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08 - Variabilidade Da Evaporação No Tanque Classe A Entre O Período De 1976 A...

Este estudo avaliou a variação da evaporação no tanque classe “A” em três décadas e meia e realizou comparação com as mudanças na urbanização ocorrida em tal período, encontrando alterações nos índices evaporativos em face da ocupação do Homem e suas respectivas modificações no espaço. O represamento ou bloqueio do vento devido ao crescimento horizontal está contribuindo para a redução da evaporação (EVR), o contrário ocorre quando chove, não havendo escoamento superficial e ao término da precipitação os...

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Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. VARIABILIDADE DA EVAPORAÇÃO NO TANQUE CLASSE “A” ENTRE O PERÍODO DE 1976 A 2011 E SUAS COMPARAÇÕES COM AS TRÊS DÉCADAS E MEIA E COM O ANO DE 2011 NO MUNICÍPIO DE TERESINA, PIAUÍ Milla Nóbrega de Menezes Costa1, Raimundo Mainar de Medeiros2, Manoel Francisco Gomes Filho3 1 Doutoranda em Meteorologia/PPGM, UFCG, Campina Grande – PB, Brasil, Av. Aprígio Veloso 882, CEP 58109970, e-mail: [email protected]; 2 Doutorando em Meteorologia/PPGM, UFCG, Campina Grande - PB, Brasil, Av. Aprígio Veloso 882, CEP 58109-970, e-mail: [email protected]; 3 Professor Doutor em Meteorologia pela Unidade Acadêmica de Ciências Atmosférica, UFCG, Campina Grande - PB, Brasil, Av. Aprígio Veloso 882, CEP 58109-970, e-mail: [email protected]. RESUMO Este estudo avaliou a variação da evaporação no tanque classe “A” em três décadas e meia e realizou comparação com as mudanças na urbanização ocorrida em tal período, encontrando alterações nos índices evaporativos em face da ocupação do Homem e suas respectivas modificações no espaço. O represamento ou bloqueio do vento devido ao crescimento horizontal está contribuindo para a redução da evaporação (EVR), o contrário ocorre quando chove, não havendo escoamento superficial e ao término da precipitação os índices evaporativos ocorrem em maiores proporções devido à troca de calor. A série de dados diários de evaporação utilizada neste trabalho foi separada entre períodos, de 1986-1995, 1996-2005, 2006-2011 e comparados com a série completa de 1976-2011, finalizando com uma analise comparando os 35 anos de dados com o ano de 2011, estes dados foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia. Verificaram-se as oscilações de menores e maiores valores ocorridos, com destaque para as décadas 1976-1985 e 1986-1995 que apresentaram as menores variações. A década de 2006-2011 no mês de outubro apresentou a maior flutuação dos períodos estudados. As flutuações anuais oscilaram entre 1.852,7 a 2.409,4 mm. Os índices evaporativos tiveram maiores significâncias a partir da década de 1996, devido à verticalização urbana, alteração da área vegetal, compactação do solo com a pavimentação, aterramento de lagoas e eutrofização dos espelhos da água. O presente estudo complementa as descobertas feitas anteriromente que concluem que os padrões de desenvolvimento urbano em expansão têm um impacto negativo sobre a cobertura de vegetação regional e aumentam a freqüência de eventos extremos de calor, devido às altas taxas de desmatamento em toda a região. Palavras-chave: evaporação, variabilidade, impacto humano. VARIABILITY EVAPORATION TANK IN CLASS "A" BETWEEN THE PERIOD OF 1976 TO 2011 AND THE COMPARISONS WITH THREE DECADES AND HALF AND THE YEAR OF 2011 IN TERESINA COUNTY, PIAUÍ ABSTRACT This study evaluated the change in evaporation in the Class "A" tank in three and a half decades and has made comparison with changes in urbanization occurred in that period, finding changes in evaporative rates in the face of occupation of the man and their changes in space. The damming or wind blocking due to horizontal growth is contributing to the reduction of evaporation (EVR), the opposite occurs when it rains, there is no runoff and the end of the precipitation evaporative rates occur in higher proportions due to the heat exchange. The number of daily data (1976-2011) evaporating used was partitioned between periods of 1986-1995, 1996-2005, 2006-2011, and compared *E-mail para correspondência: [email protected] (Costa, M. N. M.). 107 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. with the full range of 1976-2011, ending with an analysis comparing 35 years of data with the year 2011, these data were provided by the National Institute of Meteorology. There were smaller fluctuations and higher values occurred, highlighting the decades 1976-1985 and 1986-1995 that presented the smallest variations. The decade of 2006-2011 in October showed the highest fluctuation of the periods studied. The annual fluctuations ranged from 1852.7 to 2409.4 mm. Evaporative indexes had greater significance from the 1996's, due to urban vertical, changes in plant area, soil compaction by paving, earth ponds and eutrophication of water mirrors. This study complements the findings made hereinbefore to conclude that urban development patterns in expansion have a negative impact on regional vegetation coverage and increase the frequency of extreme heat events due to high rates of deforestation in the region. Keywords: evaporation, variability, urban impact. 1. INTRODUÇÃO A quantidade de energia que chega a superfície terrestre e suas interações com o meio ambiente geram novas ações e comportamentos, como é o caso do ciclo da água, que alimentado pela radiação proveniente do sol, evapora e conduz os demais processos. De fato, as alterações no uso e cobertura do solo também contribuem para alterações no ciclo. A cobertura vegetal é uma fonte importante de vapor de água em áreas urbanas e rurais e controla o poder evaporativo de determinado local ou área. A Evapotranspiração terrestre é um dos componentes mais importantes do ciclo hidrológico, afetando o equilíbrio de água na superfície e o vapor d’água na atmosfera terrestre. É também uma das variáveis meteorológicas muito aplicadas na tomada de decisão em hidrologia, agroecologia, irrigação e outras áreas afins (FU;CHARLES; YU, 2009; RODERICK; HOBBINS; FARQUHAR, 2009). Mudanças nos índices de evaporação na superfície têm sido observadas, essa variável tem grande importância no ciclo hidrológico e no balanço de energia, causando grandes consequências ambientais e socioeconômicas. Queda nos índices de evaporação para vários períodos desde o ano de 1950 têm sido observadas em diversos países em ambos os hemisférios incluindo os EUA, a exUnião Soviética (GOLUBEV et al., 2001), Itália (MOONEN et al., 2002), Austrália (RODERICK; FARQUHAR, 2004), Nova Zelândia (RODERICK; FARQUHAR, 2005), Canadá (BURN; HESCH, 2007), Índia (JHAIHARIA et al., 2009) e China (LIU;YANG; XIA, 2010). Resultados antigos mostram que a magnitude das tendências de evaporação e fatores determinantes variou muito de região para região. Estudos adicionais sobre a evaporação e registros em diferentes regiões dos países tropicais são sem dúvida utéis para fornecer mais evidências e entendermos melhor a variabilidade e tendência da evaporação global. 108 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. Estudos recentes têm demonstrado que as principais causas potenciais da redução da evaporação se evidenciam com as diminuições generalizadas nos índices da temperatura do ar, da radiação solar, as mudanças associadas ao déficit de pressão de vapor e velocidade do vento (CONG; YANG; NI, 2009; FU;CHARLES;YU, 2009; MCVICAR et al., 2012; RODERICK et al., 2007). Entretanto, outras formulações assumem que a superfície é extensa e continuamente saturada, omitindo os efeitos 'advectivos' das variáveis (velocidade do vento e pressão de vapor), e conta apenas com o calor na vertical e fluxos de massas. Tais formulações são muitas vezes referidas como "área molhada" potencial (MORTON, 1983; PRIESTLEY; TAYLOR, 1972) sendo mais adequados para ambientes de energia limitada. Modelos físicos, tais como o método de Penman e as equações de Penman-Monteith (MONTEITH, 1981; PENMAN, 1948), são fisicamente derivados (exceto para os termos de resistência) e explicitamente incorporados a todas as variáveis de condução. O objetivo deste trabalho foi calcular a média da evaporação (EVP) média mensal para o município de Teresina – Piauí, realizando uma análise desta média para o período entre 1976 a 2011, comparando-os em destaque ao ano de 2011, assim possibilitando observar as mudanças que ocorreram no regime evaporativo ao longo dos anos em uma cidade que se desenvolveu muito. ASPECTO HISTÓRICO DA CAPITAL TERESINA O processo de urbanização apresenta um forte grau de associação com o desenvolvimento econômico de um país ou região; ou seja, há uma estreita correlação entre a parcela urbana da população e o grau de desenvolvimento da economia (VERGOLINO; DANTAS, 2005). Para Maia Gomes e Vergolino (1995), na década de 1950, o processo de urbanização ocorreu com mais intensidade na região sudeste do Brasil, nas demais regiões brasileiras foi observado apenas em 1970, ainda hoje, o sudeste mantém a primazia do sistema urbano do país. Até o final da década de 1960, o processo de urbanização brasileiro estava diretamente relacionado com a concentração das atividades econômicas, neste período, com ênfase para a atividade industrial. Em decorrência dessa dependência, o processo de urbanização nacional não ocorreu de forma homogênea entre as grandes regiões brasileiras (NASCIMENTO, 2010). 109 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. Ao longo dos anos, o crescimento urbano das cidades brasileiras ocorreu de forma desordenada apresentando uma série de problemas de ordem social, econômica, política e ambiental. Sanchotene (1994) considera que nenhum ambiente é mais alterado do que a cidade, em virtude da sua natureza edificada, e essa constatação permitiu que gradativamente o verde urbano conquistasse importância. O Nordeste apresenta um contraste entre as populações rural e urbana. Em 1991, este contraste correspondia a 46,4% da população rural brasileira e apenas 23% da urbana; ou seja, a participação da população rural nordestina era, na época, duas vezes maior que a sua participação na população urbana nacional (MARTINE, 1994). Na década de 70 houve um grande dinamismo no crescimento da população das capitais. A tendência no aumento da concentração populacional nas maiores cidades está de acordo com o que foi observado em todo o País e encontra suas raízes ou explicação na concentração das atividades econômicas, particularmente a industrialização, verificada também no Nordeste. Enquanto a população da Região cresce a uma taxa de 2,16% ao ano, a maior parte das capitais cresce a taxas que variam entre 4,08% e 5,41% (VERGOLINO; DANTAS, 2005). O processo de expansão e estruturação urbana da capital Teresina é um processo contínuo, crescente e desordenado, que influencia diretamente o meio ambiente, sendo notória a falta de uma política, embora esta exista, voltada no sentido de minimizar os impactos resultantes desta expansão (NASCIMENTO, 2010). A cidade de Teresina localizada no interior do estado do Piauí (conhecida como munícipio e agora considerada cidade), por apresentar melhor condições de comunicação com os outros centros e com o litoral, foi planejada e construída com o objetivo de representar a sede do governo do Estado. Moreira (1972), explica que a planta de Teresina apresenta um traçado em xadrez, de ruas retilíneas e largas, tendo ruas e praças arborizadas (Figura 1). “A planta da cidade de Teresina mostra que o traçado original em xadrez constituiu a diretriz básica do crescimento e ocupação do centro, contido entre o rio Parnaíba e o anel ferroviário; aí as ruas são orientadas a grosso modo, de norte-sul e leste-oeste, com ruas estreitas e quadras geralmente de 100 metros, essa orientação é percebida nos bairros de ocupação anterior a 1950. Naqueles de ocupação mais recente, a urbanização se faz de modo menos rígido, em torno de avenidas radiais, como no sudeste da cidade, ocupado de 1950/60” (MOREIRA, 1972. p.20/21). O crescimento de Teresina se deu nos sentidos norte e sul, sendo que no sentido norte, tinha como condicionante obstáculo natural, como o encontro dos rios. Dessa forma, havia espaço 110 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. somente no sentido sul, o sentido leste opunha-se o rio Poti. Segundo Façanha (1998), nas décadas seguintes, a urbanização piauiense passou por uma nova dinâmica e consolidou de vez Teresina como principal cidade do estado. (a) (b) Figura 1. (a) Esquema de planejamento do município de Teresina, PI (retícula de Teresina). (Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina); (b) Miniatura do Plano de Teresina, 1852. (Fonte: Cadernos de Teresina, ano XII, nº. 32, out./2000. FUNDAC, Aniversário de 148 anos da cidade de Teresina). Segundo Barcelar (1994), em 1950 a população de Teresina era 90.723 habitantes; em 1970 atingia 363.666 habitantes; e em 1980 somava 538.294 habitantes. A maioria dessa população é oriunda de pequenas cidades piauienses, principalmente da zona rural, mas também de outros estados do nordeste. Na década de 1970, a configuração espacial urbana teresinense adquiriu um dos maiores fluxos migratórios, com a expansão de rodovias no Piauí. A construção de rodovias permitiu que o deslocamento de trabalhadores rurais fosse realizado de forma rápida e seguro. Teresina, então, passou a receber uma quantidade de migrantes a qual não estava preparada, fato que contribuiu para o agravamento dos problemas sociais. Destaca-se que o crescimento de Teresina ocorreu em grande parte devido à construção de vários conjuntos habitacionais destinados à população de baixa renda, 3600 financiados pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). Esses conjuntos habitacionais surgiram como novos bairros para os quais se levava a infraestrutura básica necessária, inclusive vias de acesso. São construções, que hoje integram enormes bairros já incorporados a estrutura urbano, mas que na ocasião de sua 111 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. construção estavam totalmente desconectadas da área urbana. Situavam-se em locais ermos e desérticos, formando verdadeiras cidades-dormitórios que foram implantadas a partir de terraplanagens excessivas, com graves danos ambientais. Tabela 1. População e concentração do Piauí e suas principais cidades 1940 – 1970. CIDADES ANOS URBANO TOTAL 1940 34.695 67.641 1950 5.418 90.723 1960 98.320 142.691 1970 181.022 220.481 PARNAÍBA URBANO TOTAL 22.641 42.062 30.174 49.369 39.145 62.719 57.030 79.210 FLORIANO URBANO TOTAL 7.084 25.705 9.101 33.786 15.574 23.556 26.776 35.850 URBANO TOTAL 3.789 30.195 6.992 39.927 13.849 56.120 18.400 61.549 PIRIPIRI URBANO TOTAL 4.520 ? 4.357 23.701 9.419 29.248 18.481 43.222 PICOS URBANO TOTAL 2.943 40.414 4.357 54.713 8.080 49.801 18.107 52.757 PIAUÍ URBANO TOTAL 130.816 807.601 170.584 1.045.696 292.233 1.249.200 538.197 1.608.954 TERESINA CAMPO MAIOR Fonte: FAÇANHA, 1998, p.69. Feitosa et al. (2011), abordaram a relação entre a urbanização e a diminuição da vegetação com o aumento da temperatura da superfície de Teresina num período de 20 anos, indicando uma crescente expansão da urbanização com diminuição significativa da vegetação e com a elevação da temperatura da superfície do solo nas áreas de maior concentração de áreas construídas. A evolução populacional de Teresina (Figura 2), em termos comparativos, foi maior do que a expansão demográfica verificada entre os municípios nordestinos (Tabela 1). De menos de 200.000 habitantes em 1970, apresentava em 2000 uma população de 714 mil; as taxas médias anuais de crescimento superaram a casa dos 6% entre 1970 e 1980 e ficou em 4,6% entre 1980 e 1991, bem superiores a media do aumento da população brasileira no período que foi de 2,78% e 1,3%a. ano, respectivamente e acima dos aumentos verificados na maioria das capitais brasileiras, conforme os dados coletados pelo IBGE. Tomando por base o Censo de 2000 com as estimativas 112 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. 2007, Teresina teve nesse período um crescimento de 9,03%, passando de 715.360 habitantes em 2000, para 779.939 habitantes (IBGE, 2007). Figura 2. Comparação entre as imagens antigas e atuais de Teresina, PI. Fonte: http://istoepiaui.blogspot.com/2010/05/veja-alem-das-fotos-antigas-e-novas-de_16.html. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Caracterização da área de estudo O município de Teresina, localizado no estão do Piauí nas seguintes coordenadas geográficas (Figura 3): latitude 05º50’S e longitude 42º48’W com uma altitude média em relação ao nível do mar de 72 metros é caracterizado por ter um microclima diferenciado dentro do seu próprio município, segundo Köpper a classificação climática é aw’; com uma temperatura do ar média por 113 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. volta de 28,5ºC, apresenta uma umidade relativa do ar anual de 67,7% e uma precipitação média anual de 1.430,7 mm. Figura 3. Mapa da localização de Teresina, PI. A série de dados diários (1976-2011) de evaporação, fornecida pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), foi transformada em dados mensais e utilizada neste trabalho. Foi utilizado um pacote EXCEL para realização dos parâmetros estatísticos, posteriormente foram plotados gráficos e realizados comparativos entre a média do período referenciado de 35 anos, entre o período de 1976-2011 (35 anos de dados) com cada década (1976-1986; 1986-1995; 1996-2005; 2006-2011), além da comparação da série somente com o ano de 2011. Os cálculos dos desvios percentuais foram levados em consideração para os períodos chuvosos e secos, com a finalidade de identificação dos índices evaporativos mais ou menos intensos por décadas, com o objetivo de detectar alterações na evaporação ao longo dos anos em estudo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A proposta de redução na pressão de vapor causado devido a mudanças no regime de umidade (CHATTOPADHYAY; HULME, 1997) e velocidade do vento (RODERICK et al., 2007; 114 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. SHUTTLEWORTH et al., 2009) é consistente com a visão de que aumentando (diminuindo) a evaporação real aumenta (diminui) o ciclo hidrológico. Ressalta-se que o regime de umidade e velocidade do vento estão diretamente interligado com o padrão termodinâmico da atmosfera. As chuvas mensais (alto teor de umidade na atmosfera) normalmente são determinadas por sistemas meteorológicos transientes (cisalhamento do vento), destacando que ao longo do ano sistemas meteorológicos de escala global e sinótica também influenciam, portanto a intensificação e perduração destes sistemas estão diretamente relacionadas com o aumento de chuvas e evaporação de cada ano. Quando aumenta a nebulosidade, diminui a radiação que chega à superfície terrestre, influenciando na evaporação real da superfície e no conforto térmico das cidades, isto, somados as mudanças urbanas podem ser observados na análise adiante que mostra os impactos na evaporação ao longo dos anos. O impacto da urbanização também influenciam nos índices de evaporação, pois devido a vegetação natural ter sido modificada para asfaltos, isto prejudica no escoamento das águas das chuvas, as edificações a cada alto apresentarem maiores estaturas interferindo no escoamento do vento que é fundamento principalmente para manter o conforto térmico de uma cidade, entre outras problemáticas que o crescimento de uma cidade e de forma desordenada podem alterar essa variável hidrometeorológica tão importante como a evaporação. A variabilidade da evaporação entre 1976-2011 e a década de 1976-1985 (Figura 4) demonstram que os índices evaporativos foram representativos e equivalentes nos meses de julho, agosto e setembro. Para os demais meses ocorreu discrepância entre as duas séries de dados, porém a evaporação foi mais significativa para o período entre 1976-2011, que apresentou maiores valores de evaporação, indicando que possivelmente com o aumento na demanda populacional urbano em mais décadas o índice de evaporação aumento. Essa diferença no comportamento entre as duas séries de dados pode ter ocorrido devido a frequência de sistemas meteorológicos atuando na área em estudo para o período analisado, ocasionado maiores volumes de chuvas com baixa insolação e ventos fracos. Devido ao período de 1976-1985 ser menor se comparado ao período de 1976-2011 (35 anos) analisado, possivelmente esses sistemas e suas influências ficaram em evidência nos resultados. 115 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. Figura 4. Comparativo da evaporação do tanque classe “A” entre a série de 1976-2011 e 19761985, para o município de Teresina, PI. Comparando-se as séries evaporimétricas da Figura 5, nota-se que de janeiro a julho os valores evaporados foram menores na série de 1986-1995, e para os meses de agosto a dezembro os valores evaporados quase coincidiram, significando que os períodos chuvosos e secos foram entre a normalidade, detectados nas duas séries. Figura 5. Comparativo da evaporação do tanque classe “A” entre a série de 1976-2011 e 19861995, para o município de Teresina, PI. Na Figura 6 é possível observar que esta década comparada com a série de 35 anos de anos (1976-2011) mostrou uma inversão, a partir desta década de 1996-2005 a diante os valores das 116 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. décadas são superiores, uma mudança no regime evaporativo e que a partir deste período em diante este regime foi alterado. A variabilidade nos índices evaporativos da série de 1976-2011 comparada com a da década de 1996-2005 (Figura 6), mostram um aumento nos índices evaporados durante os meses de dezembro a junho nesta década, e no restante dos meses ocorreu equivalência nos valores evaporados nas duas séries de dados. Denota-se que esta década teve o período chuvoso abaixo do normal, com baixa cobertura de nuvens, altas taxas de radiação e vento calmos, propiciando altos índices de evaporação. Este período foi importante para ditar o regime evaporativo nas décadas seguintes como é possível observar nos seguintes gráficos. Figura 6. Comparativo da evaporação do tanque classe “A” entre a série de 1976-2011 e 19962005, para o município de Teresina, PI. A Figura 7 mostra que entre 2006-2011 os índices evaporativos foram acima da normalidade, tendo como possíveis causas anos com chuvas acima da normalidade para os períodos chuvosos e secos, respectivamente. Entretanto, as exceções foram os meses de agosto, setembro, novembro e dezembro que se equipararam com a da serie de comparativa (1976-2011). Assim como no Gráfico 6 que mostrou no período entre 1996-2005 mudanças relevantes na evaporação, possivelmente devido a mudanças urbanas na cidade, maior frequência de sistemas meteorológicos, sendo possível observar também mudanças entre o período de 2006-2011. 117 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. Figura 7. Comparativo da evaporação do tanque classe “A” entre a série de 1976-2011 e 20062011, para o município de Teresina, PI. Na Figura 8 a variabilidade nos índices evaporativos do ano de 2011 foi significativa com o aumento destes índices quando comparados com o da série de 1976-2010. Atribui-se esse incremento a frequência de sistemas meteorológicos transientes que ocorreram durante o ano de 2011. Figura 8. Comparativo da evaporação do tanque classe “A” entre a série de 1976-2011 e o ano de 2011, para o município de Teresina, PI. 118 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. A Tabela 2 representa os valores da evaporação média mensal e das décadas, para o município de Teresina, PI, para a série de dados analisada. Verificou-se que as décadas com menores e maiores valores ocorreram respectivamente, nas décadas de 1976-1985, média anual de 1,852,70 mm, nos meses de janeiro a maio com oscilações de 66,2 a 95,9 mm, e com maiores valores na década de 2006-2011, média anual de 2,409,40 mm, no mês de outubro com 292,1 mm, sendo um dos maiores valores encontrados neste estudo. Na década de 1986-1995, os meses de fevereiro a abril mostraram variações entre 89,5 a 99,5 mm. O comportamento do ano de 2011 foi muito parecido com a década de 2006-2011. E para a década de 1976-2011 em que foram analisados todos os 35 anos do estudo, o resultado mostrou um equilíbrio entre as primeiras décadas (1976-1985; 1986-1995) que apresentaram médias menores, contraposto aos valores das décadas outras décadas (1996-2005; 2006-2011) que apresentaram valores mais altos. A Tabela 3 mostra a variabilidade da evaporação da série de 1976-2011 e os valores dos referidos parâmetros para as décadas estudadas no município de Teresina- PI, e observa-se variações entre as décadas e os meses. Destacamos para as décadas de 1976-1985 que nos meses de janeiro a maio ocorreram os menores índices de evaporação (EVP), o mesmo ocorreu na década de 1986-1995 entre os meses de fevereiro a abril. Observa-se também que os maiores valores de evaporação ocorreram nos meses de julho a novembro para todos os períodos estudados. Tabela 2. Média mensal e anual por década da evaporação do tanque classe “A” (mm), para o município de Teresina, PI. Meses Décadas JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL 1976-2011 131,4 106,9 114,3 109,2 128,9 156,9 198,2 243,6 263,8 270,2 232,3 199,5 2.148,7 1976-1985 95,9 66,2 73,9 72,7 95,8 134,1 200,8 241,9 252,1 243,2 207,1 169,1 1.852,7 1986-1995 113,2 91,4 99,5 89,5 106,1 133,4 185,1 233,2 273,0 280,2 240,4 190,8 2.035,8 1996-2005 168,4 144,8 131,0 140,1 174,4 186,4 204,0 242,2 260,4 274,1 240,7 234,6 2.401,0 2006-2011 159,2 143,4 178,8 151,5 149,9 184,9 206,2 266,0 273,5 292,1 246,9 206,1 2.409,4 2011 151,5 148,7 158,8 167,3 151,5 189,0 190,7 229,4 267,6 223,8 181,6 210,9 2.270,7 Fonte: INMET 119 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. Chama-se a atenção para os índices evaporativos que foram acima das expectativas nos meses entre fevereiro a maio para o ano de 2011 e as décadas de 1996-2005 e 2006-2011, onde o período chuvoso foi acima da normalidade, no caso, acima do esperado (Tabela 3), e como foi possivel observar no gráfico 6 que também apresentou na década de 2006-2011 mudanças no da comportamento da evaporação que está ligado ao padrão das chuvas. Na Tabela 4, pode-se observar os valores dos desvios percentual comparativo da EVP, para as décadas estudadas e o ano de 2011, com flutuações entre -38,1 a 56,2%, conforme a distribuição dos períodos chuvosos e secos. Tabela 3. Médias mensais e anuais por décadas da evaporação do tanque classe “A” (mm), em relação aos períodos chuvoso e seco para o município de Teresina, PI . PERÍODO CHUVOSO PERÍODO SECO Décadas/meses DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV 1976-2011 199,5 131,4 106,9 114,3 109,2 128,9 156,9 198,2 243,6 263,8 270,2 232,3 1976-1985 169,1 95,9 66,2 73,9 72,7 95,8 134,1 200,8 241,9 252,1 243,2 207,1 1986-1995 190,8 113,2 91,4 99,5 89,5 106,1 133,4 185,1 233,2 273,0 280,2 240,4 1996-2005 234,6 168,4 144,8 131,0 140,1 174,4 186,4 204,0 242,2 260,4 274,1 240,7 2006-2011 206,1 159,2 143,4 178,8 151,5 149,9 184,9 206,2 266,0 273,5 292,1 246,9 2011 210,9 151,5 148,7 158,8 167,3 151,5 189,0 190,7 229,4 267,6 223,8 181,6 Fonte: INMET Tabela 4. Cálculo do desvio percentual das médias mensais e anuais por décadas da evaporação do tanque classe “A” em relação aos períodos chuvoso e seco para o município de Teresina, PI. PERÍODO CHUVOSO PERÍODO SECO Décadas/meses DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV 1976-1985 -15,2 -27,0 -38,1 -35,4 -33,4 -25,7 1986-1995 -4,3 -13,9 -14,5 -12,9 -18,1 -17,7 -14,5 1,3 -0,7 -4,4 -10,0 -10,9 -15,0 -6,6 -4,3 3,5 3,7 3,5 1996-2005 17,6 28,2 35,5 14,6 28,3 35,3 18,8 2,9 -0,6 -1,3 1,4 3,6 2006-2011 3,3 21,1 34,2 56,2 38,7 16,3 17,8 4,0 9,2 3,7 8,1 6,3 2011 5,7 15,3 39,1 38,9 53,2 17,5 20,4 -3,8 -5,8 1,4 -17,2 -21,8 Fonte: INMET 120 Recife-PE, 27 a 29 de outubro de 2015. 4. CONCLUSÕES Os elementos meteorológicos como radiação solar, temperatura do ar, velocidade do vento e pressão de saturação do vapor durante o período de agosto a dezembro fizeram com que os índices evaporativos atingissem valores extremos. A variabilidade evaporimétrica não seguiu um padrão normal de década a década, pois a influência de fenômenos sinóticos transientes atmosféricos atuantes em cada período foi detectada neste trabalho e mostrou-se importante alterando a evaporação em Teresina, e não só isto, como o represamento ou bloqueio do vento devido ao crescimento horizontal na cidade (casas, prédios altos, etc) está contribuindo para a redução da EVR, o contrário ocorre quando chove, não havendo escoamento superficial e ao término da precipitação os índices evaporativos ocorreram em maiores escalas devido à troca de calor. O município de Teresina (conhecido atualmente como capital) é considerado como uma área úmida, no caso, com alto teor de umidade, e apresentou uma maior variabilidade nos processos dos índices evaporativos para a quadra chuvosa, sendo atribuido isto, à diminuição mais significativa na velocidade do vento e na radiação solar em comparação com aqueles observados para a quadra seca. O presente estudo complementa as descobertas feitas por Stone, Hess e Frumkin (2010) que concluem que os padrões de desenvolvimento urbano em expansão como a verticalização urbana, alteração da área vegetal, compactação do solo com a pavimentação, aterramento de lagoas, eutrofização dos espelhos da água têm um impacto negativo sobre a cobertura de vegetação regional, aumentando a freqüência de eventos extremos de calor, devido às altas taxas de desmatamento em toda a região para acomodar gramado e superfícies impermeáveis em baixa densidade suburbana em desenvolvimento, e neste estudo sistemas meteorológicos também, mostraram que devido a tudo isto a década a partir de 1996 apresentou os índices evaporativos maiores e mais significativos. 5. AGRADECIMENTOS A CAPES pela concessão de bolsa de estudo e o desenvolvimento da pesquisa. 6. REFERENCIAS BURN, D. H.; HESCH, N. W. Trends in evaporation for the Canadian Prairies. J. 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