Preview only show first 10 pages with watermark. For full document please download

Artigo

Artigo sobre Projetos

   EMBED

  • Rating

  • Date

    December 2018
  • Size

    293.4KB
  • Views

    995
  • Categories


Share

Transcript

III Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção III SIBRAGEC UFSCar, São Carlos, SP - 16 a 19 de setembro de 2003 UMA ABORDAGEM PARA A CLASSIFICAÇÃO DE PESQUISAS EM TEORIA E METODOLOGIA DE PROJETOS DE EDIFICAÇÕES PERALTA, Antonio Carlos Prof. Mestre em Engenharia, [email protected] Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá RESUMO O tema projeto foi e continua a ser amplamente discutido. Alguns autores têm defendido a criação de uma teoria de projeto. O questionamento é importante, pois facilita a compreensão da forma com que as metodologias de projeto se apresentam atualmente. Uma teoria representa um esforço para tornar o mundo inteligível: é uma descrição explanatória da maneira como as coisas são. Desde o início da década de oitenta, pesquisadores vêm trabalhando no desenvolvimento de modelos que combinem representações geométricas, conhecimento semântico e modelos em bases de dados de engenharia ou modelos do produto. As áreas de pesquisa em teoria e metodologia de projeto podem ser divididas em seis categorias: a) modelos descritivos do processo de projeto; b) modelos prescritivos do processo de projeto; c) modelos computacionais do processo de projeto; d) linguagens, representações e ambiente de projeto; e) análise para o suporte a tomada de decisões; f) projeto para manufatura e outros aspectos do ciclo de vida, tais como, confiabilidade, mantenabilidade etc. A discussão realizada teve como objetivos: abordar a teorização do processo de projeto e situar o leitor com relação a uma classificação das áreas de pesquisas em metodologia de projeto de edificações. ABSTRACT The issue of design has been widely debated for quite a long time. Some authors defend the creation of a theory of design. The idea is particularly relevant because it facilitates the understanding of how design methodology presents itself nowadays. A theory represents an effort to make the world understandable; it is a detailed description of what things are like. Since the beginning of the 1980’s, researchers have been working on the development of models which combine geometrical representations, semantic knowledge and engineering data basis models or product models. The research fields in theory and methodology of design may be divided into six categories: a) descriptive models of the design process; b) prescriptive models of the design process; c) computational models of the design process; d) design languages, representations and environment; e) analysis to support decision making; f) manufacture designs and the other aspects of the life cycle, such as reliability and maintainability, etc. This paper aims at presenting the theory of design process and presenting the reader a classification of the research fields in methodology of building design. Palavras chave : processo de projeto, teoria de projeto, construção civil. Words key: process of project, project theory, civil construction. 1 INTRODUÇÃO Na maioria das práticas de desenvolvimento de projetos na construção de edifícios ocorre a falta de sistematização e racionalização decorrentes de problemas amplamente conhecidos e comuns: falta de um projeto voltado à produção, normas e critérios desajustados da realidade, ausência de critérios de coordenação, falta de visão sistêmica entre outros. Como conseqüência, a desorganização da atividade de projeto constitui uma forma de bloqueio à inovação tecnológica e à racionalização progressiva do processo de produção como um todo. A aplicação dos conceitos e metodologias da gestão da produção tem mostrado caminhos novos e promissores quanto a sua aplicação no setor da construção civil. Uma análise das práticas das empresas quanto ao desenvolvimento de projeto permite a identificação de problemas relativos à qualidade do processo ligados às características de capacitação de profissionais bem como a inexistência de sistemas formais de gestão do projeto. Muitas dificuldades do processo de produção do projeto estão relacionadas à estrutura de atividades e a rede de relacionamentos entre elas que se estabelecem ao longo do tempo. O estabelecimento de um modelo permite o planejamento adequado do processo. O planejamento das atividades de projeto é um processo interativo que parte de concepções abstratas e tem o objetivo de elaborar proposições em detalhamentos sucessivos com retornos para corrigir e refazer etapas anteriores, determinando todos os passos a executar, possibilitando o estabelecimento de um plano, considerado como um roteiro seguro para ser implementado, controlado e corrigido quando necessário. O tema projeto foi e continua a ser amplamente discutido. Alguns autores têm defendido a criação de uma teoria de projeto pois facilita a compreensão da forma com que as metodologias se apresentam atualmente. Assim, o objetivo deste artigo foi uma abordagem sobre a teoria e prática de desenvolvimento de modelos de processos de projetos visando a classificação das áreas de pesquisas em projeto. 2 A TEORIZAÇÃO DO PROCESSO DE PROJETO Na tentativa de sistematizar o processo de projeto, especialmente para objetos complexos, como é o edifício, entre outros tantos exemplos na engenharia, modelos e esquemas para a representação do objeto do projeto e, também, modelos para a representação do processo de projeto, têm sido apresentados por diversos autores. Surgidas de áreas profissionais diversas (em especial arquitetura, planejamento urbano, desenho industrial, construção civil, engenharia mecânica), estas descrições constituem hoje uma base referencial na teorização do processo do projeto. O conceito comum que une estas investigações é o de que projetar constitui uma atividade humana, em geral com múltiplos atores e desenvolvida por equipes cooperativas. Ao considerar projeto uma produção humana, também compartilham a percepção de que a criatividade e as habilidades cognitivas do(s) projetista(s) desempenham um papel preponderante e, mais ainda, de que o conhecimento técnico nos domínios científicos que envolvem o objeto representa um fator potencialmente diferenciador da qualidade do trabalho. Nestes termos a teoria de projeto, segundo estas abordagens, busca descrever os caminhos de ação dos projetistas, apoiados em sua criatividade, experiência e conhecimento técnicocientífico, para estabelecer a dinâmica de trabalho e critérios de decisão mais adequados ao problema (MARTINS, 2001) Os processos são utilizados para monitorar e para entender os métodos humanos de projetar, através do conhecimento de projeto e de processos, colaborações, uso de métodos e ferramentas, e comunicações de projeto. Pesquisa de inovação no processo de projeto permite criar uma base científica para racionalizar o desenvolvimento de produto que requer um equipe multidisciplinar e facilita solução de problemas de projeto. O Processo de Projeto é visto como um processo de transformação de informações até o ponto em que esteja configurado o produto capaz de satisfazer as necessidades dos clientes, ser fabricado, funcionar corretamente, não agredir o meio ambiente, etc. Neste processo, o projetista deve estar apto não apenas a desenvolver e aplicar métodos, como também a identificar e correlacionar informações, seja pelo uso, ou não, de métodos. A implementação de sistemas de gestão tem provocado uma mudança de métodos de trabalho. Segundo Hooker (1992), uma teoria representa um esforço para tornar o mundo inteligível: é uma descrição explanatória da maneira como as coisas são. As teorias não são necessariamente insubstanciadas, é comum se tratar determinados assuntos como sendo ‘fato’ ou ‘teoria’, como se uma teoria fosse especulativa e um fato, ao contrário, fosse algo estabelecido. Isto está incorreto em diversos níveis, acima de tudo, faz-se uma confusão entre a descrição e o que é descrito; um fato não necessita ser estabelecido, por exemplo, se o céu é azul, isto é um fato, independente do nosso conhecimento dele; por outro lado, uma teoria pode estar firmemente estabelecida como, por exemplo, a teoria do eletromagnetismo de Maxwell. O principal argumento é de que a noção de uma teoria de projeto é problemática, pois o desenvolvimento de projeto é uma prática. Enquanto a química e/ou a física são definidas por um conjunto de fenômenos que se propõem a estudar, o projeto é definido por uma tarefa que se propõe a realizar. A teoria química é claramente possível, pois pode-se organizar o conjunto dos fenômenos químicos de forma sistemática. Porém, não é tão óbvio que se possa reduzir o conhecimento da prática da química a uma teoria. Apesar desta impossibilidade, é razoável identificar uma forma sob a qual a teoria de projeto seja aceitável. As artes práticas, como o projeto, a medicina e assim por diante, são tipicamente assistidas por teorias de suporte que definem técnicas e uma compreensão básica dos fenômenos que se está tentando influenciar. Estas teorias, em geral, fazem parte de outras ciências (daí a multidisciplinaridade apontada pelos autores da área de projeto). Ainda assim, uma teoria de suporte pode investigar os fenômenos e empregar um nível ou estilo de análise que seja único para a prática em questão. Pode-se, até, compreender teoricamente o fenômeno sócio-psicológico da prática de projeto, porém, Hooker (1992) argumenta ser impossível, por razões derivadas de pensamentos recentes da ciência filosófica, reduzir a prática de projeto a uma teoria. Por diversas razões, entre elas, a principal, o fato de que a prática precede a teoria. Deste modo, a criação de uma teoria (o que também constitui um ato de projetar) depende do conhecimento da prática, a qual não é estática, ao contrário, evolui com o passar do tempo. Pesquisas em teoria de projeto conecta o conhecimento geral e específico de projeto para projetar metodologias e prática de projeto. Mais especificamente, pretende: a) explicar, generalizar e/ou observar o processo de projeto; b) organizar, criar conhecimento de projeto além do nível de habilidade; c) desenvolver teorias de projeto formais para uma representação de projetos e processos; (d) introduzir modelos idealizados para o processo de projeto, e (e) derivar teoremas, regras e procedimentos por resolvendo problemas de projeto em ambientes sintéticos (HORVÁTH, 2001). 3 UMA ABORDAGEM PARA A CLASSIFICAÇÃO DE PESQUISAS EM TEORIA E METODOLOGIA DE PROJETOS Para Hooker (1992), o projeto é a passagem de uma descrição funcional para uma descrição física de um sistema/artefato, ou seja, quando uma pessoa inicia com uma descrição daquilo que uma coisa deve fazer e desenvolve uma descrição física de uma coisa que o faz, ela está projetando. Portanto, uma vez que o projeto é fundamentalmente uma prática, uma teoria de projeto deve organizar o conhecimento da prática de projeto, serve como sistema de conceitualização e de classificação de fatos. Segundo Kaplan (1975), uma teoria é um meio para interpretar, criticar e unificar práticas estabelecidas, modificando-as para se adequarem a dados não previstos quando de sua formulação e para orientar a tarefa de descobrir novas e mais amplas generalizações. Porém, há dois sentidos distintos no que se refere ao conhecimento da prática de projeto. Um diz respeito ao conhecimento do fenômeno sócio-psicológico da prática de projeto, outro refere-se ao conhecimento que o projetista deve possuir para exercer a prática de projeto. É possível identificar ambos os aspectos na classificação das áreas de pesquisa em projeto realizada por Finger & Dixon (1989). Segundo os autores, um campo de conhecimento maduro faz com que a sua comunidade científica compartilhe de uma visão comum do que seriam metodologias de pesquisa apropriadas, ou seja, quais questões são difíceis e precisam ser respondidas e o que constitui a pesquisa de qualidade. Enquanto isso, em um campo de conhecimento emergente como o de projeto, tal consenso não existe, gerando o caos e a expectativa de que novos e revolucionários paradigmas emergirão. Por isso, recomenda-se identificar os aspectos fundamentais da classificação apresentada pelos autores. Pesquisa na Área de Projeto Conhecimento do fenômeno sócio-psicológico da prática Pesquisa do Processo Modelos Descritivos Modelos Prescitivos Modelos Computacionais Conhecimento da estrutura constitutiva Pesquisa do Sistema Linguagens, representações e ambiente de projeto Análise DFx Figura 1: Classificação das áreas de pesquisa em projeto (Finger & Dixon, 1989). Finger & Dixon dividem as áreas de pesquisa em teoria e metodologia de projeto em seis categorias: a) modelos descritivos do processo de projeto; b) modelos prescritivos do processo de projeto; c) modelos computacionais do processo de projeto; d) linguagens, representações e ambiente de projeto; e) análise para o suporte a tomada de decisões; f) projeto para a manufatura e outros aspectos do ciclo de vida, tais como, confiabilidade, mantenabilidade, etc.(Figura 1). DFx significa Design For x, isto é, projeto para: confiabilidade, custo, produção, fabricação, etc. 3.1 Modelos descritivos do processo de projeto Os modelos descritivos do processo de projeto abordam a questão de como as pessoas projetam, ou seja, quais processos, estratégias e métodos de solução de problemas os projetistas utilizam. Dentro dos modelos descritivos, as pesquisas podem ser divididas em duas correntes: uma que busca informações sobre como os projetistas projetam e outra que constrói modelos dos processos cognitivos, sendo que os modelos dos processos cognitivos são entendidos como modelos que descrevem, simulam ou emulam os processos mentais utilizados pelo projetista enquanto projeta. No primeiro caso, uma corrente importante é a dos estudos que realizam a análise de protocolo. Hooker (1992) critica a construção de teorias sócio-psicológico baseadas neste tipo de pesquisa, pois um projetista pode saber projetar sem conhecer muito sobre como outros projetistas se comportam. Por outro lado, pode-se conhecer muito acerca do que os projetistas fazem e pouco de como projetar, particularmente se os próprios projetistas pesquisados souberem pouco de como projetar. No entanto, Hooker admite que a construção destes tipos de modelos é legítima e importante, auxilia na aprendizagem sobre como projetar melhor e eliminar vícios. Um exemplo disto pode ser extraído de Finger & Dixon (1989): a conclusão a que chegaram Ullman e Dietterich (apud Finger & Dixon 1989) de que os projetistas tendem a prender-se a uma única solução, melhorando-a e consertando-a ao invés de gerar novas alternativas, contrapondo-se à visão tradicional de como o processo de projeto deve ser conduzido. A segunda corrente, dos modelos cognitivos, busca principalmente construir modelos computacionais que descrevam, simulem ou emulem as habilidades utilizadas pelas pessoas para resolver problemas de projeto. Um modelo cognitivo descreve um processo formado por um conjunto de comportamentos que constituem uma habilidade. Observa-se que as áreas de pesquisas descritas anteriormente enquadram-se naquilo que Hooker descreve como a criação de modelos sócio-psicológico do processo de projeto. 3.2 Modelos prescritivos do processo de projeto Os modelos prescritivos, não se baseiam na observação formal do processo de projeto, a efetividade do modelo está garantida pela experiência do dono do método/processo, em função de um histórico bem sucedido na prática profissional. A definição das etapas e características do projeto, realizada a partir de formulações empíricas traz a noção de decisão balizada na experiência que deve ser seguida como correta, a menos que alguma premissa sobre o conceito de projeto apresente deficiência. Ao contrário dos modelos descritivos que buscam representar o processo de projeto como ele é, os modelos prescritivos apresentam proposições de como o processo de projeto deveria ser. Uma hipótese em geral assumida pelos pesquisadores desta área é de que se projetistas seguirem o processo prescrito melhores resultados serão obtidos. Os modelos prescritivos do processo de projeto podem ser divididos também em duas correntes: aqueles que prescrevem a maneira como o processo de projeto deve ser realizado e; aqueles que prescrevem quais atributos/características o sistema projetado deve possuir. De acordo com o autor, é comum os projetistas adotarem práticas que diferem do processo prescrito. Tal discrepância é atribuída tanto aos projetistas por não serem suficientemente sistemáticos para seguirem o processo prescrito quanto à teoria por não ser realista nas suas recomendações para a ordenação do processo. Os autores descrevem dois sistemas axiomáticos que prescrevem os atributos que os sistemas/processos devem possuir. O primeiro deles, o projeto axiomático de Suh (1990), baseia-se em dois axiomas: o da independência e o da informação. De acordo com esta proposta, um bom projeto realiza-se através de princípios de solução funcionalmente independentes e da maneira mais simples através da minimização do conteúdo de informação. O segundo sistema axiomático é a perda da qualidade de Taguchi; neste, um bom projeto é aquele que minimiza a perda da qualidade ao longo do ciclo de vida, sendo que a perda da qualidade é definida como o desvio em relação a um desempenho desejado preestabelecido. 3.3 Modelos computacionais Os modelos computacionais são diferentes dos modelos cognitivos (segunda corrente dos modelos descritivos) no sentido de que, seja através de palavras ou de código computacional, expressam um método pelo qual é possível automatizar uma determinada tarefa de projeto, porém, no modelo computacional a observação de como os projetista raciocinam não é uma condição necessária para o desenvolvimento do modelo. Os modelos computacionais podem ser divididos em duas categorias: a dos processos de projeto automatizados, que tomam decisões de projeto, e a dos processos de análise de projetos, que produzem informações nas quais decisões de projeto e avaliações podem ser baseadas. Finger & Dixon apontam que os modelos computacionais em geral são específicos para uma classe bem definida de problemas de projeto. Incluem, na sua revisão, os modelos computacionais para projeto paramétrico, de configuração e o conceitual ou preliminar. 3.4 Representações, análise e projeto para o ciclo de vida As áreas de pesquisa do projeto que Finger & Dixon (1989) classificam como: representações, análise e projeto para o ciclo de vida estão ligadas a questões de representação da forma, do comportamento, da funcionalidade, e estão baseadas em características e modelos dos produtos na parte de linguagens, representações e ambientes. Finger & Dixon apresentam uma revisão sobre interfaces com métodos de otimização, análise de elementos finitos e análise em fases iniciais do processo projeto, na parte de análise como suporte ao projeto. Finalmente, os autores concluem com uma análise das metodologias de projeto para o ciclo de vida. Nestas áreas de pesquisa, Finger & Dixon enfocam, principalmente, as fases de projeto preliminar e detalhada. Na parte de representação da forma, falam da modelagem sólida em sistemas CAD e dos dicionários de formas (shape grammars). A parte de representação do comportamento descrevem técnicas utilizadas no projeto conceitual para geração de soluções e no projeto preliminar para configuração física (layout). Na questão das características, ressaltam a associação de forma geométrica a funções baseadas no comportamento. Na revisão sobre modelos do produto, os autores apontam o fato de que os sistemas computacionais não mais representam apenas um meio para análise dos projetos, mas tornaram-se também um meio para representação dos produtos. Lembram que, desde o início da década de oitenta, pesquisadores vêm trabalhando no desenvolvimento de modelos que combinem representações geométricas, conhecimento semântico e modelos de engenharia em bases de dados de engenharia ou modelos do produto. Esta discussão por objetivo situar o leitor com relação às áreas de pesquisa de projeto e estabelecer o fato da maior ênfase ser dada aos modelos sócio-psicológicos, visto que a maior quantidade e as mais importantes publicações dos autores da área de projeto podem ser classificadas nesta área, e não na modelagem da estrutura constitutiva dos produtos (conhecimentos necessários para desenvolver um projeto), que começam a avançar da modelagem sólida (principalmente projeto preliminar e detalhado) em direção à modelagem do comportamento (principalmente no projeto conceitual). 4 APLICAÇÃO DO MODELO DE CLASSIFICAÇÃO EM ALGUMAS PESQUISAS DESENVOLVIDAS NO BRASIL No Brasil vários grupos de pesquisadores vêm trabalhando no desenvolvimento de modelos que combinem representações geométricas, conhecimento semântico e modelos em bases de dados de engenharia ou modelos do produto. Na tentativa de classificar alguns trabalhos dentro da divisão proposta por Finger & Dixon (figura 1), a seguir são apresentados, discutidos e classificados alguns trabalhos das áreas de pesquisas em projeto no Brasil. 4.1 Modelo Descritivo Um modelo descritivo que busca informações de como os projetistas projetam foi apresentado por Fontenelle & Melhado (2002). Eles descrevem iniciativas de revisão e melhoria na gestão do processo de projeto, através da análise comparada em três empresas líderes do mercado de incorporação e construção do estado de São Paulo, que envolveu desde mudanças nas formas de relacionamento com os projetistas, passando pela implementação de novas metodologias de coordenação dos projetos e, especialmente, na sistematização de informações para o seu desenvolvimento. Foram apresentadas, práticas empreendidas na gestão do processo de projeto nessas empresas, extraindo-se daí diretrizes e padrões de referência que, se devidamente relativizados, possam a ser seguidos por outras empresas que atuam no subsetor de empreendimentos imobiliários. Fabricio et al (1998), apresentaram outro modelo e discutem as principais características do processo de projetos na construção de edifícios criticando suas deficiências. Os autores apresentaram um estudo de caso envolvendo um programa de implantação de Gestão da Qualidade em um grupo de 22 empresas, que inclui projetistas e construtoras que debateram o processo de projetos e que chegaram a algumas modificações na sua seqüência e nos seus conteúdos. Como alternativa de desenvolvimento do processo de projeto, o trabalho propôs o conceito de Projeto Simultâneo, com bases na Engenharia Simultânea, e apresentou uma proposta metodológica para o processo de projetos baseada nestes princípios. Um modelo do processo cognitivo foi apresentado por Peralta (2002), que desenvolveu uma metodologia com o objetivo de analisar os dados obtidos pela pesquisa-ação conduzida através do trabalho de investigação e ação, incluindo as informações obtidas através das entrevistas realizadas junto a duas empresas construtoras incorporadoras. O foco desta pesquisa foi desenvolver e testar uma metodologia para o planejamento do processo de projeto e, consequentemente, estabelecer sua viabilidade como base de uma ferramenta de gerenciamento de projeto para a indústria da construção civil, em especial ao subsetor de edificações. Foi aplicada a ferramenta computacional DSM@MIT na análise do modelo, aperfeiçoando a ordem das tarefas e identificando a seqüência de atividades do processo de uma maneira simultânea e interativa. Na aplicação foi desenvolvido um cronograma para o controle do processo de projeto, construído através dos resultados obtidos pela aplicação da DSM (Design Structure Matrix). 4.2 Modelo Prescritivo Ceotto (2002) apresentou um modelo prescritivo do processo de projeto adotado por uma construtora de grande porte na cidade de São Paulo, baseado na sua experiência, intuição e habilidade profissional. O modelo está baseado nas premissas de prazo, custo, qualidade das soluções propostas, garantia do processo quanto a construtibilidade, operacionalidade e da manutebilidade, garantia de prazos e custos orçados e também da obediência ao ambiente regulatório. 4.3 Modelo Computacional Assumpção (1996), apresentou uma programação do processo de projetos através de modelos informatizados. O sistema proposto caracteriza-se como uma ferramenta de trabalho que dispõe de recursos para auxiliar no processo de coordenação de projetos, apresentado como ferramenta importante para gerenciar prazos e produtos. O objetivo do sistema está voltado ao planejamento e coordenação de projetos, contribuindo na sistematização do processo de coordenação de projetos, no que tange a disponibilizar ferramentas de auxílio para programação e controle, considerando a grande quantidade de produtos gerados ao longo do processo de projetos e a dificuldade de visualização de seus inter-relacionamentos. O sistema foi estruturado através da técnica de rede de precedências, operada através de aplicativos para ambiente Windows, tais como Microsoft Excel, Microsoft Project e Visual Basic, de ampla utilização no mercado. As atividades identificadas no fluxo de projetos são inter-relacionadas através da rede, permitindo que se gere o cronograma global do processo, com informações referentes a prazos e datas para conclusão dos produtos, permitindo também, a organização de cronogramas específicos por parceiro projetista. A estruturação do modelo em rede procura tirar proveito das características de padronização e repetitividade, 4.4 Linguagens, Representações e ambiente de projeto Vieira (1991) desenvolveu uma metodologia com o apoio de um sistema computacional gerenciador, permitindo a seleção de projetos residenciais, através da integração de softwares CAD com o algoritmo de Balas (programação matemática zero-um para seleção de porta-fólio). O processo de escolha inicia com a concepção e otimização dos desenhos arquitetônicos de cada edificação. Posteriormente os dados de projetos foram transmitidos ao programa gerenciador (através de arquivos gerados em ambiente CAD) que organizaram os fluxos de caixa permitindo a análise de viabilidade econômica. O programa gerenciador transfere os resultados para o algoritmo de seleção (através de programação matemática), para a escolha do melhor porta-fólio de projetos. Com a utilização do software gerenciador foi possível avaliar os resultados obtidos através da comparação de dezoito projetos de residências possibilitando identificar os melhores projetos de valorização imobiliária. 4.5 Análise de suporte ao projeto Correa & Navieiro ( 2000) desenvolveram uma aplicação computacional visando a análise, avaliação e síntese do problema de integração de projetos utilizando um Sistema de Base de Conhecimento. Na utilização do sistema foi necessário a definição de parâmetros, que são recursos para o equacionamento do problema. O Sistema que auxilia o projetista a equacionar problemas de integração de projetos de edifício (arquitetura, estrutura e instalações). Segundo os autores a criação deste sistema de auxilio tornou-se vantajosa, porque o fluxo de informações entre os projetos é otimizado. O modelo facilitou a representação do conhecimento em um sistema informatizado e a traduz a linguagem computacional para o usuário. Na modelagem foi utilizada a técnica de busca por satisfação de restrições. 4.6 Projeto para manufatura e outros aspectos do ciclo de vida Giandon et al (2002) desenvolveu um estudo de caso utilizando o sistema de Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) no processo de projetos de edifícios. O GED foi utilizado como um conjunto de métodos, técnicas e ferramentas com o objetivo gerenciar o ciclo de vida dos documentos de uma organização (criação aprovação, revisão, processamento e arquivamento), além de agilizar a pesquisa e distribuição, com garantia do sigilo e segurança no acesso dos arquivos. O estudo foi desenvolvido em uma empresa construtora incorporadora de pequeno porte com o objetivo de avaliar a implantação do sistema em confrontando com o sistema tradicional de documentos de projeto. Após o uso do GED, os autores relatam que os usuários mostraram uma avaliação favorável ao uso do sistema, indicando que o processo pode ser modelado para o uso do gerenciamento eletrônico dos documentos. 4.7 Projeto para a confiabilidade Tavares (2002) desenvolveu um modelo para compatibilização das interfaces entre especialidades do projeto, fundamentado na visão sistêmica do projeto, nos princípios da engenharia simultânea, e na utilização de mecanismos de Análise dos Modos e Efeitos de Falhas (FMEA – Failure Mode and Effects Analysis). Com a FMEA pode-se levantar os modos de falhas potenciais, a hierarquização das falhas com a finalidade de analisar prioritariamente as falhas com maior Índice de Risco. O autor relata que é possível definir a ações corretivas para prevenção da falha potencial, permitindo estabelecimento um plano de ação para providencia r as contramedidas a serem adotadas. 5 CONCLUSÃO Este artigo teve por objetivo uma abordagem sobre o tema teoria e prática de projeto, examinando os alguns aspectos presentes na literatura da atividade de desenvolvimento de modelos de processos de projetos. No entanto, o tema ‘teoria de projeto’ é mais abrangente do que foi tratado nesta revisão, assim, o foco deste trabalho foi proporcionar uma visão geral sobre a teorização do processo de projeto buscando uma classificação das pesquisas sobre o tema. Criar uma metodologia funcional do processo de projeto não é tarefa simples. Não se pode desenvolver uma metodologia diferente para cada tipo de projeto. Quando se desenvolve uma metodologia e/ou ferramentas de gestão de projetos surge os benefícios de que o trabalho passa a fluir com menor número de mudanças de objetivos e os processos são planejados para criar um mínimo possível de constrangimentos nas atividades. Como os desafios são crescentes para a conceituação de soluções cada vez mais complexas tecnologicamente na produção do projeto de edificações, a explicitação da estratégia de projeto evita a dogmatização de ações de projeto, muito comum na solução de projetos complexos típicos. No Brasil pode-se perceber a maior quantidade e as mais importantes pesquisas de processos de projetos de edificações tem ênfase dada aos processos chamados de modelos sócio-psicológicos. A adoção de métodos prescritivos de projeto, apesar de seu potencial de eficiência e efetividade, deve ser evitada. A explicitação da estratégia de projeto e de métodos de trabalho, evita a dogmatização de ações de projeto, muito possível na solução de problemas complexos tipificados evidenciando as estratégias e planos para o desenvolvimento de projetos de edificações. A adoção de métodos prescritivos de projeto leva aos menos experientes a observarem que “o método do fulano funciona porque ele tem experiência e conhece os segredos do processo, eu não”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSUMPÇÃO, J. F. P.;FUGAZZA, A E. C. Planejamento do processo de projeto: conceitos e sistema automatizado de planejamento das atividades de projeto. Seminário Qualidade na Definição do produto e no desenvolvimento do Projeto de Edifícios. São Paulo, 30 nov. – 2 dez.. 1999. Anais. São Paulo, SINDUSCON – Sindicato da Indústria de Construção de São Paulo. CEOTTO, L.H. Avaliação de Projetos. In: II Workshop Nacional Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios, Mesa Redonda. Porto Alegre, 2002. 26 p. Disponível em http://www.eesc.sc.usp.br/sap/projetar.html. Acesso 20/12/2002. CORRÊA, Roberto M.; NAVEIRO, Ricardo M.. Sistema de integração de projetos de edifícios : parametrização de informações compartilhadas . Salvador, BA. 2000. v.1 p.688695 il.. In: ENTAC, 8º, Salvador, 2000. FABRICIO, M.M.; BAÍA, J.L.; MELHADO, S.B. Estudo da seqüência de etapas do projeto na construção de edifícios. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção ENEGEP 1998: A engenharia de produção e o futuro do trabalho. Anais... Niterói: UFF/ABEPRO, 1998. 1 CD. FINGER, S.; DIXON, J.R. A review of research in mechanical engineering design. Part I: descriptive, prescriptive, and computer-based models of design process. Research in Engineering Design, New York, n. 1, p. 51-67, 1989. FINGER, S.; DIXON, J.R. A review of research in mechanical engineering design. Part II: representations, analysis, and design for the life cycle. Research in Engineering Design, New York, n. 1, p. 121-137, 1989. FONTENELLE, E. C.; MELHADO, S.B. As melhore s práticas na gestão do processo de projeto em empresas de incorporação e construção. São Paulo, 2002. Artigo Técnico. Escola Politécnica da USP. Departamento de Engenharia de Construção Civil, 22 p. (TT/PCC/15) GIANDON, A. C.; MENDES JUNIOR, R.; SCHEER, S. Avaliação da implantação de gerenciamento eletrônico de documentos no processo de projeto. In: II Workshop Nacional Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios, 2002, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: PUCRS , 2002. 5 p. 1 CD. HOOKER, J. Is design theory possible? Pittsburgh, USA, Carnegie Mellon University, Engineering Design Center, 18 p., 1992. Horváth, I. A Contemporary Survey of Scientific Research into Engineering Design, in International Conference on Engineering Design - ICED2001, Glasgow, Aug 21 - 23, 2001, CD-ROM. KAPLAN, A. A conduta na pesquisa: metodologia para as ciências do comportamento. São Paulo: Herder/EDUSP, 1975. MARTINS, P.D. Projeto de engenharia: um jogo intelectual entre livre criação e ação disciplinada. In: VIII Encontro de Educação em Engenharia. Petrópolis, 2002. Anais... Petrópolis. UFF, 2002, 10 p. PERALTA, A.C. Um modelo do processo de projeto de edificações, baseado na engenharia simultânea, em empresas construtoras incorporadoras de pequeno porte. 2002. 139 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis. PAHL, G.; BEITZ, W. Engineering design: a systematic approach. London, United Kingdom: The Design Council, 1988. SUH, N.P. The Principles of Design. Oxford University Press, New York, USA, 1990. TAVARES JUNIOR, W.; POSSAMAI, O.; BARROS NETO, J.D. Um modelo de compatibilização de projetos baseado na engenharia simultânea e FMEA. In: II Workshop Nacional Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios, 2002, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: PUCRS, 2002, 5 p. 1 CD. VIEIRA, J. C. R. Arquitetura, viabilidade econômica e seleção de edificações residenciais: integração do AUTOCAD ao programa do algoritmo de balas . 1991. 115 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.