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SUNDFELD, Carlos Ari. (2011) Princípio é preguiça? Ronaldo Porto Macedo Jr.
e Catariana Barbieri (org). Direito e interpretação – racionalidades e
instituições. São Paulo: Saraiva. pp. 287 a 305.
{Este artigo é leitura obrigatória da primeira aula do curso
"Constitucional: problemas teóricos e aplicação prática" ministrada na SBDP
no segundo semestre de 2011 e coordenada por Rafael Bellem de Lima e Flavio
Beicker. Esta primeira aula intitula-se "Princípios Constitucionais e
Regulação" e será dada pelo autor do texto em 15 de agosto de 2011.}
1. Introdução; 2. O que são princípios? ; 3. Princípios são bons ou ruins?
; 4. O ônus da competência; 5. O ônus do regulador.
Introdução
Contexto: aplicação indiscriminada de princípios em decisões jurídicas.
Problema: aplicação indiscriminada leva à discricionariedade.
Proposta: uma metodologia concreta para a aplicação de princípios.
Instrumento: para aplicar princípios o juiz tem que suportar:
a) o ônus da competência – identificação por parte do
judiciário de 'elementos especiais de ordem institucional' que justifiquem
a competência do Jud. para a aplicação do Pr.
b) o ônus do regulador – explicitação da regra geral que
se vai aplicar, justificando-a com a análise profunda das alternativas
existentes, de seus custos e ainda de seus possíveis efeitos positivos e
negativos.
O que são Princípios?
Princípios. 1ª abordagem: textos normativos indeterminados. Entendimento
bastante precário do autor que liga a indeterminação do texto normativo ao
tamanho dele. Ou seja, dá a entender – na primeira abordagem – que Pr. é um
texto normativo pequeno.
2ª abordagem: Pr. Norma inicial (começo/insuficiente) x Pr. Norma final
(objetivo/relevante)
Os Prs. não precisam estar escritos, é o caso dos Prs. ocultos.
Um 'texto oco' pode ter seu conteúdo completo se os aplicadores do texto
tiverem uma idéia comum do q aquilo significa.
O Direito Público brasileiro está cheio de Princípios, segundo o autor, por
três motivos:
1. "indeterminações aparecem aos montes na (ainda recente e sempre mudando)
CF/88 e nas novas leis e, como a fábrica de Pr. lança produtos sem parar, o
trabalho de absorvê-los é permanente e ruidoso"; 2. "as pessoas estão cada
vez mais dispostas a levar os Prs. a sério como fonte de Direito – e as
dificuldades que isso propõe são enormes"; 3. "a operação de um sistema com
tal índice de incerteza normativa gera muita confusão (saber se a confusão
é positiva ou negativa: eis uma questão!)".
Princípios são bons ou ruins?
Os Prs. são textos normativos indeterminados. Eles o são pq o Lr assim o
quis. Ou seja, a edição de Prs como norma é uma estratégia legislativa que
permite a acomodação no texto de interesses antagônicos.
Muitos Ds Fs estão sob a forma de Prs. A hipótese que o autor apresenta é
que a utilização desse tipo de texto normativo mais aberto se relaciona
diretamente com a falta de consenso e de apoio político para a edição de
textos mais exatos.
"O Pr. constitucional ... tem conteúdo indeterminado, pois várias
questões fundamentais ficaram sem solução. ... O texto não
responde a nada disso. Claro, respostas podem ser construídas e,
inclusive, tornar-se consensuais no ambiente jurídico; só que
elas não estão no próprio texto: ficaram para depois. As
indeterminações normativas envolvem, assim, um adiamento
pragmático de decisões difíceis.
Quem tem influência e poder consolidados consegue obter do
Legislador regras precisas para realizar seus interesses. Já os
poderes em formação se valem da indeterminação normativa como uma
arma na luta pela afirmação."
Segundo o autor, a priori o estabelecimento de Prs não é uma coisa nem boa
nem ruim. O que ele acha ruim é a utilização indiscriminada de Prs como
"super-trunfo". Ou seja, defende um mecanismo que permita o controle da
aplicação dos Prs.
O ônus da competência
Argumento central: não existe fundamento para a presunção absoluta de que é
do Judiciário, e não de outros órgãos, o poder de, a partir de Prs,
formular soluções jurídicas específicas. O Jud para aplicar Prs deve
demonstrar que tem motivos capazes de explicar a intervenção judicial,
apontando os elementos especiais de ordem institucional que a justificam.
Pano de fundo do argumento central: o autor diz que o Judiciário deve se
limitar pq no sistema jurídico moderno há 'direitos em construção'. Isso
quer dizer que não cabe ao Jud entrar em todos os debates jurídicos, pq
alguns direitos estão sendo direcionados a outros atores institucionais.
{dúvida: na p. 297 o autor critica os juízes dizendo que muitas vezes, para
decidir eles se bastam em medir as dificuldades de decidir e de justificar,
"e vislumbram as consequências do que vão fazer". Dizendo, em seguida, que
se precisa exigir deles a revelação sincera do que os move e o permanente
aprofundamento de sua análise.
Depois, na p. 299 o autor diz que para decidir com base em Prs "o juiz deve
refletir e decidir expressamente sobre o problema preliminar de sua
legitimação, examinando, inclusive, as possíveis conseqüências negativas e
positivas de sua intervenção na matéria, em lugar do legislador ou do
administrador."
A dúvida é: o juiz precisa ou não pensar sobre as conseqüências de sua
decisão? As conseqüências não são jurídicas, portanto, os juízes devem
debater sobre isso?}
O autor apresenta outro problema: quando o Jud cria regra ele costuma se
legitimar dizendo que tal decisão era a única possível de acordo com a Lei.
Isso torna a N criada pelo juiz muito mais inflexível do que a criada pelo
Legislador, cuja norma é, manifestamente, produto de um debate, portanto,
possibilitando diversas interpretações.
O ônus do regulador
"Ao julgarem com base em Prs, os juízes exercem função
regulatória – e não podem fazê-lo superficialmente. Nosso sistema
pode suportar a delegação da tarefa de regular ao Jud. Pode até
admitir a substituição de regulações legais ou administrativas
por outras, criadas pelos juízes. Mas é preciso que estes cumpram
os mesmos ônus que têm os reguladores. Elaborar e enunciar com
clareza e precisão a regra que, a partir dos Prs, entendem dever
ser utilizada para resolver os casos concretos, com suas
especificações, antes de sair tomando atitudes caso a caso.
Estudar com profundidade a realidade em que vão mexer, entender
as características e razões da regulação anterior, identificar
alternativas regulatórias existentes, antever os possíveis custos
e os impactos, positivos e negativos, em todos os seus aspectos,
da nova regulação que se cogita instituir, comparar as
características da regulação existente e da cogitada. Tudo isso
tem de aparecer na motivação da decisão judicial.
Em suma, é preciso que o Jud, transformado em regulador,
comporte-se como tal, com todos os ônus que isso envolve. Do
contrário, teremos decisões puramente arbitrárias, construídas de
modo voluntarista, gerando uma jurisp capaz de flutuar ao sabor
das instituições e dos azares – em resumo: pura feitiçaria. É
preciso insistir nisto: citar múltiplos, belos e vagos Prs,
transcrever páginas e páginas de elogios a eles, manifestar
propósitos generosos, nada disso é motivar; é soltar fumaça."
[15.agosto.20XI]