Transcript
Oma Lisarb
PANTANAL
VIDA
VERSOS
ECOLOGIA
À Nilva que, em todos os momentos,
Incentivou-me a vencer dúvidas e tormentos,
A vislumbrar a vitória lá muito além,
Dedico com amor de quem ainda está aquém.
INTRODUÇÃO
Descrever em versos simples e honestos
As belezas e as espécies da Fauna e Flora
Do Pantanal, já não o mesmo de outrora,
Pela depredação em atos selvagens e funestos,
É a proposição deste modesto trabalho.
É de pouco alcance, de fôlego curto,
De uma bibliografia mínima, sem lustro,
Mais de um itinerário pessoal, falho,
Narrando os tipos comuns, com ligeireza,
Associados ao seu habitat, à ecologia,
Com alertas à dizimação, à procria,
À conservação de um mundo de riquezas.
Fez-se uso da linguagem e texto poético,
Pois a poesia e a beleza ali formam um todo,
E a realidade a tudo se irmana, em tom estético.
Ademais, a muitos os versos têm o dom de dizer
O belo e o real, de conscientização, de agrado,
E o fiz de modo simples, solto, ritmado
E que prenda a atenção a quem sua leitura fizer.
No final dos títulos ora abordados,
Há, em prosa, um pequeno glossário
Que, ora num linguajar quotidiano,
Ora numa forma meio técnico-científica,
O espécime, a família e a ordem explica
Do que , com muito prazer,é narrado.
O PANTANAL
Jacarés, sucuris, emas, piranhas, capivaras,
Onças, piaus, peixes diversos, jaburus,
Antas, macacos, periquitos, seriemas, araras,
Ariranhas, gaviões, aves de rapina, urubus,
Cervos, patos selvagens, gralhas, tamanduás,
Colhereiros, maracanãs, sanhaços, juritis,
Cobras, teiús, lagartos, camaleões, biguás,
Caturritas, jaguatiricas, insetos, quatis,
Garças, tucanos, répteis, lagos, lagoas,
Rios, corichos, baías, banhados, barcos, botes,
Gaiolas, lanchas, batelões, rústicas canoas,
Matas, campos, pastagens nativas, ilhas em lotes,
Pindaíbas, planícies, fazendas, fazendões,
Rebanhos enormes, cardumes, solo de fertilidade,
Boiadeiros, fazendeiros, ribeirinhos, peões,
Santuário ecológico, riqueza da humanidade,
Luta contínua para se preservar a vida total,
Isto e muito mais que isto é o Pantanal.
FLORA E VEGETAÇÃO
Ipê-roxo, ipê-amarelo,
Cedro, jequitibá, aroeira,
Tamburi, angico, amoreira,
Jatobá, sucupira, guarantã,
Leiteiro, louro-preto, emburana,
Árvores estas encontradas
Nas matas perto da região serrana.
Angiquinho, pau-terra,
Balsimim, didal, lixeira,
Pára-tudo, araticum,
Pororoca, pimenteira,
Óleo, pombo, guatambu,
Junto a capão-seco, cerrados,
E as palmeiras buriti
E carandá, nas várzeas e prados.
Nas margens dos rios
E nas pindaíbas encaracoladas
Vêem-se imbaúba, sarã,
Sangra-d'água, ingazeiro,
Cedro-do-brejo, vidro,
Canela-de-cutia, figueira.
Capim-mimoso, capim-flecha,
Capim-membeca, gramas nativas,
Navalha, samambaia, musgo,
Taquari, taquara e vegetação ampliada
Própria do Pantanal, no seu todo,
Celeiro de riqueza quantitativa.
ANIMAIS
Tamanduá-mirim, paca
Tamanduá-bandeira, queixada,
Tatu-peba, tatu-galinha,
Tatu-bola, ouriço-cacheiro,
Anta, irara, onça-parda,
Suçuarana, onça-pintada,
Canguçu, jaguatirica,
Cutia, cateto, porco-monteiro.
Guará, cervo, lobinho,
Mão-pelada, cachorro-do-mato,
Raposinha, capivara,
Veado-campeiro, quati,
Lontra, gambá, macaco, bugio,
Bicho-preguiça, jacaré, sinimbu,
Tartaruga pequena, jabuti.
Cobras sucuri, cascavel, jararacuçu,
Jararaca, cipó, coral,
Boca-de-sapo, caninana, capitão,
Duas-cabeças, cega, urutu;
Lagartos, calangos, lagartixas,
Teiú, sapo, perereca, cururu.
Muitos outros animais
Vivem no grande Pantanal,
Ameaçados à destruição
Por assoreamentos, derrubadas,
Coureiros, garimpeiros,
Predadores, usinas, queimadas.
AVES
Pato-selvagem, marreco,
Frango-d'água, biguá,
Sem-fim, saracura, socó,
Anhuma, sanhaço, cafezinho,
Martim-pescador, bem-te-vi,
Papa-sebo, joão-de-barro, sabiá,
Quero-quero, alma-de-gato,
Japuíra, curicaca, monjolinho.
Ema, seriema, mutum,
Jacu, jacutinga, nambu,
Juriti, pomba-avoante,
Rolinha, fogo-apagou, perdiz,
Jaó, gavião, caracará,
Pinhé, carancho, urubu,
Arara, periquito, papagaio,
Maracanã, caturrita, codorniz.
Tuiuiú, tucano, garça,
João-pinto, colhereiro,
Pintassilgo, acauã,
Tico-tico, araçari, tropeiro,
João-bobo, beija-flor,
Anu-branco, araponga, tesoureiro.
Pássaro-preto, urutau,
Anu-preto, pardal, canário,
Centenas de aves pernaltas,
Canoras, pássaros lendários,
Todos têm no Pantanal
O seu mais lindo santuário.
VIVEIRO
Local escolhido pela passarada
Para uma sempre aconchegante pousada,
Árvores copadas, frondosas,
Fora do brejo, no capão-de-mato,
Dormitório de garças, socós,
Tuiuiús, colhereiros, patos,
Biguás, marrecos, araras,
Aves tantas, todos tipos, ousadas.
Cada espécie, com cantos
E alegres folguedos peculiares,
Pousa nos seus galhos,
Previamente adquiridos e reservados,
E uma algazarra gritante,
Desarmonia, sons desconcertados,
Instalam-se ali, naquela hora,
Na hospedaria de árvores seculares.
Na calada da noite de lua,
Faz-se um silêncio quase total,
Salvo alguns piados chorões
De quem há pouco deixou o ninho,
Acostumado até então
Com trato e maternal carinho.
Bem cedinho, ainda de madrugada,
Começa a gritaria e folia total,
E já bem despertados, agrupados,
Todos partem para a faina vital,
Deixando em gritos o viveiro,
Grande continuidade da vida ao Pantanal.
PEIXES
Pacu-prata, pacu-peva,
Pacu-gamela, pintado,
Jurupoca, jurupensém,
Surubim, piquira,
Cachara, armau, arraia,
Cascudo, dourado,
Lambari, sauá, piau,
Piranha, traíra.
Bagre, mandi, piaba,
Tubarana, cará, jaú,
Curimbatá ou papa-terra,
Piraputanga, piavuçu,
Muçum ou peixe-cobra,
Liso e bom para iscar
E muitas outras variedades,
Todas de bom paladar.
Peixes de escamas, coloridos,
De couro, sempre gulosos,
Abundantes em todas águas
Da vastíssima planície,
Peixes de espinho, grandes,
Sem espinho, saborosos.
Na piracema, os cardumes
Vão para as nascentes
E, para a conservação
De todas as espécies,
É proibido pescar com redes,
Tarrafas e apetrechos massacrantes.
O JACARÉ
Sáurio da espécie Caiman,
Réptil sagaz, de força e voraz,
O jacaré é o habitante
Mais comum do grande Pantanal;
Povoa lagos, lagoas, baías,
Rios, corichos, até canal;
É ágil, traiçoeiro, fingido,
Teimoso, veloz, audaz.
Sua carne é saborosa,
Pele de muitas utilidades,
Reprodução difícil, natural,
Só nas condições do seu habitat;
Devorador de piranhas,
Ataca se faminto está,
Ou defende-se com rabanadas,
Mordidas, covardia, sutilidades.
Para auxiliar a digestão,
Pois come demais, deita-se ao sol,
Na praia, barrancas, no seco,
Em algum lugar qualquer,
Com ar de arrependido, lacrimoso,
Por engolir mais do que se requer.
Jacaré-de-papo-amarelo,
Jacaré-preto, jacaretinga
Ou branco, é o equilíbrio,
Elemento indispensável, de escol,
À perpetuação ecológica
Nos pântanos, alagados e restingas.
O Guará
Mamífero elegante,
Cabeça de cachorro,
Clinudo, avermelhado,
Semelhante a um potranco,
O guará é um lobo
Que corre aos trancos,
Seu uivo é um sopro rouco,
Vive em pachorra.
Seu prato predileto
São aves, em geral,
Principalmente galinhas,
Quando à noite nos poleiros,
Atraídas por seu olho forte
De raios certeiros,
Pois é hipnotizador nato
E sutil em potencial.
Quando atacado e perseguido,
Defende-se com unhas e dentes,
Antes, porém, empreende fuga
Que é lenta, mas de rendimento,
E se apanhado ou encurralado
Torna-se muito feroz e valente.
Mesmo em extinção,
Pode-se vê-lo no Pantanal,
Caracterizando-se por viver livre,
Nunca em cativeiro, um detento,
Precisa ser resguardado
No ambiente próprio e natural.
A Garça
Branca e majestosa, pernalta,
A garça anda faceira e vagarosa
Na água rasa dos rios,
Baías, pântanos e igarapés,
À procura do alimento:
Um peixe pego junto ao pés,
Trabalho que exige perspicácia,
Muita paciência e atenção cautelosa.
Se vê o perigo por perto,
Voa quieta e sorrateira,
Pousando no galho não-distante
Da imbaúba, com postura;
E aí, aguardando, ganha tempo,
Engraxando, hábil e sobranceira,
As grandes penas, fofas plumas,
Adornos alvos, de candura.
Em bando, faz revoada,
Verdadeira nuvem branca,
Que a visão do turista
Atrai, contagia e fascina,
Sombra ágil e pura
Que, circulante, se aproxima.
À tardinha, ao secular viveiro,
Para o merecido e bom pernoite
Retorna, alegre, gazeando
Em coro, esperançosa, sem bronca,
Ao novo dia de vida,
Pleno, sem risco e sem açoite.
TAMANDUÁ-BANDEIRA
Mamífero desdentado,
Cabeça alongada,
Tromba e cauda formando
Enorme penacho escuro,
Língua comprida e vermiforme,
Pêlo grande e duro,
Alimenta-se de insetos,
Unhas torcidas e afiadas.
Anda pelos campos,
Não gosta das florestas,
A fêmea carrega o filhote
Agarrado no cangote;
Quando encontra casa de cupim
Ou um formigueiro, faz festa;
Lento, passo largo, não corre,
Apenas um desconjuntado trote.
Manso, se atacado
Defende-se furiosamente,
Fica em pé, abraça
O agressor e, fortemente,
Crava-lhe as unhas,
Até que a morte o elimine.
O Pantanal com seus imensos
Campos limpos e várzeas,
É o lugar típico a que
O tamanduá não se extermine;
E ele é útil, controlador ambiental,
Humilde, sem instintos vorazes.
A EMA
Ave de grande porte
Semelhante ao avestruz,
A ema é encontrada nos campos,
Cerrados, prados e planícies;
No Pantanal, em meio
A pernaltas de outras espécies,
É tão veloz quanto a bala
Detonada de um arcabuz.
Não voa pelo peso
E por ter asas rudimentares,
Suas penas são macias
Quais verdadeiras flâmulas;
Alimenta-se de répteis,
Folhas macias, tarântulas,
Outros insetos e, ainda,
Engole metais e talheres.
Quando o ninho é visado
Pelo fogo ameaçador,
Corre, célere, à água próxima;
Molhando as plumas e asas
Umedece a relva seca,
Fazendo aceiro ao destruidor.
De índole passiva,
Grasnado em trovoada,
A ema vive em bando,
Freqüenta águas rasas,
Imprescindível ao equilíbrio
Da campina, do campo, da invernada.
PORCO-MONTEIRO
Porco doméstico escorraçado,
Que se tornou feral,
Suíno outrora manso,
Agora temperamento de javali;
Sozinho, aos bandos,
Em todo o Pantanal
É encontrado nos campos,
Charcos, brejos de buriti.
Perseguido quando leitão,
É caça fácil aos montes,
Castrado e colocado
No chiqueiro para engorda;
A fêmea é redomesticada,
À procriação uma boa fonte,
Vivendo, já mansa,
Sem cercas e sem cordas.
O reprodutor adulto
É sanguinário e mordaz,
E o agressor enfrentando
Com presas longas e afiadas,
Estraçalha tudo à sua frente,
Em ato frio e contumaz.
Caso há de um reprodutor,
Cachaço de uma manada,
Ter o pneu de um jeep cortado,
Atacando ferozmente um caçador,
Em defesa de sua raça
E do habitat cobiçado.
A SUCURI
Espécie de ofídio que habita
Rios, pântanos, brejos e lagoas,
Tem a sucuri nos grandes alagados
O seu reino, lugar peculiar;
Pachorrenta, ardilosa,
Fingindo, andando à toa,
Gigantesca, elástica, com perfídia,
Está sempre pronta a atacar.
Sua presa: a capivara, o veado,
O cervo, o porco monteiro ou bezerro,
É atraída e enleada com rapidez;
Com voltas pegajosas e arrochantes,
Quebram-se-lhes os ossos,
Ouvem-se horripilantes berros,
É a morte que está chegando,
Um corpo babado e engolido em instantes.
Nas sedes e retiros das fazendas,
Mansa, confiante, sem-vergonha,
A sucuri sobe, à noite,
Nas laranjeiras, árvores e poleiros
E a galinha ou outra ave incauta
Enrola, cai com ela ao chão e abocanha.
Sucuriju, sucuriú, sucuruju,
Nomes todos bem brasileiros
Lembram o gigante dos charcos,
A cobra lenta e descomunal,
Contudo sempre importante e útil
À já combalida ecologia do Pantanal.
O JOÃO-DE-BARRO
Ave passeriforme
Do Brasil meridional,
O amassa-barro,
O "pedreiro da floresta",
Ei-lo também nos prados,
Nos campos do Pantanal,
Nas sedes das fazendas,
Nos retiros, sempre em festa.
A casa ele a faz
Na tronqueira do velho curral,
No jatubazeiro da manga,
Na figueira do gramado,
Com arte, duas peças,
Porta contra o vendaval,
Às vezes, assobradada,
Sobre a dos anos passados.
Inteligente, amoroso,
Fiel, sempre com a companheira;
Dizem que, certa vez,
Trancou-a com outro parceiro,
Por infidelidade, no quarto,
Em ação silenciosa e ligeira.
Alimenta-se de insetos,
Nunca destrói plantação;
Quando não está trabalhando,
Canta alegre nos terreiros,
Tem cadeira cativa
Em toda a vasta região.
O CERVO
Ruminante majestoso,
Da família dos cervídeos,
Mamífero agigantado,
Popular veado dos pântanos,
De velocidade superior
À dos bons eqüídeos,
O cervo é galheiro,
Animal de muito espanto.
Seu couro resistente
É preparado para laço,
De que se orgulha o pantaneiro
Na arriscada lida do gado,
E o boi ou outra rês qualquer,
Mesmo em curto espaço,
Uma vez com arte laçado
Jamais arrebenta o trançado.
Pacífico, esbelto, avermelhado,
Adentra o brejo, o alagado
À procura de capim tenro,
Macio, sedoso e difícil,
Mas nunca se deixa tomar
Por uma presa fácil.
Já quase totalmente
Em fase de dizimação,
O cervo que necessita
De lugar apropriado,
Tem no Pantanal vasto
O habitat à sua proliferação.
A PIRANHA
Peixe carnívoro, abundante,
De ferocidade sempre presente,
Cardumes numerosos,
Vivendo em rios e lagos,
A piranha, com o maxilar
Inferior grande, saliente
E dentadura afiadíssima,
Devora animais aos rasgos.
As águas pantaneiras
Têm-nas aos milhares,
São encontradas desde
Os grandes rios aos pirizais;
Atraídas por sangue
Atacam bovinos e muares,
Na travessia das correntezas,
Nas baías e nos tremedais.
Um pedaço de pano vermelho,
Bem apetrechado no anzol,
É isca barata e excelente
Na pesca da faminta piranha,
Só é necessário cuidado
Ao tirá-la, pois abocanha.
"Em rio de piranha,
Jacaré nada de costa",
Mas no Pantanal,
Mesmo digerindo ao sol,
O jacaré tem na piranha
Um prato de que gosta.
A CAPIVARA
Mamífero roedor,
Cabeça avantajada,
Orelhas pequenas,
Herbívoro esperto,
A capivara de até um metro,
Sempre muito espantada,
Atira-se louca à água
Se há barulho perto.
Carne saborosa,
Quando bem preparada,
Almôndegas ao molho
Em mistura com carne bovina,
É prato excelente, apetitoso,
Água na boca da peonada,
E do couro bem curtido
Fazem-se sapatos e botinas.
Também em bando,
A capivara povoa
Os rios pantaneiros,
Lagos , baías e lagoas,
Em busca de alimento,
Capim verde, pé de arroz.
Para os pequenos lavoureiros
É um tormento atroz,
Todavia o Pantanal a acolhe,
Dá-lhe espaço e recursos,
E assim sua multiplicação
Está sempre em bom curso.
O TUIUIÚ
Ave pernalta gigante
Que povoa o Pantanal,
O tuiuiú, desengonçado,
Pescador atento, vôo alça
E, qual aeronave,
Com aceleramento tal,
Decola firme aos poucos,
Sustenta-se no ar com graça.
No papo leva o peixe
Pego no alagado
E, rumo à velha piúva
Mais alta do local,
Onde os filhotes esperam-no
No velho ninho emplumado,
Voa tranqüilo, confiante,
Com ar satisfeito e paternal.
Pousa sereno, sem problemas,
E o alimento fornece à ninhada
Que, de inquieta, já dorme,
Uma vez a fome saciada,
E o pássaro branco e preto,
Do alto do galho, ao longe deslumbra
A imensidão da planície,
Sem nenhuma nuvem ou penumbra ,
A grande fartura de alimento,
A ameaçada paz e a realidade
De um mundo pleno e natural
Que, se preservado, é felicidade.
ONÇA PINTADA
Mamífero felídeo,
Fera temível da América,
Pulando grandes alturas,
É ágil e ferocíssima caçadora;
Atravessa grandes rios,
É uma exímia nadadora,
Ameaça o homem
Em caso de réplica.
Ainda que quase em extinção,
É sempre no hospedeiro Pantanal
Que a onça pintada
Dá largas à sua multiplicação;
Porcos-do-mato, capivaras,
Veados campeiros são refeição,
Mesmo bezerros e novilhos.
Quando no limpo, fora do matagal.
Faminta ao extremo, a onça
Ataca presa de grande porte,
Come uma parte, a melhor,
A outra leva a seus filhotes,
E se ainda há sobras,
Cobre-as, usando as patas.
Afugentada pelos fazendeiros,
Embrenha-se, cada vez mais,
Nas matas,e sua pelagem amarelada
Com rosetas pequenas e pretas
Atrai compradores fanáticos
Ao seu couro, de muitas pesetas.
FINALIZANDO
Descrever o Pantanal é algo de difícil,
De horizontes e amplidões na imensidão
De uma planície de águas e vidas mil,
De conhecimentos vastos, sem ficção,
Em que do particular ao geral falar-se-ia
Das irmãs Fauna e Flora, em eqüidade,
Sem discriminação, descrição sem porfia
De ambas, de maneira simples, na totalidade.
Contudo, a tanto nos faltou visão e talento
O que nos leva a pedir escusas
Pelo trabalho que não esteja a contento
De todos quantos o lerem às escuras,
Pois há ainda tantas belezas e encantos tantos
De que se podem escrever livros e contos,
E neles pensando tenho de enxugar os prantos,
Pois de lágrimas se encheram dos meus olhos os cantos.
O PANTANAL
Grande planície localizada a Sudoeste dos Estados de Mato Grosso
e de Mato Grosso do Sul. Possui, aproximadamente, 220 metros de altitude,
680 km de extensão, de Norte a Sul, por 200 km de largura, em alguns
trechos. Limita-se ao Sul, leste e Norte com encostas e escarpas que
formam a borda ocidental do Planalto Central. A Oeste, em território
paraguaio, encontram-se elevações pertencentes ao sistema andino. É uma
região de rochas cristalinas, coberta por uma camada fina de sedimentos
quaternários, de que emergem alguma elevações, entre as quais o maciço de
Urucum.
A denominação dá a falsa impressão de uma área permanentemente
alagada e pantanosa, quando, na verdade, é inundada pela cheia do rio
Paraguai e seus afluentes Miranda, Aquidauana, Negro, Taquari, São
Lourenço e, ainda, o Cuiabá, na época das chuvas de verão.
O solo é argiloso ou arenoso; seco, quando livre das inundações.
É revestido de gramíneas que constituem excelente pastagem.Os campos, em
sua maioria, são do tipo cerrado, mas são encontrados, também, campos
limpos, matas, capões e um tipo de vegetação arbustiva denominada "bosque
chaquenho".
É uma das principais regiões pecuárias do Brasil. Exporta gado
para as invernadas paulistas e serranas de Mato Grosso do Sul. É comum a
distinção de subdivisões no Pantanal, com as denominações de Pantanal do
Cuiabá, Pantanal do Taquari, Pantanal do Miranda, Pantanal do Rio Negro
etc. A mais conhecida é a Nhecolândia, na região de Corumbá. Suas cidades
principais são Cuiabá, Corumbá, Cáceres e Porto Murtinho.
FLORA E VEGETAÇÃO
Flora é o conjunto de plantas de uma determinada região. Pela
quantidade das espécies, a flora pode ser rica ou pobre.A flora se
condiciona não só ao clima e ao solo, como também às barreiras
geográficas.
As plantas ou vegetais desenvolvem-se progressivamente, daí a
denominação de vegetação a estes tipos de vida, que se dividem em:
a. vegetais anuais - vegetais que terminam seu ciclo de
reprodução em um só
período vegetativo;
b. vegetais bienais - vegetais cuja floração e frutificação
ocorrem no 2º ano de vida;
c. vegetais hidrófitos - vegetais que se desenvolvem, que
vegetam nos lugares úmidos;
d. vegetais mesófitos - vegetais que habitam em solo de
mediana umidade;
e. vegetais perenes - vegetais que têm a propriedade de
florescer e frutificar anualmente, sem cessar o seu
crescimento vegetativo;
f. vegetais xerófitos - vegetais que se desenvolvem em
lugares onde a provisão de água é baixa e a evaporação é
elevada, apresentando características que visam à economia
de água. São vegetais de climas áridos.
ANIMAIS
Seres organizados que sentem e que se movem. Os animais são
providos de visão,
ouvidos, tato, paladar, centros nervosos, músculos, movimentos rápidos
para a prática da corrida, vôo, salto e outras atividades.
Possuem aparelho respiratório sangüíneo que conduz a todas as
partes do corpo os alimentos digeridos e o oxigênio e reconduz os
produtos de excreção para certos órgãos ou canais especiais.
Os animais reproduzem-se por dois sexos separados e ou por
oviparidade.
AVES
Animais vertebrados de corpo coberto de penas e bico córneo, de
respiração pulmonar e sangue quente, de membros superiores que utilizam
para andar e asas apropriadas para vôo. As aves, em geral, possuem
quatro dedos nos pés.
Em relação ao seu tamanho, são leves. São providas de músculos
peitorais fortes para o vôo. Não são possuidoras de dentes e sua visão é
bastante desenvolvida em consideração a outros órgãos dos sentidos. Seu
aparelho digestivo é completo, podendo se alimentar de carnes, insetos,
frutos, grãos de sementes e vegetais.Algumas são onívoras.
As aves se dividem em "palmípedes, colombinas, pernaltas,
pássaros, trepadoras, galináceas, corredoras, rapaces", em conformidade
com suas características. Sua reprodução é feita por ovos de casca
calcária. O ninho é o lugar onde os pais chocam os ovos com o calor do
corpo. O filhote recebe o alimento dos pais pelo bico. De acordo com a
espécie, algumas são sociais e outras de migração. Chegam a percorrer
10.000 km por ano. São conhecidas cerca de 20.000 espécies.
VIVEIRO
Jatobazeiros gigantes, ingazeiros copados, grupos de árvores em
local seco formam os viveiros - hospedaria a toda espécie de aves.
Aí, elas, em grupos, ao longo de sua existência, repousam, após
a luta diária para a sobrevivência.
Em todo o Pantanal, há esses viveiros, que nem sempre são o
local dos ninhos, pois há o perigo dos predadores entre as próprias
aves que freqüentam o viveiro. Este é o retrato vivo da pujança do
Pantanal.
PEIXES
Vertebrados aquáticos , que respiram por meio de guelras. Seu
corpo comumente é coberto de escamas e barbatanas, que lhes garantem
equilíbrio e propulsão.
Os peixes formam uma classe no ramo dos vertebrados. Existem,
aproximadamente, vinte mil espécies de peixes, de água doce e de água
salgada.
Sumariamente explicando, há dois grupos de peixes: os peixes
teleósteos, ou peixes ósseos, possuem esqueleto ossificado, boca
terminal, escamas chatas, cauda invertebrada, pequenos ovos; e os
seláquios, ou peixes cartilaginosos. sem esqueleto ósseo, boca ventral,
escamas pontudas, cauda de lóbulo superior vertebrado, ovos maiores.
Os peixes constituem um alimento bastante nutritivo. São providos
de diversas utilidades na indústria.
O JACARÉ
Réptil da ordem dos Crocodíleos, espécie Caiman. Seu habitat,
quase que exclusivo é nas águas. Caracteriza-se pela sua agilidade e
supremacia. No Brasil, é encontrado no Pantanal, na Bacia Amazônica e na
do São Francisco.
Forte e tenaz, sua couraça é provida de rijos e resistentes
escudos. Possui dentes fortes e, à medida que se gastam, são
substituíveis. Nos pés, se concentra sua maior arma, constituída de
fortes garras. Aproveita de sua cauda serrilhada para chicotear e para
prender um inimigo, girando-o e atordoando-o.
Suas dimensões variam conforme o habitat e a espécie ou sub-
espécie. Numa só postura, o jacaré fêmea põe de trinta a quarenta ovos
oblongos, desenvolvendo sob a folhagem e o húmus, ao calor do sol. Sua
pele é utilizada no fabrico de vários artigos de luxo; sua carne serve
de alimentação.
Conforme a crença popular, os dentes do jacaré são considerados
protetores da dentição infantil, admitindo que o uso, pela criança, de
um dente de jacaré, encastoado de ouro, em colar ou pulseira,
proporcionar-lhe-á belos dentes, difíceis de cariar e isentos de dores.
O GUARÁ
Carnívoro fissípide, pertencente à família dos Canídeos,
Chrysocron bachyurus. Suas pernas são esguias e altas. Sua cabeça é
longa, de orelhas grandes. Sua cor é, na maioria das vezes, parda
avermelhada, mais escura na região dorsal e mais clara na ventral. Suas
patas são escuras.
Vive em campos sujos e banhados. Alimenta-se de aves. É
semelhante a lobo. No Brasil, é a mais bela e elegante espécie dessa
família. É encontrado, também, na Argentina e no Paraguai. Recebe a
denominação de lobo, aguará e aguaraçu.
A GARÇA
Ave pernalta, pertencente à família dos Ardeídeos. As garças
possuem pescoços, bicos e patas longas. Vivem, principalmente, às
margens de lagos e rios e se alimentam de peixes, batráquios e
determinados vegetais aquáticos.
Existem vários tipos de garças, como a Leucophoyx Candidissima, a
Agamia Agami, a Florada Caerulea e outras. A Leucophoyx Candidissima (ou
garça menor) possui uma plumagem alvíssima. Habita a região amazônica e
vários países sul-americanos. A Agamia Agami, alcança até 60 cm de
comprimento. Sua plumagem possui coloração matizada com um negro
luzidio. Habita, de modo especial, o Amazonas, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul, Peru e Equador. A Florada Caerulea chega a medir 70 cm e várias
manchas claras. Habita o litoral do Brasil e dos Estados Unidos.
TAMANDUÁ-BANDEIRA
Tamanduá brasileiro, de grande porte, com as características
seguintes: mais de 2 metros de comprimento, 26 centímetros de
cabeça, 94 centímetros de corpo e pescoço, possuindo quase outro tanto
de cauda. Apresenta cor cinza escura; uma zona quase negra se dirige do
pescoço; deste ao peito e ao dorso, orlada por uma listra branca
estreita, ostentando uma faixa preta nas patas. Sua enorme cauda abriga-
o quando dorme.
Através de sua comprida língua vermiforme, apanha os insetos; sua
marcha é lenta, não sobe em árvores e caminha com as mãos torcidas. É um
mamífero desdentado, da ordem dos Xenartros, da família dos
Mimercofagídeos.
A EMA
A maior das aves sul-americanas da família dos Reídeos, da ordem
dos Reiformes. A espécie Rhea darwini tem na Patagônia o seu habitat, e
a Rhea americana é encontrada desde os pampas da argentina até o Brasil
Central.
Difere do avestruz africano apenas por possuir três dedos,
enquanto que aquele só possui dois. Chega à altura de 1,30m e ao peso de
40 kg. Suas asas são pequenas em relação ao corpo e não prestam para o
vôo, no entanto é muito veloz.
Vive em bandos e se alimenta de vegetais, insetos, vermes e
pequenos animais, engolindo tudo que vê, inclusive objetos reluzentes,
pedrinhas etc. É, geralmente, de cor cinzenta mais carregada no dorso e
alvacenta na parte inferior. Forma alongada, com a região posterior
cônica, pernas longas e musculosas.
O macho é maior que a fêmea. Seus olhos são de grande
mobilidade, o que permite à ave enxergar para trás, sem mover a cabeça.
Cada bando de emas conta, em geral, com dez fêmeas e um macho. A fêmea,
na postura, põe um ovo de dois em dois dias. Para construir o ninho,
abre pequena cova no chão e recobre-a com palha.Os ovos são recolhidos
pelo macho, que também se encarrega da incubação, que se prolonga por 42
dias. É ave domesticável, adaptando-se bem nos jardins zoológicos. Seu
nome indígena é nhandu e nhanduguaçu.
PORCO-MONTEIRO
Mamífero do gênero dos Artiodáctilos paquidermos, da família dos
Suídeos. É o porco comum que se tornou selvagem e é encontrado em quase
todo o Pantanal.
Caça fácil, é apanhado em grande escala para se redomesticar e
aproveitamento da carne e da banha. As fêmeas são aproveitadas para a
reprodução, em cruzamento com outros reprodutores. São fortes e pouco
acessíveis às doenças dos porcos comuns.
A SUCURI
Serpente não-venenosa, da família dos Boídeos. Conhecida também
por anaconda, é uma das maiores serpentes do mundo, chegando alcançar
dez a onze metros de comprimento. Sua cor é pardo-azeitonada, com grande
manchas pretas. Inúmeras escamas pequenas revestem sua cabeça.
São conhecidas duas espécies: a Eunectes rinus L e a Eunectes
notacus cope. A primeira, ou sucuri propriamente dita, habita a parte
norte da América do Sul e a segunda, o Paraguai, Bolívia, Uruguai,
Argentina e parte do Brasil.
Mata a presa, envolvendo-a em seu imenso corpo. Habita as margens
dos rios, sem porém perseguir uma presa dentro da água. Embora domine
animais de maior porte, prefere atacar os de menor tamanho, como veados,
antas e capivaras. Constitui grave perigo para os sertanistas, vitimando
também crianças.
O JOÃO-DE-BARRO
Ave do gênero Furnarius, da família dos Furnarídeos. Habita as
regiões meridionais do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, ostentando
uma cor laranjado-terroso; é provido de cauda meio avermelhada e pescoço
branco.
Sua principal característica é a construção de ninhos através do
barro, o qual amassa, moldando-o com o bico e com os pés. O ninho
abrange duas partes: uma externa e outra interna, ou seja, o ninho
propriamente dito. Sua construção acontece dentro de uma semana; quando
abandonado, serve de postura e choco a outras aves. Seu grito é festivo
e estridente. Sua alimentação consiste numa variedade de insetos.
O CERVO
Quadrúpede ruminante da família dos Cervídeos, espécie
Blastocerus dichotomus. É encontrado, no Brasil, principalmente no
Pantanal. Come todos os tipos de ervas, brotos e plantas aquáticas. É
bom nadador. É um veado-galheiro, que alcança dois metros de
comprimento, o maior galheiro do Brasil.
Sua carne é muito apreciada. Seu couro e chifres são empregados
na indústria. É uma espécie em extinção.
A PIRANHA
Peixe da família dos Caracinídeos, encontrado em regiões sul-
americanas, principalmente no Brasil, onde constitui verdadeira praga.
Sua ferocidade é notável, havendo, porém, espécies que não causam nenhum
mal. Seu tamanho é variável, não ultrapassando, todavia, 43 centímetros
de comprimento e 23 centímetros de largura.
As piranhas vivem em cardumes numerosos. Têm o corpo deprimido
lateralmente, o maxilar inferior para frente e uma dentadura muito
afiada. Carnívoras, devoram animais e homens que porventura caiam nos
rios onde se encontram; também devoram peixes, inclusive os de sua
própria espécie.
A CAPIVARA
Mamífero que pertence à ordem dos Roedores, da família dos
Hidroquéridas. Possui cabeça grande e olhos espertos, orelhas pequenas.
Não possui rabo e chega a um metro de comprimento. Vive nas proximidades
de rios e é herbívoro.
O óleo da capivara é aproveitado como medicamento para tratamento
de bronquite e para as vias respiratórias. Sua carne e seu couro são
aproveitados. As capivaras são acometidas pela doença Trypanosoma
Equinum. Sua caça é facilitada com auxílio de cães amestrados.
O TUIUIÚ
Ave pernalta, o tuiuiú ou jaburu pertence à família dos
Ciconídeos. Caracteriza-se por ser uma ave robusta, medindo cerca de
1,50m de altura; é dotado de bico de 30 cm, pescoço nu, plumagem branca
e patas pretas, além de papada avermelhada.
Seu habitat ocorre à beira das lagoas; devora animais putrefatos,
notadamente peixes e outros vertebrados. Constrói seu ninho em árvores.
Sua presença é encontrada nos Estados do Amazonas, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, no México e nos demais
países da América do Sul.
ONÇA PINTADA
Mamífero da família dos Felídeos; ocorre na África, América do
Sul e Ásia, sendo considerada a fera mais temível da América, pois, além
de ágil caçadora, consegue pular grandes alturas e atravessar largos
rios.
Tem hábito noturno e ameaça o homem somente quando é provocada.
Constituem suas presas animais de pequenos portes: capivaras, veados,
catetos etc. Possui na sua pelagem amarelada rosetas pretas em cinco
séries.
BIBLIOGRAFIA
RONDON, J. Lucídio N. - "No Pantanal e na Amazônia em Mato
Grosso", 2ª edição,
Grupo Editorial C.Q., São Paulo.
SUCKSDORFF, Arne - "Pantanal um Paraíso Perdido", 1984, Fundação
Roberto
Marinho, Rio de Janeiro.
MEPI - Moderna Enciclopédia de Pesquisas e Informações, PRODAC,
São Paulo.
GUÉRIOS, R. F. Mansur - Dicionário Cultural da Língua
Portuguesa, Gráfica Editora
Paraná Cultural Ltda, Curitiba.
Oma Lisarb é pseudônimo de
Naôr Rocha Guimarães, nascido em Campo Grande (MS). Graduou-se em
Letras nas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT), com Pós
Graduação em Didática e Metodologia do Ensino Superior (FUCMT), e em
Lingüística Aplicada ao Ensino do Português (PUC-Belo Horizonte). Lecionou
Português, Latim, Lingüística e Filologia Românica na FUCMT (l988 a l992) e
na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) (l993 a 1996). No período de 1997
a 2003 dedicou-se ao Ensino Médio, ministrando Língua Portuguesa e
Literatura Brasileira. Atualmente está voltado mais para a pesquisa e
palestras sobre Relações Humanas, nas escolas e outras instituições, um
trabalho totalmente voluntário.