 .) Ao meio-dia, Elias estava escarnecendo dos profetas de Baal, pois ainda não havia acontecido coisa alguma. "Ri-se aquele que habita nos cé u s; o S en ho r zo m b a d eles" (Sl 2 :4 ). O s profetas de Baal dançavam fre­ neticam ente ao redor do altar e se cortavam com espadas e lanças, mas sem qualquer resultado. Elias sugeriu que, talvez, Baal não estivesse ouvindo as preces deles, pois se e n c o n tra v a em m e d ita ç ã o p ro fu n d a , ou o cu p ad o com algum a tare fa,4 ou m esm o viajando. Suas palavras só serviram para au­ m entar o fanatism o dos profetas, mas não houve resposta alguma. As quinze horas, o horário do sacrifício da tarde no templo em Jerusalém , Elias tomou a frente. Q u em construiu, originalm ente, o altar que Elias usou? É provável que tenha sido 467 um mem bro do rem anescente fiel de Israel que adorava ao Senhor em secreto. Porém, o altar havia sido destruído pelos profetas de Baal (1 9 :1 0 ), de modo que Elias o recons­ truiu e santificou. Ao usar doze pedras, rea­ firm ou a união espiritual do povo de Deus ap esar de sua divisão política. Elias havia dado algumas vantagens aos profetas de Baal e, ao preparar seu sacrifício, deu a si mes­ mo algumas desvantagens. Cavou uma vala ao redor do altar e encheu-a de água. C o lo ­ cou o sacrifício sobre a m adeira no altar e encharcou tudo com água. Na hora do sacrifício da tarde, levantou a vo z em oração ao Deus da aliança, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Pediu que o Se­ nhor fosse glorificado com o o Deus de Israel, o verdadeiro D eus vivo , e que fizesse co ­ nhecer que Elias era o seu servo. M ais do que isso, porém , ao enviar fogo do céu, o Senhor estaria dizendo ao povo que os ha­ via perdoado e que co n d u ziria o coração de Israel de volta à adoração ao Deus ver­ dadeiro. E possível que Elias estivesse pen­ sando na prom essa de D eus a Salom ão em 2 C rô nicas 7:12-15. D e repente, o fogo des­ ceu do céu e consum iu inteiramente o sa­ crifício, o altar e a água na vala ao redor do altar.5 Não sobrou coisa alguma que pudesse ser transform ada numa relíquia ou santuário. O altar de Baal continuou firm e e intacto com o um m onum ento a uma causa perdi­ da. O s profetas de Baal ficaram aturdidos, e o povo de Israel prostrou-se com o rosto em terra e re co n h e ce u q u e só "o S e n h o r é D eus!" Porém, Elias ainda não havia term inado, pois ordenou que o povo tomasse os falsos profetas de Baal e que os matasse, uma or­ dem de acordo com D euteronôm io 13:1318 e 17:2-5. O teste havia sido justo, e os profetas de Baal haviam sido desm ascarados com o idólatras que m ereciam a m orte. D e acordo com a lei, os idólatras deveriam ser executados por apedrejam ento, mas Elias os matou à espada (1 9 :1). É evidente que essa medida enfureceu a rainha je zab e l, de cuja mesa esses hom ens haviam recebido alim en­ to (v. 19), e a rainha tomou o propósito de capturar Elias e de matá-lo. 468 1 R E I S 1 7: 1 - 1 8 : 4 6 (1 Rs 18:41-45) o rei contou a Jezabel que Baal havia sido Elias havia anunciado, três anos antes, que sua palavra havia feito cessar as chuvas e 6. As publicam ente humilhado, declarado um fal­ so deus e que os profetas de Baal que ela sustentava haviam sido mortos. Porém , nem a seca nem a fom e haviam levado A cabe e Jezabel ao arrependimento, e era pouco pro­ vável que o fogo do céu ou a vinda das chuvas mudasse seu coração (Ap 9 :2 0 , 21; 16:8-11). Apesar de todas as evidências, Jezabel esta­ va decidida a matar Elias (1 9 :1, 2). ch u v a s re to rn a m que so m en te sua palavra poderia fazê-las re co m eçar (1 7 :1 ). C om isso se referia ao poder de sua oração, das palavras que pro­ feria ao Senhor (Tg 5:1 7, 18). H avia sido um dia longo e frustrante para A ca b e , e Elias disse ao rei para ir até seus servos e com er algum a c o isa .6 Elias dirigiu-se ao topo do monte Carm elo para orar e pedir ao Senhor que enviasse as chuvas tão necessárias. Nas palavras da m issionária A m y C arm ichael: "A cada dia que vivem os, devem os escolher se seguirem os o cam inho de A cab e ou de Elias" - o que nos lembra de M ateus 6 :3 3 . A postura incom um de Elias era quase um a posição fetal, indicando a hum ildade do profeta, sua grande preo cu p ação pelo povo e seu profundo desejo de glorificar o Senhor. A o contrário da resposta a sua ora­ ção no altar, essa oração não foi atendida de im ediato. Sete vezes Elias m andou seu servo olhar na direção do mar M editerrâneo e avisar se havia qualquer sinal de uma tem­ pestade se form ando e seis vezes o servo não viu coisa alguma. O profeta não desis­ tiu; antes, orou pela sétima vez, e o servo viu uma pequena nuvem vindo do mar. Tratava-se de um bom exem plo a seguir ao "vi­ giar e orar", perseverando na intercessão até que o Senhor envie a resposta. A pequena nuvem não era uma tempes­ tade, mas anunciava as chuvas que estavam por vir. Elias ordenou ao rei que preparasse seu carro e que voltasse ao palácio em Jezreel o mais rápido possível. O texto não diz com o 7. F o r ç a s para a viagem (1 Rs 1 8 :4 6 ) Não dem orou a escu recer e uma chuva tor­ rencial com eçou a cair sobre a terra. O Se­ nhor não apenas provou ser o verdadeiro Deus vivo com o tam bém aprovou o minis­ tério de seu servo Elias. O profeta não tinha carros conduzidos por servos, mas tinha o poder do Senhor e correu à frente de A cabe, chegando antes do rei a Jezreel, percorren­ do uma distância de quase trinta quilôm e­ tros. Foi um feito e tanto para um homem de idade, o que, por si m esm o, serviu com o mais um sinal para o povo de que a mão poderosa do Senhor estava sobre seu servo. Deus havia disciplinado seu povo com seca e fome, mas havia cuidado de Elias, seu servo especial. O Senhor havia enviado fogo do céu para provar que era o verd adeiro Deus vivo. Em seguida, respondeu à oração de seu profeta e enviou chuvas para regar a terra. Seria de se esperar que Elias estivesse num a co n d ição espiritual ideal, ca p a z de enfrentar qualquer coisa, mas o capítulo se­ guinte mostra exatam ente o oposto. Por mais que fosse um grande hom em , ainda assim Elias falhou com o Senhor e consigo mesm o. 1. É provável que a designação "tesbita" refira-se à cidade de Tesbe, em G ilead e, situada a oeste de M aanaim. 2. O período de.seis meses, de abril a outubro, é o fato que explica a aparente discrepância entre 1 Reis 18:1 (três anos) e Lucas 4:25 e Tiago 5:1 7 (três anos e seis meses). Q uando as primeiras chuvas esperadas não vieram em outubro, Elias explicou o motivo da seca. Q uando Elias visitou Acabe, a seca já durava seis meses. 3. Sobre as escolas de profetas, ver 1 Samuel 10:5 e 2 Reis 2:3-7 e 6 :1, 2. 4. O termo hebraico do versículo 27 que é traduzido por "atendendo a necessidades" também significa "se aliviando". O s 5. Satanás é um falsificador dos milagres de Deus (2 Ts 2 :9, 10) e poderia ter enviado fogo do céu (Jó 1:9-12; Ap 13 :1 3), mas o 6. Aiguns estudiosos sugerem que Acabe com eu parte da carne do sacrifício, mas isso não parece possível, uma vez que o idólatras criam seus deuses à própria imagem. Senhor o deteve. sacrifício de Elias foi com pletam ente consum ido e o sacrifício a Baaí não foi exposto a fogo algum. 11 O H o m e m d as C a v er n a s 1 R eis 1 9: 1- 21 em pre me anim a ler em Tiago 5:1 7 que "Elias era hom em sem e lh an te a nós". M inha ten dência é id ealizar os hom ens e m ulheres das Escrituras, mas a Bíblia é a "pa­ lavra da verdade" (2 Tm 2:1 5) e descreve os S defeitos e lim itações até de suas m aiores fi­ guras. Q u an d o Tiago escreveu essas pala­ vras, sem dúvida tinha em mente 1 Reis 18 e 19, pois nesses capítulos vem os Elias no seu auge e, depois, no fundo do poço. Q u an ­ do o salm ista escreveu que: "na verdade, todo hom em , por mais firm e que esteja, é pura vaidade" (Sl 3 9 :5 ), incluiu todos nós, exceto Jesus. Um velho ditado nos lembra de que: "O s m elhores homens não passam de simples seres hum anos mostrando o que têm de m elhor", e a história de Elias prova o quanto isso é verdade. Porém , os líderes extraordinários das Es­ crituras, com toda a sua natureza hum ana, sabiam encontrar a saída daquilo que John Bunyan cham ou de "lam açal [pântano] do desespero" e voltar a cam inhar com o Se­ nhor. Podem os a p ren d e r tanto com suas derrotas quanto com seus sucessos. Além disso, ao estudar passagens com o 1 Reis 19, somos lem brados a dar a glória ao M estre, não a seus servos (1 C o 1:2 7-29), e também a nos prepararm os para o que pode aconte­ ce r depois das vitórias que D eus nos dá. Com que rapidez passamos do alto da mon­ tanha do triunfo para o vale da provação! Precisam os nos humilhar diante do Senhor e nos preparar para as provas que costum am vir depois das vitórias. Se Elias pudesse descrever a um conse­ lheiro aquilo que estava sentindo e pensan­ do, o co n selh e iro teria diagnosticado seu estado co m o um caso típ ico de co lap so e m o cio n a l total. Elias estava fisic a m e n te exausto e havia perdido o apetite. Estava deprim ido consigo mesmo e com seu trabaiho, sendo controlado, cada vez mais, pela autopiedade. "Eu fiquei só"! Em vez de bus­ car a ajuda de outros, Elias isolou-se e, pior de tudo, quis morrer (na verdade, Elias não experim entou a m orte, pois foi levado ao céu num carro de fogo. Ver 2 Rs 2). O profe­ ta co n clu iu que havia fracassad o em sua missão e decidiu que era hora de desistir, mas não foi assim que o Senhor encarou sua situação. Deus sempre enxerga além de nossas m udanças de hum or e das orações im petuosas que fazem os e se com p adece de nós com o os pais se co m p adecem de seus filhos desanim ados (Sl 1 0 3 :1 3 , 14). O capítulo 19 nos mostra com o D eus nos trata com carinho e paciência quando passamos pelas profundezas do desespero e sentimos vontade de desistir. 1 Reis 19 com eça com Elias fugindo e tentando se salvar. Em seguida, o profeta discute com o Senhor e tenta se defender. Por fim, Elias obedece ao Senhor, entregase a ele e é restaurado ao serviço. Na ver­ dade, em todo esse processo, Elias estava reagindo a quatro mensagens distintas. 1. A M EN SA G EM D E P E R IG O D O IN IM IG O (1 Rs 19:1-4) Q uand o a chuva torrencial com eçou a cair, Jezabel estava em Jezreel e talvez tenha pen­ sado que Baal, o deus da tem pestade, havia triunfado no monte Carm elo. Porém, ao vol­ tar para casa, A cab e contou à rainha uma história bem diferente. A cab e era um homem fraco, mas deveria ter assum ido o partido de Elias e honrado o Senhor, que havia de­ monstrado seu poder de m odo tão dramáti­ co. Porém, A cab e precisava conviver com a rainha e sabia que, sem o apoio de Jezabel, ele não era ninguém. Jezabel era obstinada e perversa; nem ela nem o rei A cab e aceita­ ram as evid ên cias claras ap resentad as no monte C arm elo de que Jeová era o verda­ deiro Deus vivo. Em vez de se arrepender e de ch a m a r a n açã o de vo lta ao Sen ho r, Jezabel declarou guerra a Jeová e a Elias, o 470 1 RE I S 1 9 : 1 - 2 1 servo fiel do Senhor, e A cabe permitiu que ela tomasse essa atitude. Por que Jezabel mandou uma carta para Elias quando poderia ter enviado soldados e dado cab o do profeta? Elias estava em Jezreel e não teria sido difícil assassiná-lo numa noite tão conturbada e tem pestuosa. Jezabel não era apenas uma m ulher perver­ sa, mas tam bém uma estrategista sagaz que soube tirar vantagem da derrota de Baal no monte Carm elo. A cab e não tinha pulso al­ gum, mas sua esposa era bem diferente! Elias havia se tornado um hom em benquisto pelo povo. Assim com o M oisés, fizera descer fogo do céu e, com o M oisés, havia exterm inado os idólatras (Lv 9 :2 4 ; Nm 25 ). Se Jezabel transfo rm asse o profeta num m ártir, Elias poderia ter mais influência sobre o povo com sua morte do que com sua vida. O s israelitas esperavam Elias dizer-lhes o que fazer, então, por que não tirá-lo da cena de sua vitória? Se Elias desaparecesse, o povo ficaria im aginan­ do o que havia acontecid o e se mostraria mais propenso a adorar Baal outra vez, dei­ xando A cab e e Jezabel livres para fazer as coisas a seu modo. Além disso, quer fosse por Baal quer por Jeová, as chuvas estavam caindo outra vez, e havia trabalho a fazer! É possível que Jezabel tenha suspeitado que Elias fosse forte candidato a um co la­ pso físico e em o cio n al depois de seu dia pesado no monte C arm elo - e estava certa. O profeta era tão hum ano quanto nós, e com o os patriarcas da igrejas antiga costu­ mavam d ize r a seus d iscíp u lo s: "C u id a d o com as reações hum anas depois de esfor­ ços sagrados". A carta de Jezabel cum priu seu propósito, e Elias fugiu de Jezreel. Num m om ento de m e d o ,1 quando se esqueceu de tudo o que Deus havia feito por eles nos três últim os anos, Elias tom ou seu servo, deixou Israel e rumou para Berseba, a cida­ de no mais extrem o sul de Judá. C h arles Spurgeon co m entou que Elias "bateu em retirada diante de um inimigo derrotado". Deus havia respondido à sua oração (1 8 :3 6 , 37), e a mão de D eus havia estado sobre ele na tem pestade (1 8 :4 6 ), mas, a essa altu­ ra, o profeta vivia pelas ap arências e não pela fé (ver Sl 16:7, 8). Durante três anos, Elias não havia toma­ do qualquer atitude sem ouvir e obedecer às instruções do Senhor (1 7:2, 3, 8, 9; 18:1), mas aqui vem os o profeta correndo adiante do Senhor a fim de salvar a própria vida. Q uand o os servos de D eus saem da vonta­ de de seu Senhor, estão sujeitos a com eter todo tipo de insensatez e a falhar naqueles qu e são seu s p o n to s mais fortes. Q u an d o Abraão fugiu para o Egito, falhou em sua fé, que era sua m aior fo rça (G n 12:1 Oss). O ponto mais forte de Davi era sua integrida­ de, e foi nisso que falhou quando com eçou a m entir e a tram ar ao longo do episódio com Bate-Seba (2 Sm 11 - 12). M oisés era o mais manso dos hom ens (Nm 12:3) e, no entanto, perdeu a calm a e o privilégio de en trar na T erra P ro m etid a (N m 2 0 :1 -1 3 ). Pedro era um hom em co ra jo so , mas sua coragem falhou e ele negou a Cristo (M c 14:66-72). Assim com o Pedro, Elias era um hom em ousado , mas sua coragem falhou quando o profeta soube da mensagem de Jezabel. M as por que fugir para Judá, especial­ m ente quando Jeo rão , o rei de Jud á, era casado com Atalia, filha de A cab e (2 Rs 8:1619; 2 C r 21:4-7)? Essa Atalia é a figura infa­ me que reinou posteriorm ente sobre a terra e que tentou exterm inar todos os herdeiros reais da linhagem de Davi (2 Rs 11). O lugar mais seguro para todo filho de Deus é o lu­ gar determ inado pela vontade de Deus, mas Elias não esperou para descobrir qual era a vontade de Deus. Viajou de 140 a 160 qui­ lômetros até Berseba e deixou seu servo lá. Será que disse ao servo: "Fique aqui até eu voltar?" ou sim plesm ente libertou o homem para a segurança dele? Se o inimigo viesse atrás de Elias, o servo estaria mais seguro em algum outro lugar. Além disso, se o ser­ vo não so u b e sse o n d e Elias estava, não poderia dar a inform ação ao inimigo. Berseba possuía significado especial para os israelitas por sua ligação com Abraão (Gn 2 1 :22, 33). Um "zim b ro "2 é, na verdade, um arbusto com flores que cresce no deserto e que fornece sombra para rebanhos e viajan­ tes. Seus galhos são finos e flexíveis como os galhos de um chorão e são usados para 1 RE I S 1 9 : 1 - 2 1 atar pacotes (o term o hebraico usado para esse arbusto é "am arrar"). A s raízes dessa planta são usadas com o com bustível, cons­ tituindo um ótim o tipo de carvão (Sl 120:4). Sentado à som bra, Elias fez algo sábio: ele orou. Sua oração, porém , não foi muito sá­ bia. "C ansei de tudo isso!", disse ao Senhor, "po rtanto tire-me a v id a ".3 Em seguida, o profeta apresentou o motivo de seu pedido: "não sou m elhor do que m eus p ais". Em m om ento algum, Deus pediu que Elias fos­ se melhor do que alguém , mas apenas que ouvisse sua Palavra e lhe obedecesse. A co m b in açã o de co lap so em o cio n al, exaustão, fom e e uma sensação profunda de fracasso, acrescidos de falta de fé no Se­ nhor, levaram Elias a uma depressão profun­ da. H avia, porém, um elem ento de orgulho em tudo isso e certa dose de autopiedade, pois Elias estava certo de que seu ministério no monte C arm elo co locaria o povo de jo e ­ lhos. Talvez, tam bém , esperasse que A cabe e Jezabel se arrependessem , deixassem Baal e servissem a Jeová. Suas expectativas não foram preenchidas, de modo que ele se con­ siderou um fracassado. M as é raro o Senhor perm itir que seus servos vejam todo o bem que fizeram , pois cam inham os pela fé e não por aquilo que vem os, e Elias descobriu, mais tarde, que sete mil pessoas em Israel não haviam se curvado a Baal e adorado o deus cananeu. Sem dúvida, o m inistério dele ha­ via influenciado muitas dessas pessoas. 2. A M E N S A G E M (1 Rs 19:5-8) D E G R A Ç A D O A N JO Às vezes, quando o coração está pesado e a m ente e corpo estão exaustos, o melhor rem édio é dorm ir - sim plesm ente tirar um cochilo! Referindo-se a M arcos 6 :3 1 , Vance Havner costum ava dizer: "quem não repou­ sa num lugar separado, sem pre acaba estafado", e esse era o caso de Elias. Q uando estam os exaustos, tudo parece dar errado. Enquanto o profeta do rm ia, o Senhor en viou um anjo para suprir suas n e ce ssi­ dades. Tanto no hebraico quanto no grego, o te rm o tra d u z id o p o r " a n jo " ta m b é m significa "m ensageiro", de modo que alguns concluem que esse visitante prestativo era 471 outro viajante que o Senhor colocou ao lado de Elias na hora certa. Porém, no versículo 7, o visitante é cham ado de "anjo do S e n h o r " , título dado pelo Antigo Testam ento à segun­ da pessoa da Trindade, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Em passagens com o G ênesis 16:10, Êxodo 3:1-4 e Juizes 2:1-4, o anjo do S e n h o r fala e atua com o Deus o faria. Na verdade, o Anjo do S e n h o r em Êxodo 3:2 é cham ado de "D eu s" e "o S e n h o r " no restante do ca­ p ítu lo . A ss im , p o d e m o s su p o r que esse visitante prestativo era nosso Senhor Jesus Cristo. Tanto Elias quanto o apóstolo Pedro fo­ ram despertados por anjos (At 12:7), no caso de Elias, para receber alim ento, no caso de Pedro, para ser libertado da prisão. O anjo havia preparado uma refeição sim ples, po­ rém apropriada, com pão fresco e água. O profeta com eu, bebeu e se deitou novam en­ te para dorm ir (Jesus preparou um café da manhã com peixe e pão para Pedro e seis outros discípulos; Jo 2 1 :9 , 13). O texto não diz quanto tem po o Senhor perm itiu que Elias dorm isse antes de despertá-lo pela se­ gunda vez e dizer-lhe para com er. O Senhor sabia que Elias p lan ejava visitar o m onte Sinai, um dos lugares mais sagrados da his­ tória de Israel, e que esse monte ficava cer­ ca de 4 0 0 quilôm etros de Berseba, de modo que o profeta precisava de forças para a via­ gem. Porém , não im porta qual seja nosso destino, a jo rnada é sem pre longa dem ais para nós e precisam os das forças de Deus para alcan çar nosso objetivo. C o m o Deus foi bondoso em preparar uma "m esa no de­ serto" para seu servo desanim ado (Sl 7 8 :1 9 ; ver tam bém Sl 2 3 :5 )! Elias obedeceu ao men­ sageiro de Deus e conseguiu viajar quaren­ ta dias e qu aren ta noites sustentad o por aquelas duas refeições. Ao recapitular co m o D eus ministrou a Elias no relato de 1 Reis 1 8 e 19, vem os um paralelo com a prom essa em Isaías 4 0 :3 1 . O profeta havia passado três anos escondi­ do por D eus, tempo durante o qual "espe­ rou no Senhor". Q u an d o Deus o enviou ao monte C arm elo, capacitou Elias a "subir com asas com o águias" e a triunfar sobre os pro­ fetas de Baal. D epois que Elias orou e que a 472 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 chuva co m eçou, o Senhor o fortaleceu e ele "correu e não se cansou" (1 8 :4 6 ) e, em se­ guida, Deus o sustentou quarenta dias para que "cam inhasse e não se fatigasse" (19:8). Elias não estava vivendo inteiramente na von­ tade de D eus, mas foi perspicaz o suficiente para saber que deveria esperar no Senhor, a fim de ter forças para o ministério e para a jornada adiante dele. O s anjos do Senhor são seus em baixa­ d o re s e s p e c ia is e n v ia d o s a m in istra r ao povo de D eus (H b 1 :1 4 ; Sl 9 1 :1 1 ). Um anjo livrou D aniel de ser devorado por leões (Dn 6 :2 2 ), e anjos serviram a Jesus durante sua tentação no deserto (M c 1 :1 2 , 13). Um anjo fortaleceu Jesus no jardim do G etsêm ane (Lc 2 2 :4 3 ) e outro anim ou Paulo à bordo do n a v io d u ra n te u m a te m p e s ta d e (A t 2 7 :2 3 ). O s anjos no céu se regozijam quan­ do um p ecad or se co nverte (Lc 15 :7 , 10), e ao ch eg arm o s ao céu e D eu s nos der o privilégio de rever nossa cam inhada na ter­ ra, irem os, sem d úvid a algum a, desco b rir que d e sco n h e cid o s que nos ajudaram de diferentes m aneiras eram , na verdade, an­ jos de D eus enviados pelo Senhor para nos ajudar e proteger. 3 . A MENSAGEM DE PO DER D O C R IA D O R (1 Rs 19:9-14) O Sinai ficava a cerca de 4 0 0 quilôm etros de Berseba, uma jornada de dez dias a duas sem anas. Haviam se passado no m áxim o três sem anas desde que Elias havia fugido de Jezreel, mas sua viagem estendeu-se e levou quarenta dias (1 9 :8)! Se Elias estava com tan­ ta pressa de se d istanciar dos e x e c u to re s enviados por Jezabel, por que dem orou tan­ to tempo para com pletar a jornada? Talvez o S e n h o r te n h a d irig id o seu s p asso s (Sl 3 7 :2 3 ) - e suas paradas - de modo que gas­ tasse um dia por ano que os israelitas havia passado no deserto depois de libertados do Egito. Foi a incredulidade e o medo de Is­ rael em C ades-Barnéia que levaram a seu julgam ento (Nm 13 - 14), e foi a increduli­ dade e o medo de Elias que o fizeram fugir para o deserto (Jesus passou quarenta dias no deserto quando foi tentando; M t 4 :2 ). Um a vez que estava rum ando para o Sinai, é possível que Elias tivesse planejado a via­ gem de m odo a passar quaren ta dias no deserto, imitando M oisés que passara qua­ renta dias no alto do monte com o Senhor (Êx 3 4 :2 8 ). Elias teve de tratar da adoração a Baal, e M oisés teve de tratar da adoração ao bezerro de ouro (Êx 3 2 ).4 Elias transformou a caverna em seu lar e esperou no Senhor. Em linguagem religiosa contem porânea, estava "fazendo um retiro" a fim de resolver alguns problem as e de se aproxim ar do Senhor. Encontrava-se tão de­ primido que sentia-se disposto a renunciar a seu cham ado e até mesm o à vida. Q uando o Senhor finalm ente falou a Elias, não foi para repreendê-lo nem para instruí-lo, mas para lhe fazer um a pergunta: "Q u e fazes aqui, Elias?" As palavras do profeta não responde­ ram, de fato, à pergunta, o que explica por que D eus a repetiu (v. 13). Elias apenas disse ao Senhor (o O n iscien te) que havia passa­ do por várias provações em seu ministério, mas que havia sido fiel a D eus. Porém , se havia sido um servo fiel, o que estava fa­ zendo escondido numa caverna a centenas de quilôm etros de seu local designado de ministério? N essa resposta, Elias revela tanto orgu­ lho quanto pena de si mesm o e, ao usar o pronom e "eles", exagera o tam anho de sua oposição. D á a im pressão de que absoluta­ m ente todos os israelitas do reino do Norte se voltaram contra ele e contra o Senhor, quando, na verdade, era Jezabel quem de­ sejava matá-lo. O refrão "eu fiquei só "5 trans­ mite a idéia de que era indispensável à obra de Deus, quando, na verdade, nenhum ser­ vo de D eu s é in d isp en sável. Em seguida, Deus ordenou a seu profeta que se co locas­ se no monte à entrada da caverna, mas, ao que parece, Elias não obedeceu até que ou­ viu um murmúrio suave (v. 12). Também é possível que ele tenha saído da caverna, mas corrido de volta para dentro dela quando Deus com eçou a mostrar seu grande poder. As palavras "eis que passava o S e n h o r " nos lembram da experiência de M oisés no m onte (Ê x 3 3 :2 1 , 2 2 ). T u d o o que Elias precisava era de uma nova visão do poder e da glória de D eus. Prim eiro, o Senhor fez 1 RE I S 1 9 : 1 - 2 1 473 passar um vento forte, tão intenso que fen­ deu os montes e que despedaçou as penhas, mas o profeta não recebeu mensagem algu­ ma de Deus. Em seguida, o Senhor causou um grande terremoto que abalou o monte, mas nenhum a Palavra d e D eu s veio d o ter­ remoto. D epois disso, o Senhor trouxe um D e p o is d e ssa e x ib iç ã o d ra m á tic a de poder, veio "um cicio tranqüilo e suave". Q uand o o profeta ouviu essa vo z, saiu da caverna e se encontrou com o Senhor. O grande poder e ruído das dem o nstraçõ es an teriores não tocaram Elias, mas quando ele ouviu o sussurro suave e tranqüilo, reco­ grande fogo, mas este tam bém não deu a Elias mensagem alguma de Deus. Ao teste­ munhar essas dem onstrações dram áticas de poder, sem dúvida o profeta pensou na o ca­ sião em que a lei foi entregue (Êx 19:16-18). O que D eus estava procurando realizar na vida de Elias por m eio dessas lições práti­ cas im pressionantes e assustadoras? Dentre outras coisas, lem brava seu servo de que tudo na n atu reza o b e d ecia ao Senhor (Sl 148) - o vento, os alicerces da terra, o fogo - e d e qu e não lhe faltava uma variedade de instrumentos para fazer seu trabalho. Se Elias desejasse renunciar a seu cham ado divino, nheceu a vo z de D eus. Pela segunda vez (ver Jn 3:1), ouviu a m esma pergunta: o Senhor teria outra pessoa para tom ar o lugar dele. No final, Elias não renunciou, mas recebeu o privilégio de cham ar seu suces­ sor, Eliseu, e de passar algum tem po com ele antes de ser levado para o céu. O vento, o terremoto e o fogo são meios que o Senhor usa para se manifestar à huma­ nidade. O s teólogos chamam essas demons­ trações de "teofanias", term o originário de duas palavras gregas (theos = D eus; phaino = m anifestar, a p arecer) q u e, juntas, signifi­ cam "a manifestação de D eus". A s nações pagãs viam essas d e m o n stra çõ es esp e ta­ culares e adoravam as forças da natureza, enquanto os israelitas as contem plavam e adoravam ao D eus que criou a natureza (ver Jz 5 :4 , 5; Sl 18:16-18 e H c 3). Porém , essas m esm as m anifestaçõ es da pre se n ça e do poder im pressionantes de D eus serão vistas nos últimos dias antes de Jesus voltar à terra para estab e le cer seu reino. O s profetas do Antigo Testam ento cham avam esse tem po de "D ia do Senhor" (ver Joel 2 :2 8 - 3 :1 6 ; Is 13:9, 10; M t 2 4 :2 9 e A p 6 - 16). T alvez o S e n h o r e stiv e sse d ize n d o a E lias: "V o c ê acred ita que fracassou no julgam ento do pecad o de Israel, mas um dia eu julgarei esse pecado com meu julgam ento absolu­ to e com p leto ". — "Q u e fazes aqui, Elias?" E mais um a ve z, Elias repetiu a resposta evasiva e egocêntrica. D eus estava dizendo a Elias: — V o cê pediu fogo do céu e matou os profetas de Baal e, por sua oração, caiu uma ch u va to rren cial, mas agora se sente um fracassado. V o cê precisa entender que não trabalho de modo espalhafatoso, im pressio­ nante e dram ático. M inha vo z suave traz a Palavra aos o u vid o s e ao co ra çã o dos que a escutam . Sem dúvida, há uma hora e um lugar certo para o vento, o terrem oto e o fogo, mas, na maioria das vezes, falo às pes­ soas em tom de am or suave e de persuasão tranqüila. O Senhor não estava condenando o mi­ nistério corajoso de seu servo, mas apenas lem brando Elias de que ele usa várias ferra­ mentas diferentes para realizar seu trabalho. A Palavra de D eu s cai co m o um a ch u va mansa que refrigera, purifica e produz vida (D t 3 2 :2 ; Is 5 5 :1 0 ). Em nossos dias de reuniões apoteóticas, de m úsica alta e de prom oções coercivas, é d ifícil alg u m as p e sso as e n te nd ere m que Deus raramente trabalha por interm édio da­ quilo que é dram ático ou colossal. Q uando quis co m eçar a nação de Israel, enviou um bebê cham ado Isaque; quando quis livrar e ssa n a çã o da e s c ra v id ã o , e n v io u outro bebê, M oisés. Enviou um adolescente cha­ mado D avi para matar o gigante filisteu, e, para cum prir sua m issão, o m enino usou uma funda e uma pedra. Q uand o Deus quis sal­ var o m undo, enviou seu Filho co m o um b e b ê frág il e d e sa m p a ra d o . H o je , D e u s d e se ja a lca n ça r o m undo pelo m inistério de "vasos de barro" (2 C o 4 :7 ). Nas palavras do D r . ). O sw ald Sanders: " O s sussurros do C alvário são muito mais poderosos que o 474 1 RE I S 1 9 : 1 - 2 1 trovão do Sinai para co n d u zir os hom ens ao arrependim ento".6 4 . A MENSAGEM DE ESPERANÇA DO Senhor (1 Rs 19:15-21) Elias não tinha nada de novo a dizer ao Se­ nhor, mas o Senhor tinha um a nova mensa­ gem de esperança para seu servo frustrado. Não faltavam motivos para o Senhor rejeitar seu servo e deixar que m orresse na caverna, mas não foi essa a abordagem que ele usou. "N ão nos trata segundo os nossos pecados [...]. Pois ele con h ece a nossa estrutura e sabe que somos pó" (Sl 1 0 3 :1 0 , 14). Prim eiro, o Senhor disse a Elias para vol­ tar a seu posto de trabalho. Q uand o estamos fo ra da v o n ta d e d e D e u s , p re c is a m o s retornar pelo cam inho que viem os e reco ­ m eçar (G n 1 3 :3 ; 35:1-3). A resposta franca para a pergunta "Q u e fazes aqui, Elias?" era "N ada! Estou só me afogando em autopiedade!" M as Elias foi cham ado a servir, e ha­ via tarefas a cum prir. Q uan d o Josué ficou abatido com a derrota de Israel em Ai, pas­ sou o dia com o rosto prostrado em terra diante de Deus, mas a resposta de Deus foi: "Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o rosto?" (Js 7 :1 0 ). Q u an d o Samuel lamentou o fracasso de Saul, Deus o repre­ endeu. "Até quando terás pena de Saul, havendo-o eu rejeitado , para que não reine sobre Israel? Enche um chifre de azeite e vem " (1 Sm 1 6 :1 ), e Sam uel o b ed eceu e ungiu Davi para ser o próxim o rei. Não im ­ po rta quanto ou com qu e freqüência seus servos tenham falhado com ele, D eus nunca fica sem saber o que fazer. C abe a nós obe­ decer à sua Palavra, levantar e obedecer às suas ordens! A primeira incum bência de Elias foi un­ gir H azael rei da.Síria; e, mesm o sendo esta uma nação gentia, era o Senhor quem esco­ lhia seus líderes. "O Altíssim o tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer" (Dn 4 :2 5 ). Em seguida, deveria ungir Jeú rei de Israel, pois, apesar de o reino es­ tar dividido, Israel ainda se encontrava sob a aliança divina e deveria prestar contas ao Senhor. Sua terceira incum bência era ungir Eliseu seu sucessor. Elias havia se queixado de que a geração passada havia falhado com e le , e a g e ra çã o p re se n te h a v ia feito o mesm o (1 9 :4 ). Então, Deus o cham ou para ajudar a preparar a geração futura ungindo dois reis e um p ro fe ta .7 Trata-se de uma versão do Antigo Testam ento daquilo que encontram os em 2 Tim óteo 2:2. As pessoas indicadas pelo Senhor não eram particularm ente im portantes na estru­ tura social daquela ép oca. H azael era um servo do rei Ben-Hadade, Jeú era um capi­ tão do exé rcito e Elias era um agricultor. Porém , quando Elias e Jeú concluíram seu trabalho, a adoração a Baal havia sido quase inteiram ente extinta em Israel (2 Rs 10:1831 ). U m a ú nica geração não é ca p a z de faze r tudo, mas cada geração deve provi­ d e n cia r para que as p esso as da geração seguinte sejam cham adas e treinadas e para que tenham à sua disposição as ferramentas necessárias para dar continuidade à obra do Senhor. D eus estava d izen d o a Elias para d eixar de ch o rar pelo passado e fugir do presente, pois era hora de co m eçar a prepa­ rar outros para o futuro. Q uand o Deus está no controle, sempre há esperança. Porém , o Senhor não apenas enviou seu servo para recrutar novos obreiros, com o tam bém lhe deu a certeza de que o traba­ lho deles não seria em vão. D eus usaria as espadas de H azael e de Jeú e as palavras e o trabalho de Eliseu para realizar seus pro­ pósitos na terra. Além disso, garantiu a Elias que o ministério dele não havia sido um fra­ casso, pois ainda havia sete mil pessoas na terra fiéis a Jeová. Sem dúvida, o profeta não estava sozinho, e, no entanto, D eu s o en­ viou a tocar a vida d e três indivíduos. O Se­ nhor não ordenou que Elias reunisse todas as sete mil pessoas fiéis numa grande assem­ bléia e que pregasse um serm ão. Por certo, há um lugar para serm ões e encontros de grupos num erosos, mas não devem os jam ais subestim ar a im portância de trabalhar com indivíduos. Jesus falou a grandes multidões, mas sem pre teve tempo para os indivíduos e suas necessidades. O termo "conservei", no versículo 18, sig­ nifica "reservei para mim". Trata-se do "rem a­ nescente segundo a eleição da graça" sobre 1 REIS 1 9 : 1 - 2 1 o qual Paulo escreveu em Rom anos 11:1-6. Não im porta quanta p erversid ad e pareça haver no cenário internacional, D eus sempre tem um rem anescente fiel a ele. Por vezes, esse rem anescente é pequeno, mas D eus é sempre grande e cum pre seus propósitos. Elias voltou, sem dem ora, pelo cam inho por onde havia vindo e retom ou seu posto de trabalho. Abel-M eolá ficava a cerca de 240 quilôm etros do Sinai (v. 16), e lá Elias en c o n tra ria Eliseu arando um ca m p o . O nome de Eliseu significa "D eu s é salvação". O fato de Eliseu estar usando doze juntas de bois - vinte e quatro anim ais caros - in­ dica que a situação financeira de sua família provavelm ente era melhor do que a da m aio­ ria dos israelitas.8 Sem dizer uma palavra ao jovem , Elias lançou seu manto sobre ele para indicar que o Senhor o havia cham ado para servir ao profeta e, posteriorm ente, ser seu sucessor. Eliseu e sua fam ília faziam parte do "rem anescente da graça" que Deus ha­ via separado para si. Não im porta quão som­ brios p areçam os tem pos, D eu s tem seu povo e sabe quando chamá-lo. A conduta de Eliseu parece contradizer as palavras de Jesus em Lucas 9:57-62, mas não é o caso. Eliseu seguiu Elias com obe­ diência sincera, enquanto os hom ens no re­ gistro do Evangelho estavam hesitantes e tinham suas reservas, e Jesus sabia disso. Eliseu provou seu com prom isso matan­ do dois dos bois e usando a m adeira dos im plem entos agrícolas com o lenha para co ­ zinhar a carne para um banquete de despe­ dida. Em term os co n tem p o rân eo s, estava "queim ando as pontes atrás de si". U m a vez tendo tirado as m ãos do arado, não tinha intenção alguma de voltar atrás. A resposta de Elias significa: 475 — O que foi que eu fiz? Não fui eu quem ch am ou v o cê , mas sim , o Senhor. A caso estou im pedindo você de ir? Faça o que o Senhor lhe pedir. O texto não diz qual foi a reação da fa­ mília e dos amigos de Eliseu a sua mudança súbita de vo cação , mas não há ind icação alguma que tenham sido contrários à deci­ são de Eliseu. Fazendo uma revisão deste capítulo, ve­ mos os erros com etidos por Elias e com o o Senhor prevaleceu sobre eles realizando sua vontade. Elias andou de acordo com as apa­ rências e não pela fé, e, no entanto, o Senhor o sustentou. Concentrou-se em si mesm o e em seus fracassos em vez de olhar para a grandeza e o poder de D eus. Teve m aior preocupação em fazer mais do que seus an­ cestrais haviam feito no passado do que em cham ar e preparar novos servos para o futu­ ro. Isolou-se do povo de Deus e, portanto, perdeu a força e o estímulo de sua com u­ nhão e oração. Porém, não sejam os duros dem ais com Elias, pois teve ouvido sen sí­ vel o suficiente para escutar a voz suave e tranqüila do Senhor e fez o que D eus lhe ordenou. O Senhor o repreendeu com brandura, tirando-o da caverna e restituindo-o ao se rv iç o ativo . Tenh am o s essas co isas em m ente e lembremo-nos delas da próxim a vez em que estiverm os debaixo de nosso zim bro ou dentro de nossa caverna! Por fim , estejam o s en tre aq ueles que olham para o futuro e que buscam recrutar outros para servir ao Senhor. Exaltar ou criti­ car o passado não leva a lugar algum; o im­ portante é fazer nosso trabalho no presente e preparar outros para dar continuidade a ele depois que tiverm os partido. D eus se­ pulta seus obreiros, mas sua obra continua. 1. O íexío hebraico de 1 Reis 19:3 d iz: "e quando eie viu". A Septuaginta usa o termo “ tem endo" e algumas versões adotam esse 2. Na língua inglesa, "assentar-se debaixo do zimbro'7 é uma expressão que descreve uma pessoa zangada com Deus, cansada 3. Essa cena nos lembra de Jonas em Nínive, quando o profeta discutiu com o Senhor (Jn 4). M oisés também quis m orrer em 4. O texto hebraico do versículo 9 diz "a caverna", com o uma referência a uma caverna conhecida. Alguns estudiosos acreditam texto. O que Elias viu que o assustou? A situação perigosa, o mensageiro perigoso? A passagem não diz, e é inútil especular. da vida, envergonhada pelo fracasso e pronta a desistir. decorrência da enorm e carga de trabaiho que tentou carregar (Nm 1 1 :1 4, 15). que Elias ocupou a mesma caverna do Sinai que M oisés, quando este viu a glória de Deus (Êx 33:12-23). 476 1 RE I S 19: 1 - 21 5. Ver Salmos 12:1, M iquéias 7:2 e Isaías 57:1. 6. San d ers, 7. Elias cham ou Eliseu (19:19-21), e Eliseu ungiu H azael (2 Rs 8:7-15). Pela autoridade de seu J. O sw ald. R obust in Faith. Chicago: M oody Press, p. 135. senhor,o servo de Eliseu ungiu JeC (2 Rs 9:1-10). D o ponto de vista de Deus, foi Elias quem fez tudo isso. 8. M ais uma vez, vem os Deus cham ando pessoas que estavam ocupadas. Foi o que aconteceu com Neem ias, Am ós e os apóstolos. M oisés,G ideão, Da\i 12 A cabe, do o Escravo P ecad o 1 R eis 2 0 : 1 - 2 2:5 3 m seu ro m a n c e M o b y D ic k , H e rm a n M elville cham ou o capitão dem ente do barco baleeiro P eq u o d de A cab e. (Também incluiu na história um "profeta" cujo nome era Elias.) O A cab e da Bíblia é um hom em E fraco, que destruiu a si mesm o e a sua fam í­ lia, pois perm itiu que Jezab el, sua esposa p e rv e rsa , o tran sfo rm asse num m o n stro. H oje em dia, o nom e "Jezabel" é usado para referir-se a toda m ulher perversa e desaver­ gonhada; cham ar uma mulher por esse nome é colocá-la no nível mais baixo da socieda­ de (Ap 2 :2 0 -2 3 ). O profeta Elias fez um a d e scriçã o p re cisa de A ca b e ao dizer-lhe: "Achei-te, porquanto já te vendeste para fa­ zer o que é mau perante o S e n h o r " (1 Rs 21 : 20 ). Estes capítulos descrevem quatro acon­ tecim entos na vida de A cab e: três batalhas contra os sírios (Arã) e uma tram a para rou­ bar um pedaço de terra que inclui um julga­ mento ilegal e vários hom icídios. A cabe não estava se relacio nando corretam ente com Deus e com sua Palavra, por isso era escra­ vo do pecado. U m a v e z que "o salário do pecado é a m orte" (Rm 6 :2 3 ), A cab e rece­ beu seu salário com juros. Estudaremos agora os quatro acontecim entos e as diversas rea­ ções de A cab e a eles. 1. A F É N A S P R O M E S S A S (1 Rs 20:1-30) DE DEUS Essa é a prim eira de duas ocasiões em que o rei A cab e dem onstrou algum indício de discernim ento espiritual. Israel havia acaba­ do de sair de três anos de fom e, quando Ben-Hadade, rei da Síria, decidiu aproveitarse da situação difícil dos israelitas e atacar. O rei Davi havia derrotado essas nações do Norte (cham adas de Síria em traduções mais antigas e de A rã em outras mais recentes), mas aos poucos elas haviam recuperado sua in d epen dência. O utro fator relacionado ao ataq ue de B en -H adade foi o poder ca d a v e z m aior da A ssíria no N orte. Ben-Hadade desejava controlar as rotas co m erciais que passavam por Israel, póis havia perdido as rotas do Norte para a A ssíria e, além disso, queria ter ce rteza de que Israel fo rn eceria hom ens e arm as no caso de um a invasão assíria. O cerco (vv. 1-12). O s trinta e dois "reis" que se aliaram a Ben-H adade eram gover­ nantes das cidades-estados do Norte, cuja segurança e prosperidade d ep en diam , em grande parte, da força da Síria. O texto não diz quanto tempo durou o cerco a Samaria, mas, no final, a Síria obrigou A cab e a se sub­ meter. Em prim eiro lugar, Ben-Hadade exi­ giu a riqueza e a família de A cab e, e o rei co nco rd ou. Ben-H adade planejava usar os m em bros da fam ília com o reféns, para ter certeza de que A cab e não voltaria atrás em seu acordo. Em vez de cham ar Elias ou al­ gum outro profeta e buscar o socorro do Senhor, A cab e rendeu-se ap ressadam ente (com parar essa decisão com aquela de Saul em 1 Sm 11). Ben-Hadade não se conten­ tou com o acordo e fez mais exigências, mas sua cobiça levou-o à derrota. Além de levar as riq u e z a s do rei e a fa m ília real, BenH adade queria enviar oficiais para dar uma busca em todos os edifícios reais e tom ar o que desejassem ! C oncordar com isso seria h u m ilh ação d em ais para o orgulhoso rei A cab e, de m odo que ele e seus conselhei­ ros se recusaram a aceitar o pedido. Q u an d o recebeu a mensagem de A ca­ be, é provável que Ben-H adade estivesse em briagad o e se sentindo extrem am en te corajoso, uma vez que tomou uma decisão in se n sata. Po d e ria ter co n se g u id o quase tudo o que desejava sem precisar sacrificar um único soldado, mas, em vez disso, jurou aniquilar Sam aria e teve de agir à altura de sua jactância. Um ponto a favor de A cabe foi o fato de ele responder com um provér­ bio conhecido , que se aplicava tanto a ele 478 1 RE I S 20 : 1 - 2 2 : 5 3 quanto a Ben-H adade. Era o m esm o que dizer: "N ão conte com o ovo na galinha". A p ro m e ssa (vv. 13-21). A cab e não ti­ nha base para sua oposição a Ben-Hadade, mas D eus, em sua graça, enviou ao rei uma mensagem de esperança: o Senhor daria a explicarem a grande derrota da Síria. Cura­ vam o orgulho ferido de seu rei e, ao mesmo tempo, protegiam a própria vida. Explicaram que seu grande exército não era culpado e que a derrota deveria ser atribuída ao terre­ no em que oco rrera a batalha. O s deuses vitória a A cab e. Não o faria porque A cabe m erecia, mas porque desejava honrar o pró­ prio nome diante do rei vacilante de Israel e de seu povo. A ssim co m o havia feito no dos sírios eram "deuses das planícies", en­ quanto o Deus de Israel era um "deus dos m ontes". Bastava m udar o local e a Síria conquistaria a vitória. Tem os agora uma situação diferente, pois não apenas o inimigo estava desafiando o povo de D eus, co m o tam bém desafiava o p ró p rio D eus! Foi um a repetição do confron­ to no monte Carm elo, e o Senhor não dei­ monte Carm elo, Jeová também faria no cam ­ po de batalha: mostraria que som ente ele é Deus (1 8 :3 6 , 37). A atitude de A cab e ao re­ ceber a promessa e ao pedir mais instruções é louvável. Talvez Jezabel não estivesse em casa naquele m omento para exercer sua in­ fluência perversa. Seguindo o exem plo de Salom ão (1 Rs 4 :7ss), O n ri, pai de A cabe, havia dividido o reino de Israel em várias regiões políticas, cada uma sob o governo de um "líder pro­ vincial" que tam bém era oficial do exército. O Senhor escolheu esses líderes para com an­ darem o ataque contra a Síria, e A cab e de­ veria liderar o pequeno exército de sete mil homens. Saíram ao meio-dia, sabendo que e n co n tra riam B en -H adade e seus o ficiais com endo e bebendo e sem con diçõ es de lutar uma batalha. M esm o quando os obser­ vadores de Ben-Hadade lhe relatam que um grupo de hom ens estava se aproxim ando do acam pam ento sírio, o rei não teve m edo, mas lhes disse para tomá-los vivos. A estraté­ gia militar usada para fazer prisioneiros era diferente daquela em pregada na destruição de um exército invasor, de m odo que os hom ens de A cab e pegaram os guardas da Síria de surpresa e se puseram a exterm inar o exército sírio. Em vez de medir o pó de Samaria, conform e havia am eaçado (v. 10), Ben-Hadade subiu mais que depressa em seu cavalo e fugiu para salvar a própria vida. Po­ rém, pelo fato de A cab e ter confiado na Pa­ lavra de Deus e de ter agido de acordo com ela, o Senhor lhe deu uma grande vitória. O d esa fio (vv. 2 2-30). O utro profeta anô­ nimo falou a A cab e e o avisou para reforçar suas tropas e estar preparado para mais uma invasão. Enquanto A cab e ouvia a mensagem de Deus, Ben-Hadade escutava seus oficiais xaria o desafio passar in co n te stad o , pois Jeová é o Senhor de toda a Terra! A ssim , enviou outro hom em de Deus para garantir a A cab e que teria vitória, mas apenas por­ que desejava que A cab e, o exército de Is­ rael e os hom ens da Síria soubessem que som ente Jeová é D eus. O Senhor deu a vi­ tória a Israel no cam po de batalha e, quan­ do o inimigo fugiu para Afeca, Deus enviou um terrem oto que matou vinte e sete mil soldados sírios.1 Pela graça de Deus, A cabe conquistou mais uma grande vitória! 2. A D ESO BED IÊN C IA (1 Rs 2 0 :3 1 - 4 3 ) À O RDEM DE D e U S Q uand o Deus enviou o rei Saul para lutar contra os am alequitas, deixou claro que de­ sejava que os israelitas exterm inassem esse povo inteiram ente (1 Sm 15). Saul desobe­ deceu ao Senhor e, com o resultado, perdeu seu reino. O Senhor deve ter dado uma or­ dem parecida ao rei A cab e (2 0 :4 2 ), mas o rei israelita tam bém d eso b e d e ceu . A cab e venceu a batalha, mas perdeu a vitória. Aqui­ lo que o inimigo não conseguiu fazer com suas arm as, fez por meio da dissim ulação. Se Satan ás não tem su ce sso co m o leão devorador (1 Pe 5 :8 ), vem com o uma ser­ pente enganadora (2 C o 1 1 :3 ). Até mesmo Josué caiu numa arm adilha parecida (Js 9). O s oficiais de Ben-Hadade eram homens astutos e sabiam que valia a pena correr um risco e apelar para o orgulho de A cab e. Deus havia dado a vitória, mas A cab e levaria o cré d ito e to m aria os d e sp o jo s. Por suas 1 RE I S 20 : 1 - 2 2 : 5 3 479 roupas e atitudes, os o ficiais fingiram d e­ monstrar subm issão a A cabe, enquanto ele esperava em seu carro (v. 33). Sem dúvida, A cab e gostou da "ho nra" que recebia de­ pois da grande vitória, mas em m om ento algum deu glória ao Senhor. Seu co ração alegrou-se ao ouvir que Ben-Hadade era seu servo, e o rei A cab e mostrou-se mais que disposto a poupar a vida dele. Posteriorm en­ te, H azazel m ataria Ben-Hadade e se torna­ ria o rei (2 Rs 8). Ben-Hadade entrou de imediato num tra­ tado com A cab e e devolveu a Israel as cida­ des que seu pai havia tom ado (1 Rs 1 5 :2 0 ). Também deu a A cab e permissão de vender produtos agrícolas e artigos manufaturados para D am asco, o que eqüivalia a um acor­ do com ercial. O fato de o rei de Israel fazer um acordo desse tipo com o inimigo é algo fora do com um , porém A cab e não possuía co n vicção algum a (exceto aquelas de sua esposa) e, em qualquer situação, usava sem­ pre a saída mais fácil. Além disso, precisava do apoio de A rã no caso de os assírios se deslocarem para o sul. Esse tratado durou três anos (2 2 :1). O Senhor não podia perm itir que A c a ­ pedido. D isfarçad o de soldado ferido, o jo ­ vem profeta estava pronto para transm itir sua m ensag em .3 N aq u ele tem p o , um a p esso a p oderia pedir ao rei que a ajudasse a decidir ques­ tões que exigiam algum esclarecim ento legal, e o "soldado ferido" assentado à beira da estrada despertou a curiosidade de A cabe. Vem os aqui um a repetição da abordagem be d eso b e d e cesse e escap asse incólum e, de modo que instruiu um dos discípulos dos profetas a confrontar o rei com seu p e ca­ do. O s "d iscíp u lo s dos profetas" eram jo ­ mo dos se g u id o re s de Elias a po nto de conhecê-los pessoalm ente. Será que quan­ do a venda foi rem ovida, revelou algum tipo de m arca que identificou o rapaz? Será que vens com dons proféticos especiais que se reuniam em grupos para estudar com pro­ fetas mais velhos, co m o Sam uel (1 Sm 7:1 7; 2 8 :3 ), Elias e Eliseu (2 Rs 2:3-7, 16; 4 :3 8 , 40). Sabendo que teria de pegar A cab e de surpresa a fim de ch am ar sua atenção , o A cab e o havia visto no monte Carm elo? Não tem os co m o saber, mas o rei deve ter se assustado. O hom em que A cab e julgou tor­ nou-se o ju iz do rei e anunciou que, um dia, os sírios m atariam A cab e. Porém , em vez de se arrepender e de buscar o perdão do hom em usou de sabedoria e preparou um "serm ão prático" que despertaria o interes­ se do rei.2 O jovem contou a um co lega as ordens de D eus e pediu que o ferisse com uma arm a, porém o outro recuso u. Pode­ mos entender que um amigo não quisesse m achucar o outro, mas, assim com o A c a ­ be, o jovem profeta estava deso bedecend o a D eus e pagou por sua d eso bediên cia com a vida. Sem dúvida, isso suscitou o tem or do Senhor nos outros discípulos, pois o pró­ xim o a ser abordado pelo rapaz mostrouse totalm ente disposto a fazer o que lhe foi Senho r, A ca b e foi para ca sa , onde fico u am uado feito uma criança (v. 43 ; ver 2 1 :4 ). que Natã usou com Davi depois que o rei com eteu adultério com Bate-Seba (2 Sm 12), pois assim com o Davi determ inou a própria sentença, A cab e anunciou a própria culpa! Q u an d o soube que o "soldado" havia per­ dido um prisioneiro de guerra im portante e teria de entregar a vida ou pagar uma multa enorm e (quase trinta e cinco quilos de prata), o rei replicou: "Esta é a tua sentença; tu mes­ mo a pronunciaste" (v. 40 ). O rei poderia ter co n cedid o perdão ao hom em e salvado a vida dele, mas preferiu deixar que morresse. Porém, ao fazê-lo, A ca b e estava declarando sua própria culpa e pronu nciando a sen ten­ ça para si m esm o! O que levou A cab e a reconhecer o ra­ paz com o um dos discípulos dos profetas? E pouco provável que A cab e fosse tão próxi­ 3. A TRAN SGRESSÃO ÀS LEIS DE D E U S (1 Rs 2 1 :1 -1 6 ) Ben-H adade era o hom em do qual A cab e deveria ter dado cabo, mas ele o libertou. N abote era o hom em que A cab e deveria ter protegido, mas o rei o matou! Q uand o alguém se vende para o diabo, pode co n­ fundir o bem com o mal e a luz com a es­ curidão (ls 5 :2 0 ). O episódio infam e da vinha de N abote revela a d esco nsid eração para 480 1 RE I S 2 0 : 1 - 2 2 : 5 3 com a lei por parte do rei A cab e e de sua esposa perversa, Jezabel. Vejam os os peca­ dos que com eteram e, conseqüentem ente, os m andam entos de D eus que desprezaram e a que desobedeceram . Id o la tria . O s dois prim eiros m andam en­ tos do D ecálogo declaram que o Senhor é o único D eus verdadeiro e que os verdadei­ ros adoradores não prestam culto nem ser­ vem a outros deuses, quer sejam coisas da criação de D eus, quer aquilo que os seres hum anos co n feccio n am com as m ãos (Êx 20:1-6). A . W . Tozer escreveu : "A essência da idolatria é alim entar pensam entos sobre D eus que não são dignos d e le ".4 Jezabel introduziu a ad oração a Baal em Israel, e A cab e perm itiu que essa religião se espaIhase por toda a terra. Q uand o alguém se afasta da verdade, mostra que está crendo em mentiras, só para depois passar a amálas e, em seguida, ser controlado por elas. C o b iça (vv. 1-4). A cab e e Jezabel tinham um a casa de verão em Jezree l, mas o rei não poderia desfrutá-la plenam ente sem uma horta. As pessoas ricas não param de adqui­ rir co isa s, m as não en co ntram satisfação verdadeira nesse processo de aquisição. "A riqueza de um hom em é diretam ente pro­ porcional ao núm ero de coisas sem as quais consegue v iver", escreveu H e n ry Thoreau no capítulo dois de W alden. M ais adiante no livro, acrescentou: "As coisas supérfluas não passam de superfluidades. Nem uma só necessidade da alma exige que se tenha di­ nheiro para adquiri-la". O rei quis a vinha de Nabote, pois cobi­ çou uma horta conveniente para o palácio. "N ão cobiçarás", diz o m andam ento (Êx 20:1 7) que é o último porém , talvez, o mais difícil de guardar. Além disso, um coração repleto de co b iça nos leva, com freqüência, a desobedecer aos outros mandam entos de Deus. O s nove prim eiros m andam entos co n­ centram-se em condutas externas proibidas - confeccionar e adorar ídolos, roubar, matar e assim por diante - , mas esse último man­ dam ento trata principalm ente dos desejos ocultos do co ração . Foi o décim o m anda­ mento que ajudou Saulo de Tarso, o fariseu, a se dar conta de que era, de fato, um pecador (Rm 7:7-25) e foi esse m andam ento que o jovem rico se recusou a reconhecer quando olhou para o espelho da lei (M t 19:14-30). A cab e disfarçou sua co biça oferecendose, em primeiro lugar, para com prar a vinha ou para trocá-la por algum a outra proprie­ dade. Foi uma oferta razoável, mas Nabote estava mais preocupado em o bedecer à Pa­ lavra de D eus do que em agradar ao rei ou m esm o em ganhar dinheiro. Nabote sabia que a terra pertencia ao Senhor e que ele a em prestava para o povo de Israel desfrutála, enquanto o b e d ecesse m à sua aliança. Toda p ro pried ade deveria ficar dentro da fam ília (Lv 2 5 :2 3 -2 8 ), o que significa que N abote não poderia vender sua terra ao rei. N um a de m o n stração de sua infantilidade habitual, A cab e foi para casa tão am uado que fico u d e cama. Fa lso te stem u n h o (vv. 5-10). "N ão dirás falso testemunho contra o teu próxim o" é o nono m andam ento e enfatiza a im portân­ cia de falar a verdade, quer num tribunal, quer co nversand o no muro do quintal. A v erd ad e é o am álg am a da so cie d a d e , e, quando não há mais verdade, tudo com eça a desintegrar (Is 5 9 :1 4 ). Jezab e l era um a m ulher decidida, que não deixava a verd ade servir de em pecilho para aq uilo que d e se ja va , de m odo que crio u um a m en tira o fic ia l, d e cla ra d a em papel tim brado e selada com o selo oficial. M as nem todos os adornos reais do mun­ do eram ca p azes de m udar o fato de que A cab e e Jezabel estavam transgredindo a lei de D eus. Q u e direito Jezabel tinha de escrever o m and ad o de e x e c u ç ã o de N ab o te? Seu marido era o rei! Pelo fato de ser da Fenícia, Jezabel encarava a m onarquia do ponto de vista gentio, segundo o qual o rei deveria ser im portante, conseguir tudo o que dese­ jasse e usar a autoridade para cuidar dos próprios interesses. Sam uel advertiu sobre esse tipo de m onarca (1 Sm 8 :1 4 ), e Jesus acautelou seus discípulos a não seguir essa filoso fia de governar, mas sim de servir o povo em am or (M t 20:20-28). Um verdadei­ ro líder usa sua autoridade para fortalecer o povo, enquanto um ditador usa o povo para 1 RE I S 2 0 : 1 - 2 2 : 5 3 fortalecer sua autoridade, e o povo torna-se apenas um bem consum ível. Jezabel chegou a incluir uma pitada de religião em sua trama e ordenou que as autoridades locais decla­ rassem um jejum . U m a conspiração revestida de um caráter relig io so é aceita co m m uito mais rapidez pelo povo. Porém, não im por­ ta quão legal e espiritual era aquele édito real, pois diante dos olhos de D e u s, não passava de um a mentira - e D eus julga os m entirosos. Jezabel e A cab e fizeram tudo aquilo que Deus abom ina (Pv 6:16-19). H o m ic íd io (vv. 11-13). O procedim en­ 4. A SENTENÇA de D e u s 481 (1 Rs 2 1 :1 6 - 2 9 ) to de tomá-la para si. A notificação dos ofi­ ciais foi dirigida a Jezabel e não a A cab e, "C ertam ente, o S e n h o r Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas" (Am 3:7). Elias saiu de cena desde que cham ou Eliseu para ser seu su cessor, mas agora D eu s co locava seu servo no centro do palco, a fim de co n­ frontar o rei. C o m o se m p re faz quando dá uma tarefa a ser cum prida, o Senhor disse a Elias exatam ente o que falar ao rei perverso. A cab e havia derram ado sangue inocente, e o sangue culpado do rei seria lambido pe­ los cães. Q u e maneira mais trágica de um rei de Israel term inar seu reinado! N um a ocasião anterior, A cab e havia cha­ mado Elias de "perturbador de Israel" (18:1 7), mas dessa vez levou a questão a um nível mais pessoal e cham ou o profeta de "in i­ migo m eu". Na verdade, ao lutar contra o Senhor, A cab e foi seu próprio inimigo e trou­ xe sobre si a sentença pronunciada por Elias. A cab e m orreria de form a desonrosa, e os cães lam beriam seu sangue. Jezabel m orre­ ria e seria consum ida pelos cães. M ais cedo ou mais tarde, toda sua posteridade seria erradicada da terra. Haviam desfrutado seus anos de p razeres p e cam in o so s e de inte­ resses egoístas, mas tudo isso acabaria em julgam ento. Em vez de ir para casa e ficar am uado, A cab e se arrependeu! O texto não diz o que sua esposa pensou dessa atitude, mas o Se­ nhor, que vê o coração , aceitou sua humi­ lhação e falou dela a seu servo. O Senhor não cancelou o julgam ento anunciado, mas o adiou até o início do reinado de jo rão , filho de A cab e (ver 2 Rs 9:14-37). A cab e foi morto no cam po de batalha, e os cães lam­ b e ra m seu sa n g u e ju n to ao a ç u d e de deixando evidente quem possuía, de fato, o poder na fam ília real. Porém , a terra não pertencia a A cab e, e a lei diz: "N ão furtarás" (Êx 2 0 :1 5 ). A vinha nem sequer havia pertencido a N abote, pois era do Senhor, de modo que A cab e estava roubando terras Sam aria (1 Rs 2 2 :3 7 , 38). Em função desse adiam ento do julgam ento, os cães lam be­ ram o sangue de Jorão, filho de A cabe, na propriedade de Nabote, exatam ente com o Elias havia prenunciado (2 Rs 9:14-37). A co n ­ tecim entos posteriores mostraram que o ar­ de Deus. Se havia duas pessoas culpadas de blas­ fem ar o nom e de Deus e de transgredir suas leis eram A cab e e Jezabel, que, no devido rependim ento de A cabe durou pouco, mas, pelo menos, o Senhor lhe deu outra opor­ tunidade de d eixar seu pecado e de obe­ to descrito por Jezabel estava dentro da lei (D t 1 7:6, 7; 1 9 :1 5 ; Nm 3 5 :3 0 ), mas a acusa­ ção era falsa, as testemunhas eram m entiro­ sas e os ju ízes haviam sido subornados pela intim idação real. Em toda a cidade, havia ho­ mens de Belial ou "h om en s m alignos" que faziam qualquer coisa por dinheiro ou ape­ nas para se to rnar im portan tes. N inguém além de A cab e e, possivelm ente de Jezabel, ouviu N abote recusar a oferta de com pra do rei, e Nabote não havia proferido qual­ quer palavra que pudesse ser interpretada com o blasfêmia. A m aldiçoar a D eus era um crim e capital (Lv 24:13-16) e am aldiçoar ao rei tam bém era perigoso, pois o rei era o governante escolhido por D eus (Êx 2 2 :2 8 ; A t 2 3 :5 ).5 R o u b o (vv. 14-16). O s líderes fracos da cidad e de N abote seguiram as ordens de je z a b e l, realizaram um ju lg am en to ilegal, levaram N abote e seus filhos (2 Rs 9 :2 6 ) para fora da cidade e os apedrejaram . U m a vez que ninguém da fam ília havia sobrevivido para herdar a terra, A cab e sentiu-se no direi­ tempo, sofreram o julgam ento divino. d e ce r à Palavra. D e quantas provas mais A cab e precisava? No entanto, não era fácil 482 1 R E IS 20:1 - 2 2 :5 3 rom per a influência de sua esposa, pois quan­ do A cab e casou-se com ela, vendeu-se para o pecado. 5. O JULGAM EN TO D IV IN O (1 Rs 2 2 :1 - 5 3 ; 2 C r 18) Neste ponto, a narrativa nos apresenta o pie­ doso Josafá, rei de Judá. Um resumo de seu rein ad o pode ser e n co n tra d o em 2 Reis 22:41-50 e, de modo ainda mais com pleto, em 2 C rô nicas 1 7 - 20. Josafá seguiu o cam i­ nho de Davi e procurou agradar ao Senhor (17:1-6). Enviou por toda a terra sacerdotes que soubessem ensinar para explicar a lei de Deus ao povo (1 7:7-9) e nomeou outros sacerdotes para servirem com o ju ize s fiéis, aos quais o povo pudesse encam inhar suas disputas. Deus deu paz a Judá, e Josafá apro­ veitou essa opo rtunidade para fo rtificar a terra (17:10-19). Foi um bom rei e um líder piedoso, mas pagou caro por sua transigência em relação a três questões. A prim eira foi casar seu fi­ lho com uma filha de A cab e e Jezabel (2 C r 18:1; 21:4-7; 1 Rs 2 2 :4 4 ; 2 Rs 8:16-19). A segunda foi envolver-se com os assuntos do sogro de seu filho quando a Síria atacou Is­ rael (18:2 - 19:3). A influência perversa de A cabe afetou o reinado de A cazias, neto de Josafá (2 C r 22:1-9), e a co n d escend ência de Josafá ao envolver-se num a batalha ao lado de A cab e quase lhe custou a vida (1 Rs 2 2 :3 2 , 33). Na terceira questão, Josafá mos­ trou-se insensato ao unir forças com A cazias, filho de A cab e (1 Rs 2 2 :4 8 , 4 9 ; 2 C r 20:3137), e tentar en riq u ecer pela im portação de produtos estrangeiros. O Senhor feriu os pés do rei e o repreendeu por essa aliança pe­ cam ino sa. U m a das grandes realizações de josafá foi derrotar os m oabitas, am onitas e edomitas, uma enorm e força que atacou Judá (2 C r 2 0 :1 0 ). O rei humilhou-se diante do Senhor, conclam ou a nação a realizar um jejum e incentivou o povo a buscar ao Se­ nhor. N um a grande a sse m b lé ia em Je ru ­ salém , Josafá orou pedindo a D eus que o guiasse e que socorresse, lem brando o Se­ nhor de sua aliança com Abraão (v. 7) e de com o D eus aceitou a oração de Salom ão na consagração do tem plo (vv. 8, 9; 6 :1 2 7:2 2 ). D eus havia prom etido que, se o povo se voltasse para o tem plo e orasse, ele ouvi­ ria e responderia a suas orações. O Senhor podia ver o grande exército se aproxim an­ do, e o rei pediu que D eus julgasse esse inimigo (o nom e "Josafá" significa "aquele a quem D eus julga", ou seja, "D eu s pleiteia a sua causa"). A oração foi seguida de uma proclam a­ ção da Palavra por Jaaziel (20:14-17), garan­ tindo ao rei e a seu povo que o Senhor iria intervir e dar a vitória a Judá. "A peleja não é vossa" (v. 15). O rei e o povo creram na prom essa do Senhor e o louvaram mesmo antes de co m eçar a batalha. No dia seguin­ te, Josafá enviou seu exército com cantores em todas as frentes! Deus fez com que os três exércitos inimigos lutassem uns contra os outros e se destruíssem , deixando os des­ pojos de guerra para o exército de Judá. O e x é rcito h avia lo u vad o a D e u s antes da batalha e durante ela, e, quando term inou, louvou ao Senhor no tem plo. A fé, a oração e o louvor são armas poderosas! No capítulo 22, o escritor de 1 Reis concentrou-se principalm ente na transigência de Josafá numa batalha ao lado de A cabe. A c a b e fa z o re i d e D e u s c e d e r (vv. 1-6). Q u an d o, depois de três anos, Ben-Hadade não havia cum prido seu acordo de devolver as cidades de Israel que seu pai havia toma­ do (2 1 :3 4 ), A cab e decidiu que era hora de lutar contra a Síria e de recuperar essas ci­ dades. O filho de Josafá era casado com a filha de A cab e, de m odo que Josafá deveria manter uma relação amigável com A cab e e ajudá-lo a lutar em suas batalhas. Q uando deu esse passo, o rei de Judá desobedeceu ao Senhor (2 C r 19:1-3), e, com o de costu­ me, um ato de transigência con duz a outro. U m a v e z que era d e sc e n d e n te de D avi, Josafá deveria ter se m antido afastado de A cab e e jam ais ter perm itido que a linha­ gem davídica se misturasse com a de A ca­ be. Todos os capelães da corte,6 pagos para co n co rd ar com o rei, garantiram a A cab e que ele venceria a batalha, mas Josafá teve sabedoria suficiente para pedir que A cabe buscasse uma Palavra do Senhor. 1 R E I S 20 : 1 - 2 2 : 5 3 Por certo, havia um profeta do Senhor em Israel que estava no lugar onde os ver­ dadeiros profetas podem ser encontrados com freqüência: na prisão. A cab e mandou cham ar M icaías e, enquanto os dois reis es­ peravam , os profetas fizeram uma grande m a n ife sta çã o . Z e d e q u ia s q ue, a p a re n te ­ mente era o líder, confeccionou alguns chi­ fres de ferro para mostrar co m o Israel iria rechaçar e chifrar os sírios vencendo a bata­ lha. Todos os outros profetas concordaram e bradaram em sinal de aprovação. Porém, uma guerra não é vencida apenas com en­ tusiasm o, e sp e cia lm e n te quando D eus já havia determ inado outro resultado. A c a b e ig n o ra a a d v e rtê n c ia d e D e u s (vv. 7-28). M icaías sofreu uma pressão enor­ me para co nco rd ar com os falsos profetas e garantir que A cab e derrotaria a Síria. Não apenas era um só contra quatrocentos, com o tam bém o oficial que o levou até os dois reis avisou-o para concordar com a m aioria. Em várias ocasiões nas Escrituras, é a m ino­ ria que se encontra dentro da vontade de D eus, e M icaías estava decid ido a ser fiel em vez de buscar aceitação. D eve ter sido uma cena im pressionante aquela dos dois m onarcas assentados em seus tronos, ves­ tidos com trajes reais, mas M icaías não va­ cilou. Suas palavras no versículo 13 foram proferidas com sarcasm o, e A cabe percebeu, mas deu uma resposta honesta. Tudo não passou de um a tentativa de im pressio nar Josafá e de fazê-lo pensar que estava, de fato, buscando a vontade de Deus. O Senhor havia dado duas visões a M i­ caías, am bas anunciando o julgam ento do rei A cab e. Na primeira, o profeta viu Israel vagando em desespero, com o ovelhas sem pastor - d e scriçã o incon fun d ível de um a nação sem líder (Nm 27:15-22). Jesus usou essa imagem para retratar o povo judeu sem direção espiritual (M t 9 :3 6 ). A cab e com pre­ endeu a mensagem : seria morto na batalha. A segunda v isão exp lica va co m o isso aconteceria: um espírito mentiroso daria a A cab e falsa segurança para que entrasse na batalha. O fato de o Deus da verdade per­ mitir que um espírito enganador realizasse sua obra é um mistério, mas, na realidade, 483 não é diferente da o casião em que Deus permitiu que Satanás atacasse Jó (Jó 1 - 2) ou que motivasse Judas a trair Jesus (Jo 13:2130). Deus trata com as pessoas de acordo com o caráter de cada uma delas. "C o m o puro, puro te mostras; com o perverso, in­ fle xív e l" (Sl 1 8 :2 6 ). A cab e estava lutando contra Deus, e, assim com o um bom boxea­ dor ou lutador, o Senhor previu cada um de seus golpes e desferiu contragolpes com a resposta ce rta . A c a b e era um m en tiroso inveterado, e o Senhor tratou com ele de acordo com seu caráter. Deus não mentiu para A cab e; muito pelo contrário: por meio de M icaías, disse a ver­ dade e avisou A cab e, em tem po, sobre o que estava reservado ao rei. O fato de Deus ter alertado A cabe antes da batalha isenta o Senhor da acusação de ser culpado da mor­ te do rei. A reação de Zedequias provou que os quatrocentos falsos profetas tam bém não acreditaram em M icaías. Um mistério muito m aior encontra-se no fato de um hom em piedoso com o o rei Josafá ter se juntado a A cab e na batalha e arriscado a vida. A cabe ordenou que o verdadeiro profeta fosse le­ vado de volta à prisão e que recebesse pão e água, com o se castigar o profeta pudesse mudar sua mensagem . A prova de um ver­ dadeiro profeta era o cum prim ento de suas palavras (D t 18:1 7-22; Nm 1 6 :2 9 ), e M icaías sabia disso. Por esse motivo, sua última men­ sagem a A cab e foi: "Se voltares em paz, não falou o S e n h o r , na verdade, por m im " (v. 28). A c a b e d ian te da m o rte (vv. 29-40, 515 3 ). C om o era possível o rei Josafá não per­ ceber o que A cab e estava fazendo com ele? N em c o lo c a n d o um alvo nas co stas de Josafá, A cab e poderia ter facilitado mais as coisas para o inimigo matar o rei de Judá! Se Josafá tivesse morrido, seu filho teria as­ sumido o trono, e a filha de A cab e teria se tornado a Jezabel de Judá! O que teria sido da aliança davídica e da linhagem m essiâ­ nica, se A cab e tivesse unido os dois tronos e misturado a linhagem de Davi com a sua? No entanto, Deus é soberano sobre todas as coisas e protegeu Josafá, perm itindo, ao mesm o tempo, que uma flecha perdida acer­ tasse uma abertura da arm adura de A cabe e 484 1 R E I S 20 : 1 - 2 2 : 5 3 o matasse. A cab e estava disfarçado e, ainda assim, foi morto, enquanto Josafá vestia seus trajes reais e nenhum inimigo o tocou. A ca­ A cazias, o filho de A cab e, assumiu o tro­ no e deu co n tin uid ad e ao m odo de vida perverso de seu pai e de sua mãe (vv. 51- be havia libertado o rei da Síria quando de­ veria tê-lo destruído e, desse m odo, os sírios acabaram mantando A cabe. A profecia de M icaías se cum priu, assim com o as profecias de Elias (2 0 :4 2 ; 21:19-21). 53). Reinou apenas dois anos e foi sucedi­ do pelo irm ão, Jorão (ou je o rão ). A profecia sobre os cães lam berem sangue na proprie­ dade de N abote cum priu-se na m orte de 1. Jorão (2 1 :2 9 ; 2 Rs 9 :2 5 , 26). Conforme observamos anteriormente, decifrar as transcrições de números na língua hebraica é, por vezes, um problema para os estudiosos, uma vez que eram usadas letras no lugar de números, e algumas letras são muito parecidas umas com as outras. É possível que tanta gente tenha morrido só com muros caindo sobre elas? O colapso das muralhas deve ter deixado a cidade indefesa, permitindo que os soldados de Acabe matassem qualquer um que estivesse buscando refúgio ali. O s sete dias de espera para as muralhas que ruíram nos fazem lembrar da queda de Jericó (Js 6). Porém, Acabe não era nenhum josué! 2. Em certas ocasiões, Deus pediu a seus profetas que usassem "sermões práticos" para transmitir sua mensagem a pessoas espiritualmente cegas e surdas. Isaías, por exemplo, vestiu-se como prisioneiro de guerra durante três anos (Is 20); Jeremias usou um jugo de madeira e, depois, outro de ferro (Jr 27 - 28) e Ezequiel encenou uma guerra, comeu porções racionadas de alimento, como faziam os prisioneiros, e cozinhou usando esterco para fazer o fogo (Ez 4). 3. Ao que parece, os disfarces desempenham papel importante em 1 Reis. Ver 14:2 e 22:30. 4. Tozer, 5. Quando, em sua recusa, Nabote disse: "Guarde-me o S e n h o r " A. W . The Know íedge o f the H oly. Harper, 196T, p. 11; Ver Salmos 50:21. (v . 3 ) , não estava fazendo um juramento nem blasfemando o nome de Deus. Porém, enganadores como Acabe e Jezabel sabem distorcer as palavras, e o exagero é uma forma sutil de mentir. 6. O s profetas de Baal haviam sido mortos (18:40), mas talvez outros tenham sido colocados no lugar deles. Porém, sabendo da devoção de josafá ao Senhor, é pouco provável que Acabe fosse apresentar diante dele quatrocentos profetas de Baal. É possível que esses homens fossem relacionados aos santuários em Dã e Betei, onde Jeroboão havia colocado os bezerros de ouro (ver A m 7:10-13). Mesmo que fosse uma prática mais refinada, essa a doração ainda era idolatria. Esses falsos profetas usaram o nome do Senhor e afirmaram falar com autoridade divina (22:11,12). Trata-se do mesmo tipo de falso profeta com o qual Jeremias teve de lidar anos depois. 13 R eflexõ es S o b r e R e s p o n s a b il id a d e R ecapitulação de 1 R eis colunista de jornal Abigail Van Buren escreveu: "Se você deseja que seus fi­ lhos m antenham os pés no chão, coloque um pouco de responsabilidade sobre os om ­ bros deles". A responsabilidade não é uma m aldição, mas sim uma bênção. Antes de o pecado entrar no mundo, Adão e Eva tinham A tarefas a realizar no paraíso, e o Filho perfei­ to de Deus trabalhou com o carpinteiro an­ tes de com eçar seu ministério público. Nas palavras de Booker T. W ashington: "Poucas coisas ajudam mais um indivíduo do que atribuir-lhe respo nsabilid ade e dem onstrar co n fian ça nele". D epois de matar seu irm ão, A bel, e de m entir sobre o que havia feito, Caim per­ guntou: "Acaso, sou eu tutor de meu irmão?" Com isso, estava se esquivando de sua res­ ponsabilidade e de qualquer prestação de contas, prática que vem se tornando cada vez mais com um hoje. Um adesivo de carro diz: "A culpa é do diabo" e há quem sorria quando lê esses dizeres. Q u an d o nossos pri­ meiros antepassados pecaram , fugiram e se esconderam de D eus e, quando foram co n­ frontados com seu pecado, jogaram a culpa sobre outros. Por fim, tiveram de assum ir a responsabilidade por aquilo que haviam feito, e, com a responsabilidade, vieram a espe­ rança e a prom essa. Pessoas irresponsáveis podem fugir, inventar d e scu lpas, en co b rir seus erros ou colocar a culpa em outros, mas, se o fizerem , jam ais aprenderão o que signi­ fica ter um caráter saudável, integridade, uma esses dois acon tecim ento s, várias pessoas foram bem-sucedidas ou fracassaram , vive­ ram ou m orreram , em função de decisões responsáveis ou irresponsáveis. O mundo de D avi e de A cab e era com pletam ente dife­ rente de nosso m undo hoje, mas a natureza hum ana não m udou, e os princípios funda­ mentais da vida perm anecem bastante está­ veis. Podemos, portanto, meditar sobre o que aprendem os com o relato de 1 Reis e extrair algumas conclusões práticas para a vida em nosso tempo. 1. D a v i: u m a p e s s o a p o d e f a z e r DIFERENÇA Q uanto mais refletimos sobre a vida de Davi, m esm o com todos os seus defeitos, mais vem os sua grandeza. Possuía uma aptidão nata para a liderança, além de coragem e de bom-senso. O Espírito Santo deu-lhe sen­ sibilidade à vontade de D eus e um poder especial que o distinguiu com o hom em de D eus. Por pouco seu antecessor, o rei Saul, não destruiu a nação, mas D avi aceitou a difícil responsabilidade de reunificar Israel e de fazer dele um reino poderoso. Davi der­ rotou os inimigos de Israel; juntou enorm es tesouros para a construção do tem plo; or­ ganizou o exército, o governo e o ministé­ rio no santuário; escreveu cânticos para os levitas entoarem e até inventou instrum en­ tos m usicais para tocarem . Em resum o, foi um homem e tanto! A aliança de Deus com Davi garantiu que israel teria um rei para sem pre, o que se cum priu de modo absoluto na vinda de Je­ sus Cristo ao mundo. Foi por causa da pro­ messa a Davi que o Senhor manteve um de seus descendentes no trono durante os anos de decad ência de Judá. Ao longo de toda a história da m onarquia, Deus usou Davi com o parâm etro para medir cada um dos reis e, apesar de alguns deles terem sido excelen ­ tes, nenhum deles chegou exatam ente ao m esm o nível de Davi. U m a pessoa pode fazer diferença, se es­ co n sciê n cia tranqüila e a alegria de andar tiver disposta a aceitar responsabilidades e com Deus. a andar com D eus. Q u alqu er um pode se­ 1 Reis com eça com a morte do rei Davi e guir o rebanho, mas quando Deus encontra termina com a morte do rei Acabe, e entre indivíduos dispostos a ficarem sozinhos, se 486 1 RE I S necessário, ele arregaça as mangas e forma líderes. Há muitos anos, as palavras de Dr. Lee Robertson ecoam em m inha m ente: "A serviço no deserto. A o acum ular esposas, cavalos e riquezas, trouxe paz à nação, mas foi uma paz que custou a obediência à lei ascensão e queda de todas as coisas devese à liderança". de D eus. Não há virtude alguma na ignorância e na pobreza, mas tam bém não há qualquer mágica no conhecim ento e na riqueza. Os governantes dizem : "Se o povo fosse mais instruído e mais rico, resolveríam os os pro­ 2 . Salo m ão : o su cesso co m FREQ Ü ÊN CIA C O N D U Z AO FRACASSO E bom ter as coisas que o dinheiro pode com prar, desde que não perca as coisas que o dinheiro não pode com prar. Salom ão foi um hom em brilhante cap az de discorrer so­ bre tudo, desde com o plantar ervas até com o construir fortalezas e, no entanto, desarranjou toda a vida e preparou o cam inho para a divisão do reino. Durante os anos doura­ dos de Salom ão, as nações se maravilharam com sua sabedoria e invejaram sua riqueza (e talvez suas muitas esposas), mas o pró­ prio Salom ão acabou transformando-se num hom em vazio, abandonando o Senhor que o havia abençoado tão ricam ente. E possí­ vel que Salom ão seja o insensato mais sábio da história da Bíblia. blem a da so cied ad e". D e fato, as pessoas podem adquirir mais instrução e riquezas, mas com isso criam toda uma série de no­ vos problem as. C erta vez, Billy Sunday con­ fessou: "Q u a n d o era garoto, íam o s até o pátio da estrada de ferro e roubávam os coi­ sas dos trens de carga. Hoje em dia, o sujei­ to faz uma faculdade e aprende a roubar a estrada de ferro inteira!" As pessoas são tão instruídas que conseguem sentar-se diante do teclado de um com putador e roubar ban­ cos a m ilhares de quilôm etros de distância. A natureza humana não muda. Ao ler nas entrelinhas, vem os que seu estilo de vida luxuoso, cercado de glam our e de prazer, introduziu em Israel o vírus que acabou corroendo o cerne espiritual dessa nação. Sem dúvida, precisam os do ensino form al, mas tam bém precisam os pedir que Deus nos dê sabedoria para usar corretam en­ COM EÇAM EM CASA te o conhecim ento. Tam bém precisam os de dinheiro, alim ento, roupas e abrigo, tanto que Jesus disse: "Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas essas coisas" (M t 6 :3 2 ), m as g an har d in h e iro sim p le sm e n te para enriquecer é entregar-se à co biça e se preo­ cupar tanto com os preços a ponto de igno­ rar os valores. Salom ão foi irresponsável em diversas áreas de sua vida, e seu filho Roboão her­ dou parte dessa m entalidade; acabou divi­ dindo a nação. D eus transform ou D avi em um líder ao colocá-lo para cuidar de ove­ lhas, desafiá-lo com um leão, um urso e um gigante, obrigá-lo a fugir durante dez anos para salvar a própria vida e fazê-lo esperar pelo tro n o p ro m e tid o . S alo m ão cre sce u cercad o de m imos e de proteção ; poderia ter sido b e n e fic ia d o por alguns anos de 3. A FO RÇA E O CARÁTER DE UM A NAÇÃO Se Davi tivesse usado em seu lar o mesmo tipo de disciplina e de força que mostrou nos cam pos de batalha, a história de Israel poderia ter sido bem diferente. Parte do pro­ blema era o fato de o rei ter tantas esposas, além do que nem sem pre é fácil para filhos de celebridades terem uma infância normal. Porém, quaisquer que tenham sido as cau­ sas, os filhos de D avi não se deram nada bem , e seu caráter e atitudes afetaram a nação toda. De acordo com G ênesis 3, Satanás apa­ receu com o um m entiroso, e seu primeiro alvo foi o casam en to , um relacionam ento que vem atacando desde então. Vem os em G ênesis 4 que Satanás tornou-se hom icida, e seu segundo alvo foi a família. Instigou a ira e a inveja em Caim de modo que matas­ se A bel. Diz-se que, no lar m oderno, o apa­ relho de som e a T V funcionam m elhor do que os membros da família. As pessoas re­ clam am porque, em muitas escolas, os filhos não têm perm issão para orar, mas são pou­ cos os pais que incentivam os filhos a orar em casa. 1 RE I S O lar é uma escola para o caráter, é o lugar onde aprendem os a am ar, a ouvir, a o b e d ecer e a ajudar. Em resum o, é onde aprendem os a ser responsáveis. 487 sem pre todos co n co rd am com tudo, mas tentam ajudar uns aos outros ao longo das diversas etapas da vida. É assim que deve ser em nossa casa, em nossa igreja e em nossa nação. 4. R o b o ã o : a s g e r a ç õ e s d e vem TRABALHAR EM CO N JUN TO 5 Jero bo ão : Seja em casa, nos gabinetes do governo ou na igreja, as gerações devem trabalhar em conjunto e aprender umas com as outras. D ESPERDIÇADAS Roboão, filho de Salom ão, mostrou-se in­ sensato ao fazer ouvidos m oucos para a ex­ p e riê n c ia dos m ais m a d u ro s e e s c o lh e r conquistar apenas os aplausos de sua gera­ ção e, com o resultado, perdeu grande parte de seu reino. Ao rotular diferentes gerações e deixar que cada um a trate de seus assuntos - "Esse é o jeito deles, m esm o!" - , enfraque­ cem os nossa solidariedade social, dividim os a fam ília , alien a m o s ge raçõe s inteiras da herança do passado e convencem os os jo ­ vens de que são, de fato, ca p aze s de ser bem-sucedidos sem qualquer ajuda. D eus determ inou que os pais devem ser mais maduros que os filhos. Tam bém orde­ nou que os pais am assem os filhos, que os ensinassem a ouvir e a obedecer, que os pro­ tegessem do mal e que fossem bons exem ­ plos para eles. M as os pais tam bém podem aprender com os filhos, pois se trata de uma relação de reciprocidade. Invisto em am iza­ des com jovens porque preciso deles e eles precisam de mim. Eu os ajudo a ficar em dia com o passado, e eles me ajudam a ficar em dia com o presente. Não estou sempre certo nem eles estão sem pre errados. A ge­ ração mais antiga entrega à geração seguin­ te uma herança valiosa do passado, mas se não com preenderm os o m undo em que es­ tão vivend o e com o se sentem a respeito dele, não poderem os ajudá-los a usar essa herança para seu bem e para benefício ge­ ral da sociedade. Paulo co n sid e ro u a igreja lo cal co m o uma fam ília em Deus (Tt 2:1-8), em que uma geração ministra a outra. O s mais jovens tra­ tam os de mais idade com o se fossem seus pais e avós, e os cristãos mais velhos tratam os mais jovens com o se fossem os próprios filhos. Q u an d o uma fam ília se reúne, nem o p o r t u n id a d e s Deus ofereceu a Jeroboão uma oportunida­ de inestim ável de construir o reino de Israel para a glória de Deus, mas ele a desperdi­ ço u . Em vez de olhar para trás e im itar a liderança de D avi, buscando do alto a ajuda do Senhor, Jerobo ão deixou que seu ego assum isse o controle e fizesse as coisas a sua m aneira. Inventou a própria religião a fim de facilitar a desobediência do povo ao Senhor. Abandonou a autoridade divina da Palavra de D eus e nom eou sacerdotes nem espirituais nem q u alificad o s. D eus enviou sinais e m ensagens a Jeroboão, mas o rei se re c u so u a s u je ita r-s e . " O s p e c a d o s de Jerobo ão " são m encionados mais de vinte vezes na Bíblia. A divisão do reino de Israel foi uma tra­ gédia, mas se tanto Roboão quanto jero boão tivessem dado ouvidos ao Senhor, poderiam ter salvado os dois reinos da ruína. U m a vez que um a oportunidade é perdida, não há com o recuperá-la. Cad a oportunidade é um teste da visão e dos valores daqueles que estão no com ando. O Senhor deu a Jero­ boão uma prom essa firm e (11:29-40), mas o rei não a levou a sério nem confiou que Deus a cum priria. A oportunidade não gri­ ta, mas sim sussurra, e nossos ouvidos devem estar atentos. A oportunidade bate à porta, mas não a arrom ba, e devem os estar alertas para ab rir a porta no m om ento ce rto . O poeta norte-americano John G ree n le af Whittier escreveu: De todas as palavras tristes da língua ou da pena, As mais tristes são: "Poderia ter sido, mas não foi!" Ignorar o p o rtu nid ad es dadas por D eu s é desperdiçar o passado, co locar em perigo o futuro e frustrar o presente. 1 REI S 488 6 . B aa l: o c â n c e r t r a iç o e ir o da ID O L A T R IA Jeroboão ergueu seus bezerro s de ouro e Jezabel trouxe consigo a adoração a Baal; não tardou ao povo do reino do Norte aban­ donar Jeová e se dedicar à veneração de ídolos inúteis. Um ídolo não é apenas um insulto a Deus, mas também um insulto aos hom ens, pois hom ens e mulheres foram cria­ dos à imagem de D eus, a fim de refletir a glória do verd adeiro D eus vivo . C ria r um deus a sua imagem e adorá-lo é perigoso, pois nos tornam os sem elhantes aos deuses que adoram os (SI 115:8); Se vo cê deseja ser religioso, mas, ainda assim, quer desfrutar os prazeres do peca­ do, então o m elhor cam inho a seguir é a idolatria. Trata-se, porém , de uma liberdade que conduz à escravidão, e seu prazer aca­ ba levando à dor e à morte. Q u e r o ídolo que adoram os seja o dinheiro, o prestígio, a au to rid ad e, o sexo , o en tre ten im e n to ou nossa satisfação farisaica, não poderem os jam ais encontrar algo parecido com aquilo que recebem os quando adoram os o verda­ deiro Deus vivo por interm édio de seu Fi­ lho, Jesus Cristo. 7 . E l ia s : refo r m a e ren o va çã o U m a nação, uma igreja, uma família ou um indivíduo jam ais se encontrarão tão perdi­ dos a ponto de o Senhor não poder lhe dar um recom eço. Elias era inimigo de A cabe, pois A cab e estava agindo de acordo com os próprios interesses e não de acordo com a vontade do Senhor. Elias era um servo de Deus e arriscou a vida para co n d u zir a na­ ção de volta ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A verdadeira reform a deve levar a uma renovação espiritual. Não basta derrubar os altares pagãos e rem over os sacerdotes de Baal. Devem os tam bém reconstruir os alta­ res de Deus para que um novo fogo do céu consum a os sacrifícios. Realizar uma reforma significa livrar-se do acréscim o de novidades, a fim de voltar aos fu ndam en to s das co isas antigas. Q u an d o Israel abandonou sua a lian ça com Jeová, deixou de ser o povo de Deus e se tornou com o as outras nações. O lindo templo que, no passado, havia sido usado para a glória de D eus, transform ou-se num m ontão de ruínas que deram testem unho dos pecados de um povo ingrato e in créd u lo . O povo escolhido de Deus se esqueceu de seu pas­ sado glorioso e criou, deliberadam ente, um futuro que trouxe vergonha e devastação. A principal questão da fé em qualquer nação sem pre foi a luta entre os verdadei­ ros e os falsos profetas, sendo que ambos afirmam falar em nom e do Senhor. O s fal­ sos profetas dizem aquilo que desejam os ouvir, enquanto os verdadeiros profetas di­ zem aquilo que precisam os ouvir. O s falsos profetas não fazem um diagnóstico profun­ do e com p leto das enferm idades de uma nação, pois seu tratam ento é extrem am en­ te superficial. O s verdadeiros profetas fazem co rte s pro fu n d o s e exp õ e m os câ n ce re s ocultos e, assim com o João Batista, usam o m achado na raiz das árvores (M t 3 :1 0 ) e não perdem seu tempo arrancando folhas secas dos galhos que estão morrendo. "O n d e está o S e n h o r , D eus de Elias?", perguntou Eliseu ao iniciar seu ministério pro­ fético (2 Rs 2 :1 4 ). Sabem os a resposta: "O S e n h o r , porém , está no seu santo tem plo" (H c 2 :2 0 ). M as a verdadeira pergunta não é "O n d e está o S e n h o r , Deus de Elias?", e sim: "O n d e estão os Elias?" Deus continua à pro­ cura de hom ens e de m ulheres cujo cora­ ção esteja em ordem com ele, pessoas que ele pode usar para resgatar o passado, reno­ var o presente e salvar o futuro. 8. A cabe e Jeza bel: o abuso d o po d er C o m ecei a ler, há alguns anos, uma biogra­ fia de A dolf Hitler, porém , quanto mais eu lia, mais deprim ido ficava, até que finalm en­ te parei de ler o livro e nunca o term inei. M inha reação quanto a A cabe e Jezabel não é muito diferente. Ele era um hom em fraco, e ela, uma m ulher cruel; juntos constituíram a personificação da perversidade. Se vives­ sem nos dias de hoje, H o lyw o o d lançaria um film e sobre eles e ap areceriam numa minissérie de TV. Empunhando suas câmeras, a mídia seguiria cada m ovim ento do casal, fornecendo relatos detalhados de tudo o que fizessem . O fato de A cab e e Jezabel serem incrédulos e ím pios e de não terem caráter nem altos ideais não seria relevante. O pú­ blico alim enta sua im aginação perturbada com esse tipo de lixo e continua pedindo cada vez mais. G raças à natureza hum ana decaída, sem pre há mais a oferecer. Se você fizer uma leitura superficial de um a re tro sp e ctiva do sécu lo v in te , fic a rá admirado com o fato de as nações do mun­ do sobreviverem a uma co n cen tração tão grande de abuso de poder. Boa parte des­ se abuso foi brutal, levando ao exterm ínio de milhões de pessoas inocentes. Algum as de suas m anifestações foram mais refinadas, mas ainda assim levaram à destruição. O s que não usaram facas, revólveres e fornos cre m ató rios em preg aram palavras, o que inclui gente que se dizia cristã dentro das igrejas. O m undo assistiu a tudo isso e dis­ se: "Vejam com o se odeiam !" Estou no mi­ nistério há mais de cinqüenta anos e, nos últimos dez anos, tenho ouvido mais histó­ rias de horror que se passam dentro de igre­ jas do que ouvi nos outros quarenta anos. Seja o poder adm inistrativo, financeiro, físico, mental ou, ainda, o poder m aior de vida ou de morte, o poder que vem de Deus deve ser usado de acordo com a vontade dele. Reis e rainhas, im peradores e prim ei­ ros-m inistros, ditadores e generais, pais e professores, o FBI e a K G B - todos devem prestar contas ao Senhor e, um dia, respon­ derão diante dele por seus atos. O Rei ]esus é o m aior exem plo do uso correto de autoridade: ele é um Servo que lidera e um líder que serve, e o faz porque nos ama. 9. D eu s é s o b e r a n o ! D e sd e os tem p o s de Jó, as p e sso as têm procurado entender o que acontece neste m undo, e até agora ninguém descobriu a chave. Se já é difícil fazer um a previsão do tempo, quanto mais entender plenam ente a dinâm ica da história ou mesm o as situações de nossa vida. Nas palavras de um ator de cinem a fam oso: "A vida é com o o roteiro de um filme de baixo orçam ento - extrem a­ m ente brega. Se alguém me o ferecesse a história de m inha vida para fazer um filme, eu recu saria".1 Um dos personagens da peça Estranho In terlú d io [Strange In terlu d e], do dramaturgo norte-americano Eugene 0 'N e ill, diz: "N ossa vida é sim plesm ente uma série de interlúdios estranhos e som brios na tela de víd eo de D eus Pai", um a idéia pouco anim adora. Saber que nosso Deus é soberano so­ bre todas as coisas dá-nos a coragem e a fé necessárias para viver e para servir neste mundo decaído. "O Senhor frustra os desíg­ nios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do S enhor dura para sem­ pre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações" (Sl 33:10, 11). Ele nos deu o direito de fazer escolhas e de tomar deci­ sões e não im põe sua vontade; porém , mesmo se não tiver nossa permissão de go­ vernar, ele prevalece. Apesar de nossa resis­ tência e rebeldia, a vontade de Deus será feita "assim na terra como no céu". Ele con­ trola o universo com suas leis eternas de sabedoria e não reúne um comitê para de­ terminar um consenso em sua criação. Nas palavras de A. W. Tozer: "O arbítrio do ho­ mem é livre, pois Deus é soberano. Um Deus aquém da soberania não poderia conceder liberdade moral a suas criaturas, pois teria medo de fazê-lo".2 No entanto, quão longânim o D eu s é, tanto com os salvos quanto com os perdi­ dos! Ele permitiu que Jezabel matasse alguns dos profetas do Senhor e que Elias fugisse de seu posto de serviço . O m aior julgam en­ to que D eus pode mandar é permitir às pes­ soas que façam as coisas a sua maneira e, depois, sofram as conseqüências. "Até quan­ do, S e n h o r ? " Essa tem sido a oração aflita dos cristãos aqui na terra (Sl 13:1-2) e no céu (Ap 6 :1 0 ), mas nossos tem pos estão nas mãos do Senhor, e ele sabe tudo, do princí­ pio ao fim. Q uand o as notícias do dia me perturbam , faço um a pausa e adoro ao Deus eterno e soberano, que nunca é pego de surpresa nem desprevenido. Isso evita a in­ quietação e o desânim o e ajuda a manter a vida em equilíbrio. O Livro de 1 Reis nos revelou a pecaminosidade do coração hum ano, a fidelidade de um Deus am oroso e a seriedade de fazer 490 1 REI S parte do rem anescente fiel a D eus. Antes de Jesus voltar para estabelecer seu reino, muita coisa ainda vai piorar, e é possível que fiquem os desanim ados e que sejam os ten­ tados a desistir. Nesses m om entos, devem os nos lem brar de que a re spo n sabilid ade é 1. D o u g la s, 2. T ozer, nossa resposta à habilidade de D eus. O Se­ nhor ainda está assentado em seu trono, de modo que podem os nos juntar à multidão celestial e entoar o cântico dos vitoriosos: "Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso D eus, o Todo-Poderoso" (Ap 19:6). Kirk. Look, 4 out. 1955. A . W . The Know/edge o ft h e H oly. Harper, 1961, p. 118. 2 R eis e 2 C r ô n ic a s ESBO ÇO 5. T e m a -c h a v e : O julgam ento de D eus sobre 521 6. Colhendo os frutos do pecado (2 Rs 8:1 - 9 :3 7 ; 2 C r 21:1 - 2 2 :9 ) A espada e a coroa 528 7. (2 Rs 10 - 11; 2 C r 2 2 :1 0 - 2 3 :2 1 ) .................................. Concentrando-se na fé Israel e Judá 1. O M IN ISTÉR IO DE ELISEU 2 REIS 1 - 1 3 (2 Rs 12 - 13; 2 C r 2 4 ).......................... Nove reis - cinco assassinatos (2 Rs 14 - 15; 2 C r 25 - 27) U m a história de dois reinos 9. (2 Rs 1 6 - 17; 2 C r 2 8 ).......................... 10. A form ação de um rei - Parte 1 (2 Rs 18:1 - 2 0 :1 1 ; 2 C r 29:1 - 3 1 :2 1 ; 536 32:24-26; Is 3 8 )........................................... 11. A form ação de um rei - Parte 2 (2 Rs 1 8 :1 7 - 1 9 :3 7 ; 20:12-21; 557 2 C r 32:27-33; Is 36 - 3 7 ; 39) 12. O fim está próxim o (2 Rs 21:1 - 2 3 :3 0 ; 2 C r 33:1 - 3 5 :2 7 ) ..................................... 13. Chegou o fim (2 Rs 23:31 - 2 5 :3 0 ; 2 C r 36) 563 8. II. A Q U E D A DE SAM ARIA 2 REIS 1 4 - 1 7 III. O C A TIV EIR O DE JU D Á 2 REIS 1 8 - 2 5 CO N TEÚ D O 1. 2. 3. 4. C am inhos separados (2 Rs 1 - 2 ).................................................... G raça m aravilhosa! (2 Rs 3 - 4 ).................................................... Três hom ens - três milagres (2 Rs 5:1 - 6 :7 ) ........................................... A batalha é do Senhor (2 Rs 6 :8 - 7 :2 0 )........................................ 492 501 508 515 543 551 571 579 1 C a m in h o s S ep a r a d o s 2 Reis 1 - 2 liseu ("D eus é salvação") havia sido servo e ap ren diz de Elias por ce rca de dez anos, mas chegara a hora de o Senhor cha­ mar ao lar seu servo corajoso. Tem os a im­ pressão de que Elias e Eliseu eram homens de tem peram entos diferentes, sendo Elias o "filho do trovão" e Eliseu um tipo mais bon­ E doso e tranqüilo. Isso não significa que Elias nunca foi afável e que Eliseu nunca foi seve­ ro, pois o registro bíblico traz exem plos de am bos os casos. Porém, de modo geral, Elias atuou com o João Batista, colocando o ma­ chado na raiz das árvores, enquanto Eliseu seguiu um ministério mais reservado, com o o de Jesus (ver M t 3:1-12 e 11:16-19). Nos acontecim entos finais dessa parceria espiri­ tual, vem os a revelação de quatro verdades im portantes sobre o D eus de Israel. 1. D e u s ju lg a o p e cad o (2 Rs 1:1-18) D epois da morte do perverso rei A cab e, a nação de M oabe se aproveitou de A cazias, filho e sucessor de A cab e, e rompeu os la­ ços de vassalagem que os haviam mantido presos a Israel (v. 1; ver 3 :4 , 5). Anos antes, Davi havia derrotado M oabe (2 Sm 8:2), e Jeorão (Jorão), sucessor de A cazias, se jun­ taria a josafá, rei de Judá, para lutar contra os moabitas (3:6.ss). Porém , o Senhor dom i­ na sobre as nações da Terra (At 17:24-28; Dn 5 :1 9 , 21 ; 7 :2 7 ), e sua vontade determ i­ na a história. A cazias era um homem perver­ so (1 Rs 2 2 :1 0 , 51-53), mas mesm o quando não se atribui ao Senhor a perm issão de go­ vernar, ele prevalece (SI 3 3 :1 0 , 11). Idolatria (vv. 2-4). C erca de um a déca­ da antes do acidente de A cazias, Elias havia conquistado uma grande vitória so b re Baal (1 Rs 18), mas A cab e e Jezabel não haviam sido convencidos nem convertidos, nem sua fam ília (1 Rs 22:51-53). Q uand o A cazias fe­ riu-se gravem ente ao cair pelas grades de um quarto alto, buscou a orientação de Baal, não do Senhor D eus de Israel. "Baal" signifi­ ca sim plesm ente "se n h o r", e "Baal-Zebul" quer dizer "Baal é príncipe". Porém , o rema­ nescente devoto a Jeová em Israel mudou esse nom e, ridicularizando o falso deus de seus vizinhos. "B aal-Zebel" quer dizer "se­ nhor do estrum e" e "Baal-Zebube" significa "senhor das m o scas", um dos nom es que os inimigos de Jesus usaram para insultá-lo (M t 10:25). Por que o rei decidiu enviar mensageiros para a cidade de Ecrom , a mais de sessenta quilôm etros, para consultar os sacerdotes de Baal? E verdade que Elias matara os 4 5 0 pro­ fetas de Baal (1 Rs 1 8 :1 9 , 22, 40), mas isso o co rre ra d ez anos atrás. Sem dúvida, era possível encontrar outros sacerdotes de Baal na terra. O s pais do rei haviam alim entado centenas desses sacerdotes à mesa real (1 Rs 18:19), e não teria sido difícil para A cazias trazer de outras localidades sacerdotes de Baal para servir co m o cap elães da corte. Talve z tenha ido b u scar ajuda em Ecrom porque não queria que o povo de Samaria soubesse quão grave era seu estado de saú­ de. O tem plo de Baal em Ecrom era bastan­ te fam oso, pois Baal era o deus principal daquela cidade, e se esperava que os reis b u scassem ajuda n aq ue le lo cal. O b se rv e que A cazias pediu aos sacerdotes de Baal que lhe dessem ap enas um p ro g n ó stico , não que o curassem . D eus mantém seus servos inform ados de questões sobre as quais as outras pessoas nada sabem (Jo 1 5 :1 5 ; Am 3 :7 ). Esse "Anjo do S e n h o r " pode muito bem ter sido o Se­ nhor Jesus Cristo em uma de suas aparições pré-encarnadas (C n 1 6 :7 ; 18; 2 1 :1 7 ; 2 2 :1 1 ; 4 8 :1 6 ). Q u an d o os servos de D eus estão cam inhando com seu Senhor, podem estar certos de que serão dirigidos por ele quan­ do for necessário. Essa havia sido, sem dúvi­ da alguma, a experiência de Elias (ver v. 15 e 1 Rs 17:3, 9; 1 8 :1 ; 2 1 :1 8 ). Elias intercep­ tou os enviados do rei e lhes transmitiu uma 2 REIS 1 - 2 mensagem que serviria tanto para repreen­ der o rei com o para incutir-lhe algum bom senso. Por que desejava co nsultar o deus morto de Ecrom quando o Deus vivo de Is­ rael estava a sua disposição para dizer-lhe o que aconteceria? Por certo, o rei morreria! Essa declaração om inosa foi feita três vezes no decorrer desses acontecim entos - duas vezes por Elias (vv. 4 e 16) e uma vez pelos m ensageiros (v. 6). Em vez de atuarem com o porta-vozes de Baal, os m ensageiros acaba­ ram sendo arautos da Palavra de Deus para o rei! O rg u lh o (vv. 5-12). Parece incrível que os m en sag eiros do rei não co n h ecesse m Elias e que só tivessem descoberto sua iden­ tidade depois de voltar ao palácio! Elias era inimigo de A cabe (1 Rs 2 1 :20), e A cazias era filho de A cabe, de modo que A cazias certa­ m ente havia com entado com seus cortesãos sobre o profeta. A descrição que os m ensa­ geiros deram de Elias nos lem bra de João Batista, que ministrou "no espírito e poder de Elias" (Lc 1 :1 7 ; M t 3 :4 ). A oração "um homem vestido de pêlos" indica seus trajes e não sua aparência (em algumas versões, "p elu d o "). A ssim co m o João Batista, Elias usava roupas com uns dos pobres, feitas de pêlos de cam elo e não os mantos sofistica­ dos de um rei (M t 1 1 :7-10). A no tificação da sua m orte deveria ter levado A cazias a arrepender-se de seus pe­ cados e a buscar o Senhor, m as, em vez disso, ele tentou prender o profeta. (O que nos lem bra de que H erodes m andou pren­ der João Batista; M t 14:1-12.) A ca zia s sa­ bia que Elias era um adversário tem ível, de m odo que enviou um capitão com cin q ü en ­ ta soldados para trazê-lo ao palácio , mas subestim ou o poder do profeta. Será que A cazias pensou que poderia m atar o profe­ ta e, assim , anular a profecia? (As palavras do Senhor, no versículo 15, indicam que o rei pretendia assassinar Elias.) O u , talve z, o rei esperasse in fluen ciar o profeta para que m udasse a profecia. Elias, porém , rece­ bia suas ordens do Rei dos reis e não de monarcas terrenos, especialm ente de um rei idólatra e filho de assassinos. Anos antes, Elias havia se intim idado ao receber a am eaça de 493 Jezabel, m as, dessa v e z , ficou onde estava e encarou os soldados sem qualquer receio. Por certo, o capitão não usou a desig­ nação "hom em de D e u s" com o um elogio a Elias ou com o uma confissão da própria fé, pois "hom em de D eus" era um sinôni­ mo com um da ép o ca para "p ro feta ". Em outras palavras, o que Elias disse com sua resposta foi: — U m a v e z que você me cham a de ho­ mem de D eus, deixe-me provar que sou, de fato, hom em de D eus. M eu Deus tratará de vo cê de acordo com suas próprias palavras. O fogo que desceu do céu m atou os cinq üenta hom ens. Esse julgam ento repe­ tiu-se qu and o outro grupo de cin q ü e n ta abordou o profeta. O b serve que o segundo capitão ordenou a Elias: "D esce depressa". Não deixe seu rei esperando! A lem brança do confronto no monte Carm elo deveria ter advertido o rei e seus soldados de que Elias poderia fazer fogo descer do céu (1 Rs 18 ).1 Não devem os interpretar essas duas de­ m onstrações da ira de D eus com o evidên­ cias de irritação da parte de Elias ou com o injustiça da parte de D eus. Afinal, os solda­ dos não estavam ap en as cu m p rin d o seu d ever e o b e d ecen d o a seu com an dante? Esses dois episódios de julgam ento abrasa­ dor foram m ensagens dram áticas do Senhor avisando que o rei e a nação deveriam arre­ pender-se ou provariam o julg am en to de D eu s. O povo havia se esquecido das lições do monte Carm elo, e esses dois julgam en­ tos o lembraram de que o Deus de Israel é "fogo que co n so m e " (D t 4 :2 4 e 9 :3 ; Hb 1 2 :2 9 ). O rei A cazias era um hom em orgu­ lhoso que sacrifico u dois capitães e cem hom ens num a tentativa inútil de evitar a pró­ pria m orte. Não se tratava de hom ens ino­ centes, vítim as dos caprichos de seu rei, mas sim de hom ens culpados, dispostos a fazer aquilo que o rei ordenava. Se tivessem assu­ mido a atitude do terceiro capitão, também não teriam sido mortos. D e so b e d iê n c ia (vv. 13-18). Em sua in­ sistência para que Elias lhe o bedecesse, o rei enviou um terceiro grupo de soldados, mas, dessa v e z, seu capitão dem onstrou sa­ bedoria e hum ildade. Ao contrário do rei e 494 2 REIS 1 dos dois capitães anteriores, sujeitou-se ao 2. O Senhor e a seu servo. A súplica do terceiro capitão por si mesm o e por seus hom ens mostra que ele reconhecia a autoridade de le m b r e m o s Elias e que não faria mal algum ao servo de Deus. As palavras do Senhor, no versículo 15, indicam que o perigo encontrava-se nas mãos dos capitães e não nas mãos do rei. Talvez o rei tivesse ordenado que matassem Elias a cam inho do palácio. Se o rei deveria morrer, então pelo menos levaria Elias consigo. A cazias estava acam ado quando Elias o confrontou pela segunda v e z e anunciou que m orreria. Q u an tas vezes o Senhor precisa repetir sua m ensagem a um p ecad o r per­ verso? O rei deixaria este m undo com as palavras: "sem falta, m orrerás" ainda soan­ do em seus ou vidos e, m esm o assim , recusou-se a obedecer à Palavra de D eus. M ais um a vez, somos lembrados da form a com o H erodes agiu com relação a João Batista, pois Herodes ouviu as palavras de João, mas não se arrependeu (M c 6 :2 0 ). D ep o is de cerca de dois anos no trono, A cazias mor­ reu, co n fo rm e Elias havia previsto, sendo sucedido por seu irmão mais novo Jorão (ou Jeo rão ). O b serve que o rei de Judá nessa ép o ca tam bém se cham ava Jeorão. A fim de evitar confusão, iremos nos referir ao irmão de A cazias e rei de Israel com o Jorão e ao filho de Josafá e rei de Judá com o Jeorão. Antes de en cerrarm o s esta passagem , devem os nos lem brar de que, um dia, este mundo orgulhoso e im penitente experim en­ tará o fogo da ira de D eus. Isso acontecerá "quando do céu se manifestar o Senhor Je­ sus com os anjos do seu poder, em cham a de fogo, tom ando vingança contra os que não conhecem a D eus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder" (2 Ts 1 :7-9). Deus orde­ na "aos hom ens que todos, em toda a parte, se arrependam " (At 1 7 :3 0 ), o que significa que aq ueles que não se arrependem são rebeldes contra o Senhor. O evangelho não é apenas uma mensagem na qual se deve crer, mas também uma ordem a que se de­ ve obedecer. S e n h o r d e s e ja q u e n o s (2 Rs 2:1-6) O rei A cazias m orreu, mas Elias não! Foi le­ vado para o céu num redem oinho acom pa­ nhado de uma carruagem de fogo puxada p o r c a v a lo s fla m e ja n t e s . A s s im c o m o Enoque, nos tem pos mais antigos, Elias an­ dou com Deus e, de repente, foi estar com D eus (G n 5 :21-24; Hb 1 1 :5 ). O s dois ho­ mens ilustram o arrebatam ento dos santos quando Jesus voltar (1 Ts 4:13-18). Porém, antes de Elias deixar Eliseu para dar conti­ nuidade a seu trabalho, cam inhou com seu su ce sso r de G ilg al até a região além do Jordão, o q u e d ev e ter sido uma cam inhada e tanto! O S en h o r tinha em m ente pelo m enos três propósitos ao levar esses dois servos a cam inhar juntos. A p ro veita r o p resen te. Eliseu sabia que seu m estre iria deixá-lo (vv. 1, 3, 5) e deseja­ va estar com ele até o fim, ouvir seus conse­ lhos e aprender com ele. A impressão é que Elias queria que Eliseu ficasse para trás dei­ xando-o ir sozinho, mas se tratava apenas de um teste da devoção de Eliseu. Q uando Elias jogou seu manto sobre Eliseu e fez dele seu sucessor, o rapaz prom eteu: "te segui­ rei" (1 Rs 19:20) e cum priu essa promessa. Ao longo dos anos que esses dois homens trabalharam juntos, sem dúvida desenvolve­ ram afeição e adm iração mais profundas um pelo outro. A declaração: "N ão é bom que o hom em esteja só " (G n 2 :1 8 ) não se aplica apenas ao casam ento, mas tam bém ao mi­ nistério. M oisés e A rão trabalharam juntos, e Davi e Jônatas encorajaram-se m utuam en­ te. Paulo viajou prim eiro com Barnabé e, depois, com Silas, e, ao que parece, Lucas foi um com panheiro constante do apóstolo. Até mesm o Jesus enviou seus discípulos dois a dois (M c 6 :7 ; ver Ec 4:9-12). Não somos apenas colaboradores do Senhor, mas tam­ bém do povo de Deus e, ao servir ao mes­ mo Senhor juntos, não deve haver rivalidade (Jo 4:34-38; 1 C o 3:1-9). Não temos com o saber quando um ami­ go e colega de trabalho nos será tirado. Deus disse a Eliseu que Elias o estava deixando, mas não sabem os quando é chegada a nossa hora ou a hora de um amigo ir para o céu. 2 RE I S 1 Q u e grandes oportunidades desperdiçam os aos perder tem po com coisas insignifican­ tes, enquanto poderíam os estar aprenden­ do uns com os outros sobre o Senhor e sua Palavra! Alegra-me o coração quando vejo cristãos mais jovens e obreiros cristãos dan­ do o devido valor aos m em bros mais idosos de suas congregações e aprendendo com eles. Um dia, esses "gigantes" serão cham a­ dos de volta ao lar, e não poderem os mais aprender com eles. Esses dois hom ens representam gerações diferentes e personalidades opostas, no en­ tanto, foram capazes de andar juntos. Q u e forte repreensão para aqueles participantes da igreja que rotulam as gerações e que as separam um as das outras. C erta vez, ouvi um pastor jovem dizer que não queria nin­ guém com mais de 4 0 anos de idade em sua igreja e fiquei im aginando onde ele iria obter os conselhos sábios que norm alm en­ 495 (jo 13 - 16) e de Paulo (At 20:1 7-38 e 2 Tm ), te vêm com a m aturidad e. D ou graças a Deus pelos "Elias" em minha vida que foram pacientes com igo e que dedicaram tempo para me ensinar. Agora, estou tentando com ­ partilhar essa mesma bênção com outros. Preparar para o fu tu ro . Em Betei, Jericó e Gilgal, os dois hom ens visitaram os "discí­ mas o Senhor não deixou registrado o que Elias disse a seus discípulos am ados. Sem dúvida, disse-lhes para obedecerem a Eliseu com o lhe haviam o bedecido , para perm a­ n ecerem fiéis à Palavra de D eu s fazend o tudo o que o Senhor lhes ordenasse ao luta­ rem contra a idolatria na terra. Era responsa­ b ilidade deles ch am ar o povo de volta à obediência à aliança de Deus (D t 27 - 30), para que ele pudesse se agradar em aben­ çoar e curar sua terra. Durante os anos nos quais tive o privilé­ gio de lecionar a alunos de sem inário, ouvia, de vez em quando, alguns deles dizerem : — Por que precisam os estudar? Charles Spurgeon nunca foi para o sem inário, nem Cam pbell Morgan ou D. L . M oody! A o que eu costum ava responder: — Se alguns de vo cês são Spurgeons, M organs ou M o o d ys, sem d ú vid a vam os aca b a r d e sco b rin d o , então lhes darem o s perm issão para interrom perem seus estudos. Deixe-m e lembrá-los, porém , de que Spur­ geon e M o od y fundaram institutos para a instrução de pregadores e de que Cam pbell M organ foi presidente de um a faculdade e tam bém lecionou em várias escolas. Enquan­ pulos dos profetas" (vv. 5, 7, 15; 4 :1 , 38-40; 6:1 , 7; 9 :1 ; ver 1 Rs 2 0 :3 5 ), grupos de ho­ to isso, de volta aos estudos. Deus tem maneiras diferentes de prepa­ m ens consagrado s e cham ad o s por D eus para estudar as Escrituras e ensinar o povo. Sam uel liderou um a dessas "e sco la s" em Ramá (1 Sm 7 :1 7 ; 2 8 :3 ; ver 10:5, 10; 19:20- rar seus servos, mas ainda espera que a ge­ ração mais velha passe adiante à geração m ais nova os tesouros da verd ade co n fia­ dos por seus antecessores, a "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3). R e c a p itu la r o p a ssa d o . G ilgal, Betei e Jericó, bem com o o rio Jordão, eram lugares 23). Esses grupos eram sem elhantes às clas­ ses de d iscip u la d o em no ssas igrejas ou mesm o às escolas bíblicas e sem inários. A obra do Senhor encontra-se sem pre a uma geração da extinção, e devem os o bedecer fielm ente a 2 Tim óteo 2 :2 : " O que de mi­ nha parte ouviste através de muitas testemu­ nhas, isso mesm o transmite a hom ens fiéis e também idôneos para instruir a outros". Aqueles jovens profetas sabiam que seu mestre estava prestes a deixá-los, de modo que esses últimos encontros devem ter sido bastante em o cion ad os. Nas Escrituras, en­ contram os "m ensag ens de d esp edida" de M oisés (o Livro de D euteronôm io), de Josué (Js 23 - 24), de Davi (1 C r 28 - 29), de Jesus im portantes para a história de Israel, sendo que cada um deles transmitia uma m ensa­ gem significativa. Antes de deixar a terra e de ir para o céu, Elias desejava visitar esses lugares pela última vez e levar Eliseu consi­ go. Nosso D eus eterno não habita em luga­ res específicos, mas som os criaturas presas ao tempo e à história e precisam os dessas lem branças visíveis para nos ajudar a recor­ dar e a com p reend er m elhor o que D eus fez por seu povo. O passado não é uma âncora para nos segurar, mas um leme a nos dirigir, e o Senhor pode usar essas "m em órias 496 2 REIS 1 palpáveis" para fortalecer nossa fé. O poeta inglês W . H. Auden escreveu: " O hom em é uma criatura que faz história e que não pode repetir o passado nem deixá-lo para trás". É im portante lem brar o que Deus fez por nós no passado e transm itir esse tesouro para n o sso s filhos e netos (Sl 4 8:9-14; 7 1 :1 7 , 18; 78:1-8; 14 5 :4 ). Esse é um dos temas princi­ pais do discurso de despedida de M oisés à nova geração prestes a entrar na Terra Pro­ m etida (D t 4 :9 , 10; 6:4-9; 11:19-21; 2 9 :2 9 ). O verbo "lem brar" aparece quatorze vezes em D euteronôm io e "esq u ecer", pelo me­ nos nove vezes. Gilgal (v. 1) foi o prim eiro lugar onde os israelitas acam param depois de atravessar o rio Jordão e de entrar na Terra Prom etida (Js 4 :1 9 , 20). Foi nesse local que a nova gera­ ção de hom ens israelitas submeteu-se à cir­ cu n cisão , tornando-se oficialm en te "filhos da aliança" (Js 5:2-9). Gilgal foi o lugar de recom eços, e Elias queria que seu sucessor se lem brasse disso. C a d a nova geração é um a oportunidade para D eus levantar no­ vos líderes, e cada vez que o povo se arre­ p e n d e e v o lta p ara o S e n h o r, ele pode restaurá-lo e renová-lo. Na ép oca de Elias, Gilgal era um centro de adoração idólatra (O s 4 :1 5 ; 9 :1 5 ; 12 :1 1 ; Am 4 :4 e 5:5 ), mas Elias não o abandonou. D e Gilgal, os dois hom ens cam inharam até Betei (vv. 2, 3), cerca de 25 quilôm etros a oeste de G ilgal. Abraão adorou em Betei (G n 1 2 :8 ; 13:3), com o tam bém o fez Jacó. Foi em Betei que Jacó viu os anjos subindo e descendo a escada (ou escadaria) que al­ cançava o céu. Foi lá que D eus prometeu estar com ele e cuidar dele (G n 28:11-19). O nom e Betei quer dizer "casa de D eu s"; nesse local, Jacó adorou ao Senhor e jurou lhe obedecer. Vários anos depois, Jacó vol­ tou a Betei e, assim com o Abraão (G n 13:3), recom eçou sua cam inhad a com o Senhor (G n 35). O rei Jeroboão havia colocado um bezerro de ouro em Betei e feito da cidade um local de adoração idólatra (1 Rs 12:2632 ; Am 3 :1 4 ; 4:4-6), mas Elias olhou além da profanação da cidade em sua ép o ca e viu um tempo em que aquele foi um lugar de bênção e de renovação. Em Betei, os discípulos conversaram com Eliseu sobre a partida de seu mestre. Talvez pensassem que Eliseu estivesse a par de algo que ninguém mais sabia, uma atitude nada incom um entre aprendizes. A m esma cena repetiu-se quando Elias e Eliseu chegaram a Jericó (v. 5). Nas duas cidades, Eliseu garantiu educad am ente aos discípulos que sabia o que estava prestes a ocorrer, mas que dis­ cutir a questão só aum entava a dor da se­ paração de seu m estre. A abordagem dos discípulos àquilo que Deus estava fazendo era puram ente in telectu al, enquanto para Eliseu, a perda de seu mestre querido trazia dor ao coração. A m arca de um verdadeiro aprendiz das Escrituras é um coração arden­ te, não um cérebro extraordinário (Lc 2 4 :3 2 ; 1 C o 8:1 ). O s dois hom ens andaram mais 20 quilô­ metros para oeste até Jericó , lugar da pri­ meira vitória de Josué na Terra Prom etida (Js 5:13 - 6 :2 7 ). Tam bém foi o local onde Acã desobedeceu e tomou despojos que perten­ ciam som ente ao Senhor, um pecado que causou a derrota de Israel em Ai (Js 7). Sem dúvida, a vitória m aravilhosa em Jericó mos­ trou a Israel com o conquistar a terra: rece­ bam suas ordens do Senhor; obedeçam-lhes pela fé, por mais absurdas que pareçam ; dêem toda a glória som ente a D eus. Nas duas ocasiões em que Josué não seguiu essa fórm ula, o líder e seu exército foram derro­ tados (Js 7 e 9). Josué havia am aldiçoado q u alq u e r um que re co n stru ísse Je ricó (Js 6 :2 6 ), mas a cidade havia sido reconstruída durante o governo do perverso rei A cab e (1 Rs 1 6 :3 4 ). Para Eliseu, Jericó lembrava a vitória da fé, a tragédia do pecado e a majes­ tade do Senhor que m erece toda a glória. Elias e Eliseu andaram 8 quilôm etros para o leste e chegaram ao rio Jordão, onde, sem dúvida, lhes veio à mente e tam bém à con­ versa o relato de Josué 1 a 4. O Senhor abriu o mar Verm elho para deixar seu povo sair do Egito (Êx 12 - 15) e, depois, abriu o rio Jordão para deixar que entrassem na heran­ ça prom etida. D e que adianta a liberdade quando não se toma posse da herança? En­ quanto a nação seguia a arca da aliança, o Senhor abriu as águas do rio, cujo volum e 2 RE I S 1 497 havia aum entado com as cheias, e o povo atravessou em terra seca! Para com em orar esse milagre, Josué ergueu um monum ento que podem os deixar é um servo preparado para assum ir nosso posto! no meio do rio e outro na margem . Nada era difícil dem ais para o Senhor, pois para Deus todas as coisas são possíveis! E Elias repetiu o grande milagre! Esse é um bom m om ento para mostrar as sem elhanças entre M oisés e Elias. O s dois separaram as águas - M oisés, do mar Ver­ melho (Êx 1 4 :1 6 , 21, 26 ); Elias, do rio Jordão. O s dois fizeram descer fogo do céu (Êx 9 :2 4 ; Lv 9 :2 4 ; Nm 11:1 e 1 6 :3 5 ). O s dois viram o Senhor prover alim ento - M oisés testem u­ nhou o maná (Êx 16) e as co d ornizes (Nm 11); Elias, o azeite e a farinha para a viúva, além das próprias refeições (1 Rs 17:1-16). Na terra do Egito, M oisés orou e Deus alte­ rou as condições do tem po, enquanto Elias orou e Deus fez cessar as chuvas e, depois de três anos, fez voltar a chover. M oisés deu 3 . D e u s re c o m p e n sa o s e r v iç o a lei ao povo de Israel; Elias cham ou o povo a arrepender-se e voltar para o verdadeiro Deus vivo. O s dois foram associados a mon­ tes (Sinai e C arm elo) e os dois caminharam pelo deserto. O s dois tiveram finais singula­ res para a vida: Deus sepultou M oisés num lugar onde ninguém poderia encontrá-lo e levou Elias para o céu num redem oinho. Tan­ to M oisés quanto Elias tiveram o privilégio de estar presentes com Jesus no monte da transfiguração (M t 17:4; M c 9 :5 ; Lc 9:3 3 ). Elias é um bom exem plo a ser imitado pelos cristãos com referência ao fato inevi­ tável de que, um dia, deixarem os esta terra, quer pela m orte quer pelo arrebatam ento da Igreja. Em vez de ficar sentado sem fazer co isa algum a, visitou três das esco las de profetas e, sem dúvida, ministrou a seus dis­ cípulos. Não disse a seu sucessor: "vou te d e ix a r", fixand o-se, desse m o do, no asp e c­ to negativo, mas sim: "Vou para Betei, para Jericó e para o Jordão" e se manteve ocupa­ do até o último instante, quando o Senhor o cham ou. Além disso, não pediu a seus su­ cessores que lhe dessem coisa alguma, pois não há o que possam os levar cono sco da terra para o céu (1 Tm 6 :7 ). Em vez disso, antes de chegar seu fim, ofereceu um pre­ sente a Eliseu.2 U m dos m elhores presentes (2 Rs 2:7-12) Enquanto Elias e Eliseu encontravam -se à beira do rio Jordão, estavam sendo observa­ dos à distância por cinqüenta discípulos dos profetas. Sabiam que Elias iria partir naquele dia (vv. 3 e 5), mas não sabiam com o seria sua partida nem quando D eus iria chamálo. E bem provável que som ente Eliseu viu que Elias foi arrebatado (v. 10), e depois que o profeta desapareceu, os cinqüenta discí­ pulos pensaram que, na verdade, ele não os havia deixado (vv. 16-18). Viram Elias abrir as águas do Jordão e fechá-las outra vez, mas não viram o que Eliseu viu quando o rede­ moinho levou Elias para o céu. O s cinqüen­ ta hom ens foram espectado res apenas de parte do que ocorrera, mas Eliseu foi partici­ pante do milagre e herdeiro do m inistério de Elias. Elias não co nced eu três desejos a seu sucessor, mas sim plesm ente lhe pediu que dissesse qual era o presente que desejava mais do que qualquer outra coisa. Todo lí­ der precisa ter suas prioridades em ordem , e Eliseu soube o que responder: desejava uma porção dupla do espírito de seu mes­ tre. Não se tratava de um pedido para rece­ ber o dobro do Espírito Santo ou de ter um ministério duas vezes maior que o de Elias, mas sim de ter mais do espírito interior que motivou o grande profeta. Seu pedido ba­ seou-se em D euteronôm io 2 1 :1 7 , a lei da herança do prim ogênito. A p esar de haver muitos "discípulos dos profetas" que eram com o filhos, Eliseu considerava-se o "filho prim ogênito" de Elias, que m erecia a heran­ ça d obrada que M o isés havia o rd e n ad o . C o m o um p rim o g ê n ito se rv in d o ao pai, Eliseu havia cam inhado com Elias e cuidado de suas necessidades (3 :1 1 ; 1 Rs 1 9 :2 1 ), mas a única herança que desejava era uma por­ ção dupla do espírito interior da coragem , fidelidade, fé em Deus e obediência à von­ tade de Deus que seu mestre possuía. Com esse pedido, Eliseu estava aceitando o mi­ nistério profético que Elias havia com eçado 498 2 RE I S 1 - 2 e declarando que, com a ajuda de D eus, o levaria adiante até sua conclusão. Elias foi sincero com o amigo e lhe disse que não tinha o poder de co n ceder tal pre­ sente, pois apenas o Senhor poderia fazê-lo. Porém , se o Senhor perm itisse que Eliseu visse Elias ser levado da terra para o céu, seria prova de que seu pedido havia sido atendido. E foi então que aco n te ceu ! En­ quanto os dois amigos cam inhavam e con­ versavam , uma carruagem de fogo puxada por cavalos flam ejantes passou entre os dois e um redem oinho levou Elias em bora - e Eliseu viu o qu e aconteceu ! Isso significava que seu pedido havia sido atendido e que o Senhor o havia equipado para dar continui­ dade ao ministério de Elias. Sem dúvida, Elias foi o "profeta do fogo", pois as Escrituras registram pelo menos três ocasiões nas quais ele fez descer fogo do céu (1 Rs 1 8 :3 8 ; 2 Rs 1:10, 12), de modo que foi apropriado Deus enviar cavalos e um carro de fogo para acom ­ panhar seu servo à glória. Eliseu reagiu com tristeza, com o um fi­ lho que lam enta a m orte do pai querido. Porém , fe z um grande tribu to a Elias ao chamá-lo de "carros de Israel e seus cavalei­ ros" (v. 12) - um único hom em equivalente a um exército inteiro! Em sua aliança com Israel, o Senhor prometeu que, se a nação o bedecesse a ele, faria com que cem israe­ litas fossem cap azes de perseguir dez mil soldados inimigos (Lv 26:6-8), e M oisés pro­ meteu que Deus faria um hom em perseguir mil e dois homens perseguirem dez mil (Dt 3 2 :3 0 ). Aquele que está com Deus está em m aioria. 4. D e u s h o n r a a fé (2 Rs 2:13-25) Elias havia partido, e Eliseu não poderia mais lhe pedir ajuda, mas o Deus de Israel conti­ n uava assen tad o em seu tro n o . D aq u e le m omento em diante, a fé de Eliseu lhe daria acesso ao poder de Deus e o capacitaria a realizar a obra do Senhor em Israel. O texto registra três m ilagres, sendo que cada um deles constitui uma mensagem espiritual que devem os com preender nos dias de hoje. A tra v e s s ia d o rio (v v . 1 3 -1 8 ). Por que Elias saiu da Terra Prom etida e foi para o outro lado do Jordão? Estava abandonando seu país e seu povo? Sem dúvida, o redemo­ inho de D eus poderia tê-lo levado com a m esm a facilidade de Betei ou Jericó. Em ter­ mos técnicos, Elias ainda estava em territó­ rio israelita quando cruzou o rio, um a vez que Rúben, G ad e e a meia tribo de M anassés tinham sua herança a leste do Jordão. Po­ rém, a questão ia além do aspecto técnico, pois, ao levar Eliseu para o outro lado do Jordão, Elias obrigou-o a confiar que Deus o conduziria de volta à outra margem! O su­ cessor de Elias viu-se na m esm a situação que Josué: precisava crer que D eus abriria, com o de fato abriu, o rio para ele. O s discípulos que observavam a cena devem ter se per­ guntado o que seu novo líder iria fazer. Ao tom ar o manto de Elias, Eliseu estava deixando claro qu e aceitava as responsabili­ dades envolvidas em assum ir a sucessão do grande profeta e em continuar seu trabalho. A o usar o manto para abrir as águas do Jor­ dão, estava declarando que sua fé não se encontrava no profeta que havia partido, mas no D eus vivo e sem pre presente. Sem dúvi­ da, devem os honrar a m em ória e as realiza­ ções dos líderes que partiram. "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de D eus; e, considerando atentam en­ te o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram " (H b 13:7). Porém , um número excessivo de fundadores e de líderes falecidos ainda con­ trola do túm ulo os ministérios que costum a­ vam exercer, e seus sucessores encontram enorm es dificuld ades em fazer as m udan­ ças necessárias para a sobrevivência do tra­ balho. Eliseu não com eteu esse erro, pois pediu ao D eus de Elias que o ajudasse, e o S enho r honrou sua fé. Eliseu não era um clone de Elias, mas os dois homens tinham uma coisa em com um : am bos tinham fé no D eu s vivo e verd ad eiro . Por esse m otivo, H ebreus 1 3 :7 ordena que nos lem brem os dos líderes espirituais do passado e que "[im i­ temos] a fé que tiveram ". A travessia m iraculosa do rio Jordão por Eliseu não apenas dem onstrou o poder de Deus e a fé de seu servo, mas tam bém anun­ ciou aos discípulos dos profetas que Eliseu era seu novo líder. Q u an d o D eus abriu o 2 REIS 1 - 2 jordão para que Israel atravessasse, usou o milagre a fim de eng randecer o nom e de Josué e de declarar que sua mão estava so­ bre o novo líder (Js 3:7 , 8; 4 :1 4 ). A . W . Tozer costum ava dizer, com razão, que "não é a votação que faz o líder". Q u alqu er que te­ nha sido sua form a de treinam ento ou de seleção, os verdadeiros líderes espirituais ga­ rantem a seus seguidores que possuem um cham ado divino ao dem onstrar o poder de Deus em sua vida. "Assim, pois, pelos seus frutos os co n hecereis" (M t 7:20). O s cinqüenta discípulos dos profetas que viram Eliseu atravessar o Jordão em terra seca não tiveram dificuldade em sujeitar-se a ele e em aceitar sua liderança, pois o poder Deus era evidente em seu ministério. Porém , os cinqüenta discípulos não acre­ ditaram que seu líder anterior havia, de fato, ido para o céu e pediram uma verificação no local. D eus havia m ostrado claram ente que Eliseu era seu novo líder, então por que procurar Elias? E por que o Senhor tomaria seu servo num redem oinho só para, depois, abandoná-lo em alguma parte erm a da ter­ ra? Era a um D eus assim que serviam ? Além disso, era impossível aos discípulos fazer uma busca p o r toda a terra, então p o r que se­ quer com eçar? A idéia toda era ridícula, e Eliseu só perm itiu que se fÍ2 esse a busca porque se aborreceu com os repetidos pe­ didos deles. O s novos líderes não devem irritar-se com o interesse de seus seguidores pelo líder anterior. Q u an d o os grupos de busca reportaram -se de volta a Eliseu em Jericó, pelo menos ele teve o privilégio de dizer: "Eu disse!" O saneamento das águas más (vv. 192 2 ). Não apenas os discípulos dos profetas foram leais a Eliseu, com o também os líde­ res de Jericó o respeitaram e buscaram sua ajuda. N ão deve nos su rp reen d er que as águas de Jericó fossem desagradáveis e que 499 que o sal tinha sentido de am izad e e de lealdade entre as pessoas e entre D eus e os hom ens. O sal não purificou a água nem tratou o solo - isso foi obra de D eus. Esse milagre nos lem bra do que aconteceu em M ara ("am argo"), quando M oisés saneou a água lançando nela um pedaço de uma ár­ vore (Êx 1 5:22-26). Em M ara, Deus se revelou a seu povo com o "Jeová-Rafá - o Senhor que sara". Para quem visita Jericó hoje em dia, os guias turísticos mostram a "fonte de Eliseu" e convidam a experim entar a água. Tem os, mais uma vez, um milagre que se refere a um recom eço. Tanto que Eliseu tirou o sal que usou de um prato novo. O m ilagre foi um "serm ão prático" que lem ­ brou o povo de que as bênçãos de Deus estavam sobre a nação leal a sua aliança. D eso bedecer à lei significava perder as bên­ çãos do Senhor (D t 28:1 5ss). O julgam ento dos escarnecedores (vv. 2 3 -2 5 ). Esse a c o n te cim e n to o co rre u em Betei, um dos centros de idolatria em Israel (1 Rs 12:28-33; Am 7:1 3 ). O term o hebraico traduzido por "rapazinhos" quer dizer "jo ­ vens" ou "rapazes" e se refere a pessoas de 12 a 3 0 anos de idade, capazes de discernir o certo e o errado e de tomar as próprias decisõ es. Não se tratava de um grupo de garotos se fazendo de espertinhos, mas sim de um a gangue de jovens arrogantes ridi­ cularizando m aliciosam ente a Deus e a seu servo. A expressão "S o b e!" refere-se à ascen­ são recente de Elias ao céu. C inqüenta ho­ mens viram Elias desaparecer da terra num instante e, sem dúvida, contaram o que ha­ via ocorrido, de modo que o acontecim en­ to provavelm ente foi assunto de inúm eras seu solo fosse im produtivo, pois a cidad e estava d e b aixo de m a ld ição (Js 6 :2 6 ). O israelita do Antigo Testam ento considerava o sal em relação à aliança com D eus (Nm 1 8:19) e à pureza pessoal na adoração (Lv conversas. Na verdade, os jovens estavam dizendo: "Se vo cê é m esm o um hom em de Deus, por que não vai para o céu com o Elias foi? Q u e bom que ele partiu; e seria bom se você seguisse o mesm o cam inho!" Um jovem cham ar um homem adulto de "calvo" era um grave desrespeito, e repetir o apelido tornava a ofensa ainda maior. O 2 :1 3 ). A expressão "co m er sal" significava "co m partilhar da h ospitalidade", de m odo cabelo grisalho era uma "co ro a de honra" (Pv 16:31) para os israelitas, mas a calvície 500 2 RE I S í - 2 era algo raro em seu m eio e considerada por alguns com o uma desgraça (Is 3 :2 4 ). O que tem os aqui é um a gangue de para a capital, e U zá foi morto por haver to­ cado na arca (2 Sm 6:1-7). Q uando Ananias e Safira mentiram aos líderes da Igreja primiti­ d eso rd eiro s irreveren tes e d esresp eito so s zo m band o do servo de D eus e repetindo palavras que, provavelm ente, ouviram em va, Deus tirou a vida do casal (At 5). Aqui, no co m e ço do m inistério de Eliseu, o ataque sofrido pelos jovens serviu de aviso claro de que o Senhor Deus de Elias ainda estava rei­ nando e ainda levava sua aliança a sério. A atitude dem onstrada por esses jovens espalhou-se pela terra e foi o que, por fim, levou à queda tanto de Sam aria quanto de Judá. " O S e n h o r , D eus de seus pais, com e­ ça n d o de m a d ru g a d a, falo u-lh es por in ­ casa ou nas ruas da cidade. Um a vez que co nhecia a Palavra de Deus, Eliseu sabia que os insultos dos rapazes eram uma transgres­ são da aliança com D eus, de modo que in­ vocou uma m aldição sobre eles. (U m a das advertências da aliança era que Deus envia­ ria animais selvagens para atacar o povo. Ver Lv 2 6 :2 1 , 2 2 .) Esses rapazes não estavam mostrando respeito para com o Senhor Deus de Israel nem para com Elias ou Eliseu, de m odo que precisavam ser julgados. As duas ursas feriram os jovens, mas não os m ata­ ram, e, para o resto da vida deles, as cicatri­ zes que ficaram serviram para lembrá-los de que não poderiam brincar com o Senhor e escapar incólum es. É com um ver o Senhor enviando julga­ mentos especiais no co m eço de um novo período da história bíblica, com o se Deus estivesse alertando seu povo para o fato de que um recom eço não significa que as re­ gras antigas m udaram. D epois do início do m in isté rio no ta b e rn á c u lo , D e u s m atou Nadabe e Abiú por terem oferecido "fogo estranho" perante o Senhor (Lv 10). D epois da primeira vitória de Israel na Terra Prom e­ tida, D eus ordenou que A cã fosse m orto por ter tomado para si tesouros dos despojos de guerra que haviam sido inteiramente consa­ grados a Deus (Js 7). No início do reinado de Davi em Jerusalém , o novo rei providen­ ciou para que a arca da aliança fosse levada 1. term édio dos seus m ensag eiro s [...]. Eles, porém , zo m bavam dos m ensageiros, des­ prezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do S e n h o r contra o seu povo, e não houve re­ médio algum " (2 C r 3 6 :1 5 , 16). Eliseu havia estado com Elias em Gilgal, Betei e Jericó e havia atravessado o rio Jordão com ele, mas nesta ocasião foi ao monte C arm elo, ao local do m aior triunfo de Elias. Tanto quanto sab em o s, Eliseu não estava presente quando Elias fez de scer fogo do céu. Talvez, ao visitar o local onde havia fi­ cado o altar, Eliseu tenha m editado sobre o que o Senhor havia feito e seu espírito te­ nha sido renovado. Sem dúvida, deu graças a D eus por ser parte de uma herança tão m aravilhosa. No entanto, não se pode viver no passado, de m odo que partiu daquele local sagrado e foi para Sam aria, capital do reino do Norte e lar do rei Jorão, filho de A cab e. Lá, se envolveu em uma guerra que juntou Israel, Judá e M oabe contra Edom, sendo que o profeta deu aos três reis a arma para conquistar a vitória. Tiago e João haviam estado com Elias no monte da Transfiguração e quiseram imitá-lo pedindo fogo dos céus sobre seus "inimigos". Jesus os repreendeu (Lc 9:52-58). A reação cristã apropriada à oposição encontra-se descrita em M ateus 5:38-48 e Romanos 12:14-21. 2. A inferência, nesse caso, é que, depois de ir para o céu, Elias não poderia mais fazer coisa alguma por Eliseu. Ver Lucas 16:19-26. 2 G raça M a r a v il h o s a ! 2 R eis 3 - 4 esde o início de seu m inistério, Eliseu mostrou ser um operador de milagres com o Elias, seu m estre e antecessor, pois abriu o rio Jordão e o atravessou em terra seca e, depois, purificou a água de Jericó. Exceto pelo julgam ento invocado sobre um grupo de jo v e n s arrogantes (2 :2 3 -2 5 ), os milagres de Eliseu foram , antes de tudo, re­ velações da graça e m isericórdia de Deus. Elias nos lem bra de João Batista, com seu m achado, a pá de limpar a eira e o batismo de fogo (M t 3:1-12; Lc 1 :1 7), enquanto Eliseu nos lem bra de Jesus, que se com p adeceu das m ultidões e que "andou por toda a par­ te, fazendo o bem " (At 1 0 :3 8 ). O s seis mila­ gres registrados nestes dois capítulos, sem dúvida, exaltam a graça de Deus. D 1. A G R A ÇA DERRO TA O IN IM IG O (2 Rs 3:1-27) Q uando A cazias m orreu, seu irm ão, Jorão, subiu ao trono de Israel (1 :1 7 ). Jorão tam­ bém era cham ado de Jeorão, mas com o esse era tam bém o nom e do filho de Josafá e coregente de Judá, d ifere n ciarem o s os dois cham ando o rei de Israel de Jorão. Um a vez que era filho de A cab e e de Jezabel, dificil­ mente se pode dizer que o novo rei era um hom em piedoso. Pelo menos, removeu uma imagem consagrada a Baal (1 Rs 1 6 :3 2 , 33) e dem onstrou certo respeito por Eliseu. Po­ rém, nem a adoração a Baal e nem os beze­ rros de ouro foram tirados da terra durante seu reinado; a coluna de Baal que Jorão re­ moveu foi devolvida a seu lugar e Jeú teve de destruí-la (2 Rs 10:27). Um a rebelião cara (w . 4-8; ver 1:1). A ter­ ra de M oabe era particularmente apropriada para a criação de ovelhas, mas o tributo de cem mil cordeiros e da lã de cem mil car­ neiros, pago anualm ente a Israel, era, sem dúvida, pesado. A morte de A cab e e o bre­ ve reinado de A cazias, que durou menos de dois anos, deram a M esa a chance de rebe­ lar-se. Q uand o Jorão, um hom em mais jo ­ vem , assumiu o trono de Israel, pareceu uma ocasião oportuna parar M oabe libertar-se, de um a v e z por todas, do jugo israelita. No entanto, Jorão não queria perder toda essa renda nem desejava que o povo pensasse que era um governante fraco, de modo que realizou um censo militar e se preparou para a guerra. Jeorão, na época co-regente de Judá, era casado com A talia, irmã de Jorão, e, portan­ to, pareceu correto Jorão pedir ao rei Josafá q ue o aco m p an h asse na ca m p an h a para castigar M oabe. Um ano antes, os moabitas e am onitas haviam declarado guerra a Judá, e Josafá havia conquistado a vitória absolu­ ta sobre eles com a ajuda do Senhor (2 C r 20 ). Jorão queria aliados desse tipo a seu lado! O s dois reis decidiram não atacar pelo norte, pois a fronteira nessa região de M oabe era extrem am ente fortificada e havia a pos­ sibilidade de os am onitas interferirem . Em vez disso, resolveram realizar um ataque pela extrem idade sul do mar M orto. O exército de Jorão iria m archar até o Sul, atravessan­ do Judá, juntar-se aos hom ens de Josafá e, então, os dois exército m archariam por Edom e se reuniriam ao exército edom ita na frontei­ ra Sul de M oabe, uma região mais vulnerável. U m e x é rc ito n e c e ssita d o (vv. 9-14). O plano era bom , e o exército de Jorão saiu de Sam aria; depois de três dias de m archa, juntou-se ao exército de Josafá em Judá, pro­ vavelm ente em Jeru salém . Então, os dois exércitos seguiram para o sul rumo a Edom, uma jo rnada de cerca de quatro dias. Assim , depois de sete dias de m archa, os exé rci­ tos chegaram ao vale situado na extre m i­ dade sul do m ar M orto, entre os m ontes de Judá e de M o abe. Tudo estava indo bem, até que a água acabou. O s soldados esta­ vam sedentos; os anim ais de carga e o gado que serviria de alim ento tam bém p recisa­ vam de água. 502 2 REIS 3 - 4 Num esquecim ento conveniente de que Baal, o deus de seu pai, era o deus da chuva, o rei Jorão reagiu a essa situação culpando o Senhor por sua dificuldade (v. JO). Josafá, no entanto, sugeriu que consultassem o Se­ nhor e descobrissem o que ele desejava que fizessem . H avia dado o mesm o conselho a A cab e alguns anos antes, quando os dois haviam unido forças para lutar contra os siros (J Rs 22). Jorão não co nhecia nenhum pro­ feta do Senhor; nem sequer sabia que Eliseu estava por perto. Um de seus oficiais teve de lhe dizer que o profeta havia se juntado aos so ldado s, sem d úvid a sob o rientação divina. N aquele m om ento, Eliseu era o ho­ mem de m aior valor em todos os exércitos co m b in ad o s das três naçõ es. Eliseu havia com parado Elias ao exército de Israel (2:12), mas naquela ocasião , seu poder foi m aior do que três exércitos! O texto não diz onde Eliseu estava, mas os três reis se humilharam e foram pedir a ajuda do profeta. Q u an d o Josafá uniu-se a A cab e para lutar contra os siros, o profeta do Senhor repreendeu-o por sua transigên­ cia (2 C r 19:1-4), mas dessa vez a presença de um descendente do rei Davi foi a chave para a vitória. Eliseu deixou claro que não desceria das m ontanhas e cobriria a planí­ cie árida. Parte dessa água seria coletada nas valas e poderia ser usada para saciar a sede dos hom ens e dos anim ais. Porém , D eus também usaria esses reservatórios para en­ ganar e derrotar os moabitas, mas Eliseu não explicou de que m aneira isso aconteceria. Eliseu acrescentou, ainda, que Deus ca­ pacitaria os três exércitos a derrotar os m oa­ bitas, mas a vitó ria deveria ser com p leta. Precisariam destruir, pedra por pedra, todas as cidades fortificadas de M o abe e lançar pedras nos ca m p o s. D e ve ria m , tam b ém , derrubar as árvores e fechar todas as fontes de água.1 Em outras palavras, os três exérci­ tos teriam de destruir os recursos de M oabe para que os m oabitas não tivessem com o se reagrupar e co m eçar a contra-atacar. O s sace rd o tes em Jeru salém estavam oferecendo os sacrifícios matinais quando a ch u va que caiu nas m ontanhas desceu e inundou o vale. A água encheu as valas, for­ mando grandes poças na terra, e os solda­ dos, o gado e os anim ais de carga puderam saciar sua sede. Porém, o exército m oabita reunido na fronteira nem suspeitou da chu­ va! D eus providenciou para que o reflexo do sol nas poças de água parecesse sangue, e os moabitas foram levados a pensar que os três exércitos haviam acabado uns com os outros. (O que, de fato, havia acontecido estava ajudando Jorão, filho de A cab e, mas sim Josafá, filho de D avi. M ais um a vez, foi a aliança de Deus com Davi que trouxe a gra­ entre os exércitos de M oabe, Am om e Edom ça de Deus e seu salvam ento para o povo. quando atacaram o rei Josafá; 2 C r 20:22A resposta de Jorão tem um tom claro de 30.) Confiantes de sua segurança e da opor­ incredulidade: — Estamos todos juntos nessa situação e tunidade de conseguir riquezas, os moabitas correm os o risco de ser derrotados! atacaram o acam p am en to dos três reis e sofreram derrota absoluta, sendo persegui­ M as em se tratando de confrontar reis, dos enquanto batiam em retirada. Eliseu era tão audaz quanto Elias, seu mentor. Uma intervenção divina (vv. 15-27). A O s três exércitos obedeceram às ordens de D eus e entraram em M o ab e d eterm i­ m úsica do harpista trouxe tranqüilidade à mente e ao coração do profeta, ajudando-o nados a destruir as cidades e a causar o má­ a aum entar sua com unhão com o Senhor, xim o possível de estragos a seus recursos naturais. O rei de M oabe e seu exército re­ depois do que Eliseu revelou o plano de cuaram para Quir-H aresete, capital de M oa­ D eus. O s reis deveriam dar ordem a seus be na época, e o exército invasor levantou soldados para que cavassem valas ou covas um c e rco , m as não co nseguiu penetrar a no vale seco. Então, D eus m andaria chuva cidade. O rei m oabita tentou rom per as fren­ para as m ontanhas distantes, mas o exército dos moabitas não ficaria sabendo, pois não tes de Edom, talvez com a finalidade de per­ haveria som algum de vento nem de tem­ suadir seus antigos aliados a ajudá-lo, mas pestade. A chuva criaria uma enchente que seu plano não funcionou. Seu último passo 2 REIS 3 - 4 503 foi apelar para o deus Q uem o s e lhe ofere­ cer a vida do príncipe herdeiro. Realizou o sacrifício em público, no muro da cidade; com o resultado, os exércitos suspenderam o cerco e voltaram para suas terras. fazer alguma coisa e se, de fato, tom aria uma providência (vv. 10, 13), e Eliseu deixou cla­ ro que ele não dava atenção ao rei apóstata (vv. 13, 14). No entanto, Jorão estava parti­ cipando da grande vitória decorrente da fé Uma conclusão estranha (v. 2 7 ). ]orão co nseguiu castig ar M o ab e por qu ebrar o do rei de Judá! Talvez o S en h o r tenha de­ monstrado sua ira som ente contra o exérci­ to de Israel para ensinar uma lição a Jorão, assim com o havia enviado a seca e fogo do céu para ensinar uma lição a seu pai, A ca­ be. Q uand o Israel teve de deixar o cam po, os outros dois exércitos partiram com eles, acabando, desse m odo, com o cerco. A ca­ acordo com Israel, mas o que exatam ente levou a guerra a terminar? A oração "houve grande ira contra Israel" pode ser traduzida de várias form as, inclusive por: "Tam anha foi a consternação dos israelitas ao verem o que o rei havia feito que levantaram acam pam en­ to e voltaram para sua própria terra". Não podem os crer que o falso deus Q u e ­ mos tenha feito algo para im pedir os invaso­ res ou que Jeová tenha perm itido que um sacrifício pagão brutal tirasse a glória de seu nome. "Eu sou o S e n h o r , este é o meu nom e; a m inha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultu­ ra" (Is 4 2 :8 ). A ssim , restam duas possibili­ dades. Talvez o sacrifício tenha renovado a coragem e o zelo dos m oabitas, de modo que seu exército atacou com novo entusias­ mo e expulsou os invasores. O u , talvez, a repugnância dos israelitas ao verem o sacri­ fício tenha sido tanta que juntaram suas co i­ sas e partiram, e os outros reis seguiram com seus exércitos. O sacrifício hum ano era proi­ bido pela lei de M oisés (Lv 20:1-5), e é pos­ sível que Josafá tenha se sentido culpado por seu ce rco haver causad o a m orte do príncipe herdeiro. Porém , os três exércitos haviam exterm inado um a multidão no cam i­ nho para M oabe, e não é provável que la­ m entassem a morte do sucessor do rei. Além disso, o texto enfatiza Israel e não Judá, e o rei Jorão de Israel não se perturbaria com a oferta de sacrifício hum ano. Afinal, vinha de uma fam ília de assassinos! Se o Senhor enviou sua ira conta Israel, então por que o fez? Julgou som ente o rei Jorão e seu e xé rcito (Israel = o reino do Norte) ou Israel e Judá em conjunto? A o lon­ go do texto, a designação "Israel" refere-se ao reino do Norte e não às tribos unidas, de m odo que o alvo deve ter sido Jorão e o exército de Israel. Em duas ocasiões, Jorão havia questio nado se Jeová era ca p a z de pital não foi destruída, e o rei m oabita e seu exército não foram capturados e mortos, o que, portanto, redundou numa vitória incom ­ pleta. Porém , por am or à casa de Davi, em sua graça, Deus deu a vitória aos três reis. 2. A G R A Ç A P A G A A D ÍV ID A (2 Rs 4:1-7)2 D e p o is do grande co n flito in te rn acio n a l, Eliseu voltou aos assuntos das esco las de profetas - um verdadeiro líder espiritual se preocupa com os indivíduos - seguindo o exem plo de seu mentor, Elias, que havia mi­ nistrado às famílias (1 Rs 1 7:8-24). O fato de a m ulher ser uma viúva e mãe de dois filhos mostra que os discípulos dos profetas não eram um grupo m onástico celib atário. Eli­ seu conhecia o homem em questão e sabia que era reputado por sua piedade. Sua mor­ te havia acabado com qualquer renda que porventura recebia, e, naquele tem po, era extrem am ente difícil para um a viú va criar dois filho s sem esse sustento. M esm o as pessoas consagradas e que estão se prepa­ rando para o ministério passam por prova­ ções e dificuldades. D e acordo com a lei hebraica, um cre­ dor poderia tom ar um devedor e seus filhos com o servos, mas não deveria tratá-los com o escravos (Êx 21:1-11; Lv 25:29-31; Dt 15:11 1 ). S eria um a grande tristeza para essa m ulher perder o marido para a morte e os dois filhos para a servidão, mas Deus é aque­ le que "faz justiça ao órfão e à viúva" (Dt 1 0 :1 8 ; Sl 6 8 :5 ; 146:9) e enviou Eliseu para ajudá-la.3 C om freqüência, Deus parte daquilo que já temos. M oisés tinha em mãos um bordão, 504 2 REIS 3 - 4 e Deus usou esse instrumento para realizar grandes coisas (Êx 4 :2 ). Pedro e seus com ­ panheiros tinham em m ãos suas redes de pescar (Lc 5), e o m enino tinha alguns pães e peixes (Jo 6). Tudo o que a pobre viúva tinha era um pouco de azeite numa botija, mas "no que se refere a D eus, um pouco pode ser m uito". A maioria das vizinhas da viúva tinha em casa vasilhas vazias que não estavam sendo usadas, de m odo que, ao pegar emprestadas essas vasilhas, a viúva não estava roubando ninguém, e uma vez que tivesse vendido o azeite, poderia devolvêlas. Eliseu instruiu-a a fechar a porta, a fim de que ninguém visse que um milagre esta­ va ocorrendo em sua casa; sem dúvida, ela advertiu os filhos a não com entarem sobre o assunto. A quantidade de azeite que rece­ beu foi limitada apenas pelas vasilhas dispo­ níveis e isso, por sua vez, foi determ inado por sua fé (ver também 2 Rs 13:10-19). "Façase-vos conform e a vossa fé" (M t 9 :2 9 ). O dinheiro da vend a do azeite foi suficiente para pagar a dívida e prover o sustento para ela e seus dois filhos. Nem sem pre o Senhor realiza milagres desse tipo para nos ajudar a pagar nossas dívidas, mas ele supre nossas necessidades, se crerm os e obedecerm os. Se entregarmos tudo a ele, Deus pode fazer com que uma pequena quantia tenha um grande rendim en­ to. Esse milagre também nos lembra do maior milagre de todos: o perdão, pela graça, de todas as nossas dívidas com o Senhor por intermédio da fé em Jesus Cristo (Lc 7:3650; Ef 1:7; Cl 2 :1 3 ). Eliseu não teve de pagar coisa alguma para que D eus provesse o di­ nheiro necessário a fim de quitar a dívida, mas Jesus Cristo teve de pagar com sua vida para que nossos pecados fossem perdoados. 3. A g r a ç a d á v id a (2 Rs 4:8-37) Suném ficava pouco mais de 30 q uilô m e­ tros a noroeste de Abel-M eolá, cidade natal de Eliseu, e cerca de 40 quilôm etros depois de Suném ficava o monte Carm elo (ver o v. 25 ). Alguém viajando a pé poderia percorrer, em média, cerca de 25 a 30 quilôm etros por dia, de modo que Suném era muito bem lo­ calizad a para Eliseu quando ele ia ao monte C arm elo orar, m editar e bu scar o Senhor de algum a outra m aneira. U m a vez que o m onte C arm elo era um lugar muito espe­ cial por causa do m inistério de Elias, talvez tam bém houvesse um a escola de profetas nesse local. Uma m ulher extraordinária (vv. 8-10). Essa m ulher cujo nom e não é m encionado pertencia a uma classe social elevada e com alto poder aquisitivo. Porém , tam bém era extraordinária por sua percepção, pois ob­ servou que Eliseu passava por aquela região com freqüência em suas viagens ministeriais. Percebeu, ainda, que ele era um hom em de D eus e sentiu o desejo de servir ao Senhor servindo a seu profeta. Tem os a impressão de que faltava ao m arido dela o m esm o discernim ento espiritual, mas pelo menos ele não se opôs à hospitalidade que a esposa o fereceu ao pregador itinerante. Perm itiu que construísse acom odações permanentes para o profeta no terraço da casa e que m obiliasse o quarto com um a m esa, uma cadeira,4 uma cam a e um candeeiro. O cô­ modo era grande o suficiente para se andar de lá para cá dentro dele (v. 35) e, ao que parece, tam bém tinha espaço para G e a zi, servo de Eliseu (v. 13). A mulher providen­ ciou, ainda, para que os dois hom ens fos­ sem devidam ente alim entados. Em nosso tem po, com tantos hotéis e pousadas, a hospitalidade oferecida ao povo de D eus, especialm ente aos servos do Se­ nhor, está se tornando um m inistério cada vez mais esquecido e uma bênção perdida. No entanto, uma das qualificações para um presbítero é ser "hospitaleiro" (1 Tm 3 :2 ; Tt 1:8), e H ebreus 13:2 exorta todos os cris­ tãos a praticar essa virtude (ver G n 18). D e­ vem os abrir nosso coração e nosso lar para outros e não nos queixar disso (1 Pe 4:9 ). Um presente extraordinário (vv. 11-17). O profeta e seu servo estavam descansan­ do no quarto quand o Eliseu expresso u o desejo de fazer algo especial pela m ulher em retribuição a sua bondade para com eles e pediu a G ea zi que a cham asse para con­ versar com ela sobre o assunto. Eliseu diri­ giu-se a G e a zi, pois talvez a mulher tivesse o profeta em tão elevada consideração que 2 REIS 3 - 4 não se sentia digna de falar com ele. Sua resposta, porém , foi breve e hum ilde: "H a b i­ to no meio do meu povo". Não queria que Eliseu intercedesse por ela junto ao grande D eus, pois não desejava ser tratada com o um a pessoa extraordinária. Seu m inistério para com eles vinha de seu desejo de servir ao Senhor. D epois que a m ulher deixou os aposen­ tos do profeta, G ea zi sugeriu que talvez ela desejasse ter um filho. O m arido era mais velho do que ela, de modo que talvez não houvesse mais com o ela co n ceber; porém, se o Senhor permitiu que Abraão e Sara ti­ vessem um filho, poderia fazer o mesm o por aquela m ulher e seu m arido. Era provável que o marido m orreria antes dela e, sem uma família, ela ficaria sozinha. G ea zi chamou-a novamente e, dessa vez, Eliseu lhe falou pes­ so alm ente. Deu-lhe um a prom essa m uito p a re cid a com as p a lavras de D e u s para A b raã o e Sara (v. 1 6 ; G n 1 7 :2 1 ; 1 8 :1 4 ). Q u an tas bênçãos m aridos com fé apenas nom inal já receberam em d e co rrê n cia da devoção de suas esposas piedosas! A pro­ messa se cum priu, e a mulher deu à luz um filho. A graça trouxe vida onde antes ela não existia. Uma tristeza extraordinária (vv. 18-28). O m enino ainda era pequeno quando esses acontecim entos ocorreram , pois a mãe co n­ seguia segurá-lo no colo e foi cap az de le­ var o corpo inerte da criança até o quarto do profeta no terraço (vv. 20, 21 ). O texto não especifica a causa da doença do m eni­ no, mas talvez o calor da estação da colhei­ ta o tenha afetado. A mãe cham ou o pai da criança, que estava no cam po, e lhe pediu que providenciasse para ela um servo e um jum ento, mas não lhe disse que o m enino havia m orrido. O fato de a esposa prepararse para sair indicou ao marido que o m eni­ no não corria perigo e que, provavelmente, estivesse cochilando. Sem dúvida, a mãe fi­ cou com medo de que o marido mandasse sepultar a criança de im ediato, pois ninguém desejava ter um corpo morto dentro de casa na estação quente da colheita. Seu marido perguntou por que desejava enco ntrar Eli­ seu, uma vez que não era dia santo, mas sua 505 única resposta foi: "N ão faz mal" (no origi­ nal, shalom , "p az") e, posteriorm ente, disse o mesmo a G ea zi (v. 26). A atitude de G e a zi com relação à visita da m ulher revela um aspecto sombrio de seu caráter que se torna ainda mais evidente no capítulo seguinte (v. 27 ; ver M t 1 5 :2 3 ; 19:1315). Talvez a m ulher e seu servo tenham in­ terrom pido o cochilo da tarde do profeta e de seu servo, mas Eliseu percebeu que ha­ via algo de errado que o Senhor não tinha lhe revelado. A té mesmo Jesus pediu infor­ m ações em certas ocasiões (M c 5 :9 ; 9 :2 1 ; Jo 1 1 :3 4 ). É evidente que a m ulher estava am argurada e profundam ente entristecida e, ao que parece, culpava Eliseu pela tragédia. N ão havia pedido um filho, e se Eliseu e G ea zi não tivessem interferido, sua alegria não lhe teria sido tomada. Um milagre extraordinário (vv. 29-37). A m ulher e seu servo devem ter corrido para chegar ao monte Carm elo a tempo de Eliseu e G ea zi voltarem com eles no mesm o dia, e o animal deve ter ficado exausto com uma viagem tão cansativa sob o sol de verão. Por que Eliseu mandou G ea zi à frente? E prová­ vel que G ea zi fosse mais jovem que o profe­ ta e, tam bém , mais veloz, podendo chegar mais rapidam ente à casa da mulher. Era im­ portante que alguém voltasse logo a fim de guardar o corpo para que o pai não o desco­ brisse e sepultasse. G ea zi colocou seu bor­ dão sobre o m enino, mas nada aconteceu. (Pode-se atribuir isso ao que estava oculto em seu co ração?) A m ulher m ontou o ju ­ mento, e Eliseu seguiu-a de perto, mas o texto não diz que o profeta recebeu um poder especial com o o que foi dado a Elias quan­ do ele co rre u ao lado do ca rro de A cab e (1 Rs 1 8 :4 6 ). M ais uma vez, o milagre ocorreu a por­ tas fechadas (4 :4 ; ver tam bém Lc 8 :5 1 ). Pri­ meiro, o profeta orou e, depois, seguindo o exem plo de Elias (1 Rs 17:17-24), estendeuse sobre o corpo. Levantou-se e andou de um lado para o outro no quarto, sem dúvida orando e buscando o poder de D eus e, em seguida, estendeu-se no vam ente so bre o menino. Dessa vez, o menino voltou à vida, espirrou sete vezes e abriu os olhos. O texto 506 2 RE I S 3 - 4 não explica o significado dos espirros, mas uma possibilidade é que tenham sido uma form a de Deus expelir algo tóxico dos pul­ mões do m enino. Seria de se esperar que Eliseu sentisse enorm e satisfação em levar o menino para baixo e entregá-lo ã m ãe, mas, em vez disso, cham ou G ea zi que, por sua vez, cham ou a m ãe.5 Ver Hebreus 11:35. No entanto, a história não term ina aí (ver 8:1-6). M ais tarde, quando Eliseu anunciou a vinda de um a fom e de sete anos, também aconselhou a m ulher a se mudar, de modo que ela foi habitar no m eio dos filisteus. Q u an d o voltou para reassum ir a posse de sua propriedade, G e a zi estava falando com o rei e contando-lhe sobre a ressurreição do menino, e a mãe da criança apareceu no pa­ lácio! O rei autorizou seus oficiais a lhe de­ volverem a propriedade, juntam ente com a renda que ela tivesse perdido durante sua ausência. No final, a morte do m enino foi uma bênção velada. Som ente a graça de D eus pode dar vida, seja a um ventre estéril, seja a um m enino morto, e som ente a graça de D eus pode co n ce d e r vida espiritual ao pecad or morto (jo 5 :2 4 ; 1 7:1-3; Ef 2:1-10). Foi D eus quem deu vida ao m enino, mas usou Eliseu com o instrum ento para realizar sua obra. O m es­ mo acon tece com os pecadores ressurretos dentre os m ortos: D eu s p recisa de teste­ m unhas, de guerreiros de o ração e de cris­ tãos interessados em ser instrum entos que darão vida a esses pecadores. Nas palavras de C h a rle s S p u rg e o n : " O Esp írito Santo o p era por m eio daq u eles que se sentem dispostos a entregar a vida por outros e a lhes co nceder não apenas seus bens e ensi­ no, mas tam bém o próprio ser. Ah! que bom seria se houvesse mais Eliseus, pois então veríam os mais transgressores mortos em pe­ cado ressurgindo".6 4. A G R A Ç A R E M O V E (2 Rs 4:38-41) A M A L D IÇ Ã O Eliseu visitou os discípulos dos profetas em Gilgal no tem po da fom e (8:1) e ordenou que seu servo G ea zi fosse preparar um en­ sopado para eles. Não havia muitos vege­ tais, e alguns hom ens foram procurar ervas nos cam pos para acrescentar ao co zid o. O d iscíp u lo q u e voltou co m o m anto ch eio de c a b a ça s ("c o lo c ín tid a s") não sabia m uita coisa sobre vegetais e sim plesm ente trouxe o que parecia ser com estível. Na verdade, ninguém sabia o que eram as cabaças! Q uais foram as evidências de que a co ­ mida estava envenenada? Talvez o primeiro indício tenha sido o gosto amargo na pane­ la, e é possível que os hom ens tenham sen­ tido dor de estômago e náuseas. H avia m orte nas águas de Jericó antes de serem purificadas (2 Rs 2 :1 9 -2 2 ), e ago­ ra havia m orte na panela em G ilgal. Tinha sido introduzida de modo inocente por um discípulo bem -intencionado, mas precisava ser re m o v id a . P o rém , era um tem p o de fom e, e a com ida era escassa, de m odo que Eliseu jogou um po uco de farinha dentro da panela, e o Senhor rem oveu o veneno do ensopado. Tanto quanto sabem os, não havia plan­ tas venenosas no jardim do Éden. Elas só apareceram com os espinhos e cardos de­ pois que A dão pecou (G n 3 :1 7 -1 9 ). Hoje em dia, há m uita "m orte na panela", pois vivem os sob a m aldição da lei do pecado e da morte, os dois elem entos que imperam so b re este m undo (Rm 5 :1 4 -2 1 ). Porém , quando Jesus m orreu na cru z, tomou sobre si a m aldição da lei em nosso lugar (G l 3:1 3 ), e, para aqueles que creram em Cristo, o que reina é a graça (Rm 5 :2 1 ) e "[reina] em vida" (v. 1 7). O ferrão ("aguilhão") da m orte foi rem ovido (1 C o 15:50-57)! 5. A G R A Ç A S A C I A (2 Rs 4:42-44) O S F A M IN T O S Em Israel, o reino do Norte, não havia um templo oficia! consagrado a Jeová, e vários dos sacerdotes e levitas fiéis haviam deixa­ do a terra apóstata de Israel e se mudado para Judá (1 Rs 12:26-33; 2 C r 11:13-17). Um a vez que não havia um santuário para o qual o povo pudesse levar seus dízim os e ofertas (Lv 2 :1 4 ; 6:14-23; 23:9-17; Dt 18:35), essas ofertas eram levadas para a escola de profetas mais próxim a, onde eram com ­ partilhadas com pessoas fiéis à lei m osaica. As ofertas das prim ícias de cereais poderiam 2 REIS 3 - 4 ser espigas assadas de grãos, flor da farinha assada em form a de bolos ou m esm o de pães. E bem provável que tudo isso fosse recebido com grande alegria pelos discípu­ los dos profetas e, por certo, o Senhor hon­ rou aqueles que se recusaram a curvar-se diante dos bezerros de ouro em D ã e Betei. H avia cem hom ens fam intos no grupo e, apesar de as dádivas que o ofertante trou­ xe terem sido honradas pelo Senhor, não poderiam alim entar devidam ente o grupo todo. Trata-se de um a situação sem elhante àquela pela qual Cristo e os discípulos pas­ saram (M t 1 4 :13-21; 15:29-33 e textos pa­ ra le lo s nos E v a n g e lh o s). A p e rg u n ta de G e a zi: "C o m o hei de eu pôr isto diante de cem hom ens?" (v. 43) se parece com a per­ gunta de A nd ré sobre os cin co pães e dois peixes: "M as isto que é para tanta gente?" (Jo 6 :9 ). Eliseu, porém , sabia que o Senhor tinha essa situação difícil totalm ente sob seu co n­ trole. O profeta ordenou que o servo colo­ casse sobre a mesa os pães e os cereais, e quando G e a zi obedeceu, não apenas houve 1. 507 com ida suficiente para todos, com o também sobrou. A Palavra do Senhor havia anuncia­ do e realizado o im possível. Q u an d o o Senhor alim entou os cinco mil, usou o m ilagre com o pano de fundo para a pregação de uma poderosa m ensa­ gem de salvação sobre o Pão da Vida (Jo 6 :25ss). Eliseu não fez um serm ão, mas esse milagre nos garante que Deus co nh ece nos­ sas n ecessid ad es e que as supre quando confiam os nele. Hoje em dia, temos conge­ la d o re s e su p e rm e rca d o s que fo rn e c e m nossos alimentos e há instituições que dis­ tribuem com ida aos pobres. M as, no tempo de Eliseu, o povo preparava e consum ia a com ida um dia de cada vez. Por isso, Jesus nos ensinou a orar: " O pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (M t 6 :1 1 ). Durante os anos que passou no deserto com o exilado, Davi dependeu da provisão de Deus e pôde di­ zer: "Fui m oço e já, agora, sou velho, porém jam ais vi o justo desam parado, nem a sua d escen dên cia m endigar o pão" (Sl 3 7 :2 5 ). O Senhor supre todas as nossas necessida­ des com as riquezas da sua graça. Deuteronôm io 20:16-20 aplicava-se aos ataques de Israel sobre cidades em Canaã que faziam parte da herança dos israelitas na Terra Prom etida. Era proibido cortar árvores frutíferas, arruinando, desse modo, a própria herança. Porém , em terras estrangeiras, o exército poderia devastar inteiramente as áreas atacadas. 2. Não há indicação alguma de que a apresentação dos acontecim entos deste capítulo esteja em ordem cronológica. 3. Neem ias 5:5 e 8, Isaías 1:1 7 e 23 e Am ós 2:6 indicam que o povo de Israel nem sempre demonstrou o am or de Deus para com as viúvas desamparadas. A Igreja primitiva preocupava-se especificam ente com as viúvas, preocupação que deve ser resgatada pelas igrejas de hoje (1 Tm 5:1-16; Tg 1:2 7). 4. O termo traduzido por "cadeira" também pode significar "um assento de honra" ou "trono". 5. É interessante observar a participação de G e a zi nesse episódio todo (vv. 15, 25, 29, 36). Ao que parece, Eliseu preferiu seu servo atuasse com o intermediário entre ele e a "m ulher rica". 6. S pu rgeo n , Charles. M etropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 25, p. 121. que 3 T rês H o m e n s - T rês M ila g r es 2 Reis 5:1 - 6 : 7 liseu foi um profeta operador de milagres, ministrando a pessoas de todos os tipos que foram até ele com n e c e ssid a d e s de todos os tipos. Nesta seção, vem os Eliseu curando um general em inente, julgando o próprio servo e ajudando um discípulo hu­ milde a voltar ao trabalho. Parece haver uma longa distância entre o im ponente co m an­ dante de um exército e um m achado perdi­ do, mas am bos eram im portantes para Deus e para seu servo. Assim com o Jesus Cristo quando m inistrou aqui na terra, Eliseu de­ dicou tem po aos in d ivídu o s e não foi in­ fluenciado pela posição social ou situação eco n ôm ica dessas pessoas. "Lan çan d o so­ bre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Pe 5:7). Porém, por mais im portantes q u e sejam os milagres nesta seção, o tem a do m inisté­ rio é ainda mais relevante. O Senhor não deu apenas vida nova a N aam ã, mas tam ­ bém um novo propósito e um novo ministé­ rio. Q u an d o N aam ã voltasse para a Síria, seria muito mais do que um general: seria um em baixador do verdadeiro Deus vivo de Israel. N aam ã adquiriu um novo propósito de vida, mas, infelizm ente, G ea zi perdeu seu ministério com o conseqüência de sua cobi­ ça e dissim ulação. Q u a n d o Eliseu recu pe­ rou o m achado perdido, o discípulo pôde voltar ao trabalho, e seu ministério lhe foi restaurado. E 1 . N a a m ã re c e b e u m m in is t é r io (2 Rs 5:1-19) O nom e do profeta Elias é citado vinte e nove vezes no Novo Testamento, enquanto o nom e de Eliseu aparece apenas uma vez. "H a via tam bém muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado senão Naam ã, o siro" (Lc 4 :2 7 ). N aam ã era um gentio, com andante do exér­ cito de uma nação inimiga e, portanto, não é de se admirar que a congregação em Na­ zaré tenha se irado contra Jesus, interrom­ pido seu serm ão e o carregado para fora da sinagoga. Afinal, por que o Deus de Israel iria curar um homem gentio que não fazia parte da aliança? Era um inimigo que havia raptado meninas israelitas e um leproso que havia sido colocado em isolam ento para es­ perar pela morte. Essas pessoas não tinham conhecim ento algum da graça soberana de D eus. Assim com o N aam ã, encheram -se de ira, m as, ao co n trário de N aam ã, não se humilharam e confiaram no Senhor. A expe­ riência de N aam ã com Eliseu ilustra para nós a obra da graça de Deus ao salvar os peca­ dores perdidos. Naamã precisava do S en h or (vv. 1-3). O rei da Síria era Ben-H adade II, e, em seu cargo de com andante do exército, Naam ã era o segundo no poder. Porém , com todo seu prestígio, autoridade e riq ueza, Naam ã era um hom em co nden ado, pois sob seu uniform e escondia-se o corpo de um lepro­ so. O v ersícu lo 11 ind ica que a in fecção estava lim itada a ap enas um lugar, m as a lepra tem a ten dência de espalhar-se caso não seja tratada e, por fim , leva à morte. Som ente o poder do D eus de Israel podia curá-lo. N aam ã não sabia, mas o Senhor já havia operado em seu favor ao dar-lhe vitória so­ bre os assírios. Jeová é o Deus de Israel e da aliança com seu povo e pode usar qualquer pessoa, salva ou não, para realizar sua von­ tade (ver Is 4 4 :2 8 ; 4 5 :1 3 ; Ez 3 0 :2 4 , 25 ). O Senhor tam bém mostrou sua bondade ao permitir que N aam ã levasse a menina israe­ lita para casa a fim de servir sua esposa. A m enina era uma escrava, mas, porque con­ fiava no D eus de Israel, era livre. M ais do que isso, testemunhou hum ildem ente de sua fé para sua senhora. Suas palavras foram tão con vincen tes que a m ulher contou ao m arido, o qual, por sua ve z, inform ou o rei. N unca subestim e o poder de um sim ples 2 RE I S 5:1 - 6 : 7 testem unho, pois Deus pode pegar as pala­ vras dos lábios de uma criança e levá-las aos ouvidos do rei. A pesar de não haver qualquer afirm ação explícita nas Escrituras de que a lepra seja um retrato do pecad o, ao ler Levítico 13, po dem o s v e r claram en te a e x istê n c ia de paralelos. Assim com o a lepra, o pecado não se atém à superfície, mas atinge as cam adas mais profundas (v. 3), espalha-se (v. 7), con­ tamina (v. 4 5 ), isola (v. 46) e só serve para ser queim ado pelo fogo (vv. 52, 57). B u sca n d o o S e n h o r (vv. 4-10). N aam ã não poderia sair da Síria sem a perm issão do rei e precisava de uma carta oficial de apresentação para Jorão, rei de Israel. A fi­ nal, a Síria e Israel eram inimigos, e a che­ gada de um co m andante do exército siro p oderia causar um grande m al-entendido. 509 im pulsivam ente as vestes, algo que os reis raram ente faziam . Sua mente estava turva­ da pela incredulidade e o m edo, e não era cap az de entender o que o Senhor estava fazend o . Tanto N aam ã quanto Ben-Hadade partiram do pressuposto equivocado de que o profe­ O profeta estava em sua casa na cidade de Sam aria, mas sabia o que o rei havia dito e feito em seu palácio, pois D eus não es­ conde de seus servos coisa alguma daquilo que precisam saber (Am 3 :7 ). Sua m ensa­ gem a Jorão deve ter exasperado o rei, mas, ao m esm o tem po, Eliseu estava salvando Jorão de um vexam e pessoal e de possíveis com p licaçõ es internacionais. Por certo, ha­ via um rei assentado em seu trono, mas tam ­ bém havia um profeta em Israel! O rei não poderia fazer co isa alguma, mas o profeta era um canal do poder de D eus. Eliseu sa­ bia que N aam ã precisava ser humilhado an­ tes de receber a cura. Acostum ado com o protocolo do palácio, esse líder estimado es­ ta faria o que o rei lhe ordenasse e que, tan­ to o rei quanto o profeta, esperavam receber presentes caros em troca do serviço. Por esse perava ser reconhecido publicam ente e re­ ceber expressões exageradas de apreciação pelos presentes generosos que havia trazi­ motivo, N aam ã levou consigo mais de tre­ zentos quilos de prata e mais de sessenta quilos de ouro, além de vestim entas caras. A serva não havia dito coisa alguma sobre do consigo, pois era assim que os monarcas procediam . Porém , Elias nem sequer saiu de sua casa para receb er o hom em ! Em v e z disso, enviou um m ensageiro (G e azi?) ins­ truindo o general a percorrer os cinqüenta e poucos quilôm etros até o rio Jordão e mer­ gulhar sete vezes no rio, depois do que es­ taria purificado de sua lepra. Naam ã havia buscado ajuda, e sua bus­ ca havia chegado ao fim. R e s is tin d o a o S e n h o r (vv. 11, 12). Se N aam ã co m e ço u sua jo rn ad a em D am as­ co, então havia viajado mais de 160 quilô­ reis ou presentes, mas apenas indicara Eliseu, o profeta, dizendo a sua senhora o que o Senhor poderia fazer. O s não salvos care­ cem de q u a lq u e r co n h e c im e n to so b re o Senhor e apenas com p licam aquilo que é tão simples (1 C o 2 :1 4 ). Nossa salvação não é obtida dando presentes a D eus, mas sim recebendo pela fé sua dádiva de vida eter­ na (Ef 2 :8 , 9; Jo 3 :1 6 , 36; Rm 6 :2 3 ). O rei Jorão poderia ter honrado ao Se­ nhor e co m eçad o a construir a paz entre a Síria e Israel, mas ele não aproveitou essa chance. A pesar de 2 Reis 3:11 dar a enten­ der que Jorão e Eliseu não eram amigos ch e­ gados, o rei sabia quem Eliseu era e o que poderia fazer; sem dúvida, sabia que a mis­ são de Israel era dar testemunho às nações ím pias a seu redor (Is 4 2 :6 ; 4 9 :6 ). Porém , as p re o c u p a ç õ e s de Jo rão eram de c a rá te r pessoal e político e não espiritual, e o rei interpretou a carta com o uma declaração de guerra.1 Assustado com essa idéia, rasgou metros para chegar a Samaria, de modo que mais uns 50 e poucos quilôm etros não de­ veriam tê-lo perturbado. Porém , o general enfureceu-se, e a causa fundam ental dessa ira foi seu orgulho. Ele já havia decidido em sua mente com o o profeta iria curá-lo, mas não era assim que D eus trabalhava. Antes de os pecadores poderem receber a graça de D eus, devem sujeitar-se à vo ntade do Senhor, pois "D eus resiste aos soberbos, con­ tudo, aos hum ildes co n ce d e a sua graça" (1 Pe 5 :5 ; ver Rm 10:1-3). O Dr. Donald G rey Barnhouse costum ava dizer: "Todos têm o 510 2 RE I S 5: 1 - 6 : 7 privilégio de ir para o céu à maneira de Deus ou para o inferno a sua própria m aneira". O Senhor já havia co m eçad o a trabalhar no orgulho de Naam ã, mas ainda havia mais por vir. O rei Jorão não era cap az de curálo, e o profeta não foi à corte nem saiu de casa para saudá-lo; além disso, deveria mer­ gulhar num rio sujo não uma, mas sete vezes. E pensar que ele era um grande general, o segundo no com ando sobre a nação da Síria! "Era exatam ente essa a co m p licação ", disse o evangelista D. L. M oody ao pregar sobre essa passagem. "N aam ã já havia determ ina­ do, por sua própria conta, de que modo o profeta deveria curá-lo e se zangou pelo fato de o homem de Deus não seguir seus pla­ nos". Por acaso é diferente nos dias de hoje? As pessoas desejam ser salvas de seus peca­ dos participando de rituais religiosos, afilian­ do-se a uma denom inação, dando dinheiro à igreja, m udando de vid a, faze n d o boas obras e outros tantos substitutos para a de­ cisão de depositar sua fé em Jesus Cristo. "N ão por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua m isericórdia, ele nos sal­ vou" (Tt 3:5 ). N aam ã tinha outro problem a: preferia os rios de Dam asco em vez do lam acento rio Jordão.2 A creditava que a cura viria da água, de modo que o mais lógico era pensar que, quanto melhor a água, m elhor a cura. Prefe­ ria fazer as coisas a seu modo e viajar mais de 160 quilôm etros a o b e d ecer a D eus e percorrer 50 quilôm etros! Estava, ao mesmo tempo, tão perto e tão longe da salvação! C o n fia n d o n o S e n h o r (w . 1 3 -Í5 a ). M ais uma vez, o Senhor usou servos para cum ­ prir seus propósitos (vv. 2, 3). Se Naam ã não estava disposto a ouvir a ordem do profeta, talvez desse atenção ao conselho de seus próprios servos. "V in d e, pois, e arrazoem os, diz o S e n h o r " ( I s 1 : 1 8 ) . Eliseu não lhe pediu para fazer algo difícil ou im possível, pois isso teria apenas aum entado o orgulho do rei. Pediu que o b ed ecesse a um a ordem sim ­ ples, realizando um ato de hum ilhação, e não havia nada de desarrazoado em sujei­ tar-se. Q uand o Naam ã contou essa história na Síria e chegou a esse ponto do relato, seu amigo lhe perguntou: "V o cê fez isso?". A fé que não co ndu z à obediência na ver­ dade não é fé. Q uand o o general emergiu da água pela sétima vez, sua lepra havia desaparecido e sua pele estava com o a de uma criança. Na linguagem do Novo Testamento, havia nas­ cido de novo (Jo 3:3-8). "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes co m o crian ças, de m odo algum entrareis no reino dos céus" (M t 18 :3 ). Por meio de sua ob e d iê n cia, N aam ã dem ons­ trou ter fé na prom essa de Deus, e o Senhor purificou-o da lepra. C itando novam ente D. L. M oody, "Ele perdeu a calm a, perdeu o orgulho e perdeu a lepra; essa costum a ser a seqüência pela qual os pecadores orgu­ lhosos e rebeldes são convertidos". Naamã deu um testem unho público claro de que o Senhor Deus de Israel era o único e verda­ deiro D eus vivo , o D eus de toda a Terra. Renunciou aos falsos deuses e ídolos da Sí­ ria e se identificou com Jeová. Q u e grande acusação foi esse testemunho contra o rei e o povo idólatras de Israel! S e rv in d o ao S e n h o r (vv. 15b-19). Assim com o todo cristão recém -convertido, Naamã ainda tinha m uito a aprender. H avia sido salvo e curado ao crer na graça de Deus, mas precisava cre sce r na graça e na fé e aprender a viver de modo a agradar ao Deus que o havia salvo. Em vez de apressar-se a voltar para casa e a co m p artilhar as boas novas, Naam ã voltou à casa de Eliseu, a fim de agradecer ao Senhor e a seu servo (ver Lc 17:11-19). Isso significava viajar mais 50 quilôm etros, mas o general deve ter percor­ rido o cam inh o todo se regozijand o. Seu desejo de recom pensar Eliseu foi natural, mas se o profeta tivesse aceitado o presente, te­ ria tom ado o crédito para si e tirado a glória que pertencia a D eus. O Senhor nos salvou "para louvor da glória de sua graça" (Ef 1 :6, 12, 14). A lém disso, teria dado a N aam ã, um recém -convertido, a im pressão de que seus presentes tinham alguma relação com a salvação. Abraão havia recusado os pre­ sentes do rei de Sodom a (C n 14:17-24), e, posteriorm ente, Daniel recusaria a oferta do rei (Dn 5 :1 7 ); Pedro e João rejeitariam o di­ nheiro de Simão (At 8:18-24). 2 R E I S 5: 1 - 6 : 7 N aam ã estava com eçando a crescer em sua com preensão do Senhor, mas ainda ha­ via um longo cam inh o a percorrer. Eliseu recusou os presentes, mas N aam ã pergun­ tou se poderia levar consigo uma porção da terra de Israel para a Síria, a fim de usá-la em sua adoração a Jeová. N aquele tem po, as pessoas acreditavam que os deuses de uma nação habitavam naquela terra, e quem saís­ se daquela terra deixava o deus para trás. Mas N aam ã havia acabado de testem unhar que só Jeová, o Deus de Israel, era o Deus de toda a terra (v. 15)! No entanto, levar aque­ la terra consigo foi um ato de coragem , pois seu senhor e seus am igos perguntariam a Naamã qual era o significado daquilo, e ele teria de lhes faiar de sua fé no Deus de Israel. Em seu segundo pedido, N aam ã m os­ trou discernim ento incom um , pois se deu conta de que o rei esperaria que ele conti­ nuasse a executar seus atos oficiais na posi­ ção de com andante do exército. Isso incluía acom panhar o rei ao templo de Rim om , o equivalente siro do deus Baal. N aam ã esta­ va disposto a realizar esses rituais externa­ mente, mas queria que Eliseu soubesse que não o faria de coração. N aam ã anteviu que sua cura e sua vida transformada teriam im­ pacto sobre a corte do rei e, um dia, leva­ riam à salvação do rei. Em v e z de criticar os cristãos que trabalham em cargos públicos, p re cisam o s orar por eles, pois enfrentam decisões muito difíceis.3 E interessante que Eliseu não lhe tenha passado um serm ão nem o tenha adm oes­ tado, mas apenas lhe tenha dito: "Vai em paz". Essa era a bênção habitual da aliança que os israelitas invocavam quando as pes­ soas partiam de viagem . O profeta iria inter­ ceder por ele e confiar que Deus o usaria em seu novo ministério na Síria. Q u e gran­ de testemunho N aam ã poderia ser naquela terra de trevas - e teria co m o com panhia sua serva! 2. G e a z i te m s e u (2 Rs 5:20-27) m in i s t é r i o r e v o g a d o Enquanto Naam ã procurava viver de acordo com a verdade e buscar ao Senhor, o servo de Eliseu estava envolto em dissim ulação e 511 em desejos pecam inosos. O último dos dez m andam entos é "não co biçarás" (Êx 20:1 7), mas quem transgride a esse único m anda­ mento coloca-se sob a tentação de transgre­ dir os outros nove. A s pessoas co b iço sas transformam sua riqueza material em ídolos, dão falso testem u n h o , ro ubam , e n ve rg o ­ nham o nom e de D eus, ofendem os pais e até matam. A vida espiritual de G e a zi estava se de g e n e ran d o , e esse ep isó d io foi seu ponto culm inante. Ele havia afastado de si a m ulher cujo filho morreu (2 Rs 4 :2 7 ) e não teve poder para restaurar a vida ao m enino (4 :3 1 ). A qui, vem os sua co b iça assum ir o controle, levar à m entira e, por fim, fazer G e a z i ser aco m etid o de lepra. A d o ença externa tipificou sua deterioração interna. G ea zi m entiu a si m esm o (v. 20). Ao recusar os presentes, Eliseu havia sido firm e com N aam ã, mas ensinara ao recém-convertido um a lição difícil. G ea zi estava medindo a conduta de seu senhor de acordo com os parâm etros do m undo e não da form a com o D eus a m edia. A ssim co m o os discípulos quando M aria ungiu Jesus, o servo pergun­ tou: "Para que este desperdício?" (M c 14:39), com a d ife re n ça que, na situ açã o de G e a zi, foi uma oportunidade desperdiçada de adquirir riquezas. Na verdade, acredita­ va que teria uma vida melhor, que seria mais feliz se aceitasse alguns dos presentes de N aam ã e que tinha o direito de fazê-lo. "Ten ­ de cu idado e guardai-vos de toda e qual­ quer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui" (Lc 12:1 5). Por certo, G e a zi sabia que a salvação e a cura de N aam ã se deviam inteiramente à graça de D eus e que aceitar os presentes poderia dar ao general siro a im pressão de que ele era capaz de fazer alguma coisa para se salvar. Q u a n d o v o lta sse para a S íria , N aam ã teria de prestar contas dos tesouros que não havia levado de volta, o que só ser­ v iria p ara e n fra q u e c e r seu te ste m u n h o . A b ra ã o re cu so u os p re se n te s do rei de Sodom a, a fim de não com prom eter seu tes­ tem unho diante do povo dessa cidade que precisava con h ecer o Senhor (G n 14). Pedro e João recusaram a oferta de Sim ão para não 512 2 R E I S 5: 1 - 6 : 7 dar aos sam aritanos a im pressão de que os dons de Deus poderiam ser com prados com dinheiro (At 8 :20ss). O apóstolo Paulo che­ gou até a recusar o sustento da igreja de Corinto para que o povo não pensasse que ele era apenas outro filósofo itinerante deci­ dido a arrecadar dinheiro.4 G ea zi usou o nom e do Senhor em vão ao dizer: "tão certo co m o vive o S e n h o r " ( v . 2 0 ; ver v. 16), pois havia pecado em seu coração e planejava pecar ainda mais. Ao que parece, G e a zi não tinha tem or algum de Deus em seu coração e, em sua vida par­ ticular, usava o nom e de Deus com deslei­ xo. Se tivesse reverenciado o nom e de Deus - o terceiro m andam ento, Êxodo 2 0 :7 - não teria sido dom inado pela cobiça. Geazi m entiu para Naamã (vv. 21-24). A caravana de Naam ã não estava muito lon­ ge, e G e a zi conseguiu co rre r e alcançá-la (2 Rs 4 :2 6 , 29 ). N aam ã fez algo nobre ao parar seu carro e descer para encontrar-se com o servo de Eliseu (ver At 8 :3 1 ). Talvez Eliseu tivesse outra mensagem para ele ou houvesse uma necessidade a ser suprida. O fato de um general siro demonstrar tanta con­ sideração para com um servo israelita foi, sem dúvida, sinal de que o Senho r havia transformado seu co ração . Naam ã o saudou dizendo "Shalom - Vai tudo bem ?", ao que G e a zi respondeu, "Shalom - Tudo vai bem ". M as nem tudo ia bem! Q uand o o coração de um hom em está cheio de co biça e seus lábios cheios de mentiras, ele está muito lon­ ge de desfrutar shalom, que significa "paz, bem-estar, satisfação, segurança". A o realizar seu plano perverso , G e a zi não apenas usou o nom e de Deus em vão, com o tam bém lançou mão da obra de Deus co m "in tu ito s g a n a n cio so s" (1 Ts 2 :1 -6 ). Usando o nom e de Eliseu, mentiu a Naam ã e pediu presentes para dois discípulos dos profetas de Betei e de Gilgal, de escolas que ficavam na região do m on te Efraim . N ão devem os criticar N aam ã por acreditar nas mentiras de G e a zi; afinal, com o recém -con­ vertido, faltava ao general o discernim ento que vem de uma experiência espiritual ca­ da vez mais m adura. A d e cla raçã o : "M eu senhor me mandou dizer" foi uma mentira deliberada, ainda que, apesar de G ea zi não saber, seu senhor tivesse conhecim ento do que ele havia feito. N aam ã não apenas deu a G ea zi mais do que o servo havia pedido, em brulhando tudo com cuidado, com o tam­ bém ordenou que dois de seus servos carre­ gassem os presentes para ele. Q u an d o os três hom ens chegaram ao m onte sobre o qual ficava Sam aria (ou talvez uma colina entre eles e Sam aria), G ea zi pegou os pre­ sentes e mandou os hom ens de volta para que ninguém os reconhecesse e com eças­ se a fazer perguntas. G e a zi estava perto da casa de seu senhor e deveria ter cuidado para que Eliseu não descobrisse o que ele havia feito. Geazi mentiu a Eliseu (vv. 25-27). Agin­ do de modo extremamente inocente, G eazi colocou-se diante de seu senhor à espera de suas ordens; mas descobriu que, na verdade, estava sendo julgado! O servo havia se es­ quecido que "todas as coisas estão desco­ bertas e patentes aos olhos daquele a quem tem os de prestar contas" (H b 4 :1 3 ). Deus sabia o que G eazi havia feito e com unicou a seu profeta. Essa cena nos lembra de como Josué interrogou A cã (Js 7) e de com o Pedro interrogou Ananias e Safira (At 5), sendo que todos esses interrogados haviam cobiçado riquezas e mentido sobre o assunto. Eliseu não apenas viu o que seu servo havia feito com o tam bém enxergou o que havia dentro do co ração dele e descobriu sua m otivação. G e a zi desejava ser um ho­ mem rico , dono de terras e de rebanhos, com roupas caras e servos para obedecer a suas ordens. Não se contentava em traba­ lhar ao lado do profeta Eliseu; queria segu­ rança e conforto. Sem dúvida, não há nada de errado em desejar ser rico, se é isso que Deus tem para sua vida, pois A braão e Isaque foram hom ens ricos, co m o tam bém o foi Davi. Porém, é errado conseguir essa rique­ za pela dissim ulação e fazer dela seu deus. G ea zi usou o ministério de D eus com o um m eio de enganar a N aam ã, contrariando , desse modo, a vontade de D eus (1 Ts 2:1-6; 2 C o 2 :1 7 ; 4 :2 ). Deus julgou G ea zi ferindo-o com lepra e prom etendo que pelo menos um de seus 2 RE I S 5:1 - 6 : 7 513 descendentes a cada geração sofreria desse os ministros mais antigos do Senhor dedi­ mesmo mal. A co biça que carcom eu lenta­ mente seu coração transformou-se em lepra, corroendo-lhe o corpo. G e a zi havia alim en­ tado esperanças de deixar um a grande ri­ cam seu tempo para ensiná-los. Porém , um novo crescim ento traz consi­ go novas obrigações, e as acom odações à beira do Jordão precisavam ser am pliadas. H o je em dia, escolas numa situação com o essa organizariam maneiras de levantar fun­ dos e contratariam arquitetos e construtores, mas, no tempo de Eliseu, eram os discípulos que faziam todo o trabalho. A lém disso, o líder da escola ia com eles e estimulava seu trabalho, e uma vez que possuía um cora­ ção de pastor, Eliseu estava disposto a acom ­ panhar seu rebanho e a com partilhar seus fardos. A o contrário do que encontram os à nos­ sa disposição hoje, o povo daquele tempo não tinha lojas de ferragens cheias de fer­ ram entas. O s im plem entos de ferro eram queza para seus descendentes, mas, em vez disso, deixou grande vergonha e tristeza para os anos vindouros. Em Israel, os leprosos eram considerados im undos e não tinham permis­ são de viver norm alm ente e em com unida­ de. G e a zi não poderia mais servir a Eliseu; havia perdido seu ministério. "N ão avaren­ to" é uma das qualificações para o servo de Deus (1 Tm 3 :3 ). Um a das m arcas dos últi­ mos dias é que as pessoas am arão mais o dinheiro do que a Deus ou outras pessoas (2 Tm 3:1-5). 3. O M IN IS T É R IO R E S T A U R A D O D O d is c íp u lo (2 Rs 6:1-7) Eliseu não era apenas pregador itinerante e profeta que fa z ia m ilag res, m as tam bém supervisor de várias escolas de profetas, em que rapazes cham ados para o ministério re­ cebiam instrução e encorajam ento. Sabem os da existência dessas escolas em Gilgal, Betei e Jericó (2 Rs 2:1-5) e tam bém em Ramá, cidade natal de Sam uel (1 Sm 19:22-24), mas é possível que houvesse outras. Tanto Elias quanto Eliseu consideravam de suma impor­ tância que a geração seguinte co nhecesse o Senhor e co m p reend esse sua Palavra, e essa é a com issão da igreja nos dias de hoje (2 Tm 2 :2 ). D. L. M oody e C harles Spurgeon não tiveram o privilégio de receber instrução formal para o ministério, mas os dois com e­ çaram escolas que ainda hoje preparam ser­ vos de Deus. E bom servir à nossa geração, mas não devem os nos esqu ecer das gera­ ções por vir. Esse relato dá continuidade à história de 2 Reis 4 :4 4 . Deus havia abençoado a escola de Jericó, e era preciso aum entar as acom o ­ d a çõ e s. O s d isc íp u lo s estud avam ju n to s quando o profeta os visitava, pois se encon­ travam com ele e se assentavam diante dele para ouvi-lo ensinar (v. 1). Também comiam juntos (4:38-44), mas viviam nas próprias ca­ sas (4:1-7). E um bom sinal quando Deus le­ vanta uma nova geração de servos e quando preciosos e escassos, o que explica por que 0 discípulo teve de tomar o m achado em ­ prestado para ajudar a preparar a madeira. (Q uand o eu estava no sem inário, não pos­ suía ferram enta alguma.) Não apenas as fer­ ramentas eram escassas, com o tam bém não eram feitas com a m esm a resistência e dura­ bilidade dos utensílios de hoje. Tanto é que M oisés deu um a lei especial referente ao dano que poderia ser causado se o ferro do m achado saltasse do cabo (D t 19:4, 5), indi­ cando que isso acontecia com freqüência. Se a lei acerca dos anim ais em prestados tam­ bém se aplicava às ferram entas (Êx 2 2 :1 4 , 1 5), então o pobre discípulo teria de reem ­ bolsar pelo ferro perdido aq u ele que lhe havia em prestado a ferram enta, o que pro­ vavelm ente desestabilizaria seu orçam ento por um bom tem po. Sem o ferro, o discí­ pulo não teria co m o trabalhar, o que pro­ vo caria um aum ento na carga de trabalho de outra pessoa. Levando-se tudo isso em consideração, o ferro do m achado que afun­ dou no rio poderia causar uma porção de problem as. O discípulo foi rápido o suficiente para ver onde o ferro do m achado havia caído e honesto o suficiente para contar a Eliseu o que havia acontecido. O Jordão não é o rio mais limpo da Terra Santa (2 Rs 5 :1 2 ), e se­ ria muito difícil alguém ver uma ferram enta 514 2 RE I S 5: 1 - 6 : 7 no fundo. O profeta não "p esco u" o ferro do m achado com uma vara, mas sim atirou um pedaço de pau na água sobre o lugar onde o ferro havia afundado, e o Senhor le­ vantou a ferram enta de modo que flutuasse na superfície do rio e pudesse ser apanhada. Foi um milagre e tanto de um Deus podero­ so por interm édio d e um servo com passivo. Esse episódio nos oferece algumas apli­ caçõ es espirituais, e talvez a prim eira delas seja a de que tudo o q u e tem os é "em pres­ tado". Paulo perguntou: "E que tens tu que o próxim o (1 Sm 2 5 :1 3 ). O s servos de Deus devem cam inhar com cuidado diante do Se­ nhor e inventariar suas "ferramentas" para que não percam algo extremamente necessário. A boa notícia é que o Sen h o r p o d e re­ cuperar aquilo qu e perderm os e nos colo car d e volta no trabalho. Se "perdem os o fio" em n o ssa in cum b ência, ele pode nos res­ taurar e nos tornar mais afiados e eficientes no serviço dele. O im portante é saber quan­ do e onde acon teceu , a fim de confessar isso a ele de todo o co ração e, depois, vol­ não tenhas receb ido?" (1 C o 4 :7 ), e João Batista disse: " O hom em não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada" (Jo 3 :2 7 ). Q u aisq uer dons, aptidões, bens e o p o rtu n id a d e s que tem o s vêm de D e u s, e teremos de prestar contas deles quando nos encontrarm os face-a-face co m o Senhor. tar ao trabalho! E por falar em m a ch ad o s, Eclesiastes 10:10 oferece um bom conselho: "Se o fer­ ro está em botado, e não se lhe afia o corte, é preciso redobrar a força; mas a sabedoria re so lv e com bom ê x ito ". O e q u iv a le n te m o d e rn o se ria : "N ã o trab alh e co m m ais Esse discípulo perdeu a ferram enta cara enquanto servia o Senhor. O serviço fiel é im portante, mas tam bém pode im plicar o risco de perderm os algo de valor para nós enquanto realizam os nosso trabalho. M oisés perdeu a paciência e a mansidão enquanto supria água para o povo (Nm 20:1-13), e Davi perdeu o domínio-próprio ao ser gentil com esforço; trabalhe com mais inteligência". A sabedoria diz que o trabalhador deve afiar sua ferram enta antes de co m e çar o traba­ lho. Porém , esse texto em Reis nos lembra, ainda, de que o ferro do m ach ad o deve estar fixado com firm eza ao cabo. Não tra­ balhe sem um a ferram enta afiada e não "per­ ca o fio"! 1. Ao que parece, jorão encarava a vida de modo pessimista, perspectiva esta que expressou ao tirar conclusões precipitadas. Q uand o ficaram sem água, ele não creu que Eliseu seria capaz de prover água para os três exércitos (2 Rs 3 :10 , 13). Q uando leu a carta, tomou-a com o sendo para eíe próprio e não deu ouvidos a Eliseu. 2. A água em A bana (Am ana) e Farfar vinha da neve das m ontanhas ao redor de Dam asco, de modo que era pura e fresca. 3. Deus também feriu tem porariamente M iriã de lepra, pois ela criticou o irmão, M oisés (Nm 12), e perm anentem ente o rei Naam ã precisava aprender que os cam inhos de Deus são mais elevados que os nossos (Is 5 5 :8 , 9). U zias, pois ele tentou ministrar com o sacerdote (2 C r 26:16-21). Três pecados a evitar: a cobiça, as críticas maldosas e a rebelião contra o cham ado de Deus para nossa vida. 4. Em 1 Coríntios 9:1-14, Paulo afirm ou que o trabalhador cristão é digno de seu salário e incluiu a si m esm o nesse caso. Porém , nos versículos 15 a 27, argum entou que tinha o direito de recusar o sustento deles, a fim de levar o evangelho a mais pessoas. Tratava-se de um a co n vicção pessoal, que Paulo não impôs sobre todas as igrejas nem sobre todos os servos de D eus. Paulo sabia que, especialm ente em C orinto, aceitar dinheiro poderia criar um a barreira entre ele e as pessoas que estava tentando alcançar. dorm ita, nem dorm e o guarda de Israel" (Sl 1 2 1 :4 ). 4 A B atalha É do S en h o r 2 R eis 6 : 8 - 7 : 2 0 nosso ver, teria sido muito mais lógico o Senhor designar Elias, o "filho do tro­ vão ", para confrontar os exércitos inimigos que invadiram Israel. Em vez disso, porém, escolheu Eliseu, o jovem agricultor de espí­ rito pacífico. Eliseu era com o o "cicio tran­ qüilo e suave" que veio depois do tumulto do ven to , do terrem o to e do fogo (1 Rs 1 9 :1 1 , 12), assim com o Jesus veio depois de João Batista, o pregador com um m a­ A chado na mão. Ao declarar a justiça de Deus e ch am ar ao a rrep e n d im e n to , tanto Elias quanto João Batista prepararam o cam inho para o ministério de seus sucessores, pois sem co n vicção da culpa não há verdadeira con versão. C o m o sem pre nas Escrituras, o principal ator desse dram a é o Senhor e não o profe­ ta. Por aquilo que disse e fez, bem com o por aquilo que deixou de fazer, Eliseu reve­ lou o caráter do D eus de Israel ao rei Jorão e a seu povo. Jeová não é com o os ídolos das nações (Sl 115), pois som ente ele é o verdadeiro Deus vivo. 1. O D e u s q u e vê (2 Rs 6:8-14) Sem pre que os siros planejavam um ataque à fronteira, o Senhor dava a inform ação a Eliseu, e o profeta avisava o rei. Baal jam ais poderia ter feito isso pelo rei Jorão, pois os ídolos "Têm olhos e não vêem " (Sl 115:5). O Senhor não apenas vê as ações, mas tam­ bém os pensam entos de todos (Sl 9 4 :1 1 ; 139:1-4) bem com o o coração (Pv 15:3, 11; Jr 1 7 :1 0 ; A t 1:24 ). A maioria das pessoas em Israel, o reino do N o rte, não era fie l ao Senhor e, no entanto, em sua misericórdia, ele cuidou do seu povo. "É certo que não O rei da Síria estava certo de que havia um traidor em seu acam p am en to , pois a m ente do incrédulo interpreta todas as coi­ sas do ponto de vista do mundo. O s idóla­ tras tornam-se com o os deuses que adoram (Sl 11 5:8 ), de modo que Ben-Hadade estava tão cego quanto seu deus Rimom (2 Rs 5:18). Porém , um dos oficiais de Ben-Hadade sabia o que estava aco n tecend o e inform ou ao rei que o profeta Eliseu estava encarregado da "inteligência militar" e tinha co nhecim en­ to do que o rei dizia e fazia até no próprio quarto. A solução lógica era elim inar Eliseu. M ais um a vez, vem os a ignorância do rei, pois se Eliseu ficava sabendo de todos os planos do rei para o ataque à fronteira, por certo tam bém ficaria sabendo desse plano - e foi exatam ente o que aconteceu! O s espias de Ben-H adade encontraram Eliseu em Dotã, um a cid ad e ce rca de 2 0 q u ilô m etro s ao norte da capital, Sam aria. A casa de Eliseu ficava em Abel-M eolá, mas, em seu ministé­ rio itinerante, ele se deslocava de uma cida­ de para a outra. Em termos hum anos, teria ficado mais seguro na cidade fortificada de Sam aria, mas o profeta não teve m edo, pois sabia que Deus cuidava dele. A chegada de um a co m p an h ia de so ldado s, ca va laria e carros com seus cavaleiros naquela noite não perturbou nem um pouco o profeta. Não era o exército todo, mas sim um grupo gran­ de, com o aquele que realizava os ataques na fronteira (v. 2 3 ; 5 :2 ; 1 3 :2 0 ; 2 4 :2 ). Q u an d o os servos de D eus estão den­ tro de sua vontade e realizando sua obra, tornam-se im ortais até que essa obra esteja co m p leta. O s discípulos tentaram dissuadir Jesus a não voltar para Judá, mas ele lhes g a ra n tiu q u e tra b a lh a v a d e n tro d e um "cronogram a divin o " e, portanto, não co r­ ria p erig o algum (Jo 1 1 :7 -1 0 ). S o m en te quando "era chegada a sua hora" (Jo 1 3 :1 ; 1 7 :1 ) é que seus inimigos tiveram o poder de prendê-lo e de crucificá-lo. Se o Pai cu i­ da até m esm o de um pardal (M t 1 0 :2 9 ), então ce rtam e n te está cu id an d o de seus filhos preciosos. 516 2 RE I S 6 : 8 - 7 : 2 0 2. O D eus qu e protege (2 Rs 6 :1 5 - 1 7 ) O servo m encionado no texto não é G ea zi, pois ele havia sido afastado de sua função e fora substituído. O jovem acordava cedo o que é bom sinal - , mas ainda era deficien­ te em sua fé. Vendo a cidade cercad a de soldados inimigos, sua reação foi natural e buscou a ajuda de seu senhor. U m a m ulher disse ao evangelista D. L. M oody ter encontrado uma prom essa ma­ ravilhosa que lhe dava paz quando estava preocupada e citou o Salm o 5 6 :3 : "Em me vindo o temor, hei de confiar em ti". M oody disse que tinha uma promessa ainda melhor para ela e citou Isaías 1 2 :2 : "Eis que Deus é m inha salvação ; co nfiarei e não tem erei". Ficam os im aginando quais promessas do Se­ nhor vieram à mente e ao coração de Eliseu, pois é a fé na Palavra de D eus que traz paz em m eio à tem pestade. É possível que se tenha lem brado das palavras de Davi no Sal­ mo 2 7 :3 : "Ainda que um exército se acam ­ pe contra mim, não se atem orizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda assim terei co n fian ça". O u talvez as palavras de M oisés em D euteronôm io 2 0 :3 , 4 lhe tenham vindo à m ente: "N ão desfaleça o vosso co ração ; não tenhais m edo, não trem ais, nem vos aterrorizeis [...] pois o Se­ nhor , vosso Deus, é quem vai co nvosco a pelejar por vós contra os vossos inim igos, para vos salvar". Eliseu não se preocupou com o exérci­ to; antes, sua m aior preocupação foi com o servo assustado. A o andar com Eliseu e ser­ vir a Deus, o rapaz enfrentaria várias situa­ ções difíceis e perigosas e teria de aprender a confiar no Senhor. Nesse caso, provavel­ m ente oraríam o s pedindo ao Sen ho r que desse paz ao coração do jovem ou que acal­ masse sua mente, mas Eliseu orou pedindo a D eus que abrisse os olhos do servo. Ele vivia de acordo com as aparências, não pela fé, e não conseguia ver o enorm e exército angelical do Senhor cercando a cidade. A fé nos permite ver o exército invisível de Deus (H b 1 1 :2 7) e crer que ele nos dará a vitória. Jacó teve uma exp e riê n cia parecida antes de se encontrar com Esaú (G n 32), e Jesus sabia que, se fosse da vontade de seu Pai, um exé rcito de anjos poderia livrá-lo (M t 26:53). "C o m o em redor de Jerusalém estão os montes, assim o S enhor , em derredor do seu povo, desde agora e para sem pre" (Sl 125:2). " O anjo do S enhor acampa-se ao re­ dor dos que o temem e os livra" (Sl 34:7). Os anjos são servos do povo de Deus (H b 1:14), e, até chegarm os ao céu, jam ais saberem os exatam ente quanto eles nos ajudaram. 3. O D eus qu e m o s tra m is e ric ó rd ia (2 Rs 6 :1 8 -2 3 ) Eliseu não pediu que o Senhor ordenasse ao exército angelical para destruir os solda­ dos insignificantes de Ben-H adade. C om o acontece com as nações nos dias de hoje, a derrota só serve para prom over a retaliação, e Ben-Hadade teria m andado outra com pa­ nhia de so ldados. D eu s deu a Eliseu um plano muito melhor. H avia acabado de orar pedindo que o Senhor abrisse os olhos de seu servo e, então, orou pedindo que Deus escurecesse a vista dos soldados siros. O s homens não ficaram inteiramente cegos, pois se isso tivesse acontecido, não poderiam ter seguido Eliseu; porém , sua visão foi enevoa­ da de tal modo que puderam ver, mas não com preender. A ilusão deles era que esta­ vam sen d o c o n d u z id o s à c a sa de Eliseu quando, na verdade, Eliseu os estava levan­ do para a cidade de Samaria! Eliseu mentiu aos soldados siros quando foi ao encontro deles (v. 19)? Não, pois não se encontrava mais na cidade de Dotã e, de fato, estava a cam inho de Sam aria. Na ver­ dade, o profeta estava salvando a vida dos siros, pois se o rei Jorão estivesse no com an­ do, teria dado cabo deles (v. 21). Por certo, Eliseu levou-os até o hom em que estavam procurando. Q uan d o o exército chegou a Sam aria, os guardas devem ter ficado espan­ tados ao ver o profeta conduzindo os solda­ dos, mas atenderam a seu pedido e abriram as portas; em seguida, Deus abriu os olhos dos siros. Im agine qual não foi a surpresa desses soldados ao encontrar-se no centro da capital e à m ercê dos israelitas. Se dependesse do rei Jorão, teria exe­ cutado todos os soldados siros e assumido 2 RE I S 6 : 8 - 7 : 2 0 o cré d ito pela grande v itó ria , mas Eliseu in terve io . O rei usou de m uita gentileza, cham ando Eliseu de "meu pai" (v. 21 ), uma designação usada pelos servos para se diri­ gir a seu senhor (5 :1 3), mas, algum tempo depois, o rei quis cortar a cabeça de Eliseu (v. 32)! C o m o A cab e, seu pai perverso, Jorão poderia matar um inocente num dia e "an­ dar cabisbaixo" diante do Senhor no dia se­ guinte (1 Rs 21), uma instabilidade típica de pessoas de ânim o dobre (Tg 1 :8). A resposta de Eliseu deixou o rei inteira­ m ente de fora. A caso Jorão havia derrotado exército em com bate? D e modo algum! Se houvesse vencido a batalha, teria o direito de executar os prisioneiros, mas se esse não foi o caso, a responsabilidade do rei era lhes dar de com er. Jorão sabia que partilhar uma refeição com eles era o m esm o que fazer uma aliança com os siros (G n 26:26-31), mas ainda assim obedeceu. Na verdade, fez mais do que o profeta havia pedido - que desse pão e água - e preparou um grande ban­ quete aos soldados. Salom ão escreveu: "Se o que te aborre­ ce tiver fom e, dá-lhe pão para com er; se ti­ ver sede, dá-lhe água para beber, porque assim am ontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça, e o S enhor te retribuirá" (Pv 2 5 :2 1 , 22). Paulo citou essas palavras em Romanos 12:20, 21, aplicando-as aos cristãos de hoje. Ver também as palavras de Jesus em M ateus 5:43-48 e Lucas 6:27-36. O rei Jorão deseja­ va executar os siros, mas Eliseu os "abateu com sua bondade". Ao com erem juntos, fi­ zeram uma aliança de paz, e as com panhias de soldados siros deixaram de atacar as fron­ teiras de Israel. Será que esse tipo de abordagem evita­ ria conflitos nos dias de hoje? Devem os nos lem brar de que Israel era um a nação da alian­ ça e de que o Senhor lutava suas batalhas. N en hum a nação p o deria re iv in d icar esse tipo de privilégio. Porém , se a bondade subs­ tituísse as profundas e tão antigas diferen­ ças étnicas e religiosas entre os povos, bem com o o orgulho nacional e a co biça interna­ cional, sem dúvida haveria m enos guerras e bom bardeios. O mesm o princípio aplica-se ao fim do divórcio e ao abuso nas famílias, 517 a tumultos e saques em bairros, a agitações em cam pi universitários e a divisões e confli­ tos em nossas com unidades. "Bem-aventurados os m isericordiosos, porque alcançarão m isericórdia" (M t 5:7 ). 4. O D eus qu e é fie l à sua a lia n ç a (2 Rs 6 :2 4 -3 3 ) O s ataques às frontéiras cessaram , mas BenHadade ll decidiu que era chegada a hora de ir à guerra.1 O s governantes devem pro­ var seu valor ao povo, e derrotar e saquear o inimigo é uma das m elhores maneiras de revelar a própria força e sabedoria. Dessa vez, o rei enviou um exército com pleto, e temos a im pressão de que pegou Jorão in­ teiram ente despreparado. Talvez a paz nas fronteiras tenha tranqüilizado Jorão e o leva­ do a crer que a Síria não representava mais uma am eaça. Tudo indica que, em se tratan­ do de assuntos militares, Jorão não era mui­ to perspicaz. O cerco de Sam aria durou tanto tempo que o povo da cidad e co m eço u a morrer de fom e. Ao que parece, Eliseu havia acon­ selhado o rei a esperar (v. 33), prom etendo que o Senhor faria algo, mas quanto mais esperavam , pior sua situação se tornava. No entanto , é im po rtan te lem brar que D eus advertiu que castigaria seu povo se os israe­ litas não vivessem de acordo com as estipula­ ções de sua aliança. Esses castigos incluíam a derrota militar (Lv 2 6 :1 7 , 2 5 , 33, 36-39; D t 2 8 :2 5 , 2 6 , 49-52) e a fom e (Lv 2 6 :2 6 , 29; D t 28:1 7, 48), e Israel estava sofrendo com as duas coisas. Se o rei Jorão tivesse cham a­ do o povo ao arrependim ento e à oração, a situação teria mudado (2 C r 7:1 4 ). O povo foi degradado a tal ponto que precisou re­ co rrer a alim entos im undos, com o cabeça de jum ento e esterco de pom bos, pagando por eles preços exorbitantes: um quilo de prata pela ca b e ça de ju m en to e sessenta gramas de prata pelo esterco. Pior do que isso, porém , era que os is­ raelitas estavam com endo os próprios filhos, um castigo que também havia sido previsto no caso de o povo transgredir a aliança com Deus (Lv 2 6 :2 9 ; Dt 28:53-57). O rei encon­ trou duas m ulheres nessa situação quando 518 2 RE I S 6 : 8 - 7 : 2 0 estava and ando sobre as m uralhas e ins­ pecionando a cidade. U m a das m ulheres pe­ diu a ajuda do rei, e Jorão pensou que ela queria algo para com er e beber. Na realida­ de, a resposta do rei co lo co u a cu lpa no Senhor e não nos pecados de Israel. Somente Deus poderia encher o chão da eira e o lagar e suprir o alimento e a bebida. M as aque­ la mãe não queria com ida e bebida, mas sim justiça. A am iga dessa m ulher não ha­ via cum prido sua parte no trato e esconde­ ra o filho! Jorão ficou estarrecido que a nação hou­ vesse decaído a esse ponto e rasgou as rou­ pas em público, não co m o sinal de tristeza e de arrependim ento, mas co m o prova de sua ira contra D eus e Eliseu (ver 5 :7 ). Ao fazê -lo , m o stro u que estava u san d o um pano de saco sob o manto real, mas de que ad iantavam panos de saco se não havia hum ildad e nem arrep end im en to no co ra­ ção? As palavras que proferiu em seguida deixam claro que Jorão não assum iu qual­ quer re sp o n sab ilid ad e pelo c e rco e pela fom e e que desejava m atar Eliseu. Chegou até a usar o juram ento que havia aprendido de Jezab el, sua mãe perversa (v. 3 1 ; 1 Rs 1 9 :2 ). A cab e, o pai de Jorão, cham ou Elias de "pertu rb ado r de Israel" (1 Rs 1 8 :1 7 ), e Jorão culpou Eliseu pela situação calam ito­ sa em que Sam aria se en co n tra va. O rei enviou um m ensageiro para prender Eliseu e para que fosse executado. O profeta não se perturbou nem se pre­ ocupou, pois o Senhor sempre dizia a Eliseu tudo o que ele precisava saber. Enquanto o profeta estava sentado em sua casa com os anciãos de Israel, alguns líderes que o ha­ viam procurado para pedir conselho e aju­ da, soube que um oficial estava a cam inho. Tam bém soube que o próprio rei o seguiria para ter ce rte za de que a e xe cu çã o seria levada a cabo. Eliseu já havia deixado claro que não aceitava a autoridade do rei de Is­ rael, pois Jorão não era da linhagem de Davi (3 :1 4). Jorão era filho de A cab e, o rei assas­ sino que, juntam ente com a esposa, Jezabel, matou os profetas do Senhor que se opuse­ ram à adoração de Baal (1 Rs 18 :4 ). Além disso, m ataram seu v izin h o , N abote, para que pudessem co n fisca r sua propried ade (1 Rs 21). Eliseu ordenou que os an cião s m anti­ vessem as portas fechadas até que os dois hom ens estivessem do lado de fora. Ser obri­ gado a ficar esperando à porta não melho­ rou em nada o hum or do rei, que gritou para Eliseu: "Eis que este mal vem do S enhor ; que mais, pois, esperaria eu do S enhor ?" (v . 33). Ele deveria ter dito: "Eu sou a causa dessa grande tragédia e me arrependo de meus pecados! O rem por m im !". H avia uma cláu­ sula na aliança para a confissão e o perdão (D t 30), caso o rei Jorão e o povo tivessem lançado mão dessa possibilidade. O Senhor é sem pre fiel a sua aliança, quer seja para abençoar quando seu povo é obediente quer para disciplinar quando é desobediente. 5 . O D eus qu e cum pre suas promessas (2 Rs 7:1-2 0) Será que Eliseu e os anciãos permitiram que o rei entrasse na sala, junto com seu capi­ tão e mensageiro? E provável que sim, mas q u and o os hom ens fin alm en te abriram a porta, Jorão teve de ser contido - não mui­ to diferente daquilo que havia acontecid o com A cab e, seu pai, quando Elias o acusou de ter assassinado N abote (1 Rs 21:1 7ss). As únicas m ensagens que o Senhor havia enviado ao rebelde rei Jorão eram o exército ao redor da cidade e a fom e dentro da cida­ de e, ainda assim, o rei não se arrependeu. A s bo a s novas d o S e n h o r (vv. 1, 2 ). Q ue grande privilégio para o reino de Israel ter o profeta Eliseu vivendo e ministrando no meio de seu povo! Nos m om entos de crise ao longo da história de Israel, os profetas trans­ mitiam a mensagem de D eus para seu povo, quer eles lhe obedecessem quer não. O rei Jorão podia procurar os sacerdotes de Baal, mas estes não tinham o que lhe dizer. O Senhor falava por meio "dos seus servos, os profetas" (2 1 :10 ). Jorão queria que alguma coisa aconte­ cesse de im ediato, pois se recusava a esperar mais. Porém, Eliseu com eçou sua mensagem dize n d o : "A m anhã, a estas horas mais ou m enos". O que aconteceria? Voltaria a ha­ ver com ida disponível, e os preços abusivos 2 REIS 6:8 - 7:20 cairiam drasticam ente. A flor da farinha para as pessoas e a cevada para os animais deve­ ria custar, àquela altura, aproxim adam ente o dobro de seu preço habitual em tempos de paz. Tratava-se de um grande alívio dian­ te dos preços que o povo havia pago por alim entos im undos. O capitão que estava com o rei não creu nas palavras do profeta e zom bou do que Eliseu disse. "Por acaso será com o o dilúvio de Noé, com com ida sendo derram ada do céu em vez de chuva?", perguntou ele (ver G n 7 :1 1 . A palavra hebraica traduzida por "janelas" significa "com po rtas"). Para o co­ ração hum ilde que se subm ete ao Senhor, a Palavra produz fé, mas o co ração orgulhoso e egocêntrico é ainda mais endurecido pela Palavra. O m esm o sol que derrete o gelo endurece a argila. Na manhã seguinte, todo o povo da cidade - exceto esse capitão despertaria para a vida; o capitão, porém , despertaria para a morte. B o a s n o vas d o a c a m p a m e n to in im ig o (vv. 3-16). A cena se desloca para fora das portas trancadas de Sam aria, onde quatro leprosos viviam em isolam ento (Lv 13 :3 6 ). Ninguém havia falado sobre a prom essa de Eliseu de que haveria com ida. Estavam dis­ cutindo sua situação precária, quando che­ garam a uma co nclusão: se ficassem à beira do m uro, m orreriam de fom e, mas se fos­ sem até o acam pam ento inimigo, poderiam d e sp e rta r algum a p ied ad e e re ce b e r um pouco de alim ento. M esm o que os siros os m atassem , seria melhor ter uma morte rápi­ da pela espada do que morrer lentamente de fom e. A fim de não serem vistos do muro da cidade, esperaram até o crepúsculo para se dirigirem ao acam pam ento dos siros. A m aior parte dos soldados no acam pam ento estaria descansando , e os leprosos teriam de tratar apenas com alguns dos guardas. M as não havia ninguém lá! O Senhor havia feito os soldados ouvirem um som que interpretaram com o a aproxim ação de um grande exército, e os siros abandonaram o acam pam ento do modo que se encontrava e fugiram 40 quilôm etros até o rio Jordão, deixando seus pertences para trás enquan­ to corriam (v. 15). O Senhor derrotara os 519 moabitas com um milagre que havia altera­ do sua percepção visual (3:20-23) e, no caso dos siros, o milagre alterou sua aud ição e pensaram que os exércitos dos egípcios e dos heteus estavam chegando para destruílos.2 O s quatro leprosos fizeram o que qual­ quer hom em fam into teria feito: com eram até se fartar e, depois, saquearam as tendas e esconderam toda a riqueza que puderam encontrar. Po rém , q u and o veio a noite, fize ram outra co n ferên cia e analisaram a situação. Por que um a cid ad e in teira d e veria fic a r passando fom e e as mães com erem os pró­ prios filhos, enquanto quatro hom ens em via de m orrer desfrutavam eg o isticam ente os re cu rso s do a cam p a m en to ab an d o n ad o ? Além disso, quando viesse o dia, a cidade toda descobriria que o inimigo havia fugido e se perguntaria por que os hom ens não haviam dito coisa alguma. Q u an d o a verda­ de a p arecesse , os quatro hom ens seriam castigados por não terem transmitido as boas no vas.3 Já era noite quando voltaram para a ci­ dade e se aproxim aram do guarda que es­ tava à p orta. U m a v e z que esses quatro hom ens viviam junto à porta, é bem prová­ vel que o guarda os conhecesse. O s lepro­ sos lhe deram as boas notícias, e um dos oficiais levou a mensagem ao rei. Revelan­ do mais uma vez sua incredulidade e pessi­ m ismo (3 :1 0 , 13), Jorão afirmou que aquilo não p a ssava de um a a rm ad ilh a e que o inimigo estava escondido, tentando atrair a cidade para fora, a fim de que pudessem invadi-la. Josué havia derrotado a cidade de Ai dessa m aneira (Js 8). O rei não estava duvidando do relato dos leprosos, mas sim rejeitando a palavra de Eliseu. Se Jorão hou­ ve sse c rid o na P a la v ra do S e n h o r, teria aceitado as boas novas dos leprosos. Um dos o ficiais teve o bom senso de arrazoar com o rei, sugerindo que deixasse alguns o ficiais levarem cavalo s e carro s e investigarem o terreno. Se tudo não passas­ se de um ardil e eles fossem m ortos, não faria diferença, pois tam bém teriam morrido se tivessem ficado na cidade. O oficial pe­ diu cinco cavalos, mas o rei lhe deu apenas 520 2 RE I S 6 : 8 - 7 : 2 0 dois carros, provavelm ente com dois cava­ los ca d a um . O s h o m ens en co n traram o acam pam ento vazio e, então, seguiram a rota de fuga dos soldados até o rio Jordão, um a distância de quarenta quilôm etros, e viram no chão roupas e equipam entos que os siros haviam deixado para trás durante a fuga. O s espias correram de volta para a ci­ dade e contaram as boas notícias de que o exército siro havia partido e de que seu acam ­ pamento estava esperando para ser saquea­ do. Sem dúvida, foram ótimas novas para o povo, que encontrou com ida para se alim en­ tar e para vend er na cidade, sem falar no valor dos bens materiais que poderiam ser transformados em dinheiro. Porém , a lição mais im portante desse relato não é que Deus salvou seu povo quando não m erecia, mas que Deus cumpriu a promessa que havia fei­ to por intermédio de seu profeta, Eliseu. O b ­ serve a ênfase sobre a expressão "segundo a palavra do S e n h o r " nos versículos 16 a 18. Jesus prometeu voltar, mas, neste fim dos tempos em que vivem os, há quem questio­ ne ou que até mesmo negue essa promessa. 1. C um prindo o que Pedro anteviu em 2 Pedro 3, os escarnecedores encontram-se em nos­ so m eio e perguntam: "O n d e está a promes­ sa da sua vinda?" A igreja é com o os quatro leprosos: temos as boas novas da salvação e não devem os guardá-las para nós mesmos. Se as pessoas não crerem na Palavra do Se­ nhor, não estarão prontas para sua vinda; mas, se nós não transmitirmos a mensagem, não há co m o se prepararem . O que dire­ mos quando encontrarm os o Senhor? M á s n o tícia s pa ra o ca p itã o d o re i (vv. 17-20). A o que p a re ce , aos p o u co s esse oficial havia aceitado a atitude pessimista e incrédula do rei. Para ele, era im possível os preços caírem tanto num só dia e haver fari­ nha e cevada disponíveis tão rapidamente, mas foi isso o que D eus fez! As m esm as pessoas que pensaram que iriam morrer de fom e correram para fora da porta, derruba­ ram o capitão, pisotearam seu corpo, e ele m orreu. A Palavra do Senhor perm aneceu, mas o hom em que negou essa Palavra foi morto. Jesus disse: "Passará o céu e a terra, porém as m inhas palavras não p assarão" (M t 2 4 :3 5 ). "Ben-Hadade" era o título ou “nome real" dos governantes siros, assim como a denominação "Faraó" era o título do rei egípcio. 2. Mais de um século atrás, os estudiosos seculares costumavam sorrir quando se fazia menção aos heteus, referindo-se a eles como um "povo mitológico citado na Bíblia". No entanto, escavações arqueológicas revelaram a existência de uma poderosa civilização hetéia, inimiga freqüente de Israel. Mais uma vez, as pás dos arqueólogos tiveram de confirmar a veracidade do registro das Escrituras. 3. Não é preciso muita imaginação para aplicar essa cena à igreja de hoje. jesus conquistou a vitória sobre Satanás, e "este dia é de boas novas". O s cristãos estão desfrutando todas as bênçãos da vida com Deus, enquanto um mundo inteiro está sofrendo e morrendo. Com o podemos guardar essas boas novas para nós mesmos? Se o fizermos, responderemos por isso quando estivermos diante do juiz. Como nos manter calados num dia de boas novas? 5 C o lh en d o os Frutos d o P ecado 2 (2 R e is 8:1 - 9 : 3 7 C r ô n ic a s 2 1 : 1 - 22:9) E lifaz disse algumas coisas absurdas a seu amigo Jó quando este estava sofrendo, mas tam bém declarou alguns princípios eter­ nos com o este: "Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniqüidade e sem eiam o mal, isso mesm o eles segam " (Jó 4 :8 ). Salom ão repetiu essa verdade em Provérbios 2 2 :8 : "O que sem eia a injustiça segará m ales", e o profeta O séias expressou esse fato de modo bastante vivido ao dizer: "Porque sem eiam ventos e segarão torm entas" (O s 8 :7 ). Jero­ boão, O n ri e A cab e haviam levado Israel, o reino do Norte, à idolatria, e Jeorão, que se casara com uma filha de A cabe, havia intro­ duzido o culto a Baal no reino de Judá. O s dois reinos encontravam-se rebeldes contra o Senhor e contam inados pela idolatria, mas o dia do julgam ento havia chegado para a dinastia de A cab e, conform e o profeta Elias havia prenunciado (1 Rs 2 1 :2 1 , 29). 1. A g ra n d e z a de D eu s (2 Rs 8:1-6) É evidente que esse acontecim ento ocorreu antes da cura de N aam ã (2 Rs 5), uma vez que dificilm ente o rei receberia um leproso no palácio, e G e a zi foi acom etido de lepra (5 :2 7). O autor de 2 Reis não afirm a seguir um a cro n o lo g ia ríg ida, nem sab e m o s ao certo qual rei G ea zi estava entretendo com histórias sobre seu senhor. Talvez esse epi­ sódio tenha ocorrido no início do reinado de Jorão. Trata-se de um relato que traz à m em ória a grandeza do Senhor. O s aconte­ cim entos subseqüentes revelam a pecaminosidade das pessoas, mas essa seção nos lem bra de que D eus é grande e realizará seus propósitos apesar da iniqüidade de seu povo, seja ela enorm e ou pequena. D e u s co n tro la a n a tu reza (8 :1 , 2 ). A mu­ lher sunam ita rica e sua fam ília aparecem pela prim eira vez em 2 Reis 4:8-37. Em vá­ rias ocasiões, D eus usou a escassez de ali­ m entos para disciplinar seu povo, pessoas d esobedientes que precisavam ser lem bra­ das de suas obrigações dentro da aliança (D t 28:1 7, 4 8 ). É possível que essa fom e tenha sido a m esm a citàda em 4 :3 8 . O pro­ feta alertou a m ulher para que escapasse da fom e mudando-se para a terra dos filisteus. Sabendo de antem ão que a escassez de ali­ m entos era im inente, a m ulher conseguiu providenciar um lugar tem porário para mo­ rar na Filístia antes dos outros que fugiriam po sterio rm en te de Israel. O b se rv e que o marido dela não é m encionado; porém , uma vez que era mais velho do que ela (4 :1 4 ), é bem provável que tivesse falecido. A fom e veio por ordem do Senhor e es­ tava sob seu controle, pois ele é Senhor de tudo. "Fez vir fom e sobre a terra e cortou os m eios de se obter pão" (Sl 1 0 5 :1 6 ). No prin­ cípio, D eus falou e a criação passou a exis­ tir (G n 1), e, nos dias de hoje, Deus fala e a criação obedece à sua vontade (ver Sl 148). Se, nesses tempos de disciplina e aflição, o povo de D eus tivesse orado e confessado seus pecad os, D eus os teria livrado (2 C r 7:1 4 ). Q uand o as pessoas ignoram a Pala­ vra de D eus, o Senhor pode falar por inter­ médio de sua criação e nos lembrar de que está no controle. D e u s co n tro la a vida e a m o rte (8:3-5). O relato dos m ilagres na v id a da m ulher sunam ita revela o poder extraordinário de Deus. Ela não tinha filhos, e seu marido era de idade, mas assim com o fez com Abraão e Sara (G n 1 7), o Senhor deu nova vida ao casal, e a m ulher co ncebeu e deu à luz um filho. M as o filho adoeceu e morreu e, no entanto, o Senhor o ressuscitou dentre os mortos. E Deus quem nos preserva no meio dos viventes (Sl 6 6 :9 ) e "na sua mão está a alma de todo ser vivente e o espírito de todo 0 gênero hum ano" (Jó 1 2 :1 0 ). "Pois nele vi­ vem o s, e nos m ovem os, e e xistim o s" (At 1 7 :2 8 ). As fom es nos lem bram de que so­ mente Deus pode tornar a natureza produ­ tiva, e a morte nos lembra de que somente 522 2 R E I S 8: 1 - 9 : 3 7 Deus dá vida e tem o poder e a autoridade de tomá-la. "N ão há nenhum hom em que tenha dom ínio sobre o vento para o reter; nem tam pouco tem ele poder sobre o dia da morte" (Ec 8:8 ). Por sua providência, D eus controla to­ dos os acontecim entos da vida (8:5, 6). No m esm o instante que G ea zi descrevia o mila­ gre m aravilhoso da ressurreição, a mãe da crian ça entrou na sala do trono! Ela havia voltado para casa e desco b riu que gente d e sc o n h e cid a tinha se ap ossad o de suas história, D eus está no co m an d o . Ele sabe todas as coisas e pode tudo; está presente em toda a parte executando sua vontade; é um D eus longânimo com os pecadores, mas que, a seu tempo, julga aqueles que lhe de­ sobedecem . Ainda que nosso m undo esteja estrem ecendo (H b 12:25-29), podem os con­ fiar que Deus está fazendo o que é certo. 2. A PERVERSIDADE DO CORAÇÃO h u m a n o (2 Rs 8 :7 -1 5 ) terras e a roubado de sete anos de produ­ ção. N aquele tempo, era com um levar pro­ blem as desse tipo diretam ente ao rei, que decidia, então, com o a propriedade deveria ser dividida. O fato de G e a zi estar lá com o testem unha de que as terras pertenciam à m ulher facilitou ainda mais a decisão do rei. Anos antes, quando seu filho havia m orrido, a mulher nem sequer imaginou que aquela experiência tão dolorosa teria um papel im­ Q u an d o o Senhor encontrou-se com o pro­ feta Elias no monte H orebe (1 Rs 19:8-18), deu-lhe uma com issão tripla: ungir H azael para ser rei da Síria, ungir Jeú para ser rei de Israel e ungir Eliseu para ser seu sucessor (1 Rs 19:15, 16). Antes de ser levado para o céu, Elias havia cum prido apenas uma des­ sas co m issõ es - a unção de Eliseu (1 Rs 19:19-21) - de modo que podem os supor que pediu a Eliseu que cuidasse das outras duas tarefas. Jeú se tornaria o flagelo desi­ portante na preservação de sua propriedade. Nosso termo "providência" vêm de duas gnado por D eus para livrar a terra dos des­ cendentes perversos e da falsa religião de palavras em latim - p ro e video - que, ju n ­ tas, significam "ver adiante, ver de antem ão". D eus não apenas sabe o que se encontra à nossa frente, com o tam bém planeja o que há de aco n te cer no futuro e e xe cu ta seu plano com perfeição. Talvez um termo mais apropriado seja "preparativo". A providên­ cia de D eus não interfere de modo algum em nosso poder de esco lha ou em nossa responsabilidade pelas escolhas que fazem os e suas co n seq ü ê n cias (ver 1 C r 2 9 :1 1 ; Jó 4 1 :1 1 ; Sl 95:3-5; 1 3 5 :6 ; 139:13-18; D n 4 :3 5 ; Tg 4:13-15). Esse episódio feliz no palácio do rei nos revela o caráter de D eus e serve de preparativo para os acontecim entos tu­ multuados subseqüentes. H azael assassina Ben-Hadade e. se torna rei da Síria. Jeú varre a terra de Israel e, no processo de exterm i­ nar a casa de A cab e e a adoração a Baal, mata reis, príncipes e sacerdotes pagãos. A perversa rainha Jezabel e a rainha-mãe Atalia encontram a morte e pagam por suas perversidades. Um período e tanto da história! Não obstante, o Senhor estava assentado em seu trono, julgando o pecado e cum prindo sua Palavra. Não im porta o que ocorre na A cab e. A m issão de Eliseu (vv. 7-13). Eliseu precisou ter fé e coragem para v iajar até D am asco. A final, em várias ocasiões, havia frustrado os planos da Síria de atacar as ci­ dades fronteiriças de Israel (6:9-12) e havia hum ilhado o exército siro ao co n d u zir os soldados até Sam aria e mandá-los de volta para casa com a barriga cheia, mas com as mãos vazias (6:14-23). Por causa de Eliseu, o exército siro havia fugido de Sam aria, e os israelitas puderam saquear seu acam pam en­ to (7:1 ss). Q uand o Eliseu levou o grupo de soldados para a capital de Israel, dem ons­ trou m isericórdia para com eles e salvou a vida daqueles homens. O fato de o rei Ben-Hadade da Síria es­ tar gravemente enferm o e de querer a ajuda do Senhor tornou a chegada de Eliseu ainda mais significativa. Era um rei pagão buscan­ do a ajuda de um profeta de Jeová, o que talvez tivesse alguma relação com a conver­ são de N aam ã. A lém d isso , B en -H adade enviou H azael, um de seus oficiais do alto escalão, para encontrar Eliseu e oferecer-lhe presentes caros. E provável que os presentes 2 R E I S 8: 1 - 9 : 3 7 fossem mais um a espécie de "su b orno " e que o rei tivesse esperanças de que sua ge­ nerosidade levaria Eliseu a dar-lhe uma res­ posta favorável. Porém, assim com o Elias, seu mestre, Eliseu sem dúvida se recusou a acei­ tar os presentes (5 :1 5 , 16). Ao cham ar o rei da Síria de "teu filho ", H azael estava ten­ tando honrar Eliseu ainda mais (ver 6 :2 1 ). Então, fez a pergunta-chave: Ben-Hadade iria se recuperar de sua enfermidade? A resposta de Eliseu parece intencionalm ente ambígua, pois o texto hebraico pode ser entendido tanto co m o : "C ertam en te sararás" quanto co m o : "C ertam en te não sararás". A o que parece, o profeta estava dizendo: "Essa en­ ferm idade não tirará sua vida, mas ele m or­ rerá de outra form a". Em outras palavras, a doença do rei não era term inal, mas sua vida estava prestes a term inar. C o m o alto oficial do rei, H azael desejava dar boas notícias ao rei, de m odo que não lhe transmitiu a segun­ da parte da m ensagem . Eliseu não estava mentindo para Hazael. À pergunta de H azael: "O rei irá sarar dessa doença?" respondeu dizendo: "Sim e não". Não, a enferm idade não iria matar o rei, mas, sim, alguma outra coisa iria tirar sua vida. Porém, Eliseu não re­ velou o que era essa "outra coisa" nem quan­ do isso aconteceria. Eliseu o lh o u fix a m e n te para H a z a e l, com o se estivesse lendo seus pensam entos e vendo seu coração e, em seguida, o pro­ feta com eçou a chorar. O Senhor havia lhe mostrado parte da violência e derram am en­ to de sangue que viria das mãos de H azael, atos brutais que costum avam ser praticados em tem pos de guerra (1 5 :1 6 ; O s 1 3 :1 6 ; Am 1:3-5). A resposta de H azael indica que ele reconhecia sua condição de subordinado no governo e que im aginava onde conseguiria a autoridade para fazer tais co isas.’ Ao chamar-se de "cão " não estava se referindo a sua natureza perversa - "Por acaso sou al­ gum cão para fazer tais coisas?" - , mas sim ao fato de ser um "joão-ninguém ", um ser­ vo hum ilde do rei, um hom em desprovido de tam anha autoridade. A réplica de Eliseu deixou o siro estarrecido: H azael teria toda a autoridade necessária, pois se tornaria rei da Síria. O texto não diz, mas é possível que 523 tenha sido nesse m om ento que Eliseu ungiu H azael com óleo sagrado. Se esse foi o caso, H azael foi o único rei da Síria a ter a unção do Senhor. M esm o antes de Eliseu anunciar a pro­ m oção de H azael, pode ser que tenha visto no coração do siro seu plano de matar BenHadade. O u será que foram as palavras do profeta que incitaram èsse desejo? D e qual­ quer m odo, Eliseu não poderia ser culpado p o r a q u ilo q u e H a z a e l d e c id is s e fa z e r. H azael aceitou o fato de que seria o próxi­ mo rei, mas não perguntou co m o isso ira acontecer. Eliseu deixou claro que o rei iria m orrer, mas não em d e c o rrê n c ia de sua enferm idade. Talvez H azael tenha pensado: "Se o rei vai morrer de qualquer form a, en­ tão por que esperar? Por que não lhe tirar a vida agora e me tornar rei bem antes?" Q u an ­ do o co ração hum ano está inclinado para o mal, pode criar todo tipo de justificativa. "En­ ganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadam ente corrupto; quem o conhecerá?" (Jr 17:9). Q uando o rei perguntou qual havia sido a mensagem de Eliseu, Hazael lhe transmitiu a primeira parte e disse: "C ertam ente sara­ rás". Q uanto a isso, disse a verdade, pois o rei não morreria de sua enfermidade. Porém, a fim de garantir que a segunda parte da mensagem se cumpriria, H azael sufocou BenHadade com um cobertor molhado e pesa­ do e tomou o trono para si. Reinou sobre a Síria durante quarenta anos (841-801 a.C .). 3. A INSENSATEZ DA TRANSIGÊNCIA (2 Rs 8 :1 6 - 2 9 ; 2 C r 2 1 ) O escritor m uda seu enfoque para Judá, o reino do Sul, e relata com o o rei Jeorão trou­ xe a apostasia e o julgam ento sobre a terra. D urante cin co anos, Jeorão foi co-regente de seu pai, Josafá, e quando Josafá morreu, Jeo rão assum iu o trono. Era casado com Atalia, filha de A cab e, e Josafá havia ajuda­ do A cab e a lutar contra os siros em RamoteG ilead e (1 Rs 22). Em outras palavras, aos poucos, o muro de separação entre a dinas­ tia de Davi em Judá e os descendentes de A cab e em Israel estava ruindo. O futuro do grande plano divino de salvação dependia 524 2 RE I S 8: 1 - 9 : 3 7 da dinastia davídica, de m odo que Jeorão estava se deixando usar pelo inim igo. Ao m ostrar-se co n d e sc e n d e n te para com os governantes perversos de Israel, Jeorão de­ sagradou o Senhor e enfraqueceu a nação. U m re in a d o d e te rro r (vv. 16-22). Q u an ­ do subiu ao trono, Jeorão imitou o exem plo de Jezabel e assassinou todos os seus irmãos e qualquer um que pudesse am eaçar sua autoridade (2 C r 2 1 :1-7). Seu pai havia dado a cada um dos filhos uma cidade fortificada sobre a qual governar, e Jeorão não queria que seus irm ãos form assem um a co alizão contra ele. Em vez de reuni-los para orar e adorar a D eu s no tem plo e b u scar a sua bênção, Jeorão seguiu os cam inhos de A ca­ be e de Jezabel e reinou pela espada. Seu desejo era ver os irm ãos fora do cam inho para que não pudessem opor-se a sua políti­ ca de promover o culto a Baal. Jezabel havia vencido outra vez. Deus poderia ter destruído o rei e seu reino, mas, p o r am or a Davi, ele m anteve viva a sua dinastia (v. 19; ver 1 Rs 11:36 e 15:4 e Sl 89:29-37 e 1 3 2 :1 7 ). Porém , o Se­ nhor permitiu que Judá fosse derrotado vá­ rias vezes, inclusive nas revoltas de Edom e de Libna (vv. 20-22; 2 C r 21:8-11). Davi ha­ via derrotado e subjugado Edom (2 Sm 8 :1 3 , 14; 1 Rs 1 1 :1 5 -1 7 ), porém , um a vez que estavam livres de Judá, colocaram o próprio rei no trono. O exército de Jeorão havia in­ vadido Edom, mas tinha sido cercado pelas tropas de Edom e mal conseguiu rom per as linhas inimigas a fim de bater em retirada. Um a palavra d e ad vertên cia (2 C r 21:1215). O b servam o s anteriorm ente que o es­ critor de 2 Reis não seguiu uma cronologia rígida, e tem os aqui outro exem plo. O arrebatamento do profeta Elias é registrado em 2 Reis 2 :1 1 , mas o rei Jeorão de Judá, filho de Josafá, é m encionado em 1:17. Isso sig­ nifica que Elias ainda estava vivo e m inis­ trando no início do reinado de Jeorão. Não sabem os quanto tem po se passou entre a ascensão de Jorão ao trono de Israel e os acontecim ento registrados em 2 Reis 2 que levaram ao arrebatam ento de Elias. A reda­ ção dessa carta para o rei de Judá pode ter sido um dos últimos m inistérios de Elias.2 O profeta lem brou je o rão de três gran­ des reis de Judá: D avi, que fundou a dinas­ tia real; A sa, um rei piedoso que purificou a terra do mal (1 Rs 15:9-24; 2 C r 14 - 16); e Josafá, o pai de Jeorão.3 Em vez de seguir o cam inho desses reis, Jeorão imitou o modelo de A cabe. Em decorrência disso, o povo se­ guiu seu mau exem plo e não foi difícil tornar a adoração a Baal amplam ente difundida em Judá, o único lugar onde Jeová havia sido adorado sem transigências ao paganismo. Jeorão não apenas era idólatra, mas tam­ bém assassino e matou os próprios irmãos, de modo que o Senhor o faria colher aquilo que havia sem eado. O inimigo invadiria e saquearia o reino de Judá e levaria os tesou­ ros de Jeorão bem com o suas esposas e fi­ lhos. Então, o rei seria acom etido de uma enferm idade intestinal incurável que lhe cau­ saria grande dor e, por fim, lhe tiraria a vida. E ssas d u a s p re v is õ e s se c u m p rira m O s filisteus e os árabes invadiram jud á, levaram em bora os tesouros do palácio e as esposas e filhos de Jeorão, com exceçã o do jovem A cazias, co nhecido tam bém com o Joacaz. O rei contraiu uma doença intestinal dolo­ rosa e persistente e m orreu dois anos de­ pois. No entanto, o po vo não lamentou sua morte nem fez a tradicional "fogueira real" em sua hom enagem . M as talve z a m aior hum ilhação tenha sido o fato de seu corpo não ser sepultado num túmulo real, apesar de ter ficado na cidade de D avi.4 A co n d e scen d ê n cia de Jeo rão valeu a pena? E claro que não! "H á cam inho que p arece direito ao hom em , mas afinal são cam inhos de m orte" (Pv 16:25). Infelizm ente, Jeorão foi sucedido por seu filho, A cazias, tam bém seguidor do clã de A cab e, pois sua mãe, Atalia, era filha de A ca­ be.5 A cazias aliou-se a seu tio, o rei Jorão, para tom ar Ram ote-Gileade de H azael, rei da Síria, conflito no qual Jorão foi ferido. Jorão voltou a seu palácio em Jezreel a fim de convalescer, e o rei A cazias desceu para visitar e anim ar o tio. Por que o escritor for­ nece esses detalhes aparentem ente triviais? Para nos informar que o Senhor estava reu­ nindo as pessoas que seriam m ortas por causa de seus pecados. "Foi da vontade de 2 RE I S 8: 1 - 9 : 3 7 Deus que A cazias, para sua ruína, fosse visi­ tar a Jorão" (2 C r 2 2 :7 ). Ter o rei de Judá e o rei de Israel juntos num mesm o lugar facili­ taria o trabalho de Jeú quando este fosse cum prir a ordem do Senhor. 4. A REPENTINIDADE DA OCASIÃO (2 Rs 9 :1 -1 3 ) A cena m uda para Ram ote-G ileade, onde Israel e Judá haviam unido forças para reto­ mar a cidade dos siros. Um dos principais com andantes do exército de Israel era Jeú, filho de Josafá, porém não se trata do mes­ mo Josafá que foi rei de Judá e pai de Jeorão. Sem que Jeú tivesse conhecim ento, o profe­ ta Eliseu havia enviado um de seus jovens discípulos dos profetas para ungir o rei de Israel. Essa era a terceira tarefa que Deus havia dado a Elias (1 Rs 19:1 5, 16). Eliseu foi sábio quando, em v e z de ir pessoalm ente ao cam po de batalha, deu ao rapaz a autori­ dade de ungir Jeú em particular. Eliseu acon­ selhou o discípulo a fugir do local o mais rápido que pudesse, pois, sem dúvida, have­ ria um conflito grave. Jeú estava tendo um a reunião com seus capitães no pátio quando o rapaz o abor­ dou e pediu um a aud iên cia particular. O s dois foram para uma câm ara reservada no interior da casa, e lá o rapaz ungiu Jeú para ser o novo rei de Israel. É interessante que o jovem profeta cham ou o povo de Israel de "povo do S e n h o r " (9 :6 ). A pesar de Israel e Judá serem reinos separados e de não esta­ rem em conform idade com a aliança, os ci­ dadãos dos dois reinos ainda eram o povo e s c o lh id o de D e u s e d e s c e n d e n te s de Abraão. As alianças do Senhor com Abraão (G n 12:1-3) e com D avi (2 Sm 7) continua­ vam em vigor. O povo havia abandonado o Senhor, mas ele não os havia deixado. O jovem não encerrou seu trabalho com a unção, mas prosseguiu explicando a Jeú o que D eus queria que ele fizesse. Sua princi­ pal tarefa era exterm inar a fam ília de A cabe em Israel e executar o julgam ento de D eus sobre eles por causa de todos os inocentes que haviam m atado. M encionou especifica­ mente os crim es de Jezabel e seu julgam en­ to, referindo-se às palavras proferidas por Elias 525 quando confrontou A cab e (1 Rs 21:21-24). É possível que essa profecia tivesse sido es­ quecida pelos descendentes de A cab e, mas D eu s lembrava-se dela e havia chegado a hora de cumpri-la. Assim com o Deus exter­ m inara os descendentes de Jeroboão e de Baasa (1 Rs 15:25 - 1 6 :7 ), tam bém usaria Jeú para destruir a casa de A cabe. O s oficiais no pátio devem ter se pergun­ tado quem era o rapaz e por que sua men­ sagem para Jeú era tão co nfid en cial. Será que viera da frente de batalha? H averia algu­ m a m u d a n ça na estraté g ia de co m b ate? Q u an d o o rapaz saiu co rrendo da casa e fugiu, os oficiais tiveram certeza de que era louco. Mais de um servo de Deus já foi acusa­ do de lo ucu ra, in clu sive Paulo (A t 2 6 :2 4 ; 2 C o 5:13) e Jesus (M c 3 :2 0 , 21, 31-35; Jo 10 :2 0 ). Na verdade, é o mundo perdido que está louco e o povo de D eus que é são. Foi um sinal de hum ildade da parte de Jeú não ter anunciado im ediatam ente que ele era o rei? O s oficiais tiveram que extrair dele a verdade, mas, um a vez que ficaram sabendo, aceitaram a prom oção de seu co ­ m andante e a reconheceram abertam ente. No que se refere ao relato bíblico, Jeú é o único rei de Israel que foi ungido por um servo esco lhido de D eus. A oportunidade de Jeú surgiu de súbito, mas ele a aceitou pela fé e com eçou a servir ao Senhor ime­ diatam ente. H á um provérbio chinês que diz: "A oportunidade tem um topete, mas não tem um rabicho. U m a v ez que ela passa não se pode agarrá-la". C o m o décim o rei de Is­ rael, Jeú deu início a um a nova dinastia e reinou durante vinte e oito anos (1 0 :36 ). 5. A ra p id e z d o ju lg a m e n t o de Deus (2 Rs 9 :1 4 - 3 7 ; 2 C r 2 2 :1 -9 ) Q uand o Jeú com eçou sua cruzada, a situa­ ção era a seguinte. A cazias estava reinando em Judá, tendo com o conselheiros sua mãe perversa, Atalia, e os líderes da casa de A ca­ be em Israel. Baal era seu deus e não tinham interesse algum na lei do Senhor. A cazias havia ido a Jezreel para visitar o rei Jorão, que se recuperava dos ferim entos que ha­ via sofrido em Ram ote-Gileade e não sabia que D eus havia dado um novo rei a Israel. 526 2 RE I S 8: 1 - 9 : 3 7 Jeú queria pegar seus inimigos de surpresa e, portanto, ordenou a seus capitães que não divulgassem a notícia de que ele era rei. A m orte de Jorão (vv. 16-26). RamoteG ilead e ficava cerca de setenta quilôm etros de Jezreel, mas Jeú conduziu seu carro com rapidez e ousadia, e seus hom ens estavam acostum ados a viajar a velocidades que, para aquele tempo, eram assustadoras. A palavra "p az" (shalom ) é repetida oito vezes nesta seção (vv. 17-19, 22, 31), mas o que oco r­ reu foi, na verdade, uma declaração de guer­ ra. Sem desacelerar seu ritmo, Jeú recebeu os dois mensageiros de Jorão e lhes orde­ nou que acom panhassem seus soldados, e sua ordem foi o b ed ecid a. Porém , quando os dois m ensageiros não voltaram a Jerzreel, Jorão ficou d e sconfiado e m andou que o próprio carro fosse preparado para uma fuga. Jorão e A cazias facilitaram , em muito, o trabalho de Jeú quando cada um subiu em seu carro e foi ao encontro do hom em que havia sido identificado com o Jeú. Talvez os dois tivessem esperança de que Jeú estava trazendo consigo boas novas da frente de batalha. E possível que, com sua pergunta: " H á paz, Jeú?", Jorão quisesse saber se a batalha de Ram ote-Gileade havia tido resul­ tado favorável ou, então, se o capitão viera em paz. Se tinha em mente o últim o caso, isso indica que Jeú talvez fosse um "reb el­ de" no exército de Jorão, e é provável que o rei suspeitasse de seu interesse no trono. A resposta de Jeú6 mostrou ao rei, no mesmo instante, que havia perigo no ar, o que o levou a tentar fugir. Jorão advertiu o sobri­ nho, A cazias, que conseguiu escapar, mas depois foi pego, enquanto uma flecha cer­ teira tirou a vida de Jorão. Um a vez que es­ tava se recuperando de ferim entos, Jorão provavelm ente não havia co locado sua ar­ m adura. Num golpe da providência, Jorão morreu na propriedade que A cab e e Jezabel haviam confiscado depois de matar Nabote, seu proprietário, bem com o os filhos dele. A ssim , o S en h o r cu m p riu a p ro fe cia que havia dado a Elias (1 Rs 21:18-24). ■)e'u riao apenas executo u o réi, com o tam bém matou todos os príncipes da casa real (2 C r 2 2 :8 ). A m orte de Acazias (vv. 27-29; 2 C r 22:19). Não é fácil conciliar os relatos da morte de A cazias em 2 Reis 9:27-29 e 2 Crônicas 22:7-9, mas sugerimos a seguinte situação. Acazias foi ferido enquanto fugia de Jezreel (v. 27), conseguiu chegar até Bete-Hagã e, depois, encam inhou-se para o noroeste, à subida de Gur, e de lá rumou para Megido, onde tentou esconder-se de Jeú. Porém, os homens de Jeú foram ao encalço de Acazias e o mataram em M egido. O s servos de A ca­ zias levaram seu corpo de M egido para Jeru­ salém, onde ele foi sepultado com os reis, pois era um descendente de Davi. Se não tivesse cedido a Jorão, adorado Baal e segui­ do os conselhos de sua mãe, Atalia, teria sido poupado de toda essa vergonha e derrota. A m orte de Jezabel (vv. 30-37). Não tar­ dou para q u e Je zab e l e os residentes do palácio ficassem sabendo que Jeú estava em Jezreel, que era rei e que havia dado cabo de Jorão, filho de Jezabel. Ela se maquiou, "enfeitou a cab eça" e ficou observando de uma janela no piso superior, esperando Jeú chegar. Q uand o o viu passar pelo portão, perguntou: "Teve paz Zinri, que matou a seu senhor?" (v. 3 1 ). C e rc a de cinqüenta anos antes, Zinri havia matado o rei Elá, procla­ mado-se rei e, em seguida, exterm inado a família de Baasa (1 Rs 16:8-20). Tendo em vista que Zinri reinou apenas por sete dias e depois se m atou, é evidente que Jezabel estava tentando advertir Jeú de que sua au­ toridade era fraca e de que seus dias esta­ vam contados. E possível, até, que estivesse sugerindo que Jeú form asse uma aliança com ela a fim de fortalecer seu trono. No entanto, Jeú sabia a ordem que havia recebido do Senhor. Q uand o pediu provas de lealdade dos funcionários do palácio, dois ou três servos responderam e atiraram Jeza­ bel pela janela para o pátio logo abaixo. Jeú a atropelou com seu cavalo até ter certeza de que estava m orta. U m a vez que era o novo rei, Jeú entrou no palácio e pediu al­ guma co isa para co m e r. Enqu an to estava jantando, lembrou-se de que, por mais per­ v ersa que “ÍDí^e, 'je za W i xrrnci piSm-esa. filha de Etbaal, o governante de Sidom (1 Rs 16:29-31), e assim ordenou aos servos que 2 RE I S 8: 1 - 9 : 3 7 sepultassem o corpo dela. M as era tarde de­ mais, pois, ao sentirem o cheiro de sangue humano, os cães selvagens haviam aparecido e se alim entado de seu cadáver, deixando apenas o crânio, os pés e as palmas das mãos. 527 Foi um a cen a repulsiva, mas ocorreu exa­ tam en te co m o Elias h avia previsto (1 Rs 21:21-24). A Palavra de Deus nunca falha e sem pre cum pre os propósitos do Senhor na terra (Is 5 5 :1 0 , 11). 1. O texto hebraico diz, simplesmente: "fazer esta grande coisa" (v. 13). Para um soldado profissional, aquilo que Eliseu descreveu, 2. Essa é a única vez que Elias é mencionado em 1 e 2 Crônicas. O Elias em 1 Crônicas 8:27 era um membro da tribo de 3. Juntamente com Davi, os reis destacados com mais freqüência por sua piedade são Asa, Josafá, Joás, Ezequias e Josias. 4. 2 Reis 8:24 diz que Jeorão foi sepultado "com seus pais", o que parece uma contradição com 2 Crônicas 21:20. É possível que no versículo 12, era "uma grande coisa". Não se tratava daquilo que Hazazel faria, mas de como teria autoridade para fazê-lo. Benjamim. Jeorão tenha sido sepultado num dos túmulos dos reis, mas que, posteriormente, seu corpo tenha sido (evado para outro local. A opinião popular era tão contrária a honrar Jeorão, que seu corpo foi removido dos túmulos reais e sepultado em algum outro lugar em Jerusalém. 5. Atalia é sempre identificada com Acabe, porém não com Jezabel. Apesar de ter aprendido muito de sua perversidade com Jezabel, não podemos tomar por certo que Jezabel fosse sua mãe biológica. A designação "filha de Onri" (8:26) deve ser entendida como "neta de Onri". Ver 2 Crônicas 22:2, NV!. 6. O termo "prostituições", no versículo 22, refere-se à adoração idólatra de Jezabel a Baal. Nos livros dos profetas do Antigo Testamento, o adultério e a prostituição eram imagens comuns para a idolatria. Quando aceitou a aliança no Sinai, Israel casou-se com o Senhor e foi advertido de que deveria adorar somente a Deus e não se entregar à idolatria (Is 54:5; Jr 3:14 e 31 -.32; O s 2:2). Em Israel, assim como as mulheres adúlteras eram apedrejadas, os idólatras também eram executados (Dt 13). 6 A E spa d a e a C oroa 2 R eis 1 0 - 1 1 (2 C r ô n ic a s 2 2 : 1 0 - 2 3 : 2 1 ) O estudo destes dois capítulos nos dá a im pressão de estarm os lendo o jo r­ nal ou assistindo ao noticiário da noite na televisão. Vem os dois líderes - Jeú, antigo com andante do exército e então governante de Israel, o reino do Norte, e Joiada, sumo sacerdote do templo em Jerusalém , no rei­ no do Sul. Ao observar esses dois homens, re co n h e ce m o s que as m esm as fo rça s do bem e do mal estavam atuando no mundo deles, co m o continuam a fazer em nosso m undo nos dias de hoje. Tam bém vem os a diferença entre líderes motivados por ambições egoístas e líderes mo­ tivados pela devoção espiritual. Jeú orgulha­ va-se de seu "zelo para com o S e n h o r " (10:16), mas esse "zelo " era um a fachada piedosa para esc o n d e r o egotismo e o ódio que, na realidade, motivavam seu serviço. Deus in­ cum biu Jeú de um trabalho im portante, mas Jeú extrapolou essa incum bência e foi lon­ ge dem ais. O Senhor elogiou Jeú por aquilo que ele havia realizado (1 0 :3 0 ), mas também o repreendeu por seu orgulho e transigên­ cia. Em termos hum anos, se não fosse pelo serviço corajoso do sumo sacerdote Joiada e de sua esposa Jeoseba, a dinastia de Davi teria chegado ao fim. O futuro das prom es­ sas de Deus a Davi, que incluía seu grande plano de salvação, encontrava-se intim am en­ te ligado a um bebê cham ado Joás. Vejam os, agora, as forças que atuaram naqueles dias e que continuam agindo em nosso tempo. 1. M e d o e d u p licid a d e (2 Rs 1 0 :1 -1 0 ) A nos antes, Elias havia profetizado que a li­ nhagem do perverso rei A cab e chegaria ao fim e que todos os descendentes de A cabe seriam exterm inados (1 Rs 21:20-29). O Se­ nhor incum biu Jeú de cum prir essa missão quando o ungiu rei de Israel (2 Rs 9:6-10). A pesar de a nação ter se dividido em dois reinos, o povo de Israel ainda era o povo da aliança de D eus, e seus reis não poderiam fa z e r o que bem e n te n d essem . A c a b e e Jezabel haviam prom ovido a adoração a Baal em Israel, e quando Jeorão, rei de Judá, se casou com Atalia, filha de A cab e, também incentivou a adoração a Baal em ju d á (8:161 8 ). C o m e sse c a sa m e n to d e sa c e rta d o , Jeorão não apenas corrom peu Judá com a idolatria, mas tam bém corrom peu a linha­ gem de Davi e colocou em risco o cum pri­ mento das prom essas m essiânicas. Jeú já havia assassinado Jorão, rei de Is­ rael, A cazias, rei de Judá (9:14-29), e Jezabel, a esposa perversa de A cab e (9:30-37). Em seguida, lançou-se num a missão de "busca e destruição" com o objetivo de encontrar e de matar cada um dos descendentes de A cab e. Seu prim eiro desafio foi obter o con­ trole da capital, Sam aria, onde os descen­ dentes do sexo m asculino estavam sendo p ro teg ido s e p re p ara d o s para cargo s de liderança no governo, jeú sabia que não seria fácil seu exército tom ar um a cidade murada co m o Sam aria, mas, co m o era um estrate­ gista astucioso, sabia de um modo pelo qual poderia levar o inim igo a se render. Um a vez que tivesse tomado Sam aria, as outras cid ad es im portantes do reino tam bém se renderiam . Samaria aceita o reinado de Jeú (vv. 15). Jeú estava em Jezreel (9 :3 0 ), cerca de 40 quilôm etros ao norte de Sam aria e, de lá, com unicou-se com os líderes em Sam aria adm inistradores do palácio, líderes militares, tutores e guardiões dos príncipes. Sabia que, se fosse capaz de intim idar esses líderes res­ peitados, poderia tomar a cidade sem preci­ sar lutar. Em prim eiro lugar, desafiou-os a escolher um dos descendentes de A cab e, a colocá-lo no trono e, então, a defender seu direito de reinar. É provável que se tratasse de uma sugestão para qu e o novo rei ou um cam peão de sua escolha lutasse num com ­ bate homem a hom em contra Jeú e que o 2 RE I S 1 0 - 1 1 vencedor ficasse com tudo (ver 1 Sm 1 7:8ss e 2 Sm 2 :9 ). Jeú chegou até a destacar com o o povo de Sam aria estava em vantagem : eram uma cidade fortificada e possuíam arm aduras e arm as, bem com o carros e cavaleiros. Jeú estava em pregando um a técnica que os re­ volucionários têm co locado em prática com sucesso há séculos: estava fazendo uma pro­ posta ousada e deixando que a im aginação dos líderes en ch esse o co ra ção deles de m edo . A d o lf H itle r e sc re v e u : "C o n fu s ã o mental, contrad ição, indecisão, pânico: es­ sas são as nossas arm as". Foi preciso que três grupos distintos de líderes se unissem a fim de tom ar um a decisão, e esses homens sabiam que Jeú havia exterm inado dois reis e dado fim a Jezabel. Além do mais, ele pa­ recia invencível, pois não havia sobrado nin­ guém em seu cam inho. A m ensagem que enviaram a Jeú em Jezreel foi de rendição total. Prom eteram fazer tudo o que ele or­ denasse e concordaram em não coroar um novo rei. Em resum o, aceitaram Jeú com o seu rei. Sam aria o b e d e c e às o rd e n s d e Je ú (vv. 6-10). N esse m om ento, Jeú se revela um mestre da dissim ulação política. A ceitou a submissão de Sam aria a seu dom ínio e, en­ tão, ordenou que "[tom assem ] as cabeças" dos setenta descendentes de A cabe e que as levassem a Jezreel. Isso tanto poderia sig­ nificar que mandava buscar todos os líderes para discutir assuntos em pauta com o po­ deria ser uma ordem para que decapitassem os setenta descendentes de A cab e e que levassem as cabeças para ele. Seus líderes seguiram a segunda interpretação, matando im ediatam ente todos os descenden tes de A ca b e e en vian d o m ensageiros a Jezree l com as cabeças dos príncipes. Q uand o os m ensageiros chegaram naquela noite, Jeú ordenou que em pilhassem as ca b eças na entrada da cidade. Um a lem brança inequí­ vo ca para o povo de Jezreel de que não va­ lia a pena se opor a Jeú. Porém , na m anhã seguinte, Jeú mais uma vez mostrou ser um político habilidoso ao isentar-se de qualquer culpa! Adm itiu que havia matado Jorão, o rei anterior de Israel, 529 mas uma vez que não havia saído de Jezreel, não poderia ter assassinado os setenta jo ­ vens. Em seguida, lembrou o povo da pro­ messa divina de que todos os descendentes de A cab e seriam elim inados, de modo que, em últim a análise, a responsabilidade era do Senhor e de seu profeta, Elias. Num discur­ so breve, Jeú lavou as mãos da m atança e, ao mesm o tempo, aliou-se ao Senhor e ao profeta Elias! Jeú usou de um a linguagem de duplo sentido, com o acontece com freqüência nos dias de hoje. Propinas são "pagam entos por serviços prestados", buracos na rua são "ir­ regularidades na pista". O s funcionários de um hospital deram uma dose letal de óxido nitroso para uma mãe em trabalho de parto, causando a m orte não apenas da mulher, mas também da criança. Cham aram essa tra­ gédia de "acid e n te te ra p ê u tic o ". Pessoas pobres hoje em dia são "m enos favorecidas" e soldados não m atam inim igos, mas sim "elim inam alvos". Davi estava certo quando escreveu que "falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e cora­ ção fingido" (Sl 12:2). 2. A m b iç ã o e g o ísta (2 Rs 1 0 :1 1 - 1 7 ) A com issão divina de Jeú havia se tornado uma cruzad a pessoal motivada pela própria am bição egoísta. O escritor Joseph Conrad escreveu no prefácio de suas M em órias: "To­ das as am bições são legítimas, exceto aque­ las que são conquistadas à custa da miséria e da credulidade dos seres hum anos". Um a am b içã o legítim a vale-se da verd ad e e é construída sobre os alicerces do passado. A am bição ilegítima, por outro lado, vale-se de m entiras e destrói o passado. A fim de se sentirem seguros, os ditadores vêem-se obri­ gados a aniquilar os inimigos. Porém, ao fa­ zê-lo, destroem o passado e, junto com ele, as inform ações e o auxílio de que precisam para avançar rumo ao futuro. D iz um pro­ vérbio alem ão que "toda enguia gostaria de ser uma baleia", e Jeú ia exatam ente por esse cam inho. Je ú vai lo n g e d em a is (vv. 11-14). A fim de provar que estava determ inado a obede­ cer a Deus e a expurgar a terra da família de 530 2 REIS 1 0 - 1 1 A cab e, em seguida, Jeú matou todos os des­ de habitarem em tendas, viviam separados ce n d e n te s de A c a b e q u e e n c o n tro u em Jezreel. M as não se ateve a essa m atança; da vida cotidiana das cidades e dos assuntos políticos dos judeus. Jonadabe era exatam ente o tipo de ho­ mem que Jeú precisava para dar credibilidade a sua cru zad a. Q uand o Jonadabe segurou a mão de Jeú e subiu ao carro do rei, decla­ rou apoio incondicional a ele. Sem dúvida, Jonadabe não aprovava a adoração a Baal e ficou feliz em saber que a fam ília de A cabe havia sido e rrad icad a. N o entanto , nesse encontro com Jeú, Jonadabe não sabia quais foi além de sua in cum bência divinam ente ordenada e exterm inou os amigos mais pró­ xim o s de A ca b e , bem com o seus o ficiais mais im portantes e os sacerdotes que ser­ viam no palácio. Foi um massacre baseado na prem issa da "culpa por asso ciação ". O Senhor desejava livrar a terra da fam ília de A cab e para que nenhum de seus d escen­ dentes usurpasse o trono, mas não havia necessidade algum a de je ú m atar os am i­ gos, oficiais e sacerdotes de seu antecessor. Na verdade, tempos depois, Jeú teve sérios problem as com o povo da Síria (1 0 :2 2 , 23) e teria sido beneficiado pela sabedoria e ex­ p e riê n cia dos o ficiais da co rte que havia executado. Ao exterm inar esses líderes an­ teriores, Jeú destruiu uma fonte valiosa de sabedoria e de aptidão política. Em seguida, partiu de Jezreel e foi a Sa­ m aria tom ar o trono para si. No cam inho, encontrou um grupo de viajantes seguindo para Jerusalém , onde iriam visitar o rei A ca­ zias, um parente deles. Não sabiam que o rei A cazias, o rei Jorão e a rainha Jezabel estavam mortos e que Jeú os havia assassi­ nado e era o novo governante. U m a v e z que A cazias havia se casado com um a m ulher da fam ília de A cab e (8 :1 8 ), parecia lógico a Jeú que qualquer parente de A cazias esti­ vesse do lado do inimigo, de m odo que pro­ videnciou para que aqueles quarenta e dois hom ens fossem m ortos. M as tais hom ens não eram parentes consangülneos de A ca ­ be; eram descendentes de Davi! Jeú estava atacan d o a própria dinastia davíd ica! (ver 2 C r 2 2 :8 ). Je ú re cru ta um am igo (vv. 15-17). Jeú encontrou um aliado - Jonadabe, o recabita - e o usou pára d ar re sp e ita b ilid a d e às próprias am bições. O s recabitas pertenciam ao p o vo q u e n e u , os d e s c e n d e n te s de H obabe, cunhado de M oisés (Jz 4 :1 1 ). Identificavam-se com a tribo de Judá (Jz 1:16), mas ficavam separados e seguiam as tradi­ ções instituídas por seus antepassados (Jr 35). Eram extrem am ente respeitados pelo povo judeu, mas, pelo fato de serem nôm ades e eram as m otivações que im peliam o rei e os métodos cruéis que em pregava. Todo líder am bicioso precisa de um bra­ ço direito respeitável para ajudá-lo a "ven ­ der" sua política e suas práticas ao povo. O fato de Jeú haver com eçado a matar inocen­ tes era grave o suficiente, mas o que estava fazendo com Jonadabe era "usar" um ino­ cente para fazer com que seus crim es pa­ recessem um serviço prestado ao Senhor. Entretanto, é desse m odo que muitos líde­ res inescrupulosos trabalham . A s palavras de Jeú - "verás o meu zelo para com o S enhor " (v. 16) - lembram as palavras de Elias quan­ do estava fugindo de Jezabel e foi se escon­ der num a caverna (1 Rs 1 9 :1 0 , 14). O termo hebraico pode ser traduzido por "ciu m en ­ to" ou "zelo so ". Q u an d o Jeú e Jonadabe chegaram a Sa­ maria com seus soldados, Jeú apresentouse com o seu rei, e o povo se sujeitou a ele. Jeú já havia intim idado os governantes da cidade, de modo que não encontrou resis­ tê n cia algum a quand o passou pelas suas portas. O s oficiais de Sam aria lhe entregaram aqueles que ainda restavam dos parentes de A cab e a fim de que Jeú os exterm inasse. 3. D is s im u la ç ã o (2 Rs 1 0 :1 8 - 2 8 ) Jeú havia co n clu íd o sua tarefa de livrar a nação da fam ília de A cab e, de modo que não havia descendentes do rei anterior para questionar seu direito ao trono. M as e quan­ to ao culto a Baal na terra de Israel? Essa foi a próxim a incum bência de Jeú, e ele deci­ diu fazer da dissim ulação sua principal arm a. Com o rei de Israel, Jeú poderia ter lidado com os adoradores de Baal de três maneiras. 2 RE I S 1 0 - 1 1 Poderia ter ordenado que deixassem a terra ou ter o b e d e c id o a D e u te ro n ô m io 13 e ordenado que fossem executados. Aiém dis­ so, também poderia ter procurado convertêlos, "co n versão " que não teria sido muito difícil sob a am eaça de morte. Seria possí­ vel, ainda, ter ordenado que o tem plo de Baal fosse destruído. O s líderes de Sam aria haviam prom etido apoiar Jeú (v. 5), então por que ele escolheu mentir aos israelitas e matá-los? O s servos de Deus não têm per­ missão de "[praticar] males para que venham bens" (Rm 3 :8 ; ver 1 Ts 2 :3 ) e, no entanto, foi essa linha de ação que Jeú adotou. Tinha a autoridade de M oisés para matar os idó­ latras, e foi o que fez. M as por que enganálos antes? M entiu ao povo sobre si mesm o e afir­ mou que era mais devotado a Baal do que A cab e. Além disso, mentiu sobre o culto no tem plo de Baal. No entanto, é possível que se trate de mais um caso de palavras com duplo sentido, pois o que ocorreu lá foi, de fato, um "grande sacrifício" a Baal - a vida dos sacerdo tes e dos adoradores de Baal oferecidas em seu templo! Jeú era um mili­ tar, cuja vida havia sido tão dedicada a es­ tratégias e conquistas que, ao contrário de Davi, não era cap az de incorporar a fé e a glória de Deus em suas batalhas. Tudo indi­ ca que Jeú era um sanguinário e que tinha grande prazer em mostrar-se mais astucioso que seus inim igos. Em m om ento algum, o texto nos diz que ele buscou a vontade do Senhor para seus em preendim entos. Prim eiro, reuniu os profetas, ministros e sacerd o tes de Baal e o rdenou que an u n ­ ciassem um grande sacrifício a seu deus. Um anúncio da parte do rei, transm itido pelos líderes religiosos, teria muito mais im pacto e seria muito mais acreditável. Jeú chegou a enviar mensageiros por toda a terra a fim de ordenar que os adoradores de Baal com pa­ recessem ao grande sacrifício em Samaria. A casa de Baal em Sam aria foi construída por A ca b e para Jezab el (1 Rs 1 5 :3 1 , 3 2 ), de m odo que Jeú destruiria a "casa de A ca ­ be" em dois sentidos: sua "casa" física ou fam ília e a casa que ele havia construído para Baal. 531 U m a vez que o povo estava no templo, Jeú certificou-se de que não havia verdadei­ ros adoradores de Jeová no meio dos devo­ tos de Baal. O rdenou que os adoradores de Baal usassem trajes especiais reservados para esses cultos, e tanto ele quanto Jonadabe advertiram os sacerdotes a não perm itir a participação daqueles que não fossem fiéis a Baal (v. 23). Jeú deu a entender que dese­ javam uma "adoração pura" para o grande sacrifício . U m a v e z que os adoradores de Baal estavam prontos dentro do tem plo, Jeú instruiu que seus oitenta soldados do lado de fora do templo se preparassem para en­ trar assim que o sacrifício tivesse term inado. O pronom e "ele", no texto original do versículo 25, refere-se a Jeú ou ao sumo sa­ cerdote de Baal? Algum as versões optam por Jeú ("ordenou Jeú aos da sua guarda e aos capitães"), mas, uma vez que não sabemos com o era a disposição do templo ou a ceri­ mônia, é difícil decidir. Com o seria possível o rei ficar visível no altar e, sem levantar sus­ peitas, deixar o seu posto e sair a fim de dar ordens aos soldados? É bem provável que Jeú tenha fornecido os animais para o sacrifí­ cio, portanto, nesse sentido, e/e estava sacri­ ficando a Baal, quer se encontrasse no altar quer não. O s soldados m ataram todos os adoradores de Baal que estavam dentro do templo e lançaram os corpos no pátio exter­ no. Em seguida, alguns dos homens entraram no santuário mais interno do templo, remo­ veram e destruíram as imagens de madeira dos deuses e a imagem de pedra de Baal. O lugar que, um dia, havia sido a casa sagrada de Baal foi transformado em latrinas públicas. O plano de jeú funcionou e permitiu que, num só dia, ele exterm inasse de todo a ado­ ração a Baal em Israel. A o mentir ao povo, reuniu muito mais adoradores e teve menos trabalho do que se tivesse de persegui-los um a um. Infelizm ente, porém , seu primeiro ato público com o rei de Sam aria foi um ato de dissim ulação. Seria possível alguém con­ fiar nele depois disso? 4. T ra n s ig ê n c ia (2 Rs 1 0 :2 9 - 3 6 ) U m a vez que as coisas se acalm aram , Jeú teve um longo reinado que durou vinte e 532 2 REIS 1 0 - 1 1 oito aos, mas seguiu os passos de Jeroboão e adorou os bezerros de ouro em Dã e em Berseba. O s bezerros deveriam ser apenas sím bolos de Jeo vá, mas ain d a assim não passavam de objetos de idolatria. A pesar do zelo com o Senhor, em seu co ração , Jeú era um idólatra que usou o nom e do Senhor apenas para encobrir seus pecados. Ao fa­ zer parte de uma "religião nacional", Jeú uniu o povo e conquistou seu respeito. Foi um perfeito político até o fim. O Senhor elogiou Jeú por haver cum pri­ do sua missão e o recom pensou dando-lhe a dinastia mais longa da história do reino do Norte - mais de cem anos. Jeú foi sucedido por Jeo aca z, Joás, Jeroboão II e Z acarias, sendo que todos eles foram reis perversos. Porém , o profeta O sé ia s anu n ciou que o Senhor estava descontente com Jeú por ele haver assassinado in o centes (O s 1:4). Jeú instituiu sua dinastia matando o reino Jorão em Jezreel (2 Rs 9:1 5ss), e Deus iria julgá-lo por isso. O nom e "Jezreel" significa "D eus d isp e rsa", e o S en h o r disp ersaria o reino do N orte ao perm itir que fosse conquista­ do pelos assírios em 722 a .C . Z acarias, o tataraneto de Jeú, reinou apenas seis meses e foi assassinado por Salum, que reinou ape­ nas um mês. A dinastia co m eçou e term i­ nou com um assassinato. M esm o durante a vida de Jeú, o Senhor o disciplinou perm itindo que a Síria (A rã), inim iga de longa data do povo de Israel, tom asse territórios das tribos a leste do Jor­ dão. Ter o inimigo vivendo logo do outro lado do Jordão não foi um a situação co n­ fortável para Israel. Jeú foi um soldado efi­ ciente, mas não um grande construtor, e é lem brado apenas em fun ção das pessoas q u e m atou. Poderia ter reu n id o um grupo de hom ens de talento para ajudá-lo a pro­ m over a verdadeira fé em sua terra, mas se co n te n to u em fa z e r co m o a m u ltid ão e adorar os bezerro s de ouro. 5. R e t a l ia ç ã o (2 Rs 1 1 :1 ; 2 C r 2 2 :1 0 ) Voltam o-nos agora ao reino de Judá, onde não havia rei algum no trono, pois Jeú assas­ sinara A cazias perto de Jezreel (2 Rs 9 :2 7 , 2 8 ). A talia, a rainha-m ãe, filha de A cab e, percebeu essa oportunidade e tomou o tro­ no para si, reinando durante seis anos. Com o fundadora do culto a Baal em Judá, não ti­ nha desejo algum de ver a dinastia davídica prosperar. Tentou matar todos os príncipes herdeiros, mas um deles sobreviveu. A famí­ lia de D avi estava sendo destruída rapida­ m en te. Q u a n d o Jeo rão tornou-se rei em Judá, assassinou todos os seus irm ãos e al­ guns príncipes de Israel, a fim de evitar que o destronassem (2 C r 2 1 :4 ), e os invasores árabes haviam executado os filhos mais ve­ lhos de Jeorão (2 2 :1 ). Jeú havia exterm ina­ do alguns dos descendentes de Davi (2 2 :8) e, depois, Atalia ordenou que "a descendên­ cia real" fosse elim inada. Sem dúvida, Sata­ nás fez tudo o que pôde para im pedir que o M essias prom etido nascesse na fam ília de Davi em Belém! A retaliação de Atalia era decorrente de tudo o que Jeú havia feito ao erradicar a fa­ mília de A cab e e o culto a Baal em Israel. Pagar o bem com o mal é diabólico; pagar o mal com o bem é divino; e pagar o mal com o mal é hum ano. Em toda parte do mundo onde há conflitos, o mais com um é encontrar esse espírito de vingança e de re­ taliação . A ssim com o indivíduos costu m a­ vam duelar para defender a honra pessoal, por vezes, as nações lutam em guerras para d e fe n d e r sua honra n a cio n a l. Po rém , ao matar a descendência real, A talia estava se rebelando co n tra o S en h o r Jeo vá, o qual havia prom etido a Davi que teria um descen­ dente assentado em seu trono em Jerusalém . D e modo geral, não vam os ao extrem o de pagar a nossos inimigos com a m esma m oeda, mas a vingança é algo co nhecido no m eio d o p o vo d e D eu s. A o e sc re v e r a lei, M oisés advertiu o povo para que não praticasse a vingança (Lv 1 9 :1 8 ), e Salom ão deu o mesmo conselho (Pv 2 0 :2 2 ; 2 4 :2 9 ). Jesus falou contra a vin gança pessoal (M t 5:38-48), com o tam bém o fizeram os após­ tolos Paulo (Rm 12:1 7-21) e Pedro (1 Pe 3:8, 9). Planejar e executar a vingança causa mais danos ao vingador do que à vítim a. Vários escritores fam osos escreveram sobre a "doce vingança", mas a experiência mostra que, na 2 RE I S 1 0 - 1 1 verdade, a vingança é am arga. D e acordo com um provérbio judeu: "Se vo cê vai pagar a um inimigo com a m esm a m oeda, escolha um bom inim igo, pois lhe dar sua paga é um luxo extrem am ente caro". 6. F é e c o ra g e m (2 Rs 1 1 :2 -1 2; 2 C r 2 2 :1 1 - 2 3 :1 1 ) Q u an d o a perversa rainha A talia m andou matar os herdeiros do trono de Davi, o re­ m anescente fiel em Judá deve ter se per­ guntado onde D eus estava e o que estava fazend o . Por que o Senhor faria uma pro­ m essa pactuai a D avi e não a cum priria? C o m o pôde perm itir que a rainha-mãe le­ vasse a cabo tam anha m aldade e colocasse em risco a linhagem m e ssiân ica? Po rém , Deus ainda estava assentado em seu trono e tinha servos preparados para entrar em ação. Neste mundo que parece controlado pela dissim ulação e pelas am bições egoís­ tas, ainda há pessoas, com o Joiada e Jeoseba, que crêem na Palavra de D eus e que fazem sua vontade com toda coragem . P ro teçã o (vv. 2 , 3 ; 2 C r 2 2 :1 1 , 12). Joia­ da era o sumo sacerdote, e sua esposa, jeoseba, era um a princesa, filha do rei Jeorão e irmã do rei A cazias, que havia sido assassi­ nado por Jeú. Assim , ela era tia do pequeno Joás. O fato de uma mulher tão piedosa vir de uma fam ília com o aquela é um milagre da graça de D eus. Sabendo o que Atalia pla­ nejava fazer, o sacerdote e a princesa rou­ baram Joás, que na época tinha um ano de idade, do berçário real, e o esconderam , com sua ama, prim eiro num côm odo onde eram guardadas roupas de cam a velhas e, depois, num dos côm odos do tem plo. A medida que foi cre sce n d o , Joás m isturou-se às outras crianças com as quais brincava na vizinhan­ ça do tem plo e não foi reconhecido com o um dos herdeiros ao trono.1 A p re se n ta çã o (vv. 4-12; 2 C r 2 3 :1 -1 1 ). Joiada, Jeoseba e a am a do m enino foram pacientes e esperaram pelo tem po de Deus, pois a paciê n cia e a fé andam juntas (H b 6 :1 2 ). Pela sua providência bondosa, o Se­ nhor cuidou da criança e tam bém das três pessoas que sabiam quem era o m enino e onde ele se encontrava. Se a rainha Atalia 533 tivesse descoberto o que estavam fazendo, teria executado todos eles com o príncipe. Durante aqueles seis anos de espera, o sum o sacerdote havia pensado e orado, e o Senhor havia lhe dito com o tirar Atalia do trono e colocar Joás em seu lugar. Prim eiro, Joiada reuniu os cinco oficiais encarregados da guarda do templo, apresentou-lhes o rei e os fez ju rar o bediên cia a suas ordens e silêncio quanto ao que estava prestes a oco r­ rer. D epois de descrever seu plano, o sacer­ dote enviou esses oficiais por todo o reino de Judá, a fim de ordenar aos levitas que viviam fora de Jerusalém e os chefes das fa­ mílias (clãs) de Judá que fossem a Jerusalém num determ inado sábado. Deveriam reunirse no tem plo com o se estivessem lá para adorar ao Senhor. O plano de Joiada foi simples, mas efi­ ca z. Cad a um dos cinco oficiais tinha cem hom ens sob seu com ando. Era costum e duas com panhias ficarem de guarda diariam ente, sendo substituídas no sábado, mas naquele sábado em questão ficariam de serviço e guardariam o rei. O utra com panhia guarda­ ria o palácio onde Atalia morava, o que lhe d aria um a falsa im p ressão de seg u ran ça. O utra com panhia se colocaria na Porta de Sur (ou "Porta do Fundam ento" - 2 C r 23 :5 ), a qual possivelm ente era uma passagem do palácio para a área do templo. A quinta com ­ panhia se reuniria atrás da casa da guarda, lugar o nde os guardas do tem plo co stu ­ mavam ficar. Q u alquer um que estivesse ob­ servando o tem plo não teria m otivos para suspeitar que algo dram ático estava prestes a oco rrer. V e ria os guardas m archando e o cu pand o seus postos habituais e, talvez, observaria que o núm ero de adoradores era m aior que o de costum e. Até mesm o o rei Davi fazia parte do pla­ no! O sum o sacerdote distribuiu entre os hom ens as arm as que D avi havia confisca­ do em suas muitas batalhas, e, com elas, os guardas protegeram o herdeiro da linhagem davídica. Foi Davi quem com prou as terras onde o templo havia sido construído (2 Sm 2 4 :1 8ss) e tam bém foi ele quem forneceu os recursos necessários para que Salom ão co nstruísse o tem plo. Parte dessa riq ueza 534 2 RE I S 1 0 - 1 1 veio de seus tesouros pessoais, e o restante, dos espólios de batalhas que ele havia luta­ do para o Senhor (1 C r 28 - 2 9 ). M uitos dos cânticos entoados pelos levitas durante os cultos no templo eram da autoria de D avi e, nessa ocasião específica, estava contribuin­ do com as arm as para defender a própria dinastia. Davi não serviu apenas ã sua pró­ pria geração (At 1 3 :3 6 ), mas a todas as gera­ ções subseqüentes. Um exem plo e tanto a a traidora. Joás era descendente de Davi e tinha todo direito ao trono, enquanto Atalia havia tomado o trono para si sem direito al­ gum. Joiada ordenou que cinco capitães a ser seguido! Q uando todos estavam em suas posições, Joiada trouxe o rei - então com 7 anos de idade - e o apresentou ao povo. Colocou a coroa sobre a cabeça de Joás e lhe deu uma 23:16). Joiada já havia dado o Livro do Tes­ tem unho ao rei (v. 12), mas ainda era ne­ ce ssário que o povo e o rei declarassem sua lealdade um ao outro e ao Senhor. Is­ rael era um a teo cracia, e D eus era seu Rei. O rei g o vern ava co m o re p resen tan te es­ colhido de D eus, e o povo o b e d ecia ao rei com o o b ed ecia ao Senhor. Israel era uma nação da aliança, pois, no m onte Sinai, seus an tep assa d o s haviam ju ra d o le ald ad e ao Senhor e a sua Palavra (Êx 18 - 19). N e ­ cópia da lei de Deus, a que ele devia obede­ cer (D t 17:14-20). O sumo sacerdote o un­ giu, e o povo recebeu com grande alegria seu novo rei dando gritos de "V iv a o rei!" (ver 1 Sm 10:24; 2 Sm 1 6 :1 6 ; 1 Rs 1:25, 39). Deus havia cum prido a prom essa feita em sua aliança com Davi e colocara um dos des­ cendentes de Davi no trono de Judá! 7. O b e d iê n c ia (2 Rs 1 1 :1 3 -2 1 ; 2 C r 2 3 :1 2 - 2 1 ) D eus protegera o jovem rei e permitira que Joiada e os oficias o apresentassem para o povo, mas o trabalho deles ainda não havia term inado. A execução de Atalia (vv. 13-16; 2 C r 23:12-15). Atalia assustou-se com os gritos repetidos de "V iva o rei!" e se apressou para fora do palácio, a fim de ver o que estava acon tecend o. Não tardou a descobrir que estava presa. H avia guardas ao redor do pa­ lácio e entre o palácio e os átrios do tem­ plo, de modo que ela não poderia escapar nem cham ar seus soldados para socorrê-la. A rainha correu para o átrio do tem plo, onde viu o jovem rei em pé junto a um a coluna (1 Rs 7 :2 1 ), protegido pelos capitães. Tam ­ bém viu a assem bléia, constituída não ape­ nas de sacerdotes, levitas e m ilitares, mas tam bém do "povo da terra", ou seja, dos ci­ dadãos proprietários de terras cujo trabalho, riqueza e influência eram im portantes para a nação. Q u e grande contra-senso ela gritar "Trai­ ção! Traição!", quando, na verdade, ela era escoltassem para fora do átrio do templo e que matassem qualquer um que a seguisse. Q uand o estavam de volta na área do palá­ cio, próxim o à Porta dos C avalos, os capi­ tães a executaram à espada. A consagração do po v o (v. 17; 2 C r nhum a outra nação da Terra p o ssu i essa m es­ ma rela çã o d e aliança co m o S e n h o r (Sl 1 4 7 :1 9 , 2 0 ). A elim inação do culto a Baal (w . 1821 ; 2 C r 23:17). Joiada fez em Jerusalém o mesm o que Jeú havia feito em Sam aria: ele e o povo destruíram o templo de Baal e ma­ taram o sumo sacerdote diante do altar de Baal.2 Por certo, outros que lideravam o cul­ to a Baal também foram elim inados. Por cau­ sa de A talia e de seu m arido transigente, Jeorão, bem com o de seu filho A cazias, o reino de Judá havia passado pelo m enos quinze anos sob a influência da idolatria um mal que foi exposto e extirpado quando Joás subiu ao trono. A re sta u ra çã o da d ina stia davídica (11:19-21; 2 C r 23:20-21). D eve ter sido uma grande m ultidão regozijante que acom pa­ nhou o rei do tem plo ao palácio , onde o fizeram assentar-se no trono! A tentativa de Satanás de pôr fim à dinastia davídica havia fracassado, e a prom essa m essiânica ainda estava em vigor. O povo havia feito a vonta­ de de Deus e obedecido à sua Palavra. Pela primeira vez, em muitos anos, a retidão e a paz reinaram na terra. A organização do ministério no templo (11:18b; 2 C r 23:18, 19). 2 Reis 12 informa 2 RE I S 1 0 - 1 1 que o tem plo do Senh o r havia caíd o em e sq u e cim e n to e entrado em d e c a d ê n c ia durante o tem po em que A talia ocupou o trono. M ais que depressa, jo iad a tomou as medidas necessárias para sanar essa situação ao seguir as ordens de D avi (1 C r 23 - 26) e co lo car os sacerdotes e levitas corretos em seus devidos lugares de m inistérios. Era im portante que oferecessem os sacrifícios diários ao Senhor e que lhe cantassem lou­ vores. Tam bém era essencial que as portas do templo fossem guardadas para que nenhu­ ma pessoa im unda entrasse e contam inasse os outros fiéis. O reavivam ento consiste sim­ plesm ente em o bedecer à Palavra de Deus e em obedecer a suas ordens, conform e fo­ ram d a d as a no sso s a n te p a s sa d o s. N ão precisam os das novidades do presente; pre­ cisam os, sim, das realidades do passado. 1. 535 Q uand o Deus com eçou a restaurar o cul­ to verdadeiro em Jerusalém e em Judá, seu ponto de partida foi um casal consagrado o su m o s a c e rd o te Jo ia d a e su a e sp o sa Jeoseba. Estes, por sua vez, conseguiram a ajuda da am a que cuidava de Joás, e Deus protegeu essas quatro pessoas durante seis anos. Então, Joiada obteve o auxílio de cin­ co capitães do exército que, por sua vez, reuniram seus quinhentos soldados. O s sa­ ce rd o te s e le vitas e sp a lh a d o s por v á ria s regiões, bem com o o povo da terra, se reu­ niram para adorar ao Senhor e o bedecer à sua Palavra. O pecado foi expurgado, a von­ tade de Deus se cum priu e o seu nom e foi glorificado! Deus pôde fazer isso naquele tempo e pode fazê-lo hoje — mas precisam os confiar nele para fazê-lo do seu jeito. No relato da história da salvação, muitas vezes o futuro do plano de Deus encontra-se ligado a um bebê ou uma criança. Caim matou Abel, mas Deus enviou Sete como o próximo elo da cadeia. Abraão e Sara esperaram vinte e cinco anos pelo nascimento de seu filho Isaque, e o pequeno Moisés deveria ter sido afogado, mas viveu para ser o homem que libertaria os hebreus do Egito. Num dos momentos mais sombrios de Israel, o Senhor enviou Samuel a Ana e Elcana. Aqui, o futuro da promessa messiânica e da aliança davídica encontra-se ligado a um garotinho. 2. Joiada não permitiu que os guardas matassem Atalia no terreno sagrado do templo de Jeová, mas tiveram permissão de matar o sacerdote de Baal diante do altar desse deus. A adoração a Baal era uma religião criada por homens, e, portanto, uma religião falsa. Ver João 4:22, 23. 7 C o n c e n t r a n d o -se na Fé 2 R eis 1 2 - 1 3 (2 C r ô n ic a s 2 4 ) E de conhecim ento geral o princípio se­ gundo o qual aquilo em que uma pes­ soa acredita determ ina, em última análise, a form a com o ela se com porta. Eva creu na mentira do diabo de que ela não m orreria; com eu do fruto proibido e, posteriorm ente, m orreu. Plenam ente cô n scio, Adão creu que devia fazer o mesm o que a esposa, de modo que tomou o fruto e com eu. C om isso, lan­ çou toda a raça hum ana no abism o do pe­ cado e da morte (G n 3; Rm 5:12-21; 1 Tm 2 :1 4 ). Q uand o crem os na verdade, Deus tra­ balha em nosso favor; mas quando crem os num a mentira, o diabo trabalha contra nós. Q u an d o Jesus foi tentado por Satanás, refu­ tou suas mentiras usando a verdade de Deus e disse: "Está escrito"(M t 4:1-11). O s três reis apresentados nestes capítulos ilustram três tipos diferentes de fé, sendo que nenhum deles é o tipo de fé que o povo de Deus deve ter nos dias de hoje. 1 . JOÁS - UMA FÉ SUPERFICIAL (2 Rs 1 2 :1 -2 1 ) Em sua parábola sobre o sem eador (M t 13:19, 18-23), Jesus explicou que, do ponto de vista espiritual, existem quatro tipos de cora­ ção e que cada um deles reage à sem ente da Palavra de um modo diferente. Q uando aqueles que têm o co ração endurecido ou­ vem a Palavra, a sem en te não co n seg u e penetrar, de modo que Satanás a leva em ­ bora. A queles que têm um coração sem pro­ fundidade recebem a Palavra, mas não dão espaço para que ela crie raízes, de modo que os brotos crescem , mas não duram mui­ to tempo. E im possível uma planta crescer e dar frutos se ela não tem raízes. A queles que têm um co ração ch eio de ervas daninhas recebem a sem ente, mas os brotos são sufo­ cados pelas outras plantas inúteis que deve­ riam ter sido arrancadas. A pessoa com um coração que dá frutos é honesta, contrita, com preende a Palavra e a aceita pela fé. Em se tratando de sua fé pessoal, o rei Joás ti­ nha um co ração sem profundidade alguma. O b serve m o s os estágios da vida espiritual de Joás. O b e d iê n cia (vv. 1-3; 2 C r 2 4 :1 -3 ). Joás estava com apenas 7 anos de idade quando subiu ao trono de Judá (2 Rs 11:4) e teve um longo reinado de quarenta anos. E evi­ dente que uma crian ça dessa idade não é capaz de governar uma nação, de modo que o sum o sace rd o te Jo iad a foi seu tutor e mentor. Ao que parece, Joás era um aluno dedicado, e, durante os anos em que Joiada o orientou, o rei obedeceu ao Senhor. Q u an ­ do Joás estava na idade de se casar, foi Joiada quem escolheu as duas esposas do rei. Tan­ to Davi quanto Salom ão haviam tido proble­ mas em função de seus vários casam entos im prudentes, de modo que o sumo sacer­ dote lim itou a dois o núm ero de esposas para Joás. Era im portante que Joás recons­ truísse a fam ília de D avi, pois a linhagem davídica havia sido praticam ente destruída por Jeorão (2 C r 2 1 :4 ), Jeú (2 Rs 10:12-14), pelos invasores árabes (2 C r 2 2 :1 ) e pela rainha Atalia (2 Rs 11:1). A única coisa que Joiada e Joás não fize­ ram foi rem over os altos de Judá, os santuá­ rios locais onde o povo adorava ao Senhor. O certo era que os israelitas fossem ao tem­ plo para adorar (D t 12), mas, nos tempos de grande perversidade, durante o reinado de Atalia, o templo foi negligenciado e até mes­ mo abandonado à deterioração. Porém , Joia­ da e o rei Joás conduziriam o povo a uma restauração do tem plo, de m odo que tives­ sem um lugar em perfeito estado onde pu­ dessem adorar ao Senhor. O povo piedoso de Judá deve ter se alegrado com o fato de um d escen d en te obediente de D avi estar ocupando o trono. O que eles não sabiam era que Joás possuía um a fé superficial e que ele obedecia a D eus som ente para agra­ dar a Joiada. Joás era um excelente seguidor, 2 REI S 12 - 13 mas não um bom líder. Q u an d o Joiada mor­ reu, Joás tom ou outro rumo e desobedeceu ao Senhor. Conflitos (vv. 4-16; 2 C r 24:4-14). O povo de Judá não custou a perceber que Joiada era o poder por trás do trono, o que provavelm ente lhes deu uma sensação de segurança. Porém , à m edida que o rei am a­ dureceu em idade e em experiência, deve ter se frustrado com esse sistema. É normal os jovens desejarem liberdade para tomar as próprias decisões, mas na vida de Joás, é bem possível que esse desejo fosse ainda m aior, em fu n ção da au to rid ad e que ele possuía. Porém , com Joiada à frente de tudo, Joás pôde fazer suas as palavras do rei Davi: "N o presente, sou fraco, em bora ungido rei" (2 Sm 3 :3 9 ). Não é fácil ser m entor de um jovem rei e determ inar exatam ente quando soltar as rédeas. O s pais sabem disso, por experiên­ cia própria, ao criar os filhos e vê-los chegar à idade adulta. Talvez Joiada tenha exercido um controle excessivo em vez de transferir a responsabilidade gradualm ente para Joás. No entanto, talvez Joiada tenha ficado no controle por mais tempo, pois ainda via al­ gumas fraquezas no caráter do rei e deseja­ va dar-lhe a oportunidade de corrigi-las. E possível, tam bém , que tenha sido apenas um "conflito de gerações". Q u alqu er que tenha sido a causa, o rei decidiu que era hora de se livrar do controle do sacerdócio de Judá e de co m eçar a exercer sua autoridade. Es­ colheu as reformas do tem plo com o o cen­ tro de sua cam panha pela liberdade. Sem dúvida, Joás e Joiada haviam co n­ versado sobre a necessidade de fazer repa­ ros no tem plo, m as, por algum m otivo, o sacerdote não se mostrou em polgado o su­ ficiente para dar início a esse projeto. Talvez uma das razões para isso tenha sido a idade avançada do sacerdote. Não sabem os qual era a idade de Joás quando Joiada ordenou que as ofertas do templo fossem encam inha­ das para o projeto de construção (vv. 4, 5). Nisso se incluía a contribuição arrecadada no censo (Êx 30:11-16; Nm 2 :3 2 ), o dinheiro do pagamento de votos pessoais (Lv 22:182 3 ; 27:1 ss) e o dinheiro das ofertas pela 537 culpa (v. 16; Lv 5 :1 4 - 6 :7 ). Porém , seu pla­ no não funcionou, provalm ente porque os sacerdotes dependiam dessas fontes de ren­ da, a fim de manter o m inistério no templo e de su p rir suas n e c e s sid a d e s p e sso ais. Q uanto ao censo, é possível que os levitas tenham hesitado ao se lem brar de que o censo realizado por D avi trouxe o julgam en­ to de Deus sobre a terra (1 C r 22). O texto não diz quanto tempo Joás es­ perou para que Joiada tomasse uma provi­ dência, mas quando estava com 30 anos de idade e havia reinado durante vinte e três anos, o rei decidiu agir por conta própria. C ham ou Joiada e, com toda cautela, repre­ endeu os sacerdotes por não estarem reali­ zando sua incum bência. Tam bém disse ao sumo sacerdote que o trono se encarrega­ ria diretam ente do projeto de construção. O s sacerdotes poderiam ficar com o dinhei­ ro que lhes era de direito pela lei de M oisés, pois, pela sua nova abordagem , o projeto se ria fin a n c ia d o por o ferta s v o lu n tá ria s. Joiada informou os sacerdotes e levitas, que devem ter se alegrado grandem ente com a notícia de que sua renda não seria desviada para outros fundos e que não precisariam mais participar das reformas no templo. Um a v e z que já participei de projetos de cons­ trução de igrejas, posso entender com o se sentiram ! Essa idéia sim ples funcionou. Joás pre­ parou uma grande caixa de ofertas, colocoua no templo perto de uma entrada próxim a ao altar e incentivou o povo a levar suas ofertas para reformar o templo. E claro que havia guardas do tem plo para tom ar conta da caixa. O povo animou-se ainda mais a c o n trib u ir q uand o d e sco b riu q u e , desd e então, o projeto estava sendo supervisiona­ do pelo rei e executado por leigos. Saben­ do que as ofertas colocadas na caixa seriam revertidas diretam ente para as obras de re­ form a e não desviadas para outros ministé­ rios, o povo contribuiu com generosidade. O rei Josias seguiu um plano parecido ao reform ar o tem plo quase duzentos anos de­ pois (2 Rs 22:1-7). No entanto, Joás não deixou o sacerdó­ cio de fora desse projeto, pois a contagem 538 2 RE I S 1 2 - 1 3 e a distribuição do dinheiro eram realizadas por representantes do rei e do sumo sacer­ dote (v. 10). Joás estava seguindo, intuiti­ vam ente, o princípio do apóstolo Paulo de envolver o povo em todos os passos do pro­ cesso e de assegurar-se de que tudo fosse feito com transparência (2 C o 8:16-24). O s trabalhadores eram tão honestos e fiéis que ninguém mantinha registros das entradas e das despesas, fato que pode ter exasperado os auditores do rei. O único projeto que não incluíram foi a reposição dos utensílios de ouro e de prata que haviam sido roubados do templo (2 C r 2 4 :7 ), mas, no final, ainda houve recursos suficientes para suprir essa necessidade ( 2 C r 2 4 :1 4 ). O s cristãos de hoje sabem que o Senhor não habita no templo da igreja nem em qual­ quer outro edifício (Jo 4 :2 3 , 24 ; At 7:48-50; J7 :2 4 ), mas isso não significa que seja erra­ do consagrar certas construções à glória e a ao serviço dele. As igrejas primitivas não ti­ nham seus próprios tem plos e se reuniam nas casas de seus m em bros e em lugares públicos, com o o templo de Jerusalém . Foi som ente no século iv que a lei permitiu aos cristãos co nstruir e se reunir nos próprios tem plos. H oje em dia, alguns cristãos não co nco rd am com a construção de tem plos para as igrejas, alegando que são um des­ p erd ício do d in heiro de D e u s, enq u an to outros praticam ente idolatram esses templos e co n fun d em suas p rio rid ad es. C am p b ell M organ esclarece essa questão com a se­ guinte advertência: Apesar de a casa de Deus, nos dias de hoje, não ser mais de natureza material, mas sim, espiritual, o templo material ainda é um símbolo extremamente real da natureza espiritual. Quando a Igreja de Deus em qualquer lugar é descuida­ da com seu local de reunião, trata-se de um sinal e de uma prova de que sua vida encontra-se fragilizada.’ Lem bro-m e de pregar num culto de d o m in­ go à noite num a igreja cu jo tem plo se en ­ co ntrava em tal estado que envergonhava os m em bros e tam bém os visitantes que levavam àquele local. Duvido que algum de seus m em bros vivesse num a casa tão mal cuidada (Ag 1:1-6). Perguntei a um dos líde­ res por que não faziam os reparos necessá­ rios, e ele respondeu com certo sarcasm o: — É que a m aior parte do nosso orça­ mento é dedicada a missões em outros paí­ ses. E sabe o que os missionários fazem com o dinheiro que enviam os para eles? Refor­ mam os templos deles! N ão se tratava de fazer um a co isa ou outra, mas sim de en co ntrar o equilíbrio. C o m o o Dr. O sw ald J. Smith costum ava di­ zer: "A luz cujo brilho alcança até os lugares mais distantes é a que tem m aior resplendor a seu redor". Com o o diretor de um ministé­ rio m issionário estrangeiro com entou com i­ go certa v e z: "Levei dez anos para aprender que Atos 1 :8 não diz: "o u até os confins da terra", mas sim: "e até os confins da terra". O Senhor não destrói o que está num lugar a fim de construir algo em outro lugar". Bemaventurados são os equilibrados! Apostasia (vv. 17, 18; 2 C r 24:15-22). Joiada morreu com uma idade avançada 130 anos. Era tão querido pelo povo que foi sepultado junto aos reis (2 C r 2 4 :1 5 , 16). Porém , quando Joiada saiu de cen a, o rei Joás mostrou seu verdadeiro caráter e aban­ donou sua fé. Sua apostasia não foi culpa de Joiada, pois o sumo sacerdote havia cum ­ prido fielm ente a tarefa de ensinar as Escri­ turas ao rei. O problem a era a fé superficial de Joás e seu desejo de agradar aos líderes da terra, "os príncipes de Judá" (2 C r 24:1 7), que visitaram Joás e lhe pediram que fosse mais tolerante nas questões religiosas (24:1 7, 18). O rei cedeu, e a idolatria voltou a insta­ lar-se em Judá e em Jerusalém . A apostasia de Joás foi um ato proposi­ tado de rebelião contra D eus, pois o rei sa­ bia o que a lei de M oisés dizia acerca da idolatria. M as foi tam bém um pecad o de ingratidão por tudo o que Joiada havia feito em seu favor. Joiada e sua esp osa haviam salvado a vida d o rei! O sumo sacerdote lhe ensinara a verd ade da Palavra de D eus e havia cam in h ad o com Joás enq uanto ele aprendia a governar o povo. No entanto, o rei jam ais havia aceitado, de fato, a verdade 2 RE I S 12 - 13 de D eus e perm itido que ela se arraigasse em seu co ra ção . Faltava profundidade ao solo de seu coração, e sua obediência à lei de Deus devia-se som ente ã supervisão de seu mentor, jo ás chegou até a tomar dinhei­ ro do tem plo que havia reformado para dar a um rei pagão com o resgate! Joás serve de advertência para nós em nosso tem po. Não basta sim plesm ente co ­ nhecer a verdade de D eus; devem os lhe obe­ decer "de co ração " (Ef 6 :6 ). Ter a verdade na mente pode nos levar à obediência, mas ter a verdade no coração e lhe o bedecer de coração produz um caráter temente a D eus. A Palavra e a vontade de Deus devem ser infundidas em nós - recebidas no coração (Sl 119:9-11); de outro modo, jam ais desen­ volverem os um firm e caráter cristão. Enquan­ to o dever e a disciplina não se tornarem um prazer, serem os apenas servos relutantes que obedecem a D eus por obrigação, não porque desejam fazê-lo. Joiada foi uma "es­ cora religiosa" na qual o rei se apoiou. Q u an ­ do a escora foi rem ovida, o rei caiu. Durante mais de cinqüenta anos de mi­ nistério, tenho visto, aqui e ali, a "tragédia de Joás". A esposa tem ente a Deus morre, e logo o marido pára de ir à igreja e se entre­ ga à vida no mundo. Filhos e filhas saem de casa e, aos poucos, vão abandonando a fé, pois o pai e a mãe não estão por perto para aconselhá-los e adm oestá-los. Encontrei lí­ deres cristãos em cargos im portantes que "usaram " os filhos em seu m inistério, mas quando os filhos foram viver por conta pró­ pria, deram as costas aos pais e ao Senhor. Um bom co m eço não é garantia alguma de um final feliz. O rei Josias teve todo o incen­ tivo necessário para tornar-se um hom em piedoso, mas não aproveitou suas oportuni­ dades, d eixan d o que a verd ad e de D eus penetrasse seu coração . Q uand o o Senhor en vio u profetas para adverti-lo, ele se re­ cusou a ouvir. Chegou até a tramar com seus líderes o apedrejam ento do filho de Joiada, Z acarias, que repreendeu o rei por seus pe­ cados.2 Imagine assassinar o filho da pessoa que salvou sua vida! Sofrim ento (vv. 19-27; 2 C r 24:23-27). Q uand o o rei de Judá tornou-se um idólatra 539 e um assassino, o Senhor co m eçou a dis­ cipliná-lo. Prim eiro, enviou os profetas para advertir Joás, mas ele não deu ouvidos. En­ tão, enviou a Síria, inim iga de longa data de Judá,3 e Joás foi gravem ente ferido em com bate. Por fim, Joás roubou riquezas do tem plo e subornou H azael para que ele não atacasse Jerusalém . Porém , Joás nunca ch e­ gou a se recuperar de seus ferim entos, pois, logo em seguida, dois de seus oficiais o assas­ sinaram por ele haver ordenado a execução de Z a c a ria s , filho de Jo ia d a .4 2 C rô n ica s 2 4 :2 6 diz que as mães dos dois assassinos não eram de ju d á - um a delas era de M oabe e a outra de A m om . O s moabitas e am onitas eram d e sc e n d e n te s de Ló , s o b rin h o de Abraão, que havia tido relações incestuosas com as duas filhas (G n 19:30-38). O povo sepultou Joás em Jerusalém , mas não no sepulcro dos reis, onde o sumo sacerdote Joiada foi sepultado (2 C r 2 4 :2 5 , 26). O menino-rei, que havia tido um co m e­ ço tão prom issor, não teve um final feliz, pois renunciou os cam inhos do Senhor. Fico ima­ ginando se o profeta Ezequiel estava pen­ sando em Joás quando escreveu Ezequiel 18:24-32. 2 . JEOACAZ - UMA FÉ SÓ PARA OS te m p o s de c r is e (2 Rs 13 :1 -9 ) A atenção volta-se agora para Israel e para o reinado de Jeo acaz, filho de je ú . Não é de se a d m ira r q u e e le te n h a e s c o lh id o jeroboão com o exem plo, pois seu pai havia feito o mesm o (2 Rs 1 0 :2 9 ). Jeo acaz prefe­ riu adorar bezerros de ouro em vez do Deus vivo, mas quando se viu em apuros, buscou o socorro do Senhor. O povo de Israel não deveria ter se sur­ p re en d id o qu and o D e u s en vio u os siros contra eles, pois co n heciam os term os da alian ça de D eus com eles antes de entra­ rem na terra de C anaã. Se obedecessem ao Senhor, ele daria a vitória sobre os inimigos; mas, se desobedecessem , ele faria com que caíssem diante dos inimigos (Lv 2 6 :1 7 , 25, 33, 36-39; Dt 2 8 :2 5 , 26, 49-52). As pessoas ainda crêem na mentira de Satanás: "É cer­ to que não m orrereis" (G n 3:4). "Faça tudo aquilo de que gosta", diz o Inimigo, "pois 540 2 R E I S 12 - 13 nenhum pecad o tem grandes co n seq ü ê n ­ cias...". Porém , seja para disciplinar seja para abençoar, Deus é sem pre fiel a sua Palavra. A situação tornou-se tão desesperadora que Jeo acaz clam ou ao Senhor por socor­ ro, exatam ente co m o Israel havia feito no tempo dos ju íze s (jz 2:10-23). Em sua mise­ ricórdia, D eus ouviu e respondeu ã oração do rei e prometeu enviar um libertador, mas som ente depois que Jeo acaz tivesse saído de cena (v. 2 2 ). H azael morreu e foi sucedi­ do por seu filho, Ben-Hadade, um governante mais fraco, de modo que foi possível alguém querem os desestim ular ninguém a procurar a Deus nos m om entos de crise. O historiador inglês W illiam Cam dem escreveu: "Entre o estribo e o chão / por m isericórdia supliquei / e foi entre o estribo e o chão / que m iseri­ córdia encontrei". M as quantas vezes clam am os ao Senhor em m eio a um a crise e, depois, o ignora­ mos quando nos vem os em segurança? As pessoas que dependem de um a fé que só aparece em tem pos de crise precisam dar ouvidos às advertências em Provérbios 1 :2433 e em Isaías 5 5 :6 , 7 e não devem supor livrar Israel das garras da Síria. O s historiado­ res não apresentam um consenso quanto a quem foi esse libertador. Alguns acreditam que, pelo fato de Deus as haver atendido e socorrido, estão autom aticam ente salvas. que os assírios com eçara m a atacar a Síria no tempo de Ben-Hadade e a enfraquecer seu poder. O utros são de opinião que o livra­ mento veio por um ou por am bos os suces­ sores de Jeo acaz: Jeoás (v. 25) e Jeroboão II (14:25-27). A afirm ação: "os filhos de Israel [...] habitaram , de novo, em seus lares" (v. 5) significa: "viveram em paz e não tiveram de buscar refúgio nas cidades fortificadas". A bênção prom etida por Deus mudou o coração do rei? Ao que parece não, pois ele não rem oveu os ídolos da terra (v. 6; 1 Rs 3. J e o á s - u m a fé ig n o r a n t e (2 Rs 1 3 :1 0 -2 5 ) 16:33) nem incentivou o povo a voltar para o Senhor. A fé que só aparece em tempos de crise raramente é profunda e duradoura. U m a vez que as pessoas vêem uma espe­ rança de livram ento e que sua dor é alivia­ da, esquecem do Senhor e voltam a seus antigos cam inhos até a crise seguinte. O s siros deixaram Jeo caz com um arrem edo de exército, que era mais uma vergonha do que um encorajam ento. Porém , D eus prometeu que, caso seu povo confiasse nele e obede­ cesse à sua Palavra, seus inimigos fugiriam de diante deles (D t 2 8 :7 ; 3 2 :3 0 ; Lv 2 6 :8 ). No entanto, a fé em tempos de crise não é confiável. Q uantas vezes ouvi pacientes no hospital d izerem : "Pastor, se D eus me curar e me tirar daqui, serei o melhor cristão que o senhor já viu". D eus curou essas pes­ soas e permitiu que fossem para casa, mas nunca mais as vi na igreja. Sem dúvida, há conversões verdadeiras que ocorrem em si­ tuações extrem as ou no leito de m orte; não Por algum motivo, a morte de Jeoás é men­ cionada duas vezes, uma antes de o histo­ riador apresentar o relato de sua vida (vv. 12, 13) e outra no final da história (1 4 :15 , 16). Sua grande vitória sobre A m azias, rei de Judá, tam bém é m en cio nad a antes de ser descrita (14:8-14; 2 C r 25). Porém , o que mais se destaca no relato sobre Jeoás é o fato de ele ter dem onstrado sensatez sufi­ ciente para visitar o profeta Eliseu e buscar uma bênção dele. C onsidere os cinco fatos a seguir acerca de Jeoás. Ele seguiu os exemplos errados (vv. 1013). A ssim co m o seu pai, Jeoás seguiu o exem plo de Jero bo ão I, o prim eiro rei de Israel. Isso significa que visitou os bezerros de ouro e que se curvou diante de ídolos. E, assim com o o pai, voltou-se para o Senhor apenas quando se viu em dificuldades e com o tempo se esgotando. O s siros ainda dom i­ navam Israel, e o profeta Eliseu estava pres­ tes a morrer. Ele tom ou uma decisão sábia (v. 14). Não ouvim os palavra alguma de Eliseu ou sobre ele desde 2 Reis 9 :1 , quando enviou um dos discípulos dos profetas para ungir Jeú com o rei de Israel. No que diz respeito ao registro escrito, isso representa um pe­ ríodo de mais de quarenta anos de silêncio. No entanto, Eliseu estava trabalhando em Israel, e o Senhor estava com ele. Q uand o o rei foi visitá-lo, o profeta já era um homem 2 REIS 1 2 - 1 3 idoso e estava à beira da morte. Devem os dar crédito a Jeoás pelo menos por ele ha­ ver visitado o profeta e buscado sua ajuda. Foi Eliseu quem disse a Jeo acaz que Deus enviaria um libertador (vv. 4, 5)? Esse liberta­ dor era Jeoás, o filho de Jeoacaz? Somente Eliseu co nh ecia os planos de D eus, e o rei teve a sabedoria de ir visitar o velho profeta. Infelizm ente, os líderes espirituais não são muito valorizados em vida, mas grande­ mente aclamados depois que morrem. O s fa­ riseus eram mais com petentes em construir túmulos para os mortos do que em dem ons­ trar gratidão em seu viver (M t 23:29-32). O s servos fiéis de Deus nunca se "aposentam ", mesm o que deixem a vo cação à qual se de­ dicaram a vida toda e que saiam do ministé­ rio p ú b lico . A té m esm o em seu leito de morte, Eliseu servia ao Senhor e a seu povo. Enquanto D eus nos der fo rças e lu cid e z, devem os servi-lo da melhor maneira possí­ vel em todas as oportunidades que ele nos apresentar. C om o sou grato aos "servos ido­ sos" que me aconselharam e encorajaram ! As lem branças da vida e do m inistério des­ sas pessoas ainda são uma bênção para mim (H b 1 3 :7 , 8). O rei dem onstrou respeito para com o profeta e se dirigiu a ele usando as mesmas palavras qu e Eliseu disse a Elias, quando Elias foi levado para o céu (2 Rs 2 :1 2 ). Eliseu era com o um pai para a nação e mais valioso que todos os seus exércitos! Eliseu sabia que Jeoás estava em apuros por causa dos siros e, com toda bondade, usou as poucas for­ ças que ainda lhe restavam para ajudar o rei. Por certo, o rei Jeoás era transigente e havia d eso b ed ecid o a D eus, mas Jeová é " S e n h o r , S e n h o r Deus com passivo, clem en­ te e longânimo e grande em m isericórdia e fidelidade" (Êx 3 4 :6 ). Ele havia prom etido li­ vram ento para seu povo e cum priria sua pro­ messa. Porém , Eliseu transmitiu a prom essa de vitória do Senhor a Jeoás de tal maneira que o rei teve de exercitar uma fé inteligente. E le co m e te u um e rro grave (vv. 15-19). O rei Jeoás não era um hom em de fé, mas podia seguir instruções. No entanto, faltavalhe o discernim ento espiritual das pessoas que vivem de acordo com a Palavra e que 541 cam inham pela fé. Q u an d o o profeta pôs suas mãos nas mãos do rei, esse gesto signi­ ficou, sem dúvida alguma, a transmissão do poder de D eus. Q uand o Eliseu ordenou que ele atirasse um a flecha em direção à região sob o dom ínio dos siros, tratou-se claram en­ te de uma referência à vitória sobre o inimi­ go (D t 3 2 :4 2 ; SI 1 2 0 :4 ). O rei poderia ter entendido tudo isso, pois Eliseu lhe deu uma promessa explícita de vitória. Porém, quando Eliseu ordenou que Jeoás tomasse as flechas restantes e que as atiras­ se contra o chão, o rei não teve o discerni­ mento espiritual necessário para aproveitar ao m áxim o essa o po rtu n idade. Se tivesse sido um adorador fiel do D eus v ivo , teria enxergado a verdade, mas Jeoás era tão cego quanto os falsos deuses aos quais prestava culto (Sl 115:3-8). Atirar uma flecha garantiu a vitória, mas o núm ero de vezes que ele acertou o chão determ inou quantas vitórias Deus lhe daria. Pelo fato de Jeoás ter uma fé ignorante, limitou-se a apenas três vitórias sobre os siros. M esm o en fe rm o , o p ro feta Eliseu e x ­ pressou sua ira justificada pela ignorância e incredulidade do rei. Jeoás perdeu uma opor­ tunidade inestim ável de destruir seus inimi­ gos! "Faça-se-vos conform e a vossa fé" (M t 9 :2 9 ). Por m ais im portan te q u e seja, não basta sim plesm ente co n h ecerm o s a vonta­ de de D eus e obedecer a ela. Precisam os tam bém entender a vontade e os cam inhos de D eus (Ef 5 :1 7 ; Sl 1 0 3 :7 ). O s m andam en­ tos e os atos de D eus revelam seu caráter se nossos olhos espirituais estiverem abertos (Ef 1:17-20). É assim que com preendem os os cam inhos de D eus e que lhe servim os melhor, e é assim que o Senhor faz crescer nossa fé. E le r e c e b e u um g ra n d e estím u lo (vv. 2 0 , 2 1 ). É possível que, quando Eliseu faleceu, o rei tenha se perguntado se as promessas haviam m orrido com o profeta. A fim de encorajar o rei, o Senhor, em graça, reali­ zou um milagre após a morte de Eliseu. O s judeus não em balsam avam os corpos, com o faziam os egípcios. Sim plesm ente lavavam o corpo do falecido e o envolviam em panos limpos com especiarias. Um dia, quando a 542 2 R E I S 12 - 13 chegada de invasores moabitas interrompeu uma cerim ônia de sepultam ento de um ho­ mem falecido havia pouco tem po, os par­ ticipantes colocaram o corpo às pressas no túmulo de Eliseu e fugiram. M as D eus usou essa ocasião para trazer o hom em de volta à vida! Por certo, o povo com entou sobre esse m ilagre, e pode ser que o rei tenha ouvido o relato da boca daqueles que viram o ocorrido. Esse milagre mostrou a Jeoás que o profeta estava morto, mas que Jeová ain­ da era o Deus vivo e poderoso. Suas pro­ messas não iriam falhar. O profeta Elias não m orreu; antes, foi levado diretam ente para o céu (2 Rs 2:1 1 , 12), mas o profeta Eliseu morreu e foi sepul­ tado. Po rém , Eliseu re a lizo u um m ilagre mesm o depois de morto. Deus tem um pla­ no diferente para cada um de seus servos e não devem os fazer com parações nem ques­ tionar os atos divinos (Jo 21:19-23). F/e conquistou três vitórias (vv. 22-25). O s siros estavam determ inado s a destruir Israel e a torná-lo parte de seu im pério, mas o Senhor tinha outros planos. Sua aliança com os patriarcas (G n 12:1-3) e sua graça para com se u s d e sce n d e n te s co m o ve u -o diante da aflição de Israel e o fez livrar o povo de seus inimigos. Foi som ente quando o p o vo p e co u de m o d o e x tre m a m e n te ostensivo, blasfem ando contra o nom e do Senhor e poluindo sua terra, que D eus per­ mitiu que tanto Israel quanto Judá fossem derrotados e levados para o cativeiro. Em 722 a .C ., a A ssíria conquistou o reino do Norte, Israel, e em 586 a.C ., Jerusalém caiu para os babilônios. O povo de Judá voltou a sua terra depois de setenta anos de cativei­ ro, mas o povo de Israel foi assim ilado pelo im pério assírio. O rei Jeoás conquistou três grandes vi­ tórias sobre os siros, o suficiente para que reto m asse as cid ad es q u e H a z a e l e BenH adade haviam tirado de Israel. Posterior­ mente, o rei Jeroboão II tomou de volta o restante da terra. O Senhor capacitou Jeoás de modo a aum entar seu poder militar (v. 7) e a subjugar os siros com andados por BenH adade III. A prom essa do Senhor se cum ­ priu, e o povo de D eu s foi poupado. Durante os reinados de Jeoás e de Jeroboão II, o rei­ no de Israel alcançou seu ápice e houve pros­ peridade em toda a terra. M as mesmo com todas essas conquistas e riqueza, ainda era uma terra cheia de idolatria e de pecados. D urante o reinado de Jeroboão II, os pro­ fetas O séias e A m ó s m inistraram ao povo de Israel. Ao ler os livros desses profetas, ve­ mos a verdadeira situação em que a terra se encontrava. Campbeii. The Westminster Pulpit, vol. 8, p. 315. 1. M o rg a n , 2. Alguns acreditam que esse é o homem sobre o qual Jesus falou em Mateus 23:35 e em Lucas 11:51, mas o texto do Novo Testamento diz: "filho de Baraquias" (ver Z c 1:1). A expressão "de Abel (Gênesis) até Zacarias (2 Crônicas)" abrangia todo o Antigo Testamento, uma vez que a Bíblia hebraica termina em 2 Crônicas. Zacarias era um nome comum entre o povo de Israel - há vinte e sete pessoas com esse nome na Bíblia - e não é improvável que mais de um tenha sido apedrejado por causa de sua fé. 3. 4. Ver 8:7-15; 10:32, 33; 13:3, 22. Vários reis de Judá e Israel foram assassinados. Ver 1 Reis 15:27; 16:8-10; 2 Reis 9:22-29; 15:10, 13-15, 25, 26, 29-31. 8 N o v e R eis - C in c o A s sa s s in a t o s 2 R eis 1 4 - 1 5 (2 C r ô n ic a s 2 5 - 2 7 ) // A h istó ria p o lític a é e xce ssiva m e n / V te repleta de crim es e de patologias para ser objeto de estudo para jo vens", es­ creveu o poeta W . H. Auden. Edward G ibbon, autor de The D eclin e and Fali o f the Roman Em pire, definiu a história com o "pouco mais que o registro dos crim es, loucuras e des­ graças da h um anidade".’ A história registrada nestes cin co capítu­ los parece estar de acordo com as palavras de A uden e de G ib b on , pois é repleta de intrigas egoístas, c a rn ific in a s, d e ca d ê n cia moral e constante rebelião contra a lei do Senhor. O Israel da Antiguidade não era mui­ to diferente da sociedade de hoje. Nenhum rei de Israel incentivou o povo a se arrepen­ der e a buscar ao Senhor. Em Judá, tanto A m azias quanto U zias com eterem atos de am bição arrogante que trouxeram o julga­ mento de D eus sobre o seu reino. Q uando Jeroboão II tornou-se rei de Israel em 782 a .C ., o povo nem sequ er suspeitava que, sessenta anos depois, o reino já não existi­ ria mais. D as histórias de vida desses nove governantes, podem os fazer algumas obser­ vaçõ e s práticas a c e rca da vo n tad e e dos cam inhos de D eus, bem com o das conse­ qüências terríveis do pecado. 1. Am azias, um rei p re s u n ç o so (2 Rs 1 4 :1 -2 0 ; 2 C r 2 5 ) A m azias foi o nono rei de Jud á,2 filho de Joás, o "m enino-rei" que, na idade adulta, abandonou o Senhor, matou o profeta de D eu s e foi assa ssin a d o (2 C r 2 4 :1 5 -2 6 ). A m azias com eçou muito bem, mas, poste­ riorm ente, deixou o Senhor e tam bém foi assassinado (2 Rs 14:1 7-20).3 Providenciou para que os hom ens que m ataram seu pai fossem executados e o bedeceu a D eutero­ nôm io 2 4 :1 6 , ju lg and o som ente os trans­ g re sso re s, n ão su as fa m ília s .4 Se tiv e sse continuado a o b e d ecer à Palavra de D eus, sua vid a e seu reinado teriam sido muito diferentes. O b se rve alguns dos pecad os de A m a zia s. In c re d u lid a d e (1 4 :7 ; 2 C r 25 :5 -1 3 ). A m azias decidiu atacar Edom e reconquis­ tar territórios perdidos (2 Rs 8:20-22). Era uma cam panha legítim a, mas ele a realizou de m odo inteiramente errado. Depois de fazer um censo, descobriu que tinha 3 0 0 mil ho­ mens e, em v e z de co n fiar que o Senhor usaria esses hom ens, contratou 100 mil mer­ cen ário s de Israel para aum entar suas for­ ças. Depositou sua fé nos núm eros e não no Senhor (Sl 2 0 :7 ) e, pior ainda, contratou soldados do reino apóstata de Israel, onde o povo adorava a bezerros de ouro. Deus enviou um profeta para repreender o rei e para adverti-lo de que D eus não estava com o reino de Israel, de modo que os soldados contratados trariam derrota. "Porém vai só, age e sê forte; do contrário, Deus te faria cair diante do inim igo, porque D eu s tem força para ajudar e para faze r cair" (2 C r 2 5 :8 ). O profeta foi um tanto sarcástico, mas deixou sua mensagem bem clara. Um dos temas que se repetem ao longo da história de Israel é seu pecado ao form ar alianças com ím pios por não crerem no Se­ nhor. Salom ão tomou para si esposas pagãs, usando esses casam entos para fazer trata­ dos com nações vizinhas. Porém , suas es­ posas o levaram à idolatria (1 Rs 11). O rei A cab e casou-se com Jezabel, uma princesa fenícia e adoradora de Baal (1 Rs 16:30-33), trazendo, assim, o culto a Baal para dentro do reino. O rei Josafá aliou-se a A cab e a fim de lutar contra os siros e quase foi morto. Josafá também fez um acordo com ercial com o rei A cazias, mas o Senhor rom peu essa parceria, destruindo a frota de Josafá. "N ão vos ponhais em jugo desigual com os in­ crédulos" (2 C o 6 :1 4 ): trata-se de uma adm oestação à qual a Igreja de hoje deve dar o u vid o s. N ão m anifestam o s o p o d er e a graça de D eus nem realizam os sua vontade 544 2 REIS 1 4 - 1 5 im itando o mundo e nos unindo a ele, mas sim sendo diferentes dele. D e acordo com 2 Crônicas 2 5 :2 , Amazias não foi sincero em seu relacionam ento com o Senhor, o que se revelou pela manei­ ra co m o ele arg u m ento u co m o pro feta sobre a vontade de Deus (2 5 :9). O rei não estava disposto a enviar os m ercenários de volta, pois isso significaria abrir mão dos cem talentos de prata que havia pago ao rei de Israel - um valor equivalente a quase quatro toneladas de prata. A m azias estava "co nsi­ derando os custos" e ajustando suas priori­ dades na esperança de poder levar Deus a mudar de idéia. O profeta respondeu com sabedoria, dizendo que D eus poderia dar ao rei muito mais, se A m azias confiasse no Senhor e fizesse sua vontade (M t 6:3 3 ). Evitaríamos muitas dificuldades, se bus­ cássem os a vontade de Deus antes de nos precipitarm os e de agirmos de modo deso­ bediente. M esm o depois que m udam os de idéia e decidim os obedecer ao Senhor, mui­ tas vezes, ainda precisam os suportar conse­ qüências dolorosas. O s soldados voltaram para Israel irados com o tratam ento que haviam recebido. Por que ficaram tão zanga­ dos? Em primeiro lugar, perderam a oportuni­ dade de lucrar com os espólios da batalha. Além disso, quem era o rei de Judá para di­ zer que Deus prezava mais os soldados de Judá do que o exército de Sam aria? Para esses m ercenários valentes, foi uma vergo­ nha serem mandados de volta para casa de m ãos vazias sem ao m enos terem lutado! C o m o explicariam ao rei e a seus amigos que o exército havia sido considerado im­ puro e que havia sido rejeitado? A solução que encontraram para expressar sua ira foi atacar algumas das cidades fronteiriças no norte de Judá. Mataram três mil pessoas e to­ maram os espólios com o indenização (2 Cr 2 5 :1 3 ).5 Pelo fato de o rei A m azias finalm ente ter obedecido ao Senhor, seu exército derrotou os edom itas. Mataram dez mil hom ens no vale do Sal, onde D avi havia conquistado uma grande vitória (1 C r 1 8 :1 2 ). Em segui­ da, executaram dez mil prisioneiros de guer­ ra, lançando-os de um penhasco em Sela (Petra), uma cidade esculpida nas rochas (O b 1-4). A m azias ficou tão em polgado com essa con quista que m udou o nom e da cidad e para "Jocteel", que quer dizer: "D eu s destrói" (2 Rs 14:7). Id o la tria (2 C r 2 5 :1 4 -1 6 ). Nas palavras do pastor escocês A nd rew Bonar: "Perm a­ neçam os tão alertas depois da vitória quan­ to antes da batalha", uma adm oestação que o rei A m azias precisava excessivam ente ou­ vir e seguir. O Senhor Jeová havia dado a seu servo uma vitória extraordinária sobre um inimigo forte num lugar difícil, mas ainda assim Am azias levou de volta para ju d á os deu ses d o inim igo derrotado (2 C r 25:14-16)! Por certo, o rei de Judá não pensou que, ao tomar esses ídolos, im obilizaria os edomitas e evitaria outras guerras no futuro! Todos os que faziam parte do povo de Deus apren­ diam que o Senhor Jeová era o único e verda­ deiro Deus vivo e que, portanto, os deuses das nações não eram coisa alguma (D t 6:4, 5; Sl 11 5 ). A id olatria era um a transgres­ são flagrante à lei de M oisés (Êx 20:1-6), e a adoração a deuses do inimigo derrotado era sim p lesm en te ab su rd a. A fin a l, o que esses deuses haviam feito pelos edomitas? A inda assim, A m azias com eçou a adorar os deuses de Edom, a oferecer-lhes sacrifícios e a consultá-los. Q uand o o Senhor enviou seu mensagei­ ro para alertar o rei, A m azias interrompeu o profeta e a m ea ço u m atá-lo, se ele co n ti­ nuasse a falar. No entanto, havia uma última palavra que o profeta devia transmitir: Deus destruiria o rei por causa de seu pecado. Na verdade, Deus perm itiria que o rei causasse a própria destruição! O maior julgamento que Deus pode enviar sobre seu povo é deixar que consiga exatam ente aquilo que quer. O r g u lh o ( 1 4 :8 - 1 4 ; 2 C r 2 5 :1 7 - 2 4 ). A m azia s derrotou os ed o m itas, pois obe­ deceu ao Senhor, mas, depois disso, os edo­ mitas derrotaram A m azias quando ele levou de volta para Judá os deuses de Edom. Enfatuado com seu grande sucesso, A m azias saiu à p ro cura de outras conquistas e decidiu d e sa fia r Jeo ás, rei de Israel. N ão ap enas ignorou a advertência do profeta que Deus havia enviado, com o tam bém se esqueceu 2 REIS 1 4 - 1 5 das palavras de seu antepassado, Salom ão: "Antes da ruína, gaba-se o coração do ho­ mem, e diante da honra vai a hum ildade" (Pv 1 8 :1 2 ). A té mesm o o rei Jeoás o adver­ tiu de que seu orgulho seria sua ruína (1 4 :10 ), mas A m azias estava determ inado a derrotar Israel e a tornar-se o governante de um rei­ no unido. A resposta de Jeoás (1 4 :9 ; 2 C r 2 5 :1 8 ) faz lembrar a parábola contada por Jotão (Jz 9:7-20), sendo que am bas se referem ao or­ gulho e ao julgam ento. O grande problema de A m azias era seu orgulho: ele se via com o um cedro fo rte, quand o , na verd ad e, era apenas um cardo frágil, que poderia ser es­ m agado por um anim al que passasse por cim a dele. A pessoa verd ad eiram en te hu­ milde vê as coisas com os olhos de Deus e não vive de ilusões. O orgulho cega o enten­ dim ento, distorce a percepção e faz crescer o ego de tal modo que a pessoa não é ca­ paz de distinguir entre o real e o im aginário. R eje itan d o a segund a a d ve rtê n c ia do Senhor, A m azia s invadiu Israel, onde seu exército foi totalmente derrotado. O rei foi capturado a cerca de 25 quilôm etros de Je­ rusalém e foi do palácio à prisão. O exército de Israel invadiu Judá e destruiu 2 0 0 metros das muralhas de Jerusalém , deixando a cida­ de vulnerável a futuros ataques. Além disso, levaram tesouros do palácio e do templo do Senhor, chegando até a tom ar alguns líde­ res de Judá com o reféns. O rei A m azias pas­ sou quinze anos exilado em Sam aria (14:1 7), depois do que, por um breve período, foi co-regente ao lado do filho (1 4 :2 1 ; 2 C r 26 :1 , 3). Porém , sua idolatria perturbou alguns dos líderes de Judá, que se puseram a conspirar para assassiná-lo. A m azias fugiu para Laquis, onde foi capturado e morto (1 4:18-20; 2 C r 2 5 :2 7 ). A m azias é uma figura trágica da história de Judá. Teve oportunidades extraordinárias e foi grandem ente ajudado pelo Senhor, mas foi um hom em de m ente dobre, que não serviu ao Senhor de todo o co ração . Bus­ cou os próprios interesses e deixou de lado a vontade de D eus. "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda" (Pv 1 6 :1 8 ). 545 2 . J e r o b o ã o , um re i p ró s p e ro (2 Rs 14:23-29) O relato deixa Judá e se volta para Israel e Jeroboão II, que teve o reinado mais longo dentre os reis de Israel - quarenta e um anos. Em s e tra ta n d o d e q u e stõ e s e s p iritu a is , Jeroboão II não foi um bom rei, mas trouxe prosperidade à nação e a livrou de seus ini­ migos. Já naqueles tem pos antigos, desde que o povo tivesse com ida na mesa, dinheiro no bolso e não precisasse tem er os inim i­ gos, os cidadãos, de modo geral, não se preo­ cupavam com o caráter de seus líderes. G raças às vitórias da Assíria sobre a Síria, tanto Israel quanto Judá viram-se finalm ente livres da sujeição a essa inimiga persistente, e os dois reinos tiveram o portunidade de usar sua riq u eza e fo rça de trabalho para construir em vez de lutar. Israel conseguiu expu lsar os siros de postos avançado s na fronteira, e Jeroboão tam bém recuperou ter­ ritórios que haviam sido perdidos para a Síria. O reino de Israel chegou a ter as mesmas dim ensões que havia alcançado nos tempos de Salom ão (vv. 25 e 28 ; 1 Rs 8 :6 5 ). O Se­ nhor permitiu essas vitórias não porque os israelitas ou seu rei m erecessem , mas por­ que teve m isericórdia de seu povo, que so­ fria sob o dom ínio da Síria (2 Rs 1 4 :2 6 ; ver Êx 2:23-25). A prosperidade de Israel era apenas su­ perficial e, na verd ade, en co b ria pecad os e crim es ab om ináveis aos olhos do Senhor. O s profetas A m ó s (1 :1 ) e O séias (1 :1 ) mi­ nistraram durante o reinado de Jeroboão e advertiram que o julgam ento estava a ca ­ m inho. D e fato, o julgam ento sobreveio em 722 a .C , quando os assírios invadiram Is­ rae l, d e p o rta ra m m uito s dos isra e lita s e tro uxeram gentios de outras n ações co n ­ quistadas a se m isturarem com o povo de Israel. Essa p o lítica acab o u gerando um a raça m estiça, parte israelita e parte gentia, bem com o uma religião sincrética, com tem ­ plo e sacerdócio próprios, no m onte Gerizim (Jo 4 :2 0 -2 2 ). D e p o is do ca tive iro na Babilô nia, os ju d eu s ortodoxos que volta­ ram para Judá recusaram -se a ter qualquer contato com os sam aritanos (Ed 4:1-4; Ne 2 :1 9 , 20 ; ver Jo 4 :9 ). 546 2 REIS 1 4 - 1 5 Q uais eram os pecados desse reino prós­ pero? Um deles era que os ricos prospera­ vam à custa dos pobres, os quais, por sua vez, eram explorados e abusados. O s abas­ tados proprietários de terras mal cuidavam de seus escravos, e os tribunais desobede­ ciam à lei e julgavam os casos em favor dos ricos, não usando de justiça com os pobres. Em meio a essa corrup ção, os líderes prati­ cavam sua "re lig iã o ", co m p a re c e n d o aos cultos e levando seus sacrifícios (Am 2:1-8; 4:1-5). Enquanto os hom ens ricos e suas es­ posas viviam em meio ao luxo, os pobres eram oprim idos e privados de seus direitos civis (Am 6:1-7; O s 12:8). O povo "religio­ so" ansiava pela vinda do "D ia do S e n h o r " , pensando que esse grande acontecim ento traria ainda mais glória para Israel (Am 5:1827 ). O povo não se dava conta de que o "D ia do S e n h o r " , na verdade, significava o julgam ento divino sobre a nação, pois o ju l­ gamento de D eus co m e ça com o próprio povo (1 Pe 4:1 7). Israel possuía uma disposi­ ção para a idolatria, o que levava à d e ca­ dência moral e à corrup ção m undana (O s 6 :4 ; 7:8; 9 :9 ; 1 1 :7; 1 3 :2 ).6 Jeroboão II reinou de 793 a 753, e, em 722 a.C ., os assírios in­ vadiram Israel e acabaram com a nação. O liver C oldsm ith, poeta e dramaturgo in­ glês, expressou-se co m p e rfe iç ã o em seu poema The Deserted Village [Vilarejo Deserto]: A terra agoniza e, depressa, os males irrompem, Onde a riqueza se acumula e os homens se corrompem... 3 . U z ia s ( A z a r ia s ) , um re i ilu s t r e (2 Rs 15:1-7; 2 C r 26) Seu nom e era A zarias, que significa "Jeová tem ajudado", mas quando se tornou rei de Judá aos 16 anos de idade, tomou para si o "no m e real" de U zias, que quer dizer "Jeová é força". O povo o fez rei quando seu pai, A m azias, foi levado para Sam aria depois de sua guerra insensata contra Jeoás, rei de Is­ rael (2 Rs 1 4 :1 3 ). Durante os quinze anos em que seu pai ficou no cativeiro em Sam aria, U zias gover­ nou Judá e procurou fa z e r a vo n tad e de D eus. D epois da m orte do pai, U zias per­ m aneceu no trono até que, num ato de im­ p ru d ê n cia , quis tornar-se sace rd o te e foi julgado por D eus, que o feriu com lepra. Naquela ocasião, seu filho, Jotão, tornou-se co-regente ao lado do pai. D e acordo com os registros, U zias reinou sobre Judá durante cinqüenta e dois anos (2 C r 2 6 :3 ), incluindo as co-regências com o pai, A m azias (quinze anos), e tam bém com o filho, Jotão (possivel­ mente, dez anos). D esd e o in ício de seu reinado , U zia s mostrou-se um adorador fiel de Jeová, ape­ sar de não ter tentado elim inar os "altos", os santuários nas colinas onde o povo de Judá adorava. O povo deveria ir ao templo para o ferecer suas ofertas e sacrifícios ao Senhor, mas era mais conveniente visitar um desses santuários locais. Alguns dos altos ainda eram consagrados a divindades pagãs, com o Baal (2 C r 2 7 :2 ), e esses santuários só foram re­ m o vid o s nos re in ad o s de E ze q u ia s e de Josias (2 C r 3 1 :1 ; 2 Rs 23). As realizações de U zias (2 Rs 14:22; 2 C r 26:2, 6-15). U zia s foi extrem am ente bem-sucedido em suas cam panhas militares. Reouve de Edom a cidade de Eiate, apesar de, posteriorm ente, ela ter sido perdida para a Síria e para Israel (2 Rs 16:5, 6; 2 C r 28:1 7). A posse de Elate permitiu que Judá tivesse acesso ao mar, o que contribuiu para o co­ m ércio com outras nações. U zias tinha como conselheiro o profeta Z acarias e procurou agradar ao Senhor. "N os dias em que bus­ cou ao S e n h o r , Deus o fez prosperar (2 C r 2 6 :5 ). D eus fortaleceu seus exércitos e os aju­ dou a subjugar os filisteus, os árabes e os am onitas. D ep o is de derro tar os filisteus, U z ia s m andou destru ir os m uros de suas principais cidades, e essa vitória lhe deu aces­ so ao mar. A fim de manter o controle sobre territórios recém -adquiridos, U zias construiu cidades na Filístia, onde foram assentados soldados e oficiais de Judá. Construiu torres nas muralhas de Jerusalém e reparou os es­ tragos causados pelo exército de Israel (2 Rs 1 4 :1 3 ). Tinha um exército bem treinado, ao qual fo rn eceu as armas e arm aduras neces­ sárias,7 incentivando, ainda, a construção de 2 REIS 1 4 - 1 5 547 "m áquinas de guerra" que atiravam flechas e lançavam pedras (2 C r 26:11-15). Porém , U zias não era apenas um soldado com petente e construtor atento, mas tam ­ bém agricultor. Procurou desenvolver a terra construindo cisternas e co locando pessoas para trabalhar com diversos tipos de reba­ nhos bem com o em cam pos e vinhas. Levan­ tou torres nos cam pos, de onde os guardas poderiam vigiar e detectar a presença de invasores, protegendo o povo. Nas palavras de Thom as Jefferson, em sua obra N otes on the State o f Virginia [O b servaçõ es sobre o Estado de Virgínia]: "Aqueles que trabalham com a terra são o povo escolhido de D eus". A pesar de ser soldado, construtor e monar­ ca, U zias era um hom em do cam po. Teria concordado com Bo o ke rT . W ashington, que disse: "H á tanta dignidade em lavrar um cam ­ po quanto em escrever um poem a". A arrogância de Uzias (15:5; 2 C r 26:16- dito com o Davi: "Q u em sou eu, S e n h o r Deus, e qual é a m inha casa, para que me tenhas trazido até aqui?" (2 Sm 7:1 8). Em vez disso, convenceu-se de que, além de ser rei, m ere­ cia ser tam bém sacerdote. Sabia que o sumo sacerdote queim ava o incenso sagrado no altar de ouro todas as manhãs e tardes (Êx 3 0 :7 , 8), de m odo que conseguiu um incensório para si e foi até á parte do templo onde 2 1 ). Infelizm ente, U zia s seguiu o exem plo do pai e permitiu que suas realizações lhe subissem à cabeça. A m azias desejou ser co­ nhecido com o um grande general, mas U zias quis servir nas funções de rei e sacerdote. No sistema do Antigo Testam ento, o Senhor fazia separação entre reis e sacerdotes, e enquanto um sacerdo te poderia tornar-se profeta (E ze q u ie l, Z a c a ria s , João Batista), nenhum pro feta ou rei p o d e ria tornar-se sacerdote. É som ente em Jesus Cristo que encontram os as funções de profeta, sacer­ dote e rei com binadas num único indivíduo, negando-se a recuar, enfurecendo-se com os sacerdotes por sua interferência. O ter­ mo hebraico traduzido por "indignar-se", em 2 Crônicas 2 6 :1 9 , é associado à idéia da fú­ ria de uma tempestade. Se o rei tivesse deixado o tem plo ime­ diatam ente e se arrependido de seus peca­ dos, o Senhor o teria perdoado, mas U zias não se dem oveu e insistiu que seu desejo fosse atendido. Então, o Senhor interveio e co locou a lepra na testa do rei, onde os sa­ cerdotes puderam vê-la claram ente. Sabiam e seu sacerdócio é "segundo a ordem de M elquisedeque" (Sl 1 1 0 :4 ; G n 14:18-20; Hb 5 - 7). C o b içar o sacerdócio foi uma insen­ satez, pois U zias conhecia a lei de M oisés; tentar tomá-lo à fo rça foi arrogância, pois o rei sabia o que havia acontecid o com ou­ tros que haviam tentado apropriar-se daqui­ lo que não lhes era de direito (ver Lv 10; Nm 12, 16). "M as, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu co ração para a sua própria ruína, e com eteu transgressões contra o Se­ n h o r , seu D eus" (2 C r 2 6 :1 6 ). Sem dúvida, U zias foi um rei ilustre, cuja fam a alcançou até lugares distantes (2 6 :1 5 ), mas o que o Senhor fez por ele deveria tê-lo tornado mais humilde e não orgulhoso. U zias deveria ter era perm itida som ente a entrada de sacer­ dotes (Nm 1 6 :4 0 ; 18:7). O sumo sacerdote A zarias, com outros oitenta sacerdotes, colocaram -se no cam i­ nho do rei e se recusaram a deixá-lo passar. Foi preciso um bocado de coragem para se opor a um rei tão querido por todos, mas a lealdade deles era, em prim eiro lugar, de­ dicad a ao Senhor. Poderiam ter cedid o e, talvez, conseguido algum favor do rei, mas o único desejo desses sacerdotes era obe­ decer e glorificar ao Senhor. O rei irou-se, que o lugar dos leprosos era fora do acam ­ pam ento, não dentro do templo (Lv 13:45, 4 6 ); sem dem ora, forçaram o rei a se retirar da área sagrada do tem plo. O rei U zias não tinha com o ver a lepra em sua testa, de modo que, possivelm ente, ela com eçou a aparecer em outras partes de seu corpo, levando-o a p erceb er que, sem dúvid a algum a, estava contam inado. A lei exigia que invasores do tem p lo sagrado fo ssem e x e cu ta d o s (N m 1 8 :7 ), mas, em sua graça, Deus poupou a vida do rei e o feriu com a lepra, uma "m orte em vida". C om o leproso, o rei não poderia apare­ cer em público nem sequer viver no palá­ cio. Foi colocado de quarentena num a casa isolada, enquanto seu filho, Jotão, governava 548 2 RE I S 1 4 - 1 5 o reino com o co-regente. Q u an d o U zias fa­ leceu, foi sepultado no cem itério real, mas, ao que parece, não no túmulo dos reis. Teve um excelente co m eço , mas um fim trágico, o que serve de advertência para nos man­ term os vigilantes e orarm os pedindo ao Se­ nhor que nos ajude a term inar bem . Um bom co m eço não é garantia alguma de um final feliz, e a am bição pecam inosa já foi a ruína de muitos servos do Senhor. U zias, o solda­ do, foi derrotado pelo próprio orgulho; U zias, o construtor, destruiu o próprio m inistério e seu testem unho; e U zias, o lavrador, ceifou a colheita dolorosa daquilo que havia sem ea­ do. Serve de aviso a todos os que alim en­ tam am b içõ e s p e ca m in o sa s de in te rfe rir naquilo que Deus não os incum biu de fazer (ver Sl 131). 4 . C i n c o r e is f a m o s o s (2 Rs 15:8-31) De Jeroboão I, o primeiro rei de Israel, até O séias, o último rei de Israel, nem um só rei é cham ado de "bo m ". No entanto, as coi­ sas não foram muitos m elhores no reino de Judá, pois dos vinte reis que governaram depois da divisão do reino, som ente oito deles poderiam ser cham ados de " b o n s " .8 Nesta seção de 2 Reis, encontram os cinco reis de Israel, fam osos por seu caráter ím pio e por seus atos de p e rversid ad e . Q u atro deles foram assassinados! Salum reinou ape­ nas um mês, Z acarias, seis meses e Pecaías, dois anos. M enaém , o mais cruel de todos, reinou dez anos, e Peca, vinte anos. A medi­ da que o reino do Norte cam baleava rumo à destruição, seus governantes apressaram a vinda do julgam ento de D eus. C o m fre­ qüência, o Senhor dá a uma nação exata­ mente os líderes que ela m erece. Z a ca ria s (v.v. 8-12). H á vinte e nove ho­ mens nas Escrituras cham ados Zacarias; este é o filho de Jeroboão II, o último grande rei do reino do Norte, Israel. Z acarias não tinha a aptidão política de seu pai e escolheu imi­ tar os p ecad o s do prim eiro rei de Israel, Jeroboão I. Z acarias era tataraneto de Jeú e, portanto, o últim o daquela dinastia. Deus p ro m e teu a Jeú que seu s d e sc e n d e n te s ocupariam o trono de Israel durante quatro ge raçõ e s (2 Rs 1 0 :3 0 ), p ro m essa que se cum priu. Z acarias não se tornou rei por cau­ sa de sua santidade, capacidade ou populari­ dade, mas porque havia, providencialm ente, nascido na família real. Há som ente dois fa­ tos relevantes registrados a seu respeito: ele fez o que era mau perante o Senhor e foi assassinado publicam ente por Salum , que, depois, tomou o trono. Z acarias reinou so­ mente seis meses, e sua morte encerrou a dinastia de Jeú. Salum (vv. 13-15). Sabem os pouco so­ bre esse hom em . O rganizou uma conspira­ ção para assassinar Z acarias; reinou sobre Israel por apenas um mês e foi vítim a de uma conspiração que o levou à própria mor­ te. "Q u e m abre um a cova, nela cairá; e a ped ra ro la rá so b re quem a re vo lv e " (Pv 2 6 :2 7 ). Salum foi morto por M enaém , um de seus oficiais e com andante, em Tirza, a prim eira capital de S am aria (1 Rs 1 4 :1 7 ; 15 :2 1 , 33). Se Salum tinha descendentes, é provável que estes se recusaram a revelar sua identidade. Afinal, que motivo havia para se orgulhar de Salum? M en a ém (vv. 16-22). Um a vez que era um homem temido pelo povo e que contro­ lava o exército, M enaém conseguiu reinar durante dez anos e m orreu de causas natu­ rais. Q u an d o o povo de Tifsa (localidade que não temos com o identificar) não aceitou seu governo, M enaém invadiu a cidade e ma­ tou seus inimigos. Foi um hom em cruel que seguiu o costum e siro de rasgar o ventre de m ulheres grávidas (v. 16; ver 8 :1 2 ), algo que o profeta O séias advertiu que aconteceria (O s 1 3 :1 6 ). Q u an d o os assírios invadiram a terra, M enaém cobrou dos cidadãos ricos um im posto de mais de meio quilo de prata e deu a Pul (Tiglate-Pileser) trinta e sete tonela­ das de prata com o tributo. O s assírios foram em bora, mas voltaram vinte anos depois e tomaram toda a terra. O rei Davi teria confia­ do em Deus, lutado contra os assírios e os derrotado. M enaém , no entanto, adotou uma política de transigência e de conciliação. P ecaías (vv. 23-26). O filho de M enaém herdou o tro n o, mas reinou ap enas dois anos. Seu pai havia sido com andante e as­ sassino do rei Salum, e Pecaías foi morto em 2 REIS 1 4 - 1 5 seu p a lácio por Peca, outro co m an d an te que assumiu o trono. O fato de Peca ter re­ ce b id o a ajuda de cin q ü en ta ho m ens de G ilead e indica que era encarregado das for­ ças militares a leste do rio Jordão.9 E bem provável que Pecaías e Peca não concord as­ sem quanto à melhor política a ser adotada com relação à A ssíria. A ssim com o o pai, M en aé m , P ecaías p ro cu rou ap azig u a r os assírios e lhes dar o que desejavam , enquan­ to Peca, um militar, adotou uma linha dura contra a Assíria, favorecendo a Síria. Peca (vv. 27-31). G raças à proteção de seu exército , Peca foi cap az de reinar du­ rante vinte anos. Q uand o um m ilitar assu­ me o controle, é difícil livrar-se dele. Apesar de M enaém haver apaziguado os assírios, eles voltaram a invadir Israel e, ao longo de quatro cam panhas (7 3 8 a.C ., 734 a.C ., 733 a.C . e 732 a .C .), tomaram não apenas várias cidades im portantes, mas tam bém grandes exte n sõ e s de te rritó rio , desd e H a m ate e Naftali, ao norte, até G ilead e e a G aliléia, ao sul. O s assírios tam bém tomaram terras da Filístia até G a z a e chegaram a capturar D a­ m asco, na Síria. M uitos israelitas e filisteus foram deportados para a A ssíria. Peca foi m orto por O séias, filho de Elá, cuja política era p a rtidária dos assírio s. V e rem o s mais sobre O séias em 2 Reis 1 7. Ele reinou du­ rante nove anos e, provavelm ente, foi depor­ tado para a A ss íria , o n d e fa le ce u (1 7 :1 ; 18 : 10, 11 ). 10 5 . JO T Ã O , UM REI VIRTU O SO (2 Rs 15:32-38; 2 C r 27) Jotão, filho de U zias, com eçou a reinar quan­ do estava com 2 7 anos de idade e reinou durante dezesseis anos (2 C r 2 7 :1 ). Foi coregente com o pai depois que U zias foi aco ­ metido de lepra por invadir o templo. Jotão viria a ser considerado um bom rei, apesar de seu filho, A ca z, ter sido um rei perverso. Na verdade, desde Jotão, décim o primeiro rei de Judá, até Zedequias, o vigésim o e úl­ timo rei de Judá, som ente Jotão, Ezequias e Josias foram cham ados de reis bons - três dentre dez. O Senhor m anteve a lâm pada de D avi acesa em Jeru salém todos esses anos, mas chegou um m om ento em que 549 precisou deportar a nação para a Babilônia e castigar o povo por seus pecados. Assim com o seu pai, U zias, Jotão foi tan­ to um construtor quanto um guerreiro. Re­ parou as m uralhas de Jerusalém e a porta de cim a do templo. Tam bém construiu cida­ des nas m ontanhas de jud á e fortificações e torres em seus bosques. Seu exé rcito en­ frentou os exército s de Israel e da Síria e conquistou uma grande vitória sobre os am o­ nitas, colocando-os sob pesado tributo anual - quase quatro toneladas de prata e quase duzentos mil litros de trigo e a m esm a quan­ tia de cevada (2 C r 2 7 :5 ). "Assim, Jotão se foi tornando mais poderoso, porque dirigia os seus cam in h o s segundo a vo ntade do S e n h o r , seu D eu s" (2 C r 2 7 :6 ). Ficam os im a­ ginando quantas co isas boas p o d e ria ter realizado se tivesse vivido mais tempo. Na história do povo de Israel, é com um encon­ trarmos um pai piedoso com um filho per­ verso e um pai im p ied o so com um filho temente a D eus. Josafá, um bom rei, gerou o perverso rei Jeorão, mas o piedoso rei Joás deu à nação um filho (A m azias), um neto (U z ia s) e um bisneto (Jotão) tem entes a D eus. Porém A ca z, filho de Jotão, não foi nem um hom em piedoso nem um bom rei e, no entanto, gerou Ezequias, um grande rei que, por sua vez, foi pai de M anassés, possivelm ente o rei mais perverso de todos - e cujo reinado durou cinqüenta e cinco anos! Ezequiel, o profeta na Babilônia, tra­ tou desse fenôm eno interessante no capítu­ lo 18 de seu livro profético. Deus é soberano nas dádivas que conce­ de a indivíduos e a nações. O Senhor foi longânimo para com seu povo durante todos aqueles anos de d ificu ld ade e de perversi­ dade, sendo fiel no cum prim ento de suas promessas a Davi. Mas o tempo estava se es­ gotando. Depois da morte de A caz, somente Ezequias e Josias honraram a Palavra de Deus e procuraram obedecer à sua vontade. No entanto, apesar dos pecados e das fraquezas de seu povo, o Senhor guardou um remanes­ cente piedoso em sua nação, e seria desse rem anescente que um dia viria o Messias. " O Senhor [...] faz estas coisas conheci­ das desde séculos" (At 15:18). 550 1. 2 REIS 1 4 - 1 5 G ib b o n , Edward. The D eclin e and Fali o ft h e Roman Empire [D eclínio e Q ueda do Im pério Rom ano], capítulo 3. U m a década antes, Voltaire havia escrito: "Sem dúvida, a história não passa de um retrato de crim es e de desgraças". 2. Ao contar os governantes de Judá, incluím os a perversa rainha Atalia, que reinou durante seis anos depois da morte de 3. Dos nove reis cujos reinados são descritos nestes capítulos, cinco foram assassinados: A m azias (14:19-22), Zacarias (15:10), 4. A expressão "um a vez confirm ado o reino em sua m ão" (2 Rs 14:5) indica que, depois de sua ascensão, Am azias enfrentou Acazias e foi a sétima governante de judá. Atalia foi executada quando o jovem rei joás assumiu o trono. Salum (15 :14), Pecaías (15 :25) e Peca (15 :30). opo siçã o e teve de superá-la aos poucos. O rei teve um a atitude louvável ao esperar pacientem ente para receb er a autoridade de que precisava, a fim de julgar os homens que haviam assassinado seu pai. 5. O texto indica que, primeiro, os m ercenários se reportaram a seu rei em Samaria e, depois, voltaram para a região fronteiriça e atacaram as cidades. É bem provável que o rei tenha aprovado o plano deles, de outro modo não teriam voltado a jud á para lutar. Posteriormente, A m azias tentou vingar-se, mas sofreu uma derrota vergonhosa (2 C r 2 5 :1 7ss). 6. Observe que o profeta Jonas ministrou em Israel nessa época (14 :5), e esse fato nos ajuda a com preender melhor sua recusa em pregar para a cidade de Nínive. Durante o reinado de jeroboão, o reino de Israel mostrou-se orgulhoso, com placente e extrem am ente nacionalista. Eram o povo escolhido de Deus e não queriam que nação alguma interferisse. Jonas preferia ver os assírios serem destruídos pelo Senhor e, a princípio, se recusou a levar a mensagem de Deus a eles. 7. Naquele tempo, era com um os soldados providenciarem as próprias arm as e armadura. 8. Foram eles: Asa, Josafá, Joás, Am azias, U zias, Jotão, Ezequias e Josias. É evidente que, no alto dessa lista, encontra-se o rei 9. No versículo 25, a expressão "com Argobe e com A rié" é problem ática para os estudiosos. Algumas traduções sugerem que Davi. eram dois dos oficiais de Pecaías m ortos com o rei, enquanto, para outras versões, são dois homens que ajudaram Peca a assassinar o rei. A primeira interpretação parece mais adequada. Pecaías tinha apenas dois guardas, enquanto Peca tinha consigo oitenta homens. 10. Peca uniu-se a Rezim , rei da Síria, na tentativa de forçar A caz, rei de Judá, a entrar numa coalizão com eles em oposição à Assíria. Foi nesse contexto que nasceu a fam osa prom essa messiânica em Isaías 7:14. 9 U ma H ist ó r ia d e D o is R e in o s 2 R eis 1 6 - 1 7 ( 2 C r ô n ic a s 2 8 ) iz um provérbio inglês: "Pense bem em quem você é, de onde veio, o que faz e D para onde está indo". Tanto Israel quanto Judá não teriam dificuldades com as duas primei­ ras questões, uma vez que as duas nações teriam dito: "Som os o povo escolhido de D eus, descendentes de nosso pai Abraão". Q uanto ã terceira questão, os dois reis teriam de admitir: "Fazem os o mesmo que nossos antecessores perversos". O rei A caz de Judá não seguiu o exem plo piedoso de Davi, seu antepassado; O séias, o rei de israel, imitou os reis perversos que governaram antes dele. Tinham liberdade de tomar as próprias deci­ sões, mas não d e m udar as co nseq üên cias dessas d ecisões, o que nos leva à quarta ques­ tão: "Para onde está indo?" No caso dos dois governantes, a resposta de D eus foi clara: "Vo cê e seu povo vão afundando rapidamen­ te, cada vez mais próxim os do julgamento e da ruína". As palavras de Salom ão estavam prestes a ser com provadas nos dois reinos: "A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos" (Pv 14:34). 1 . J u d á , u m a n a ç ã o t r a n s ig e n t e (2 Rs 16:1-20; 2 C r 28:1-27) p ro ib id a na lei de M o isés (L v 1 8 :2 1 ; Dt 1 8 :1 0 ). C a d a filh o em Israel d e v e ria ser redimido por um sacrifício e, portanto, per­ te n cia ao S e n h o r (Êx 13; Nm 1 8 :1 4 -1 6 ). C o m o era possível sacrificar a um ídolo um filho que pe rten cia a Deus? Porém , A c a z mostrou-se transigente tanto em suas práticas religiosas quanto em sua liderança política. Transigência política (vv. 5-9; 2 C r 28:521). Peca, rei de Israel, e Rezim , rei da Síria, queriam que A ca z se juntasse a eles para fazer frente à Assíria, mas A c a z recusou-se, pois era partidário dos assírios. A liás, co n­ fiou nos assírios em vez de crer no Senhor. C o m o retaliação, a Síria e Israel planejaram tirar A ca z do trono e co locar em seu lugar um rei que pudessem m anipular, mas o Se­ nhor protegeu o trono de D avi, apesar de A ca z não m erecer tal proteção (a história com pleta encontra-se em Isaías 7 - 9). D e acordo com 2 C rôn icas 28:5-8, foi o Senhor quem enviou esses dois reis contra Judá, para castigar A c a z por seus pecados. Peca e Rezim fizeram um grande estrago em Judá, mas não conseguiram tom ar Jerusalém . Um dos filhos de A ca z foi morto com dois oficiais de estado importantes. O s exércitos invasores mataram m ilhares de soldados e levaram m ilhares de prisioneiros de guerra para Sam aria. Tudo indicava que Israel iria se apoderar de Judá! O Senhor levantou um profeta em Israel,2 o qual advertiu o exército sam aritano de que, ao fazer prisioneiros de Judá, Israel estava transgredindo a lei de D eus e atraindo para si o julgam ento divino. Afinal, o povo de Judá e o povo de Sam aria faziam parte de uma família, a família de A braão. O profeta O bede (que não é o mesmo homem que aparece em 2 C r 15:8), ressaltou três pecados do exér­ cito de Israel. Em primeiro lugar, enfureceram-se contra o povo de Judá, capturando e m atando indiscrim inadam ente. Em segundo lugar, planejaram escravizar os próprios ir­ m ãos e irmãs, desobedecendo, assim, à lei de Deus (Lv 2 5 :3 9 ss). A o fazer isso, mostra, ram que não tinham tem or algum do Senhor e, portanto, atraíram para si o julgam ento A ca z era filho de Jotão, um bom rei, e o pai de Ezequias, um grande rei, mas ele próprio não era um hom em tem ente a D eus nem m esm o um hom em bom . Em vez de buscar a vontade de D eus e de lhe obedecer, A caz imitou os reis perversos de Israel e, até mes­ mo, os costum es pagãos da A ssíria .1 C h e ­ gou a adotar as terríveis práticas de adora­ ção dos pagãos e sacrificou seu filho (2 C r 2 8:3 diz "filhos", plural) a um deus pagão, de Deus (2 C r 28:9-11). Sem dúvida, Deus Baal ou M o lo q u e , p rá tica e xp licita m e n te ^ estava irado com Judá (28 :9 , 25 ), mas havia 552 2 RE I S 1 6 - 1 7 o perigo de irar-se com Israel pela form a co m o estavam tratan d o ju d á (2 8 :1 1 -1 3 ). Depois da mensagem de O bede, alguns dos líderes de Israel tomaram a frente e co n co r­ daram com o profeta, instando o exército a não p ecar contra o Senhor e contra seus irmãos e irmãs. Então, algo e xtra o rd in á rio o co rre u : o povo aceitou a m ensagem de D eus, arre­ pendeu-se e mudou seu modo de tratar os prisioneiros. O s israelitas não apenas deram roupas e com ida a eles, prestando socorro aos mais fracos e enferm os, com o também seus soldados devolveram os espólios que haviam tomado de jud á. Transformaram-se, em nível nacional, em "bons sam aritanos" (Lc 10:25-37), fazendo-nos lem brar da bon­ dade de Eliseu para com os soldados siros que foram capturá-lo (2 Rs 6:15-23). Q u an ­ do os prisioneiros (com os espólios da ba­ talha) voltaram a Judá, testem unharam da graça e da bondade do Senhor. Porém , não há registro algum de que A ca z tenha lidera­ do a nação num grande culto de louvor. Esse aco ntecim ento notável transm itiu ainda outra m ensagem a Judá: chegaria a hora em que os babilônios invadiriam a ter­ ra e levariam m ilhares de cativo s para a Babilônia. Essa experiência com o reino de Israel foi uma espécie de "ensaio geral" para o povo de Judá, mas não receberiam dos babilônios o m esm o tratam ento que rece­ beram dos israelitas. A maioria dos cativos de Judá m orreria na Babilônia, e, depois de setenta anos, um frágil rem anescente volta­ ria para reconstruir o templo e tentar resta­ belecer sua nação. O S en h o r aind a d isc ip lin a as n açõ e s hoje em dia co m o fazia na Antiguidade? É evidente que o povo de Judá pertencia à nação da alian ça - m esm o que esta se en­ contrasse dividida em dois reinos - e tinha a responsabilidade de ser fiel à aliança com o Senhor. M as e quanto às naçõ es gentias que não têm qualquer relação pactuai com Deus? O profeta A m ós deixa claro que Deus co nh ece os pecados das nações gentias e que elas devem lhe prestar contas (Am 1 - 2). D eus nunca entregou sua lei aos gentios (Sl 1 4 7 :1 9 , 20), mas os requisitos dessa lei encontram-se gravados no coração de todas as pessoas (Rm 2:12-16), de modo que os gentios desobedientes são culpados diante do Senhor. Ao ler o Antigo Testam ento, vêse D eus julgando Sodom a e G o m o rra (Gn 18 - 19), o Egito (Êx 1 - 14), as nações gen­ tias dentro de C anaã e a seu redor (Nm 31 - 32) e até m esm o a Babilônia (Jr 50 - 51). Porém , pelo fato de o povo de Israel conhe­ cer o verd adeiro D eus vivo e de terem o testem u n h o de sua lei, eram ain d a mais responsáveis. C om o é triste que o Israel após­ tata e não a Ju d á e s c la re c id a ten ha d e­ m onstrado a preo cup ação de o b e d ecer à vontade de Deus. Judá tinha o templo, a lei e o sacerdócio, mas não tinha o Senhor. "Fe­ liz a nação cujo Deus é o S e n h o r " (Sl 3 3 :1 2 ). T ran sigência relig io sa (vv. 10-18; 2 C r 2 8 :2 2 -2 5 ). Não apenas Israel e a Síria ataca­ ram Judá, com o Deus tam bém fez vir con­ tra Jerusalém os edom itas e os filisteus. A ca z enviou uma mensagem para o rei da Assíria pedindo socorro. Sua mensagem foi típica de um bajulador: referiu-se a si mesm o com o "servo" e "filho" de Tiglate-Pileser, postura estranha para um descendente de Davi di­ ante de um governante pagão. A fim de in­ centivar ainda mais o rei assírio, A ca z tirou riquezas do templo, do palácio e dos prínci­ pes e enviou lhe um presente. Na verdade, A ca z transformou Judá numa nação vassala sob o controle e a proteção da Assíria. A caz não tinha fé no Senhor e depositou sua con­ fiança no exército assírio, o que lhe custou muito caro. D e fato, a Assíria derrotou a Síria, mas Tiglate-Pileser convocou seu "servo " e "filho" para ir a D am asco dar um relatório e receber ordens. O s tempos em que os reis de ju d á e seus exércitos inspiravam medo às nações eram coisa do passado! O rei U zias havia tentado interferir no serviço sacerdotal no tem plo, e o Senhor o havia ferido com lepra; porém Urias, o sumo sacerdote, fazia tudo o que o rei lhe ordena­ va, mesm o que isso significasse desobede­ cer à lei de M oisés. Não sabem os ao certo se a réplica do altar pagão foi idéia exclusi­ vam ente de A ca z ou se foi um a ordem do rei da Assíria. Talvez, Tiglate-Pileser quisesse esse altar no tem plo de Judá para lembrar o 2 REIS 1 6 - 1 7 rei e o povo de que se encontravam , agora, sob a autoridade da Assíria. A ca z não era um adorador fervoroso de Jeová, de modo que é bem provável que esse altar tenha sim­ plesm ente sido copiado para satisfazer seu orgulho. Ele teria um altar real com o o que havia em D am asco! Em d ecorrência disso, o altar planejado por D eus, o altar do Se­ nhor, foi posto de lado. Tudo isso é um retrato do que acontece com freqüência nos m inistérios cristãos hoje em dia: alguém vê algo no mundo que pa­ rece "encaixar-se" com a obra do Senhor, e a igreja co m eça a imitar o mundo. M oisés havia recebido ordens de construir o taber­ náculo de acordo com o que Deus lhe mos­ trou no monte (Êx 2 5 :4 0 ; 2 6 :3 0 ; Hb 8 :5 ), e, da m esm a form a, o tem plo foi construído de acordo com os projetos que Deus deu a Davi (1 C r 2 8 :1 1 , 12, 19). O povo de Israel não nom eou uma com issão de construção nem votou num projeto arquitetônico. H oje, porém , a igreja está ficando tão parecida com o mundo que se torna cada vez mais difícil distinguir um do outro. Nas palavras de A . W . Tozer: Exceto por alguns pecados mais graves, os pecados do mundo não regenerado recebem a aprovação de um número as­ sustador de pessoas que se dizem "cris­ tãs" e que copiam essas transgressões com grande avidez. Os jovens cristãos seguem o exemplo da gente mais sórdi­ da do mundo e tentam imitá-los ao má­ ximo. Os líderes religiosos adotaram as mesmas técnicas da publicidade: a osten­ tação, a sedução e o exagero desaver­ gonhado são um procedimento normal no trabalho da igreja. O ambiente moral não é semelhante àquele do Novo Tes­ tamento, mas sim ao de Hollywood e da Broadway.3 A caz pensava que o Senhor se agradaria dos sacrifícios oferecidos nesse maravilhoso altar novo, mas estava errado. O Senhor não quer sacrifícios, mas sim obediência (1 Sm 15:22, 23), e A ca z estava adorando os deuses das nações gentias (2 C r 2 8 :2 3 ). O Senhor não 553 enviou fogo do céu para consum ir os sacri­ fícios sobre o altar pagão (Lv 9 :2 4 ), pois ele havia rejeitado aquelas ofertas. As novida­ des religiosas nas igrejas de hoje podem em polgar e entreter as pessoas, m as não edificam a igreja nem exaltam ao Senhor. O santuário torna-se um teatro, a adoração tor­ na-se diversão , o m inistério transform a-se num a ap resen tação e a con gregação não passa de uma platéia. A medida de tudo isso não é a glória de Deus, mas os aplausos do povo. Essa substituição do altar de Deus por um altar pagão foi apenas o com eço. O rei A caz também "reform ou" a pia e os dez suportes móveis que seguravam as dez bacias para a preparação dos sacrifícios (1 C r 2 8 :1 7 ; 1 Rs 7:23-40). Ao que parece, precisava de metais preciosos para si, de modo que os tomou do Senhor. M as, para agradar o rei da Assíria, A ca z teve de tirar a própria entrada real do templo bem com o o dossel real (ou passadiço coberto) que ele havia co lo cad o no templo. Q uem estava no com ando era Tiglate-Pileser e não mais o rei A caz. No entanto, o rei jam ais poderia ter fei­ to todas essas m udanças sem a co lab o ra­ ção de Urias, o sumo sacerdote (1 6 :1 0 , 11, 15, 16). Q uand o o rei U zias tentou se rebe­ lar contra a Palavra do Senhor e entrar no tem p lo, o sum o sacerd o te A za ria s, ju n ta ­ m ente com oitenta sacerdotes, conseguiu impedi-lo (2 C r 2 6 :1 6ss), mas Urias e seus sacerdotes foram transigentes, desobedece­ ram à lei de M oisés e cederam ao rei. Um a vez que a condescendência co m eça, tornase cada v e z m aior e, para que o mal saia vitorioso, basta haver pessoas fracas com o Urias que permitam aos líderes fazer o que bem entendem . A ca z não apenas substituiu o altar e rem oveu o metal dos utensílios, co m o tam b ém acab o u levando todos os utensílios para si, fechando as portas do tem­ plo e colocando altares nas ruas de Jerusa­ lém (2 C r 2 8 :2 4 , 25). "N ão sabeis que um pouco de (1 C o 5 :6 ; tim os que igreja, elas ferm ento leveda a massa toda?" ver G l 5:9 ). Um a vez que perm i­ as coisas do m undo entrem na crescem em silêncio, contam inam a com unhão e acabam tom ando conta de 554 2 REIS 1 6 - 1 7 tu d o . S o m en te no re in ad o de seu filh o , Ezequias, o templo profanado por A ca z foi re ab e rto e sa n tific a d o para o m inisté rio (2 C r 29:1-29). Q u an d o A c a z fale ce u , foi sepultado em Jeru salém , m as não nos túm ulo s dos reis (2 Rs 1 6 :1 9 , 2 0 ; 2 C r 2 8 :2 6 , 27). Nisso, foi sem elhante a Jeorão (2 C r 2 1 :20 ), Joás (2 C r 2 4 :2 5 ) e U zias (2 C r 2 6 :2 3 ) e seria seguido, ainda, por M anassés (2 C r 3 3 :2 0 ). A incre­ dulidade e infidelidade de A ca z fizeram um grande estrago no reino de Judá, sendo que parte desses danos foi reparada por seu fi­ lho Ezequias. 2. I srael, um a n a çã o c a t iv a (2 Rs 17:1-41; 18:9-12) O séias foi o úitimo governante do reino do Norte, Israel, pois durante seu reinado (722 a.C .), os assírios invadiram a terra, deporta­ ram muitos dos cidadãos e repovoaram Is­ rael com povos gentios de terras que a Assíria havia conquistado. O reino de Israel passou a ser cham ado de Sam aria, nom e de sua ca p ital, e se tornou um a nação cu jo s c i­ dadãos eram uma mistura de vários grupos étnicos, não apenas israelitas. D eus havia concedido inúm eras bênçãos a seu povo, bênçãos estas que cairiam nas mãos da Assíria e da Babilônia. O s israelitas possuíam um Senhor vivo, mas o substituí­ ram por ídolos mortos. Sua terra tão rica foi confiscada pelas nações inimigas, e Jerusa­ lém e o tem plo acabaram destruídos (586 a .C .). Em sua m isericórdia, Deus preservou um re m an esce n te fiel, para que um a luz pudesse continuar a brilhar e ele cum prisse as promessas que havia feito a seu povo. Israel p erdeu seu líder (17:1-5). O séias havia assassinado Peca e usurpado o trono de Israel (2 Rs 15 ;2 9 -3 1). Tiglate-Pileser havia m orrido, e o novo rei da Assíria era Salmaneser V, a quem O sé ias prestou hom ena­ gem e pagou tributo. Porém , em segredo, O séias fez um tratado com o Egito, pedindo a ajuda dos egípcios para lutar por Israel e quebrar o jugo assírio.4 D esde que Abraão fugiu para o Egito a fim de escapar de uma escassez de alim entos, o que trouxe apenas problemas para si mesm o e para sua esposa (G n 12:1 Oss), vário s líderes de Israel bus­ caram , em vão , a ajuda dos egípcios (ver G n 2 6 :2 ; Nm 14:1-4; Dt 1 7 :1 6 ; Is 3 0 :1 , 2; 3 1 :1 ). O mesm o acontece hoje com cristãos que se voltam para o mundo em busca de ajuda em v e z de esperar e de con fiar no Senhor. Q u an d o Salm aneser descobriu essa trama, prendeu O séias e deixou o trono de Israel v a zio .5 Em 725 a.C., Salmaneser com eçou o cerco a Samaria, mas então faleceu (ou foi morto) e foi substituído por seu principal general, Sargom II. O cerco durou três anos, e, em 722 a .C ., a cidade se rendeu. A Assíria já havia tomado as tribos a leste do rio Jordão (1 C r 5:24-26), de modo que passaram a ter con­ trole sobre toda a terra, com exceção de Judá que, posteriormente, cairia para a Babilônia. Israel p erd eu a terra (17:6; 18:9-12). Com o vim os anteriorm ente, a Assíria prati­ cava uma política de relocar os povos con­ quistados e de substituí-los por prisioneiros de outras naçõ es.6 A aliança de Deus com seu povo declarava exp ressam en te que a d e so b e d iê n cia do povo traria d errota na guerra (D t 2 8 :2 5 , 49 , 50, 52), opressão e escravidão (D t 2 8 :2 9 , 33, 48 , 68) e cativeiro (D t 2 8 :3 6 , 43, 63-68), e tudo isso ocorreu tanto com Israel quanto com Judá. A terra pertencia ao Senhor (Lv 2 5 :2 , 23 , 38), e o povo era "in q u ilin o " do Senhor. N ão era apenas a terra que pertencia ao Senhor, mas tam bém o povo (Lv 2 5 :5 5 ). Teriam a posse da terra e poderiam desfrutar suas bênçãos enquanto respeitassem as estipulaçõ es da aliança, mas a desobediência contum az tra­ ria a disciplina den tro da terra e, por fim, fora da terra. Foi exatam ente o que ocorreu. Em função dos pecados do povo durante o período dos ju ize s, sete nações diferentes invadiram Israel, tomaram as colheitas e es­ cravizaram o povo na própria terra. Depois da divisão do reino, Israel foi levado cativo para a Assíria e Judá, para a Babilônia. Deus cum priu as estipulações de sua aliança. Israel desobedeceu à sua lei (17:7-17). Estes versículos parecem um pleito judicial contra o reino do Norte, Israel. A lei era uma dádiva de Deus, um acordo que garantia sua provisão e proteção se o povo fizesse sua 2 RE I S 1 6 - 1 7 vontade. Porém, os israelitas se esqueceram de que Deus os havia tirado do Egito e liber­ tado da escravidão. Ignoraram a lei de Moisés, segundo a qual não deveriam adorar falsos deuses, mas sim destruir os ídolos, templos e santuários pagãos (Dt 7, 13). Israel com eçou a adorar ídolos em segredo (v. 9), mas essa idolatria acabou se tornando pública, e Jeová passou a ser reconhecido com o um dentre vários deuses. O Senhor enviou profetas que admoestaram e advertiram o povo, mas os israelitas não lhes deram ouvidos. Assim com o seus antepassados haviam feito tantas vezes, o povo de Israel endure­ ceu a cerviz e o coração e se recusou a obe­ decer ao Senhor (D t 9 :6 , 13; 10:12-22; Ne 9 :1 6 , 17, 29; Sl 106). U m a vez que nos tor­ namos semelhantes ao Deus que adoramos (Sl 115:8), os israelitas tornaram-se "vãos" (va­ zios, insignificantes), pois adoravam ídolos vãos (v. 1 5). Chegaram a se voltar para ídolos e a fa ze r um b e ze rro de ouro en q uanto M oisés conversava com Deus no monte Sinai (Êx 32 ). D epois da divisão do reino, o rei 555 M oisés" (vv. 25, 28, 32, 34). O sincretism o religioso entre vários povos resultou no que cham am os hoje de "pluralism o". A princípio, o povo de Israel abandonou inteiramente ao Senhor, e Deus os disciplinou por sua infi­ d elid ad e (v. 2 5 ). D e p o is, adoraram Jeo vá além d o s deu ses de outras nações. Deus não aceita dividir sua adoração com falsos deu­ ses, e, portanto, não é de se adm irar que se en ch esse de ind ignação . Todo o povo da terra deveria ter se arrependido, deixado os falsos deuses e se voltado para o Senhor; em vez disso, porém , o povo de D eus acei­ tou os deuses falsos de outras nações. O rei da Assíria acreditava que cada Deus estava associado à terra de onde o povo era proveniente e, portanto, os novos habitan­ tes não sabiam adorar ao Senhor de Israel. Seria im possível aprender com os israelitas que haviam ficado na terra, pois eles vinham adorando os bezerros de ouro desde o tem­ po do rei Jeroboão. O rei da Assíria orde­ nou que um dos sacerdotes israelitas fosse enviado para Israel, a fim de ensinar o povo Jeroboão fez dois bezerros de ouro para o povo adorar (1 Rs 12:25ss). Com o acontece com freqü ên cia, são as crianças que mais sofrem com os pecados dos pais, pois o povo com eçou a oferecer seus filhos e filhas nos altares de fogo dos deuses pagãos. Israel irou seu Senhor (17:18-33). A ira do Senhor é santa; não deve ser com parada com o ataque de raiva de um a criança. O Senhor foi longânimo para com seu povo e deu várias oportunidades para que voltassem para ele, mas os israelitas se recusaram. A ira de Deus é motivada pelo amor, o que, por­ a adorar "o deus da terra". Esse sacerdote, no entanto, foi para Betei, local onde ficava um dos santuários consagrados ao bezerro de ouro! O texto não diz o que ele sabia a respeito da fé verdadeira no Deus de Israel nem o que ele ensinou, mas a situação não parecia muito anim adora. H o je em dia, muitas pessoas elogiam a "reunião mundial de religiões", mas para o Senhor, ela é abom inação. N um a dem ocra­ cia, aprendem os a aceitar o pluralism o, mas isso não significa que aprovam os ou crem os que todas as religiões sejam iguais. Nos Es­ tanto, é angústia - a angústia de um pai que quer o melhor para seus filhos, os quais, por sua vez, preferem fazer tudo à maneira de­ tados U nidos, todas as religiões são iguais p erante a lei e po dem ser p ra tica d a s li­ vrem ente, mas os cristãos ainda crêem que "debaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual im­ porta que sejam os salvos" (At 4 :1 2 ). Jesus les. Esses versículos nos dizem que a divisão do povo de Deus em dois reinos, Israel e Judá, foi um ato de D eus ao tomar as providências necessárias para proteger a dinastia de Davi da idolatria de Israel. Porém, a religião falsa de Jeroboão contaminou Judá, e foi somente pela graça de Deus que um rem anescente fiel perm aneceu firm e no S e n h o r. A expressão "tem er ao S e n h o r " significa "adorar ao Senhor de acordo com a lei de rejeitou a religião sam aritana, pois "a salva­ ção vem dos judeus" (jo 4:19-24). O povo de Israel que foi deixado na terra nomeou os próprios sacerdotes e se esqueceu dos padrões estabelecidos por Deus através de M oisés (v. 32 ). O povo criou as próprias ceri­ m ônias religiosas e incorporou a esse sistema 556 2 REIS 1 6 - 1 7 recém -criado algum as crenças de seus no­ vos vizinhos. H avia algo de interessante para todos, e não im portava em que a pessoa cria ou a quem adorava, desde que fosse religiosa (vv. 29-33). Já ouviu isso antes? Israel não aprendeu a lição (17:34-41). Diz-se, com freqüência, que a única coisa que aprendem os com a história é que não aprendem os coisa alguma com ela. A pesar de o Senhor ter advertido e, depois, discipli­ nado seu povo, os israelitas continuaram a adorar tanto ao Senhor com o a outros deu­ ses e a fazer as coisas a sua m aneira. Ignora­ ram sua história com o povo de Deus liberto da escravidão do Egito. Esqueceram-se das leis e das alianças de Deus e, principalm en­ te, dos m and am entos de D eu s com refe­ rência à idolatria (Êx 20:1-6). A ssim com o muitos que se dizem cristãos hoje, o povo de Israel adorava ao Senhor quando e onde bem entendesse, mas tam bém era devoto dos falsos deuses de outras nações. O que aconteceu, por fim, a essas dez tribo s d e so b e d ien tes? O u v im o s falar das "d e z tribos perdidas de Israel", expressão que, em m omento algum, é usada na Bíblia. M uitos dos m em bros das dez tribos foram assim ilados pelos povos levados para a terra de Israel pelos assírios, dando origem , as­ sim, ao povo sam aritano. Porém, não existe qualquer evidência nas Escrituras de que as dez tribos de Israel estejam "perdidas". M ui­ to antes de os assírios tomarem o reino do 1. N orte, pessoas tem entes a D eus nientes das dez tribos mudaram-se e perm aneceram fiéis ao Senhor (1 20; 2 C r 11:5-16; 19:4-10). O rei e prove­ para Judá Rs 12:16Ezequias, um hom em piedoso, convidou os fiéis a irem a Judá adorar a Deus de acordo com as Es­ crituras, e muitos com pareceram (2 C r 30:114, 25-27). As reformas de Josias, por sua vez, tiverem im pacto trem endo sobre o povo (2 C r 34:1-7, 33 ; 35:17-19). A p esar de Jesus ter falado sobre "as ove­ lhas perdidas da casa de Israel" (M t 10:5, 6), o Novo Testam ento não faz referência algum a a "tribos perdidas de Israel" (ver Mt 4:12-16 e Lc 2 :3 6 -3 8 ). Paulo falou de "no s­ sas d o ze tribos" (A t 2 6 :7 ), e Tiago e scre­ veu às "d o ze tribos que se encontram na D isp e rsão " (Tg 1:1 ). Se tom arm os A p o ca ­ lipse 7:1-8 ao pé da letra, no fim dos tem pos, o Senhor encontrará pessoas das tribos de Israel. A mensagem central deste capítulo trági­ co é que a falsa adoração co n du z a práticas corruptas; as práticas corruptas redundam em co ndenação e em julgam ento de Deus. O s líderes desobedientes e transigentes tanto reis quanto sacerdotes - deixaram de ensinar ao povo a Palavra de Deus, e, a cada nova geração, a nação afastava-se cada vez mais do Senhor. Chegou o dia em que a ira de D eu s se m anifestou co n tra seu povo, pondo fim à en tid ad e p o lítica co n h e cid a com o Israel, o reino do Norte. Costuma-se definir que A caz reinou de 732 a .C . a 716 a.C . - dezesseis anos mas alguns estudiosos acreditam que esse foi o período em que governou com o único rei. É provável que tenha sido vice-regente durante nove anos e co-regente com Jotão mais quatro anos. 2. Trata-se de algo que acontece com freqüência em 2 Crônicas. Ver 1 1 :2, 5; 15:1-8; 18:1 ss; 25:7-9, 15, 16 e 36 :1 2. O ministério profético inclui a sabedoria de Deus para com preender os acontecim entos da época e ser capaz de aplicar a Palavra a essas situações. 3. T o zer, 4. A história do Egito não tem registro algum de um "Faraó Sô", mas é possível que Sô seja uma referência à capital egípcia de A . W . Keys to the D eep er Life. Christian Publications, p. 22. 5. Talvez, O séias tenha se apresentado pessoalmente a Salmaneser, com o A caz havia feito a Tiglate-Pileser (16 :10), e o rei da Sais, que, em hebraico, é cham ada de "Sô". O séias enviou mensageiros a Sô (Sais) para pedir ajuda ao Faraó. Assíria não tenha perm itido que ele voltasse a Sam aria. O governo de Israel encontrava-se extrem am ente fragilizado, e os oficiais sabiam que o fim estava próximo. 6. Em Colossenses 1:13, Paulo usa essa imagem militar: "nos transportou para o reino do Fiiho do seu am or". O termo "transportar" vem de uma palavra grega que significa "deslocar uma população derrotada para outra terra". Na cruz, Jesus derrotou o pecado, Satanás e a morte, e o Pai transferiu todos que crêem em seu Filho do reino das trevas para o reino de vida e luz. 10 A F o r m a ç ã o de u m R ei - P arte 1 2 R eis 18:1 - 2 0 : 1 1 (2 C r ô n ic a s 2 9 : 1 - 3 1 : 2 1 ; 3 2 : 2 4 - 2 6 ; I sa ía s 3 8 ) O nom e Ezequias significa "o Senhor for­ talece", e, ao longo de seu reinado de vinte e nove anos (715-687 a .C .), o rei Ezequias precisou da fo rça de D eus para levar a cabo todas as suas realizações. A s­ sim co m o A sa (1 Rs 1 5 :1 1 ), Josafá (1 Rs 2 2 :4 3 ) e Josias (2 Rs 2 2 :2 ), Ezequias seguiu o exem plo do rei D avi. A pesar de não ter sido perfeito, Ezequias procurou obedecer ao Senhor e lhe agradar. Foi um dos poucos reis que rem overam , de fato, os "altos" e que deram um fim à adoração nas colinas. Res­ taurou a adoração no templo e incentivou o povo tanto de Judá quanto de Israel a ir ao templo em Jerusalém adorar ao Senhor. Deus havia ordenado que houvesse um lu­ gar central de culto, Jerusalém (D t 12). A seqüência de acontecim entos na vida de Ezequias, conform e se encontra registra­ da nas Escrituras, não é estritamente crono ­ lógica. A maioria dos estudiosos concorda que os acontecim entos ocorridos em Isaías feita por M oisés (Nm 21:5-9), o que não é citado em C rônicas. A serpente era uma re­ líquia religiosa que havia se transform ado num ídolo. E provável que "N eustã" signifi­ que "um p e d aço ou objeto de b ro n z e ". C om o é fácil para a natureza hum ana sentir o desejo de cultuar relíquias sem poder al­ gum! Ezequias era um hom em de fé, que confiava no Deus vivo, seguia sua lei e não queria que o povo adorasse uma imagem morta e inútil. P u rific o u o te m p lo (2 C r 2 9 :3 -1 9 ). Eze­ quias não perdeu tempo em sua missão de co nduzir Judá de volta à adoração ao verda­ deiro D eus vivo. Seu pai, A caz, havia profa­ nado o tem plo e, por fim, fechado as portas e interrom pido o m inistério levítico (2 C r 2 8 :2 4 ). Ezequias ordenou que os sacerdo­ tes se santificassem , a fim de purificar o tem­ plo e de restaurar o culto conform e o Senhor havia ordenado por interm édio de M oisés. O abandono da adoração no tem plo pelo povo do reino do Norte havia levado a seu cativeiro, e a profanação e o descaso com o templo por A ca z havia trazido a disciplina so b re Jud á, in c lu siv e in vasõ es p e la S íria, Edom e Filístia. O culto no templo era a es­ sência do povo de Israel, e, se isso não esti­ vesse em ordem , todo o resto estaria errado. Porém, Ezequias não se interessava me­ ramente por um projeto de "faxina", pois o desejo de seu co ração era não apenas reconsagrar o tem plo e o povo, mas também fazer uma aliança com o Senhor (v. 10). O s 38 e 39 - a enferm idade do rei e sua recep­ ção para os em baixadores babilônios - na verdade é anterior à invasão assíria (Is 36 37). Usarem os essa abordagem ao estudar a vida e o ministério de Ezequias e ao pro­ curar integrar o material encontrado em Reis, versículos 12 a 14 citam o nom e de catorze líderes, os quais deram o exem plo e toma­ C rônicas e Isaías. lias levíticas estavam representadas: M aate e Joel dos coatitas, Q u is e A zarias de M erari e Joá e Z im a dos gersonitas (ver Nm 3 - 4). O clã de Elisafã pertencia aos coatitas (Nm 3 :3 0 ) e havia conquistado uma reputação honrosa por seu serviço fiel. Foram repre­ sentados por Sinri e Jeuel. O s outros hom ens citados eram cantores do templo, das fam íli­ 1. E z e q u ia s , o refo rm a d o r (2 Rs 18:4; 2 C r 29:3 - 31:21) É interessante que 2 Reis traga apenas um v e r s íc u lo d e s c re v e n d o as re fo rm a s de Ezequias (1 8 :4), enquanto 2 Crônicas dedi­ que três capítulos a essa parte im portante de sua vida. Porém , 2 Reis m enciona com o o rei Ezequias destruiu a serpente de bronze ram a frente no recom eço do m inistério no templo. Se os líderes espirituais não estive­ rem com a vida em ordem diante de Deus, com o ele ab ençoará seu povo? A s três famí­ as de A safe (de G érso n ), H em ã (de Coate) ou Jedutum (de M erari), m úsicos, cantores 558 2 R E I S 18: 1 - 2 0 : 1 1 e líderes litúrgicos bastante co nhecidos. O rei Ezequias sabia que era preciso haver mú­ sica e louvor para que a adoração no tem­ do povo, e os sacerdotes incluíram tanto Is­ rael quanto Judá (v. 24 - "todo o Israel"). O s h o lo causto s sim b o lizavam a co n sag ração plo fosse agradável ao Senhor. Esses líderes total ao Senhor. Enquanto os sacrifícios es­ tavam sendo ap resen tad os ao Senhor, os m úsicos e cantores ofereceram louvores ao Senhor, segundo as instruções de D avi, usan­ do cânticos e instrumentos de Davi (vv. 252 7 ; 1 C r 2 3 :5 , 6). Porém , esse culto de consagração não e seus ajudantes santificaram -se diante do Senhor a fim de poderem santificar também o templo. No prim eiro dia do prim eiro mês, com e­ çaram a purificar o tem plo, com eçando pelo Santo dos Santos e o santuário. Levaram para fora todo o lixo acum ulado e os restos dos cultos idólatras, carregaram tudo até o vale do Cedrom e, lá, queim aram toda essa imundícia. D epois de santificarem o edifício, pu­ rificaram o pórtico. Isso incluiu a rem oção do altar pagão construído por A ca z e a co ­ locação do altar do Senhor em seu devido lugar (2 Rs 16:1 Oss). O s levitas tam bém pu­ rificaram os recipientes e utensílios usados nos cultos do tem plo e os co locaram em seus respectivos lugares. Foram necessários dezesseis dias para com pletar esse trabalho, o que sig n ifica que não co m em o raram a Páscoa, observada no décim o quarto dia do prim eiro mês. Porém , Ezequias realizou uma grande celeb ração de Páscoa no segundo mês (cap. 30). Se desejam os ter um reavivam ento na obra do Senhor, devem os co m eçar com a purificação. A o longo dos anos, indivíduos e igrejas podem acum u lar um bocado de "lixo religioso", ao m esm o tempo que igno­ ram os elem entos mais essenciais da adora­ ção espiritual. Não experim entam os novas bênçãos do Senhor fazend o algo singular ou inédito, mas sim voltando para as "coisas antigas" e fazendo-as com d e d icaçã o . Se confessarm os nossos pecados (2 C r 7:1 4 ), ace n d e rm o s as lâm p ad as, qu e im arm o s o incenso (um a figura da oração, Sl 141:1, 2) e nos o ferecerm o s co m o sacrifício s vivos (v. 7; Rm 12:1, 2), o Senhor verá, ouvirá e enviará sua bênção. Consagrou o tem plo (2 C r 29:20-36). O rei e os líderes da cidade se reuniram no templo e ofereceram sacrifícios ao Senhor. Levaram sacrifícios pela nação (Judá e Israel), pelo tem plo e, mais especificam ente, pelo reino de Judá. O s sacrifícios pelo pecado foram oferecidos para expiar as transgressões foi realizado apenas para o rei e seus líde­ res, pois o povo na congregação tam bém se santificou e apresentou suas ofertas (w . 28-36). Levaram uma grande quantidade de sacrifícios, inclusive três mil ovelhas, prova­ ve lm e n te u sadas co m o o fertas p a cífic a s. Parte da oferta pacífica ficava com o ado­ rador e era consum ida por ele com sua fa­ m ília co m o um a re fe iç ã o de co m u n h ão . Ezequias seguia o exem plo do rei Salomão, na consagração do templo, mais de duzen­ tos anos antes (1 Rs 8 :62ss). Foi um tempo de grande alegria para o rei e seu povo. Lembre-se de que devotos do reino apóstata do Norte, Israel (cham ado, então, de Samaria), haviam fugido para Judá, a fim de poder ado­ rar ao Senhor de acordo com a lei de M oisés, de m odo que esse culto de co n sagração incluiu todas as tribos. Com em orou a Páscoa (2 C r 30:1-27). O s hom ens de Israel deveriam ir a Jerusa­ lém três vezes por ano para com em orar a Páscoa, Pentecostes e a festa dos Tabernáculos (Êx 2 3 :14-17; 34:22-24). Para o cristão de hoje, a Páscoa refere-se à morte de Cris­ to, o Cordeiro de D eus, que se entregou por nós (1 C o 5 :7 ; Jo 1 :2 9 ). Em Pentecostes, a Igreja primitiva recebeu o Espírito Santo (At 2), e a festa dos Tabernáculos refere-se ao reino futuro, qu and o Jesus re in ará e nós governarem os com ele (Z c 14). A Páscoa celebrava a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito, de m odo que era uma co m e m o ração n acio n al. Por esse m otivo, Ezequias convid ou todo o povo, tanto de Judá quanto de Israel (Sam aria), a participar da festa em Jerusalém . A lei de M oisés pre­ via a possibilidade de a Páscoa ser com e­ m orada no segund o m ês (N m 9 :6 -1 3 ), e E z e q u ia s a p ro ve ito u e ssa o p o rtu n id a d e . 2 R E I S 18: 1 - 2 0 : 1 1 Nem o tem plo nem os sacerdotes e levitas estavam preparados para celebrar no prim ei­ ro mês (vv. 1-3). O convite enfatizava que era dirigido a "todo o Israel" (vv. 5, 6) e não apenas ao povo de Judá. D epois dos tem pos de Salo­ mão, não havia mais sido com em orada uma Páscoa com a nação toda, e Ezequias dese­ java unir o povo espiritualm ente, ainda que estivessem politicam ente divididos. O reino do Norte (Sam aria) encontrava-se sob o do­ mínio dos assírios, e o rem anescente israe­ lita que ainda vivia lá adorava os deuses das n ações gentias. P recisavam vo ltar para o Deus de A braão, Isaque e Jacó (v. 6). O povo de Israel vinha de uma m esma linhagem, e era chegada a hora de colocar o Senhor em prim eiro lugar - deixando de lado as dife­ renças do passado - e de celebrar. A repeti­ ção dos verbos "voltar" e "converter" revela o desejo do co ração de Ezequias (vv. 6, 9). Se todo o povo se voltasse para Deus em arrepen dim en to, D eus voltaria para ab en ­ çoar seu povo. Ezequias estruturou seu apelo em torno das palavras de Salom ão em 2 C rô ­ nicas 7:14. Infelizm ente, o rem anescente no cativei­ ro assírio era tão obstinado quanto seus an­ tepassados, quando D eus lidou com eles no deserto. Estavam diante de um a oportunida­ de de co m eçar de novo e de glorificar ao Senhor, buscando sua co m p aixão , graça e m isericórdia (v. 9), mas a maioria do povo fora de Judá rejeitou o convite. Zom baram das palavras de Ezequias e riram de seus m ensageiros, mas, ao fazê-lo, rejeitaram a bênção que o Senhor tinha para eles. No entanto, alguns tiveram coragem de discor­ dar de suas famílias e amigos e foram a Jeru­ salém para a festa, sendo que, dentre estes, havia hom ens das tribos de Aser, M anassés e Z ebulom . Vieram de lugares distantes, com o co ração hum ilde, buscand o as bênçãos do Senhor. D eus deu aos adoradores ali reu­ nidos unidade de pensam ento e de coração, de modo que o Senho r o cupou o centro das festividades, deixando de lado as ques­ tões políticas. A co m em oração é descrita em 2 C rô n i­ cas 30:13-27. O povo removeu os altares que 559 o rei A c a z havia co lo c a d o em Jerusalém (v. 14), pois não poderia haver uma adora­ ção conjunta, a menos que todos se encon­ trassem no único altar designado para esse fim, no átrio do templo. Paradoxalm ente, o povo estava ansioso para adorar ao Senhor, mas os sacerdotes e os levitas encontravamse im puros e, portanto, não teriam co nd i­ ções de ministrar no altar! M as a situação foi resolvida, e os sacerdotes puderam ofe­ recer os holocaustos diários (Êx 2 9 :3 8 -4 3 ; Nm 28:1-8). Durante o reinado de A caz, os cultos no tem plo haviam sido suspensos, e os sacerdotes se permitiram ficar desqualifi­ cados para servir junto ao altar. Porém , entre a ascensão de Ezequias ao trono e a com e­ m oração da Páscoa, houve tempo suficiente para que se preparassem . No entanto, m uitos do povo em geral tam bém se encontravam im puros (Êx 12:1416; 13:6-10), talvez por terem saído de casa ap ressadam ente ou por terem sido co n ta­ minados durante a viagem a Jerusalém (Nm 9 :9 , 10). M as Ezequias sabia que o Senhor estava interessado no co ração dos adora­ dores e não nos detalhes do cum prim ento de requisitos cerim on iais. A ssim , orou pe­ dindo que D eus os purificasse e aceitasse (1 Sm 1 5 :2 2 , 2 3 ; is 1:10-1 7; O s 6 :6 ; Mq 6:68; M c 1 2 :3 2 , 33). Deus respondeu à oração do rei, pois Deus se preocupa com o cora­ ção e não com o sim ples ritual religioso. Se havia legalistas presentes naquela congrega­ ção, é possível que tenham ficado bastante perturbados, mas sua atitude serviu apenas para privá-los das bênçãos de Deus (ver Lc 18:9-14 e Sl 5 1 :1 0 , 11, 15, 16). Se o povo de D eus, nos dias de hoje, preparasse seu c o ra ç ã o para a d o rar co m tanto cu id ad o quanto prepara suas "roupas de domingo", o Senhor enviaria bênçãos sobre a igreja. H ouve tanta alegria e bênçãos que Eze­ quias e o povo decidiram continuar festejan­ do por mais uma semana, e o rei mostrou-se generoso ao oferecer mais sacrifícios, pro­ vendo, desse m odo, alim ento para o povo. O exem plo do rei motivou os líderes de Judá a tam bém levar mais sacrifícios, e, portanto, houve com ida em abundância para todos. A s ofertas espo n tân eas vêm da ad oração 560 2 RE I S 18: 1 - 20 : 1 1 espontânea ao Senhor e da gratidão sincera a ele. Q u an d o Salom ão consagrou o tem ­ plo, tam bém pediu que o povo ficasse mais uma sem ana (2 C r 7:8, 9). O rg a n iz o u e d e u in íc io a o m in isté rio n o te m p lo (2 C r 31 :1 -2 1 ). Term inada a se­ gunda sem ana de com em orações, antes de o povo voltar para casa, os sacerdotes pro­ feriram a bênção ordenada por Deus em Nú­ m eros 6 :22-27, e os adoradores deixaram Jerusalém com a bênção do Senhor sobre eles. Porém , ao levarem essa bênção para casa, tam bém obedeceram ao Senhor e des­ truíram os ídolos em Judá, Benjam im , Efraim e M anassés. U m a coisa é passar um tempo em polgante louvando a Deus num enco n­ tro especial de duas sem anas. O utra bem diferente é voltar para casa depois disso e viver com o pessoas que tiveram um enco n­ tro com o Senhor. O rei Ezequias sabia que as bênçãos da com em oração da Páscoa não continuariam , a menos que o povo participasse do minis­ tério regular no tem plo. É m aravilhoso ter uma grande festa de Natal ou a co m em ora­ ção de um aniversário especial, mas não se pode viver o ano todo de duas ou três refei­ çõ es esp eciais. Por esse m otivo, Ezequias seguiu as instruções de Davi (1 C r 23 - 26) e organizou os sacerdotes e os levitas para o ministério no tem plo. Deu um bom exem ­ plo fornecendo anim ais dos próprios reba­ nhos para os sacrifício s, que deveriam ser realizados diária e m ensalm ente. O rei Eze­ quias buscou ao Senhor e fez tudo para ele de coração (v. 21). D epois de co lo car pessoas para traba­ lhar no templo e de organizar seu ministé­ rio, Ezequias tam bém admoestou o povo a levar seus dízim os e ofertas ao tem plo, a fim de prover o sustento dos sacerdotes e levi­ tas (v. 4; Nm 18:8-32; Dt 12:1-19; 14:22-29). Separou câm aras especiais no templo para guardar as ofertas e nom eou hom ens fiéis para supervisionar a distribuição dos alim en­ tos. O s sacerdotes e levitas dependiam des­ sas ofertas para o próprio sustento e de suas famílias (ver Ne 13:1-14). Ao que parece, o rei e sta v a p re o c u p a d o e s p e c ific a m e n te co m as crianças pequenas que haviam sido desm am adas (vv. 1 6 ,1 8 ). Seu desejo era que nenhum dos servos de Deus ou de seus fa­ miliares passasse fom e. No terceiro mês (m aio/junho), no tem­ po da co lheita dos cereais, o povo levou ao tem p lo o ferta s de c e re a is , aju n ta d o s pelos sacerdotes e levitas. No sétim o mês (setem bro/outubro), ép o ca da colheita nas vin h as e p o m ares, ofertas de vinh o e de fru tas eram a c re s c e n ta d a s às p ro v isõ e s. A ssim com o as ofertas levadas para a cons­ trução do tabernáculo (Êx 36:5-7) e do tem ­ plo (1 C r 2 9 :1 -2 0 ), os d ízim o s e ofertas levados ao tem plo recém -consagrado foram muito mais generosos do que o rei espera­ va. Um povo que adora de co ração sem ­ pre será um povo generoso, especialm ente quando seus líderes dão o exem plo, e Judá não foi exceçã o . 2. E z e q u ia s , o n e g o c ia d o r (2 Rs 18:7-16) Jud á havia sido um estad o-vassalo sob a A ssíria desd e o rein ad o de A c a z , pai de Ezequias (2 Rs 16:7-18). Q u an d o Sargom, rei da Assíria, morreu em com bate e Senaqueribe subiu ao trono, Ezequias considerou o m om ento oportuno para livrar-se do jugo assírio . Sab end o que S en aq u erib e estava envolvido com outras questões do im pério, Ezequias não lhe enviou o tributo anual. Judá havia vencido os filisteus, de modo que acre­ ditavam que o reino estava fortalecido. Em 722 a.C ., os assírios atacaram Israel e toma­ ram a cidade de Sam aria, o que significava que o exército assírio estava bem próxim o a Judá. Em 71 5 a.C ., Senaqueribe invadiu Judá e rumou para Jerusalém .1 Ezequias dem ons­ trou uma fé muito fraca e, portanto, humiIhou-se diante do rei e lhe pagou o tributo que devia: o nze toneladas de prata e uma tonelada de ouro. Parte dessa riqueza veio dos tesouros do próprio rei, mas, infelizm en­ te, o restante do tributo foi tirado do templo do Senhor. Ezequias seguiu o mau exemplo do pai (2 Rs 1 6 :8 ). O rei Davi não negocia­ va com os inimigos nem tentava subornálos; ele os atacava e derrotava. Senaqueribe saiu de Judá, mas, sem dúvida, tinha a inten­ ção de voltar. 2 RE I S 18: 1 - 20 : 1 1 3. E z e q u ia s , o s o f r e d o r (2 Rs 20:111; 2 Cr 32:24-26; Is 38:1-8) De acordo com os cronologistas, trata-se do próxim o acontecim ento im portante na vida de Ezequias. O co rreu quinze anos antes de sua morte, em 6 8 7 a.C ., de modo que sua enferm idade e cura, bem com o a visita dos em baixadores babilônios, deu-se em 702 a.C. No ano seguinte, os assírios voltaram e ata­ caram Jerusalém . O Senhor enviou essa enferm idade para disciplinar Ezequias por ele haver cedido aos assírios? O relato em 2 Crônicas 3 2 :2 4 diz que o rei havia se tornado orgulhoso e que essa foi uma form a de o Senhor humilhá-lo. O fato de o profeta Isaías tê-lo visitado com uma mensagem tão solene indica que essa experiência foi séria, pois o rei iria morrer. A expressão: "Põ e em ordem a tua casa" im­ plicava, principalm ente, nom ear um herdei­ ro ao trono. Ezequias havia se tornado rei aos 25 anos de idade (2 Rs 18:1) e faleceu em 6 8 7 a.C . Seu filho, M anassés, subiu ao trono em 687 a.C ., com 22 anos de idade, o que significa que nasceu em 709 a .C ., de modo que estava com 7 anos de idade quan­ do Isaías disse a Ezequias que ele iria morrer. Joás havia se tornado rei aos 7 anos (1 1 :4ss), mas teve Joiada, o sacerdote piedoso, com o conselheiro. Fica claro que o trono de Davi estava em perigo. A reação de Ezequias foi desligar-se de tudo a seu redor e orar ao Senhor.2 A decla­ ração do rei em 2 Reis 2 0 :3 e em Isaías 38:2 pode parecer cheia de vangloria, mas é im­ portante lembrar que Ezequias estava apenas se apropriando da prom essa em 2 C rô nicas 6 :1 6 , 1 7. Essa prom essa era parte da aliança que D eus, em sua graça, havia feito com Davi e seus descendentes (2 Sm 7:1-17), e Ezequias estava sim plesm ente lem brando o Senhor de que ele havia sido fiel em obede­ cer à sua lei. Em outras palavras, com o filho fiel de Davi, possuía as "qualificaçõ es" para viver. A mensagem de Deus ao rei por inter­ médio de Isaías enfatizava a im portância do rei D avi e a continuação de sua descendên­ cia no trono em Jerusalém . D eus respondeu à oração de Ezequias dizendo a Isaías com o curar o rei e, tam bém , 561 dan do ao pro feta duas p ro m essas m ara­ vilhosas para transmitir ao rei. Em primeiro lugar, o rei se recuperaria e adoraria no tem­ plo em três dias. Em segundo lugar, se os assírios voltassem , o Senhor defenderia e li­ vraria a cidade de Jerusalém . Lembre-se de que a enferm idade de Ezequias ocorreu an­ tes da se g u n d a in v a sã o do e x é rc ito de Senaqueribe. A fim de garantir ao rei que essas prom essas eram verdadeiras, Deus lhe deu um sinal m iraculoso: a som bra no reló­ gio de A ca z (um grande relógio de sol) re­ trocedeu dez graus. A medida que o Sol se punha, a som bra deveria ficar cada vez mais longa, mas, de repente, encurtou. O Senhor inverteu a rotação da Terra ou sim plesm en­ te fez a som bra voltar dez graus no relógio? Deus não explica seus milagres, e não é pru­ dente fazer isso por ele. D eus nos disciplina porque nos am a e deseja evitar que lhe desobedeçam os e que deixem os de receber sua bênção (H b 12:111). Essa disciplina não é sem elhante àque­ la que um ju iz severo aplica ao castigar um crim inoso. Antes, é o ministério de um pai am oroso que procura fazer aflorar o que há de melhor em seus filhos, pois o desejo do Pai é que sejam os "conform es à imagem de seu Filho" (Rm 8:2 9 ). 4. E z e q u ia s , o c a n t o r (ls 38:9-22) O profeta Isaías registrou o salmo que Eze­ quias entoou depois de haver sido curado e de ter recebido mais quinze anos de vida (is 38:9-20). É bem provável que Ezequias tam bém tenha escrito outros salm os (ver o v. 20), pois em Provérbios 25:1 lemos sobre os "hom ens de Ezequias". O título indica que o rei possuía uma "associação" especial de estudiosos que trabalhavam com as Escri­ turas e que co piavam os m anu scritos.3 O salmo que Ezequias escreveu em com em o­ ração ao livramento de sua enferm idade é repleto de figuras que nos ensinam m uita coisa sobre a vida e a morte. Ezequias considerava a vida uma jo rna­ da que term inava às portas da morte, ou no Sheol, term o hebraico para o reino dos mor­ tos (v. 10). Encontrava-se no auge de sua vida e, no entanto, estava sendo privado do resto 562 2 RE I S 18: 1 - 20 : 1 1 de seus anos (é provável que, nessa ocasião, tivesse 37 ou 38 anos de idade). Talvez esti­ vesse pensando no Salm o 1 3 9 :1 6 , no qual Davi declara que D eus escreveu em seu livro o número de dias da vida de cada pessoa. Ezequias lamentou estar deixando a terra dos vivos e não poder mais ver os am igos.4 Lem ­ bre-se de que ainda não havia sido apresen­ tada a revelação com pleta da im ortalidade, do m undo interm ediário e da ressurreição (2 Tm 1:10). Porém , a morte não é apenas o fim da jo rnada; tam bém é com o desarm ar uma ten­ da (v. 12). Paulo usou a figura da tenda de maneira sem elhante (2 C o 5:1-4), com o tam­ bém o fez Pedro (2 Pe 1 :1 3 ,1 4 ). No entanto, Ezequias retrata a própria m orte im inente com o um tecido sendo arrancado do tear (v. 12). Deus nos "teceu" no ventre de nos­ sa mãe (Sl 139:13-16) antes de nascerm os, e, ao longo de nossa vida, seu desejo é te­ cer nossos dias de m odo a criar algo belo e proveitoso para sua glória. Ezequias estava sendo cortado do tear antes que o desenho de seu te cid o estive sse co m p le to . D ia e 1. noite, o rei vivia em ansiedade e sofrimen­ to, co m o um pássaro desprotegido sendo atacado por um leão fam into (vv. 13, 14). Tudo o que lhe restava fazer era gemer com o uma pom ba ou chilrear com o uma andori­ nha ou grou. No versículo 1 5, o tom m uda, e o rei dá graças a Deus por sua m isericórdia em livrálo da cova (vv. 17, 18). D eus não apenas salvou sua vida, co m o tam bém apagou o registro de suas transgressões e deixou para trás todos os seus p ecad os (v. 17; ver Is 4 3 :2 5 ; M q 7 :1 9 ). O Senhor havia disciplina­ do o rei por ca usa de seu orgulho (2 C r 3 2 :2 4 ), por isso o rei prom eteu andar em hum ildade pelo resto da vida (ver v. 1 5). Eze­ quias dedicou-se a louvar ao Senhor e a con­ tar à geração seguinte o que D eus havia feito por ele. Talvez essa tenha sido a ocasião em que o rg anizo u os "h o m en s de Ezeq u ias" para que copiassem e protegessem com cui­ dado os m anuscritos bíblicos. Porém , o orgulho de Ezeq u ias voltou a ap arecer, e, m ais um a v e z , o rei foi repre­ e n d id o . A m aioria dos estudiosos acredita que jud á foi invadida duas vezes pelo exército assírio, uma em 715 a .C . e outra em 701 a.C. A segunda invasão recebe muito mais espaço no relato bíblico em função do grande milagre realizado pelo Senhor. É difícil considerar 2 Reis 18:7-16 uma parte da invasão de 701 a .C ., mas foi um prelúdio para ela. 2. O rei Acabe ficou am uado e se virou para a parede, pois não conseguiu aquilo que queria (1 Rs 2 1 :4), mas essa não foi a atitude de Ezequias. Talvez, ao olhar na direção da parede de seu quarto, também tenha se voltado para o templo - aquilo que os ju deu s deveriam fazer q uando oravam (2 C r 6:2 1, 26, 29, 32, 34, 38). 3. Em seu livro O ld Testament Problem s [Problem as do Antigo Testamento] (Londres: M organ and Scott, 1916), J. W . Thirtle propôs a teoria de que os "Q u in ze Cânticos de Rom agem " ou "Cânticos dos Degraus" (Sl 120 - 134) foram com pilados por Ezequias para com em orar os quinze anos adicionais de vida que Deus lhe concedeu. D e z desses salm os são anônimos, enquanto os outros cinco são atribuídos a Davi (quatro salmos) e a Salom ão (um salm o). Thirtle era da opinião que Ezequias escreveu os dez salmos anônim os para com em orar o fato de a som bra ter retrocedido dez graus no relógio de A caz. A propósito, estes são os "Cânticos dos Degraus". Tendo em vista que Davi era seu herói, o rei Ezequias deve ter tentado escrever os próprios salmos, e é possível que o Espírito de Deus tenha lhe dado os dez salmos para essa coleção especial. 4. Na verdade, quando os cristãos morrem, deixam o reino dos mortos (este mundo) e vão para o reino dos vivos (o céu)! 11 A F o r m a ç ã o de R ei - P arte 2 um 2 R eis 1 8 : 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 2 0 : 1 2 - 2 1 (2 C r ô n ic a s 3 2 : 2 7 - 3 3 ; Isaía s 36 - 37 ; 39) im os o rei E zeq u ias co m o um refor­ m ador eficiente que purificou e consa­ grou o templo e que restaurou o ministério sacerdotal. Porém , com o negociador, Eze­ quias rendeu-se à A ssíria e pagou tributos a fim de evitar uma guerra. Assim , Deus aco ­ V m eteu o rei com um a enferm id ade grave para humilhá-lo, e Ezequias clam ou ao Se­ nhor por m isericórdia. D epois dessa vitória, Ezequias falhou outra v e z, re ceb en d o de braços abertos os enviados da Babilônia e lhes mostrando aquilo que não tinham direito algum de ver. Por certo, não foi um momento louvável da vida de Ezequias. 1. E z e q u ia s , o o stentad o r (2 Rs 20:12-19; 2 C r 32:27-31; Is 39) As Escrituras retratam nosso inimigo, o dia­ bo, apresentando-o na form a de uma ser­ pente e de um leão (G n 3:1 ss; 2 C o 11:1-4; 1 Pe 5 :8 , 9). Satanás costum a aparecer pri­ meiro com o serpente para nos enganar, mas se isso não funciona, volta co m o um leão para nos devorar. Foi o que aconteceu com E z e q u ia s . P rim e iro , os e m b a ix a d o re s da Babilônia dirigiram-se a Jerusalém a fim de descobrir quão rico e forte era o reino de Judá e, depois, o exército assírio devastou a terra, tom ou Jerusalém e deportou o povo para a Assíria. O s em baixadores enganaram Ezequias, pois ele não buscou a sabedoria de D eus por meio do profeta Isaías. Porém , quando os assírios invadiram a terra, o rei buscou ao Senhor, e Deus lhe deu a vitória. O o rg u lh o d e E zeq u ia s (vv. 12, 13; 2 C r 3 2 :2 7 - 3 0 ; 3 9 :1 , 2 ). V im o s an terio rm e n te que o orgulho era um a questão problem á­ tica para Ezeq u ias (2 C r 3 2 :2 5 , 2 6 ). Sua enferm id ade, que por pouco não lhe cau­ sou a m orte, humilhou-o, mas a visita dos enviados babilônios deixou claro que esse pecado antigo ainda estava vivo dentro dele. O s enviados foram a Judá com dois propó­ sitos: (1) descobrir qual era a força do reino; e (2) tentar influenciar Ezequias a unir-se à Babilônia para fazer frente à A ssíria. Pelo fato de não haver co m p réend id o inteiram ente essas in ten çõ es dos b ab ilô n io s, Ezeq u ias considerou um a grande honra ser visitado pelos oficiais do rei da Babilônia. A essa al­ tura da história, a Assíria era o im pério mais forte, e a Babilônia representava um im pé­ rio em ascensão. Por que Ezequias deveria se preocupar com a Babilônia? Porque, um dia, a A ssíria sairia de cena e a Babilônia seria a principal nação do O riente Próxim o. Entre 606 a.C . e 586 a.C ., a Babilônia inva­ diria Judá, destruiria Jerusalém e o tem plo e levaria a nação para o cativeiro. A Babilônia apresentou-se prim eiro co m o serpente e, depois, voltou com o leão. O s enviados levaram consigo presentes caros do rei da Babilônia, bem com o cartas expressando seu prazer por saber que Eze­ quias havia se recuperado da sua enferm i­ dade grave. Ezequias deveria ter percebido que M erodaque-Baladã não tinha qualquer interesse pessoal na saúde do rei de Judá, mas que desejava apenas constranger Eze­ quias a tornar-se um aliado da Babilônia. E bem provável que os enviados tenham aju­ dado a massagear o ego de Ezequias, elogiando-o por seu poderio militar e por sua riq ueza pessoal (ver 2 C r 3 2 :2 7 -3 0 ). Num ato de in se n sate z, E zeq u ias m ostrou-lhes todos os tesouros e arm as. Ao que parece, Eze q u ias saía-se m e lh o r su p e rv isio n a n d o seus escribas e escrevendo seus salm os do que cuidando das questões políticas do rei­ no. Tudo o que o rei possuía vinha das mãos de Deus, então que motivos Ezequias tinha para se vangloriar e ostentar seus bens? Tal­ vez tenha causado um a boa im pressão di­ ante dos enviados, mas entristeceu o Senhor e co locou o reino e a cidade em perigo. O orgulho é uma das principais armas de Satanás em sua batalha contra o Senhor e seu povo. O próprio Satanás com eteu o 564 2 R E I S 1 8 : 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 20 : 1 2-21 pecado do orgulho quando se rebelou con­ tra Deus e buscou a adoração e obediência que pertencem som ente a D eus (Is 14:1215). O orgulho tam bém nos leva a privar D eus da glória que é devida exclusivam ente a ele. Além disso, dá-nos uma sensação fal­ sa de segurança, que co n du z ao pecado e à derrota. Nas palavras de Charles Spurgeon a sua congregação em Londres: "N ão vos orgulheis da raça, do rosto, do lugar, nem da graça" - um excelente conselho! W illiam Barclay escreveu : " O orgulho é o solo no qual todos os outros pecados crescem e é o progenitor de todas as outras transgressões". A p r o fe c ia d e Isa ía s (vv. 14-18; 2 C r 2 9 :3 - 8 ). Eze q u ias d e veria ter co n su ltad o Isaias assim que recebeu a correspondência diplom ática com a notícia de que enviados babilônios estavam a cam inho de Jerusalém . Q uand o o profeta ficou sabendo que essa com itiva real havia chegado e partido, diri­ giu-se ao rei e fez duas perguntas im portan­ tes: "O que disseram e de onde vieram ?" O rei não respondeu à prim eira pergunta, mas adm itiu que os hom ens haviam vin do da Babilônia. Fica evidente que a visita de en­ viados de "um a terra longínqua" a Judá agra­ dou o rei e, sem dúvida, Ezequias também ficou satisfeito em encontrar um aliado no conflito contra a Assíria. Ao ler o Livro de Isaías, logo vem os que o profeta já sabia de algo relacio nado ao futuro da Babilônia (ver 13 - 14 e 20:1-10). A essa altura da história, quase todos teriam indicado a Assíria com o a potência mundial mais am eaçado ra, mas a B abilôn ia estava co m e çan d o a co n qu istar reco n h ecim en to no cenário m undial. A A ssíria derrotara o reino de Israel, mas Judá seria conquistada pela Babilônia, e Isaías 39:5-7 são as prim ei­ ras palavras claras do profeta so bre esse acontecim ento. Um século depois da morte de Ezequias, a Babilônia destruiria Jerusalém e o templo, tom aria cativos alguns descen­ dentes de Ezequias e levaria as riquezas do rei para a Babilônia. A p a ciê n c ia d o S e n h o r (v. 19). A respos­ ta de Ezequias não foi um suspiro de alívio ao saber que sua geração havia escapado do julgam ento, mas sim uma expressão de que aceitava a vontade de D eus. M ais uma vez, o orgulho de Ezequias havia sido que­ brado (2 C r 3 2 :2 6 ), mas por am or à nação e ao trono de Davi, o rei estava grato porque haveria paz. O Senhor havia sido longânimo para com Ezequias, e o rei não sabia que outra provação estava prestes a iniciar - o ataque da Assíria a Jerusalém . Porém , o rei havia aprendido algumas lições valiosas com sua enferm idade e com a maneira inepta de h aver cu id a d o da q u e stão dos e n viad o s babilônios. C om o é m aravilhoso que o Se­ nhor, em sua graça, nos prepare para aquilo que tem planejado para nós! 2 . E z e q u ia s , o com andante (2 Rs 18:17-37; 2 C r 32:1-19; Is 36) "D ep o is destas coisas e desta fidelidade, veio Senaq uerib e, rei da A ssíria, [e] entrou em Judá" (2 C r 3 2 :1 ). Essa "fidelidade" foi todo o esforço de Ezequias para purificar e con­ sagrar o tem plo, os sacerdotes, os levitas e restaurar a ad oração verd adeira em Judá. Seria de se esperar que D eus recom pensas­ se seu serviço dando-lhe paz, mas, em vez disso, o Senhor permitiu que os assírios vol­ tassem a Judá e am eaçasse m Jeru salé m . Ezequias foi fiel ao Senhor, mas, ao que pa­ rece, o Senhor não foi fiel a Ezequias. Afinal, o rei havia feito tudo o que "era bom, reto e verdadeiro perante o S e n h o r " (2 C r 3 1 :2 0 ), e o fizera "de todo o co ração" (v. 21 ). Por que, então, o Senhor não protegeu Judá de outra invasão? C o m o disse A le x a n d e r M a cla re n : " O eterno m istério do Antigo Testam ento é o fato de indivíduos bons serem atribulados, enquanto os perversos prosperam ". 1 Não é difícil entend er por que os assírios des­ truíram o reino do Norte, Israel; afinal, aque­ la nação havia se entregado à idolatria e se rebelado contra a lei de D eus. M as Judá se voltara para o Senhor sob a liderança de Eze­ quias e, apesar de o rei ter com etido alguns erro s, seu co ra ção era sin ce ro diante de D eus. Porém , D eus desejava cum prir seus propósitos na vid a de Ezequias e na vida de sua nação. Era fácil para Deus enviar um anjo e destruir 185 mil assírios, mas era muito mais difícil trabalhar com o rei Ezequias e 2 REIS 1 8 : 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 20:12- 21 transformá-lo num hom em de fé. Q u an d o permitim os que Deus aja a sua maneira, as tribulações da vida operam em nosso favor e não contra nós, trazendo grande glória para o Senhor. O rei precisava aprender que es­ tava sob o com ando de Deus (ver Js 5:1315) e que som ente o Senhor era soberano. A preparação (2 C r 32:1-8). Ezequias sabia que os assírios estavam a cam in ho , de m odo que se reuniu com seus líderes e tom ou as devidas providências para fortifi­ car Jeru salé m . A o trabalh ar em co n ju nto com seus líderes, o rei uniu seus co m an ­ dantes em afinidade e em estratégia, fator im portante para a liderança em tem pos de guerra. O s registros assírios afirm am que seu e x é rc ito tom ou quarenta e seis cid a ­ des em Judá antes de assentar-se em Laquis e de planejar o ce rco a Jerusalém . Ao blo­ quear o suprim ento de água fora da cidade, Ezequias evitou que os invasores tivessem água fre sca em a b u n d â n cia . E ze q u ia s já h avia ca va d o um tú n el en tre a fonte de G io m e a cidade de Jerusalém (2 Rs 2 0 :2 0 ), a fim de que o povo na cidade não m orres­ se de sede. A té hoje, esse túnel é um a atra­ ção bastante visitada pelos turistas na Terra Santa. Ezequias também providenciou para que as muralhas de Jerusalém fossem reparadas e para que as torres fossem acrescentadas a esses muros. Construiu até um muro externo e, em seguida, fortificou a "M ilo " - a série de terraços junto aos muros (1 C r 1 1 :8; 1 Rs 11:27). O rg anizou o exército, nom eou co­ m and an tes, deu-lhes arm as e, d e p o is, os encorajou com um discurso. Suas palavras refletem o que M oisés disse a Israel e a Josué (D t 31:1-8) e as palavras de Deus a Josué (Js 1:1-9; ver tam bém 2 Rs 6 :1 6 ). Ezequias de­ m onstrou sab ed o ria ao usar a Palavra de Deus para encorajar seus soldados e lembrálos de vitórias passadas do povo de D eus por haverem confiado no Senhor. A confrontação (vv. 17, 18; Is 36:1-3). A enferm idade de Ezequias, que quase lhe custou a vida, ocorreu em 702 a.C ., o mesmo ano em que recebeu a visita dos enviados babilônios. Isso significa que os assírios inva­ diram a terra logo no ano seguinte, 701 a.C . 565 Ezequias ainda tinha catorze anos de vida e, por certo, não desejava passá-los no cati­ veiro. Porém , o profeta Isaías já havia lhe dito que Deus livraria Judá e defenderia Jerusalém por am or ao rei Davi (2 0 :6), de modo que Ezequias tinha uma grande prom essa na qual poderia crer. O povo de Deus não vive de explicações, mas sim de promessas. O s assírios escolheram com o acam p a­ mento central a cidade de Laquis, a cerca de 50 quilôm etros de Jerusalém , e se diri­ giram à capital de Judá com um "grande exército". Três oficiais assírios disseram a Eze­ quias que enviasse três de seus oficiais para co m b inar os term os da rendição. O texto não cita o nome deles, mas sim os seus títu­ los: Tartã — co m andante suprem o; Rabe-Saris — oficial-chefe; e Rabsaqué — com andante de cam po. O s representantes de Ezequias foram Eliaquim, o adm inistrador do palácio; Sebna, o escrivão e Joá, o cronista (ver Is 2 2 :15-25; 3 6 :3 ). O encontro deu-se exatam ente no mes­ mo local onde Isaías havia confrontado A caz, pai de Ezequias, dizendo-lhe para não fazer um tratado com os assírios (Is 7; 2 Rs 16:59). isaías havia predito que, com ou sem tra­ tado, os assírios voltariam , e suas palavras se cum priram . O s seis oficiais não tiveram uma conver­ sa em vo z baixa, mas sim ficaram separados por uma distância que obrigou o com andan­ te de cam po a levantar a v o z. É evidente que os assírios desejavam que o povo no alto do muro ouvisse o que se passava, pois desejavam assustá-los. O s oficiais se recusa­ ram a falar em aram aico, a língua com um da época, preferindo usar o hebraico (1 8 :2 6 , 27 ; 3 2 :1 8 ; 3 6 :1 1 , 12). É significativo que os líderes assírios tivessem aprendido o hebrai­ co para usar essa língua em suas guerras. A o proclam ar a mensagem da paz, os ser­ vos de Deus devem seguir o exem plo des­ ses gentios. A proclam ação (vv. 19-36; 2 C r 32:919; Is 36:4-21). A fim de entender a dinâmi­ ca desse acontecim ento, é im portante que identifiquem os três "discursos". Prim eiro, o comandante de campo falou a Ezequias e ao povo de Judá e blasfemou contra seu Deus 566 2 R E I S 1 8 : 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 20 : 1 2-21 (2 Rs 18:1 7-36). Em seguida, Ezequias foi ao com aquilo que o rei havia feito? O com an­ tem plo e falou com Deus sobre o que o co ­ mandante havia dito (19:1-19). Por fim, Deus falou a Ezequias (por interm édio do profeta Isaías) sobre o julgam ento que enviaria so­ bre os assírios (19:20-34). A última palavra é sem pre de Deus. O co m an dan te de cam po era um ho­ mem ardiloso, que sabia tecer as palavras e transmitir sua mensagem com clareza. É evi­ dante sabia que havia em Jerusalém pes­ soas descontentes por não poderem adorar em altares diferentes nem nos altos, sendo obrigadas, portanto, a adorar no tem plo. O com andante foi tão ousado que chegou a afirm ar que ele e o exército assírio haviam se dirigido a Jerusalém em o b ed iência ao Senhor (1 8 :2 5 ; Is 3 6 :1 0 ; ver 2 C r 3 5 :2 1 ). Afinal, tendo em vista que o Senhor havia dente que não estava muito preocupado em dizer a verdade, pois sabia que quase todas as pessoas (inclusive o povo de Jerusalém ) se baseiam naquilo que p a re ce se r e não naquilo que é e raciocinam com suas em o­ ções, não com sua mente. O tema central de seu discurso foi a fé (1 8 :1 9 , 2 0 ; 2 C r 3 2 :1 0 ; Is 3 6 :4 , 5). Perguntou ao povo: "Em que vocês crêem de fato? Existe alguém que possa livrá-los?". O b serve a repetição dos ter­ mos "livrar" e "das m ãos" e tam bém com o Rabsaqué fez pouco de Ezequias, cham an­ do Senaqueribe de "sum o rei" (1 8 :1 9 , 28 ; Is 3 6 :4 , 13). O que Rabsaqué não sabia era que Jeová é o G rand e Rei e que ele estava ouvindo todas as palavras do com andante. "Pois o S e n h o r A ltíssim o é trem endo, é o grande rei de toda a terra" (S l 4 7 :2 ). Jerusa­ usado a Assíria para disciplinar e destruir o reino de Israel, por que não usaria os assírios para conquistar Judá? D e a co rd o co m o co m a n d a n te , se o povo de Judá confiava em seu p o d e rio mili­ tar, então estava em sérias dificuldades, pois lém era a "cidade do grande Rei" (S l 4 8 :2 ), e o próprio Sen h o r disse: "eu sou grande Rei" (MI 1:14). O com andante com eçou a dizer em que Judá estava confiando, ressaltando sem pre que cada uma daquelas coisas falharia. C o ­ m eçou com o Egito (1 8 :2 1 , 2 4 ; Is 3 6 :6 , 9) e, sem dúvida, havia oficiais em Judá que acre­ ditavam que o Faraó poderia ajudá-los. D e­ pois da divisão do reino, sem pre houve um grupo forte de partidários do Egito em Judá, e o profeta Isaías havia advertido os líderes a não buscar a ajuda dessa nação (Is 30:1-7; 31:1-3). Porém , o Egito não passava de um "bordão de cana esm agada" que feriria a mão de quem se apoiasse nele.2 Em 2 Reis 18:22 e 30 (2 C r 3 2 :1 2 ; Is 3 6 :7 , 10), o com andante tentou convencê-los de que não podiam crer que o Sen ho r seu D eus os livraria. C o m o confiar em Jeová se Eze­ quias havia rem ovido os altares do Senhor da cidade? A caso o Senhor estava satisfeito não possuía cavalos em núm ero suficiente nem cavaleiros para montá-los. Se o rei de Judá "fizesse um acordo" com Senaqueribe (ou seja, se assinasse um tratado), os assírios cessariam o cerco , e a vida do povo seria poupada. Em resposta à interrupção de Eliaquim, Sebna e Joá (1 8 :2 6 ), o com andante dirigiu um a m ensagem esp e cificam e n te ao povo que estava nos muros da cidade. Caso não se entregassem , um dia teriam tanta sede e fom e que beberiam e com eriam os próprios excrem entos (1 8 :2 7 ; Is 3 6 :1 2 ). O relato de 2 C rôn icas 32:11 afirm a que o com andante co m e ço u seu discurso advertindo o povo de que m orreriam , inevitavelm ente, de fome e de sede se não se entregassem . Porém , no ano anterior, o profeta Isaías havia dito a Ezequias que Deus defenderia Jerusalém e que destruiria os assírios (2 0 :6 ; Is 38:4-6), e foi essa prom essa que o rei trans­ mitiu ao povo (1 8 :2 9 , 30 ). M ais um a vez, nos adm iram os com todo o conhecim ento do co m a n d a n te a c e rc a dos a ssu nto s de Ezequias. Rabsaqué estava se esforçando ao m áxim o para acab ar com a co n fia n ça do povo em seu rei. O com andante fez uma bela descrição do que aconteceria se Judá se rendesse. V ive ria m em paz na própria terra, até que fo ssem d e p o rtad o s para a Assíria, uma terra muito parecida com Judá (1 8 :3 1 , 32; Is 3 6 :1 6 , 17). Sem pre que o ini­ migo faz uma oferta, ela é acom panhada de um fatídico "até qu e". 2 R E I S 1 8: 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 20 : 1 2-21 O arg u m en to fin al a p re se n ta d o pelo com andante foi inteiram ente pragm ático e bastante ilógico: nenhum dos deuses das na­ ções conquistadas até então havia sido ca­ paz de derrotar Senaqueribe, de m odo que Jeová tam bém estava condenado a fracas­ sar (18:33-35; Is 36:18-20). Porém , Jeová não é com o os ídolos mortos e im potentes das nações: ele é o verdadeiro D eus vivo! Em obediência ã ordem do rei, o povo nos mu­ ros não disse co isa alguma ao com andante. O silêncio é a melhor resposta para as pes­ soas ig norantes que blasfem am co n tra o Senhor e que não possuem qualquer conhe­ cim ento de sua verdade e grandeza. A h u m ilh a çã o (1 8 :3 7 - 1 9 :1 3 ; Is 3 6 :2 2 - 3 7 :1 3 ). O s três oficiais deixaram o cam po do Lavandeiro e voltaram para a cidade, a fim de contar a Ezequias o que o co m an­ dante havia dito. N um a expressão de humi­ lhação diante de Deus e de reconhecim ento da própria im potência, os três rasgaram as vestes e buscaram o auxílio do Senhor. C o n­ taram ao rei o que o com andante havia dito, um relato que, provavelm ente, causou tris­ teza profunda ao rei. C om o era possível al­ guém ser tão arrogante e blasfem ar de tal modo contra o nom e do Senhor? Rabsaqué havia difam ado o D eus vivo ao associá-lo aos ídolos mortos das nações. Ezequias tam ­ bém rasgou as vestes e se humilhou perante o Senhor. O rei sabia que precisava de uma pala­ vra do Senhor, de m odo que enviou seus oficias a Isaías, pedindo que o profeta oras­ se e buscasse o auxílio de D eus (trata-se da prim eira vez em que Isaías é m encionado em 2 Rs). A metáfora do rei sobre o nasci­ m ento é um retrato de perigo ex tre m o . Q u an d o chega a hora de a criança nascer, a mãe não tem forças para realizar o trabalho de parto e, assim , tanto a mãe quanto a crian­ ça correm o risco de perder a vida. O rei tam ­ bém sabia que apenas um rem anescente do povo de D eus de Israel e Judá era fiel a Jeová (1 9 :4 , 30), mas o Senhor estava disposto a intervir por am or a eles e por am or a D avi. Isaías disse a Ezequias para não se atem o­ rizar (Sl 46:1-3), pois o Senhor havia ouvido a b lasfê m ia de R ab saq u é e trataria com 567 Senaqueribe. O rei assírio ouviria uma notí­ cia, e o Senhor o assustaria de tal modo que ele voltaria para casa. A notícia assustadora foi que Tiraca, rei do Egito,3 estava a cam i­ nho de Judá, o que significava que Sena­ queribe teria de com bater em duas frentes (1 9 :9 ; 3 7 :9 ). Não era isso o que o rei assírio desejava e, portanto, abandonou tem pora­ riamente o cerco e voltou para Laquis, a fim de se preparar para a guerra. Porém , o co ­ m andante enviou um a última mensagem a Ezequias, dessa vez numa carta (19:8-13; Is 37:8-13), e sim plesm ente repetiu aquilo que já havia dito. 3. E z e q u i a s , o i n t e r c e s s o r (2 Rs 19:14-19; 2 Cr 32:20; Is 37:14-20) Q uand o as perspectivas são desanim adoras, tente olhar para o alto. Foi o que Ezequias fez quando recebeu a carta blasfema do rei da Assíria. Em várias ocasiões ao longo de meu ministério, tive de apresentar cartas ao Senhor e de crer na sua intervenção - e ele nunca falhou. Ezequias olhou para além de seu trono e do trono do "sum o rei", Senaqueribe, e voltou toda a atenção para o trono de Deus, "entronizado acim a dos querubins" (1 9 :1 5 ; Is 3 7 :1 4 ; ver Sl 8 0 :1 ; 9 9 :1 ). U m a v e z que não era sumo sacerdote, Ezequias não po­ deria entrar no Santo dos Santos, onde o propiciatório ficava sobre a arca da aliança, mas poderia "entrar", pela fé, na presença de D eus, com o os cristãos de hoje fazem (H b 1 0 :1 9 -2 5 ). Em ca d a extre m id ad e do propiciatório havia um querubim , sendo que o propiciatório em si era o trono de Deus na terra (Êx 25:10-22). O Senhor não é ape­ nas o Rei de Israel e de todas as nações, mas tam bém C riad o r dos céus e da terra. Ezequias ficou inteiram ente absorto em ado­ ração ao perceber a grandeza do Senhor, o único Deus verdadeiro. Esse é um bom exem ­ plo a ser seg u id o q u and o o ram os pelos problem as em nossa vida. Ao nos co n cen­ trarm os no Senhor e verm os quão grandio­ so ele é, adquirimos uma perspectiva correta de nossas dificuldades. O rei tinha um grande fardo no coração: que o Deus de Israel fosse glorificado diante 568 2 RE I S 18: 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 2 0 : 1 2 - 2 1 das nações da Terra. Senaqueribe havia blas­ fem ado contra o Senhor, e Ezequias pediu que D eus interviesse em favor de Judá, a fim de que seu nom e fosse honrado. "San­ tificado seja o teu nom e" é o prim eiro pedi­ do da oração do Pai Nosso (M t 6 :9 ). Com o um hom em tem ente a D eus, o rei sabia que os deuses das nações derrotadas não eram deuses verdadeiros (Is 2 :2 0 ; 4 0 :1 9 , 2 0 ; 4 1 :7; 4 4 :9 -2 0 ). Pediu ao Senhor que salvasse o povo de Judá, não por am or a eles, mas pela glória de seu nom e.4 A lgum as pessoas entram co rren d o na p resença de D eus sem pre que enfrentam algum problem a, mas o Senhor nunca ouve a voz delas em outra ocasião. Esse não era o caso do rei Ezequias. Era um hom em que buscava a bênção do Senhor sobre seu povo em todo tempo. Procurava co n hecer a Pa­ lavra e a vontade de Deus, e era isso o que dava poder a suas orações. Feliz é a nação cujos líderes sabem orar! 4. E z e q u i a s , o v i t o r i o s o (2 Rs 19:2037; 2 Cr 32:20-22; Is 37:21-38) O Senhor disse a Isaías para transmitir sua mensagem ao rei, e o profeta o bedeceu. A resposta à oração de Ezequias tinha três par­ tes: (1) Deus livraria Jerusalém ; (2) D eus der­ rotaria o exército assírio, e eles deixariam Judá; (3) Deus cuidaria do povo, e eles não morreriam de fome. No entanto, Deus tam­ bém tinha um a m ensagem de repreensão para Senaqueribe por causa de seu orgulho e blasfêmia. A fé de Ezequias foi recom pen­ sada e sua oração foi respondida. R e p re e n s ã o (vv. 2 0 -2 8 ; Is 3 7 :2 2 - 2 9 ). Deus havia usado a Assíria para disciplinar israel, e o Senhor havia concedido a Sena­ queribe a vitória sobre outras nações, mas S enaq uerib e jam ais havia dado a glória a Deus. Na verdade, seu com andante de cam ­ po havia difam ado o nom e do Senhor (1 9 :4, 16, 22 , 24 ; Is 3 7 :4 , 1 7, 23, 24) e blasfemado contra o Deus de Israel. M as a "virgem , filha de Sião" - a cidade de Jerusalém - menearia a cabeça num gesto de desprezo. O Se­ nhor usou a imagem de um a virgem, pois os assírios não conseguiriam tomar a cidade e violá-la com o os soldados pagãos faziam com as m ulheres que levavam cativas. Po­ rém, o Senhor trataria os assírios com o gado e co locaria anzóis no nariz deles, fazendoos vo ltar pelo cam in h o por onde tinham vindo. O Senhor citou para Rabsaqué e Se­ naqueribe exatam ente as m esm as palavras que eles haviam usado ao se vangloriar de suas vitó rias. Na verd ad e , os carros eram feitos para serem usados em terrenos planos, m as eles se gabaram de que seus carros haviam subido os altos montes do Líbano. A s terras secas e deserto s não poderiam impedi-los, nem os rios. O utros reis usavam barcas para atravessar os rios, mas eles se­ caram o rio Nilo e cam inhavam por terra seca (trata-se de um referência a Israel no Jordão, Josué 4 - 5 ? Não há qualquer evidência de que, em algum momento, a Assíria tenha con­ quistado o Egito). Derrubavam cidades e pes­ soas, com o um lavrador corta o capim em suas terras, e nada ficava em seu cam inho. M as foi o Senhor quem planejou essas vitórias e permitiu que a Assíria fosse bemsucedida (3 7 :2 6 , 27 ). A quela nação foi sua arm a para julgar Israel e outros povos e para disciplinar Judá (Is 1 0:5-19). Q u e tolice o m achado se vangloriar diante do lenhador e que tolice Senaqueribe tom ar sobre si a gló­ ria por aquilo que o Senhor havia feito! Em vez de honrar a Deus, Senaqueribe enfure­ ceu-se contra o Senhor (1 9 :2 7 ; Is 3 7 :2 8 , 29) e se exaltou acim a do D eus dos céus. Q u ais­ quer que sejam os motivos ou justificativas apresentadas pelos líderes para aquilo que fazem , a causa fundam ental de seus atos é a rebelião contra D eus e sua lei (Sl 2:1-6; At 4:23-31). Porém , o Senhor trataria os assírios com o gado, colocaria anzóis no nariz deles e os levaria em bora! O s assírios eram conhe­ cidos por fazer isso com seus prisioneiros de guerra, mas dessa vez seriam as vítim as. P rovisão (v. 2 9 ; Is 3 7 :3 0 ). A Assíria ha­ via tomado posse de Judá, saqueado a ter­ ra, se apoderado de cidades fortificadas e, agora, estava sitiando Jeru salé m . Q u an to tempo duraria o alimento? E m esm o qu e Je­ rusalém sobrevivesse, quanto tempo levaria para restaurar a terra, plantar as lavouras e ter uma colheita? O com andante havia avi­ sado que o povo de Jerusalém m orreria de 2 RE I S 1 8 : 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 2 0 : 1 2 - 2 1 fom e e de sede caso não se sujeitasse à A ssíria (2 C r 3 2 :1 1 ). M as quem estava no controle era o Senhor da ceifa. Setem bro e outubro eram os meses em que se fazia a sem eadura, enquanto m arço e abril eram dedicados à colheita. O s pom ares e vinhas produziam seus frutos de julho a setem bro. Sem dúvida, os assírios chegaram na época da co lh e ita e co n fisca ram o alim en to do povo. C om os assírios na terra e com Jeru­ salém sitiada, o povo não poderia trabalhar nos cam pos, mas Deus prometeu que, quan­ do os assírios partissem, o alimento cresce­ ria por conta própria, até que os hom ens pudessem cultivar os cam pos, pom ares e vi­ nhas. D eu s não perm itiria que seu povo m orresse de fom e. A lgu ns estu d io so s vêe m um a re lação entre essa profecia e o Salm o 126, um dos "C ân tico s de Rom agem " (ver o capítulo 10, nota 3). O salm o fala de um livram ento sú­ bito e dram ático de Jerusalém , o que, por certo, não foi o caso no final do cativeiro na Babilônia. Trata-se, talvez, de um a refe­ rência ao livram ento de Jerusalém das mãos do exército assírio, quando D eus matou 185 mil soldados inimigos? Se esse é o caso, a o ração do Salm o 1 2 6 :4 é ap ro priada. Ao saírem para os cam pos a fim de sem ear, os hom ens estariam chorando de alegria, pois sua terra havia sido liberta, mas é possível que tam bém chorassem porque as sem en­ tes que plantavam seriam transform adas em pão para seus filhos. A s sem entes eram es­ cassas e, no entanto, D eus cuidou de seu povo. Livra m en to (vv. 2 8 , 3 0-37; 2 C r 3 2 :2 1 , 2 2 ; Is 3 7 :3 1 -3 8 ). Deus prometeu que livra­ ria seu "rem anescente" de seus inimigos e eles iam "lançar raízes" e voltar a dar frutos. Não apenas Senaqueribe jam ais entraria na cidade, com o tam bém não lançaria flecha alguma contra ela, nem construiria fortifica­ ções ao seu redor durante o cerco! Em uma 569 noite, o A njo do S e n h o r matou 185 mil sol­ dados assírios, dando fim ao cerco a Jerusa­ lém. Rabsaqué havia se vangloriado de que um só ca p itão de m en or grad uação dos assírios era mais forte do que dois mil carros de Judá (Is 3 6 :8 , 9), mas quando o Senhor quis exterm inar 185 mil soldados inimigos, tudo o que precisou fazer foi enviar um de seus anjos! Foi um a derrota hum ilhante para os assí­ rios, mas esse acontecim ento trouxe gran­ de glória ao Senhor e honra para Ezequias (2 C r 3 2 :2 3 ; ver Sl 1 2 6 :2 , 3). Senaqueribe saiu de cena e voltou para casa, onde foi m orto por dois de seus filhos. Seus deuses não foram cap azes de lhe dar a vitória em Judá, nem puderam protegê-lo da própria fam ília em sua terra natal. Por que D eus livrou seu povo? Para a glória do nom e dele, evid en te m en te, m as tam bém por D avi, a quem ele am ava (1 9 :3 4 ). Por q u e D e u s ab en ço a seu povo hoje? Para sua própria glória e por am or a seu Filho, que morreu por nós. M o rte (vv. 2 0 , 2 1 ; 2 C r 3 2 :2 7 -3 3 ). "E z e ­ quias prospero u em toda a sua o b ra", diz 2 C rô nicas 3 2 :3 0 . Pelas bênçãos do Senhor, teve muitas riquezas, rebanhos enorm es e grandes arm azéns de cereais e vinho. "C o n ­ fiou no S e n h o r , Deus de Israel" (2 Rs 18:5). "Assim , foi o S e n h o r com ele; para onde quer que saía, lograva bom êxito" (2 Rs 18:7). Foi um exem plo do hom em "bem -aventurado" no Salm o 1, a pessoa que o bedece à Pala­ vra, medita sobre ela e depende do poder de Deus. Ezequias não apenas recebeu o favor de Deus, mas tam bém foi am ado por seu povo. Foi sepultado com os reis em Jerusalém , "e todo o Judá e os habitantes de Jerusalém lhe prestaram honras na sua m orte" (2 C r 3 2 :3 3 ). C om o todos nós, Ezequias teve lap­ sos de fé e falhas, mas sem dúvida foi um dos m aiores reis da história do povo de Deus. 1. M ac laren , 2. Ao estudar o discurso do com andante, somos tentados a crer que os assírios tinham alguém dentro de Jerusalém . Rabsaqué Alexander. Expositions o f H o ly Scripture. 2 Kings - Nehemiah, Baker, 1974, p. 244. sabia não apenas do partido favorável ao Egito, mas tam bém , que Ezequias havia removido os altares pagãos (18 :22) e que isaías havia advertido o povo a não depender de cavalos nem de soldados (1 8 :2 3 ; Is 30:15-17). 570 3. 2 RE I S 1 8 : 1 7 - 1 9 : 3 7 ; 2 0 : 1 2-21 Algumas versões também o cham am de "rei da Etiópia", numa referência ao Alto Nilo. Nessa época, era com andante oo exército e, por fim, se tornou governante do Egito. 4. Muitos dos grandes acontecim entos da história de Israel ocorreram com o propósito de exaltar o nome de Jeová diante oe todas as nações. Dentre eles, o êxodo (Êx 9 :1 6 ); a conquista de Canaã (D t 2 8 :9 , 10); a entrada em Canaã (Js 4:23 , 24.-; á execução de Golias (1 Sm 17:46) e a construção do templo (1 Rs 8 :4 2 , 43). 12 O F im E stá P r ó x im o 2 R eis 2 1 : 1 - 2 3 : 3 0 (3 3 :2 3 ); Josias verdadeiram ente se humilhou diante do Senhor e foi usado com o instru­ mento para um despertar espiritual em Judá (3 4 :1 9 , 27). Nas palavras de A . W . Tozer: "A verd ad eira hum ildad e é algo sau dável. O indivíduo hum ilde aceita a verdade acerca de si m esm o".2 (2 C r ô n ic a s 3 3 : 1 - 3 5 : 2 7 ) 1. M a n a ssés a f l iç ã o D e acordo com Carl F. FHenry, em inente teólogo: "V ive m o s no crep ú scu lo de uma grande civilização , em meio ao declínio cada v e z mais profundo da cultura moder­ na. Aqueles im périos estranhos representa­ dos por bestas nos livros de D aniel e de A p o calip se parecem estar à espreita e se espalhando sobre a superfície da T e rra ".1 Palavras com o essas poderiam ter sido escritas a respeito de Judá nos dias dos três reis que estudarem os nestes capítulos: M a­ nassés, A m om e Josias. D o povo israelita procederia a testemunha do verdadeiro Deus vivo ao mundo, mas muitos israelitas passa­ ram a adorar ídolos de outras nações. Israel tinha dado ao m undo os profetas e as Escri­ turas, mas a maioria dos líderes de Judá não dava mais ouvidos à Palavra de D eus. Josias foi o último rei piedoso de Judá. O Senhor havia feito uma aliança garantindo a prote­ ção do trono de D avi para que o Redentor prom etido viesse um dia, mas o governo de Judá estava em decadência, e a própria exis­ tência do reino corria perigo. O futuro do plano de D eus para o mundo perdido estava num rem anescente fiel que resistiu às inva­ sões das culturas pagãs e que perm aneceu firm e no Senhor. A prom essa de D eus não havia m uda­ do: "Se o meu povo, que se cham a pelo meu nom e, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus cam inhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus peca­ dos e sararei a sua terra" (2 C r 7 :1 4 ). C ada um desses três reis teve de aprender algo acerca da hum ildade. Era quase tarde demais quando M anassés se humilhou (2 C r 3 3 :1 2 , 19 ); A m o m n u n ca se sujeito u ao Senho r - h u m il h a d o p e l a (2 Rs 21:1-18; 2 Cr 33:1-20) O fato de o piedoso rei Ezequias ter gerado um filho perverso é mais um daqueles mis­ térios da história bíblica. Se M anassés nas­ ceu em 709 a.C ., então estava com 7 anos quando o pai foi curado e o milagre da som­ bra ocorreu. Tinha 11 anos quando os 185 mil soldados assírios foram mortos. Ao que parece, esses milagres não causaram gran­ de im pacto em seu co ração . Vários estudio­ sos acreditam que M anassés foi co-regente com o pai durante cerca de dez anos (6976 8 7 a .C .), dos 12 aos 22 anos, tendo, por­ tanto, um relacionam ento próxim o com um pai tem ente a D e u s.3 O que im pressiona, porém, é que M anassés tornou-se o rei mais perverso da história de Judá, tanto que é responsabilizado pela queda do reino do Sul (2 Rs 2 4 :3 ; Jr 15:1-4). A p e rv e rsid a d e d e M a n a ssés (vv. 1-16; 2 C r 3 3 :1 -1 0 ). Ele foi terrivelm ente ím pio e, no entanto, teve o reinado mais longo da história de Israel e Judá. Foi com o se o Se­ nhor tivesse retirado a mão do reino de Judá e permitido que toda im undície fosse derra­ mada do coração do povo. Em seu caráter e conduta, M anassés foi pior que os am orreus que Josué havia derrotado em Canaã, uma nação co nhecida por sua brutalidade e per­ versidade (2 Rs 2 1 :1 1 ; G n 1 5 :1 6 ). Tudo o que Ezequias, seu pai piedoso, havia des­ truído, M anassés reconstruiu ao conduzir a nação de volta à idolatria, inclusive à adora­ ção a Baal. A lém disso, co nfecciono u ídolos ab o m in áveis, co locando-os no tem plo do Senhor (2 1 :3; 2 C r 3 3 :7 , 1 5), e incentivou o povo a adorar "todo o exército dos céus" (2 1 :3 ; 3 3 :3 , 5; ver Dt 4 :1 9 e 17:1-7). D eve­ ria haver um só altar no átrio do tem plo, porém M anassés acrescentou altares co n ­ sagrados a diversos deuses (ver 16:1 0 -1 6 ) 572 2 R E I S 21 1 - 2 3 : 3 0 e, assim, fez de Jeová apenas um "deus" den­ tre muitos outros. D eus havia co locado seu nom e em um só lugar - no templo de Jeru­ salém (2 1 :4 , 7; Dt 1 2 :1 1 ; 1 Rs 8 :2 0 , 2 9 ; 9:3), m ediria a nação com seu prumo, mas essa m e d iç ã o se ria p ara d e stru ir e não para edificar. Todos con h eciam os prum os usa­ dos pelos pedreiros para manter as paredes retas à m edida que as construíam , mas nin­ guém m ede uma construção para destruí-la (ver Is 34:11 e Am 7:7-9, 1 7). O s julgam en­ mas uma profusão de falsos deuses passou a dividir com ele essa honra. M anassés se­ guiu a religião de M oloque, sacrificando um de seus filhos a esse deus (Lv 1 8 :2 1 ; 20:1-5), e tam bém consultou adivinhos e m édiuns (2 1 :6 ; 3 3 :6 ; Lv 19 :3 1 ; Dt 18:11). Em sua m isericórd ia, o Senh o r enviou tos de Deus são justos, e ele daria a Judá o que m erecia, co m o havia feito com Israel (Sam aria). O terceiro retrato é relacionado à co zin h a: Deus limparia o reino de Judá como quem tira toda a sujeira de um prato e re­ move toda a água depois de lavá-lo. Trata-se de uma figura do despovoam ento da terra causado pela m orte ou pela deportação e que deixaria a terra vazia (Jr 5 1 :34). O termo "abandonarei", em 2 1 :14, signi­ fica "entregar para julgam ento". Deus prome­ teu que jam ais abandonaria seu povo (1 Sm 1 2 :2 2 ; 2 Sm 7 :2 3 , 2 4 ), mas também avisou que os disciplinaria, se lhe desobedecessem . Deus não quebrou sua prom essa, pois ele é sem pre fiel a sua aliança, quer para aben­ çoar pela obediência quer para castigar pela d esobediên cia. O a rre p e n d im e n to d e M a n a ssés (2 C r 3 3 :1 1 - 1 3 1 9 ). O escritor de 2 Reis não faz qualquer referência à m udança im pressio­ profetas para advertir o rei e o povo, mas eles se recusaram a ouvir. A lguns desses hom ens de D eus foram , sem dúvida, exe­ cutados pelo rei (2 1 :1 6 ) ao lado de outras pessoas piedosas que se opunham ã adora­ ção de falsos deuses. Deus lembrou seu povo de que o usufruto da terra dependia de sua obediência à lei do Senhor. Essa era a estipulação básica da aliança que Deus fez com seu povo (Lv 26 ; Dt 28 - 29). D eus havia garantido mantê-los na Terra Prometida (2 Sm 7 :1 0 ), mas, nos dias de M anassés, o Senhor os advertiu de que seriam tirados da terra e dispersos entre as nações (D t 28:64-68; Lv 2 6:33-35). Esse julgam ento já sobreviera ao reino do Norte com a invasão do exército assírio, e o m esm o ocorreria com Judá quan­ do os bab ilô n io s viessem (6 0 6 -5 8 6 a .C .). Infelizm ente, Judá não aprendeu com a dis­ ciplina de Israel. Não sabem os quais profetas transmitiram a mensagem em 2 Reis 21:10-15, mas suas palavras foram inequívocas. Se M anassés e 0 povo não se arrependessem e deixassem seus cam inhos perversos, Deus enviaria um nante na vida de M anassés, mas encontra­ mos o registro disso em 2 C rô n ica s.4 Ao que parece, ele desagradou, de algum m odo, o rei da Assíria, e D eus perm itiu que os ofi­ ciais assírios fossem a Judá e capturassem o rei. Não se tratou de um ato respeitável de co locar alguém sob vigilância; puseram um anzol em seu nariz e prenderam o rei com julgam ento tão severo que a simples men­ ção dele faria seus ouvidos tinirem (2 1 :1 2 ; 1 Sm 3 :1 1 ; Jr 19:3). Trata-se de uma descri­ ção da reação a notícias tão terríveis que soam com o um ruído muito alto, daqueles que fazem os ouvido s zu n ire m . O term o hebraico salal significa "tinir, badalejar" e é relacionado à palavra usada para cím balos e sinos. Quando ficassem sabendo que o exér­ cito da Babilônia se aproxim ava, seria com o o u vir o estrépito rep en tin o de cím b alo s! Acordem ! Acordem ! M as seria tarde demais. Porém, Deus usou outra imagem para des­ pertá-los. C o m o um construtor m eticuloso, correntes (3 3 :1 1 ). Foi tratado com o um no­ vilho sendo levado para o m atadouro - um tratam ento m erecido. N aquele tempo, a ci­ dade da Babilônia servia de segunda capital da Assíria, e foi lá que m antiveram M anas­ sés cativo. Foi uma experiência de grande humilha­ ção para o rei perverso, mas o Senhor a usou para discipliná-lo e prostrá-lo. M anassés orou ao Senhor pedindo perdão; o Senhor cum ­ priu sua prom essa e o perdoou (2 C r 7:14). M ais do que isso, o Senhor tocou os assírios para que o libertassem e permitissem que vol­ tasse a Jerusalém , a fim de governar sobre i 2 R E I S 21: 1 - 2 3 : 3 0 seu povo. Q u e dem onstração m aravilhosa da graça de D eus! M anassés hum ilhou-se (3 3 :1 2 ), mas antes foi hum ilhado pelo Se­ nhor (3 3 :1 9 ). O verdadeiro arrependim ento é uma operação de Deus no coração e uma resposta favorável do coração ao Senhor. A refo rm a d e M a n a ssés (2 C r 33:14-18, 2 0 ). Ao voltar para casa, M anassés dem ons­ trou a sincerid ad e de sua co n versão pro­ curando reparar todo o mal que havia feito. Fo rtifico u Jerusalém e outras cid ad es em Judá, rem oveu seu ídolo do tem plo (3 3 :7 , 15) e tam bém tirou de lá todos os altares que havia erguido a falsos deuses. D epois de p u rifica r o tem plo, fez os reparos ne­ cessários no altar abandonado do Senhor e ofereceu sacrifício s de ação de graças ao Senhor que o havia salvado. O rdenou que o povo de Judá servisse ao Senhor e deu o exem plo a ser seguido. Permitiu que ofere­ cessem sacrifícios nos altos, mas não a deu­ ses pagãos - som ente ao D eus de Israel. "Produ zi, pois, frutos dignos de arrependi­ mento", disse João Batista aos fariseus e saduceus (M t 3:8 ), e foi exatam ente isso o que M anassés fez. C om a morte de M anassés, encerrou-se sua longa vida e reinado, e o rei foi sepulta­ do no jardim da própria casa, não no sepul­ cro dos reis (ver 2 C r 2 8 :2 7 ). 2. A m o m - e m p e d e r n id o pela (2 Rs 21:19-26; 2 C r 33:21-25) d e s o b e d iê n c ia D epois de seu arrependim ento, M anassés tentou reparar todos os estragos que havia feito em Jerusalém e em Judá, mas houve um lugar que ele não pôde mudar: o cora­ ção de seu filho, A m om . O jovem Am om havia sido influenciado dem ais pelos peca­ dos do pai para dar atenção à nova vida de obediência de M anassés e, sem dúvida, hou­ ve gente na corte que o incentivou a man­ ter as coisas com o eram. Enquanto M anassés hum ilhou-se d ian te do Sen h o r, seu filho Am om recusou-se a fazer o mesm o (2 C r 3 3 :2 3 ) e, quanto mais tem po passava em pecado, mais seu coração endurecia. "Porque o salário do pecado é a morte" (Rm 6 :2 3 ). O texto não deixa claro o que 573 levou os oficiais de Am om a assassiná-lo, mas dificilm ente foi por motivos espirituais. A pe­ sar de ser verdade que a lei de M oisés de­ cretava a execu ção dos idólatras (D t 13), não havia em Judá quem tivesse autoridade para tratar com um rei idólatra. E bem possível que os co n sp irad o res estivessem mais in­ teressad os em qu estõ es p o líticas. A m om provavelm ente era partidário dos assírios afinal, eles haviam libertado seu pai da pri­ são - , en q u an to os o ficia is favo re ciam a Babilônia, sem perceber que a ascensão da Babilônia significaria, em últim a análise, a queda de Judá. Josias, filho de A m om , era, sem dúvida alguma, partidário dos babilônios e perdeu a vida no cam po de batalha ten­ tando im pedir que o exército egípcio aju­ dasse a Assíria contra a Babilônia. O fato de o povo ter escolhido Josias para ser rei de­ pois de A m om indica que não desejavam um governante que favorecesse a Assíria. 3. J o s ia s - h u m il h a d o pela P a la vr a (2 Rs 22:1 - 23:30; 2 C r 34:1 - 35:25) d e D eu s Dos vinte governantes de jud á, inclusive a perversa rainha Atalia, somente oito deles po­ deriam ser cham ados de "bons": Asa, josafá, Joás Am azias, Uzias, Jotão Ezequias e Josias. Não há dúvidas de que Josias foi um grande rei, pois até mesmo o profeta Jeremias usouo com o um exemplo a ser seguido por ou­ tros governantes. "Julgou a causa do aflito e do necessitado", afirmou jerem ias acerca de Josias, ao passo que os reis que o sucederam exploraram o povo a fim de construir palá­ cios luxuosos (Jr 22:11-17). Josias governou durante trinta e um anos (640-609 a.C .) e andou nos cam inhos do Senhor, pois seguiu o exem plo de Davi. Por certo, sua mãe era uma mulher piedosa que guiou seu filho com sabedoria. O rei tinha 8 anos de idade quan­ do o colocaram no trono, de modo que os oficiais da corte foram seus mentores; mas, aos 16 anos, Josias entregou-se ao Senhor e com eçou a buscar sua bênção. A p u r ific a ç ã o da terra (2 C r 3 4 :3 -7 ). Ezequias havia p u rificad o Judá depois de A ca z , enquanto M anassés havia tratado das conseqüências de práticas perversas que ele 574 2 R E I S 21 : 1 - 2 3 : 3 0 próprio havia instituído. Então, Josias, um rapaz de 20 anos de idade, dispôs-se a repa­ rar os estragos feitos peio pai, A m om . Infe­ lizm ente, nem todos os líderes de Judá guar­ daram a lei de Deus e levaram a nação a honrar Jeová a todo tempo. O s quatro reis que suced eram Josias d e sfizeram todo o bem que ele havia feito e entregaram a na­ ção nas mãos dos babilônios. A ascensão e queda de todas as coisas deve-se a sua lide­ rança, e o jovem rei Josias ofereceu ao povo uma liderança espiritual assertiva. Havia bus­ cado ao Senhor desde os 14 anos de idade Jerem ias aos exilados de Judá na Babilônia (Jr 29:1-23), e seu filho, A icão, foi um dos hom ens que co nsu lto u a profetisa H ulda acerca do Livro da Lei (1 Rs 22:12-20). A icão tam bém intercedeu junto ao rei Jeoaquim para que não executasse o profeta Jerem ias (Jr 2 6 :1 6 -2 4 ). D epo is da queda de Judá e de Jerusalém , G edalias, neto de Safã, foi no­ meado governador de Judá. D e seus quatro filho s, o ú nico que tro uxe d e ce p çõ e s foi Jaazanias, que adorou ídolos no tem plo do Senhor, com o revelado a Ezequiel em uma e estava preparado para purificar a terra. Expurgou Judá dos altos e conclam ou o povo de volta à adoração no templo em Je­ rusalém . D estruiu os ídolos e altares co n ­ sagrados a Baal e a outros falsos deuses e profanou os lugares em que o povo adorava visão (Ez 8 :1 1 , 12). O povo estava contribuindo para a m a­ nu ten ção do tem plo, de m odo que o rei ordenou a Safã que dissesse ao sumo sacer­ dote Hilquias para distribuir os fundos entre os trabalhadores e com eçar a fazer as refor­ mas no tem plo. Não bastava apenas acabar esses ídolos. D epois de purificar Jerusalém e Judá, rumou para o norte e, já em Israel (M anassés, Efraim e Naftali), livrou essa re­ gião da idolatria. É interessante observar que o rei de Judá pudesse ter influência e exer­ cer autoridade sobre essas tribos em Israel (Sam aria), mas muitos mem bros de Efraim, M anassés, Issacar e Zebulom haviam com ­ parecido à co m em oração de Páscoa orga­ com a idolatria na terra; o tem plo deveria estar disponível para a adoração do verd a­ deiro Deus vivo. Assim com o havia ocorrido com a reconstrução do tem plo no reinado de Joás (2 Rs 12), não houve necessidade de manter registros detalhados. A liderança é um exercício de m ordom ia, e os líderes devem providenciar para que o trabalho seja feito com integridade e que o dinheiro de n izad a por Ezeq u ias e vo ltad o para casa d eterm in ad o s a agradar ao S en ho r (2 C r 3 0 :1 8 ). D e acordo com 2 C rônicas 3 4 :7 , o rei fez essas viagens pessoalm ente, encabe­ çando a rem oção da idolatria nesses lo cais.5 A reforma no templo (22:3-7; 2 C r 34:813). O décim o oitavo ano de Josias com o rei foi, sem dúvida alguma, extraordinário. Reform ou o tem plo do Senhor, em que o Livro da Lei foi descoberto; fez uma aliança com o Senhor; realizou mais reform as na terra e organizou um a grande co m em o ra­ ção de P ásco a. Tin h a, então, 26 anos de idade. O hom ení que deu andam ento aos planos do rei para reformar o tem plo foi Safã, pai de uma fam ília excep cio n al. Seu filho, G em arias, foi um daqueles que instou o rei Jeoaquim a não queim ar o rolo escrito por Deus seja usado com sabedoria. A d escoberta das Escrituras (22:8-20; 2 C r 34:14-28). É im pressionante que o Li­ Jerem ias, e seu neto, M icaías, ouviu Baruque fazer a leitura do segundo rolo de Jerem ias no templo, relatando-a aos secretários do rei (Jr 36:11 ss). Seu filho, Elasa, levou a carta de vro da Lei tivesse se extraviado dentro do templo! Seria com o perder a Bíblia dentro de uma igreja e passar anos sem sentir falta dela. E provável que esse rolo contivesse os cinco livros de M oisés, mas "Safã leu nele diante do rei" (2 C r 3 4 :1 8 ); isto é, leu passa­ gens escolhidas pelo rei, talvez do Livro de D euteronôm io.6 Safã apresentou ao rei um relatório do projeto de reformas no templo e, d e p o is, co m o se q uase tivesse e sq u e ­ cido, com entou sobre o livro recém-descoberto. Josias teve uma atitude louvável ao expressar seu desejo de ouvir o que o livro dizia e, quando foi feita a leitura para ele, ficou abalado de tanto tem or e tristeza. A m aneira de as pessoas reagirem à Palavra de Deus é um bom indicador de seu apetite espiritual e da intensidade de seu desejo em agradar ao Senhor. 2 R EIS 2 1 : 1 - 2 3 : 3 0 Se, de fato, Safã leu do Livro de D eute­ ronôm io, então o que Josias ouviu nos capí­ tulos 4 a 13 serviu de condenação para o que a nação havia feito de perverso. O s ca­ pítulos 14 a 18 o perturbaram com relação ao que a nação havia deixado d e fazer, en­ quanto a aliança descrita nos capítulos 27 a 30 foi uma ad vertência sobre o qu e D eu s faria se a nação não se arrependesse. Nas estipulações de sua aliança, o Senhor dei­ xou claro que, se a nação desobedecesse à sua lei, seria castigada com severidade. O rei ficou tão com ovido que rasgou suas ves­ tes e ordenou ao sumo sacerdote e a vários oficias que consultassem o Senhor quanto à situação espiritual de Judá. Josias estava com apenas 26 anos de idade e havia com eçado a buscar ao Senhor havia apenas dez anos, no entanto, sua resposta à Palavra de Deus dem onstrou grande m aturidade. H ilquias não consultou Jerem ias sobre esse assunto, nem o profeta Sofonias, um parente de Josias (Sf 1:1) que estava minis­ tra n d o n a q u e la é p o c a . É p o s s ív e l q u e Jerem ias não estivesse em Jerusalém , mas sim com a fam ília em Anatote, e que Sofonias tam bém estivesse fora. D e qualquer modo, a com issão organizada pelo rei encontrou uma serva cap az do Senhor, a profetisa Hulda, cujo m arido, Salum , era encarregado do guarda-roupa real.7 A lém de H ulda, as ou­ tras profetisas que aparecem nas Escrituras são M iriã (Êx 1 5 :2 0 ), D ébora (Jz 4 :4 ), Noadia (N e 6 :1 4 ), a esposa do profeta Isaías (Is 8:3), A na (Lc 2 :3 6 ) e as quatro filhas de Filipe, o evangelista (At 2 1 :8 , 9). A mensagem de Hulda foi apresentada em duas partes. A primeira (2 Rs 22:15-17; 2 C r 34:23-25) foi dirigida "ao homem que vos enviou", significando que, diante da lei de D e u s, Josias era um hom em co m u m , com o o restante do povo de Judá e Israel. A segunda (22:18-20; 34:26-28) foi dirigida "ao rei de Judá", ou seja, a Josias com o um indi­ víd uo com necessid ad es e p re o cu p açõ es espirituais. No que se referia à nação, Deus enviaria, de fato, sua ira por causa da deso­ bediência co ntum az do povo. Porém, com referência a Josias, ele seria poupado do jul­ gamento vindo uro em função de sua vida 575 piedosa e de sua hum ildade diante do Se­ nhor (ver 2 C r 3 3 :1 2 , 23 ). Apesar de Josias ter m orrido em decorrência de ferim entos sofridos num a batalha, desceu à co va em paz, pois N a b u co d o n o so r e seu exé rcito ainda não haviam invad ido a terra. D eus cham ou Josias para junto de si antes que sobreviesse o terrível julgam ento. A alian ça co m o S e n h o r (2 3 :1 -3 ; 2 C r 3 4 :2 9 -3 3 ). A delegação transmitiu a m ensa­ gem de H ulda ao rei, que reuniu im ediata­ m ente os anciãos, sacerdotes, profetas e o povo do reino e lhes contou o que havia ouvido. Em seguida, pediu que, junto s, fi­ zessem uma aliança com o Senhor. A "reno ­ vação da aliança" é uma oco rrência com um ao longo da história do povo de D eus. Q u an ­ do a nova geração estava prestes a entrar em C anaã, M oisés conduziu-os num a reno­ vação da aliança, registrada em Deuteronô­ mio. Em duas ocasiões, Josué pediu que a aliança fosse renovada (Js 8 :3 4 ss; 24 ), com o tam bém o fez Samuel (1 Sm 7:2ss; 12:1 ss). D epois que N eem ias e o povo co m p leta­ ram a reconstrução dos muros de Jerusalém , Esdras liderou-os num a reco nsag ração ao Senhor (N e 8 - 1 0 ) . Em nosso tem po, não devem os supor pelo crescim ento de nossas igrejas nem pela prosperidade de nosso mi­ nistério que o povo de D eus se encontre, necessariam ente, em seu auge. Existem oca­ siões em que a m elhor coisa a se fazer é reafirm ar em com unidade nossa consagra­ ção a Cristo. O rei colocou-se junto a um pilar do tem­ plo (ver 11:14) e leu as palavras da lei para a assem bléia. Entrou em aliança com o povo, prom etendo andar na presença do Senhor em obediência e devoção. Josias deu o exem ­ plo, pois se os líderes não andarem com Deus, de que maneira o Senhor poderá ofe­ recer suas m elhores bên ção s a seu povo? Essa assem bléia não foi um a dem onstração de "religião civil", em que todos obedeciam porque o rei ordenara. Josias suplicou a que entregassem o coração e o espírito ao Se­ nhor em sinceridade e em verdade. A refo rm a da terra (2 3 :4 -2 0 ; 2 C r 3 4 :3 3 ). Em seguida, o rei com eçou a im plem entar as estipulações da aliança e a obedecer às 576 2 REIS 21:1 - 2 3 : 3 0 leis do Senhor. Prim eiro, removeu do tem­ plo tudo o que pertencia aos cultos idóla­ tras, q u e im o u esses o b je to s no v a le do C ed ro m e ordenou que as cin za s fossem levadas a Betei e espalhadas de modo a pro­ fanar o santuário do bezerro de ouro que Jero b o ão havia con stru íd o naq uele lo cal. Também demoliu esse santuário e destruiu tudo o que era associado a ele (2 Rs 2 3 :1 5 ; O s 10 :5 ; Sf 1:4). Tirou de dentro do templo o ídolo abjeto que M anassés havia co loca­ do ali (ver 2 Rs 2 1 :7; 2 C r 3 3 :7 ), queim ou e pulve rizo u aq u ela im agem e espalho u as cinzas sobre os túmulos daqueles que o ha­ viam adorado a fim de profaná-los. Josias des­ truiu as casas dos so d o m itas (prostitutos tem plares; 1 Rs 1 4 :2 4 ; 15 :1 2 ), em obediên­ cia a D euteronôm io 2 3 :1 7 , 18. Além disso, removeu os sacerdotes levíticos que haviam ministrado nos altos por todo Judá (2 Rs 2 3 :8 ), desde a fronteira ao norte (C e b a ) até o extrem o sul (Berseba), profanou esses lugares e levou os sacerdo­ tes para Jerusalém . Não lhes era permitido servir no tem plo, mas recebiam sua parte em alimentos dos sacrifícios. Tam bém pro­ fanou Tofete, o local de sacrifícios humanos no vale de Hinom (ver Is 3 0 :3 3 ; Jr 7:31, 32 e 1 9 :6 , 11-14). Rem oveu os cavalos consagra­ dos ao deus sol e queim ou as carruagens. Imagine usar os átrios do templo com o es­ tábulo! D errubou e destruiu os altares aos exércitos dos céus que A ca z havia colocado no terraço do tem plo (2 Rs 16:1-4, 10-16; 2 1 :3 , 21, 22), que haviam sido rem ovidos por Ezequias e recolocados ali por M anassés (ver Jr 19:13 e 3 2 :2 9 ). Tam bém se livrou dos altares que M anassés havia colocado no átrio do templo. Todas essas coisas foram despe­ daçadas e lançadas no depósito de lixo no vale de Cedrom . Na encosta sul do monte das O liveiras, havia altares p rovid en ciado s por Salom ão para suas esposas pagãs adorarem seus deu­ ses (1 Rs 11:5-7), e Josias removeu e des­ truiu esses altares. A fim de certificar-se de que aquela região nunca mais seria usada para a idolatria, profanou-a enterrando os­ sos hum anos no local (Nm 19 :1 6 ). Levou sua cruzad a até Sam aria, onde destruiu em Betei o santuário colocado ali pelo rei Jeroboão (1 Rs 12:28-33). Tom ou restos m ortais de sacerdotes de Betei, sepultados nos arredo­ res, e queim ou-os no altar, espalhando as cinzas para poluir toda a região. Com isso, cum priu a profecia feita três séculos antes (1 Rs 1 3 :3 1 , 32). Q u an d o Josias viu o túmulo do hom em de D eus que havia profetizado e sse s ato s, o rd e n o u q u e fo sse d e ix a d o intacto. Josias fez por toda a terra de Sam aria o mesmo que havia feito em Betei, destruindo íd o lo s e san tuário s co nsag rad o s a eles e m atando os sacerd o tes idólatras que ser­ viam em seus altares (D t 13:6-11; 1 8 :2 0 ). É im portante não confundir os sacerdotes idó­ latras do v ersícu lo 2 0 com os sacerdotes desobedientes do versículo 8. Estes últimos receberam perm issão de viver em Jerusalém , mas não de servir no altar do templo. Por fim, Josias removeu os diversos m édiuns es­ píritas da terra (2 Rs 2 3 :2 4 ), pessoas que, no passado, foram in cen tivad as pelo rei M a­ nassés a continuar com suas práticas (2 1 :6). Porém , apesar de todo o bem que Josias fez, não pôde im pedir o Senhor de enviar seu ju lg a m e n to so b re Ju d á. O s p e c a d o s de M anassés haviam sido tão grandes que nada evitaria que o S en h o r derram asse sua ira sobre seu povo. A c e le b ra ç ã o da Páscoa (2 3 :2 1 -2 3 ; 2 C r 3 5 :1 -1 9 ). Em vários aspectos, Josias estava seguindo o exem plo do rei Ezequias, ao pu­ rificar a nação da idolatria, fazer os reparos necessários no tem plo, restaurar a adoração e com em orar uma grande festa nacional de Pásco a em Jerusalém . A pesar de todas as festas indicadas em Levítico 23 serem ex­ pressivas e relevantes, a P áscoa era espe­ cialm ente im portante. Dentre outras coisas, lem brava o povo de D eu s de sua origem com o nação no Êxodo, quando o Senhor os livrou da escravidão do Egito. A liberta­ ção havia sido uma dem onstração da graça e do poder de D eus. Ele os tomou para si com o seu povo e entrou numa relação de aliança com eles no monte Sinai. Eram o po­ vo escolhido de D eus, o povo da aliança de Deus, um povo cujo propósito era glorificar o nome do Senhor. 2 RE I S 21 1 - 2 3 : 3 0 Ezequias havia celeb rad o um a grande festa de Pásco a no segundo mês do ano, mas a com em oração prom ovida por Josias ocorreu no primeiro mês. O b serve que, em 2 Crônicas 35, dá-se ênfase aos levitas e à im portância de seu ministério durante a Pás­ coa (vv. 2, 5, 8-12, 14, 1 5, 18). D e acordo com 2 Reis 2 3 :2 2 e 2 C rô nicas 3 5 :1 8 , essa Pásco a foi ain d a m ais g ran diosa do que aquela com em orada no tem po de Ezequias, pois "todo o Judá e Israel [...] se acharam ali" (2 C r 3 5 :1 8 ; ver 3 0 :1 8 ). A Páscoa de Eze­ quias durou duas sem anas, mas na Páscoa de Josias, o povo ofereceu quase o dobro de sacrifício s. Pelo m enos 3 7 .6 0 0 anim ais foram oferecid os, além de 3 .8 0 0 bois. O s sacerdotes e levitas foram pu rificados, san­ tificados e preparados para servir, e estavam presentes muitos levitas que cantaram louvo­ res ao Senhor e tocaram seus instrumentos. Josias obedeceu ao que havia lido na lei do Senhor. O que significa a ad m o estação do rei Josias aos levitas com referência a carregar a arca (2 C r 35:3)? Carregar a arca sagrada havia sido um a in cum b ên cia dos coatitas (Nm 4), mas a nação não era mais um povo peregrino, e a arca havia sido colocada no Santo dos Santos no templo. No que diz res­ peito ao Livro da Lei ter sido perdido e ao fato de ele ser m antido dentro da arca (D t 31:24-29), conjeturou-se que, talvez, a arca tenha sido retirada do templo e escondida durante os dias de perversidade de M anas­ sés e que a arca e o Livro tenham sido sepa­ rados. Sugeriu-se, ainda, que, no lugar da arca, M anassés colocou a imagem que fize­ ra e à qual adorava (2 Rs 23:4-6; 2 C r 3 3 :7 ). O term o hebraico traduzido por "po nde", em 2 C rô nicas 3 5 :3 , tam bém pode ser tra­ duzido por "deixai", de m odo que essa or­ dem pode significar: — Não tragam a arca; no mom ento, não precisam os dela. Não estam os mais pere­ grinando. E possível que alguns dos levitas mais zelosos quisessem acrescentar a presença da arca àquela grande co m em o ração, m es­ mo que não se tratasse de um a estipulação da lei. 577 Josias governou numa época em que a Assíria estava em declínio, e a Babilônia ain­ da não havia chegado a seu auge. Foram tem pos de m ais tran q üilid ade, em que o povo podia viajar sem m aiores perigos. A co m em oração foi, de fato, uma grande reu­ nião do p o vo , tanto de Jud á quanto de Sam aria. O povo de D eus precisa de o ca­ siões com o essa para celebrar em conjunto ao Senhor e a sua bondade e para ter co ­ m unhão uns com os outros. O sa c rifíc io d e sua vida (2 3 :2 8 -3 0 ; 2 C r 3 5 :2 0 -2 7 ). N ínive, capital da Assíria, foi to­ mada por babilônios e medos em 612 a.C ., e a A ssíria en tro u , irre v e rsiv e lm e n te , em declínio. Em 608 a.C ., o Faraó N eco socorreu os assírios com seu exército, lutando contra o s b a b ilô n io s .8 Jo sia s era p a rtid á rio dos babilônios e não gostou de ver os soldados egípcios m archando ao longo da fronteira ocidental de jud á, de modo que conduziu p e sso a lm e n te o e x é rcito de Jud á co n tra N eco. O confronto entre os dois exércitos deu-se cerca de 80 quilôm etros ao norte de Jerusalém , em M egido, onde Josias foi mor­ talm ente ferido. Seus oficiais o levaram de volta a Jerusalém ; lá, ele faleceu e foi sepul­ tado com os reis. Josias não havia recebido ordem algu­ m a do Senhor para interferir no conflito en­ tre o Egito e Babilônia e, no entanto, o Faraó N eco afirm ou que havia sido enviado pelo Senhor para ajudar a Assíria. D e acordo com 2 Crô nicas 3 5 :2 2 , essa mensagem veio "da parte de D eus". O Egito e a Assíria não co n­ seguiram deter a Babilônia, mas pelo fato de N eco haver derrotado Josias, Judá pas­ sou alguns anos sob o controle do Egito (2 C r 3 6 :3 , 4). Josias foi grandem ente pranteado em Judá, e Jerem ias chegou a escrever la­ mentos em hom enagem ao rei (2 C r 3 5 :2 5 ; ver Jr 2 2 :1 0 ). Esses lamentos se perderam e não devem ser confundidos com o Livro de Lam entações. D a m orte de Josias em 608 a .C . até a destruição de Jerusalém pela Babilô nia em 5 8 6 a .C . - um período de vinte e dois anos - o trono de D avi foi o cu p ad o por uma sucessão de quatro reis, sendo três deles fi­ lhos de Josias que não seguiram seu exemplo 578 2 R E I S 21 : 1 - 2 3 : 3 0 de fé. Je o a ca z e Jeo aq uim reinaram ap e­ nas três m eses cada um. Foram dias tristes para o povo de D eus, mas ainda havia um rem an escen te fiel que co n tin u ava seguin­ do ao Senhor e ajudando, a cada geração, aqueles que buscavam ao Senhor. 1. H en ry, Carl F. Twilight of a Creat Civilization. Crossway Books, J 988, p. 15. 2. T ozer, A. W. C 3. Se Manassés estava com 12 anos de idade em 697 a.C., então havia nascido em 709 . a.C. Foi co-regente com o pai de 697 oc/ Te//s tfte Man Who Cares. Chrisíian Publications, p. 138. a.C. a 687 a.C. e governou sozinho nos quarenta e cinco anos seguintes. Tinha 7 anos de idade em 702 a.C., quando seu pai foi acometido da enfermidade grave, e se tornou co-regente cinco anos depois (697 a.C.). Uma vez que Manassés era herdeiro do trono de Davi, sem dúvida seu pai o ensinou a obedecer à Palavra. 4. E bem prováve! que 1 e 2 Crônicas tenham sido escritos e colocados em circulação quando o povo de Judá estava no cativeiro na Babilônia, de modo que o Espírito Santo dirigiu o escritor a enfatizar as mensagens que os exilados precisavam ouvir. Se Deus era capaz de perdoar e de restaurar um homem tão perverso quanto Manassés, não poderia, também, perdoar e restaurar seu povo cativo? O rei Manassés é um testemunho vivo da veracidade da promessa de Deus em 2 Crônicas 7:14. 5. A ênfase em 2 Crônicas é sobre "todo Israel", a união dos dois reinos como povo de Deus. Muita gente piedosa do reino do Norte havia se mudado para Judá, a fim de ficar sob a liderança espiritual dos sacerdotes levíticos no templo consagrado ao Senhor. A menção a Símeão em 34:6 lembra que, em termos políticos, essa tribo fazia parte de Judá (1 Cr 4:24-43). 6. Alguns estudiosos afirmam que esse episódio todo foi uma "fraude piedosa" e que Hilquias "encontrou" o livro a fim de chamar a atenção de josias para a lei de Moisés e para a aliança que Israel havia feito com o Senhor. Mas, por que seria preciso usar de uma abordagem tão desonesta com um rei que demonstrava abertamente seu amor pelo Senhor? Durante o longo reinado de Manassés, a lei de Deus havia sido ignorada e desobedecida explicitamente, e não era nada difícil que a cópia das Escrituras que ficava no templo tivesse sido escondida a fim de ser protegida, tendo, depois, caído no esquecimento. Porém, esse rolo não era a última e única cópia da lei de Deus na terra, uma vez que o sumo sacerdote e outros oficiais do templo certamente possuíam mais cópias. Essa foi a ocasião oportuna para Josias ouvir a lei de Deus, e o Senhor providenciou para que isso ocorresse. 7. Não existe evidência alguma de que esse Salum fosse o tio de Jeremias (Jr 32:7). 8. De acordo com algumas versões de 2 Reis 23:29, o Egito "subiu contra o rei da Assíria", quando, na verdade, os haviam se aliado aos assírios contra a Babilônia. Outra versão diz:, "O Faraó-Neco... subiu ao rei da Assíria". egípcios 13 C h ec o u o F im 2 R ei s 2 3 : 3 1 - 2 5 : 3 0 (2 C rônicas 36) // Jeo acaz. Não temos inform ação alguma so­ bre Joanã e podem os supor que ele morreu quando ainda criança. Q u an d o Josias fale­ ceu, o povo colocou no trono seu filho mais novo, Jeo acaz, passando-o à frente de seus dois irm ãos mais velhos. Seu nome era Salum (Jr 2 2 :1 1 ), mas ao assum ir o trono, foi cha­ mado de Jeo acaz. Ele e Zedequias eram ir­ mãos por parte de paí e mãe (2 Rs 2 3 :3 1 ; 2 4 :1 8 ). E evidente que o Jerem ias m encio­ nado em 23:31 não é o profeta Jerem ias, uma vez que o profeta não era casado (Jr 16:1, 2). l odas as grandes nações com eteram I suicídio." O líder político inglês RiJeo acaz reinou apenas três m eses. Q u an ­ chard C obden fez essa observação, ilustrada, do N eco estava voltando para o Egito, de­ de modo bastante apropriado, pela história pôs Jeo acaz e colocou no trono Eliaquim. do reino de Judá. Não foram golpes milita­ M udou o nom e do novo rei para Jeoaquim res ou políticos externos e inesperados que e impôs um tributo pesado sobre Judá. É bem derrubaram Judá. A nação com eteu suicídio provável que Jeoaquim tivesse uma política ao se deteriorar moral e espiritualm ente de favorável ao Egito, enquanto Jeo acaz favo­ dentro para fora. Esses capítulos narram a recia alianças com a Babilônia, com o havia história trág ica dos últim os anos de um a feito seu pai, Josias. O Faraó encontrou-se grande nação. Podem os observar os passos com Jeo acaz no quartel-general egípcio, em de seu declínio e as decisões de seus reis Ribla, e de lá o levou para o Egito, onde Jeoa­ que arrastaram o povo para a destruição. ca z m orreu. Esses acontecim entos haviam sido preditos pelo profeta Jerem ias. O profe­ 1 . P e r d e r a m s u a in d e p e n d ê n c ia ta disse ao povo para não prantear a morte (2 Rs 23:29-33; 2 C r 35:20 - 36:4) O rei Josias foi um hom em piedoso, com um desejo sincero de servir ao Senhor, mas que com eteu um erro tolo ao atacar o FaraóN e co . Sua in te rfe rê n cia nos assunto s do Egito foi uma decisão política pessoal e não uma ordem recebida do Senhor. Josias que­ ria evitar que o Faraó-Neco ajudasse a Assíria a lutar contra a Babilônia, sem perceber que a Babilônia - e não a Assíria - se mostraria a maior inimiga de Judá. Josias foi m ortalm en­ te ferido por uma flecha em M egido e m or­ reu em Jerusalém . C om a m orte desse rei piedoso, Judá perdeu sua independência e teve de se sujeitar ao dom ínio egípcio. Essa situação estendeu-se de 609 a.C . até cerca de 606 a.C ., quando o Egito retirou-se e a Babilônia assumiu o controle. De acordo com 1 C rô nicas 3 :1 5 , 16, Jo­ sias teve q u atro filh o s : Jo a n ã ; Elia q u im , cham ado posteriorm ente de Jeoaquim ; Matanias, cham ado posteriorm ente de Z e d e ­ quias e Salum , tam bém co n h ecid o com o de Josias, mas sim o exílio de seu filho e sucessor, Salum , pois ele jam ais voltaria a ver Judá (Jr 22:10-12). Porém , ao contrário do pai, Josias, Jeo acaz foi um homem ím pio e um rei perverso e m ereceu o exílio. Jeová cham ou Israel para ser um povo "que habita só e não será reputado entre as n açõ e s" (N m 2 3 :9 ). D e ve ria d epo sitar sua fé som ente no Senhor e não em co n ­ ce ssõ es ou tratados realizad o s por diplo­ m atas astu to s. Israel era a "p ro p rie d a d e p ecu liar" de D eus, um "reino de sacerdo ­ tes" (Êx 1 9 :5 , 6; ver D t 7:6-11). Foi Salom ão quem tirou Israel de sua posição de isola­ m ento e co lo co u a n ação no ce n ário da p o lítica in ternacio nal. Casou-se com setecentas m ulheres (1 Rs 1 1 :3 ), sendo que a m aioria dessas esposas representava trata­ dos firm ado s com governantes e hom ens influentes, pais ou irm ãos dessas m ulheres. Esses tratad os perm itiram o afluxo de ri­ quezas para a nação e a m antiveram afas­ tada de guerras, mas no final, tanto Salom ão 580 2 RE I S 2 3 : 3 1 - 2 5 : 3 0 quanto Israel entregaram-se à idolatria das nações a seu redor (1 Rs 11:1-13). Se o povo de Israel tivesse obedecido ao Senhor e guardado sua aliança, ele os Josias, seu pai, não tinha respeito algum pelo Senhor nem por sua Palavra (Jr 22:1-23). Porém , o novo im pério da Babilônia es­ tava prestes a tom ar o lugar do Egito com o teria colocado à frente das nações (D t 28:1 14), mas sua desobediência redundou em derrotas e na dispersão pelas nações da Ter­ ra. Infelizm ente, a Igreja seguiu o péssim o grande inimigo e senhor de Judá. Seu rei, Nabucodonosor, atacou o Egito, mas a ba­ talha terminou sem um vitorioso, e N abuco­ donosor voltou para a Babilônia a fim de reequipar e de fortalecer seu exército antes de entrar novamente em com bate. Jeoaquim exem plo de Israel e se envolveu com o mun­ do em vez de manter-se separada dele (2 Tm 2 :4 ; Tg 1 :2 7 ; 1 Jo 2:15-17). O s cristãos encontram-se no m undo, mas não são d o mun­ do, o que nos permite ir ao mundo e falar res contribuições da Igreja ao mundo se de­ ram quando ela se parecia menos com ele. Seja separado e diferente! concluiu, equivocadam ente, que, com essa "retirada" da Babilônia, o Egito era forte o su ficie n te para resistir aos b ab ilô n io s, de modo que, depois de passar três anos com o rei vassa lo , rebelou-se co n tra N a b u co d o ­ nosor e se recusou a pagar o tributo anual. Enquanto não podia ir a Jerusalém em pes­ soa, N abucodonosor ordenou que os exér­ 2. citos de algum as de suas nações vassalas atacassem e saqueassem Judá. Esses ataques de Jesus Cristo aos pecadores (Jo 1 7:13-19). Cam pbell M organ com entou que as m aio­ P erd era m sua terra (2 Rs 23:34 - 24:7; 2 C r 36:5-8) U m a v e z que depôs Je o aca z, Faraó-Neco escolheu o segundo filho de Josias para ser o próxim o regente, m udando seu nom e de Eliaquim para Jeoaquim . O s dois nom es sig­ nificam "D eu s estabeleceu", mas seu novo nom e trazia a d esig nação "Je o v á", usada para Deus na aliança, no lugar de "El", nome com um para D eus. C om isso, Faraó-Neco declarava ser o agente do Senhor no gover­ no de Judá. É evidente que o novo rei teve de prestar um juram ento de lealdade a N eco, em nom e de Jeo vá, sendo que sua nova designação serviria para lembrá-lo de suas obrigações. A fim de pagar tributo a N eco, o novo rei taxou o povo de Judá. Jeoaquim reinou durante on ze anos e, durante esse tempo, Judá envolveu-se cada vez mais em conflitos com as nações a seu redor. Je o a q u im e ra um h o m em p e rv e rs o . Q u and o o profeta Urias o censurou e de­ pois fugiu para o Egito, o rei enviou seus hom ens atrás dele a fim de encontrá-lo e matá-lo (Jr 2 6 :2 0 -2 4 ). O profeta Jerem ias anunciou que Jeoaquim não seria prantea­ do quando m orresse, mas que seria sepulta­ do com o um jum ento e não com o um rei (Jr 2 2 :1 8 , 19). Foi Jeoaquim quem cortou em p e d a ç o s e q u e im o u o rolo c o n te n d o a profecia de jerem ias (Jr 36). Ao contrário de foram apenas um prelúdio da grande inva­ são que levaria à destruição de Jerusalém e do tem plo. Isaías havia dito ao rei Ezequias que isso aconteceria (2 Rs 20:12-20), e o rei M anassés havia receb ido a m esm a adver­ tência, mas a ignorou (2 1:10-15). Jerem ias tivera a visão da panela ao fogo voltada para o norte, sim bolizando a invasão vindoura da Babilônia (Jr 1:11-16; ver 4:5-9; 6:22-26). A situação em que ocorreu a morte do rei Jeoaquim deve ser reconstituída a partir de inform ações encontradas em 2 Reis, em 2 Crô nicas e no Livro de Jerem ias. Em 597 a.C ., N abucodonosor foi a Jerusalém casti­ gar o rei rebelde, mas, antes de chegar, seus oficiais já haviam capturado e acorrentado Jeo aq u im , a fim de levá-lo cativo para a Babilônia (2 C r 3 6 :5 , 6). O texto não diz se ele morreu de causas naturais ou se foi exe­ cutad o (2 Rs 2 4 :6 ); o versícu lo m enciona ap enas sua m orte ("d e scan so u Jeo aq uim com seus pais"), mas não fala de seu sepultamento. M orreu em dezem bro de 598 a.C ., antes de N abucodonosor entrar em cena em m arço de 5 9 7 (2 Rs 24:1 Oss). O profeta Jerem ias avisou que Jeo aq u im teria um a morte ignom iniosa e que não seria sepulta­ do. É provável que, quando o rei faleceu, seu corpo tenha sido jogado em alguma cova do lado de fora dos m uros de Jerusaíém . 2 REIS 23 :3 1 - 2 5 : 3 0 581 V iveu um a vida de desgraça e foi, apropria­ dam ente, sepultado de modo vergonhoso. terceiro filho de Josias, foi nom eado rei no lugar de Joaquim .2 3. P e r d e r a m s u a r i q u e z a e (2 Rs 24:8-17; 25:27-30; 2 C r 36:9, 10) 4. P e r d e r a m s u a c id a d e e s e u t e m p l o (2 Rs 24:18 - 25:21; 2 C r 36:11-21) s e u s l íd e r e s N abucodonosor nomeou Joaquim (Jeconias, C onias), filho de Jeoaquim , para o cupar o trono, mas seu reinado durou apenas três meses. Na época, Joaquim tinha 18 anos de id ade.' Q u an d o o rei babilônio chegou a Jerusalém acom panhado de seus oficiais e de seu exército, em m arço de 5 9 7 a.C ., Joa­ quim liderou a fam ília real e os líderes de Judá na rendição ao inimigo. Jerem ias havia predito esse acontecim ento hum ilhante (Jr 22:24-30). O s babilônios tomaram os tesouros do rei e tam bém os tesouros do tem plo do Se­ nhor. Alguns dos utensílios do templo já ha­ viam sido levados para a Bab ilô n ia (2 C r 3 6 :7 ), mas, dessa vez, os babilônios remo­ veram todo o ouro que puderam encontrar. Em seguida, deportaram para a Babilônia mais de dez mil pessoas im portantes, inclu­ sive m em bros da fam ília real, funcionários do governo e artesãos pro em in entes. Foi nessa ocasião que ocorreu a deportação do profeta Ezequiel (Ez 1:1 -3). Tudo isso foi ape­ nas um "an teg o sto " dos a c o n te cim e n to s terríveis que sobreviriam quando N abucodo­ nosor voltasse em 588 a.C . e sitiasse Jerusa­ lém durante dois anos (ver Is 39:1-8; Jr 7:1-15; Ez 20:1-49). Joaquim passou trinta e sete anos no cativeiro babilônio, sendo libertado poste­ riorm ente por Evil-M erodaque, filho e her­ Joaquim havia reinado apenas três m eses quando foi exilad o na Babilônia, mas seu sucessor, Z edequias, ocupou o trono duran­ te onze anos. Zedequias fingiu sujeitar-se aos babilônios, enquanto negociava com os egíp­ cios e dava ouvidos aos líderes do governo de Judá partidários do Egito (Ez 17:11-18). Zedequias jurou em nom e do Senhor que seria fiel ao rei da Babilônia (2 C r 3 6 :1 3 ; Ez 17:11-14). M anteve contatos diplom áticos com a Babilônia (Jr 2 9 :3 ) e chegou até a visitar a corte de N abucodonosor (Jr 5 1 :59 ); mas tam bém enviou representantes ao Egi­ to para buscar a ajuda do Faraó Hofra. Em 605 a.C ., durante o reinado de Joa­ quim, os babilônios haviam deportado para sua capital alguns dos jovens mais distintos de Judá, inclusive D aniel e seus amigos, a fim de prepará-los para cargos oficiais (Dn 1:1, 2). A segunda deportação ocorreu em 597 a.C . (2 Rs 24:10-16), quando mais de d e z m il p e sso a s fo ram e n v ia d a s p ara a Babilônia. A inda assim, Zedequias mostrouse favorável a obter auxílio do Egito e, em 588 a.C ., a situação política mostrou-se ideal para Z edequias revoltar-se contra a Babilônia (2 Rs 2 4 :2 0 ; 2 C r 3 6 :1 3 ). N abucodonosor re sp o n d eu en vian d o seu e x é rcito a Jeru ­ salém , mas quando o exército egípcio mo­ bilizou-se para defender o rei Zedequias, os babilônios recuaram tem porariam ente para lutar contra o Egito. N abucodonosor sabia deiro de N abucodonosor (2 Rs 25:27-30; jr 5 2 :31-34). O falso profeta H ananias havia predito que Joaquim seria liberto a fim de voltar a Judá (Jr 28), mas, ainda que tenha sido tratado com bondade depois de sua anistia, o rei continuou exilado na Babilônia. Sempre que o rei da Babilônia mostrava seus prisioneiros esp eciais em eventos oficiais, colocava o trono de Joaquim acim a do tro­ que não era prudente guerrear em duas fren­ tes ao mesmo tempo. Deus enviou Jerem ias para avisar Zedequias que N abucodonosor no d o s o u tro s re is c a tiv o s . C o n fo r m e Jerem ias havia predito, nenhum dos filhos de Joaquim assentou-se no trono de Davi (Jr 22:28-30), pois M atanias (Zed equias), o uma co alizão para m anter a Babilônia afasta­ da. Porém , N abucodonosor deteve o Egito voltaria (Jr 37), mas Zedequias escolheu con­ fiar no Egito e não no Senhor (Ez 17:11-21). Zedequias chegou a convo car uma "confe­ rência internacional", da qual participaram Edom, M oabe, A m om , Tiro e Sidom (Jr 27), na esperança de que essas nações criassem e, então, voltou para Jerusalém a fim de cas­ tigar Zedequias. 582 2 RE I S 2 3 : 3 1 - 2 5 : 3 0 O ce rco a Jerusalém co m eço u em 15 de janeiro de 588 a.C . e se estendeu até 18 de julho de 586 a.C ., quando a fom e era tão grande que o povo com eçou a co zinhar e a co m er os próprios filhos (Lm 4 :9 , 10). O s invasores penetraram os muros e tomaram a cidade, saqueando e destruindo as casas e ateando fogo à cidade e ao templo em 14 de agosto de 586 a.C . O profeta Jerem ias havia aconselhado Zedequias e seus oficiais a se entregarem a Nabucodonosor, salvan­ do, desse m odo, a cidade e o templo (Jr 21; 38:1-6, 14-28), mas eles se recusaram a obe­ d e c e r à P a la v ra de D e u s e p re n d e ra m Jerem ias com o se fosse um traidor! O s ofi­ ciais o colocaram sob custódia e chegaram a jogá-lo numa cisterna seca, onde o profe­ ta teria morrido, caso não tivesse sido salvo (Jr 38:1-13). Hipócrita e incom petente que era, Zedequias pediu a Jerem ias que pergun­ tasse ao Senhor o que ele deveria fazer (Jr 21), mas o rei se recusou a aceitar a respos­ ta do profeta. A ssim , Zedequias pediu que Jerem ias orasse por eles (Jr 37:1-3), mas o rei mostrou-se um hom em orgulhoso, que recusou humilhar-se e suplicar por si mes­ mo (2 C r 3 6 :1 2 , 13; 2 C r 7:14). Q uand o os soldados babilônios finalm en­ te entraram na cidade, o rei Zedequias fugiu com sua fam ília e seus oficiais, mas foram interceptados nas cam pinas de Jericó e le­ vados presos. A profecia de Jerem ias se cum ­ priu (Jr 34:1-7; ver tam bém caps. 39 e 52). Z edequias foi confrontado por N abucodo ­ nosor em seu quartel-general em Ribla, onde foi declarado culpado de rebelião e senten­ ciado ao exílio na Babilônia. Antes, porém, para dar ao rei uma última m em ória tortu­ rante, os babilônios obrigaram-no a assistir enquanto m atavam seus filhos e, por fim , vazaram seus dois olhos! No exílio, Ezequiel havia profetizado que o rei tentaria escapar, seria capturado e levado para a Babilônia, mas que não veria a cid ad e (Ez 12:1-13). C o m o seria possível Zedequias ver o rei da B abilô nia (Jr 3 4 :2 ), mas não ver a cidad e da Babilônia? Sim ples: depois de ter visto o rei, Zedequias foi cegado por seus inimigos. U m a v e z que term inaram de rem over tudo o que havia de valioso na cidade e no templo, no dia 14 de agosto de 586 a.C . os babilônios concluíram a destruição dos mu­ ros da cidade e atearam fogo em Jerusalém e no tem plo. O s oficiais babilônios captura­ ram os líd eres re lig io so s da cid a d e bem com o os funcionários do rei - aqueles que haviam se oposto a Jerem ias e dado ao rei conselhos insensatos - e os executaram dian­ te de N abucodonosor em Ribla. O s sacer­ dotes haviam profanado a casa do Senhor com ídolos e incentivado o povo a rom per a aliança com Deus (2 C r 3 6 :1 4 ; ver Lm 4:13 e Ez 8 - 9). O s líderes de Judá haviam se recusado a ouvir os servos do Senhor, de modo que Deus enviou seu julgamento (2 C r 3 6 :1 5 , 16). "N ão houve rem édio", e o dia do julgam ento chegou. Som ente os pobres ficaram na terra (2 Rs 2 4 :1 4 ; 2 5 :1 2 ; Jr 3 9 :1 0 ; 4 0 :7 ; 5 2 :1 6 ) para cuidar do que havia resta­ do das vinhas e das lavouras. O rei Zedequias passou o resto de seus dias na Babilônia e, cum prindo a prom essa que o Senhor havia feito por interm édio de Jerem ias (Jr 3 4 :4 , 5), foi sepultado com o che­ fe de Estado. Sem dúvida, não m erecia essa honra, mas o Senhor concedeu-a por am or a Davi, o fundador da dinastia. 5. P e r d e r a m a e s p e r a n ç a (2 Rs 25:22-36; Jr 40 - 44) O s babilônios trataram Jerem ias com bon­ dade extraordinária e lhe deram a opção de ir para a Babilônia ou de perm anecer na ter­ ra (jr 40:1-6). C o m o verdadeiro pastor que era, Jerem ias esco lheu fic a r com o povo, mesm o que a maioria deles tivesse rejeita­ do o profeta e seu ministério durante qua­ renta anos. Entristeceu-se profundam ente ao ver as ruínas da cidad e e do tem plo, mas sabia que a Palavra do Senhor havia se cum ­ prido (2 C r 3 6 :2 1 ). O povo não havia permi­ tido que a terra desfrutasse o descanso que Deus havia ordenado (Lv 25:1-7; 26:32-35), então a terra teria um "sábado" de setenta anos (Jr 2 5 :1 1 , 12; 29:10-14; Dn 9:1-3). O s babilônios nom earam G ed alias go­ vernador de Judá. Ele era neto de Safã, um hom em piedoso que havia servido no go­ verno do rei Josias, e era filho de A icão , que havia apoiado fielm ente o profeta Jerem ias 2 RE I S 2 3 : 3 1 - 2 5 : 3 0 (2 Rs 2 2:1-14; Jr 2 6 :2 4 ). G ed alias garantiu àqueles que perm aneceram na terra que os babilônios os tratariam bem se fossem co o­ perativos, o mesm o conselho que Jerem ias havia dado anteriorm ente aos exilad os de Judá na Babilônia (Jr 29:1-9). Sem dúvida, o povo sabia da prom essa que D eu s havia dado por interm édio de Jerem ias, segundo a qual o cativeiro duraria setenta anos, en­ tão os exilados teriam perm issão de voltar a Judá. O propósito de D eus era lhes dar "o fim que desejais" (Jr 2 9 :1 1 ), mas deveriam aceitar essa p ro m e ssa pela fé e v iv e r de modo agradável ao Senhor. Porém , um grupo de rebeldes liderado por Ismael, um mem bro da fam ília real (2 Rs 2 5 :2 5 ; Jr 4 1 :1 ), decidiu usurpar a autorida­ de de G ed alias (ver Jr 40 - 41 para os deta­ lhes sobre o assunto discutido abaixo). Essa conspiração perversa de assassinato envol­ veu vários fatores. Em prim eiro lugar, Ismael desejava ocupar o trono e se ressentiu por G edalias ter sido nom eado governador e se sujeitado aos babilônios. (Ver Tg 4:1-6.) O s oficiais do exército disseram a G ed alias que o rei dos am onitas havia enviado Ismael para assumir o controle da terra (Jr 40:13-16),3 mas G e d alias recusou-se a acred itar neles. Se G edalias tivesse dado ouvidos a esse conse­ lho sábio e tratado Ismael com severidade, as coisas teriam sido diferentes para o rema­ nescente que p e rm an e ceu em Judá, mas G edalias foi ingênuo demais para ver o que estava acontecendo. O utro fator foi a che­ gada a Judá de um grande grupo de israelitas vindos de terras vizinhas (Jr 4 0 :1 1 , 12). É pos­ sível que essa gente de lealdade duvidosa tiv e sse sido fa c ilm e n te in flu e n c ia d a por Ism ael. Todas as n açõ e s v izin h a s haviam sofrido com a expansão da Babilônia e te­ riam sido libertadas de bom grado. Ismael matou G ed alias e levou o povo cativo, mas Joanã e outros oficiais resgata­ ram os cativos. Ismael e oito de seus homens fugiram para a terra dos am on itas. Joanã tornou-se o novo líder do rem anescente e decidiu que todos deveriam fugir para o Egi­ to em v e z de o b e d e c e r à m ensagem de Jerem ias, perm anecend o na terra e servin ­ do aos babilônios. N um a dem onstração de 583 piedade hipócrita, Joanã e os líderes pedi­ ram a Jerem ias que buscasse a vontade do Senhor sobre essa questão, e o profeta aten­ deu a seu pedido. O Senhor demorou dez dias para responder e, durante esse tempo, provou que poderia mantê-los bem e em se­ gurança na própria terra. A m ensagem de Jerem ias ao rem anes­ cen te (Jr 4 2 :7 -2 2 ) foi transm itida em três partes. Prim eiro, ele lhes deu a promessa de que D eus os protegeria e supriria suas ne­ cessid ades na própria terra (vv. 7-12). Em seguida, advertiu-os de que a decisão de ir para o Egito seria fatal (vv. 13-18). A espada do Senhor poderia alcançá-los no Egito da m esm a form a que havia chegado até eles em sua terra. Não seriam capazes de passar algum tem po no Egito e, depois, retornar a Judá, porque nenhum deles voltaria. Por fim, Jeremias revelou a perversidade no coração do povo, que os levou a mentir para ele e fingir que buscavam a vontade de Deus (vv. 19-22). Esses líderes eram com o muitas pes­ soas nos dias de hoje, que "buscam a vonta­ de de D eus" por meio de vários pastores e amigos, sempre esperando que alguém lhes diga aquilo que já decidiram fazer. O povo de Judá rejeitou a mensagem de D eus e foi para o Egito, levando o profeta Jerem ias co n­ sigo (Jr 43:1-7). Porém , o relato bíblico não term ina com esse tom desanim ador; antes, registra a pro­ clam ação de C iro, de acordo com a qual o rem anescente cativo de Judá poderia voltar a sua terra e reconstruir Jerusalém e o tem­ plo (2 C r 3 6 :2 2 , 23). O Livro de Esdras com e­ ça com essa proclam ação (Ed 1 :1-4) e conta a história do regresso desse rem anescente a sua terra. Esse decreto foi publicado em 538 a .C ., quando C iro derrotou a Babilô nia e estabeleceu o im pério persa. O s babilônios com eçaram seus ataques a Judá quando o exército invadiu o reino do Sul, em 606-605 a .C ., e depo rtou p risio neiro s, dentre eles D aniel e seus am igos. D e 606 a.C . a 538 a .C ., passaram-se aproxim adam ente setenta anos, o período anunciado por Jerem ias (Jr 2 5 :1 1 , 12; 2 9 :1 0 ). Alguns estudiosos prefe­ rem com eçar a contagem com a destruição do tem plo em 586 a.C . Setenta anos depois, 584 2 REIS 2 3 : 3 1 - 2 5 : 3 0 em 516-515 a.C ., o templo foi consagrado e o cativeiro chegou oficialm ente ao fim. C om o haviam feito com tanta freqüên­ cia ao longo de sua história, os líderes de Judá viveram em função de tramas e de cons­ pirações, em vez de crer nas prom essas de D e u s. Jerem ias havia dado e sp e ra n ça ao povo, prom etendo que Deus estava com eles e que providenciaria para que ficassem em segurança e voltassem a sua terra (Jr 2 9 :1 1 ). Porém , ao fugir para o Egito, os líderes dei­ xaram para trás todas as esperanças, pois lá morreram e foram sepultados. Infelizm ente, o profeta Jerem ias, que havia sido tão fiel e sofrido tanto pelo povo e pelo Senhor, aca­ bou sepultado em algum lugar do Egito que caiu no esquecim ento. Ao chegar ao final deste relato do declí­ nio e d estru ição trág icos de um a grande nação, devem os co n sid e rar seriam ente al­ gumas lições. A ascensão de um p o v o é d i­ retam ente p ro p o rc io n a l a sua a d o ra çã o a D eus. A nação de Israel foi dividida em dois re in o s co m o re su lta d o dos p e c a d o s de Salom ão, que adorou ídolos a fim de agra­ dar a suas esposas pagãs. Um a vez que o povo do reino do Norte, Israel, entregou-se à idolatria e abandonou o verdadeiro Deus que agradava o povo. A fim de adverti-los so bre essa in sen satez, D eu s levantou ho­ m ens e m ulheres in confu nd ivelm en te dis­ tintos, que procuraram agradar o Senhor. Porém, essas testemunhas fiéis foram igno­ radas, abusadas e m artirizad as. O dram a­ turgo e cético G eorge Bernard Shaw definiu, incorretam ente, o m artírio co m o "a única maneira de um hom em incom petente ficar fam oso". As pessoas que sofreram e m orre­ ram pela fé possuíam as aptidões q u e ha­ viam receb ido de D eus para confiar nele, co locar a verdade e o caráter à frente das mentiras e da popularidade e se recusar a fazer com o a maioria, conform ando-se com a superficialidade e o pecado do mundo. Neste m om ento crítico da história, Deus está à procura de pessoas diferentes - não de cristãos que seguem os m odism os, do tipo "m aria-vai-co m -as-o u tras". V iv e r em am izade com o mundo é viver em inim iza­ de com D eus (Tg 4 :4 ); am ar e co n fiar no mundo é perder o am or do Pai (1 Jo 2:151 7). Devem os ser "sacrifícios vivos" para o Senhor (Rm 12:1, 2), pessoas diferentes cuja vida e testem unho apontam para Cristo e brilham com o luzes em m eio à escuridão. "N ão se pode esconder a cidade edificada vivo, seu povo foi levado cativo para a Assíria. Judá tam bém não dem orou a sucum bir e, por fim, foi capturada pela Babilônia. Torna- sobre um m onte" (M t 5 :1 4 ). C re r é viver sem tram ar. Se co m e ça rm o s a ra c io n a liza r os ensinam entos bíblicos acerca da ob ed iên ­ mo-nos sem elhantes ao deus a quem adora­ mos (Sl 11 5 :8 ). Se nos recusarm os a adorar o verdadeiro Deus vivo, serem os tão vulne­ ráveis quanto os ídolos que nos cativam . Israel e Judá se desviaram , pois foram conduzidas por pessoas conform istas, gen­ te fraca que seguia o exem plo da m aioria e cia ao Senhor e da separação do pecado, logo nos verem os escorregando aos poucos 1. Em algumas versões, 2 Crônicas 36:9 diz "oito anos para fora da luz, caindo nas sombras e, de­ pois, na mais com pleta escuridão, até term i­ narm os envergonhados e derrotados. "A quele, porém , que faz a vontade de D eus perm anece eternam ente" (1 Jo 2 :1 7 ). de idade", mas o fato de ele ter duas esposas (2 Rs 24:15) torna essa informação extremamente duvidosa, além do que é pouco provável que Nabucodonosor nomearia uma criança pequena para liderar uma nação vassala. Depois de apenas três meses de reinado, Joaquim foi colocado numa prisão na Babilônia (24:15), algo que o inimigo dificilmente faria com uma criança. Assim como o latim antigo, a língua hebraica emprega as letras do alfabeto para expressar números. A diferença entre "oito" e "dezoito" é a presença de um símbolo parecido com um "gancho" sobre as letras que expressam o número dezoito e, caso a pessoa que copiou o manuscrito tenha deixado de acrescentar esse "gancho", o erro pode ter sido registrado e copiado. Esses erros ocasionais de escribas não afetam, de modo algum, a inspiração das Escrituras e não envoivem qualquer um dos principais ensinamentos da Bíblia. 2. A oração "ao tio paterno deste", em 2 Reis 24:1 7, refere-se ao pai de Joaquim, cujo irmão era Matanias (Zedequias) e, portanto, tio de Joaquim. Zedequias foi o último governante do reino de Judá. De acordo com o profeta Jeremias, nenhum 2 REIS 2 3 :3 1 - 2 5 : 3 0 585 filho de Joaquim (Conias) ocuparia o trono de Davi, palavras estas que, de fato, se cumpriram. Depois do exílio, quando o remanescente voltou a Judá a fim de reconstruir o templo, um dos líderes foi Zorobabel (Ed 3:8; Ag 1:1 e 2:20-23), descendente de Joaquim (Jeconias) por Saiatiel (Mt 1:11, 12). Porém, apesar de vir da linhagem de Davi, Zorobabel nunca ocupou o trono de Davi. Jeconias jamais estabeleceu uma dinastia reai. 3. Talvez os amonitas tivessem esperanças de restaurar a coalizão descrita em Jeremias 27 e de se revoltar contra a Babilônia. É evidente que isso teria sido contrário à vontade de Deus, mas Ismael não hesitaria em aproveitar a oportunidade de se tornar o novo líder de Judá. Esdras ESBOÇO II. O POVO É RECONSAGRADO - Tema-chave: A restauração espiritual do co ­ ração do povo de Deus Versículo-chave: Esdras 7:10 1. 7-10 A chegada de outro grupo com Esdras - 7 - 8 2. A confissão dos pecados - 9 3. A purificação dos pecados - 10 I. A NAÇÃO É RESTAURADA 1 6 CONTEÚDO 1. 1. - 2. Um rem anescente regressa com Zorobabel e Josué - 1 - 2 A reconstrução do templo 3 -6 (1) O início das obras - 3 (2) A oposição às obras - 4 (3) A continuação das obras - 5 (4) A conclusão das obras - 6 2. 3. 4. A providência de Deus (Ed 1 - 3 ) ................................................................587 A fidelidade de Deus (Ed 4 - 6 ) ................................................................594 A boa mão de Deus (Ed 7 - 8 )............................................................... 600 A graça de Deus (Ed 9 - 1 0 ) ............................................................ 607 1. A LIBERTAÇÃO DOS CATIVOS 1 A P r o v id ê n c ia (E d 1:1-4) de D eu s Esdras 1 - 3 n raças a Deus por ele nos dar coisas di- V J fíceis para fazer!", escreveu O sw ald Cham bers em sua obra M y U tm ost for His H igh estJ D isco rd ei dessa d e claração da prim eira v e z que a li, m as, naquela é p o ca, era jo ­ vem e in exp erien te e parecia m uito mais inteligente fa z e r as co isas fá ce is que me conferiam um a ap arên cia de su cesso. Po­ rém, vivi tem po o suficiente para co m p re­ e n d e r a s a b e d o r ia d e s s a s p a la v ra s de Cham bers. A prendi que, quando D eus nos pede para faze r co isas d ifíce is, é porque d e se ja p ro m o ve r nosso cre s c im e n to . A o co n trário da m ídia e de outro s fo rm ad o ­ res de o p in ião , D eu s não cria heróis artifi­ ciais; ele p ro d u z heróis v e rd ad e iro s. Nas palavras de D an iel B o o rstin: " O herói é um grande ho m em ; a ce le b rid a d e é um gran­ de n o m e ".2 N a G aleria dos H eróis de D eus, podese enco ntrar o nom e dos quase cinqüenta mil ju d e u s que, em 5 3 8 a .C ., tro caram o ca tiv e iro na B ab ilô n ia pelas re sp o n sab ili­ dades em Jerusalém . D eus os cham ou de volta para casa a fim de realizar um a tarefa d ifícil: reco n stru ir o tem plo e a cid ad e e restaurar a co m unid ade ju d aica na própria terra. Essa nobre iniciativa envolveu quatro m eses de viagem , m uita fé, coragem e sa­ crifício . E m esm o depois de chegar à Terra Santa, a vid a não foi nada fácil. Porém , ao ler o relato inspirado, vem os a orientação providencial do Senhor do início ao fim , e "Se D eus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8 :3 1 ). Vem os a providência de D eus operan­ do em três acontecim entos-chave. M ais de um século antes, o profeta Isaías havia advertido o povo de Judá que seriam levados cativos pela Babilônia e castigados por seus pecad os (Is 6 :1 1 , 12; 1 1 :1 1 , 12; 39:5-7) e sua profecia se cum priu. Em 605 a.C ., N abucodonosor deportou a fam ília real e le vo u os u te n s ílio s do tem p lo para a Babilônia. Em 597 a.C ., enviou para o exílio sete mil "h o m en s valentes" e mil artífices (2 Rs 24:10-16) e, em 586 a.C ., destruiu Je­ rusalém e o templo e exilou o restante da população de Judá, com exceção dos "mais pobres da terra" (2 Rs 25:1-21). Em 538 a.C ., C iro, o G ran d e, rei da Pérsia e conquistad or da Babilô nia, publicou um decreto perm itindo que os exilados de Judá na Babilônia voltassem para sua terra e re­ construíssem seu tem plo. Esse acontecim en­ to também foi predito por Isaías (Is 4 4 :2 8 ). A quilo que C iro fez vinte e cin co séculos atrás nos lem bra de algumas verdades espi­ rituais im portantes. Deus é fiel à sua Palavra. Durante pelo menos quarenta anos, o profeta Jerem ias ha­ via advertido os líderes de Judá de que o exílio na Babilônia era inevitável (ver Jr 20:46; 2 1 :7-10); instou-os a arrepender-se de seus pecados e a entregar-se aos babilônios. Só assim poderiam salvar a cidade e o templo da destruição. O s líderes não deram ouvi­ dos - na verdade, cham aram Jerem ias de traidor e a C idade Santa e o tem plo foram destruídos em 587-586 a.C .. Porém , Jerem ias tam bém anunciou que o cativeiro se estenderia por setenta anos (Jr 25:1-14; 2 9 :1 0 ; ver Dn 9 :1 , 2). O s estudio­ sos da Bíblia não apresentam um consenso quanto ao cálculo das datas desse período - se ele co m e ça com a invasão dos babi­ lônios em 6 0 6 a.C . ou com a destruição da cidade e do templo em 587-586 a.C . D e 606 a 5 3 7 -53 6 a .C ., qu and o o re m an e sce n te voltou a Judá, tem-se um período de setenta anos. No entanto, esse tam bém é o tempo transcorrido entre a queda de Jerusalém (586 a.C .) e a conclusão do segundo tem plo em 516 a.C .. Q u alq u er que seja o cálculo ado­ tado, a p re visão e seu cu m p rim e n to são 588 ESDRAS 1 e sp a n to so s.3 Q u e r pro m eta castig ar quer abençoar, D eus sem pre é fiel à sua Palavra. "N em uma só prom essa caiu de todas as boas palavras que falou de vós o S e n h o r , vosso D eus" (Js 2 3 :1 4 ). "N em uma só pala­ vra falhou de todas as suas boas prom essas" (1 Rs 8 :5 6 ). "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (M t 2 4 :3 5 ). Deus é fiel à sua aliança. Apesar de seus pecados, os exilados eram o povo escolhi­ do de D eus, filhos da aliança que ele havia feito com Abraão, Isaque e Jacó (G n 12:13). A nação havia rom pido a aliança, mas o Senhor perm aneceu fiel à sua Palavra. H a­ via cham ado o povo de israel a fim de ser bênção para toda a Terra e providenciaria para que cum prisse sua m issão. Por inter­ médio dos judeus, o mundo receberia o co ­ n h ecim en to do ú nico e verd ad e iro D eus vivo, a Palavra escrita de Deus e, por fim, o Salvador do m undo. "A salvação vem dos judeus" (Jo 4 :2 2 ). É Deus quem controla as nações. Foi o S enho r quem levantou N ab u co d o n o so r "m eu servo" (Jr 2 5 :9 ; 2 7 :6 ; 4 3 :1 0 ) - para disciplinar o povo de Judá e foi ele quem levantou Ciro para derrotar os babilônios e estabelecer o im pério persa. "Q u em susci­ tou do O riente aquele a cujos passos segue a vitória? Q u e faz que as nações se lhe sub­ metam, e que ele calque aos pés os reis [...]?" (Is 4 1 :2; ver também o v. 25). O Senhor cha­ mou Ciro de "meu pastor" (Is 4 4 :2 8 ) e de seu "ungido" (45:1), e Isaías profetizou que Ciro libertaria os exilados e permitiria que re­ construíssem sua cidade e seu templo (45:13). O povo de Deus deve se lembrar de que o Senhor é soberano sobre todas as nações e pode fazer o que lhe aprouver com os mais p o d e ro so s dos g o v e rn a n te s. N a b u c o d o ­ nosor teve de aprender essa lição do modo mais difícil (Dn 4:28-32), mas então confes­ sou que D eus é aq uele: "cu jo dom ínio é sem piterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os m oradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os m oradores da terra; não há quem lhe possa deter a m ão, nem lhe dizer: Q u e fazes?" (Dn 4 :3 4 , 35). D eus pode faze r o que bem entender com os governantes da terra, com o dem ons­ trou ao tratar com o Faraó (Êx 9 :1 6 ; Rm 9 :1 7 ), com A ssu ero (Livro de Ester), com S e n a q u e rib e (2 Rs 1 9 :2 8 ), co m C é s a r A ugusto (Lc 2 :1 ) e co m H e ro d e s A gripa I (At 12:20-24). O rei Josafá se expressou per­ feitam ente: "Ah! S e n h o r , D eu s de nossos pais, porventura, não és tu D eus nos céus? Não és tu que dom inas sobre todos os rei­ nos dos povos? Na tua m ão, está a fo rça e o poder, e não há quem te possa resistir" (2 C r 2 0 :6 ). As pessoas não precisam ser cristãs nem tem entes a D eus para ser usadas por ele. Seja um prefeito, um governador, um sena­ dor, um primeiro-ministro, um em baixador ou um presidente, D eus pode exercer seu poder soberano, a fim de realizar seus pro­ pósitos para seu povo por m eio deles. Esse é um dos motivos pelos quais Paulo exorta os cristãos a orar por aqueles que se enco n­ tram em cargos de autoridade, não para que nossos interesses políticos se realizem , mas para que se faça a vontade de Deus aqui na terra (1 Tm 2:1-8). "D eus pode dar um golpe perfeito com uma vara torta", disse o prega­ dor puritano John W atson - e foi exatam en­ te o que fez com Ciro! O decreto do rei reconhecia o Senhor explicitam ente e o cham ava de " O S e n h o r , D e u s d o s c é u s " (Ed 1 :2 ), títu lo u sa d o d e z e s se te v e z e s em E sd ras, N e e m ia s e Daniel. O decreto foi dirigido a dois grupos: (1) os que desejavam retornar a sua terra; e (2 ) os q u e p re fe ria m p e rm a n e c e r na Babilônia. Esse último grupo foi incentivado a dar ofertas a fim de ajudar a financiar as d e sp esas de viag em e a re sta u ra çã o do tem plo.4 O s exilados de Judá tam bém aceitaram ofertas de seus vizinhos gentios (v. 6). Q u an ­ do os hebreus deixaram o Egito, desp oja­ ram os egípcios (Êx 12:35, 36) e tomaram para si os salários que os hom ens deveriam ter recebido durante seus anos de escravi­ dão. No caso da Babilônia, o povo de Deus estava fazendo seu "êxo do " do cativeiro, de modo que coletaram riquezas de seus v izi­ nhos pagãos e as consagraram ao Senhor.5 ESDRAS 1 - 3 2. A VOLTA DO REMANESCENTE (E d 1:5 - 2:70) D eus não apenas moveu o espírito de Ciro a fim de que libertasse os cativos (Ed 1:1), com o tam bém tocou o co ração de seu povo, dando-hes o desejo de voltar a Judá (v. 5). "Porque D eus é quem efetua em vós tanto o querer com o o realizar, segundo a sua boa vo n ta d e " (Fp 2 :1 3 ). O m esm o D eus que determ ina o fim (a reconstrução do templo), também provê os m eios para alcançar esse fim - nesse caso, um povo disposto a ir a Judá e trabalhar. O te so u ro (1:5 -1 1 ). O s viajantes não le­ varam apenas seus pertences pessoais, mas tam bém 5 .4 0 0 utensílios de ouro e de prata do templo que haviam sido levados de Jeru­ salém por N abucodonosor (2 Rs 25:8-17; Jr 52:17-23; Dn 1:2 ; 5:1-3). Esses objetos fo­ ram catalogados m inuciosam ente pelo te­ soureiro e enviados a Sesbazar, que havia sido nom eado governante de Judá. Q u em era Sesbazar? Ele é m encionado quatro vezes em Esdras (1 :8 , 11; 5 :1 4 , 16), mas nenhum a vez em qualquer outro livro do pós-exílio. É cham ado de "p rín cip e de Judá" (1 :8), título que pode significar "líder" ou "cap itão " e, com freqüência, se referia aos chefes das tribos de Israel (Nm 1:16, 44; 7:2 ; Js 9:15-21). O term o "Judá" em Esdras 1:8 diz respeito ao distrito de Judá no im pé­ rio persa, e não à tribo de Judá, de modo que Sesbazar era o líder que havia sido no­ m eado so bre "os filho s da p ro v ín cia [de Judá]" (Ed 2 :1 ). Vários estudiosos da Bíblia acreditam que Sesbazar era outro nom e de Z orobabel, o governador de Judá que, juntam ente com o sumo sacerdote Josué, dirigiu o trabalho do rem anescente na reconstrução do tem­ plo. Ele é m encionado vinte vezes nos livros do pós-exílio e, de acordo com 1 C rônicas 3:16-19, era neto do rei Jeoaquim e, portan­ to, um descendente de Davi. Esdras 5 :1 6 afirm a que Sesbazar lançou os alicerces do tem plo, enquanto Esdras 3:813 atribui esse ato a Z o ro b ab e l, o que é confirm ado por Z acarias 4 :9 . Parece lógico concluir que Sesbazar e Zorobabel eram a m esm a p esso a. N a q u ele tem p o , não era incom um as pessoas terem mais de um me, especialm ente os jud eus nascidos terras estrangeiras. Ao som ar os núm eros apresentados Esdras 1 :9 ,1 0 , tem-se um total de 2 .4 9 9 589 no­ em em ob­ jetos, enquanto o versículo 11 fala de 5 .4 0 0 objetos. Trata-se de uma contradição? Não n ecessariam ente, pois era im portante que Zorobabel e os líderes m antivessem um in­ ventário detalhado dos tesouros do templo, de m odo que é praticam ente impossível que tenham com etido um erro dessas propor­ ções. A afirm ação em 1 :1 0 : "m il outros obje­ tos" indica que os versículos 9 e 10 listam os objetos m aiores e mais valiosos, enquanto vários objetos m enores nem sequer foram listados em categorias. O s líd e re s (2 :1 , 2 ). U sando com o refe­ rência a lista paralela em Neem ias 7. deve­ mos acrescentar o nom e de N aam ani (Ed 2 :7 ; Ne 7:7), resultando num total de doze hom ens, um para cad a tribo de Israel. O N eem ias no versículo 2 não é o hom em que reconstruiu os muros de Jerusalém , pois esse N eem ias só entrou em cena em 4 4 4 a.C . Tam bém , o M ordecai que aparece na lista não é o mesm o do Livro de Ester. "Jesua" é Josué, o sumo sacerdote, m encionado vinte e três vezes nos livros do pós-exílio. Foi um mem bro im portante da liderança do rem a­ nescente e serviu ao lado do governador, Z orob ab el. Em term os geográficos, o reino do Sul (Judá) abrangia som ente as tribos de Judá e Benjam im ; porém , ao longo dos anos, m em ­ bros das outras dez tribos haviam se muda­ do para Judá, de modo que todas as doze tribos encontravam-se representadas no ca­ tiveiro. A Bíblia não faz m enção alguma de "dez tribos perdidas"; ao que parece, sabiase do paradeiro das doze tribos (Tg 1 :1; At 2 6 :7 ). A ascensão e queda de todas as coisas na obra de Deus deve-se à liderança. Q u an ­ do D eus tem algo a realizar, cham a homens e m ulheres dedicados a desafiar e liderar seu povo. Um declínio na qualidade dos líderes de um a nação ind ica a im in ên cia de pro­ blem as. D e acordo com o ensaísta inglês W alter Savage Landor: "Q uando a sombra de 590 ESDRAS 1 hom ens tacanhos torna-se cada vez maior, é sinal de que o sol está se pondo". As famílias e c/ãs (2:3-35). As longas lis­ tas de nom es que aparecem nas Escrituras pois sem eles não haveria motivo algum para reconstruir o tem plo. Q uatro grupos de sa­ cerdotes totalizaram 4 .2 8 9 hom ens, que se­ riam auxiliados por 342 levitas, sendo alguns podem não ser interessantes para os leito­ res de um m o d o geral, mas são extrem am en­ te im portantes para a história do povo de D e u s. A m enos que esteja em jogo um a herança, hoje em dia a maioria das pessoas se p reocu pa mais com o com p ortam ento de seus descendentes do que com a linha­ gem de seus antepassados. No entanto, não deles cantores e porteiros. O s levitas tam ­ bém ajudavam os sa cerd o tes na tarefa de ensinar ao povo as leis do Senhor (D t 33:810; Ne 8:5-8). se pode dizer o mesm o do povo de Deus no Antigo Testam ento. Por vários motivos, era necessário que fossem capazes de pro­ var suas origens. Em prim eiro lugar, a m enos que um a pessoa pudesse provar sua ascendência, não lhe era perm itido particip ar dos inúm eros direitos e privilégios do povo de D eus. O s israelitas eram um povo que havia recebido de Deus uma missão im portante a ser cum ­ prida aqui na terra e não poderiam permitir que pessoas de fora os corrom pessem . Além disso, os judeus que regressavam a Judá não poderiam voltar a tomar posse dos bens de sua fam ília, a menos que fos­ sem capazes de com provar sua linhagem. É evidente que tam bém era de grande im por­ tância que os sacerdotes e levitas atestas­ sem suas origens, uma v e z que, de outro m odo, não poderiam servir no templo nem participar dos benefícios desse serviço, tais com o os dízim os e ofertas e as porções que lhes eram designadas dos sacrifícios. Nos versículo s 3 a 2 0 , são listados os nom es de dezoito famílias de judeus, num total de 1 5.604 homens. Ao fazer um censo, o povo de Israel costumava contar os homens com 21 anos de idade ou mais (Nm 1:1-4). Porém, não se sabe ao certo se esse foi o procedim ento usado nesse caso. Em Esdras 2:21-35, os voluntários foram relacionados de acordo com vinte e uma cidades e vilas, num total de 8.540 homens. Não sabemos o nome de todos esses 2 4 .4 1 4 hom ens, mas eram im portantes para o Senhor e para o futuro de sua nação e ministério ao mundo. O s sacerdotes e levitas eram esp e cial­ m ente im portantes para a nação (vv. 36-42), os designa em hebraico é nethinim , que sig­ nifica "aqueles que foram co n ce d id o s", e parece se referir aos prisioneiros de guerra entregues aos sacerdotes para realizar as ta­ refas mais servis do templo (ver Js 9 :2 3 , 27 e Nm 3 1 :30, 47). E provável que os "servos de Salomão" constituíssem um grupo semelhante O s 392 "servidores do templo" (Ed 2:4354) e os "filhos dos servos de Salom ão" (vv. 55-58) eram homens que serviam no templo sem ser levitas nem sacerdotes. O termo que de homens, estabelecido durante o reinado de Salomão. Oitenta anos depois, Esdras te­ ria de cham ar mais levitas e servidores para ajudar no ministério do templo (Ed 8:15-20). O s desqualificados (2:59-63). 652 pes­ soas não foram capazes de com provar sua linhagem jud aica (as cidades m encionadas ficavam na Babilônia e não em Judá). Zorobabel e Josué não m andaram essas pessoas de volta; antes, permitiram que tivessem os direitos de "forasteiros e estrangeiros" (Êx 2 2 :2 1 , 2 4 ; 2 3 :9 ; Lv 1 9 :3 3 , 3 4 ; D t 1 0 :1 8 ; 1 4 :2 9 ). O texto não diz quantos sacerdotes não co n seg u iram a p resen tar c re d e n c ia is ad e­ quadas, mas indica que foram excluídos do serviço no tem plo. Sem dúvida, alguns ho­ mens pensaram que poderiam ingressar no sacerdócio e ter uma vida muito mais fácil viven d o em Jerusalém , mas Z orob ab el rejeitou-os. D eus deixou claro que qualquer pessoa desqualificada que tentasse servir no altar seria morta (Nm 1 :5 1 ; 3 :1 0 ). Esses ho­ mens foram tratados com o "estrangeiros" e re ce b e ra m p e rm issão de a c o m p a n h a r o povo na jornada, mas Zorob abel, o gover­ nador,6 excluiu-os dos privilégios sacerd o ­ tais até que pudessem ser testados por "U rim e T u m im ".7 Tratava-se de um m eio que o sumo sacerdote possuía de saber qual era a vontade de D eus (Êx 2 8 :3 0 ; Nm 2 7 :2 1 ). ESDRAS 1 - 3 O s totais (2:64-67). O total apresenta­ do por Esdras (4 2 .3 6 0 ) exced e em 1 2 .5 4 2 o total obtido ao somar-se os valores indi­ vid u a is fo rn e cid o s ao longo do ca p ítu lo . N eem ias tam bém apresenta um total final de 4 2 .3 6 0 (N e 7 :6 6 ). Porém , ao fo rn ecer essa lista, Esdras não especificou se esses d iverso s grup os re p resen tava m todos os hom ens que partiram da Babilô nia; nem sa­ bem os quantos outros se juntaram ao gru­ po depois de a lista haver sido co n clu ída. E possível que ele tenha contado som ente os hom ens de Judá e de Benjam im , de modo que a d iferença é constituída de viajantes das outras d ez tribos. Sabem os que mais 7.337 servos e servas acom panharam esse grupo, o que dem ons­ tra uma atitude louvável dos seus senhores judeus, pois esses servos (escravos?) pode­ riam ter sido vendidos na Babilônia e per­ m anecido lá. Ao que parece, preferiram ficar com os judeus. A grande quantidade de ser­ vos (um sexto do total) tam bém indica que alguns dos ju d eu s haviam en riq u ecid o na Babilônia. O s duzentos cantores (Ed 2 :6 5 ) não fa­ ziam parte do m inistério do tem plo, mas eram "cantores seculares" que se apresen­ tavam em ocasiões festivas, com o casam en­ tos (v e r 2 C r 3 5 :2 5 ). D e sd e o tem po do êxodo (Êx 15), o povo de Israel costum ava co m p or cântico s de glória a D eus e ce le­ brar as bênçãos da vida. As Escrituras citam pelo menos do ze tipos diferentes de instru­ m entos m usicais. O cativeiro na Babilônia não havia sido um tem po de cântico s (Sl 137:1-4), mas, uma vez que os judeus esta­ vam "voltando para casa", tinham m otivos para cantar. 3. A RECONSTRUÇÃO DO TEMPLO (E d 2:68 - 3:13) Esdras não escreveu co isa algum a sobre a longa viagem (m ais de 1 .4 0 0 quilôm etros) nem sobre as exp eriên cias do povo duran­ te esses quatro m eses difíceis. Isso nos lem ­ bra a d escrição sucinta que M oisés faz da viagem de A braão e Sara a C an aã : "Parti­ ram para a terra de C an aã ; e lá chegaram " (G n 1 2 :5 ). "É uma narrativa estranha de uma 591 jo rn a d a", disse A le xa n d e r M aclaren, "que om ite a jornada em si [...] observando ape­ nas seu início e fim. Não são esses, afinal, os pontos mais im portantes de toda a vida, sua direção e sua consecução ?" 8 O investimento nas obras (2:68-70). Sem dúvida, foi um a oferta de ação de graças por o S enh o r ter lhes dado um a jo rn ad a segura. O povo apresentou suas ofertas ale­ gremente, de acordo com suas posses, sen­ do essa a form a correta de o povo de Deus contribuir nos dias de hoje (2 C o 8:8-15; 9:615). D e acordo com Neem ias 7:70-72, tan­ to os líderes das tribos quanto o governador Z o ro b ab e l fizeram ofertas generosas, e o povo em geral seguiu o bom exem plo de seus líderes. A edificação do altar (3:1-3). O sétimo mês era tisri, equivalente a setembro-outubro, um mês bastante sagrado para o povo (Lv 2 3 :3 3 -4 4 ). C o m e çav a com a festa das trom betas; o dia da expiação era com em o­ rado no décim o dia e, do décim o quinto ao vigésimo primeiro dia, comemorava-se a festa dos tabernáculos. Porém , a prim eira coisa que o sumo sacerdote Josué fez foi restau­ rar o altar, para que pudesse oferecer os sa­ crifícios para o povo. O s judeus estavam com m edo das nações poderosas a seu redor que não se mostraram satisfeitas com a volta dos judeus. Assim , o povo desejava ter certeza de que estava agradando ao Senhor. M ais um a vez, vem os um paralelo com Abraão, que edificou um altar assim que chegou à terra de C an aã (G n 12:7). Esse é o retrato que o A ntigo Testam ento ap resen ta para aquilo que encontram os em M ateus 6 :3 3 . Josué tam bém restabeleceu os diversos sacrifícios prescritos pela lei, que incluíam um holocausto a cada manhã e no final da tarde bem com o ofertas adicionais para dias especiais. Não era necessário esperar que o tem plo estivesse pronto para o ferecer sacri­ fícios a D eus. D esde que houvesse um altar santificado, era possível realizar os sacrifícios. A final, o m aior interesse de Deus não é nos aparatos externos, mas sim no coração (1 Sm 1 5 :2 2 ; Sl 5 1 :1 6 , 17; O s 6 :6 ; M c 12:28-34). O lançamento dos alicerces (3:7-13). As obras só co m eçaram no segundo mês do 592 ESDRAS 1 - 3 ano seguinte, o que significa que o povo passou quase sete meses juntando os mate­ riais e se preparando para a co n stru çã o . Salom ão com eçou a construção do prim ei­ ro tem plo no segundo mês (1 Rs 6 :1 ) e usou um procedim ento sem elhante para juntar os materiais (Ed 3 :7 ; 1 Rs 5:6-12). O projeto fi­ cou ao encargo de Josué e Zorob abel, que receberam a assistência dos levitas. "O ra , destruídos os fundam entos, que poderá fa­ ze r o justo?" perguntou D avi (Sl 1 1 :3 ). A ú n ica resposta é: la n çar os fu n d am en to s outra vez! É isso o que significa um reavivam ento espiritual, voltar aos alicerces da fé cristã, certificando -se de que são sólidos: arrependim ento, confissão, o ração, a Pala­ vra de D eus, obediência e fé. O b serve a ênfase na união. O povo se ajuntou (Ed 3 :1 ); os trabalhadores se apre­ sentaram juntos (v. 9); os levitas cantaram em coro (v. 11) e o povo trabalhou o tempo todo em conjunto para lançar os alicerces. Suas tarefas variavam , mas todos tinham diante de si um só objetivo: glorificar ao Se­ nhor ao reconstruir seu tem plo. Era a isso que Paulo estava se referindo quando escre­ veu: "com pletai a m inha alegria, de modo que penseis a m esm a coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alm a, tendo o mes­ mo sentim ento" (Fp 2:2 ). Seguindo o exem plo de D avi, quando levou a arca a Jerusalém (1 C r 16), e de Salom ão, quando consagrou o tem plo (2 C r 7:1-3), os sacerdotes e levitas cantaram lou­ vores ao Senhor, acom panhados de trombetas e de cím balos, e o povo respondeu com um grande clam or, que foi ouvido de muito longe (ver Sl 4 7 :1 ; 106:1; 1 0 7 :1 ; 118:14 ; 1 3 5 :3 ; 1 3 6 ; 145:1 -1 1 .). O povo uniu o coração e a voz para louvar ao Senhor por sua bondade para com eles. Porém, nesse momento, sua união se des­ fez, pois os jovens clamaram com júbilo, en­ quanto os mais idosos "choraram em alta vo z". Por que chorar numa ocasião tão ale­ gre? Porque haviam visto o primeiro templo antes de ser destruído mais de cinqüenta anos antes, e o novo edifício não chegava sequer aos pés daquele (posteriorm ente, Ageu pre­ gou um serm ão sobre isso; ver A g 2:1-9). Esses hom ens e m ulheres piedosos ansiavam pelos "bons e velhos tem pos", mas justam en­ te os pecados de sua geração é que haviam levado à queda do reino! Se sua geração tivesse dado ouvidos ao profeta Jerem ias e obedecido à Palavra de Deus, Jerusalém e o templo ainda estariam de pé. E triste quando a união do povo de Deus se rom pe em função das diferenças de pers­ pectivas entre as gerações. O s mais velhos olham para o passado com sau dade, en­ quanto os mais jovens olham ao redor com alegria. N a verd ade, todos deveriam estar olhando para o alto e louvando ao Senhor por aq u ilo que ele fe z. Sem d úvid a, não podem os ignorar o passado, mas ele deve servir de leme para nos guiar e não de ânco­ ra para nos prender. O povo de Deus é uma família dinâm ica e não um álbum de família estagnado e cheio de fotos antigas; os cristãos são um jardim e não um cem itério coberto de monumentos aos sucessos do passado. Na igreja de hoje, ainda nos deparam os com conflitos sem elhantes de gerações, es­ pecialm ente com relação ao estilo de culto. O s cristãos mais velhos gostam de cantar hinos tradicionais, com seu rico teor doutri­ nário, enquanto os mem bros mais jovens da igreja preferem um estilo co ntem porâneo. Não se trata, porém , de aceitar um estilo e rejeitar o outro, a menos que se queira cau­ sar separação nas famílias e dividir a igreja. A ntes, é uma questão de equilíbrio: os mais velhos devem aprender com os mais jovens e v ic e -v e rs a , um a p re n d iz a d o que d eve acontecer num espírito de am or e de sujei­ ção mútua (1 Pe 5:1-11). Q uand o surgiram, muitos de nossos hinos tradicionais foram rejeitad o s pelos m esm os m otivos que al­ gumas pessoas rejeitam os cânticos atuais. Mas com o disse A lexander M aclaren: "C ada classe [os mais jovens e os mais velhos] deve pro curar co m p ree n d er os sentim entos da outra. O s idosos consideram os jovens re­ volucionários, e os jovens consideram os ido­ sos fósseis paleolíticos. E im possível unir o clam or de alegria e o pranto. A menos que os movim entos progressistas de hoje, ou de qualquer outra ép oca, sejam regidos por um e sp írito de c o n s id e ra ç ã o re ve ren te pelo ESDRAS 1 - 3 passado, não lançarão alicerces firm es para o templo do futuro. Nosso desejo é que os mais jovens e os mais velhos trabalhem lado a lado, a fim de que a obra seja duradoura, e o santuário seja am plo o suficiente para abranger todas as nuanças de caráter e ten­ dências de p e n sam en to ".9 Toda igreja local está a apenas uma ge­ ração da extinção . Se os cristãos mais ve­ lhos não desafiarem e capacitarem os mais jovens e não lhes servirem de exem plo de tem or a Deus (Tt 2:1-8; 1 Tm 5:1, 2), o futuro 593 da congregação corre perigo. A igreja é uma fam ília, e assim com o uma fam ília cresce e am a d u re ce , algum as co isas p re cisam ser deixadas para trás e outras devem tom ar seu lugar. É o que acontece em nossos lares e o que deve acontecer na casa de D eus. Para algumas pessoas, "m udança" é sinônim o de "co n d e scen d ê n cia"; mas quando há amor, a "m u d a n ça" pode tornar-se sinônim o de "co o peração e de preocupação m útuas". "O h ! C o m o é bom e agradável viverem unidos os irm ãos!" (Sl 133:1). Oswald. My Utmost for His Highest (O máximo de mim para o mais sublime de Deus). 7 de julho. 1. C ham bers, 2. B o o r s t in , 3. Da queda de Jerusalém (587-586 a.C.) até o regresso do primeiro grupo de exilados (538 a.C.), passaram-se aproximadamente D a n ie l). The ímage: A Cuide to Pseudo-Events in America. Nova York: Harper and Row, 1964, p. 61. cinqüenta anos. Talvez devêssemos considerar esse período como mais uma prova da misericórdia de Deus, ao reduzir o tempo no cativeiro. 4. Pode parecer estranho que nem todos os judeus tenham escolhido voltar para casa, mas haviam passado várias décadas na Babilônia e retomado uma vida tão normal quanto era possível longe de seu lar e do templo. Na verdade, o profeta Jeremias havia instruído os judeus no exílio a ser cidadãos exemplares (Jr 29:1-7). Na falta de um templo e de um sacerdócio, durante o cativeiro, os judeus desenvolveram os cultos em sinagogas, e, com as sinagogas, surgiram os mestres que conhecemos hoje como escribas e fariseus. A vida no cativeiro não era perigosa nem insuportável e, para muitos judeus, a longa viagem de volta a Judá era um desafio impossível. O Livro de Ester e o Livro de Daniel mostram que Deus tinha missões a serem cumpridas por alguns judeus na Babilônia. 5. É correto o povo de Deus aceitar e usar recursos recebidos de incrédulos para a obra de Deus? Num certo sentido, os babilônios deviam esse dinheiro ao povo judeu, o qual saquearam sem qualquer piedade durante sua invasão a Judá. O profeta Ageu (2:8) deixa claro que toda a riqueza pertence a Deus e ele pode distribuí-ia como lhe aprouver. Porém, devemos seguir o exemplo de Abraão e recusar recursos que poderiam comprometer nosso testemunho ou nos prender a incrédulos (Cn 14:18-24). Deuteronômio 23:17,18 adverte que Deus não deseja receber o dinheiro que é fruto de atividades pecaminosas. 6. O título que, em algumas versões, aparece como "Tirsata" é um termo persa normalmente traduzido por "governador". Neemias recebeu esse mesmo título (Ne 7:65, 70; 8:9; 10:1). Significa "aquele que é temido" e eqüivale a nossos pronomes de tratamento "Vossa Excelência" ou "Vossa Reverência". A esposa de Charles Spurgeon costumava chamá-lo de "Tirsata". 7. O texto não diz por que o sumo sacerdote josué não estava com o Urim e o Tumim, uma parte importante de suas vestimentas sagradas. Ao que parece, durante o cativeiro na Babilônia, os judeus não tiveram os milagres especiais de Deus que os haviam acompanhado até então (Sl 74:9), apesar de os profetas Ezequiel e Daniel terem recebido revelações extraordinárias de Deus. Não existe qualquer evidência bíblica de que o Urim e o Tumim voltaram a ser usados depois do cativeiro. Alexander. Expositions of Hoíy Scrípture. Grand Rapids: Baker Book House, 1974, vol. 1, p. 77. 8. M c la r en , 9. Ibid., vol. 3, p. 290. 2 A F id e lid a d e de D eu s Esdras 4 - 6 em ajudá-los a concluir a obra (Fp 1:6), des­ de que cressem nele e que obedecessem à sua Palavra. N estes três ca p ítu lo s, v e re m o s com o D eus foi fiel a seu povo a cada estágio do trabalho que realizaram para ele. 1 . P r i m e ir o obras / / Ç aberás, pois, que o S e n h o r , teu Deus, < 3 é D eus, o Deus fiel" (D t 7:9). M oisés disse essas palavras à nova geração de israe­ litas, antes de entrarem em C an aã - uma verdade à qual precisariam se apegar quan­ do enfrentassem o inimigo e se aproprias­ sem de sua herança. Tanto as gerações mais recentes quanto as mais antigas precisam ser lembradas de que Deus é fiel. "Fiel é o que vos cham a, o qual também o fará" (1 Ts 5 :2 4 ). Paulo escreveu essas pa­ lavras para alguns novos cristãos em Tessalônica, que estavam sendo perseguidos por causa de sua fé. Essas pessoas precisavam ser lembradas de que D eus nos capacita para aquilo que nos ordena a fazer. C o m o disse A . W . Tozer: "Sendo quem ele é, D eus não pode deixar de ser o que ele é, e sendo o que ele é, não pode agir em oposição a seu caráter. É, ao mesm o tem­ po, fiel e im utável, de modo que todas as suas palavras e atos devem ser e perm ane­ ce r fié is " .1 J. Hudson Taylor, m issionário pioneiro no interior da C h in a, descreveu a vid a cristã bem -sucedida: "não com o uma luta para ter fé [...], mas uma contem plação D aquele que é fiel"2. Taylor conhecia as palavras de Pau­ lo: "se somos infiéis, ele perm anece fiel, pois de m aneira nenhum a pode negar-se a si m esm o" (2 Tm 2 :1 3 ). O rem anescente judeu que havia regres­ sado a Jerusalém para reconstruir o templo dependia da fidelidade de D eus para co n­ duzi-los até o final de sua m issão. Se Deus não fosse fiel a sua aliança nem a suas pro­ messas, não restaria esperança alguma. Po­ rém, o Deus que os havia cham ado seria fiel e s t á g io : a o p o s i ç ã o à s (Ed 4:1-24) Desde o princípio, o rem anescente sofreu a oposição de uma população mista que se encontrava na terra e que não queria que os ju d eu s ocupassem Jerusalém e reco n s­ truíssem o templo. Com freqüência, a oportu­ nidade e a oposição andam juntas, e quanto m aior a op o rtun id ad e, m aior a o p o sição . "Porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversá­ rios" (1 C o 16:9). A cooperação que leva à transigência (w. 1-3). O primeiro ataque do inimigo foi extre­ mamente sutil: o povo de Samaria, o antigo reino do Norte, ofereceu-se para trabalhar com os judeus e ajudá-los a reconstruir o tem­ plo. Essas pessoas diziam adorar o mesmo Deus que eles, de modo que parecia lógico que participassem das obras. As aparências indicavam que os samaritanos estavam agin­ do com o vizinhos piedosos, mas se tratava de uma oferta traiçoeira e perigosa. U m a vez que era uma mistura de várias raças, o povo sam aritano não poderia ser considerado verdadeiram ente judeu. Q u an ­ do os assírios conquistaram o reino do Nor­ te, m isturaram intencionalm ente as na ções que haviam derrotado, o que levou a uma confusão racial e religiosa (2 Rs 17:24-41). O s samaritanos não adoravam o verdadeiro D eu s v iv o , pois "tem iam o S e n h o r e, ao m esm o tem po, serviam aos seus próprios deuses" (2 Rs 1 7 :3 3 ; ver Jo 4 :2 2 ). O s líderes judeus já haviam rejeitado alguns que se di­ ziam judeus no exílio na Babilônia (Ed 2:5963), de m odo que não estavam dispostos a aceitar pessoas da terra que, obviam ente, não pertenciam à nação da aliança e que não poderiam provar sua linhagem judaica. O que havia de tão perigoso na oferta dos samaritanos? Se esse povo de fora co­ m eçasse a se misturar com o rem anescente ESDRAS 4 - 6 jud eu enquanto ajudavam a reco nstru ir o tem plo, não tardaria para que os dois gru­ pos com eçassem a se tornar mais íntim os e realizar casam entos mistos, o que era co n­ trário à lei de M oisés (Êx 34:10-17; Dt 7:111; 12:1-3). Israel era uma nação separada das outras (Nm 2 3 :9 ), pois deveria cum prir no m undo um a tarefa esp e cial que havia recebido de Deus (G n 12:1-3). Se, de algum modo, o povo de Israel fosse corrom pido, o sucesso do m inistério que Deus havia lhes dado estaria em perigo. O povo de D eus, nos dias de hoje, deve manter-se separado e não se envolver com qualquer coisa que o leve a transigir em seu testemunho ou servir de em pecilho para a obra de D eus (2 C o 6 :1 4 - 7:1 ; 2 Tm 2:3-5). Porém , essa sep a raçã o não d eve, em m om ento algum , tornar-se um isolam ento (1 C o 5 :9 , 10), pois Deus tem uma missão para os cristãos cum prirem neste m undo (M t 5 :1 3 - 1 6 ; Jo 1 7 :1 4 - 1 8 ). Je su s foi "sa n to , inculpável, sem m ácula, separado dos peca­ dores" (H b 7 :2 6 ) e, no entanto, foi amigo dos pecad ores e procurou alcançá-los (Lc 15:1, 2; M t 9 :1 0 ,1 1 ; 1 1 :1 9). O povo de Deus se separa do mundo a fim de poder teste­ m unhar para o mundo. A a cu sa çã o q u e leva ao m e d o (vv. 4, 5, 2 4 ). Satanás havia se manifestado com o uma serpente para enganar (2 C o 11:3) e havia fracassado, de modo que apareceu, então, com o um leão para devorar (1 Pe 5 :8 ) e foi bem -sucedido. O inimigo mentiu sobre os judeus e instigou o povo da terra a fazer todo o possível para desanim ar os trabalhadores e im pedir as obras. Chegaram até a contra­ tar conselheiros para influenciar os oficiais da região a fim de interrom per o projeto, e conseguiram o que queriam . "C esso u , pois, a obra da C asa de Deus, a qual estava em Jerusalém " (Ed 4 :2 4 ). Isso ocorreu durante o reinado de C iro (559-530 a .C .), que havia dado aos judeus o direito de regressar a sua terra e de reconstruir seu tem plo. A s obras tiveram andam ento de 536 a.C . a 530 a.C ., mas foram interrom pidas em 5 30 a .C . e só continuaram em 520 a .C ., no reinado de Dario. A derrota não se deveu a algum decreto publicado pelo rei contra eles, 595 mas sim ao fato de o rem anescente judeu ter se deixado intim idar pelo povo da terra. O s judeus com eçaram a se interessar mais na construção das próprias casas do que nas obras da casa de Deus (Ag 1:1-11). M a is o p o siç õ e s à ob ra d e D e u s (vv. 62 3 ). A essa altura da narrativa (vv. 6-23), Esdras cita outros exem plos de obras que sofreram o p o siçã o , in clu sive os a c o n te ci­ mentos ocorridos no tempo de Dario, que reinou de 522 a.C . a 4 8 6 a.C . (vv. 5, 2 4 ); de Xerxes (v. 6, Assuero) - o Assuero do Livro de Ester - que reinou de 486 a.C . a 465 a.C . e de A rtaxerxes I (vv. 7-23), que reinou de 4 65 a .C . a 4 2 4 a .C .. O s escritores da an­ tig ü id ad e co stu m avam re su m ir a c o n te c i­ m entos históricos dessa m aneira antes de dar s e q ü ê n cia ao re lato . O in teresse de Esdras era, sem dúvida, na oposição sofrida enq uanto o tem plo estava sendo re co n s­ truído durante o reinado de C iro e D ario. A digressão extensa nos versículos 6 a 23 refere-se à reconstrução da cidade (v. 12) e não do tem plo. C o m pro va com o alguém sem ­ pre levanta o p o siçã o quand o o povo de D eus se dispõe a servi-lo.3 No sétimo ano de A rtaxerxes l (458-457 a .C .), Esdras, o escriba, levou a Jerusalém um grupo de exilados judeus libertos a fim de recom eçar a construção da cidade (7 :1 ). O s governantes do O riente dependiam de seus o ficiais lo cais, que atuavam co m o espias, para relatar qualquer coisa suspeita. Reum, o o ficial go vernante da região, consultou outros oficiais e decidiu que a reconstrução do tem plo era uma am eaça à paz do im pé­ rio. A ssim , ditou uma carta para o escriba Sinsai e a enviou ao rei. Reum apresentou quatro motivos pelos quais o rei deveria ordenar que os judeus interrom pessem a construção em Jerusalém . Em prim eiro lugar, a história mostrava que Jerusalém era, de fato, rebelde e perversa, algo que, infelizm ente, nem os judeus po­ deriam negar. Reum argum entou que, se Jerusalém fosse restaurada, a cidade se rebe­ laria contra o rei e declararia sua independên­ c ia (4 :1 2 ). 4 Enquanto Jerusalém estivesse em ruínas, não poderia se defender dos exér­ citos do rei. 596 ESDRAS 4 - 6 Em segundo lugar, a independência de Judá causaria um a perda de receita e tribu­ tos para o im pério (v. 13 ).5 Além disso, em terceiro lugar, um a rebelião bem -sucedida seu povo (Sl 3 3 :1 0 , 11). A história da Igreja traria desonra para o rei. Q u e rei iria querer que uma de suas províncias conseguisse se rebelar contra ele? Um a subversão desse tipo M artinho Lutero levaram ao que cham am os de "Reform a", movim ento que transformou não apenas a Alem anha, mas todo o mun­ do cristão. As pregaçõ es de John W e sley geraram um d e sp e rta r e sp iritu al na G rã- seria um incentivo para que outras provín­ cias seguissem seu exem plo. Por fim, se os judeus conseguissem reconstruir a cidade e se rebelassem , sem dúvid a co nquistariam todo o território daquele lado do Eufrates mostra que, quando D eus deseja estimular seu povo a fazer sua vontade, cham a pessoas para proclam ar sua Palavra. A s pregações de Bretanha, que conduziu muitos ao reino de Deus. D e acordo com os historiadores, o reavivam ento wesleiano ajudou a salvar a Ingla­ (v. 16), o que seria extrem am ente prejudi­ cial para o rei e seu im pério. O s oficiais do rei pesquisaram os arqui­ vos e encontraram provas de que os judeus haviam , de fato, sido governados por reis poderosos (Davi, Salom ão, Josias, Ezequias) e tam bém por reis rebeldes, de m odo que as acusações de Reum tinham fundam ento. Durante o período de declínio de Judá, seus reis haviam feito e, depois, rom pido trata­ dos com o Egito, a Assíria e a Babilônia e haviam se recusado a pagar tributos para a Assíria e a Babilônia. Seus próprios registros os condenavam . O rei ordenou que os judeus parassem terra de uma carnificina com o a que ocorreu na França durante a Revolução Francesa. Jam ais subestime o poder da pregação fiel da Palavra de D eus. Charles Spurgeon, o c o n h e c id o pregad o r batista inglês, disse: "N ão posso deixar de im aginar que o ho­ a re co n stru ção da cid ad e. N a verd ad e, é bem possível que os persas tenham destruído aquilo que os judeus já haviam construído e que o relatório recebido por Neem ias de seu mado por D eus para ser profeta (Z c 1:1). Esses dois homens transmitiram a Palavra de D eus aos líderes e ao rem an escen te que "iam edificando e prosperando em virtude do que p ro fe tizaram os profetas A geu e Z acarias" (Ed 6 :1 4 ). A obra feita para o Senhor que não tem com o alicerce a Palavra de Deus não pros­ pera. O sucesso de M oisés com o líder de Israel veio de sua fé e obediência à Palavra de Deus (D t 4 :1 0 ). O sucesso de Josué ao conquistar os inimigos em C an aã baseou-se em sua devoção à Palavra de Deus (Js 1:8). Q u an d o o b e d ecem o s à Palavra de D eus, podem os esperar "grande recom pensa" (Sl 1 9 :1 1 ). Se desejam os experim entar o poder de Deus, precisam os con h ecer a Palavra de Deus (M t 2 2 :2 9 ). D e u s u so u o s o fic ia is da reg iã o (5:31 7 ). C o m o g o v e rn a d o r da p ro v ín c ia de Judá, Tatenai estava preocupado com o que os jud eus estavam fazend o em Jerusalém - irmão fosse uma descrição daquilo que os persas haviam feito, não da destruição cau­ sada pelos babilônios (N e 1:1-3). Só depois da chegada de Neem ias em 445 a.C . é que as obras foram retom adas, e os m uros e portas da cidade foram restaurados. 2. S e g u n d o e s t á g io (E d 5:1 - 6:1 2) D e 530 a.C . a 520 a.C ., os judeus concentraram-se na construção de suas casas e dei­ xaram de lado as obras na Casa do Senhor. Deus disciplinou seu povo a fim de encorajálos a obedecer a suas ordens (Ag 1:6), mas eles se recusaram a dar ouvidos. Q u e meios D eus usou para levá-los a retom ar as obras? D e u s u so u p re g a d o re s da Palavra (5 :1 , 2 ). O mundo foi criado pela Palavra do Se­ nhor (Sl 33:6-9), e é por essa m esm a Palavra que o Senhor governa sobre sua criação e mem que prega a Palavra de Deus não está assentado apenas no alto de uma platafor­ ma, mas também em um trono".6 Ageu com eço u seu m inistério da Pala­ vra em 29 de agosto de 520 a .C . (Ag 1:1), e c in c o de suas m e n sag en s en co n tra m -se registradas no livro com o seu nome. Um ou dois meses depois, juntou-se a ele um rapaz cujo nom e era Z acarias, um sacerdote cha­ e co m ra z ã o . Era re sp o n sa b ilid a d e d ele ESDRAS 4 - 6 proteger os interesses do rei Dario e do im­ pério e providenciar para que a paz e a se­ gurança fossem m antidas na região. Assim , quando as obras foram retom adas, Tatenai investigou o que estava se passando e fez duas perguntas: (1) quem lhes deu autorida­ de para voltar a trabalhar?; e (2) quais os no­ mes dos homens envolvidos na reconstrução? Em vez de imaginarem que o oficial persa estava querendo lhes causar problem as, os ju d eu s responderam a suas perguntas de m odo respeitoso. A final, não tinham o que esco n d e r, e os olhos do S en ho r estavam sobre eles. Deus providenciou para que pu­ dessem continuar com as obras, e Tatenai com unicou-se com o rei a fim de receber instruções sobre o que deveria fazer. O povo de D eus deve "[portar-se] com sabedoria para com os que são de fora" (Cl 4 :5 ) e "com dignidade para com os de fora" (1 Ts 4 :1 2 ), do contrário, é im possível haver testemunho eficaz nos lugares em que ele é mais necessário. "Todo hom em esteja sujei­ to às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de D eus; e as autoridades que existem foram por ele insti­ tuídas" (Rm 1 3 :1 ; ver tam bém 1 Pe 2:11-1 7). Em se tratando da relação dos cristãos com as autoridades, não existe espaço para arro­ gância ou ira carnal disfarçada de zelo pelo Senhor. M esm o quando discordam o s das auto rid ad e s, podem o s fazê-lo re sp e ito sa­ mente (Dn 1; 3; 6; At 4 :1 9 , 2 0 ; 5 :2 9 ; 1 Pe 2:13-25). U m a das coisas que preocupava Tatenai era a estrutura do tem plo, com suas gran­ des pedras e paredes revestidas de madeira. Parecia mais uma fortaleza do que um san­ tuário! E o trabalho prosseguia com tanta rapidez que ele não podia deixar de imagi­ nar se os jud eus estavam planejando uma revolta. O s judeus conheciam sua história e con ­ taram a Tatenai com o o templo foi edificado (cham ando Salom ão de "um grande rei") e por que foi d e stru íd o . R e la ta ra m co m o Nabucodonosor exilou o povo de Judá na Babilônia e com o, várias décadas depois, Ciro lhes deu perm issão de voltar e reconstruir o templo. C iro tam bém lhes deu os tesouros 597 do tem plo, a fim de que o ministério pudes­ se ser restabelecido de acordo com a lei de M oisés. Esses eram os fatos, que poderiam ser verificados pelos secretários do rei em seus arquivos, com provando, assim , que os judeus estavam dizendo a verdade. Tom ando o cu id ad o de ap ro veitar ao máxim o todas as oportunidades (ver Ef 5:15, 16), os trabalhadores judeus elaboraram suas respostas de modo a glorificar ao Senhor. Não tentaram encobrir os pecados de sua n açã o (Ed 5 :1 2 ) e re co n h e ce ra m ab erta­ mente que eram "servos do D eus dos céus" (v. 11). Tanto em suas palavras quanto em suas atitudes, deram um testemunho claro a esse oficial persa, e D eus usou Tatenai para garantir ao povo o direito de construir e de receber suprim entos do rei! D e u s u sou o re i D a rio (6:1-12). O s se­ cretários do rei procuraram nos arquivos e encontraram o rolo no qual C iro havia regis­ trado o édito que determ inava a volta do povo de Judá para sua terra. A utorizava os jud eus a reconstruírem seu templo, indican­ do até mesm o os limites de suas dim ensões.7 Ciro permitiu que fossem usadas pedras gran­ des para as paredes e prom eteu cobrir os custos com recursos do tesouro real. Além disso, ordenou que os oficiais locais forne­ cessem anim ais para os sacrifícios diários. É possível que, com isso, visasse, em parte, a seus próprios interesses, uma vez que dese­ java que os sacerdotes orassem por ele e por seus filhos. D e qualquer modo, o povo de D eus deve orar por aqueles que exe r­ cem autoridade (1 Tm 2:1-4). "N ão interrompais a obra desta Casa de D eu s" (Ed 6 :7 ) - essa expressão significa, lite ralm en te : "Fiq u em longe dos ju d e u s!" Nem os oficiais persas nem o povo da terra d everiam in terferir; antes, deveriam faze r todo o possível para apoiar as obras. O rei descreveu o julgam ento terrível que sobre­ viria a qualquer um que não o bedecesse ao édito (vv. 11, 12). Assim , aquilo que havia com eçad o com o uma investigação terminou com o um decreto real que protegia os judeus e que estim ulava medidas em seu favor! Imagine, porém , se o rem anescente ju­ deu tivesse assum ido uma atitude agressiva 598 ESDRAS 4 - 6 e tratado Tatenai e seus auxiliares com des­ respeito e desdém . Talvez a carta do admi­ nistrador a seus superiores não tivesse sido tão positiva, mudando a situação com pleta­ m ente. Pedro nos ad m oesta a respon d er "com mansidão e tem or" (1 Pe 3 :1 6 ) às per­ guntas daqueles que não são salvos, pois isso glorifica a Deus e cria novas oportuni­ dades de testem unho. O s olhos de D eus estão sobre seu povo enquanto o servim os, de modo que não precisam os tem er o que os hom ens podem nos fazer. 3. T e r c e i r o e s t á g i o : a s o b r a s s ã o c o n c l u í d a s (E d 6:13-22) O tem plo foi concluído no décim o segundo dia d o último mês de 515 a.C ., cerca d e se­ tenta anos depois de sua destruição pelos babilônios em 586 a .C . e aproxim adam ente cinco anos e m eio depois que Ageu e Z a ca ­ rias cham aram o povo de volta ao trabalho (5 :1 ). Deus havia sido fiel em cuidar de seu povo. H avia provido ânim o pela pregação dos profetas e até mesm o usado a autorida­ de e a riqueza de um rei pagão para levar as obras adiante. A alegria da co n sa g ra ç ã o (vv. 13-18). Não havia uma arca no Santo dos Santos e a glória não encheu a casa, mas ainda assim o tem plo foi consagrado8 ao Senhor, pois era sua casa, construída para sua glória. Ao invés de chorar por aquilo que não tinham, os ju d eu s se alegraram por aquilo que ti­ nham, e essa é sem pre a atitude de fé. Q uand o o rei Salom ão consagrou o tem­ plo que havia co n clu íd o , ofereceu tantos s a c rifíc io s que nem se q u e r era p o ssív e l contá-los (1 Rs 8 :5 ), além de 142 mil ofertas pacíficas que dividiu com o povo (1 Rs 8:6 3 ). O rem anescente judeu ofereceu apenas 712 sacrifícios, mas o Senhor os aceitou. O mais im portante, porém , é que ofereceram doze bodes com o oferta pelos pecados - um para cada tribo - , pois desejavam que o Senhor perdoasse seus pecados e lhes desse a opor­ tunidade de recom eçar. O sumo sacerdote Josué tam bém consa­ grou sacerdotes e levitas para seu ministério no templo reconstruído. Davi havia organiza­ do os sacerdotes em vinte e quatro grupos, de m odo que pudessem ministrar com maior e ficiê n cia (1 C r 2 4 :1 -1 9 ). Não haveria ne­ cessidade de todos eles servirem ao mesmo tempo, pois cada grupo era incum bido de uma sem ana de m inistério no templo (Lc 1:5, 8). A declaração "segundo está escrito no Livro de M oisés" (6 :1 8 ) refere-se à consagra­ ção dos sacerdotes e não a sua organização (ver Lv 8 - 9). A alegria da re c o rd a çã o (vv. 19-22). A Páscoa foi com em orada poucas semanas de­ pois, e os judeus reuniram suas famílias para lembrar com o Deus os havia livrado da es­ cravidão do Egito (Êx 12). A cada ano, os ho­ mens judeus deveriam fazer três viagens a Jerusalém, a fim de com em orar a Páscoa, o Pentecostes e a festa dos Tabernáculos. Du­ rante os anos no exílio, o povo de Judá deve ter ansiado pelo dia em que estariam livres outra vez para ir à Cidade Santa adorar a Deus. O s líderes convidaram todos os judeus e prosélitos a participar da Páscoa, mesmo aqueles que não pudessem provar sua linha­ gem. Todos os hom ens eram bem -vindos, desde que fossem circuncisos (Êx 12:43-49) e que tivessem se separado do paganismo dos povos da terra. O rem anescente judeu dem onstrou uma atitude receptiva louvável ao não tentar estabelecer um a com unhão pretensiosa. D epois que o templo havia sido consa­ grado, o povo se consagrou ao Senhor. D u­ rante os sete dias da festa dos Pães Asm os, os judeus deveriam rem over todo o ferm en­ to (lêvedo) de suas casas, retratando, assim, sua p u rificação pessoal. Para os jud eus, o fermento era um sím bolo de iniqüidade, de modo que a Páscoa era um tem po para se livrarem de todo o mal em sua vida. D e que adianta possuir um tem plo consagrado sem um povo purificado? O culto ju d aico volta­ ria a se realizar na C idade Santa, num tem­ plo restaurado e consagrado ao Senhor. Não é de se adm irar que o povo se alegrasse! Tudo isso porque a fidelidade de Deus ha­ via inclinado o coração do rei9 (ver Pv 2 1 :1 ) a ajudar seu povo, e agora o trabalho havia chegado ao fim. Q u aisq u e r que sejam nossas circunstân­ cias, podem os crer que D eus será fiel. A ESDRAS 4 - 6 declaração "G rand e é a tua fidelidade" não é apenas um versículo para citar (Lm 3 :2 3 ) ou algo para se lem brar quando cantam os "Tu és fiel, Senhor". Antes, é um a verdade m aravilhosa na qual crer e em função da qual 1. T ozer, 2. T a ylo r, 599 agir, por mais difíceis que sejam as situações da vida. "Cantarei para sem pre as tuas m isericór­ dias, ó S e n h o r ; o s meus lábios proclam arão a todas as gerações a tua fidelidade" ( S l 8 9 :1 ). A . W . The Kno w led ge o f the H oly. N ova York: H arper and Brothers, 1961, p. 85. D r. e Sra. How ard. H u d so n Taylo r's Spiritual S ecret. Londres: C hina Inland M ission, 19 49, p. 111. 3. Esdras 4 :8 — 6 :1 8 é escrito em aram aico, não em hebraico, e Esdras 7:12-26 tam bém se encontra em aram aico. Essas cartas 4. Esdras 4 :12 é a primeira passagem das Escrituras em que encontram os a palavra "jud eu s". Refere-se, obviam ente, ao povo 5. D e aco rd o com as estim ativas dos historiadores, A rta xerxe s I arrecad ava de seus súditos de 20 a 35 m ilhões de dólares e o decreto foram copiados de docum entos oficiais guardados nos arquivos do governo. de Judá. por ano. 6. S pu rgeo n , 7. Ao lançar os alicerces do tem plo, Z oro b abel seguiu as dim ensões apresentadas na lei de M oisés, mas o édito lhe dava Charles. M etropolitan Tabernacle Pulpit. Pasadena, Texas: Pilgrim Publications, 1986, vol. 7, p. 13. 8. O term o hebraico para "consagração" é hanukkah, nome dado à com em oração dos judeus realizada em dezem bro, durante perm issão de construir uma estrutura ainda maior. a qual é lem brada a reconsagração do tem plo em 165 a .C . O tem plo havia sido tomado por gentios e profanado, mas os judeus valentes liderados por Judas M acabeu tomaram-no de volta, purificaram -no e o consagraram ao Senhor. 9. O fato de D ario, rei a Pérsia, ser cham ado de "rei da A ssíria" em 6 :22 não deve ser m otivo de controvérsia. Em Neem ias 13:6, A rtaxerxes, rei da Pérsia, é cham ado de "rei da B ab ilônia". O reino de Dario incluía a A ssíria, de m odo que ele podia usar esse título. 1. C 3 A Boa M ão S de D eus Esdras 7 - 8 ham ou um en h o r (E d l íd e r t e m e n t e a o 7 :1 - 6 , 1 0 ) Era o ano de 4 5 8 a .C ., e A rtaxerxe s I era o rei da Pérsia (465-424 a .C .). Q u ase sessen­ ta anos haviam se passado desde a co n clu ­ são da reform a do tem plo em Jerusalém , e o rem anescente judeu estava passando por grandes dificuld ades. Foi en tão q u e o Se­ nhor cham ou Esdras para liderar mais um grupo de exilad os da Babilônia para Judá, a fim de levar apoio financeiro e espiritual e de ajudar no trabalho de re co n stru ção uando entrevistadores de program as da cidade. de T V perguntam a pessoas de sucesso Toda pessoa é im portante para Deus e qual é o "segredo" de suas grandes conquis­ sua obra; m as, co m o o Dr. Lee Roberson tas e realizações, as respostas são variadas, costum ava dizer: "A ascensão e queda de por vezes até contraditórias. Alguns atribuem todas as corsas deve-se à liderança". Q uando o sucesso a sua sobriedade e disciplina pes­ D eus quis livrar seu povo do Egito, cham ou soal, enquanto outros contam vantagem , di­ M oisés e A rão . Q uand o Israel encontrava- Q zendo ter vivido do jeito que queriam , quer os outros gostassem quer não. A idéia de manter a integridade a todo custo é contraba­ lançada pela idéia de chegar ao topo a qual­ quer custo. M as se tivéssem os entrevistado Esdras e lhe perguntado o segredo de sua vida bemsucedida, ele teria afirm ado com hum ilda­ de: A "b o a m ão do S e n h o r estava sobre m im " ,1 uma oração que aparece seis vezes em Esdras 7 e 8 (7 :6 , 9, 2 8 ; 8 :1 8 , 22, 31). Som ente as bênçãos de Deus podem expli­ car com o um sacerdote e estudioso judeu desconhecido, nascido no cativeiro na Babi­ lônia, foi cap az de realizar tanta coisa para D eus e para o povo de Israel em m eio a tantas adversidades. O fato de a boa mão do Senhor estar sobre esse homem não m inimiza a importân­ cia de sua piedade pessoal nem de sua grande capacidade com o estudioso, com o também não ignora a- grande ajuda que recebeu do rei Artaxerxes.2 Deus usa pessoas de todo tipo para realizar sua vontade, mas se a mão de Deus não está operando em nós e por nosso intermédio, não é possível realizar coisa al­ guma. Esse é o princípio que Jesus ensinou a seus discípulos quando disse: "sem mim nada podeis fazer" (Jo 15:5). O que Deus fez pelo povo de Israel durante aqueles tempos difí­ ceis depois do cativeiro na Babilônia? se dividido e derrotado, cham ou Samuel para ensinar a Palavra e Davi para ser rei. Richard Nixon com entou, com razão, que os líderes são pessoas que "fazem d ifere n ça",3 e Esdras foi esse tipo de pessoa. Q uand o Deus deseja julgar um a nação, envia líderes m edíocres (Is 3:1-8); mas quan­ do deseja abençoá-la, envia hom ens com o Esdras. S e u s antepa ssa dos n o b re s (vv. 1-5). A l­ guns dos sacerdotes do rem anescente judeu não tinham com o com provar suas origens (2:61-63), mas não era o caso de Esdras. Ele possuía as m elhores credenciais possíveis e pôde provar sua linhagem até A rão, o pri­ meiro sumo sacerdote. Essa genealogia cita alguns líderes bastante conhecidos, homens com o H ilquias, Z ad o q u e e Finéias.4 E evi­ dente que ser ab enço ad o com antepassa­ dos piedosos não garante o sucesso de seus descendentes, mas é um bom co m eço . Deus prom ete abençoar os descendentes daque­ les que são tementes ao Senhor (D t 4 :4 0 ; Sl 128). "N ão sei que tipo de pessoa foi meu avô ", disse Abraham Lin co ln; "na verdade estou bem mais preocupado com o tipo de pessoa que seu neto será". Esdras sabia o nom e de seus antepassados e aquilo que esses hom ens haviam feito e aproveitou ao m áxim o essa herança. Não desperdiçou o rico legado espiritual que lhe foi confiado; ESDRAS 7 - 8 antes o usou para honrar ao Senhor e para servir a seu povo. C om o é triste quando des­ cendentes de uma família piedosa afastamse do Senhor e vivem em desobediência e rebeldia (Jz 2:10-1 5)! Sua ou sa dia extra o rd in á ria (v. 6). Não seria de se esperar que um sacerdote e es­ tudioso com o Esdras abordasse um rei po­ deroso e pedisse perm issão para levar um grupo de exilados judeus a Jerusalém . Por natureza, a maioria dos estudiosos são pes­ soas reservadas, que se satisfazem em ficar com seus livros e idéias e que não estão dispostas a se envolver com as questões da vida diária. O poeta e professor norte-ameri­ cano A rchibald M acLeish escreveu: " O es­ tudioso faz sua ce la de m arfim nas ruínas do passado e deixa que o presente se desin­ tegre". M as não foi o que Esdras fez! O estudo m inucioso da Palavra de Deus havia prom ovido o crescim ento de sua fé (Rm 1 0 :1 7 ) e ajudado Esdras a com preen­ der os planos de Deus para o rem anescente judeu, e ele desejava fazer parte desses pia­ nos. Por certo, ao estudar as Escrituras do Antigo Testam ento, Esdras orou pedindo a D eus que ajudasse seu povo, e D eus res­ pondeu a essa oração cham ando-o para ir a Jerusalém . Deu a Esdras a ousadia de abor­ dar o rei e deu ao rei o desejo de cooperar com o pedido de Esdras. O prim eiro grupo de judeus partiu para Jerusalém em 537 a.C . porque o Senhor to­ cou o coração de Ciro (Ed 1:1 -4), mas dessa v e z D eus usou um humilde sacerdote para tocar o coração do rei A rtaxerxes. Sua co m p e tê n c ia e x c e p c io n a l (v. 10). Q uand o nos lem bram os de que Esdras nas­ ceu na B abilô nia, podem os dar o devido v alo r a suas re a liza çõ e s co m o estu dioso co m p etente das Escrituras h eb raicas. Sem dúvida, os sacerdotes haviam levado co n ­ sigo para a Babilônia cópias dos rolos do Antigo Testam ento, escritos que se tornaram extrem am en te pre cio so s aos líderes esp i­ rituais judeus exilados. A Babilônia não pos­ suía um tem plo onde os judeus pudessem adorar, de modo que os sacerdotes e levitas tam b ém não tinham re sp o n sab ilid ad e de ministrar. Porém, alguns deles - com o Esdras 601 - dedicaram -se ao estudo e ao ensino da Palavra de D e u s.5 Esdras é um ótimo exem plo a ser segui­ do no que diz respeito à Palavra de Deus. Era um homem com um coração preparado e dedicado ao estudo das Escrituras. "Por­ que Esdras tinha disposto o co ração para buscar a Lei do S enhor " (v . 10). Ele teria con­ cordado com as palavras do salmista: "Q u a n ­ to am o a tua lei! E a minha m editação, todo o dia!" (Sl 119:9 7). A té m esm o o rei reco­ nheceu e declaro u que Esdras possui um grande c o n h e c im e n to das E scritu ras (Ed 7:11-14). Porém , Esdras não se ateve a estudar a Palavra de D eus: ele tam bém a colocou em prática em sua vida diária. É na obediência à Palavra de D eus - e não em sua leitura que experim entam os suas bênçãos (Tg 1:222 5). "Esse será bem-aventurado no q u e rea­ lizar" (v. 2 5 ; ênfase m inha) e não no que pensar que sabe. Se nosso co nh ecim en to da verdade não redunda em obediência, em lugar de ansiarm os pelo Senhor, acabarem os cheios de orgulho (1 C o 8 :1 ; Lc 2 4 :3 2 ), e a verdade torna-se um brinquedo e não um instrumento de ed ificação. Em vez de cons­ truirm os nosso caráter cristão, apenas enga­ namos a nós m esm os e tentam os enganar aos outros (1 Jo 1 :5-10). Esdras não apenas estudou a Palavra de D eus e o bedeceu a ela, com o tam bém a ensinou a outros. O s sacerdotes e levitas foram ordenados pelo Senhor a ser mestres em Israel (Lv 10:8-11; D t 3 3 :1 0 ; Ml 2 :7 ), pois era a única form a de o povo aprender a ver­ dade de Deus. As pessoas em geral não ti­ nham m eios para adquirir um rolo da lei, de modo que cabia aos sacerdotes e levitas ler e explicar as Escrituras para o povo. "Leram no livro, na Lei de D eus, claram ente, dando exp licaçõ es, de m aneira que entendessem o que se lia" (N e 8:8 ). Q u e grande exem plo a ser seguido por todos os que pregam e ensinam a Bíblia! C ad a geração precisa desco brir o tesou­ ro precioso que é a Palavra de D eus, mas é im possível que isso aco nteça, a m enos que as gerações anteriores tenham sido fiéis em ap render, guardar e en sin a r a Palavra de 602 ESDRAS 7 - 8 D eus e em o b ed ecer a ela. " O que da mi­ do rei, ver Esdras 4:7-23. Lembre-se de que, nha parte ouviste através de muitas teste­ m unhas, isso m esm o transm ite a hom ens fiéis e tam bém idôneos para instruir a ou­ tros" (2 Tm 2 :2 ).6 A s três q u a lid a d e s m e n c io n a d a s em Esdras 7 :1 0 são paralelas às palavras de Je­ sus em M ateus 1 3 :5 2 : "Po r isso, todo escriba versado no reino dos céus é sem elhante a um pai de fam ília que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas". Esdras era um escriba versado na Palavra e um pai de famí­ nesse caso, não se tratava da reconstrução do tem plo, mas sim da cidade, bem com o da restauração espiritual do povo (ver o es­ boço sugerido do Livro de Esdras). Em 537 a.C ., o primeiro grupo de exila­ dos judeus, cerca de 50 mil pessoas, regres­ sou a Jerusalém sob a liderança de Zorobabel a fim de reconstruir o tem plo. M ais tarde, em 4 5 8 a.C ., Esdras recebeu a autorização de liderar o segundo grupo - 1.500 homens, além de m ulheres e crianças - para ajudar a restaurar os muros e portas da cidade e con­ lia que com partilhava a Palavra com outros - um bom exem plo a seguir. (Esdras 7:7-9 ap resenta um resum o da viagem para Je­ rusalém , cujos detalhes estudarem os mais adiante.) 2. E l e c u i o u u m g o v e r n a n t e p a g ã o (E d 7:11-28) Assim com o D eus havia tocado a mente e o coração de C iro (Ed 1:1-4) e de Dario (6:112), D eus tocou A rtaxerxes I para que o rei permitisse a Esdras e seu povo voltar a sua terra. D epois de ouvir o pedido de Esdras, A rtaxerxes tomou várias providências a fim de ajudar os judeus nesse em preendim ento im portante. A u to riz a ç ã o (vv. 11, 12, 2 5 , 2 6 ). Em pri­ meiro lugar, A rtaxerxes nom eou Esdras o lí­ der do grupo e tam bém agente do rei em Judá, chegando a lhe dar o direito de aplicar a pena capital sobre transgressores da lei (v. 26 ). A julgar pelo m odo com o o rei des­ creveu Esdras em sua carta oficial, fica claro que ele se im pressionou com o sacerdote e escriba judeu e com a Lei que era o centro de sua vida e ministério. A referência a Esdras ter em mãos a Lei de Deus (v. 14) pode ser um a m enção aos rolos propriam ente ditos, que Esdras teria levado consigo à audiência, ou talvez signifique sim plesm ente "a sabe­ doria do teu Deus, que possuis" (v. 25). L ib e ra çã o (vv. 13, 14). Em sua carta ofi­ cial, A rtaxerxes deu aos judeus o privilégio de deixar a Babilônia, de ir para Jerusalém com Esdras e de reunir-se ao rem anescente na reconstrução dos muros da cidade (4:12). Para um relato das grandes tribulações en­ frentadas pelos judeus, apesar do incentivo duzir o povo a um reavivam ento espiritual. Em 4 4 4 a .C ., N eem ias chegaria para con­ cluir a reconstrução dos muros e a co loca­ ção das portas. In d e n iz a çã o (vv. 15-26). O Senhor dis­ se ao povo atribulado de Jerusalém : "M inha é a prata, meu é o ouro" (Ag 2 :8 ) e provou essa verdade provendo o dinheiro para com ­ prar os sa crifício s a serem o fere cid o s no templo em Jerusalém . O rei ordenou a seus oficiais do outro lado do rio que dessem di­ nheiro do tesouro real local para os judeus e definiu os limites da contribuição (Ed 7:22). Cem talentos de prata eqüivaliam a quase quatro toneladas desse metal! Em seguida, A rtaxerxes deu a Esdras ob­ jetos sagrados do tem plo que não haviam sido levados de volta por Zorobabel (v. 19). Por fim , permitiu que Esdras recebesse ofer­ tas dos judeus que ficaram na Babilônia e de qualquer outra pessoa do reino que de­ sejasse contribuir (ver 1:4). Nem todos os judeus queriam voltar e nem todos tinham condiçõ es de fazê-lo, mas todos poderiam contribuir de algum modo para o trabalho. A ssim co m o D ario antes d ele (6 :1 0 ), A rtaxerxes estava ansioso para que o Deus de Israel o ab ençoasse, e tam bém a seus filhos, e que lhe desse sucesso em seu reino (7 :2 3 ); de modo que havia uma m otivação um tanto egoísta por trás de sua generosi­ dade. E de se duvidar, porém , que qualquer pessoa, seja um rei seja alguém do povo, faça qualquer co isa por m otivos absoluta­ mente puros. A generosidade de Artaxerxes para com o povo cativo foi um gesto admirá­ vel a um governante pagão que não poderia ESDRAS 7 - 8 esperar qualquer recom pensa daquela gen­ te. Afinal, se o Senhor de Israel não havia sido capaz de proteger os judeus do cativeiro na Babilônia, o que poderia fazer para aju­ dar os persas? Aquilo que o rei fez pelos judeus foi, cla­ ramente, um a prova da boa mão do Senhor operando em favor do povo escolhido de Deus. Por fim, A rtaxerxes concedeu isenção tributária para os sacerdotes, levitas e ser­ vos do templo e tam bém os dispensou de qualquer co n vo cação para servir no im pé­ rio (v. 24 ). M esm o que suas m otivações fos­ sem eg oístas, A rta x e rx e s d e se ja va que o ministério no templo fosse sólido e estável. A fim de certificar-se de que o processo de reconstrução da cidade seria tranqüilo, o rei deu a Esdras am plos poderes para executar a lei (v. 26). C e le b ra ç ã o (vv. 2 7 , 2 8 ). N essa passa­ gem, tem início a narrativa na primeira pes­ soa, que se estende até Esdras 9 :1 5 . Esdras louva ao Senhor por tocar o rei para que co o p e rasse com seus planos e co n sidera esse acontecim ento prova da m isericó rd ia de D eus ou de seu am or segundo a aliança feita com seu povo. Esdras não assumiu crédi­ to algum por essas realizaçõ es; foram todas resultantes da "boa mão do S e n h o r " sobre ele. Sem perder tempo, o sacerdote e escriba reuniu os líderes das tribos e o povo que se sentiu tocado a viajar para Jerusalém . 3. E l e r e u n i u u m r e m a n e s c e n te (E d 8:1-30) d is p o s t o M u ito s dos ju d e u s já estavam c o n fo rta ­ velm ente assentados na M esopotâm ia e sa­ tisfeitos com a idéia de viver e morrer ali. Durante o cativeiro, haviam seguido o co n­ selho de Jerem ias, sendo bons cidadãos e levando uma vida normal (Jr 29:1-7). Ao lon­ go das décadas, a geração mais velha havia m orrido, surgindo um a nova geração que nunca havia visto Jerusalém nem o templo e que, provavelm ente, não tinha grande inte­ resse no bem-estar dos com patriotas judeus que labutavam de modo sacrificial em Jerusa­ lém. Sem dúvida, alguns judeus trabalhavam para o governo e não poderiam se mudar com facilidade. Até Jesus teve problem as em 603 ch am ar d iscíp u lo s acom o d ad os dem ais a uma vida bem -sucedida (Lc 9:57-62), o que explica a grande falta de trabalhadores (10:2). O a rro la m e n to (vv. 1-20). Esdras m os­ trou-se sábio ao reunir dezoito chefes de fa­ mília do povo, sabendo que esses homens poderiam influenciar seus parentes. C o m o resultado, juntou 1.515 homens, além de mu­ lheres e crianças (v. 2 1 ),-que se dispuseram a partir com Esdras. Não foi um grupo tão grande quanto o primeiro que havia acom ­ panhado Z orob abel e Josué quase oitenta anos antes, mas isso não os desanim ou. Um a com p aração dos nom es dessa lista com a de Esdras 2:3-15 mostra que vários aco m ­ p a nh a n te s de Esd ras eram p a ren tes dos prim eiros exilados a deixar a Babilônia. Ao que parece, o espírito pioneiro passa de pai para filho. O grupo saiu da Babilônia no primeiro dia do quinto mês (7:9) e, depois de cerca de um a sem ana de viagem , parou junto ao rio A ava (que provavelm ente era um canal), on de fico u três dias antes de p rosseguir (8 :1 5 , S l'). N esse m eio tem po, Esdras fe z um levantam ento dos presentes e descobriu que não havia levita algum no m eio deles,7 de m odo que enviou um a com issão especial de onze hom ens para recrutar alguns levitas para a jornada. A com issão voltou com ape­ nas 38 levitas, mas acom pan had a de 2 2 0 servos do templo. Infelizm ente, havia menos levitas do que servos do tem plo no grupo. Já naquele tempo, os trabalhadores da ceifa eram poucos. A co n fia n ça (vv. 21-23). A abordagem de Esdras em relação a essa viagem foi espi­ ritual, pois, se a boa m ão do Senhor não tivesse estado com ele, tudo teria dado erra­ do. Porém , a fim de receber a bênção e a ajuda de D eus, deviam humilhar-se e buscar ao Senhor, de m odo que Esdras declarou três dias de jejum e oração, pedindo a Deus que os protegesse em sua longa jornada. Esdras tinha o direito de solicitar uma es­ colta arm ada, mas, para ele, pedir esse tipo de proteção poderia trazer desonra para o Senhor aos olhos do governante pagão. Já havia dito a Artaxerxes que a boa mão do Se­ nhor estava sobre ele, então com o poderia 604 ESDRAS 7 - 8 pedir ajuda humana? Esdras estava se firm an­ do na aliança de D eus com Abraão (C n 12:13), segundo a qual aqueles que abençoam os judeus são abençoados por D eus, sendo que existe uma linha muito tênue entre a fé e a presunção. Q u ato rze anos depois, N ee­ mias não hesitou em pedir ao rei um a escol­ ta arm ada (N e 2 :9 ), e Paulo ficou contente por ter soldados rom anos para guardá-lo d u ra n te su a v ia g e m de Je ru s a lé m p a ra C esaréia (At 2 3 ). Esses hom ens eram menos consagrados do que Esdras? Claro que não! Sem dúvida, o Senhor deu a Esdras um a fé especial para essa viagem , pois sabia que seu único desejo era glorificar a Deus. Ao levar em consideração os fatos envolvidos nessa expedição, podem os perceber com o Esdras tinha fé. Eram milhares de judeus sem qualquer experiência de com bate, levando consigo uma fortuna em ouro e prata, sen­ do liderados por um estudioso - e não um hom em militar - e planejando atravessar ter­ ritórios perigosos cheios de salteadores e, no entanto, seu líder não queria um exérci­ to para protegê-los! Se alguém m erece o "Prêm io de Fé Extraordinária", essa pessoa é Esdras! C o m p ro m is s o (vv. 2 4 -3 0 ). Esdras en ­ carregou doze dos principais sacerdotes de cuidar do tesouro: vinte e cinco toneladas de prata, quase oito toneladas de utensílios de ouro e prata, além de vários outros uten­ sílios e ofertas recebidos do povo. Esses doze hom ens representavam as do ze tribos de Israel e eram responsáveis diante delas, po­ rém, mais do que isso, tratava-se do tesouro do Senhor, e, um dia, esses sacerdotes te­ riam de prestar contas a ele. Em certo sentido, esse acontecim ento é com parável à vida cristã. O povo de Deus encontra-se numa jornada difícil e perigosa rumo à Jerusalém celestial (H b 1 2 :2 2 ), e o Senhor nos encarregou de alguns de seus tesouros. Nossa tarefa é proteger aquilo que ele nos deu e estar prontos para, ao fim da jornada, prestar contas de com o adm inistra­ mos os recursos que nos foram confiados. A única diferença é que, em nossa jornada, D eus espera que não apenas guardem os, mas tam bém invistam os e aum entem os o tesouro (ver M t 2 5 :1 4 -2 0 ; 1 Tm 1 :1 1 , 18, 19; 6 :2 0 ; 2 Tm 1:13, 14; 2:2 ). 4 . E le (E d d e u -l h e s u m a j o r n a d a s e c u r a 8 :3 1 - 3 6 ) Imagino se, enquanto esses exilados judeus cam inhavam pelo deserto, cantaram uns para os outros o Salm o 121. Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do S e n h o r , que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os teus pés vaci­ lem; não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel. (Sl 121:1-4) C hegada (v. 3 1 ). Partiram da Babilônia no prim eiro dia do primeiro mês (7 :9 ), dem o­ raram três dias no canal de Aava (8 :1 5 ) e deixaram esse acam pam ento no décim o se­ gundo dia do prim eiro mês (8 :3 1 ), chegan­ do a Jerusalém no prim eiro dia do quinto mês (7 :9 ). Percorreram pelo m enos 1.500 quilôm etros ao longo de quatro m eses, e a boa mão do Senhor protegeu-os ao longo de todo o cam inho. Nosso Deus é o Alfa e o Ô m ega e termi­ na aquilo que co m e ça (Ap 1:8, 11; 2 1 :6 ; 2 2 :1 3 ; Is 4 1 :4 ; 4 4 :6 ). Se D eus estiver no co m e ço da jo rn ada, se confiarm os nele e se depositarm os nele a nossa confiança, ele nos acom panhará ao longo de toda a jo rna­ da e nos conduzirá a nosso destino. A cada passo do cam inho, D eus providenciará para que cum pram os seus propósitos de am or e, em m om en to algum , nos ab an d o n ará (Is 4 3 :1 , 2 ; Hb 1 3 :5 , 6). D e sca n so (v. 3 2 ). Q uand o minha espo­ sa e eu voltam os para casa depois de uma longa viagem de trabalho, precisam os de um ou dois dias para descansar e estar prontos para as próxim as tarefas. Talvez Esdras e seu grupo tenham chegado pouco antes do sá­ bado e tom ado a decisão sábia de estender seu tempo de descanso. As vezes, a coisa mais espiritual a fazer é não fazer coisa algu­ ma. Jesus disse a seus discípulos atarefados: "V in d e repousar um pouco, à parte, num ESDRAS 7 - 8 lugar deserto" (M c 6 :3 1 ). C om o V ance Havner costumava dizer: "quem não repousa num lugar separado, sempre acaba estafado". Levantam ento (vv. 3 3 , 3 4 ). O s sacerdo­ tes levaram o tesouro para o tem plo, onde ele foi pesado e inventariado, e todos os fa­ tos foram registrados para que se enviasse ao rei um relatório oficial. "Tudo, porém , seja feito com decência e ordem " (1 C o 14:40). O s servos de D eus devem ser fiéis em todas as áreas do ministério, mas, principalm ente, nas questões que envolvem dinheiro. Ao ler 2 Coríntios 8 a 9, vem os com o Paulo e seus com panheiros foram escrupulosos ao lidar com a "oferta de ajuda" que as igrejas gen­ tias estavam enviando a Jerusalém . "Pois o 605 prim eiro culto realizado ali mais de setenta anos antes, quando o altar foi edificado ou­ tra vez, não há registro de que alguém te­ nha se lam entado, com saudades dos "bons e velhos tem pos" (3:11-13). Era a primeira vez na vida que os recémchegados adoravam em sua terra e em seu a lta r no te m p lo ! Esd ras d eve ter fic a d o profundam ente em ocionado ao colocar-se diante do altar e participar do culto! "Alegrei-me quando me disseram : Vam os à Casa do S e n h o r . Pararam os nossos pés junto às tuas portas, ó Jerusalém !" ( S l 122:1, 2). A u to riz a ç ã o (v. 3 6 ). D epo is de cuidar das questões espirituais relacionadas à na­ ção e ao tem plo, Esdras apresentou-se e m ostrou suas cre d e n ciais aos o ficiais per­ sas locais. "D a i, pois, a C ésar o que é de C ésar e a D eus o que é de D eu s" (Lc 2 0 :2 5 ). que nos preocupa é procederm os honesta­ m ente, não só perante o Senhor, com o tam ­ bém diante dos hom ens" (2 C o 8 :2 1 ). A d o ra çã o (v. 3 5 ). O s judeus que já m o­ ravam em Jerusalém e os recém -chegados Esdras entregou a carta do rei aos oficiais, que obedeceram prontam ente às ordens de reuniram -se diante do altar para ad orar a D eus e declarar a união de todos com o seu povo. O s doze holocaustos e as doze ofer­ tas pelo pecado foram realizados pelas doze tribos de Israel, representadas pelo rem anes­ cente judeu em Jerusalém . A o contrário do seu soberano e ajudaram os jud eus em seus projetos. Esdras saiu da Babilônia com a lei de D eus em seu co ração , a carta do rei em suas m ãos e a mão de D eus sobre ele. Não é de se adm irar que sua missão tenha sido um sucesso. 1. É evidente que, sendo espírito, em termos literais Deus não possui mãos com o nós. Trata-se de uma expressão cham ada pelos teólogos de "antropom órfica", ou seja, que atribui a Deus algo que se refere aos seres humanos ("antropo" = humano; "m orfos" = form a). Deus não tem olhos, mas "vê" o que se passa no mundo; não tem ouvidos, mas "escuta" os nossos clam ores. Pelo fato de ser uma Pessoa, Deus pode agir e responder, o que é explicado na Bíblia por meio da terminologia humana. Q uand o Isaías quis mostrar a grandeza de D eus, disse que Deus mediu as águas "na concha de sua m ão" (Is 40 :1 2), e o salmista nos lembra de que, para alim entar suas criaturas, Deus só precisa abrir sua mão (S! 104:28). "Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente" (Sl 145:16). 2. Foi cham ado de "Artaxerxes Longim anus", que, em latim, significa "Artaxerxes das mãos longas" (o equivalente grego é "M acrochier"). É possível que essa denom inação se referisse ao longo alcance de sua autoridade ou a sua generosidade para com seus súditos. Porém , foi a mão de Deus que moveu a mão do rei a fim de que assinasse o édito permitindo a Esdras levar um rem anescente judeu a sua terra, a fim de servir ao Senhor. 3. N ix o n , 4. Hilquias foi o sum o sacerdote durante o reinado do piedoso rei Josias e encontrou o Livro da Lei enquanto o tem plo passava Richard. Leaders. Nova York: W arner Books, 1982, p. 1. por reparos (2 Rs 22). Zadoque foi fiel ao rei Davi durante as épocas mais difíceis da vida do rei, especialm ente quando Absalão e Adonias tentaram tomar-lhe a coroa (2 Sm 15 e 17; 1 Rs 1 - 2). Finéias foi o sacerdote valente do tempo de Moisés que recebeu honras por opor-se às concessões que Israel fez aos midianitas (Nm 25; Sl 106:30). 5. Vários estudiosos acreditam que Esdras foi um dos fundadores da sinagoga,local que, na Babilônia, substituiu o tem plo com o 6. M oisés escreveu aquilo que Deus lhe disse (Êx 2 4 :4 , 12; Dt 2 8 :5 8 ; 2 9 :2 1 ; 3 0 :1 0 ; 3 1 :9, 19, 24) e também manteve um registro centro de reunião, de adoração e de ensino. das jornadas de Israel (Nm 3 3 :2 ). Deixou para Josué o "Livro da Lei" (Js 1:8), ao qual Josué acrescentou seu próprio registro (23 :6). Samuel escreveu nesse livro (1 Sm 10 :2 5), e outros também fizeram acréscim os (1 C r 29 :2 9). Ao que parece, o Livro 606 ESDRAS 7 - 8 da Lei "perdeu-se" no lugar m enos provável de todos - o tem plo - e foi recuperado no tem po de Josias (2 C r 34 - 35). O s escrib as jud eus copiaram as Escrituras com cuidado e precisão extrem os, a fim de guardá-las da co rru p çã o textual. G raças à fid elidad e desses hom ens e à providência de D e us, tem os as Escrituras nos dias de hoje. 7. Zoro b abel não foi acom p anhad o de um grande núm ero de levitas, ap enas 733 dentre quase 50 mil hom ens, m enos de 2 % . Seria de se esp erar que esses servos de D eus estivessem ansiosos para regressar a sua terra e servir, mas decidiram fic a r na Babilônia. 4 A G r a ç a de D eus Esd ras 9 - 1 0 sdras deve ter sentido um a grande ale­ gria e satisfação por estar na C id ad e E Santa, adorando no templo restaurado e mi­ n istran d o às n e c e ssid a d e s e sp iritu a is do povo. Sem dúvida, sua vida teria sido bem fácil se ele tivesse ficado na Babilônia, com o estudioso no meio de seus com patriotas no exílio, mas "um a vida fácil" não fazia parte das prioridades de Esdras. O Senhor o havia cham ado a servir o rem anescente judeu e a ensinar-lhe a Palavra de Deus, e ele foi obe­ diente a seu cham ado. Porém , quatro m eses depois de sua ch e­ gada (7 :9 ; 1 0 :9 ), descobriu que nem tudo estava bem em Jerusalém , pois mais de cem líderes civis e espirituais do povo eram cul­ pados de deso bedecer deliberadam ente à lei que Esdras tinha ido ensinar. A maneira de Esdras enfrentar e resolver esse proble­ m a difícil é um exem plo a todo cristão de hoje que leva a sério o m andam ento repeti­ do de D eus: "Sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 1 1 :44 ).' grande autoridade do rei (Ed 7:25, 26). É bem provável que esses cidadãos preocupados tenham se oposto aos casam entos m istos, mas foram ignorados, de modo que apela­ ram para a ajuda de seu principal sacerdote e escriba. A casa de C lo é inform ou Paulo de alguns dos pecados flagrantes da igreja de Corinto (1 C o 1:11), e ele não repreen­ deu aqueles que lhe deram essa inform ação, pois há uma diferença entre "fofoca religio­ sa" e preocupação sincera. Encobrir os pe­ cados nunca traz bênçãos a uma nação ou a um indivíduo (Pv 2 8 :1 3 ; ver Dt 17:1-7). D e so b e d iê n c ia (v. 1). O s atos desses ju ­ deus representavam uma transgressão à lei de D eus (Êx 3 4 :1 5 , 16; Dt 7:1-6). Conform e o Livro de Rute com prova, a lei perm itia que um judeu se casasse com um a m ulher es­ trangeira, desde que ela renunciasse inteira­ m ente a sua vida pregressa e aceitasse a fé de seu marido; mas essa lei não se aplicava às mulheres da terra de C anaã. D e acordo com D euteronôm io 20:1-1 5 e 21:10-14, um soldado judeu poderia se casar com um a prisioneira de guerra de um a cidade distan­ te, mas era proibido de tomar para si uma m ulher cananéia. Porém , quando as pessoas resolvem d eso b e d e cer delib eradam ente à Palavra de Deus, sem pre conseguem encon­ trar desculpas para defender suas atitudes. É (E d 9 :1 , 2) possível que tenham argum entado que ha­ v ia um a falta de m ulheres judias e que era preciso manter vivo o nom e das famílias e ajudar a população a crescer. A culpa era das jovens judias que não quiseram deixar a Babilônia! Por acaso, alguém se ofereceu para vol­ tar à Babilônia e encontrar esposas para os Um grupo de leigos informou a Esdras que alguns dos líderes das tribos, bem com o al­ jovens? C on ta m in a çã o (v. 2 ). Deus deu a Israel guns sacerdotes e levitas, haviam se casado com m ulheres gentias - e dado em casa­ mento a seus filhos - e que, alguns desses homens, haviam chegado a se divorciar de suas esposas judias a fim de se casarem com m ulheres pagãs (M l 2:10-16). A atitude desses judeus zelosos ao rela­ a lei acerca do casam ento para proteger a nação da contam inação. Por causa desses casam entos mistos, a "linhagem santa" esta­ va sendo co ntam in ada pelas m ulheres es­ trangeiras de várias nações que Deus havia ordenado que Israel destruísse (D t 7:1-6). O povo de Israel não era cham ado de "nação santa" (Êx 1 9 :5 , 6) por ser m elhor do que os outros, mas porque Deus os havia esco­ lhido por seu am or e para fazer sua vontade 1 . C o r r u p ç ã o : u m p o v o em p e c a d o tar a Esdras o que ocorria foi perfeitam ente correta, uma vez que ele era um dos princi­ pais líd e re s e sp iritu a is e h avia re ce b id o 608 ESDRAS 9 - 1 0 (D t 7:7-11). É por interm édio de Israel que "serão benditas todas as fam ílias da terra" (G n 1 2 :3 ; 2 8 :1 4 ), pois o povo de Israel deu ao m undo três presentes m aravilh o sos: o im ediatam ente, chamando-os à confissão e ao arrependim ento, por mais im portante que sejam am bas as coisas. Sua prim eira provi­ d ên cia foi dirigir-se ao tem plo, assentar-se co nh ecim en to do verdadeiro D eus vivo , a Palavra escrita de D eus e o Salvador, Jesus C risto. Se era pecado judeus solteiros se casa­ rem com m ulheres estrangeiras, era pior ain­ da jud eus casados se divorciarem de suas esposas judias a fim de tom ar para si espo­ sas pagãs! O profeta M alaquias condenou no chão e expressar sua tristeza diante do povo e do Senhor. Rasgou suas vestes e seu m anto, co m o se e stiv e sse p ra n te an d o a m orte de alguém (9 :5 ; ver G n 3 7 :2 9 , 34; Js 7:6) e, em outra expressão de grande pesar, arrancou fios de seu cabelo e de sua barba.4 Essa dem onstração de tristeza profunda to­ cou o coração do povo. os judeus que agiram desse modo (M i 2:1316) e os lem brou de que Jeová desejava uma "linhagem santa" (Ed 9 :2 ). É possível que se tratasse de uma referência ao M essias pro­ m etido, bem com o às futuras gerações de judeus (Is 6 :1 2 , 13). C om o era possível os jud eus m anterem sua nação "santa" se os Esdras fico u "atô n ito " (9 :3 ). O term o h eb raico sig n ifica "ch o ca d o , h o rro rizad o , abism ado, desconsolado". C o m o esses ho­ m ens, filhos da alian ça, eram ca p aze s de com eter pecados tão abom ináveis? Haviam sido aju d ad o s de m odo m aravilh o so por Deus ao ter sido libertos do cativeiro e rece­ hom ens se casaram em oposição à vontade de Deus? Se os líderes de Israel continuas­ sem a dar um péssim o exem plo se contam i­ nando, tam bém acabariam co n tam inando toda a nação, e não tardaria para que Israel bido perm issão de voltar a sua terra, e agora se rebelavam contra o Senhor que os havia perdesse sua posição de povo separado no mundo. Assim com o Salom ão (1 Rs 11), os homens com eçariam a adotar os falsos deu­ ses de suas esposas e, logo, a verdadeira fé seria destruída (Êx 3 4 :1 0 -1 6 ). C o m o Deus poderia, então, trazer ao mundo o Salvador?2 2 . P r e o c u p a ç ã o : u m p o v o p r i v i l e g ia d o (E d 9:3-15 )3 C o m o o rem anescente foi privilegiado de ter um líder espiritual com o Esdras! Ele havia recebido autoridade especial do rei (7 :2 5 , 26), de modo que é possível ver a gravidade das im plicações de ele ficar sabendo o que esses homens haviam feito. D ependendo da transgressão, Esdras poderia expulsar pessoas da com unidade, confiscar seus bens ou mes­ mo ordenar sua execução! Porém, Esdras era, em primeiro lugar, um hom em que buscava o que Deus tinha de melhor para seu povo, identificando-se com ele e carregando com ele os fardos que lhe pesavam . Esdras era, acim a de tudo, um homem de oração. Não pregou um serm ão - ainda que es­ ses hom ens precisassem ser lem brados do que a lei dizia - nem foi atrás dos pecadores abençoado tanto! Além do mais, alguns dos transgressores eram sacerdotes e levitas que, sem dúvida alguma, conheciam a lei! Um dos grandes males da sociedade de hoje é que as pessoas não ficam mais escan­ dalizadas com o pecado nem se mostram dispostas a tom ar um a atitude em relação a ele. Líderes políticos podem com eter trans­ gressões flagrantes à lei e não apenas sair im punes, mas tam bém ser reeleitos para seus cargo s. A s pesq uisas ind icam que m uitos norte-am ericanos não consideram o "cará­ ter" um fator im portante na hora de esco­ lher seus líderes. A pesar de todo o alarde so bre um "reavivam e n to re lig io so " e das "mega-igrejas", o povo de D eus não parece estar sendo sal e luz na so ciedad e. O sal perdeu o sabor e não salga mais nem evita a deterioração, enquanto a luz está escon­ dida sob o alqueire (M t 5:13-16). D u rante o tem po em que Esdras per­ m aneceu em je ju m 5 e pranto, juntou-se ao redor dele uma multidão constituída de pes­ soas que "trem iam das palavras do D eus de Israel" (Ed 9 :4 ; ver 10:9). O s israelitas haviam tremido terrivelm ente no Sinai quando Deus proferiu sua Palavra (Êx 1 9 :1 6 ; Hb 12 :2 1 ), mas as gerações posteriores deixaram de dar valor à Palavra de Deus e a ignoraram sem ESDRAS 9 - 1 0 preocupação alguma. Hoje em dia, muitos cristãos estão dispostos a ler a Bíblia, a es­ tudá-la, a resum ir suas verdades e até mes­ mo a ensiná-las, mas não tem em a D eus nem procuram o bedecer ao que a sua Palavra diz. "M as o hom em para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da m inha palavra" (Is 6 6 :2 ). Enquanto o povo de Deus não dem onstrar respeito por Deus e sua Palavra, o Espírito de D eus não pode­ rá operar com grande poder com o deseja fazer. As três da tarde, quando os sacerdotes ofereciam os sacrifícios diários vespertinos (Nm 28:1-4) e quando o povo estava se reu­ nindo para orar (At 3 :1 ; Sl 5 5 :1 7 ; Dn 6 :1 0 ), Esdras co m eçou a clam ar a Deus e interce­ der em favor de seu povo. Enquanto chorava e orava (Ed 10:1), talvez estivesse pensando na prom essa de Deus em 2 C rônicas 7 :1 4 : "se o meu povo, que se cham a pelo meu nom e, se humilhar, e orar, e me buscar, e se co nverter dos seus maus cam inhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus peca­ dos e sararei a sua terra". P e c a m o s" ( w . 5-7), A ssim com o N ee­ mias (N e 1:4-10) e D an iel (D n 9), Esdras identificou-se com o povo e com seus pe­ cados e se dirigiu a D eus falando de "n o s­ sas iniqüidades" e não "suas iniqüidades". D iante de D e u s, Israel era um a só nação da alian ça, e os p ecad os de um a pessoa afetavam todo o povo. Q u an d o A c ã deso­ bedeceu ao Senhor em Jericó , por exem ­ plo, D eus disse a Josu é: "Israel p eco u" (Js 7 :1 1 , ên fa se m inh a). O m esm o prin cíp io aplica-se à igreja local (1 C o 5:6-8). A m e­ 609 rem agora aparecem com o "entretenim ento" normal daqueles que assistem à TV . Q uando uma nação transforma o pecado em diver­ são e se ri daquilo que deveria ser motivo de pranto, vê-se que ca re ce desesp erad a­ mente de um reavivam ento. Por que Esdras fico u tão en verg o n ha­ do? P o rq u e , m e sm o te n d o p a s s a d o p o r tantas tribulações, o p o v o não havia apren­ d id o sua lição (Ed 9 :7 ). A nova geração ha­ via crescid o na Babilô nia e se acostum ado com o mal a seu redor a tal ponto que não possuía mais qualquer tem or de D eus. Sua atitude deveria ter sido com o a de Paulo em A tenas, quando se entristeceu profun­ dam ente com a p erversid ad e que viu (At 1 7 :1 6 ). Em v e z disso, porém , prim eiro ace i­ taram , depois aprovaram e, por fim , desfru­ taram o m o d o p e c a m in o so de v id a da B abilô n ia. Essa atitude transigente seguiuos até Jerusalém e acabou se m anifestan­ do em sua desobediên cia. A o ler as m ensagens do profeta Malaq u ias, vem o s a grande ap ostasia dos sa­ cerdotes que "serviam a D e u s" no tem plo restaurado. E de líderes espirituais m unda­ nos q u e n a sce m a d o ra d o re s m u n d a n o s. A p esar de a geração mais velha de judeus provavelm ente ter aprendido a o bediên cia por m eio da disciplina à qual D eus os sub­ m eteu, a geração m ais jovem não assim i­ lou as lições que os mais velhos tentaram ensinar. A história espiritual de Israel, resu­ m ida em Esdras 9 :7 , é prova inequívo ca de que os privilégios trazem consigo respon­ sabilidades e de que "àquele a quem m ui­ to foi d ad o , m uito lhe será e x ig id o " (Lc se envergonhar do pecado é sinal de hipo­ crisia e de uma experiência espiritual levia­ na (Jr 6 :1 3 - 1 5 ). " S e rã o e n v e rg o n h a d o s , porque com etem abom inação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é enver- 1 2 :4 8 ). " S o m o s in d ig n o s d e tuas b ê n ç ã o s " (vv. 8, 9). Esdras usou cinco imagens diferentes para retratar o que a graça de Deus havia feito pelo povo que regressou à terra. Em sua graça, D eus havia preservado um rem a­ nescente, com o um pedaço de tecido rasga­ do de um manto e guardado em segurança (ver 1 Rs 1 1 :26-40). Ao longo de toda a histó­ ria de israel, mesm o quando a nação se afas­ tou de D eus, ele nunca deixou de preservar gonhar-se" (Jr 8 :1 2 ). As palavras e atitudes que faziam as gerações passadas enrubesce- um rem an escen te que p erm an eceu fiel a ele (1 Rs 1 9 :1 8 ; Is 1 :9; Ml 3 :1 6 , 17; L c 2 :3 8 ), nos que o pecado seja tratado, a co ngre­ gação torna-se im pura. A ssim co m o os pecados do publicano na parábola de Jesus (Lc 1 8:9-14), Esdras estava envergonhado dem ais para olhar para o céu enquanto orava. A incapacidade de 610 ESDRAS 9 - 1 0 e desse re m an e sce n te deu o rigem a um novo com eço . Em seguida, Esdras falou de alguns que escaparam "para dar-nos estabilidade no seu santo lugar". Trata-se da imagem de um pre­ go co locado na parede do santuário ou na estaca de um a tenda fincada no chão; retra­ dos profetas, in clu siv e Levítico 1 8 :2 4 -2 6 ; D euteronôm io 7:1-6 e 11:8, 9; Isaías 1:19; 2 Reis 23:8-16; Ezequiel 5:11 e 3 7 :2 5 . É evi­ dente que esses hom ens ju d eu s pecavam ta segurança e estabilidade, aquilo que os judeus tinham em sua terra. Deus havia le­ vado o rem anescente de volta para sua ter­ consciente e deliberadam ente. As práticas religiosas dos cananeus eram de um a p e rv e rsid a d e in d e scritíve l, e sua fetidez chegou ao céu . D eus havia retido pacientem ente sua ira, mas a hora do julga­ mento desses povos chegara quando Israel ra e lhe dado o favor do rei e dos governantes locais. Se os jud eus tivessem confiado em invadiu C anaã (G n 15 :1 6 ). Esse extermínio da civilização cananéia foi com o a rem oção Deus e obedecido à sua Palavra, ele os teria abençoado abundantem ente. Porém , esco ­ lheram segu ir os p ró p rio s c a m in h o s, de modo que o Senhor teve de castigá-los com tempo ruim, colheitas escassas e sérios pro­ blemas econôm ico s (Ag 1). Em terceiro lugar, D eus ilum inou seus olhos, tirando-os do cativeiro da Babilônia e levando-os de volta à própria terra. Ter os "olhos iluminados" é uma forma de referir-se a uma nova vida, nova alegria e ao am anhe­ cer de um novo dia. E sem elhante à imagem seguinte que fala de "dar um p o u c o de vida na nossa servid ão". A presença de um rema­ nescente na terra era co m o uma ressurrei­ ção dentre os mortos! Sua saída da Babilônia foi com o a volta à vida de um corpo saldo da cova. A última imagem em pregada por Esdras de um tum or maligno p o r um cirurgião, ou com o o encerram ento de um esgoto tóxico por um engenheiro. O b serve as palavras que Esdras em pregou em sua oração: "im unda, im undícia, abom inações, co rru p ção ". A lei de D eus deixava claro que Israel não deveria ter ligação algum a com essas nações, porém mais de uma centena de ju ­ deus haviam dado o prim eiro passo casando-se com m ulheres desses povos (Ed 9 :1 2 ). É claro que isso poderia prom over relações pacíficas e, talvez, até riqueza econôm ica, mas e quanto ao futuro? O que seria dos filh o s desses ca sa m en to s m istos quand o chegasse a hora de obedecer a D eus e de tornar-se parte da aliança? Esses h om ens es­ é a de "um m uro de segurança em Judá e em Jerusalém " (Ed 9 :9 ) e diz respeito ã proteção que D eus havia co ncedid o a seu povo. H a­ via tocado no coração de reis - C iro, Dario, Xerxes e A rtaxerxes I - a fim de garantir a seu povo a libertação do cativeiro e a segu­ rança na própria terra. Esses reis eram gover­ nantes orgulhosos e poderosos, mas, em sua soberania, o Senhor usou-os para cum prir seus propósitos. Não é de se admirar que Esdras estives­ se envergonhado . D e p o is de tudo o que D eus havia feito por seu povo, retribuíram desobedecendo à sua Palavra. "Q u e direm os d ep o is disto" (Ed 9:10-12). A oração eficaz requer o conhecim ento da Palavra de Deus (Jo 15:7), e Esdras conhecia todas as Escritu­ ras do Antigo Testam ento. Nestes versículos, ele se refere a várias passagens de M oisés e "Q u e diremos depois disto?" " S o m o s c u lp a d o s " (vv. 13-15). A culpa sem pre faz a pessoa calar-se diante de Deus (Rm 3 :1 9 ). O s pecadores não têm justificati­ vas lógicas para seus pecados nem descul­ pas aceitáveis. Esdras não apenas confessou os pecados do povo, com o tam bém admi­ tiu que D eus os havia tratado com muito mais bondade do que m ereciam . Sabia que D eus não teria dificuldade alguma em des­ truir o rem anescente e em co m e çar outra vez com outro povo (Êx 3 2 :1 0 ; Nm 14:11, 12), mas, assim com o M oisés, pediu a Deus que usasse de sua graça e que lhes co n ce­ desse o perdão. tavam sacrificando o futuro a um preço muito alto. Não valia a pena. Não é de se admirar que Esdras estivesse atônito e perguntasse: Ninguém poderia apresentar-se nem falar na presença de D eus. Eram um povo culpa­ do : alguns d eles por terem tran sgredid o deliberadam ente a lei de D eus, outros por ESDRAS 9 - 1 0 terem perm itido que os transgressores per­ m anecessem incólum es. Porém , Deus é jus­ to, e um D eus justo deve castigar o pecado. Antes de tentarm os d esfazer o em ara­ nhado de problem as em nossa vida, deve­ mos parar e buscar a Deus em oração. Essa oração de Esdras não é muito longa e pode ser lida em vo z alta e de m odo atento em poucos minutos, mas tem um a profundida­ de trem enda. C harles Spurgeon costum ava dizer, com razão, que o im portante não é se nossas orações são longas, mas se são poderosas. Ao orar por algum peso em seu coração com a m ente saturada da Palavra de D eus, o Senhor ouvirá e responderá. 3 . C o o p e r a ç ã o : o d e s e jo d o p o v o (E d 10:1-8) N unca subestim e o poder das oraçãos de um cristão dedicado (Tg 5:16-18), pois a intercessão de uma só pessoa que se im porta pode fazer a diferença no que D eus opera­ rá para seu povo e por meio dele. Enquanto Esdras orava e chorava próxim o ao altar dian­ te da casa do Senhor, "ajuntou-se a ele de Israel mui grande congregação de homens, de m ulheres e de crianças" e foram co nven­ cidos de seus pecados. " O povo chorava com grande cho ro" (Ed 10:1). Não foi um a reação que Esdras pro­ vocou intencionalm ente, mas sim que resul­ tou de suas orações. O s sacerdotes haviam o ferecid o um co rd eiro sobre o altar, mas Esdras deu ao Senho r um sacrifício ainda maior. "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração com pungido e contrito, não o desprezarás, ó D eus" (Sl 5 1 :1 7 ). Ao observar o cenário religioso de nos­ so tempo, vejo que as igrejas por vezes apre­ sentam "com ediantes cristãos" e "palhaços cristãos", mas não se fala muito sobre as pes­ soas que sabem chorar e orar. A precio um senso de hum or saudável e boas risadas, com o qualquer outra pessoa, mas chega um m omento em que o povo de Deus deve pa­ rar de rir e com eçar a chorar e a confessar. "Afligi-vos, lam entai e chorai. Convertase o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. H um ilhai-vos na p resen ça do 611 Senhor, e ele vos exaltará" (Tg 4 :9 , 10). Essa é a fórm ula de D eus para o reavivam ento. Secanias, um hom em cujos próprios pa­ rentes haviam pecado, casando-se com mu­ lheres estrangeiras, serviu de porta-voz do povo (Ed 1 0 :2 6 ). Em meu ministério pasto­ ral, vi igrejas se dividirem e seu testemunho quase ser destruído por causa de pessoas que tom aram partido de parentes desobe­ dientes em questões de disciplina, em vez de ficarem do lado do Senhor e de sua Pala­ vra. Talvez Secanias tenha se lem brado da­ quilo que M oisés escreveu sobre os males do ju lg am e n to te n d e n cio so (D t 1 3 :6 -1 1 ; 17:1-13). Paulo ensinou o mesm o princípio à igreja local (1 Tm 5 :2 1 ). Para a m aioria das pessoas reunidas ao redor de Esdras, é bem provável que a situa­ ção parecesse desesperadora, porém não para Secanias, que disse: "no tocante a isto, ainda há esperança para Israel" (Ed 10:2). Confessou que ele e o resto do povo eram cu lp ad o s, sugerindo, então , um plano de ação. O plano era sim ples, porém rigoroso. Prim eiro, a nação se reuniria e, com o um só povo, se co m p ro m eteria a o b e d ecer à lei de D eus. Em seguida, Esdras e um grupo de hom ens que "trem em ao m andado do nosso D eus" decidiriam de que modo a questão seria resolvida, e o povo prom eteria obede­ cer ao que decretassem . Porém , tudo deve­ ria ser feito de acordo com a lei de M oisés. Esdras aceitou o plano. M ais que depres­ sa, nom eou um a co m issão com posta dos principais sacerdotes e levitas para investi­ gar a questão e providenciar para que a lei fosse cum prida. Porém , em v e z de partici­ par diretam ente dessa investigação, ele se retirou para uma das câm aras do templo a fim de jejuar e orar pedindo a orientação de Deus. Deixou ao encargo da com issão to­ mar as decisões e dizer ao povo o que de­ veriam fazer. O líder sábio envolve outras pessoas no processo, especialm ente no caso de questões tão sensíveis quanto essa. A co m issão co n vo co u o povo de Jeru ­ salém e das vilas ao redor da cid ad e para que co m p arecesse m a Jerusalém dentro de três dias, estando su jeito s à exp u lsã o da 612 ESDRAS 9 - 1 0 co m u n id a d e caso não o fize ssem . N essa ocasião, cada casam ento seria investigado, e a com issão descobriria quem havia trans­ gredido a lei de M oisés. Um líder de oração hum ilde, um povo disposto a obedecer e um grupo de homens fiéis e corajosos trabalharam em conjunto para realizar uma tarefa difícil. Q u e grande exem plo para a Igreja de hoje! 4. P u r i f i c a ç ã o (E d 10:9-44) : um p o v o o b e d ie n t e No dia 19 de d ezem b ro de 4 5 8 a .C ., os hom ens das duas tribos principais, Judá e Benjam im , bem com o os exilados de outras tribos, reuniram-se na rua diante do templo e deram início à investigação form al. (É pos­ sível que essa reunião tenha o co rrid o na Po rta das Á g u as, o n d e , p o s te r io rm e n te , Esdras explicou a lei ao povo, Ne 8:1 ss.) Estavam na m etade da estação das ch u ­ vas (que ia de outubro até m etade de abril), e o povo trem ia não apenas por causa do tem po, mas tam bém por estarem certos de que a chu va co p io sa era um prelúdio do julgam ento divino. Esdras deixou claro que os casam entos mistos teriam de ser anula­ dos e instou os jud eus fiéis a se separarem daqueles que haviam d e so b e d e cid o à lei de D eus. M ais uma vez, Esdras recebeu e aceitou o conselho que lhe foi oferecido. (Bem-aven­ turado o líder que tem os ouvidos abertos para as id éias de ou tros!) Sugeriu-se que Esdras desse à com issão de sacerdotes e le­ vitas o poder de trabalhar com os líderes das tribos e tam bém com os anciãos e ju ize s das cidades (um a v e z q u e co nh eciam seu povo) e que lhes permitisse determ inar quem era culpado. Não seria prático tentar inter­ rogar tantas pessoas em um só lugar, espe­ cialm ente com as condições desfavoráveis do tempo. Além disso, tratava-se de um tra­ balho que não poderia ser concluído em um só dia. Com exceção de quatro hom ens que apresentaram suas divergências (Ed 10:15), a multidão concordou com essa idéia e pro­ meteu obedecer. D e z dias depois (v. 16), em 29 de de­ zem b ro , Esdras e os líderes reuniram -se e com eçaram a investigar a situação. C o n cluí­ ram os trabalhos três meses depois, no dia 27 de m arço de 4 5 7 a.C . D eve ter sido uma tarefa difícil de realizar, mas, com a ajuda do Senhor, os m em bros da com issão perseveraram até o fim. D escobriram mais de cem transgressores,6 inclusive 2 7 sacerdotes, levitas, cantores do tem plo e porteiros - in­ divíduos dos quais se esperava um a obe­ diência exem plar. Q u an d o os líderes espirituais com eçam a pecar, logo o povo está seguindo pelo m esm o cam in h o . A p esar de não de se jar­ mos m inim izar a eno rm idade do pecado, d e vem o s o b se rv ar que os transgressores constituíam um grupo pequeno em propor­ ção à população total. O ite n ta anos antes, 50 mil jud eus haviam regressado com Z o ro ­ babel e Josué e, sem dúvida, esse núm ero havia crescid o ao longo dos anos seguin­ tes. O total de transgressores representava m enos de 1% do povo. Porém , é sem pre m elhor tratar dessas questões quando ain­ da não são abrangentes, pois, quanto mais tem po se espera, mais o pecado se espalha. A té m esm o um só transgressor já é dem ais (Ec 9 :1 8 ). O s sacerdotes culpados prom eterem se­ parar-se de suas esposas pagãs e oferece­ ram sacrifícios a fim de buscar o perdão de D eus (Ed 10 :1 8 , 19). Supom os que os outros transgressores da lista seguiram o exem plo desses líderes. Em sua graça, Deus aceitou o arrependim ento e a confissão dessas pes­ soas e lhes concedeu o perdão. O Livro de Esdras co m e ça no capítulo 2 com uma lista dos nom es dos heróis ju ­ deus que se dispuseram de bom grado a voltar para a terra e servir ao Senhor. O li­ vro term ina com um a lista de pecadores que desobedeceram a D eus, m as co locaram a vida em ordem com o Senhor e com o povo publicam ente. Porém , "co lo ca r as coisas em ordem " não curo u, autom aticam ente, todas as feridas nem aliviou toda dor, pois as mulhe­ res em questão tiveram de deixar a com uni­ dade e de voltar a seus respectivos povos, le v a n d o co n sig o to d as as c ria n ç a s que haviam nascido de sua união com judeus. E fácil rem over os pregos de uma tábua, mas 613 ESDRAS 9 - 1 0 é im possível arrancar os buracos que dei­ xam para trás. T rin ta ano s d e p o is, qu and o N e em ias era o governador de Jerusalém , o pro ble­ ma dos casam entos mistos havia reapareci­ do (N e 13:23-31). O s líderes podem im por 1. a lei e reform ar a conduta de uma nação, mas som ente D eus pode m udar o co ração do ser hum ano e produzir o tipo de caráter que anseia por fazer o que é certo. Essa é a d iferença entre um a "reform a" e um "rea­ vivam en to ". Essa injunção também pode ser encontrada em Levítico 11:45; 19:2; 2 0 :7 , 26; 2 1 :8 e em 1 Pédro 1:15, 16. Q uando Deus repete uma ordem oito vezes, é m elhor seu povo prestar atenção! 2. O s cristãos são exortados a se casar "no Senhor" (1 Co 7:39) e a não se unir a incrédulos (2 Co 6:14-18). A distinção que a antiga aliança fazia entre judeus e gentios não se aplica mais, pois Deus fez de todas as nações um só sangue e não existem mais diferenças (A t 10; 17 :2 6; Rm 3:21-23). O M essias já veio, e a obra de salvação foi com pletada, de modo que judeus e gentios que crerem podem se casar no Senhor e servir a Deus. 3. Podem os encontrar três grandes orações de confissão no Antigo Testam ento: Esdras 9, Neem ias 9 e Daniel 9. 4. Q uand o Neem ias descobriu o pecado, arrancou os cabelos dos transgressores! (Ne 13:25). 5. O term o "prostrado" indica que Esdras jejuou durante esse tem po de dificuldade não porque estivesse tentando obter a 6. Dependendo de com o o texto é traduzido e de com o os diversos relacionamentos são determinados, o número de transgressores bênção de Deus, mas sim plesmente por estar aflito demais para se alimentar. é 110 ou 111. N eemias ESBOÇO 2. O s muros - 12:27-47 1. PREOCUPAÇÃO - 1 V. PURIFICAÇÃO - 13 1. Inform ação - 1:1-3 2. Intercessão 1:4-9 3. Intenção - 1:10, 11 CONTEÚDO 1. Alguém se im porta de verdade? II. CONSTRUÇÃO - 2 - 3 2. (N e 1)................................................................... 615 O monte co m eça a se mover (N e 2 )................................................................... 621 1. 2. 3. 4. Autoridade - 2:1-10 Investigação - 2:11-16 Desafio - 2:17-20 Incum bências - 3:1-32 4. III. CONFLITO - 4 - 6 5. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 3. Zom baria - 4:1-6 Conspirações - 4:7-9 Desânim o - 4 :1 0 M edo - 4:11-23 Egoísmo - 5:1-19 Transigência - 6:1-4 6. 7. 8. 7. M aledicência - 6:5-9 8. A m eaças - 6:10-16 9. Intriga - 6:1 7-19 IV. CONSAGRAÇÃO 1. 9. - 7 - 1 2 O povo - 7:1 - 12:26 (1) (2) (3) (4) A verificação da genealogia - 7 O ensinam ento da Palavra - 8 A confissão do pecado - 9 A realização da aliança 10:1 - 12:26 Um muro de trabalhadores (Ne 3)................................................................... 627 Trabalhadores e guerreiros (Ne 4 )................................................................... 633 Pega ladrão! (Ne 5)................................................................... 638 O uvim o s o inimigo, e ele é um mentiroso (N e 6).......................................... 644 " V " de vigilância (N e 7)................................................................... 650 O povo e o livro (N e 8)................................................................... 656 M aravilhosa graça! (Ne 9 )................................................................... 661 10. Depois que dizem os "Am ém " (Ne 10)................................................................ 667 1 1 . 0 clam or ouvido ao redor do mundo (Ne 11 - 12).................................. 672 12. Cum prindo nossas promessas (N e 13)................................................................ 678 13. À procura de líderes (N eem ias, o líder)......................................... 684 1 A Im p o r t a V erd a d e? l g u é m se de N eem ias 1 / / / ^ pior pecado que podem os comeV^>/ ter contra outros seres hum anos não é odiá-los, mas sim ser indiferentes a eles: essa é a essência da desum anidade." G e o rg e Bernard S h aw escreveu essas p a la v ra s p ara o p e rso n a g e m re v e re n d o A nthony Anderson, no segundo ato de sua peça The D evi!'s D iscip le [O D iscípulo do D iabo]. Essa declaração , sem dúvida, resu­ me o que Jesus ensinou na parábola do bom sam aritano (Lc 10:25-37) e censura todos os que cru zam os b raço s em co m p la cê n cia , abrem um sorriso agradável e perguntam de modo um tanto sarcástico: "E, por acaso, eu me im porto?" N eem ias era o tipo de pessoa que se im portava. Ele se im portava com as tradições do passado, com as necessidades do pre­ sente e com as esperanças do futuro. Ele se im portava com sua herança, com a cidade de seus antepassados e com a glória de seu D eus. N eem ias revelou sua preocupação de quatro m aneiras diferentes. 1. Im p o r t o u -s e o s u f i c i e n t e p a r a perg u n ta r (Ne 1:1-3) N eem ias era um leigo e servia com o copeiro do grande "A rta x e rx e s Lo n g im anu s", que reinou sobre a Pérsia de 4 6 4 a.C . a 423 a.C . E identificado com o filho de Hacalias, a fim de ser distinguido de outros judeus de mes­ m o n o m e (N e 3 :1 6 ; Ed 2 :2 ) . O n o m e "N eem ias" quer dizer " O Senhor consolou". Um copeiro era muito mais do que um "m o rd o m o " de hoje em dia (ver G n 4 0 ). O cu p ava um a posição de grande privilégio e responsabilidade. A cada refeição, experi­ mentava o vinho do rei para se certificar de que não estava en ve n en ad o . Um hom em assim , tão próxim o do rei em público, deve­ ria ser bem apessoado, culto, bem instruído nos procedim entos da corte e cap az de con­ versar com o rei e de aconselhá-lo, caso ele o pedisse (ver 41:1-13). Por ter acesso ao rei, o copeiro possuía muita influência, que poderia usar tanto para o bem quanto para o mal. O fato de N eem ias, que era judeu, ter um cargo tão im portante no palácio mostra a excelência de seu caráter e com petência (D n 1:1-4). O rem anescente judeu já havia passado quase um século em sua terra, e Neem ias poderia ter se juntado a eles, mas escolheu perm anecer no palácio. Na verda­ de, Deus tinha uma missão para ele que não poderia ser cum prida em nenhum outro lu­ gar. D eu s co lo co u N e em ias em Susã, da m esm a form a que co lo co u Ester naquela m esm a cid ad e um a geração antes e que tam bém colocou José no Egito e Daniel na Babilônia. Q uand o Deus deseja realizar uma obra, sem pre prepara seus servos e os colo­ ca no lugar certo, na hora certa. Em nosso calendário, o mês hebraico de quisleu vai de m eados de novem bro a mea­ dos de d e z e m b ro , e o vig ésim o ano de A rtaxerxes foi 4 4 4 a.C . Susã era a capital do im pério persa e onde ficava o palácio de inverno do rei. Num dia com o outro qual­ quer, N eem ias encontrou-se com seu irmão, Hanani (ver Ne 7:2), que havia acabado de voltar de uma visita a Jerusalém . Na verda­ de, porém , esse dia deu um novo rumo à vida de Neem ias. Assim com o portas enorm es, aconteci­ m entos tran sfo rm ad o res podem girar em torno de dobradiças muito pequenas. Num dia co m o outro qualquer, M oisés havia saí­ do para cuidar das ovelhas quando ouviu o cham ado do Senhor e se tornou profeta (Êx 3). Num dia com o outro qualquer, Davi, que estava pastoreando seu rebanho, foi cham a­ do de volta para casa e foi ungido rei (1 Sm 16). Num dia com o outro qualquer, Pedro, A ndré, Tiago e João estavam consertando as redes depois de um a noite frustrante, e Jesus os cham ou para se tornarem pescado­ res de hom ens (Lc 5:1-11). N unca sabemos 616 NEEMIAS 1 0 que Deus tem reservado para nós, mes­ mo num a conversa simples com um amigo ou parente; por isso, tenha sempre o cora­ çã o aberto para a orientação providencial do Senhor. U m a noite, quando estava com 1 9 anos de idade, fui a uma festa de aniver­ sário e algo que um amigo me disse nessa festa ajudou a dirigir m inha vida até os pla­ nos que Deus tinha para mim. Serei eterna­ mente grato por esse acontecim ento. O que levaria N eem ias a perguntar so­ bre um rem anescente atribulado que vivia a centenas de quilômetros? A final, ele era o copeiro do rei e tinha uma vida bem-sucedi­ da e segura. Por certo, não era culpa dele que seus antepassados houvessem pecado contra o Senhor e trazido julgam ento sobre a cidade de Jerusalém e sobre o reino de Judá. Um sécu lo e m eio antes, o profeta Jerem ias transm itira a seguinte palavra do Senhor: "Pois quem se com padeceria de ti, ó Jerusalém? O u quem se entristeceria por ti? O u quem se desviaria a perguntar pelo teu bem-estar?" (Jr 15:5). N eem ias era o h o ­ m em qu e D eu s havia e sc o lh id o para fazer exatam ente isso! A lgum as pessoas preferem não saber o que está aco n te cen d o , pois essa inform a­ ção pode im plicar certas responsabilidades. D e acordo com o velho ditado: "Aquilo que vo cê não sabe não lhe pode fazer m al". M as será que isso é verdade? N um a carta a uma c e rta Sra. F o o te , M a rk T w a in e s c re v e u : "Tudo o que vo cê precisa nesta vid a é de ignorância e de co n fia n ça; essas duas co i­ sas são a garantia de su cesso ". Porém , aqui­ lo que não sabem os p o d e nos prejudicar, e m uito! H á pessoas no cem itério que es­ colheram não saber a verd ad e . O slogan de um a cam panh a sobre A ids em 1 9 8 7 di­ z ia : "N ão m o rra-d e ig n o rân cia ", palavras que se aplicam a vário s aspectos da vida além da saúde física. N eem ias perguntou sobre Jerusalém e sobre os ju d eu s que vivia m lá, pois era um hom em ate ncio so . Q u an d o nos p re o cu p a­ m os de verd ade com as pessoas, querem os saber o que se passa, por mais doloroso que seja. Nas palavras do historiador norteam ericano H enry Adam s: "A política prática consiste em ignorar os fatos", mas A ldous H u xley disse: " O s fatos não deixam de exis­ tir só p o rq ue são ig n o rad o s". Fe ch a r os o lh o s e os o uvid o s para a verd ad e pode ser o prim eiro passo em direção a conse­ qüências trágicas para nós m esm os e para o utros. O que N e e m ia s d e sc o b riu so b re Je­ rusalém e os judeus? A s más notícias que recebeu podem ser resum idas em três pa­ lavras: rem anescente, ruínas e opróbrio. Em vez de ser um a terra habitada por uma na­ ção num erosa, só havia um rem anescente do povo em Judá. A queles po uco s judeus passavam por grandes afliçõ e s e lutavam para sobreviver. Em v e z de ser um a cidade m ag n ífica, Jeru salé m estava em ruínas, e onde antes se v ira grande glória, restava apenas opróbrio. É evidente que N eem ias sem pre soube que a cidade de seus antepassados estava em ruínas, pois os babilônios haviam des­ truído os m uros, as portas e o tem plo de Jerusalém em 586 a.C . (2 Rs 25:1-21). C in­ qüenta anos depois, um grupo de 50 mil jud eus regressou a Jerusalém para recons­ truir o tem plo e a cidade. Diante da oposi­ çã o que so freram da p arte dos gentio s, porém , só conseguiram com pletar o templo vinte anos depois (Ed 1 - 6), e os muros e portas não chegaram a ser reparados. Talvez N eem ias tivesse esperança de que os judeus houvessem com eçado a trabalhar outra vez e de que a cidade estava sendo restaurada. Sem m uros e sem portas, a cidad e ficava exposta ao escárn io e ao ataque inimigo. Nos Salm os 48, 79, 84 e 87, pode-se ver o am or dos judeus fiéis por sua cidade. Será que som os com o N eem ias, ansio­ sos para saber a verdade até m esm o sobre as piores situaçõ es? N osso interesse pro­ ced e de um a pre o cu p ação verd adeira ou apenas de curio sidade desocupada? Q u a n ­ do lem os cartas de m issionários com pedi­ dos de o ração , no tícias em perió dico s cris­ tãos ou m esm o relatórios dos m inistérios em nossa igreja, querem os saber dos fatos ou os consideram os um peso? Som os o tipo de pessoa que se im porta o suficiente para perguntar? NEEMIAS 1 2 . Im p o r t o u -s e o s u f i c i e n t e p a r a chorar (Ne 1:4) Aquilo que leva as pessoas a rir ou a chorar indica, com freqüência, com o é seu caráter. As pessoas que riem dos erros e desgraças dos outros ou que choram por causa de d ecepções pessoais insignificantes são des­ providas de cultura ou de caráter e, possi­ velm ente, de am bos. Por vezes, o choro é um sinal de fraqueza, mas no caso de N ee­ mias, foi um sinal de força, com o tam bém o foi no caso de Jerem ias (Jr 9 :1 ), de Paulo (At 2 0 :1 9 ) e de Jesus (Lc 1 9 :4 1 ). Na verdade, Neem ias mostrou-se sem elhante a Jesus em sua disposição de com partilhar o fardo que oprim ia a outros. "As injúrias dos que te ul­ trajam caem sobre m im " (Sl 6 9 :9 ; Rm 15:3). Q u an d o Deus co loca um peso em nos­ so co ra çã o , não devem os tentar escapar, pois se o fizerm o s, perderem os a bênção que ele tem reservada para nós. O Livro de Neem ias co m eça com "grande m iséria" (Ne 1 :3), mas antes de chegar ao fim, há grande alegria (8 :1 2 , 1 7). "Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela m anhã" (Sl 3 0 :5 ). Nossas lágrimas regam as "sem entes da providência" que D eus plantou em nosso cam inho, sem entes estas que, sem lágrimas, jam ais poderiam crescer e produzir frutos. O s judeus costum avam sentar-se quan­ do pranteavam (Ed 9:1-4). Inconscientem en­ te, N eem ias im itava a postura de tristeza profunda dos judeus cativos que haviam sido exilados na Babilônia (Sl 1 3 7 :1 ). Assim com o D an iel, N eem ias tinha um aposento parti­ cular onde orava a D eus enquanto se volta­ va para Jerusalém (Dn 6 :1 0 ; 1 Rs 8:28-30). O s judeus tinham o dever de jejuar apenas uma v e z por ano, no D ia da Expiação (Lv 1 6 :2 9 ), m as N e e m ias passo u v á rio s dias jejuando, chorando e orando. Sabia que al­ guém deveria fazer algo para salvar Jerusa­ lém e estava disposto a ir até lá. 3 . Im orar p o r t o u -s e o s u f i c i e n t e p a r a (Ne 1:5-10) Essa oração é a prim eira de doze registradas no Livro de N eem ias (ver 2 :4 ; 4 :4 , 9; 5 :1 9 ; 6 :9 , 14; 9:5ss; 13:14, 22, 29, 31). O livro co­ m eça e term ina com orações. Sem dúvida 617 algum a, N eem ias era um hom em de fé, que depend ia inteiram ente do Senhor para ajudá-lo a realizar o trabalho para o qual o havia cham ado. Nas palavras do escritor esco cês G eo rg e M acD o n a ld : "Em tudo aquilo que o hom em faz sem D e u s, fracassa m isera­ velm ente ou é ainda mais m iseravelm ente bem -sucedido". N eem ias foi bem -sucedido porque depen d eu de D e u s. A o se referir ao m inistério da Igreja de hoje, o já faleci­ do A lan Redpath disse: "H á muito trabalho diante dos hom ens e po uca espera diante de D eus". Essa o ra çã o co m e ç a co m um a d e cla ra ­ çã o d e lo u v o re s a D e u s (v. 5 ). "D eu s dos céus" foi o título que C iro usou para o Se­ nhor quando anunciou que os judeus pode­ riam voltar para sua terra (2 C r 3 6 :2 2 , 23 ; Ed 1:1, 2). O s deuses pagãos não passavam de ídolos feitos na terra, mas o D eus dos ju ­ deus era Senhor no céu. Esdras usou esse título divino em várias ocasiões (5 :1 1 , 12; 6 :9 ; 7:1 2 , 21, 23), e a m esm a designação pode ser encontrada quatro vezes em N ee­ mias (1 :4, 5; 2 :4 , 20) e três vezes em Daniel (2 :1 8 , 19, 4 4 ). Neem ias com eçou sua ora­ ção da form a com o nós devem os com eçar a orar: "Pai nosso, que estás nos céus, santi­ ficado seja o teu nom e" (M t 6:9). A que tipo de D eus oram os quando diri­ gimos nossas orações ao "D eus dos céus"? O ram os a um D eus "grande e tem ível" (Ne 1 :5 ; ver tam bém 4 :1 4 , 8 :6 e 9 :3 ), digno de nosso louvor e adoração. Se estiverm os pas­ sando por grandes aflições (v. 3) e prestes a iniciar um a grande obra (4 :1 9 ; 6 :3 ), preci­ sam os do grande poder (1 :1 0 ), da grande bondade (9 :2 5 , 35) e da grande m isericór­ dia (v. 31) de um Deus grande. O D eus que adoram os é grande o suficiente para lidar com os desafios que enfrentamos? Ele tam bém é o Deus que cum pre suas prom essas (1:5). O Senhor fez uma aliança com seu povo, Israel, prom etendo abençoálo ricam ente se obedecesse à sua Palavra, mas advertiu que o disciplinaria se desobe­ decesse (Lv 2 6 ; Dt 2 7 - 30). A cidade de Jerusalém estava em ruínas, e a nação en­ contrava-se deb ilitad a, pois o povo havia pecado contra o Senhor (ver a o ração de 618 NEEMIAS 1 confissão de Esdras em Esdras 9 e a oração o povo, trouxe vergonha e derrota à nação do povo em N eem ias 9). Neemias ded icou a m aior parte de sua oração à confissão dos pecados (vv. 6-9). inteira. U m a vez que esse pecado foi trata­ do, Deus pôde abençoar seu povo novamen­ O Senhor que prometeu abençoar e disci­ plinar tam bém prom eteu perdoar, caso o povo se arrependesse e voltasse para ele (Dt 30 ; 1 Rs 8:31-53). Era dessa prom essa que Neem ias estava se apropriando ao orar por si m esm o e pela nação. O s olhos de Deus estão sobre seu povo e seus ouvidos, aber­ tos a suas orações (1 Rs 8 :2 9 ; 2 C r 7 :1 4 ). O verbo lem brar é um term o-chave no Livro de N eem ias (1 :8 ; 4 :1 4 ; 5 :1 9 ; 6 :1 4 ; 13:14, 22, 29, 31). O b serve que N eem ias usou o pronom e "n ó s" e não "eles" e, assim , se identificou com os pecados de um a geração que se­ quer havia conhecido. Teria sido fácil olhar para trás e culpar os antepassados pelo opró­ brio de Jerusalém , mas N eem ias fez uma introspecção e culpou a si m esm o! "P eca­ m o s! A g im o s d e m o d o e x tre m a m e n te corrupto!" Alguns anos atrás, quando os "escânda­ los da m ídia" trouxeram grande o próbrio sobre a Igreja, escrevi em m eu livro The Integrity Crisis [A C rise de Integridade]: Em primeiro lugar, a crise de integridade envolve mais do que algumas pessoas acusadas de impropriedades morais e financeiras. A crise de integridade envol­ ve toda a Igreja. Com isso, não estou di­ zendo que indivíduos não pecaram, nem estou pregando a "culpa coletiva", seja ela o que for. Desejo apenas enfatizar que, no corpo de Cristo, pertencemos uns aos outros, aquilo que fazemos afe­ ta os outros, e não temos como escapar uns dos outros. Não foi a imprensa que criou a crise, mas sim a Igreja, e, portan­ to, é a Igreja que deve resolvê-la (Nashville: Oliver Nelson, 1988, p. 18). Q u an d o A cã, um soldado de Israel, pecou em Jericó, D eus disse: "Prevaricaram os fi­ lhos de Israel" e que "Israel" pecou e violou a aliança (Js 7:1, 11). Tendo em vista que o pecado de um hom em era o pecado de todo te com a vitória. C om o saber se D eus perdoa nossos pe­ cados quando nos arrependem os e os con­ fessamos? Foi o q u e ele prom eteu em sua Palavra. A oração de N eem ias é repleta de citações e de alusões às alianças de Deus encontradas em Levítico e D euteronôm io. Não há dúvida de que ele conhecia a lei do Antigo Testam ento! Em N eem ias 1 :8, 9, lem­ brou Deus de suas palavras registradas em D e u te ro n ô m io 2 8 :6 3 -6 7 e 3 0 :1 -1 0 , assim com o lem bram os o Senhor de sua promes­ sa em 1 João 1:9. N eem ias pediu a Deus que perdoasse seu povo, que os ajuntasse em sua terra e que lhes restaurasse seu fa­ vor e suas bênçãos. Essa oração hum ilde encerrou com uma expressão de confiança (vv. 10, 11). Em pri­ meiro lugar, N eem ias confiava no poder de D eus. Q uand o a Bíblia fala dos olhos, ouvi­ dos e mãos do Senhor, apenas em prega lin­ guagem hum ana para descrever atividades d ivin as. D e u s é espírito e, po rtanto , não possui um corpo com o o dos seres huma­ nos. No entanto, ele é capaz de ver as neces­ sidades de seu povo, de ouvir suas orações e de operar em seu favor com mão podero­ sa. N eem ias sabia que não tinha forças para reconstruir Jerusalém , mas acred itava que D eus operaria em seu favor. A lém disso, co n fiava na fid elid ad e de D eus. "Estes ainda são teus servos e o teu povo" (v. 10). A o traze r a B ab ilô n ia para destruir Jerusalém e levar o povo cativo, Deus aplicou-lhe um a disciplina dolorosa, mas não o abandonou! A inda eram seu povo e seus servos. Ele os havia resgatado do Egito com seu grande poder (Êx 14:13-31) e também os havia libertado do cativeiro na Babilônia. Não iria, então, em sua fidelidade, ajudá-los a reconstruir a cidade? Ao contrário de Elias, que pensou ser o único israelita fiel que ainda restava (1 Rs 1 9 :1 0 ), N eem ias confiava que Deus levan­ taria outras pessoas para ajudá-lo em seu tra­ balho. Tinha certeza de que muitos outros ju d eu s tam bém estavam orando e que se NEEMIAS 1 619 juntariam à causa, uma vez que soubessem seu poder que opera em nós" (Ef 3 :2 0 , grifos que D eus estava agindo. O s grandes líderes não são apenas pessoas de fé que obede­ cem ao Senhor e que avançam corajosam en­ te, mas tam bém são aqueles que desafiam outros a acom panhá-los. Não se pode ser um verdadeiro líder a menos que se tenha seguidores, e N eem ias conseguiu pessoas para ajudá-lo a cum prir sua missão. Por fim , N eem ias estava certo de que D eus tocaria o co ração de A rtaxerxes, ga­ ran tind o assim que a e m p reitad a teria o apoio oficial necessário (N e 1 :1 0 ). Neem ias não poderia sim plesm ente pedir dem issão de seu trabalho e se mudar para Jerusalém . H avia sido nom eado para seu cargo pelo rei e necessitava da perm issão de Artaxerxes para tudo o que fazia. Além disso, precisava q u e o rei fo rn e ce sse provisões e proteção, a fim de que fosse cap az de viajar para Jeru­ salém e de ficar afastado de seu cargo até que tivesse concluído o trabalho. Sem a au­ toridade oficial para governar, sem uma guar­ da oficial para a jornada e sem o direito de usar materiais dos bosques do rei, o projeto m eus). Para que D eus responda às orações, deve com eçar operando na vida daquele que está orando! Trabalha em nós e por meio de nós para nos ajudar a ver nossas o rações serem respondidas. Enquanto N eem ias orava, o peso que sentia por Jerusalém em seu coração tornava-se cada v e z m aior, e sua visão do que precisava ser feito ficava cada vez mais cla­ ra. A verdadeira oração m antém o equilíbrio en tre nosso c o ra ç ã o e n ossa m en te, de m odo que o peso que sentim os não nos im pacienta a ponto de desejarm os correr à frente do Senhor e estragar tudo. Q uand o oram os, o Senhor nos diz o qu e fazer, quan­ d o fazê-lo e co m o fazê-lo, sendo que tudo isso é im portante para que a vontade de D eus se cum pra. Alguns obreiros cristãos são com o Lord Ronald, personagem de um dos contos de Stephen Leaco ck que "se atirava sobre seu cavalo e cavalgava desvairadamente em todas as direções". N eem ias planejou oferecer-se para ir a Jerusalém e supervisionar o trabalho de re­ todo estaria co n d e n a d o ao fra ca sso . O s m onarcas do O riente eram déspotas abso­ lutos, e não era fácil abordá-los nem co nven­ cê-los de algo. Porém : "C o m o ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do S e n h o r ; este, segundo o seu querer, o incli­ construção dos muros da cidade. Não orou pedindo que D eus enviasse outra pessoa, não argumentou que lhe faltava o preparo para um a tarefa tão difícil. Sim plesm ente dis­ se: "Eis-me aqui, envia-me a m im !" Sabia que teria de abordar o rei e de pedir sua perm is­ são para se ausentar. As palavras dos reis do O riente significavam vida ou morte. O que aconteceria se Neem ias abordasse Artaxer­ xes no dia errado, quando o rei estivesse indisposto ou descontente com algo ou al­ guém no palácio? Sob todos os pontos de vista, Neem ias tinha diante de si um a prova de fé, mas sabia que seu Deus era um gran­ de Deus e que o ajudaria até o fim. O co p e iro do rei teria de sa crifica r o conforto e a segurança do palácio pelos ri­ gores e perigos da vid a num a cidad e em ruínas. No lugar do luxo, haveria escom bros e no lugar do prestígio, haveria zom baria e m aledicência. Em vez de partilhar da fartura do rei, Neem ias teria de pagar pessoalm en­ te para manter inúm eros trabalhadores que na" (Pv 2 1 :1 ). C om muita freqüência, fazem os nossos planos e, então, pedim os que D eus os aben­ ço e; mas N eem ias não com eteu esse erro. Sentou-se e chorou (N e 1 :4), ajoelhou-se e orou e, depois, levantou-se e se pôs a traba­ lhar, pois sabia que tinha a bênção do Se­ nhor sobre o que estava fazendo. 4 . Im p o r t o u - s e o s u f i c i e n t e p a r a se d is p o r a t r a b a l h a r (N e 1:11) Alguém afirm ou, com razão, que orar não é co nsegu ir que a vo ntade do hom em seja feita no céu, mas que a vontade de Deus seja feita na terra. Porém , a fim de que sua vontade se cum pra na terra, ele precisa de pessoas dispostas a serem usadas por ele. D eus faz "infinitam ente mais do que tudo quanto pedim os ou pensam os, conform e o com eriam à sua mesa. D eixaria para trás o sossego do palácio e tom aria sobre si a difícil 620 NEEMIAS 1 incum bência de encorajar um povo abatido e de concluir uma tarefa quase im possível. Com a ajuda de Deus, e/e conseguiu! Em A b ra ã o se im p o rto u e sa lv o u Ló de Sodom a (G n 18 - 19). M oisés se importou vid a para salvar sua nação do genocídio. Paulo se im portou e levou o evangelho a toda parte do im pério rom ano. Jesus se im­ portou e m orreu na c ru z por um m undo perdido. D eus ainda está procurando pessoas que se importam, pessoas como Neemias, que se im portam o suficiente para querer saber os fatos, para chorar sobre as necessidades, orar e livrou os hebreus do Egito. D avi se impor­ tou e conduziu a nação e o reino de volta ao Senhor. Ester se im portou e arriscou a pedindo a ajuda de Deus e, então, dispor-se a fazer o que é preciso. "Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim!" c in q ü e n ta e d o is d ia s, os m u ro s fo ram reconstruídos, as portas foram restauradas e todo o povo estava se regozijand o! Tudo com eçou com um hom em que se im portou. 2 O M onte a se M C o m eça over N eem ias 2 O que Neemias não sabia era que estava prestes a se juntar ao grupo glorioso de "heróis da fé", e, nos séculos vindouros, seu nom e seria co locado ao lado de gran­ des fig u ras, co m o A b ra ã o , Jo sé , M o isés, Josu é, Ester, D é b o ra e D avi. U m a pessoa pode fazer uma grande diferença neste mun­ do, se tiver o conhecim ento de D eus e, ver­ dadeiram ente, confiar nele. A fé é decisiva, e, portanto, podem os faze r difere n ça em nosso mundo para a glória de Deus. C o m o disse M artinho Lutero: "A fé é uma co nfiança viva e ousada na graça de D eus. É tão certa e segura que um hom em pode co locar sua vida em jogo mil vezes por ela". A Palavra de D eus nos promete que "Tudo é possível ao que crê" (M c 9 :2 3 ). Jesus afir­ mou que a fé viva pode m over montanhas! (M t 17:20) Este capítulo descreve três evidências da fé de Neem ias. A o estudar essas evidências de fé, devem os exam inar nosso coração a fim de determ inar se estamos, de fato, cam i­ nhando e agindo pela fé. 1. T e v e f é p a r a e s p e r a r (N e 2:1-3 ) U m a vez que o mês hebraico de nisã vai de m eados de m arço a m eados de abril em nosso ca len d ário , isso in d ica que se pas­ saram quatro meses desde que N eem ias re­ cebeu as más notícias sobre a situação de Jerusalém . C o m o todo cristão deveria fazer, Neem ias esperou pacientem ente a orienta­ ção do Senhor, pois é "pela fé e pela longanim idade" que herdam os as prom essas (H b 6 :1 2 ). "Aquele que crer não foge" (Is 2 8 :1 6 ). A verd adeira fé em D eus traz ao coração uma tranqüilidade que nos im pede de nos precipitar e de tentar fazer com as próprias forças aquilo que só Deus pode realizar. D e­ vem os saber não apenas quando chorar e orar, mas tam bém quando esperar e orar. Três declarações das Escrituras sem pre me tranqüilizam quando fico agitado e que­ ro ir à frente do Senhor: "Aquietai-vos e vede o livram ento do S e n h o r " ( Ê x 1 4 :1 3 ); "Espera [...] até que saibas em qué darão as coisas" (Rt 3 :1 8 ) e "Aquietai-vos e sabei que eu sou D e u s" (Sl 4 6 :1 0 ). Q u a n d o esperam o s no Senhor em oração, não estamos perdendo nosso tem po, mas sim o investindo. Deus está nos preparando e arranjando as circuns­ tân cias a nosso redor para que seus pro­ pósitos sejam cu m p rid o s. Porém , quando chegar a hora certa de agir pela fé, não de­ vem os, de modo algum, protelar. O s monarcas do O riente eram protegi­ dos de qualquer coisa que lhes pudesse cau­ sar infelicidade (Et 4 :1 , 2 ); mas, certo dia, N eem ias não conseguiu esconder sua tris­ teza. " O coração alegre aform oseia o rosto, mas com a tristeza do coração o espírito se abate" (Pv 1 5 :1 3 ) e, sem dúvida, o Salm o 102 descreve co m o N eem ias se sentia so­ bre Jerusalém . Talvez, Neem ias orasse a cada manhã: "Senhor, se hoje é o dia certo para eu falar com o rei sobre meus planos, então abre as portas para mim". O rei notou que seu copeiro estava carre­ gando consigo um grande peso. Se A rtaxer­ xes estivesse de mau hum or, teria banido N e e m ia s ou m e sm o o rd e n a d o sua e x e ­ cu ção . Em vez disso, porém , o rei pergun­ tou ao servo por que estava tão triste. "C o m o ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do S e n h o r ; este, segundo o seu que­ rer, o inclina" (P v 2 1 :1 ). O s líderes mundiais são ap enas servos de D e u s, quer saibam disso, quer não. "Ah! S e n h o r , Deus de nos­ sos pais, porventura, não és tu D eus nos céus? Não és tu que dom inas sobre todos os reinos dos povos? Na tua mão, está a for­ ça e o poder, e não há quem te possa resis­ tir" (2 C r 2 0 :6 ). 2. T e v e fé p a r a p e d ir ( N e 2:4-8 ) "Q u e me pedes agora?", perguntou-lhe o rei. Neem ias estava diante de uma oportunidade 622 NEEMIAS 2 incrível! A qu ela pergunta en volvia todo o poder e a riqueza do reino! C o m o era seu co stu m e, N e em ias fez uma de suas "orações instantâneas" ao Se­ nhor (4 :4 ; 5 :9 ; 6 :9 , 14; 1 3 :1 4 , 22, 29, 31). N ão se esqueça, porém , de que essa ora­ ção em ergencial teve por base quatro me­ ses de jejum e oração. Se Neem ias não esti­ vesse orando diligentemente em particular, talvez essas "oraçõ es instantâneas" não ti­ vessem sido respondidas. C o m o disse G e o r­ ge M orrison: "Ele não teve mais do que um instante para fazer essa oração. O silêncio teria sido interpretado equivocadam ente. Se tivesse fech ad o os o lho s e se dem o rad o num a prece devota, o rei teria suspeitado im ediatam ente de um caso de traição ".1 Sinto-me encorajado em m inha vida de oração quando contrasto o trono terreno de A rtaxerxes ao trono da graça no céu. N ee­ mias teve de esperar por um convite para dividir seu fardo com o rei, mas podem os nos achegar ao trono da graça a qualquer momento e apresentar qualquer necessida­ de (H b 4:14-16). A rtaxerxes viu a tristeza no rosto de Neem ias, mas o Senhor vê nosso coração ; não apenas co nh ece nossos pesares, mas tam bém os sente cono sco . As pes­ soas que se aproxim avam do trono da Pérsia precisavam ter cuidado com o que diziam a fim de não provocar a ira do rei, mas o povo de D eus pode apresentar-lhe tudo o que pesa em seu co ração (a palavra confiadam ente em Hb 4 :1 6 significa "com liberdade de falar"). N unca se sabe com o está o humor de um líder hum ano, mas podem os estar sem pre certos de que D eus nos receb erá com am or e de braços abertos. O s rabinos judeus costum avam respon­ der a uma pergunta com outra pergunta, e N eem ias seguiu esse exem plo. Em vez de dizer ao rei o que estava planejando fazer, ele suscitou a sim patia de A rtaxerxes e des­ pertou seu interesse perguntando com o ele deveria se sentir sobre a situação terrível da cidade de seus antepassados e dos túmulos de seus ancestrais. Neem ias fez bom uso da psicologia, e, com isso, Deus atraiu a aten­ ção e solidariedade do rei (Lc 2 1 :1 4 , 15). É bem provável que um rei pagão não iria se com over com as ruínas de uma cidade, mas, sem dúvida, mostraria respeito pelos mortos. N e em ias era um v e rd a d e iro p atrio ta, cujos sonhos para o futuro eram motivados pelos valores do passado. Não tentou imitar fielm ente o passado, pois isso não era pos­ sível. A n te s, N eem ias co n stru iu sobre os alicerces do passado, de modo que Israel tivesse um futuro. Considerou o passado um lem e para guiá-lo e não uma ân co ra para prendê-lo. Q uand o Samuel Johnson cham ou o patriotismo de "último refúgio de um pati­ fe", estava se referindo ao zelo temporário que usa o "am or à pátria" para prom over interesses egoístas. Adiai Stevenson, em bai­ xador norte-americano nas N ações Unidas, a firm o u q u e o p a trio tis m o n ão é "um afloram ento breve e frenético de em oção, mas sim a dedicação tranqüila e constante de uma vida inteira". Trata-se, sem dúvida, de uma ótima descrição do patriotismo de Neem ias. Neem ias não apenas orou por essa opor­ tunidade, mas tam bém fez planos para ela, de m odo que tinha um a resposta pronta. Ao longo d aq u eles quatro m eses de espera, havia refletido cuidadosam ente sobre a ques­ tão e sabia exatam ente qual seria sua abor­ dagem àquela em preitada. Sua resposta ao rei pode ser resum ida em dois pedidos: "En­ via-m e!" (N e 2:4-6) e "C o n ce d e -m e !" (vv. 7-10). N eem ias não poderia deixar seu cargo sem a aprovação do rei, assim com o tam­ bém não p o deria trabalhar em Jerusalém sem a autoridade do rei. A pressão de go­ vernantes locais fez com que as obras pa­ rassem no passado (Ed 4), e N eem ias não queria que a história se repetisse. Pediu a A rtaxerxes que o nom easse governador de Judá e que lhe desse a autoridade necessá­ ria para reconstruir os muros da cidade. Dis­ se ao rei quando esperava voltar, mas não sabem os que data era essa. D e acordo com Neem ias 5 :1 4 , Neem ias serviu com o gover­ nador durante doze anos. Voltou à Pérsia para prestar contas ao rei, mas, depois de p o uco tem p o , retornou a Jeru salém para corrigir os abusos que surgiram durante sua ausência (1 3 :6 , 7). NEEMIAS 2 Neem ias pediu ainda mais. Precisava de cartas de apresentação que garantissem uma viagem segura e hospitalidade entre Susã e Jerusalém . Pediu tam bém cartas de autori­ dade a fim de providenciar os materiais ne­ cessários para a co nstrução de edifícios e m uros (N eem ias havia feito um excelen te trabalho de pesquisa e até sabia o nom e do guarda das matas do rei!). A rtaxerxes aten­ deu a seus pedidos, mas foi a boa mão do Senhor que tocou o rei para que ele co o p e­ rasse (ver 2 :1 8 ; Ed 7:6, 9, 28). Antes de enviar seus discípulos para o m inistério, Jesus lhes deu a autoridade de que precisavam para realizar seu trabalho e prometeu suprir todas as suas necessidades (M t 10:1-15). A o nos apresentarm os para o serviço do Senhor, tem os o respaldo de toda a autoridade no céu e na terra (M t 2 8 :1 8 ), de modo que não precisam os temer. O mais im portante é ir aonde D eus nos enviar e rea­ lizar o trabalho para o qual ele nos cham ar. Neem ias é um bom exem plo de com o os cristã o s devem se re lacio n ar com go­ vernantes não-salvos ao trabalhar na obra de Deus. Respeitou o rei e procurou trabalhar dentro da estrutura de autoridade do im ­ pério. Não declarou sim plesm ente: "Fui cha­ mado pelo Senhor para ir a Jerusalém e estou partindo quer goste quer não!" Em se tra­ tando de questões de co nsciência, devem os sempre obedecer a D eus e não aos homens (At 5 :2 9 ), mas ainda assim devem os dem ons­ trar respeito pelas autoridades (ver Rm 13 e 1 Pe 2:11-25). Daniel e seus amigos usaram a m esm a abordagem que Neem ias, e Deus também os honrou (Dn 1). A resposta do rei é prova da soberania de D eus sobre tudo o que diz respeito às n açõ e s. Esperam o s que D eus re alize sua obra por meio de um servo consagrado com o Neem ias, mas nos esquecem os de que Deus tam bém opera por interm édio de incrédu­ los a fim de realizar sua vontade. Ele usou o Faraó para dem onstrar seu poder no Egito (Êx 9 :1 6 ; Rm 9 :1 7 ) e C iro para libertar seu povo da Babilônia (Is 4 4 :2 8 ; 4 5 :1 ; Ed 1:1, 2). César publicou o decreto que levou M aria e José a Belém (Lc 2:1-7) e dois centuriõ es rom anos - Cláudio Lísias e Júlio - salvaram 623 a vida de Paulo (At 2 1 :26-40; 2 3 :25-30; 2 7 :1 , 42-44). A pesar de ser bastante útil ter pes­ soas tem entes a D eus, com o José, Daniel e Neem ias, em cargos de autoridade, devem os nos lem brar de que Deus não é obrigado a usar som ente os que crêem nele. M oisés e Neem ias tomaram decisões de fé parecidas e fizeram sacrifícios sem elhan­ tes (H b 1 1 :24-26). Seria bem recebido pelos o ficiais gentios com o representante do li­ bertador dos judeus? Neem ias não realizou prodígios nem sinais, co m o tam bém não transmitiu profecia alguma, porém se dedi­ cou fielm ente a seu trabalho e preparou uma cid ad e para o M essias que haveria de vir (Dn 9:24-27). 3. T e v e fé p a r a d e s a f i a r a o u t r o s (Ne 2:9-1 8a) A viagem ( w . 9 , 1 0 ). O texto não descreve coisa alguma da viagem de Susã para Jeru­ salém, uma jornada que levava pelo menos dois meses para ser com pletada. C om o tes­ tem unho da fidelidade de D eus, Esdras ha­ via recusado a proteção de guardas em sua jornada (Ed 8:21-23); porém , uma vez que N eem ias era um governador num a missão oficial, recebeu uma escolta militar. Neem ias tinha tanta fé quanto Esdras, mas com o ofi­ cial do rei, não poderia viajar sem sua com i­ tiva. Em prim eiro lugar, não quis opor-se à vontade do rei e, além disso, não poderia im por sua fé sobre outros. Q uand o a caravana oficial chegasse, sem dúvida cham aria a atenção, especialm ente daqueles que odiavam os judeus e que de­ sejavam impedi-los de fortificar a cidade. Três inimigos específicos são citados: Sambalate, de Bete-Horom , cerca de vinte quilôm etros de Jerusalém ; Tobias, um am onita, e C esém , um árabe (N e 2 :1 9 ). Sam balate era o prin­ cipal inim igo de N eem ias, e o fato de ter algum tipo de cargo oficial em Sam aria o tornava ainda mais perigoso (4:1-3). Por ser um am onita, Tobias era inimigo declarado do povo de Israel (D t 2 3 :3 , 4 ). Sua esposa era parenta de alguns dos colabora­ dores de N eem ias e tinha m uitos am igos entre os judeus (Nm 6:17-19). Na verdade, havia se aliado ("aparentado") a Eliasibe, o 624 NEEMIAS 2 sacerdote (13:4-7). Se Sam balate era o co ­ mandante do exército, então Tobias dirigia o serviço de inteligência de suas operações. Era ele quem obtinha "inform ações confiden­ ciais" de seus amigos judeus e que as passa­ va para Sam balate e C esém . N eem ias não dem oraria a descobrir que seu m aior pro­ blema não era o inimigo de fora, mas sim os de dentro que faziam concessões, um pro­ blem a que a igreja ainda enfrenta hoje. In vestigação (vv. 11-16). D epois de sua jornada longa e difícil, N eem ias passou al­ gum tem po d e scan san d o , pois os líderes devem cuidar de si m esm os a fim de poder servir ao Senhor (M c 6:31). Além disso, tam­ bém separou um tempo para fazer um "levan­ tamento da situação geral" sem despertar o interesse do inimigo. Um bom líder não se precipita em seu trabalho, antes se mostra paciente, coletando os fatos diretam ente das devid as fontes e, dep o is, plan ejan d o sua estratégia (Pv 1 8 :1 3 ). Devem os ser "astutos com o serpentes", pois o inimigo está sem ­ pre observando e esperando para atacar. M uitas vezes, enquanto todos os outros dorm em , os líderes estão acordados, e, en­ quanto os outros descansam , os líderes es­ tão trabalhando. Neem ias não queria que o inimigo soubesse o que estava fazendo, de m odo que investigou as ruínas durante a noite. A o não revelar a outros seu plano, Neem ias evitou que amigos de Tobias obti­ vessem inform ações que pudessem passar a Sambalate. Um líder prudente sabe quando planejar, quando falar e quando trabalhar. A fim de fazer um levantam ento das con ­ dições da cidade, deslocou-se do oeste para o sul e para o leste, concentrando-se na re­ gião Sul de Jerusalém . A situação era exata­ m ente aquela que seu irmão havia relatado: os muros não passavam de escom bros e as portas haviam sido queim adas (N e 2 :1 3 ; 1 :3). O s líderes não devem viver num a utopia. A ntes, devem encarar os fatos com honesti­ dade e aceitar tanto as más quanto as boas notícias. Durante a noite, N eem ias viu mais coisas do que os habitantes da cidade eram capazes de ver durante o dia, pois não en­ xergou apenas os problem as, mas também o potencial. E isso o que faz um líder! D e sa fio (vv. 17-20). O apelo de Neem ias foi positivo, concentrando-se na glória e na grandeza do Senhor. Fazia poucos dias que estava na cidade, mas, em seu discurso, usou sem pre a terceira pessoa do plural, envolvendo-se na questão em vez de apontar para "eles" ou para "vo cês". C om o fazia em sua oração (1 :6 , 7), identificava-se com o povo e com suas necessidades. A cidade era mo­ tivo de opróbrio para o Senhor (1 :3; 4 :4 ; 5:9), mas a mão do Senhor estava com eles, e D eus os capacitaria para o trabalho. O Se­ nhor já havia provado seu poder ao tocar o coração do rei que, por sua vez, havia pro­ metido suprir as necessidades daquela em­ preitada. Foi o peso que Neem ias sentia em seu coração por Jerusalém bem com o sua exp e riê n cia com o Senhor que co n ven ce­ ram os jud eus de que era chegada a hora de construir. O s ju d eu s da n o b re za dem onstraram um a atitude louvável ao aceitar o desafio sem hesitar e dizer: — "Disponham o-nos e edifiquem os." Não se acom o daram a sua situação a ponto de considerá-la normal e de decidir não ser possível fazer coisa alguma. Também não lembraram N eem ias de que, no passa­ do, os jud eus haviam tentado reconstruir o muro, mas haviam sido im pedidos de fazêlo (Ed 4). — Já tentamos fazer isso uma vez e não deu certo. Para que tentar de novo? O s líderes cristãos de hoje enfrentam esses dois obstáculos ao procurar conduzir o povo de D eus rum o a novas conquistas para o Senhor. Q uantas vezes não ouvim os: — Estamos contentes com as coisas do jeito que estão. Em tim e que está ganhando não se mexe! — ou então — Tentam os fazer isso antes, mas não funcionou... Vale a pena observar que D eus enviou aos judeus um líder d e fora. N eem ias entrou na com unidade com uma nova perspectiva sobre os problem as e com uma nova visão para o trabalho. M uitas vezes, na igreja lo­ cal, os novos mem bros têm dificuldade de se "en caixar no sistem a", pois os mem bros mais antigos têm medo de novas idéias que tragam m udanças. U m a vez que a m aioria NEEMIAS 2 da lid eran ça é com p osta de pessoas que cresceram dentro do sistema, os ministérios paraeclesiásticos devem estar atentos a uma atitude de "corporativism o seletivo". Pessoas novas, de fora da organização, podem abrir as janelas e deixar entrar um pouco de ar fresco. A boa m ão do Sen ho r estava sobre o líder, e seus seg u id o res "fo rtale ce ram as mãos para a boa obra" (N e 2 :8 , 18). Tanto as mãos da liderança quanto as mãos da par­ ceria são necessárias para realizar a obra do Senhor. O s líderes não podem fazer o traba­ lho sozinhos, e os trabalhadores não conse­ guem fazer muita coisa sem liderança. C om o disse Vicen te de Paulo: "Se, a fim de ser bemsucedido numa em preitada, fosse obrigado a e sco lh e r entre cin q ü en ta ce rv o s sob o co m ando de um leão ou cinqüenta leões sob o com ando de um cervo , me conside­ raria mais certo do sucesso com o prim eiro grupo do que com o segundo". Alguém definiu liderança com o "a arte de conseguir que as pessoas façam o que devem porque querem ". Se essa definição é verdadeira, então Neem ias era, sem dúvi­ da alguma, um líder! A m aioria do povo uniuse sob sua liderança e arriscou a vida para fazer o que precisava ser feito. N eem ias não só conseguiu desafiar o próprio povo, com o tam bém foi cap az de fazer frente ao inimigo e de tratar sua oposi­ ção de m odo e fica z. A ssim que os m em ­ bros do povo de Deus dão um passo de fé para fazer sua vontade, o inimigo aparece e tenta desanimá-los. Sambalate e Tobias fica­ ram sabendo da em preitada (v. 10) e cha­ maram G esém para se juntar a eles em sua oposição aos judeus. Nos capítulos 4 - 7 , N eem ias descreve as diferentes arm as que os inimigos usaram e com o o Senhor o ca­ pacitou para derrotá-los. C om eçaram com a zom baria, um recur­ so que alguém cham ou de "arm a daqueles que não têm nenhum a outra". E sca rn e ce ­ ram dos ju d e u s e m e n o s p re z a ra m seus recursos e seus planos. Chegaram até a insi­ nuar que os jud eus estavam se rebelando contra o rei, recurso que havia funcionado antes (Ed 4). 625 Seja na área da ciência, da exploração, da invenção , dos negócios, do governo ou do m inistério cristão, quase todos os que já realizaram algum a co isa foram alvo de zom baria. Jesus Cristo foi ridicularizado ao longo de sua vid a e foi alvo de zo m baria quando estava pendurado na cruz. Foi "des­ prezado e o mais rejeitado entre os hom ens" (Is 5 3 :3 ). No dia de Pentecostes, alguns ju ­ deus na multidão disseram que os cristãos estavam bêbados (At 2 :1 3 ). O s filósofos gre­ gos cham aram Paulo de "tagarela" (At 1 7:18), e Festo disse a Paulo que ele estava louco (At 2 6 :2 4 ). Neem ias poderia ter lidado com a zom ­ baria de várias m aneiras. Poderia tê-la igno­ rado, o que às vezes é a atitude mais sábia (Pv 2 6 :4 ). Porém , no co m eço de uma em ­ preitada, é im portante que os líderes incen­ tivem o povo e mostrem que Deus está no controle de tudo. Se N eem ias tivesse igno­ rad o esse s três h o m en s im p o rta n te s na com unidade, poderia ter enfraquecido a pró­ pria posição entre os judeus. Afinal, ele era o governador o ficial e estava tratando de assuntos oficiais. O utra opção teria sido discutir com os inimigos e tentar convencê-los de que esta­ vam enganados. No entanto, essa aborda­ gem só teria servido para "prom over" os três hom ens, dando-lhes a oportunidade de fa­ lar ainda mais. Por que N eem ias deveria dar esp aço para o inim igo disco rrer contra o Deus a quem ele servia? Claro que N eem ias não iria convidá-los a participar do projeto para trabalhar com os judeus, apesar de Sam balate e de seus amigos apreciarem receber tal convite (N e 6:1-4). Em sua resposta, Neem ias ressaltou três co isas: a reco nstrução dos m uros era uma obra de D eus; os judeus eram servos de D eus; e Sambalate, Tobias e G esém não tinham nada a ver com o projeto. As vezes, os líderes precisam negociar, mas há o ca­ siõ es em que d evem im p o r lim ites e se manter firm es. Infelizm ente, nem todos em Jerusalém concordavam com seu líder, pois alguns do povo cooperaram com Sambalate, Tobias e G esém e dificultaram ainda mais o trabalho de Neem ias. 626 NEEMIAS 2 O cenário está preparado para os acon­ tecim entos prestes a se desenrolar. Porém, antes de nos juntarm os aos tra­ balhadores nos muros, perguntemo-nos que tipo de líderes e seguidores Deus deseja que sejam os. Tem os, com o N eem ias, um peso em nosso co ra ção pela obra para a qual D eus nos cham ou (2 :1 2)? Estamos dispos­ tos a fazer sacrifícios a fim de ver a vontade de D eus se realizar? Som os p acientes na coleta dos fatos e no planejam ento de nos­ so trabalho? Buscam os a ajuda de outros ou tentam os faze r tudo sozinhos? M otivam os as pessoas com base naquilo que é espiri­ tual - naquilo que D eus está fazendo - ou sim plesm ente tom am os por base o que é de caráter pessoal? As pessoas nos seguem ou estão seguindo ao Senhor enquanto ele nos guia? C o m o seg u id o res, dam os o u vid o s ao que nossos líderes dizem quando co m p ar­ tilham co n osco o que pesa em seu coração? Apegam o-nos ao passado ou desejam os ver Deus fazer algo novo? C o lo ca m o s m ãos à obra e "vestim os a cam isa" do projeto em q u e e s ta m o s e n v o lv id o s ? (v . 1 8 ; 3 :5 ) Estam os, de algum m odo, coo perando com o inimigo e, assim , enfraquecendo a obra? 1. M o r r is o n , Já encontram os o trabalho que D eus tem para com pletarm os? Q u alq u er um pode passar a vida toda sendo um dem olidor, mas Deus cham ou os m em bros de seu povo para serem constru­ tores. Q u e exem plo m aravilhoso N eem ias nos dá! A co m p a n h e esta série de d e cla ­ rações e veja com o D eus usou seu servo: "Então, orei" (2 :4 ); "C h eg u ei a Jerusalém " (v. 11); "Fortaleceram as mãos para a boa obra" (v. 1 8); "Assim , ed ificam os o m uro" (4 :6 ); "Assim , trabalhávam os na obra" (v. 21); "Acabou-se, pois, o m uro" (6 :1 5). Se não fosse pela dedicação e determ i­ n açã o resu ltantes de sua fé num grande D eus, N eem ias jam ais teria aceitado o de­ safio nem term inado o trabalho. C ertam en­ te não havia lido esse versículo, mas aquilo que Paulo escreveu em 1 C o rín tio s 15:58 foi o que motivou Neem ias até o fim : "Por­ tanto, meus am ados irm ãos, sede firm es, ina­ baláveis e sem pre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão ". Não im porta a dificuldade da tarefa nem a intensidade da oposição, seja determinado! C om o o Dr. V. Raym ond Edmand costum ava dizer: "É sem pre cedo dem ais para desistir". G eorge. M orning Serm ons. Londres: Hodder and Stoughton, 1935, p. 243. 3 U m M u r o de T ra b a lh a d o re s N eem ias 3 eem ias enfrentou um grande desafio e dem onstrou um a grande fé num gran­ de D eus, mas não teria feito muita coisa se não tivesse h avid o grande d e d ic a çã o da parte daqueles que o ajudaram a reconstruir N os muros. Com o tipo de hum ildade apro­ priada a um líder piedoso, Neem ias deu todo o crédito ao povo quando escreveu; "Assim, edificam os o muro [...] porque o povo tinha ânim o para trabalhar" (N e 4:6 ). O hum orista inglês Jerom e K. Jerom e disse: "G o sto do trabalho, é algo que me fascina. Posso passar horas vendo gente tra­ balhando". Q uand o se trata da obra do Se­ nhor, não há lugar para espectadores nem para aqueles que elegem a si m esm os co n­ selheiros e críticos; mas, sem pre há espaço para trabalhadores. Ao estudar este capítu­ lo, você descobrirá princípios que se aplicam a todo o trabalho hum ano, especialm ente ao trabalho de edificação da igreja. 1. O PRO PÓ SITO D O TRABALHO N eem ias estava interessado em uma só co i­ sa: a glória de D eus. "V in d e, pois, reedifiquem os os muros de Jerusalém e deixem os de ser opróbrio" (2:1 7; ver também 1:3; 4 :4 ; 5:9 ). A grande diversão dos gentios era zo m ­ bar de seus vizinhos judeus, apontando para as condições precárias de Jerusalém . Afinal, os judeus afirm avam que sua capital era um "santo m onte, belo e sobranceiro [...] a ale­ gria de toda a terra" (Sl 4 8 :2 ). D iziam que "o S e n h o r am a as portas de Sião mais do que as habitações todas de Jacó " (8 7 :2). Se D eus am ava tanto Jerusalém , por que os mu­ ros não passavam de esco m b ro s e as por­ tas estavam queimadas? Por que a "cidade santa" era um opróbrio? Por que os judeus não faziam alguma coisa a respeito? G rand e parte do mundo hoje em dia ig­ nora a Igreja. Se presta algum a ate n ção , norm alm ente é para condená-la ou zom bar dela. — Se vocês são o povo de Deus — per­ guntam os incrédulos — então por que há tantos escândalos na Igreja? Se Deus é tão poderoso, por que a Igreja é tão fraca? Q u e r os cristãos gostem quer não, v i­ vem os em tempos de opróbrio: "foi-se a gló­ ria" (1 Sm 4 :2 1 ). O propósito de todo ministério é a gló­ ria de Deus e não o engrandecim ento dos líderes e organizações religiosas (1 C o 10:31; 2 C o 4 :5 ). As palavras de Jesus em sua ora­ ção sumo sacerdotal devem ser a força que motiva todo m inistério cristão: "Eu te glorifiquei na terra, consum ando a obra que me confiaste para fazer" (Jo 1 7:4). Deus tem uma tarefa especial para cada um de seus filhos (Ef 2 :1 0 ), e é ao cum prir essa tarefa de modo hum ilde e fiel que glorificam os o nom e do Senhor. E evidente que a reconstrução dos mu­ ros e a reco locação das portas tam bém sig­ nificava proteção e segurança para o povo. Jerusalém estava cercada de inimigos, e pa­ recia to lice esses habitantes fazerem m e­ lhorias em suas propriedades, uma v e z que não haveria nada que os defendesse de in­ vasões e de saques. Ao longo dos anos, os cidad ão s haviam se acostum ado com sua situação. C om o tantos cristãos na Igreja de hoje, estavam contentes com seu status quo. Então, Neem ias entrou em cena e os desa­ fiou a reconstruir a cidade para a glória de Deus. 2. A fo rm a de tr a ba lh o Neem ias foi um líder que planejou seu tra­ balho e que colocou seu plano em prática, e a forma com o ele o fez serve de exem plo para nós. Este capítulo cita o nom e de trinta e oito trabalhadores e id entifica quarenta e dois grupos diferentes. H avia muitos outros tra­ balhadores cujos nom es Neem ias não citou, mas que, ainda assim , foram im portantes. 628 NEEMIAS 3 C ad a trabalhador, quer seu nom e tenha sido m encionado quer não, foi designado para um lugar e recebeu uma tarefa. Nas palavras do evangelista D. L. M oody: "M uita gente tem uma idéia equivocada a respeito da igreja. Essas pessoas acreditam que a igreja é um lugar de descanso [...] um lugar para assentar-se num ba n co bem co n ­ fortável, contribuir com trabalhos de carida­ de, ouvir o pastor e fazer sua parte para que a igreja não vá à falência - é tudo o que querem . A idéia de trabalho - trabalho de verd ad e na igreja - nem lhes passa pela ca b e ça". Em 1 Coríntios 12 e 14, Paulo com para os cristãos individuais com os mem bros do corpo hum ano: cada mem bro é im portante e cada um tem uma função específica. Lem­ bro-me de com o meu co ração se encheu de alívio quando percebi que Deus não es­ perava que eu fizesse de tudo na igreja, mas sim que usasse os dons que ele havia me dado para a tarefa da qual ele havia me in­ c u m b id o . Q u a n d o co m e ce i a fa z e r isso, percebi que estava ajudando outras pessoas a desco brir e a desenvolver seus próprios dons, e todos nós fizem os muito mais coisa para o Senhor. O s judeus concluíram essa tarefa difícil, pois obedeceram ao mesm o líder, m antive­ ram os olhos fixos no mesm o alvo e traba­ lharam juntos para a glória de D eus. Nem o inimigo fora da cidade nem as dificuldades dentro da cidade puderam desviar sua aten­ ção da incum bência que haviam recebido de D eus. Assim com o Paulo, disseram : "U m a coisa faço" (Fp 3 :1 3 ). O s verbos edificar e reparar são usados com freqüência em N eem ias 3, com o sen­ tido de "reconstruir". C eo rg e M orrison nos lembra de que, "para essa restauração, não foram necessários materiais novos. Todo o m aterial de que precisavam encontrava-se nos escom bros das obras de alvenaria [...] e, ao que me parece, esse é sem pre o caso quando os muros de Sião são reconstruídos" (M o rn in g S e rm o n s , L o n d re s : H o d d e r e Stoughton, 1931, p. 249). Não é pela invenção de coisas novas e engenhosas que rem ovem os o opróbrio da Igreja, mas sim voltando às verdades de outrora, que conferiram grandeza à Igreja ao longo das eras. Essas verd ades são com o pedras no meio do pó, esperando que al­ gum N eem ias que se im porta as recupere e as coloque de volta em uso. O s term os reparar, reedificar e assentar também aparecem várias vezes com o sen­ tido de "tornar firm e e forte". Neem ias não estava interessado em "dar um jeito nas coi­ sas", fazend o m uros caiad os que não de­ m orariam a ruir (Ez 13:1-16; 2 2 :2 8 ). Esses trabalhadores estavam construindo para a glória de Deus e, portanto, deram o m elhor de si. A s p o rtas de Je ru sa lé m h aviam sido destruídas pelo incêndio (N e 1:3; Jr 17:27; Lm 1:4), de modo que N eem ias pediu ma­ deira dos bosques do rei e providenciou para que portas novas fossem construídas (2:8) e assentadas em seu devido lugar (6 :1 ; 7:1). As portas eram im portantes para a seguran­ ça do povo e para controlar quem entrava e saía da cidade (7 :3 ; 13:15-22). Se o Senhor am a as portas de Sião (Sl 8 7 :2 ), então seu povo tam bém deve amá-las. Ferrolhos e trancas são m encionados cin­ co v e ze s (N e 3 :3 , 6, 13-15). O s ferrolhos eram os encaixes nos quais se colocavam as trancas, dificultando a abertura das portas pelo lado de fora. Não basta sim plesm ente realizar a obra do Senhor; devem os também nos certificar de que aquilo que fazem os está protegido do inim igo. "Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que tem os realizado com esforço, mas para receberdes com ple­ to galardão" (2 Jo 8). 3. As PESSOAS ENVOLVIDAS NO TRABALHO Ao nos fam iliarizarm os com as diversas pes­ soas citadas em N eem ias 3, logo pensam os: "M as isso é igual à igreja de hoje!" As circuns­ tâncias m udam, mas a natureza hum ana é praticam ente a mesma. D e u s usa to d o tip o d e p e sso a . Este ca­ pítulo cita governantes e sacerdotes (vv. 1, 12-19), hom ens e m ulheres (v. 12), artífices profissionais (vv. 8, 32) e, até m esm o, pes­ soas de fora da cidade (vv. 2, 5, 7). H á um lugar e uma tarefa para cada pessoa. NEEMIAS 3 O s líderes devem dar o exem plo (v. 1). Se havia pessoas na cidade que deveriam estar o cup ad as eram os sacerdo tes, pois, nesse projeto, o que estava em jogo era a glória do Senhor. O fato de o sumo sacerdo­ te usar suas mãos consagradas para realizar trabalhos braçais mostra que considerava as obras nos muros um ministério para o Se­ nhor. "Portanto, quer com ais, quer bebais ou façais outra co isa qualquer, fazei tudo para a glória de D eus" (1 C o 1 0 :3 1 ). Eliasibe colocou outros sacerdotes para trabalhar na Porta das O velhas, no canto nordeste da ci­ dade. Um a vez que era por ali que os sacri­ fícios entravam em Jerusalém , os sacerdotes devem ter se interessado de modo especial por essa parte do projeto. Infelizm ente, Eliasibe não perm aneceu fiel a seu cham ado, pois, mais tarde, se aliou ao inim igo e criou sérios problem as para N eem ias (N e 13:4-9). Algum as pessoas que com eçam a trabalhar cheias de entusiasmo podem , por vários motivos, acabar desistin­ do ou fazendo oposição. O neto de Eliasibe casou-se com a filha de Sam balate (v. 28), e essa união, sem dúvida, influenciou o sumo sacerdote. Algumas pessoas recusam-se a partici­ par (v. 5). Teco a era um a cidade a cerca de 18 quilôm etros de Jerusalém , e algumas pes­ soas de lá foram até Jerusalém ajudar no tra­ balho. Q u e contraste entre essa gente e os nobres! O povo de Tecoa trabalhou em duas partes do muro (vv. 5 e 27 ), enquanto os nobres recusaram-se a se rebaixar e a pôr mãos á obra. Será que esses "aristocratas" eram tão im portantes a seus próprios olhos a ponto de não poderem realizar trabalhos braçais? No entanto, Paulo fazia tendas (At 1 8 :3 ) e Jesus era carpinteiro (M c 6:3). O s tecoítas não foram as únicas pessoas de fora a ir a Jerusalém trabalhar nos muros; hom ens de Jericó (N e 3 :2 ), G ibeão e M ispa (v. 7) tam bém ajudaram . Sua lealdade à na­ ção foi m aior que seus interesses locais. Sem dúvida, estavam mais seguros nas próprias co m u nid ad es, mas arriscaram a vida para trabalhar na obra do Senhor (At 1 5 :2 5 , 26). Algum as pessoas trabalham m ais do que outras (vv. 11, 19, 21, 24, 27, 30). A 629 maioria dos trabalhadores fica feliz quando pode co lo car as ferram entas de lado uma vez que term ina o trabalho, mas essas pes­ soas pediram mais tarefas. Não basta dizer que já fizem os tanto quanto os outros; de­ vem os trabalhar tanto quanto pu derm o s, na m edida em que o Senhor nos capacitar para isso. Jesus perguntou: "Q u e fazeis dem ais?" (M t 5 :4 7 ). Alguns trabalharam em casa (N e 3 :1 0 , 23, 28-30): pelo menos seis trabalhadores, além de vários sacerdotes, fizeram reparos nas partes do muro que ficavam mais perto de suas casas. Se todos nós seguíssemos esse exem plo, nossos bairros e cidades estariam em muito melhor estado! É claro que tam­ bém há uma lição espiritual: o serviço cris­ tão co m e ça em casa. D e acordo com um provérbio chinês: "E melhor ser bondoso em casa do que queim ar incenso num lugar dis­ tante"; e Paulo escreveu: "Q u e estes apren­ dam prim eiro a exercer piedade para com a própria casa" (1 Tm 5:4). Algumas pessoas trabalham com mais afinco do que outras (v. 20). Baruque é o único trabalhador sobre o qual se observa que cum priu suas tarefas com "grande ar­ dor" (ou "zelo "). O termo hebraico significa "q u e im a r ou in c a n d e s c e r" e in d ic a q u e Baruque queim ou um bocado de caiorias! "Tudo quanto te vier à mão para fazer, fazeo conform e as tuas forças" (Ec 9 :1 0 ). Paulo adm oestou os escravos a trabalhar com afin­ co para os seus senhores, pois, na verdade, estavam trabalhando para Cristo (Ef 6:5-8). O s trabalhadores preguiçosos não roubam apenas de si m esm os e do Senhor, mas tam ­ bém de seus colegas de trabalho. "Q u e m é negligente na sua obra já é irm ão do des­ perdiçador" (Pv 18 :9 ). 4. O LOCAL DE TRABALHO N eem ias co m eço u sua lista de "postos de trabalho" com a Porta das O velhas, na ex­ trem idade nordeste da cidade (N e 3 :1 ). Em seguida, acom pan h ou o m uro no sentido anti-horário, até a Porta da G u a rd a , adja­ cente à Porta das O velhas e logo depois da Porta O riental (v. 29 ). Em seu registro, cita d ez portas, várias torres e outros m arcos. 630 NEEMIAS 3 D escreve, prim eiro, o trabalho na parte norte do muro (vv. 1-7), depois na parte oeste (vv. 8-13), na parte sul da cidade (v. 14) e, por fim, na parte oriental (vv. 15-32). Seu principal propósito era docum entar para a posteridade e para os registros ofi­ ciais os nomes e habilidades das pessoas que trabalharam no muro. Sem, todavia, forçar o texto, podem os tirar deste capítulo ilustra­ ções espirituais para nos encorajar em nos­ sas vidas e ministérios. A Porta das Ovelhas (vv. 1, 32). Era a porta pela qual passavam os anim ais leva­ dos para dentro da cidade, inclusive aque­ les que seriam oferecidos com o sacrifícios no tem plo. Essa porta ficava próxim a à re­ gião do templo, de m od o q u e os sa cerd otes se encarregaram , naturalm ente, desse pro­ jeto específico . Essa é a única porta que o texto indica que foi "consagrada", ou seja, dedicada de maneira especial a Deus. Essa porta nos lem bra de Jesus Cristo, o C ordeiro de D eus que morreu pelos peca­ dos do mundo (Jo 1 :29 ; 5 :2 ). Neem ias po­ deria ter iniciado seu relato com qualquer um a das portas, mas escolheu co m e çar e term inar falando da Porta das O velhas. Je­ sus é "o Alfa e o Ô m eg a [...] aquele que era, que é e que há de vir" (Ap 1 :8). Sem Cristo e seu sacrifício, não teríam os coisa alguma que fosse eterna ou que pudesse nos satis­ fazer. O texto não m en cio n a "ferrolhos e trancas" para essa porta, pois ela nunca está fechada para os pecadores que desejam ir até o Salvador. A Porta do Peixe (v. 3). Ficava a oeste da Porta das O velh as, sendo que entre as duas portas encontravam-se a Torre dos Cem e a Torre de Hananel (v. 1). Essas duas torres faziam parte do sistema de defesa da cida­ de e ficavam próxim as à cidadela, onde os soldados guardavam o tem plo e protegiam a face norte da cidade, especialm ente vul­ nerável. O s com erciantes usavam essa porta quando traziam peixes do mar M editerrâneo, e é possível que houvesse um m ercado de peixes próxim o a ela. D e qualquer m odo, era uma das principais entradas da cidade. A Porta Velha (v. 6) é, provavelm ente, a Porta da Esquina (2 Rs 1 4 :1 3 ; Jr 3 1 :3 8 ), situada na extrem idade noroeste da cidade. Alguns estudiosos a identificam com a "Por­ ta M ish n eh ", sendo que o term o hebraico significa "segunda cidade" ou "cidade nova" ("C id a d e B a ix a "; S f 1 :1 0 ). N o tem p o de N eem ias, a parte noroeste da cidade era a m ishneh ou "cidade nova", e essa era a porta que ficava mais próxim a dela. Q u e parado­ xo: a Porta Velha era a entrada da "cidade nova"! M as é das coisas antigas que surgem as novidades, e estas não podem existir sem aquelas (ver Jr 6 :1 6 ; M t 13:52). A Porta do Vale (v. 13) foi por onde N eem ias com eço u sua investigação notur­ na das ruínas da cidade (2 :1 3 ). Localizavase na extrem idade sudoeste dos muros da cidad e, ce rca d e 4 6 0 m etro s da Porta do M onturo, e as duas se abriam para o Vale de Hinom . Nesse caso, os trabalhadores não só restauraram a porta, com o tam bém fize­ ram reparos no muro entre as duas portas. E bem provável que essa parte extensa do muro - com quase 6 0 0 metros - não esti­ vesse tão danificada quanto as outras. Todo cristão precisa de um a "Porta do V ale", pois D eus resiste aos orgulhosos, mas dá graça aos humildes (1 Pe 5 :5 , 6). Som en­ te quando nos sujeitam os a C risto e servim os os outros é que podem os viver na plenitude daquilo que ele tem reservado para nós (Fp 2 : 1- 1 1 ). A Porta do M onturo (v. 14) ficava na extrem idade sul da cidade, próxim a ao Tan­ que de Siloé. Era a saída principal para o Vale de H inom , onde a cidade jogava seu lixo. O term o geh enn a sig n ifica "V a le de H in o m " e id en tificava a região que Jesus usou com o uma ilustração do inferno, "onde não lhes m orre o verm e, nem o fogo se apa­ ga" (M c 9 :4 4 ). O rei M anassés havia sacrifi­ cado seus filhos a ídolos nesse vale (2 C r 3 3 :6 ), e o rei Josias havia profanado o local transformando-o num m onturo (2 Rs 2 3 :1 0 ). Um dos fatores essenciais para a saúde de uma cidade é o descarte apropriado de seu lixo. Essa porta não tinha um nom e bo­ nito, mas cum pria uma função importante! Ela nos lem bra de que, assim co m o um a cidade, cada um de nós deve se livrar da­ quilo que nos contam ina, do contrário, essa NEEMIAS 3 im undície pode nos destruir (2 C o 7 :1 ; 1 Jo 1:9). A Porta da Fonte (v. 15) ficava na parte o rie n tal do m u ro , ao n o rte da Porta do M onturo, num a lo calização bastante estra­ tégica, próxim a ao Tanque de Siloé, da anti­ ga C id ade de Davi e do aqueduto construído por Ezequias (2 Rs 2 0 :2 0 ). A s águas de G iom eram parte essencial do sistema de abaste­ cim ento da cidade. Na Bíblia, a água potável é um retrato do Espírito Santo de D eus (Jo 7:37-39), en­ quanto a água usada para se lavar é um re­ trato da Palavra de Deus (Ef 5 :2 6 ; Jo 15:3). Em termos espirituais, saímos da Porta do Va­ le (h u m ilh açã o ), passam os pela Porta do M onturo (purificação) e fomos para a Porta da Fonte (a plenitude do Espírito). A Porta das Águas (v. 26) era a passa­ gem da C id a d e de D avi para a fonte de G io m , lo caliza d a p ró xim a ao vale do Cedrom . Jerusalém era uma das poucas gran­ des cidades da antigüidade que não havia sido construída perto de um rio e que de­ p endia do ab aste cim en to de fontes e de açudes. O texto não diz que essa porta foi reparada, mas apenas que os trabalhadores fizeram reparos na porta adjacente a ela. E provável que os "servos do tem plo" fossem descendentes dos gibeonitãs transformados em tiradores de água para a casa do Senhor (Js 9 :2 3 ). Era natural que desejassem morar próxim os à mais im portante fonte de água da cidade. Se a Porta da Fonte nos lembra o Espíri­ to de D eus, então a Porta das Á guas nos traz à m em ória a Palavra de D eus. Aliás, foi na Porta das Águas que Esdras e os sacerdo­ tes realizaram um grande "congresso bíbli­ co" e explicaram as Escrituras para o povo (N e 8 :1 1ss). O fato de o texto não dizer que essa porta foi reparada com o as outras indi­ ca que a Palavra de Deus perm anece para sem pre e ja m ais irá falhar (Sl 1 1 9 :8 9 ; M t 2 4 :3 5 ). A Bíblia não precisa ser corrigida nem ap erfeiço ad a. O fel (vv. 26, 27) era um monte ao sul da área do tem plo, entre a Porta dos C ava­ los e a Porta das Águas. Era especialm ente fortificado e possuía um a torre. O s servos 631 do templo viviam nessa região, pois ficava próxim a à fonte de água. A Porta dos Cavalos (v. 28) ficava ao norte da Porta das Águas, adjacente à área do tem plo. A perversa rainha Atalia foi exe­ cutada nesse local (2 C r 23:1 5). Deus adver­ tiu seu povo a não confiar em carros nem cavalos (D t 17:14-20), mas Salom ão os im­ portou do Egito (1 Rs 10:26-29) e passaram a ser parte im portante do exército nacional (Is 2 :7 ). A Porta dos C avalos nos lembra que existe uma guerra em andam ento dentro da vida cristã (2 Tm 2:1-4) e que devem os estar sem pre prontos para a batalha (Ef 6:10-18). É um fato significativo que os sacerdotes te­ nham feito reparos nessa porta, bem com o na Porta das O velhas - am bas próxim as à área do tem plo. A Porta Oriental (v. 29) dava acesso dire­ to ao tem plo, sendo, provavelm ente, aquela que con h ecem os hoje com o Porta D o ura­ da. D iz a tradição que, no Dom ingo de Ra­ mos, Jesus entrou no tem plo por essa porta. No século dezesseis, foi fechada com blo­ cos de pedra pelo sultão turco Sulaim ã, o M agnífico. Tanto a tradição judaica quanto a cristã associam a Porta Dourada à chega­ da do M essias a Jerusalém , e os m uçulm a­ nos a associam ao julgam ento vindouro. Ezequiel viu a glória do Senhor partir do tem p lo pela Porta O rie n ta l (Ez 1 0 :1 6 -2 2 ; 11:22-25), e o Senhor voltará à cidade por essa m esm a porta (4 3 :1 -5 ). A ssim , tem os motivos de sobra para associar essa porta à vinda do Senhor e para nos lem brarm os de "[perm anecer] nele, para que, quando ele se m anifestar, tenham os co n fia n ça e dele não nos afastem os envergonhados na sua vinda" (1 Jo 2 :2 8 ). A Porta da Guarda (v. 31) ficava na ex­ tre m id a d e n o rd e ste da c id a d e . O nom e hebraico dessa porta (Flam m iphkad) indica o ajuntam ento de soldados para contagem e inspeção, daí ser cham ada de "Porta da G u ard a", na a r a ("porta da Inspeção, n v i ). Era nesse local que as tropas eram passadas em revista e registradas. A parte norte de Jerusalém era sua região mais vulnerável a ataques, de modo que se tratava de um lu­ gar lógico para co locar o exército. Q uand o 632 NEEMIAS 3 o Senhor voltar, ajuntará seu povo e passará Cristo, mas a nação com o um todo foi ce­ em revista suas obras, preparando-se, desse modo, para distribuir os galardões pelo ser­ gada para essa verdade e vive na incredu­ lid ad e (Rm 1 1 :2 5 ss). Q u a n d o vire m seu M essias, os judeus crerão e serão salvos (Z c viço fiel (1 C o 3:10-15; 2 C o 5 :9 , 10; Rm 14:10-12). Nesse relato, N eem ias não m en cion a a Porta de Efraim (N e 8 :1 6 ; 12:39) nem a Porta da G u ard a (1 2 :3 9 ). E possível que a prim ei­ ra ficasse na parte norte do m uro, voltada para a região de Efraim, e que a segunda fosse associad a, de algum m odo, ao "pátio do cá rcere", citado em 3 :2 5 . O relato de Neem ias term ina com a Por­ ta das O velhas (v. 32), seu ponto de partida (v. 1). Pelo fato de ter rejeitado o M essias, hoje, o povo de Israel não tem sacrifício, nem tem plo, nem sacerdócio (O s 3:4 ). G raças a Deus, existem alguns judeus que crêem em 12:10 - 13 : 1 ). Não teria sido possível um a pessoa só restaurar os muros e as portas da cidade. Foi a liderança de Neem ias e a colaboração do povo que tornaram viável essa em preita­ da. C ad a um ocupou seu lugar e recebeu uma tarefa a cumprir. O mesm o se aplica à igreja de hoje: devem os trabalhar juntos a fim de co m p letar a obra para a glória de D eus. "Po rtan to, m eus am ados irm ãos, sede firm es, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sa b en d o que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão " (1 C o 15:58). 4 T r a b a lh a d o r es e G u erreiro s N eem ias 4 //A Bíblia nos diz para am arm os o próxi- / \ mo e, também, nossos inimigos - isso porque, provavelm ente, os dois costum am ser as m esmas pessoas." Essas palavras de G ilbert Keith Chesterton sem d ú v id a se a p lica v a m à s itu a çã o de Neem ias. Sua chegada a Jerusalém represen­ tou uma am eaça para Sam balate, Tobias e seus com panheiros (2 :1 0 ), os quais deseja­ vam que os judeus continuassem fracos e dependentes. U m a Jerusalém forte co lo ca­ ria em perigo o equilíbrio do poder na região e privaria Sambalate e seus amigos de sua influência e riqueza. Q u and o as coisas estão indo bem , de­ vem os nos preparar para enfrentar dificulda­ des, pois o inimigo não quer ver a obra do Senhor progredir. Enquanto o povo de Jeru­ salém estava conform ado com sua triste sina, o inimigo os deixou em paz. M as quando os judeus com eçaram a servir ao Senhor e a glorificar o nom e de D eus, o inimigo entrou em ação. A oposição não é apenas prova da bên­ ção de D eus, mas tam bém um a oportuni­ d ade de cre scim e n to . A s d ificu ld ad e s no cum prim ento do trabalho fizeram aflorar o que havia de melhor em Neem ias e em seu povo. Satanás quis usar esses p roblem as com o arm as para destruir a obra do Senhor, mas Deus usou-os com o instrumentos para edificar seu povo. "D eu s teve som ente um Filho sem pecado, mas nunca teve um filho sem tribulações", disse Charles Spurgeon. Q u an d o Sir James Thornhill estava pin­ tando a parte interna da cúpula da catedral de São Paulo em Londres, ao term inar uma parte do trabalho, deu um passo para trás a fim de contem plar o que havia feito. Se ti­ vesse recuado mais um passo, teria caído do andaim e e talvez até m orrido. Ao ver essa situação, um amigo pegou um de seus pin­ céis e passou tinta numa parte da pintura. A vida do artista foi salva, pois ele se lançou para frente a fim de proteger seu trabalho. Q uand o o retrato de nossa vida ou de nos­ so ministério não se parece exatam ente com aquilo que desejam os, talvez o G rand e A r­ tista esteja nos salvando de algo bem pior e nos preparando para algo muito melhor. O s capítulos 4 e 6 descrevem pelo me­ nos nove táticas diferentes em pregadas pelo inim igo na tentativa de interrom per o tra­ balho nos muros. Prim eiro, atacaram os ju ­ deus com zom baria (4:1-6) e co n sp iraçõ es d e guerra (vv. 7-9). C o m o resultado, os tra­ balhadores enfrentaram dificuldades internas: desânim o (v. 10), m edo (vv. 11-23) e egoís­ m o (5:1-19). Q uan d o os ataques contra o povo não funcionaram , os inimigos co m e­ çaram a atacar seu líder, N eem ias. Tentaram usar de transigência (6 :1 -4 ), m a led icên cia (vv. 5-9), am eaças (vv. 10-14) e intrigas (vv. 17-19), mas nenhum desses recursos fun­ cionou. N eem ias estava "firm e e inabalável" e liderou o povo de modo que concluíram as obras em cinqüenta e dois dias! A o se referir a Satanás, Paulo escreveu que "não lhe ignoramos os desígnios" (2 Co 2 :1 1 ). Este capítulo apresenta quatro desíg­ nios de Satanás em sua oposição à obra do Senhor e tam bém mostra com o o povo de Deus pode manter-se firm e e derrotar o ini­ migo. Ao co m e çar a construir, logo estará lutando; por isso, esteja preparado! 1. Z o m b a ria (N e 4:1-6) O crítico e escritor britânico Thom as Carlyle cham ou a zom baria de "linguagem do dia­ bo". Algum as pessoas, capazes de se m an­ ter firm es e fortes quando sofrem ataques diretos, sucum bem quando são m otivo de escárn io . Shakespeare referiu-se à zom baria com o "projéteis de papel atirados pelo cérebro", mas esses projéteis já feriram muitos guerreiros. N ão é incom um o inim igo insultar os servo s de D e u s. G o lia s zo m b o u de D avi 634 NEEMIAS 4 quando o pequeno pastor foi ao encontro - palavras blasfem as contra o Deus Jeová, do gigante carregando apenas um a funda (1 Sm 1 7:41-47). Jesus sofreu o escárnio dos so ld a d o s d u ra n te seu in te rro g a tó rio (L c 22:63-65) e do populacho enquanto estava pendurado na cru z (Lc 23:35-37), e alguns dos heróis da fé também foram zom bados pois Sam balate estava negando que Deus era cap az de ajudar seu povo. "Serão capa­ (H b 1 1 :36 ). Q u and o o inim igo ri daquilo que o p o vo de D eu s está fazendo, norm alm ente é sinal de qu e D eu s irá abençoar seu povo d e m o d o m aravilhoso. Q uand o o inimigo se enfurece na terra, D eu s ri no céu (Sl 2:4 ). Sambalate e seus amigos haviam co m e­ çado a zom bar dos judeus mesmo antes do início das obras nos muros. "Zom baram de nós, e nos desprezaram " (N e 2 :1 9 ). O texto não explica qual era exatam ente a relação privilegiada de Sambalate com o exército de Sam aria. Talvez tenha ajuntado o exército com o uma dem onstração de força, a fim de am edrontar os jud eus. A o proferir seu dis­ curso de abertura diante do exército, Sam­ balate intensificou o poder de sua zom baria fazendo algumas pessoas im portantes rirem dos judeus. Prim eiro, Sambalate zom bou dos traba­ lhadores, ao cham á-los de "fracos judeus" (4 :2 ). O term o fraco significa, nesse caso, "m irrado, m iserável". Eram com o flores co r­ tadas que m urchavam . Aos olhos dos outros, não tinham q uaisquer recu rsos hum anos, mas o que o inim igo não podia ver eram seus recursos espirituais. O povo do m undo não entende com o Deus se agrada de usar instrum entos fracos para realizar sua obra (1 C o 1:18-31). O m undo se gloria de sua riqueza e poder, mas a glória do povo de Deus está em sua pobreza e fraqueza. Q u an ­ do somos fracos, então é que somos fortes (2 C o 12:1-10). Em seguida; Sambalate zom bou d o tra­ balho em si faze n d o três perguntas insultantes. "Acaso vão se fortificar?". O exército sam aritano deve ter caíd o na gargalhada. C om o era possível um frágil rem anescente judeu ter a pretensão de construir muros for­ tes o suficiente para proteger sua cidade de um exército? A pergunta: "Sacrificarão?" dá a entender: "Será preciso muito mais do que orações e cultos para reconstruir a cidade!" zes de term inar tudo num só dia?", sugere que os judeus desconheciam a dificuldade da tarefa e que não tardariam a desistir. Em sua última pergunta, Sam balate zo m ­ bou dos m ateriais que usavam . As pedras foram tiradas dos escom bros, e é bem pro­ vável que estivessem tão velhas e estragadas que não serviriam para coisa alguma quan­ do fossem colocadas nos muros. A pesar de ser verdade que a pedra calcária enfraque­ ce sob o fogo, tam bém é fato que os muros haviam sido "assolados", enquanto as por­ tas "tinham sido consum idas pelo fogo" (Ne 2 :1 3 ). A pesar do que Sam balate disse, ain­ da havia muito material de qualidade à dis­ posição dos constru tores. Tobias, o am onita, era um dos dignitá­ rios presentes na revista das tropas samaritanas; e, quando chegou sua vez de falar, zom bou do resultado final do trabalho (4 :3 ). Não seria preciso um exército para derru­ bar os m uros; uma só raposa seria ca paz de destruí-los! É evidente que muito daquilo que Sambalate e Tobias falaram era verdade do p o n to de vista hum ano, pois o rem anescen­ te judeu era fraco e pobre e aquela em prei­ tada era grande dem ais para eles. Porém , haviam depositado sua fé em um Deus gran­ de, e foi isso o que fez toda a diferença. Q ual foi a reação de Neem ias a todo esse escárnio? O rou e ped iu a D eus que com ba­ tesse o inimigo p o r ele. Essa é terceira vez que vem os Neemias orando (1:4-11; 2:4) e não será a última. Neemias não permitiu ser distraído de seu trabalho ao gastar tem po respondendo às palavras desses homens. O Senhor havia escutado as provocações zom ­ beteiras de Sambalate e Tobias e trataria com eles a sua maneira e a seu tempo. A oração de Neem ias parece com um "salm o im precatório", com o os Salmos 69, 79 e 139:19-22. Devem os nos lembrar de que N eem ias orava com o um servo do Senhor preocupado com a glória de Deus. Não pe­ dia vingança pessoal, mas sim vindicação ofi­ cial para o povo de D eus. O inimigo havia com etido o pecado terrível de provocar a NEEMIAS 4 Deus com blasfêmias diante dos construto­ res. A oposição de Sambalate e Tobias aos judeus era, na realidade, uma oposição ao Senhor. As coisas que as pessoas dizem podem nos magoar, mas não podem, jam ais, nos fe­ rir, a menos que as deixem os penetrar nosso ser e nos contaminar. Se passarmos tempo refletindo sobre as palavras do inimigo, dare­ mos a Satanás um ponto de apoio que ele pode usar para lançar outro ataque ainda mais próxim o. O m elhor a fazer, nesses casos, é orar e entregar tudo ao Senhor e, então, vol­ tar ao trabalho! Q ualquer coisa que nos im­ peça de fazer aquilo para o que Deus nos cham ou só serve para ajudar o inimigo. 2 . C o n s p ir a ç õ e s a m e a ç a d o r a s (N e 4:7-9) Um inim igo em com um e uma causa em com um uniram quatro grupos diferentes para interromper as obras nos muros de Jerusalém. A cidade estava com pletam ente cercada de inimigos! Ao norte encontravam-se Sambalate e os samaritanos; a leste, Tobias e os amonitas; ao sul, G esém e os árabes e, a oeste, os asdoditas. Asdode era, possivelm ente, a cidade mais importante da Filfstia naquela época, e os filisteus não queriam que surgisse uma com unidade forte em Jerusalém. Por vezes, o povo de Deus tem dificul­ dade de trabalhar em conjunto, mas as pes­ soas do m undo não têm problem a algum em se unir em oposição à obra do Senhor (Sl 2 :1 , 2; At 4:23-30; Lc 2 3 :1 2 ). O s inimigos se enfureceram ao ver o trabalho progredin­ do e decidiram planejar um ataque secreto contra Jerusalém . Satanás odeia os judeus e usou uma nação após a outra para tentar destruí-los (ver Sl 85 e A p 12). D eus esco­ lheu o povo de Israel com o canal para dar ao mundo o conhecim ento do Deus verda­ deiro, as Escrituras e o Salvador (Rm 9:1-5). "A salvação vem dos judeus" (Jo 4 :2 2 ), e Sa­ tanás queria im pedir que o Salvador viesse ao m undo. Se conseguisse destruir aquela nação, poderia frustrar o plano de D eus. Neem ias suspeitou que seus inimigos rea­ lizariam um ataque, de m odo que colocou um guarda para vigiar e encorajou o povo a 635 orar. O s trabalhadores passaram a carregar consigo ferramentas e armas (N e 4:1 7) e esta­ vam preparados para lutar quando fosse dado o sinal. "Vigiar e orar" - uma instrução que com bina fé e obras - é um ótimo exemplo para nós em nosso trabalho e em nossas lu­ tas (ver M c 13 :3 3 ; 1 4 :3 8 ; Ef 6 :1 8 ; Cl 4:2-4). A batalha dos cristãos não é contra car­ ne e sangue, mas contra Satanás e suas for­ ças dem oníacas que usam carne e sangue para opor-se à obra do Senhor. Se desejar­ mos ven cer a guerra e term inar o trabalho, devem os usar o equipam ento espiritual que D eus nos forneceu (Ef 6:10-18; 2 C o 10:16). Se nos concentrarm os som ente no inimi­ go visível e nos esquecerm os do inimigo in­ visível, por certo com eçarem os a confiar nos próprios recursos, o que, então, nos levará à derrota. 3 . D e s â n im o ( N e 4 : 1 0 ) As pressões externas criam , com freqüência, problem as internos. Não é fácil levar o tra­ balho adiante quando se está ce rcad o de inim igos, enfrentando diariam ente as obri­ gações de uma tarefa que parece im possí­ vel. Se os judeus desanim assem , causariam a própria derrota, e Sam balate e seus alia­ dos nem teriam de guerrear. O desânim o é um a das principais armas do arsenal de Satanás. Foi o desânim o que impediu Israel de entrar na terra prometida em C ades-Barnéia (N m 13). "N ão podere­ m os subir co n tra aq u ele po vo, p o rq ue é mais forte do que nós" (v. 31). O s dez es­ pias incrédulos "desencorajaram o coração dos filhos de Israel" (3 2 :9), e, em decorrên­ cia disso, o povo vagou pelo deserto duran­ te quarenta anos, até que a nova geração estivesse pronta para conquistar a terra. "N ão somos capazes!", essa é a palavra de ordem daqueles que deixam de olhar para o Senhor e que co m eçam a olhar para si m esm os e seus problem as. Esses trabalha­ dores judeus desanim ados estavam , na ver­ dade, concordando com os inimigos que os haviam cham ado de fracos! (N e 2 :1 9 ; 4:1-3). Sambalate havia declarado abertam ente que o trabalho seria interrom pido, e, por pouco, não foi exatam ente o que aconteceu. 636 NEEMIAS 4 Por que esse desânim o surgiu na tribo real de Judá? (ver G n 49:8-12). Tinham em suas veias o sangue de D avi, e seria de se esperar que fossem hom ens e m ulheres de grande fé e coragem . A resposta encontrase em N eem ias 6 :17-19: Algum as pessoas da tribo de Judá estavam colaborando se­ cretam ente com o inimigo. O s laços de ma­ trim ônio foram mais fortes que os vínculos de com prom isso com o Senhor. D e acordo com N eem ias 1 3 :15-22, alguns líderes de Judá não eram inteiram ente dedicados ao Senhor, estando mais interessados em ga­ nhar dinheiro. A com binação de casam ento com dinheiro abalou sua lealdade, tornan­ do-os, assim, a causa do desânim o. Em mais de quarenta anos de ministério, tenho aprendido que, na obra do Senhor, com freqüência, quem prom ove o desânim o são os céticos e os transigentes. Normalmente, há algo de errado em sua vida espiritual. Muitas vezes, falta-lhes, dentre outras coisas, fé na Palavra de Deus, e se mostram mais interes­ sados nos próprios planos e atividades. Um a pessoa de mente dobre é incrédula e instá­ vel (Tg 1:5-8) e atrapalha a obra do Senhor. N eem ias não deu muita atenção a esses m urm uradores e prosseguiu com o trabalho - o que, aliás, é o melhor a se fazer. Se in­ terrom perm os nosso trabalho para ouvir a todos os que desejam nossa atenção, acaba­ remos não fazendo coisa alguma. O ânimo de Neem ias vinha de suas orações e das pro­ messas de Deus, e as m urm urações ocasio­ nais de alguns do povo não o perturbavam . 4 . M e d o ( N e 4 :1 1 - 2 3 ) O s judeus que viviam nas vilas ao redor de Jerusalém (3:2, 5, 7, 13) traziam sempre para a cidade notícias de que o inimigo planejava outro ataque surpresa. Não sabemos se esses judeus estavam apenas espalhando rumores ou ajudando a promover uma conspiração, mas o fato é que contavam essa mesma his­ tória repetidamente (em hebraico, a expres­ são "dez vezes" significa "muitas vezes"; ver G n 3 1 :41 e Nm 14:22). Neemias não tomou q u a lq u e r p ro v id ê n cia im ed iata, e é bem provável que estivesse orando a Deus pedin­ do orientação. Ele próprio não tinha medo do inimigo, mas quando viu que seu povo estava ficando assustado, co m eço u a agir. Em seu prim eiro discurso de posse, no dia 4 de m arço de 1933, o presidente Franklin D elano R oosevelt disse a um a nação assolada pela depressão eco nôm ica: "A úni­ ca co isa que tem os a tem er é o próprio m edo". E possível que ele tenha tom ado essa idéia em prestada de H enry David Thoreau, o naturalista norte-americano que escreveu em seu diário em 7 de setem bro de 1851: "N ão há co isa algum a que se deva tem er tanto quanto o m edo". Por quê? Porque além de nos paralisar, o m edo é co ntag io so e paralisa a outros. O medo e a fé não podem conviver no mesm o coração. "Por que sois tím idos, hom ens de pequena fé?" (M t 8 :2 6 ). As pessoas am edrontadas desanim am aos outros e contribuem para a derrota (D t 2 0 :8 ). A p rim eira p ro v id ê n cia que N e em ias tomou foi postar guardas em locais estratégi­ cos sobre os muros. O inimigo poderia ver, então, que os judeus estavam preparados para lutar. Arm ou famílias inteiras, sabendo que se uniriam e encorajariam mutuamente. O s ju­ deus não apenas repararam as partes do muro que ficavam próximas a suas casas (N e 3:2830), mas também ficaram junto de suas famí­ lias para proteger seus lares e a cidade. D epois de analisar a situação , a provi­ d ê n cia seguin te que N e em ias tom ou foi encorajar o povo a não se am edrontar e a buscar o socorro do Senhor. Se tem em os o Senhor, então não precisam os tem er o ini­ migo. O coração de Neem ias foi conquista­ do pelo Deus "grande e tem ível" de Israel (4 :1 4 ; ver 1:5) e sabia que Deus era forte o suficiente para enfrentar o desafio. Também lembrou o povo de que estavam lutando por sua nação, por sua cidade e por suas famí­ lias. O que seria das grandes promessas que Deus havia feito a Israel e de seu plano re­ dentor se a nação fosse destruída? Q uand o enfrentam os uma situação que faz brotar o m edo em nosso coração, deve­ mos nos lem brar da grandeza de Deus. Se nos basearm os nas aparências e virm os Deus por meio de nossos problem as, estarem os co ndenado s ao fracasso, com o aconteceu co m o povo de Israel em C ad es-B arn éia NEEMIAS 4 (Nm 13:26-33). M as se olharm os para os pro­ blemas por meio da grandeza de D eus, te­ rem os confiança e serem os bem-sucedidos. Essa foi a abordagem de Davi ao enfrentar G o lias (1 Sm 1 7:45-47). Q uando os inimigos descobriram que o povo de Jerusalém estava armado e prepara­ do, recuaram (N e 4:1 5 ). Deus havia frustrado sua conspiração. " O S e n h o r frustra os desíg­ nios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do S e n h o r dura para sem pre; os desígnios do seu coração, por todas as gera­ ções" (S i 3 3 :1 0 , 11). É bom nos lembrarmos de que a vontade de Deus vem do coração de Deus e de que não temos o que temer. Neem ias sabia que não poderia interrom­ per as obras toda vez que ouvisse um ru­ m or diferente, de modo que criou um plano de defesa a fim de reso lver o p ro b lem a: m etade dos hom ens trabalharia nos muros, enquanto a outra m etade ficaria de guarda. Providenciou para que os que carregavam materiais também estivessem arm ados e para que os trabalhadores nos muros levassem espadas consigo. D e sse m odo, o trabalho não seria interrom pido, e os trabalhadores estariam prontos caso o alarm e soasse. O hom em que tocava a trom beta ficaria per­ to de N eem ias para que o alarm e fosse da­ do imediatamente. O povo estava preparado para lutar (N e 4 :1 4 ), mas perceberam que era Deus quem lutava com eles e que so­ mente o Senhor poderia lhes dar a vitória. Q u an d o C h arles Spurgeon co m eço u a publicar uma revista em sua igreja em 1865, tomou o título emprestado de Neemias e cha­ mou seu periódico de A Espada e a Pá. D e acordo com ele, tratava-se de "um relato do com bate ao pecado e do trabalho para o Senhor". Não basta construir o muro; também devemos estar vigilantes para que o inimigo não o tome de nós. Construir e lutar consti­ tuem duas partes normais da vida cristã quan­ do somos discípulos fiéis (Lc 14:28-33). N eem ias voltou a falar ao povo palavras de ânim o (N e 4 :1 9 , 20). Lembrou-os de que R ed p a t h , 637 estavam participando de uma grande em prei­ tada. A final, estavam servind o um grande D eus e reconstruindo os muros de um a gran­ de cidade. Tam bém os lembrou de que não trabalhavam sozinhos, apesar de não pode­ rem ver to do s os seus co m p a n h e iro s labutando em várias partes dos muros. Deus estava com todos eles e iria defendê-los. Não im portava o qué estivessem fazen­ do ou em que parte dos muros estivessem trabalhando, todos se mantinham atentos ao som da trom beta. Um ótimo exem plo a se­ guirmos enquanto esperam os pela volta do Senhor! "Porquanto o Senhor m esm o, dada a sua palavra de ordem , ouvida a vo z do arcanjo , e ressoada a trom beta de D e u s, descerá dos céus" (1 Ts 4 :1 6 ). N eem ias tam bém instituiu um "segundo turno" e pediu que trabalhadores de outras cidades passassem a noite em Jerusalém e ajudassem a guardar a cidade. É quando esta­ mos dorm indo que, muitas vezes, o inimigo se m ostra m ais traiço e iro (M t 1 3 :2 5 ), de modo que devem os perm anecer vigilantes. N eem ias não apenas organizou os tra­ balhadores e guardas e os incentivou a con­ fiar no Senhor, co m o tam bém lhes deu o exem plo certo (N e 4 :2 3 ). Ele era um líder que servia e um servo que liderava. Estava ocupado e alerta a todo o tempo, inspecio­ nava as defesas da cidade todas as noites e se certificava de que os guardas estavam em seus postos. D e acordo com o falecido Dr. Alan Redpath, uma série de fatores levou os judeus a conseguir trabalhar e, ao mesmo tempo, a m anter o inimigo afastado: voltaram a men­ te para o trabalho (v. 6) e o coração para as orações (v. 9), usaram os olhos para vigiar (v. 9) e os ouvidos para escutar (v. 20 ). Foi isso o que lhes deu a vitó ria1. Além disso, tiveram um líder tem ente a Deus e firm e em sua fé. "Po rtanto [...] sede firm es, in abaláveis e sem pre abundantes na obra do Senhor" (1 C o 1 5 :5 8 ). Alan. Vitorious Christian Service. [Serviço Cristão VitoriosoJ. Revell, 1958, pp. 76-79. 5 P eg a L a d r ã o ! N eem ias 5 Q uatro grupos estavam envolvidos nes­ sa crise. Prim eiro, havia aq ueles que não p o ssu íam terras, m as que pre cisavam de com ida (v. 2). A população estava crescendo, os alim entos eram extrem am ente escassos (v. 3) e o povo passava fome. Essas pessoas não podiam faze r co isa algum a, de modo que voltaram seus clam ores por socorro para N eem ias. O segundo grupo era constituído de pro­ prietários de terras que haviam hipotecado suas propriedades a fim de com prar alim en­ uando o inimigo não é bem-sucedido tos (v. 3). A o que parece, a inflação estava em alta, e os preços não paravam de subir. em suas investidas externas, parte para A com binação de endividam ento e de infla­ os ataques internos, e uma de suas armas ção é suficiente para descapitalizar qualquer prediletas é o egoísm o. Se ele conseguir fazer um em pouco tempo. com que pensem os em nós mesm os e na­ O terceiro grupo se queixava de que os quilo que querem os, será vitorioso antes que im postos eram muito altos e de que eram sequer percebam os que está trabalhando. Ser egoísta é co locar a mim m esm o no obrigados a fazer em préstim os para pagá- Q centro de todas as coisas e insistir em con­ seguir aquilo que quero e quando quero. É explorar a outros para que eu possa ser feliz e me aproveitar deles para que as coisas aconteçam do meu jeito. Não é apenas que­ rer as coisas a meu modo, mas tam bém es­ perar que todos queiram o m esm o. Por que as pessoas egoístas são tão infelizes? Creio que T h o m a s M erto n exp re sso u -se b em : "C o n sid erar pessoas, acontecim entos e si­ tuações so m en te à luz de seu efeito so bre mim é viver na entrada do inferno". Este capítulo nos m ostra as profundezas do p e cad o no c o ra çã o hum ano e com o cada um de nós deve aprender a am ar o nosso próximo com o a nós mesmos. Trata-se de um dram a com ovente dividido em três atos. 1 . U m g ra n d e c la m o r ( N e 5 :1 - 5 ) No meio de uma "grande obra" (4 :1 9 ), para um "grande D eu s" (1 :5 ), ouviu-se entre os judeus um "grande clam or" (5 :1 ). Não esta­ vam clam an d o co n tra os sam aritan o s, os am onitas ou os árabes, mas contra seu pró­ prio povo! Judeus estavam explorando seus com patriotas, e a situação eco nôm ica havia se tornado tão desesperadora que até mes­ mo as esposas (que costum avam manter-se caladas) participavam dos protestos. los (v. 4). A fim de obter um em préstim o, precisavam o ferecer alguma garantia, o que significava que, mais cedo ou mais tarde, acabavam perdendo seus bens. Todos os anos, o rei da Pérsia arrecadava uma verda­ deira fortuna em tributos, sendo que apenas uma parte m uito pequena desse dinheiro chegava a beneficiar as províncias. A o con­ trário do que ocorre hoje em dia, os impostos não eram usados na prestação de serviços para o povo, mas sim para sustentar o rei. O quarto grupo era constituído de judeus ricos que exploravam os próprios irm ãos e irmãs, oferecendo-lhes em préstimos e toman­ do deles suas terras e seus filhos com o ga­ rantia (Lv 2 5 :3 9 , 40). Crianças judias tinham de escolher entre a fom e e a servidão! A lei perm itia que os judeus em prestas­ sem dinheiro uns aos outros, mas não deve­ riam co brar juros com o faziam os agiotas (D t 2 3 :1 9 , 20 ). Antes, deveriam tratar uns aos outros com am or até mesm o ao tomar algo com o garantia (D t 2 4 :10-13; Êx 22:2527) ou ao tornar um de seus com patriotas um servo (Lv 25:35-46). Tanto o povo quan­ to a terra pertenciam ao Senhor, e ele não perm itiria que qualquer um dos dois fosse usado por outros em benefício próprio. Um dos propósitos do "Ano de Jubileu" (Lv 25) era equilibrar o sistema econôm ico NEEMIAS 5 de Israel a fim de que os ricos não pudes­ sem ficar ainda mais abastados e os pobres não fic a sse m ain d a m ais d e stitu íd o s. No qüinquagésim o ano, todas as dívidas tinham de ser perdoadas, todas as terras deveriam ser restituídas a seus proprietários originais e todos os servos deveriam ser libertados. Esses negociantes ricos exploravam os pobres a fim de aum entar ainda mais a pró­ pria riqueza. Usavam seu poder para roubar de alguns e escravizar a outros. A cobiça foi um dos pecados que os profetas condena­ ram antes do cativeiro na Babilônia (Is 56:912; Jr 2 2 :13-19; Am 2 :6 , 7; 5 :1 1 , 12). Deus se preocupa de m odo especial com os po­ bres e não deixará im punes os que se apro­ veitam dos desvalidos. 2 . U m a g ra n d e assembléia ( N e 5 :6 - 1 3 ) Um a coisa é enfrentar inimigos estrangeiros e outra bem diferente é tratar do próprio povo em conflito. O jovem M oisés apren­ deu que era mais fácil se livrar de um capa­ taz egípcio do que reco nciliar dois irmãos hebreus (Êx 2:11-15). A atitude de Neem ias diante desse problem a foi um a dem onstra­ ção de verdadeira liderança. A b o rre cim e n to (v. 6 ). Não foi um aces­ so de raiva pecam inoso, mas um a expres­ são de indignação justa diante do modo que os negociantes oprim iam os irm ãos e irmãs. "Irai-vos e não pequeis" (Ef 4 :2 6 ; ver Sl 4 :4 ). N eem ias não era um político que pergun­ tava: "O que é popular?", mas sim um verda­ deiro líder que perguntava: " O que é certo?" Tratava-se de uma ira santa contra o peca­ do, e ele sabia que tinha o apoio da lei de Deus. M oisés expressou esse tipo de ira san­ ta quando quebrou as tábuas da lei (Êx 32), e Jesus dem onstrou o m esm o sentim ento diante da d ureza do co ração dos fariseus (M c 3:5). Por que N e em ias não fic o u sabend o antes desse problem a econôm ico vergonho­ so? É bem provável que isso se deva ao fato de ele estar tão envolvido naquilo que havia se proposto a fazer em Jerusalém - recons­ truir os m uros da cidade - que não tinha tem po de ficar a par dos assuntos internos 639 da com unidade. Sua com issão no cargo de governador era reparar os muros e restaurar as portas, não reformar a com unidade. Além disso, N eem ias não havia passado tem po suficiente na cidade para ficar sabendo de tudo o que acontecia. É im portante observar que a construção dos muros não criou esses problem as, mas apenas os rev elo u . M uitas v e ze s, quando um a igreja co m eça um programa de cons­ trução, vêm à tona problem as de todo tipo que as pessoas nem imaginavam que exis­ tiam . Um program a de construção é uma tarefa árdua que co lo ca à prova nossa fé, nossa p a ciê n c ia e nossas p rio rid ad es, ao m esm o tempo que faz aflorar o que há de m e lh o r em algum as pesso as e o que há de pior em outras. C o n sid e ra çã o (v. 7 ). A oração "D ep ois de ter considerado com igo m esm o" signifi­ ca, literalm ente, "M eu coração considerou dentro de m im ". Um amigo meu cham a isso de "deliberação de mim para com igo mes­ m o". O que Neem ias fez foi uma deliberação entre sua mente e seu coração ao ponderar sobre o problem a e buscar a orientação de Deus. Controlou seus sentim entos e pensa­ mentos de modo a ser capaz de oferecer a seu povo um a liderança construtiva. "M e ­ lhor é o longânimo do que o herói da guer­ ra, e o que dom ina o seu espírito, do que o que toma um a cidad e" (Pv 1 6 :3 2 ). Se um líder não consegue se controlar, jam ais será cap az de controlar a outros. Neem ias decidiu convocar uma grande a sse m b lé ia (N e 5 :7 ) e co n fro n ta r p u b li­ ca m e n te as p e sso as cu jo eg o ísm o havia criado essa situação difícil e dolorosa. Tratava-se de um pecado muito grave e de cará­ ter público, envolvendo a nação com o um todo. Exigia, portanto, repreensão e arrepen­ dim ento públicos. R e p re e n sã o (vv. 7-11). A repreensão de N eem ias dos exploradores consistiu de seis apelos distintos. Prim eiro, apelou para o seu am or, lem brando os judeus de que estavam ro ub and o dos pró p rio s irm ãos e não de gentios (v. 7). O term o "irm ão (s)" é usado quatro vezes nesse discurso. "O h ! C o m o é bom e agradável viverem unidos os irm ãos!" 640 NEEMIAS 5 (SI 1 3 3 :1 ). "N ão haja desavença entre mim e vo cê", disse A braão a Ló, "afinal somos irm ãos" (G n 13:8, N V i). Seu apelo baseou-se firm em ente na Pa­ lavra de D eus, pois a lei de M oisés proibia que os judeus cobrassem juros uns dos ou­ tros. Q uand o os judeus foram para o cati­ veiro da Babilônia, eram um povo agrícola, mas alguns deles se tornaram com erciantes e aprenderam a usar o dinheiro para ganhar mais dinheiro. Por certo, não existe nada de errado em em prestar dinheiro (M t 2 5 :2 7 ), desde que não se vá contra a Palavra de Deus e que não se explore os desam parados. É im pressionante quanto a Bíblia tem a dizer sobre o que é certo e errado no uso do d in h e iro . T am b é m é im p re s s io n a n te quantas pessoas que se dizem cristãs igno­ ram essas verd ades e usam seus recursos sem buscar a orientação do Senhor. A credi­ tam que, pelo fato de serem dizim istas ou de darem ofertas, podem fazer o que quise­ rem com o resto de sua renda. Esquecem que somos mordom os de tudo o que Deus nos dá e não apenas daquilo que dam os para ele e que, portanto, teremos de prestar contas de nossa mordom ia. Em seu terceiro apelo, Neem ias os lem ­ brou do p ro p ó sito red en to r d e D eu s para Isra el (N e 5 :8 ). No p a ssad o , D e u s havia redimido Israel do Egito e, mais recentem en­ te, os livrara do cativeiro na Babilônia. No entanto, esse versículo diz que Neem ias e o u tro s líd e re s ju d e u s h aviam a ju d ad o a redim ir alguns do povo e que seus co m ­ patriotas escravizavam -nos só para ganhar dinheiro. Esses cre d o re s egoístas estavam destruindo tudo o que Deus e Neem ias ten­ tavam construir. O que é liberdade? E ter uma vida gover­ nada pela verdade e m otivada pelo amor. Porém, os credores judeus eram m otivados pela ganância e não faziam caso da verdade da Palavra de Deus. Seu egoísmo condenouos, bem com o seus devedores, à servidão. O quarto apelo apresentado por N ee­ mias aos credores culpados foi o testem u­ nho de Israel diante de seus vizinhos gentios (v. 9). D eus cham ou Israel para ser "lu z para os gentios" (Is 4 2 :6 ; 4 9 :6 ), mas sua conduta ficava muito aquém de um bom testemunho para seus vizinho s pagãos. C o m o era pos­ sível alguns dos judeus, por um lado, recons­ truírem os m uros da cidad e e, por outro, escravizarem o próxim o? Se, verdadeiram en­ te, tem em os o Senhor, nosso desejo é honrálo diante daqueles que não crêem nele. Paulo usou uma abordagem semelhante ao censurar os cristãos de Corinto por levar seus conflitos internos aos tribunais. "Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a ju ízo perante os injus­ tos e não perante os santos? [...] Mas irá um irm ão a ju íz o co n tra outro irm ão , e isto perante incrédulos!" (1 C o 6 :1 , 6). E muito m elho r perder d in heiro do que perder o p riv ilé g io do te ste m u n h o d ian te d o s in­ crédulos. Sem pre se pode ganhar mais di­ nheiro, mas com o restaurar um testemunho desacreditado? "O temor de nosso D eus" não é o medo servil que o escravo sente de seu senhor, mas o respeito amoroso que um filho sente pelos pais. Tem er ao Senhor significa procurar glo­ rificar a Deus em tudo o que fazem os. Signi­ fica ouvir sua Palavra, honrá-la e obedecer a ela. C om o escreveu O sw ald Cham bers: "O mais im pressionante sobre tem er a Deus é que, quando o tememos, não precisam os ter medo de coisa alguma. Entretanto, quando não tememos a Deus, temos medo de todo o resto". Um a vez que a vida de Neemias era motivada pelo temor do Senhor (Ne 5:15), ele não temia o que o inimigo poderia fazer (v v . 1 4 , 1 9 ). O te m o r do S e n h o r levou Neemias a ser um servo fiel de Deus. A ndar no tem or de D eus significa, ob­ viam ente, andar pela fé, crendo que Deus tratará de nossos inim igos e, um dia, fará justiça. Significa apropriar-se de M ateus 6:33 e ter prioridades corretas em nossa vida. "O tem or do S e n h o r co ndu z à vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e mal nenhum o visi­ tará" (Pv 19:23). Em Neem ias 5 :1 0 , 11, Neem ias apelou a suas práticas pessoais. Emprestava dinhei­ ro aos necessitados, mas não cobrava juros nem os privava daquilo que haviam deixado com o garantia (Êx 2 2 :2 5 ). Ao contrário de alguns líderes, Neem ias não dizia: "Façam o NEEMIAS 5 que digo e não o que eu faço !" N ão era hipócrita, pois co lo cav a suas palavras em prática. Na verdade, este capítulo term inará com N eem ias ressaltando que Deus o havia ca p acitad o para que fiz e sse isso por seu povo (N e 5:14-19). Dava um bom exem plo com o líder e com o hom em temente a Deus. "O centésim o", no versículo 11, era re­ ferente aos juros cobrados pelo dinheiro e, 641 provavelmente, aplicados mensalm ente, num total de 1 2% de juros ao ano. Essa prática já existia antes de Neem ias entrar em cena e, agora, o povo estava desesperado, tentan­ do equilibrar o orçam ento familiar. U m a v e z que era um hom em de ação, N eem ias disse aos credores que deveriam restituir os juros e as garantias que haviam solene ao que havia sido dito e feito na as­ sem bléia (ver Ne 8 :6 e D t 2 7 :1 4ss). O ter­ mo am ém significa "assim seja "; em outras palavras: "Q u e o Senhor faça tudo que tu disseste!" Era um ato de ad oração que tor­ nava a assem bléia toda parte das decisões tom adas. Em seguida, a congregação toda louvou ao Senhor. Por quê? Porquê D eus havia ca­ pacitado N eem ias a ajudá-los a co m eçar o processo de resolução de seus problem as. N eem ias havia orientado os credores a re­ co n hecer seus pecados e a fazer as restitui­ çõ es n ecessá rias. Essa grande assem bléia não foi apenas um a "co nferên cia sobre ques­ tões e co n ô m ica s", mas tam bém um culto de adoração no qual N eem ias havia eleva­ tom ado de seus com patriotas bem com o as propriedades que haviam confiscado na exe­ cução de hipotecas. Esse passo radical de fé e de am or não resolveria de imediato todos do ao m áxim o povo de D eus tratar de todos tade de D eus, os problemas econôm icos do povo, mas pelo m enos evitaria que a crise piorasse. Também daria ao povo aflito a oportunidade de co ­ m eçar outra vez. O sexto apelo de N eem ias foi para lem­ brar os credores do julgam ento d o Senhor (vv. 12, 13). Eles prom eteram obedecer, de revelada em sua Palavra. m odo que N eem ias fez com que prestas­ sem um juram ento diante dos sacerdotes e de outros oficiais da cidade. Isso significava que sua prom essa não se limitava apenas a seu próxim o, mas que tam bém era um as­ sunto entre eles e D eus; algo extrem am ente sério. "Q u and o a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agra­ da de tolos. C um pre o voto que fazes. M e­ lhor é que não votes do que votes e não cum pras" (Ec 5 :4 , 5). A grande assem bléia encerrou com três atos enfatizando a solenidade daquela oca­ sião. Prim eiro, N eem ias sacudiu as dobras de seu manto, sim bolizando o que Deus fa­ ria com os credores se não cum prissem seu voto. Sacudir o manto ou a poeira dos pés era um gesto jud aico típico de condenação (At 1 3 :5 1 ; M t 10:14). Em seguida, a congregação respondeu com um "Am ém " coletivo, muito mais do que um ritual ju d a ic o . Era um co n sen tim ento um problem a financeiro. O deve seguir seu exem plo e os problem as à luz da von­ confo rm e esta se encontra 3 . U m g r a n d e e x e m p lo ( N e 5 :1 4 - 1 9 ) C om o disse D. L. M oody: "U m a vida santa causará a mais profunda im pressão. O s fa­ róis não soam sirenes; apenas brilham ". Em nosso tem po de escândalos em quase to­ das as áreas da vida, especialm ente na polí­ tica, é um grande estím ulo en co ntrar um hom em com o Neem ias, que colocou o ser­ viço ao povo antes dos interesses próprios. N e em ias n u n ca leu Filip e n se s 2 :1 -1 3 , m as, sem d úvid a, co lo c o u em p rática as palavras dessa passagem. Ao longo dos doze anos de seu prim eiro mandato com o gover­ nador e, posteriorm ente, no segundo man­ dato nesse cargo (N e 1 3 :6 , 7), usou seus privilégios para ajudar o povo e não para construir um reino para si m esm o. Naquela época, a maioria dos oficiais exercia sua au­ toridade de modo a se prom over e a prote­ ger interesses pessoais. Sua preo cu p ação com as necessidades do povo era mínima. C om o filhos de D eus, nosso exem plo é Je­ sus Cristo e não os líderes deste mundo (Lc 2 2:23-30). "Ergue-se uma cru z no cam inho da liderança espiritual", escreve j. O sw ald Sanders, "cru z em que o líder consentirá ser 642 NEEMIAS 5 pregado". (Liderança Espiritual. M undo C ris­ tão, 1985, p. 104.) D e que m aneira esses h om ens servem de exem plo para nós? Para com eçar, N ee­ mias e seus assistentes não usavam os fun­ dos oficiais para cobrir despesas pessoais, com o também não cobravam im postos do povo para garantir a com ida na mesa. Paga­ vam suas despesas com os próprios recur­ sos e não pediam reem bolsos. O apóstolo Paulo adotou política sem e­ lhante com a igreja de Corinto. Poderia ter aceitado o sustento deles, com o fazia com outras igrejas, mas optou por trabalhar com as próprias mãos e pregar o evangelho aos coríntios "à sua própria custa" (1 C o 9). Paulo não disse que todo obreiro cristão deve fa­ ze r o mesm o, "porque digno é o trabalhador do seu salário" (Lc 1 0 :7 ; 1 C o 9 :1 4 ). Porém, todo cristão deve seguir o exem plo de Pau­ lo no que se refere a ter um a atitude equili­ brada em relação aos bens e ao ministério. Devem os estar dispostos a sacrificar o lucro pessoal pelo bem espiritual de outros (ver At 20:33-35 e 1 Sm 12:3). Alguém disse que os líderes são as pes­ soas que aceitam mais culpa e menos crédito, mas também são aqueles que se sacrificam em silê n cio para que o u tro s possam ser beneficiados. Neem ias e seus assistentes não apenas pagavam as próprias contas, com o também tinham o cuidado de não explorar o povo de qualquer maneira (N e 5 :1 5 ). O s servos de governadores anteriores haviam usado os cargos para o próprio lucro, possivelm ente aceitando subornos das pessoas e prom e­ tendo representá-las perante o governador. M ultiplicar as riquezas e o poder é um a ten­ tação perm anente para os que ocupam car­ gos de au to rid ad e , m as N e em ias e seus amigos cam inhavam no tem or do Senhor e serviam com honestidade. Tam bém foram exem plo em um terceiro sentido: Todos participaram da reconstrução dos muros (v. 16). Não eram conselheiros que, de vez em quando, saíam de seus palá­ cios, mas sim trabalhadores que Iabutavam lado a lado com o povo na construção e na defesa da cidade. Jesus disse: "N o m eio de vós, eu sou com o quem serve" (Lc 2 2 :2 7 ), e N eem ias e seus assistentes dem onstraram essa m esm a atitude. N eem ias foi um exem plo ainda de outro m odo. Não apenas pagava pela própria co­ mida, mas tam bém dividia o que tinha com outros (N e 5:1 7 , 18). Costum ava alim entar m ais de 150 con vid ados, tanto residentes quanto visitantes, e lhes oferecia uma exce­ lente refeição! (ver 1 Rs 4 :2 2 ,2 3 para o que era servido diariam ente à mesa de Salom ão). Calcula-se que essa quantidade de alim en­ tos era suficiente para mais de quinhentos convidados, de modo que N eem ias deveria ter sem pre as portas de sua casa abertas a todos. O u , talvez, dividisse o que sobrava com os que trabalhavam nos muros. D e qual­ quer m odo, era generoso e não pedia re­ com pensa alguma por isso. N eem ias 5 :1 9 indica aquela que talvez seja a característica mais relevante do servi­ ço de N eem ias: ele agia desse modo som en­ te para agradar ao Senhor. Essa é sua quarta oração (1:5ss; 2 :5 ; 4 :4 ), uma expressão ma­ ra v ilh o sa de a d o ra ç ã o e de h u m ild a d e . Neem ias não queria elogios nem recom pen­ sa alguma do povo; desejava apenas a recom ­ pensa que D eus lhe daria por seu serviço sacrificial (ver 13 :1 4 ). É possível que alguns do povo não dessem a seus líderes o devido valor, mas isso não incom od ava N eem ias. Sabia que a avaliação final viria do Senhor e estava disposto a esperar (1 C o 4:1-5). Se vo cê se encontra num a posição de liderança espiritual, este capítulo lhe ofere­ ce algumas lições im portantes. Em primeiro lugar, esp ere problem as no m eio d o p o v o . O n d e houver pessoas, há o potencial para problem as. O n d e quer que a obra de D eus prospere, o inimigo faz todo o possível para tam bém haver dificuldades. Não se surpreenda quando as pessoas de seu grupo nem sem pre conseguirem se dar bem umas com as outras. Em segundo lugar, co n fro n te os p ro b le ­ mas co m coragem . "N ão existe problem a tão grande que não po ssa ser ig norado " pode ser um a ótim a filosofia para um per­ sonagem de história em quadrinho s, mas não funcio na no serviço do Sen ho r. T o d o NEEMIAS 5 pro b lem a ig norado será enterrado, criará raízes mais profundas e dará frutos amargos. O re pedindo a ajuda de Deus e trate do pro­ blem a o mais rápido possível. Em terceiro lugar, certifique-se de que a sua própria integridade continua intacta. Um a co n sciência pesada lhe tirará a autoridade espiritual n ecessária para o fere ce r uma li­ derança adequada, mas todo sacrifício que tiver feito lhe dará a força adicional que pre­ cisa para derrotar o inimigo. Por fim , veja em cada p ro b le m a uma o p o rtu n id a d e para o S en h o r trabalhar. R e­ solver os problem as que surgem no ministé­ rio não é um exercício intelectual, mas sim uma experiência espiritual. Se dependerm os 643 da sabedoria do mundo, obterem os somente aquilo que o m undo pode oferecer, mas se dependem os da sabedoria de D eus, obtere­ mos tudo o que D eus pode fazer. Tudo o que disserm os e fizerm os deve ser motiva­ do pelo am or, co ntro lado pela verd ade e feito para a glória de Deus. As obras haviam sido interrompidas pela convocação para a assfembléia e a solução dos problemas econôm icos, e era chegada a hora de cada um voltar a seu respectivo posto de trabalho junto aos muros. Porém, os inimi­ gos de Neemias também estavam ocupados. Dessa vez, voltariam sua artilharia especifica­ mente contra Neemias e tentariam derrotá-lo por meio de quatro artifícios diabólicos. 6 O u v im o s o I n im ig o , e E le É um M en tir o so N eem ias 6 povo de Deus orar com fervor, não apenas por aqueles que ocupam cargos de autori­ dade civil (1 Tm 2:1-3), mas tam bém por aqueles que exercem autoridade espiritual. Se Satanás consegue derrotar um líder cris­ tão, pode enfraquecer um ministério inteiro e desabonar a causa de Cristo. O m aior propósito do inimigo era fazer brotar o medo no coração de Neem ias e de seus trabalhadores (N e 6 :9 , 13, 14, 19), sa­ bendo que esse medo destruiria sua fé e pa­ ralisaria sua vid a. Adolph H itler escreveu : ob a liderança com petente de Neem ias, "C o nfusão m ental, sentim entos contraditó­ o povo com pletou a reco nstrução dos muros. Restava apenas restaurar as portas e fortalecer a com unidade cercad a pelos mu­ ros. Um a vez que Sam balate e seus amigos haviam fracassado com pletam ente em suas tentativas de im pedir que o povo trabalhas­ rios, indecisão, pânico; essas são as nossas arm as". Tanto Jesus (Lc 13:3 1 -3 7 ) quanto Paulo (At 21:10-14) tiveram de enfrentar o fantasm a do m edo, e am bos o venceram pela fé. Neem ias não deu ouvido às mentiras do se, decidiram co ncentrar seus ataques em inim igo. Para grande h u m ilhação de seus adversários, ele e seu povo com pletaram os muros e assentaram as portas em cinqüenta e dois dias (N e 6 :1 5 , 16). Satanás usou qua­ tro estratégias no ataque contra N eem ias, S N eem ias. Se co n seg u issem elim iná-lo, ou mesm o desacreditá-lo, poderiam m obilizar seus aliados dentro de Jerusalém (N e 6 :1 7 , 18) e tomar a cidade. U m a pessoa que não ocupa um cargo de liderança não percebe as trem endas pres­ sões e provações que os líderes enfrentam diariam ente. Com freqüência, são culpados por causa daquilo que não fizeram e critica­ dos por causa daquilo que tentaram fazer. C olocam palavras que não disseram em sua boca e interpretam mal aquilo que falaram, sendo que raram ente têm a oportunidade de esclarecer os fatos. Se agem com rapidez, são im prudentes; se dem oram , são covar­ des ou indiferentes. Ao se referir às pressões sofridas pelos líderes, o presidente H a rry Truman escreveu em Mr. Citizen [Sr. C id a­ dão]: "Se você não é cap az de suportar o calor, fique longe do fogo!" Q u em se encontra em cargos de lide­ rança espiritual não está sujeito apenas às pressões que todos os líderes sofrem , mas também deve lutar contra um inimigo infer­ nal, um grande enganador e um assassino. Satanás ap arece co m o uma serpente que engana ou com o um leão que devora (2 C o 1 1 :3; 1 Pe 5:8 ), e os líderes cristãos devem estar alertas e esp iritu alm en te eq uipad os para faze r frente a esse inim igo. C ab e ao estratégias estas que ainda usa contra os lí­ deres espirituais hoje. 1 . T r a n s ig ê n c ia : " A ju d a r e m o s em seu t r a b a l h o " (N e 6:1-4) Até essa altura do programa de construção, Sambalate, Tobias e G esém (v. 6) haviam se oposto a tudo o que os judeus tinham feito; mas então se ofereceram para cooperar e ajudar os judeus na construção dos muros. O fe re c e ra m e n c o n tra r-se co m N e e m ia s numa vila a meio cam inho entre Jerusalém e Sam aria, um lugar sossegado onde pode­ riam planejar com o trabalhariam juntos. Com essa abordagem , deram a entender que es­ tavam dispostos a fazer algumas concessões e que Neem ias não deveria ser um vizinho intransigente. E evidente que a estratégia do inimigo era: "Se não podem os vencê-los, nos junta­ remos a eles... e em seguida os dom inare­ m o s!" U m a v e z que o inim igo co n seg u e estabelecer um ponto de apoio num minis­ tério, co m eça a enfraquecer essa obra inter­ namente e, por fim, a condena ao fracasso. Apesar de a cooperação na obra do Senhor NEEMIAS 6 ser algo nobre, os líderes devem ter o cuida­ do de cooperar com as pessoas certas, no lugar certo e com os propósitos certos. D e outro m odo, podem acab ar co lab o ran d o com o inimigo. Satanás é um grande enga­ nador e prepara seus servos para darem as mãos ao povo de D eus, a fim de enfraque­ cer as mãos dos servos do Senhor para o trabalho (2 C o 1 1 :1 3-15). A transigência e a cooperação que vêm do am or podem ser boas e úteis se não h ou ­ ver questões morais ou espirituais em jog o. U m a co ncessão feita de bom grado pode dar nova vida a um casam ento ou fortalecer um m inistério (Fp 2:1-4), mas se trata de um ato de tran sig ê n cia entre pessoas que se am am e que têm em mente os mesm os pro­ pósitos. Ao convidar o diabo para fazer par­ te de seu time, pode-se esperar que ele mude as regras e os objetivos; espere tam bém ser derrotado. Neem ias rejeitou a oferta deles em fun­ ção de três co nvicçõ es. Em primeiro lugar, sabia que estavam m entindo e que deseja­ vam matá-lo (N e 6 :2 ). N eem ias possuía o tip o de d isc e rn im e n to e sp iritu a l que os líderes devem ter a fim de detectar as estra­ tégias do inimigo e de neutralizá-las. Em se­ gundo lugar, estava co n victo da grandeza da obra que Deus havia lhe dado (v. 3). Se Neem ias se perm itisse ser distraído e des­ viado das incum bências que havia recebido de D eus, onde seu povo iria buscar lideran­ ça? Um projeto sem líderes é um em preen­ dim ento sem rumo que acaba desandando. O s líderes devem ser um bom exem plo e perm anecer firm es no trabalho. A o longo de quarenta anos de m inisté­ rio, depois de ver líderes cristãos indo e vin ­ do, p rocuro levar a sério a ad m o estação de Paulo: "A q u ele, pois, que pensa estar em pé veja que não ca ia" (1 C o 1 0 :1 2 ). A ju lg a r por a q u ilo q u e ten ho o b se rv a d o , quando os líderes tornam-se muito con h e­ cidos, enfrentam , com freqüên cia, a tenta­ ção de d e ix a r a obra que re ceb eram de Deus para juntar-se à "elite social evangéli­ ca ", com eçand o a dar palestras em todo o país ou em todo o m undo. Não dem ora para que seu trabalho local com ece a sofrer, e, 645 com freqüência, o casam ento e a família do líder tam bém sofrem . Assim , o inimigo co n­ segue seu ponto de apoio. A menos que as prioridades desse líder sejam reorganizadas de modo radical, os resultados serão trági­ cos tanto para o povo quanto para a obra de Deus. Isso não significa que os líderes cristãos não devam, jam ais, sair dé sua com unidade local para ministrar em outros lugares, pois são uma dádiva para toda a igreja e não ape­ nas para uma obra (Ef 4 :1 1 ,1 2 ). Porém, quan­ do o "m inistério mais abrangente" torna-se mais em polgante que o ministério local, os líderes devem tomar cuidado, pois o inimi­ go está trabalhando. O Dr. O sw ald j. Smith costum ava dizer: "A luz cujo brilho alcança até os lugares mais distantes é a que tem m aior resplendor a seu redor". Por trás dessas duas co n vicçõ es, enco n­ trava-se outra: os jud eus não tinham coisa algum a em com um com Sam balate e seu povo, de modo que não poderia se estabe­ lecer base alguma de cooperação. Neem ias deixara isso claro desde o início do projeto, quando disse a Sam balate, Tobias e G esém : "vós, todavia, não tendes parte, nem direito, nem m emorial em Jerusalém " (N e 2 :2 0 ). O povo de D eus é diferente das pessoas do mundo e deve m anter sua posição de sepa­ ração (2 C o 6 :1 4 - 7:1). Se Neem ias tivesse cooperado com Sam balate e seus aliados, com o poderia ter liderado a nação de modo a manter-se separada dos estrangeiros da terra? (N e 9 :2 ; 1 0 :2 8 ; 13:3). Dem onstraria in co e rên cia. N e em ias p o ssu ía tanto discern im en to quanto determ in ação: recusou-se a ser in­ fluenciado por suas ofertas repetidas (6 :4 ; ver 4 :1 2 ). Se aquela oferta não era certa da prim eira ve z, co ntinuaria sendo errada na quarta ou na quinta vez, e não havia motivo algum para reconsiderá-la. As decisões que se baseiam som ente em op in iões podem ser re co n sid erad a s, mas d e cisõ e s que se ba­ seiam em co n v icçõ es devem ser mantidas, a m enos que essas co n v ic çõ e s m udem . D e outro m odo, a decisão transforma-se em in­ decisão, e o líder que deve ser um m arco indicador torna-se um cata-vento. 646 2. M NEEMIAS 6 a l e d ic ê n c ia : " F a la rem o s de vo cê ( N e 6 :5 - 9 ) A quinta investida dos inimigos contra N ee­ mias deu-se por uma carta aberta, na qual o acusavam de sed ição . A ntes de o projeto sequer ter início, já haviam insinuado que os ju d eu s pretendiam rebelar-se (2 :1 9 ), to­ mando em prestada, talvez, a idéia daqueles que haviam interrom pido a reconstrução do tem plo anos antes (Ed 4). Até mesm o Jesus foi acusado por seus inimigos de prom over a rebelião (Lc 23:1-5). No tempo de Neemias, tratava-se de uma acusação grave, pois os reis persas não toleravam resistência algu­ ma da parte de seus súditos. Q u alqu er indí­ cio de rebelião era reprim ido de im ediato e sem qualquer piedade. E interessante observar com o, em várias ocasiões, os inimigos usaram cartas em seus ataques às obras (N e 6 :5 , 1 7, 19). U m a "car­ ta aberta" para um governador real era, ao mesm o tempo, uma form a de intim idação e um insulto. As cartas oficiais eram enroladas e seladas, a fim de que som ente aqueles in­ vestidos de autoridade pudessem abri-las e lê-las. Sam balate queria que todos soubes­ sem do conteúdo da carta, pois esperava a to d o s" abalar a reputação e autoridade de Neem ias. Se alguns dos trabalhadores judeus acredi­ tassem no que estava escrito ali, Sambalate poderia organizá-los e criar cisão no meio do povo. Era uma excelente oportunidade para o inimigo dividir e conquistar. D e cla raçõ e s com o "foi relatado que" e "ouviu-se que" já criaram problem as em vá­ rias igrejas locais e em outros m inistérios. O s fofo queiros estão presentes em todas as o rg an izaçõ e s, sobrevoando co m o abu­ tres, à espera de bocados de m aled icên cia para mastigar, engolir e depois regurgitar. Alguém definiu a fofoca com o aquela notí­ cia que você precisa con tar a outros o mais rápido possível antes de d esco b rir que não é verdade! Nas palavras de A . B. Sim pson, funda­ dor da organização Christian and M issionary A lliance [A liança Cristã M issionária]: "Prefi­ ro brincar com relâmpagos ou segurar fios de alta tensão e sentir sua corrente em mi­ nhas mãos a proferir uma palavra descuidada sobre qualquer servo de Cristo ou repetir, levianam ente, dardos m aledicentes que mi­ lhares de cristãos atiram uns contra os ou­ tros, ferindo seu próprio corpo e alm a". Esses in im ig o s não ap e n as acu saram Neem ias falsam ente de incitar uma rebelião, com o tam bém afirmaram que estava plane­ jando proclamar-se rei e que havia profetas preparados para anunciar sua coroação (v. 7). Se essa notícia chegasse aos ouvidos do rei persa, o resultado seria uma retaliação im e­ diata; o que, por sua vez, encerraria o proje­ to em Jerusalém . O s líderes cristãos precisam saber com o lidar com falsas acusações, cartas maldosas, notícias infundadas na im prensa e fofocas. Do contrário, serão tão perturbados por es­ sas arm as dem oníacas que perderão de vis­ ta seus objetivos e passarão tanto tempo se defendendo que acabarão deixando de lado seu trabalho. N eem ias não co m eteu esse erro. Sim plesm ente negou os relatos, orou a Deus pedindo fo rças e voltou a trabalhar. Sabia que seu caráter era tal que nenhum a pessoa honesta acreditaria nessas acusações falsas. Se cuidam o s de nosso caráter, po­ dem os confiar que Deus cuidará de nossa reputação. Em mais de um a ocasião, o professor de estudos bíblicos G . Cam pbell Morgan foi alvo de fofocas terríveis, acusado-o de infidelida­ de à fé cristã. Sua abordagem mais com um era dizer: "U m a hora a tem pestade passa. Enquanto isso, vou fazend o meu trabalho com toda calm a e tranqüilidade". Neem ias teria aprovado sua atitude. 3 . A m e a ç a s : " P r o t e g e r e m o s s u a v id a " (N e 6:10-14) S em a ías, um pro feta m e rce n á rio (v. 12), criou um plano engenhoso para fazer N ee­ mias c a ir na arm ad ilh a de seus inim igos. Trancou-se em casa e deu a im pressão de que, assim co m o N eem ias, tam bém estava c o rre n d o p e rig o . Q u a n d o N e e m ia s foi visitá-lo, Sem aías sugeriu que os dois se re­ fugiassem no tem plo, onde seus inim igos não poderiam lhes fazer mal (Êx 2 1 :1 3 , 14; 1 Rs 1 :50-53). Suas palavras foram extrem a­ m ente am eaçado ras: NEEMIAS 6 — "V irã o matar-te; aliás, de noite virão matar-te" (N e 6 :1 0 ). Um a vez que tinha acesso ao templo, é bem possível que Sem aías fosse de um a fa­ m ília sacerdotal, mas nem isso influenciou a d ecisão de N eem ias. M ais que depressa, percebeu que se tratava de uma farsa e dei­ xou claro que não estava prestes a fugir em face do perigo. Para com eçar, não era esse tipo de líder. — "H o m em com o eu fugiria?" — pergun­ tou (v. 11). H avia dito anteriorm ente: — "N ão poderei descer" (v. 3) — e então declarou: — "D e m aneira nenhum a entrarei" (v. 11). Neem ias era um verdadeiro pastor, não um m ercenário com o Sem aías (Jo 1 0 :1 2 ,1 3 ). Se tivesse fugido e se escondido no templo, teria acabado com sua reputação de uma v e z por todas. Neem ias rejeitou a proposta de Sem aías, pois era contrária à lei de M oisés. Um leigo não poderia ir além do altar de holocaustos no tem plo. " O estranho que se aproxim ar m orrerá" (N m 1 8 :7 ). Q u an d o o rei U zias tentou invadir o santuário, D eus o feriu com lepra (2 C r 2 6 :1 6 -2 1 ). N eem ias sabia que Sem aías eram um falso profeta, pois a men­ sagem que transmitiu era contrária à Palavra de D eus (D t 13:1-5 e 18:20-22). A pergunta: "Pois que diz a Escritura?" (Rm 4 :3 ) deve ser usada para testar qualquer m ensagem , mes­ mo que venha de alguém que afirm a ser um servo de D eus. "À lei e ao testem unho! Se eles não falarem desta maneira, jam ais ve­ rão a alva!" (Is 8:2 0 ). Neem ias 6 :1 4 dá a entender que havia uma conspiração contra N eem ias entre os profetas, da qual fazia parte um a profetisa cham ada Noadia. Essas circunstâncias cria­ ram um bocado de pressão sobre Neem ias, pois os judeus tinham um enorm e respeito por seus profetas. N eem ias era m inoria e, no entanto, manteve-se firm e em sua posi­ ção. Era um leigo sofrendo oposição de "pro­ fissio n ais", mas ainda assim se recusou a ceder. O rou sobre eles e deixou o assunto aos cuidados do Senhor. Nos versículos 9 e 14, temos a quinta e a sexta de uma série de 647 "orações instantâneas" que Neem ias fez em m om entos de crise. Sem dúvida, por trás dessas preces rápidas e intermitentes, havia toda um a vida de oração que lhe dava forças. 4 . I n t r i g a : " N ão d e s is t ire m o s " (N e 6:15-19) A conclusão das obras nos muros "em tem­ pos angustiosos" (D n 9 :2 5 ) envergonhou os inimigos, mas eles não desistiram. Satanás não entrega os pontos com faci­ lidade e não sai de cam po mesm o quando tudo indica que perdeu a batalha. M u itos cristãos descu idado s venceram a guerra, mas d e p o is p erd era m a vitória. Satanás estava sem pre à procura de um "m om ento opor­ tuno" (Lc 4 :1 3 ) para atacar os vitoriosos e transformá-los em vítim as. Devem os dar ou­ vidos ao conselho do pastor escocês A ndrew A . Bonar, que disse: "Perm aneçam os tão vi­ gilantes depois da vitó ria quanto antes da batalha". Se você não consegue ver Satanás ope­ rando, provavelm ente é porque ele está agin­ do às escondidas. Na verdade, estamos mais seguros quando podem os vê-lo do que quan­ do seus agentes estão trabalhando em se­ gredo. A oposição aberta é benéfica para a obra de D eus e para seus obreiros, pois nos mantém alertas e confiando no Senhor. Sem dúvida, "Vigiai e orai!" era uma das princi­ pais adm oestações de Neem ias ao seu povo (N e 4 :9 ). Parece incrível qualquer judeu cooperar secretam ente com o inim igo, quanto mais os nobres da tribo real de Judá! Se havia uma tribo cujo futuro estava associado àquele da "cidade de D avi" era Judá, pois Deus havia prom etido que o Salvador e Rei viria dessa tribo (G n 4 9 :1 0 ; 2 Sm 7). Ao cooperar com Tobias, esses nobres estavam resistindo ao Senhor, desobedecendo à Palavra e co locan­ do em perigo o próprio futuro. Por que fariam algo tão traiçoeiro? D en­ tre outras coisas, Tobias escreveu um a carta a esses nobres e influencio u sua opinião. Em vez de buscarem a verdade, acreditaram nas mentiras do inimigo e se tornaram trai­ dores do próprio povo. Pelo fato de crerem que ele estava certo, alguns hom ens de Judá 648 NEEMIAS 6 chegaram a prestar juram ento de lealdade a Tobias! Em suas cartas, Tobias sem dúvida os bajulou e encheu de prom essas, e, em sua insensatez, esses líderes de Judá acredi­ taram nele. O s nobres transmitiram a carta a outros secretam ente, fazendo a conspira­ ção crescer. Não acredite em tudo o qu e v o cê ouve ou lê sobre líderes cristãos. A nalise as fontes e recuse firm em ente aceitar com o verdade qualquer coisa que não possa ser com pro­ vada. Fique especialm ente atento às notícias que a mídia divulga sobre líderes evangéli­ cos, pois a maioria daqueles que trabalham para os m eios de com unicação não simpati­ za com o evangelho. Alguns repórteres, em busca de histórias em polgantes, exageram coisas insignificantes até adquirirem propor­ ções sen sacion ais, enquanto outros citam declarações inteiram ente fora de contexto. Infelizm ente, até mesm o a im prensa religio­ sa é, por vezes, culpada de interpretações equivocadas, inclusive algumas publicações militantes que se esqueceram com o "[seguir] a verdade em am or" (Ef 4 :1 5 ). H á m om en­ tos em que nos perguntam os se, talvez, não ch e g am o s à situ açã o triste so b re a qual Jerem ias escre v e u : "G u ardai-vo s cad a um do seu am igo e de irm ão nenhum vos fieis; p o rq ue todo irm ão não fa z m ais do que enganar, e todo am igo anda ca lu n ian d o " (Jr 9 :4 ). C om o esses judeus foram capazes de dar as costas à própria herança, aos próprios ir­ mãos e irmãs e ao próprio Deus? O s laços d e relações humanas foram mais fortes que os laços d e afeição espiritual. Pelo fato de Tobias estar ligado à tribo de Judá pelo ca­ samento, os nobres de Judá lhe dedicaram a lealdade que só poderiam ter reservado para Deus (Ne. 6 :1 8 ). O s homens de Judá se esqueceram de que eram "casados" com o D eus Jeová e de que era a ele que deviam am or e lealdade. Porém, antes de criticarm os esses nobres judeus, devem os exam inar nossa vida. Será que entregam os todo o nosso ser ao Senhor e lhe obedecem os de todo o coração? Per­ mitimos, em algum m om ento, que os rela­ cionam entos hum anos influenciem nossas decisões a ponto de desobedecerm os deli­ b e rad am en te à P alavra de D eus? N estes muitos anos de m inistério pastoral, vi cris­ tãos deixarem a igreja por causa de desen­ tendim entos entre a congregação e alguma pessoa de sua família. O com odoro Josiah Tatnall é um a figura praticam ente esquecida na história da mari­ nha norte-am ericana. D urante as rebeliões chinesas contra a Europa em 1859, Tatnall socorreu uma esquadra britânica no rio PeiH o, decisão esta que gerou várias críticas. Tatnall defendeu sua atitud e d e cla ran d o , numa mensagem ao secretário da m arinha dos Estados Unidos, que "os laços de san­ gue são sem pre mais fortes". Essas p a la v ra s tão c o n h e c id a s foram registradas por John Ray em sua obra English Proverbs [Provérbios Ingleses], publicada em 1670, de modo que estão em circulação há muito tempo. Seu significado é evidente: em term os hum anos, tem os um com prom isso muito m aior com parentes do que com pes­ soas de fora da fam ília. Jesus, porém, disse: "Q u e m am a seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de m im " (M t 1 0 :3 7 ). O "laço de sangue" que nos une a Cristo é mais for­ te do que qualquer outro, e nossa lealdade a ele deve vir em primeiro lugar. O s nobres de Judá não se contentaram em obter inform ações e instruções de Tobias, mas acred itaram ser n e ce ssá rio co n tar a Tobias tudo o que Neem ias dizia! Sem dúvi­ da, esperavam conquistar o favor de Tobias e, assim, obter uma recom pensa ainda maior quando ele e os am igos tom assem Jerusa­ lém. Traíram a nação e o Senhor em todos os sentidos. M esulão era um dos trabalha­ dores reparando os muros (N e 3 :4 , 30 ), no entanto, sua fam ília estava arruinando exa­ tamente o trabalho que ele fazia. Porém , esses traidores foram ainda mais longe, d izen d o repetid am ente a N eem ias com o Tobias era um grande hom em ! "O s que desam param a lei louvam o perverso, mas os que guardam a lei se indignam con­ tra ele" (Pv 2 8 :4 ). Se os nobres de Judá esti­ vessem se dedicando a estudar e a meditar NEEMIAS 6 na Palavra de D e u s, teriam dem onstrado discern im en to e não co m e çariam a andar "no co n selh o dos ím p io s" (Sl 1 :1 ). Foram cegad os pela m entira e pela b aju lação e p erd eram in teiram e n te o co n tato co m a realid ad e. N ão havia luz algum a neles (Is 8 : 2 0 ). M as será q u e a situação é muito diferen­ te nas igrejas de hoje? Fico espantado ao ver cristãos professos, que dizem ser "guia­ dos pela Bíblia", apoiando pessoas que não passam de m ercenários religiosos. Seria de se esperar que os escândalos recentes divul­ gados pela mídia servissem para despertar o povo, mas não parece ser o caso. "C oisa espantosa e horrenda se anda fazend o na terra: os profetas profetizam falsam ente, e os sacerdotes dom inam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo", escre­ veu Jerem ias e, então, perguntou: "Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?" (Jr 5 :3 0 , 31). Por certo, temos diante de nós um dia em que todas as contas se­ rão acertadas. E depois? 649 Tobias não parava de m andar cartas a seus informantes, e estes, por sua vez, conti­ nuavam dizendo a outros que m udassem de lado antes que Jerusalém fosse tom ada pelos gentios. N eem ias não fez caso das cartas nem das am eaças e continuou trabalhando até que as obras estivessem concluídas. A fi­ nal, seu trabalho foi feito "por intervenção de nosso D eus" (N e 6 :1 6 ), e quando Deus co m e ça uma obra, ele a leva até o fim (Fp 1 : 6 ). A história com eço u com a declaração: "Então orei" (Ne 2 :4 ). Na seqüência lemos: "C heguei a Jerusalém " (v. 11). O próxim o elo da cadeia é: "Fortaleceram as mãos para a boa obra" (v. 18), seguido das declarações: "Edificam os o m uro" (4:6) e "Assim trabalhá­ vam os na obra" (v. 21). Chegam os, assim , ao final desta parte da história: "Acabou-se, pois, o m uro" (6 :1 5 ). Essas p alavras, po rém , m arcam um novo co m e ço , pois N eem ias deveria proteger a obra que realizou. O restante do livro mostra com o fez isso. 7 " V " de V ig ilâ n c ia N eem ias 7 encaixa-se nessa descrição. Antes de as obras se iniciarem , inspirou o povo, garantindo-lhe que Deus faria seu trabalho prosperar (2:182 0). Q uand o os judeus tiveram m edo, orou pedin d o que D e u s os fo rta le ce sse (6 :9 ). Q u an d o o inim igo os am eaçou , N eem ias manteve-se firm e e desm ascarou suas men­ tiras, de m odo que o trabalho foi com pleta­ do em cinqüenta e dois dias, para a glória de Deus. A ssisten tes (v. 2 ). C o m o todo bom líder, N eem ias sabia que não era cap az de fazer s muros foram com pletados, as portas foram restauradas e o inimigo foi en­ vergonhado, mas, de modo algum, o trabalho de N eem ias havia chegado ao fim . D evia co locar em prática a verdade enfatizada por O Paulo em Efésios 6 :1 3 : "Portanto, tomai toda a arm adura de D eus, para que possais [...], depois de terdes vencido tudo, perm anecer in ab aláveis". N eem ias havia p e rm anecid o firm e na construção do muro e na resistência ao inim igo, e era cheg ad a a hora de m an­ ter-se inabalável na consolidação e conser­ vação de suas conquistas. O apóstolo João advertiu: "Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que tem os realizad o com esfo rço , m as para receb erd e s co m p leto galardão" (2 Jo 8). U m a cidade é constituída de muito mais coisas além de seus muros, portas e casas; uma cidade é feita de pessoas. Na prim eira m etade do livro, vim os o povo vivendo em função dos muros, mas daqui por diante, os m uros é que deviam existir em função do povo. Era o m om ento de organizar a com u­ nidade de modo que os cidadãos pudessem desfrutar a qualidade de vida que D eus de­ sejava que tivessem . D e u s tinha grandes coisas reservadas para Jerusalém , pois, um dia, seu Filho andaria pelas ruas daquela ci­ dade, ensinaria em seu tem plo e m orreria do lado de fora de seus muros. Este capítulo relata três passos im portan­ tes que qualquer líder deve tomar a fim de proteger o povo e o trabalho realizado. 1 . E s c o lh e r uma lid e r a n ç a (N e 7 : 1 - 3 ) Napoleão descreveu o líder com o "um mer­ cador de esperança", e, sem dúvida, Neemias seu trabalho sozinho. Um de seus primeiros atos oficiais foi nom ear dois assistentes: seu irmão, Hanani (ver 1:2), e Hananias, que fi­ cou encarregado da cidadela (o "m aioral do castelo "; ver 2 :8 ). A cidadela era um forte situado na área do tem plo, que guardava a parte norte do muro da cidade, região espe­ cialm ente vu ln erável a ataques. H anani e H an an ias trab alhariam em co n ju n to com Refaías (3 :9 ) e Salum (3 :1 2 ), adm inistrado­ res dos bairros da cidade. O que levou N eem ias a ter certeza de que esses hom ens seriam bons líderes? Eles possuíam duas características extraordin á­ rias: eram fiéis a D eus e temiam ao Senhor (7:2). O Dr. Bob Jones, Sr. costum ava dizer: "A m aior das habilidades é a confiabilidade". Se tem erm os ao Senhor de co ração, sere­ mos fiéis na execu ção do trabalho que ele nos cham ou a realizar. Q u an d o os líderes tem em as pessoas em v e z de tem erem a Deus, acabam caindo num a arm adilha (Pv 2 9 :2 5 ), e é ju sta m e n te isso que leva ao fracasso. Anos atrás, o psiquiatra e filósofo alem ão, Dr. Karl Jaspers, disse: " O poder da lideran­ ça parece ter entrado em declínio em todo lugar. Um núm ero cada vez m aior de ho­ m ens que vem os ch egar ao topo p arece estar, apenas, vagando de um lado para o outro, levado pelas co rre n tezas". M eu exchefe no ministério internacional M ocidade para Cristo, Dr. Ted Engstrom, escreveu em seu livro The M aking o f a Chrístian Leader [A C o n stitu iç ã o de um Líd e r C ristã o ] (Zond ervan, 1 9 7 6 ): "V em o s co m o é trág ica a p re se n ça de hom ens fraco s em po siçõ e s im portantes - hom ens pequenos ocupando NEEMIAS 7 651 grandes carg o s" (p. 12). O ensaísta inglês W alter Savage Landor escreveu: "Q u an d o a sombra de hom ens tacanhos torna-se cada vez maior, é sinal de que o Sol está se pondo". Sem dúvida, uma declaração assustadora! e assumirá o controle. Devem os dar ouvidos à adm oestação de Paulo: "Portanto, tomai toda a arm adura de D eus, para que possais [...], depois de terdes vencido tudo, perm a­ necer inabaláveis" (Ef 6 :1 3 ). Com o é triste Nem todos são cham ados para ser um N e e m ia s , m as a lg u n s p o d e m se r co m o H anani, Hananias, Refaías ou Salum e traba­ lhar junto de líderes levantados por D eus, a fim de cum prir devidam ente suas missões. D eus está à procura de fiéis, hom ens e mu­ lheres tementes ao Senhor que terão a cora­ gem e a co n vicção necessárias de servi-lo ver escolas que, outrora, eram fiéis à fé e hoje negam essa fé; igrejas que, outrora, pre­ gavam o evangelho e agora têm em seus púlpitos pastores que pregam "outro evan­ gelho"! Todo ministério cristão está a uma em qualquer circunstância. P o rteiro s (vv. 1, 3 ). D e que adiantam por­ tas novas e fortes se não há quem as guarde e que controle quem entra e quem sai da cidade? D e que adiantam muros se as por­ tas ficam abertas a qu alquer inim igo que queira entrar na cidade? Pelo que sei, os ini­ migos conseguiram penetrar a m uralha da C h in a quatro vezes e, em todas as ocasiões, o fizeram subornando os guardas. Portas e m uros só têm algum valor quando são guar­ dados por pessoas de valor. O s porteiros (v. 1) receberam instruções específicas acerca de quando abrir e fechar as portas (v. 3). A brir as portas logo cedo, pela m anhã, serviria apenas para convidar os inimigos a entrar enquanto a cidade ainda estivesse dorm indo e se encontrasse despre­ venida. Fechar e trancar as portas enquanto não houvesse guardas trabalhando poderia dar a espias inim igos a o p o rtu n id a d e de entrar sem serem notados. G u a rd a s. N eem ias tam bém havia insti­ tuído dois tipos de guardas (v. 3): aqueles que deveriam fazer a ronda sobre os muros e aqueles que deveriam vigiar perto de suas casas. U m a v e z que muita gente trabalhara na parte do muro mais próxim a de sua casa (3 :1 0 , 23 , 28-30), N eem ias desafiou essas p e sso as a g u ard ar o tre c h o que haviam construído. C om guardas nos portões, vigias na torre e "patrulhas" nas diversas regiões da cid ad e, Jerusalém estava protegida de ataques externos. Tud o isso tra z um a m ensag em a nós hoje. Se o povo de Deus não proteger aqui­ lo que realizou para o Senhor, o inimigo virá geração da extinção, e o povo de Deus deve permanecer vigilante. P recisam o s de guardas nas portas, de hom ens e m ulheres fiéis que não permitirão que cristãos falsos entrem e assum am o con­ trole do m inistério (2 C o 11:13-15). Precisa­ mos de vigias nos muros a fim de nos avisar quando o inimigo está se aproxim ando. Pais cristãos devem guardar seu lar para que o inimigo não entre nem lhes tom e os filhos. E quando os servos de D eus estão dorm indo e se sentindo seguros de si que o inimigo infiltra-se e introduz suas falsificaçõ es (M t 1 3 :2 5 ), de modo que devem os perm anecer despertos e alertas. Nos dias de hoje, quando, para a m aio­ ria, "p luralism o " significa "co n co rd ar com todos sobre tudo e não criar caso", os cris­ tãos precisam lem brar que são diferentes e que devem testar todas as coisas pela Pala­ vra de D eus. Existem muitas religiões, mas, ainda assim , "abaixo do céu não existe ne­ nhum outro nom e, dado entre os hom ens, pelo qual im porta que sejam os salvos" (At 4 :1 2 ). Q u alq u er coisa que mude essa m en­ sagem ou que abale nossa m otivação para transmiti-la vem do diabo e deve ser com ba­ tida. Precisam os de guardas às portas e de vigias sobre os muros, do contrário o inim i­ go tom ará o controle. 2 . E sta belec er a c id a d a n ia (Ne 7:4-69) Esta seção é paralela a Esdras 2:1-64. A o com ­ parar as duas listas, pode-se o bservar que alguns dos nom es e núm eros em Neem ias são diferentes daqueles registrados quase um século antes quando os exilad os voltaram da Babilônia. Isso não indica a presença de erros nem de contradições na Bíblia. E fácil, 652 NEEMIAS 7 ao longo de um século, ocorrerem deslizes na grafia de nom es ou na tran scrição de números, e nenhum a dessas diferenças afeta, de algum m odo, qualquer questão de dou­ trina ou de dever. Além disso, os escribas que mantinham os registros públicos sem dúvida os atuali­ zaram assim que a com unidade estabeleceuse em Jerusalém . Esdras 2 apresenta uma relação dos nom es daqueles que partiram da Babilônia com Esdras, mas é possível que mais pessoas tenham se juntado ao grupo depois que a lista de Zorob abel foi com ple­ tada. Esdras 2 :2 , por exem plo, relaciona ape­ nas onze líd eres, en q u an to N e em ias 7 :7 apresenta doze nom es, acrescentando Naamani. O "N eum " que aparece em Neem ias 7 :7 é, provavelm ente, o "Reum " de Esdras 2 :2 . É de se esperar que ocorram variações desse tipo em docum entos antigos. A leitura dessa longa lista de nomes difí­ ceis pode ser entediante para os estudiosos m odernos, mas essas pessoas foram a "pon­ te" construída por D eus entre as derrotas do passado e as esperanças do futuro. Esses ju d e u s foram "elo s v iv o s" que ligaram o passado histórico ao futuro profético e tor­ naram possível a vinda de Jesus Cristo ao mundo. Esdras 2 e Neem ias 7 são, no A nti­ go Testam ento, o equivalente a Hebreus 11 no Novo Testam ento: uma lista de pessoas cuja fé e coragem permitiram que as coisas acontecessem . Nossas cidades m odernas são grandes centros de m iscigenação, mas na Jerusalém daquele tem po, era im portante ser judeu e poder provar sua linhagem. As genealogias eram descrições dessas linhagens, que liga­ vam os ju d eu s não ap en as à h eran ça do passado, mas tam bém a sua esperança para o futuro. O s que não conseguiam provar sua linhagem eram vistos com o cidadãos de se­ gunda categoria, separados de tudo o que D eus havia dado a Israel (Rm 9 :4 , 5). N ee­ mias desejava que a cidade santa fosse ha­ bitada por cidadãos que sabiam que eram judeus e que se orgulhavam disso. D e z grupos diferentes são relacionados nesta passagem , co m eçan d o com os líde­ res que regressaram com Zorobabel (N e 7:7). É possível que esses doze hom ens represen­ tassem as doze tribos de Israel, apesar de d e z dessas tribos terem sido assim ilad as pelos assírios quando o reino do norte foi capturado em 722 a.C . O "N eem ias" men­ cionado nessa lista não é o autor do livro em que ela se encontra, uma vez que esses hom ens haviam vivido quase um século an­ tes. Ao que parece, esses líderes eram os anciãos do povo que haviam ajudado Z oro ­ babel, o governador, a estabelecer a nação. Em seguida, são listadas diversas famílias ou clãs (vv. 8-25) e o núm ero de pessoas de cada família que voltou para sua terra. O s versículos 27 a 38 relacionam as pessoas de acordo com suas vilas. É interessante que o m aior grupo de toda a lista era originário de Senaá (v. 38), uma cidade cuja localização continua sendo um mistério. Senaá deveria ser uma com unidade grande, um a vez que quase quatro mil pessoas vieram de lá. Esse nom e hebraico significa "odiado", e alguns estudiosos acreditam que se refere a uma categoria de cidadãos e não a um lugar. E possível que fossem os membros das "classes mais inferiores" da sociedade ju d aica. Q uem quer que fossem , essas pessoas trabalha­ ram nos m uros (3 :3 ) e ajudaram a restaurar a cidade. Vale a pena o bservar que esses exilados que voltaram m antiveram sua id entificação com suas cidades e vilas de origem . Sabiam de onde tinham vin do e não se en ve rg o ­ nhavam de sua origem ! M uitas pessoas de nossa população m oderna e em constante transform ação não se preocupam com suas raízes nem com qualquer sentim ento de c i­ vism o . Suas raízes podem estar em q u al­ quer parte, mas essas pessoas cham am de lar o lugar onde seu trabalho as obriga a morar. A lém disso, ap esar de todo o seu civism o local, esses ju d eu s co locaram em prim eiro lugar o bem de Jerusalém (Sl 137:16 ). O verdadeiro patriotism o não co n side­ ra conflitante o am or por sua cidad e natal e o am or pela sua nação, pois am bas são dádivas de D eus. Em seguida, o texto apresenta os funcio­ nários do tem plo: sacerdotes (N e 7:39-42), levitas (v. 43), cantores do templo (v. 4 4 ), NEEMIAS 7 p orteiros (v. 4 5 ) e os diversos servos do templo (vv. 4 6 -6 0). N o caso do prim eiro grupo que regressou do cativeiro, Esdras teve de buscar levitas para servir no tem plo res­ taurado (Ed 8:15-20). Será que os levitas es­ tavam tão bem instalados na Babilônia que não quiseram servir em Jerusalém? O s servos do templo haviam sido orga­ n izad os por D avi para aju d ar nas tarefas gerais do templo (N e 7:20), e é possível que fossem p risioneiro s de guerra ou d e scen ­ dentes dos gibeonitãs (Js 9:22-27), que aju­ davam os levitas com muitos dos trabalhos diários mais pesados, com o cortar madeira e tirar água. O s "servo s de Salom ão" (N e 7:57) tam bém eram estrangeiros que traba­ lhavam para o rei. Esses gentios mostraramse dispostos a d eixar um a vid a segura na Babilônia em troca das dificuldades de viver em Jerusalém , fato que poderia indicar que haviam se convertido ao Deus de Israel. En­ tretanto, tam bém é possível que seus senho­ res tenham obrigado esses servos a voltar com eles. O s cantores teriam um papel importante na vida da cidade. H á pelo menos dezoito referências a eles no Livro de N eem ias e oito referências a ações de graças ao Senhor. Não 653 O s animais foram m encionados (vv. 68, 69) em função de sua im portância vital para a econom ia agrícola do povo judeu e para o trabalho de reconstrução de sua nação. A som atória dessa lista é 2 9 .8 1 8 ; porém, o total de N eem ias é 4 2 .3 6 0 : Ao acrescen­ tar-se os 7 .3 3 7 servos e os 245 cantores ao total de 2 9 .8 1 8 , tem-se 3 7 .4 0 0 pessoas, uma diferença de quase 5 mil em relação ao nú­ m ero ap resentad o por N eem ias. Algum as dessas pessoas a mais que não entraram na contagem talvez fossem sacerdotes que não tinham com o com provar sua genealogia (vv. 63-65), bem com o outros que não se encai­ xavam em nenhum a das categorias especí­ ficas. Se soubéssem os todos os fatos sobre os p ro c e sso s de c o m p ila çã o e c ó p ia de Esdras e N eem ias 7, com preenderíam os es­ sas aparentes discrepâncias. O im portante não é contar o povo, mas sim perceber que cada pessoa contava. Ao deixar a Babilônia, fizeram muito mais do que co locar o nom e numa lista. Colocaram a vida no altar e arriscaram tudo para obe­ decer ao Senhor e restaurar sua nação. Fo­ ram "pioneiros da fé" que creram que Deus era cap az de fazer o im possível. Antes de passar para a seção seguinte, houve muitos cânticos durante o exílio, quan­ do a nação não estava em com unhão com D eu s (Sl 1 3 7 ); mas agora p recisavam de m úsicos para os cultos no templo. Um grupo de pessoas, que incluía alguns sace rd o tes, não podia com provar sua g e­ nealogia (N e 7:61-65). Para os sacerdotes, isso significava exclu são do m inistério no te m p lo e d as re n d a s p ro v e n ie n te s dos dízim os e ofertas do povo. Porém , a lei de M oisés deixava claro que som ente aqueles cuja linhagem pertencia claram ente à fam í­ pode ser interessante questionar-se: "Se eu tivesse de provar minha genealogia a fim de entrar na cidad e de D eus, seria ca p az de lia de A rão poderiam ministrar junto ao altar. Por fim, havia um grupo variado com posto de mais de sete mil servos (v. 67 ). U m a vez (N fazê-lo?" O u vo cê está rum ando para o céu ou para o inferno, e som ente aqueles que pertencem à fam ília de Deus podem entrar no céu. V o cê passa a fazer parte da família de Deus ao receber Jesus Cristo com o seu Salvador, e som ente isso garante sua entra­ da no céu (Jo 1 :1 1, 12; 3 :1 6 ; 14:6). 3 . I n c e n t iv a r e a adoração 7 :7 0 - 7 3 ) que o núm ero total da congregação passa dos quarenta e dois mil (v. 66), cerca de um sexto da população correspondia a servos. O tratam ento que esses servos recebiam de seus senhores jud eus devia ser excelente, Juntos, cidadãos e líderes podem constituir um Estado, mas é preciso haver adoração a fim de que esse Estado torne-se uma nação tem ente a Deus. John Stuart Mill escreveu: "A longo prazo, o valor de um Estado é o m esm o que o valor dos indivíduos que o constituem ". Porém , o valor individual de­ pois muitos se dispuseram a acom panhá-los quando saíram do exílio. pende do relacionam ento de cada um com Deus, o que, por sua vez, im plica adoração. 654 NEEMIAS 7 Se a piedade individual entra em declínio, a moralidade nacional tam bém decai. A passagem paralela é Esdras 2 :68-70, em que o texto relata que alguns dos líde­ res ju d e u s c o n trib u íra m g e n e ro sa m e n te para o m inistério no tem plo. Porém , N ee­ mias diz que o governador ("Tirsh ath a") e alguns do povo tam bém fizeram ofertas ao Senhor. N ada mais certo do que os líderes darem o exe m p lo . M il d a rico s (N e 7 :7 0 ) eqüivaliam a ce rca de 10 quilos de ouro, e 2 0 mil daricos (vv. 71, 72) co rrespondiam a 2 0 0 quilos. É um tanto ó bvio que alguns dos líderes ju d eu s tenham partido da Babi­ lônia com o hom ens abastados, carregando consigo m etais preciosos e servos; porém, num período de poucos anos, a eco n om ia entrou em colapso , e a nação viu-se opri­ m ida por uma depressão eco n ô m ica debilitante (Ag 1). No entanto, esse dinheiro todo não teria adiantado coisa alguma se não fosse pelos ministros escolhidos por Deus para o traba­ lho do tem plo: sacerdotes, levitas, cantores e porteiros (N e 7 :7 3 ). M oisés havia separa­ do d eterm inadas cid ad es onde os levitas poderiam m orar (N m 35:1-8; Js 2 1 ), mas, posteriormente, Neem ias teve de m udar al­ guns deles para Jerusalém (N e 1 1 :1, 2). Era o sétimo mês (outubro/novem bro), ép o ca em que Israel deveria com em orar a Festa das Trom betas, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos (Lv 23:23-44). A o ca­ sião era perfeita para N eem ias reunir o povo a fim de honrar a Palavra de D eus, de co n­ fessar os pecados e de consagrar a si mes­ Senhor e deixasse os pecados secretos que entristeciam a D eus. A p esar de N eem ias ser o representante oficial de um rei pagão, fez todo o possível para g lorificar o D eus de Israel. U m a das principais lições que podem os extrair deste longo capítulo é que as pes­ soas são im portantes para Deus. Q u an d o D eus quis dar o passo seguinte em seu pla­ no redentor, cham ou um grupo de judeus para deixar o exílio e vo ltar à própria terra. Ele os encorajou por m eio dos profetas e da liderança de pessoas tem entes a D eus e q u e d e se ja va m ho nrá-lo . O S e n h o r não enviou um a porção de anjos para fazer o trabalho. A ntes, usou pessoas com uns dis­ postas a arriscar seu futuro pelas prom es­ sas de Deus. H o je, D eus continua cham ando pessoas para deixar sua "Babilônia" pessoal e seguilo pela fé. A Igreja está vivendo em tempos de opróbrio (N e 2 :1 7 ), e estamos cercados de "ruínas" que precisam ser reconstruídas. "O ra , destruídos os fundam entos, que po­ derá fazer o justo?" (Sl 11:3). A resposta é clara: os justos podem reconstruir o que foi derrubado e começar outra vez! Se vo cê acre­ dita que uma vitória do inimigo é definitiva, então perdeu a fé nas prom essas de Deus. Há sem pre um recom eço para os que estão dispostos a pagar o preço. Este capítulo tam bém nos lem bra de que Deus mantém registros de seus servos. Ele sabe de onde viem os, a qual fam ília perten­ cem os, quanto contribuím os e quanto fize­ mos por ele. Q uand o estiverm os diante do Senhor, terem os de prestar contas de nossa vida antes de receberm os nossos galardões (Rm 14:7-12), e querem os ser cap azes de apresentar um bom relatório. O utra lição a aprender é que o Senhor é mos e seu trabalho ao Senhor. Aquilo que com eçou com o preocupação (N e 1), levou à construção (caps. 2 - 3) e a conflitos (caps. 4 - 7), e era chegada a hora da consagração (caps. 8 - 12). Q u an d o servim os ao Senhor, devem os sempre fazer nosso melhor, mas sem a aju­ p o d e ro so para dar prosseguim ento a sua obra. O prim eiro grupo de exilados judeus da e a bênção de D eus, nem mesm o nosso m elhor trabalho perm anece. "Se o S e n h o r não ed ificar a casa, em vão trabalham os que a edificam ; se o S e n h o r não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela" (Sl 127:1). N eem ias sabia que havia uma necessidade prem ente de que o povo voltasse para o deixou a Babilônia rumo à própria terra em 538 a.C . e, apesar de inúmeras dificuldades e atrasos, reconstruiu o tem plo e restaurou o culto. O itenta anos depois, Esdras voltou com outro grupo e, quatorze anos depois d isso , N e em ias chego u e re co n stru iu os muros e as portas. No tempo de Zorobabel, NEEMIAS 7 D eus levantou os profetas Ageu e Z acarias para transmitirem a mensagem do Senhor a seu povo. Não im porta quão desanim adora seja a situação, D eus sem pre pode realizar seus propósitos se confiarm os nele e fizer­ mos sua vontade. John W esley estava certo quando disse que D eus sepulta seus obrei­ ros, mas continua com sua obra. N ão deve­ mos desanimar! Por fim, o mais im portante é saber, com certeza, qu e p erten cem o s à família de D eus. 655 Por mais que argum entassem ou que pro­ testassem , os sacerdo tes sem genealogias legítimas não poderiam entrar no santuário do tem plo nem ministrar junto ao altar. Deus não se im pressiona com nosso prim eiro nas­ cim e n to ; seu d esejo é que n asçam o s de novo e que nos tornemos seus filhos. Se você não está certo de sua genealogia espiritual, leia João 3:1-18 e 1 João 5:9-13 e certifiquese de que seu nom e está escrito no céu (Lc 10 :2 0 ). 8 O P o v o e o L iv ro N e e m ia s 8 sido supridas, e era hora de se concentrar nas necessidades espirituais do povo de Jeru­ salém. O s capítulos 8 a 13 de N eem ias rela­ tam esse ministério espiritual: a instrução do povo (cap. 8), a confissão dos pecados (cap. 9), a consagração dos muros (caps. 10 - 12) e a purificação da com unhão (cap. 13). E im p o rta n te o b s e rv a r q u e Esd ra s e N eem ias colocaram a Palavra d e D eu s em prim eiro lugar na vida da cidade. O que o cor­ O escritor francês V icto r Hugo disse há mais de um século: "A Inglaterra tem dois livros, a Bíblia e Shakespeare. A Ingla­ terra criou Shakespeare, mas a Bíblia criou a Inglaterra". O s historiadores confirm am essa idéia ao afirm ar que, de fato, a Inglaterra elisabetana era um país com um livro só: a Bíblia. Q uand o chegaram à A m érica do Norte, os prim eiros peregrinos trouxeram consigo essa m esma reverência à Palavra de Deus. D e acordo com o estadista norte-am erica­ no Daniel W ebster: "A Bíblia veio com eles, e não se pode duvidar de que a leitura livre e universal das Escrituras deve ser atribuída a essa era e que devem os a liberdade civil a esses h om en s". C o m o disse o presidente W o o dro w W ilso n : "A A m érica nasceu para exem p lificar a d evo ção aos elem entos da justiça derivados das revelações das Sagra­ das Escrituras". E co n tro verso d ize r que a B íb lia está "criando" alguma nação hoje em dia, mas uma coisa é certa: as Escrituras ajudaram a "criar" a nação de Israel. O s israelitas são um "povo do Livro" com o nenhum a outra nação já foi, e o Israel antigo é um exem plo a ser seguido pela Igreja de hoje. Q u an d o o povo de D eus deixa de am ar, de ler e de obedecer à Palavra de D eus, perde as bên­ çãos do Senhor. Se querem os ser árvores que dão frutos, precisam os nos deleitar na Palavra de Deus (Sl 1 :2, 3). Isso explica por que Neem ias convocou um "congresso bíblico" e convidou o escriba Esdras a ser o preletor. O s muros estavam prontos e as portas estavam assentadas. As n ecessid ad es m ateriais da cid ad e haviam reu em Jerusalém dali em diante foi resultado da resposta do povo às Escrituras. "A prin­ cipal in cum b ência da igreja e do m inistro cristão é pregar a Palavra de D eus", disse o Dr. D. M artyn Lloyd-Jones. "O s períodos e eras de decad ência na história da Igreja sem­ pre corresponderam às épocas em que a pre­ gação entrara em declínio" (Preaching and Preachers [Pregação e Pregadores], pp. 19, 24). O Espírito de Deus usa a Palavra de Deus para reavivar o co ração do povo de Deus. A fim de que o Senhor trabalhe em seu povo e por interm édio dele, é preciso que responda de modo favorável à sua Palavra. Este capítulo descreve três respostas básicas: com preender a Palavra (8:1-8); regozijar-se na Palavra (vv. 9-12) e obedecer à Palavra (vv. 13-18). A pessoa em sua totalidade — mente (com preensão), coração (regozijo) e vo n ta d e (o b e d iê n cia ) — deve ser cativada pela verdade de Deus. 1. D de D evem o s co m preen d er a eus P a la v ra (Ne 8:1-8) A Bíblia não é um "livro m ágico" que muda pessoas ou circunstâncias ao ser lida ou re­ citada por alguém . A ntes de entrar no cora­ ção e de liberar seu p o d e r transformador, a Palavra d e D e u s d e v e se r co m p re e n d id a . O b serve que o verbo "entender" é m encio­ nado quatro vezes nesse capítulo (vv. 2, 3, 7, 8, 12). Somente as pessoas com idade su­ ficiente para com preender as Escrituras tive­ ram perm issão de participar da assem bléia (v. 3). A ênfase da "Parábola do Sem eador" (M t 13:1-9, 18-23) é sobre a com preensão da Palavra de D eus. Jesus com parou essa com preensão e aceitação da Palavra ao plan­ tio de um a sem ente no solo, em que ela cria raízes e dá frutos. NEEMIAS 8 Esdras era o hom em ideal para liderar essa escola bíblica ao ar livre. Era um sacer­ dote e escriba que "tinha disposto o cora­ ção para buscar a Lei do S e n h o r , e para a cum prir, e para ensinar em Israel os seus es­ tatutos e os seus ju ízo s" (Ed 7 :1 0 ). H avia che­ gado a Jerusalém ce rca de qu ato rze anos antes de Neem ias e já havia procurado co n­ duzir o povo de volta aos cam inhos do Se­ nhor (Ed 7 - 10). É interessante que os líderes tenham es­ colhido a Porta das Águas com o o local para a assem bléia. Na Bíblia, a água usada para lavar representa Palavra de Deus (Jo 1 5 :3 ; Ef 5 :2 6 ), enquanto a água potável representa o Espírito de D eus (Jo 7 :3 7 -3 9 ). Q u an d o aplicam os a água da Palavra a nossa vida, o Espírito pode trabalhar em nós e nos auxiliar conform e precisam os. Q uand o recebem os a Palavra e permitimos que o Espírito de Deus nos ensine, nossa alm a é revigorada. O b s e rv e os d iv e rso s m in isté rio s que 657 ajudando a propagar sua voz para o grande público presente. O versículo 4 cita o nome de treze hom ens que ficaram junto de Esdras e que talvez fossem líderes representando as tribos. M ais treze hom ens são citados no versículo 7, junto aos levitas, possivelm ente sacerdotes dedicados ao ensino. E le a b riu o L iv ro (vv. 5, 6 ). Q u a n d o Esdras ergueu o rolo e ò desenrolou na pas­ sagem que iria ler, o povo presente na praça levantou-se em sinal de reverência à Palavra de Deus. Sabiam que não estavam prestes a ouvir apenas um homem expressando suas idéias, mas sim a Palavra do próprio Deus (1 Ts 2 :1 3 ). O povo perm aneceu em pé enquan­ to a Lei era lida e explicada (N e 8 :7 ). Esdras com eçou a leitura e respectivas explicações logo cedo e continuou até o meio-dia (v. 3), o que significa que a congregação perm a­ neceu em pé e escutando durante cin co ou seis horas, um procedim ento que se repetiu ao longo de um a sem ana inteira (v. 18). Sem Esdras exerceu junto ao povo durante esse encontro especial. f/e levo u o L iv ro (vv. 1-4). Era o primei­ ro dia do sétimo mês, o equivalente judaico ao A no Novo. O sétimo mês era um a época especial no calend ário dos ju d eu s, pois o dúvida, de tempos em tem pos, Esdras fazia pausas para o povo descansar, mas todos estavam lá para ouvir D eus falar e estavam dispostos a perm anecer em pé e ouvir. Depois de abrir a Palavra, "Esdras ben­ disse ao S e n h o r , o grande D eus" (v. 6 ). Em povo co m em orava a Festa das Trom betas no prim eiro dia, o D ia da Expiação no dé­ cim o dia e a Festa dos Tabernáculos do déci­ mo q u into ao vig é sim o p rim eiro dia (Lv 23:23-44). Era a ocasião perfeita para a na­ ção colocar tudo em ordem com o Senhor e com eçar outra vez. O livro que Esdras levou foi "o Livro da Lei". É provável que consistisse no rolo com ­ pleto da Tora - os cinco livros de M oisés, alice rce da religião e das leis civis dos ju ­ deus. Dificilm ente, Esdras leu e explicou os cin co livros de M oisés nesse breve período. Talvez tenha se co n ce n trad o em e xp lica r Deuteronôm io e tenha feito referência aos outros livros sem pre que necessário. Esdras ficou em pé em uma plataforma ("púlp ito") acim a do povo para que todos m uitas igrejas, profere-se um a bênção d e ­ pois da leitura das Escrituras, mas, por certo, pudessem vê-lo e ouvi-lo melhor. Voltou-se para a praça onde o povo se encontrava, e é não há nada de errado em louvar ao Senhor por sua Palavra antes de lê-la e ouvi-la. O povo concordou com suas palavras dizen ­ do: "A m ém , A m ém " (ver 5 :1 3 ), que signi­ fic a "A ssim s e ja !". Foi um a co n g reg a ção unida (8:1) que reverenciou as Escrituras e que se mostrou disposta a dedicar metade do dia a ouvir e a aprender dessa Palavra. Não adoraram o Livro, mas sim o Senhor que lhes falou através do Livro. Nossas igrejas de hoje têm um a necessi­ dade premente de mostrar mais respeito pela Palavra de D eus em seus cultos. Devem os nos ap licar à leitura pública das Escrituras (ver 1 Tm 4 :1 3 ), e, no entanto, em muitas igrejas, a única parte das Escrituras lida em público é o texto do serm ão . A s "igrejas in d e p e n d e n te s" critica m as "ig reja s litúr- possível que o muro e a porta atrás dele te­ nham criado o efeito de uma caixa acústica, gicas" por serem tão presas às tradições, mas, pelo menos, as cham adas "igrejas litúrgicas" 658 NEEMIAS 8 dedicam-se à leitura pública sistem ática da Palavra de Deus. (O termo "liturgia" signifi­ ca, sim plesm ente, "um a form a de adoração pública". Toda igreja possui uma liturgia, quer seja boa quer não). Ficam o s im aginando com o o Espírito Santo se sente quando vê Bíblias sendo colocadas no chão da igreja, usadas com o porta-papel ou mesm o esque­ cidas na igreja, onde são em pilhadas e, por fim , doadas a algum trabalho m issionário. Defendem os a Bíblia com o Palavra de Deus, mas nem sem pre a tratamos com o tal. A lém disso , tam b ém estam o s sem pre apressados, esperando que o culto termine logo. Em algumas partes do m undo, espe­ cialm ente na Europa O riental antes do fim do dom ínio com unista, os cristãos passavam horas em pé em igrejas lotadas para ouvir a Bíblia sendo ensinada. Nas igrejas o ciden­ tais, de um modo geral, quanto mais curto o serm ão, melhor. E le le u e e x p lic o u o Livro (vv. 7, 8). As pessoas com uns não possuíam cópias das Escrituras, de m odo que, para elas, era uma grande em oção ouvir a Palavra de D eus. O termo "claram ente" no versículo 8 significa que a Lei foi explicada ao povo num a lin­ guagem que podiam entender. A Palavra foi traduzida e explicada de tal maneira que o povo foi ca p az de aplicá-la à própria vida. A língua hebraica havia sofrido algumas al­ tera çõ es desd e o tem po em que M o isés havia escrito o Pentateuco, e a linguagem coloquial do povo apresentava algumas di­ ferenças em relação ao hebraico antigo. Pre­ cisam os de novas traduções da Bíblia não porque as Escrituras m udam , mas porque nossa linguagem muda. Entre o tempo em que M oisés havia escrito a Lei e a ocasião em que Esdras fez a leitura da Lei, haviam se passado mil anos! O s levitas ajudaram Esdras a ensinar a Lei (v. 7), pois esse era um dos ministérios que haviam recebido de Deus (D t 3 3 :1 0 ; Ml 2 :7 ). É bem provável que, durante os inter­ valos, os levitas se misturassem ao povo pa­ ra responder a perguntas e explicar com o poderiam aplicar a Lei à vida diária. Vem os aqui, em m inha opinião, um equilíbrio entre a proclam ação pública da Palavra para uma grande congregação e a aplicação pessoal em grupos m e n o res. A s duas co isas são im portantes. 2. D e v e m o s (Ne 8:9-12) n o s r e g o z ij a r n a P a la v ra Enquanto Esdras lia e explicava a Palavra, a prim eira reação do povo foi de co nvicção de sua culpa e tristeza profunda. Prantea­ ram por seus pecados, pois "pela lei vem o pleno conhecim ento do pecado" (Rm 3:2 0 ). A lei não pode nos salvar; pode apenas nos convencer de que precisam os ser salvos e ap ontar para Jesus C risto , o S alvado r (G l 3 :2 4 ). O s judeus haviam acabado de obser­ var o D ia da Exp ia ção , e o Senho r havia tratado de seus pecados (Lv 16), de modo que deveriam estar se regozijando com o perdão de D eus. No calendário hebraico, a Festa dos Tabernáculos (Sucote) vem depois do Dia da Expiação, oferecendo ao povo de Deus um a sem ana inteira de com em oração alegre (Lv 23:26-44). A seqüência é im por­ tante: prim eiro vem a co n vicção do peca­ do, depois, a purificação e, em seguida, a cele b ração . A Palavra de D eus traz c o n v ic ç ã o da cu lp a e co n d u z ao arrep e n d im e n to , mas tam bém nos dá alegria, pois a m esm a Pala­ vra que fere tam bém cura. "A chadas as tuas palavras, logo as co m i; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o co ração , pois pelo teu nom e sou ch am ad o " (Jr 1 5 :1 6 ). "O s p receito s do S e n h o r são retos e ale­ gram o co ração " (S l 1 9 :8 ). " O s teus teste­ m u n h o s, receb i-o s por legado p e rp étu o , porque me constituem o p razer do co ra­ ção" (S l 1 1 9 : 1 1 1 ) . Com a ajuda dos levitas, N eem ias con­ venceu o povo a parar de prantear e a co m e­ çar a celebrar. £ tão errado chorar quando Deus nos perdoou quanto é errado se re­ gozijar quando o pecado nos derrotou. O pecador não tem motivo algum para se re­ gozijar e o filho perdoado de Deus não tem motivo algum para prantear (M t 9:9-1 7). Sem dúvida, com o filhos de D eus, carregam os fardos e sabemos o que é chorar (Ne 2:1, 2), mas tam bém experim entam os o poder que transforma a tristeza em alegria. NEEMIAS 8 O segredo da alegria cristã é crer no que Deus diz em sua Palavra e agir de acordo com essas verdades. A fé que não se baseia na Palavra não é fé, mas apenas presunção ou superstição. A alegria que não vem da fé não é alegria, mas apenas um "sentim ento bom " que logo desaparece. A fé baseada na Palavra produz o tipo de alegria que per­ m anece m esm o em m eio às tem pestades da vida. Não basta ler a Palavra nem receber a Palavra enquanto outros a explicam ; devemos também nos regozijar na Palavra. "Alegro-me nas tuas promessas, com o quem acha gran­ des despojos" (Sl 119:162). Nos templos bí­ blicos, as pessoas às vezes escondiam seus bens mais valiosos em jarros e os enterravam (M t 1 3 :4 4 ; Jr 4 1 :8 ). Se um agricultor estives­ se arando seu cam po e, de repente, desco­ brisse um jarro cheio de ouro, certam ente se alegraria. H á grandes tesouros enterrados na Palavra de Deus, e devem os "cavar" dili­ gentem ente em busca dessas riq uezas ao ler, m editar e orar. Ao encontrar esses te­ souros, devem os nos alegrar e dar graças. Se lerm o s e estudarm o s a Palavra de Deus apenas por dever, é possível que seus tesouros jam ais nos sejam revelados. E o cris­ tão que se regozija na Palavra, que tem pra­ z e r em lê-la e em estudá-la a cada dia que encontra os tesouros escondidos de Deus. "Bem -aventurado o hom em que tem e ao S e n h o r e se co m p raz nos seus m andam en­ tos" (Sl 1 1 2 :1 ). " O seu prazer está na lei do S e n h o r , e na sua lei m edita de dia e de noi­ te" (Sl 1:2). 659 nos re go zijam o s nele, nosso se rviço será p razero so e não penoso. O co m entarista bíblico M atthew H en ry escreveu: "A alegria sagrada serve de óleo para as rodas de nos­ sa obediência". Para o cristão sem alegria, a vontade de Deus é um tormento, mas para o cristão que se alegra no Senhor, a vonta­ de de Deus é alim ento (Jo 4 :3 4 ). O s judeus ainda tinham o que fazer em sua cidade e precisavam da alegria do Senhor para lhes dar forças para trabalhar. Nas palavras do com positor Franz Josef Haydn: "Q u and o penso em meu D eus, meu coração se enche de tal modo que as notas dançam e saltam de minha pena e, uma vez que Deus me deu um coração alegre, não serei censurado por servi-lo com um espíri­ to igualm ente alegre". O D ia da E xp ia ção era ce le b rad o no décim o dia do mês, e a Festa dos Tabernáculos estendia-se do décim o quinto ao vi­ gésim o prim eiro dia. Isso significa que os líderes tiveram apenas alguns dias para es­ palhar pelos vilarejos vizinhos a notícia de que todos os judeus pretendiam com em orar a Festa dos Tabernáculos. Não basta ouvir a Palavra de Deus, devem os lhe obedecer (Tg 1:22-25). O povo não apenas se alegrou em ouvir a Palavra, mas tam bém "h o uve mui grande alegria" em lhe o bedecer (N e 8 :1 7 ; grifos meus). Durante os sete dias de festa, os judeus viviam em abrigos feitos de ramos, choupanas que costum avam co nstruir no terraço de suas casas. Era um tem po d e dicado a olhar para trás e a lem brar os quarenta anos A Palavra de D eus lhe dá prazer? V o cê anseia por ela mais do que por alim ento (Sl 1 1 9 :1 0 3 ; Lc 10:38-42), sono (SI 1 1 9 :5 5 , 62, 147-148) ou riquezas (vv. 14, 72, 137, 162)? Se nos deleitarm os com a Palavra, Deus se deleitará conosco e com partilhará suas me­ lhores bênçãos. que passaram vagando pelo deserto, quan­ do o povo não tinha lar e vivia em abrigos tem porários. Porém , tam bém era um tempo 3. D Obrigação e apreciação, sem d úvid a, são m otivações fortes para buscar o Senhor, mas Tabernáculos era, ainda, um a ocasião para olhar para frente, para o reino glorioso que D eus havia prom etido ao seu povo, Israel (Z c 14:4, 9, 16-20). Era uma sem ana festiva a celebração é ainda mais forte. Q u and o o bedecem os e servim os ao Senhor porque de louvores jubilosos e de ações de graças, voltada para a bondade do Senhor. evem o s o bed ec er à P a la v ra (Ne 8 : 1 3 - 1 8 ) dedicado a olhar ao redor e ver as bênçãos da colheita recebida das mãos de Deus. O Senhor lhes havia dado uma boa terra e, ao desfrutar suas dádivas, jam ais deveriam se e sq u e ce r do D o ad o r (D t 8). A Festa dos 660 NEEMIAS 8 Porém, a celebração dessa festa não era apenas um divertim ento; também visava ao enriquecim ento e ao encorajam ento. "Por­ que a alegria do S e n h o r é a vossa força" (Ne todos os judeus haviam construído abrigos e vivido neles durante a sem ana da festa. Haviam apenas reconhecido a data de modo "sim bólico". M ais ainda, a atitude regozijante 8 :1 0 ). A alegria do m undo é tem porária e artificiai, e, quando ela passa, as pessoas sentem-se ainda mais fracas e vazias. M as a alegria que vem do Senhor é real e dura­ doura e enriquece nossa vida. Deus não nos dá alegria em lugar de tristezas, nem alegria do povo ia além de qualquer coisa que já haviam visto. Foi, sem dúvida, uma sem ana de co m e m o ração alegre, que glorificou o nome do Senhor. Esdras continuou o "congresso bíblico" durante toda a sem ana da festa, lendo e ex­ plicando, dia após dia, a Palavra de Deus. Essa co m b in ação de desfrutar um a co m u ­ nhão alegre, festejar e ouvir a Palavra deve ter fortalecido o povo im ensam ente. A se­ mana se encerrou com uma assem bléia so­ lene (N m 2 9 :3 5 ), depois da qual o povo apesar das tristezas, mas sim, alegria em meio às tristezas. Não se trata de um a substitui­ ção, mas sim de um a transformação. Jesus ilustrou essa verdade com o nasci­ mento de um bebê (Jo 16:20-22). O mesmo bebê que causa dor à mãe também lhe dá alegria! Sua dor não é substituída pela ale­ gria, mas transformada em alegria. As circuns­ tâncias difíceis da vida estão "grávidas" de alegria, e, pela fé, devem os dar tempo para que essa alegria nasça. A Festa dos Tabernáculos era uma o ca­ retornou a suas atividades normais. A s bênçãos dessa co m em o ração foram duradouras? Sim , duraram pelo m enos al­ gum tem po. M as, depois, o povo se tornou negligente outra v e z, e os líderes tiveram de conduzi-los de volta à Palavra de D eus. sião em que se enviava alimentos e presentes para outros, especialm ente para os necessi­ tados. O s judeus haviam encontrado alegria ao ouvir a Palavra de D eus, mas se alegra­ ram tam bém em compartilhar as bênçãos de Deus. A mente cresce com aquilo que recebe, mas o coração cresce com aquilo que dá, e é im portante m anter um a vida equilibrada. Neem ias 8 :1 7 não diz que a nação ha­ via negligenciado a Festa dos Tabernáculos desde o tempo de Josué, pois não foi o caso. Essa festa foi ce le b rad a no tem po do rei Salom ão (2 C r 8 :1 3 ) e também depois que os cativos da Babilônia voltaram para a sua terra (Ed 3:1-4). Não era o fato de a celebra­ ção estar ocorrendo que possuía caráter tão especial, mas sim o m odo co m o estavam Porém , o fato de o povo ter errado não deve s e rv ir de arg u m en to co n tra o ca siõ e s es­ peciais de estudos bíblicos ou de cele b ra­ ção. Alguém perguntou ao evangelista Billy Sunday se os reavivam entos eram duradou­ celebrando, pois, ao que parece, todos co­ m emoraram com grande entusiasm o. Um a vez que cada fam ília construía um abrigo, alguns tinham de se m udar de suas casas para as ruas e praças da cidade. Tem-se a im pressão de que, em anos anteriores, nem Será que D eus pode co m eçar conosco? "Se o meu povo, que se cham a pelo meu nom e, se humilhar, e orar, e me buscar, e se co nverter dos seus maus cam inhos, então, ros, ao que ele respondeu: "N ão . M as até aí, um banho tam bém não dura muito tem ­ po; ainda assim , é bom tom ar um de vez em quando!" Na história da Igreja, vem os que, de tem­ pos em tem pos, o Espírito de Deus tocou no co ração de pessoas para que orassem , buscassem as Escrituras e confessassem seus pecados e, partindo desse exercício espiri­ tual sincero, lhe aprouve dar um novo sopro de vida a seu povo. Foi o que aconteceu no tempo de Neem ias, algo que pode voltar a acon tecer hoje. eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus peca­ dos e sararei a sua terra" (2 C r 7:14). 9 M a r a v ilh o s a G r a ç a ! N e e m ia s 9 O Deus Jeová é o tem a central deste ca­ pítulo: quem ele é, o que ele faz por seu povo e o que o seu povo deve fazer por ele. Essa o ração faz um a retrospectiva da história de Israel e revela tanto a majestade de Deus quando a depravação dos seres hu­ manos. Israel respondeu à "grande bonda­ de" de D eus (Nm 9:1 7, 25) e à sua "grande m isericó rd ia" (v. 31) com "grandes blasfê­ m ias" (vv. 18, 26) que resultaram numa "gran­ de angústia" (v. 37). É interessante que três das principais "ora­ ções nacionais" de Israel foram registradas em Esdras 9, Neem ias 9 e Daniel 9. Por trás dessas orações, encontra-se a prom essa de 2 C rô nicas 7 :1 4 , bem com o o exem plo de M oisés ao interceder pelo povo (Êx 32 - 33). C om o disse o Dr. Arthur T. Pierson: "N os­ sa história é a história de D eus", uma verda­ de que este capítulo com prova. " O fato de os seres hum anos não aprenderem m uita coisa com as lições da história é a lição mais im portante que a história tem a ensinar", foi o que escreveu A ldous H uxley; e nas pala­ vras do filósofo G eorge Santayana: "Aque­ les que não se lembram do passado estão condenado s a revivê-lo". A Igreja de hoje tem muito que aprender com as experiên­ cias de Israel, mas só se estiverm os dispostos a nos hum ilhar e a receber a verdade. A o ler esta oração, observe com o suas palavras revelam a grandeza de D eus (Ne 9:1-6), a bondade de D eus (vv. 7-30) e a gra­ ça de D eus (vv. 31-38). 1. A GRANDEZA DE D E U S ( N e 9:1-6) A Festa dos Tabernáculos havia term inado, mas o povo ainda ficou na cidade para ouvir mais da Palavra de Deus. O s banquetes trans­ formaram-se em jejum , à medida que a Pa­ lavra os convenceu da culpa e que o povo co m e ç o u a co n fe ssa r seus p e ca d o s. Na m aioria das igrejas de hoje, um culto de seis horas - com três horas de pregação e três horas de oração - provavelm ente resultaria em algumas cartas de transferência, mas para o povo judeu daquela ép oca, foi o com eço de um a no va v id a p ara e les e p ara sua cidad e. Q u an d o eu era jovem , recém -convertido, as igrejas costum avam prom over cam ­ p anh as eva n g elísticas que duravam duas sem anas, e não era incom um ter uma série de eventos que reuniam a cidade toda e que se estendia por um mês ou seis sem anas durante o verão . A os poucos, houve uma m udança, à medida que as "reuniões espe­ ciais" foram encurtadas para uma sem ana, depois para um final-de-semana e, agora, são praticam ente obsoletas. A o longo de meu ministério itinerante, em mais de uma o ca­ sião, alguém me lem brou de olhar para o relógio para que o culto pudesse term inar no horário. Vivem os numa era de resumos e de fast-food, e essa m entalidade invadiu nossas igrejas. C an tam o s hinos piedosos, mas não estam os dispostos a pagar o preço de buscar a santidade. A grandeza de Deus é vista no fato de que e/e aceita nossa adoração (vv. 1-5). A verdadeira adoração é constituída de vários elem entos: ouvir as Escrituras, louvar a Deus, orar, confessar os pecados e se separar da­ quilo que desagrada ao Senhor. C ad a um de sse s e le m e n to s en co ntra-se registrad o neste parágrafo. A adoração envolve a Palavra de Deus, pois a Palavra de D eu s revela o D eu s da Palavra. Em sua obra The K now ledge o f the H o ly [O C o n h ecim en to do Santo], A . W . To ze r escreveu: "A essência da idolatria é alim entar pensam entos sobre Deus que não são dignos dele" (p. 11). Q uanto mais co nh e­ cerm os as Escrituras e interagirmos com elas, maior será nosso conhecim ento de D eus e mais sem elhantes a ele nos tornarem os. Is­ rael foi escolhido por D eus para receber sua lei (v. 13) e para co n h e c e r sua vo n tad e. 662 NEEMIAS 9 Q u alq u er culto que deixe as Escrituras de m andam entos que declaram a singularida­ fora não recebe a bênção do Senhor. D eus fala co no sco por meio das Escri­ turas, e nós falam os com ele por meio da oração e do louvor. "Levantai-vos, bendizei ao S e n h o r , vosso D eus" (v. 5) - essa é uma ordem à qual todo cristão verdadeiro deseja obedecer. O nom e de D eus é exaltado aci­ ma de todos os nomes (Fp 2:9-11), e deve­ mos honrá-lo com nosso louvor. D eve ser um nom e que "ultrapassa todo bendizer e de de D eus e a perversidade da idolatria. Até hoje, os judeus devotos ainda recitam o "Shem a" (D t 6:4-6), co m o sua declaração de fé no único Deus verdadeiro. U m dos m inistérios de Israel ao mundo era dar testemunho de Jeová, o verdadeiro Deus vivo. Seus vizinhos pagãos se surpre­ enderam ao ver que o povo de Israel não tinha ídolos (Sl 115). Q uan d o os israelitas entregaram-se à idolatria - o que aconteceu em várias ocasiões - , Deus os disciplinou. louvor" (N e 9:5). O povo tam bém dedicou algum tempo à confissão de seus pecados (vv. 2, 3) e bus­ cou o perdão do Senhor. A com em oração anual do D ia da Expiação havia passado, mas os adoradores sabiam que precisavam ser co n stan te m e n te p u rifica d o s e reno vad o s pelo Senhor. Não devem os nos tornar tão in tro spectivo s a ponto de co m e çarm o s a deixar o Senhor de lado, mas devem os ser honestos em nosso relacionam ento com ele (1 Jo 1 :5-10). Sem pre que vir algum pecado ou erro em sua vida, volte-se im ediatam en­ te, pela fé, para Cristo, busque seu perdão e, depois disso, continue olhando para ele. Q uanto mais olhar para si m esm o, mais de­ sanim ado ficará. Concentre-se na perfeição de Cristo e não em suas im perfeições. Por fim, o povo se separou do mundo ao se aproxim ar do Senhor (N e 9 :2 ; Ed 6 :2 1 ). A separação sem devoção ao Senhor trans­ forma-se em isolam ento, mas a devoção sem separação é hipocrisia (ver 2 C o 6 :1 4 - 7:1). A nação de Israel foi escolhida por Deus para ser um povo especial, separado das nações pagãs ao seu redor. "Ser-me-eis santos, por­ que eu, o S e n h o r , sou santo e separei-vos dos povos, para serdes m eus" (Lv 2 0 :2 6 ). O apóstolo Pedro aplicou essas palavras aos cristãos na igreja de nossos dias (1 Pe 1:15; 2 :9 , 10). A grandeza de Deus também pode ser vista no fato de que somente ele é Deus (Ne 9:6 a). A nação de Israel estava cercad a pela idolatria e pelo estilo de vida degradante as­ sociado aos cultos pagãos. Em sua leitura e explicação da lei, Esdras sem dúvida havia enfatizado os D e z M andam entos (Êx 20:117; D t 5:6-21), inclusive os dois prim eiros Aos olhos de D eus, a idolatria do povo era sem elhante ao adultério (Jr 3:1-5), pois ele havia se "casad o " com o povo no m onte Sinai, quando lhes deu sua aliança. O u tra prova da grandeza de Deus é o fato de que e/e criou o universo (N e 9 :6 b ). A d e cla ra çã o : "N o p rin cíp io , criou D eus os céus e a terra" (G n 1:1) aplica-se som ente a Jeo vá, o D eu s de A b raão , Isaque e Jacó . Sem pre que D eus desejava en co rajar seu povo, apontava para a criação ao redor de­ les e os lem brava de que havia feito todas as coisas (Is 4 0 ). U sou a m esm a abordagem para lembrá-los da insensatez da idolatria (Is 41 ). Saber que nosso Pai no céu é o Criador de todas as coisas é uma grande fonte de força e de paz. Idolatrar significa adorar e servir a criatura e a criação em vez do C ria­ dor (Rm 1 :2 5 ). "É assim que o m undo se esquece de ti, seu C riador", escreveu Agos­ tinho, "e se apaixona por aquilo que criaste em vez de apaixonar-se por ti". A grandeza de D eus é vista em seu cui­ dado providencial com sua criação (N e 9 :6 c ). Ele não se ateve sim plesm ente a criar todas as coisas e a entregá-las à própria sorte. Deus está envolvido naquilo que diz respeito a sua criaçã o : ele vê quando um pardal cai em terra (M t 1 0 :2 9 ) e ouve os filhos dos corvos quando pedem alim ento (Sl 147:9). Sabe o número e o nome de todas as estre­ las (v. 4) e sabe até o núm ero de cabelos em nossa cabeça (Lc 12:7). "Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente" (Sl 14 5 :1 6 ). Por fim , a grandeza de D eus é vista no fato de que o exército dos céus o adora (Ne 9:6d ). Não somos capazes de imitar os feitos NEEMIAS 9 poderosos dos anjos, mas podem os imitar sua devoção ao Senhor, adorando-o diante de seu trono. E temos mais motivos para louvá-lo do que eles! Fomos salvos pela gra­ ça de Deus e, um dia, serem os com o o Se­ nhor Jesus Cristo. Não som os apenas servos, mas tam bém filhos de Deus (1 Jo 3:1-3) e habitarem os com ele para sempre! Em nossa adoração, é prudente com eçar pela grandeza de Deus. Se nos concentrar­ mos dem ais naquilo que ele nos dá ou no que desejam os que ele faça, nosso coração pode tornar-se egoísta. A adoração sincera honra a D eus apesar das circunstâncias, sen­ tim entos ou desejos. 2 . A b o n d a d e de D eu s (N e 9 :7 - 3 0 ) Essa o ração recita a história de Israel, reve­ lando a bondade de Deus para com seu povo e com o este, repetidam ente, não deu o devido valor a suas dádivas nem obede­ ceu à sua vontade. O verbo "dar" aparece, de um a fo rm a ou de o u tra, pelo m enos dezesseis vezes neste capítulo, pois D eus é, de fato, o "d o ad o r", que se co m p raz em suprir as necessidades de seu povo (1 Tm 6 :1 7 ). D eus deu a Israel uma terra (N e 9:8 , 15, 35), uma lei (v. 13), o m inistério do Es­ pírito (v. 2 0 ), alimento e água (vv. 15, 20), libertadores (v. 27) e vitória sobre os inimi­ gos (vv. 22, 24 ). O que mais podiam querer? Sécu lo s antes, M o isés havia advertido o povo a que não se esq uecesse de D eus e de sua mão bondosa de bênção ou de sua mão am orosa de disciplina (D t 8). Infe­ lizm ente, a nação não ag radeceu a D eus em tem pos de b ên ção , mas, em tem pos de so frim ento , bu sco u m ais que d e p re ssa o soco rro do Senhor (ver os Sl 105 e 106). Não nos apressem os em julgá-los, pois al­ guns dentre o povo de D e u s, nos dias de hoje, tratam o Senhor da m esm a form a. Ao longo de meu ministério pastoral, vi pessoas que dem onstravam pouco interes­ se em D eus ou na igreja até que um ente querido foi parar no hospital ou que alguém da fam ília faleceu. Então, esperavam que o pastor e a igreja toda fizessem de tudo para ajudá-las! Porém , assim que a crise passava, essas pessoas voltavam a sua antiga vid a, 663 negligenciando as coisas do Senhor e viven­ do em função das coisas do mundo. Trata-se de um padrão de com portam en­ to que pode ser visto em todos os estágios da história de Israel. A n a çã o é form a da (vv. 7-78). Q uando Deus escolheu Abrão e se revelou a ele, foi um ato da mais pura graça, pois A brão era um idólatra que vivia numa cidade pagã (Js 2 4 :2 , 3). C om o tem po, Deus mudou o nome do patriarca de Abrão ("pai exaltado") para A b raão ("p ai de m u ito s"), pois prom eteu transformá-lo numa grande nação (G n 12:13; 17:1-8). A pesar dos lapsos ocasionais de fé, durante um século A braão creu no Se­ nhor e cam inhou de acordo com sua vonta­ de. Sua fé obediente se manifestou de forma esp e cia lm e n te clara qu and o co lo c o u seu filho, Isaque, no altar (G n 2 2 ; H b 11:1 7-19). A aliança de Deus (G n 12:1-3) serviu de base para tudo o que Deus fez com Abraão e seus descendentes e em favor deles. O propósito de Deus era que todo o mundo fosse abençoado por interm édio de Israel, o que se cum priu quando ele enviou seu Fi­ lho, Jesus Cristo (G l 3 :8 ). Deus deu a terra a Abraão e a seus descendentes, mesm o que durante sua vida Abraão não tenha possuí­ do, de fato, parte algum a dessa terra, senão por uma caverna para sepultar seus mortos (G n 23). Na terra do Egito, a nação multiplicouse grandem ente, viu o poder de Deus sobre os deuses pagãos e foi liberta da escravidão pela mão poderosa de D eus (Êx 1-1 5). D eus abriu o mar para que Israel o atravessasse e, em seguida, o fechou para destruir o exérci­ to egípcio. Foi um livram ento com pleto, e Israel não devia mais ter qualquer relação com o Egito. D ia e noite, D eus conduziu seu povo, dando-lhes alim ento e água. Tam bém lhes co n ced eu sua lei santa, de m odo que pu­ dessem con h ecer a vontade de Deus em sua vida civil, pessoal e religiosa. O sábado foi dado com o um sinal especial entre Deus e seu povo (Êx 3 1 :1 3 -1 7 ), mas não há qual­ quer evidência nas Escrituras de que a lei do sábado tenha sido dada a algum a das nações gentias. 664 NEEMIAS 9 Em N e em ias 9 :1 6 -1 8 , N e em ias relata com o a nação reciprocou tudo o que Deus havia fe ito p o r eles. R ecu saram curvar-se diante de sua autoridade ("endureceram a sua ce rv iz "), a ouvir sua Palavra ("não de­ ram ouvidos") e a obedecer à sua vontade. Em Cades-Barnéia, tentaram assum ir o con­ trole e nom ear um novo líder para levá-los de volta ao Egito (v. 1 7; Nm 14:1-5). Enquan­ to M oisés estava no monte com D eus, os israelitas co n feccio n aram e adoraram um ídolo (N e 9 :1 8 ; Êx 32 ). M oisés intercedeu pelo povo, e Deus os perdoou. C o m o essas pesso as puderam dar as costas para D eus depois de tudo o que o Senhor havia feito por elas? A verdade é que não o amavam. Sua obediência era apenas um a atitude externa, que não vinha do co­ ração. Em seu co ração , ainda estavam no Egito, e era para lá que desejavam voltar. Não tinham um a fé viva em D e u s, mas, ainda assim, queriam receber sua ajuda e desfru­ tar suas dádivas. Para um "raio-x" da história espiritual de Israel, leia o Salm o 78. A n a çã o é c o n d u z id a (vv. 19-22). D u ­ rante os quarenta anos em que Israel foi dis­ ciplinado no deserto, a geração mais antiga m orreu e nasceu uma nova geração; mas, em m omento algum, Deus abandonou seu povo. Ele os co n du ziu por m eio da co luna de nuvem e de fogo, ensinou-lhes a Pala­ vra, supriu suas necessidades práticas e lhes deu vitória sobre os inim igos. D eus cum pre suas p ro m e ssas e p ro p ó sito s. Se o b e d e ­ cerm os ao Senhor, particip arem os de suas b ê n ção s; se d e so b e d e cerm o s ao Senhor, perderem os a bênção, mas ainda assim Deus cum prirá seus propósitos, e seu nom e será glorificado. C om o muitas pessoas do povo de Deus nos dias de- hoje, os israelitas tinham m e­ mória curta: esqueceram -se dos propósitos gloriosos que Deus tinha reservado para sua nação. Se tivessem m editado nas prom es­ sas e nos planos de Deus (G n 12:1-3; Êx 19:18), não teriam desejado voltar para o Egito nem se misturar às nações ím pias a seu re­ dor. Israel foi um povo que viveu abaixo de seus privilégios e que não aceitou plenam en­ te a vontade de Deus para sua vida. A n a çã o é d isc ip lin a d a (vv. 23-30). Deus prom eteu m ultiplicar seu povo e cum priu sua prom essa (G n 2 2 :1 7 ). Tam bém prom e­ teu lhes dar um a boa terra e cum priu essa p rom essa (1 3 :1 4 -1 8 ; 1 7 :7 , 8). Sob a lide­ rança de Josué, o exército de Israel invadiu C an aã , conquistou a terra e se apropriou de todas as suas riq uezas. Foi D eus quem lhes deu a vitó ria, perm itindo que tom as­ sem cidad es, casas, terras e bens na terra de C anaã. Era uma "terra fértil", e os israelitas "en­ gordaram ", e isso os levou à queda. "M as engordou-se o meu am ado [Israel]; deu coi­ ces; engordou-se, engrossou-se, ficou nédio e abandonou a D eus, que o fez" (D t 3 2 :1 5 ). O povo não deu ouvidos às ad vertên cias de M oisés (D t 8). Israel desfrutou a grande bondade de D e u s, mas não se agradou d o Senhor. Assim com o o filho pródigo (Lc 1 5:1124 ), quis a riqueza do seu Pai, mas não a vontade dele. C om o disse Thom as C arlyle: "Para cada cem hom ens que suportam a adversidade, há som ente um ca p az de suportar a pros­ p e rid a d e ". Nas p alavras do e scrito r John Steinbeck: "Para destruir uma nação, dê-lhe em excesso - torne-a gananciosa, m iserável e doente". U m a igreja local tam bém pode orgulhar-se de suas "riq u ezas" e se tornar pobre aos olhos de D eus (Ap 3 :14-22). A ig reja que ta lv e z co n sid e re m o s pobre é, provavelm ente, rica aos olhos de Deus (Ap 2 :8 , 9). "N ão m e dês nem a pobreza nem a riqueza", pediu a D eus o sábio Agur. "Dáme o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Q u em é o S e n h o r ? O u que, em pobre­ cido, venha a furtar e profane o nom e de D eus" (Pv 3 0 :8 , 9). G raças ao poder de C ris­ to, Paulo havia aprendido, por experiência, a "estar hum ilhado" e tam bém a ter "abun­ dância" (Fp 4 :1 2 ), uma lição que todos do povo de Deus precisam aprender. D e p o is de assentar-se na terra, Israel desfrutou o d escanso durante os dias de Josué e dos anciãos que haviam servido com ele. Porém , quando esses líderes piedosos se fo ram , a no va g e ração afasto u-se do Senhor (jz 2:6-15). D eus os disciplinava, e NEEMIAS 9 665 eles clam avam por so co rro ; en tão , D eu s 3. A suscitava libertadores para resgatá-los. D e ­ pois disso, andavam nos cam inhos do Se­ nhor durante algum tem po, mas voltavam a viver em pecado, e o ciclo se repetia. O Li­ vro de Juízes relata a triste história de com o D eus disciplinou seu povo em sua própria terra, permitindo que seus vizinhos pagãos governassem sobre eles. A luz da fidelidade de Deus brilha inten­ sam ente contra o pano de fundo escuro da infidelidade de Israel. Q u an d o Israel obede­ cia a D eus, o Senhor era fiel em abençoálos; quando seu povo de so b e d e cia, D eus era fiel em discipliná-los; quando clamavam por m isericórdia, Deus era fiel em perdoálos. D eus está disposto a o ferecer inúmeros privilégios a seu povo, mas não lhe dará o privilégio de pecar nem de fazer as coisas a seu m odo. O s propósitos de Deus são mais im portantes que nossos prazeres, e ele cum ­ D eus foi bom para seu povo quando seu prirá esses propósitos, mesm o que, para isso, tenha de nos disciplinar. O s pecados de Israel acabaram por tornar-se tão abom ináveis para D eus que ele decidiu disciplinar o povo longe da própria terra. Usou os assírios para destruir o reino do Norte (Sam aria) e, depois, os babilônios para tomar o reino do Sul (Judá), levar o povo cativo e destruir Jerusalém e o templo. Foi com o se Deus tivesse dito a seu povo: "Já que gostam tanto de agir co m o os pagãos, vou perm itir que vivam com eles". O s seten­ ta anos de cativeiro na Babilônia ensinaram o povo a apreciar devidam ente as bênçãos recebidas do Senhor e nunca mais voltaram à idolatria pagã. A disciplina de D eus é um a prova tão real de seu am or quanto o suprimento abun­ dante de nossas necessidades (H b 12:1-11). Devem os ser gratos por Deus nos am ar de­ mais para permitir que fiquem os "m im ados". Em m om ento algum o Pai está mais próxim o d e nós d o q u e q u an do ele nos disciplina. "Bem -aventurado o hom em , S e n h o r , a quem tu repreendes, a quem ensinas a tua lei, para lhe dares descanso dos dias maus, até que se abra a cova para o ím pio" ( S l 9 4 :1 2 , 13). "Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra" (1 1 9 :6 7 ). graça de D eu s (N e 9 :3 1 - 3 8 ) povo não foi bom para ele. Enviou profetas para ensinar e advertir Israel, mas a nação recusou-se a ouvir (2 C r 36:14-21). Foi mise­ ricordioso ao perdoá-los quando clamaram por socorro e foi longânim o com eles quan­ do se rebelaram repetidam ente contra sua Palavra. Poderia ter destruído a nação e co­ m eçado de novo (ver Êx 3 2 :1 0 e Nm 14:11, 12), mas, em sua graça, ele os poupou. Em sua m isericórdia, Deus não lhes deu o que m ereciam e, em sua graça, ele lhes deu o que não m ereciam . Enquanto os levitas oravam, reconhece­ ram os pecados de sua nação e a justiça de D eus ao enviar o castigo. "Porque tu és jus­ to em tudo quanto tem vin do sobre nós; pois tu fielm ente procedeste, e nós, perver­ sam ente" (N e 9 :3 3 ). O b serve que os levitas usaram o pronom e "nós" e não "eles". Ao orar, identificaram -se com a nação e reco­ nheceram a própria culpa. N eem ias havia orado de maneira sem elhante no início do livro (1 :6, 7). E fácil ter co n vicção dos peca­ dos dos outros, mas D eus só perdoa quan­ do nos a rrep e n d em o s e co n fe ssam o s os próprios pecados. A p e sa r de terem desfrutad o b ê n ção s ab u n d an tes no p assad o , ain d a assim , os israelitas pecaram contra o Deus que os ha­ via ab en ço ad o . Então, essas bênçãos lhes foram tomadas. Estavam de volta à terra, mas não podiam aproveitá-la, pois todos os frutos de seu trabalho eram entregues a outrem! O rei persa controlava tudo, até o corpo de seus súditos. Q u a n d o D e u s h avia sido seu rei, os israelitas desfrutaram grandes bênçãos, mas quando se rebelaram contra a vontade de D eus, viram-se escravizados por reis que não tinham com paixão alguma por eles. Samuel havia ad vertid o (1 Sm 8) e M o isés havia profetizado que a nação entregaria suas ri­ quezas a seus conquistadores (D t 28:1 5ss). Sem pre que deixam os de entregar a D eus o que lhe é devido, não retemos essa riqueza para nós. Ele a tomará de uma forma ou de outra. O s cristãos que se recusam a honrar a Deus alegremente por meio da contribuição 666 NEEMIAS 9 fiel acabam vendo-se obrigados a gastar esse dinheiro de modo relutante em coisas difí­ ceis ou inesperadas, com o tratamentos mé­ dicos ou reparos na casa (ver Ml 3:7-12). O s levitas haviam reconhecido a grande­ za e a bondade de Deus e, então, baseados em sua graça, pediram-lhe um novo com eço para a nação. Não eram capazes de mudar a situação de servidão em que se encontra­ vam , mas poderiam entregar-se a um Senhor ainda m aior e buscar sua ajuda. Não impor­ ta quem exerça dom ínio sobre nós; se nos sujeitarm os ao Senhor, serem os livres nele (1 C o 7 :2 2 ; Ef 6:5-9). Se D eus havia sido m isericordioso com Israel no passado, per­ doando seus pecados quando clam aram a ele, não seria tam bém m isericordioso com ele no presente? M as, os jud eus não só pediram a miseri­ córdia de D eus, com o tam bém fizeram com ele uma aliança solene, prom etendo obede­ cer à sua lei e à sua vontade. A nação fizera uma aliança com o Senhor no monte Sinai e, mais tarde, rompeu com ela (Êx 24:3-8). Eles haviam renovado a aliança ao entrar em C anaã (Js 8:30-35) e depois de terem con­ quistado a terra (24:14-28), mas, depois, se rebelaram contra o Senhor (Jz 2:6-15). Samuel havia conduzido o povo a uma re no va ção de seus vo tos p actu ais (1 Sm 1 1 :1 4 - 1 2 :2 5 ), mas o rei Saul levou o povo de volta ao pecado e à derrota. Assim que consolidou seu reinado, Davi procurou guiar o povo de volta ao Senhor (2 Sm 6), e a oração de Salom ão na consagração do tem­ plo foi um passo nesse sentido. Infelizm en­ te, porém , Salom ão pecou contra o Senhor e quase destruiu o próprio reino. A o longo da história de Israel, sem pre houve um rem anescente de fiéis que creram em D eus, fizeram sua vontade e ora­ ram pedindo ao Senhor que cum prisse suas prom essas (1 Rs 1 9 :1 8 ; Is 1 :9 ; Lc 2 :3 8 ). Por meio dessa linha vital de rem anescentes fiéis, D eus preservou o m inistério de Israel no mundo. M anteve acesas a fé e a esperança na terra e, por causa do rem anescente, Deus pôde cum prir sua prom essa e dar ao mun­ do o Salvador. O s judeus que se encontra­ vam em Jerusalém no tem po de N eem ias faziam parte desse rem anescente, e D eus ouviu suas orações. N osso D eus é um D eu s glorioso (N e 9 :5 ). Ele é poderoso (v. 6), fiel (v. 8) e se preocupa com as necessidades de seu povo (v. 9). Ele é um D eus clem ente (vv. 17-19) e longânim o quando p ecam os (vv. 2 1 , 3 0 ), mas que nos discip lin a se nos rebelam os (vv. 26ss). É um D eus generoso (vv. 24, 25, 35), que nos dá muito mais do que m erece­ mos. É um Deus que cum pre suas prom es­ sas, m esm o se form os infiéis. Sem dúvida, esse D eus m erece nossa obediência em amor! Talvez seja chegada a hora de co m eçar de novo. honesto em sua oração. Essas m esmas evi­ 10 dências podem ser vistas em nossa vida, se nossas prom essas ao Senhor forem sinceras. D epo is Q ue D iz em o s " A m ém " N e e m ia s 10 ode não ser uma história verídica, mas ilustra o argumento central deste capítulo. Em certa igreja, havia um hom em que sem pre term inava suas orações pedindo: "E, Senhor, rem ove as teias de aranha da mi­ nha vid a! R em o ve as teias de aranh a da m inha vid a!" Um dos m em bros da igreja se cansou de ouvir esse mesm o pedido insincero se­ mana após sem ana, pois não via m udança alguma na vida daquele hom em . Assim , na sem ana seguinte, quando ouviu o hom em pedir em oração : "Senhor, remove as teias de aranha da minha vid a!", esse mem bro da igreja interrompeu, dizendo: "E, Senhor, apro­ veite e mate a aranha!" U m a co isa é o fere ce r ao Senho r uma P oração fervorosa de confissão, com o a que vim os no capítulo 9, outra bem diferente é viv e r em o b e d iê n cia depois que dizem o s "A m ém ". No entanto, o povo da assem bléia levou suas orações a sério e se mostrou de­ term inado a, pela graça de D eus, recom e­ çar e viver de m odo agradável ao Senhor. C o m o disse A lexan d er W h yte : "A vida cristã vitoriosa é uma série de recom eços". O S en ho r pode nos guardar de tro p eçar (Jd 2 4 ), mas se tropeçarm os, ele é cap az de nos erguer e de nos dar forças para prosse­ guir. "O S e n h o r firm a os passos do homem bom e no seu cam inho se com praz; se cair, não ficará prostrado, porque o S e n h o r o se­ gura pela m ão" (Sl 3 7 :2 3 , 24 ). A nação ha­ via pecado, mas estava dando novos passos de consagração e de obediência. M as será que sua devoção era verdadei­ ra? Este capítulo apresenta pelo menos três e v id ê n c ia s de que o povo estava sendo 1 . S ubm (N e is s ã o à P a la v r a de D eu s 1 0 :1 - 2 7 , 2 9 ) Ao lado de N eem ias, cu jo nom e ap arece no topo da lista, mais oitenta e quatro pes­ soas colocaram seu selo na aliança feita com o Senhor. Essa lista incluiu os sacerdo tes (vv. 2-8; ver 12:1-7), os levitas (10:9-13) e os líderes do povo (vv. 14-27). M uitos outros cidadãos anuíram a essa aliança, mas não "assinaram em baixo" individualm ente (v. 28), inclusive as esposas e as crianças que não tinham o direito legal de co lo car um selo pessoal num d o cum ento o ficial. Todas as pessoas que ouviram a Palavra de Deus sen­ do lida e exp licad a estavam assum indo o com prom isso de o bedecer àquilo que ha­ viam escutado. C o lo ca r um selo num docum ento era algo muito sério, pois significava prestar um juram ento solene diante do Senhor (v. 29; ver 5 :1 3 ). Talvez tenham ouvido Esdras ler e ssa p assag e m de D e u te ro n ô m io : "V ó s estais, hoje, todos perante o S e n h o r , vosso D eus: os cab eças de vossas tribos, vossos an cião s e os vossos o ficiais, todos os ho­ mens de Israel, os vossos meninos, as vos­ sas mulheres [...] para que entres na aliança do S e n h o r , teu Deus, e no juram ento que, hoje, o S e n h o r , teu Deus, faz contigo; para que, hoje, te estabeleça por seu povo, e ele te seja por D eus, com o te tem prometido, co m o jurou a teus pais, A braão , Isaque e Jacó" (D t 29:10-13). A lei referente aos votos e juram entos encontra-se em Núm eros 30 e é apresenta­ da com as seguintes palavras: "Q u and o um homem fizer voto ao S e n h o r o u juram ento para obrigar-se a algum a ab stin ência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que p ro m eteu , fará" (v. 2 ). U m a v e z que um juram ento envolvia o nom e e um possível julgam ento de D eus, não deveria ser feito levianam ente. Jesus advertiu contra o uso de juram entos vazio s (M t 5:33-37; 23:16-22), e Salom ão deu um a adm oestação sem elhan­ te (Ec 5:1-7). N E E M I A S 10 668 Em sua cam inhada com o Senhor e em seu serviço a ele, será que os cristãos de hoje devem prestar juram entos com o forma de assumir um com prom isso? Provavelm en­ te não. Nosso relacionam ento com Deus é sem elhante àquele de filhos com o Pai, e nosso Pai deseja que nossa obediência seja baseada no am or. N ão co n h e ço nenhum exem plo do Novo Testam ento que mostre os cristãos fazendo juram entos de obediên­ cia ao Senhor. N ossa obediência deve ser uma resposta alegre a tudo aquilo que Deus fez por nós em Cristo (Cl 3:1 ss). Não somos b em -sucedido s em nossa vid a cristã p o r­ q ue fazem o s prom essas a D eus, mas sim porque crem os nas prom essas dele e agi­ mos em função delas. O s juram entos são, com freqüência, baseados no medo ("Se eu não fizer isso, Deus irá me julgar!"), e o medo não é a m otivação mais nobre de uma vida de piedade, apesar de o tem or de D eus fa­ zer parte dessa vida (2 C o 7:1). 2 . S eparação (N e co m o povo de D eu s 1 0 :2 8 , 3 0 , 3 1 ) O rem anescente estava cercado de gentios idólatras que desejavam que os ju d eu s se tornassem parte de seu meio social, religioso e com ercial. Porém , a lei de M oisés proibia o povo de D eus de viver com o os gentios, o que não os im pedia de ser bons vizinhos ou m esm o bons fregueses (ver 13:15-22). Era m inistério dos sacerdotes ensinar o povo "a distinguir entre o santo e o profano e [...] dis­ cernir entre o im undo e o lim po" (Ez 4 4 :2 3 ). A separação é, sim plesm ente, a dedica­ ção total a Deus a qualquer preço. Q uando um homem e uma m ulher se casam , sepa­ ram-se de todos os outros possíveis com pa­ nheiros e se entregam inteiram ente um ao outro. E um com prom isso absoluto, motiva­ do pelo am or, e uma decisão equilibrada. Separamo-nos dos outros para nos dedicar­ mos àquele que será nosso com p anheiro e os outros cristãos de lado é isolam ento e acaba levando ao pecado. Som ente o Espí­ rito Santo pode nos dar o tipo de equilíbrio de que precisam os para levar um a vida pie­ dosa neste m undo im piedoso. O legalista quer viver de acordo com as regras, mas esse tipo de vida prom ove a im aturidade e a de­ pend ên cia nos líderes espirituais. A única form a de cre sce r de m odo eq u ilibrad o é entregar-se inteiram ente a D eus e segui-lo pela fé. São m encionadas duas áreas específicas: o casam ento e o sábado. O s casam entos mistos traziam consigo o risco de o cônjuge ju d eu perder a fé (Êx 3 4 :1 0 -1 7 ). D e que maneira um judeu, casado com um cônjuge gentio, poderia observar as leis referentes à alim entação ou celebrar as festas anuais? O cô n jug e ju d eu estaria sem pre cerim onialm ente im puro. H averia conflitos constantes entre o marido e a m ulher e, por vezes, al­ guém teria de ceder e, finalm ente, se con­ form ar. C o m o resultado, o cônjuge judeu não tardaria a abandonar sua fé e sua he­ rança espiritual. Por quê, para com eçar, os judeus iriam querer se casar com gentios? Além da afei­ ção, que deveria ter sido controlada desde o início, talvez houvesse também a questão do status social (N e 13:28) ou da possibili­ dade de ter mais sucesso nos negócios. A s­ sim com o alguns cristãos de hoje, é possível que esses judeus usassem com o argumento o fato de que uniões desse tipo lhes dariam a oportunidade de converter o cônjuge para a verdadeira fé. O mais com um , porém , é que aconteça exatam ente o contrário. Deus tinha um grande propósito a ser cum prido por Israel, e a transigência dos judeus dian­ te do pecado contam inou a nação (Ml 2:1016). Deus queria uma "sem ente pura" para que, por meio de Israel, pudesse enviar seu Filho ao mundo com o o Salvador, e os casa­ mentos mistos só causavam confusão. pelo resto da vida. O s judeus se separaram dos povos a seu redor e para o Senhor e sua Palavra (N e 10 :2 8 ; 9:2 ). Tam bém se uniram a seus com ­ " O mais im portante é que nós dois nos am am os!" é o argumento que muitos pasto­ res ouvem de cristãos que desejam se casar com incrédulos. patriotas na promessa de o bedecer à lei de Deus (v. 29). A separação que co lo ca Deus A pergunta não é: "Será que esse casa­ mento vai dar certo?", mas sim : "Será que N E E M I A S 10 esse casam en to vai desfrutar de todas as bênçãos de D eus e realizar a vontade de Deus?" E difícil imaginar com o D eus pode abençoar e usar pessoas que desobedecem à sua Palavra deliberadam ente (2 C o 6 :1 4 7:1 ; 1 C o 7:39). A observância do sábado era uma práti­ ca distintiva do povo de Deus (N e 9 :1 4 ; Êx 20:8-11; 3 0 :12-18); os gentios ao redor de Jerusalém consideravam o sétimo dia da se­ mana um dia com o outro qualquer e que­ riam realizar atividades com erciais e sociais. Apesar de o sábado não ser para Israel um dia de servidão e tristeza, era dedicado ao descanso e à reflexão acerca das coisas es­ pirituais. C onsistia num a lem brança sem a­ nal para a nação de que era o povo de Deus e de que tinha um ch am ad o esp e cial no mundo. Alguns com erciantes jud eus estavam e sp e cia lm e n te interessados em levar van ­ tagem sobre os gentios em seus negócios, e fechar as portas num dia em que as pes­ soas estavam fazend o com pras parecia um d esp erd ício . M oisés não descreveu regras específicas para a o b servân cia do sábado, mas havia precedentes para que o povo não realizasse qualquer trabalho desnecessário. Nesse dia, não deveriam acender fogo de qualquer tipo (Êx 35:1-3) e um hom em foi apedrejado por juntar lenha no sábado (Nm 15:32-36). O s profetas repreenderam o povo com seve­ ridade por não estar observando o sábado (Jr 17:19-27; Am 8:4-6; Is 5 6 :1 , 2; 5 8 :1 3 , 14), pois sua desobediência era um sintoma de um problem a espiritual mais profundo: a re­ 669 que D eus proveria o alimento três anos em seguida. Tudo indica que a nação não havia sido fiel em guardar essas observâncias sabáticas. Esse foi um dos motivos pelos quais Deus os enviou para o cativeiro (2 C r 3 6 :2 1 ): a fim de dar à terra setenta anos de descanso (Jr 2 9 :1 0 ). Esse p e río do co m p en saria por cerca de quinhentos anos de desobediên­ cia nacional (7 x 70), um ano para cada Ano Sabático ou Ano de Jubileu que haviam dei­ xado de observar. Foi um grande passo de fé o rem anes­ c e n te ju d e u p ro m e te r g u a rd a r o an o sabático, pois muitas pessoas eram pobres, e a nação estava passando por uma depres­ são na agricultura e na econom ia. Não ter colheitas adicionais por um ano certam ente afetaria os negócios com os gentios a seu redor. A disposição do povo em obedecer a essa lei é um a bela ilustração de M ateus 6 :3 3 . 3 . P r o v i s ã o p a r a a c a s a de D e u s (N e 1 0 : 3 2 - 3 9 ) A designação "casa do nosso D eus/do S e­ n h o r " é usada nove vezes nesta passagem e se refere ao tem plo restaurado. O povo estava prometendo a Deus que obedeceria a suas leis e que proveria o que fosse neces­ sário para o ministério no templo. "N ão de­ sampararíamos a casa do nosso D eus" (v. 39). O com entarista inglês G . C am pbell M or­ gan disse: "Apesar de a casa de D eus, nos dias de hoje, não ser mais de natureza ma­ terial, mas sim espiritual, o templo material belião contra o Senhor. A declaração solene de fé relatada nes­ te capítulo tam bém incluiu a observância do ainda é um sím bolo extrem am ente real da A no Sabático (Lv 25:1-7, 20-22; D t 15:111). A cada sétim o ano, o povo de Israel deveria deixar a terra alqueivada para que pudesse se restaurar - um excelente princí­ pio ecológico. Por certo, precisariam de um bocado de fé, a fim de confiar que D eus pro ve ria co m id a du rante dois a n o s; mas Deus prometeu que cuidaria deles. Depois de sete Anos Sabáticos, deveriam observar local de reunião, trata-se de um sinal e de um a p ro va de q u e sua v id a en co ntra-se enfraquecida" (The W estm inster Pulpit, vol. 8, p. 315). o qüinq u ag ésim o ano co m o "A no de Ju ­ bileu" (Lv 2 5 :8ss), o que significava confiar natureza espiritual. Q u an d o a Igreja de Deus em qualquer lugar é descuidada com seu Morgan tem razão. Por certo, Deus não vive nos lugares onde nos reunim os para adorá-lo (Is 60:1, 2; A t 7:48-50), mas o modo com o cuidam os desses locais indica aquilo que pensamos de nosso Deus (ver Ag 1). O templo restaurado em Jerusalém não possuía o mesmo esplendor que o templo construído 670 NEEMIAS 10 por Salom ão (Ed 3:8-13; Ag 2:1-9), mas ain­ da assim era a casa de D eus e m erecia o apoio do povo de Deus. A p ro v isã o p ro m e tid a foi e s p e c ífic a , abrangendo quatro áreas do ministério. O trib u to d o te m p lo (vv. 3 2 , 3 3 ). O cen ­ so anual da população com vinte anos ou mais de idade era acom panhado da arreca­ dação de um imposto de meio siclo a ser usado para sustentar o m inistério na casa de Deus (Êx 30:11-16). Essa tributação ser­ via para lembrar o povo de que Deus os havia redimido e pago um preço para libertá-los e que deveriam com portar-se com o pessoas que perten ciam a D e u s. A p rim eira arre­ cadação desse imposto foi usada para fazer as bases de prata e os colchetes para o taber­ náculo (Êx 38:25-28), mas nos anos subse­ qüentes, aju dou a co b rir as desp esas do ministério. Eram tem pos difíceis, de modo que os líderes decidiram ajustar o tributo para um terço de ciclo em v e z de m eio. (Q u and o Jesus estava m inistrando na terra, esse tri­ buto havia voltado ao valor de meio ciclo ; M t 1 7 :2 4 -2 7 .) Essa m u d a n ça te m p o rária não mudou o significado da tradição nem diminuiu a devoção dos judeus. Ao procurar viver em obediência ao Senhor, o povo de D eus deve usar de bom senso. Não deve­ mos co locar sobre nós mesm os fardos que D eus jam ais esperou que carregássem os (At 15 :1 0 ), mas também não devem os procurar a maneira mais fácil e côm oda de servir ao Senhor. Neem ias 10:33 descreve com o o dinhei­ ro seria usado: para suprir as necessidades dos ministérios regulares e especiais do tem­ plo, sendo que tudo fazia parte da "obra da casa do nosso D e u s". Era im portante que os sacerdotes realizassem seu trabalho fiel­ mente para que a nação m antivesse um re­ lacionam ento correto com Deus. H o je em dia, não precisam os fornecer animais, cereais e outros materiais a fim de que a igreja adore ao Senhor; mas, ainda assim, devem os sustentar o trabalho minis­ terial. Isso significa pagar salários (Lc 10:7), dividir o que tem os com os necessitados (1 C o 16:1-3) e ser bons mordom os daquilo que D eus nos dá (2 C o 8 - 9), de modo que o evangelho seja levado a todo o mundo. "Porque, onde está o teu tesouro, aí estará tam bém o teu co ra ção " (M t 6 :2 1 ). Se es­ tiverm o s ca m in h an d o co m o S en h o r, te­ remos o desejo de fazer nossa parte para suster o ministério da igreja na qual Deus nos coloco u. A ofertã da lenh a (v. 3 4 ). Um a vez que o fogo do altar de bronze deveria ser manti­ do aceso em todo tem po (Lv 6 :1 2 , 13), era necessário haver um suprim ento regular de lenha, e a m adeira, de modo geral, era um bem precioso. O s líderes lançaram sortes e determ inaram a época em que cada um dos diversos clãs forneceria a lenha para o altar. O fato de algo tão simples quanto a lenha ser im portante para o serviço de D eus e de poder ser santificado para sua glória é um grande estím ulo para mim. Nem todos em Israel poderiam ser sacerdotes ou levitas, nem doar cordeiros ou bois para os sacrifí­ cios, mas todos poderiam levar um pouco de lenha e manter o fogo aceso. A lei não traz estipulaçõ es esp ecíficas com referência a essa oferta, mas, de aco r­ do com a trad ição, certos dias do ano eram separados para o povo levar a m adeira para o santuário. Q u an d o D eus não dá instru­ ções esp e cíficas e sabem os que existe uma n ecessid ad e a ser suprid a, devem os pen­ sar num m odo de faze r esse trabalho. U m a vez que os sacerdotes precisavam de lenha para o altar e o povo era ca p az de fornecêla, criou-se um sistem a eqüitativo. A s p r im íc ia s (vv. 3 5 -3 7 a ). O s ju d eu s aprendiam que deveriam dar a Deus as pri­ m eiras e m elhores coisas - um excelente exem p lo a ser seguido nos dias de hoje. "H o n ra ao S e n h o r com os teus bens e com as prim ícias de toda a tua renda" (Pv 3:9 ). Pelo fato de Deus ter salvo os primogênitos h e b re u s da m o rte na terra do Egito, os prim o g ênito s dos h o m ens e dos anim ais pertenciam ao Senhor (Êx 14:1-16; Lv 2 7 :2 6 , 27). O filho primogênito deveria ser redimido por um sacrifício (Êx 3 4 :1 9 , 2 0 ; Lc 2:22-24), pois pertencia a Deus. As Escrituras não especificam , em parte alguma, as porções das prim ícias que o povo N E E M I A S 10 deveria levar ao tem plo (Êx 2 3 :1 9 ; 3 4 :2 6 ), mas as ofertas deveriam ser levadas antes de o povo fazer qualquer outra co isa com a colheita. Essas ofertas eram arm azenad as a fim d e se r usadas pelos servos do tem plo (N e 1 2 :4 4 ). Sem d úvid a, as ofertas d eve­ riam ser m edidas de acordo com as bên­ çãos que o povo havia recebido de Deus e, tam bém , de acordo com a devoção pessoal ao Senhor. O s d íz im o s (vv. 3 7b-39). O termo dízim o significa "um d écim o". O s judeus deveriam levar um décim o de todo o fruto de seu traba­ lho ao Senhor a cada ano a fim de sustentar os levitas (Lv 27:30-34). Em seguida, os levitas davam o "dízim o do dízim o" aos sacerdotes (N m 18:25-32). O s judeus tam bém deveriam separar o dízim o dos 9 0 % restantes e leválo ao templo nas festas anuais (D t 26:1-11). A esses dois dízim os era acrescentado um terceiro, recebido a cada terceiro ano e des­ tinado aos pobres (vv. 12-1 5; 14:28, 29 ). Nos pontos mais baixos da vida espiritual de Is­ rael, o povo não levava quase nada ao tem­ plo a fim de sustentar o ministério, e muitos levitas viam-se obrigados a buscar outras for­ mas de sustento. Nas épocas de m aior vita­ lidade espiritual, o povo levava suas ofertas, e havia suprim entos em abundância (2 C r 31:1-12; Ml 3:8-11). A pesar de o Novo Testam ento não orde­ nar categoricam ente que o povo de Deus dê o dízim o hoje, as ofertas proporcionais à renda são, sem dúvida, recom endadas (1 Co 16:1-3). Som os m o rdom os da riq u e za de D eus e devem os usar com sabedoria aquilo que ele com partilha conosco (4 :1 , 2). Se o povo sob a lei do Antigo Testam ento podia separar três dízim os de sua renda, quanto 671 mais nós, que vivem os hoje sob a Nova A lian­ ça da graça ab undante de D e u s, não de­ vem os ofertar ao Senhor (ver 2 C o 8 - 9, observando a repetição do termo "graça"). D ar o d ízim o p o d e ser uma grande bênção, mas há pelo menos três perigos que devem ser evitados pelos dizim istas: (1) dar com a m otivação errada, por obrigação, medo ou ganância; (2) pensar que se pode faze r o que bem entender com os outros 9 0 % ; (3) dar apenas o dízim o e deixar de dar ofertas de am or ao Senhor. D iante daquilo que D eus fez por nós, co m o d e ix a r de o fe re ce r aq uilo que lhe pertence por direito? Deus não abandonou os judeus quando estavam necessitados (N e 9 :3 1 ), e eles prom eteram não ab an don ar a casa de Deus (1 0 :3 9 ). Anos antes, o profe­ ta Ageu havia repreendido o povo, pois se ocuparam de tal modo com o cuidado das próprias casas que se esqueceram da casa de D eus (Ag 1:4) - um a ad vertên cia que cabe muito bem nos dias de hoje. N os luga­ res o n d e o verdadeiro reavivam ento espiri­ tual ocorre, ele se revela na maneira co m o o p o vo sustenta a obra de D eus, a co m eçar p o r sua própria igreja local. Não basta orar ou mesmo comprometer-se a dar "ofertas de fé". D evem os am ar ao Senhor de tal modo que a contribuição generosa seja um motivo de alegria e uma parte normal de nossa vida. Co m o disse Sir W inston Churchill: "So­ brevivem os. com o salário que recebem os, mas vivem os com tudo aquilo que dam os". E, com o disse Jesus: "Porque, onde está o teu tesouro, aí estará tam bém o teu co ra­ ção" (M t 6 :2 1 ). "N ão desam pararíam os a casa do nosso Deus" (N e 1 0 :3 9 ). 11 O C la m o r O u v id o a o R ed o r d o M u n d o N e e m ia s 1 1 - 1 2 e acordo com os teólogos, Deus fez o prim eiro jardim (G n 1 - 2), mas o ho­ D mem rebelde construiu a prim eira cidad e (4 :1 6 , 17), e essas duas coisas têm estado em conflito desde então. No m undo antigo, as cid ad es eram lugares de riq u eza e de poder. H o je em dia, ap esar de todo seu esplendor, nossas cidades são, com freqüên­ cia, lugares falidos, conhecidos pela poluição, pobreza e crim e. Sustentar e administrar as grandes cidades é um problem a real e incô­ modo para líderes governamentais do mun­ do todo. "Se deixarm os de cuidar de nossas cidades, nos colocarem os em perigo", disse John F. Kennedy, "pois, ao ser omissos com nossas cidad es, estarem os sendo om issos com a nação". N eem ias seguiu essa m esm a filo so fia. Sabia que a nação de Israel jam ais poderia ser forte enquanto Jerusalém estivesse fra­ ca. M as Jerusalém não poderia se fortalecer a menos que o povo se dispusesse a fazer ce rto s s a crifício s. N e em ias co n cla m o u o povo a apresentar três sacrifícios ao Senhor, por am or a sua cidade, sacrifícios que, ain­ da hoje, o Senhor insta seu povo a oferecer por am or à Igreja que está ed ificando no mundo. 1. D D eu s ev em o s en tr eg a r n o s so ser a (N e 1 1 : 1 - 1 2 :2 6 ) U m a vez que os muros e portas de Jerusa­ lém haviam sido restaurados, era im portan­ te que os judeus habitassem em sua capital e que fizessem sua população crescer. Em p rim e iro lu g ar, Je ru s a lé m p re c is a v a de pessoas para protegê-la, pois não se sabia quando o inimigo poderia decidir atacar. É possível que fosse mais seguro o povo viver em vilarejo s afastados que não represen ­ tavam am eaça alguma para a sociedade gen­ tia do que correr o risco de se mudar para a cidade grande. Além disso, se am ava a Deus e sua ci­ dade santa de todo coração , o povo teria o desejo de viver em Jerusalém , nem que fos­ se apenas para servir de testem unho aos gentios incrédulos a seu redor. A final, por que construir um a cidade se ninguém pla­ neja viver nela? Porém , acim a de tudo, Deus havia levado o rem anescente de volta a seu lar porque havia preparado uma tarefa espe­ cial para eles, e abandonar a cidade restau­ rada seria o mesm o que servir de em pecilho ao cum prim ento da vontade de D eus por interm édio de Israel. Em outras palavras, D eus precisava de pessoas - gente ativa - na cidade santa. O s judeus receberam um cham ado sem elhante àquele expressado por Paulo em Romanos 1 2 :1 : "Rogo-vos, pois, irm ãos, pelas m iseri­ córd ias de D eus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Nunca subestime a im portância de sim­ plesmente estar presente no lugar onde Deus quer vo cê. E possível que não lhe peçam para realizar algum ministério dram ático, mas o simples fato de estar lá é um ministério. O s hom ens, mulheres e crianças que ajuda­ ram a popular a cidade de Jerusalém esta­ vam , com seu passo de fé, servindo a Deus, a sua nação e às futuras gerações. Alguns desses cidad ão s apresentaram se com o voluntários, enquanto outros tive­ ram de ser "co n vo cad o s" (N e 1 1 :1 , 2). O povo havia prom etido dar o dízim o de todo o fruto de seu trabalho (1 0 :3 7 , 3 8 ), de modo que N eem ias decidiu separar um dízim o do povo, e 1 0% dos jud eus foram escolhidos por sortes para deixar as vilas e viver em Jerusalém . U m a vez que a cidad e tinha pou­ cos habitantes e que a questão da m oradia ainda era problem ática (7 :4 ), não é de ad­ m irar que m uitos ju d e u s não estivessem dispostos a mudar. Im agine o que aconte­ ce ria num a igreja local com um se 1 0% da congregação fossem cham ados a mudar-se NEEMIAS 1 1 - 1 2 a fim de fortalecer e de propagar a obra do Senhor! Já estam os acostum ados com o hábito de Neem ias de listar os nom es das pessoas que participaram de seus projetos. No capí­ tulo 3, faz uma relação dos que trabalharam nos muros, especificando a parte do muro que repararam . O capítulo 7 apresenta uma lista de nom es das pessoas que voltaram com Z orob abel, e o capítulo 8 registra os nomes dos líderes que participaram do "congresso bíblico" junto à Porta das Águas. O capítulo 10 traz os nomes de oitenta e quatro homens que colocaram seus selos na aliança de co n­ sagração. Ao listar esses nom es, N eem ias dava-lhes provas de sua apreciação sincera por esses indivíduos que ajudaram no tra­ balho. Isso nos lem bra de que nosso Pai vê e registra o que seus filhos fazem e com o eles o servem . M esm o que outros não reco­ nheçam ou não dêem o devido valor a nosso m inisté rio , po d em o s estar ce rto s de que Deus sabe tudo a respeito de nosso traba­ lho e que o recom pensará devidam ente. O povo de Judá e Benjam im que vivia em Jerusalém é relacionado prim eiro (11:49). D epois que a nação se dividiu, essas duas tribos passaram a constituir o reino de Deus (1 Rs 11 - 1 2 ). A d e sig n a ç ã o "h o m e n s valentes" (N e 1 1 :6, 14) pode significar "guer­ reiros corajosos" ou "hom ens ricos, de mui­ tos bens", com o Boaz (Rt 2:1 ). Em se g u id a , são re la c io n a d o s os sa­ cerd o tes, levitas e servos do tem plo (N e 1 1 :1 0 -2 4 ). D e u s h avia sep a rad o cid ad es específicas para eles (Js 2 1 ), de modo que, pela lei, poderiam viver fora de Jerusalém . A inda assim, decidiram ficar com o povo ao servirem a D eus no tem plo. A ssim co m o Jerem ias, esco lh e ram p e rm an e ce r com o 673 (vv. 1 7, 22), e esses dois tipos de trabalho e ra m ig u a lm e n te im p o rt a n t e s . Q u a s e trezentos hom ens haviam sido designados para guardar o templo (v. 19). U m a v e z que os dízim os e as ofertas ficavam no templo, era im portante que o local fosse bem prote­ gido. Era preciso que várias pessoas, com várias aptidões, trabalhassem a fim de man­ ter o ministério em Jerusalém . Q u an d o eu era pastor de uma igreja ba­ tista em Covington, no Estado do Kentucky, certo domingo, com ecei a relacionar o nome de mem bros - alguns mais e outros menos evidentes - que possibilitavam meu ministé­ rio de pregação. Enquanto pregava, havia três técnicos operando a mesa de som e de rádio, meia dúzia de hom ens vigiando o estacio­ nam ento, diáconos junto às portas e andan­ do pelo edifício a fim de se certificar de que tudo estava em ordem , técnicos responsá­ veis pela m anutenção dos equipam entos e um a equipe pastoral que me dava todo o apoio. O s m úsicos haviam dirigido a co n ­ gregação durante os cânticos de louvor e ajudado a prepará-la para ouvir a Palavra. D u ra n te a sem ana an terio r, in ú m ero s membros da equipe da Escola Dom inical ha­ viam entrado em contato com centenas de pessoas; os membros da igreja haviam convi­ dado uma porção de visitantes para os cul­ tos; o pessoal do escritório havia cuidado com eficiência da parte operacional; os líderes da igreja haviam e n co raja d o e aco n selh ad o ; pessoas haviam orado... tudo isso para que o pastor pudesse glorificar a Cristo proclam an­ do a Palavra de Deus! Foi um exercício de humildade que despertou em mim o desejo de dar o que tinha de melhor ao Senhor e a todas aquelas pessoas extraordinárias. D eus usa muitas pessoas com diferen­ povo de D eus, ainda que talvez pudessem viver com mais segurança e conforto em al­ gum outro lugar (Jr 40:1-6). O m inistério do tem plo - um elem ento tão essencial a Israel com o nação - exigia a presença de várias pessoas. O s sacerdotes o ficiavam junto ao altar e eram auxiliados pelos levitas. Alguns supervisionavam a ma­ tes dons e aptidões para realizar sua obra neste mundo. O im portante é que ofereça­ mos nosso ser ao Senhor de modo que ele possa nos usar com o instrumentos para seu trabalho. C ad a pessoa é im portante e cada tarefa é relevante. O b serve que, no capítulo 12 (vv. 1-26), Neem ias relaciona outros sacer­ dotes e levitas que ministravam no templo. nutenção do edifício (N e 11 :1 6 ), enquanto outros ministravam pela oração e pelo louvor No versículo 23, Neem ias diz que o rei da Pérsia ajudou a sustentar o ministério no 674 N E EM IA S 1 1 - 1 2 tem plo. U m a v e z que o rei desejava que o povo judeu orasse por ele e por sua fam í­ lia, tam bém tom ou parte nas despesas do tem plo (Ed 6:8-10; 7:20-24). Em nossas de­ m ocracias m odernas, onde existe um a se­ paração entre Igreja e Estado, esse tipo de subsídio não seria visto com bons olhos. Porém , a província de ju d á era um a peque­ na parte de um grande im pério governado por um rei todo-poderoso, e o rei fez pelos jud eus aquilo que fazia por todas as outras províncias. O s cristãos de hoje têm a res­ ponsabilidade de orar por seus governantes (1 Tm 2:1-2; ver Jr 2 9 :7 ), algo que deve ser feito diariam ente e a cada D ia do Senhor, quando a congregação se reúne para adorar. Petaías (N e 1 1 :24) era o "agente do rei" que representava os judeus no tribunal. As pessoas que fazem parte do governo são ministras de Deus (Rm 13:1-7), quer se dêem conta disso quer não; caso sejam fiéis, esta­ rão na presença do Senhor tanto quanto os sacerdotes e levitas do templo. No capítulo 12, versículos 25 a 36 , N ee­ mias cita o nom e dos vilarejos onde os ju ­ deus viviam , sendo que alguns deles eram bastante afastados de Jerusalém . Q uand o os exilados regressaram da Babilônia e chega­ ram a sua terra, quiseram , naturalmente, as­ sentar-se em suas vilas e cidades de origem. Essa população continuava sob a autorida­ de de N eem ias e se esperava que fossem leais ao rei da Pérsia. Essa lealdade às suas cidades de origem foi um fator que dificultou o trabalho de Neem ias quando ele procura­ va pessoas que habitassem em Jerusalém . A p esar de o civism o local co nstitu ir uma qualidade digna de ser cultivada, devem os nos lem brar de que existem responsabilida­ des ainda m aiores que tam bém devem ser consideradas. A obra do Senhor é m aior do que o ministério de qualquer pessoa ou gru­ po de pessoas. 2. D e v e m o s d e d ic a r n o s s o l o u v o r a D e u s ( N e 12:27-43) O s judeus estavam acostum ados a ter traba­ lhadores e vigias nos muros de Jerusalém , mas, nessa o casião , N eem ias e Esdras es­ colheram pessoas para adorar a D eus nos muros. O entusiasm o do povo no culto de consagração foi tanto que seus clam ores e cânticos puderam ser ouvidos "até de lon­ ge" (v. 43). O povo já havia sido consagrado (caps. 8 - 10); era chegada a hora de consagrar o trabalho que haviam feito. Essa é a ordem correta a seguir, pois de que adiantam mu­ ros e portas consagrados sem pessoas con­ sagradas? O b serve que o texto enfatiza o lou vor ju b ilo so de todo o povo. O cântico é citado oito vezes neste capítulo; as ações de graças, seis vezes; o regozijo, sete vezes; e os instrumentos m usicais, três vezes. A seq ü ê n cia do culto de co nsagração foi singular. O s líderes e cantores se dividi­ ram em dois grupos, tendo Esdras à frente de um deles e N eem ias (seguindo o coral) na direção do outro. É bem provável que as procissões tenham partido da Porta do Vale, m archando em direções opostas. O grupo de Esdras (12:31-37) foi para o sul dirigindose à Porta do M onturo e, depois, à Porta da Fonte e à Porta das Á guas, na parte leste dos muros da cidade. O grupo de Neem ias foi para o norte (vv. 38, 39), passando a Por­ ta Velha, a Porta de Efraim, a Porta do Peixe e a Porta da G uarda. O s dois grupos en co n ­ traram-se na área do tem plo onde o culto cu lm in o u com a o ferta de sa c rifíc io s ao Senhor. Por que Esdras e N eem ias organizaram um culto de consagração co m o esse? Por que não reunir todos na área do tem plo, deixar os levitas cantarem , o ferecerem sa­ crifícios e, depois, o povo voltar para casa? Para com eçar, tratava-se da consagração dos m uros e das portas. Nada mais certo, portanto, que o povo visse e tocasse aquilo que estava sendo dedicado ao Senhor. Lem ­ bro-me de participar do culto de consagra­ ção do edifício de educação cristã de uma igreja realizado dentro do templo dessa igre­ ja, não no edifício em si. A certa altura do cu lto , d e veríam o s ter saído do tem plo e marchado pelo novo edifício cantando lou­ vores a Deus. Enquanto eu ministrava a Pa­ lavra, senti com o se estivesse realizando uma cerim ônia de casam ento a um casal de noi­ vos que não estava presente! N E EM IA S 1 1 - 1 2 H avia, porém , outro motivo para que se re a liz a ss e um cu lto de co n sa g ra çã o tão incom um : o povo estava testem unhando ao m undo que os observava, que D eus havia feito sua obra e que som ente ele deveria ser g lo rificad o . O in im ig o havia dito que os muros seriam tão frágeis que até uma rapo­ sa poderia derrubá-los (N e 4 :3 ), mas lá esta­ va o povo m archando so bre os m uros! Um testem unho e tanto a gentios incrédulos do poder Deus e da realidade da fé. Foi mais uma oportunidade de provar a essas pessoas com o "por intervenção de nosso Deus é que fizem os esta obra" (6 :1 6). Ao marchar sobre os muros, o povo pôde ver os resultados de seu trabalho e se dar conta, mais um a vez, de que a obra não ha­ via sido realizada por apenas uma pessoa. Por certo, N eem ias fora seu líder e preci­ savam dele; mas "o povo tinha ânim o para trabalhar" (4 :6 ). Várias pessoas e famílias tra­ balharam em partes diferentes dos muros (cap. 3), mas ninguém era "dono" daquela parte onde havia trabalhado. O s muros per­ tenciam a Deus. U m a vez concluído o programa de cons­ trução de uma igreja, podem-se esperar pro­ blem as sérios se indivíduos ou grupos da igreja com eçam a "reivin d icar direitos ter­ ritoriais". O u vi falar de um a classe de escola dom inical que chegou a processar a igreja quando foi pedido que m udassem de sua sala habitual para outra. Não im porta quanto trabalho e dinheiro dedicam os a um progra­ ma de construção, isso não nos dá o direito de reivindicar a posse ou o controle de algu­ ma parte dessa construção. Tudo p e rte n ce a D eu s e deve ser usado para sua glória. Era exatam ente isso o que os jud eus estavam d izen d o , de m odo sim bó lico, ao m archar so bre os m uros. "Sem d ú vid a, todos nós participam os do trabalho, mas agora estamos entregando tudo ao Senhor para que som en­ te ele seja glorificado!" Perm ita-m e sugerir outro m otivo para essa m archa ao redor dos muros: foi um ato sim bólico pelo qual "deram um passo de fé", a fim de apropriar-se da bênção de Deus. N aquele tem po, cam inhar sobre uma pro­ priedade significava tom ar posse dela para 675 si. D eus disse a A braão: "Levanta-te, percor­ re essa terra [...] porque eu ta darei" (G n 13:17) e falou a Josué: "Todo lugar que pi­ sar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado" (Js 1 :3). Essa m archa jubilosa ao redor dos muros foi a m aneira de o povo dizer: "N ós nos apropriam os de tudo aquilo que nosso Deus tem para nós, da m esm a form a que nossos an tepassado se apropriaram desta terra pela fé!" C om m uita freqü ência, um culto de con­ sagração de um a igreja m arca o final e não o co m e ço do m inistério, enquanto a con­ gregação dá um suspiro de alívio e volta a sua rotina. C e rta ve z, V a n ce H avn er des­ creveu suas im pressões sobre um culto de co n sa g ra çã o no qual havia p reg ad o : " O povo da igreja acreditava que aquela nova construção era um a grande rocha, um mar­ co em sua vid a. Para m im , porém , pareceu m ais que era um a grande e esm agad ora pedra de m o in h o !" Se p e rd e rm o s n ossa perspectiva do futuro e pararm os de avan­ çar pela fé, aquilo que Deus realizou se tor­ nará, de fato, uma grande pedra de m oinho que fará sentir seu peso sobre nós e que nos esm agará. Porém , a parte mais im portante desse culto de consagração não foi a m archa ao redor dos muros, mas sim o louvor jubiloso do coro e do povo. "Por meio de Jesus, pois, o fereçam o s a D e u s, sem pre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confes­ sam o seu nom e" (H b 1 3 :1 5 ). "Louvarei com cânticos o nom e de D eus, exaltá-lo-ei com ações de graças. Será isso muito mais agra­ dável ao S e n h o r do que um boi ou um novi­ lho com chifres e unhas" (Sl 6 9 :3 0 , 31). O povo ofereceu seu louvor com grati­ dão (Ne 12:24, 27, 31, 38, 46), alegria (vv. 27, 43-44) e em alta vo z (vv. 42-43), acom pa­ nhado de vários instrum entos (vv. 27 , 35, 36). Não era ocasião para uma adoração si­ lenciosa e meditativa, mas sim o momento de rem over todas as barreiras e de louvar ao Senhor com grande entusiasm o. Esse culto especial de consagração teria sido um fracasso, se não fosse por um ho­ mem que havia m orrido mais de quinhentos anos antes: o rei Davi. Foi ele quem organizou 676 N E EM IA S 1 1 - 1 2 os sacerdotes e levitas (v. 2 4 ; 1 C r 24:7-19) 3. D e escreveu vários dos cânticos entoados pelo coral do templo (N e 1 2 :4 6 ). Além disso, o Deus (Ne 12:44-47) rei criou instrumentos m usicais para serem usados nos cultos (v. 36 ; 2 C r 2 9 :2 6 , 27). Davi serviu à própria geração fielm ente (At 1 3 :3 6 ), mas ao fazê-lo, tam bém serviu a to­ das as gerações subseqüentes! Na verdade, foi D avi quem tomou a cidade de Jerusalém dos jebuseus e fez dela a sua capital, a C id a­ de de Davi (2 Sm 5:6-10). Também foi Davi quem forneceu as plantas e grande parte dos recursos para a construção do tem plo (1 C r 28:11-1 9). "Aquele, porém , que faz a vonta­ de de Deus perm anece eternam ente" (1 Jo 2 :1 7 ). e v e m o s e n t r e c a r n o s s a s o f er t a s a O povo havia feito uma aliança com D eus, prom etendo sustentar o m inistério no tem­ plo (N e 10:32-39), e ele cum priu sua pro­ messa. Alguns dos levitas foram escolhidos para su pervision ar a coleta dos produtos e sua arm azenagem no tem plo. Não esque­ ça que esses d ízim o s e ofertas re p resen­ tavam o sustento dos que trabalhavam no te m p lo , p e rm itin d o q u e s e rv is s e m ao Senhor. Não foram apenas os "m úsicos profissio­ nais" que expressaram louvores a Deus, pois as mulheres e crianças tam bém participaram O povo levou seus dízim os e ofertas, não apenas em obediência a um m andam ento de D eus, mas tam bém porque "estava ale­ gre, porque os sacerdotes e levitas ministra­ vam ali" (1 2 :4 4 ). O s m inistros do tem plo tinham um com portam ento exem plar tanto em su a p u re z a p e sso a l q u a n to em sua dos cânticos (N e 12 :4 3 ). Tinham ouvido a Palavra de Deus na Porta das Águas (8:2) e, portanto, era mais do que apropriado que expressassem sua adoração, pois o aprendi­ zad o da Palavra e a ad o ração ao Senhor devem andar juntos (Cl 3 :1 2 ). Jam ais deve­ obediência à Palavra de Deus (vv. 30, 45). Realizavam os cultos não de acordo com as próprias idéias, mas em obediência às instru­ ções dadas por Davi e por Salom ão. Q u an ­ do os cristãos têm ministros piedosos que exaltam o Senhor e que obedecem à sua mos permitir que o ministério bem-sucedido dos líderes da m úsica e do louvor da igreja Palavra, dão seus dízim os e ofertas com ale­ gria, a fim de sustentar esse ministério. O s tome o lugar de nossa celebração espontâ­ nea da bondade do Senhor. D e outro modo, nos tornarem os expectadores em vez de par­ ticipantes e, com o exp ectad o res, perdere­ mos a m aior parte das bênçãos. O louvor do povo foi tam anho que "o jú b ilo de Jerusalém se ouviu até de longe" (N e 1 2 :4 3 ). Foi a terceira v e z , na história de Israel, que seus clam o res "foram o u vi­ dos até de longe". O s soldados bradaram quando a A rca da A lia n ça entrou em seu acam pam ento (1 Sm 4 :5 ), mas isso acabou levando seu exército a um a derrota vergo­ nhosa. No lançam ento dos alicerces para a reconstrução do tem plo, quase um século antes de N eem ias, os trabalhadores clam a­ ministros que não são consagrados a Deus e que buscam apenas a satisfação das pró­ prias am bições não m erecem ser sustenta­ dos pelo povo de Deus. O resultado desse culto jubiloso de co n­ sagração foi um suprim ento abundante de produtos para sustentar o trabalho dos servos do Senhor. O povo contribuiu "não com tris­ teza, ou por necessidade", mas com alegria ram de alegria. Esse júb ilo , porém , foi mis­ turado com tristeza (Ed 3:8-13). O clam or vin do de Jerusalém durante o culto de co n ­ sagração foi de mais puro júb ilo , para a gló­ ria do Senhor, e graças a esse registro na Palavra de D eus, esse clam or tem se feito ou vir ao red o r d o m undo! e gratidão (2 C o 9:7 ). O líder m issionário J. Hudson Taylor costum ava d ize r: "Q u an d o o trabalho de Deus é feito do jeito de Deus e para a glória de Deus, nunca faltará o sus­ tento de D eus". Se nossas ofertas materiais são entregues com a atitude correta, constituem , na verda­ de, sacrifícios espirituais ao Senhor. O após­ tolo Paulo cham ou as ofertas da igreja de Filipo de "arom a suave, com o sacrifício acei­ tável e ap razível a D eu s" (Fp 4 :1 8 ). Jesus aceitou o presente de M aria - um ungüento precio so - co m o um ato de ad o ração , e H ebreus 1 3 :1 6 nos lem bra de que fazer o N E EM IA S 1 1 - 1 2 bem e cooperar m utuam ente são sacrifícios que agradam ao Senhor. Porém , antes de levar nossas ofertas m a­ teriais ao Sen ho r, devem os entregar n o sso ser a eie. Paulo elogiou os cristãos das igre­ jas da M aced ô n ia, pois se entregaram "a si m esm os prim eiro ao Senhor" (2 C o 8 :5 ) an­ tes de p articip arem da o ferta m issionária que o apóstolo estava recolhendo para os 677 irm ãos em Cristo n ecessitados em Jerusa­ lém. Nossas ofertas não substituem nosso próprio ser. Foi um dia santo e exaltado em Jerusa­ lém, um dia de alegria, pois o trabalho havia sido com pletado, e D eus havia sido glorifi­ ca d o de m odo m a ravilh o so . A s b ê n ção s desse dia perduraram? Não. A seguir vere­ mos por quê. 12 C u m p r in d o N ossas P ro m essas N eem ia s 13 passou pouco tem po longe de Jerusalém , mas quando voltou, encontrou o povo co r­ rom pido pela sua transigência. A o com pararm os esse capítulo com o capítulo 10, vemos que o povo deixou de cum ­ prir várias prom essas que fizera ao Senhor. 1. A PROMESSA DE SEPARAÇÃO ( N e 1 3 :1 -9 ,2 3 -3 1 ) U m m isto d e gen te (vv. 1-3). D e acordo com o capítulo 10, versículo s 28 e 29 , o povo dispusera-se a ficar separado dos povos da O general W iliiam Booth, fundador do Exército da Salvação, disse certa vez a um grupo de novos oficiais: "M eu desejo é que v o c ê s, ra p a z e s, ten h am sem p re em m ente que faz parte da natureza do fogo se apagar. E preciso mantê-lo aceso atiçandoo, alimentando-o e lim pando as cinzas". Neem ias descobriu que o fogo da devo­ ção havia se apagado em Jerusalém . Seu primeiro mandato com o governador durou doze anos (N e 5 :1 4 ), depois dos quais ele voltou ao palácio a fim de dar seu relatório ao rei (1 3:6 ). E provável que tenha se ausen­ tado cerca de um ano, mas quando voltou a Jerusalém , descobriu que a situação se de­ terio rara d rasticam e n te, pois o povo não cum prira os votos que havia feito (cap. 10). M ais que depressa, N eem ias tom ou uma série de medidas decisivas a fim de mudar essa situação. Sem uma liderança espiritual, o povo de D eus tem a tendência de se desgarrar com o ovelhas. Um pastor bem -sucedido co m e n ­ tou com igo: "Em nosso trabalho, se não nos m antivéssem os alertas vinte e quatro horas por dia, sete dias por sem ana, o rebanho seria in vad id o e não tard aria a se d e sin ­ teg rar". M o isés passou ap enas um breve período afastado.dos israelitas, e eles se tor­ naram idólatras (Êx 32). Paulo fundava uma igreja e a deixava nas mãos dos presbíteros, só para descobrir que os problem as haviam com eçado logo depois de sua partida. En­ tão, o apóstolo lhes escrevia uma carta ou fazia uma visita para colocar as coisas em ordem (não é de se admirar que Paulo te­ nha exortado os líderes da igreja de Éfeso co m o o fe z em A t 2 0 :2 8 - 3 2 !). N e e m ias terra e unido a seus com patriotas judeus para o b e d e ce r à lei e andar nos cam inh o s do Senhor. Porém , ao que parece, ou essa se­ paração não foi com pleta, ou algumas pes­ soas do povo form aram novas alianças, pois descobriram que havia am onitas e moabitas em sua congregação, uma situação contrá­ ria à lei de M oisés (D t 2 3 :3 , 4). A m om e M oabe nasceram da união in­ cestuo sa de Ló com suas duas filhas (G n 19:30-38), e seus descendentes eram inimi­ gos declarados dos judeus. D e algum modo, esse "misto de gente" havia infiltrado o povo de Israel apesar de purificaçõ es anteriores (9 :2 ; 1 0 :2 8 ). Foi o "misto de gente" que cau­ sou tantos problem as a M oisés (Êx 1 2 :3 8 ; Nm 11:4-6) e que continua causando pro­ blemas à igreja nos dias de hoje. O "misto de gente" é constituído de pessoas não sal­ vas que desejam fazer parte da com unhão do povo de Deus sem crer no Senhor nem se sujeitar à sua vontade. Desejam as bên­ çãos, mas não as obrigações, e ainda anseiam pelas coisas do mundo. Balaão era um profeta m ercenário que tentou am ald iço ar Israel, mas a cad a v e z que falava, sua m aldição transformava-se em bênção (Nm 22 - 24 ). Por fim, tramou uma form a de derrotar Israel: incentivou os m oa­ bitas a ser "sociáveis" e a convidar os israe­ litas a participar de um dos seus banquetes religiosos, que envolviam im oralidade e ido­ latria (Nm 25). Balaão sabia que a natureza hum ana reagiria diante da oportunidade de pecar e que os israelitas desobedeceriam a D eus. C o m o conseqüência de seu pecado, Israel foi discip linad o por D e u s, e 24 mil pessoas morreram. N E E M I A S 13 O misto de gente nas igrejas de hoje nos cham a a seguir a filosofia de Balaão e a fa­ zer o que o mundo deseja. Alguém me co n­ tou sobre um pastor de jo vens d edicado , cujo m inistério levava muitos adolescentes a Cristo, fortalecendo-os na fé. Esse pastor não atraía os jo vens com entretenim ento; sim plesm ente ensinava a Palavra, colocava os adolescentes para testem unhar e se en­ contrava com eles regularm ente para orar. A igreja estava sendo grandem ente ajudada por esse grupo de adolescentes devotados. M as o inimigo trabalhou, e o conselho da igreja cham ou o jovem pastor e lhe per­ guntou: "Q u ais são seus planos para minis­ trar aos jovens ainda não-salvos, mas que já freqüentam a igreja?" Ele respondeu que não tinha um progra­ ma especial, mas q u e esse s jo vens seriam bem recebidos nos estudos bíblicos, reuniões de o ração e cam panhas evangelísticas. O co nselh o da igreja dem itiu esse pastor, p o r­ que ele não estava d esenvolvend o programas esp e cífico s para os jo ven s não-cristãos que freqüentavam a igreja! Durante meu m inistério com programas de rádio, o gerente de uma em issora cristã me telefonou para reclam ar de minhas men­ sagens sobre Ló e o estilo de vida mundano de pessoas que se dizem cristãs. Na opinião dele, eu havia sido duro dem ais. "Se conti­ nuar nessa linha", disse ele, "vam os tirar seu programa do ar!" O lem a do m inistério M o cid ad e para Cristo ainda é válido: "Ligados ao nosso tem­ po, mas ancorados à Rocha". Se entender­ mos nosso tempo (1 C r 1 2 :3 2 ), poderem os nos relacionar com as pessoas mais facilm en­ te e aplicar a Palavra com m aior aptidão, mas não devem os imitar o m undo a fim de teste­ m unhar a ele. Anos atrás, O sw ald Cham bers e s c re v e u : " H o je , o m undo tom ou tantas coisas da igreja e a igreja tomou tantas coi­ sas do m u n d o q u e é d ifíc il sa b e r o n d e estam os" (The Servant as His Lord [O Servo com o Seu Senhor], p. 17). Nas palavras de V an ce H avner: "H o je, o mundo encontra-se tão infiltrado na igreja que nos vem os cerca­ dos mais de traidores de dentro do que de inimigos de fora. Satanás não está lutando 679 co n tra as igrejas — ele está juntando-se a elas". U m in tru so in im ig o (vv. 4-9). Não ape­ nas alguns jud eus haviam se casado com a m o n ita s e m o a b ita s , m as ta m b é m um am onita estava m orando dentro d o tem plo ju d e u ! Eliasibe, o sum o sacerdote (1 3 :2 8 ), h a v ia c e d id o um a c â m a ra do te m p lo a Tobias, o am onita (4 :3 ). Eliasibe é a prim eira pessoa citada na lista de trabalhadores (3:1) e, no entanto, havia se tornado um traidor. Isso porque um de seus parentes era casa­ do com a filh a de S am b a late (1 3 :2 8 ), e Sambalate e Tobias eram amigos. Todos eles faziam parte de uma facção secreta em Je­ rusalém que m antinha relações am igáveis com o inimigo (6:17-19). Só porque uma família é ativa na igreja há m uito tem p o e ajudou a edificá-la, não significa que todas as suas gerações serão espirituais ou que perm anecerão espirituais. Filhos e netos podem afastar-se da fé e tentar enganar os outros usando o testemunho de seus antecessores; da m esma forma, pais e mães podem deixar a fé só para agradar seus filhos. O parente de Eliasibe havia tido o pri­ vilégio de nascer numa família sacerdotal, mas jogou fora seu futuro ministério ao casar-se com a mulher errada (Lv 2 1 :1 4 ; Dt 23:3) e, ao que parece, Eliasibe aprovou essa atitude. Tudo isso aconteceu enquanto Neem ias estava fora, visitando o palácio, o que indi­ ca que as pessoas nom eadas para assumir a liderança em sua ausência não haviam sido muito bem-sucedidas em sua incum bência. O inim igo não tarda em subjugar a liderança e, com freqüência , o p o v o segue seus líderes cegam ente p e lo cam inho da transigência e da d esobediên cia. Já era problem ático o suficiente que um am onita morasse no tem plo com a perm is­ são do sumo sacerdote judeu. Pior ainda era esse intruso ocupar uma câm ara que havia sido consagrada a Deus para arm azenar as ofertas usadas pelos levitas. Esse hom em estava profanando o tem plo com sua pre­ sença e, ao m esm o tem po, roubando dos servos de Deus. Neem ias não perdeu tem­ po e despejou tanto o hom em quanto sua m obília, reconsagrando aquela câm ara ao 680 N EEM IA S 1 3 Senhor e usando-a novam ente para seu de­ vido fim. Assim com o Jesus, N eem ias preci­ sou purificar o tem plo e, ao que parece, teve de fazer isso sozinho. Por certo, não se trata de um a tarefa sim ­ ples. Um pastor novo pode desco brir que líderes da igreja ou pessoas ativas em seus ministérios não são espirituais, mas que difi­ cilm ente podem ser rem ovidas de seus car­ gos. O que fazer? Sabe que esses líderes têm parentes na igreja que, assim com o Eliasibe, irão cooperar com a fam ília em vez de de­ fender a fé. O pastor deve tentar "lim par a casa" - o que, possivelm ente, levará a uma divisão dentro da igreja? O u deve esperar, pregando a Palavra em am or e pedindo a D eus que opere nessa situação? A s duas abordagens requerem coragem e fé da par­ te desse pastor, pois, a seu tem po, a bênção do Senhor na Palavra acabará por suscitar a oposição do "misto de gente". C asam en tos m isto s (vv. 23-31). "N ão da­ remos nossas filhas com o esposas ao povo da terra, nem tom arem os as filhas deles para nossos filhos!" Essa foi a prom essa que os judeus fizeram ao Senhor (ver 1 0 :3 0 ), a qual não cum priram . N eem ias viu m ulheres de Asdode (ver 4 :7 ), Am om e M oabe casadas com hom ens judeus e ouviu os filhos des­ ses casais falando em línguas estrangeiras (é mais provável uma criança aprender a falar a língua da mãe - a pessoa com a qual fica mais tempo - do que a do pai, que, norm al­ mente, passa mais tem po fora de casa traba­ lhando). Se essas crianças não aprendessem a língua de Israel, com o poderiam ler a lei ou participar dos cultos? Se um a geração perdesse a fé, qual seria o futuro de Israel com o nação? O povo de D eus e o povo do mundo podem ser Identificados por seu discurso. "Eles procedem do m undo; por essa razão, falam da parte do m undo, e o m undo os ouve. Nós somos de D eus; aquele que co ­ nhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reco­ nhecem os o espírito da verdade e o espírito do erro" (1 Jo 4 :5 , 6). Enquanto estava m inistrando num co n ­ gresso bíblico de férias, jantei uma noite na casa da filha de um m úsico cristão fam oso e do marido dela. O s dois não tinham proble­ ma algum em falar sobre o pai dela, que já havia falecido, ou sobre m úsica, mas quan­ do o assunto foi a Palavra de D eus, os dois se calaram . Pergunto-me se conheciam mes­ mo o Senhor, se tinham um relacionam ento pessoal com ele. Poderiam falar sobre as coisas do m undo com naturalidade, mas não conheciam a "linguagem de Sião". N eem ias com eçou a tratar do problem a expressando seu horror ao ver algo assim ocorrendo em Israel (N e 1 3 :2 5 ). N um a situa­ ção sem elhante, Esdras havia arrancado os próprios ca b elo s e a barba (Ed 9 :3 ), mas N eem ias puxou alguns dos transgressores pelos cabelos! Esdras havia anulado os casa­ m entos mistos (Ed 10), mas Neem ias atevese a repreender os transgressores e fez o povo prom eter que não p ro ce d e ria mais dessa m aneira. Neem ias tam bém fez um serm ão, lem­ brando o povo de que a ruína de Salom ão, um dos m aiores reis de Israel, havia sido provocada por seus casam entos com mu­ lheres estrangeiras (N e 1 3 :2 6 ; 1 Rs 11:4-8). No caso de Salom ão, seus casam entos mis­ tos representavam uma am eaça ao trono e ao reino; no tempo de Neem ias, esses casa­ m entos eram um a a m e a ç a até ao sa ce r­ dócio. A lei de M oisés era clara, mas tanto sacerdotes com o gente com um do povo de­ sobedeceram deliberadam ente. Em seguida, N eem ias purificou os sacerdotes e se certi­ ficou de que só houvesse ministros qualifi­ cados servindo no templo (N e 1 3 :3 0 ). No entanto, o problem a com os sacerdotes não foi com pletam ente resolvido, pois o profeta M alaquias teve de tratar da desobediência dos sacerdotes em sua ép oca (M l 1 — 2). C om o é im portante m anter uma posição firm e de separação do pecado e "perm ane­ cer inabaláveis" (Ef 6:13)! 2. A PROMESSA DE SUSTENTO ( N e 13:10-14) "N ã o d e sa m p araría m o s a ca sa do nosso D eus", essa foi a última declaração dos ju ­ deus em sua a lia n ça co m o S en h o r (N e 1 0 :3 9 ). Isso significava pagar o tributo do N E E M I A S 13 tem plo, fornecer a lenha para o altar e levar aos sacerdotes e levitas os dízim os e ofertas determ inados pela lei (vv. 32-39). Sem o sus­ tento fiel do povo, o m inistério do templo definharia, e os levitas se espalhariam pelas vilas, onde poderiam cultivar a terra e garan­ tir sua sobrevivência (1 3 :1 0 ). Q u an d o Neem ias voltou à cidade, des­ cobriu que o povo não havia cum prido suas prom essas. (Isso ajuda a exp licar por que uma das câm aras usadas para a arm azena­ gem das ofertas havia sido co locada à dis­ posição de Tobias.) O s sacerdotes e levitas não tinham sustento e estavam abandonan­ do o trabalho a fim de sobreviver. O povo ignorou a advertência de M oisés: "Guardate, não desam pares o levita todos os teus dias na terra" (D t 12:19) e "não desampararás o levita que está dentro da tua cidade, pois não tem parte nem herança contigo" (1 4 :2 7 ; 18:1-8). N eem ias "contendeu" com eles, o que significa que repreendeu os líderes por que­ brarem sua promessa e desobedecerem à lei. Antes de terminar sua vistoria da cidade, tam­ bém re p ree n d eu os no bres de Jud á (N e 13:17) e os homens casados com mulheres estra n g e ira s (v. 2 5 ). A p e s a r de o term o hebraico poder se referir a uma discussão ou mesmo a uma luta física, também tem o sen­ tido judicial de "pleitear um caso". Um a vez que Neem ias apresentou o pleito de Deus e o defendeu com base na lei, só restava aos transgressores admitir que ele estava certo. O s oficiais do tem plo encarregados das ofertas haviam abandonado seus postos, pois nada estava entrando nem saindo dos depó­ sitos, de modo que N eem ias os "[restituiu] a seus postos" (v. 11). Em seguida, provi­ denciou para que o povo levasse a Deus as ofertas que lhe pertenciam por direito (Ml 3:7-12). Nom eou quatro hom ens para super­ visionar o tesouro e distribuir os dízim os e as ofertas. O b serve que esses hom ens eram re p re s e n ta n te s d o s s a c e rd o te s , le v ita s , escribas e leigos; porém , todos eles tinham uma coisa em com um : eram fiéis ao Senhor. "O ra , além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encon­ trado fiel" (1 C o 4 :2 ). 681 Q uand o o povo de Deus co m eça a en­ trar em d ecad ência espiritual, uma das pri­ meiras áreas em que se torna evidente é em suas contribuições. "Porque, onde está o teu tesouro, aí estará tam bém o teu co ração " (M t 6 :2 1 ). O cristão fe liz no Senhor, que cam inha dentro da vontade de D eus, tem um coração generoso e deseja partilhar seus recursos com outros. D ar é tanto o "term os­ tato" quanto o "term ôm etro" da vida cristã: m ede nossa "tem peratura" espiritual e tam­ bém nos ajuda a colocá-la no nível correto. N eem ias 1 3 :1 4 registra a prim eira ora­ ção desde 6 :1 4 , sendo esta a sétima "ora­ ção instantânea" de N eem ias em seu livro. M ais três orações desse tipo aparecem em 13:22, 29 e 31. N eem ias tinha o hábito de conversar com D eus enquanto o servia, um bom exem plo a ser seguido. Lembrou Deus de sua fidelidade e orou pedindo que suas obras não fossem apagadas. N eem ias não estava su p licand o b ênção s com base em mérito pessoal, pois sabia que as bênçãos de D eus são concedidas exclusivam ente em função da m isericórdia de D eus (v. 22). Essa oração é sem elhante àquela registrada em 5:1 9 , na qual Neem ias sim plesm ente pede que D eus se lem bre dele e daquilo que fez. Seu desejo era receb er a reco m p ensa de Deus e não dos homens. Alguém perguntou a Phillips Brooks, bis­ po episcopal norte-am ericano, o que ele fa­ ria para ressuscitar uma igreja morta, ao que ele respondeu: "Levantaria um a oferta mis­ sionária". Dar aos outros é um dos segredos para m anter a vivacidade e o vigor na vida cristã . Se nos atem o s ap e n as a re ce b e r, tornamo-nos com o reservatórios, e a água pode tornar-se podre e contam inada. Porém, se recebem os e dam os, tornamo-nos com o canais e, ao ab en ço ar a outros, ab en ço a­ mos a nós m esmos. Nas palavras do psiquia­ tra norte-am ericano, Dr. Karl M enninger: "A oferta de dinheiro é um bom critério para avaliar a saúde mental de um a pessoa. Pes­ soas generosas raramente sofrem de doen­ ças m e n tais". C o m o alguém escreveu na revista M o d ern M atu rity: " O m undo é populado por dois tipos de pessoas: aquelas que dão e aquelas que receb em . A s que 682 N E E M I A S 13 recebem com em bem, mas as que dão dor­ filhos sofrerem pelos pecados dos pais. O mem bem ". que estou sugerindo é que ninguém é capaz de roubar de D eus e ainda sair no lucro. Se nossas p rio rid a d e s tornam -se co n fu sas e 3. A PROMESSA D O SÁBADO ( N e 13:15-22) Q uand o assinaram a aliança, meteram não negociar com sábado (1 0 :3 1 ), mas Neem ias não só o povo negociava no os judeus pro­ os gentios no descobriu que sábado, com o tam bém realizava suas tarefas diárias e carre­ gava fardos d esnecessários. O s com erciantes judeus não queriam perder a oportunidade de ganhar dinheiro com os gentios, e os gen­ tios não hesitavam em lucrar com os v iz i­ nhos judeus. O filho de Deus deve escolher a riqueza espiritual, não a riqueza material, aproprian­ do-se da prom essa de M ateus 6 :3 3 : "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acres­ centadas". A pessoa que escreveu o Salmo 119 deixou claro que escolheu a Palavra de D eus em lugar do dinheiro (vv. 14, 72, 127, 1 6 2 ). O rei Saul tom ou a d e cisão errada (1 Sm 15), com o tam bém o fizeram A cã (Js 7) e D em as (2 Tm 4 :1 0 ). C erta vez, um casal jovem com um garotinho com eçou a freqüentar um a das igrejas que pastoreei. D epois de um tem po, perce­ bi que só a mãe e o filho estavam indo aos cultos, de modo que fui visitar essa fam ília para saber o que havia acontecido com o pai. D escobri que ele havia conseguido mais um em prego e que estava trabalhando nos finais de sem ana a fim de ju n tar dinheiro para com prar um a casa m elhor. A esposa me confidenciou que, na verdade, não pre­ cisavam daquele dinheiro nem de um a casa nova, mas que aquilo era idéia do marido, e ela não havia conseguido demovê-lo. O mais triste é que aq u ele dinheiro extra não foi usado para um a casa nova, mas sim para co b rir despesas com m édicos e hospitais. O garotinho adquiriu um a d o en ça rara, que exigiu rem édios e cuidados esp eciais, e a renda ad icional do pai ajudou a pagar es­ sas contas. Não estou insinuando que toda família com uma criança doente esteja sendo infiel em sua m ordom ia, nem que Deus faça os com eçam os a co locar o dinheiro antes de D eus, é de se esperar que não conquiste­ mos vitórias. N eem ias deu três passos com o objeti­ vo de m udar a situação. Em prim eiro lugar, repreendeu os ju d eu s que trabalhavam e vendiam no sábado, obrigando-os a parar (Nm 1 3 :1 5 ). Em seguida, repreendeu os no­ bres por perm itirem que se negociasse nos sábad os, lem brando-os de que a transgres­ são n a cio n a l do sáb ad o h avia sido um a das causas do cativeiro (vv. 16-18; Jr 17:212 7 ). Por acaso , desejavam que so brevies­ sem ao povo outras m anifestaçõ es da ira de Deus? Seu te rce iro passo foi extre m am e n te prático : ordenou que as portas da cidade fossem fechadas aos sábados. O s guardas haviam se m ostrado dispostos a abrir as por­ tas para os com erciantes gentios, possivel­ mente porque estes lhes pagavam subornos, de m odo que N eem ias colocou os próprios servos para guardar as portas. Além disso, ordenou que os levitas dessem bom exem ­ plo no sábado e m inistrassem ao povo. O dia do Senhor, o prim eiro dia da se­ m ana, não é um "sábad o cristão ", pois o sábado é o sétimo dia da sem ana e d iz res­ peito especificam ente aos judeus. Assim , as leis do Antigo Testam ento que governam o sábado judeu não se aplicam ao dia do Se­ nhor. Porém , o domingo é um dia especial para o povo de Deus, pois com em ora a res­ surreição de Cristo dentre os mortos, bem com o a vinda do Espírito Santo em Pentecostes. Devem os usar o dia do Senhor para a glória do Senhor. C ad a vez mais, especialm ente nas cida­ des m aiores, o dom ingo tornou-se um dia de fazer com pras, de praticar esportes e de fazer os serviços da casa. O s estacionam en­ tos dos sh opp ing centers ficam tão lotados nas tardes de domingo quanto nos sábados. C erta vez, entrevistei o adm inistrador de um sh o p p in g e lhe perguntei co m o se sentia sobre abrir aos domingos. N E E M I A S 13 — O s funcionários e eu preferíam os ficar em casa — respondeu —, mas em termos co­ merciais é um ótim o dia, especialm ente para as pessoas que passam aqui depois da igre­ ja, antes de voltar para casa. 683 Em nossa família, m inha esposa e eu ten­ tamos seguir o princípio simples de não fa­ ze r aos domingos aquilo que pode ser feito qualquer outro dia da sem ana, coisas com o cortar a grama, lavar o carro, ir às com pras e assim por diante. Nosso lar não se transfor­ mou num a prisão, mas tam bém não virou um circo, e nossos filhos não parecem ter estou bem certo se concordo com ele, mas sei que muitos cristãos acabaram com sua alegria e com seu poder espiritual ao trans­ form arem o domingo num dia com o outro qualquer, d eixand o de co lo c a r C risto em primeiro lugar em sua semana. N e em ias term inou com duas o raçõ es (N e 1 3 :2 9 , 31) pedindo que Deus se lem ­ brasse dele por seu serviço fiel. Sua consciên­ cia estava limpa, pois sabia que havia feito tudo para o bem do povo e para a glória de D eus. Era bem provável que, apesar de todo seu sacrifício, não haveria muito reconheci­ sofrido com isso. Acredita-se que foi o agnóstico francês V o lta ire quem d isse : "S e q u ise r m atar o cristianism o, acabe com o dom ingo". Não mento da parte do povo, mas ele sabia que D eus lhe daria sua devida recom pensa. Q u e nossos sucessores nos considerem fiéis! 13 V A P r o c u r a de L íderes N e e m ia s , o l íd e r urante a revolução francesa, viu-se um ho m em co rre n d o pela rua atrás de um a m ultidão, apressando-se em direção ao perigo. — Pare! Pare! — alguém gritou para ele. — Não siga essa gente! O hom em não parou de correr, mas gri­ tou de volta: — Eu tenh o de segui-los! Sou o líder deles! D N eem ias certa m en te não foi esse tipo de líder. Não teve medo do perigo; antes, foi sábio em seus planos e cauteloso em suas decisões. A Igreja de hoje precisa de líderes com o Neem ias. Tem os um bocado de entu­ lho para rem over e trabalho de reconstru­ ção para fazer até que o mundo creia que nosso D eus é real e que nossa mensagem é digna de crédito. Q u ais as características desse hom em que devem os imitar? Permita-me relacionar d o ze qualidades que fizeram de N eem ias um líder bem-sucedido. A o ler, procure pen­ sar em passagens do Livro de Neem ias que ilustram essas qualidades. 1. S a b ia q u e e r a c h a m a d o p o r D e u s Q u an d o tudo mais falhar, o ch a m a d o d e Deus dará a você força e determ inação para realizar seu trabalho. A prin cíp io , M o isés resistiu ao cham ado que recebeu de Deus, mas por fim percebeu que esse cham ado era sua m aior garantia de sucesso (Fp 1:6; 1 Ts 5 :2 4 ). A certeza do cham ado de Deus foi o segredo da perseverança de Jerem ias quando tudo a seu redor estava se desinte­ grando e seu próprio povo ficou contra ele. O obreiro que não tem um cham ado divino para a obra que realiza é com o uma casa sem a lic e rc e s ou um n avio sem ân co ra , despreparado para as tem pestades da vida. Neem ias com eçou sentindo um peso por Jerusalém em seu co ração, mas esse peso não foi seu cham ado. Chorou pelo triste es­ tado da cidade (N e 1 :4), mas suas lágrimas não foram seu cham ado. Então, enquanto orava pedindo o auxílio de D eus, recebeu um cham ado para deixar seu cargo relativa­ m ente confortável e ir a Jerusalém recons­ truir os muros da cidade. Pelo fato de saber que D eu s o havia ch am ad o , N eem ias foi capaz de abordar o rei e de obter sua ajuda; tam bém conseguiu a ajuda dos judeus em Jerusalém . Antes de se mudar rapidam ente para um local de ministério, certifique-se de que Deus o cham ou e o equipou para a tarefa. Você pode achar-se incapaz de fazê-la, e outros podem ter suas dúvidas; mas se Deus o cha­ mou, não tem de que tem er: ele percebe suas intenções. 2. D e p e n d ia d a o r a ç ã o O Livro de N eem ias co m e ça e term ina com um a o ração . Entre um a co isa e outra, em várias ocasiões, Neem ias faz orações rápidas pedindo a ajuda de D eus. N eem ias era o governador real da província, investido de toda a autoridade e riq ueza do rei ao qual s e rv ia ; no en ta n to , d e p e n d e u e x c lu s iv a ­ m ente da ajuda de D eus para co n clu ir seu trabalho. O obreiro cristão que consegue passar tranqüilam ente sem o ração não faz muita coisa para Deus e, sem dúvida, não am eaça o inimigo de m odo significativo. Nas pala­ vras de M artinho Lutero: "Ser um cristão sem oração é tão possível quanto estar vivo sem respirar". N eem ias viu-se diante de uma tarefa gi­ gantesca, grande dem ais para ele, mas não para D eus. "N ão ore pedindo tarefas à altu­ ra de suas forças", disse Phillips Brooks. "O re pedindo forças à altura de suas tarefas." Um a característica dos verdadeiros líderes espiri­ tuais é o reco n hecim en to honesto de sua inad eq uação e sua co n fia n ça hum ilde no poder de Deus. N EEM IA S Este livro registra as o raçõ es rápidas e espontâneas de N eem ias, mas por trás de­ las, havia toda um a história de oração, com o vem os no capítulo 1. Sem dúvida, ele teve um a vida de oração disciplinada, pois nos­ sas "o raçõ e s instan tâneas" não adiantam muito se nosso coração não estiver sintoni­ zado com D eus. A m aioria dos cristãos não tem idéia das horas que os líderes devem passar orando a fim de fazer seu trabalho. "O re por grandes coisas", disse o evangelista R. A . Torrey, "espere grandes coisas, trabalhe por grandes coisas, mas, acim a de tudo, ore". N eem ias por certo seguiu esse conselho. 3. E ra um h o m em de v is ã o e v ia a G RAN D EZA D O TRABALHO A liderança envolve visão, revisão e supervi­ são; mas a m aior dessas três é a visão. O s líderes devem ver o que ninguém mais en­ xergou e, assim , desafiar outros a segui-lo até que tam bém tenham essa visão. Neem ias testem unhou: "Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer" (6:3) e em m om ento algum perdeu essa visão. H á uma velha história que m erece ser re p etid a. U m hom em estava o b servan d o outros trabalharem num a construção e co ­ m eçou a interrogá-los. — O que vo cês estão fazendo? — per­ guntou ele. Um dos construtores respondeu: — Estou fazendo meu pé de meia, re­ cebendo dez dólares por dia. — Estou assentando pedras nesta cons­ trução — outro lhe disse. M as o terceiro construtor respondeu: — Estou construindo uma catedral! — a resposta de um hom em de visão. Não im porta o cham ado que recebeu de D eus: é um a grande obra, pois faz parte da edificação da Igreja de Cristo, e essa é a m aior obra do m undo. C o stu m o d ize r às pessoas que "não existem igrejas pequenas nem g ran d es p re g a d o re s ". N o re in o de D e u s, todo trabalho é im portante e todo servo é insignificante sem a fé no Senhor. Se perder a grandeza de sua visão, co­ m eçará a buscar atalhos em seu trabalho, d eixará de fazer sacrifícios e logo estará à 685 procura de outra coisa que o desafie. N ee­ mias percebeu que o trabalho que realizava ia muito além de reparar portas e de recons­ truir muros. O lhou para o Senhor Deus do céu e viu que estava preparando a cidade santa para o M essias vindouro! 4 . SUJEITAVA-SE A AUTORIDADE O cham ado de D eus não é um convite para o líder tornar-se independente e ignorar a autoridade. N eem ias respeitou o rei e, an­ tes de partir para Jerusalém , apresentou seus planos a fim de que o rei os aprovasse. Re­ co n h e c e u aq u ilo que Paulo escreveu em Rom anos 13, que os poderes vigentes fo­ ram ordenados por Deus para o nosso bem e que devem os nos sujeitar a eles. A cim a de tudo, porém , N eem ias sujei­ tou-se à a u to rid ad e da P alavra de D e u s. Co nvidou Esdras a ensinar a lei aos judeus, a fim de que tam bém obedecessem à von­ tade de D eus. U m a regra fundam ental da vida é que aqueles que exercem autoridade devem estar tam bém sujeitos á autoridade. Neem ias era um hom em confiável, pois pres­ tava contas. Nos últimos anos, temos visto as tristes conseqüências da recusa de líde­ res religiosos em sujeitar-se à autoridade e em prestar contas. Q u an d o lem os o Livro de N eem ias, vem os um hom em cujo traba­ lho prosperou, pois ele se sujeitou a D eus, à Palavra e ao rei. 5 . E r a o r g a n i z a d o em se u t r a b a l h o Em vez de lançar-se im petuosam ente à rea­ lização de sua tarefa, Neem ias realizou, em segredo, um levantam ento da situação e se colocou a par dos fatos. Falou com os líde­ res judeus em particular e lhes contou seu plano. N ão fez en trevistas co letivas nem "discursos de encorajam ento". Foi, sim ples­ m ente, um hom em disposto a esperar pela orientação de Deus e a agir assim que o ca­ minho estivesse preparado. Depois de realizar seu planejamento, es­ colheu seus cooperadores e procurou pas­ sar-lhes a m esma visão daquela tarefa que ele próprio havia recebido de Deus. Tinha uma incum bência e um lugar para cada pessoa. D em onstrou reconhecim ento e incentivou 686 N E EM IA S seus trabalhadores nos m om entos d e dificul­ Cristo voltar e cham ar seus servos para jun­ dade. Fez com que se sentissem seguros mesm o num a situação perigosa. O rg an izo u corretam ente suas priorida­ des: depois que os muros haviam sido term i­ nados, realizou um "culto de reavivam ento" para o povo e consagrou os m uros publi­ cam ente. Planejou seu trabalho, trabalhou dentro do plano e foi abençoado por Deus. to de si. Será m aravilhoso ter m orrido em seu posto de trabalho, não ter se desviado em busca de riquezas, não ter fugido de Dã 6 . E ra c a p a z d e d i s c e r n i r a s t á t ic a s d o in im ig o Todo m inistério cristão precisa de um "de­ partam ento de inteligência" que fica de olho no inimigo e que reconhece quando ele está operando. Neem ias não foi enganado pelas ofertas do inimigo nem se deixou intimidar com suas am eaças. C o m o Paulo, podia di­ zer sobre Satanás: "N ão lhe ignoram os os desígnios" (2 C o 2 :1 1 ). Em nosso estu do , o b se rv a m o s vário s artifícios que o inimigo usa para tentar in­ terrom per nosso trabalho, e todo bom líder buscará com preendê-los. O s líderes devem ser capazes de ver o inimigo antes de qual­ quer outra pessoa e de estar prontos a con­ frontá-lo de modo rápido e eficiente. Devem reconhecer quando Satanás se manifesta na form a de um leão devorador e quando apare­ ce na form a de uma serpente enganadora. ou Berseba a fim de conseguir um salário melhor, mas sim ter ficado onde o Senhor ordenou que cuidasse de sua fortaleza" (An A li R o u n d M in istry [U m M inistério A b ran ­ gente], p. 197). "D ig no é o trabalhador do seu salário" (Lc 10:7), portanto, façam os todo o possível para ser esforçados, não indolentes. O ser­ viço do Senhor não tem lugar para os pre­ guiçosos que dão palpites enquanto ficam só olhando os outros trabalharem. 8. V iv ia d e m o d o exem pla r Q u e r estivesse trabalhando nos muros, quer oferecendo refeições a centenas de co nvi­ dados, a vida de Neem ias era irrepreensível. D edicou todo seu tempo ao trabalho e não se permitiu ser distraído. Recusou o susten­ to financeiro que lhe era de direito e, em vez disso, usou o próprio dinheiro para aju­ dar a outros. Identificou-se com o povo e ficou om bro a om bro com as pessoas, en­ quanto edificavam os muros. O inimigo teria se alegrado em desco­ brir algo na vida de N eem ias que pudesse envergonhá-lo e atrapalhar o trabalho, mas balhou com afinco. C om o disse C harles Spurgeon aos alu­ nos de seu sem inário teológico em Londres: "N ão tem am o trabalho árduo que é feito para C risto; um julgam ento terrível espera não havia o que descobrir. Não que Neem ias fosse perfeito, pois essa é um a distinção que só cabe a Jesus Cristo, mas, ainda assim, sua vida foi irrepreensível. Paulo nos exortou a ser irrepreensíveis e inofensivos, "filhos de Deus inculpáveis no meio de um a geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis com o luzeiros no m undo" (Fp 2 :1 5 ). A pri­ m eira qualificação de um pastor (presbítero, bispo) é que seja "irrepreensível" (1 Tm 3 :2 ; Tt 1:6). Não existe substituto para a integridade e para a co n sciência limpa que a acom pa­ nha. Poderem os enfrentar qualquer inimigo, o uvir qualquer acusação ou confrontar qual­ aqueles que levam um a vida fácil no minis­ tério, mas uma grande recom pensa está re­ servad a para aqueles que suportam todas as coisas por am or aos eleitos. Vocês não se arrep e n d erão de sua p o b re za quando quer mal-entendido se tiverm os integridade e co nsciên cia limpa. Não temos o que es­ conder nem o que temer. A s com plicações surgem quando as pessoas co m eçam a le­ var vida dupla, pois ninguém pode servir a 7. T r a b a l h a v a c o m a f in c o Parece um a d e claração trivial, mas não é, pois um dos segredos do sucesso de N ee­ mias foi sua disposição de se sacrificar e de trabalhar com grande em penho. Se tivesse ficado no palácio, servindo o rei da Pérsia, teria desfrutado um a vida muito mais fácil; mas uma vez que estava em Jerusalém , pôs m ãos à obra, persistiu em seu trabalho e tra­ 687 N EEM IA S dois senhores. A hipocrisia leva a mais dissi­ m ulação, até que os enganadores caiam nas próprias arm adilhas. Sir W alter Scott estava coisa boa qu e D eu s não faça p e lo obreiro qu e serve com hum ildade e que lhe dá toda a glória. certo quando disse: 1 0 . E le Oh! que teias emaranhadas tecemos, Quando pela primeira vez a arte de en­ ganar praticamos. 9 . P rocurava a D g l o r if ic a r s o m e n t e eu s Se N eem ias estivesse interessado apenas em se prom over, teria ficado no palácio, pois era respeitado com o copeiro do rei e tinha um a vida confortável. O u , ainda, depois de chegar a Jerusalém com o governador oficial, teria usado sua autoridade para facilitar as coisas para si m esm o. Poderia ter em prega­ do sua influência para evitar um bocado de sacrifício e trabalho pesado. M as não foi o que fez. Antes, chegou com o servo , identificou-se com o povo e envolveu-se inteiramente em suas provações, pressões e perigos. Nesse sentido foi, sem dúvida, com o Jesus Cristo (Fp 2:1-11). O coração de N eem ias estava pesado, pois a cidade de Jerusalém não glorificava mais a Deus e era opróbrio para o Senhor. Sua preocupação era que o povo que vivia em Jerusalém havia se transform ado em ob­ jeto de escárnio de seus vizin ho s gentios. D e cid iu , então, rem over o opróbrio e dar aos judeus e a Jerusalém motivos para glori­ ficar a Deus. Deus foi glorificado na reconstrução dos muros e na restauração das portas. Tam bém foi glorificado no m odo de N eem ias e de seu povo confrontarem e derrotarem o ini­ m igo e , a in d a , em su a d e p e n d ê n c ia do Senhor. O grande culto de consagração en­ grandeceu o nom e do Senhor. Do com eço ao fim , essa em preitada trouxe glória para o Senhor. Infelizm ente, parece-me que a igreja de hoje sofre de excesso de celebridades e de falta de servos. O s louvores com freqüência vão para os obreiros, não para o Senhor. Especialm ente em alguns congressos religio­ sos, dá-se tanto crédito aos hom ens que o Senhor é deixado de fora. N ão há qualquer er a c o r a jo s o Não existe lugar para a tim idez na lideran­ ça. D epois de descobrir o que D eus deseja de nós, devem os avançar com coragem e cum prir nossa tarefa. Dévem os estar dispos­ tos a correr riscos e, por vezes, a com eter alguns erros. Devem os ser capazes de acei­ tar críticas, de enfrentar mal-entendidos e até d ifa m a ç ã o sem de sistir. N as p a lavras de H arry Trum an: "Se não consegue suportar o calor, fique longe do fogo!" N eem ias teve a coragem de viver numa cidade perigosa e de confrontar um inimigo sutil. Teve a ousadia de lidar com traidores no m eio da própria gente e de ch am ar o povo de volta à fidelidade ao Senhor. C h e­ gou até a expulsar Tobias do templo! A pe­ sar de vo cê e eu, co m o obreiros cristãos, não termos a autoridade de puxar os outros pelas barbas nem de despejar algum inqui­ lino indesejado, devem os ter a m esm a co ­ ragem dem onstrada por N eem ias quando precisou tom ar essas atitudes. Alguém disse que o sucesso nunca é fi­ nal e a derrota nunca é fatal: o que conta é a coragem . O s gregos antigos acreditavam que a coragem era a m aior de todas as virtu­ des, pois sem coragem não se pode jam ais usar as outras virtudes. Não é de se admirar que o escritor espanhol M iguel de Cervantes tenha afirm ado: "Aquele que perde a rique­ za perde muita coisa; aquele que perde um am igo perde mais ainda; mas aquele que perde a coragem perde tudo". 11. C o lo c a v a o u tr o s para tra ba lh a r O s verdadeiros líderes não tentam fazer tudo sozinhos. Não apenas escolhem outras pes­ soas, mas ainda criam o tipo de am biente no qual outros tam bém podem se transfor­ mar em líderes. O s verdadeiros líderes não têm medo de cercar-se de pessoas que sa­ bem faze r algum as coisas m elhor do que eles. O s líderes não se sentem intim idados pela excelên cia de outros; antes incentivam a m áxim a com petência. 688 N EEM IA S Em meu estudo de biografias cristãs, ob­ servei que D eus, por vezes, levantou homens e mulheres que eram com o ím ãs pela forma com o atraíam para si outros líderes em po­ tencial. D. L. M oody foi um desses hom ens, com o tam bém Paul Rader. A m y Carm ichael tinha essa capacidade, e tam bém o falecido Dr. Bob C oo k. Líderes desenvolvem outros líderes, pois sabem discernir os dons espiri­ tuais e o potencial presente numa vida. 1 2 . E ra d e t e r m in a d o Lech W alesa, o valente líder sindicalista po­ lonês que se tornou presidente de seu país, afirmou acerca da liderança: "Ser um líder significa ter determ inação. Significa ser de­ term inado por dentro e por fora, cono sco m esm os e com os outros". Se houve um ho­ mem que se encaixou nessa descrição, esse hom em foi Neem ias. Se/a determ inado! Essa é uma das men­ sagens centrais do Livro de Neem ias. O pre­ sidente do W heaton College, em Illinois, Dr. V. Raym ond Edm an, costum ava lem brar a seus alunos: "É sem pre cedo dem ais para desistir". Assim com o Jesus Cristo, Neem ias "fez o seu rosto com o um seixo " e perseverou (Is 5 0 :7 ; v e r Lc 9 :5 1 ). N inguém que, depois de co lo car a mão no arado, olha para trás, é apto para servir ao Senhor (Lc 9:6 2 ). Li sobre dois m eninos que saíram pela v iz in h a n ç a à p ro cu ra de trab a lh o , o fe re ­ cendo-se para tirar a neve da frente das ca­ sas. Viram um hom em limpando a neve da entrada de sua garagem e perguntaram se poderiam fazer o serviço para ele. — Não dá para perceber que já fiz meta­ de do trabalho? — disse o hom em . — Foi por isso m esm o que perguntamos — explicaram os meninos. — Q u ase sem pre term inam os o serviço que outros co m e ça­ ram e não conseguiram acabar. Neem ias era determ inado porque o tra­ balho que estava fazendo era uma grande obra e ele estava servindo um grande Deus. Era determ inado porque a cidad e era mo­ tivo de o pró brio e ele d esejava g lorificar grandem ente o nom e de D eu s. Era deter­ m inado porque fazia parte de um grande plano que Deus tinha para o mundo ao traba­ lhar por interm édio de seu povo escolhido. A Igreja de hoje precisa de líderes - ho­ mens, m ulheres e jovens - determ inados sob a autoridade de D eus a realizar a vontade de D eus a qualquer custo. A Igreja precisa de líderes que, com o Neem ias, digam: "Es­ tou fazendo grande obra, de m odo que não poderei descer!" M ais do que qualquer outra coisa, que­ ro ser capaz de dizer, no final de meu minis­ tério e de minha vida: "Eu te glorifiquei na terra, consum ando a obra que me confiaste para faze r" (Jo 1 7:4). Portanto, da próxim a vez que tiver von­ tade de desistir, lem bre-se de N eem ias e fique firm e até que o trabalho seja com ple­ tado para a glória de Deus. Seja determ inado! E ster ESBOÇO 3. U m a grande distinção - 10 Tema: A providência de D eus ao proteger CONTEÚDO seu povo Versículos-chave: 4 :1 3 , 14 1. 3. A rainha Vasti diz "N ão !" (Et 1).................................................................. A nova rainha (Et 2 ).................................................................. Um antigo adversário com um novo nome (Et 3 )...................................... Um dia decisivo 700 4. (Et 4 ).................................................................. Um dia na vida do primeiroministro (Et 5).............................................. Sinais de perigo (Et 6 ).................................................................. Cai a m áscara 707 (Et 7).................................................................. D e vítim as a vencedores (Ester 8 )............................................................ D eus cum pre suas promessas 722 2. 1. A CO RO AÇÃO DE ESTER 1- 2 1. Vasti é destronada - 1 2. Ester é coroada - 2 II. A CONDENAÇÃO DE HAMÃ - 5. 3 - 7 1. A intriga de H a mã - 3 2. O discernim ento de M ordecai - 4 3. A intercessão de Ester - 5 - 7 6. III. A CELEBRAÇÃO DE ISRAEL 8-10 8. 1. Um novo decreto - 8 2. U m a defesa segura - 9 9. 7. (Et 9 - 10)...................................................... 690 695 712 717 726 731 1 A R a in h a V asti D iz "N ão !" E ster 1 sete dias a fim de todos festejarem juntos. Em Ester 1:11, o escrito r dá a entender que o s p rín cip e s tam b ém estavam p re se n tes nessas festividades. Além desses três banquetes, o Livro de Ester registra pelo menos mais seis ocasiões festivas: o banquete de co roação de Ester (2 :1 8 ); a ce le b ra çã o de H am ã com o rei (3 :1 5 ); os dois banquetes oferecidos por Es­ ter para H am ã e o rei (caps. 5 e 7); os ban­ qu etes dos ju d e u s qu and o so ub eram do novo decreto (8:1 7) e a Festa de Purim (9:1 7- (Um a discussão em família se transforma em crise nacional) om ecem os pelo rei: seu nom e persa era Khshayarshan que, em hebraico, se tor­ nou Assuero, e, em grego, Xerxes. Seu pai era D ario I e seu avô, C iro o G ran d e, de modo que era de um a fam ília persa ilustre. A ssuero governou o im pério persa de 486 a.C . a 4 6 5 a.C . O im pério era dividido em vinte "satrápias" que, por sua vez, eram divi­ didas em "províncias", sobre as quais o rei exercia controle absoluto. Com o a maioria dos m onarcas daquela C época, Assuero era um hom em orgulhoso; e, neste capítulo , vem o s três sinais desse orgulho. 1. Sua a r r o g â n c ia (Et 1:1-9) O s reis do O riente gostavam de oferecer ban­ quetes suntuosos, pois, nessas ocasiões, ti­ nham a oportunidade de im pressionar seus convidados com o poder e a riqueza do rei­ no. N este capítulo , são m encio nad os três banquetes: um para os o ficiais m ilitares e políticos mais im portantes (vv. 1-4); um para os hom ens de Susã, local do palácio de in­ verno do rei (vv. 5-8) e outro para as m ulhe­ res de Susã (v. 9), oferecido pela rainha Vasti. D ificilm ente o rei ajuntou todos os líde­ res das províncias de um a só vez, pois isso os teria mantido afastados de suas respon­ sabilidades por seis meses, deixando o im­ pério v u ln e rá v e l. O m ais p ro váve l é que Assuero tenha levado os oficiais a Susã de modo alternado, ao longo de um período de meio ano. Então, depois de consultar-se com eles, o rei os reuniu num banquete de 19). É m aravilhoso ver com o Deus pode rea­ lizar seus propósitos eternos por m eio de atividad es tão triviais quanto c o m e r e be­ ber! (ver 1 C o 10:31). Q ual era o objetivo do banquete para os nobres e oficiais do império? As Escritu­ ras não dizem , mas a história secular nos dá a resposta. É possível que o historiador gre­ go Heródoto (485-425 a.C .) se refira a esses banquetes em sua História, obra na qual ele afirm a que A ssuero estava se consultando com seus líderes sobre a viabilidade de uma invasão à G récia. Dario I, o pai de Assuero, havia invadido a G ré cia e sofrido uma der­ rota vergonhosa em M aratona em 4 9 0 a.C . Dario havia falecido enquanto se preparava para voltar à G ré cia e se vingar (4 8 6 a.C .), depois do que seu filhou sentiu-se com peli­ do a regressar, desagravar seu pai e, ao mes­ mo tempo, expandir seu im pério. H eródoto afirm a que A ssuero planejava invadir toda a Europa e "red uzir o mundo inteiro a um só im pério". D e acordo com o historiador grego, as palavras do rei foram : "M inha intenção é lan­ çar uma ponte sobre o Helesponte e mar­ char com um exército pela Europa contra a G ré c ia , vingando-m e dos atenienses pelas injustiças que com eteram contra os persas e contra meu p ai".1 Artabanus, o tio do rei, opôs-se veem en­ tem ente ao plano, mas o rei persistiu e co n­ seguiu co n ven cer os príncipes e oficiais a segui-lo. Era im portante que A ssuero im pressio­ nasse seus nobres e líderes militares com sua riqueza e poder. Quando vissem os pilares de márm ore, as belíssim as cortinas penduradas ESTER 1 691 com argolas de prata, os sofás de ouro e prata sobre pisos vistosos com m osaicos de m árm ore e a mesa de banquete recoberta de ouro, que lhes restaria fazer senão sujei­ tar-se ao rei? C o m o um vendedor que leva vo cê a um restaurante caro, o rei usou do mesmo artifício para baixar a guarda de seus o ficiais. U m a v e z que ele próprio era um hom em orgulhoso, sabia usar o orgulho dos outros a seu favor. Infelizm ente, essa dem onstração pom ­ posa de riqueza não foi cap az de garantir a vitó ria m ilitar dos persas. Em 4 8 0 a .C ., a m arinha persa foi destruída em Salam ina, en­ quanto o rei assistia à batalha assentado em seu trono. Em 479 a.C ., o exército persa foi derrotado em Platéia e, assim , chegou ao fim o sonho de A ssuero de form ar um im pé­ rio mundial. Se houve um hom em que de­ veria ter aprendido a verdade expressa em Provérbios 1 6 :1 8 , foi A ssu ero: "A soberba e, co m o sú dita, desrespeitou seu rei. Em d e c o rrê n cia disso, "o rei m uito se en fu re ­ ceu e se inflamou de ira" (v. 12). Ao estudar o Livro de Ester, verem os que esse m onarca era ca p az de exercer dom í­ p recede a ruína, e a altivez do espírito, a trolar nem sua índole nem sua sede. V e m o s aqui um a o ca siã o ap ro p ria d a para faze r um a pausa e refletir sobre o ál­ cool e a raiva - duas forças poderosas que causaram em nossa so cied ad e destruição m aio r do que as estatísticas são ca p aze s de mostrar. A pesar de apreciarm os a sabedoria do rei ao não obrigar seus convidados a beber (Et 1 :8), dificilm ente há algo de positivo a se d izer sobre o péssim o exem plo que ele dava com seu próprio hábito de consum ir o vi­ nho em excesso. A Bíblia não ordena a abs­ tinência total, mas lhe dá grande ênfase. O povo de Israel não ingeriu bebidas fortes durante sua jornada pelo deserto (D t 29 :5 , 6), e os sacerdotes eram instruídos a não beber vinho ou bebida forte antes de servir no tab e rn ácu lo (Lv 1 0 :8 -1 1 ). O s nazireu s queda". A queles que são investidos de autorida­ de devem se lem brar de que ela vem de Deus (Rm 13:1) e que som ente ele tem o controle absoluto. O Faraó teve de apren­ der essa lição no Egito (Êx 7:3-5); N abuco ­ donosor teve de aprendê-la na Babilônia (Dn 3 - 4); B elsazar aprendeu-a em seu banque­ te profano (Dn 5); Senaqueribe aprendeu-a às portas de Jerusalém (Is 36 - 37) e Herodes Agripa I, enquanto morria sendo com ido por verm es (At 12:20-23). A autoridade de todo hom em e de toda m ulher está sujeita à au­ toridade de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. 2. S ua e m b r ia g u e z (E t 1:10-12) A s Escrituras deixam de lado essas questões militares, pois o objetivo do escritor era ex­ plicar com o Ester tornou-se rainha. No final do banquete de sete dias, "estando já o co­ ração do rei alegre do vinho" (Et 1:10), As­ suero ordenou que sua rainha exibisse sua b e le z a ao s c o n v id a d o s ali re u n id o s . A resposta dela foi, sem dúvida, uma ofensa tripla contra o rei. C o m o mulher, Vasti desa­ catou a autoridade de um hom em ; com o esposa, d e s o b e d e c e u às o rd en s d o m arido nio sobre tudo e todos, menos sobre si mes­ m o. A ssu e ro era fa c ilm e n te in flu e n cia d o pelos seus co n selh e iro s; tom ava d ecisõ es precipitadas das quais se arrependia depois, e, quando não conseguia as co isas a sua m aneira, ficava furioso. Um homem suscep­ tível à bajulação, era senhor de um império poderoso, mas não de si m esm o. "M elh or é o longânimo do que o herói de guerra, e o que dom ina o seu espírito, do que o que tom a uma cidade" (Pv 1 6 :3 2 ). Assuero cons­ truiu um a grande fortaleza em Susã, mas não foi ca p a z de co n stru ir o p ró p rio caráter. "C o m o cidade derribada, que não tem mu­ ros, assim é o hom em que não tem dom ínio próprio" (2 5 :2 8 ). O rei não conseguiu con­ eram proibidos não apenas de beber vinho, mas tam bém de consum ir a casca e as se­ mentes da uva (Lv 6:1-3). A pesar de Jesus ter bebido vinho enquanto estava na terra, hoje ele é "absolutam ente abstinente". As pessoas que usam Jesus com o exem plo para beber socialm ente, chegando até a ressaltar que ele transformou água em vinho, devem levar em consideração o que diz Lucas 2 2 :1 8 : "Pois vos digo qu e, d e agora em diante, não 692 ESTER 1 mais beberei do fruto da vid eira, até que venha o reino de D eu s". Fico im aginando se essas pessoas "seguem o exem plo " de Cristo em outras áreas da vida, com o a ora­ ção, o serviço e o sacrifício (é bem provável que não). A m aioria das propagandas que prom o­ vem a venda de bebidas alcoólicas mostra pessoas elegantes em am bientes requinta­ dos, transmitindo com sutileza a im pressão de que "b eb er socialm ente" e ter sucesso são sinônim os. No entanto, pastores, assis­ tentes sociais, m édicos e mem bros dedica­ d os dos A lc o ó lic o s A n ô n im o s p o d eriam mostrar um retrato bem diferente. Pessoas com o essas vêem de perto a destruição de casam entos, a deterioração física e mental, famílias vítim as de abusos e carreiras arrui­ nadas que, com freqüência, acom panham aquilo que as pessoas cham am de "beber socialm ente". De acordo com o técnico e em presário e xp e rie n te de tim es de b eiseb o l, C o n n ie M ack, o álcool é tão apropriado para o co r­ po hum ano quanto areia no tanque de com ­ bustível de um carro. O álcool não é uma bebida com um , mas sim um narcótico; não é fonte de nutrição, mas sim de destruição. A Bíblia adverte sobre a em briaguez (Pv 20 :1 ; 2 1 :1 7 ; 2 3 :2 0 , 21, 29-35; Is 5 :1 1 ; Lc 2 1 :3 4 ; Rm 13:13, 14; 1 Co 5 :1 1 ; Ef 5 :1 8 ; 1 Pe 4:3-5) e até mesm o o A lcorão diz: "H á um dem ô­ nio em cada fruto da videira". A m elhor maneira de evitar a em briaguez é praticar a abstinência. H á um provérbio jap o n ês que adverte: "Prim eiro o hom em toma um trago; depois, um trago toma ou­ tro e, por fim, o trago toma o hom em ". E a mãe do rei Lemuel lhe ensinou: "N ão é pró­ prio dos reis, ó Lem uel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte" (Pv 3 1 :4). Q uanto à fúria do rei A ssuero contra sua bela rainha, tratou-se de uma atitude igno­ rante, imatura e com pletam ente despropo­ sitada. Se o rei estivesse sóbrio, jam ais teria pedido que a rainha exibisse sua beleza dian­ te dos convid ados em briagados. O rei foi vítim a de seu orgulho, pois, se não era ca­ paz de co n tro lar a própria esposa, com o poderia co m an d ar o exército persa? U m a vez que Vasti o havia envergonhado na frente de seus líderes, o rei precisava tomar uma providência para salvar tanto seu ego quan­ to sua reputação. Vasti estava certa e A ssuero estava erra­ do, e a fúria do rei só serviu para com provar seu erro. A raiva é cap az de obscurecer a vista e de am ortecer o coração para tudo o que é bom e nobre. O poeta italiano Pietro Aletino (1492-1557) escreveu para um am i­ go: "O s hom ens cheios de raiva são cegos e insensatos, pois, nessas horas, a razão desa­ parece e, em sua ausência, a fúria despoja o intelecto de todas as suas riq uezas, en­ quanto o bom senso perm anece cativo do seu próprio orgulho". Se houve alguém pri­ sioneiro do orgulho, essa pessoa foi o rei do im pério persa! Sem d ú vid a, existe um a ira santa que deve arder no co ração de toda pessoa pie­ dosa (Rm 12:9). Até mesm o Cristo m anifes­ tou sua ira contra o pecado (M c 3:5), mas devem os cuidar para que nossa ira não se transform e em raiva pecam inosa (Ef 4 :2 6 ). Por vezes, aquilo que cham am os de "indig­ nação justa" é, na verdade, apenas nossa índole perversa disfarçada em trajes religio­ sos. Jesus equiparou a raiva ao hom icídio (M t 5:21-26) e Paulo nos adverte de que a raiva pode ser um em pecilho para as nossas orações (1 Tm 2:8 ). O orgulho alim enta a raiva, e, à medida que cresce, a raiva reforça o orgulho. " O que presto se ira faz loucuras", adverte Provér­ bios 14 :1 7 , um texto ilustrado perfeitam ente pelo rei assuero. Em vez de se enfurecer com Vasti, o rei deveria ter se indignado consigo mesmo por agir com tanta insensatez. Antes de passarm os para a parte seguin­ te da história, desejo ressaltar que o evange­ lho de Jesus Cristo tem ajudado a liberar e a elevar a condição da m ulher na sociedade em todas as partes do mundo em que tem sido pregado e obedecido. "D essarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem hom em nem mulher; por­ que todos vós sois um em Cristo Jesus" (G l 3 :2 8 ). A inda temos um longo cam inho a per­ correr no reco nh ecim ento da im portância ESTER 1 da mulher na igreja, mas graças, em parte, à in flu ên cia do evangelho, a so ciedad e tem progredido no sentido de libertar as m ulhe­ res da escravidão cruel e dar-lhes oportuni­ dades m aravilhosas em termos de vida em geral e serviço .2 3. S e u e s p ír it o v i n g a t i v o (E t 1:13-22) Q u an d o o ego é ferido, libera um veneno poderoso que leva as pesso as a fazerem coisas que jam ais fariam se fossem hum il­ des e se sujeitassem ao Senhor. Em sua obra Essays [En saio s], Fran cis B acon e scre v e u : "U m hom em que cultiva a vingança man­ tém sempre vivas suas próprias feridas que, de outro m odo, sarariam e cicatriza riam ". Se A ssuero tivesse esperado até ficar sóbrio e pensado sobre o assunto com cuidado, ja m ais teria deposto a espo sa. A fin al, ela dem onstrou mais caráter do que ele. O rei persa contava com sete conselhei­ ros que o orientavam nas questões de Esta­ do e que tinham o direito de se aproxim ar de seu trono. Tam bém sabiam muito bem com o lisonjear o rei a fim de garantir seus cargos e de obter dele o que desejavam . A expressão "entendiam dos tem pos" (v. 13) ind ica que eram astrólogos, que consulta­ vam as estrelas e usavam outras formas de adivinhação. N aquele tem po, os monarcas do O rie n te d epen d iam de hom ens assim para orientá-los em questões pessoais, go­ vernam entais e militares (ver Dn 1:2 0 ; 2 :2 , 10, 17; 4 :7 ; 5 :7 , 11, 17). P re o cu p a d o com as re p e rc u ssõ e s da desobediência de Vasti, o rei consultou seus sete conselheiros sobre as providências que deveria tomar. A prim eira coisa que fizeram foi exagerar a im portância do ocorrido: Vasti havia insultado não apenas o rei, mas todo o im pério! A ssim , quand o os co n vid ad o s voltassem para casa, contariam a todos co­ mo a rainha era desobediente ao marido, e as conseqüências seriam desastrosas. As mu­ lheres do im pério desacatariam a autoridade 693 enquanto "princesas", no versículo 18, refere-se às m ulheres da aristocracia.) Esses con­ selheiros estavam usando de grande astúcia, pois, ao exagerar o problem a, tam bém au­ mentavam a im portância deles próprios e a dependência de Assuero deles. M as será que a situ ação era, de fato, assim tão séria? Q u an d o Vasti se recusou a obedecer, imagino quantos príncipes e no­ bres presentes no banquete não com enta­ ram entre si: "Vejam só, o casam ento do rei não é diferente do nosso! A esposa dele sabe o que quer, o que aliás é muito bom !". É de se duvidar que o rei teria perdido sua autori­ dade ou grandeza por todo o im pério se ho uvesse sim plesm ente dado de om bros, aberto um sorriso e admitido que havia fei­ to algo tolo. "A ira do insensato num instante se con h ece, mas o prudente oculta a afron­ ta" (Pv 12:16). O s sete sábios aconselharam Assuero a depor Vasti e a co locar outra rainha em seu lugar. Prom eteram ao rei que essa medida co locaria o tem or no coração de todas as m ulheres do im pério e as levaria a ter mais respeito pelos m aridos. Será que isso era verdade? O coração , por acaso, m uda em função de decretos publicados pelo rei ou de leis aprovadas por parlam entos e congres­ sos? D e que m aneira o castigo im posto a Vasti levaria as m ulheres do im pério a am ar mais os maridos? O am or e o respeito são, por acaso, qualidades que podem ser des­ pertadas no coração pela vontade humana? C o m o foi possível sete sábios dem ons­ trarem tanta insensibilidade em seu modo de tratar Vasti e tanta insensatez em sua ava­ lia çã o a c e rc a das m u lh e res do im pério ? C om o puderam ser tão brutais a ponto de usar a autoridade da lei para destruir uma dos homens, desencadeando uma rebelião de esposas contra os maridos e das mulheres em geral contra o sexo oposto. (O s com en­ m ulher e am eaçar a paz de todos os lares do império? Estavam incentivando todos os maridos a agir com o o rei A ssuero e a dirigir o lar com mão de ferro e por decretos (Et 1:2 2 ). Q u e contraste gritante com o conse­ lho de Paulo em Efésios 5:22-33! A inda motivado pela raiva e pela vingan­ ça e tentando sarar seu orgulho ferido, o rei taristas observam que o term o "m ulheres" em Et i : ? 7 significa "m ulheres em geral", nou que Vasti fosse destronada (Et 1:19-21). co nco rd o u com o co nselho deles e orde­ 694 ESTER 1 Enviou seus m ensageiros por todo o im pé­ rio para proclam ar o édito real - um édito desn ecessário, im praticável e inalterável. O rei A ssu e ro gostava de p u b lica r éditos e nem sem pre refletia sobre o que estava fa­ zen d o (3 :9 -1 2 ) - m ais um a e v id ê n c ia de seu orgulho. O rei não substituiu Vasti de im ediato. A ntes, partiu para invad ir a G ré c ia , onde sofreu um a d e rro ta h u m ilhan te. Q u a n d o voltou para casa, tentou consolar-se satisfa­ zendo seu apetite sensual procurando uma n o va ra in h a e e n c h e n d o seu h aré m de A Bíblia não diz o que aconteceu com Vasti. V ário s estudiosos acreditam que ela era Am estris, mãe de A rtaxerxes, que gover­ nou de 4 6 4 a.C . a 425 a.C . E provável que Ester tivesse perdido o favor do rei ou, en­ tão, falecido, pois Am estris exerceu grande influência com o rainha-m ãe durante o rei­ nado de seu filho. A rtaxerxes nasceu em 483 a.C ., o ano do grande banquete descrito em Ester 1. É possível que Vasti estivesse grávi­ candidatas. As m ulheres de seu im pério não deveriam ser apenas subservientes aos ho­ m ens, mas tam bém ser seus "objetos sexu­ ais" de prazer. Q uanto mais ficam os sabendo sobre Assuero e sua filosofia de vida, mais da na ocasião e, assim, não quisesse apare­ cer diante dos hom ens. Seu filho Artaxerxes reinou no tempo de Esdras (7 :1 , 7, 11, 12, 21 ; 8 :1 ) e de Neem ias (2 :1 ; 5 :1 4 ; 13:6). D e qualquer m odo, o palco estava pre­ parado para a entrada de dois personagenschave desse dram a: Ham ã, o hom em que odiava os jud eus, e Ester, a m ulher que li­ detestável ele se torna. vrou seu povo. 1. 2. Ver Heródoto, A História, Livro VII, seção 8. U m a das melhores apresentações desse assunto é T u c k e r , Ruth A.; L ie fe ld , Walter. Daughters o f the Church, Zondervan, 1 987. Ver, também, H a m m a c k , Mary L. A D ictionary o f W om en in Church History. Moody Press, 1984. 2 A N o v a R a in h a E ster 2 (Ester toma-se esposa d e A ssu ero e M o rd eca i não é recom pen sado p o r salvar a vida d o rei) / / I \ e u s está sem pre preparando seus L / heróis", disse A . B. Sim pson, fun­ dador da A lia n ça C ristã e M issio nária, "e q u a n d o ch e g a o m o m e n to c e rto , po d e colocá-los sem dem ora no lugar mais apro­ priado, levando o m undo a im aginar de onde vieram ". O Dr. Sim pson poderia ter acrescenta­ do que D eus tam bém prepara suas h ero í­ nas, pois, sem dúvida, Ester foi divinam ente preparada para seu papel com o nova rainha. D eu s nunca é su rp reen did o pelas circunstân­ cias nem se vê em falta d e servo s prepara­ d o s. José estava pronto no Egito (Sl 105:1 7); E z e q u ie l e D a n ie l e sta v a m p ro n to s na Babilônia; N eem ias estava pronto em Susã; e D eu s preparou Ester para ministrar aos ju ­ deus no im pério persa. Ao ler este capítulo, poderem os obser­ var pelo m enos três evidências da mão de D eu s operando em favor do seu povo. 1. A a p r o v a ç ã o d o rei (Et 2 :1 -4 ) Q u ase quatro anos haviam se passado desde a deposição de Vasti. Nesse meio-tempo, o rei havia com andado a cam panha frustrada contra a G ré c ia e voltado para casa, não coberto de honras, mas hum ilhado. Ao re­ fletir sobre as atitudes im pulsivas que tomou com relação à esposa, a afeição por Vasti se reacendeu e, apesar de ter um harém cheio de concubinas, o rei sentia falta de sua rai­ nha. Existe uma diferença entre am or e sexo. A em polgação m om entânea, passageira, não é a m esm a co isa que a riqueza duradoura de um relacionam ento para toda a vida. O problem a de Vasti tornou-se motivo de preocupação para os conselheiros do rei, pois se ela voltasse a ter o favor do rei e o trono, a vida deles estaria em perigo. Afinal, eles é que haviam sugerido ao rei que a depusesse! No entanto, havia mais em jogo do que apenas a vida dos conselheiros do rei: a so b re v iv ê n cia dos ju d eu s. A rainha Vasti, por certo, não teria intervindo em fa­ vor dos judeus. É bem provável que tivesse cooperado com Ham ã. Sabendo do forte apetite sexual do rei, os conselheiros sugeriram que ele reunisse um novo harém , constituído das virgens mais belas do reino. Não era um "co ncu rso de b eleza", cujas vencedoras receberiam com o prêmio o direito de co nco rrer ao trono. Es­ sas jovens foram reunidas contra sua vonta­ de e passaram a fazer parte do harém real. Toda noite, o rei experim entava um a nova parceira e, na manhã seguinte, ela se junta­ va às outras concubinas. A quela que mais agradasse ao rei se tornaria sua nova rainha. Parece uma história das M il e Uma N oites, com a difere n ça que, naqueles co n to s, o im perador Shahriar se casava com uma nova esp o sa a ca d a dia e o rd e n ava que fosse m o rta na m anhã seg u in te . D e sse m odo, poderia se certificar de que ela não lhe seria infiel! Fico im aginando quantas m oças bonitas não se esconderam quando os oficiais do rei apareceram para buscá-las. M ães descon­ soladas e pais que, sem dúvida, mentiram aos oficiais, negando ter alguma filha virgem. Talvez algumas das m oças se casaram com qualquer hom em disponível a fim de não passar o resto da vida sem esperança algu­ ma trancadas no harém do rei. U m a v e z que tivessem estado com o rei, pertenceriam a ele e não poderiam se casar. Se o rei as ig­ norasse, eram condenadas a um a vida de solidão, trancafiadas no harém real. Talvez m antivessem a honra, mas, de modo algum, encontrariam a felicidade. "C o m o ribeiros de águas, assim é o co­ ração do rei na mão do S e n h o r ; este, segun­ do o seu querer, o inclina" (Pv 2 1 :1 ). Isso 696 ESTER 2 não significa que D eus obrigou Assuero a aceitar o plano, nem que Deus aprovava os haréns do rei e a form a com o ele abusava das m ulheres. Significa, sim plesm ente, que, sem ser o autor de seu pecado, Deus dirigiu as pessoas envolvidas nessa situação para que decidissem tudo de tal modo a cum prir os propósitos divinos. A s decisões tomadas hoje nos altos es­ calões dos meios políticos e financeiros pa­ recem distantes da vida diária do povo de D eus, mas afetam a obra do Senhor de vá­ rias m aneiras. E bom saber que D eus está assentado em seu trono e que nenhum a de­ cisão pode ser tom ada de modo a frustrar seus propósitos. "Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os mora­ dores da terra; não há quem lhe possa deter a m ão, nem lhe dizer: Q u e fazes?" (Dn 4 :3 5 ). Com o disse Charles Haddon Spurgeon: "N enhum atributo de Deus traz tanto con­ solo aos seus filhos quanto a doutrina da so berania d ivin a". A o m esm o tem po que confessam os que vários aspectos dessa teo­ ria encontram -se en vo lto s em m istério , é im pensável que o Deus Todo-Poderoso não seja o Senhor de seu próprio universo. Deus está no co ntro le até m esm o dos assuntos de um im pério pagão. 2. A esc o lh a d e Ester (Et 2 :5 -1 8 ) Som os apresentados, então, a M ordecai e sua prima, Ester, os protagonistas deste dra­ ma. M ais uma vez, vem os a mão de Deus operando na vida da bela judia. O b serve os seguintes fatores. A in flu ê n c ia d e M o rd e c a i (vv. 5-7). O nom e de M ordecai aparece cinqüenta ve­ zes no livro e, em sete ocasiões, é identifi­ cado com o um "judeu" (2 :5 ; 5:1 3; 6 :1 0 ; 8:7 ; 9 :2 9 , 31; 10:3). Q uis, um dos seus antepas­ s a d o s , fo i le v a d o de Je ru s a lé m p a ra a Babilônia na segunda deportação, em 597 a .C . (2 Rs 24). Ciro, o rei da Pérsia, invadiu a Babilônia em 539 a.C . e, no ano seguinte, permitiu que os judeus voltassem a sua ter­ ra. C erca de 50 mil judeus aceitaram esse desafio (Ed 1 - 2). Em anos subseqüentes, o u tro s ju d e u s v o lta ra m para Isra e l, mas M ordecai escolheu ficar na capital persa. A pesar de a Babilônia ter transtornado a vida do povo de Judá, os persas mostraramse mais clem entes com os estrangeiros, e m uitos ju d eu s prosperaram na terra onde eram cativos. M ordecai acabou ocupando um alto cargo no governo, sentando-se à porta do rei (Et 2 :2 1 ). É bem provável que tenha recebido esse cargo depois da coroa­ ção de Ester, pois precisava andar de um lado para o outro na frente da casa das mulheres a fim de descobrir com o sua filha adotiva estava passando (v. 11). Se, naquela ocasião, já fosse um oficial do rei, poderia ter tido acesso a inform ações internas. Ester era prima e filha adotiva de M or­ decai (v. 1 5). Seu nom e persa, Ester, signifi­ ca "estrela" e seu nom e hebraico, Hadassa, quer d ize r "m u rta". (E interessante que o arbusto da murta dá flores com o form ato de estrela.) U m a vez que era uma m ulher belíssim a, Ester foi levada para o harém do rei. D iz um provérbio inglês que "a beleza pode ter lindas folhas, mas dá frutos am ar­ gos". Ficam os im aginando quantas jovens do im pério não se lam entaram por serem bonitas! Um dos elem entos fundam entais dessa história é que o povo de Susã não sabia das origens de M ordecai e Ester. O s funcioná­ rios do palácio souberam que M ordecai era judeu quando ele próprio lhes contou (3 :4 ), e o rei só ficou sabendo sobre Ester no se­ gundo banquete que ela ofereceu para ele e H am ã (cap. 7). Trata-se de um fato um tanto problem áti­ co. Em prim eiro lugar, se M ordecai e Ester estavam se fazendo passar por persas, sem dúvida, não estavam observando todas as leis de M oisés e mantendo um lar ritualmente puro. Se tivessem seguido todas as leis de alim entação, sem falar nas regras de separa­ ção e de adoração, sua identidade teria logo sido descoberta. Se Ester tivesse praticado a fé ju d aica durante seu ano de preparação (2 :1 2 ) ou nos quatro anos em que havia sido rainha (2 :1 6 e 3 :7 ), seu disfarce não teria fu n cion ad o. Q u alq uer um tem direito de não revelar sua verdadeira nacionalidade, uma decisão que, por si m esma, não é pecam inosa. Desde ESTER 2 que ninguém lhes perguntasse, M ordecai e Ester tinham todo direito de esconder suas origens étnicas. Se as pessoas pensaram que os dois prim os eram gentios, foi uma con­ clusão que elas próprias tiraram. Ninguém mentiu. M atthew H enry escreveu que: "N em todas as verdades devem ser ditas a todo tem po, mas uma inverdade não deve ser dita em tem po algum ". D e qualquer m odo, é uma pena que Ester e M ordecai não profes­ sassem o D eus de Israel naquela sociedade pagã. D eixand o de lado sua atitude evasiva, falem os de seu estilo de vid a ritualm ente im puro. A pesar de a lei de M oisés ser tem­ porária e de ter seu fim determ inado com a morte de Cristo na cru z, essa lei ainda esta­ va em vigor, e esperava-se que os judeus lhe o bedecessem . Daniel e seus amigos tiveram o cuidado de observar a lei enquanto viviam na Babilônia, e Deus os abençoou por sua fidelidade (D n 1). Por que Deus deixou pas­ sar a infidelidade de M ordecai e Ester e ainda usou os do is para cum prir seus p ro p ó sito s? U m a questão ainda mais séria que seu estilo de vida é a presença de um a judia num harém e, por fim , seu casam ento com um gentio. A lei de M oisés especificava várias form as de sexo ilícito e tam bém proibia os casam entos mistos (Êx 2 0 :1 4 ; 3 4 :1 6 ; Lv 18; Dt 7:1-4), e tanto Esdras quanto N eem ias ti­ veram de tratar do problem a da união entre judeus e gentios (Ed 9 - 10; Ne 1 0 :3 0 ; 13:233 7 ). No entanto, D eus perm itiu que uma m oça jud ia pura se tornasse a esposa de um rei gentio lascivo, um adorador de Zoroastro! Alguns estudiosos vêem todo esse pro­ cesso com o um "concurso de beleza" que envolveu todo o im pério e consideram Ester um a concorrente que, na verdade, não de­ veria ter participado. Também afirm am que o incentivo de M ordecai deveu-se ao fato de ele querer alguém de seu povo num a posição de influência no im pério, caso sur­ gissem problem as. É possível que haja algu­ m a v e rd a d e n essa in te rp re ta çã o . Porém , outros estudiosos acreditam que as mulhe­ res não se voluntariaram , mas sim que foram escolhidas pelos oficiais do rei. Essas moças não chegaram a ser levadas à fo rça, mas 697 todos sabiam que não era possível opor-se a um m onarca do O riente e perm anecer im­ pune. Nesse caso, não creio que devamos condenar Ester pelo que aconteceu com ela, uma vez que, em grande parte, estava fora de seu controle. Além disso, Deus não inter­ feriu, pois estava considerando o bem do povo dela. A o con siderarm os a situação apóstata dos jud eus daquele tem po, a deso bediên­ cia do rem an escen te de Judá no im pério persa e o estilo de vida pouco espiritual de M ordecai e de Ester, será que é de se admi­ rar que o nom e de D eus não ap areça em m om ento algum neste livro? Você iria que­ rer que seu nom e santo fosse identificado com pessoas tão profanas? O in c e n tiv o d e H e g a i (vv. 8, 9 ). Assim co m o José enco ntro u favor no Egito (G n 3 9 :2 1 ) e D aniel na Babilônia (D n 1 :9 ), Es­ ter tam bém encontrou favor em Susã. D eus é tão poderoso que é ca p a z de trabalhar até m esm o no co ração e na m ente do guar­ da de um harém ! Hegai era um gentio. Seu trabalho era cuid ar do p razer do rei e ele não co n h ecia o D eus de Israel. A in d a as­ sim, teve um papel im portante no plano que D eus estava executando para o seu povo. A ind a hoje, D eu s está operando em luga­ res que, a meu ver, ele nem sequer encontra-se presente. Hegai fazia um "tratam ento de beleza" de um ano com cada uma das m ulheres a fim de prepará-las para o rei. Incluía uma determ inada dieta, aplicação de perfum es e cosm éticos especiais e, provavelm ente, ins­ trução sobre as regras de etiqueta da corte. Essas jovens estavam sendo treinadas para fazer uma só coisa: satisfazer os desejos do rei. A quela que lhe agradasse mais se torna­ ria sua esposa. Pela pro vid ência de D eus, Hegai deu a Ester um "tratam ento especial" e o m elhor lugar da casa das mulheres para ela e suas servas. A n a cio n a lid a d e d e E ste r (vv. 10, 11). Se Ester não tivesse nascido no povo judeu, jam ais poderia ter salvado a nação do exter­ m ínio. A o que parece, o silêncio dos dois primos sobre sua nacionalidade foi orientado por D eus, pois tinha um a missão especial 698 ESTER 2 para am bos. O anti-semitismo era forte no mundo gentio, e é bem provável que essa atitude de M o rd ecai tenha sido m otivada pelo desejo de preservar a própria seguran­ ça, mas D eus usou os dois para preservar o povo judeu. A ap ro va çã o d o re i (vv. 12-18). A cada noite, um a nova donzela era levada para o rei e, pela m anhã, era m andada para a casa das concubinas, para nunca mais estar com o rei, a menos que ele se lem brasse dela e pedisse especificam ente por sua presença. Essa s e n s u a lid a d e d e se n fre a d a d e ve ter entediado A ssuero a tal ponto que ele pro­ vavelm ente não era mais cap az de distinguir um a m oça da outra. Não era am or, mas sim iuxúria sem nome e sem rosto, que se torna­ va cada vez mais intensa. Q uanto mais o rei se entregava a seus desejos, m enos satisfei­ to se sentia. Ester havia obtido o favor de todos com quem havia se encontrado, e, quando o rei a viu, seu entusiasm o foi m aior do que aque­ le que demonstrou por todas as outras mo­ ças. Havia, finalm ente, encontrado alguém para tom ar o lugar de Vasti! A expressão "o rei amou a Ester" não deve ser interpretado com o um caso de paixão à prim eira vista, no qual Assuero dedicou de im ediato sua mais profunda afeição e d evoção a Ester. Algum as traduções indicam , de modo mais apropriado, que o rei sentiu-se, im ediatam en­ te, mais atraído por Ester do que por qualquer outra das mulheres (ver v. 1 7). Essa reação veio do Senhor, que planejava co lo car Ester no palácio real, onde ela poderia interceder por seu povo (ver At 15:18). Vale a pena observar que Ester colocouse nas m ãos de Hegai e seguiu suas instru­ ções. Hegai co nhecia os gostos do rei e, uma vez que favoreceu Ester, preparou-a de acor­ do com as preferências reais. Pelo fato de ser uma jovem de "boa aparência e form o­ sura" (Et 2 :7 ), Ester não precisou de todos os "acessórios" usados pelas outras mulhe­ res (ver 1 Pe 3:1-6). O rei coroou Ester pessoalm ente e a de­ clarou a nova rainha do im pério. C onvocou seus oficiais e ofereceu um grande banque­ te. (Esse é o quarto banquete citado no livro. O s reis persas aproveitavam todas as opor­ tunidades para celebrar!) Porém , a generosi­ dade do rei chegou até seus súditos mais com uns, pois proclam ou um feriado nacio­ nal em todo o reino e distribuiu presentes ao povo. E possível que esse feriado tenha sido sem elhante ao "Ano de Jubileu" judaico, no qual im postos eram cancelados, servos eram libertados e trabalhadores recebiam férias. A ssuero desejava que todos se ale­ grassem com a nova rainha. 3 . A INTERVENÇÃO DE M O RD ECAI (Et 2 :1 9 -2 3 ) E bem provável que a segunda "reunião de virgens" m encionad a no versículo 19 seja indicação de que os oficiais do rei continua­ ram a juntar belas jovens para seu harém , pois dificilm ente A ssuero tornou-se monógamo e passou o resto da vida som ente com Ester. Aqueles que consideram esse proces­ so todo co m o um "co n cu rso de b e le za " acreditam que essa segunda reunião foi uma desp ed id a para as "can d id a ta s" que nem chegaram a ver o rei. Receberam os devi­ dos agradecim entos e foram m andadas de volta para casa. Pessoalm ente, prefiro a pri­ meira interpretação. Com ou sem rainha, um hom em com o A ssuero não iria permitir que um grupo de b elas virg en s d e ixa sse seu palácio! O m ais im p o rtante, porém , é que no versículo 19 vem os M ordecai num cargo de honra e de autoridade, assentado à porta do rei (4 :2 ; 5 :1 3 ). No O riente, a porta era o equivalente aos tribunais de hoje em dia, o lugar onde eram realizadas as negociações oficiais mais im portantes (Rt 4 :1 ; Dn 2 :4 8 , 49). E possível que a rainha Ester tenha usa­ do sua influência para conseguir esse em ­ prego para o tio. M ais uma vez, é im pressionante obser­ var a providência divina na vida de um ho­ mem que não honrava o Deus de Israel. Nem M ordecai nem Ester haviam revelado a ver­ dadeira nacio nalidad e. T alvez devêssem os colocá-los no mesmo grupo de N icodem os e de José de A rim atéia, "discípulos secretos" de Jesus que, ainda assim, foram usados por Deus para proteger e sepultar o corpo de ESTER 2 Cristo (Jo 19:38-42). Assim com o esses dois hom ens, M ordecai e Ester encontravam-se "ocultos" no im pério persa, pois D eus tinha uma incum bência especial para eles. M or­ decai pôde usar seu cargo para o bem tanto do rei quanto dos judeus. Nos tribunais do O riente, a intriga pala­ ciana era algo com um . Som ente uns pou­ cos oficiais tinham livre acesso ao monarca (Et 1 :1 0 ,1 4 ) e, com freqüência, usavam esse privilégio para receber os subornos de pes­ soas que precisavam da ajuda do rei (Daniel não era benquisto no meio de seus colegas justam ente por sua honestidade; ver Dn 6). Pode ser que essa ten tativa de a ssa ­ ssinato esteja re lacio n ad a à co ro a çã o da nova rainha e que partidários de Vasti no palácio tenham se ressentido com a decisão de A ssuero. O u , talvez, esses dois hom ens odiassem Ester por ser estrangeira. A pesar de não ser sem pre obedecida, a tradição di­ tava que os reis da Pérsia deveriam escolher suas esposas dentre m ulheres de sete fam í­ lias nobres da sua terra. Talvez esses cons­ p iradores fossem trad icion alistas que não queriam uma "m ulher do povo" no trono. Assuero desfrutava autoridade, riqueza e prazeres praticam ente ilim itados. V ivia iso­ lado dos problem as cotidianos (Et 4:1 -4), mas isso não garantia sua segurança pessoal. A in­ da era possível conspirar contra o rei e am ea­ çar sua vid a. A liá s, q uato rze anos depois desse episódio, A ssuero foi assassinado! Em sua providência, Deus permitiu que M ordecai ficasse sabendo da conspiração e avisasse a rainha Ester. Q uand o Ester colo­ cou o rei a par dos planos contra a vida dele, deu crédito a M ordecai por descobrir essa 699 trama, de modo que o nom e dele foi regis­ trado nas crô n ica s o ficia is. Esse fato tem papel im portante no dram a que se desenro­ la quatro anos depois (6:1 ss). É provável que a expressão que aparece co m o "pend urados num a forca" (Et 2 :2 3 ) tam b ém possa ser trad u zid a por "em palados", pois essa era uma das formas habi­ tuais de execu ção em pregadas pelos persas, que não eram conhecidos por sua leniência com os prisioneiros. No meio dos judeus, a form a habitual de exe cu ção era o apedrejam ento, mas se desejavam , de fato, humi­ lhar a vítim a, penduravam seu corpo numa árvore até o pôr-do-sol (D t 2 1 :2 2 , 23). M o rd ecai não receb eu qualquer re co ­ nhecim ento nem reco m p ensa por ter sal­ vado a vida do rei. M as isso não im portava, pois D eu s providenciou para que os fatos fossem registrados perm anentem ente e, no tem po certo , faria bom uso desses regis­ tros. Nossas boas obras são com o sem en­ tes plantadas pela fé, e nem sem pre seus frutos ap arecem de im ediato. "A desventu­ ra persegue os p e cad o re s, mas os justos serão galardoados com o bem " (Pv 1 3 :2 1 ). José fez am izade com um com p anheiro de prisão, um hom em que se esqueceu co m ­ pletam ente de sua bondade durante dois anos (C n 4 0 :2 3 ; 4 1 :1 ). M as o tem po de D eus é sem pre perfeito, e ele providencia para que um gesto de bondade nunca seja d e sp erd içad o . No entanto, a conspiração que M ordecai desm ascarou foi insignificante, com parada à trama que descobriria quatro anos depois, planejada e perpetrada por Ham ã, o inimigo dos judeus. Essa história rem ete ao tempo do êxodo de Israel do Egito (Êx 17:8-15), quando os am alequitas atacaram os hebreus exaustos 3 U m A n t ig o com um A d v e r s á r io N ovo N ome E ster 3 (Um hom em perverso desafia a soberania d o D eu s Todo-Poderoso) urante quatro anos, as coisas estiveram tranqüilas em Susã. Ester exerceu suas funções de rainha, e M ordecai cuidou dos negócios do rei à sua porta. Então, as coisas m udaram . Todos os jud eus do im pério vi­ D ram-se sob o risco de ser m ortos só para satisfazer o ódio de um hom em cham ado Ham ã. Ester é um dos cin co livros do Antigo Testam ento que os jud eus cham am de "O s Escritos" ou "O s C in co M egilloth" (no hebrai­ co, o termo m egilloth significa "rolos"). O s outros livros são Rute, Eclesiastes, Cantares de Salom ão e Lam entações. A cada ano, na Festa de Purim, o livro de Ester é lido publi­ cam ente na sinagoga e, sem pre que o leitor cita o nom e de Ham ã, o povo bate os pés e exclam a: "Q u e esse nom e seja apagado!" Para os judeus de toda parte, H am ã personi­ fica todos aqueles que tentaram exterm inar o povo de Israel. Este capítulo explica por que Ham ã era um hom em tão perigoso. 1 . S eus a n tepa ssa d o s (E t 3 :1 a ) H am ã era um "agagita", o que pode signi­ ficar que vinha- de um a região do im pério co n h ecid a co m o Agague. No entanto, tam ­ bém pode ind icar que era descendente de A gague, rei dos am alequitas (1 Sm 1 5 :8 ). Tratando-se do últim o caso, podem os en­ ten d e r fa c ilm e n te por que H a m ã odiava tanto o povo de Israel: D eus havia d eclara­ do guerra aos am alequitas e desejava que seu nom e e sua m em ória fossem apagados da face da Terra. que se encontravam na retaguarda do povo que m archava (D t 2 5 :1 8 ). D epois de orde­ nar a Josué que lutasse contra A m aleque, M oisés intercedeu por Israel no alto da mon­ tanha, e Josué conquistou uma grande vitó­ ria. Deus disse a M oisés para registrar num livro que o Senhor havia declarado guerra aos am alequitas por causa daquilo que ha­ viam feito a seu povo. Antes de o povo en­ trar na Terra Prom etida, M oisés lembrou os israelitas do ataque traiço eiro dos am ale­ quitas (D t 25:1 7-19). Foi Saul, o prim eiro rei de Israel, quem recebeu de Deus a ordem para destruir os am alequitas (1 Sm 15). Saul fracassou nessa m issão e perdeu a coro a (um am alequita afirmou ter matado Saul no cam po de bata­ lha; ver 2 Sm 1:1-10). Pelo fato de Saul não ter cum prido inteiram ente a ordem do Se­ nhor, alguns am alequitas sobreviveram , e um de seus descendentes, H am ã, determinouse a matar seu adversário de longa data, o povo judeu. Vale a pena observar que o rei Saul, um benjam ita, não destruiu os am ale­ quitas, mas M ordecai, tam bém um benjamita (Et 2 :5 ), entrou na batalha e derrotou Ham ã. Também é interessante notar que o funda­ dor do povo am alequita era um descenden­ te de Esaú (G n 3 6 :1 2 ), e Esaú era inimigo de seu irm ão, Jacó. Esse episódio em Susã foi ap e n as m ais um estág io de um co n flito antiqüíssim o entre a carne e o Espírito, Sata­ nás e o Senhor, os cam inhos da fé e os ca­ m inhos do mundo. Tudo o que sabem os sobre Ham ã é de­ testável; é im possível enco ntrar um único aspecto louvável em seu caráter. Na verd a­ de, tudo em H am ã era execrável a Deus! "Seis coisas o S e n h o r ab orrece, e a sétim a a sua alm a ab om ina: olhos altivos, língua m entirosa, mãos que derram am sangue ino­ cente, co ração que tram a projetos iníquos, pés que se apressam a co rrer para o mal, testem unha falsa q u e p ro fere m entiras e o que sem e ia co n ten d as entre irm ão s" (Pv 6 :1 6 -1 9 ). Lem bre-se dessas sete c a ra c te ­ rística malignas ao ler o Livro de Ester, pois ESTER 3 você as verá retratadas nesse hom em co r­ rom pido. 2. S ua a u t o r id a d e (Et 3:1b) Em algum m omento entre o sétimo e o dé­ cim o segundo ano do reinado de Assuero (v. 7; 2 :1 6 ), o rei decidiu nom ear Ham ã seu primeiro-ministro sobre o im pério. O b serve que M ordecai havia salvado a vida do rei e sequer tinha recebido uma palavra de agra­ d e cim e n to , quem dirá um a re co m p e n sa ; p o rém , o p erverso H am ã não havia feito coisa alguma e recebera uma prom oção! Ao longo desta vid a, testem unham os muitas si­ tu açõ e s que parece m injustas, m as D eus sabe o que está fazendo e jam ais abandona o justo nem deixa de recompensá-lo por seus atos (ver Sl 37). É bem provável que Ham ã tenha usado de bajulação e de lisonja para alcançar esse novo cargo de autoridade, pois era um ho­ mem que fazia esse tipo de coisa. Era orgu­ lhoso e tin h a co m o p ro p ó sito co n se g u ir p o d e r e re c o n h e c im e n to . C o m o v im o s, A ssuero era um hom em fraco e manipulável, susceptível a bajulação e ansioso para agra­ dar aos outros, de modo que Ham ã não teve muito trabalho para alcançar seu objetivo. A lguns estudio so s da Bíblia vêem em H am ã uma imagem do "hom em da iniqüida­ de" que um dia surgirá e exercerá seu dom í­ nio im placável sobre a hum anidade (2 Ts 2; A p 13). H am ã recebeu grande autoridade do rei, e Satanás dará grande poder a esse governante mundial perverso que cham am os de anticristo (Ap 1 3 :2 , 4). Assim com o Ham ã odiava os judeus e tentou exterminá-los, tam ­ bém o anticristo iniciará uma onda de antisem itism o por todo o mundo (12:13-17). A princípio, se fará passar por amigo de Israel, 701 a cum prir por seu interm édio (ver Rm 9:1 7). D eus cum pre suas prom essas e não volta atrás em sua alian ça com seu povo. M eu amigo J. Vernon M cG e e costum ava dizer: " O s judeus foram aos funerais de todas as nações que tentaram exterminá-los", e Ham ã não seria exceção . A quilo que as pessoas fazem quando se encontram num a posição de autoridade é uma prova de seu caráter. Usam sua autori­ dade para prom over a si m esm as ou para ajudar os outros? G lorificam a si m esmas ou dão glórias a Deus? Daniel recebeu um car­ go elevado sem elhante ao de Ham ã, mas o usou para servir a Deus e para ajudar a ou­ tros (D n 6 ). Por ce rto , a d ife re n ça entre Daniel e Ham ã está no fato de que Daniel era um hom em de Deus e uma pessoa hu­ milde, enquanto Ham ã era um hom em do m undo e uma pessoa arrogante. 3. Sua v a id a d e (Et 3 :2 -6 ) H am ã não se contentou em ter um cargo elevado e em usá-lo em benefício próprio. Também quis o m áxim o de reconhecim ento público e de honrarias. A pesar de os povos do antigo O riente Próxim o estarem acostu­ m ados a oferecer dem onstrações públicas de deferência, o rei teve de publicar um édito especial em favor de H am ã, de outro modo, o povo não se curvaria diante dele. Ham ã era um hom em insignificante com um car­ go im portante, e outros nobres mais dignos do que ele não se mostrariam dispostos a reconhecê-lo. Esse fato é mais uma indica­ ção de que H am ã não conseguiu sua no­ m eação por mérito, mas por usurpação. Se fosse um oficiai digno, os outros líderes o teriam reconhecido de bom grado. O orgulho cega as pessoas para seu ver­ chegando até a firm ar com eles um a alian­ ça e a garantir-lhes proteção, mas romperá essa aliança e se voltará contra esse mesmo povo que concordou em proteger (Dn 9:2427). Assim com o Ham ã acabou derrotado e dadeiro caráter e as leva a insistir em ter aquilo que não m erecem . O ensaísta inglês W alter Savage Landor (1 775-1864) escreveu: " Q u a n d o a so m bra de hom ens tacanh o s torna-se cada vez maior, é sinal de que o sol julgado, o anticristo tam bém será conquis­ tado por Jesus Cristo e lançado no lago de fogo (Ap 19:11-20). está se pondo". Ham ã era, sem dúvida, um hom em tacanho, mas sua vaidade o levava a dar uma falsa im pressão de grandeza. "O s tolos tomam para si o respeito con­ Deus permitiu que Ham ã fosse nomeado para esse cargo elevado, pois tinha propósitos ferido a seu cargo", escreveu Esopo em sua 702 ESTER 3 fábula O Cargo d o A sn o , uma afirm ação que se aplica perfeitam ente a Ham ã. Ele era re­ conhecido não por seu caráter ou por sua com petência, mas por causa do cargo que ocupava e do édito do rei. C o m o disse A lbert Einstein: "Procure não se tornar um hom em de sucesso, mas sim um hom em de valor". Hom ens e mulheres de valor conquistam o reconhecim ento que m erecem . A p ro m o ção de H am ã po de ter feito aflorar o que havia de pior nele, mas também trouxe à tona o que havia de m elhor em M ordecai, pois o prim o de Ester recusou-se a fazer reverência a H am ã. D evem os lem ­ brar, po rém , que os ju d eu s não estavam transgredindo o segundo m andam ento (Êx 20:4-6) quando se curvavam diante de pes­ soas de autoridade, assim com o os cristãos de hoje não o fazem quando demonstram respeito por seus líderes. Abraão, por exem ­ plo, curvou-se diante dos filhos de H ete ao neg ociar com eles o túm ulo de Sara (G n 2 3 :7 ). O s irmãos de José tam bém se curva­ ram diante dele, pensando tratar-se de um oficial egípcio (4 2 :6). Davi chegou a curvarse para Saul (1 Sm 2 4 :8 ), e Jacó e sua família se curvaram diante de Esaú (G n 3 3 :3 , 6, 7). O povo de Israel usava esse gesto até mes­ mo entre si (ver 2 Sm 14:4 e 18:28). H avia m ultidões à porta, e é bem prová­ vel que algumas dessas pessoas estivessem suplican do a H am ã que interced esse por elas. Em decorrência disso, H am ã não no­ tou que M ordecai perm aneceu em pé, en­ quanto todo o restante do povo se curvava. O s o u tro s o fic ia is à p o rta in te rro g ara m M ordecai sobre seu com portam ento, e foi nessa ocasião que ele anunciou abertam en­ te que era ju d eu (Et 3 :3 , 4 ). Ao longo de vários dias, os oficiais do rei discutiram essa questão co m 'M ord ecai, provavelm ente ten­ tando fazê-lo mudar de idéia; depois disso, relataram seu com portam ento a Ham ã. D es­ se m omento em diante, H am ã passou a vi­ giar M ordecai e a alim entar seu ódio, não apenas contra aquele hom em que se assen­ tava à porta do rei, mas contra todos os ju ­ deus do im pério. Por que M ordecai recusou-se a curvar-se diante de Hamã? O que, em sua identidade de judeu, o proibia de fazer o que todos os outros faziam ? M esm o que M ordecai não tivesse respeito algum pelo hom em , pode­ ria pelo m enos respeitar o cargo, uma vez que foi o rei que havia nom eado H am ã para aquela função. C reio que a resposta encontra-se no fato de H am ã ser um am alequita e de os am ale­ quitas serem inimigos declarados dos judeus. O Senhor jurou e registrou por escrito que havia declarad o guerra aos am alequitas e que lutaria contra eles uma geração após a outra (Êx 1 7 :1 6 ). D e que m aneira M ordecai poderia dem onstrar reverência a um inimi­ go dos judeus e do Senhor? Não queria ser culpado daquilo que Joabe havia acusado o rei D avi: "H o je envergonhaste a face de to­ dos os teus servos [...] am ando tu os que te aborrecem e aborrecendo aos que te am am " (2 Sm 19:5, 6). A contenda de M ordecai com Ham ã não foi um co nflito pessoal entre um hom em orgulhoso e um hom em difícil. Antes, foi a declaração de M ordecai de que estava do lado de Deus no conflito nacional entre os judeus e os am alequitas. M ordecai não que­ ria com eter o mesm o erro de seu antepassa­ do, o rei Saul, e usar de leniência excessiva com os inimigos de Deus (1 Sm 15). Saul per­ deu a coroa por haver condescendido com os am alequitas; mas, por ter se oposto a eles, M o rd ecai acabou por receb er um a coroa (Et 8:1 5 ). Não se esqueça de que o exterm ínio dos judeus significaria o fim da prom essa mes­ siânica para o mundo. D eus prometeu pro­ teger seu povo para que se tornasse o meio pelo qual ele p oderia dar ao m undo sua Palavra e seu Filho. Israel deveria trazer a bênção da salvação às nações (G n 12:1-3; G l 3:7-18). M ordecai não alim entava qual­ quer rancor pessoal contra Ham ã, mas sim se alistava na eterna batalha entre D eus e aq ueles que servem ao diabo e que pro­ curam frustrar a vontade do Senhor neste mundo (G n 3 :1 5 ). M ordecai não é a única pessoa da Bíblia que praticou uma form a de "desobediência civil" por motivos de cons­ c iê n c ia . A s p arte iras h e b ré ia s d e so b e d e ­ ceram às ordens do Faraó recusando-se a ESTER 3 matar os bebês hebreus (Êx 1:15-22). Daniel e seus três amigos recusaram a com ida do rei (Dn 1), e os três amigos tam bém recusa­ ram -se a curvar-se dian te da im agem de Nabucodonosor (Dn 3). O s apóstolos recusa­ ram-se a deixar de testemunhar em Jerusalém e declararam : "A ntes, im porta o b e d ecer a Deus do que aos hom ens" (At 5 :2 9 ). Essas palavras podem ser uma bela declaração de fé ou um a fuga covarde diante de respon­ sabilidades; tudo depende do co ra ção da pessoa que as diz. O b se rve , porém , que, em cada um des­ ses caso s, as pesso a s receberam uma ordem direta de D eu s q u e lhes deu a certeza de estarem fa zen do a von tad e dele. A lém dis­ so, em cad a caso , essas pessoas tem entes a D eus foram gentis e respeitosas. Não co ­ m eçaram tum ultos nem queim aram prédios "em nom e da co n sciê n cia ". Isso porque a autoridade civil é co n ce d id a por D eus (Rm 13), e, para o cristão, de so b e d e cer à lei é algo extrem am en te grave. Se vam os que­ brar algum a lei, devem os saber a d iferença entre pre co n ce ito s pessoais e co n v icçõ e s bíblicas. Existe m ais um elem en to em jo g o: ao confessar que era ju d eu , M o rd ecai estava com plicando não apenas sua situação, mas tam bém a de outros judeus do im pério. A obediência à consciência e à vontade d e D eus em op o siçã o a uma lei civil não é algo trivial e não deve ser considerada com leviandade. Alguns dos praticantes do "protesto cons­ ciente" que vem os na televisão, na verdade, se parecem mais com palhaços indo a uma festa do que com soldados saindo para a luta. Jam ais poderiam ser colocados no mes­ mo nível de pessoas com o M artinho Lutero, que desafiou os prelados e potentados com as palavras: "M inha co nsciência é cativa da Palavra de D eus. Eis-me aqui, não me resta outra coisa a fazer!" M ordecai poderia ter seus defeitos no que dizia respeito às práticas religiosas, mas devem os admirá-lo por sua posição corajo­ sa. Sem dúvida, D eus havia colocado tanto ele quanto Ester em cargos oficiais para que salvassem seu povo do exterm ínio. O fato de não observarem a lei ju d aica torna-se se­ 703 cundário quando consideram os a coragem deles ao arriscar a próprio vida. O ódio de H am ã por M ordecai não tar­ dou a espalhar-se feito um câncer e a se trans­ form ar em ódio a toda a raça judia. Ham ã poderia ter co m u n icad o o crim e de M o r­ decai ao rei, que, por sua vez, poderia ter m a n d a d o p re n d e r ou m e sm o e x e c u ta r M ordecai. Mas isso não satisfaria o desejo intenso de vingança que consum ia H am ã. Seu ódio precisava ser apaziguado por algo m uito m aior, co m o a d e stru ição de um a nação inteira. D a m esm a form a que Judas no cenáculo, H am ã tornou-se um assassino. M ark Twain cham ou o anti-semitismo acertadam ente de "inveja arrogante de mentes insignificantes". 4 . Sua s u t il e z a ( E t 3 :7 - 1 5 a ) A co m p an he os passos do perverso H am ã na exe cu çã o de seu plano para destruir o povo judeu. E s c o lh e u o dia (v. 7 ). H am ã e alguns astrólogos da corte lançaram sortes a fim de determ inar o dia para a destruição dos ju ­ deus. Isso foi feito em secreto , antes de H am ã abordar o rei com seu plano. D eseja­ va, com isso, certificar-se de que seus deu­ ses estariam com ele e de que seu plano seria bem-sucedido. N aquele tem po, os povos do O rien te tom avam poucos passos im portantes sem consultar as estrelas e os agouros. Um século antes, quando o rei N abucodonosor e seus generais chegavam a um im passe quanto à estratégia a ser usada numa cam panha, fa­ ziam um a pausa para consultar seus deuses. "Porque o rei da Babilônia pára na en cru zi­ lhada, na entrada dos dois cam inhos, para consultar os oráculos: sacode as flechas, in­ terroga os ídolos do lar, exam ina o fígado" (Ez 2 1 :2 1 ).' O termo babilônio puru signifi­ ca "sorte", e é dele que vem o nom e que os judeus deram a sua festa: Purim (Et 9 :2 6 ). É interessante que H am ã co m eçou esse procedim ento no mês de nisã, justam ente o mês no qual o povo de Israel co m em o ra­ va sua lib e rta çã o do Egito. A o lan çarem sortes sobre o calend ário , mês após mês e dia após dia, os astrólogos chegaram à data 704 ESTER 3 mais propícia: o décim o terceiro dia do dé­ cim o segundo mês (v. 13). Essa decisão foi, sem dúvida, do Senhor, pois dava aos judeus um ano inteiro para se preparar e também dava a M ordecai e Ester o tem po necessá­ rio para agir. "A sorte se lança no regaço, mas do S e n h o r procede toda decisão" (Pv 1 6 :3 3 ). H am ã fico u d e c e p c io n a d o com essa escolha? É possível que seu desejo fosse agir de im ediato, pegando os judeus despreve­ nidos e satisfazendo seu ódio sem maiores delongas. Por outro lado, teriam quase um ano para alim entar seu rancor e para sabo­ rear a vingança, o que também seria agra­ dável. Poderia assistir ao pânico dos judeus enquanto estava no co ntro le. M esm o que os ju d eu s se ap ro veitassem da dem o ra e saíssem do império, ainda assim Ham ã se li­ vraria deles e tom aria para si quaisquer bens e propriedades que tivessem deixado para trás. Parecia um ótimo plano. P e d iu a p e r m is s ã o d o r e i (vv. 8 -1 1 ). Assim com o Satanás, o grande inimigo dos judeus, H am ã tam bém era assassino e men­ tiroso (Jo 8 :4 4 ). Para com eçar, nem sequer deu ao rei o nome das pessoas que, supos­ tamente, estariam transtornando o reino. Sua descrição vaga da situação fez o perigo pare­ cer maior. O fato de esse povo am eaçador estar espalhado por todo o im pério tornava ainda mais necessário que o rei tomasse uma providência. H am ã estava certo quando descreveu os ju d eu s co m o um povo "cu jas leis são diferentes das leis de todos os povos" (Et 3 :8 ). Suas leis eram diferentes, pois eram o povo e sco lh id o de D eu s e som ente eles haviam recebido sua santa lei das mãos do próprio D e u s. M o isés pergun to u: "E que gran de n áçã o há que te n h a estatu to s e ju ízo s tão justos co m o toda esta lei q u e hoje eu vos proponho?" (D t 4 :8 ), e a resposta é: "N e n h u m a !" O fato de um ho m em , M o rd e ca i, ter desobedecido a uma lei foi exagerado por H am ã de m odo a transform ar-se na falsa acusação de que to dos os jud eus desobe­ deciam a todas as leis do im pério. O profeta Jeremias havia instruído o povo de Judá que se encontrava no exílio a se com portar com o bons cidadãos e a co operar com aqueles que o haviam levado para o cativeiro (Jr 29:47), e tudo indica que o povo obedeceu. Se os ju d eu s no im pério persa tivessem sido repetidam ente culpados de sedição ou de traição, Assuero saberia. M esm o que alguns judeus em certas cidades desobedecessem às leis do rei, por que a nação inteira de Israel deveria ser destruída pelos crim es de alguns de seu povo? O golpe de m isericórdia de Ham ã veio no final de seu discurso, quando ofereceu pagar ao rei dez mil talentos de prata pelo privilégio de livrar o im pério desse povo perigoso. D e acordo com o historiador gre­ go H eródoto (Livro III, Seção 95), a renda anual de todo o im pério persa era de cerca de quinze mil talentos de prata. Na verda­ de, H am ã estava o fe re ce n d o ao rei uma soma equivalente a dois terços dessa renda exorbitante. H am ã deveria ser um homem absurdam ente rico e esperava, sem dúvida alguma, recuperar parte dessa som a com os espólios que tom aria dos judeus. Em Ester 3 :1 1 , a resposta do rei - "Essa prata seja tua" - dá a im pressão de que A ssu ero rejeitou o din heiro e que se ofe­ receu para pagar as desp esas. C o m o era costum e no O riente, o rei rejeitou a oferta, esperando H am ã insistir que a aceitasse (ver a n eg ociação entre A braão e os filhos de Hete em G n 23). H am ã sabia que as guerras contra os gregos haviam m inguado os te­ souros do rei e jam ais teria oferecido tanto dinheiro a um governante tão poderoso se não tivesse a intenção de pagá-lo (ver Et 4:7). Sem fazer perguntas, Assuero entregou a H am ã seu anel de selar (ver 8:2 , 8), autori­ zando-o, desse m odo, a agir em nom e do rei. H am ã poderia redigir qualquer docum en­ to que quisesse e co locar nele o selo do rei, e esse docum ento seria aceito com o lei e obedecido. Foi um gesto insensato de A ssue­ ro, mas co m o lhe era típico , prim eiro ele tomou uma atitude e depois se arrependeu dela. "Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha" (Pv 18:13). E sp a lh o u a n o tícia im ed ia ta m en te (vv. 12-14). Sem o co n hecim en to dos ju d eu s, ESTER 3 ocupados se preparando para com em orar a Pásco a, H am ã pôs-se a trabalh ar com os secretários do rei a fim de escrever a nova lei e de traduzi-la para as diversas línguas dos povos do im pério. No versículo 13, as palavras da lei são sem elhantes às instruções que Sam ueí deu ao rei Sauí quando o en­ viou para destruir os am alequitas (1 Sm 1 5:13). A única diferença im portante era que Saul não tinha perm issão de tom ar para si espó­ lio algum, enquanto Ham ã e seus assisten­ tes esperavam poder saq u ear as grandes riquezas que os judeus tinham acum ulado. Esse docum ento foi entregue aos m ensagei­ ros do rei, os quais o levaram sem demora para todas as partes do im pério. Se, num reino da antigüidade, uma men­ sagem com más notícias poderia ser pre­ parada, trad u zida e distribuída com tanta rapidez, por que a igreja de hoje dem ora tanto para propagar as boas novas da salva­ ção pela fé em Jesus Cristo? Por certo, temos mais pessoas em nosso m undo m oderno do que Assuero tinha em seu im pério, mas tam­ bém tem os m eios de c o m u n ic a çã o e de transporte mais eficientes. Então, o p ro b le ­ ma deve estar com os m ensageiros. A men­ sagem está pronta a ser propagada, mas não tem os pessoas suficientes para transmiti-la nem os recursos necessários para enviar os que se dispõem . Todo esse trabalho foi feito às pressas, pois H am ã não q u e ria que A ssu e ro m u­ dasse de idéia. U m a v e z que a lei estava escrita e selad a, a d e stru ição dos ju d eu s tam bém estava selada, pois as leis dos m e­ dos e dos persas eram irrevogáveis (Et 1 :1 9 ; 8 :8 ; Dn 6 :8 ). O plano sutil de H am ã havia fu n cio n ad o . 5 . Sua a p a t ia (Et 3 :15b ) Ham ã foi cap az de enviar a ordem de exe­ cução de m ilhares de pessoas inocentes e, depois, se sentar para banquetear com o rei! Q u e co ra ção em p ed ernid o ! Era co m o as pe sso as que o p ro feta A m ó s d e sc re v e u : "[vós] que bebeis vinho em taças e vos ungis com o mais excele n te óleo, mas não vos afligis com a ruína de José" (Am 6 :6 ). Po­ rém , no final das co n tas, H am ã havia, na 705 verdade, selado a ordem para sua própria e x e c u ç ã o , pois em m enos de três m eses estaria morto (Et 8:9 ). C o m o d isse H e le n K e lle r: "A c iê n c ia po de ter e n co n tra d o a cu ra para grande parte dos males, mas ainda não encontrou um rem édio para o m aior de todos eles: a ap atia dos seres h u m an o s" (M y R elig io n [M inha Religião], p. 162). Jesus ilustrou essa apatia de modo bastante vivido na parábola do bom sam aritano (Lc 1 0 :2 5 -3 7 ). N essa parábola, dois hom ens religiosos, um sacer­ dote e um levita, negligenciaram as neces­ sidades de um hom em à beira da m orte, enquanto o sam aritano, um estrangeiro odia­ do, sa crifico u -se para c u id a r d e le . Jesus tam bém deixou claro que am ar ao Senhor deve nos levar a am ar ao próxim o, e que nosso próxim o é qualquer um que venha a precisar de nós. A ssim , antes de co n d e n ar o p erverso Ham ã, exam inem os nosso próprio coração. Bilhões de pecadores no m undo de hoje se encontram sob um a sentença de morte eter­ na, e a maioria dos cristãos não faz muita coisa a esse respeito. Podem os participar de jantares da igreja e de alm oços de domingo sem sequer nos passar pela mente a idéia de ajudar a propagar a mensagem de que "o Pai enviou o seu Filho com o Salvador do m undo" (1 Jo 4 :1 4 ). Em ju n h o de 1 8 6 5 , J. H u d son Taylor, m issio n ário na C h in a , havia v iajad o para passar alguns dias com amigos em Brighton, um conhecido local de férias à beira-mar na Inglaterra. Estava exausto e doente e busca­ va a vontade de D eus para o futuro de seu m inistério. No dom ingo, dia 25 de junho, "sem poder suportar a multidão regozijante na casa de D e u s", saiu para cam in h ar na areia e para lutar com Deus em meio à ago­ nia de sua alm a. Deus foi ao encontro dele com o nunca havia feito antes, e Taylor creu que o Senhor proveria vinte e quatro novos obreiros para trabalhar com ele na C hina. Dois dias depois, dirigiu-se ao banco London & C o u n ty e abriu uma conta no nome da M issão para o Interior da China! Foi o co­ m eço de um ministério m iraculoso que con­ tinua até hoje.2 706 ESTER 3 A frase nesse relato que mais me toca o coração é: "sem poder suportar a m ultidão regozijante na casa de D e u s". Sem dúvida, é bom alegrar-se no Senhor e fazê-lo na casa com a situação de bilhões de alm as perdi­ das neste m undo. de D eus, mas o regozijo não deve ser um substituto para a responsabilidade. Nas pa­ lavras de um hino: "As m esas de D eus es­ gentios de Susã foram tom ados de aflição e de espanto. O que havia causado essa mu­ dança de política? Por que, de repente, os judeus estavam sendo considerados inimigos do império? H avia algum modo de escapar? N em tudo estava p erd id o , pois D eus havia preparado duas pessoas no palácio M o rdecai e a rainha Ester - prontas para entrar em ação. tão ch e ias e seus cam p o s estão v a z io s ". Todos nós querem os desfrutar o banquete, mas não querem os co m p artilhar a m ensa­ gem . N ão p re cisa m o s ser in c ré d u lo s de co ração end urecido com o H am ã para nos m o strarm o s a p á tico s e d e sp re o c u p a d o s 1. Contrastando com a alegria do rei e de seu prim eiro-m inistro, tanto ju d eu s com o "Sacudir flechas" seria o equivalente a "sortear", sendo que as flechas indicavam as alternativas viáveis. "Interrogar ídolos" estava relacionado a buscar a ajuda das imagens e dos deuses que levavam consigo. "Examinar o fígado" envolvia oferecer um animal como sacrifício e, depois, obter orientações peio formato e pelas marcas do fígado. 2. Ver Hudson Taylor and the China Inland Mission: The Crowth of a Work of C od, pp. 31, 32. 4 U m D ia D ec isiv o E ster 4 (A rainha faz um balanço da situação) avia, talvez, uns quinze milhões de ju ­ deus espalhados pelo im pério persa. Por causa da inim izade de Ham ã e da estu­ pidez do rei, todos eles haviam sido conde­ nados à m orte, a m enos que levantassem acam pam ento e deixassem o reino. M as, se fizessem isso, para onde iriam? A té mesmo Israel, sua próprio terra, não era um lugar seguro, pois estava sob o dom ínio do rei H A ssuero. U m a vez que os persas governa­ vam "desde a índia até à Etiópia" (Et 1:1), havia poucos lugares acessíveis para onde os judeus poderiam fugir. No im pério, as reações ao decreto de H am ã foram as mais variadas. Ham ã e o rei não fizeram caso algum da situação terrível dos judeus e se sentaram para desfrutar um banquete real. O povo da capital, porém , estava pe rp le xo e não sabia o que faze r (3 :1 5 ). Isolada no harém real, a rainha Ester nem suspeitava do perigo que ela e seu povo co rriam . Enquanto os ju d eu s das diversas províncias co m eçaram a je ju ar e prantear (4 :3 ), som ente um hom em , M ordecai, po­ deria tomar uma providência; e, sem dem o­ ra, entrou em ação. 1 . E xpresso u su a preo cu pa çã o (Et 4 :1 -3 ) A aparência e os gestos de M ordecai (v. 1) correspondiam aos de uma pessoa que de­ m onstrava grande tristeza (2 Sm 1 :1 1 ,1 2 ; 13:19) ou arrependim ento profundo (Jn 2; Ne 9 :1 , 2). M ordecai não teve m edo nem vergonha de revelar às pessoas sua posição. Já havia contado aos oficiais à porta do rei que ele era judeu e estava deixando claro para a cidad e toda que não apenas fazia parte do povo de Israel, mas também não co n co rd a v a com aq u ele édito h o m icid a . A pesar de não se encontrar docum entado em seus escritos, um ditado que costum a ser atribuído ao político inglês Edmund Bruke certam ente se aplica a este caso: "A fim de que o mal triunfe, só é preciso que os ho­ mens bons fiquem de braços cruzados". "Livra os que estão sendo levados para a m orte e salva os que cam baleiam indo para serem m ortos. Se disseres: Não o sou­ bem os, não o p erceberá aquele que pesa os corações? Não o saberá aquele que aten­ ta para a tua alma? E não pagará ele ao ho­ mem segundo as suas obras?" Essas palavras de tom grave enco ntrad as em Provérbios 2 4 :1 1 , 12 deixam claro que, quando há v i­ das em jo g o , não po d em o s p e rm a n e ce r neutros. M o rd e ca i term ino u sua p e reg rin ação pesarosa na porta do rei, o centro com er­ cial e legal da cidade, uma com binação de m ercado e de tribunal. Era o mais longe que poderia ir, uma vez que os reis do O riente viviam num paraíso artificial, protegidos das realidades da vida. Com o disse o pregador escocês G eorge H. M orrison: "N enhum pa­ no de saco deve passar por seus portões. D evem se divertir a qualquer custo. Sua vida deve ser vida fácil e confortável, com o se não h o u vesse v o z algum a clam an d o por eles" (The A fterglow o f C o d [O crepúsculo de Deus], p. 72). Q u e contraste com nosso Rei e Sacerdote no céu, que nos recebe de braços abertos para levarmos até ele nossos fardos e tristezas! O que M ordecai esperava conseguir à porta do rei vestido de panos de saco e em prantos? Talvez alguém do palácio notasse sua presença e levasse uma mensagem sua à rainha Ester. As servas de Ester conheciam M ordecai (Et 2 :1 1 ), apesar de não saberem do parentesco entre ele e a rainha. Além disso , M o rd e cai já havia se co m u n icad o a n te rio rm e n te co m Ester p o r m e io dos eunucos que serviam a rainha (2 :2 2 ). Essa era sua única esperança, uma vez que não poderia entrar na casa das mulheres. ESTER 4 708 Ester ficou sabendo que M ordecai esta­ M ordecai não apenas co nhecia todos os va vestido com panos de saco e coberto com cinzas, pranteando à porta do rei. Um a vez que não lhe foi dito o m otivo para esse com ­ portam ento estranho de seu primo, ela fez o que era mais lógico, enviando-lhe roupas finas para vestir, a fim de que seus panos de saco não deixassem preocupados os oficiais fatos relacio nados ao decreto , com o tam ­ bém tinha uma cópia dele para que a pró­ e guardas do rei. E se o rei saísse à sua porta para ter uma audiência com o povo? M or­ decai ficaria numa situação extrem am ente difícil. A rainha agiu pelos m otivos certos, mas não usou dos m elhores métodos. Antes de enviar roupas novas a M ordecai, deveria ter procurado descobrir qual era, de fato, o pro­ blem a. Se A ssu ero ap arecesse à porta, as vestes nobres de M ordecai poderiam pou­ pá-lo tem porariam ente da ira do rei, mas não seriam capazes de salvar os judeus da pena de m orte que H am ã havia im posto sobre eles. No entanto, o com portam ento de M or­ decai acabou cham ando a atenção da rai­ nha, exatam ente o que ele queria. 2 . E x p l ic o u o p e r ig o (Et 4 :4 -9 ) Ao recusar as roupas novas, M ordecai teve a oportunidade de transmitir sua mensagem tão importante à rainha, pois ela enviou um de seus eunucos até a porta para perguntar a seu parente o que estava acontecend o. Duvido que Hataque tivesse co n sciência do papel crucial que estava desem penhando no plano de Deus para derrotar Ham ã e salvar os judeus. Em sua obra, o Senhor, com fre­ qü ê n cia, usa pessoas d esco nh e cid as para realizar tarefas im portantes. Q ual era o nome do m enino que deu a Jesus seus pães e pei­ xes? Q uem foram os homens que salvaram Paulo ao erguê-lo sobre o muro de D am as­ co num cesto? Q ual era o nom e da jovem serva que disse a N aam ã para procurar o profeta? Não sabem os, mas Deus usou es­ sas pessoas para realizar seus propósitos. Assim com o portas enorm es movem-se em to rn o de p e q u e n a s d o b ra d iça s, grandes aco ntecim ento s tam bém podem girar em torno dos atos de pessoas "pequenas" e, por vezes, anônim as. pria Ester pudesse lê-lo. Isso com prova que ele ocupava um cargo elevado no governo, dado a ele por D eus com o propósito de salvar o povo judeu. Porém, M ordecai não se ateve apenas a informar a rainha. Instou sua prima a revelar sua verdadeira nacionali­ dade e dirigir-se ao trono real a fim de inter­ ceder por seu povo. Q uand o M ordecai disse a Hataque para pedir que Ester "suplicasse pelo povo dela", revelou ao eunuco que Ester era judia. Será que essa inform ação surpreendeu Hataque ou é possível que ele próprio fosse judeu e, por isso, M ordecai lhe confiou esse segre­ do? Assim com o Daniel e seus três amigos na B abilô nia, era co m um exilad os ju d eu s serem colocados para servir o rei. Agora, a grande pergunta: qual seria a reação da rainha Ester a essa crise? 3 . E xo rto u a r a in h a ( E t 4 :1 0 - 1 4 ) Não se esqueça de que M ordecai não po­ deria falar diretam ente com a rainha e que, para com unicar-se com ela, precisava enviar m ensagens por interm édio de Hataque. Es­ ter não tinha meios de saber pessoalm ente co m o M ordecai estava se sentindo, assim com o ele não poderia com preender de todo com o Ester se expressava. Q u e grande dife­ rença faz poder conversar face a face e ou­ vir a voz das pessoas com as quais estamos nos com unicando! Sem dúvida, Hataque foi incum bido de uma grande responsabilida­ de ao servir de ligação entre duas pessoas aflitas que tinham em suas mãos a salvação do povo judeu. Nos versículos 10 e l 1, a resposta de Es­ ter não é uma evasão, mas sim uma explica­ ção. Lembrou M ordecai daquilo que ele já sabia: ninguém, nem mesmo a rainha, pode­ ria sim plesm ente entrar na sala do trono e pedir uma audiência im ediata com o rei. Se ela o fizesse, estaria co locando a vida em perigo. O rei da Pérsia não era protegido apenas de ver o sofrim ento e de receber más notícias, mas tam bém de interrupções que interferissem com sua rotina. ESTER 4 Repito que, a meu ver, essas palavras não foram uma desculpa da parte de Ester, mas sim uma súplica para que M ordecai lhe desse alguma orientação. Ele conhecia o protoco­ lo do palácio, era hom em e estava a par dos aco ntecim en to s. Ela encontrava-se isolada num harém e não tinha co m o elabo rar o tipo de estratégia necessário para resolver o problem a. A lém disso, não via o rei havia um mês e poderia ser que, de algum m odo, tiv e s s e p e rd id o seu fa v o r. A s s u e ro era im previsível, e Ester não queria piorar ainda mais a situação. Tenho a im pressão de que M ordecai não interpretou co rretam en te a m ensagem de Ester. Para ele, pareceu que a rainha estava te n tan d o e s c o n d e r su a n a c io n a lid a d e e evitar a responsabilidade de apresentar-se diante do rei. Se ele a tivesse visto e ouvido pessoalm ente, é bem provável que a julgas­ se de outro modo. Em sua resposta, M ordecai lembrou Es­ ter de três fatos extrem am ente sérios. Em prim eiro lugar, disse-lhe que sua posição com o residente do palácio não era garantia de que seria poupada da execução. O édito real se referia a "todos os judeus" (3 :1 3), e H am ã tom aria as devidas providências para que até o últim o dos ju d eu s fosse d esco ­ berto e m orto, até m esm o os que viviam no palácio. A lém disso, é possível que ain­ da houvesse no palácio servos leais a Vasti que ficariam felizes em ver a rainha Ester ser destronada. Em segundo lugar, M ordecai lembrou-a de que seu silêncio não evitaria que o livra­ mento viesse de algum outro lugar. A inda que o nom e de D eus não seja m encionado, trata-se de uma referência à providência di­ vina. Sabendo da alian ça do Senho r com Abraão (G n 12:1-3), M ordecai acreditava que o povo de Israel seria protegido do exterm í­ nio. Porém , advertiu-a de que, mesm o em vin do esse livram ento, alguns dos ju d eu s poderiam ser mortos, inclusive Ester. Por que Deus enviaria "socorro e livra­ m ento" ao povo judeu mas perm itiria que Ester e seus parentes fossem mortos? Talvez M ordecai visse isso com o um castigo pela relutância de Ester em interceder pelo povo. 709 Saber que se deve fazer o bem e não fazê-lo é pecado (Tg 4:1 7). Assim , em vez de prote­ ger-se pelo silêncio, Ester estaria se co locan ­ do em perigo ainda m aior. H am ã e seus a g e n te s n ão te ria m d ific u ld a d e s em encontrá-la no palácio e em tirar-lhe a vida. M ordecai enfatizou um terceiro fato: a presença de Ester no palácio não era aci­ dental, pois ela havia sido elevada a rainha "para conjuntura com o esta" (Et 4 :1 4 ). Ele não disse que Deus a havia colocado nessa posição, mas, na verdade, era isso o que sua declaração significava. Se Ester fizesse uma pausa para recapitular sua vida, por certo reconheceria a direção divina ao longo de todo cam inho. Se Deus a colocara no tro­ no, tinha com isso um propósito em mente, e esse propósito havia se tornado evidente: ela estava lá para interceder por seu povo. Isso nos lembra das palavras de José a seus irm ãos: "Vó s, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, com o vedes agora, que se con­ serve muita gente em vida" (G n 5 0 :2 0 ). A o refletir sobre as palavras de M ordecai, podem os aprender algumas verdades funda­ m entais e im portantes para os cristãos de hoje acerca da providência de D eus. A pri­ meira delas é que D eu s tem seus propósitos a cu m prir neste m un do. O s propósitos de D e u s in clu em tanto a n açã o dos ju d eu s quanto as nações dos gentios no m undo. Tam bém incluem a Igreja. D eus trata com indivíduos, mas também com nações. Seus propósitos dizem respeito a reis e a rainhas e tam bém a pessoas com uns, a piedosos e a ím p io s. N ão existe co isa algum a neste mundo que esteja fora da influência dos pro­ pósitos de Deus. M ordecai deixou claro que D eus realiza seus p ro p ó sito s p o r m eio de pessoas. Por motivos que não com preendem os de todo, Deus permite que gente perversa faça coi­ sas perversas no mundo. No entanto, pode trabalhar na vida de incrédulos e, por meio dela, bem co m o de seu próprio povo, rea­ liza r seus pro p ó sito s. A p e sa r de não ser responsável pelos pecados do rei, Deus per­ mitiu que a em briaguez e a insensatez des­ se m onarca levassem à deposição de Vasti. 710 ESTER 4 Usou a solidão do rei para co locar Ester no trono e, no capítulo 6, usará a insônia do rei para recom pensar M o rd ecai e co m e çar a derrubar H am ã. D eus é soberano tanto em grandes quanto em pequenas coisas. A te rce ira ve rd ad e que M o rd e cai e n ­ fatizou foi que D eus cum prirá seus p ro p ó si­ tos, m esm o q u e seu s servos se recusem a o b e d e c e r à sua vontade. D eus poderia sal­ var seu povo, mesmo que Ester recusasse a vontade dele em sua vida, mas ela sairia per­ dendo. Q uand o pastores e missionários fa­ zem apelos nas igrejas, buscando voluntários para o serviço cristão, às vezes dão a impres­ são de que Deus está à m ercê de seus obrei­ ros, mas isso não é verdade. Se você e eu nos recusarm os a obede­ cer a Deus, ele pode nos co lo ca r de lado e usar outra pessoa para realizar seu trabalho, enquanto nós perderem os a recom pensa e a bênção, ou pode nos disciplinar até que nos sujeitem os a sua vontade. D ois exem ­ plos me vêm à mente. Um a vez que João M arcos deixou o trabalho m issionário e vol­ tou para casa (At 1 3 :1 3 ; 1 5 :3 6 -4 1 ), D eus levantou Tim óteo para tomar seu lugar (1 6:13). Q uand o Jonas fugiu de D eus, o Senhor continuou em seu encalço até que ele obe­ decesse, mesmo que Jonas não o tenha fei­ to de co ração . Q uand o não se co n cede a Deus a perm issão de dom inar, ele predo­ mina mesm o assim e sempre cum pre seus propósitos. A quarta lição do discurso de M ordecai é que D eu s não tem pressa - ele cum pre seu plano no d evid o tem po. Deus esperou até o terceiro ano do reinado de A ssuero para rem over Vasti do tron o . D e p o is, esperou mais quatro anos (Et 2 :1 6 ) para colocar Es­ ter no trono. Só no décim o segundo ano do reinado de Assuero (3:7) é que Deus perm i­ tiu a H am ã conceber seu plano perverso e decretou que o "dia crítico " para os judeus ainda levaria quase um ano para chegar. Se esta é a primeira vez que está lendo o Livro de Ester, talvez fique im paciente com Deus e chegue à conclusão de que não es­ tava fazendo coisa alguma. Nos capítulos 1 e 2, um rei e m b ria g a d o e seu s o fic ia is bajuladores parecem estar no controle. Dos capítulos 3 a 6, quem parece assumir o co­ mando é o perverso Ham ã. M esm o depois que Ham ã sai de cena, é o decreto inalterá­ vel do rei que dá trabalho para todos. Mas on de está D e u s? Deus nunca está com pressa. Ele sabe o co m eço , o meio e o fim de todas as coisas e seus preceitos são sem pre corretos e opor­ tunos. O Dr. A . W . Tozer com parou os propó­ sitos soberanos de Deus a um transatlântico que parte de Nova York rumo a Liverpool, na Inglaterra. As pessoas a bordo do navio têm a liberdade de fazer o que lhes aprouver, mas não têm liberdade de mudar o curso do navio. "Ao percorrer o mar da história, o pode­ roso transatlântico dos desígnios soberanos de D e u s m antém seu cu rso co n s ta n te ", escreveu o Dr. Tozer. "D e u s se desloca imperturbado e desim pedido em direção ao cum prim ento dos propósitos eternos deter­ m inados em Cristo Jesus antes da fundação do mundo" (The Know ledge o f the H oly [O C onhecim ento do Santo], p. 118). A soberania de Deus não é um sinal de fatalism o nem de determ inism o cego. So­ mente um Deus soberano é grande o sufi­ ciente para decretar a liberdade de escolha para homens e mulheres e somente um Deus soberano pode cum prir seus propósitos sá­ bios e am orosos neste mundo e até mesmo fazer com que o mal coopere para gerar o bem (G n 5 0 :2 0 ). A pergunta não é: "Será que Deus está no controle do mundo?", mas sim : "S erá que D eus está no con trole de m inha vida?" Estamos cooperando com ele de modo a fazer parte da solução e não do problem a?" C itan d o n ovam ente o Dr. T o z e r: "N o conflito moral em andam ento ao nosso re­ dor, quem estiver do lado de Deus está do lado vencedor e não tem com o ser derrota­ do; quem estiver do outro lado, está do lado derrotado e não tem com o vencer" (p. 119). 4. C o l o c o u o (Et 4 :1 5 -1 7 ) p la n o em p r á t ic a Q uand o vim os Ester e M ordecai pela primei­ ra vez, estavam escondendo a verdadeira na­ cio n a lid ad e . A q u i, M o rd e cai alista outros ESTER 4 jud eus para lutar contra H am ã, e Ester or­ dena que suas servas gentias participem do je ju m ! A pesar de o nom e de Deus não ser men­ cionado no texto, esse ato de hum ilhação foi, obviam ente, dirigido ao Senhor e, sem dúvida alguma, acom panhado de orações. O jejum e a oração podem ser encontrados juntos com freqü ência nas Escrituras, pois je ju a r é um p re p a ro p ara o ra ç õ e s m ais com penetradas e humildes (ver Ed 8:21-23; Sl 3 5 :1 3 ; Dn 9 :3 ; At 13:3). O jejum , em si, não é garantia alguma de que Deus irá aben­ çoar, pois deve ser acom panhado de humil­ dade sincera e de quebrantam ento diante do Senhor (Is 58:1-10; Jl 2 :1 2 , 13; M t 6:1618). O jejum feito apenas com o urn ritual religioso formal não cum pre qualquer pro­ pósito espiritual. U m a vez que os judeus por todo o im­ pério já estavam em "grande luto, com je ­ jum , e choro, e lam entação" (Et 4 :3 ), não foi difícil M ordecai reunir os judeus em Susã a fim de orar por Ester, enquanto ela se pre­ parava para interceder por eles diante do rei. Era um a questão de vid a ou m orte, tanto para ela quanto para seu povo, e Deus usou a crise que Ham ã havia criado para realizar um reavivam ento espiritual em seu povo dis­ perso entre os gentios. C om freqüência, o povo de Deus precisa passar por dificulda­ des antes de se hum ilhar e de clam ar ao Senhor. 711 C o m o devem os interpretar as palavras de Ester: "Se perecer, pereci"? Essas palavras indicam sujeição incrédula? ("Pois bem, vo­ cê me obrigou a isso, portanto, farei o que vo cê está m andando, mesm o que morra por isso!") ou subm issão confiante à vontade de D eus ("Farei a vontade de D eus a qualquer custo!"). Voto a favor da segunda interpreta­ ção. Para mim, Ester reflete a m esm a entre­ ga e co n fia n ça que Paulo exp resso u aos presbíteros de Éfeso: "Porém em nada con­ sidero a vid a precio sa para mim m esm o, contanto que com plete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testem unhar o evangelho da graça de Deus" (At 2 0 :2 4 ). Do ponto de vista hum ano, tudo estava contra Ester e o sucesso de sua m issão. A lei estava contra ela, pois ninguém tinha per­ missão de interrom per o rei. O governo es­ tava contra ela, pois o decreto determ inava que ela deveria ser executada. Seu sexo es­ tava contra ela, pois a atitude do rei com as mulheres era mais do que machista. O s ofi­ ciais estavam contra ela, pois só faziam aqui­ lo que os colocava nas boas graças de Ham ã. Em certo sentido, até mesm o o jejum estava contra ela, pois passar três dias sem com ida nem bebida não ajudaria, necessariam ente, a m elhorar sua aparência nem sua força físi­ ca. M as "se D eus é por nós, quem será con­ tra nós?" (Rm 8:3 1 ). A resposta de fé é: ninguém! 5 espera do julgam ento final: ele ocorre todos os dias". Ainda que as moendas de Deus traba­ lhem devagar, trituram completamente; Ainda que em sua paciência Deus pos­ sa aguardar, moe tudo exatamente. U m D ia n a V id a d o P r im e ir o - M in ist r o E ster 5 (Friedrich von Logau) (Um hom em perverso junta corda suficiente para se enforcar) os últimos anos, a mídia tem se refestelado com reportagens sobre o com p or­ tam ento questionável (e, co m fre q ü ên cia , ilegal) de pessoas co nh ecid as, inclusive atle­ tas, p o lítico s, pregad ores, presidentes de instituições financeiras e até m esm o gente da realeza. D epois de "W atergate", vieram muitos outros "G ate s", e os repórteres investigativos têm se ocupado de conseguir "fu­ ros" que atendam ao apetite insaciável do público por escândalos. Se toda essa ativi­ dade jo rnalística não serviu para qualquer outra coisa, pelo m enos ressaltou a im por­ tância da ad vertência bíblica: "Sabei que o N vosso pecado vos há de achar" (N m 3 2 :2 3 ). A s pessoas podem conseguir esconder, por algum tem po, suas atividades vergonhosas, mas a verdade acaba ap arecendo e todos ficam sabend o o que se passa. O cu lp a­ do, por sua ve z, descobre que o m al que fazem os a outros tam bém o fazem os a nós m esm os. As palavras do Salm o 7:14-16 me fazem pensar em H am ã: "Eis que o ím pio está com dores de iniqüidade; concebeu a m alícia e dá à luz a mentira. Abre, e aprofunda uma cova, e cai nesse mesm o poço que faz. A sua malícia lhe recai sobre a cabeça, e sobre a própria m ioleira desce a sua violência". Existe uma lei de retribuição neste mun­ do, de acordo com a qual a pessoa que bus­ ca perversam ente destruir a outros acaba destruindo a si mesm a. O existencialista fran­ cês A lbert C am us escreveu em sua obra A Q u eda: "N ão há necessidade de se ficar à Ham ã não sabia, mas quatro forças haviam com eçado a trabalhar para destruí-lo. /. A SOBERANIA DIVINA ( E t 5 :1 -5 ) Ester preocupava-se com o fato de o rei apro­ var sua presença e lhe c o n c e d e r uma au­ diência. Se não o fizesse, poderia significar sua execu ção im ediata, e Ester sabia com o o hum or do rei era inconstante. O s judeus haviam passado três dias jejuand o e oran­ do, pedindo que Deus interviesse e que os salvasse do exterm ínio. Era chegada a hora de Ester entrar em ação. O que Ester fez está entre os grandes atos de fé das Escrituras e poderia ter sido registrado em Hebreus 11. Não bastava aos judeus orar e ter fé que D eus iria operar em seu favor. Era preciso que alguém agisse, pois "a fé sem obras é m orta" (Tg 2 :2 0 ). No en­ tanto, Ester não estava atuando com base numa "fé cega". Sabia que Deus havia en­ trado em aliança com Israel, prom etendo li­ dar com seus inimigos (G n 12:1-3). Também sabia que o Deus de Israel era clem ente e que ouviria seu povo, quando se humilhas­ se e orasse (2 C r 7:1 4 ). Além do mais, Deus havia perm itido que um rem anescente ju ­ deu voltasse para sua terra e reconstruísse o templo. Sem dúvida, não era da vontade de D eus que perecessem e que seu trabalho fosse interrom pido. A o contrário de Ester, quando chegam os ao trono da graça, não precisam os ficar im aginando o que nosso Pai pensa de nós, pois ele sem pre am a seu povo e o recebe de braços abertos em sua presença. Uma das m aiores necessidades da igreja d e h o je é contar com intercessores dis­ po sto s a orar fielm ente p e lo m undo perd id o ESTER 5 713 Além disso, não era o lugar ce rto para interceder. Sem dúvida havia servos atenden­ e p o r uma igreja q u e p recisa, encarecidam ente, de um reavivam ento. "V iu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não ho u vesse um in tercesso r" (Is 5 9 :1 6 ). Q u an d o as necessidades são tão prem en­ tes e o privilégio de orar é tão maravilhoso, do o rei na sala do trono, e teria sido uma falta de etiqueta a rainha apresentar sua pe­ tição em público. A imagem de uma mulher chorosa e suplicante diante do trono pode­ o Senhor pode muito bem se admirar de que seu povo não b usq u e o tro n o da g raça. Com o escreveu John Newton: ria perturbar o rei e piorar a situação. O mais apropriado era que conversasse com o rei na privacidade de seus aposentos e não na Leva grandes petições, Quando a um Rei te dirigires; Pois sua graça e poder São de tais proporções, Que nunca é demais o que pedires. É im portante observar que Ester preparou-se para se encontrar com o rei. (Lembre-se de que Rute tam bém se preparou para se en­ contrar com Boaz; ver o cap. 3.) Caso soubes­ se que iria se encontrar com o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca ou com a realeza no Palácio de Buckingham , por cer­ to se prepararia para esse encontro. Assim com o Pedro afundando no mar, há ocasiões em que precisam os co rrer para a presença de Deus e clam ar por socorro. M as o poder dessas "o raçõ es de em erg ên cia" depende de nossa com unhão diária com Deus, e essa com unhão exige preparo. Preparar-se para orar é tão importante quanto a oração em si. O rei reconheceu a rainha oficialm ente e a co nvid ou a faze r sua petição ."M uito s propósitos há no coração do hom em , mas o desíg n io do S e n h o r p e rm a n e ce rá " (Pv 1 9 :2 1 ). "C om o ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do S e n h o r ; este, se­ gundo o seu querer, o inclina" (Pv 2 1 :1 ; ver Ed 6 :2 2 ) . O D e u s s o b e ra n o e s ta v a no sala do trono. O terceiro motivo era que Ester deseja­ va que H am ã, e so m en te Hamã, estivesse presente quando contasse ao rei sobre a tra­ ma perversa do seu primeiro-ministro. C om sua intuição fem inina, Ester sabia que, se fosse pego com a guarda abaixada, Ham ã iria, de algum modo, admitir sua culpa e fa­ zer algo insensato que deixaria o rei enfure­ cido. No final, estava certa quanto às duas co isas. H avia, no entanto, um quarto motivo, do qual nem a própria Ester estava ciente na­ quela ocasião. Era preciso que se desenro­ lasse mais um acontecim ento antes de ela poder dividir seu fardo com o rei, algo que iria ocorrer ainda naquela noite. O rei des­ c o b r ir ia q u e n ão h a v ia re c o m p e n s a d o M ordecai por lhe salvar a vida cinco anos antes, um deslize que rem ediaria de im edia­ to. H o n raria M o rd e cai, ao m esm o tem po hum ilhando Ham ã, e essa experiência pre­ pararia o rei para ouvir a petição de Ester. O banquete de Ester já estava pronto, de modo que o rei e Ham ã tiveram de se apressar para co m p arecer. Em resposta às orações, Deus trabalhou no co ração do rei de tal m odo que ele não apenas cooperou de bom grado com sua rainha, mas também obrigou Ham ã a colaborar. Essa é a m aravi­ controle. Por que Ester não informou o rei im edia­ tamente da conspiração perversa de Hamã? H á pelo menos quatro motivos para isso. Em primeiro lugar, não era a hora certa. O rei não estava preparado para receber a notícia lha da providência de Deus. ch o cante de que seu mais alto oficial era um mau-caráter. Enquanto tratava dos negó­ cios do reino, A ssuero poderia ter conside­ rado a acusação de Ester um ato de traição nos aposentos particulares da rainha! É pou­ co provável que algum oficial do im pério ti­ vesse sido tão honrado assim. A medida que ou, sim plesm ente, uma fofoca palaciana. 2. A FALSA SEGURANÇA ( E t 5 :6 - 9 a ) Q u e honra para H am ã co m p arecer a um banquete especial só com o rei e a rainha e Ham ã com ia e bebia com A ssuero e Ester, sentia-se cada vez mais seguro de si. Era, de 714 ESTER 5 fato, um hom em im portante no reino, e seu futuro estava garantido. Q u an d o o rei disse a Ester para apresen­ tar sua petição, o primeiro-ministro sentiuse ainda mais confiante, pois o rei e a rainha estavam discutindo um assunto pessoal em sua presença! H am ã não apenas era chega­ do ao rei, com o tam bém estava participan­ do dos assuntos da rainha. Um a vez que a rainha o havia convidado para o banquete, sem dúvida valorizava seu conselho. Vem os nesse banquete mais três evidên­ cias da soberania de D eus. Em primeiro lugar, o Senhor deteve Ester para que não dissesse a verdade a Assuero e Ham ã. A pesar de ser provável que houvesse medo em seu cora­ ção, não creio que tenha sido isso o que a refreou. M esm o que Ester não soubesse, o Senhor estava operando em sua vida e orien­ tando-a naquilo que d izia. D eus adiava a grande revelação para depois da ocasião na qual M ordecai seria honrado pelo rei. Também vem os a mão soberana de Deus operando na m aneira com o o rei aceitou esse adiamento e concordou em participar de outro banquete. M onarcas com o Assuero não eram acostum ados a ouvir que deve­ riam esperar. "O coração do homem pode faze r planos, mas a resposta certa dos lá­ bios vem do S e n h o r " (Pv 1 6:1 ). "M uitos pro­ pósitos há no co ração do hom em , mas o desígnio do S e n h o r perm anecerá" (Pv 19:21). Q uaisq uer planos de Assuero para a noite seguinte foram cancelados, a fim de que ele tivesse tempo para o segundo banquete da rainha. A terceira e v id ê n c ia da so b e ra n ia de Deus é que nenhum dos servos de Ester que sabiam de sua nacionalidade tentou trans­ mitir essa inform ação a Ham ã. Se Ham ã ti­ vesse tomado conhecim ento das origens da rainha, teria elaborado, mais que depressa, um plano para impedi-la de interferir. A intri­ ga palaciana é um jogo perigoso, e qualquer um dos servos poderia ter lucrado contan­ do a Ham ã o que sabia. O fato de Ester convidar Ham ã para o segundo banquete só aum entou a sensação de seg u ran ça desse hom em p erverso (Et 5 :1 2 ), e era exatam ente essa a reação que a rainha desejava. Ela sabia que a ruína de seu inim igo v iria da a u to co n fia n ç a e x c e ssiv a dele. " O que co nfia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda em sabedoria será salvo" (Pv 2 8 :2 6 ). Assim com o o ho­ mem rico e insensato da parábola de Jesus (Lc 12:16-21), H am ã tinha certeza de que todo o resto de sua vida estava garantido, quando, na realidade, encontrava-se a pou­ cas horas da morte. Podem os lem brar de outros dois homens cuja falsa segurança os levou à m orte: o rei Belsazar e Judas Iscariotes. O rei Belsazar ofereceu um grande banquete, durante o qual blasfemou contra o D eus de Israel; e, ao co locar palavras escritas numa parede, Deus anunciou sua sentença. Naquela mes­ ma n o ite, a B a b ilô n ia foi co n q u ista d a e Belsazar foi morto (Dn 5). Judas, um apóstolo de Jesus, não cria no Senhor (jo 6 :7 0 , 71); antes, era traidor e la­ drão (1 2 :6 ). No ce n á c u lo , assentou-se à mesa no lugar de honra, sem que quaisquer dos outros d iscíp u lo s so ub esse o que se passava em seu co ração . No entanto, Jesus sabia o que Judas faria e escondeu essa in­ form ação dos outros. Na verdade, Jesus che­ gou até a lavar os pés de Judas! Certo de que tudo estava sob controle, Judas entre­ gou Jesus ao inimigo e acabou com etendo suicídio (M t 27:1-10). O único lugar seguro no qual podem os depositar nossa co nfiança é o Senhor. 3. O rg u lh o (Et 5:10-12) O co n h e c id o ator John B a rrym o re disse: "U m a das coisas de que mais me arrepen­ do nos anos em que passei no teatro é que não pude me sentar na platéia e assistir a minha própria atuação". Foi com esse tipo de atitude que Ham ã saiu do palácio e voltou para casa cheio de alegria. Recém -chegado de um jan tar ínti­ mo com o rei e a rainha e, na expectativa de outro banquete na noite seguinte, Ham ã deixou seu ego correr solto, numa dem ons­ tração de orgulho que me revolta cada vez que leio esse texto. O b serve com o o prono­ me possessivo é usado com freqüência: seus amigos, sua esposa, suas riquezas, seus filhos ESTER 5 715 (tinha dez; 9:7-10). O rei o havia promovido ao cargo mais elevado de todos. Isso me faz lem brar o fazendeiro rico de Lucas 12:1621, cuja palavra predileta era eu. H am ã não sabia que "A soberba prece­ de a ruína, e a altivez do espírito, a queda" (Pv 16:18) nem que "A soberba do homem o abaterá, mas o hum ilde de espírito obterá honra" (2 9 :2 3 )? Q u alq u er um que se van ­ gloria de sua posição, riqueza, fam ília ou de qualquer outra co isa deve dar ouvidos às palavras de João Batista: " O hom em não logo em seguida, voltou rapidam ente a co ­ locar os pés no chão. Em ocasiões anterio­ res, M ordecai se recusara a curvar-se diante de Ham ã (3 :4 , 5), mas nessa ocasião esse judeu corajoso recusou-se a levantar-se em sinal de reconhecim ento ao ilustre primeiro- pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada" (Jo 3 :2 7 ). "Pois quem é que te faz sobressair?", perguntou Paulo. "E que tens assentado. Não vem ao caso se gostamos ou não do presidente ou do ju iz em nível pesso al. D e ve m o s m ostrar respeito pelos cargos que ocupam . H am ã "se encheu de furor contra M or­ decai" (5 :9 ). Seu ódio pelos judeus em geral e, por M ordecai em especial, o contam ina­ ra de tal modo que não conseguia nem se alegrar em falar de sua própria grandeza! "Porém tudo isto não me satisfaz", H am ã admitiu, "enquanto vir o judeu M ordecai as­ sentado à porta do rei" (v. 13). A m aldade é o ódio profundam ente ar­ raigado que nos faz sentir prazer quando nosso inim igo sofre e que nos causa dor quando nosso inimigo é bem -sucedido. A maldade é incapaz de perdoar e deve sem­ pre buscar vingança. A m aldade tem uma m em ória excelente para as mágoas e lem ­ branças ruins do passado e um a m em ória terrível para a bondade. Em 1 Coríntios 5:8, Paulo com p aro u a m aldade ao ferm ento, pois tam bém co m e ça muito pequena, mas vai crescendo aos poucos até perm ear toda tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, com o se o não tiveras recebido?" (1 C o 4:7 ). M uitos teólogos acreditam que o orgu­ lho é a própria essência do pecado (talvez, por isso, o orgulho seja o prim eiro item das "coisas que Deus o d eia"; ver Pv 6:16-19). Foi o orgulho que transform ou Lúcifer em Satanás: "Serei sem elhante ao A ltíssim o" (Is 14 :1 4 ). Satanás usou o orgulho para tentar Eva: "C o m o D eus, sereis conhecedores do bem e do mal" (G n 3 :5 ). O estudioso da Bíblia, W illiam Barclay, escreveu: " O orgu­ lho é o solo no qual todos os outros pecados crescem e a fonte de onde todos os outros pecados se originam ". Q u e m otivo um p ecad o r tem para se orgulhar? Sem dúvida, não podem os nos or­ gulhar de nossos antepassados. Nas palavras do pregador puritano W illiam Jenkyn: "N o s­ so pai foi Adão, nosso avô foi o pó, e nosso bisavô não foi coisa algum a". Lá se vai nossa genealogia! A única co isa que, de acordo com a Bíblia, a hum anidade tem de grande é o seu pecado: "V iu o S e n h o r que a m alda­ de do homem se havia m ultiplicado na ter­ ra" (G n 6 :5 ). Lá se vão nossas realizações! Alguém disse que o orgulho é uma doen­ ça que perturba a todos menos o enfermo. A menos que seja curado, o orgulho é uma doença fatal. 4 . M a ld a d e (E t 5 : 9 b , 1 3 , 1 4 ) Q u an d o H am ã saiu do palácio da rainha, andava nas nuvens, mas ao ver M ordecai ministro. C erta vez, com pareci a um a reu­ nião e entrevista coletiva na Casa Branca, e, quando o presidente Ronald Reagan entrou na sala, todos se levantaram . Q uan d o um ju iz entra no tribunal, todos se levantam e perm anecem em pé até que o ju iz tenha se a vid a. A m aldade no co ra ção do cristão entristece o Espírito Santo e deve ser elim i­ nada (Ef 4:30-32; Cl 3:8). O aspecto mais pérfido da m aldade é sua n ecessidad e de ser co lo cad a em prá­ tica ; m ais cedo ou mais tarde, precisa se expressar. M as tome cuidado quando atirar em seu inimigo! O s projéteis costum am rico chetear do alvo e voltar para o atirador! Se uma pessoa está em busca de autodestruição, o modo mais rápido de fazê-lo é ser com o H am ã e cultivar um espírito maldoso. Ham ã havia contam inado a esposa e os am igos com seu ódio contra os ju d eu s, e 716 ESTER 5 eles sugeriram que o prim eiro-m inistro pe­ disse perm issão ao rei para enforcar M or­ decai. Não seria difícil para um hom em com a a u to rid a d e de H a m ã in v e n ta r alg u m a acusação e, por certo, o rei não se daria o trabalho de investigar. E evid en te q u e isso foi antes d e A ssu ero d e sco b rir qu e M o rd eca i lhe havia salvado a vida! Agora, podem os entend er m elho r a dem ora de Ester para apresentar sua petição ao rei. D epo is dos acontecim ento s do capítulo 6, seria im pos­ sível H am ã obter perm issão para execu tar M o rd e cai. U m a v ez que não gostava de perder tem­ po, Ham ã ordenou que fosse construída uma forca. Não sabem os ao certo se ela própria tinha quinze metros de altura ou se ficava num lugar com essa elevação, com o o muro da cidade ou o terraço de um edifício. De qualquer m odo, o plano de H am ã era ób­ vio : desejava usar a execução de M ordecai para assustar os judeus e convencê-los de que o rei estava falando sério quando pu­ blicou o édito. A e xe cu çã o de um judeu im portante com o M ordecai paralisaria qual­ quer iniciativa do povo judeu no im pério, e Ham ã poderia tê-los a sua m ercê. M ais um aspecto dessa forca deixa es­ paço para dúvida: era com o as forcas usa­ das no O cidente para pendurar uma pessoa pelo pescoço até a morte? O u era uma vara na qual um c o rp o era em palado? O s persas eram conhecido s por seus castigos cruéis, sendo que um deles consistia em em palar prisioneiros vivos em estacas afiadas e deixálos morrer de form a agonizante. Q u a lq u e r que fosse a natu re za dessa forca, acabou transform ando-se no instru­ mento da execu ção do próprio Ham ã. Deus estava observando das sombras e cuidando de seu povo. "Porque os cam inhos do homem estão perante os olhos do S e n h o r , e ele considera todas as suas veredas. Q uanto ao perverso, as suas iniqüidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido. Ele mor­ rerá pela falta de disciplina, e, pela sua muita loucura, perdido, cam baleia" (Pv 5:21-23). 6 S in a is de P e r ig o E ster 6 (Deus soa o alarme, mas Hama nao escuta) / bem provável que vo cê já tenha visto, em algum lugar, essa frase co n hecida: "H o je é o prim eiro dia do resto de sua vida". E Se alguém tivesse dito isso a H am ã quando saiu de casa logo cedo e se apressou para o palácio, teria se enganado. O mais apropria­ do seria dizer: "H am ã, hoje é o último dia de sua vida!" "Tão certo com o eu vivo, diz o S e n h o r D eus, não tenho prazer na morte do perver­ so, mas em que o perverso se converta do seu cam inho e viva." (Ez 3 3 :1 1 ). "[O Senhor] é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos ch egu em ao arrep e n d im e n to " (2 Pe 3:9). "Jerusalém , Jerusalém , que matas os pro­ fetas e apedrejas os que te foram enviados! Q uantas vezes quis eu reunir os teus filhos, co m o a galinha aju nta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!" (M t 2 3 :3 7 ). Tom ando por base esses três versículos, podem os co n clu ir que o desejo de D eus para os pecadores não é que morram, mas sim que deixem seus pecados e que sejam salvos. Há grande alegria no céu quando um pecador se arrepende (Lc 15:7, 10), mas o Senhor não obriga as pessoas a dar as co s­ tas aos pecados e se voltar para seu Filho. "Esse era o meu desejo [...] mas você não estava disposto." Por mais que detestem os Ham ã e seus atos perversos, devem os sempre lembrar que D eus am a os p ecad ores e qu er salvá-los. Deus é longânimo e providencia para que o co ração da pessoa seja tocado por várias influências, visando, com isso, fazê-las dei­ xar seus maus cam inhos. Verem os algumas d essas in flu ê n cia s o p e ran d o nos a c o n te ­ cim entos deste capítulo. 1. U m a n o it e d e r e v e l a ç ã o (Et 6:1-5) M ais uma vez, percebem os a mão sobera­ na de Deus agindo de modo invisível na vida do rei Assuero. Q u e r o rei soubesse disso, quer não, Deus estava cum prindo seus pro­ pósitos, e podem os ver neste parágrafo pelo m enos cin co dem onstrações da providên­ cia divina. A in sô n ia d o re i (v. 1a). "Inquieta se deita a cab eça que usa a co ro a", escreveu Sha­ kespeare. Salom ão co n co rd o u : "D o c e é o sono do trabalhador, quer com a pouco, quer m uito; mas a fartura do rico não o deixa dorm ir" (Ec 5 :1 2 ). Foram as preocupações com assuntos de Estado que não deixaram o rei dormir? Estava preocupado com suas finanças? Será que com eu e bebeu demais no banquete da rainha? O u será que estava intrigado com o pedido misterioso de Ester? Algum as dessas preocupações, ou uma co m b in açã o de todas elas, pode ter co n ­ tribuído para a insônia do rei, mas por trás delas estava a mão soberana de D eus, que cu ida de seu povo e nunca dorm ita nem dorm e (Sl 1 2 1 :3 , 4). Deus queria que o rei ficasse acordado, pois tinha algo a lhe dizer. Q uand o visitei o zoológico, fiquei encan­ tado com a exposição de criaturas noturnas. Era com posta de anim ais que a m aioria de nós raramente vê, pois eles dorm em duran­ te o dia e se tornam ativos à noite. Um dos cartazes da exposição dizia: "Enquanto você dorm e, a natureza trabalha com afinco e aju­ da a m anter o equilíbrio da vid a". Pensei co ­ migo m esm o: "Enquanto eu durm o, meu Pai celeste trabalha com afinco para certificarse de que o novo dia será exatam ente com o ele deseja". As m isericórdias de Deus nun­ ca falham , mas se renovam "cad a manhã" (Lm 3 :2 2 , 23), pois Deus nunca dorm e nem pára de trabalhar, a fim de que todas as co i­ sas cooperem para o nosso bem (Rm 8 :2 8 ). O e n tre te n im e n to q u e o r e i e sc o lh e u (v. 1b). Entretenim ento era algo que não 718 ESTER 6 faltava a Assuero! Poderia ter cham ado uma concubina do harém ou ter trazido os músi­ cos da corte a fim de tocar para ele. Poderia ter jogado alguma coisa com seus guardas ou ter pedido um trovador para entretê-lo com uma balada. Sem dúvida, sua decisão de pedir que lessem para ele veio de D eus. D eus pode nos orientar até mesm o em coisas secundárias com o nossa recreação? Claro que sim. Um dos acontecim entos mais críticos de m inha vid a se deu quando eu era jovem e fui à festa de aniversário de um amigo. Por causa daquela noite, tomei uma decisão sobre meus estudos. Essa decisão acabou me levando a mudar de escola e a encontrar a m oça que se tornaria minha es­ posa. N unca subestim e as coisas extraordi­ nárias que D eus pode fa ze r por m eio de acontecim entos triviais, com o uma festa de aniversário. O liv ro q u e o se rv o e s c o lh e u (v. 1c). Deus orientou A ssuero a pedir que lessem para ele as crônicas do reino (um remédio garantido para qualquer insônia!). M as Deus tam bém orientou o servo de modo que este tirasse da estante exatam ente o livro em que se encontrava registrado o serviço prestado por M ordecai ao rei cinco anos antes. Sem dúvida, havia outros vo lu m es disponíveis, mas foi esse que o servo escolheu. Deus pode orientar nas escolhas que as pessoas fazem de livros? Claro que sim. No final de fevereiro de 1916, um aluno inglês com prou um livro num sebo numa estação de trem. Havia visto aquele livro e decidira não o com prar pelo menos um a dúzia de veze s antes, mas naquele dia, resolveu le­ vá-lo. O livro era Phantastes, de G e o rg e M acD o n a ld , e a leitura daquele livro aca­ bou levando o rapaz a se converter. O nome desse rapaz? C S. Lew is, possivelm ente um dos m aiores e mais conhecidos apologistas da fé cristã de m eados do século xx. Lewis escreveu a um amigo, contando que pegara aquele livro "por acaso", mas creio que foi Deus quem orientou sua escolha. Deus pode até nos orientar quanto àquilo qu e lem os num livro. Um jovem no Norte da Á frica d e se ja va e n co n tra r a paz, procurando-a prim eiro em prazeres sensuais e, posteriorm ente, na filosofia, nas só sentiu-se mais m iserável. Um dia, ele ouviu a criança do vizinho brincando e dizendo: "Pegue e leia! Pegue e leia!". No mesm o instante, o rapaz pegou as Escrituras e abriu "por acaso" em Rom anos 1 3 :1 3 , 14, e aqueles versículos o levaram a crer em C risto . C o n h ece m o s esse rapaz com o Agostinho, Bispo de Hipona e autor de diversas obras clássicas cristãs. O servo do rei escolheu justam ente o livro que falava da boa ação de M ordecai e leu aquele trecho para Assuero. C o m o a pro­ vidência de Deus é maravilhosa! A d e m o ra d o r e i em re c o m p e n s a r M o rd e c a i (vv. 2 , 3 ). Trata-se de um ponto crítico, pois se M ordecai tivesse sido honra­ do c in c o anos antes, os a c o n te cim e n to s desse dia decisivo poderiam não ter o co r­ rido. As recom pensas e castigos eram ele­ mentos fundam entais do sistema persa de incentivo à lealdade, e era raro um serviço meritório não ser recom pensado. Então, por que a boa ação de M ordecai havia sido es­ crita e esquecida? Algum cronista in exp e­ riente da máquina burocrática não gostava de M ordecai? Algum m em orando oficial se perdeu? Não sabem os. M as de um a coisa estamos certos: D eus estava no controle e já havia escolhido o dia em que M ordecai seria honrado. Deus está no controle da seqüência dos aco n te cim e n to s? Sem d úvid a! D e p o is de fazer am izade com o copeiro do Faraó, José pensou que isso resultaria em sua liberta­ ção da prisão, mas teve de esperar dois anos até que chegasse o tem po esco lhido por Deus para esse hebreu tornar-se o segundo no poder no Egito (G n 4 0 :2 3 - 4 1 :1 ). Deus s e le c io n o u um d ia e s p e c ífic o p a ra os hebreus deixarem o Egito (Êx 12:40-42; ver G n 15:13-16) e até m esm o o nascim ento de Cristo em Belém ocorreu na "plenitude do tem po" (G l 4 :4 ). Em meio a um mundo confuso e agitado, o cristão pode dizer: "N as tuas mãos, estão os meus dias" (Sl 3 1 :1 5 ) e encontrar paz na vontade de Deus. A dem ora de Deus não é uma recusa. Por vezes, ficam os im pacientes e nos per­ guntamos por que os ím pios prosperam , en­ quanto os justos sofrem , mas D eu s nunca ESTER 6 está com pressa. Ele é longânimo para com os perversos, pois deseja que se arrependam, e é paciente com seu povo, pois deseja que recebam a recom pensa certa, na hora certa, com o propósito certo. Se, em algum m o­ mento, M ordecai se perguntou por que o rei promoveu Ham ã e o ignorou, não tardaria a descobrir que Deus não havia se enganado. A ch egada o p o rtu n a d e H a m ã (v. 4 ). É possível que H am ã tivesse passado a noite em claro, supervisionando com gosto a cons­ tru ção da fo rca onde plan ejava ex e cu ta r M ordecai. Era bem cedo, mas H am ã deseja­ va encontrar-se com o rei o mais rápido pos­ sível e obter sua perm issão para a execução (Pv 6 :1 8 ). Do ponto de vista da Ham ã, quan­ to antes M ordecai fosse executado, melhor. O corpo de M ordecai ficaria exposto o dia todo, o que daria grande prazer a H am ã e tam bém instilaria o m edo no co ração dos cidadãos jud eus de Susã. Um a v e z que ti­ vesse dado cabo de M ordecai, H am ã pode­ ria estar certo de que todos obedeceriam às ordens do rei e se curvariam diante do primeiro-ministro. Imagine se Ham ã tivesse chegado duas horas depois? O rei teria consultado outros conselheiros e ele teria sido deixado de fora da celebração de M ordecai. Deus queria que H am ã passasse o dia honrando M ordecai e não exultando em sua m alignidade ao ver o corpo de M ordecai na forca. Na verdade, D eus estava advertindo H am ã de que seria melhor mudar seu curso de ação ou acaba­ ria sendo destruído. Q u an d o recapitulam os essas dem onstra­ ções da providência de D eus, não podemos evitar louvar e agradecer ao Senhor por ser tão maravilhoso. " O S e n h o r frustra os desí­ gnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do S e n h o r dura para sem ­ pre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações" (Sl 3 3 :1 0 , 11). "N ão há sabe­ doria, nem inteligência, nem mesm o conse­ lho contra o S e n h o r " ( P v 2 1 :30). "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8 :3 1 ). 2. U m a m a n h ã d e c is iv a (Et 6:6-10) Um a coisa era entrar na sala do trono do rei, outra era ser co n vid ad o , com o H am ã 719 foi, para os aposentos de dorm ir do rei. Essa nova honra só serviu para aum entar o orgu­ lho e a falsa segurança de H am ã; pensou que se encontrava no controle dos aconte­ cim entos e que o destino de M ordecai esta­ va selado. Q uand o o rei pediu o conselho de Ham ã sobre um assunto pessoal, alim en­ tou ainda mais sua vaidade. No versículo 6, a pergunta do rei foi vaga e não identificou o "hom em a quem o rei deseja honrar". Em seu orgulho, H am ã co n­ clui que o rei se referia a ele. A final, que outro hom em no im pério m erecia tam anha honra do rei? D epois do modo de M ordecai o haver insultado, H am ã teria dupla vingan­ ça: prim eiro, M ordecai o veria ser honrado pelo rei, e, depois, o judeu seria executado na forca. H am ã term inaria o dia em grande estilo, em "alegre" (5 :1 4) com em oração com o rei e a rainha. O que o orgulhoso Ham ã não sabia era que, antes de o dia terminar, a situação teria sido com pletam ente invertida: H am ã seria obrigado a honrar M ordecai diante de todo o povo da cidade; o banquete de Ester iria desm ascará-lo com o traidor e, então, Ham ã - e não M ordecai - acabaria na forca. "O justo é libertado da angústia, e o perverso a recebe em seu lugar" (Pv 11:8) "Antes da ruína, gaba-se o co ração do hom em , e diante da honra vai a hum ildade" (Pv 1 8 :1 2 ). A primeira m etade desse versí­ culo aplica-se a Ham ã, e a segunda, a M orde­ cai. U m a pequena vírgula faz uma grande diferença! Provérbios 2 9 :2 3 transmite a mes­ ma m ensag em : "A soberba do hom em o abaterá, mas o hum ilde de espírito obterá honra". D e que lado da vírgula você está? Ao pensar que o rei descrevia as honras que seu primeiro-ministro receberia, Ham ã pediu o que havia de m elhor: o hom em a ser honrado deveria ser vestido com os tra­ jes do próprio rei; m ontaria no cavalo do rei, trazendo na cabeça a coroa real; um dos príncipes da n o b re za co n d u ziria o cavalo pela cidade, ordenando que o povo prestas­ se homenagem a seu cavaleiro. Um aconte­ cim ento desses seria quase uma coroação! Q uanto mais reflito sobre o caráter de H am ã, m ais c o n v e n c id o fic o de que ele 720 ESTER 6 queria o trono para si. C o m o segundo no poder no im pério, se alguma coisa aconte­ ce a Assuero, sem dúvida H am ã estaria na melhor posição de tomar o lugar do rei. Um hom em orgulhoso, com am bições egoístas, não se contenta com o segundo lugar se existe algum modo de conseguir o prim ei­ ro. Se aquilo que é descrito em Ester 6 :8 , 9 tivesse, de fato, sido feito para Ham ã, teria dado ao povo de Susã a im pressão de que A ssuero havia esco lhido H am ã com o seu sucessor. O bserve que o rei cham ou M ordecai de "o judeu" (v. 10). Tem-se a impressão de que o rei havia se esquecido com pletam ente de que tinha permitido a Ham ã publicar um édito para exterminar os judeus. Num dia o rei é inimigo dos judeus e, algumas semanas de­ pois, hom enageia um dos cidadãos judeus mais proeminentes! Mas Assuero estava em dívida com ele, pois M ordecai havia salvado sua vida. E, talvez, ao honrar M ordecai publi­ camente, o rei pudesse ajudar a acalm ar os cidadãos aflitos de Susã (3:15). conduzi-lo de volta a seu lugar à porta do rei. Q u e ironia! Durante quase um dia intei­ ro, Ham ã foi servo de M ordecai, ordenan­ do que o povo se prostrasse e honrasse o jud eu! A quilo que M ordecai se recusou a fazer para H am ã - curvar-se diante dele H am ã teve de ordenar a outros que fizes­ sem para M ordecai! D e que m odo toda essa hom enagem e proem inência afetaram M ordecai? Q uando tudo term inou, ele sim plesm ente voltou para seu lugar junto à porta e continuou a servir o rei. O aplauso não muda as pessoas ver­ dadeiram ente humildes, pois seus valores são muito mais profundos. D eus pode confiar suas bênçãos aos humildes, pois procuram glorificar som ente ao Senhor. A reação de Ham ã foi bem diferente, pois ele foi humilhado. Voltou para casa o mais rápido possível, com a cabeça coberta, com o se estivesse pranteando. Essa havia sido a reação de M ordecai ao édito real sobre os judeus (4 :1 , 2). M ais uma vez, as coisas se inverteram . Foi uma manhã decisiva. O rei havia de­ cidido recom pensar M ordecai, e Ham ã ha­ via decidido qual seria a recom pensa. O que resultou dessas decisões? M esm o que se prostrassem diante dele, H am ã não tinha mais desejo algum de ver as pessoas, pois fora humilhado diante de­ las e sabia que riam dele pelas costas. Essa é 3. Um a diferença entre reputação e caráter. Ham ã só era um hom em fam oso, um hom em de reputação, porque o rei o havia nom eado d ia d e d e s o n r a (Et 6:11-14) Ficam os im aginando qual foi a reação de H am ã quando o rei lhe disse para fazer a M ordecai tudo aquilo que havia sugerido. Ficou chocado? M ostrou abertam ente sua surpresa? É bem provável que não, pois não era costum e as pessoas se expressarem li­ vrem ente diante de um m onarca do O riente. C om o fingim ento experiente que o havia feito chegar ao lugar em que estava, Ham ã acatou a ordem do rei. Prim eiro, teve d.e ir à porta do rei buscar M ordecai e levá-lo para o palácio. Então, teve de co locar em M ordecai as vestes reais. U m a vez que M ordecai havia m ontado o cavalo do rei, Ham ã teve de conduzir o cavalo pela cidade e proclam ar: "Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar!" (v. 9). Depois de p e rco rre r as ruas da c id a d e , H a m ã teve de co n d u zir o cavalo de volta ao palácio, de retirar as vestes reais de M o rd e cai1 e de para um cargo im portante; não era, porém, um hom em de caráter. Sua reputação de­ pendia de seu cargo, de sua riqueza e de sua autoridade, coisas que poderiam ser to­ das tiradas dele. Q u e contraste entre a reunião de família de Ham ã em 6:13 e a reunião anterior em 5:10-12! Enquanto na prim eira reunião H a­ mã havia se gabado de sua grandeza, no segundo en co ntro, teve de confessar que havia sido humilhado. Se o cavalo do rei tives­ se sido m ontado por qualquer outro oficial e não por M ordecai, o judeu, H am ã talvez tivesse conseguido lidar com a situação. Mas ser obrigado a honrar um judeu o havia des­ m oralizado com pletam ente. A essa altura, sua esposa e seus conse­ lheiros fizeram um com entário interessante: "Se M ordecai, perante o qual já com eçaste ESTER 6 721 a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele; antes, certam ente, cairás diante dele" (Et 6 :1 3 ). A hum ilhação nas ruas da cid ade e essas palavras em sua casa deveriam ter alertado Ham ã para o p eri­ go e o levado a m udar o rum o de seus atos. a história de Israel. D e qualquer modo, viram H am ã caindo de sua posição proeminente, uma previsão sinistra que o deveria ter co n­ duzido à hum ildade e ao arrependim ento. Enquanto H am ã discutia suas desventuras com a esposa e os conselheiros, os eunucos Deus estava avisando Ham ã, mas, em seu orgulho, o primeiro-ministro não deu ouvi­ dos. Se tivesse se arrependid o de todo o coração e clam ado por m isericórdia, é bem provável que tivesse salvado a própria vida e a de seus dez filhos. O s persas eram um povo extremamente do rei bateram à porta de Ham ã a fim de escoltá-lo até o banquete da rainha. Ele havia planejado ir ao banquete com uma disposi­ ção "alegre", com M ordecai fora do cam inho para sem pre (5 :1 4 ). M as tudo havia m udado. O que a co n te ce ria em seguida? Q ual era a petição m isteriosa que a rainha Ester estava prestes a revelar no banquete? H am ã saiu com os eunucos para aquela supersticioso, e os conselheiros consideraram os acon tecim en to s daquele dia co m o um "mau agouro" para o futuro de Ham ã. Talvez soubessem da aliança de Deus com Abraão (G n 12:1-3) ou simplesmente conhecessem 1. que seria sua última refeição. Q uand o Deus soa o alarm e, vale a pena parar, olhar e ouvir... e tam bém obedecer. É bem provável que M ordecai tenha ficado com os trajes reais, uma vez que o rei não iria vestir algo que outra pessoa houvesse usado. Ester. Assim , quando estava sendo servido o vinho, o rei tocou no assunto. E claro que as palavras "ainda que seja m etade do reino" 7 eram um a prom essa que não deveria ser considerada literalmente (ver 5:3 ; Dn 5 :1 6 ; M c 6 :2 3 ). Significava, apenas, que o rei se­ E ster 7 ria generoso e que a pessoa tinha liberdade de lhe dizer o que desejava. Nas vinte e quatro horas passadas, Es­ ter provavelm ente havia ensaiado esse dis­ curso várias veze s e, então, D eus lhe deu forças para fazer seu pedido. Lembre-se de que ela estava colocand o a vida em jogo, (Ham ã chega ao fim da linha) pois se o rei negasse sua petição, seria o u ando chegaram aos ap osen to s de fim . Ester no p a lá cio , nem o rei e nem Ester deixou claro, desde o início, que dependia do favor do rei e que não estava H am ã sabiam que Ester era jud ia. É bem pro­ tentando lhe dizer o que fazer. Disse tam­ vável que H am ã ainda estivesse perturbado bém que seu desejo não era satisfazer os com os acon tecim ento s daquele dia, mas se recom pôs e esperou poder desfrutar o próprios interesses, mas sim agradar o rei. U sou corretam ente de psicologia para tra­ banquete. Esse é o sétim o banquete regis­ tar de um m onarca m achista com o Assuero. trado no Livro de Ester. Também foi sábio da sua parte não dizer: S e H am ã soubesse a nacionalidade da Há um homem em seu reino que pla­ rainha, ele teria fugido para salvar sua vida neja destruir todos os judeus! ou, então, teria se prostrado com o rosto em terra diante do rei e suplicado por mise­ C oncentrou seu p e d id o no fato de que a vida da rainha estava em perigo e de que o ricó rd ia. D eus havia ad vertid o H am ã por C ai a M áscara Q meio das circunstâncias, de seu s conselhei­ ros e de sua esposa, mas o primeiro-minis­ tro havia se recusado a ouvir. "Abom inável é ao S e n h o r todo arrogante de co ração ; é evidente que não ficará im pune" (Pv 16:5). A longanimidade de Deus levou Ham ã a pensar que estava seguro. "Visto com o se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteira­ mente disposto a praticar o mal" (Ec 8:1 1 ). A longanimidade de Deus nos dias de hoje é uma oportunidade para as pessoas se arre­ penderem (2 Pe 3:9), mas nosso mundo per­ verso acredita que isso significa que Deus não irá julgar os pecadores. "Q u an d o andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes so­ brevirá repentina destruição, com o vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão" (1 Ts 5:3). 1 . O PEDIDO DA RAINHA (E l 7 :1 -4 ) Assuero havia esperado desde o banquete da noite anterio r para o u vir a petição de rei precisava tomar uma providência. Pode­ mos supor que A ssu ero ainda am ava sua rainha e não queria que nada de mal lhe acontecesse. Ainda assentado em presença dela e contem plando sua beleza, o rei foi tocado pelas palavras de Ester. Q u e mons­ tro poderia intentar contra sua rainha? Não apenas a vida da rainha estava em perigo, mas também seu povo corria o risco de ser exterm inado. M eu palpite é que essa declaração deixou o rei perplexo. Q uem era o povo dela? Ester não era persa? Estava es­ condendo alguma coisa dele? Foi então que Ester lem brou o rei do decreto que ele havia aprovado para elimi­ nar todo o povo ju d eu . N a verdade, suas palavras são quase um a citação literal do decreto (Et 3:1 3). A ssuero foi esperto o sufi­ ciente para entender que a rainha Ester era ju d ia e que, in vo lu n tariam e n te , ele havia consentido com seu assassinato! Ester prosseguiu, ressaltando que o rei havia sido pago para publicar aquele decreto ESTER 7 723 (Et 3 :9 -1 1 ). Se tivesse vend ido os ju d eu s co m o escravo s, o pagam ento poderia ser co n sid e ra d o ju sto , m as vendê-los para a m orte e destruição absoluta era algo que não havia dinheiro que pudesse pagar. D e aco rd o com Ester, se tivesse sido apenas que ela era jud ia. Assuero concluiu que o crime de Hamã era seu desejo de assassinar a rainha e de que havia decidido fazê-lo exter­ m inando todos os judeus. É possível até que H am ã tivesse participado da conspiração de Bigtã e de Teres que M ordecai havia des­ uma questão de escravidão, ela teria perm a­ necido calad a. Para que in co m od ar o rei com algo assim? Porém , um exterm ínio em m ascarado - um a conspiração para assassi­ nar o rei! (ver 2:21-23). Assim co m o Ester, M o rd eca i era ju d eu ! A gora pod em o s en tend er m elhor por que D eus orientou Ester a adiar sua súplica: desejava dar a Assuero a oportunidade de descobrir o que M ordecai havia feito, que M ordecai era judeu e que m erecia ser hon­ rado. Se um ju d eu havia salvado a vida d o rei, p o r qu e o rei deveria exterm inar esse povo? "O rei, no seu furor, se levantou do ban­ quete do vinho e passou para o jardim do palácio" (7 :7 ). C o m o observam os anterior­ m ente, A ssu ero era um hom em explosivo (1 :1 2 ); mas, nessa ocasião, sua ira deve ter ardido mais forte do que nunca. Seu orgu­ lho m asculino havia sido ferido, pois julgara mal o caráter de H am ã. H avia feito papel de tolo ao prom over Ham ã e lhe dar tanta in­ fluência. O rei tam bém havia errado ao apro­ grande escala era algo que não se poderia ignorar. A rainha Ester intercedeu corajosam en­ te por seu povo. Q ual foi a reação do rei? " C o n fia ao S e n h o r as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos. O S e n h o r fez todas as coisas para determ inados fins e até o perverso, para o dia da calam idade" (Pv 16:3, 4). 2. A f ú r ia d o re i (E t 7:5-8) Procure imaginar, a essa altura da história, o que se passava pela cabeça do rei Assuero. Sem acusá-lo e x p licita m e n te , Ester havia envolvido o rei num crim e terrível, e, por certo, ele se sentiu culpado. O rei sabia que aprovara aquele decreto de modo im pensa­ do. Porém , não percebeu que aquilo fazia parte de uma conspiração. Assinara a ordem de execução da própria esposa! O rei deve­ ria encontrar um modo de salvar, ao mesmo tem po, a esposa e a honra. N um a m onarquia absolutista, o rei era considerado um a espécie de deus infalível. Por isso, os monarcas da antigüidade man­ tinham à sua volta um bom grupo de bodes expiatórios - pessoas que poderiam levar a culpa pela ignorância ou incom petência do soberano (hoje em dia, muitos políticos fa­ zem a m esma coisa). Assim , a pergunta do rei, no versículo 5, deixa im plícito muito mais do que o desejo de saber quem era o culpa­ do. O rei tam bém estava à procura de al­ guém para castigar. A ssuero já havia tido uma surpresa ao descobrir a nacionalidade de sua rainha e estava prestes a ter outra: seu oficial mais chegado era o adversário e inimigo que havia tram ado aquela conspiração. Ester não reve­ lou que, assim com o o rei, Ham ã havia aca­ bado de ouvir dos lábios da própria rainha var o édito sem averiguar todos os fatos (Pv 18:13). Com o resultado, colocara em peri­ go a vida de dois jud eus muito especiais: M ordecai, que lhe salvara a vida, e Ester, a esposa querida. Sem dúvida, o rei andou de um lado para o outro no jardim , esforçando-se ao m áxi­ mo para controlar a fúria que brotara dentro dele. " O furor do rei são uns mensageiros de m orte" (Pv 1 6 :1 4 ). "C o m o o bramido do leão, assim é a indignação do rei" (Pv 19:12). Não é de se admirar que H am ã ficasse apa­ vorado! C onvivera com o rei o suficiente para id en tificar e interpretar todos os seus hu­ mores. Sabia que o rei estava prestes a tor­ nar-se ju iz e júri e a declarar uma sentença inescapável. Porém , no caso de Ham ã, ainda resta­ va um a possibilidade rem ota: a m isericór­ dia da rainha. Talvez co n segu isse suscitar sua piedade e pudesse levá-la a interceder por ele. Ester sabia que H am ã era um ins­ trum ento do diabo, determ inado a destruir 724 ESTER 7 o povo ju d eu . Se tivesse sabido desde o co m eço que Ester era jud ia, H am ã poderia ter redigido o édito com astúcia, de modo que a vida da rainha fosse preservada; ain­ da assim , teria autoridade para aniquilar seu povo. Foi o ódio de H am ã por M o rd ecai, o prim o da rainha, que deu in ício a toda a co n sp iração (Et 3 :5 , 6 ), e Ester não tinha intenção algum a de abandonar justam ente o hom em que significava tanto para ela. No co m entário ju d aico So ncino sobre o Livro de Ester, o Dr. S. G oldm an faz a se­ guinte d e c la ra ç ã o re ve la d o ra so b re 7 :8 : "C o m o acontece com freqüência diante do perigo, o valentão arrogante tornou-se um covarde chorão" (The Five M egilloth [O s cin­ co M egilloth], p. 2 2 8 ). Com o respaldo do rei, H am ã podia cam inhar de um lado para outro cheio de pose, exigir respeito e dar ordens. M as agora que a ira do rei estava co n tra ele, H am ã revelou seu verd adeiro caráter. Não era um gigante, mas apenas um hom em ta ca n h o , ch e io de orgulho e de vangloria! Não havia mais quem pudesse salvar a vida de Ham ã. Q u e paradoxo! Ham ã havia se enfureci­ do porque um ju d e u recusava-se a curvar-se diante dele, e agora H am ã se prostrava diante de uma judia, suplicando por sua vida! Q u an ­ do o rei entrou no aposento e viu a cena, acusou H am ã de tentar m olestar a rainha. Em sua fúria, o rei teria exagerado qualquer coisa que H am ã fizesse; além disso, m oles­ tar a rainha era um crim e capital. Esqueça a c o n sp ira ção ; todos poderiam ver com os próprios olhos que H am ã era culpado de atacar a rainha. Só por esse crim e já m ere­ cia morrer. D e p o is de esco lta r M o rd e cai pela c i­ d ad e, H am ã havia co b e rto a ca b e ça em sinal de h u m ilh ação (6 :1 2 ); m as aqui os guardas do rei co brem o rosto de Ham ã, num gesto de preparo para sua exe cu çã o . Se Ham ã tivesse co berto a ca b eça em si­ nal de verdadeira hum ildade e de arrepen­ dim ento, as coisas teriam sido diferentes, mas ele se recusou a dar ouvidos aos avi­ sos do Senhor. Era tão controlado por seu orgulho e m aldade que não poderia enxer­ gar os perigos adiante. 3. A RECOMPENSA (Et 7:9, 10) DE HÍAMÃ " O justo é libertado da angústia, e o perver­ so a recebe em seu lugar" (Pv 1 1 :8). A forca construída para M ordecai num local tão vi­ sível m ostrou-se co n v e n ie n te para a e x e ­ cução de Ham ã. A ssim , o rei a usou para e s s e fim . A o q u e p a re c e , H a m ã h a v ia espalhado pelo palácio a notícia de que pla­ nejava matar M ordecai, pois o servo do rei sabia com que finalidade a forca havia sido construída. Em seu orgulho, H am ã contara vantagem , e suas palavras voltaram não ape­ nas para zo m b ar dele, mas tam bém para ajudar a matá-lo. No dia anterior, Ham ã havia conduzido pela cidade o judeu M ordecai vestido em todo esplendor real; antes de sua execução, porém , Ham ã foi conduzido pelas ruas com a cab eça coberta e com uma forca à espera dele no fim do percurso. Sem dúvida, sua esposa, Z eres, e seus dez filhos testem unha­ ram a e x e c u ç ã o , ju n ta m e n te aos m uitos judeus da cidade. O s judeus devem ter se reanim ado ao ver seu inimigo, Ham ã, sair de cena. "N ão vos enganeis: de Deus não se zo m ­ ba", advertiu Paulo. "Pois aquilo que o ho­ mem semear, isso tam bém ceifará" (G l 6:7). O p rim eiro -m in istro sem e o u ó dio co n tra M ordecai e colheu a fúria do rei. H am ã de­ sejava m atar M o rd e cai e os ju d eu s e foi m orto pelo rei. "Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniqüidade e sem eiam o mal, isso mesm o eles segam " (Jó 4 :8 ). " O que sem eia a injustiça segará m ales" (Pv 2 2 :8 ). Esse princípio imutável de sem ear e co ­ lher é ilustrado ao longo de toda a Bíblia e se aplica tanto a cristãos quanto a não cris­ tãos. Jacó matou um anim al e enganou o pai fingindo ser Esaú (G n 27:1-29), e, anos depois, os filhos de Jacó mataram um ani­ mal e mentiram para ele, fingindo que José estava morto (37:31-55). O Faraó ordenou que os bebês hebreus do sexo m asculino fossem afogados (Êx 1) e, um dia, seu exérci­ to foi afogado no mar Verm elho (Êx 14 - 1 5). Davi tomou para si a mulher de seu pró­ xim o em segredo e com eteu adultério (2 Sm 1 1), e A b sa lã o , o p ró p rio filho de D avi, ESTER 7 tomou para si as concubinas de seu pai em público e com eteu adultério com elas (16:202 3 ). A lém disso, Tam ar, filha de D avi, foi estuprada por seu meio-irmão A m nom (2 Sm 13 ). D avi m atou o m arido de Bate-Seba (11:14-25), e três dos filhos de Davi foram m ortos: Absalão (2 Sm 18), Am nom (13:2336) e Adonias (1 Rs 2:1 3-25). Saulo de Tarso incentivou o apedrejam ento de Estêvão (At 8 :1 ) e, quando se tornou Paulo, o m issioná­ rio, foi apedrejado em Listra (1 4 :1 9 , 20). D evem os nos lem brar, porém , de que essa lei de sem ear e de colher tam bém se aplica ao que é bom e correto. Se sem ea­ mos na carne, colherem os corrupção, mas se sem eam os no Espírito, colherem os vida eterna (G l 6:8 ). Nenhum a boa ação feita para a glória de Jesus Cristo jam ais será esque­ cida diante de D eus. N enhum a palavra de am or falada em nom e de Jesus jam ais será desp erd içad a. Se não virm os a co lheita nes­ ta vid a, então a verem o s quand o estive r­ mos diante do Senhor. A té m esm o um copo de água fria dado em nom e de Cristo será d e v id a m e n te re c o m p e n s a d o (M t 1 0 :4 2 ; 2 5 :3 1 -4 6 ). H am ã foi enforcado, ou em palado, no local que ele próprio havia mandado cons­ truir, e seu corpo foi sepultado. A riqueza e a glória d e Ham ã não o livraram da m orte nem foram levadas com ele. 725 0 a c o m p a n h a rá ." (Sl 4 9 :6 -8 , 16, 17 ). Em 1 Pedro 1:18, 19, Pedro nos dá o preço ele­ vado da redenção: custou o sangue que Je­ sus Cristo, o Filho de Deus, derram ou. Esse texto não traz ap enas uma lição pessoal, mas tam bém uma lição sobre Israel co m o n açã o : to d o inim igo qu e, até h o je, te n to u d e s tr u ir Isra e l, fo i, e le p r ó p r io , destruído. "Abençoarei os que te ab ençoa­ rem e am aldiçoarei os que te am aldiçoarem " - essa é prom essa de D eus para Israel (Gn 12:3), e ele nunca deixou de cumpri-la. Deus leva suas prom essas a sério, m esm o se as nações do mundo as ignoram ou desafiam . Isso não significa que Deus aprova, ne­ cessariam ente, tudo o que Israel já fez ou fará, mas quer dizer que D eus não aprova aqueles que tentam destruir seu povo esco ­ lhido. Seja o Faraó no Egito, N abucodonosor na Babilônia, H am ã na Pérsia ou Hitler na Alem anha, o inimigo dos judeus é inimigo do Deus Todo-Poderoso e não sairá vitorioso. "En tão , o furor do rei se ap laco u " (Et 7:1 0 ). O termo hebraico traduzido por "apla­ cou" é usado em G ênesis 8:1 para dizer que as águas do dilúvio baixaram . O furor do rei havia cre scid o dentro dele e chegad o ao auge na execu ção de Ham ã. Então, sua ira "D o s que confiam nos seus bens e na sua muita riqueza se gloriam? Ao irmão, ver­ dadeiram ente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate. (Pois a redenção da alma deles é caríssim a, e ces­ sará a tentativa para sem pre.) [...] Não te­ mas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa; pois, em mor­ aplacou-se, e o rei voltou a si. Porém , apesar de o adversário ter saído de cena, o proble­ ma ainda não estava com pletam ente resol­ vido, pois o decreto do rei ainda continuava em vigor e não po deria ser m udado. Era o terceiro mês (Et 8 :9 ) e faltavam nove meses para o dia fatídico, no qual os judeus pode­ riam ser legalm ente exterm inados (3 :1 3). C om o Ester e M ordecai resolveram esse problema? É d isso q u e tra ta re m o s no c a p ítu lo rendo, nada levará consigo, a sua glória não seguinte. 8 D e V ít im a s a V en c ed o res E ster 8 É possível que, posteriorm ente, Ester tenha divid id o um a parte dessa grande riq ueza com os judeus, a fim de que pudessem se preparar para a crise que teriam de enfrentar. A ssu ero sabia que tanto Ester quanto M ordecai eram judeus, mas estava para des­ co b rir que os dois tam bém eram prim os. Portanto, Assuero e M ordecai eram paren­ tes! Q uand o H am ã foi deposto, o rei tomou de volta o anel real (3 :1 0 ), a insíg nia de autoridade do trono (8 :8 , 10; 3 :1 2 ), e o en­ tregou a M o rd e ca i, nom eando-o seu pri­ (A boa notícia d e uma nova lei traz esperança e alegria) amã estava morto, mas seu édito assas­ sino continuava bem vivo. M uito tem­ po depois que as pessoas más se vão, ainda se podem ver as co n se q ü ê n cia s de suas H palavras e atos perversos. M esm o nos dias de hoje, há pessoas inocentes sofrendo por ca u sa de in d iv íd u o s cu lp a d o s que já se foram. A menos que houvesse um a intervenção, em nove meses os persas atacariam os ju­ deus e os exterm inariam da face da Terra. H avia ce rca de q u inze m ilhões de judeus entre a população total do im pério, calcula­ da em torno de cem m ilhões de pessoas. Assim , o povo de D eus, sem dúvida, encontrava-se em desvantagem . O povo de Deus sem pre constituiu m inoria, mas "um a pes­ soa com Deus a seu lado está em m aioria". O Senhor levou Ester e M ordecai ao reino "para conjuntura com o esta", e estavam pre­ parados para entrar em ação. 1. A prom oção de M o rd ecai (E t 8 :1 , 2 , 1 5 ) De acordo com os historiadores da Antigui­ dade, sem pre que um traidor era execu ta­ do, o rei se ap ro p riava de seus bens. Se Assuero tivesse confiscado as propriedades de Ham ã para si, teria adquirido grandes ri­ quezas, mas, em vez disso, decidiu entregar os bens de Ham ã a Ester. M ais do que um gesto de generosidade, é bem provável que esse presente tenha sido uma form a de o rei redimir-se pelas decisões insensatas que cau­ saram tanto sofrimento a Ester e a seu povo. meiro-ministro. Com uma rainha judia e um primeiro-ministro judeu no palácio, os judeus do im pério viram-se numa situação mais fa­ vorável do que nunca. Ester entregou a adm inistração das ex­ tensas propriedades de Ham ã a M ordecai que, no princípio, havia se oposto a Ham ã e se recusado se curvar diante dele. Se não fosse pela coragem e pelo incentivo de M or­ decai a Ester, H am ã ainda estaria no contro­ le. "Espera no S e n h o r , segue o seu cam inho, e e le te e x a lta rá para p o ssu íre s a terra; presenciarás isso quando os ím pios forem exterm inados. Vi um ím pio prepotente a ex­ pandir-se qual cedro do Líbano. Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado" (Sl 37:34-36). O rei se certificou de que M ordecai tives­ se roupas à altura de seu cargo, conform e descreve Ester 8 :1 5 . M ordecai não estava mais vestido com mantos usados e em pres­ tados (6:7-11), mas sim com vestes novas preparadas especialm ente para ele. As cores oficiais da realeza eram o azul e o branco (ver 1:6). A "coro a" de ouro provavelmente era um turbante que, ju n tam e n te com o manto branco e púrpuro, identificava M or­ decai co m o um hom em im portante e de grande autoridade. Tudo o que H am ã havia adquirido do rei co m suas tram as, M o rd e c a i re ce b e u com o presente, pois M ordecai era um ho­ mem digno de tais coisas. No co m eço da história, a form a de Ester e de M ordecai pra­ ticarem sua fé religiosa dificilm ente poderia ser considerada exem plar; mas aqui temos a im pressão de que ocorreram m udanças. A m bos afirmaram sua nacionalidade judia e ESTER 8 am bos foram instrum entos para co n clam ar todos os judeus do im pério a orar e a je ­ juar. Em certo sentido, lideraram um "reavivam ento" do povo jud eu, fazend o dessa id en tid a d e algo m ais h o n ro so d entro do im pério. Nem sem pre D eus dá um "final feliz" com o esse à história de todos. Vem os, nos dias de hoje, que nem todos os cristãos fiéis são prom ovidos nem recebem honras espe­ ciais. Alguns são até dem itidos em função de sua fé em C risto! D eus não prom eteu prom oções e riquezas, mas garantiu que está no controle de todas as circunstâncias e que irá escrever o último capítulo da história. Se Deus não nos prom over aqui na terra, sem dúvida o fará quando chegarm os à glória. 2. A p e t i ç ã o ( E t 8:3-6) de E ster Riqueza, prestígio e segurança pessoal não poderiam satisfazer Ester enquanto seu povo ainda estivesse em perigo. Para ela, a coisa mais im portante na vida não era buscar o seu co nforto , mas livrar os ju d eu s, e não descan saria enquanto a situação não esti­ vesse reso lvid a. Q u e difere n ça de alguns cristãos de hoje que fecham os olhos às ne­ ce ssid ad e s do m undo p erdid o enq u an to procuram novas m aneiras de gastar dinhei­ ro e de se divertir! Para essas pessoas, suas resp o n sab ilid ad e s cristãs lim itam -se a fre­ qüentar os cultos e a dar ofertas, sentindose livres para fazer o que bem entenderem com o resto de seu tempo e de seu dinhei­ ro. Precisam os de mais gente com o Ester, cuja p reo cu pação com as pessoas co nd e­ nadas foi m aior que qualquer outra co isa em sua vida. Anos atrás, num a vigília de o ração do m in isté rio M o cid a d e para C risto (M P C ), ouvi o advogado Jacob Stam orar: "Senhor, a ú n ica co isa que a m aioria de nós aqui sabe sobre sacrifício é escrever essa pala­ vra". Jam ais me esquecerei dessa declara­ ção e confesso que, por v e ze s, ainda me incom od a. Lem bro-m e de outra reunião de d ireto ria da M P C na qual o fa le cid o Bill C arie cantou A ssim te Envio, e o Espírito de D eus nos levou a dobrar nossos jo elh o s e 727 a orar com novo ardor para ajudar a alcan­ ça r o m undo para Cristo. Ester não poderia faze r tudo, mas era capaz de fazer alguma coisa - e foi o que fez. Aproxim ou-se do trono do rei e lhe pe­ diu para reverter o édito que H am ã havia redigido. Foi sua intercessão junto ao trono que salvou o p o vo de Israel d o exterm ínio. Não estava pedindo coisa, algum a para si, exceto que o rei salvasse seu povo e aliviasse o peso enorm e do coração de sua rainha. A o estudar as Escrituras, fico im pressio­ nado com o houve tantas pessoas que ora­ ram pelos ju d e u s. Q u a n d o Israel p e co u , M oisés encontrou-se com D eus no monte e intercedeu por eles (Êx 32). Ofereceu-se até para que Deus apagasse seu nom e do Livro da Vida, se fosse preciso, para salvar a na­ ção. Séculos depois, o apóstolo Paulo afir­ mou que estava disposto a "ser separado de Cristo", se isso ajudasse a salvar os incrédu­ los de Israel (Rm 9:1-3). No monte C arm elo , Elias orou por um Israel desobediente (1 Rs 18), e, no palácio, N eem ias orou pelos jud eus em Jerusalém (N e 1). Assim com o N eem ias, Esdras cho ­ rou, orou e pediu que D eus ajudasse seu povo p ecad o r (Ed 9 ). D an iel humilhou-se, jejuou e orou pedindo para entender o pla­ no de D eus para Israel (D n 9). "Sobre os teus muros, ó Jerusalém , pus guardas, que todo o dia e toda a noite jam ais se calarão; vós, os que fareis lem brado o S e n h o r , não descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra" (Is 6 2 :6 , 7). " O ra i p e la p a z de Je ru s a lé m ! Sejam prósperos os que te am am " (Sl 1 2 2 :6 ). Não poderá haver paz no mundo enquanto não houver paz em Jerusalém , e não poderá ha­ ver paz em Jerusalém a menos que o povo de Deus obedeça a essa ordem e ore pedin­ do: "Venha o teu reino". "Foi um golpe de mestre do diabo ter conseguido que a Igreja e os pastores em geral colocassem de lado a arm a poderosa que é a oração", escreveu o evangelista R. A . Torrey em sua obra H o w to O btain Fulness o f Pow er in Christian Life and Service [Com o O b te r P le n itu d e de Po der na V id a e no ESTER 8 728 Serviço Cristãos]. "O diabo está perfeitam en­ te disposto a deixar que a igreja multiplique o rg a n izaçõ e s e m ecan ism o s criad o s com tanta habilidade para a conquista do mundo para Cristo, desde que deixe de orar" (S w o rd o f the Lord [Espada do Senhor], p. 59). O exem plo de Ester é um incentivo para nos achegarm os ao trono de Deus e interce­ der por outros, especialm ente pelas nações do mundo onde almas perdidas precisam ser libertas da morte. U m a pessoa preocupada e dedicada à oração pode fazer grande dife­ rença neste mundo, pois a oração é a chave que libera o poder de D eus. "N ad a tendes, porque não pedis" (Tg 4:2 ). 3. A PRO CLA M A ÇÃ O d o rei (E t 8 : 7 - 1 7 ) O problem a que Ester e M ordecai tinham diante de si era o fato de o rei não poder sim plesm ente cancelar o primeiro édito por decisão executiva, pois as leis dos medos e dos persas eram inalteráveis. Nos países de­ m o crático s m o d e rn o s, a legislatura pode reverter decisões e revogar leis, e a suprem a corte pode até m esm o declarar certas leis inconstitucionais, mas não era assim que fun­ cionava no antigo e despótico im pério da Pérsia. A vo z do rei era a lei da terra, e o rei era infalível. O rei não poderia revogar seu édito por m eios legais, mas era possível publicar um novo decreto favorecendo os jud eus. Esse novo decreto inform aria a todos no im pério que o rei desejava que todo seu povo tives­ se uma atitude diferente em relação aos ju ­ deus e que os tratasse de modo favorável. O s cidadãos não tiveram de contratar um advogado para explicar esse novo édito. A mensagem era inequívoca: não ataquem os judeus no dia 7 de março. Um a v e z que M ordecai havia sido no­ m eado prim eiro-m inistro, era responsabili­ dade dele redigir o novo decreto. Assim , o que ele fez foi dar perm issão aos judeus para se defender de qualquer um que tentasse matá-los e tomar suas propriedades. Havia muita gente no im pério que era com o Ham ã, gente que odiava os jud eus, que desejava acabar com eles e se apropriar de suas rique­ zas. O novo decreto perm itia que os judeus se reunissem e se defendessem , mas não tinham perm issão de assum ir uma posição ofensiva. N ão há co n sen so entre os estudiosos com relação à tradução do versículo 11. A l­ gumas versões dão a im pressão de que o édito perm itia que os judeus exterm inassem as mulheres e crianças de seus atacantes e que saqueassem seus espólios. O utras ver­ sões associam as "m ulheres e crianças" ao fato de os judeus serem atacados e não a que os judeus tenham matado as mulheres e os filhos de seus atacantes. Prefiro essa últim a tradução. U m a leitura de Ester 3:11-13 mostra a sem elhança no estilo de expressão dos dois decretos. M ordecai usou a "linguagem ofi­ cial" do governo, pois uma declaração legal deve ser e xp ressa em linguagem legal. E possível que esses term os soem um tanto estranhos para alguém de fora, mas sem eles teríamos confusão e interpretações equivo­ cadas. Não se pode redigir uma lei da mes­ ma forma que se escreve um poem a ou uma receita. D e acordo com 8 :9 , o novo édito foi escrito no vigésim o terceiro dia do terceiro mês, que eqüivale em nosso calendário ao dia 25 de junho, 4 7 4 a.C . (lembre-se de que o calendário hebraico inicia no mês de abril). O primeiro decreto foi publicado em 1 7 de abril (3 :1 2 ). Assim , haviam se passado cerca de setenta dias desde que H am ã declarara guerra aos judeus. O "dia D " dos judeus seria 7 de m arço (3 :1 3 ). Portanto, o povo teve cerca de oito meses para se preparar. D evem os fazer um a pausa e refletir se foi, de fato, ético da parte de M ordecai dar aos ju d eu s a auto rid ade para m atar e sa­ quear. Aqueles que negam a inspiração divi­ na da Bíblia destacam os diversos "m assacres" nas Escrituras com o prova de que o Deus da Bíblia é um "valentão". Imagine adorar um deus que ordenava o exterm ínio de po­ pulações inteiras! Em prim eiro lugar, devem os considerar o édito publicado por Assuero, pois foi com e le q u e c o m e ç a r a m os p ro b le m a s . Se M ordecai mostrou-se perverso ao ordenar que os ju d e u s se d e fe n d e sse m , H am ã e ESTER 8 Assuero foram ainda mais perversos ao or­ denar que os persas atacassem os judeus! A autodefesa não é um crim e, mas, sem dúvi­ da, não se pode dizer o mesm o do geno­ cídio. Esses críticos aprovam o édito do re/? Espero que não! Assim , se não aprovam o decreto do rei que perm itia o exterm ínio dos ju d eu s, então co m o podem desaprovar o decreto de M ordecai que dava aos judeus o direito de se defender? Teria sido m elhor se Ham ã jam ais houvesse publicado o primei­ ro decreto, mas uma vez que foi publicado, o melhor a fazer era M ordecai neutralizá-lo com seu édito posterior. Vejam os agora o capítulo 9, em que des­ cobrim os três fatos im portantes: os judeus mataram som ente aqueles que os atacaram ; mataram som ente hom ens (9 :6 ,1 2 ,1 5 ); não tomaram para si qualquer espólio, apesar de 729 adversário dos teus adversários" (Êx 2 3 :2 2 ). E não e sq u e ça m o s as palavras do D r. J. V e rn o n M c G e e : " O s ju d e u s fo ra m ao s funerais de todas as nações que tentaram exterm iná-los". U m a coisa é escrever um novo édito li­ bertador e outra bem diferente é transmitir a mensagem ao povo. M ordecai pôs os se­ cretários para trabalhar na tradução e cópia do decreto e, em seguida, enviou m ensa­ geiros para levar as boas novas ao povo das diversas províncias do im pério. O s m ensa­ geiros ("correios") saíram "incontinenti", pois foram "im p e lid o s pela ordem do re i" (Et 8 :1 4 ). Se ao m enos a Igreja de hoje fosse com o esses secretários e m ensageiros! Precisam os encarecidam ente contar aos povos do mun­ do, em sua própria língua, as boas novas da terem o direito de fazê-lo (vv. 1 0 ,1 5 ,1 6 ). O fato de os judeus terem matado 800 homens só na cidade de Susã (vv. 6, 15) com prova que havia muitos persas apenas esperando uma oportunidade de atacar o povo de Deus (estima-se que cerca de meio milhão de pes­ soas vivessem na capital persa). O núm ero total de pessoas mortas foi de 75 mil (v. 16), de uma população de cer­ ca de 100 milhões. Porém , o fato de mais de 75 mil pessoas estarem preparadas para salvação pela fé em Jesus Cristo! O Rei nos ordenou, e devem os partir, mas, por algum m otivo, nos dem oram os. Se um grupo de escribas e de mensageiros pagãos, sem os m odernos meios de com unicação e de trans­ porte, foram capazes de levar o decreto de M ordecai a um im pério inteiro, quanto mais os obreiros cristãos devem ser cap azes de le v ar o e v a n g e lh o de C ris to ao m u n d o perdido! D esde a queda de Adão, está em vigor no mundo a "lei do pecado e da m orte" (Rm m atar judeus indefesos m ostra quantos do povo do rei odiavam o povo de D eus. E o 8 :2 ; 5:12-21), e D eu s não revogará essa lei. fato de tais pessoas terem se disposto a ata­ O salário do pecado ainda é a morte (Rm 6 :2 3 ). Pela m orte e re ssu rreição de Jesus car m esm o sa b en d o qu e os ju d e u s se d e ­ fenderiam prova que o anti-sem itism o era Cristo, D eus colocou em vigor outra lei, a intenso em todo o im pério. O s críticos con­ "lei do Espírito da vida" (8 :2 ). Deus cumpriu denam o fato de os judeus terem exterm ina­ a lei do pecado e da morte quando entre­ do 75 mil pessoas em defesa própria. Teria gou seu Filho, Jesus, para levar sobre si nos­ sido melhor se esses 75 mil persas tivessem sos pecados e morrer na cru z. Porém , Deus assassinado dez vezes mais judeus? 0 ressuscitou dos mortos e colocou em vi­ O decreto de M ordecai estava em total gor um novo decreto, que permite a salva­ harm onia com a aliança que Deus havia feito ção dos pecadores. Agora, ele deseja que com A braão: "A bençoarei os que te aben­ coloquem os essas boas novas em todas as ço arem e am ald iço are i os que te am aldi­ línguas e que a levem os a todas as nações. ço a re m " (G n 1 2 :3 ). Isaque tam bém teria Este capítulo co m eça com a rainha Ester concordado com M ordecai, pois, ao aben­ em prantos (Et 8 :3 ), mas term ina com os ju­ çoar Jacó, disse: "M aldito seja o que te am al­ deus se regozijando e com em orando (vv. 1 5diço ar, e ab en ço ad o o que te ab e n ço ar" 1 7). A aleg ria é m e n cio n ad a, de algum a ( 2 7 :2 9 ) . A lé m d iss o , D e u s p ro m e te u a M oisés: "Serei inimigo dos teus inimigos e form a, pelo m enos sete vezes nesse pará­ grafo (esse é o oitavo banquete m encionado 730 ESTER 8 no Livro de Ester). O s jud eus haviam pran­ teado e jejuado, mas agora estavam em êxta­ se de alegria. O que fez diferença não foi a redação do d ecreto , nem m esm o sua d istrib u içã o pelas províncias. O que fez toda a diferença foi que os ju d eu s creram nesse novo édito. Foi a fé nas palavras de M ordecai que mu­ dou a vida deles. Encheram-se d e esperan­ ça, de alegria e de paz, pois acreditaram no que o primeiro-ministro disse. "E o D eus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de es­ perança no poder do Espírito Santo" (Rm 1 5 :1 3 ). A declaração: "m uitos, dos povos da ter­ ra, se fizeram ju d eu s" (Et 8 :1 7 ) é interpreta­ da de diferentes m aneiras. O significado mais evidente é que muitos gentios do im pério deixaram suas religiões pagãs e se tornaram prosélitos. Porém , um a vez que os judeus estavam longe de Jerusalém e do ministério dos sacerdotes, esses judeus não puderam ser inteiramente iniciados na fé jud aica. Tor­ naram-se conhecidos, posteriorm ente, com o "tem entes a D eus" (At 1 0 :2 ; 1 6 :1 4 ; 18:7). C reio que essa frase significa que mui­ tos gentios do im pério tomaram o partido dos jud eus, agindo com o se fossem parte desse povo. N ão tiveram verg o nha de se identificar com o povo de Deus, apesar de os judeus terem inimigos. Depois que o presidente Reagan recebeu um tiro, quando estava sendo preparado para a cirurgia, disse em tom de b rin cad eira à equipe m édica: — Espero qu e todos vocês sejam repu­ blicanos. Um dos m édicos respondeu: — Senhor presidente, hoje, todos aqui são do seu partido. Essa foi a atitude de muitos no im pério persa quando o édito de M ordecai foi publi­ cado: "H o je, todos nós somos judeus". O Livro de Ester co m eça com os judeus evitando cham ar a atenção sobre si, tanto que M ordecai e Ester sequer confessaram sua nacio nalidad e. M as, no final, o modo de os judeus se orgulharem de sua raça e a fe licid a d e que d e m o n straram em fu n ção daquilo que D eus havia feito por eles atraí­ ram outras pessoas a sua fé. Até mesmo os gentios pagãos conseguiram perceber que D e u s c u id a v a de seu p o vo de m a n e ira extraordinária. Nas palavras do evangelista Billy Sunday: "Se sua religião não lhe dá alegria, seu cris­ tianism o está com um vazam ento em algum lugar". Se os cristãos de hoje manifestassem m ais da alegria do Senhor, talvez pessoas de fora fossem atraídas para a igreja e se mostrassem dispostas a refletir sobre a men­ sagem do evangelho. Vale a pena tentar. 9 D eu s C u m p r e S u a s P ro m essa s E s te r 9 e 10 (O p o vo vira a mesa e, dep ois, p õ e a mesa) / / [ ) r o c u r a i a paz da cidade para onde vos r desterrei." Essa foi a recom endação de Deus ao povo de Judá por interm édio do profeta Jerem ias (Jr 2 9 :7 ) e, em sua m aior parte, foi seguida. O s judeus não haviam de­ clarado guerra contra os gentios, mas sim os gentios contra os judeus! O "dia D " chegou para os judeus, o dia determ inado pelo decreto de H am ã para o exterm ínio do povo escolhido de Deus no im pério. Porém , o decreto de M ordecai ha­ via transform ado aquele dia de destruição num dia de livram ento. O s ju d eu s tinham perm issão de resistir ao inim igo e haviam tido nove m eses para se preparar para o confronto. O povo do im pério que odiava os judeus esperava uma vitória, mas "suce­ deu o co n trario , pois os ju d eu s é que se assenhorearam dos que os odiavam " (Et 9:1 ). 1 . V i n d i c a ç ã o : o m e d o d o s ju d e u s (E t 9:1-16) O s hom ens judeus estavam organizados e arm ados, prontos para qualquer inimigo que os atacasse e a suas famílias e tentasse to­ mar seus bens. Porém, o Senhor havia lhes dado uma arm a ainda mais poderosa que suas espadas, pois "o tem or dos judeus ti­ nha caído sobre eles" (8 :1 7 ; 9 :2 ). Foi um tem or enviado e colocado por Deus no co ­ ração dos gentios para evitar que lutassem com seu povo. Isso nos lembra da experiência de Jacó, quando viajou de Siquém para Betei. "E, ten­ do eles partido, o terror de Deus invadiu as cidades que lhes eram circunvizinhas, e não perseguiram aos filhos de Jacó " (G n 3 5 :5 ). Foi esse mesm o medo que precedeu Israel ao entrar na Terra Prometida. "H o je, com e­ çarei a meter o terror e o m edo de ti aos povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fama trem erão diante de ti e se angustiarão" (D t 2 :2 5 ). Raabe disse aos dois espias israelitas que o tem or de Is­ rael havia paralisado as nações em C an aã (Js 2:8-11; 5 :1 ; 9 :2 4 ), e foi esse m edo que ajudou Israel a alcançar a vitória. Um dos problem as de nosso mundo de hoje é que "não há tem or de Deus diante de seus olhos" (Rm 3 :1 8 ). A ssim com o o Faraó, as pessoas perguntam : "Q u e m é o S e n h o r para que lhe ouça eu a voz?" (Êx 5:2). M as será que essas pessoas vêem no p o vo de D eu s algo que as leve a ter o d esejo de tem er ao S e n h o r? O povo de D eus dem ons­ tra um a devoção tal que, alguém de fora presente em nossos en co ntro s, "prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testem unhando que D eus está, de fato, no meio de vós" (1 C o 14:25)? O tem or de D eus protege os que temem ao Senhor e crêem em suas prom essas. O s judeus creram no édito de M ordecai e, por isso, se encheram de coragem e não tem e­ ram o inimigo; sua coragem inspirou temor no coração do inimigo (ver Fp 1:28). Antes de o rei Josafá sair para a batalha, Deus lhe enviou a seguinte m ensag em : "C re d e no S e n h o r , vosso D eus, e estareis seguros; crede nos seu s p ro fe ta s e p ro s p e ra re is " (2 C r 2 0 :2 0 ). Essas palavras continuam sendo um conselho sábio a ser seguido. No entanto, outro aspecto desse medo ajudou os judeus a serem vitoriosos: o te­ mor que o povo mostrou ter de M ordecai (Et 9 :3 ). O respeito dos príncipes, sátrapas e oficiais do rei de todo o im pério por M or­ decai era tanto que até ajudaram os judeus a se defender dos persas. Deus havia dado a M ordecai seu cargo elevado e sua exce­ lente reputação, e M ordecai usou sua auto­ ridade para fazer a vontade de D eus. O s cristãos de hoje que vivem num a sociedade dem ocrática pluralista não podem assum ir um cargo político a fim de prom o­ ver a própria fé religiosa e destruir aqueles 732 ESTER 9 - 1 0 que discordam deles. M ordecai foi prim ei­ ro-ministro de um governo em que sua pa­ lavra era lei. O s cristãos de hoje, porém , podem viver sua fé de tal m odo que o po­ der de Deus seja visto em sua vida e que o inimigo pense duas vezes antes de atacar. No entanto, em vez de o mundo perverso tem er a igreja, é a igreja que tem medo do mundo, im itando-o em tantos asp ecto s que é difícil fazer distinção entre os dois. A Igreja de hoje não é mais "form osa com o a lua, pura co m o o sol, form idável com o um exército com bandeiras" (C t 6 :1 0 ). Antes, o povo de D eus é "m iserável, pobre, cego e nu" (Ap 3 :1 7 ) - a descrição de um prisioneiro de guerra. Em v e z de co nqu is­ tadores, som os prisioneiros! Não é de se ad­ mirar que o mundo não tenha tem or algum do Senhor. "Porque, em bora andando na carne, não m ilitam os segundo a carne. Porque as ar­ mas da nossa m ilícia não são carnais" (2 Co 10:3, 4). Sempre que a Igreja tentou usar as arm as deste mundo para lutar suas batalhas, as conseqüências foram vergonhosas, para não dizer desastrosas. M as, ao vestir toda a arm adura de D eus (Ef 6:1 Oss) e depender da oração e da Palavra de Deus (At 6 :4 ), o soldado cristão pode m archar avante com coragem e fé. O s persas que atacaram os judeus esta­ vam , na verdade, cooperando com Ham ã, o am alequita, o que fazia deles inimigos de Deus (Et 9:5). Ao matar aqueles que os ata­ caram , os judeus estavam apenas destruin­ do o inimigo, coisa que o rei Saul havia se recusado a fazer (1 Sm 15). Em Ester 9:5-15, vem os o relato de Susã, enquanto os versículos 16 e 1 7 apresentam mais inform ações sobre o que ocorreu em outras partes do im pério. Durante dois dias de conflito, os judeus mataram 800 dos seus inimigos só em Susã (vv. 6, 1 5). É im pressio­ nante que tantos persas tenham se atrevido a atacar os ju d eu s bem na cidad e do rei, onde Ester e M ordecai viviam . Talvez fossem partidários leais de H am ã que haviam de­ pendido dele para seu sustento. Estavam ira­ dos, pois seu herói havia sido derrubado e não tinham mais acesso a sua riqueza. U m a v e z que os ju d eu s não partiram para a ofensiva contra os persas, isso signifi­ ca que os dez filhos de H am ã haviam se arm ado e atacado os judeus. C om o resulta­ do, os dez foram mortos. O s corpos dos fi­ lhos de Ham ã foram pendurados na forca que o pai deles havia construído, servindo assim de aviso para o inimigo (no texto das Escrituras hebraicas, os dez nomes são dis­ postos na página de modo a form ar uma forca. Na festa de Purim, o leitor da sinago­ ga pronuncia os dez nom es sem pausas para respirar, pois os filhos de H am ã m orreram todos juntos). Aqueles dez corpos na forca de Ham ã, sem dúvida, evitariam que outros persas atacassem os judeus e, com isso, sal­ variam vidas. Alguns com entaristas consideram o pe­ dido de Ester nos versículos 12 e 13 com o sinal de uma atitude vingativa da parte da rainha, mas não é o caso. A m aior parte dos partidários de H am ã encontrava-se na capi­ tal, onde o povo havia se curvad o diante dele e se beneficiado de seus favores. Um a vez que seria fácil tais pessoas se reunirem e planejarem sua estratégia, Ester desejava certificar-se de que nenhum a delas sobre­ viveria para causar mais problem as. Talvez tivesse recebido algum a inform ação co nfi­ dencial de que esses sim patizantes de Ham ã tinham planos de atacar no dia seguinte, le­ van d o -a, p o rta n to , a p e d ir p e rm issã o a Assuero para estender o direito dos judeus de se defenderem . O s judeus em outras partes do império mataram 75 mil pessoas em um dia, o que mostra quanta gente odiava os judeus e dese­ java destruí-los. C om isso, tem-se uma mé­ dia de 6 0 0 pessoas por província. U m a vez qu e os ju d e u s co n stitu ía m um a m in o ria muito pequena no im pério, sua vitória foi, sem dúvida, um tributo a sua fé e coragem . O texto afirm a três vezes que os jud eus não tom aram quaisquer espólios para si (vv. 10, 15, 16). Foi ao tom ar os espólios do inimigo que o rei Saul perdeu o reino (1 Sm 15:12-23), e os ju d eu s não repetiram esse erro. Não estavam atrás de riq ueza. D e se­ javam ap enas se pro teg er e v in d ica r seu direito de viver em segurança no im pério. ESTER 9 - 1 0 É importante lembrar, também, que os judeus só mataram aqueles que os atacaram primei­ ro, de modo que não foram os agressores. 2. C e l e b r a ç ã o : (Et 9:17-32) a festa d o s ju d e u s E triste quando uma nação (ou uma igreja) se esquece de seus heróis e dos aconteci­ mentos providenciais que a m antiveram com vida. Com o é fácil para uma nova geração crescer e deixar de dar o devido valor aos benefícios que as gerações passadas lutaram e se sacrificaram para obter! O s judeus não com eteram esse erro. Antes, estabeleceram a Festa de Purim para lembrar a seus filhos, ano após ano, que Deus havia salvado Is­ rael da destruição. A pesar de Purim não ser uma festa cris­ tã, sem dúvida os cristãos devem se alegrar com seus amigos judeus, pois todas as bên­ çãos espirituais que recebem os vieram por interm édio do povo de Israel. Esse povo deu ao m undo o co nhecim ento do verdadeiro D eus vivo, as Escrituras e o Salvador. O s pri­ meiros cristãos foram judeus que creram em Cristo, com o tam bém o foram os primeiros m issionários. Jesus foi um judeu que m or­ reu na Páscoa, uma festa jud aica, e ressus­ citou dos m ortos em outro dia santo dos judeus, a Festa das Prim ícias. O Espírito Santo desceu dos céus sobre um grupo de cris­ tãos jud eus em Pentecostes, um dia santo ju d aico . "A salvação vem dos ju d eu s" (Jo 4 :2 2 ). A Igreja não existiria sem os judeus. Não há nada de errado na tradição que co nserva o significado. A Igreja está sempre a uma geração da extinção, e, se não pas­ sarmos adiante a nossos filhos e netos o que Deus tem feito por nós e por nossos pais, a Igreja morrerá de apatia e ignorância. "Vinde, filhos, e escutai-m e; eu vos ensinarei o te­ mor do S e n h o r " (Sl 3 4 :1 1 ). É quando a tradi­ ção torna-se, aos p o u co s, tradicionalism o que nos com p licam o s. C o m o disse o teó­ logo Jaroslav Pelikan: "Tradição é a fé viva dos m ortos; trad icio nalism o é a fé m orta dos vivos". O s ju d e u s das p ro v ín cias term inaram suas lutas no décim o terceiro dia do mês de ad ar (m a rço ) e p assaram o dia segu in te 733 com em orando. Porém , uma vez que os ju ­ deus de Susã ainda estavam se defendendo no décim o quarto dia, só conseguiram cele­ brar no décim o quinto dia. No co m eço , os judeus estavam unidos em sua vitória, mas separados em sua co m e m o ração . \sso de­ penderia do lugar onde viviam , na cidade ou no cam po. M o rdecai, porém , publicou posteriorm ente uma carta que instruía todos os ju d eu s a co m e m o rar tanto no décim o quarto quanto no décim o quinto dia do mês (Et 9:20-22). Hoje, os judeus co m eçam a celebração com um jejum no décim o terceiro dia do mês (v. 31), lem brando a data na qual o de­ creto perverso de H am ã foi publicado (3:12). V ão à sinagoga e ouvem a leitura pública do Livro de Ester. Sem pre que o nome de H am ã é m encionado, exclam am : "Q u e seja am aldiçoado!" ou: "Q u e seu nom e pereça!" As crianças levam consigo um chocalho es­ pecial de Purim, cham ado "gregar", e o usam para fazer barulho toda vez que ouvem o nome de H am ã na leitura. Na manhã do décim o quarto dia, os ju ­ deus voltam à sinagoga, onde a história de Ester é lida novamente e a congregação par­ ticipa de orações. A história de M oisés e os am alequitas (Êx 17:8-16) também é lida. En­ tão, os celebrantes vão para casa, onde fa­ zem uma refeição festiva com presentes e co m id a s e s p e c ia is , sen d o que as c o m e ­ m orações estendem-se até o dia seguinte. Também enviam presentes e alimentos aos pobres e necessitados para que todos pos­ sam se regozijar juntos. O nom e "P u rim " é o plural do term o babilônio pur, que significa "sorte". Tem ori­ gem no fato de H am ã ter lançado sortes para determ inar o dia em que os ju d eus deve­ riam ser destruídos (Et 9 :2 4 ; 3:7 ). Apesar de essa nova festa não ter recebido a sanção d ivina, os ju d eu s determ inaram que seria com em orada de geração em geração (9:2628). O b serve a ênfase em ensinar às crianças o significado de Purim , para que a m ensa­ gem da festa não se perdesse nas gerações futuras. Existe um patriotism o piedoso que vai além de simples nacionalism o e de orgulho 734 ESTER 9 - 1 0 cívico e que dá glória a Deus pelo que tem feito. Ver a mão de D eus na história e louválo por sua b o n d a d e e m ise ricó rd ia bem com o pedir perdão a D eus por nossos pe­ cados é, talvez, um a das m elhores formas de o patriota cristão com em orar um feriado nacional. Porém, a com em oração deve ser seguida de dedicação. Nas palavras do líder político norte-americano Adiai Stevenson: "O patriotismo não é constituído de erupções breves e frenéticas de em oção, mas sim de dedicação tranqüila e contínua ao longo de toda a vida". N ão ap enas o prim eiro-m inistro M o r­ decai enviou um a carta com instruções para os ju d e u s do im p é rio , co m o tam b ém a rainha Ester enviou ao povo um a segunda carta em conjunto com M ordecai (vv. 293 2 ). T alvez alguns dos ju d eu s das provín­ cias não desejassem m udar o dia original da co m em o ração (v. 19), tornando neces­ sário que tanto a rainha quanto o primeirom inistro p u b licassem essa segun d a ca rta de modo a preservar a paz nacional. M ui­ tas vezes, o povo de D eus derrota o inim i­ go e, depois, co m em ora a vitó ria lutando entre si! A segunda carta é descrita com o "pala­ vras am igáveis e sinceras" (v. 30), o que in­ dica que havia uma divisão entre os judeus que precisava ser reparada. Ester e M ordecai não apenas enviaram cartas, mas tam bém providenciaram para que tudo fosse escrito num livro (diário?) que M ordecai usava com o registro pessoal (vv. 20, 32). E possível que esse livro tenha sido incorporado aos regis­ tros oficiais do império. A história da vitória dos judeus sobre seus inimigos foi com em orada num a festa anual, registrada nas duas cartas o ficiais, escrita num diário ç, por fim, incluída nas Escrituras do Antigo Testamento! Um a censura e tan­ to à nossa so cie d ad e m o derna dos "d e s­ cartáveis", que se esqueceu de sua história e, com o os atenienses da Antiguidade, pas­ sa o tem po discutindo "as últim as novida­ des" (At 1 7:21). O filósofo G eorge Santayana estava certo quando disse: "Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo". 3 . E xa lta çã o : a fa m a d e M o rd ecai ( E t 1 0 :1 - 3 ) Este capítulo curto conta co m o M ordecai, ao contrário de seu antecessor, H am ã, usou seu cargo para servir o rei e ajudar os ju ­ deus. Por veze s, quando as pessoas são pro­ m ovid as a um cargo ele v ad o , e sq u e cem suas raízes e não fazem caso das n ecessi­ dades do povo em geral. M ordecai não era esse tipo de pessoa. Seus atos políticos fo­ ram registrados nos anais o ficia is do im ­ p ério, porém aquilo que ele realizou por seu povo foi registrado pelo Senhor e será reco m p e n sad o . Por que o autor fala do novo programa tributário de Assuero? O que isso tem a ver com M ordecai e os judeus? Alguns estudio­ sos da Bíblia acreditam que foi M o rdecai quem elaborou esse novo sistema tributário co m o um substituto para a guerra e para os saques co m o fonte cie riqueza d o reino. U m a vez que havia paz no reino, os judeus po­ d e riam trab a lh ar, ganhar seu d in h e iro e prosperar; e a prosperidade dos judeus con­ tribuiu para a prosperidade do im pério em geral. M ordecai lembrou ao rei que o trono m erecia parte dessa pro speridade. A final, Assuero havia escolhido Ester, uma judia, e prom ovido M ordecai, um ju d eu , e os três h aviam trab a lh ad o ju n to s para salvar os judeus da destruição. O povo do im pério, tanto gentios quanto judeus, não tinha uma obrigação para com seu monarca? N o en tan to, a m ensagem im portan te deste capítulo é a de que Deus continuou a usar M ordecai para ajudar o povo judeu. Os judeus eram estrangeiros numa terra distan­ te e sofriam todo tipo de perturbação e de abuso. M ordecai providenciou para que fos­ sem tratados com justiça. As últimas palavras do livro recebem traduções diferentes. A l­ gumas versões dizem : "falando da paz para to da sua d e s c e n d ê n c ia ", in d ica n d o que M o rd e ca i e n co rajo u os ju d e u s e que os manteve em paz uns com os outros. O utras versões dizem : "procurando o bem-estar do seu povo". Fica im plícito que ainda havia dentro do im pério forças de oposição aos judeus, porém M ordecai representou e pro­ tegeu seu povo. ESTER 9 - 1 0 A história em polgante de Ester chegou ao fim , mas as b ên ção s co n tin u am . D eus p re se rv o u os ju d e u s p ara q u e h o je p u ­ déssem o s ter a Bíblia e o Salvador. Agora, cab e a nós co n tar ao m undo inteiro sobre esse Salvad o r e p ro cu rar ganhar quantas 735 pessoas pu derm os para o Senhor. Som os os m e n sa g e iro s do rei e n ão d e v e m o s falhar. A lem brança de Ester estende-se pelos séculos e se ju nta aos cristãos de hoje para d ize r à Igreja: seja co m p rom etid a!